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cooperação,
integração e
comprometimento
com as decisões
Conselhos Municipais
Gestão pública e
participação popular
Conselhos Escolares
Princípio da gestão
democrática das escolas
Creches Subvencionadas
Construção de
saberes e relações
Expediente
6 Juntos!
20 A prática do Conselho
Municipal de Educação
31 Conselhos Escolares:
democracia em avanço
36 Movimentos Sociais:
conhecendo sua história
76 Um caminho feliz
em benefício da comunidade
78 Chamamento Público
para o atendimento em creches
Juntos!
Rose Roggero
Desde que tomamos a decisão de aceitar e de Essa ideia se fundamenta no fato de que a rede
que tomamos posse, em janeiro de 2013, nesta municipal de ensino tem se expandido muito
nova gestão, temos tido contato com muitos nos últimos anos e essa rápida expansão, sobre-
aspectos do desenvolvimento da cidade, so- tudo no atendimento em tempo integral, repre-
bretudo no âmbito da educação sob respon- senta ganhos significativos e exige consolidação
sabilidade do município, que atende crianças do trabalho feito até aqui, além da expansão que
dos 4 meses aos 11 anos de idade, aproxima- passou a ser exigida pela própria comunidade,
damente; da creche ao final dos 5 anos iniciais em razão da qualidade que esse serviço público
do ensino fundamental. tem alcançado. Nesse processo de consolidação,
Temos tido contato com as variadas realida- enfatizamos três valores, que entendemos fun-
des da cidade, com as situações de vulnerabili- damentais: a subjetividade, a diversidade e a
dade e risco, mas também com potencialidades sustentabilidade.
que parecem ainda pouco conhecidas dos e pe- Quando pensamos em subjetividade, o foco
los mogianos e, até mesmo, pouco conhecidas está nos atores do processo educativo: as crian-
dos e pelos educadores mogianos da própria ças e suas comunidades, as equipes gestoras,
rede municipal, embora vivam cotidianamen- professores e demais profissionais da escola,
te essas realidades. Essa é a vantagem do olhar cada qual sujeito de direitos e deveres no âmbi-
que, sendo de dentro, vem de fora. to do trabalho, da aprendizagem e do convívio
Dentre os elementos que mais têm nos cha- social, para uma cidadania ativa que contribui
mado a atenção está a participação popular, por para o desenvolvimento social e econômico.
meio dos movimentos sociais. Daí nossa proposta Quando pensamos em diversidade, nos referi-
para o primeiro número da revista Educando em mos a um conceito que carrega em si uma genero-
Mogi, como um marco inicial de nossa gestão. sidade sobre a qual é mais fácil falar que vivenciar,
Propomos que a revista passe a ter um ca- no cotidiano. Defender o respeito à diferença é
ráter temático e com um foco mais voltado à sempre mais fácil quando se trata da nossa própria
formação do que vinha tendo até então. em relação aos outros, mas quando se refere ao
E aqui está o primeiro número em busca respeito às diferenças dos outros, outras questões
desse perfil em construção. se colocam e nada mais se mostra tão simples.
Quando pensamos em sustentabilidade, a É assim que nos vemos em Mogi das Cruzes,
questão está no tripé que este conceito abrange contando com a parceria da secretária adjunta,
nas dimensões ambiental, econômica e social; para essa empreitada, de toda equipe da Secre-
na articulação exigida para as políticas públi- taria de Educação e de toda a rede municipal e
cas estrategicamente organizadas com base em subvencionada.
diagnósticos cada vez mais precisos, não ape- Com essa visão, este número da Educando
nas de necessidades, mas de potencialidades em Mogi foi pensado e construído. É uma re-
humanas, sociais e culturais. vista para adultos e sobre sua responsabilidade
Os três valores apontam para desafios que se com as crianças.
colocam para as relações humanas, para os di- O filósofo Richard Sennett, que escreveu um
reitos e deveres da cidadania, pensada em escala livro instigante: Juntos, os rituais, os prazeres e a
local, mas na indissociável relação com o global. política da cooperação. Nesse livro, o autor trata da
Consolidar e fazer avançar políticas e práti- cooperação como uma habilidade que “requer a
cas sociais na educação básica que considerem capacidade de entender e mostrar-se receptivo
a subjetividade humana, a diversidade que ao outro para agir em conjunto”, para que a “co-
constitui a sociedade e a sustentabilidade das operação social gere novas ideias sobre como as
propostas e práticas só nos parece possível por cidades podem ser mais bem feitas”.
meio do exercício da empatia e do diálogo. Por Para desenvolver o conceito dessa cooperação
isso, vemos a função mediadora da liderança social para além da ideia de troca em que ambas
educadora que acreditamos que uma secretária as partes de beneficiam, apontando-lhe os ritu-
de educação deva exercer. ais e prazeres, Sennett se utiliza de duas metáfo-
Trata-se de uma função mediadora porque ras: a infância e o ensaio.
as políticas públicas, no Brasil, neste início de Sobre a cooperação na primeira infância, o
século XXI, são muito mais articuladas entre as autor informa tratar-se de uma atividade que
várias esferas de governo do que eram há al- permite ao ser humano o desenvolvimento de
guns anos; porque, hoje, espera-se e busca-se várias habilidades, sobretudo mentais, possibili-
a participação da sociedade, por meio de suas tando a ampliação de repertório comportamen-
organizações civis para a legitimação das pro- tal, por meio da expectativa criada nas relações
postas e ações de governo. por afinidade e que vão se tornando cada vez
Cada vez mais se exige que o trabalho de mais complexas à medida que o círculo de rela-
um seja o trabalho de todos. Cada vez mais, as ções do bebê também se amplia, estimulando-o
lideranças necessárias são aquelas capazes de a experimentar e conhecer coisas novas.
qualificar novos atores que participem dos pro- Já o ensaio, como base da atividade musical, exi-
cessos sob sua responsabilidade. ge o desenvolvimento da capacidade de ouvir bem.
E não apenas ouvir instrumentos e vozes ho- mogiana, desde os Conselhos Municipais – o de
mogêneos, mas ouvir a diferença e como se pode Educação, o do FUNDEB e o de Alimentação Es-
criar a harmonia na diferença. colar – até os conselhos de escola e as organiza-
No ensaio, muito trabalho coletivo precisa ser ções sociais que participam da educação infantil,
condensado em pouco tempo. O desafio da co- por meio das creches.
municação, não raro com estranhos, faz com que Contamos, ainda, com depoimentos de atores
o ritual da cooperação expressiva funcione. E o da sociedade civil que ocupam seu espaço nes-
ensaio é bem diferente do treino solitário da habi- ses conselhos e organizações. Estamos todos, de
lidade de tocar o instrumento, algo que também várias formas, comprometidos com a construção
precisa de disciplina para o desenvolvimento da de uma gestão democrática da educação e convi-
habilidade. O ensaio exige conhecer o coletivo. damos você a estar cada vez mais comprometido
Integrar-se, mas sem perder a identidade. e comprometida, também.
Tanto na infância quanto nos ensaios de mú- Não temos dúvida de que a gestão dos servi-
sica, a cooperação faz a diferença entre o desen- ços sociais deve ser mesmo democrática e, como
volvimento e a estagnação; entre a harmonia e o tal, construída no diálogo e na negociação, li-
caos. Assim é também na vida social e política. dando com os conflitos das diferentes visões e
Estamos em busca de afinar nossos instrumen- posicionamentos, não em busca de uma harmo-
tos de cooperação – a empatia e o diálogo – entre nia forçada, mas em busca de uma capacidade
os atores do poder público e das organizações de dialogar e negociar pautada em critérios de
sociais, em busca de uma educação de qualidade sustentabilidade e indicadores de equidade.
social para todas as crianças. Que sejamos – juntos – capazes de fazê-lo!
Nas próximas páginas da Educando em Boa leitura!
Mogi, encontramos desde uma abordagem teó-
rico-conceitual e descritiva a respeito de como
tem se desenvolvido a participação social por
meio dos conselhos municipais, nas palavras da
renomada especialista Maria da Glória Marcon-
des Gohn, até outros olhares de acadêmicos da
nossa região, como Leandro Bassini, Silvio César
Silva e Douglas de Matteo.
Contamos, também, com artigos e entrevistas
de profissionais da nossa rede, trazendo elemen-
tos normativos e a história de como a participa- Rose Roggero
ção tem se construído no campo da educação Secretária de Educação
Participação Social
e Conselhos
na gestão pública
A temática da participação de
representantes da sociedade
civil em conselhos, na gestão
de políticas públicas, pode ser
tratada de diferentes formas e
pontos de vista. Iniciarei com
uma breve retrospectiva sobre
a importância da participação
social nas políticas públicas
na atualidade. Posteriormente,
abordarei a participação civil na
esfera pública, em estruturas
institucionalizadas, em suas
formas e fases. O artigo conclui-
se com reflexões sobre os
dilemas da participação.
