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Meu punho atinge o nariz do filho da puta. O esmagamento do osso
é satisfatório sob meus dedos. Ainda nem tirei meu punho do rosto dele
e já quero fazer de novo.
Palavrões saem de sua boca enquanto o sangue escorria por seu
nariz. As luzes coloridas piscantes das bolas de discoteca acima de nós
banham o sangue em diferentes tons de vermelho. Uma mão agarra seu
nariz quebrado enquanto a outra sobe para me dar uma bofetada. Eu me
preparo, pronta para receber o tapa, mas uma mão estende para pegar
seu braço. A referida mão está ligada a um homem cuja aparência
rivaliza com um deus. Dou uma olhada nele e imediatamente me sinto
atraída por ele.
Ele é do tipo sombrio e rústico. O tipo que sua mãe insiste que é
ruim para você, embora ela também queira transar com ele secretamente.
Bem acima de 1,80m, com cabelos escuros e olhos bonitos. Eu estou
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disposta a apostar o falso anel de diamante em meu dedo que ele tem
um sorriso perverso capaz de desintegrar a calcinha de qualquer mulher
heterossexual.
Eu me viro e vou embora. Eu nem digo obrigada.
— Garota, podemos sair apenas uma vez sem você quebrar o nariz
de um cara? – Minha melhor amiga, Amelia, brinca ao meu lado. É
nosso primeiro ano de faculdade e consegui a melhor colega de quarto.
Nunca tive amigos antes dela.
Eu bufo. — Aparentemente não. Não é minha culpa que ele estava
agarrando meu peito. Nós estávamos dançando por literalmente trinta e
oito segundos. – digo com exasperação.
— Trinta e oito segundos, não é? – Amelia repete, levantando uma
sobrancelha perfeitamente feita. Eu mataria por suas sobrancelhas.
— Eu estava contando o momento apropriado para passar para o
próximo cara, mas acho que não deveria ser tão gentil da próxima vez.
Ela inclina a cabeça para trás e ri. Pego a mão dela e a guio pelo
resto do caminho pela multidão até o bar. Dou uma olhada para alguns
no caminho, já que dizer “com licença” educadamente só me dá um
olhar feio e silêncio.
Eu nunca fui do tipo paciente, de qualquer maneira.
Quando chego ao bar, inclino-me, mostrando uma ampla quantidade
de decote e espero que o barman me note. Impacientemente, eu devo
acrescentar.
O barman que me nota primeiro é uma garota. Cabelo loiro mel,
olhos castanhos e um delicado piercing no nariz. Ela olha para o que
estou oferecendo. Quando escolhi o meu vestido verde esmeralda justo,
foi especificamente pelo jeito que faz a minha bunda e os meus seios
parecerem photoshopados.
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Eu deveria maneirar.
— Deveria maneirar. – Amelia diz, ecoando os meus pensamentos
exatos. Juro que a vadia pode ler minha mente às vezes.
— Eu deveria. – eu concordo sem entusiasmo.
Mas eu não vou.
Não ouso olhar para minha próxima vítima atrás de mim. Começo
a contar enquanto suas mãos percorrem meus braços, deixando um
rastro de arrepios. Pelas minhas laterais e pelos meus quadris.
Oito, nove, dez…
Suas mãos agarram meus quadris possessivamente, como se ele
finalmente tivesse pego a joia rara no meio de uma armadilha perigosa.
Sou puxada contra um corpo muito maior que o meu. O calor absorve
meu corpo enquanto um cheiro inebriante preenche meus sentidos. Uma
colônia de especiarias com um toque de suor. Absolutamente divino.
Quinze, dezesseis, dezessete...
Nossos quadris colidem, e fico feliz em descobrir que não há um
pau duro cravando em minhas costas. Gosto de um homem com
controle.
Eu giro contra ele, com seus quadris combinando perfeitamente com
meus movimentos. Surpreendentemente, um sorriso surge em meu rosto.
Começando pequeno e ampliando até que estou quase rindo de novo. E
em algum lugar entre o final da Calabria e o meio da próxima música,
parei de contar.
Ainda assim, não o olho no rosto.
Seu toque permanece forte e confiante, mas nunca cruzando uma
linha ou vagando para territórios inapropriados. Lábios macios
percorrem o meu pescoço e ombros, mas ele nunca afunda os dentes na
maçã. Ele nunca perde o controle.
Ah, como eu quero que ele faça isso.
Isso me deixa um desejo, me faz me contorcer. O calor pulsante
entre minhas pernas fica mais forte a cada música que termina.
