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02.08.

2011 – GUSTAVO JUNQUEIRA

CONCURSO DE PESSOAS

TEORIAS SOBRE A TIPIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO DOS COLABORADORES

1) Teoria monista: todos os colaboradores respondem pelo mesmo crime.

- Comunicabilidade dos dados típicos: art. 30, CP.

Diferença entre elementar e circunstância:

Elementar é o dado essencial da figura típica sem o qual ela não subsiste. Dica: é o caput do artigo.
Ex. matar alguém por motivo fútil. Se você tirar o “matar”, não subsiste a figura do homicídio. Se
você tirar o “alguém”, também não subsiste o homicídio. Porém, se tirar o “motivo fútil”, ainda
subsiste o homicídio, pois o motivo fútil é uma circunstância.

Circunstância é o dado acessório da figura típica que orbita as elementares e tem como função
influir na dosagem da pena.

No concurso de pessoas as elementares sempre se comunicam. Se realizar o crime em concurso de


pessoas as elementares “contaminam” a todos. Ex. um entra na casa e subtrai a televisão. Outro fica
no portão vigiando. Apenas o que entrou na casa efetivamente subtraiu, porém a elementar
“subtrair” conta o outro, ou seja, ambos respondem pelo furto.

As circunstâncias só se comunicam se objetivas. As circunstâncias subjetivas não se comunicam.


Circunstância subjetiva é aquela que se refere a características pessoais do autor. Ex. motivos, grau
de parentesco (isso é o que mais cai). Ex. Chama uma pessoa para te ajudar a matar o seu pai. Você
responde com agravante por ser descendente, é uma circunstância subjetiva. Sendo subjetiva, não
comunica, ou seja, só você responde com a agravante. A pessoa que ajudou não tem agravante. A
circunstância objetiva é aquela externa, como instrumentos do crime, lugar do crime, tempo do
crime.

2) Teoria pluralista: não é adotada como regra no nosso Código Penal, é adotada como exceção.

Cada colaborador responde por um crime diferente.

- Previsão da conduta de cada colaborador em um tipo autônomo. Ex. corrupção e aborto. Aquele
que recebe responde por corrupção passiva e aquele que oferece responde pela corrupção ativa. No
aborto, a mulher gestante responde pelo aborto e o terceiro responde por outro crime.

- Cooperação dolosamente distinta – art. 29, § 2º, CP: se um dos colaboradores só aceitou participar
de um crime menos grave. Consequência: responderá nas penas deste, ou seja, nos limites do seu
dolo. Se previsível o resultado mais grave, a pena poderá ser aumentada da metade.

REQUISITOS PARA O CONCURSO DE PESSOAS

1) Pluralidade de pessoas
2) Liame subjetivo: é a aderência de uma vontade a outra. A defesa sempre ataca o liame subjetivo,
para quebrar o concurso de pessoas. Se o MP diz que tem o liame, tem o concurso de pessoas, tendo
o concurso de pessoas as elementares se comunicam, então basta provar que um dos sujeitos
praticou a ação e todos responderão pelo mesmo crime (teoria monista). A defesa tem que dizer
que não há o liame subjetivo, e não tendo o liame subjetivo não tem concurso de pessoas então a
acusação vai ter que provar exatamente o que cada um fez.

3) Relevância da colaboração

4) Unidade do crime: todos respondem pelo mesmo crime (teoria monista)

Observação1: é possível concurso de pessoas desde a cogitação do plano criminoso até a


consumação. Ex.1: um amigo diz que está precisando de dinheiro. Você diz que está precisando de
um determinado objeto. Você diz que se ele furtar tal objeto, você compra. Você é praticamente o
mandante do furto. Os dois respondem pelo furto, há o concurso de pessoas. Ex.2: um amigo chega
para você e diz que furtou uma coisa e oferece para você comprar. Ele responde por furto e você por
receptação. Não há o concurso de pessoas depois que o crime já está consumado.

Observação2: O art. 29, § 1º manda reduzir de 1/6 a 1/3 se a participação for de menor importância.

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AUTORIA COLATERAL

É a prática coincidente da mesma infração penal por dois ou mais sujeitos sem o liame subjetivo.

