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Movimentos Sociais:

cooperação,
integração e
comprometimento
com as decisões

Conselhos Municipais
Gestão pública e
participação popular

Conselhos Escolares
Princípio da gestão
democrática das escolas

Creches Subvencionadas
Construção de
saberes e relações
Expediente

Organizadora Karen Luzia Schmidt Ribeiro


Rose Roggero Kelli Correa Brito
Leandro Bassini
Conselho Editorial Marcia A. M. Vianna
Eulália Anjos Siqueira Maria da Glória Gohn
Kelen Cristiane dos Santos Chacon Mariene Kulsar do Prado
Maria Estela Ribeiro Fernandes Marina Dias Nogueira
Maria Aparecida Tavares Romeiro Safiti Mario Sergio Barbosa
Valéria Campolino Patricia Cirezola Carielo
Rose Roggero
Coordenação Editorial Serly Garcia
Bernadete Tedeschi Vitta Ribeiro Silvio Cesar Silva
Valéria Campolino
Jornalista Responsável
Kelli Correa Brito - MTB 40.010 Fotolito, impressão e acabamento
Rettec Artes Gráficas e Editora Ltda.
Fotos Rua Xavier Curado, 388
Arquivos das Escolas Municipais Ipiranga - São Paulo - SP
Ney Sarmento (CCS) CEP: 04210-100
Tel.: (11) 2063.7000
Nossa capa e-mail: rettec@rettec.com.br
Foto de Guilherme Berti (CCS) site: www.rettec.com.br

Projeto Gráfico e Diagramação Tiragem


Eduardo Leite 4.000 exemplares

Ilustrações Secretaria de Educação


Eduardo Leite Coordenadoria de Comunicação Social
Jeff Almeida Av. Vereador Narciso Yague Guimarães, 277
Centro Cívico - Mogi das Cruzes - SP
Colaboraram nesta edição CEP: 08790-900
Bruna Rocha Siqueira Tel.: (11) 4798.5011 / 4798.5012
Bruno Rodrigues da Luz e-mail: revistaeducando.sme@pmmc.com.br
Daniela Salvador Mariano site: www.mogidascruzes.sp.gov.br
Douglas de Matteu
Equipe de Supervisão de Ensino da Secretaria A Revista Educando em Mogi nº 65 é uma
de Educação de Mogi das Cruzes publicação da Secretaria Municipal de Educa-
Equipe escolar da EM Profª Wilma de Almeida ção de Mogi das Cruzes, por meio da Coorde-
Rodrigues nadoria de Comunicação Social, e não se res-
Equipe escolar do CEIC Raio de Luz ponsabiliza por conceitos emitidos em artigos
Ivan Melo assinados.
Editorial

A Revista Educando em Mogi está de cara nova. São mais de 10 anos de


atividade e o momento é de renovação no layout e no conteúdo. A proposta é
ampliar os horizontes de nossa publicação, que passa a ter ênfase no caráter de
formação com o objetivo de criar uma cultura acadêmica, aprofundar os relatos de
experiência e boas práticas, além de discutir conceitos e fortalecer projetos.
O primeiro número de 2013 apresenta um layout mais leve e moderno que marca
esta nova fase. A secretária de Educação, Rose Roggero, faz a apresentação desta
edição, relatando um pouco sobre seus primeiros meses de trabalho na Pasta.
O tema escolhido para esta edição são os movimentos sociais e sua participação
na gestão pública da educação. Trazemos o artigo da renomada especialista sobre
movimentos sociais, Maria da Glória Gohn, e os três conselhos municipais ligados
à Educação: Conselho Municipal de Educação (CME), Conselho de Alimentação
Escolar (CAE) e Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB
(CACS-FUNDEB), que apresentam seus trabalhos e divulgam suas datas de
reuniões e contatos, momentos importantes para que todos participem.
Os Conselhos Escolares ganham um espaço especial nesta edição com artigos
de especialistas. Cinco educadores apresentam diferentes olhares sobre este tema.
É interessante observar como cada um trouxe para a publicação um recorte da
história da gestão democrática na educação e orienta os gestores e a comunidade
como tornar esta participação realmente efetiva. Agradecemos também aos pais e
às escolas que nos enviaram suas experiências.
Esta publicação conta ainda com um material rico sobre a participação da
sociedade nas ações da Secretaria de Educação, em especial, na administração
das creches subvencionadas com uma entrevista com a supervisora de ensino, já
aposentada, Marina Dias Nogueira, que nos consta sua experiência na construção
dessa política pública responsável pelo atendimento de mais de 8 mil crianças
na cidade. Três entidades também compartilham essa história, com ênfase nos
acontecimentos dentro das creches.
Para concluir, dois avanços importantes no atendimento em creches no
município: o chamamento público, que possibilita a escolha das entidades
responsáveis pela administração dos novos prédios municipais, explicado
pela equipe de Supervisão de Ensino, e o Cadastro Municipal Unificado, um
instrumento transparente de atendimento à demanda, contado pela atual
secretária adjunta, Valéria Campolino.
Esta é uma edição especial com 80 páginas sobre a participação social na
gestão pública. Vale a pena conferir cada texto sobre este tema que, embora seja
uma experiência recente para os cidadãos brasileiros, demonstra que os avanços
acontecem quando todos participam ativamente das decisões, desde a escola de seu
filho às políticas públicas municipais e nas demais esferas. Mais que uma publicação,
esta edição da Educando em Mogi é um convite para uma gestão democrática.
Participe!
Índice

6 Juntos!

12 Participação Social e Conselhos


na gestão pública

20 A prática do Conselho
Municipal de Educação

24 CAE: a comunidade zelando


pela qualidade da merenda escolar

26 Controle social do FUNDEB

31 Conselhos Escolares:
democracia em avanço

36 Movimentos Sociais:
conhecendo sua história

42 Inclusão social e fortalecimento


dos Conselhos Escolares

46 Conselhos Escolares: das lutas pela redemocratização


à emergência da Sociedade do Conhecimento
50 Conselho Escolar:
o desafio da gestão participativa

54 O trabalho com a comunidade


estreitando laços com a escola

56 Gestão democrática escolar na prática

58 Concepção educativa de creche

63 Creches conveniadas: a história de


um mutirão de responsabilidade social

74 CEIC Raio de Luz,


uma das pioneiras

76 Um caminho feliz
em benefício da comunidade

77 CEIC Santa Clara: parceria escola,


comunidade e poder público

78 Chamamento Público
para o atendimento em creches

80 Cadastro Municipal Unificado: transparência e


credibilidade no atendimento de crianças em creches
Apresentação

Juntos!

6 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Apresentação

Rose Roggero

Desde que tomamos a decisão de aceitar e de Essa ideia se fundamenta no fato de que a rede
que tomamos posse, em janeiro de 2013, nesta municipal de ensino tem se expandido muito
nova gestão, temos tido contato com muitos nos últimos anos e essa rápida expansão, sobre-
aspectos do desenvolvimento da cidade, so- tudo no atendimento em tempo integral, repre-
bretudo no âmbito da educação sob respon- senta ganhos significativos e exige consolidação
sabilidade do município, que atende crianças do trabalho feito até aqui, além da expansão que
dos 4 meses aos 11 anos de idade, aproxima- passou a ser exigida pela própria comunidade,
damente; da creche ao final dos 5 anos iniciais em razão da qualidade que esse serviço público
do ensino fundamental. tem alcançado. Nesse processo de consolidação,
Temos tido contato com as variadas realida- enfatizamos três valores, que entendemos fun-
des da cidade, com as situações de vulnerabili- damentais: a subjetividade, a diversidade e a
dade e risco, mas também com potencialidades sustentabilidade.
que parecem ainda pouco conhecidas dos e pe- Quando pensamos em subjetividade, o foco
los mogianos e, até mesmo, pouco conhecidas está nos atores do processo educativo: as crian-
dos e pelos educadores mogianos da própria ças e suas comunidades, as equipes gestoras,
rede municipal, embora vivam cotidianamen- professores e demais profissionais da escola,
te essas realidades. Essa é a vantagem do olhar cada qual sujeito de direitos e deveres no âmbi-
que, sendo de dentro, vem de fora. to do trabalho, da aprendizagem e do convívio
Dentre os elementos que mais têm nos cha- social, para uma cidadania ativa que contribui
mado a atenção está a participação popular, por para o desenvolvimento social e econômico.
meio dos movimentos sociais. Daí nossa proposta Quando pensamos em diversidade, nos referi-
para o primeiro número da revista Educando em mos a um conceito que carrega em si uma genero-
Mogi, como um marco inicial de nossa gestão. sidade sobre a qual é mais fácil falar que vivenciar,
Propomos que a revista passe a ter um ca- no cotidiano. Defender o respeito à diferença é
ráter temático e com um foco mais voltado à sempre mais fácil quando se trata da nossa própria
formação do que vinha tendo até então. em relação aos outros, mas quando se refere ao
E aqui está o primeiro número em busca respeito às diferenças dos outros, outras questões
desse perfil em construção. se colocam e nada mais se mostra tão simples.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 7


Apresentação

8 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Apresentação

Quando pensamos em sustentabilidade, a É assim que nos vemos em Mogi das Cruzes,
questão está no tripé que este conceito abrange contando com a parceria da secretária adjunta,
nas dimensões ambiental, econômica e social; para essa empreitada, de toda equipe da Secre-
na articulação exigida para as políticas públi- taria de Educação e de toda a rede municipal e
cas estrategicamente organizadas com base em subvencionada.
diagnósticos cada vez mais precisos, não ape- Com essa visão, este número da Educando
nas de necessidades, mas de potencialidades em Mogi foi pensado e construído. É uma re-
humanas, sociais e culturais. vista para adultos e sobre sua responsabilidade
Os três valores apontam para desafios que se com as crianças.
colocam para as relações humanas, para os di- O filósofo Richard Sennett, que escreveu um
reitos e deveres da cidadania, pensada em escala livro instigante: Juntos, os rituais, os prazeres e a
local, mas na indissociável relação com o global. política da cooperação. Nesse livro, o autor trata da
Consolidar e fazer avançar políticas e práti- cooperação como uma habilidade que “requer a
cas sociais na educação básica que considerem capacidade de entender e mostrar-se receptivo
a subjetividade humana, a diversidade que ao outro para agir em conjunto”, para que a “co-
constitui a sociedade e a sustentabilidade das operação social gere novas ideias sobre como as
propostas e práticas só nos parece possível por cidades podem ser mais bem feitas”.
meio do exercício da empatia e do diálogo. Por Para desenvolver o conceito dessa cooperação
isso, vemos a função mediadora da liderança social para além da ideia de troca em que ambas
educadora que acreditamos que uma secretária as partes de beneficiam, apontando-lhe os ritu-
de educação deva exercer. ais e prazeres, Sennett se utiliza de duas metáfo-
Trata-se de uma função mediadora porque ras: a infância e o ensaio.
as políticas públicas, no Brasil, neste início de Sobre a cooperação na primeira infância, o
século XXI, são muito mais articuladas entre as autor informa tratar-se de uma atividade que
várias esferas de governo do que eram há al- permite ao ser humano o desenvolvimento de
guns anos; porque, hoje, espera-se e busca-se várias habilidades, sobretudo mentais, possibili-
a participação da sociedade, por meio de suas tando a ampliação de repertório comportamen-
organizações civis para a legitimação das pro- tal, por meio da expectativa criada nas relações
postas e ações de governo. por afinidade e que vão se tornando cada vez
Cada vez mais se exige que o trabalho de mais complexas à medida que o círculo de rela-
um seja o trabalho de todos. Cada vez mais, as ções do bebê também se amplia, estimulando-o
lideranças necessárias são aquelas capazes de a experimentar e conhecer coisas novas.
qualificar novos atores que participem dos pro- Já o ensaio, como base da atividade musical, exi-
cessos sob sua responsabilidade. ge o desenvolvimento da capacidade de ouvir bem.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 9


Apresentação

10 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Apresentação

E não apenas ouvir instrumentos e vozes ho- mogiana, desde os Conselhos Municipais – o de
mogêneos, mas ouvir a diferença e como se pode Educação, o do FUNDEB e o de Alimentação Es-
criar a harmonia na diferença. colar – até os conselhos de escola e as organiza-
No ensaio, muito trabalho coletivo precisa ser ções sociais que participam da educação infantil,
condensado em pouco tempo. O desafio da co- por meio das creches.
municação, não raro com estranhos, faz com que Contamos, ainda, com depoimentos de atores
o ritual da cooperação expressiva funcione. E o da sociedade civil que ocupam seu espaço nes-
ensaio é bem diferente do treino solitário da habi- ses conselhos e organizações. Estamos todos, de
lidade de tocar o instrumento, algo que também várias formas, comprometidos com a construção
precisa de disciplina para o desenvolvimento da de uma gestão democrática da educação e convi-
habilidade. O ensaio exige conhecer o coletivo. damos você a estar cada vez mais comprometido
Integrar-se, mas sem perder a identidade. e comprometida, também.
Tanto na infância quanto nos ensaios de mú- Não temos dúvida de que a gestão dos servi-
sica, a cooperação faz a diferença entre o desen- ços sociais deve ser mesmo democrática e, como
volvimento e a estagnação; entre a harmonia e o tal, construída no diálogo e na negociação, li-
caos. Assim é também na vida social e política. dando com os conflitos das diferentes visões e
Estamos em busca de afinar nossos instrumen- posicionamentos, não em busca de uma harmo-
tos de cooperação – a empatia e o diálogo – entre nia forçada, mas em busca de uma capacidade
os atores do poder público e das organizações de dialogar e negociar pautada em critérios de
sociais, em busca de uma educação de qualidade sustentabilidade e indicadores de equidade.
social para todas as crianças. Que sejamos – juntos – capazes de fazê-lo!
Nas próximas páginas da Educando em Boa leitura!
Mogi, encontramos desde uma abordagem teó-
rico-conceitual e descritiva a respeito de como
tem se desenvolvido a participação social por
meio dos conselhos municipais, nas palavras da
renomada especialista Maria da Glória Marcon-
des Gohn, até outros olhares de acadêmicos da
nossa região, como Leandro Bassini, Silvio César
Silva e Douglas de Matteo.
Contamos, também, com artigos e entrevistas
de profissionais da nossa rede, trazendo elemen-
tos normativos e a história de como a participa- Rose Roggero
ção tem se construído no campo da educação Secretária de Educação

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 11


Participação Social

Participação Social
e Conselhos
na gestão pública
A temática da participação de
representantes da sociedade
civil em conselhos, na gestão
de políticas públicas, pode ser
tratada de diferentes formas e
pontos de vista. Iniciarei com
uma breve retrospectiva sobre
a importância da participação
social nas políticas públicas
na atualidade. Posteriormente,
abordarei a participação civil na
esfera pública, em estruturas
institucionalizadas, em suas
formas e fases. O artigo conclui-
se com reflexões sobre os
dilemas da participação.

12 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Participação Social

Maria da Glória Gohn

Pateman (1992), em seu livro Participa- A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE


ção e teoria democrática, chama a atenção CIVIL EM ESFERAS PÚBLICAS
para o fato de que a participação gera ati-
tudes de cooperação, integração e com- Desde logo é preciso registrar: a participação da so-
prometimento com as decisões. Destaca o ciedade civil na esfera pública via conselhos e outras
sentido educativo da participação, a qual, formas institucionalizadas, não é para substituir o Es-
como prática educativa, forma cidadãos tado, mas para lutar para que este cumpra seu dever:
voltados para os interesses coletivos e para propiciar educação, saúde e demais serviços sociais
as questões da política. Os defensores da com QUALIDADE e para todos. Essa participação
democracia participativa inovam com sua deve ser ativa e considerar a experiência de cada ci-
ênfase na ampliação dos espaços de atua- dadão que nela se insere e não tratá-los como corpos
ção dos indivíduos para além da escolha amorfos a serem enquadrados em estruturas prévias
dos governantes e ao destacar o caráter num modelo pragmatista/utilitarista. Dewey já dizia:
pedagógico da participação, pois essa tem “Só é experiência o que refletimos, o que aprendemos.
uma função educativa e os indivíduos são O que se sedimenta na memória. É aquilo que vem
afetados psicologicamente ao participarem alimentar o sonho, a utopia, a esperança, a ilusão”.
do processo. A ideia é que a participação No Brasil, a oferta dos serviços públicos, a partir
tende a aumentar na medida em que o in- dos anos 1990, foi flexibilizada e/ou desregulamen-
divíduo participa, porque ela se constitui tada, ficando o Estado como gestor e controlador
num processo de socialização e faz com dos recursos, transferindo várias responsabilidades
que, quanto mais as pessoas participem, para organizações da sociedade civil organizada, via
mais tendam a participar. Em outras pa- programas de parcerias em projetos e programas so-
lavras, é participando que o indivíduo se ciais com as ONGs. Com isso essas entidades, que
habilita à participação, no sentido pleno da antes eram apenas apoios aos movimentos sociais
palavra, que inclui o fato de tomar parte e populares, se fortaleceram. Os movimentos sociais
ter parte no contexto onde estão inseridos. tiveram que alterar suas práticas, serem mais propo-
Ou seja: "quanto mais os indivíduos parti- sitivos, participando dos projetos das ONGs, e me-
cipam, melhor capacitados eles se tornam nos reivindicativos, assim como perderam em parte
para fazê-lo" (Pateman, 1992:61). sua autonomia.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 13


Participação Social

A QUESTÃO
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

Este processo aprofundou-se quando surgiu ou- No Brasil, a temática da instituciona-


tro ator social relevante no cenário do associativis- lização não é nova, já no período do as-
mo nacional: as fundações e organizações do Tercei- sociativismo movimentalista de base, do
ro Setor, articuladas por empresas, bancos, redes do final da década de 1970 e nos anos 1980,
comércio e da indústria, ou por artistas famosos, que pautava-se esta questão. Mas a tônica
passaram a realizar os projetos junto à população era manter a organização fora de estru-
nas parcerias com o Estado. turas governamentais porque estas eram
Apoiados por recursos financeiros, privados e pú- controladas pelo estado militar ou por
blicos (oriundos de inúmeros fundos públicos que políticas herdeiras da fase clientelística,
foram criados) e por equipes de profissionais com- do regime populista que existiu até 1964.
petentes previamente escolhidos, não por suas ideo- A não institucionalização era uma forma
logias, mas por suas experiências de trabalho, essas de “estar de costas para o Estado”, mais
organizações passaram a trabalhar de forma diferen- como ato defensivo do que por fundamen-
te da forma como os movimentos sociais atuavam tos ideológicos ou filosóficos do comuni-
até então. O Terceiro Setor passou a atuar com po- tarismo/basismo ou algo parecido. Até
pulações tidas como vulneráveis, focalizadas, grupos porque demandava-se outras formas de
pequenos, por projetos e com prazos determinados. atuação do Estado para democratizá-lo,
Este cenário resulta em inúmeras ações cidadãs, demandava-se a participação popular nas
como as cooperativas de material reciclável no Brasil estruturas estatais, o que foi parcialmente
(o país é um dos campeões na reciclagem de latas, pa- obtido via alguns canais inscritos na Carta
pel e papelão no mundo). Projetos sociais organizam Magna de 1988.
cooperativas de recicladores e grandes eventos como O tema da institucionalização na atua-
o Festival Lixo e Cidadania, em Belo Horizonte. lidade tem outra face. Podemos dividi-lo
A análise do novo cenário nos remete ao tema da em dois momentos: o primeiro, nos anos
institucionalização das práticas e organizações po- de 1990, resulta de uma trajetória de luta
pulares, na própria sociedade civil ou por meio de para implementar as conquistas institu-
políticas públicas, a exemplo das conferências nacio- cionais, destacando os conselhos gestores
nais co-patrocinadas por órgãos públicos/estatais ou e outros espaços institucionais, como o OP
estruturas organizativas criadas no próprio corpo - Orçamento Participativo. O segundo, a
estatal, como os conselhos. partir do ano 2000, aprofundou as formas