Estou perdida nele. Muito perdida.
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não é a mais confortável, mas agora, parece que estou deitada em uma
cama de pedras. Meus cobertores parecem nylon molhado e acho que as
pequenas penas do meu travesseiro estão aparecendo.
Ainda estou com o vestido da noite passada, a maquiagem está toda
grudada no meu rosto e minha boca tem gosto de gambá morto.
Nunca comi gambá morto, mas tenho certeza de que é esse o gosto.
Um gemido em resposta soa do outro lado do quarto onde está a
cama de Amelia.
— Eu te odeio pra caralho. – Amelia resmunga, com sua voz rouca
de sono. Olho para ver seu cabelo loiro dourado ondulado espalhado em
seu rosto, com algumas das mechas presas em sua boca. Normalmente
Amelia está sempre bronzeada, mas agora ela parece um zumbi pálido.
Não ajuda que sua maquiagem esteja borrada em seu rosto. Tenho
certeza de que seus olhos de guaxinim são exatamente iguais aos meus.
Poderíamos entrar em um set de filmagem de terror e ser contratadas
instantaneamente no local.
— Eu também me odeio.
Até mesmo falar agora envia pontadas agudas de dor na minha
cabeça. Tento me lembrar se tenho alguma aula hoje, mas todos os meus
pensamentos estão obstruídos pelas toxinas do álcool. Desisto de tentar
pensar, decidindo que não me importo se tenho aula hoje ou não. Seja
qual for o dia de hoje.
Minha cabeça está latejando e a náusea gira nas trincheiras do meu
estômago enquanto tento me sentar. Desesperadamente, olho para minha
mesa de cabeceira e encontro uma garrafa de água vazia.
Ugh. Maldita River bêbada. Não conseguiu nem se preparar com
sucesso antes de desmaiar.
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Três dias devem ser suficientes para uma prostituta como ela.
Entro no carro com um sorriso radiante no rosto, com meus olhos já
fixos no meu namorado. Cabelo loiro escuro jogado para o lado, um
suéter marrom com uma gola de flanela no decote e nos pulsos, calça
cáqui apertada, mocassins e um relógio de pulso. Ele esbanja elegância e
classe.
Normalmente, um boyzinho não é meu tipo. Ryan é diferente, no
entanto. Ele se comporta com tanta confiança e naturalidade - de uma
forma que sugere que ele não tem medo de nada. Isso me atraiu tão
profundamente.
Se nada pudesse assustá-lo, certamente os monstros escondidos em
minha cabeça também não o fariam.
Os olhos de Ryan encontram os meus, o azul sem brilho movendo
com segredos e algo escuro que me atraiu como uma mariposa para uma
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chama. Depois de quase dois anos juntos, sinto que apenas arranhei a
superfície com ele.
E, finalmente, estou conhecendo seus pais. Por muito tempo, ele
evitou, alegando que não queria apresentar outra garota para seus pais
até ter certeza de que era a garota com quem ele iria se casar. O dia em
que ele me disse que queria que eu os conhecesse foi um dos dias mais
felizes da minha vida.
Ele diz que eles vão me amar. Eu digo que vão me amar também.
Os pais costumam amar.
— Você está usando muita maquiagem. – ele comenta. O sorriso
derrete em meu rosto como manteiga em uma frigideira.
Eu pisco.
— Não mais do que o normal. – eu argumento gentilmente. Não
desvio o olhar enquanto coloco o cinto de segurança.
Ele se afasta de mim de qualquer maneira, colocando seu BMW em
movimento e saindo com facilidade. Coloco uma mecha do meu cabelo
preto encaracolado atrás da minha orelha, de repente autoconsciente.
Pesei demais na base? Meu rosto parece um bolo com covinhas? Talvez
eu devesse não ter usado o delineador.
— Talvez dê certo. – diz Ryan após vários minutos de silêncio.
Meus olhos viram para ele novamente. Às vezes ele parece muito
próximo de um buraco negro. Ele suga você, corpo e alma, sem chance
de escapar enquanto ele destrói cada pedacinho de você.
— Como assim?
— Vai ser sexy ver isso escorrendo pelo seu rosto depois de chupar
meu pau. – ele diz isso casualmente, mas com a escuridão suficiente se
aproximando.
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E tem grama. Grama verde, para ser mais precisa. Com uma cerca
de piquete branca ao seu redor. Minha casa nunca teve grama tão verde.
