Você está na página 1de 14

Do latifúndio, da madeira, da mineração à

resistência: trajetórias de autonomias e


vitórias dos povos e comunidades em
Açailândia e Buriticupu/MA

Bartolomeu Rodrigues Mendonça, Glauton Max


Simões Mesquita , Hemerson Herbet de Sousa
Pereira , Vinícius Melo Gonçalves
Neste capitulo, os autores se preocuparam em
mostrar as formas como os povos e populações
resistem às investidas das elites políticas e
econômicas – locais e estrangeiras – contra seus
territórios, suas organizações culturais,
políticas e econômicas, seus modos de produzir,
seus códigos, etc
Formação do
povoado Piquiá de
baixo, em
Açailandia- Ma
o texto mostra como os moradores do bairro
operário Piquiá de Baixo, em Açailândia,
Maranhão, realizaram o movimento de
perceber e comunicar a situação de ataque à
sua saúde pelo despejo de toneladas de
dejetos de cinco siderúrgicas instaladas ao
redor das casas de 350 famílias e como
conseguiram impor às empresas e ao estado a
obrigação de reparar pelos danos
patrimoniais e de saúde causados ao longo de
décadas.
Piquiá de Baixo, hoje, é uma
comunidade/bairro industrial a 12 km
da sede do município Açailândia, que
sofre com as nefastas violações de
direitos por parte da cadeia da
mineração instalada no seu quintal,
poluição da terra, das águas, do ar,
ruídos, doenças respiratórias.
[...] trabalhava de roça, a renda de vida nossa
aqui era a lavoura, a gente tinha muita saúde,
muita força, os matos era bom de trabalhar,
aqui era só mato daqui pra Açailândia não
tinha benefício de nada ... prá cá também até
nesse mundão aí era só mata ... aí o povo foi
chegando, pussiando, daí pussiô da beira do
rio Açailândia, que é aqui o Piquiá até na
cabeceira, tudo cheio de gente de um lado e
outro, aí os posseiros, uns tem 200 alqueires,
outros tem 30 alqueire, outros tem 20,
conforme a condição da pessoa (Sr. Joaquim,
em entrevista concedida a Bartolomeu
Mendonça em 09 mai. 2016)
''No bojo do governo das populações, o
Estado, em cooperação com as elites locais,
nacional e internacional, e sob o argumento
de beneficiá-las, classifica, a cada tempo e
espaço, quem deve e pode permanecer ou
sair do lugar. Os indígenas, camponeses,
quilombolas, ao longo dos séculos, são os
grupos étnicos compelidos ao deslocamento
compulsório ou a uma fixação artificial para
servir de força de trabalho ou tão somente
para regular os preços dos salários''
''Durante anos seguidos, pelas notícias de que as
terras eram vastas, abundantes em água e muito
férteis, várias famílias de trabalhadores rurais
chegavam, dos mais diversos municípios e
mesmo de outros estados para trabalhar na
lavoura. Um elemento importante nessa história
é que o sr. Genésio, pai do sr. Joaquim, dono de
uma extensa faixa de terra, passa à autoridade
do lugar, embora a deixasse “livre” para “quem
quisesse trabalhar”.
''a instalação e o modo como as empresas de
mineração e siderurgia, incluindo a Vale S.A.,
se relacionam com a comunidade Piquiá de
Baixo revela inconteste situação de racismo
ambiental.''
A certeza da primazia do poder do capital, da
empresa, com a conivência do Estado, sobre a
comunidade de Piquiá pode ser percebida ao
largo dos anos, desde os 1980 com a
instalação das primeiras indústrias
siderúrgicas, até os dias atuais
A chegada das siderúrgicas e do eucalipto nas
redondezas das casas dos moradores de
Piquiá de Baixo desencadeou uma série de
impactos sociais e ambientais que, por sua
vez, forçou a população local a reivindicar
seus direitos fundamentais na manutenção
de uma boa qualidade de vida.
''a poluição do ambiente tem causado
problemas de saúde como: pneumonia, tosse,
falta de ar e chiado no peito, doença de pele,
dores de garganta, dores de cabeça
constante, infecções de ouvido e alergias”.
Em relação aos dejetos industriais, a
população tem sofrido com intoxicação e
lesões físicas.

''A poluição sonora, vinda das


siderúrgicas e também do trem da Vale.
A poluição dos solos da região também
são fortemente sentidas pelos moradores
que praticam a agricultura a nível
familiar para fins de obtenção de renda''
''A soma de todas estas afetações
oriundas da cadeia da mineração
provocou o efeito de reação, luta e
resistência por parte dos moradores
de Piquiá de Baixo, gerando um dos
conflitos socioambientais mais
intensos da realidade maranhense e
que põe em debate a
sustentabilidade de
empreendimentos de elevado
potencial poluidor''
“os governantes é tudo de empresa, é
governo federal, é governo do estado, é do
município, vereador, deputado, todo mundo,
eles não dão uma palavra por nós” (D. Tida,
em entrevista concedida a Bartolomeu
Mendonça em 10 mai. 2016)''

'' Lúcidos dos objetivos do saque do par


Capital-Estado em suas terras, a comunidade
Piquiá de Baixo construiu um arco de alianças
com movimentos sociais locais, nacionais e
internacionais, grupos de pesquisa,
universidades.''

Você também pode gostar