14 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Participação Social

de gestão deliberativas, criou inúmeras vamente por representantes da sociedade civil, cujo
inovações no campo da participação po- poder residia na força da mobilização e da pressão,
pular democrática, como a participação e não possuíam assento institucional junto ao Poder
via eletrônica e redesenhou o formato de Público. Os conselhos gestores são diferentes tam-
construção de várias políticas sociais com bém dos conselhos de “notáveis”, que já existiam nas
a generalização do uso de conferências esferas públicas no passado, compostos exclusiva-
(um ciclo, que culmina com propostas mente por especialistas, atuando em áreas temáticas,
para dar suporte, por exemplo, a um novo a exemplo do Conselho de Educação e outros.
plano decenal ou a criação de um órgão Os conselhos gestores, no início, foram aclama-
que cuide de tema ainda não contemplado dos como novos instrumentos de expressão, repre-
em sua especificidade, como a alimenta- sentação e participação porque, em tese, eles são
ção). Pontuaremos a seguir as principais dotados de potencial de transformação política. Se
características dos dois momentos. efetivamente representativos, avalia-se que eles po-
Os conselhos foram inscritos na Cons- dem imprimir um novo formato às políticas sociais,
tituição de 1988 na qualidade de instru- pois se relacionam ao processo de formação das
mentos de expressão, representação e políticas e de tomada de decisões. Com os conse-
participação da população. Estas estru- lhos, gerou-se uma nova institucionalidade públi-
turas inserem-se, portanto, na esfera pú- ca, pois eles criaram uma nova esfera social-pública
blica e, por força de lei, integram-se com ou pública não-estatal. Trata-se de um novo padrão
os órgãos públicos vinculados ao Poder de relações entre Estado e sociedade, viabilizando
Executivo, voltados para políticas públi- a participação de segmentos sociais na formulação
cas específicas, responsáveis pela asses- de políticas sociais e possibilitando à população o
soria e suporte ao funcionamento das acesso aos espaços em que se tomam as decisões
áreas em que atuam. políticas, tendo a possibilidade de exercer controle
Os conselhos gestores inauguram novi- social sobre o Estado.
dades no campo da política porque eram Com o passar do tempo, inúmeras avaliações
diferentes dos conselhos predominantes já foram feitas sobre os conselhos e as otimistas
até 1988, os conselhos comunitários, popu- expectativas iniciais não se confirmaram. Em um
lares ou dos fóruns civis não-governamen- grande número de casos, eles se tornaram órgãos
tais porque estes eram compostos exclusi- burocratizados com participação de cidadãos já

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 15


Participação Social

O SEGUNDO MOMENTO
NA INSTITUCIONALIZAÇÃO
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

incluídos socialmente por escolaridade e outros, A primeira década de 2000 é o segun-


presos a redes neoclientelistas. A almejada parti- do momento na configuração atual da
cipação popular ainda não teria sido conquistada. questão da institucionalização. Progres-
Portanto, está na hora de repensar os conselhos sivamente, a nova conjuntura econômica
para que atinjam seus objetivos. configurou uma nova correlação de for-
A legislação em vigor no Brasil preconiza, desde ças nas políticas do governo e seus proje-
1996, que, para o recebimento de recursos destina- tos político-culturais para a sociedade. O
dos às áreas sociais, os municípios devem criar seus novo século trouxe inovações no campo
conselhos. Isso explica porque a maioria dos conse- do associativismo brasileiro, como ações
lhos municipais surgiu após esta data. Nos municí- coletivas impulsionadas por mobilizações
pios, as áreas básicas dos conselhos gestores, entre que são articuladas a partir de políticas
outros, são: educação, assistência social, saúde, ha- públicas, ou parcerias entre a comunida-
bitação, crianças e adolescentes, idosos. Na esfera de “organizada”, ONGs, fundações, etc. e
municipal, eles devem ter caráter deliberativo, mas setores do poder público. Na atualidade,
muitos reduzem-se ao papel consultivo. Quando não se trata apenas de construir ou imple-
isso ocorre, a participação é restrita, há um esva- mentar os canais institucionais, trata-se
ziamento da responsabilidade pública, um apelo à da gestão dos mesmos. Várias inovações
moral conservadora, tradicional, remetendo as ações democráticas foram implementadas para
ao campo das políticas sociais compensatórias, do realizar as mediações necessárias entre o
burocratismo e até mesmo do velho clientelismo. cidadão e o governo, incorporando o uso
Os direitos se transformam em benefícios concedi- das novas tecnologias (Smith, 2009). Mui-
dos. A inovação advém, na maioria das vezes, das tas delas foram acopladas a estruturas já
novas práticas geradas pela sociedade civil. De fato existentes, a exemplo da implantação do
são inúmeras as novas práticas sociais expressas em das consultas, votações e manifestações
novos formatos institucionais da participação, tais on line. Registre-se ainda a constituição de
como as redes, os fóruns e as parcerias. novos movimentos sociais, criados a par-
Os fóruns são frutos das redes tecidas nos anos tir da conjuntura atual, articulados com
70/80 e eles possibilitaram aos grupos organizados ONGs, voltados para questões relativas à
olharem para além da dimensão do local. Eles têm democratização do Estado ou das políti-
abrangência nacional e são fontes de referências e cas públicas, a exemplo do Movimento de
comparações para os próprios participantes. As novas Combate à Corrupção Eleitoral - MCCE
práticas constituem um novo tecido social denso e di- no Brasil. Projetos sociais passam a ter
versificado que tencionam as velhas formas de fazer centralidade na forma de organização da
política e criam novas possibilidades concretas para o população por diferentes agentes media-
futuro, em termos de alternativas democráticas. dores, da sociedade civil ou política.

16 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Participação Social

Novos tempos, novas identidades são As formas institucionalizadas, do tipo conselho ou


criadas ou impulsionadas. O campo do so- câmara de representação atuando junto a órgãos pú-
cial passou a ser dominado por comunida- blicos, aumentaram significativamente em número e
des organizadas em projetos sociais com temáticas. No campo da alimentação, por exemplo, foi
crianças, jovens, adolescentes, mulheres; criado o CONSEA - Conselho Nacional de Segurança
cooperativas de todos os tipos de produ- Alimentar. Este conselho, juntamente com o Con-
tos e serviços, todos atuando segundo a selho do Idoso e o das Crianças e Adolescentes tem
lógica do desenvolvimento sustentável, exercido vigilância na questão do repasse dos recur-
nos marcos de uma nova economia social sos orçamentários de seus órgãos, conforme determi-
que tem como suposto a criação de "capi- na a Constituição. Nos Estados da Federação criaram-
tal social" para a solução dos problemas -se Defensorias Públicas, previstas na Constituição de
sócio-econômicos. 1988, para atender jurídica e processualmente a par-
Deve-se acrescentar neste cenário, as cela da população sem condições de contratar um ad-
inúmeras ações e redes cidadãs que se apre- vogado, garantindo-lhes o acesso à justiça. Em suma,
sentam como movimentos sociais de fisca- na atualidade temos avanços democráticos, que con-
lização e controle das políticas públicas, tam com o suporte governamental via políticas públi-
atuando em Fóruns, conselhos, câmaras, cas, mas os resultados são contraditórios - de um lado
consórcios, etc. em escala local, regional e as demandas sociais são postas como direitos (ainda
nacional. Os novos ativistas destas redes que limitados), abrindo espaço à participação cidadã
conectam-se via internet e, usualmente, via ações cidadãs e novos direitos assegurados por
seus compromissos principais são com as novas políticas públicas. De outro, poderá haver per-
ONGs ou entidades que os suportam. Re- das, principalmente de autonomia dos movimentos e
des de voluntariado também existem, prin- o estabelecimento de estruturas de controle social de
cipalmente no campo da assistência e pres- cima para baixo, nas políticas governamentais para os
tação de serviços aos mais pobres. movimentos sociais.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 17


Participação Social

OS DILEMAS DA PARTICIPAÇÃO

A gestão compartilhada em suas diferentes for- tornar a reflexão sobre democracia como
mas de conselhos, colegiados etc, precisa desenvol- soberania popular, do povo e para o povo.
ver uma cultura participativa nova, que altere as Pautar o debate sobre a soberania da co-
mentalidades, os valores, a forma de conceber a ges- munidade significa dizer não à inclusão
tão pública em nome dos direitos da maioria e não excludente, à modernização conservadora
de “grupos lobbistas”. Um coletivo que desenvolva que busca resolver problemas econômicos
saberes não apenas normativos (legislações, como utilizando-se de formas do assistencialis-
aplicar verbas, etc), mas que discuta e participe mo, caridade, etc. Ao discutir a soberania
também de outras importantes questões, tais como: da comunidade local e de um povo, esta-
o papel dos fundos públicos no campo de disputa remos fornecendo pistas para analisar a
política e a necessidade de novas políticas na gestão metamorfose que atualmente se opera nos
desses fundos públicos. É preciso desenvolver sabe- discursos sobre a realidade brasileira, tão
res que orientem as práticas sociais, que construam fragmentada, mas ao mesmo tempo, tão
valores - aqui entendidos como: participar de cole- cheia de esperança no sentido de mudan-
tivos de pessoas que são diferentes, mas devem ter ças qualitativas. Temos que politizar áreas
metas iguais (Vide Santos, 2006). do social, como a assistência e a educação
Vários setores relativos às áreas sociais, a exem- – no sentido de inseri-las de fato como
plo dos sistemas educacionais, estão cada vez mais prioridade política nacional e não apenas
descentralizados e abertos; estão assim não por dá- discurso estratégico de plataformas eleito-
diva, mas por trabalho - fruto de demandas e pres- rais; e com elas, os seus conselhos.
sões da sociedade civil, conquista dos movimentos Há necessidade de se atingir a mídia,
sociais organizados. Mas o espaço apenas não basta, para que a educação ganhe legitimidade
ele tem que ser qualificado; se não houver sentido de junto à sociedade. Afinal, os conselhos e
emancipação, com projetos que objetivem mudanças colegiados são partes de uma gestão com-
substantivas e não instrumentais, corre- se o risco de partilhada e governar é a oportunidade
se ter espaços ainda mais autoritários do que já eram de construir espaços de liberdade, desen-
quando centralizados. volver a igualdade e, em suma: construir
Participar dos conselhos e colegiados é uma das o projeto da emancipação com sentidos
urgências e necessidade imperiosa. Mas é uma pre- e significados, com marcos referencias
paração contínua, permanente, de ação e reflexão. substantivos e não participar de cenários
Não basta um programa, um plano, ou um cursi- armados estrategicamente. Reiteramos - a
nho, ou conselho. Construir cidadãos éticos, ativos, participação da sociedade civil na esfe-
participativos, com responsabilidade com o univer- ra pública via conselhos e outras formas
sal, é retomar as utopias e priorizar a participação institucionalizadas, não é para substituir o
na construção de agendas que contemplem projetos Estado, mas para lutar para que este cum-
emancipatórios, projetos que coloquem como prio- pra seu dever: propiciar assistência, edu-
ridade a mudança social e qualifiquem seu sentido cação, saúde e demais serviços sociais com
e significado. Mais do que nunca temos que redis- qualidade e para todos, em direção a um
cutir o que é um projeto político emancipatório, re- projeto de emancipação dos excluídos.

18 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Participação Social

CONCLUSÕES

A participação popular nos conselhos São espaços políticos, de surgimento, visibilida-


deve ser para fiscalizar e co-gestionar as de e clarificação dos cidadãos. Organizados, atuam
políticas, exercendo um controle social de- como atores políticos, interagem com os poderes
mocrático. Por isso, a importância do ca- constituídos. Não são meros usuários. Têm direito
ráter deliberativo dos diferentes tipos de à fala e não só o de ouvir. É uma interlocução públi-
conselhos. É preciso entender o que é uma ca, que se supõe transparente. Pressupõe-se também
esfera pública de gestão compartilhada. que sejam qualificados. Têm que ter legitimidade e
Os conselhos devem ser dotados de dife- autoridade moral na representatividade. As compe-
rentes tipos de recursos, não se diferenciar tências e atribuições dos conselhos devem ser claras.
os conselhos gestores das áreas sociais, Deve-se ter também instrumentos jurídicos de apoio
dos conselhos de direitos (culturais e ou- para implementar, assim como para fiscalizar, o
tros), assim como os conselheiros devem cumprimento de suas decisões.
ser eleitos por períodos determinados e te-
rem cursos de formação e não sessões ou
oficinas de informações.

Maria da Glória Gohn é professora titular -


FE/UNICAMP/UNINOVE/CNPq

Referências bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999

GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e participação sociopolítica. 4ª Ed, S.Paulo, Cortez Ed, 2011

_________ O Protagonismo da sociedade civil: movimentos sociais, ONGS e redes solidárias. 2ª Ed.São Paulo: Cortez, 2008

____________. Movimentos e lutas sociais na História do Brasil. 7a ed. São Paulo: Loyola. 2012

_________Movimentos sociais e redes de mobilizações civis no Brasil contemporâneo. 5aª ed.Petrópolis, Vozes, 2013

____________Educação Não Formal e ao Educador Social. 2ª ed.São Paulo, Cortez, 2013

___________Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e contemporâneos. 10ª Ed. São Paulo. Ed. Loyola, 2012

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003

PATEMAN, C. 1992.Participação e teoria democrática.Rio de Janeiro, Paz e Terra

SANTOS, Boaventura de S. SANTOS, . A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006

SMITH, Graham. Democratic inovations-Designing institutions for citizen participation. Cambridge, Cambridge Un.Press, 2009

TOURAINE, Alain. Um Novo paradigma – Para comprender o mundo de hoje. Petrópolis, Ed. Vozes, 2006

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 19


Conselhos Municipais

A prática
do Conselho
Municipal de
Educação

Ivan Melo

O artigo, aqui apresentado, tem como finali- to que visa contemplar os anseios da sociedade.
dade potencializar a Gestão Participativa desen- É um instrumento de planejamento, visando às
volvida pela Secretaria da Educação, sistemati- diretrizes previstas nos objetivos educacionais.
zar informações sobre o Conselho Municipal de O PME também tem como objetivos “proporcio-
Educação - CME de Mogi das Cruzes e socializá- nar educação com qualidade e responsabilidade
-las com vista à divulgação e ampliação acerca social, diminuindo as desigualdades sociais e
dele, tornar esse conhecimento o embrião para a culturais, erradicando o analfabetismo, ampliar
construção de indicadores que venham a contri- o nível de escolaridade da população e propiciar
buir com a efetivação de processos avaliativos, a qualificação profissional para o trabalho”.
qualitativos e/ou quantitativos da esfera pública. É preciso dizer que de acordo com a Lei nº
Pretendo, com isso, contribuir para o fortale- 9.143, de março de 1995, em seu artigo 40, inciso
cimento e para consolidação do CME como ins- II é de responsabilidade do CME "colaborar com
tância democrática, participativa, em que novas o Poder Público Municipal na formulação e na
formas de relação entre Estado e sociedade civil elaboração do Plano Municipal de Educação". A
se estabeleçam configurando, dessa maneira, o Lei Municipal nº 6.597, de outubro de 2011, em
processo de gestão pública. seu artigo 3º, inciso II, alínea b, determina que o
O CME, assim como os demais Conselhos CME deve "subsidiar a elaboração e acompanhar
Municipais, foi preceituado pela Constituição a execução do Plano Municipal de Educação".
Federal de 1988, que em seus artigos 205, 206 A gestão pública clamava por reformas espe-
incisos I a VIII e 208 incisos I a VII, parágrafos cíficas, mas, sobretudo, por uma reforma parti-
1º, 2º e 3º estabelece a criação do principal docu- cipativa que compartilhasse as decisões políticas
mento diretor em que consta como se dará essa com a sociedade, ou seja, um modelo de gestão
gestão pública de educação com a sociedade: o pública descentralizada e participativa. Como
Plano Municipal de Educação - PME, documen- já citei anteriormente, a Constituição de 1988 foi

20 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Municipais

o marco formal desse momento histórico de re- mas Estadual e Municipal), Diretores de Escolas
avaliação dos papéis do Estado e da sociedade Municipais, Secretaria Municipal de Educação,
civil, que abriu caminho para a descentralização Professores de Escolas Municipais, Diretoria de
e para a participação social na gestão pública Ensino Estadual, Associação de Pais e Mestres,
(CORTÊS, 2002). É quando, pela primeira vez, há Associação de Amigos e Bairros, Entidades Fi-
um crescimento expressivo na formação de Con- lantrópicas, Polícia Civil, Polícia Militar, Ser-
selhos em diversas áreas, com diferentes níveis vidores Técnico-Administrativos das Escolas
de influência, variando desde conselhos somente Públicas, Secretaria Municipal de Assuntos Ju-
consultivos até conselhos fiscalizadores, gestores rídicos, Conselho Tutelar, Conselho Municipal
e deliberativos (MATOS, 2007). dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ensi-
Apesar dos limites de atuação, admite-se que no Superior, SESI e SENAI.
os Conselhos têm sido relevantes para a demo- O registro formal de um Conselho não re-
cracia participativa e para a política pública e que presenta a garantia de sua efetividade sobre o
são fundamentais para o controle social (ABRA- ângulo de desenvolvimento de projetos, será ne-
MOVAY, 2001; CORTÊS, 2002; MATOS, 2007). cessário que seus membros sejam participativos,
O CME de Mogi das Cruzes foi criado com a tornando as atividades desse Conselho relevan-
Lei Municipal nº 5.990, de 17 de maio de 2007, tes e de interesse público. Para isso é necessário
alterada pela Lei Municipal nº 6.075, de 05 de e obrigatório, o comparecimento dos seus mem-
dezembro de 2007, que estabeleceu que este fos- bros às sessões ordinárias e extraordinárias.
se composto por 21 membros titulares e igual O CME de Mogi das Cruzes, em sua admi-
número de suplentes com mandato de dois nistração, conta com uma Presidência, Câmara,
anos. A estrutura do CME é composta por repre- Secretaria Geral e Assessoria Jurídica com com-
sentantes de várias áreas da comunidade, como: petências plenamente definidas. É de competên-
Escolas Particulares (jurisdicionadas aos siste- cia deste conselho, de acordo com o Regimento

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 21


Conselhos Municipais

Interno: fixar diretrizes para organização do Sis- CALENDÁRIO DE REUNIÕES EM 2013


tema Municipal de Ensino a partir da legislação
vigente sobre a matéria, propor normas para
20 de fevereiro 10 de julho
aplicação dos recursos públicos em educação no
Município, propor medidas ao poder Público no
13 de março 14 de agosto
que tange ao cumprimento e aperfeiçoamento
da execução de suas responsabilidades em rela-
ção à Educação Infantil e ao Ensino Fundamen- 10 de abril 11 de setembro
tal, propor critérios para o funcionamento dos
serviços escolares de apoio ao educando (me- 15 de maio 9 de outubro
renda, transporte escolar e outros), pronunciar-
-se no tocante à instalação e ao funcionamento 12 de junho 13 de novembro
de estabelecimento de ensino de Educação Bási-
ca situados no Município, estabelecer formas de Horário: sempre às 8 horas
divulgação de sua atuação e elaborar e alterar o Local: Sala
Horário: do Conselho
sempre às 8 horas- Prefeitura de Mogi das Cruzes
seu Regimento Interno. Local: Sala do Conselho - Prédio Sede da Prefeitura
Por fim, entendo que o CME tem grande capa- de Mogi das Cruzes
cidade de tornar-se um espaço de participação
ampliada na gestão de políticas educacionais,
agregando atribuições e competências amplas e
incorporando os atores sociais que dele queiram A sede do Conselho Municipal de Educação de
participar. A expectativa é que cada vez mais Mogi das Cruzes fica no 3º andar do prédio sede da
este conselho se torne um campo de represen- Prefeitura de Mogi das Cruzes.
tação e negociação cooperativa, voltada para tão Mais informações pelo telefone (11) 4798-5194 ou
somente o autointeresse da comunidade. pelo e-mail: conselho.sme@pmmc.com.br.

Ivan Melo é Mestre em Semiótica, Tecnologia


da Informação. Autor do livro "Empreendedorismo
para a Sala de Aula". Membro da Academia Mogi-
cruzense de Letras, Ciências e Artes Maçônicas.
Atualmente, é Presidente do Conselho Municipal
de Educação de Mogi das Cruzes.

Referências bibliográficas:
ABRAMOVAY, R. Conselhos além dos limites. Estudos Avançados, São Paulo, v.15, n. 43,
p.121-40, 2001.

CORTES, S. Construindo a possibilidade da participação dos usuários: conselhos e confe-


rências no Sistema Único de Saúde. Sociologias. Porto Alegre: n. 7, jan-jun de 2002, p. 18-49.

MATOS, D. Os conselhos municipais no contexto do federalismo brasileiro sob a perspec-


tiva da pesquisa de informações básicas municipais. Escola Nacional de Ciências Estatísticas
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Dissertação de Mestrado.