Apenas relvas crescidas demais, folhas marrons e frágeis, caídas com
lixo aleatório espalhado pelo quintal.
A porta se abre assim que nossos pés atingem o primeiro degrau. A
primeira coisa que invade meus sentidos é o cheiro de torta de maçã
caseira. Tem um cheiro absolutamente divino, quase fazendo meus olhos
revirarem para trás da cabeça, assim como os de Ryan estavam alguns
minutos atrás. Um rosto radiante e sorridente nos cumprimenta em
seguida.
A mãe de Ryan é impressionante. Cabelos loiros, olhos azuis
brilhantes e rugas de riso sutis que se curvam em torno de um sorriso
sincero. Ela irradia pura energia positiva - algo que nunca experimentei
antes. Eu poderia envolvê-la em um abraço caloroso e seria como voltar
para casa.
Sim.
Ela poderia ser minha mãe.
— Bem-vindo ao lar, querido. – ela diz a Ryan primeiro, levantando
a bochecha para aceitar um beijo casto. Virando-se para mim, ela diz: —
Ah, você não é linda. Meu nome é Julie, por favor, entrem.
Linda.
A palavra me faz estremecer. Muitas vezes a palavra saiu de lábios
rachados, dentes irregulares amarelados e acompanhada de hálito
rançoso. Eu não deixo a palavra vacilar meu sorriso. Perseverança.
— É um prazer conhecê-la, Sra. Fitzgerald. Obrigada por me
receber. – digo educadamente, com um sorriso radiante seguindo minhas
palavras.
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Ele é perfeito demais. Uma das razões pelas quais Ryan o odeia. Não
foi dito em voz alta. Afinal, eu nem sabia que ele existia até dois
minutos atrás. Mas Ryan e eu estamos sintonizados um com o outro
agora. Posso sentir o que ele sente. E o ódio está emanando dele em
ondas.
Uma boa namorada também o odiaria, puramente por associação.
Certamente, há uma boa razão para Ryan o odiar.
Eu murmuro, mudando minha feição para uma expressão vazia. Não
serei rude com ele na frente de Julie e Matt, mas também não cometerei
o erro de ser legal.
A mão delicada de Julie pousa em seu bíceps, com um tom
vermelho iluminando suas bochechas. — River, este é meu outro filho,
Mako. Mako, esta é a namorada de Ryan, River. – Julie apresenta,
notando a falta de apresentação que seus filhos ofereceram e olhando
para ambos com desaprovação.
Eu digo um educado: — Prazer em conhecê-lo, Mako.
Que nome estúpido.
Mais uma vez, ele levanta aquela sobrancelha estúpida como se
soubesse o que estou pensando. E quando ele responde, parece que está
respondendo ao meu pensamento. — Igualmente.
Ryan sutilmente move seu corpo na minha frente. Garoto estúpido.
Ele apenas entregou sua insegurança.
Eu gosto que ele seja inseguro quando se trata de mim.
Mako percebe, e sua sobrancelha se levanta ainda mais. Ele não
sorri. Ou considera isso um desafio. Ele apenas balança a cabeça e vai
embora.
Estranho.
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antes de eu dizer foda-se e decidir chutar a garota para fora de seu lugar
e sentar ao lado dele. Eu era uma pequena caloura e ele era o grande
veterano mau, com garotas escorrendo de seus braços como água.
Mesmo depois que eu o persegui, não foi até a metade do meu segundo
ano que ele se comprometeu apenas comigo, muito depois de se formar.
Ele tinha acabado de sair de um longo relacionamento e não estava
pronto para outro tão cedo, disse ele. Ele queria passar o resto de seus
anos de faculdade solteiro.
Eu esperei por ele.
Julie me entrega um prato. A ansiedade me provoca quando pego o
prato com o pano de prato, tomando cuidado para não manchá-lo com os
dedos. Enxugo-o delicadamente e coloco-o na mesa com toda a graça
que consigo reunir. Normalmente não sou desajeitada, mas também não
costumo ficar nervosa. Eu não lido bem com nervosismo.
— Ele é um bom garoto. Ambos os meus meninos são. – ela diz. —
Parece que vocês dois estão apaixonados.
O elogio envia calor percorrendo pelas minhas veias. Se a mãe dele
pode ver, então ele deve me amar de verdade, certo?
— Nós estamos. – eu concordo.
Alguém bufa atrás de nós. — Okay, certo.