A QUESTÃO
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO
de gestão deliberativas, criou inúmeras vamente por representantes da sociedade civil, cujo
inovações no campo da participação po- poder residia na força da mobilização e da pressão,
pular democrática, como a participação e não possuíam assento institucional junto ao Poder
via eletrônica e redesenhou o formato de Público. Os conselhos gestores são diferentes tam-
construção de várias políticas sociais com bém dos conselhos de “notáveis”, que já existiam nas
a generalização do uso de conferências esferas públicas no passado, compostos exclusiva-
(um ciclo, que culmina com propostas mente por especialistas, atuando em áreas temáticas,
para dar suporte, por exemplo, a um novo a exemplo do Conselho de Educação e outros.
plano decenal ou a criação de um órgão Os conselhos gestores, no início, foram aclama-
que cuide de tema ainda não contemplado dos como novos instrumentos de expressão, repre-
em sua especificidade, como a alimenta- sentação e participação porque, em tese, eles são
ção). Pontuaremos a seguir as principais dotados de potencial de transformação política. Se
características dos dois momentos. efetivamente representativos, avalia-se que eles po-
Os conselhos foram inscritos na Cons- dem imprimir um novo formato às políticas sociais,
tituição de 1988 na qualidade de instru- pois se relacionam ao processo de formação das
mentos de expressão, representação e políticas e de tomada de decisões. Com os conse-
participação da população. Estas estru- lhos, gerou-se uma nova institucionalidade públi-
turas inserem-se, portanto, na esfera pú- ca, pois eles criaram uma nova esfera social-pública
blica e, por força de lei, integram-se com ou pública não-estatal. Trata-se de um novo padrão
os órgãos públicos vinculados ao Poder de relações entre Estado e sociedade, viabilizando
Executivo, voltados para políticas públi- a participação de segmentos sociais na formulação
cas específicas, responsáveis pela asses- de políticas sociais e possibilitando à população o
soria e suporte ao funcionamento das acesso aos espaços em que se tomam as decisões
áreas em que atuam. políticas, tendo a possibilidade de exercer controle
Os conselhos gestores inauguram novi- social sobre o Estado.
dades no campo da política porque eram Com o passar do tempo, inúmeras avaliações
diferentes dos conselhos predominantes já foram feitas sobre os conselhos e as otimistas
até 1988, os conselhos comunitários, popu- expectativas iniciais não se confirmaram. Em um
lares ou dos fóruns civis não-governamen- grande número de casos, eles se tornaram órgãos
tais porque estes eram compostos exclusi- burocratizados com participação de cidadãos já
O SEGUNDO MOMENTO
NA INSTITUCIONALIZAÇÃO
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
OS DILEMAS DA PARTICIPAÇÃO
A gestão compartilhada em suas diferentes for- tornar a reflexão sobre democracia como
mas de conselhos, colegiados etc, precisa desenvol- soberania popular, do povo e para o povo.
ver uma cultura participativa nova, que altere as Pautar o debate sobre a soberania da co-
mentalidades, os valores, a forma de conceber a ges- munidade significa dizer não à inclusão
tão pública em nome dos direitos da maioria e não excludente, à modernização conservadora
de “grupos lobbistas”. Um coletivo que desenvolva que busca resolver problemas econômicos
saberes não apenas normativos (legislações, como utilizando-se de formas do assistencialis-
aplicar verbas, etc), mas que discuta e participe mo, caridade, etc. Ao discutir a soberania
também de outras importantes questões, tais como: da comunidade local e de um povo, esta-
o papel dos fundos públicos no campo de disputa remos fornecendo pistas para analisar a
política e a necessidade de novas políticas na gestão metamorfose que atualmente se opera nos
desses fundos públicos. É preciso desenvolver sabe- discursos sobre a realidade brasileira, tão
res que orientem as práticas sociais, que construam fragmentada, mas ao mesmo tempo, tão
valores - aqui entendidos como: participar de cole- cheia de esperança no sentido de mudan-
tivos de pessoas que são diferentes, mas devem ter ças qualitativas. Temos que politizar áreas
metas iguais (Vide Santos, 2006). do social, como a assistência e a educação
Vários setores relativos às áreas sociais, a exem- – no sentido de inseri-las de fato como
plo dos sistemas educacionais, estão cada vez mais prioridade política nacional e não apenas
descentralizados e abertos; estão assim não por dá- discurso estratégico de plataformas eleito-
diva, mas por trabalho - fruto de demandas e pres- rais; e com elas, os seus conselhos.
sões da sociedade civil, conquista dos movimentos Há necessidade de se atingir a mídia,
sociais organizados. Mas o espaço apenas não basta, para que a educação ganhe legitimidade
ele tem que ser qualificado; se não houver sentido de junto à sociedade. Afinal, os conselhos e
emancipação, com projetos que objetivem mudanças colegiados são partes de uma gestão com-
substantivas e não instrumentais, corre- se o risco de partilhada e governar é a oportunidade
se ter espaços ainda mais autoritários do que já eram de construir espaços de liberdade, desen-
quando centralizados. volver a igualdade e, em suma: construir
Participar dos conselhos e colegiados é uma das o projeto da emancipação com sentidos
urgências e necessidade imperiosa. Mas é uma pre- e significados, com marcos referencias
paração contínua, permanente, de ação e reflexão. substantivos e não participar de cenários
Não basta um programa, um plano, ou um cursi- armados estrategicamente. Reiteramos - a
nho, ou conselho. Construir cidadãos éticos, ativos, participação da sociedade civil na esfe-
participativos, com responsabilidade com o univer- ra pública via conselhos e outras formas
sal, é retomar as utopias e priorizar a participação institucionalizadas, não é para substituir o
na construção de agendas que contemplem projetos Estado, mas para lutar para que este cum-
emancipatórios, projetos que coloquem como prio- pra seu dever: propiciar assistência, edu-
ridade a mudança social e qualifiquem seu sentido cação, saúde e demais serviços sociais com
e significado. Mais do que nunca temos que redis- qualidade e para todos, em direção a um
cutir o que é um projeto político emancipatório, re- projeto de emancipação dos excluídos.
CONCLUSÕES
Referências bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999
GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e participação sociopolítica. 4ª Ed, S.Paulo, Cortez Ed, 2011
_________ O Protagonismo da sociedade civil: movimentos sociais, ONGS e redes solidárias. 2ª Ed.São Paulo: Cortez, 2008
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___________Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e contemporâneos. 10ª Ed. São Paulo. Ed. Loyola, 2012
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003
SANTOS, Boaventura de S. SANTOS, . A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006
SMITH, Graham. Democratic inovations-Designing institutions for citizen participation. Cambridge, Cambridge Un.Press, 2009
TOURAINE, Alain. Um Novo paradigma – Para comprender o mundo de hoje. Petrópolis, Ed. Vozes, 2006
A prática
do Conselho
Municipal de
Educação
Ivan Melo
O artigo, aqui apresentado, tem como finali- to que visa contemplar os anseios da sociedade.
dade potencializar a Gestão Participativa desen- É um instrumento de planejamento, visando às
volvida pela Secretaria da Educação, sistemati- diretrizes previstas nos objetivos educacionais.
zar informações sobre o Conselho Municipal de O PME também tem como objetivos “proporcio-
Educação - CME de Mogi das Cruzes e socializá- nar educação com qualidade e responsabilidade
-las com vista à divulgação e ampliação acerca social, diminuindo as desigualdades sociais e
dele, tornar esse conhecimento o embrião para a culturais, erradicando o analfabetismo, ampliar
construção de indicadores que venham a contri- o nível de escolaridade da população e propiciar
buir com a efetivação de processos avaliativos, a qualificação profissional para o trabalho”.
qualitativos e/ou quantitativos da esfera pública. É preciso dizer que de acordo com a Lei nº
Pretendo, com isso, contribuir para o fortale- 9.143, de março de 1995, em seu artigo 40, inciso
cimento e para consolidação do CME como ins- II é de responsabilidade do CME "colaborar com
tância democrática, participativa, em que novas o Poder Público Municipal na formulação e na
formas de relação entre Estado e sociedade civil elaboração do Plano Municipal de Educação". A
se estabeleçam configurando, dessa maneira, o Lei Municipal nº 6.597, de outubro de 2011, em
processo de gestão pública. seu artigo 3º, inciso II, alínea b, determina que o
O CME, assim como os demais Conselhos CME deve "subsidiar a elaboração e acompanhar
Municipais, foi preceituado pela Constituição a execução do Plano Municipal de Educação".
Federal de 1988, que em seus artigos 205, 206 A gestão pública clamava por reformas espe-
incisos I a VIII e 208 incisos I a VII, parágrafos cíficas, mas, sobretudo, por uma reforma parti-
1º, 2º e 3º estabelece a criação do principal docu- cipativa que compartilhasse as decisões políticas
mento diretor em que consta como se dará essa com a sociedade, ou seja, um modelo de gestão
gestão pública de educação com a sociedade: o pública descentralizada e participativa. Como
Plano Municipal de Educação - PME, documen- já citei anteriormente, a Constituição de 1988 foi
o marco formal desse momento histórico de re- mas Estadual e Municipal), Diretores de Escolas
avaliação dos papéis do Estado e da sociedade Municipais, Secretaria Municipal de Educação,
civil, que abriu caminho para a descentralização Professores de Escolas Municipais, Diretoria de
e para a participação social na gestão pública Ensino Estadual, Associação de Pais e Mestres,
(CORTÊS, 2002). É quando, pela primeira vez, há Associação de Amigos e Bairros, Entidades Fi-
um crescimento expressivo na formação de Con- lantrópicas, Polícia Civil, Polícia Militar, Ser-
selhos em diversas áreas, com diferentes níveis vidores Técnico-Administrativos das Escolas
de influência, variando desde conselhos somente Públicas, Secretaria Municipal de Assuntos Ju-
consultivos até conselhos fiscalizadores, gestores rídicos, Conselho Tutelar, Conselho Municipal
e deliberativos (MATOS, 2007). dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ensi-
Apesar dos limites de atuação, admite-se que no Superior, SESI e SENAI.
os Conselhos têm sido relevantes para a demo- O registro formal de um Conselho não re-
cracia participativa e para a política pública e que presenta a garantia de sua efetividade sobre o
são fundamentais para o controle social (ABRA- ângulo de desenvolvimento de projetos, será ne-
MOVAY, 2001; CORTÊS, 2002; MATOS, 2007). cessário que seus membros sejam participativos,
O CME de Mogi das Cruzes foi criado com a tornando as atividades desse Conselho relevan-
Lei Municipal nº 5.990, de 17 de maio de 2007, tes e de interesse público. Para isso é necessário
alterada pela Lei Municipal nº 6.075, de 05 de e obrigatório, o comparecimento dos seus mem-
dezembro de 2007, que estabeleceu que este fos- bros às sessões ordinárias e extraordinárias.
se composto por 21 membros titulares e igual O CME de Mogi das Cruzes, em sua admi-
número de suplentes com mandato de dois nistração, conta com uma Presidência, Câmara,
anos. A estrutura do CME é composta por repre- Secretaria Geral e Assessoria Jurídica com com-
sentantes de várias áreas da comunidade, como: petências plenamente definidas. É de competên-
Escolas Particulares (jurisdicionadas aos siste- cia deste conselho, de acordo com o Regimento
Referências bibliográficas:
ABRAMOVAY, R. Conselhos além dos limites. Estudos Avançados, São Paulo, v.15, n. 43,
p.121-40, 2001.