22 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Municipais

COMPOSIÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - GESTÃO 2013/2014

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 23


Conselhos Municipais

CAE:
a comunidade
zelando pela
qualidade da
merenda escolar
Bruno Rodrigues da Luz

Nós, membros do Conselho de Alimentação O CAE é também um órgão que dá voz à referi-
Escolar (CAE), fazemos parte de um órgão fis- da comunidade, pois seus membros são, geralmente,
calizador dos recursos federais destinados à o corpo docente, funcionários e pais de alunos. Esta
merenda com autonomia administrativa, cujo composição é que garante estarmos próximos da so-
objetivo é zelar pela qualidade dos produtos em ciedade, já que os seus integrantes estão diretamente
todos os níveis, desde a aquisição até a distribui- ligados às unidades escolares. Outro fator que nos
ção. Para tanto, procuramos analisar as contas aproximou ainda mais da sociedade foi a construção
relativas ao programa de alimentação escolar, de uma página em uma rede social. O endereço é o
relatórios, extratos bancários, notas fiscais e etc. mesmo do nosso email: cae.pmmc@yahoo.com.br. A
No dia 4 de abril, iniciamos as visitas às unida- página visa a informar a população sobre nosso tra-
des escolares, a fim de observar o armazenamen- balho e divulgar o que realizamos em nossos encon-
to, o relacionamento dos Auxiliares de Desenvol- tros, além de permitir que qualquer pessoa que tenha
vimento da Educação (ADEs) com os estudantes interesse por nossas ações possa deixar seus comen-
e funcionários, a segurança do local (cozinha) e o tários ou críticas.
preparo e distribuição dos alimentos, analisando Também queremos construir um blog com muitas
as práticas de higiene. Além disso, oferecemos informações relacionadas ao Conselho, pois o CAE
orientações (quando necessárias) e, recebemos é uma ferramenta para melhorias. Quanto mais pes-
sugestões dos funcionários e alunos sobre a ali- soas tiverem o conhecimento deste poderoso canal
mentação servida, bem como de outros mem- de comunicação, então teremos grandes chances de
bros da comunidade, com o intuito de transmitir atingirmos o resultado esperado: manter a constan-
maior confiança e credibilidade, pois quem fre- te qualidade da merenda servida em nossa região,
quenta as unidades são seus filhos e netos. que tem tido uma excelente qualidade.

24 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Municipais

MEMBROS DO CONSELHO DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR – GESTÃO 2013/2017

Enfim, nosso Conselho, como já dito anterior- CALENDÁRIO DE REUNIÕES EM 2013


mente, busca fiscalizar recursos destinados à me-
renda, zelar pela qualidade da mesma e, principal-
mente, aproximar a comunidade das nossas ações,
bem como integrá-la a nossa equipe.
O CAE possui sala exclusiva no prédio do Depar-
tamento de Alimentação Escolar, localizado na Ave-
nida Francisco Ferreira Lopes, 2020, em Brás Cubas.
O telefone é (11) 4727-1250.

Bruno Rodrigues da Luz é Auxiliar de Desenvolvi-


mento da Educação (ADE) e presidente do Conselho
de Alimentação Escolar (CAE). Trabalha na área de
alimentação desde 1997, possui curso técnico em Co-
zinha com Ênfase em Gastronomia e atualmente está
cursando Matemática na UNIP.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 25


Conselhos Municipais

Controle Social
do FUNDEB
O controle social é um
direito do cidadão brasileiro
conquistado na Constituição
Federal de 1988. É o direito
da participação da sociedade
no acompanhamento e
verificação da gestão dos
recursos federais empregados
nas políticas públicas. Vale
salientar que controle social
é um dos mecanismos mais
importantes dos conselhos
gestores de políticas públicas.

26 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Municipais

Mario Sergio Barbosa

O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do 6. Reunir-se periodicamente, pelo


Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação menos uma vez por mês, para examinar
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação os relatórios e demonstrativos elaborados
(CACS-FUNDEB), além de sua principal atribuição, pre- pelo executivo sobre a aplicação dos recur-
vista no caput do art. 24 da Lei nº 11.494/07, recebe outras sos do Fundeb, solicitando, se necessário,
funções nos § 9º e 13º do mesmo artigo e o parágrafo úni- cópias de avisos de créditos ou extratos da
co do art. 27, como: conta do Fundeb junto ao Banco do Brasil
ou Caixa Econômica Federal (Fundeb, Ma-
1. Acompanhar e controlar a distribuição, transfe- nual de Orientações, pág. 36);
rência e aplicação dos recursos do Fundeb (art. 24); 7. Realizar visitas a obras, escolas
2. Supervisionar o censo escolar anual e a elabora- e outras localidades onde estejam sendo
ção da proposta orçamentária anual com o objetivo de realizados ou oferecidos serviços com a
concorrer para o regular e tempestivo tratamento e en- utilização dos recursos do Fundo, com
caminhamento dos dados estatísticos e financeiros que o objetivo de verificar a efetiva e regular
alicerçam a operacionalização dos Fundos (art. 24 §9º); aplicação dos recursos e a adequabilidade,
3. Acompanhar a aplicação dos recursos federais finalidade e utilidade do bem ou serviço
transferidos à conta do Programa Nacional de Apoio ao resultante dessa aplicação (Fundeb, Manu-
Transporte Escolar - PNATE e Programa de Apoio aos al de Orientações, pág. 36);
Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jo- 8. Informar-se sobre todas as ope-
vens e Adultos (art. 24 §13º); rações e transações financeiras realizadas
4. Analisar os registros contábeis e os demonstra- com os recursos do Fundeb, especialmente
tivos gerenciais mensais, atualizados relativos aos recur- em relação à destinação desses recursos,
sos repassados e recebidos à conta dos Fundos (art. 25); quando executados (Fundeb, Manual de
5. Instruir, com parecer, as prestações de contas a Orientações, pág. 36);
serem apresentadas ao respectivo Tribunal de Contas. 9. Acompanhar a elaboração e o fiel
Sendo o parecer apresentado ao executivo em até 30 dias cumprimento do Plano de Carreira e Re-
antes do vencimento do prazo para apresentação da pres- muneração do Magistério (Fundeb, Manu-
tação de contas àquele Tribunal (art.27); al de Orientações, pág. 36).

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 27


Conselhos Municipais

Assim, o Fundeb e as demais políticas Sendo assim, temos 11 representações da sociedade ci-
públicas devem assegurar não somente o vil e administração pública, não podendo estar composto
acesso, mas a melhoria da qualidade da este conselho com menos de 9 membros representantes.
educação básica. Veja no quadro abaixo a evolução do percentual do Fun-
Em sua composição, o CACS-Fundeb deb desde 2007. A partir de 2010, em cada Estado, o Fun-
está assim constituído: deb passou a ser composto por 20% das seguintes receitas:
- dois representantes do Poder Executi- • Fundo de Participação dos Estados – FPE.
vo, dos quais pelo menos um da Secretaria • Fundo de Participação dos Municípios – FPM.
Municipal de Educação; • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Servi-
- um representante dos Professores da ços – ICMS.
educação básica pública; • Imposto sobre Produtos Industrializados, propor-
- um representante dos Diretores das es- cional às exportações– IPIexp.
colas básicas públicas; • Desoneração das Exportações (LC nº 87/96).
- um representante dos Servidores das • Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doa-
escolas básicas públicas, exceto profissio- ções – ITCMD.
nais do quadro do Magistério; • Imposto sobre Propriedade de Veículos Automo-
- dois representantes dos Pais dos alu- tores – IPVA.
nos da educação básica pública; • Cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural -
- dois representantes dos Estudantes da ITR devida aos municípios.
educação básica pública, sendo um indicado Também compõem o Fundo as receitas da dívida ativa
pela entidade de estudantes secundaristas; e de juros e multas incidentes sobre as fontes acima rela-
- um representante do Conselho Munici- cionadas. Ainda, no âmbito de cada Estado, onde a arre-
pal de Educação, indicado pelos seus pares; cadação não for suficiente para garantir o valor mínimo
- um representante do Conselho Tutelar, nacional por aluno ao ano, haverá o aporte de recursos
indicado pelos seus pares. federais, a título de complementação da União.

Receita / Ano 2007 2008 2009 2010 a 2020

FPE 16,66% 18,33% 20% 20%

FPM 16,66% 18,33% 20% 20%

ICMS 16,66% 18,33% 20% 20%

I P I exp. 16,66% 18,33% 20% 20%


Desoneração das
Exportações 16,66% 18,33% 20% 20%

ITCMD 6,66% 13,33% 20% 20%

I P VA 6,66% 13,33% 20% 20%

I T R - Cota Municipal 6,66% 13,33% 20% 20%

Complementação 10% da contribuição de


da União
R$ 2 bilhões R$ 3,2 bilhões R$ 5,1 bilhões estados e municípios
Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-apresentacao)

28 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Municipais

Os recursos do Fundeb são distribuídos de forma au-


tomática (sem necessidade de autorização ou convênios
para esse fim) e periódica, mediante crédito na conta es-
pecífica de cada governo estadual e municipal.
A distribuição é realizada com base no número de alu-
nos da educação básica pública, de acordo com dados do
último censo escolar, sendo computados os alunos matri-
culados nos respectivos âmbitos de atuação prioritária,
conforme art. 211 da Constituição Federal.
Ou seja, os municípios recebem os recursos do Fundeb
com base no número de alunos da educação infantil e do
ensino fundamental e os Estados com base no número
de alunos do ensino fundamental e médio, observada a
seguinte escala de inclusão:

Etapa / modalidade de ensino 2007 2008 2009 a 2020

Ensino Fundamental Regular e Especial 100% 100% 100%

Educação Infantil, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos 33,33% 66,66% 100%
Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-apresentacao)

Em Mogi das Cruzes, o CACS-Fundeb é recente, foi Sendo constatadas irregularidades, o


instituído pela Lei Municipal nº 6.598 de 05 de outubro Conselho formaliza pedido de providên-
de 2011. Antes disso, era controlado pela Câmara de cia ao governo responsável, de modo a
Acompanhamento e Controle Social do Fundeb, órgão permitir que, no âmbito do próprio poder
pertencente ao Conselho Municipal de Educação. Em executivo responsável, os problemas sejam
função da complexidade do controle e acompanhamen- sanados; na sequência, se necessário, deve
to dos gastos do Fundeb, sentiu-se a necessidade do procurar a Câmara Municipal, Ministério
desmembramento do Conselho Municipal de Educação Público ou Tribunal de Contas (Estado/
e a instituição do Conselho. Município ou da União).
O CACS - FUNDEB não é uma unidade administrativa A sede do CACS-Fundeb de Mogi das
do governo, assim, sua ação deve ser independente, autô- Cruzes fica no 3º andar do prédio sede da
noma e sem nenhuma subordinação ao executivo, porém, Prefeitura de Mogi das Cruzes. Mais infor-
deve ser harmônica com os órgãos da administração pú- mações pelo telefone (11) 4798-5194 ou pelo
blica local. O CACS-Fundeb, antes de uma instância de e-mail cacs.fundeb.mogi@pmmc.com.br.
fiscalização e controle, constitui-se mais como uma fer-
ramenta a serviço do cidadão, mas também e não menos
importante, a serviço da administração pública enquanto
órgão que aponta falhas, erros ou equívocos no intuito
Mario Sérgio Barbosa é orientador de Infor-
de orientar e corrigir condutas e assim, contribuir para a mática da EM Prof. Rodolpho Mehlmann e Pre-
gestão pública dos recursos. sidente do CACS-FUNDEB de Mogi das Cruzes.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 29


Conselhos Municipais

CALENDÁRIO DE REUNIÕES EM 2013

27 de fevereiro 27 de março 24 de abril 29 de maio 26 de junho

31 de julho 28 de agosto 25 de setembro 30 de outubro 27 de novembro

Horário: sempre às 8 horas


Local: Sala do Conselho - Prédio Sede da Prefeitura de Mogi das Cruzes

COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ACOMPANHAMENTO E CONTROLE SOCIAL


DO FUNDEB – GESTÃO 2012/2014

INSTITUIÇÃO REPRESENTANTES
Representantes de Escolas Públicas, Titular: Mário Sérgio Barbosa - Presidente
exceto profissionais do quadro do Magistério Suplente: Alex Augusto da Silva

Representantes do Poder Executivo Titular: Maria de Fátima R. Vicentino (SMF)


Suplente: Elaine Berloffa Martins (SMF)
Titular: Arlete Sakai Beono (SME)
Suplente: Ofélia Aparecida da Costa Fernandes (SME)

Professores das Escolas Públicas Titular: Ciomara Rodrigues Prado de Miranda - Secretária
Suplente: Andrea Carvalho

Diretores das Escolas Públicas Titular: Ana Lúcia Alves Pinto


Suplente: Aliane Pontes Rodrigues

Representantes de pais e alunos da Educação Pública Titular: Anália Regina Khorouzian Ribeiro
Suplente: Antonio Junior de Barros
Titular: Marcela Rufino de Camargo
Suplente: Rosemary Tie Usumoto Niyiama

Estudantes da Educação Básica Pública Titular: Daniel Felipe da Silva


(EE Francisco Ferreira Lopes)
Suplente: Rosana Palácio Aranda
(EE Ver. Narciso Yague Guimarães)

Conselho Municipal de Educação Titular: Louise Mary Rodrigues G. Guedes


Suplente: Célia Aparecida Pires

Conselho Tutelar Titular: Ricardo Luiz de Oliveira


Suplente: Sergio de Souza Oliveira

30 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

Conselhos escolares:
democracia
em avanço
Fomentar a participação da
comunidade e criar uma rede
que informe, elabore, implemente
e avalie as políticas públicas
são, hoje, peças essenciais
nos discursos de qualquer
política pública. Abordarei a
participação da comunidade
mogiana em estruturas
institucionalizadas a partir de um
histórico da participação social
na gestão pública nacional.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 31


Conselhos Escolares

O ideal está posto, a sociedade reclama


seus direitos, a educação está em
meio a grandes transformações e as
circunstâncias as fazemos nós, agentes
educacionais, intelectuais e pensadores
historicamente comprometidos com um
projeto emancipatório, transformador.
(VEIGA, 2003)

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL A LDB, o Plano Nacional de Edu-


NAS POLÍTICAS PÚBLICAS, cação - PNE, o Plano de Desenvol-
UMA HISTÓRIA A SER CONTADA vimento da Escola - PDE, o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento
Serly Garcia
da Educação Básica e de Valoriza-
Nos últimos 20 anos, a Educação tem sofrido uma inje- ção dos Profissionais da Educação
ção de democracia que teve seu início com o Manifesto dos - FUNDEB e as Diretrizes Curricula-
Pioneiros em 1932. As discussões sobre a descentralização res definidas pelo Conselho Nacio-
já apontavam caminhos para municipalização do ensino nal de Educação - CNE mostram sua
nos municípios desde 1937 e Anísio Teixeira (1900- 1971) existência e sua ordenação.
foi o protagonista dessas discussões para os novos rumos Partindo do pressuposto de que
da educação brasileira. Bordignon (2009) em seu livro Ges- sozinhos não faríamos muita coisa,
tão da Educação no município: sistema, conselho e plano afirma temos então uma organização descen-
que a descentralização do ensino, por meio dos sistemas tralizada e orientada, fundamentando
articulados na concepção dos pioneiros, não significava objetivos e metas comuns, unificados
mera transferência de responsabilidades e nem podería- ao projeto nacional, seguindo em bus-
mos pensar assim, mas significava, sim, muito mais um ca de uma educação de qualidade.
compartilhar de poder e responsabilidades em prol de um Sob esse aspecto, os Conselhos Es-
ensino de qualidade. colares (CE) são verdadeiros exercí-
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, cios de cidadania, interfaces gerado-
nº 9394/96) em seu art. 9º, inciso I, estabelece o regime de co- ras de escolas cidadãs. Os conselhos
laboração (trabalho conjunto entre os municípios, estados e a auxiliam na construção do Projeto
união). Este termo dá significado e responsabilidade à autono- Político-Pedagógico de cada unida-
mia dos municípios, o que é um compromisso com a educação. de e na participação e democratiza-
Organizar a educação do Brasil em um sistema nacional ção no sistema público de ensino.
articulado torna efetivo o regime de colaboração e cria um Em Mogi das Cruzes, a criação dos
novo referencial no exercício do poder dos municípios e es- conselhos de escola, contemplada na
colas. Os sistemas foram criados para garantir uma série de Lei Municipal nº 5.507/03, representa
normas constitucionais. parte do processo de cidadania.

32 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

“Democratização” supõe “participação” e


esta, por sua vez, supõe “autonomia.
Sobre esse tripé ergue-se o edifício da
escola que idealizamos e que, nas dobras
do cotidiano, procuramos constituir
por sobre práticas institucionais que
recebemos por herança, como também
novas práticas que nos movem.
Da mesma forma, podemos afirmar que
esses três conceitos provocam as mais
resistentes barreiras a uma escola de
qualidade para todos.
(SACRISTÁN, 1999)

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 33


Conselhos Escolares

Conselhos Escolares só são


As atividades desenvolvidas ao
eficazes num conjunto de longo de 2012 culminaram no I En-
medidas políticas que visem contro de Conselheiros Escolares de
à participação das decisões. Mogi das Cruzes, que contou com a
(GADOTTI, 1995: 49) participação de autoridades muni-
cipais, representantes do Ministério
Público, Coordenadorias e Conselhos,
gestores municipais e conselheiros
escolares. Os convidados foram re-
cepcionados por uma exposição de
desenhos e textos que ilustravam a es-
cola dos sonhos, sob a perspectiva da
O CAMINHAR SE FAZ CAMINHANDO comunidade mogiana. Especialistas
realizaram uma mesa redonda com o
O Conselho Escolar é um órgão colegiado, consultivo e de- intuito de discutir sobre a importân-
liberativo, o qual revela o princípio da gestão democrática. cia, o funcionamento do colegiado
Uma forma prática do exercício pleno do respeito às diferen- Conselho Escolar, seus mecanismos
ças e às relações sociais no processo educativo, que oportuni- de participação. O objetivo foi garan-
za aos Conselhos Escolares o acompanhamento e o auxílio da tir a atuação da comunidade escolar
tão sonhada melhoria da qualidade da educação. nos processos decisórios, fortalecendo
Entendemos que só é possível colaborar quando temos o o envolvimento nas questões pedagó-
conhecimento e esta é a oportunidade de participação coleti- gicas e administrativas para assegurar
va que dá sentido à educação emancipadora. Com essa mo- a qualidade do ensino dentro de uma
bilização, nossa cidade dá mais um exemplo de democracia e visão democrática de educação.
participação popular. Cabe reforçar que os Conselhos Es-
Os Conselhos Escolares mogianos trabalham com a par- colares são organismos colegiados de
ticipação de todos os envolvidos com a escola numa gestão forte influência na construção da au-
compartilhada, transformando o processo de ensino-apren- tonomia das escolas e que ao se cons-
dizagem e as formas de avaliação em parte do processo e tituírem passam a configurar verda-
não somente em um resultado mecânico. Temos claro que o deiros exercícios de democratização
desempenho escolar não é um fim e, sim, um meio para o do espaço público e na construção de
desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes. uma escola cidadã.
Ainda temos muito a percorrer nesta trilha da democracia, Em síntese, não se constrói uma
mas temos dado vários passos na constituição, apoio e atua- escola pública de qualidade, demo-
ção dos Conselhos Escolares. Os critérios, formas e atitudes crática e com sustentabilidade em
são construídos por cada unidade escolar, não perdendo de seus processos gerenciais, sem o for-
vista nosso maior propósito que são as crianças. talecimento dos mecanismos que
Em 2012, para fomentar discussões acerca dos Conse- viabilizam a participação de todos.
lhos Escolares entre os gestores das unidades escolares, a O Conselho Escolar é um importante
Secretaria Municipal de Educação os convidou a formar um instrumento dessa construção.
Grupo de Apoio ao Fortalecimento dos Conselhos Escolares
de Mogi das Cruzes – GAFCE – Mogi das Cruzes. Todos
os gestores pertencentes ao grupo participaram do curso de Serly Garcia é responsável pela
área de Relações Institucionais do
formação realizado na Ufscar (Universidade Federal de São
Departamento Pedagógico da Se-
Carlos) por meio do Programa Nacional de Fortalecimento cretaria Municipal de Educação de
dos Conselhos Escolares. Mogi das Cruzes.

34 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

Referências bibliográficas
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Paulo; Cortez: São Paulo, 2002.

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escola e construção da cidadania. Brasília, DF, 2004c. (Caderno, 1).

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cola. Brasília, DF, 2004d. (Caderno, 2).

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Brasília, DF, 2006b. (Caderno, 9).

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cação no Brasil. Brasília, DF, 2006c. (Caderno, 7).

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho escolar e a relação entre a escola
e o desenvolvimento com igualdade social. Brasília, DF, 2006d. (Caderno, 10).

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho escolar e o respeito e a valorização
do saber e da cultura do estudante e da comunidade. Brasília, DF, 2004e. (Caderno, 3).

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho escolar e a valorização dos traba-
lhadores em educação. Brasília, DF, 2006e. (Caderno, 8).

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Gestão democrática da educação e escolha
do diretor. Brasília, DF, 2004f. (Caderno, 5).

CONSELHO ESCOLAR: ALGUMAS CONCEPÇÕES E PROPOSTAS DE AÇÃO

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização.
7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto; AGUIAR, Márcia Ângela da Silva. (Orgs). Gestão da Educação: Impasses,
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FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

LUIZ, Maria Cecília; CONTI, Celso. Políticas públicas municipais: os conselhos escolares como instrumento de
gestão democrática e formação da cidadania. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 16., 2007, Campinas,
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MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA: A Reconstrução Educacional no Brasil - Ao Povo e ao


Governo. Rio de Janeiro, 1932

PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001.

PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 1997.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 35


Conselhos Escolares

Movimentos Sociais:
conhecendo
sua história

Márcia A. M. Vianna

Pensando na história propriamente Criam-se, então, movimentos contra discrimina-


dita, a luta por direitos por meio de movi- ção racial, sobre os direitos das mulheres, direitos
mentos sociais no Brasil é recente, a volú- humanos, aos portadores de necessidades especiais,
pia e a constante movimentação popular de idosos, de indígenas, da criança, da juventude,
vêm ao encontro da participação de sujei- entre outros. Nascem também grandes fóruns de dis-
tos presentes na política nacional. Desde cussão sobre as organizações não governamentais e
o Brasil colonial até os dias atuais, grupos Educação Popular, responsáveis por mudanças de
discutem assuntos em busca de um ideal, valores e comportamentos na sociedade brasileira
passando pela história de vida e de con- Embora muitas vezes esses movimentos sejam invi-
quistas de cidadãos nas mais diferentes síveis à sociedade, seus resultados atingem-na dire-
sociedades existentes. tamente, consolidando a democracia participativa.
Na década de 80, conhecida como dé- A questão do protagonismo dos movimentos so-
cada perdida, os Movimentos Sociais sur- ciais no Brasil, a partir dos anos 90, começa a per-
gem como manifestos, num contexto social der visibilidade política no cenário urbano. A partir
em que se veem as conquistas como garan- disso, destacam-se três momentos: de 1990 a 1995,
tia de direitos e melhoria na qualidade de 1995 a 2000 e do início deste novo século até os dias
vida. Com essa afirmação o exercício da atuais, que diagnosticam uma crise dos movimentos
cidadania ganha força, surgindo cada vez sociais populares urbanos. Nos primeiros cinco anos
mais agrupamentos humanos, construção dos anos 1990, houve uma redução de parte de seu
de identidades e autoestima, pessoal e so- poder de pressão direta que havia sido conquistado
cial, em pessoas, até então marginalizadas, nos anos 1980. Nesse momento, o país saía de uma
discriminadas ou oprimidas, percebendo etapa de conquista dos direitos constitucionais, os
claramente a ação e a reação da sociedade. quais necessitavam ser regulamentados.

36 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

“(...) Na realidade histórica, os movimentos


sociais sempre existiram e cremos que sempre
existirão. Isso porque eles representam forças
sociais organizadas que aglutinam as pessoas não
como campo de atividades e de experimentação
social, e essas atividades são fontes geradoras de
criatividade e inovações socioculturais”
(GOHN, 2004)

EVOLUÇÃO DOS CONSELHOS NAS ESCOLAS

Fonte: LUIZ, Maria Cecília (Org). Conselho escolar: algumas concepções e propostas de ação.

Ao mesmo tempo, o Governo Federal, passou a im- tica dos dirigentes escolares e a gestão de-
plementar ou a aprofundar, em todos os níveis, as políti- mocrática com a participação dos Conse-
cas neoliberais, as quais geraram desemprego, aumento lhos Escolares, fortalecendo os colegiados
da pobreza e da violência urbana e rural. (Gohn, 2005) e tendo como princípios: a instituição do
A Educação não ficou alheia a esse movimento. A Estado Brasileiro como Estado democráti-
democracia era o sonho, passando a ser defendida e co de direito e a garantia da supremacia da
posta como: acesso e permanência, escolha democrá- Lei sobre a vontade individual.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 37


Conselhos Escolares

"(...) no exercício de sua autonomia, cada sistema de ensino


há de implementar gestão democrática. Em nível de gestão de
sistema na formação de Conselhos de Educação que reúnam
competência técnica e representatividade dos diversos setores
educacionais; em nível das unidades escolares, por meio
da formação de conselhos escolares da direção escola que
associem a garantia da competência ao compromisso com a
proposta pedagógica emanada dos conselhos escolares e a
representatividade e liderança dos gestores escolares".
(BRASIL, 2001)

PLANOS DE EDUCAÇÃO
LDB - artigo 3º, inciso VIII
Gestão democrática do ensino público, na forma
desta Lei e da legislação dos sistemas de Ensino

Plano de Metas e Compromisso Todos Plano Municipal de Educação de Mogi


Pela Educação – Decreto nº 6094/2007 das Cruzes 2013/2014 – p.94
Garante, que deve-se: fomentar e apoiar os con- Consolidar a integração escola-comunidade para
selhos escolares, envolvendo as famílias dos edu- que a instituição de ensino firme-se como um espaço
candos, com as atribuições, dentre outras, de zelar privilegiado de debates de questões sociais emergen-
pela manutenção da escola e pelo monitoramento tes, que conduzam à conscientização da importância
das ações e consecução das metas do compromisso dos pais, alunos e comunidade, na construção de
– Artigo 2, inciso XXV. uma escola de qualidade para todos, que atenda as
demandas de uma sociedade contemporânea;
Plano Nacional de Educação: Promover a efetiva participação dos pais e prepa-
PNE 2011 a 2020 rar a comunidade escolar para a autogestão pedagó-
Capítulo V – Financiamento e Gestão – 11.3: gica e administrativa da respectiva unidade de ensi-
22. Definir, em cada sistema de ensino, normas no, discutindo propostas e definindo como aplicar os
de gestão democrática do ensino público, com a recursos a fim de aperfeiçoar a estrutura e elevar a
participação da comunidade. qualidade do atendimento prestado.

38 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

“Tudo que a gente puder fazer no sentido


de convocar os que vivem em torno da
escola, e dentro da escola, no sentido
de participarem, de tomarem um pouco
o destino da escola na mão, tudo que a
gente puder fazer nesse sentido é pouco
ainda, considerando o trabalho imenso
que se põe diante de nós que é assumir o
país democraticamente”.
(PAULO FREIRE)

A Constituição de 1988 foi a primeira Carta Magna Os conselhos escolares surgem em vir-
a introduzir a concepção de conselhos com a finali- tude da importância de que todos da co-
dade de garantir os direitos sociais para a realização munidade escolar se conscientizem de seu
plena da democracia no Brasil, excluindo o olhar cen- papel social e relevância no processo edu-
tralizador das elites políticas, econômicas e sociais, cacional democrático, tendo como função
prevendo que a educação seja promovida e incenti- zelar pela manutenção da escola e partici-
vada com a colaboração da sociedade e reafirman- par da gestão administrativa, pedagógica
do no artigo 206, o princípio da gestão democrática e financeira, contribuindo com as ações
como orientador do ensino público. dos gestores escolares a fim de assegurar
O processo de uma gestão democrática exige a par- a qualidade de ensino.
ticipação dos diferentes segmentos da comunidade O conselho escolar é constituído por
escolar nas decisões políticas de caráter pedagógico. representantes de pais, estudantes, pro-
fessores, demais funcionários, membros
COMEÇAM A SURGIR OS CONSELHOS da comunidade local – sociedade civil - e o
gestor da escola. Cada escola deve estabe-
O termo conselho, derivado do latim consilium, lecer regras transparentes e democráticas
apresenta vários sentidos: opinião, bom senso, sabe- para a eleição dos membros do conselho.
doria, prudência, grupo de pessoas, assessoramento, Visando fomentar ações pontuais no
entre muitos. Aqui para nós, no sentido de prudência sentido de incentivar a formação e a exis-
ou papel moral e de aprimoramento espiritual na re- tência de colegiados e de fortalecê-los, lan-
alização da cidadania, conselhos são estruturas polí- ça-se em 2004 para todo o País, sob a res-
ticas (participação popular) com caráter consultivo, ponsabilidade da Secretaria da Educação
de assessoramento ou deliberativo. Básica – SEB do Ministério da Educação, o

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 39


Conselhos Escolares

“ O Conselho será a voz e o voto dos diferentes atores


da escola, internos e externos, desde os diferentes
pontos de vista, deliberando sobre a construção e a
gestão de seu projeto político-pedagógico”.
(Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão
democrática da Educação pública, p. 33,34-MEC, 2004)

Programa Nacional de Fortalecimento dos com os sistemas de ensino a capacitação de conse-


Conselhos Escolares, contando com a par- lheiros escolares;
ticipação de diferentes instituições para a estimular a integração entre os conselhos escolares;
sua concepção. apoiar os conselhos escolares na construção cole-
Mogi das Cruzes, com um sistema de tiva de um projeto educacional no âmbito da escola,
ensino estruturado, criou, um ano antes, o em consonância com o processo de democratização
Decreto nº 25 de junho de 2003, que dispõe da sociedade;
sobre o funcionamento do Conselho Esco- promover a cultura do monitoramento e avaliação
lar das escolas municipais e, assim, iniciou no âmbito das escolas, para a garantia da qualidade
sua participação nessa jornada, oferecen- da educação.
do aos gestores e técnicos a realização do
curso e a presença em encontros para estu- Com o desafio de tornar a escola um espaço de
dos e discussões sobre o tema. conquista de direitos e de transformação social do
Desde 2005, representantes da Secre- indivíduo, a Secretaria Municipal de Educação pro-
taria Municipal de Educação passaram a pôs, em 2012, encontros de formação de conselheiros
participar das formações, encontros e se- escolares, promovendo reflexões, estudos e debates
minários realizados pelo Programa Na- fundamentados nos materiais elaborados pelo Mi-
cional do Fortalecimento dos Conselhos nistério da Educação (Cadernos Escolares).
Escolares, que tem como objetivos: Com uma tarefa eminentemente coletiva, gestores,
professores, pais, alunos e representantes da comu-
ampliar a participação das comunidades nidade local passaram de coadjuvantes a protagonis-
escolar e local na gestão administrativa, fi- tas do processo educacional e democrático.
nanceira e pedagógica das escolas públicas; Os encontros foram realizados em cinco dias, sen-
apoiar a implantação e o fortalecimento do um como abertura, três de formação e o último de
de conselhos escolares; encerramento, melhor dizendo, de um momento de
instituir, em regime de colaboração reflexões e de lançamento de ideias, sugestões e duvi-

40 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

“A gestão democrática é a concepção de administração


de escola segundo a qual todos os envolvidos na
vida escolar devem participar de sua gestão e que
estabelece que toda ação ou decisão tomada referente
à escola deve ser de conhecimento de todos”.
(Riscal, 2009, p.45)

Referências bibliográficas:
BARCELLI, J.C.; PAULA; L.M. de S. Organização e Funciona-
mento dos Conselhos Escolares do Estado de São Paulo. IN: Se-
minário Internacional de Gestão Educacional, Rio Claro – SP - 2011
BRITO, Paulo A.B. Movimentos populares; possibilidades e limi-
tes de um novo sujeito histórico. Dissertação de Mestrado. Campina
Grande, PB: 1990.
Brasil. Ministério da Educação – Secretaria Especial dos Direitos
Humanos
das; a fim de refletirmos sobre nossas práticas. Rece- Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica
bemos com muita lisonja, convidados como Professor – Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares:
conselhos escolares: uma estratégia de gestão democrática da
Mestre Douglas de Matteu; Silvio Cesar Silva, Doutor educação pública/elaboração Genuíno Bordignon – Brasília: MEC,
em Ciências Sociais e o Professor Mestre Leandro Bas- SEB,2004.

sini, compondo a mesa redonda em que foram expos- Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica
– Conselhos escolares: democratização da escola e construção da
tas questões relevantes e pertinentes às funções do cidadania/elaboração Ignez Pinto Navarro [et al.] – Brasília: MEC,
Conselho Escolar por meio de vídeos, textos e relatos SEB,2004.

relacionados a políticas públicas democráticas e efica- Brasil. Decreto nº 6094 de 24 de abril de 2007: dispõe sobre a
implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Edu-
zes e a importância da participação social. cação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municí-
Mogi das Cruzes escreve sua história com ações pios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da
comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e
indispensáveis, como o processo de democratização financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade
da gestão, considerando todos como sujeitos históri- da educação básica. Brasília.

cos e atuantes na prática social da educação escolar GOHN, Maria da Glória. O protagonismo da sociedade civil: mo-
vimentos sociais, ONGs e redes solidárias. São Paulo: Cortez, 2005.
voltada para o exercício da cidadania, da democra-
______, (org) Movimentos sociais no início do século XXI: antigos
cia; possibilitando como missão principal, torná-los
e novos atores sociais. 2ed. Rio de Janeiro: Vozes,2004
realmente cidadãos políticos e participativos, ele-
Mogi das Cruzes - Plano Municipal de Educação – 2013 – 2014
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LUIZ, Maria Cecília (Org). Conselho escolar: algumas concep-
ções e propostas de ação. São Paulo: Xamã, 2010. 151 p.
RISCAL, Sandra Aparecida. Gestão democrática no cotidiano
escolar: EdUfscar – 2009, p.45
http://www.uniesp.edu.br/revista/revista9/pdf/artigos/18.pdf
Márcia Aparecida Melo Vianna é professora
do ensino fundamental, formada em Pedagogia, http://www.ufscar.br/~pedagogia/novo/files/tcc/tcc_tur-
ma_2008/327778.pdf
com pós-graduação em Direito Educacional, Su-
pervisão e Gestão Escolar e Planejamento Esco- h t t p : / / p o r t a l . m e c . g o v. b r / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _
lar. Atualmente é como gestora da Educação de content&id=16478&Itemid=1107
Jovens e Adultos da rede municipal de ensino de
acessos em 08 abril.2013
Mogi das Cruzes.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 41


Conselhos Escolares

Inclusão social e
fortalecimento dos
Conselhos Escolares
Leandro Bassini

Tanto no passado como no presente, inclusive em tempos de integração de es-


paço/tempo/cultura em função de processos vinculados à mundialização, con-
ceito tomado de Chesnais (1996), o sentimento de pertencimento1 de homens e
mulheres à terra na qual vivem, projeta-os à arena de decisão e lutas sobre os
destinos de seus “chãos”.
O pertencimento guarda na esfera do exercício do poder sua principal ex-
pressão. Um poder compartilhado, pois a ligação do ser humano à terra não traz
a noção de propriedade privada, mas sim provento que garanta à sociedade sua
própria sobrevivência e reprodução, portanto, uma relação social de produção
que, em si, não é, em um primeiro momento, privatista e sim, coletivista, confor-
me nos mostrou Engels (2012).
No Brasil, o sentimento de pertencimento ao lugar em que se vive está direta-
mente ligado às relações de produção historicamente construídas, isto quer di-
zer, filho de relações marcadas pela desigualdade, privilégios, exclusão, violên-
cia e pelo patrimonialismo, contexto amplamente explorado por Faoro (2001).
As grandes cidades brasileiras apresentam-se como retratos privilegiados do
“não pertencimento”, do fora de lugar, da exclusão: bairros distantes do local de
trabalho que se caracterizam como dormitórios, bairros formados do dia para
noite por movimentos populares de invasão, condomínios fechados, bairros
construídos nas franjas da cidade e dos relevos inconstantes.
1
O conceito de pertencimento está relacionado à ligação que o ser humano possui em relação ao lugar que vive
tanto do ponto geográfico, quanto nos aspectos humanos, culturais e econômicos.

42 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

A construção do empoderamento2 do cidadão O discurso recorrente é de que a escola não


ocorre na luta pelo reconhecimento de si, de sua possui muros, ou seja, a escola não está desco-
condição de excluído e da luta por uma realida- netada da realidade que a cerca, porém a prática
de diferente da vivida. É uma relação de per- nos mostra que os gestores ainda não conseguem
tencimento/empoderamento forjada nas lutas pensar o espaço escolar e seus diferentes fóruns,
sociais, processo que não se esgotou com o fim entre eles o Conselho Escolar como um espaço
dos governos militares, pois o controle/exclusão de empoderamento/conquista/pertencimento de
típico das relações sociais capitalistas de produ- uma comunidade sobre os meios e instituições
ção não se esgota na vitória da democracia. que lhe dão sustentação e maior organização
A escola representa, muitas vezes, o único das lutas que devem ser travadas, seja no campo
aparelho público presente nas comunidades, educacional ou político stricto sensu.
portanto, torna-se local dos primeiros núcleos Evidentemente, a compreensão do fenômeno
de moradores mobilizados na luta pelo reco- de empoderamento popular vivenciado pelos
nhecimento de sua própria condição de cida- gestores e professores não é nada simples: as
dão e de sua terra. prioridades são diferentes, as visões de mundo
Muitos gestores temem que a escola se torne um nada parecidas, a própria linguagem e referências
aparelho de luta político-partidária e se fechem na políticas e sociais muitas vezes irreconhecíveis.
causa da educação escolar, desalojando as discus- O desafio de incentivo aos Conselhos Escola-
sões de qualquer outro caráter de seu âmbito. res participativos está ligado ao entendimento
do papel da escola pública, da função dos Con-
2
O conceito, cunhado por John Friedmann, empoderamento é utili-
zado nas Ciências Sociais para designar um movimento de tomada
selhos Escolares em comunidades nas quais seus
da direção e da gestão (tomar o poder para si) por grupos sociais. membros vivem condições e situações as mais

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 43


Conselhos Escolares

diversas e até mesmo de exclusão em todos os tos o papel de uma Instituição (no caso, a Escola
sentidos. O espaço dos Conselhos foi e sempre e seu papel educativo) pode criar condições para
será, antes de mais nada, lugar de aprendizado, que obstáculos e conflitos sejam superados em
lugar de ouvir e de ser ouvido, de aprender com busca de um ideal ou condições ideais de vida.
o outro, de ensinar e aprender sem que haja pa- Cabe aos gestores e profissionais da edu-
péis instituídos e definidos de professores e alu- cação que compõem os Conselhos Escolares
nos - é lugar de diálogo. sentirem-se como membros efetivos e em uma
Diálogo pautado pela reflexão sobre a edu- situação de igualdade, porém com uma capa-
cação, no entanto cravejada da realidade que a cidade de contribuição enorme às discussões
cerca pela voz da comunidade. O projeto polí- que surjam ao longo dos diálogos e discussões.
tico-pedagógico que possui em sua elaboração Mas não são apenas esses os conselheiros, por
uma intervenção decisiva dos profissionais da isso, uma atitude a ser afastada é o sentimento
educação (e deve ser assim mesmo), não con- professoral da autoridade baseada na formação
segue êxito se for desvinculado da essência do acadêmica ou de posição social. Cury (2000)
lugar em que se vive e das questões prementes aponta que a história dos Conselhos no Brasil é
levantadas pela comunidade. repleta de situações em que o grupo de sábios
O projeto político-pedagógico da escola pos- se sobrepunha à massa de incultos e incapazes
sui vários laços ancorados no papel da escola e com a ideia de que a população ignorante e sem
da educação para a gente do lugar. estudos precisava de tutores.
Essa relação é justamente o elo entre o papel Neste sentido, desde a constituição dos ór-
do Conselho em sua origem (várias experiências gãos coloniais, passando pelo Império e Re-
vêm ocorrendo ao logo da história, desde a anti- pública até, pelo menos, a década de 1980, os
guidade mais remota - no momento da constitui- Conselhos (de vários âmbitos e finalidades)
ção de grupos gregários e na origem dos Estados possuíam o estigma de serem constituídos por
organizados) e dos Conselhos de cidadania con- um corpo técnico e douto capaz de orientar,
temporâneos: as lideranças locais, com sua sabe- quando chamados, diferentes instituições e es-
doria e ponderação, avaliando em quais aspec- feras do poder público.