Quase deixo cair o prato da minha mão. Aquela voz. Um calor
diferente preenche o meu corpo. É um sentimento que não consigo
identificar, mas me envergonha de qualquer maneira. Ele não deveria
estar me fazendo sentir nada.
Colocando cuidadosamente o prato na mesa, eu me viro e olho para
Mako com desgosto. Em vez de falar como eu quero, eu me viro e dou
as costas para ele. Ele não significa nada para mim.
Não causaria uma boa impressão na frente da mãe de Ryan se eu
discutisse com o outro filho dela. Eu nunca iria querer envergonhar
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Ryan assim.
— Ah, pare com isso, Mako. – Julie adverte ligeiramente, acenando
com a mão ensaboada no ar para parar suas palavras. A espuma voa da
mão dela para a minha.
— Ryan não ama ninguém mais do que a si mesmo. – afirma Mako
secamente, enquanto abre a geladeira e pega uma cerveja. Eu me
concentro na espuma na minha pele bronzeada, observando as bolhas
estourarem e se desintegrarem lentamente.
Não se envolva, River. Isso é o que ele quer.
— Ela vai embora logo. Assim como as últimas. Mas acho que ela
já sabe disso, já que é muito boa em entender as pessoas.
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Minha cabeça bate na parede enquanto uma mão segura minha
mandíbula. Os dentes de Ryan acompanham, devastando meu pescoço
até que estou rangendo minha mandíbula com a mistura de dor e prazer.
Eu arqueio minhas costas, gemendo enquanto os seus dentes afiados
extraem sangue.
— Sem chupão. – eu aviso, empurrando seu peito nu um pouco. Ele
apenas pressiona ainda mais em mim, resmungando para mim em
advertência.
— Você é minha. Vou fazer o que eu quiser. – ele resmunga,
mudando seu ataque para o outro lado do meu pescoço.
Ele morde particularmente forte, soltando um suspiro marcante
entre meus lábios. Isso dói. Mas não o impeço. Quero isso. Eu realmente
quero. Eu quero, eu quero, eu quero.
Eu atribuo minha própria dor, cravando minhas unhas em seu peito.
Uma coxa se encaixa entre as minhas, e eu me esfrego descaradamente
nela, extraindo prazer. Mais gemidos escapam da minha garganta,
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enquanto suas mãos agarram meus seios nus e apertam. Não tenho seios
enormes, mas eles ainda enchem as mãos de Ryan. Ele adora isso.
Beliscando um mamilo com seus dedos, ele afasta a boca do meu
pescoço - finalmente - e ataca minha boca, enfiando a língua entre meus
dentes. Eu a engulo avidamente, enviando gemidos ao entrelaçar nossas
línguas. Eu me movo com mais força, sentindo o início de um orgasmo
começar a crescer.
Eu preciso de mais, no entanto.
— Foda-me. – eu imploro entre beijos.
Ele se afasta, olhando intensamente para mim. Seus olhos azuis
escureceram como as águas profundas do oceano. É um pouco
desanimador que não consigo discernir se é de luxúria ou raiva. Ou
talvez um pouco de ambos.
— Você quer que eu te foda? Ou você gostaria que eu fosse o
Mako? – ele resmunga, envolvendo sua mão em volta do meu pescoço e
batendo minha cabeça contra a parede mais uma vez. Não forte o
suficiente para machucar realmente, mas sua agressividade é confusa.
Eu fico imóvel, e minhas sobrancelhas levantam. Gelo impregna
meu corpo, distinguindo todo o calor que irradia de meus poros.
— O que? – pergunto, totalmente perplexa com sua pergunta. Meu
sangue gela enquanto Ryan continua a me encarar. Não há mais dúvida
se é por luxúria ou raiva. Meu namorado está completamente furioso e
não tenho ideia do porquê. Eu não tinha pensado em Mako nenhuma vez
desde que entramos pela porta e ele rasgou minhas roupas.
— Não se faça de estúpida, River.
Minha boca abre e fecha, sem saber o que diabos dizer. Estou
surpresa com a pergunta dele. Ele assume isso como culpa. Ele me
empurra com força, me pressionando contra a parede pela terceira vez.
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Desta vez é forte o suficiente para me fazer tombar. Bati meu cotovelo
no chão no processo, com a dor subindo pelo meu braço.
— Eu sabia disso. – ele grita, olhando para mim com acusação.
Olho para ele em estado de choque, com o pânico aumentando.