Consequência: cada colaborador responderá apenas por seus próprios atos.

Ex. A e B querem matar C. A e B ficam escondidos, mas uma não sabe do outro, não há o liame
subjetivo entre eles e cada um dá um tiro. A perícia prova que o tiro que matou foi de A, então A
responde por homicídio consumado e B responde por tentativa de homicídio. Se a perícia não pode
concluir qual foi o tiro letal, A e B respondem por tentativa de homicídio.

Lembrar que se não se sabe na autoria colateral quem provocou o resultado todos responderão no
máximo pela tentativa.

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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - RESE

Previsto no art. 581 e ss, CPP.

O art. 581 tem o rol das situações que cabe RESE.

Lembrar que a além das hipóteses do art. 581, o Recurso em sentido estrito é previsto em leis
especiais como o art. 294, p. único, do CTB. Este artigo fala da decisão sobre suspensão liminar do
direito de dirigir.

Das hipóteses que consta no art. 581, há algumas que NÃO cabe mais RESE por mudanças na
doutrina e na jurisprudência.
- Inciso XI – decisão que concede ou revoga o sursis. Esta decisão ocorre no momento da sentença,
logo cabe apelação e não RESE.

Conflito APELAÇÃO x RESE:

APELAÇÃO RESE
Se for do art. 593, I – condenação Sursis Ganha a apelação
e absolvição
Se for do art. 593, II – decisões Revoga o sursis Ganha o RESE
definitivas ou com força de
definitivas

A sentença diz que condena e decide sursis. Quanto a condenação, cabe apelação. Quanto ao sursis,
caberia RESE. Não pode fazer dois recursos, a apelação ganha.

- Inciso XII – concede, nega ou revoga livramento condicional

- Inciso XVII – decisões sobre unificação de penas (tem dois sentidos: 1 – reunião das penas para
verificar se o limite de 30 anos do art. 75, CP, foi obedecido / 2 – reconhecimento tardio de crime
continuado ou concurso formal pelo juiz das execuções criminais). Como a unificação das penas é
feita pelo juízo da execução, cabe agravo em execução e não RESE

- Inciso XIX – decretar medida de segurança. Como a medida de segurança é decretada na sentença
ou no juízo de execução, caberá apelação ou agravo em execução

- Inciso XX, XXI e XXII – impõe medida de segurança – não cabe mais recurso

- Inciso XXIII – deixa de revogar medida de segurança – cabe agravo em execução

- Inciso XXIV – converte multa em prisão

Portanto, cabe RESE:

- Inciso I – da decisão que rejeita denúncia ou queixa. Não importa o motivo da rejeição ou não
recebimento.

* Cabe também da decisão que rejeita o aditamento da denúncia ou queixa.

* Cabe também da decisão que recebe parcialmente. Não é possível rejeição parcial de denúncia ou
queixa, porém se o juiz receber parcialmente cabe RESE buscando total recebimento.

- Inciso II – decisão que conclui pela incompetência

Lembrar que o inciso II trata do reconhecimento de incompetência sem interposição de exceção. Se


proposta a exceção incidirá o inciso III.

- Inciso III – decisão que julga procedente as exceções, salvo suspeição


* Podem ser opostas exceções de suspeição, incompetência, litispendência, ilegitimidade de parte e
coisa julgada

* Na suspeição não cabe recurso

* Da decisão que julga improcedente a exceção não cabe recurso, cabe no máximo ação impugnativa

- Incisos V e VII – da decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança,
indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a
prisão em flagrante

- Incisos VIII e IX – decisão que julga procedente ou improcedente pedido de extinção da


punibilidade

* Exceções: 1. Se na mesma sentença condena, caberá apelação. 2. Absolvição sumária: é possível


absolver pelo art. 396. O cunho desta decisão é absolvição e não exatamente a extinção da
punibilidade, então caberá apelação.

- Inciso X – da decisão que nega ou concede HC em primeira instância

* Se concede HC, deve recorrer de ofício.

- Inciso XIII – da decisão que anula a instrução, no todo ou em parte

* Pode ter sido declarada de ofício ou a pedido de uma das partes.