44 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

A Constituição de 1988 expressa que:

“... os conselhos assumem uma nova institucionalidade, com dimen-


são de órgãos de Estado, expressão da sociedade organizada. Não se
lhes atribui responsabilidade de governo, mas de voz plural da socie-
dade para situar a ação do Estado na lógica da cidadania. São espaços
de interface entre o Estado e a sociedade. Como órgãos de Estado, os
conselhos exercem uma função mediadora entre governo e a sociedade”.
(BRASIL, 2004)

Os movimentos populares sempre existiram e, A constituição de Conselhos Escolares partici-


de uma forma ou de outra, suas lutas conduziram pativos passa, necessariamente, pelo trabalho e
a seu reconhecimento e suas vozes começaram a extensões que a Escola realiza extra-muros, tra-
compor o mosaico de possibilidades políticas re- zendo para discussão a constituição e o exercício
abertas com a queda do regime militar no país da cidadania, ações de caráter inclusivo e aco-
em 1985, com o entendimento de colaborar com a lhedor. Mais do que nunca, o fortalecimento dos
formulação e gestão das políticas públicas e que o Conselhos Escolares se dá pelo reconhecimento
Estado deve estar a serviço da coletividade. de si, do Eu cidadão e da identificação de um lu-
Os Conselhos Escolares, em específico, ins- gar e de uma gente a qual se pertence e se quer.
tituem essa nova racionalidade do poder no
âmbito local, traduzindo de uma forma direta
o quanto o projeto da comunidade, enquanto
construção de qualidade de vida para todos, se
Leandro Bassini é Mestre em História
apoia, se sustenta ou se reforça por meio do pro- Econômica pela Universidade de São Paulo,
jeto político-pedagógico da escola. vice-diretor da Faculdade Unida de Suzano -
Unisuz e há mais de duas décadas dedica-se
Compreende-se a dificuldade dos gestores e à formação de professores.
da equipe de profissionais da unidade escolar,
que compõem o Conselho Escolar, no chama-
Referências Bibliográficas
mento da comunidade para a efetiva participa-
ção. Porém, é necessário retornar ao início das BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica.
Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão democrática da edu-
discussões: as cidades se reinventam e se re-
cação pública. Brasília:MEC/SEB, 2004.
constroem o tempo todo, o que significa que o
CHESNAIS, François. A mundialização do capital. S.P.:Xamã Edi-
processo de exclusão e deslocamento de gran- tora, 1996.
de número de pessoas se dá continuamente. Os
CURY, Carlos R. Jamil. Os Conselhos de Educação e a gestão dos
bairros, em geral, das periferias da cidades não sistemas. In: FERREIRA, N.S.C.; AGUIAR, M.A.(org.) Gestão da edu-
se mostram acolhedores. Neste sentido, as esco- cação: impasses, perspectivas e compromissos. S.P.:Cortez, 2000.

las podem ser vistas mais como um bem público ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e
do Estado. 4ª. ed.,S.P.:Centauro, 2012.
de exceção do que como dínamo de construção
de uma nova realidade local, ou seja, a relação FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 3ª.ed., R.J.:Globo, 2001.

de pertencimento e de empoderamento é subju- PARO, Victor. Por dentro da escola pública. S.P.: Xamã Editora, 1996.

gada pelo processo de exclusão.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 45


Conselhos Escolares

Conselhos Escolares:
das lutas pela redemocratização
à emergência da Sociedade
do Conhecimento

Silvio Cesar Silva

O pressuposto básico deste artigo é que as formas de organização e gestão das escolas
públicas influenciam e são influenciadas pelas transformações sociais mais amplas. Neste
sentido, os Conselhos Escolares serão aqui analisados desde a sua origem, nos movimen-
tos sociais por democracia iniciados nos anos 1970, até a sua importante contribuição para
a construção de uma escola pública baseada na gestão democrática colaborativa e na edu-
cação de qualidade em sintonia com a emergência da Sociedade do Conhecimento.
O papel dos Conselhos Escolares como uma estratégia de implementação da gestão
democrática na escola pública ganha especial relevo em um momento em que vivemos
a transição da Sociedade Industrial para um modelo societal que tem sido chamado de
Sociedade do Conhecimento, denominação que revela não só a centralidade do conhe-
cimento, mas, principalmente, a forma como este se produz, quando se combinam auto-
nomia e colaboração.

46 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

AS ORIGENS DOS CONSELHOS ESCOLARES:


AS LUTAS PELA REDEMOCRATIZAÇÃO

No Brasil, no final da década de 1970 início meio da proposição das emendas populares. Foi
da década de 1980, apesar da repressão dirigida dessa maneira que os movimentos associativos
contra as lutas populares pelo regime militar, o populares passaram a reclamar participação na
protesto popular urbano surgia em duas frentes gestão pública e “o desejo de participação comu-
principais: por meio dos movimentos grevistas e nitária se inseriu nos debates da Constituinte,
de uma renovação no movimento sindical, em es- que geraram, posteriormente, a institucionaliza-
pecial a partir de 1978, por um lado; e, por outro ção dos conselhos gestores de políticas públicas
lado, nos movimentos sociais que surgiram para no Brasil” (BRASIL: 2004, p. 180).
lutar por condições mais dignas de vida nas ci- Na Constituição de 1988, esses conselhos ges-
dades. Nesse período, com a retomada das elei- tores passaram a ser entendidos como uma nova
ções para governadores, começaram a surgir as categoria de participação cidadã, que tem como
primeiras experiências de gestão colegiadas nas eixo a construção de uma sociedade democráti-
instituições de educação básica nos estados de ca em que o Estado deve estar a serviço dos ci-
Minas Gerais e São Paulo, em 1977, no Distrito dadãos. Em 1996, oito anos após a promulgação
Federal, em 1979, e no município de Porto Alegre, da Constituição, a Lei de Diretrizes e Bases da
no ano de 1985 (MENDONÇA, 2000, p. 269-273). Educação (LDB 9394) sugere o estabelecimento
Durante os anos 1980, os movimentos sociais de Conselhos Escolares, compostos por repre-
foram fortalecidos por uma ampla mobilização sentantes das comunidades escolar e local, como
da sociedade civil que culminou na campanha uma das principais estratégias da gestão demo-
por eleições diretas para presidente da repúbli- crática nas escolas públicas.
ca – as Diretas Já (1984-1985) – e na Constituinte Qual a importância e a viabilidade dessa re-
de 1987/1988, que garantiu a participação direta presentação hoje, após todas as mudanças que
da população na elaboração da Constituição por ocorreram na sociedade brasileira e global?

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 47


Conselhos Escolares

A EMERGÊNCIA DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E


OS CONSELHOS ESCOLARES COMO FERRAMENTA DE
GESTÃO DEMOCRÁTICA COLABORATIVA

Hoje, a produção de riqueza, que na Socieda- O que há de mais promissor na Sociedade do Co-
de Industrial estava centrada sobre a valoriza- nhecimento para o Conselho Escolar é a possibilida-
ção de grandes massas de capital fixo material de de estruturá-lo, usando as tecnologias da infor-
(prédios e máquinas), está cada vez mais sendo mação e da comunicação como uma rede de gestão
substituída por um capital dito imaterial, quali- democrática alicerçada sobre um processo de cria-
ficado também como ‘capital humano’, ‘capital ção colaborativa que possibilita a todos os membros
conhecimento’ ou ‘capital inteligência’ (GORZ, das comunidades escolar e local manifestarem-se,
2005: 15). A esse processo convencionou-se cha- simultaneamente, como educandos e educadores,
mar de Sociedade do Conhecimento. mestres e aprendizes, gestores e cidadãos.
A principal fonte de riqueza da Sociedade do Uma das principais dificuldades apontadas no
Conhecimento é o saber. O saber é feito de “ex- IV Encontro Nacional de Fortalecimento do Con-
periências e de práticas tornadas evidências in- selho Escolar, realizado em Brasília, no período
tuitivas, hábitos; e a inteligência cobre todo o le- de 29 de maio a 1º de julho de 2012, foi garantir
que das capacidades que vão do julgamento e do a participação da comunidade escolar no Conse-
discernimento à abertura de espírito, à aptidão lho. A organização do Conselho Escolar em rede
de assimilar novos conhecimentos e de combiná- digital não eliminaria a necessidade dos encon-
-los com os saberes” (GORZ, 2005: 17). tros presenciais, mas minimizaria a sua impor-
Em torno da expressão Sociedade do Conhe- tância ao ampliar a participação das pessoas das
cimento gravitam concepções teóricas, educacio- comunidades escolar e local por meio do acesso
nais e políticas que, em comum, possuem dois digital às propostas e participação nos processos
pilares. Primeiro, atribuem ao conhecimento um de tomada de decisão, da ampliação dos debates
papel central na produção de riqueza nas socie- nos fóruns virtuais e, o mais importante, mudaria
dades contemporâneas. Segundo, entendem que o foco da participação para a colaboração.
as Tecnologias da Informação e da Comunica- O foco na colaboração é uma das caracte-
ção, organizadas em redes colaborativas, forne- rísticas da Sociedade do Conhecimento, o que
cem a infraestrutura necessária para a reprodu- importa são as qualidades de comportamento,
ção dessa sociedade. as qualidades expressivas e imaginativas, o en-

48 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

volvimento pessoal na tarefa de contribuir para O grande desafio que se coloca para os Con-
construir uma educação de qualidade. O desem- selhos Escolares na Sociedade do Conhecimento
penho não depende do número de horas, mas é implementar uma gestão democrática que per-
da motivação e da colaboração. Pessoas que co- mita a melhoria da qualidade da educação e es-
laboram, “que se coordenam e se ajustam livre- teja assentada na participação colaborativa das
mente umas às outras em projetos que definem comunidades escolar e local. As tecnologias da
juntas, terão tendência a individualmente se informação e da comunicação poderão ser gran-
superarem” (GORZ, 2005: 60). Nesse sentido, o des aliadas dos Conselhos Escolares na supera-
que conta são as capacidades expressivas e coo- ção desse desafio.
perativas e não a quantidade de horas.
Uma experiência interessante de utilização
das tecnologias da informação e comunicação
para organizar rede de pessoas dispostas a co-
laborar para a melhoria da qualidade da edu-
cação por meio gestão democrática das escolas
públicas é a do Grupo Articulador de Fortale-
cimento do Conselho Escolar do Ministério da
Educação. Esse Grupo utiliza o Moodle1 para
Silvio Cesar Silva é doutor em Ciências Sociais
organizar uma comunidade virtual na qual os pela PUC-SP, professor da Pós-Graduação da UNI-
técnicos das Secretarias de Educação encon- SUZ e pesquisador do NETTT do Programa de Estu-
tram-se para anunciar propostas, discutir ideias dos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.

e trocar experiências para o fortalecimento dos


Conselhos Escolares. Entre as virtuosidades do Referências bibliográficas
Moodle, cabe destacar a sua plasticidade e fle-
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Bási-
xibilidade que permitem diferentes adaptações ca. Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão democrática da
para satisfazer as múltiplas demandas de um educação pública. Brasília:MEC/SEB, 2004.

Conselho Escolar, organizado como uma rede CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a
colaborativa de gestão democrática. internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2003.
1
O Moodle (acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Lear- GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São
ning Enviroment) é uma plataforma de aprendizagem a distância Paulo: Annablume, 2005.
com a licença de software livre.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 49


Conselhos Escolares

Conselho Escolar:
o desafio
da gestão
participativa
Douglas de Matteu

Os gestores escolares enfrentam diversas demandas,


sejam elas administrativos, legais, sociais, etc. Para aten-
der este cenário, o desenvolvimento contínuo dos ges-
tores torna-se cada vez mais necessário. Atualmente um
dos grandes desafios é a implantação efetiva da gestão
participativa por meio do Conselho Escolar.
Com o objetivo de contribuir com reflexões e sinalizar
estratégias para implantação do Conselho Escolar e da
gestão participativa, evidenciam-se referenciais teóricos
acerca do tema e, principalmente, os aspectos da Progra-
mação Neurolinguistica – PNL e do Coaching, no sentido
de oferecer possibilidades, que podem fortalecer a atua-
ção do gestor frente aos desafios desta implantação.
A relevância do Conselho Escolar pode ser justificada
por diversas facetas, no sentido legal, temos a referência
da Lei de Diretrizes e Bases n° 9.394/96, que estabelece a
implantação da gestão democrática nas escolas públicas e
promove as normas para que ela seja efetivada sobre dois
pilares: “a participação da comunidade escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes e a participação de
profissionais da educação na elaboração do projeto peda-
gógico da escola” (MEC, 2004).

50 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

A legislação já evidencia a importância externas? O conselho da sua escola é par-


do Conselho Escolar, tal abordagem é rati- ticipativo ou figurativo?
ficada também no contexto social e admi- Frente a este contexto, iniciam nos-
nistrativo. “A administração é uma ciência sas reflexões pautadas pelo Coaching
social. Ela consiste basicamente em atingir e pela Programação Neurolinguistica
os objetivos do negócio por meio das pes- – PNL, enfatizando a implantação do
soas. Esse é o lado humano da administra- conselho escolar.
ção: fazer acontecer as coisas pela ação das O Coaching pode ser definido como
pessoas” (CHIAVENATO, 2008a, p.49). um processo de desenvolvimento huma-
Esse é o desafio dos gestores empresariais no no qual convergem conhecimentos
e também dos gestores escolares. de diversas ciências, com o objetivo de
Diante do exposto, é evidente a rele- levar o indivíduo a alcançar resultados
vância legal, administrativa e social da positivos. Neste processo há o desenvol-
implantação do conselho e da gestão vimento de competências técnicas, emo-
participativa, porém o grande desafio é cionais, psicológicas e comportamentais
sair do aspecto conceitual e implantar o (MATTEU, 2011).
conselho. Transformar teoria em realida- Ser gestor escolar demanda ser um
de, esse é o desafio. Como mobilizar os profissional interdisciplinar, que conheça
membros da comunidade? Como tornar questões educacionais, legais e adminis-
o conselho efetivamente atuante e agre- trativas. Mais que isso, que compreenda
gador de valor para escola e para gestão? a psicologia, técnicas e saiba lidar com
Como vencer as resistências internas e emoções e comportamentos.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 51


Conselhos Escolares

Uma das mais poderosas ferramen- Pensando nos conceitos de Resultado,


tas do Coaching são as “perguntas po- Acuidade e Flexibilidade emprestados
derosas”, método que tem referência da PNL – Programação Neurolinguística,
na Maiêutica Socrática, que procura podemos relacioná-los à implantação do
a verdade dentro do ser humano. As Conselho Escolar. Neste caso, o Resulta-
perguntas podem promover profundas do desejado seria um Conselho Escolar
investigações dentro do seu eu (Self) e efetivo, para tanto é necessária a Acuida-
permitem uma reavaliação de crenças. de que consiste em estar receptivo, alerta
Diante do exposto, surgem algumas e vigilante para observar, ouvir e sentir
perguntas poderosas como: o que acontece dentro da escola e na co-
munidade para estabelecer estratégias de
O quanto verdadeiramente você, gestor, acredita na aproximação e conexão intelectual e emo-
relevância e aplicação do Conselho Escolar? Quanti- cional para o envolvimento das pessoas.
fique esse seu nível de crença entre zero a dez. Qual o Como está sua capacidade de acuidade?
número que traduz o seu pensamento e sentimento? Tem percebido as pessoas a sua volta?
Funcionários, prestadores de serviços,
Agora imagine se esta mesma pergunta fosse reali- pais, entre outros?
zada para sua equipe escolar, qual seria a resposta de A Flexibilidade indica a necessidade
cada indivíduo? de estar aberto a mudar, adaptar-se. Você
já pensou que talvez seus comportamen-
E se os pais e membros da sociedade tivessem que tos precisem ser mudados para alcançar
medir essa crença quantificando novamente e estabele- o resultado desejado? Um bom gestor
cendo uma justificativa. Como seria? precisa aprender a gerenciar suas emo-
ções e sua linguagem para relacionar-se
Esta reflexão pode possibilitar a am- com diversos públicos. Criar rapport sig-
pliação da visão e aumentar o nível de nifica desenvolver um relacionamento
conscientização. A investigação pode to- baseado em confiança e responsividade
mar outro caminho, por exemplo: o que (O’Connor, 2011).
precisa acontecer para que o conselho Isto é, estabelecer uma comunicação
seja implantado na sua escola? O que o empática, gerando confiança e conexão.
impede de funcionar verdadeiramente Valorizar as pessoas faz toda a dife-
em vez de forma figurativa? Quais são rença e é base fundamental para gestão
as opções que você tem e utiliza para participativa. A valorização das pessoas
mobilizar as pessoas a acreditarem e e a gestão participativa podem promover
participarem do conselho? mudanças virtuosas.

52 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos Escolares

“A virada é fenomenal. As pessoas passam a ser considerados


parceiros da organização que tomam decisões a respeito de suas
atividades, cumprem metas e alcançam resultados previamente
negociados e que servem o cliente no sentido de satisfazer suas
necessidade e expectativas.” (CHIAVENATO, 2008b, p.42).

Como seria se você desse essa vira- Como seria se você relesse este artigo
da? Como seria um Conselho Escolar e respondesse verdadeiramente a cada
efetivo em sua escola? O que você ainda pergunta? Lembre-se de sempre se lem-
não fez e pode fazer para tornar a gestão brar e continuar se lembrando de que as
participativa e o conselho atuante? Para mudanças começam no pensamento, na
resultados diferentes, faz-se necessário reflexão e que são definidas pela ação.
pensar e agir diferente. Qual será sua ação após essa leitura?

Douglas de Matteu é Mestre em Semiótica, Tecnologias da Informação e Educação;


Trainer em PNL e Master Coach com reconhecimento internacional, coautor de diver-
sos livros. Diretor do Instituto Evolutivo – Coaching e PNL. Professor universitário na
FATEC- Mogi das Cruzes e da UNISUZ.

Referências bibliográficas
CHIAVENATO, I. Administração para não administradores: a gestão ao alcance de todos. São Paulo:Saraiva, 2008a.

CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3 ed. Rio de
Janeiro:Elsevier, 2008b.

Ministério da Educação e Cultura - MEC. Conselho Escolares: Uma estratégia de gestão democrática da educação
publica, Brasilia, 2004. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_gen.pdf> acessado
em 17/02/13.

MATTEU, Douglas. Desenvolva as Competências do Líder Coach com a Roda da Liderança Coaching in: SITA, M;
PERCIA, A. Manual completo de Coaching. São Paulo: Ser Mais, 2011.

O’CONNOR, Joseph. Manual de programação neurolinguística: PNL: um guia prático para alcançar os resultados
que você quer. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2011.

O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Introdução à programação neurolinguística: Como entender e influenciar
as pessoas. São Paulo: Summus, 1995.

Portal do Ministério da Educação e Cultura - MEC. Disponível em <http://portal.mec.gov.br > acessado em 17/02/13.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 53


Conselhos nas escolas

O trabalho com
a comunidade
estreitando laços
com a escola

“A educação não pode contentar-se em reunir as pessoas,


fazendo-as aderir a valores comuns forjados no passado. Deve,
também, responder à questão: “viver juntos, com que finalidades,
para fazer o quê?” e dar a cada um, ao longo de toda a vida, a
capacidade de participar, ativamente, num projeto de sociedade”.
(DELORS,1999)

Equipe escolar da EM Profª Wilma de Almeida Rodrigues

A Escola Municipal Profª Wilma de Almeida Rodrigues tem em seus alunos da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) a participação fundamental da comunidade, que em 2011 buscou ardua-
mente a implantação da EJA Ciclo II (de 5ª a 8ª série), fato que acabou culminando no fortaleci-
mento da EJA Ciclo I (1º ao 4º termo).
Por meio de questionário diagnóstico, verificou-se que a comunidade, localizada no bairro
do Taboão, em Mogi das Cruzes, tem a maioria dos moradores trabalhando em portos de areia
ou plantação de flores e a escola é o referencial social desta comunidade. Portanto, a partir daí
surgiu-nos o questionamento: “O que fazer para manter este aluno na escola e garantir-lhe uma
educação de excelência?”
O aluno de EJA tem seus direitos garantidos pela Lei de Diretrizes Bases da Educação (LDB
9394/96) em seu Art. 37: (...)
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não pu-
deram efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, conside-
radas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante
cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na
escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

54 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos nas escolas

Ele traz consigo a bagagem de um sábio, a vivência de um andarilho e o temperamento e


a angústia de uma criança de Educação Infantil diante da escola e o novo que surge com ela.
Nós contaríamos com o transporte escolar oferecido pela Prefeitura Municipal de Mogi das
Cruzes, utilizado por cerca de 90% destes alunos. Alguns chegando a percorrer trajeto de até 12
quilômetros para chegar à escola, após um longo dia de trabalho, comendo de marmita, deixan-
do os familiares e os afazeres do lar.
Inicialmente, buscamos diálogo com os patrões, conscientizando-os da importância do conví-
vio escolar e social, facilitando assim a saída do trabalho no horário previsto a fim de garantir a
chegada para a aula. Procuramos, com o apoio do Departamento de Alimentação Escolar, servir
na entrada do período uma refeição consistente, tendo em vista que muitos viriam direto do tra-
balho. E, principalmente, tornar a escola o ponto de interação e referência da comunidade, sem
perder o foco de espaço educador, a modelo de MORIN, fazendo do “ser humano” também verbo
e não somente substantivo:

“Finalmente, existe a relação triádica indivíduo/sociedade/espécie.


Os indivíduos são produtos do processo reprodutor da espécie
humana, mas este processo deve ser ele próprio realizado por dois
indivíduos. As interações entre indivíduos produzem a sociedade,
que testemunha o surgimento da cultura, e que retroage sobre os
indivíduos pela cultura". (MORIN, 2000)

Surgem, então, as ações de parcerias com as empresas locais objetivando o fortalecimento da


escola por meio de ações que viessem a minimizar o impacto ambiental ocasionado por estas em-
presas. A partir daí, contamos com o aluno de EJA, que manobra o trator no porto de areia para
aterrar parte do terreno da escola.
Um aluno que dirige o caminhão da empresa busca, numa indústria da região, o cimento do-
ado para a reforma da calçada e outro ainda traz o pedrisco, de determinado porto, para a obra.
Alguns trazem as mudas e flores, doadas pelos produtores, para arborizar e embelezar a escola.
Este mesmo aluno vem a ser o responsável pelo aluno do Ensino Fundamental regular e passa
a fazer parte do Conselho de Escola, que não tem mais somente as reuniões periódicas e, sim, o
convívio diário na escola, de maneira a agir pontualmente nas tomadas de decisões, buscando
uma escola dos sonhos.