Como ele poderia pensar isso? Por que ele não consegue ver o quanto eu
o amo? — Ryan, eu não tenho ideia do que você está falando. Não quero
Mako, só quero você. – eu imploro, desesperada para que ele veja a
verdade. Porque não quero Mako. Eu me levanto do chão e dou um
passo em direção a ele, com as minhas mãos levantadas em sinal de
conciliação.
Ele se sai melhor e avança em minha direção. Instintivamente, eu
recuo contra a parede. Esta parede e eu nunca nos conhecemos tão bem,
e isso está começando a me irritar. Ele pressiona seu peito no meu e se
inclina para frente até sua respiração provoca minha orelha.
— Se você estiver mentindo para mim, eu vou te machucar, River.
A ameaça envia calafrios pela minha espinha. Ele nunca me
ameaçou antes, não com violência física, pelo menos. Apenas um
minuto atrás, eu estava no topo do mundo, pronta para gozar em sua
coxa antes que ele me fodesse brutalmente. Agora, sinto-me desolada.
Vazia, insatisfeita e completamente desolada.
— Eu não estou. – digo. Parece fraco. Patético e desesperado.
Terminado o momento, ele bufa como um touro e se afasta, com o
jeans ainda caindo. Olho para o meu próprio corpo nu. Uma marca de
mão marca minha coxa desde o jantar.
Inclinando minha cabeça para o lado, eu a observo.
Em meus livros de psicologia, isso seria considerado abuso. Mas eu
me sinto abusada?
A lágrima escorrendo pelo meu rosto responde a minha pergunta
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sincero do que David. Não faz mal que ele pareça um lenhador daqueles
romances eróticos que eu lia escondido na biblioteca quando era uma
garotinha. Suponho que funcione, considerando que Amelia parece ter
saído da revista Vogue, apesar de sua baixa estatura.
Eu encolho os ombros. — Para ser honesta, eles são aqueles tipos de
pais que provavelmente amariam alguém, desde que não fossem
adoradores de Satanás ou algo assim. Eles são pessoas bem tranquilas.
Amelia acena com a mão. — Seja qual for o motivo, estou feliz.
Você fodeu na cama de infância dele? – ela pergunta, movendo as
sobrancelhas para mim sugestivamente. Agora parece um Leprechaun
seduzindo uma criança para comer os amuletos da sorte.
Eu rio. — Nada disso desta vez.
Ela faz um barulho de nojo. — Você me desapontou.
Estamos a caminho de uma sorveteria local que vende o melhor
sorvete em um raio de oitenta quilômetros. É apenas uma pequena
cabana com bancos do lado de fora. Dá a você aquela experiência
completa - você não está realmente tomando sorvete, a menos que esteja
correndo contra o sol e tentando tomá-lo antes que derreta em sua mão.
— Ele tem um irmão, no entanto. Eu nem sabia disso até chegar lá.
– eu menciono casualmente. Quando Amelia para de andar e franze a
testa para mim, eu mordo meu lábio. — Isso é estranho, não é?
— Tipo, nunca, nunca o mencionou? Nunca?
— Jamais. Na verdade, ele disse especificamente que era filho
único.
Sua testa franzida intensifica, junto com os dentes cravando em meu
lábio. Só paro quando começo a sentir gosto de cobre. Seu cabelo loiro
move ao vento enquanto ela se vira e caminha para trás, com mechas
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grudadas em seu rosto enquanto ela parece contemplar isso. Sua beleza
sem esforço me faz querer borrar sua maquiagem ou algo assim. Estou
apenas esperando que ela tropece, mas ela nunca faz isso.
Ela é uma vadia graciosa.
— Tem certeza que ele é realmente o filho deles?
Eu encolho os ombros. — A mãe dele disse isso várias vezes.
— Hum. – ela diz. — Imagino por que.
Eu bufo. — Bem, isso ficou um pouco claro quando os vi juntos.
Eles se odeiam.
— Talvez eles tenham alguma estranha rivalidade entre irmãos
acontecendo. – ela diz casualmente.
Chegamos à sorveteria e o cardápio chamou sua atenção. Decido
esquecer isso. Já ouvi falar de irmãos se odiando. Isso acontece.
Normalmente, eles não agem como se o irmão não existisse, a menos
que algo importante aconteça.
O que você está escondendo, doce Ryan?
— Oi. – Uma voz ecoa atrás de mim. O som faz meu coração parar.
Eu me viro para encontrar minha inimiga. A ex-namorada de Ryan.
Amelia se vira e seu rosto a entrega. Ela nunca foi formalmente
apresentada a Alison, mas sabe exatamente quem ela é. E ela também
sabe que a vadia tentou sabotar meu relacionamento.