CAE:
a comunidade
zelando pela
qualidade da
merenda escolar
Bruno Rodrigues da Luz
Nós, membros do Conselho de Alimentação O CAE é também um órgão que dá voz à referi-
Escolar (CAE), fazemos parte de um órgão fis- da comunidade, pois seus membros são, geralmente,
calizador dos recursos federais destinados à o corpo docente, funcionários e pais de alunos. Esta
merenda com autonomia administrativa, cujo composição é que garante estarmos próximos da so-
objetivo é zelar pela qualidade dos produtos em ciedade, já que os seus integrantes estão diretamente
todos os níveis, desde a aquisição até a distribui- ligados às unidades escolares. Outro fator que nos
ção. Para tanto, procuramos analisar as contas aproximou ainda mais da sociedade foi a construção
relativas ao programa de alimentação escolar, de uma página em uma rede social. O endereço é o
relatórios, extratos bancários, notas fiscais e etc. mesmo do nosso email: cae.pmmc@yahoo.com.br. A
No dia 4 de abril, iniciamos as visitas às unida- página visa a informar a população sobre nosso tra-
des escolares, a fim de observar o armazenamen- balho e divulgar o que realizamos em nossos encon-
to, o relacionamento dos Auxiliares de Desenvol- tros, além de permitir que qualquer pessoa que tenha
vimento da Educação (ADEs) com os estudantes interesse por nossas ações possa deixar seus comen-
e funcionários, a segurança do local (cozinha) e o tários ou críticas.
preparo e distribuição dos alimentos, analisando Também queremos construir um blog com muitas
as práticas de higiene. Além disso, oferecemos informações relacionadas ao Conselho, pois o CAE
orientações (quando necessárias) e, recebemos é uma ferramenta para melhorias. Quanto mais pes-
sugestões dos funcionários e alunos sobre a ali- soas tiverem o conhecimento deste poderoso canal
mentação servida, bem como de outros mem- de comunicação, então teremos grandes chances de
bros da comunidade, com o intuito de transmitir atingirmos o resultado esperado: manter a constan-
maior confiança e credibilidade, pois quem fre- te qualidade da merenda servida em nossa região,
quenta as unidades são seus filhos e netos. que tem tido uma excelente qualidade.
Controle Social
do FUNDEB
O controle social é um
direito do cidadão brasileiro
conquistado na Constituição
Federal de 1988. É o direito
da participação da sociedade
no acompanhamento e
verificação da gestão dos
recursos federais empregados
nas políticas públicas. Vale
salientar que controle social
é um dos mecanismos mais
importantes dos conselhos
gestores de políticas públicas.
Assim, o Fundeb e as demais políticas Sendo assim, temos 11 representações da sociedade ci-
públicas devem assegurar não somente o vil e administração pública, não podendo estar composto
acesso, mas a melhoria da qualidade da este conselho com menos de 9 membros representantes.
educação básica. Veja no quadro abaixo a evolução do percentual do Fun-
Em sua composição, o CACS-Fundeb deb desde 2007. A partir de 2010, em cada Estado, o Fun-
está assim constituído: deb passou a ser composto por 20% das seguintes receitas:
- dois representantes do Poder Executi- • Fundo de Participação dos Estados – FPE.
vo, dos quais pelo menos um da Secretaria • Fundo de Participação dos Municípios – FPM.
Municipal de Educação; • Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Servi-
- um representante dos Professores da ços – ICMS.
educação básica pública; • Imposto sobre Produtos Industrializados, propor-
- um representante dos Diretores das es- cional às exportações– IPIexp.
colas básicas públicas; • Desoneração das Exportações (LC nº 87/96).
- um representante dos Servidores das • Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doa-
escolas básicas públicas, exceto profissio- ções – ITCMD.
nais do quadro do Magistério; • Imposto sobre Propriedade de Veículos Automo-
- dois representantes dos Pais dos alu- tores – IPVA.
nos da educação básica pública; • Cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural -
- dois representantes dos Estudantes da ITR devida aos municípios.
educação básica pública, sendo um indicado Também compõem o Fundo as receitas da dívida ativa
pela entidade de estudantes secundaristas; e de juros e multas incidentes sobre as fontes acima rela-
- um representante do Conselho Munici- cionadas. Ainda, no âmbito de cada Estado, onde a arre-
pal de Educação, indicado pelos seus pares; cadação não for suficiente para garantir o valor mínimo
- um representante do Conselho Tutelar, nacional por aluno ao ano, haverá o aporte de recursos
indicado pelos seus pares. federais, a título de complementação da União.
Educação Infantil, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos 33,33% 66,66% 100%
Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/fundeb-apresentacao)
INSTITUIÇÃO REPRESENTANTES
Representantes de Escolas Públicas, Titular: Mário Sérgio Barbosa - Presidente
exceto profissionais do quadro do Magistério Suplente: Alex Augusto da Silva
Professores das Escolas Públicas Titular: Ciomara Rodrigues Prado de Miranda - Secretária
Suplente: Andrea Carvalho
Representantes de pais e alunos da Educação Pública Titular: Anália Regina Khorouzian Ribeiro
Suplente: Antonio Junior de Barros
Titular: Marcela Rufino de Camargo
Suplente: Rosemary Tie Usumoto Niyiama
Conselhos escolares:
democracia
em avanço
Fomentar a participação da
comunidade e criar uma rede
que informe, elabore, implemente
e avalie as políticas públicas
são, hoje, peças essenciais
nos discursos de qualquer
política pública. Abordarei a
participação da comunidade
mogiana em estruturas
institucionalizadas a partir de um
histórico da participação social
na gestão pública nacional.
Referências bibliográficas
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DF, 1996. Disponível em:<www.planalto.gov.br/ccivil.../L9394.htm>.Acesso em: 19 fev. 2013.
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Movimentos Sociais:
conhecendo
sua história
Márcia A. M. Vianna
Fonte: LUIZ, Maria Cecília (Org). Conselho escolar: algumas concepções e propostas de ação.
Ao mesmo tempo, o Governo Federal, passou a im- tica dos dirigentes escolares e a gestão de-
plementar ou a aprofundar, em todos os níveis, as políti- mocrática com a participação dos Conse-
cas neoliberais, as quais geraram desemprego, aumento lhos Escolares, fortalecendo os colegiados
da pobreza e da violência urbana e rural. (Gohn, 2005) e tendo como princípios: a instituição do
A Educação não ficou alheia a esse movimento. A Estado Brasileiro como Estado democráti-
democracia era o sonho, passando a ser defendida e co de direito e a garantia da supremacia da
posta como: acesso e permanência, escolha democrá- Lei sobre a vontade individual.
PLANOS DE EDUCAÇÃO
LDB - artigo 3º, inciso VIII
Gestão democrática do ensino público, na forma
desta Lei e da legislação dos sistemas de Ensino
A Constituição de 1988 foi a primeira Carta Magna Os conselhos escolares surgem em vir-
a introduzir a concepção de conselhos com a finali- tude da importância de que todos da co-
dade de garantir os direitos sociais para a realização munidade escolar se conscientizem de seu
plena da democracia no Brasil, excluindo o olhar cen- papel social e relevância no processo edu-
tralizador das elites políticas, econômicas e sociais, cacional democrático, tendo como função
prevendo que a educação seja promovida e incenti- zelar pela manutenção da escola e partici-
vada com a colaboração da sociedade e reafirman- par da gestão administrativa, pedagógica
do no artigo 206, o princípio da gestão democrática e financeira, contribuindo com as ações
como orientador do ensino público. dos gestores escolares a fim de assegurar
O processo de uma gestão democrática exige a par- a qualidade de ensino.
ticipação dos diferentes segmentos da comunidade O conselho escolar é constituído por
escolar nas decisões políticas de caráter pedagógico. representantes de pais, estudantes, pro-
fessores, demais funcionários, membros
COMEÇAM A SURGIR OS CONSELHOS da comunidade local – sociedade civil - e o
gestor da escola. Cada escola deve estabe-
O termo conselho, derivado do latim consilium, lecer regras transparentes e democráticas
apresenta vários sentidos: opinião, bom senso, sabe- para a eleição dos membros do conselho.
doria, prudência, grupo de pessoas, assessoramento, Visando fomentar ações pontuais no
entre muitos. Aqui para nós, no sentido de prudência sentido de incentivar a formação e a exis-
ou papel moral e de aprimoramento espiritual na re- tência de colegiados e de fortalecê-los, lan-
alização da cidadania, conselhos são estruturas polí- ça-se em 2004 para todo o País, sob a res-
ticas (participação popular) com caráter consultivo, ponsabilidade da Secretaria da Educação
de assessoramento ou deliberativo. Básica – SEB do Ministério da Educação, o
Referências bibliográficas:
BARCELLI, J.C.; PAULA; L.M. de S. Organização e Funciona-
mento dos Conselhos Escolares do Estado de São Paulo. IN: Se-
minário Internacional de Gestão Educacional, Rio Claro – SP - 2011
BRITO, Paulo A.B. Movimentos populares; possibilidades e limi-
tes de um novo sujeito histórico. Dissertação de Mestrado. Campina
Grande, PB: 1990.
Brasil. Ministério da Educação – Secretaria Especial dos Direitos
Humanos
das; a fim de refletirmos sobre nossas práticas. Rece- Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica
bemos com muita lisonja, convidados como Professor – Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares:
conselhos escolares: uma estratégia de gestão democrática da
Mestre Douglas de Matteu; Silvio Cesar Silva, Doutor educação pública/elaboração Genuíno Bordignon – Brasília: MEC,
em Ciências Sociais e o Professor Mestre Leandro Bas- SEB,2004.
sini, compondo a mesa redonda em que foram expos- Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica
– Conselhos escolares: democratização da escola e construção da
tas questões relevantes e pertinentes às funções do cidadania/elaboração Ignez Pinto Navarro [et al.] – Brasília: MEC,
Conselho Escolar por meio de vídeos, textos e relatos SEB,2004.
relacionados a políticas públicas democráticas e efica- Brasil. Decreto nº 6094 de 24 de abril de 2007: dispõe sobre a
implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Edu-
zes e a importância da participação social. cação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municí-
Mogi das Cruzes escreve sua história com ações pios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da
comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e
indispensáveis, como o processo de democratização financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade
da gestão, considerando todos como sujeitos históri- da educação básica. Brasília.
cos e atuantes na prática social da educação escolar GOHN, Maria da Glória. O protagonismo da sociedade civil: mo-
vimentos sociais, ONGs e redes solidárias. São Paulo: Cortez, 2005.
voltada para o exercício da cidadania, da democra-
______, (org) Movimentos sociais no início do século XXI: antigos
cia; possibilitando como missão principal, torná-los
e novos atores sociais. 2ed. Rio de Janeiro: Vozes,2004
realmente cidadãos políticos e participativos, ele-
Mogi das Cruzes - Plano Municipal de Educação – 2013 – 2014
mento essencial para a sua transformação.