Referências Bibliográficas
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 3 ed,
São Paulo: Cortez, 1999.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do


Futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 55


Conselhos nas escolas

Gestão democrática
escolar na prática

Karen Luzia Schmidt Ribeiro

Vemos nos dias de hoje que a sociedade preci-


sa rever conceitos e valores. Acredito que teremos
cidadãos melhores se a família estiver envolvida
com seus filhos e inserida na escola. A partir daí,
vemos o Conselho de Escola como um grande
aliado para que essa inserção aconteça.
O Conselho traz para os pais a realidade
do ambiente escolar e propõe uma forma de
participação mais ativa. Como conselheira,
acredito que se cada um colocar a sua singu-
laridade, isso será a diferença para chegarmos
a um bem comum como também a resulta-
dos brilhantes. Partindo do princípio que se
houver uma só visão, não teremos a visão do
todo, o Conselho de Escola vem trazer uma
gestão democrática, participativa, ouvindo a
todos em prol de uma escola melhor.
Para isso, temos que ter três pensamentos: remos melhores resultados com nossos filhos,
observação e renovação, olhar múltiplo e atitu- que são a prioridade dentro desta discussão.
des. O trabalho do Conselho de Escola é árduo, O resultado desta parceria é que teremos ci-
pois para participarem os pais têm que abrir dadãos conscientes e uma escola mais produti-
mão de algum tempo e se importar com o outro. va e acolhedora. O Conselho de Escola é agente
Precisamos ser menos egoístas e não desistir de de igualdade e desenvolvimento social.
dar passos, juntos, rumo ao progresso da escola.
Com isso, o Conselho de Escola cria uma re-
lação entre a instituição e os pais, que estimula
Karen Luzia Schmidt Ribeiro é mãe
a participação dos mesmos na vida da escola
de Leonardo Schmidt Ribeiro, aluno do
e de seus filhos. Só lamento que muitos não 2º ano do Ensino Fundamental da EM
enxerguem que, se cada um fizer sua parte, te- Eng. Claudio Abrahão.

56 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Conselhos nas escolas

Patrícia Cirezola Carielo

A Gestão Democrática na escola consiste na Gestão Democrática é isso, fazer valer a de-
luta de educadores e movimentos sociais orga- mocracia e a cidadania com a nossa participa-
nizados em defesa de um projeto de educação ção integral, dentro da escola. É a sensação do
pública de qualidade social e democrática. dever cumprido, interagindo mais com os edu-
Resumindo: é a participação da família no cadores e com nossos filhos. A você que está
ambiente escolar junto com o corpo docente lendo esse depoimento, faço o seguinte convi-
da escola, participando do Conselho de Escola, te: seja um membro do Conselho de Escola na
onde alunos, pais, professores, coordenadores escola em que seu filho estuda.
e diretor interagem, participando com novas Participe! Faça valer a pena. O primeiro
ideias para a solução de problemas no ambien- passo é nosso.
te escolar e social, o qual é relatado em Ata e di-
recionado à Secretaria Municipal de Educação,
para que possa ficar a par dos acontecimentos.

Patrícia Cirezola Carielo é mãe de


Matheus Cirezola Carielo do 2º ano do
Ensino Fundamental na EM Prof. Der-
meval Arouca.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 57


Creches

Concepção educativa
de creche

O atendimento de crianças de 0
a 3 anos de idade é estabelecido
pela Lei de Diretrizes e Bases
para a educação nacional, Lei nº
9394/96, que prevê a Educação
Infantil, composta pela creche
(0 a 3 anos de idade) e a pré-
escola (4 a 5 anos), como nível de
ensino que se integra à Educação
Básica. Essa integração expressa
a sua finalidade social de assumir
as especificidades da educação
infantil e também se inteirar de
todos os aspectos que permeiam
e influenciam o processo de
formação da criança.

58 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Bruna Rocha Siqueira

O Referencial Curricular Nacional para a Nessa perspectiva, a creche assume um papel


Educação Infantil (1998) preconiza que essa in- educativo no Brasil voltado para as diferentes
tegração implica em “rever concepções sobre a camadas sociais. Ainda que exista uma postura
infância, as relações entre classes sociais, as res- do poder público em dar prioridade de matrí-
ponsabilidades da sociedade e o papel do Estado cula aos filhos de trabalhadores de baixa renda,
diante das crianças pequenas” BRASIL, RCNEI, como forma de assistência às crianças advindas
1998, vol.1, p.17). de famílias de classes sociais mais baixas, a ca-
Todos os aspectos que permeiam a Educação racterização da creche deve estar voltada para a
Infantil, em especial as creches, devem ser asso- ação educativa a fim assegurar o direito e pro-
ciados à busca da qualidade da educação, consi- mover o desenvolvimento da criança, seja qual
derando o contexto social, ambiental e cultural for a sua classe social.
da criança. A creche não ocupa mais o papel de A justificativa do atendimento de crianças pe-
instituição de assistência social para crianças ca- quenas nas creches não se expressa pela substi-
rentes e sim, de uma instituição que possui uma tuição do papel da família no desenvolvimento
proposta pedagógica voltada para a ação educa- da criança e nem pela sua formação escolar pre-
tiva, que visa promover o desenvolvimento de coce, mas sim pela integração entre o cuidar e o
crianças de diferentes classes sociais: educar, visando contribuir para o pleno desen-
volvimento da criança. Segundo o Referencial
Na defesa de um modelo democrá- Curricular Nacional para a Educação Infantil:
tico de educação – que não viabilize,
ainda que de forma indireta, formas de O desenvolvimento integral de-
marginalização e exclusão de crianças pende tanto dos cuidados relacio-
de segmentos sociais desprovidos do nais, que envolvem a dimensão afe-
acesso de uma educação de qualidade, tiva e dos cuidados com os aspectos
a creche e a pré-escola devem se en- biológicos do corpo, como a quali-
carregar de educar meninos e meninas dade da alimentação e dos cuidados
provenientes de diferentes culturas le- com a saúde, quanto da forma como
vando-as em conta para poder articu- esses cuidados são oferecidos e das
lar convenientemente os diversos con- oportunidades de acesso a conheci-
textos de vivências e desenvolvimento mentos variados (BRASIL, RCNEI,
(OLIVEIRA, 2008, p.9). 1998, vol.1, p. 24).

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 59


Creches

A concepção de creche existente hoje no país, Partindo do pressuposto de que a criança


que aponta uma integração entre o cuidar e o apresenta uma maneira de ser curiosa e expe-
educar, é traçada na introdução do Referencial rimental, em que a descoberta do mundo está
Curricular Nacional para a Educação Infantil, atrelada a descoberta de si mesma, as lingua-
em que admite haver uma polêmica sobre essa gens tem um papel primordial na aprendiza-
integração. Entretanto, procura explaná-la e en- gem infantil. Entendemos como linguagem não
fatiza que ela deve ser encarada como uma ação só a fala, mas todo o sistema simbólico inte-
educativa que possibilita: grado por múltiplas linguagens que permite a
criança apropriar-se da cultura e ressignificá-la.
(...) o desenvolvimento das capaci- A garantia de ampliação das experiências
dades infantis de relação interpesso- sensoriais, expressivas e corporais que possi-
al, de ser e estar com os outros em uma bilitem movimentação ampla, expressão da
atitude básica de aceitação, respeito individualidade e respeito pelos ritmos e de-
e confiança, e o acesso, pelas crian- sejos da criança, como forma de promover
ças, aos conhecimentos mais amplos o conhecimento de si e do mundo, e ainda, a
da realidade social e cultural. Neste imersão e progressivo domínio das diferentes
processo, a educação poderá auxiliar linguagens, considerando os vários gêneros e
o desenvolvimento das capacidades formas de expressão como a gestual, a verbal,
de apropriação e conhecimento das a plástica, a dramática e a musical são experi-
potencialidades corporais, afetivas, ências previstas e enfatizadas pelas Diretrizes
emocionais, estéticas e éticas, na Curriculares Nacionais para a Educação Infan-
perspectiva de contribuir para a for- til (2010). Ainda segundo este documento, a
mação de crianças felizes e saudáveis proposta pedagógica da Educação Infantil deve
(BRASIL, RCNEI, 1998, vol. 1, p. 23). ter como eixos norteadores as INTERAÇÕES
e as BRINCADEIRAS, considerando a criança
As “Diretrizes Curriculares Nacionais para a como sujeito que se apropria da cultura, mas
Educação Infantil” (2010) preconizam que a pro- também produz cultura, por meio das relações
posta pedagógica das instituições de Educação e práticas cotidianas e pela construção de sua
Infantil deve ter como objetivo: identidade pessoal e coletiva, pelas experiên-
cias simbólicas, pelas aprendizagens, pelos
(...) garantir à criança o acesso aos questionamentos e pela construção de sentidos
processos de apropriação, renova- sobre a sociedade.
ção e articulação de conhecimentos É notório que tanto o Referencial Curricular,
e aprendizagens de diferentes lingua- quanto as Diretrizes Curriculares que orientam
gens, assim como o direito à prote- a educação nacional, enfatizam a perspectiva
ção, à saúde, à liberdade, à confiança, de Educação Infantil como uma etapa que é vol-
ao respeito, à dignidade, à brincadei- tada para formação integral da criança, tendo
ra, à convivência e à interação com como elemento norteador a cultura da infância,
outras crianças (DCNEI, p.18, 2010). preconizada pela brincadeira e pela interação.

60 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 61


Creches

Nesse sentido, é importante que todas as ins-


tituições de Educação Infantil, ou seja, creches
e pré-escolas assumam essa perspectiva, por
meio de práticas pedagógicas que garantam ex-
periências que promovam o conhecimento de si
e do mundo, favoreçam o contato das crianças
com diferentes linguagens, ampliem a confian-
ça e a participação das crianças nas atividades
individuais e coletivas e possibilitem situações
de aprendizagem mediadas para a elaboração
da autonomia, vivências éticas e estéticas com
outras crianças e grupos culturais que ampliem
seus padrões de referência, de identidade e de
diversidade. Assim, a creche se estabelece como
um espaço cuja prática educativa pauta-se na
reflexão acerca dos direitos da criança como su-
jeitos sociais com especificidades e que devem
ser consideradas como indivíduos capazes de
construir suas representações e atribuir sentido
e significado às coisas.

Bruna Rocha de Siqueira é graduada em Letras e Pedagogia. Pós-graduada em


Gestão Pública e gestão da Organização da Escola. Professora de Educação Infantil
da Rede Municipal. Atualmente é responsável pela etapa da Educação Infantil da
Área Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes

Referências bibliográficas:
BRASIL.Ministério da Educação.Secretaria de Educação Fundamental e Infantil.Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil, 2010 ;

______. _______._______. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 1, 2 e 3. Brasília:
MEC/SEFI, 1998;

_______._______._______Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96 de 20 de de-


zembro de 1996;

DEMO, Pedro. Grandes Pensadores em educação: o desafio da aprendizagem, da formação da moral e


da avaliação/Pedro Demo, Yves de La Taille e Jussara Freire, 4 Ed. – Porto Alegre: Mediação, 2008;

OLIVEIRA. Zilma Ramos de. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. 4 ed. – São Paulo: Cortez, 2008;

62 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Creches
conveniadas
A história de um mutirão
de responsabilidade social
Marina Dias Nogueira atuou por mais
de 10 anos na supervisão de creches
conveniadas da Prefeitura de Mogi das
Cruzes. Pedagoga com habilitação
em supervisão escolar, ela trouxe
para administração municipal sua
experiência como educadora aliada
ao seu trabalho voluntário no Instituto
Maria, Mãe do Divino Amor, no bairro
do Botujuru. Este trabalho social fez
diferença em sua passagem pela
administração municipal, em que ela
foi uma das pioneiras no Programa de
Expansão de Creches do município e
participou ativamente da ampliação
da iniciativa ao lado das entidades
filantrópicas e associações de bairro
mogianas. Marina conta para a
revista Educando em Mogi como foi
o nascimento e a consolidação deste
movimento, hoje responsável pelo
atendimento de mais de 8 mil crianças
de quatro meses a cinco anos de idade
em Mogi das Cruzes.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 63


Creches

Como começou o atendimento em creche pios estavam fazendo, como estava aconte-
feito em parceria pelas instituições sociais cendo todo esse movimento para atender a
de Mogi das Cruzes e a Prefeitura? demanda de creche.
A legislação em vigor na época, relati-
va ao financiamento, o Fundef (Fundo de
Este trabalho de repasse de subvenção Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
para entidades existe desde 1987, quando Fundamental e de Valorização do Magisté-
foi publicado o primeiro decreto municipal rio), priorizava o investimento pesado em
de subvenção. Naquela época já havia enti- Ensino Fundamental. Em Mogi das Cruzes,
dades filantrópicas que atendiam crianças todo o investimento em Educação Infantil
em idade de creche e que tinham uma par- já estava sendo empregado porque o mu-
ceria com a Prefeitura. nicípio possuía uma rede muito grande de
Em 1996, ano em que foi promulgada atendimento, não tanto em creche, mas no
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, segmento de pré-escola.
houve a integração da Educação Infantil Nesta época, também passei a fazer parte
como primeira etapa da Educação Básica e da equipe da Vânia e começamos as visitas.
exigia-se que todas as escolas tivessem au- Visitamos cidades, como São Vicente, que
torização de funcionamento da Secretaria também fazia um trabalho com associações
Municipal de Educação. Foi a primeira vez de bairro, como aqui em Mogi depois foi
que, na legislação educacional brasileira, se implantado; em Caraguatatuba, onde foi
falou da Educação Infantil. feita uma parceria com a Fundação Orsa e
A partir desse momento, vários proce- por fim, Suzano com o modelo de creches
dimentos foram sendo tomados, até para comunitárias. Mogi se espelhou no traba-
a passagem das creches da Assistência So- lho feito no município de Suzano e vários
cial para a Educação. No ano 2000, todas as fatores também contribuíram para isso.
creches que existiam no município foram Neste período, havia uma grande pressão
visitadas e autorizadas formalmente como da comunidade em geral pela ampliação do
escola e, se não me engano, eram 18. atendimento em creche e algumas pessoas
Nesta época, existia a necessidade de ex- acreditavam que as creches, administradas
pansão do atendimento em creche até por em parceria com as entidades, seriam “de-
conta da legislação e várias questões sociais pósitos de crianças”. Estes questionamentos
da época. Então, nos foi pedido um estudo refletiam ainda o pensamento comum de
para ver como seria possível ampliar esse que a creche era uma atribuição da Assistên-
atendimento. Na época, a professora Vânia cia Social para atender as mães mais carentes
Barbieri Bertaiolli iniciou os estudos em que precisavam trabalhar. A creche era um
outros municípios. lugar só para se cuidar das crianças. Essa vi-
Vânia, que era responsável por essa área, são começou a mudar a partir da LDB, onde
começou observando o que outros municí- o cuidar e o educar andam juntos.

64 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Então no ano 2000, a Secretaria Munici- Em 2003, a administração municipal defi-


pal de Educação de Mogi das Cruzes assu- niu que iria seguir esse caminho de realmen-
miu tanto as creches que eram municipais te fazer uma expansão contando com o apoio
e estavam na Secretaria de Assistência So- das entidades sem fins lucrativos, adotando
cial, quanto as que estavam sendo adminis- inicialmente o modelo de creches comunitá-
tradas por entidades filantrópicas, como a rias desenvolvido pela Prefeitura de Suzano.
Creche Sant´ana, que tem mais de 60 anos, Neste momento, a administração mu-
a do Socorro, entre outras. nicipal se reuniu com todas as entidades
A Vânia tinha toda a experiência na área que já administravam creches para verifi-
legal e iniciou todo o processo. Quando en- car se era possível ampliar o atendimento
trei, trouxe minha experiência de trabalhar nas unidades em funcionamento. Esgota-
em entidade filantrópica. Você tem que ter da essa possibilidade, foi feito um proje-
um olhar social, fazer parte do processo e ten- to. Fizemos um cálculo inicial do inves-
tar entender. É preciso ter essa visão social. timento que a Prefeitura teria que fazer
para atender 13 creches nos bairros mais
Como foi o processo inicial de expansão das distantes e periféricos.
unidades? Para esta primeira etapa do programa foi
formado um fundo, em que estava previsto
A gente tinha, de um lado, pessoas o repasse de subvenção, a compra de mobi-
incomodadas com a situação em que as liário e pela primeira vez, um recurso para
crianças de seus bairros se encontravam: a manutenção do prédio para que as uni-
não havia creche. E, do outro lado, o Poder dades instaladas em bairros mais distantes,
Público necessitando expandir o número foco desta primeira fase, pudessem alugar
de vagas. Foi o início de todo um longo casas e adequá-las para o atendimento de
processo de construção de saberes e rela- crianças. Esta mudança gerou uma altera-
ções. Começaram os primeiros contatos, ção no decreto municipal das subvenções.
foram estabelecidas as primeiras diretri-
zes do trabalho. Não se tinha nada plane- Fora a questão da estrutura, como foi mobi-
jado, tudo foi acontecendo... lizar estas pessoas?
Lembro-me das primeiras reuniões com os
presidentes de Associações de Bairro, com os A mobilização foi feita de todas as manei-
Contadores e as primeiras Pedagogas... ras possíveis e imagináveis porque sofríamos
As creches foram recebendo nomes fan- pressão de todos os lados. Naquela época,
tasias, os espaços alugados foram sendo re- tínhamos um desafio enorme pela frente: do-
formados, diretoras de escolas municipais tar pequenas associações de bairro que nunca
foram se tornando madrinhas para ajudar tinham trabalhado na área da educação.
neste processo, um verdadeiro mutirão de A grande maioria eram presidentes de
responsabilidade social. Associações de Bairro, muitas vezes distan-

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 65


Creches

tes do Centro de Mogi, que trabalhavam na Explicamos também que a partir do mo-
entrega de leite e cobertores. Lógico, que mento que assumissem as creches, eles te-
eles também exerciam sua função funda- riam que registrar e ser responsáveis pelos
mental: lutar pelos direitos do bairro, pelas funcionários.
melhorias, o que é o grande enfoque de uma Fazíamos reuniões frequentes com eles,
associação. Esta era sua missão principal, orientávamos sobre a prestação de contas
que depois é acompanhada por outros com- e as exigências para o funcionamento da
promissos, como a implantação de creches, creche, o quadro funcional: como ter um
projetos sociais e culturais, o que vai depen- pedagogo, que seria um diretor responsá-
der do que é apontado por cada estatuto. vel pela creche e o quadro de funcionários
Diante desse perfil das entidades, procu- mínimo para o atendimento de acordo com
ramos trabalhar de forma a atender os nos- o número de crianças atendidas (quantos
sos parceiros em todas suas necessidades. professores com formação mínima em ma-
Uma grande preocupação era a aplicação gistério a creche teria que ter, quantas ADIs
dos recursos públicos, até pelo grande volu- - Auxiliares de Desenvolvimento Infantil e
me que estava sendo investido. Em 2003, foi o pessoal da limpeza e da cozinha).
publicado um decreto que criava critérios Quando a entidade sinalizava que que-
mais rigorosos para a prestação de contas. ria ser parceira, o próximo passo era que
As primeiras creches foram instaladas em ela localizasse no seu bairro uma casa que
bairros mais distantes, onde havia a neces- apresentasse condições de abrigar uma cre-
sidade deste atendimento. A partir de um che. Em seguida, nós verificávamos a capa-
cadastro da Secretaria de Assistência So- cidade do imóvel, se poderia atender 40 ou
cial, chamamos os presidentes das associa- 50 crianças de 2 a 6 anos, pois o projeto ori-
ções de bairro e fizemos uma reunião para ginal das 13 primeiras creches era para que
apresentar o projeto. Falamos um pouco da cada unidade atendesse 50 crianças dessa
experiência e das responsabilidades em se faixa etária. Nessas casas, ainda não era
dirigir uma entidade sem fins lucrativos. possível atender turmas de berçário.

66 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Em nossa visita, analisávamos como iam Como era feito o acompanhamento junto às
ser os ambientes e dávamos orientações. As entidades?
adaptações e investimentos iniciais eram
por conta das entidades, que só recebiam Desde 2003, todos os meses até hoje, existe
os recursos após a autorização de funciona- a reunião mensal com as pedagogas dirigen-
mento das escolas e a publicação do decre- tes e também com os presidentes das mante-
to de subvenção. nedoras. No início, fazíamos várias reuniões
Em alguns bairros, a situação era muito e, nesse trâmite, entre a casa ficar pronta e
precária e não existiam casas adequadas o processo de autorização ser concluído, a
para abrigar uma creche. Assim, os presi- equipe de supervisão fazia todo o acompa-
dentes que possuíam casas com uma infra- nhamento. Tínhamos contato também com
estrutura melhor, acabavam se mudando os contadores, que eram responsáveis pela
para casas menores e utilizavam sua pró- emissão do balanço de final de ano das enti-
pria casa. Era feito um processo para que a dades. Com o apoio de funcionários de ou-
Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros ana- tras secretarias, falávamos sobre a questão
lisassem o local para verificar se havia algo legal da parceria, em especial, a aplicação
que colocasse em risco a segurança das dos recursos, pagamentos em cheque, etc.
crianças e funcionários. Este laudo era ane- Assim fomos indo e, a cada ano, a Secre-
xado ao processo de autorização da escola, taria de Educação respondia ao Ministério
para que depois fosse feito o processo da Público qual era a meta de atendimento e o
subvenção. Enquanto isso, os presidentes quanto estávamos diminuindo o número de
traziam as listas das crianças e nós formá- crianças que aguardavam vagas (o inquérito
vamos as turmas. foi arquivado em julho de 2012).