Cabelos castanhos claros, olhos castanhos que mudam de cor
dependendo da iluminação e um corpo bombástico. Ela é linda e eu a
odiei à primeira vista. Ainda mais quando conversei com ela.
— Oi, Alison. – respondo friamente. Ela tem a audácia de parecer
nervosa.
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— Nada que eu já não tenha ouvido. Ela está com ciúmes e quer
que eu o deixe.
Não compartilho os motivos. Isso é para eu pensar.
O rosto de Amelia se transforma em desgosto. — Que vadia.
Ela é, não é? Contemplo isso enquanto lambo meu sorvete de menta
com gotas de chocolate.
não estava acostumado a nada tão luxuoso. Agora, mal consigo sair da
cama.
O lugar de Ryan ao meu lado está vazio. Dando tapinhas em seu
lugar, eu encontro ele frio. Ele está acordado há pouco tempo. O sorriso
desaparece lentamente do meu rosto enquanto minha mão vagueia pelo
local que ele ocupou a noite toda. Costumávamos acordar juntos nos fins
de semana e nos aconchegar na cama antes de termos que levantar e
cumprir nossas responsabilidades. Faz alguns meses desde a última vez
que ele ficava por aqui de manhã.
Ryan tem andado estranho ultimamente. Agressivo, desconfiado,
distante e bravo. Embora Ryan sempre tenha sido um pouco nervoso, ele
nunca causou tanto tumulto em nosso relacionamento antes. Até
recentemente, ele sempre fazia de tudo para me fazer sentir especial,
amada e cuidada.
Tantas lembranças de encontros maravilhosos que terminaram em
sexo ardente. Momentos em que apenas ríamos juntos, às vezes sem
motivo algum. Ele me amando, declarando amor por mim das maneiras
mais fofas e sempre me surpreendendo com presentes piegas. Não sei
quando essas memórias começaram a se misturar com outras muito mais
sombrias. Os sentimentos e mimos estão longe de serem vistos. Todas as
pequenas coisas que ele costumava fazer por mim, como garantir que eu
tomasse café pela manhã, manter minha água favorita estocada ou voltar
para casa com flores depois do trabalho, desapareceram. Agora, é apenas
Ryan exigindo mexer no meu celular, me chamando de prostituta por
usar muita maquiagem ou roupas reveladoras, e agora colocando as
mãos em mim de maneira quase violenta.
O trabalho o tem estressado ultimamente, talvez seja por isso. Ele
ainda está tentando ser reconhecido não sendo ligado ao seu pai. Posso
ser compreensiva e deixar essas relevar essas pequenas coisas, não são
coisas que preciso dele de qualquer maneira. Contanto que Ryan e eu
estejamos felizes, isso é tudo que importa.
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conversando.
Sim, porque você está me ignorando, idiota.
Ele não tinha mais nada a dizer e, se eu pressionasse, ele
simplesmente se levantaria e iria para outro cômodo da casa. Nem
mesmo Bilby conseguiu curar minha solidão hoje. Como duas pessoas
podem coabitar na mesma casa, mas parecer que estou sozinha? Desisto
de tentar e, à noite, estou furiosa silenciosamente.
Nós fomos para a cama perfeitamente bem ontem à noite. Acordei
no sofá e ele me deu um lindo sorriso sonolento. Ajudei-o a ir para a
cama e ele murmurou o quanto me ama. Ele me abraçou a noite toda, até
de manhã cedo, quando acordou antes de mim.
E agora isso. Estávamos bem. Nós estávamos bem pra caralho. O
que aconteceu?
Coloco um filme sem perguntar se ele quer assistir. Não me importo
se ele quer ou não. Eu me acomodo no sofá, com o couro preto macio
me confortando enquanto me aconchego em um cobertor macio. A sala
de estar é grande, com três grandes sofás preenchendo o espaço, uma
enorme televisão de tela plana com os consoles de jogos de Ryan
instalados embaixo dela e uma decoração habilmente posicionada e
fotos de família ao longo das paredes. O bom gosto de Ryan é mais
moderno e estéril, com muitos tons de preto, cinza e branco. É uma casa
linda, mas definitivamente não tem a vibe aconchegante e caseira que a
casa de Julie e Matt tem.
Estou na metade do filme quando Ryan fecha seu notebook e me
cutuca na coxa de brincadeira. O gesto me irrita, mas eu seria uma
mentirosa se também não plantasse aquela sensação de desespero
novamente em mim. Esperança. A esperança é impossível.