LUIZ, Maria Cecília (Org). Conselho escolar: algumas concep-
ções e propostas de ação. São Paulo: Xamã, 2010. 151 p.
RISCAL, Sandra Aparecida. Gestão democrática no cotidiano
escolar: EdUfscar – 2009, p.45
http://www.uniesp.edu.br/revista/revista9/pdf/artigos/18.pdf
Márcia Aparecida Melo Vianna é professora
do ensino fundamental, formada em Pedagogia, http://www.ufscar.br/~pedagogia/novo/files/tcc/tcc_tur-
ma_2008/327778.pdf
com pós-graduação em Direito Educacional, Su-
pervisão e Gestão Escolar e Planejamento Esco- h t t p : / / p o r t a l . m e c . g o v. b r / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _
lar. Atualmente é como gestora da Educação de content&id=16478&Itemid=1107
Jovens e Adultos da rede municipal de ensino de
acessos em 08 abril.2013
Mogi das Cruzes.
Inclusão social e
fortalecimento dos
Conselhos Escolares
Leandro Bassini
diversas e até mesmo de exclusão em todos os tos o papel de uma Instituição (no caso, a Escola
sentidos. O espaço dos Conselhos foi e sempre e seu papel educativo) pode criar condições para
será, antes de mais nada, lugar de aprendizado, que obstáculos e conflitos sejam superados em
lugar de ouvir e de ser ouvido, de aprender com busca de um ideal ou condições ideais de vida.
o outro, de ensinar e aprender sem que haja pa- Cabe aos gestores e profissionais da edu-
péis instituídos e definidos de professores e alu- cação que compõem os Conselhos Escolares
nos - é lugar de diálogo. sentirem-se como membros efetivos e em uma
Diálogo pautado pela reflexão sobre a edu- situação de igualdade, porém com uma capa-
cação, no entanto cravejada da realidade que a cidade de contribuição enorme às discussões
cerca pela voz da comunidade. O projeto polí- que surjam ao longo dos diálogos e discussões.
tico-pedagógico que possui em sua elaboração Mas não são apenas esses os conselheiros, por
uma intervenção decisiva dos profissionais da isso, uma atitude a ser afastada é o sentimento
educação (e deve ser assim mesmo), não con- professoral da autoridade baseada na formação
segue êxito se for desvinculado da essência do acadêmica ou de posição social. Cury (2000)
lugar em que se vive e das questões prementes aponta que a história dos Conselhos no Brasil é
levantadas pela comunidade. repleta de situações em que o grupo de sábios
O projeto político-pedagógico da escola pos- se sobrepunha à massa de incultos e incapazes
sui vários laços ancorados no papel da escola e com a ideia de que a população ignorante e sem
da educação para a gente do lugar. estudos precisava de tutores.
Essa relação é justamente o elo entre o papel Neste sentido, desde a constituição dos ór-
do Conselho em sua origem (várias experiências gãos coloniais, passando pelo Império e Re-
vêm ocorrendo ao logo da história, desde a anti- pública até, pelo menos, a década de 1980, os
guidade mais remota - no momento da constitui- Conselhos (de vários âmbitos e finalidades)
ção de grupos gregários e na origem dos Estados possuíam o estigma de serem constituídos por
organizados) e dos Conselhos de cidadania con- um corpo técnico e douto capaz de orientar,
temporâneos: as lideranças locais, com sua sabe- quando chamados, diferentes instituições e es-
doria e ponderação, avaliando em quais aspec- feras do poder público.
las podem ser vistas mais como um bem público ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e
do Estado. 4ª. ed.,S.P.:Centauro, 2012.
de exceção do que como dínamo de construção
de uma nova realidade local, ou seja, a relação FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 3ª.ed., R.J.:Globo, 2001.
de pertencimento e de empoderamento é subju- PARO, Victor. Por dentro da escola pública. S.P.: Xamã Editora, 1996.
Conselhos Escolares:
das lutas pela redemocratização
à emergência da Sociedade
do Conhecimento
O pressuposto básico deste artigo é que as formas de organização e gestão das escolas
públicas influenciam e são influenciadas pelas transformações sociais mais amplas. Neste
sentido, os Conselhos Escolares serão aqui analisados desde a sua origem, nos movimen-
tos sociais por democracia iniciados nos anos 1970, até a sua importante contribuição para
a construção de uma escola pública baseada na gestão democrática colaborativa e na edu-
cação de qualidade em sintonia com a emergência da Sociedade do Conhecimento.
O papel dos Conselhos Escolares como uma estratégia de implementação da gestão
democrática na escola pública ganha especial relevo em um momento em que vivemos
a transição da Sociedade Industrial para um modelo societal que tem sido chamado de
Sociedade do Conhecimento, denominação que revela não só a centralidade do conhe-
cimento, mas, principalmente, a forma como este se produz, quando se combinam auto-
nomia e colaboração.
No Brasil, no final da década de 1970 início meio da proposição das emendas populares. Foi
da década de 1980, apesar da repressão dirigida dessa maneira que os movimentos associativos
contra as lutas populares pelo regime militar, o populares passaram a reclamar participação na
protesto popular urbano surgia em duas frentes gestão pública e “o desejo de participação comu-
principais: por meio dos movimentos grevistas e nitária se inseriu nos debates da Constituinte,
de uma renovação no movimento sindical, em es- que geraram, posteriormente, a institucionaliza-
pecial a partir de 1978, por um lado; e, por outro ção dos conselhos gestores de políticas públicas
lado, nos movimentos sociais que surgiram para no Brasil” (BRASIL: 2004, p. 180).
lutar por condições mais dignas de vida nas ci- Na Constituição de 1988, esses conselhos ges-
dades. Nesse período, com a retomada das elei- tores passaram a ser entendidos como uma nova
ções para governadores, começaram a surgir as categoria de participação cidadã, que tem como
primeiras experiências de gestão colegiadas nas eixo a construção de uma sociedade democráti-
instituições de educação básica nos estados de ca em que o Estado deve estar a serviço dos ci-
Minas Gerais e São Paulo, em 1977, no Distrito dadãos. Em 1996, oito anos após a promulgação
Federal, em 1979, e no município de Porto Alegre, da Constituição, a Lei de Diretrizes e Bases da
no ano de 1985 (MENDONÇA, 2000, p. 269-273). Educação (LDB 9394) sugere o estabelecimento
Durante os anos 1980, os movimentos sociais de Conselhos Escolares, compostos por repre-
foram fortalecidos por uma ampla mobilização sentantes das comunidades escolar e local, como
da sociedade civil que culminou na campanha uma das principais estratégias da gestão demo-
por eleições diretas para presidente da repúbli- crática nas escolas públicas.
ca – as Diretas Já (1984-1985) – e na Constituinte Qual a importância e a viabilidade dessa re-
de 1987/1988, que garantiu a participação direta presentação hoje, após todas as mudanças que
da população na elaboração da Constituição por ocorreram na sociedade brasileira e global?
Hoje, a produção de riqueza, que na Socieda- O que há de mais promissor na Sociedade do Co-
de Industrial estava centrada sobre a valoriza- nhecimento para o Conselho Escolar é a possibilida-
ção de grandes massas de capital fixo material de de estruturá-lo, usando as tecnologias da infor-
(prédios e máquinas), está cada vez mais sendo mação e da comunicação como uma rede de gestão
substituída por um capital dito imaterial, quali- democrática alicerçada sobre um processo de cria-
ficado também como ‘capital humano’, ‘capital ção colaborativa que possibilita a todos os membros
conhecimento’ ou ‘capital inteligência’ (GORZ, das comunidades escolar e local manifestarem-se,
2005: 15). A esse processo convencionou-se cha- simultaneamente, como educandos e educadores,
mar de Sociedade do Conhecimento. mestres e aprendizes, gestores e cidadãos.
A principal fonte de riqueza da Sociedade do Uma das principais dificuldades apontadas no
Conhecimento é o saber. O saber é feito de “ex- IV Encontro Nacional de Fortalecimento do Con-
periências e de práticas tornadas evidências in- selho Escolar, realizado em Brasília, no período
tuitivas, hábitos; e a inteligência cobre todo o le- de 29 de maio a 1º de julho de 2012, foi garantir
que das capacidades que vão do julgamento e do a participação da comunidade escolar no Conse-
discernimento à abertura de espírito, à aptidão lho. A organização do Conselho Escolar em rede
de assimilar novos conhecimentos e de combiná- digital não eliminaria a necessidade dos encon-
-los com os saberes” (GORZ, 2005: 17). tros presenciais, mas minimizaria a sua impor-
Em torno da expressão Sociedade do Conhe- tância ao ampliar a participação das pessoas das
cimento gravitam concepções teóricas, educacio- comunidades escolar e local por meio do acesso
nais e políticas que, em comum, possuem dois digital às propostas e participação nos processos
pilares. Primeiro, atribuem ao conhecimento um de tomada de decisão, da ampliação dos debates
papel central na produção de riqueza nas socie- nos fóruns virtuais e, o mais importante, mudaria
dades contemporâneas. Segundo, entendem que o foco da participação para a colaboração.
as Tecnologias da Informação e da Comunica- O foco na colaboração é uma das caracte-
ção, organizadas em redes colaborativas, forne- rísticas da Sociedade do Conhecimento, o que
cem a infraestrutura necessária para a reprodu- importa são as qualidades de comportamento,
ção dessa sociedade. as qualidades expressivas e imaginativas, o en-
volvimento pessoal na tarefa de contribuir para O grande desafio que se coloca para os Con-
construir uma educação de qualidade. O desem- selhos Escolares na Sociedade do Conhecimento
penho não depende do número de horas, mas é implementar uma gestão democrática que per-
da motivação e da colaboração. Pessoas que co- mita a melhoria da qualidade da educação e es-
laboram, “que se coordenam e se ajustam livre- teja assentada na participação colaborativa das
mente umas às outras em projetos que definem comunidades escolar e local. As tecnologias da
juntas, terão tendência a individualmente se informação e da comunicação poderão ser gran-
superarem” (GORZ, 2005: 60). Nesse sentido, o des aliadas dos Conselhos Escolares na supera-
que conta são as capacidades expressivas e coo- ção desse desafio.
perativas e não a quantidade de horas.