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 67


Creches

Como você avalia a participação social filantrópicas que, em sua grande maioria,
neste programa? eram ligadas a igrejas católicas ou organi-
zações espíritas. Não tínhamos associações
Das 13 primeiras que foram implan- de bairro administrando creches.
tadas, uma ou outra fechou. Temos a Em 2003, as 13 novas unidades eram
Vila Estação, Novo Horizonte e Jardim administradas por associações de bairro,
Margarida que funcionam até hoje e que desconheciam o trabalho e as exi-
continuam sendo administradas por as- gências legais, mas tinham a consciência
sociações de bairro. de que seus bairros precisavam ter uma
Eu fico admirada pela força que eles creche, então abraçaram este projeto com
têm, porque não é fácil. Só quem adminis- muita garra. Eles queriam aquilo, porque
tra uma creche sabe o quão difícil é admi- não se tinha nada. Ter uma creche, além
nistrar e nós trabalhamos nessa primeira de ser uma conquista, era um serviço
etapa com entidades que não sabiam nada para a comunidade.
sobre o atendimento de crianças e a parce- Outra coisa que era muito importan-
ria com o poder público. Para se ter uma te no projeto era a oportunidade que as
ideia, no primeiro final de ano, eles traziam novas creches davam para que as pessoas
as moedas em um saquinho de papel para do bairro pudessem trabalhar, a iniciati-
devolver para a Prefeitura; não se tinha no- va estava atrelada a isso. Dava-se oportu-
ção sequer de nota fiscal. nidade de emprego, de preferência para
Inicialmente, antes da primeira etapa do pessoas da comunidade. A ideia original
Programa de Expansão, em 2003, tínhamos era priorizar as pessoas da comunidade
20 creches administradas por entidades até para ter esse vínculo.

68 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Você acha que este trabalho junto à comu- Um destaque importante é o fato de que
nidade fez com que o programa fosse bem Mogi das Cruzes foi pioneira no lançamen-
sucedido? to da Educação Infantil na Prodesp (Siste-
ma de Cadastro de Alunos do Estado de
Talvez esta tenha sido uma das razões São Paulo, instituído pelo Decreto nº 40.290
do sucesso do programa, porque a pessoa de 31/08/95). As creches subvencionadas
mora ali e conhece todo mundo, o que re- também fizeram parte deste processo. Era
força o cuidado e a acolhida das famílias. necessário ter um controle das matrículas.
Todos moram no mesmo bairro e enfren-
tam as mesmas dificuldades, provavelmen- O que era exigido das subvencionadas?
te isso favoreceu o projeto.
Lógico que isso também levantava ques- Nesse meio de tempo, as exigências le-
tionamentos de que alguns dirigentes esta- gais foram crescendo, como na questão da
vam empregando gente da família. Sabe- prestação de contas. Nós conseguíamos
mos que é uma questão até de confiança, atender um número maior de crianças, mas
mas é importante dizer que se esta pessoa não era possível atender o berçário porque
não tinha competência acabava sendo subs- as casas eram muito precárias. Em 2006, se
tituída por orientação nossa, inclusive. não me engano, a competência da vistoria
Depois, esse trabalho foi se expandindo de creches passou da Vigilância Sanitá-
para outras igrejas e muitas associações nas- ria Estadual para a Municipal, que havia
ceram com o objetivo de também ter uma cre- sido recém-criada. A Vigilância Sanitária
che em seu bairro. Tínhamos uma lista de en- Municipal, logicamente, possuía regras já
tidades que gostariam de ser mantenedores. antigas e, de acordo com elas, não era pos-

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 69


Creches

sível atender berçário. Com isso, as creches nos e então teve início o processo de ava-
tinham que se adaptar, mudar muita coisa liação dos locais. Analisávamos se era da
nos prédios e, então, foi feito um acordo Prefeitura ou não e se comportaria uma
com a Vigilância, que visitou todos os pré- nova unidade. Assim, chegou-se à con-
dios e descreveu as mudanças básicas que clusão de que, para atender as exigências
seriam necessárias em um termo de deter- da Vigilância era preciso terrenos de mais
minação técnica. de 2 mil m2.
A atual gestão assumiu o compromis-
Qual solução foi encontrada para atender a so que a gestão anterior já havia iniciado
questão do berçário? porque com os novos prédios poderíamos
atender bebês e ampliar o atendimento.
Para atender os bebês, era preciso As secretarias municipais de Planeja-
construir novas unidades. No início do mento e Educação e também a Vigilância
processo de expansão das creches, foram Sanitária Municipal se reuniram para veri-
construídos dois prédios. Depois foi pe- ficar o que um prédio precisaria ter e rever
dido para que as entidades indicassem a metragem dos terrenos para abrigar as
três terrenos de 1,5 mil m2 próximos à novas unidades.
sua unidade para a construção de uma Por meio destas conversas, chegamos ao
nova creche. modelo padrão das 40 creches que foram
A partir deste levantamento, seria feito construídas nos últimos quatro anos. Estes
um plano de construção para substituir novos prédios atendem mais que o dobro
as creches que estavam em imóveis pre- de crianças, passando de 50 para 110, com
cários. As entidades indicaram os terre- a vantagem, ainda, de ter berçário.

70 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

A comunidade aceitou bem esse processo de Havia um diálogo muito grande entre a
construção dos novos prédios? Secretaria de Educação e os presidentes das
mantenedoras, a gente tinha liberdade para
Sim, eles é que foram atrás de todos os chamar a atenção, se precisasse, e também
terrenos, tanto que os processos podem de fazer o convite, caso fosse necessário, de
comprovar isso. Eles indicaram três terre- que eles administrassem mais uma creche.
nos, que sofreram toda uma análise. Os no- Analisávamos com eles, a entidade fazia
vos prédios foram um ganho para a cidade uma ata e transferia. Como a entidade não
e as entidades continuaram assumindo a tem fins lucrativos, ela dava baixa na cartei-
administração. ra e a outra entidade assumia, sem período
de vacância. Normalmente, ela fazia uma
Vocês tiveram casos de entidades que de- ata no final do mês, dia 31 e no dia 1º, a
sistiram da parceria ou tiveram problemas gente já sabia e fazia toda a tramitação para
nestes 10 anos? não ficar sem subvenção e sem aula.

Nesses 10 anos, teve entidade que saiu, Nestes 10 anos dessa parceria entre o poder
mas nunca deixamos simplesmente fechar. público e a sociedade na administração das
Se ela não assumia, inicialmente procurá- creches, como você avalia esta trajetória?
vamos junto com ela outra entidade que as-
sumisse. Nestes casos, chamávamos aque- Sinceramente, eu acho que foi um resul-
les que já tinham experiência, porque não tado de várias variáveis. Tivemos todo um
é fácil administrar uma entidade que apre- contexto, vários fatores contribuíram. Acho
senta algum tipo de problema. que é importantíssimo o diálogo.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 71


Creches

No início, elas estavam um pouco tími- que te fundou... Estamos continuando a his-
das devido aos comentários de que as no- tória de alguém lá, as pessoas que começa-
vas creches seriam depósitos de crianças, ram tinham que ter muita garra. A essência
de que lá não era uma escola. da entidade não é só buscar recursos, cada
Investimos muito no diálogo e em cur- uma nasceu de um jeito. É uma entidade
sos por meio da Secretaria de Educação, privada sem fins lucrativos, eu não posso
que programava as capacitações e a super- querer encaixa-la numa mentalidade públi-
visão acompanhava à noite e aos sábados. ca. Sobre as entidades que estão assumindo
Foram feitos cursos de formação para as agora, tem que se ter todo um cuidado, pois
ADIs, em espaços de outras creches que este começo é difícil.
emprestavam o lugar porque não tínha-
mos ainda o Cemforpe. Em quais pontos as entidades devem avan-
çar? Como você o ingresso de novas insti-
Como as creches subvencionadas devem ser tuições no sistema de ensino?
vistas dentro do sistema municipal de ensino?
As entidades terão que se especializar na
Não se pode querer que as creches con- captação de recursos, o que é difícil, porque
veniadas sejam iguais às municipais, são as próprias empresas em vez de repassarem
entidades diferentes. É preciso entender que recursos, muitas vezes, preferem criar suas
elas têm uma característica própria porque próprias fundações. Mas não é só a questão
são entidades diferentes. Cada entidade tem do dinheiro, é a forma de administrar esse
uma missão, tem uma história Trabalho isto recurso. Às vezes tem entidades que rece-
na assessoria: de onde você veio, quem foi bem a mesma subvenção, uma administra

72 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

bem e outra se complica. Nós sempre ficáva- isso foi sendo construído, nasceu e depois
mos antenados nestas questões, orientando. foi sendo consolidado. Acho que para o
A entidade tem que se especializar em trabalho dar certo é preciso um conjunto
administrar o dinheiro. Este é um dos pro- de atitudes, tem que dar assessoria, ouvir
blemas que acontece quando a entidade é o que eles falam e do que estão precisan-
nova e não sabe como utilizar o recurso, do, enfim ter um bom relacionamento.
acaba comprando coisas que não pode e é Tínhamos esse diálogo, conversávamos
obrigada a devolver dinheiro. muito Criou-se um vínculo muito grande
O primeiro ano das entidades é o mais entre a Prefeitura e as entidades. É preciso
difícil, há muitas demissões neste período. mantê-lo, auxiliando-os ao máximo nas difi-
As novas entidades, que estão assumindo culdades. É preciso entender que temos uma
agora, já chegam administrando prédios grande parceria e temos que estar próximos.
grandes para 110 crianças, antes eram ape- Hoje, grande parte das nossas crianças em
nas 50 alunos em prédios menores. creches está sendo educada pelas entidades.
Mesmo as antigas que também estão Temos que investir em formação. Eles
ocupando os novos prédios têm que se são ávidos por formação, entendem que
adaptar, pois são situações bem diferentes. estão sempre aprendendo. Acho que um
Temos que receber entidades novas, não caminho interessante é a troca de experiên-
podemos fechar o processo, mas é preciso cias entre os presidentes, talvez fosse pre-
ter um acompanhamento bem de perto por ciso estimular mais este diálogo entre eles.
parte da Prefeitura. As entidades também têm que crescer
nas certificações, o que aumenta suas res-
Como você vê a evolução deste programa? ponsabilidades, mas também as possibili-
dades de angariar recursos. Um caminho é
É um processo, a Prefeitura já deu gran- se inscrever no Comas – Conselho Munici-
des passos, as creches têm um prédio, ma- pal de Assistência Social. Isso tem que estar
terial de higiene, tudo isso é fruto de um previsto no estatuto e a entidade deve ter
processo de diálogo que sempre existiu, algum projeto na área de assistência social.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 73


Creches

CEIC Raio de Luz,


uma das pioneiras
Equipe escolar do CEIC Raio de Luz

Quando este projeto foi idealizado pela en- Então, chegou uma nova etapa de desafios.
tão presidente da Associação do Bairro Residen- O mobiliário, utensílios domésticos, produtos
cial Novo Horizonte, Sirlene Furlã, não conta- de higiene e limpeza foram doados por amigos
mos de imediato com o apoio da população, por da comunidade e também pelos futuros funcio-
que se tratava de um projeto novo e não era uma nários, que também foram responsáveis pela
escola convencional da Prefeitura. A nova creche pintura e limpeza do local, decoração e prepa-
não era vista com bons olhos por parte da co- ração para receber as crianças, no início do ano
munidade, que ao ser informada do processo de letivo de 2003. Com as etapas iniciais vencidas,
inscrição para o Centro de Educação Infantil Co- passamos para as próximas. O funcionamento
munitário – CEIC, que recebeu o nome de Raio do CEIC começou precário, mas contamos com
de Luz, não compreendia como uma instituição o auxílio de alguns colaboradores, como Maria
que ainda não tinha nem sede própria e formada Raimunda, Dalva, Maria José, dentre outros e fa-
por pessoas moradoras do bairro, poderia dar miliares das funcionárias.
certo. Tudo que é novo assusta ou conta com a Inicialmente, nossa equipe era composta por
negatividade e conosco não foi diferente. pessoas qualificadas ou se qualificando para o
No início, nos reuníamos na residência da Sir- trabalho, tendo em vista que a professora, for-
lene, mesmo sem remuneração alguma. Apren- mada em magistério com uma boa experiên-
demos a sonhar e confiar nos sonhos e ideais da cia anterior, auxiliava na preparação das aulas
mesma, fazendo deles o nosso próprio sonho. das demais turmas, assumindo o planejamento
Passaram-se mais ou menos cinco meses, desde das aulas enquanto as demais buscavam qua-
a preparação do projeto, elaboração da propos- lificação. Éramos acompanhadas de perto pela
ta, autorização da escola por parte da Prefeitura, equipe da Secretaria Municipal de Educação e
procura e locação da primeira sede, inscrição e recebemos equipamentos (computador e multi-
matrícula dos futuros alunos. Nesse período, en- funcional), mobiliário, brinquedos e apoio admi-
frentamos vários obstáculos. nistrativo, além de formações para funcionários.
A opinião e a recusa da comunidade em acre- Após o primeiro semestre de funcionamento,
ditar que tal projeto daria certo era o maior de- a opinião da comunidade começou a mudar, re-
les. A partir desta recusa em fazer as inscrições, a percutindo em procura de vagas, o que gerou uma
equipe, juntamente com a presidenta da associa- lista de espera para o ano letivo seguinte. Isto cau-
ção, saía de casa em casa expondo a finalidade e sou uma preocupação por parte da Prefeitura e da
a proposta desde projeto inovador e, com muita Associação. Assim, buscamos uma sede maior e
persistência, conseguimos alcançar as 50 primei- novos funcionários foram contratados. Com muito
ras crianças matriculadas e a sede apropriada. esforço, a equipe melhorava a olhos vistos.

74 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Ao passar três anos, a Prefeitura, parceira


da instituição, vendo o empenho da equipe e
a necessidade do bairro, construiu uma sede
própria para o CEIC Raio de Luz, mobiliando
adequadamente, além de oferecer merenda es-
colar diversificada, material de limpeza, brin-
quedos, entre outros.
Como a procura por vagas continuou cres-
cendo, após um ano e muitas melhorias, foi re-
ativado o prédio que antes abrigava a creche.
Este, atualmente, atende 48 crianças de Infantil
III e IV, enquanto que a outra sede atende 109
crianças, totalizando cerca de 157 crianças.
São 10 anos de atividades em que conquis-
tamos a credibilidade por parte da comunida-
de, a qualificação de funcionários, melhorias
salariais e benefícios assistenciais, ampliação
da equipe (passamos de 7 para 20 funcioná-
rios), formação contínua com apoio da admi-
nistração municipal, merenda de qualidade,
aquisição de uma perua por meio de doação,
entre outros. Este trabalho também resultou
na parceria com a Secretaria Municipal de As-
sistência Social e autoridades da cidade em
prol de benefícios para a comunidade.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 75


Creches

Um caminho feliz
em benefício da comunidade
Mariene Kulsar do Prado

A história da Casa de Convivência Vila Estação, O senhor Audeci conta que guardou na memória
mantenedora do Centro de Educação Infantil Comu- o pedido de uma mãe, no dia da inauguração do
nitário Caminho Feliz, começou no dia 17 de março prédio, de que ali fosse aberta uma creche. Essa As-
de 2002, mas antes disso foi trilhado um percurso de sociação também foi mantida com a ajuda de fami-
muitas lutas e conquistas, que fortaleceu o que hoje é liares e voluntários da própria comunidade e ofe-
a instituição; sempre contando com a parceria da pre- recia cursos de cabelereiro, corte e costura, teatro
feitura de Mogi das Cruzes e apoio da comunidade. e panificação, além das aulas de reforço e as ativi-
No começo dos anos 90, a motivação do casal for- dades de recreação que continuaram acontecendo.
mado pelo Pastor José Audeci de Arruda Lins e sua O projeto cresceu, a população aumentou e mes-
esposa Maria Cristina de Vasconcelos Lins, em trazer mo assim o ritmo de trabalho não parou, a missão
melhorias para o bairro em que residem até os dias de de transformar a ‘favela’ num bairro foi passo a
hoje, fez com que começassem um trabalho, nos fun- passo se concretizando, melhorando a qualidade
dos da casa de um morador, ao qual deram o nome de vida dos moradores. A partir de 2002, a Asso-
Projeto Cidadania, que por meio de doações e volun- ciação passou a se chamar Casa de Convivência
tários oferecia as crianças e adolescentes da comuni- Vila Estação e contou com a participação voluntá-
dade atividades recreativas e de reforço no período ria de alguns moradores do bairro para a reforma
em que não estavam na escola. A Prefeitura ajudava do prédio, não apenas física, mas no aspecto social
com merenda e estagiárias para cuidar das crianças. com a movimentação da comunidade que estava
Além disso, esse apoio municipal possibilitou diver- motivada a fazer ainda mais pelo bairro.
sas conquistas para o bairro, como água encanada, Em 2003, foi fundada a creche, o Centro de Edu-
iluminação pública, caixa postal comunitária e casca- cação Infantil Comunitário (CEIC) Caminho Feliz,
lhamento das ruas. que dois anos depois recebeu um prédio próprio.
Em 1993, foi construída a sede do projeto, na rua Atualmente, o CEIC Caminho Feliz possui dois
Santa Vigília, Vila Estação, o qual passou a se chamar prédios no bairro, o municipal e o antigo, aten-
Associação Amigos de Bairro Ouro Verde, firmando dendo 153 crianças de quatro meses a cinco anos.
ainda mais esse compromisso com a ação social. Tem toda a infraestrutura para um ambiente edu-
cativo e acolhedor, os profissionais são
qualificados e participam de cursos e
formações continuadas para aprimo-
rar sua prática por meio da Secretaria
Municipal de Educação. E assim con-
tinua esta missão de cuidar, ensinar e
movimentar a comunidade por meio
da educação e do amor.

Mariene Kulsar do Prado é diretora


pedagógica do CEIC Caminho Feliz

76 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

CEIC Santa Clara: parceria


escola, comunidade
Daniela Salvador Mariano
e poder público
Essa parceria das creches
subvencionadas e Prefeitura de
Mogi das Cruzes, em que nós
da comunidade fazemos um
trabalho voluntário para a so-
ciedade e temos o apoio do po-
der público para juntos ajudar
a comunidade, está sendo po-
sitiva. Mesmo não conhecendo
nada sobre educação, fui assisti-
da pela Secretaria Municipal de
Educação e o setor de Prestação
de Contas, onde aprendi muito
e em todas as dificuldades pude contar com eles, No final do ano de 2012, fomos buscar outro de-
como a Marina Dias Nogueira, que era supervi- safio que foi assumir um novo prédio, por meio do
sora de ensino e a Michela Rita Oliveira, respon- chamamento público, em um bairro onde não atuá-
sável pela prestação de contas, que sempre me vamos. Fomos e seguimos a mesma estratégia. Nosso
atendiam com muita prontidão. primeiro cuidado foi com as crianças e o acolhimento
Assim comecei a desenvolver um trabalho dos pais, mostramos nossa forma de trabalhar e dis-
com os funcionários, conscientizando-os da im- semos que iríamos precisar muito deles. Cinco meses
portância das crianças em suas vidas e de que depois, chegamos a mais um sucesso. A comunidade
a creche não era só para cuidar, mas, sim, para entendeu que estamos ali desenvolvendo um trabalho
educar e com amor. para o futuro de seus filhos e estão muito participati-
O Instituto da Criança Santa Clara não tinha vos. Tivemos uma aceitação muito boa.
muita participação da comunidade e nem recur- Acreditamos em uma sociedade mais humana e
sos para progredir. A única forma que encon- justa e a nossa proposta pedagógica é estabelecer a
tramos para melhorar esta situação foi trazer a relação CEIC – ALUNO – COMUNIDADE, com o
comunidade, em especial os “pais”, para nos aju- intuito do desenvolvimento da criança como agente
dar. Então conversamos com eles e mostramos transformador.
a importância da parceria e que esse seria o ca-
minho para fazermos um excelente trabalho de
desenvolvimento com as crianças.
Entendemos que um bom trabalho é fruto de
uma boa parceria e a participação deles é funda-
mental para chegarmos ao sucesso juntos. Passa-
mos por muitas dificuldades e desafios e contamos
com a ajuda dos pais e amigos. Nós, juntos, alcan-
çamos muitas conquistas e a cada final de ano nos- Daniela Salvador Mariano é presidenta
sas crianças estão indo para outros aprendizados. do Instituto da Criança Santa Clara

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 77


Creches

Chamamento Público
para o atendimento
em creches
Equipe de Supervisão de Ensino da Secretaria
de Educação de Mogi das Cruzes

O primeiro decreto municipal de subvenção Este avanço nas políticas públicas direcio-
às entidades filantrópicas foi publicado em 1987, nadas ao atendimento da expansão de creches
dando a possibilidade para que estas instituições da cidade foi o processo de Chamamento Pú-
atuassem com crianças em idade de creche. blico. O primeiro foi realizado em janeiro de
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e 2012, quando oito novos prédios foram entre-
Bases nº 9394/96, que atribuiu aos municípios gues pela administração municipal. Para este
a oferta de Educação Infantil em creches e pré- ato, que consiste em tornar-se do conhecimen-
-escolas, Mogi das Cruzes fortaleceu os vín- to de todos os munícipes a oportunidade de
culos com os líderes de bairro para que estes administrar diferentes tipos de serviços prefi-
desenvolvessem o trabalho educacional junto xados pela administração pública, a Secretaria
às crianças desta faixa etária. Municipal de Educação designou uma comis-
Atualmente após todo um caminhar do pro- são técnica que teve por finalidade elaborar,
grama de expansão das creches municipais, cumprir e fazer cumprir o contido no Edital.
das parcerias com diversas entidades sociais, No documento estão dispostos os prazos para
do fortalecimento desta parceria entre o poder que os interessados apresentem os documen-
público com a sociedade civil e muitos diálo- tos exigidos que atestem a idoneidade e regu-
gos entre os representantes da sociedade com laridade da entidade e, havendo igualdade de
os servidores públicos atuantes na área da condições, os critérios para desempate são os
educação e jurídica, houve a necessidade de se pautados na experiência em gestão de unida-
adequar as regras de forma a continuar a aten- des escolares, as “creches”, e no histórico de
der os princípios da administração pública. relevantes serviços prestados às causas sociais.