— Venha dá um abraço. – ele pede com bom humor. Ele ainda tem
coragem de me dar aquele olhar pidão.
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Quanto mais me aproximo, mais alto o grito se torna, até que fica
evidente que Barbie está em outra briga com um viciado. Mais do que
provavelmente porque ela fumou e injetou todas as drogas deles depois
que ela os fodeu até que eles desmaiassem.
Lentamente, ando em direção à porta dos fundos. Está enferrujada e
range quando a abro. Barbie e um homem magro aparecem, ambos
gritando tanto que estão cuspindo na cara um do outro. Eles estão na
cozinha, com piso de linóleo rachado e amarelado, uma geladeira
infestada de mofo e uma mesa de cozinha cheia de bitucas de cigarro,
garrafas de bebida vazias e agulhas usadas.
Parece exatamente da mesma forma que aconteceu todos os dias
durante os dezoito anos em que estive presa dentro deste depósito de
lixo.
— Sua vadia de merda! Aquilo era meu! – O homem grita, dando
um tapa no rosto de Barbie. Eu nem me encolho. Ela agarra a bochecha
em estado de choque - sinceramente, não consigo entender por que ela
está chocada - e então recua e acerta o nariz dele.
O baque ocorre um segundo antes de o homem começar a gritar,
segurando o nariz ensanguentado.
— Você quebrou meu nariz! – Uma maneira de apontar o óbvio.
— Você mereceu, seu pedaço de merda!
— Saia. – eu exijo humildemente. Ambos paralisam e se viram para
mim. Nenhum deles sequer percebeu que eu estava aqui. Seria tão fácil
matar os dois. Ninguém se importaria o bastante com eles para descobrir
quem fez isso.
Os olhos redondos do homem me olham com raiva e perversão, com
sua mão ainda segurando o nariz.
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bebeu também.
— O que você roubou desta vez? – pergunto casualmente,
referindo-me ao homem com o nariz quebrado.
Ela resmunga, com os seus olhos dilatados fervendo enquanto se
enfurece: — Eu não roubei nada! Eu fodi com ele gostoso e muito por
essa merda. Eu ganhei isso, e era meu.
Eu suspiro e belisco a ponta do meu nariz. — Se você vai vender
seu corpo, pelo menos ganhe dinheiro com isso. Como você vai comer e
pagar o aluguel de outra forma? – É como falar com uma parede de
tijolos. Não sei por que as palavras saíram da minha boca. Elas nunca
vão penetrar em seu cérebro viciado em drogas de qualquer maneira.
Ela se senta na cadeira e acende um cigarro, sem se preocupar em
responder. Típico. Ela prefere agir como se eu não tivesse dito nada do
que reconhecer o fato de que ela me deve dinheiro.
— Eu possuo esta casa. Posso despejar você quando quiser. Tudo o
que preciso fazer é ir ao tribunal e lhe entregar os papéis, e sua bunda
estará fora em um mês, no máximo. – eu ameaço, sentando na cadeira
em frente a ela.
Tomo cuidado para não tocar em nenhuma das superfícies, se puder
evitar. Não sei que tipo de doenças eu poderia pegar. Ryan me mataria
se isso acontecesse.
— Você acha que porque está namorando um homem rico que pode
se safar do que quiser. – ela diz, com seus olhos vidrados se estreitando
em fendas. — Shallow Hill está em seus ossos, garotinha. Você nunca
será melhor do que eu, então pare de agir assim.
— Você parece amarga, Barbie. – eu afirmo com tédio. — Isso não
muda o fato de que eu possuo esta casa e você me deve aluguel.
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Billy sempre foi o pior, e o que mais andava por aí. Ele mantém
minha mãe viciada em drogas, e ela lhe dá informações e sexo ruim em
troca.
Ele é um traficante e tem conexões insanas. E a Barbie fode todo
mundo. Homem e mulher. Com isso, todos da cidade. Barbie enrola o
laço em suas bolas e Billy as amarra. Ele é o dono desta maldita cidade
inteira.
Nunca vou admitir isso para ela, mas Billy me mata de medo. Ele é
capaz de fazer qualquer um desaparecer sem deixar vestígios. Barbie
sabe disso no fundo, mas acho que há uma parte minúscula dela que não
está disposta a entregar sua filha ao próprio Satanás. Além disso, Billy
sempre gostou mais de mim, e Barbie também sabe disso.