Uma experiência interessante de utilização
das tecnologias da informação e comunicação
para organizar rede de pessoas dispostas a co-
laborar para a melhoria da qualidade da edu-
cação por meio gestão democrática das escolas
públicas é a do Grupo Articulador de Fortale-
cimento do Conselho Escolar do Ministério da
Educação. Esse Grupo utiliza o Moodle1 para
Silvio Cesar Silva é doutor em Ciências Sociais
organizar uma comunidade virtual na qual os pela PUC-SP, professor da Pós-Graduação da UNI-
técnicos das Secretarias de Educação encon- SUZ e pesquisador do NETTT do Programa de Estu-
tram-se para anunciar propostas, discutir ideias dos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.
Conselho Escolar, organizado como uma rede CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a
colaborativa de gestão democrática. internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2003.
1
O Moodle (acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Lear- GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São
ning Enviroment) é uma plataforma de aprendizagem a distância Paulo: Annablume, 2005.
com a licença de software livre.
Conselho Escolar:
o desafio
da gestão
participativa
Douglas de Matteu
Como seria se você desse essa vira- Como seria se você relesse este artigo
da? Como seria um Conselho Escolar e respondesse verdadeiramente a cada
efetivo em sua escola? O que você ainda pergunta? Lembre-se de sempre se lem-
não fez e pode fazer para tornar a gestão brar e continuar se lembrando de que as
participativa e o conselho atuante? Para mudanças começam no pensamento, na
resultados diferentes, faz-se necessário reflexão e que são definidas pela ação.
pensar e agir diferente. Qual será sua ação após essa leitura?
Referências bibliográficas
CHIAVENATO, I. Administração para não administradores: a gestão ao alcance de todos. São Paulo:Saraiva, 2008a.
CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3 ed. Rio de
Janeiro:Elsevier, 2008b.
Ministério da Educação e Cultura - MEC. Conselho Escolares: Uma estratégia de gestão democrática da educação
publica, Brasilia, 2004. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_gen.pdf> acessado
em 17/02/13.
MATTEU, Douglas. Desenvolva as Competências do Líder Coach com a Roda da Liderança Coaching in: SITA, M;
PERCIA, A. Manual completo de Coaching. São Paulo: Ser Mais, 2011.
O’CONNOR, Joseph. Manual de programação neurolinguística: PNL: um guia prático para alcançar os resultados
que você quer. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2011.
O’CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Introdução à programação neurolinguística: Como entender e influenciar
as pessoas. São Paulo: Summus, 1995.
Portal do Ministério da Educação e Cultura - MEC. Disponível em <http://portal.mec.gov.br > acessado em 17/02/13.
O trabalho com
a comunidade
estreitando laços
com a escola
A Escola Municipal Profª Wilma de Almeida Rodrigues tem em seus alunos da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) a participação fundamental da comunidade, que em 2011 buscou ardua-
mente a implantação da EJA Ciclo II (de 5ª a 8ª série), fato que acabou culminando no fortaleci-
mento da EJA Ciclo I (1º ao 4º termo).
Por meio de questionário diagnóstico, verificou-se que a comunidade, localizada no bairro
do Taboão, em Mogi das Cruzes, tem a maioria dos moradores trabalhando em portos de areia
ou plantação de flores e a escola é o referencial social desta comunidade. Portanto, a partir daí
surgiu-nos o questionamento: “O que fazer para manter este aluno na escola e garantir-lhe uma
educação de excelência?”
O aluno de EJA tem seus direitos garantidos pela Lei de Diretrizes Bases da Educação (LDB
9394/96) em seu Art. 37: (...)
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não pu-
deram efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, conside-
radas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante
cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na
escola, mediante ações integradas e complementares entre si.
Referências Bibliográficas
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 3 ed,
São Paulo: Cortez, 1999.
Gestão democrática
escolar na prática
A Gestão Democrática na escola consiste na Gestão Democrática é isso, fazer valer a de-
luta de educadores e movimentos sociais orga- mocracia e a cidadania com a nossa participa-
nizados em defesa de um projeto de educação ção integral, dentro da escola. É a sensação do
pública de qualidade social e democrática. dever cumprido, interagindo mais com os edu-
Resumindo: é a participação da família no cadores e com nossos filhos. A você que está
ambiente escolar junto com o corpo docente lendo esse depoimento, faço o seguinte convi-
da escola, participando do Conselho de Escola, te: seja um membro do Conselho de Escola na
onde alunos, pais, professores, coordenadores escola em que seu filho estuda.
e diretor interagem, participando com novas Participe! Faça valer a pena. O primeiro
ideias para a solução de problemas no ambien- passo é nosso.
te escolar e social, o qual é relatado em Ata e di-
recionado à Secretaria Municipal de Educação,
para que possa ficar a par dos acontecimentos.
Concepção educativa
de creche
O atendimento de crianças de 0
a 3 anos de idade é estabelecido
pela Lei de Diretrizes e Bases
para a educação nacional, Lei nº
9394/96, que prevê a Educação
Infantil, composta pela creche
(0 a 3 anos de idade) e a pré-
escola (4 a 5 anos), como nível de
ensino que se integra à Educação
Básica. Essa integração expressa
a sua finalidade social de assumir
as especificidades da educação
infantil e também se inteirar de
todos os aspectos que permeiam
e influenciam o processo de
formação da criança.
Referências bibliográficas:
BRASIL.Ministério da Educação.Secretaria de Educação Fundamental e Infantil.Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil, 2010 ;
______. _______._______. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 1, 2 e 3. Brasília:
MEC/SEFI, 1998;
OLIVEIRA. Zilma Ramos de. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. 4 ed. – São Paulo: Cortez, 2008;
Creches
conveniadas
A história de um mutirão
de responsabilidade social
Marina Dias Nogueira atuou por mais
de 10 anos na supervisão de creches
conveniadas da Prefeitura de Mogi das
Cruzes. Pedagoga com habilitação
em supervisão escolar, ela trouxe
para administração municipal sua
experiência como educadora aliada
ao seu trabalho voluntário no Instituto
Maria, Mãe do Divino Amor, no bairro
do Botujuru. Este trabalho social fez
diferença em sua passagem pela
administração municipal, em que ela
foi uma das pioneiras no Programa de
Expansão de Creches do município e
participou ativamente da ampliação
da iniciativa ao lado das entidades
filantrópicas e associações de bairro
mogianas. Marina conta para a
revista Educando em Mogi como foi
o nascimento e a consolidação deste
movimento, hoje responsável pelo
atendimento de mais de 8 mil crianças
de quatro meses a cinco anos de idade
em Mogi das Cruzes.
Como começou o atendimento em creche pios estavam fazendo, como estava aconte-
feito em parceria pelas instituições sociais cendo todo esse movimento para atender a
de Mogi das Cruzes e a Prefeitura? demanda de creche.
A legislação em vigor na época, relati-
va ao financiamento, o Fundef (Fundo de
Este trabalho de repasse de subvenção Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
para entidades existe desde 1987, quando Fundamental e de Valorização do Magisté-
foi publicado o primeiro decreto municipal rio), priorizava o investimento pesado em
de subvenção. Naquela época já havia enti- Ensino Fundamental. Em Mogi das Cruzes,
dades filantrópicas que atendiam crianças todo o investimento em Educação Infantil
em idade de creche e que tinham uma par- já estava sendo empregado porque o mu-
ceria com a Prefeitura. nicípio possuía uma rede muito grande de
Em 1996, ano em que foi promulgada atendimento, não tanto em creche, mas no
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, segmento de pré-escola.
houve a integração da Educação Infantil Nesta época, também passei a fazer parte
como primeira etapa da Educação Básica e da equipe da Vânia e começamos as visitas.
exigia-se que todas as escolas tivessem au- Visitamos cidades, como São Vicente, que
torização de funcionamento da Secretaria também fazia um trabalho com associações
Municipal de Educação. Foi a primeira vez de bairro, como aqui em Mogi depois foi
que, na legislação educacional brasileira, se implantado; em Caraguatatuba, onde foi
falou da Educação Infantil. feita uma parceria com a Fundação Orsa e
A partir desse momento, vários proce- por fim, Suzano com o modelo de creches
dimentos foram sendo tomados, até para comunitárias. Mogi se espelhou no traba-
a passagem das creches da Assistência So- lho feito no município de Suzano e vários
cial para a Educação. No ano 2000, todas as fatores também contribuíram para isso.
creches que existiam no município foram Neste período, havia uma grande pressão
visitadas e autorizadas formalmente como da comunidade em geral pela ampliação do
escola e, se não me engano, eram 18. atendimento em creche e algumas pessoas
Nesta época, existia a necessidade de ex- acreditavam que as creches, administradas
pansão do atendimento em creche até por em parceria com as entidades, seriam “de-
conta da legislação e várias questões sociais pósitos de crianças”. Estes questionamentos
da época. Então, nos foi pedido um estudo refletiam ainda o pensamento comum de
para ver como seria possível ampliar esse que a creche era uma atribuição da Assistên-
atendimento. Na época, a professora Vânia cia Social para atender as mães mais carentes
Barbieri Bertaiolli iniciou os estudos em que precisavam trabalhar. A creche era um
outros municípios. lugar só para se cuidar das crianças. Essa vi-
Vânia, que era responsável por essa área, são começou a mudar a partir da LDB, onde
começou observando o que outros municí- o cuidar e o educar andam juntos.
tes do Centro de Mogi, que trabalhavam na Explicamos também que a partir do mo-
entrega de leite e cobertores. Lógico, que mento que assumissem as creches, eles te-
eles também exerciam sua função funda- riam que registrar e ser responsáveis pelos
mental: lutar pelos direitos do bairro, pelas funcionários.
melhorias, o que é o grande enfoque de uma Fazíamos reuniões frequentes com eles,
associação. Esta era sua missão principal, orientávamos sobre a prestação de contas
que depois é acompanhada por outros com- e as exigências para o funcionamento da
promissos, como a implantação de creches, creche, o quadro funcional: como ter um
projetos sociais e culturais, o que vai depen- pedagogo, que seria um diretor responsá-
der do que é apontado por cada estatuto. vel pela creche e o quadro de funcionários
Diante desse perfil das entidades, procu- mínimo para o atendimento de acordo com
ramos trabalhar de forma a atender os nos- o número de crianças atendidas (quantos
sos parceiros em todas suas necessidades. professores com formação mínima em ma-
Uma grande preocupação era a aplicação gistério a creche teria que ter, quantas ADIs
dos recursos públicos, até pelo grande volu- - Auxiliares de Desenvolvimento Infantil e
me que estava sendo investido. Em 2003, foi o pessoal da limpeza e da cozinha).
publicado um decreto que criava critérios Quando a entidade sinalizava que que-
mais rigorosos para a prestação de contas. ria ser parceira, o próximo passo era que
As primeiras creches foram instaladas em ela localizasse no seu bairro uma casa que
bairros mais distantes, onde havia a neces- apresentasse condições de abrigar uma cre-
sidade deste atendimento. A partir de um che. Em seguida, nós verificávamos a capa-
cadastro da Secretaria de Assistência So- cidade do imóvel, se poderia atender 40 ou
cial, chamamos os presidentes das associa- 50 crianças de 2 a 6 anos, pois o projeto ori-
ções de bairro e fizemos uma reunião para ginal das 13 primeiras creches era para que
apresentar o projeto. Falamos um pouco da cada unidade atendesse 50 crianças dessa
experiência e das responsabilidades em se faixa etária. Nessas casas, ainda não era
dirigir uma entidade sem fins lucrativos. possível atender turmas de berçário.