78 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

O Chamamento Público na Secretaria de cipal, contratação e gerenciamentos de recursos


Educação contou até este mês com cinco cer- humanos, manutenção e conservação do patri-
tames, nos quais sete entidades foram con- mônio público e a compreensão de como admi-
templadas atendendo os bairros de Nova nistrar cooperativamente a interface do terceiro
Jundiapeba, Vila Jundiaí, Taiaçupeba, Botuju- setor com a administração pública.
ru, Jardim Santos Dumont, Jardim Camila e Enquanto entidades subvencionadas pela
Cesar de Souza. Este processo representa um Prefeitura de Mogi das Cruzes, há a necessida-
momento de grande emancipação, visto que de de prestação de contas junto a Secretaria de
participou destes certames, um total de 20 en- Finanças com transparência da utilização do
tidades, fornecendo indicadores de aceitação recurso público e, por pertencerem ao Sistema
em relação à lisura deste processo, além de Municipal de Ensino, as creches subvencio-
fortalecer a transparência na gestão pública e nadas são supervisionadas pedagogicamente
servir como parâmetro às entidades habilita- pela equipe de supervisão da Secretaria Mu-
das para administrar de forma satisfatória a nicipal de Educação, buscando continuamen-
unidade escolar em seus âmbitos social, eco- te uma educação de qualidade para todos. Os
nômico e pedagógico. profissionais das instituições também partici-
Observa-se que, durante os esclarecimentos pam do programa de formação contínua ofe-
aos interessados em participar do Chamamento recidos pela Pasta.
Público, há momentos ricos de aprendizagem Conclui-se que, a seleção para administração
entre os envolvidos: Comissão da Secretaria de creches por meio de Chamamento Público
Municipal de Educação e Entidades Filantró- demonstra um avanço na história. Um procedi-
picas. Estes aprofundam conhecimentos sobre mento que vem atender as necessidades atuais
a legalidade do processo de seleção pública, da comunidade, sempre prevalecendo os prin-
políticas sociais, aplicação correta dos recursos cípios sociais e educacionais que norteiam o
públicos repassados pela administração muni- Programa de Creches Subvencionadas.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 79


Creches

80 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Cadastro
Municipal
Unificado:
transparência
e credibilidade
no atendimento
de crianças em creches
Os anos de experiência como professora e gestora de escola
serviram de base para o trabalho de Valéria Campolino junto
à equipe gestora da Secretaria Municipal de Educação
de Mogi das Cruzes, na gestão da secretária Maria Geny
Borges Avila Horle. Em outubro de 2010, com mais de 25
anos de atuação na área, a educadora participou de um
estudo para a divisão da cidade em setores educacionais
e, em 2011, assumiu o desafio de liderar o Departamento
de Planejamento Educacional, onde viu nascer o Cadastro
Municipal Unificado (CMU). Valéria, que hoje divide com
a atual secretária de Educação de Mogi, Profª Dra. Rose
Roggero, a responsabilidade de administrar a educação
municipal mogiana, conta à nossa Educando em Mogi como
foi o processo de implantação e consolidação do Cadastro.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 81


Creches

Como começou seu trabalho na equipe ges- meçou a vigorar o Cadastro Municipal Uni-
tora da Secretaria de Educação? ficado, criado pelo Decreto 11.237, de 24 de
janeiro de 2011.
Em outubro de 2010, foi chamado um Para a implantação inicial do cadastro
grupo de diretoras de escola para junto foram reaproveitadas as fichas cadastrais
com o Departamento de Planejamento Edu- que estavam nas creches e foram digitadas
cacional, estudar a setorização da cidade. no padrão do programa utilizado na época.
A ideia era criarmos setores educacio- Todas as inscrições foram comparadas, vi-
nais onde tivéssemos pelo menos uma es- sando eliminar duplicidades e corrigir ou
cola em cada setor, pois o objetivo da ad- completar os dados informados pelas cre-
ministração municipal era garantir que a ches ou pelos pais.
criança tivesse uma vaga próxima da sua Todas as inscrições foram incluídas em
residência. Fizemos o estudo durante o mês um só Cadastro, uma lista de crianças cujas
de outubro de 2010 e no final do mês, no famílias queriam vagas em creche para
dia 24, foi então assinado o Decreto Muni- elas. Essa lista foi dividida por setores,
cipal nº 10.964, que criou os 65 setores. utilizando aqueles 65 setores organizados
As matrículas foram determinadas de no ano anterior e dando prioridade para o
acordo com os critérios que estavam nes- preenchimento destas vagas para filhos de
se decreto e isso foi realmente um sucesso mães trabalhadoras, crianças que tivessem
na questão de atender as necessidades das a menor renda per capita e as que residis-
famílias para que estas tivessem uma vaga sem em alguns setores da cidade que não
mais próxima de sua residência. dispunham de creche.
Em janeiro de 2011, com essa experiência Ao longo do ano de 2011, foram realizadas
dos setores, nós criamos também uma nor- 8.413 inscrições, destas encaminhamos 5.926
matização para o preenchimento das vagas crianças para serem matriculadas por inter-
em creche com critérios bem claros para o médio do Cadastro Municipal Unificado.
atendimento das crianças: o Cadastro Mu-
nicipal Unificado. Quais critérios de classificação o Cadas-
tro utiliza?
Como surgiu o Cadastro Municipal Unificado?
Nós usamos os mesmos critérios que as
Considerando o atendimento à deman- creches já usavam, porque antes da cria-
da escolar nas escolas de educação infantil ção do Cadastro, as famílias iam até a es-
municipais e subvencionadas, que recebem cola que era de seu interesse (poderia ser
alunos em período integral, e a necessida- em qualquer bairro), faziam sua inscrição,
de de matricular as crianças, cujas mães são deixavam um telefone de contato, decla-
trabalhadoras ou que estejam em situação ravam sua renda e eram classificadas de
de vulnerabilidade social, na região em que acordo com a renda per capita. A partir
essas residem ou trabalham, de acordo com de então, elas começavam a fazer parte de
a subdivisão geográfica do município, co- uma lista de espera.

82 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

As mães questionavam a forma como O que observamos destas inscrições:


essa lista era atendida, às vezes com vagas tínhamos muita duplicidade. Tivemos o
em locais distantes ou mesmo mães que de- caso de uma criança que estava inscrita em
vido à renda não conseguiam a vaga próxi- sete creches. Muitas crianças que estavam
ma de sua residência. Uma pessoa que mo- aguardando, nem estavam mais em idade
rava um pouco mais distantes, mas com a de creche. As mães não voltavam para dar
renda menor era atendida antes, por exem- essa informação ou mesmo dizer que já ha-
plo. Como não havia controle, esses dados viam conseguido a matrícula em outra es-
não se cruzavam e as pessoas acabavam se cola e o nome da criança ficava lá.
inscrevendo em várias creches. Vimos então uma lista que não chegava
a refletir a realidade das creches. Então,
Quais caminhos a Secretaria de Educação excluímos o que conseguimos identificar
encontrou para reunir todas as inscrições como duplicidade. Tínhamos 7 mil nomes
em uma única lista? para cruzar os dados em uma planilha de
Excel. Consultamos todos os inscritos na
Com este histórico das inscrições dire- Prodesp, os que já estavam frequentando
tamente nas creches, nos perguntávamos creches e os que não tinham mais idade fo-
de onde iríamos partir. Neste período, eu ram excluídos. Restaram umas 5 mil crian-
já estava na direção do Departamento de ças, que foram direcionadas para os setores
Planejamento Educacional da Secretaria e de suas residências.
surgiu a ideia de criar o cadastro. Mas ainda havia muitos endereços que
O que fizemos então? Nós pedimos que estavam desatualizados, eram antigos e
as creches municipais e subvencionadas tinham telefones que não funcionavam
nos enviassem todas as listas que elas ti- mais. Esta questão do telefone é outro
nham de inscrição para que nós colocásse- problema. Hoje usamos mais celular do
mos todas num só banco de dados. que fixo e geralmente são pré-pagos. Mu-
Digitalizamos todas essas inscrições em da-se o número rapidamente e as pessoas
uma planilha em Excel, agrupando por en- não atualizam.
dereço. Ainda tivemos que, manualmente, Fizemos esse agrupamento por setor e
selecionar esses endereços e direcionar para mandamos então estas inscrições para um
um só setor. Nós ficamos bem uns 20 dias só banco de dados, que compôs o Cadas-
neste trabalho. Levamos o mês de janeiro tro Municipal Unificado.
todo, foi uma frente de trabalho, chama-
mos vários escriturários de outras escolas E com as vagas, como foi este processo?
que nos ajudaram. Fizemos este trabalho
na sala de informática do bloco didático do Esta foi uma conquista para a comunida-
Cemforpe (Centro Municipal de Formação de porque todas as vagas foram concentra-
Pedagógica Prof. Boris Grinberg) e reunin- das na Central de Vagas, que não era nada
do todas essas inscrições, chegamos a cerca mais do que uma planilha de Excel, que as
de 7 mil inscrições. escolas atualizavam semanalmente.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 83


Creches

Era por meio dela que eu via por idade, Que tipo de trabalho foi feito com essas
qual era a turma que tinha vaga e identifi- famílias?
cava naquela classificação, qual era a crian-
ça com menor renda per capita que seria Passamos o ano de 2011, praticamente,
direcionada para a matrícula mediante a tentando contatar aquelas 5 mil pessoas.
indicação da Secretaria de Educação. Fiz Fizemos um mutirão com escriturários,
isso, pessoalmente, por dois anos para que que entraram em contato com todas as fa-
não houvesse nenhum risco de manipula- mílias para verificar se aqueles telefones
ção, para que ninguém fosse beneficiado estavam funcionando e se a criança já es-
ou prejudicado. tava na escola.
Às vezes, a criança estava na escola,
Como foi a repercussão do Cadastro junto mas não era localizada na Prodesp porque
à comunidade? o nome que a família informou na inscri-
ção não estava completo. Fomos adequan-
Seguíamos à risca o decreto e, mesmo, do as informações do Cadastro para verifi-
com todos os desagrados iniciais, o Cadas- car qual era a real necessidade da cidade.
tro Municipal Unificado ganhou credibili- Em novembro de 2011, nós fechamos o
dade. No começo, as pessoas reclamavam, Cadastro para então organizarmos o ano
não achavam que as vaga seriam concedi- letivo de 2012. Em dezembro, reunimos
das com essa transparência, achavam que todas as inscrições e procuramos atender
alguém iria manipular o Cadastro, mas não prioritariamente com as vagas que surgi-
foi isso o que aconteceu. A gente seguiu à ram a partir da organização da escola para
risca e as famílias vem sendo atendidas. 2012, considerando os que iam sair da cre-
che e quais vagas seriam abertas para de-
Em 2011 houve a primeira experiência de terminadas turmas.
abertura das inscrições do Cadastro. De que Organizamos as escolas de acordo com
maneira funcionou esta etapa inicial? esta demanda e naquele mês encaminha-
mos muitas crianças.
Em 2011, as famílias puderam se inscre-
ver durante o ano inteiro. Qualquer pessoa Com as escolas organizadas, qual foi o pró-
que tivesse interesse em uma vaga de creche ximo passo para atender os que aguarda-
podia se inscrever. A escola recebia essa ins- vam no Cadastro?
crição, nos enviava por meio de um formu-
lário e nós alimentávamos o Cadastro. Em janeiro de 2012, nós tínhamos vagas
Mas no final do ano, nós percebemos que e não havia ninguém no setor interessado.
não estávamos priorizando aquelas pesso- Então fizemos um ajuste fino, compatilibi-
as que já estavam inscritas, porque sempre lizando as informações. Liguei para todas
acabava chegando alguém com uma renda as famílias que estavam no Cadastro, ofere-
menor e passava na frente. Assim, gerava cendo as vagas que tínhamos disponíveis e
uma demora ainda maior no atendimento. conseguimos acertar vários casos.

84 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Algumas pessoas desconheciam esta pos- Em que o Sistema de Gestão Educacional


sibilidade de, se não há mais interessados no beneficiou o atendimento?
setor, ser oferecida uma vaga em local um
pouco distante da residência ou do trabalho, Com o Sistema de Gestão Educacional
num bairro vizinho, por exemplo; mas que (SGE), com muito mais facilidade e rapidez,
fica perto da casa da avó, de um amigo ou nós temos, em tempo real, a informação de
no caminho do trabalho. Conseguimos aten- quando surge a vaga e podemos identificar
der várias crianças nessa situação. quem é a pessoa com menor renda que será
direcionada para essa vaga. Automatica-
Houve outras formas de inscrição? O siste- mente, a escola recebe um e-mail com os
ma já estava informatizado? dados para fazer o contato. As creches rece-
beram treinamento para utilizar o Sistema.
Depois que fizemos estes encaminha-
mentos, abrimos uma nova chamada, em Quantas chamadas de inscrições foram fei-
fevereiro de 2012, para o preenchimento tas em 2012?
das vagas que estavam em aberto e não
atendiam os que estavam inscritos no Ca- No final das inscrições, tivemos no mês
dastro. Experimentamos, então, a inscrição de março, algumas famílias que reclama-
por meio da Ouvidoria pelo telefone 156 ram que, por estarem nos bairros de divisa
para que não tivesse o deslocamento dos ou nos mais isolados, tiveram dificuldade
pais até a creche. Ficamos umas duas sema- em fazer esse contato telefônico por meio
nas, recebendo as inscrições pelo telefone, da Ouvidoria Municipal. Então, em abril,
uma maneira de facilitar o acesso dos pais nós novamente abrimos as inscrições para
que, a partir de alguns dados básicos, po- estes bairros mais isolados, onde tínhamos
diam inscrever seus filhos. vaga e não tínhamos ninguém aguardando.
Nestes dados, já havíamos identificado Foi uma inscrição presencial na creche.
alguns itens que podiam bloquear a ins- Em agosto, tivemos mais uma chama-
crição em duplicidade. Recebemos 1.497 da de inscrições, porque sempre que ve-
inscrições. Neste período, nossa Divisão mos que temos vagas e não há ninguém
de Tecnologia da Informação (DTI) desen- aguardando em alguns setores, abrimos
volveu o Sistema de Gestão Educacional as inscrições novamente. Fizemos quatro
(SGE), em que existe um módulo específico chamadas em 2012. Em novembro, foi a
para o Cadastro. Os atendentes da Ouvi- última chamada. Para os inscritos, o Ca-
doria Municipal, já utilizaram o sistema de dastro continua valendo.
inscrições on-line, deixando nas planilhas O decreto não prevê transferência de cre-
as inscrições antigas que continuavam a ser che, mas a família tem a possibilidade de
atendidas conforme surgiam as vagas. se inscrever de novo quando quer mudar
Aprimoramos tanto esta lista de inscri- de creche, porque neste caso a vaga que a
tos quanto as informações de vagas que as criança deixar ficará em aberto e podere-
creches nos enviavam. mos atender outra criança.

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 85


Creches

A comunidade reagiu bem a esta informati- tentado entrar em contato e não ter con-
zação do cadastro? De que forma é feito o seguido. Para atualizar os dados, os pais
atendimento a estas famílias? podem procurar a creche mais próxima ou
ligar para o telefone 4726-1329
A comunidade foi se acostumando ao
sistema e o Cadastro ganhou uma credi- O Cadastro está em vigor há dois anos.
bilidade muito grande. As pessoas podem Nesse tempo, o que ele ajudou no planeja-
até tentar, de alguma maneira, burlar esse mento das escolas?
processo ou pressionar para conseguir uma
vaga, mas o atendimento é feito de uma Um dos objetivos do Cadastro, com cer-
forma transparente para todos. teza, foi alcançado. Era de exatamente de-
Para atender as famílias, criamos uma tectarmos qual é a verdadeira demanda,
Central de Atendimento na Secretaria de onde realmente havia crianças fora da cre-
Educação, que funciona desde 2011. Nos- che, para que nós pudéssemos direcionar a
sa profissional acolhe as famílias e mostra construção de novas unidades pelo Plano
a situação da criança dentro do Cadastro. de Expansão das Creches.
Temos também, no Departamento de Pla- O Cadastro nos ajudou a planejarmos, a
nejamento Educacional, na Divisão de Orga- identificar onde precisávamos investir na
nização das Escolas, uma servidora que ge- construção e na ampliação de vagas, de que
rencia este Cadastro, que é muito dinâmico. maneira podemos fazer isso para que a gen-
Ela vê quando surge vaga e se tem alguém te atenda da melhor forma as necessidades
esperando, faz o encaminhamento imediato. da população. Hoje, nós sabemos os bairros
É interessante dizer que há também o onde temos uma demanda maior, de acordo
reconhecimento de que o Cadastro é a ma- com o endereço de residência dos inscritos.
neira mais democrática de atender os alu- A grande maioria, 90% das mães, preferem
nos em idade de creche. Muitos pais ligam vagas próximas à residência.
para agradecer e dizer que pensavam que
nunca seriam atendidos, que a vez deles De que maneira é revista a organização
não iria chegar. O Cadastro cada vez mais das escolas para a ampliação de turmas?
se fortalece, ganha credibilidade e as pes- Vocês contam com o trabalho das supervi-
soas se acostumam. soras de ensino?

Qual é a importância dos pais neste processo? Temos uma importante interação com as
supervisoras de ensino quando é necessá-
É fundamental manter os dados atuali- rio reorganizar as escolas. Quando temos
zados. Há quem reclame que está há mais vagas para uma turma e demanda para
de 1 ano no Cadastro, mas não entra em outra, consultamos a supervisora de ensino
contato com a gente. Não sabe se a criança que vai até a escola e verifica a possibilida-
já foi encaminhada para escola. Se o tele- de de reorganizar o atendimento daquela
fone está desatualizado, a escola pode ter unidade escolar.

86 Educando em Mogi . nº 65 Prefeitura de Mogi das Cruzes


Creches

Atualmente, temos uma grande demanda


para turmas de Infantil I (crianças entre 1 e
2 anos), estamos estudando onde podemos
ampliar salas para atender este público.

Quais são os próximos passos do Cadastro


Municipal Unificado?

Vamos reformular a setorização da ci-


dade, porque alguns setores ainda não
contam com creche. Nestes setores, as
crianças são direcionadas para setores vi-
zinhos. Este é um trabalho que fazemos
quando surge a vaga, cruzamos o setor
que não tem e outro mais próximo para
que a criança seja contemplada.
Pensamos também em aprimorar os
processos do Sistema de Gestão Escolar
(SGE) para encontrar uma forma de que
os encaminhamentos sejam feitos automa-
ticamente, atendendo os critérios estabele-
cidos e a revisão dos setores.

ATENDIMENTO DO CADASTRO MUNICIPAL UNIFICADO

Prefeitura de Mogi das Cruzes nº 65 . Educando em Mogi 87

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