* Se indeferir pedido de anulação, não cabe recurso, mas tão somente HC.

- Inciso XV – da decisão que denega apelação ou a julga deserta

* Aplica-se o inciso XV a decisão do juízo a quo que não conhece, não recebe, a apelação. A apelação
passa pelo juízo de admissibilidade ou juízo de prelibação no juízo de 1º grau. Ele não julga o recurso
ele apenas vê se está tudo certo para mandar para o Tribunal. Se o juízo do 1º grau não admitir, cabe
RESE.

* Antes a deserção na apelação existia em duas hipóteses: quando o sujeito recebe o direito de
recorrer em liberdade e foge. E não recolhimento de custas.

Atualmente, a hipótese da fuga não existe mais, ou seja, não pode declarar a apelação deserta pela
fuga. Se o juiz julga deserta a apelação pela fuga, cabe RESE. Súmula 347, STJ esclareceu a
inviabilidade de deserção pela fuga.

O querelante que não recolhe custas para apelar, pode ter a apelação julgada deserta.

- Inciso XVI – da decisão que suspende por questão prejudicial

* Da decisão que não determina a suspensão, é controverso o cabimento, mas prevalece a negativa.

* Há quem amplie a possibilidade para outras decisões que suspendem o processo.


Há controvérsia jurisprudencial:

1ª posição: não cabe aplicação analógica dos incisos do art. 581.

2ª posição: é possível aplicação analógica em especial do inciso XVI, contra a decisão que apesar do
disposto no art. 366, do CPP, deixa de suspender o processo ou antecipa as provas sem urgência.

- Inciso XVIII – da decisão que julga incidente de falsidade

* tanto positivo quanto negativo.

PROCEDIMENTO DO RESE

- Interposição dirigida ao juízo a quo

- Razões ao Tribunal

PRAZO: 05 dias para interpor e 02 para contrarrazoar.

Importante! O art. 589 do CPP permite juízo de retratação.

* Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação de denunciado para oferecer
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de
defensor dativo.

* Possibilidade do juízo de retratação. Se positivo, e couber recurso pela outra parte, pode
simplesmente pedir a subida.

O art. 589, p. único, disciplina que em caso de retratação, se cabível RESE da decisão retratada a
parte sucumbente (que perdeu a retratação) poderá pedir que o recurso suba ao Tribunal por mera
petição.

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* SÃO TRÊS ARTIGOS DE FUNDAMENTO: ART. 581 (HIPÓTESE DE CABIMENTO), ART. 588 (RAZÕES) E
ART. 589 (RETRATAÇÃO)*

PROBLEMA 40

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ...

Autos nº

JOÃO ALVES DOS SANTOS, já qualificado nos autos, por seu advogado que esta subscreve,
vem pela presente interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO com fulcro no artigo 581, XV, do Código
de Processo Penal, dispensando prazo para oferecimento das razões (ou minuta) que seguem em
anexo.

Requer seja conhecido o presente e, se mantida a r. decisão atacada apesar do disposto no


artigo 589 do Código de Processo Penal, requer seja o recurso regularmente processado e
encaminhado ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ...

Termos em que,

pede deferimento.

Local, data.

Advogado

OAB nº ...

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RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Autos nº

Egrégio Tribunal

Colenda Câmara

Douta Procuradoria de Justiça

JOÃO ALVES DOS SANTOS, já qualificado nos autos, por seu advogado que esta subscreve,
vem pela presente oferecer razões de RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com fulcro no artigo 588 do
Código de Processo Penal, nos termos que passa a expor:

DOS FATOS

DO DIREITO

Prevalece tanto na doutrina como na jurisprudência o interesse da vítima na justa


condenação do autor do crime.

É que o interesse na justa punição permite à vítima compreender que a lesão sofrida não foi
um acidente, mas sim o efeito de um ilícito praticado por terceiro.
PEDIDO

Requer seja conhecido e provido o presente recurso para que seja conhecido e regularmente
processado o recurso de apelação, por ser medida de Direito.

Local, data.

Advogado

OAB nº ...

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