Em nossa visita, analisávamos como iam Como era feito o acompanhamento junto às
ser os ambientes e dávamos orientações. As entidades?
adaptações e investimentos iniciais eram
por conta das entidades, que só recebiam Desde 2003, todos os meses até hoje, existe
os recursos após a autorização de funciona- a reunião mensal com as pedagogas dirigen-
mento das escolas e a publicação do decre- tes e também com os presidentes das mante-
to de subvenção. nedoras. No início, fazíamos várias reuniões
Em alguns bairros, a situação era muito e, nesse trâmite, entre a casa ficar pronta e
precária e não existiam casas adequadas o processo de autorização ser concluído, a
para abrigar uma creche. Assim, os presi- equipe de supervisão fazia todo o acompa-
dentes que possuíam casas com uma infra- nhamento. Tínhamos contato também com
estrutura melhor, acabavam se mudando os contadores, que eram responsáveis pela
para casas menores e utilizavam sua pró- emissão do balanço de final de ano das enti-
pria casa. Era feito um processo para que a dades. Com o apoio de funcionários de ou-
Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros ana- tras secretarias, falávamos sobre a questão
lisassem o local para verificar se havia algo legal da parceria, em especial, a aplicação
que colocasse em risco a segurança das dos recursos, pagamentos em cheque, etc.
crianças e funcionários. Este laudo era ane- Assim fomos indo e, a cada ano, a Secre-
xado ao processo de autorização da escola, taria de Educação respondia ao Ministério
para que depois fosse feito o processo da Público qual era a meta de atendimento e o
subvenção. Enquanto isso, os presidentes quanto estávamos diminuindo o número de
traziam as listas das crianças e nós formá- crianças que aguardavam vagas (o inquérito
vamos as turmas. foi arquivado em julho de 2012).
Como você avalia a participação social filantrópicas que, em sua grande maioria,
neste programa? eram ligadas a igrejas católicas ou organi-
zações espíritas. Não tínhamos associações
Das 13 primeiras que foram implan- de bairro administrando creches.
tadas, uma ou outra fechou. Temos a Em 2003, as 13 novas unidades eram
Vila Estação, Novo Horizonte e Jardim administradas por associações de bairro,
Margarida que funcionam até hoje e que desconheciam o trabalho e as exi-
continuam sendo administradas por as- gências legais, mas tinham a consciência
sociações de bairro. de que seus bairros precisavam ter uma
Eu fico admirada pela força que eles creche, então abraçaram este projeto com
têm, porque não é fácil. Só quem adminis- muita garra. Eles queriam aquilo, porque
tra uma creche sabe o quão difícil é admi- não se tinha nada. Ter uma creche, além
nistrar e nós trabalhamos nessa primeira de ser uma conquista, era um serviço
etapa com entidades que não sabiam nada para a comunidade.
sobre o atendimento de crianças e a parce- Outra coisa que era muito importan-
ria com o poder público. Para se ter uma te no projeto era a oportunidade que as
ideia, no primeiro final de ano, eles traziam novas creches davam para que as pessoas
as moedas em um saquinho de papel para do bairro pudessem trabalhar, a iniciati-
devolver para a Prefeitura; não se tinha no- va estava atrelada a isso. Dava-se oportu-
ção sequer de nota fiscal. nidade de emprego, de preferência para
Inicialmente, antes da primeira etapa do pessoas da comunidade. A ideia original
Programa de Expansão, em 2003, tínhamos era priorizar as pessoas da comunidade
20 creches administradas por entidades até para ter esse vínculo.
Você acha que este trabalho junto à comu- Um destaque importante é o fato de que
nidade fez com que o programa fosse bem Mogi das Cruzes foi pioneira no lançamen-
sucedido? to da Educação Infantil na Prodesp (Siste-
ma de Cadastro de Alunos do Estado de
Talvez esta tenha sido uma das razões São Paulo, instituído pelo Decreto nº 40.290
do sucesso do programa, porque a pessoa de 31/08/95). As creches subvencionadas
mora ali e conhece todo mundo, o que re- também fizeram parte deste processo. Era
força o cuidado e a acolhida das famílias. necessário ter um controle das matrículas.
Todos moram no mesmo bairro e enfren-
tam as mesmas dificuldades, provavelmen- O que era exigido das subvencionadas?
te isso favoreceu o projeto.
Lógico que isso também levantava ques- Nesse meio de tempo, as exigências le-
tionamentos de que alguns dirigentes esta- gais foram crescendo, como na questão da
vam empregando gente da família. Sabe- prestação de contas. Nós conseguíamos
mos que é uma questão até de confiança, atender um número maior de crianças, mas
mas é importante dizer que se esta pessoa não era possível atender o berçário porque
não tinha competência acabava sendo subs- as casas eram muito precárias. Em 2006, se
tituída por orientação nossa, inclusive. não me engano, a competência da vistoria
Depois, esse trabalho foi se expandindo de creches passou da Vigilância Sanitá-
para outras igrejas e muitas associações nas- ria Estadual para a Municipal, que havia
ceram com o objetivo de também ter uma cre- sido recém-criada. A Vigilância Sanitária
che em seu bairro. Tínhamos uma lista de en- Municipal, logicamente, possuía regras já
tidades que gostariam de ser mantenedores. antigas e, de acordo com elas, não era pos-
sível atender berçário. Com isso, as creches nos e então teve início o processo de ava-
tinham que se adaptar, mudar muita coisa liação dos locais. Analisávamos se era da
nos prédios e, então, foi feito um acordo Prefeitura ou não e se comportaria uma
com a Vigilância, que visitou todos os pré- nova unidade. Assim, chegou-se à con-
dios e descreveu as mudanças básicas que clusão de que, para atender as exigências
seriam necessárias em um termo de deter- da Vigilância era preciso terrenos de mais
minação técnica. de 2 mil m2.
A atual gestão assumiu o compromis-
Qual solução foi encontrada para atender a so que a gestão anterior já havia iniciado
questão do berçário? porque com os novos prédios poderíamos
atender bebês e ampliar o atendimento.
Para atender os bebês, era preciso As secretarias municipais de Planeja-
construir novas unidades. No início do mento e Educação e também a Vigilância
processo de expansão das creches, foram Sanitária Municipal se reuniram para veri-
construídos dois prédios. Depois foi pe- ficar o que um prédio precisaria ter e rever
dido para que as entidades indicassem a metragem dos terrenos para abrigar as
três terrenos de 1,5 mil m2 próximos à novas unidades.
sua unidade para a construção de uma Por meio destas conversas, chegamos ao
nova creche. modelo padrão das 40 creches que foram
A partir deste levantamento, seria feito construídas nos últimos quatro anos. Estes
um plano de construção para substituir novos prédios atendem mais que o dobro
as creches que estavam em imóveis pre- de crianças, passando de 50 para 110, com
cários. As entidades indicaram os terre- a vantagem, ainda, de ter berçário.
A comunidade aceitou bem esse processo de Havia um diálogo muito grande entre a
construção dos novos prédios? Secretaria de Educação e os presidentes das
mantenedoras, a gente tinha liberdade para
Sim, eles é que foram atrás de todos os chamar a atenção, se precisasse, e também
terrenos, tanto que os processos podem de fazer o convite, caso fosse necessário, de
comprovar isso. Eles indicaram três terre- que eles administrassem mais uma creche.
nos, que sofreram toda uma análise. Os no- Analisávamos com eles, a entidade fazia
vos prédios foram um ganho para a cidade uma ata e transferia. Como a entidade não
e as entidades continuaram assumindo a tem fins lucrativos, ela dava baixa na cartei-
administração. ra e a outra entidade assumia, sem período
de vacância. Normalmente, ela fazia uma
Vocês tiveram casos de entidades que de- ata no final do mês, dia 31 e no dia 1º, a
sistiram da parceria ou tiveram problemas gente já sabia e fazia toda a tramitação para
nestes 10 anos? não ficar sem subvenção e sem aula.
Nesses 10 anos, teve entidade que saiu, Nestes 10 anos dessa parceria entre o poder
mas nunca deixamos simplesmente fechar. público e a sociedade na administração das
Se ela não assumia, inicialmente procurá- creches, como você avalia esta trajetória?
vamos junto com ela outra entidade que as-
sumisse. Nestes casos, chamávamos aque- Sinceramente, eu acho que foi um resul-
les que já tinham experiência, porque não tado de várias variáveis. Tivemos todo um
é fácil administrar uma entidade que apre- contexto, vários fatores contribuíram. Acho
senta algum tipo de problema. que é importantíssimo o diálogo.
No início, elas estavam um pouco tími- que te fundou... Estamos continuando a his-
das devido aos comentários de que as no- tória de alguém lá, as pessoas que começa-
vas creches seriam depósitos de crianças, ram tinham que ter muita garra. A essência
de que lá não era uma escola. da entidade não é só buscar recursos, cada
Investimos muito no diálogo e em cur- uma nasceu de um jeito. É uma entidade
sos por meio da Secretaria de Educação, privada sem fins lucrativos, eu não posso
que programava as capacitações e a super- querer encaixa-la numa mentalidade públi-
visão acompanhava à noite e aos sábados. ca. Sobre as entidades que estão assumindo
Foram feitos cursos de formação para as agora, tem que se ter todo um cuidado, pois
ADIs, em espaços de outras creches que este começo é difícil.
emprestavam o lugar porque não tínha-
mos ainda o Cemforpe. Em quais pontos as entidades devem avan-
çar? Como você o ingresso de novas insti-
Como as creches subvencionadas devem ser tuições no sistema de ensino?
vistas dentro do sistema municipal de ensino?
As entidades terão que se especializar na
Não se pode querer que as creches con- captação de recursos, o que é difícil, porque
veniadas sejam iguais às municipais, são as próprias empresas em vez de repassarem
entidades diferentes. É preciso entender que recursos, muitas vezes, preferem criar suas
elas têm uma característica própria porque próprias fundações. Mas não é só a questão
são entidades diferentes. Cada entidade tem do dinheiro, é a forma de administrar esse
uma missão, tem uma história Trabalho isto recurso. Às vezes tem entidades que rece-
na assessoria: de onde você veio, quem foi bem a mesma subvenção, uma administra
bem e outra se complica. Nós sempre ficáva- isso foi sendo construído, nasceu e depois
mos antenados nestas questões, orientando. foi sendo consolidado. Acho que para o
A entidade tem que se especializar em trabalho dar certo é preciso um conjunto
administrar o dinheiro. Este é um dos pro- de atitudes, tem que dar assessoria, ouvir
blemas que acontece quando a entidade é o que eles falam e do que estão precisan-
nova e não sabe como utilizar o recurso, do, enfim ter um bom relacionamento.
acaba comprando coisas que não pode e é Tínhamos esse diálogo, conversávamos
obrigada a devolver dinheiro. muito Criou-se um vínculo muito grande
O primeiro ano das entidades é o mais entre a Prefeitura e as entidades. É preciso
difícil, há muitas demissões neste período. mantê-lo, auxiliando-os ao máximo nas difi-
As novas entidades, que estão assumindo culdades. É preciso entender que temos uma
agora, já chegam administrando prédios grande parceria e temos que estar próximos.
grandes para 110 crianças, antes eram ape- Hoje, grande parte das nossas crianças em
nas 50 alunos em prédios menores. creches está sendo educada pelas entidades.
Mesmo as antigas que também estão Temos que investir em formação. Eles
ocupando os novos prédios têm que se são ávidos por formação, entendem que
adaptar, pois são situações bem diferentes. estão sempre aprendendo. Acho que um
Temos que receber entidades novas, não caminho interessante é a troca de experiên-
podemos fechar o processo, mas é preciso cias entre os presidentes, talvez fosse pre-
ter um acompanhamento bem de perto por ciso estimular mais este diálogo entre eles.
parte da Prefeitura. As entidades também têm que crescer
nas certificações, o que aumenta suas res-
Como você vê a evolução deste programa? ponsabilidades, mas também as possibili-
dades de angariar recursos. Um caminho é
É um processo, a Prefeitura já deu gran- se inscrever no Comas – Conselho Munici-
des passos, as creches têm um prédio, ma- pal de Assistência Social. Isso tem que estar
terial de higiene, tudo isso é fruto de um previsto no estatuto e a entidade deve ter
processo de diálogo que sempre existiu, algum projeto na área de assistência social.
Quando este projeto foi idealizado pela en- Então, chegou uma nova etapa de desafios.
tão presidente da Associação do Bairro Residen- O mobiliário, utensílios domésticos, produtos
cial Novo Horizonte, Sirlene Furlã, não conta- de higiene e limpeza foram doados por amigos
mos de imediato com o apoio da população, por da comunidade e também pelos futuros funcio-
que se tratava de um projeto novo e não era uma nários, que também foram responsáveis pela
escola convencional da Prefeitura. A nova creche pintura e limpeza do local, decoração e prepa-
não era vista com bons olhos por parte da co- ração para receber as crianças, no início do ano
munidade, que ao ser informada do processo de letivo de 2003. Com as etapas iniciais vencidas,
inscrição para o Centro de Educação Infantil Co- passamos para as próximas. O funcionamento
munitário – CEIC, que recebeu o nome de Raio do CEIC começou precário, mas contamos com
de Luz, não compreendia como uma instituição o auxílio de alguns colaboradores, como Maria
que ainda não tinha nem sede própria e formada Raimunda, Dalva, Maria José, dentre outros e fa-
por pessoas moradoras do bairro, poderia dar miliares das funcionárias.
certo. Tudo que é novo assusta ou conta com a Inicialmente, nossa equipe era composta por
negatividade e conosco não foi diferente. pessoas qualificadas ou se qualificando para o
No início, nos reuníamos na residência da Sir- trabalho, tendo em vista que a professora, for-
lene, mesmo sem remuneração alguma. Apren- mada em magistério com uma boa experiên-
demos a sonhar e confiar nos sonhos e ideais da cia anterior, auxiliava na preparação das aulas
mesma, fazendo deles o nosso próprio sonho. das demais turmas, assumindo o planejamento
Passaram-se mais ou menos cinco meses, desde das aulas enquanto as demais buscavam qua-
a preparação do projeto, elaboração da propos- lificação. Éramos acompanhadas de perto pela
ta, autorização da escola por parte da Prefeitura, equipe da Secretaria Municipal de Educação e
procura e locação da primeira sede, inscrição e recebemos equipamentos (computador e multi-
matrícula dos futuros alunos. Nesse período, en- funcional), mobiliário, brinquedos e apoio admi-
frentamos vários obstáculos. nistrativo, além de formações para funcionários.
A opinião e a recusa da comunidade em acre- Após o primeiro semestre de funcionamento,
ditar que tal projeto daria certo era o maior de- a opinião da comunidade começou a mudar, re-
les. A partir desta recusa em fazer as inscrições, a percutindo em procura de vagas, o que gerou uma
equipe, juntamente com a presidenta da associa- lista de espera para o ano letivo seguinte. Isto cau-
ção, saía de casa em casa expondo a finalidade e sou uma preocupação por parte da Prefeitura e da
a proposta desde projeto inovador e, com muita Associação. Assim, buscamos uma sede maior e
persistência, conseguimos alcançar as 50 primei- novos funcionários foram contratados. Com muito
ras crianças matriculadas e a sede apropriada. esforço, a equipe melhorava a olhos vistos.
Um caminho feliz
em benefício da comunidade
Mariene Kulsar do Prado
A história da Casa de Convivência Vila Estação, O senhor Audeci conta que guardou na memória
mantenedora do Centro de Educação Infantil Comu- o pedido de uma mãe, no dia da inauguração do
nitário Caminho Feliz, começou no dia 17 de março prédio, de que ali fosse aberta uma creche. Essa As-
de 2002, mas antes disso foi trilhado um percurso de sociação também foi mantida com a ajuda de fami-
muitas lutas e conquistas, que fortaleceu o que hoje é liares e voluntários da própria comunidade e ofe-
a instituição; sempre contando com a parceria da pre- recia cursos de cabelereiro, corte e costura, teatro
feitura de Mogi das Cruzes e apoio da comunidade. e panificação, além das aulas de reforço e as ativi-
No começo dos anos 90, a motivação do casal for- dades de recreação que continuaram acontecendo.
mado pelo Pastor José Audeci de Arruda Lins e sua O projeto cresceu, a população aumentou e mes-
esposa Maria Cristina de Vasconcelos Lins, em trazer mo assim o ritmo de trabalho não parou, a missão
melhorias para o bairro em que residem até os dias de de transformar a ‘favela’ num bairro foi passo a
hoje, fez com que começassem um trabalho, nos fun- passo se concretizando, melhorando a qualidade
dos da casa de um morador, ao qual deram o nome de vida dos moradores. A partir de 2002, a Asso-
Projeto Cidadania, que por meio de doações e volun- ciação passou a se chamar Casa de Convivência
tários oferecia as crianças e adolescentes da comuni- Vila Estação e contou com a participação voluntá-
dade atividades recreativas e de reforço no período ria de alguns moradores do bairro para a reforma
em que não estavam na escola. A Prefeitura ajudava do prédio, não apenas física, mas no aspecto social
com merenda e estagiárias para cuidar das crianças. com a movimentação da comunidade que estava
Além disso, esse apoio municipal possibilitou diver- motivada a fazer ainda mais pelo bairro.
sas conquistas para o bairro, como água encanada, Em 2003, foi fundada a creche, o Centro de Edu-
iluminação pública, caixa postal comunitária e casca- cação Infantil Comunitário (CEIC) Caminho Feliz,
lhamento das ruas. que dois anos depois recebeu um prédio próprio.
Em 1993, foi construída a sede do projeto, na rua Atualmente, o CEIC Caminho Feliz possui dois
Santa Vigília, Vila Estação, o qual passou a se chamar prédios no bairro, o municipal e o antigo, aten-
Associação Amigos de Bairro Ouro Verde, firmando dendo 153 crianças de quatro meses a cinco anos.
ainda mais esse compromisso com a ação social. Tem toda a infraestrutura para um ambiente edu-
cativo e acolhedor, os profissionais são
qualificados e participam de cursos e
formações continuadas para aprimo-
rar sua prática por meio da Secretaria
Municipal de Educação. E assim con-
tinua esta missão de cuidar, ensinar e
movimentar a comunidade por meio
da educação e do amor.
Chamamento Público
para o atendimento
em creches
Equipe de Supervisão de Ensino da Secretaria
de Educação de Mogi das Cruzes
O primeiro decreto municipal de subvenção Este avanço nas políticas públicas direcio-
às entidades filantrópicas foi publicado em 1987, nadas ao atendimento da expansão de creches
dando a possibilidade para que estas instituições da cidade foi o processo de Chamamento Pú-
atuassem com crianças em idade de creche. blico. O primeiro foi realizado em janeiro de
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e 2012, quando oito novos prédios foram entre-
Bases nº 9394/96, que atribuiu aos municípios gues pela administração municipal. Para este
a oferta de Educação Infantil em creches e pré- ato, que consiste em tornar-se do conhecimen-
-escolas, Mogi das Cruzes fortaleceu os vín- to de todos os munícipes a oportunidade de
culos com os líderes de bairro para que estes administrar diferentes tipos de serviços prefi-
desenvolvessem o trabalho educacional junto xados pela administração pública, a Secretaria
às crianças desta faixa etária. Municipal de Educação designou uma comis-
Atualmente após todo um caminhar do pro- são técnica que teve por finalidade elaborar,
grama de expansão das creches municipais, cumprir e fazer cumprir o contido no Edital.
das parcerias com diversas entidades sociais, No documento estão dispostos os prazos para
do fortalecimento desta parceria entre o poder que os interessados apresentem os documen-
público com a sociedade civil e muitos diálo- tos exigidos que atestem a idoneidade e regu-
gos entre os representantes da sociedade com laridade da entidade e, havendo igualdade de
os servidores públicos atuantes na área da condições, os critérios para desempate são os
educação e jurídica, houve a necessidade de se pautados na experiência em gestão de unida-
adequar as regras de forma a continuar a aten- des escolares, as “creches”, e no histórico de
der os princípios da administração pública. relevantes serviços prestados às causas sociais.
Cadastro
Municipal
Unificado:
transparência
e credibilidade
no atendimento
de crianças em creches
Os anos de experiência como professora e gestora de escola
serviram de base para o trabalho de Valéria Campolino junto
à equipe gestora da Secretaria Municipal de Educação
de Mogi das Cruzes, na gestão da secretária Maria Geny
Borges Avila Horle. Em outubro de 2010, com mais de 25
anos de atuação na área, a educadora participou de um
estudo para a divisão da cidade em setores educacionais
e, em 2011, assumiu o desafio de liderar o Departamento
de Planejamento Educacional, onde viu nascer o Cadastro
Municipal Unificado (CMU). Valéria, que hoje divide com
a atual secretária de Educação de Mogi, Profª Dra. Rose
Roggero, a responsabilidade de administrar a educação
municipal mogiana, conta à nossa Educando em Mogi como
foi o processo de implantação e consolidação do Cadastro.
Como começou seu trabalho na equipe ges- meçou a vigorar o Cadastro Municipal Uni-
tora da Secretaria de Educação? ficado, criado pelo Decreto 11.237, de 24 de
janeiro de 2011.
Em outubro de 2010, foi chamado um Para a implantação inicial do cadastro
grupo de diretoras de escola para junto foram reaproveitadas as fichas cadastrais
com o Departamento de Planejamento Edu- que estavam nas creches e foram digitadas
cacional, estudar a setorização da cidade. no padrão do programa utilizado na época.
A ideia era criarmos setores educacio- Todas as inscrições foram comparadas, vi-
nais onde tivéssemos pelo menos uma es- sando eliminar duplicidades e corrigir ou
cola em cada setor, pois o objetivo da ad- completar os dados informados pelas cre-
ministração municipal era garantir que a ches ou pelos pais.
criança tivesse uma vaga próxima da sua Todas as inscrições foram incluídas em
residência. Fizemos o estudo durante o mês um só Cadastro, uma lista de crianças cujas
de outubro de 2010 e no final do mês, no famílias queriam vagas em creche para
dia 24, foi então assinado o Decreto Muni- elas. Essa lista foi dividida por setores,
cipal nº 10.964, que criou os 65 setores. utilizando aqueles 65 setores organizados
As matrículas foram determinadas de no ano anterior e dando prioridade para o
acordo com os critérios que estavam nes- preenchimento destas vagas para filhos de
se decreto e isso foi realmente um sucesso mães trabalhadoras, crianças que tivessem
na questão de atender as necessidades das a menor renda per capita e as que residis-
famílias para que estas tivessem uma vaga sem em alguns setores da cidade que não
mais próxima de sua residência. dispunham de creche.
Em janeiro de 2011, com essa experiência Ao longo do ano de 2011, foram realizadas
dos setores, nós criamos também uma nor- 8.413 inscrições, destas encaminhamos 5.926
matização para o preenchimento das vagas crianças para serem matriculadas por inter-
em creche com critérios bem claros para o médio do Cadastro Municipal Unificado.
atendimento das crianças: o Cadastro Mu-
nicipal Unificado. Quais critérios de classificação o Cadas-
tro utiliza?
Como surgiu o Cadastro Municipal Unificado?
Nós usamos os mesmos critérios que as
Considerando o atendimento à deman- creches já usavam, porque antes da cria-
da escolar nas escolas de educação infantil ção do Cadastro, as famílias iam até a es-
municipais e subvencionadas, que recebem cola que era de seu interesse (poderia ser
alunos em período integral, e a necessida- em qualquer bairro), faziam sua inscrição,
de de matricular as crianças, cujas mães são deixavam um telefone de contato, decla-
trabalhadoras ou que estejam em situação ravam sua renda e eram classificadas de
de vulnerabilidade social, na região em que acordo com a renda per capita. A partir
essas residem ou trabalham, de acordo com de então, elas começavam a fazer parte de
a subdivisão geográfica do município, co- uma lista de espera.
Era por meio dela que eu via por idade, Que tipo de trabalho foi feito com essas
qual era a turma que tinha vaga e identifi- famílias?
cava naquela classificação, qual era a crian-
ça com menor renda per capita que seria Passamos o ano de 2011, praticamente,
direcionada para a matrícula mediante a tentando contatar aquelas 5 mil pessoas.
indicação da Secretaria de Educação. Fiz Fizemos um mutirão com escriturários,
isso, pessoalmente, por dois anos para que que entraram em contato com todas as fa-
não houvesse nenhum risco de manipula- mílias para verificar se aqueles telefones
ção, para que ninguém fosse beneficiado estavam funcionando e se a criança já es-
ou prejudicado. tava na escola.
Às vezes, a criança estava na escola,
Como foi a repercussão do Cadastro junto mas não era localizada na Prodesp porque
à comunidade? o nome que a família informou na inscri-
ção não estava completo. Fomos adequan-
Seguíamos à risca o decreto e, mesmo, do as informações do Cadastro para verifi-
com todos os desagrados iniciais, o Cadas- car qual era a real necessidade da cidade.
tro Municipal Unificado ganhou credibili- Em novembro de 2011, nós fechamos o
dade. No começo, as pessoas reclamavam, Cadastro para então organizarmos o ano
não achavam que as vaga seriam concedi- letivo de 2012. Em dezembro, reunimos
das com essa transparência, achavam que todas as inscrições e procuramos atender
alguém iria manipular o Cadastro, mas não prioritariamente com as vagas que surgi-
foi isso o que aconteceu. A gente seguiu à ram a partir da organização da escola para
risca e as famílias vem sendo atendidas. 2012, considerando os que iam sair da cre-
che e quais vagas seriam abertas para de-
Em 2011 houve a primeira experiência de terminadas turmas.
abertura das inscrições do Cadastro. De que Organizamos as escolas de acordo com
maneira funcionou esta etapa inicial? esta demanda e naquele mês encaminha-
mos muitas crianças.
Em 2011, as famílias puderam se inscre-
ver durante o ano inteiro. Qualquer pessoa Com as escolas organizadas, qual foi o pró-
que tivesse interesse em uma vaga de creche ximo passo para atender os que aguarda-
podia se inscrever. A escola recebia essa ins- vam no Cadastro?
crição, nos enviava por meio de um formu-
lário e nós alimentávamos o Cadastro. Em janeiro de 2012, nós tínhamos vagas
Mas no final do ano, nós percebemos que e não havia ninguém no setor interessado.
não estávamos priorizando aquelas pesso- Então fizemos um ajuste fino, compatilibi-
as que já estavam inscritas, porque sempre lizando as informações. Liguei para todas
acabava chegando alguém com uma renda as famílias que estavam no Cadastro, ofere-
menor e passava na frente. Assim, gerava cendo as vagas que tínhamos disponíveis e
uma demora ainda maior no atendimento. conseguimos acertar vários casos.
A comunidade reagiu bem a esta informati- tentado entrar em contato e não ter con-
zação do cadastro? De que forma é feito o seguido. Para atualizar os dados, os pais
atendimento a estas famílias? podem procurar a creche mais próxima ou
ligar para o telefone 4726-1329
A comunidade foi se acostumando ao
sistema e o Cadastro ganhou uma credi- O Cadastro está em vigor há dois anos.
bilidade muito grande. As pessoas podem Nesse tempo, o que ele ajudou no planeja-
até tentar, de alguma maneira, burlar esse mento das escolas?
processo ou pressionar para conseguir uma
vaga, mas o atendimento é feito de uma Um dos objetivos do Cadastro, com cer-
forma transparente para todos. teza, foi alcançado. Era de exatamente de-
Para atender as famílias, criamos uma tectarmos qual é a verdadeira demanda,
Central de Atendimento na Secretaria de onde realmente havia crianças fora da cre-
Educação, que funciona desde 2011. Nos- che, para que nós pudéssemos direcionar a
sa profissional acolhe as famílias e mostra construção de novas unidades pelo Plano
a situação da criança dentro do Cadastro. de Expansão das Creches.
Temos também, no Departamento de Pla- O Cadastro nos ajudou a planejarmos, a
nejamento Educacional, na Divisão de Orga- identificar onde precisávamos investir na
nização das Escolas, uma servidora que ge- construção e na ampliação de vagas, de que
rencia este Cadastro, que é muito dinâmico. maneira podemos fazer isso para que a gen-
Ela vê quando surge vaga e se tem alguém te atenda da melhor forma as necessidades
esperando, faz o encaminhamento imediato. da população. Hoje, nós sabemos os bairros
É interessante dizer que há também o onde temos uma demanda maior, de acordo
reconhecimento de que o Cadastro é a ma- com o endereço de residência dos inscritos.
neira mais democrática de atender os alu- A grande maioria, 90% das mães, preferem
nos em idade de creche. Muitos pais ligam vagas próximas à residência.
para agradecer e dizer que pensavam que
nunca seriam atendidos, que a vez deles De que maneira é revista a organização
não iria chegar. O Cadastro cada vez mais das escolas para a ampliação de turmas?
se fortalece, ganha credibilidade e as pes- Vocês contam com o trabalho das supervi-
soas se acostumam. soras de ensino?
Qual é a importância dos pais neste processo? Temos uma importante interação com as
supervisoras de ensino quando é necessá-
É fundamental manter os dados atuali- rio reorganizar as escolas. Quando temos
zados. Há quem reclame que está há mais vagas para uma turma e demanda para
de 1 ano no Cadastro, mas não entra em outra, consultamos a supervisora de ensino
contato com a gente. Não sabe se a criança que vai até a escola e verifica a possibilida-
já foi encaminhada para escola. Se o tele- de de reorganizar o atendimento daquela
fone está desatualizado, a escola pode ter unidade escolar.