Ele causou dano o suficiente para carregar pelo menos minhas
próximas três vidas. Ele tirou minha inocência e toda a minha infância.
Ambas insubstituíveis. Ambas eu nunca vou ter de volta.
— Quero o dinheiro na próxima semana. Esforce-se ainda mais,
tenho certeza que você consegue.
Eu saio pela porta, com seus gritos e xingamentos me seguindo
muito depois de eu sair.
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— A hora da morte foi há pouco mais de dois dias, com base na
decomposição de seu corpo. Olhando para o respingo de sangue, ele foi
baleado a cerca de três metros de distância. – Observa o criminalista
Redd, enquanto tira mais algumas fotos do cadáver.
Há um pequeno buraco em sua cabeça. Parece um ferimento de um
calibre .22. Esculpida em seu peito nu está a palavra "Ghost".
— Os entalhes têm a consistência de uma faca de caça. Você pode
dizer pelos padrões que quem fez isso, fez com calma. Não parece
desleixado ou apressado. – continua Redd.
— Ele estava vivo quando isso foi esculpido em seu peito? –
pergunto, observando as letras irregulares de perto. O sangue já secou e
formou uma crosta em seu peito.
— Sim. – diz Redd. — Muito vivo. Há sinais de luta, mas não
condiz com esse tipo de tortura... é muito sutil. Presumo que havia pelo
menos duas pessoas segurando-o. Não há como ele ter agido sozinho.
Balanço minha cabeça, a cena diante de mim é mórbida pra caralho.
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ele está com as persianas fechadas. Eu fico do lado de fora de sua porta
por um momento, debatendo se devo apenas ser um idiota e entrar ou
bater. De qualquer maneira, ele não estará me esperando. É muito raro
visitar Ryan quando almoço com papai.
O que é suficiente para que Ryan comece a fechar suas persianas a
esta hora. Filho da puta mesquinho.
Com o canto do olho, noto que uma das persianas está presa no
parapeito, permitindo ver seu escritório em uma pequena janela. Eu me
aproximo, movendo para a esquerda e para a direita até conseguir um
bom ângulo. Nunca disse que estava acima de espioná-lo. Eu sou um
maldito detetive, afinal de contas. Ser intrometido está na descrição do
trabalho e meu irmão idiota comete crimes suficientes diariamente para
justificar isso.
Um resmungo quase escapa da minha garganta quando finalmente
consigo um bom ângulo. A mulher com pernas abertas em sua mesa é
sua secretária. Entre as pernas dela está a cabeça dele firmemente presa
em suas garras cor vermelho-cereja. Sua cabeça está jogada para trás,
com sua garganta esbelta movendo com gemidos enquanto ele vai para o
caminho em sua boceta.
Minha coluna fica ereta e tenho toda a intenção de invadir o lugar.
Ele tem uma linda garota em casa que o trata muito melhor do que
ele merece, e ainda assim ele fode por aí. Não posso dizer que estou
surpreso. Se alguém trataria uma garota como merda, é Ryan. Ele tratou
Alison como lixo por anos, não há razão para ele tratar River de forma
diferente.
Não consigo contar quantas vezes Alison chorou no meu ombro,
com os óculos escuros cobrindo os olhos roxos e os braços manchados
de hematomas. Ele passou clamídia para ela, pelo amor de Deus, depois
de dois anos de namoro. Eu queria prendê-lo por violência doméstica
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vindo dela. — Você sabe o que quero dizer, Mako. Eu nunca teria
forças para sair se você não estivesse lá para ajudar. Eu... eu sei que eu
mesma fiz isso. Mas você ainda foi meu trampolim.
Frustrado, viro e começo a caminhar de volta para o meu carro.
Estou demorando em um campus ao qual não pertenço, onde qualquer
um pode me ver. A última coisa de que preciso é que alguém me
reconheça. Ryan pode ter se formado, mas deixou sua marca neste lugar.
E muitas pessoas sabem quem eu sou e exatamente o que ele sente por
mim. Essas mesmas pessoas também são cachorros leais pra caralho.
— Eu estava planejando ajudá-la, Ali. – digo finalmente, mudando
de assunto de volta para o assunto em questão. Fico enjoado quando ela
fica toda sentimental comigo.
Ela suspira de alívio, o que torna a responsabilidade que sinto ainda
mais sufocante. Agora tenho Alison contando comigo também.
Abro a porta do carro, quase me jogo dentro do carro e bato a porta.
O calor é sufocante, mas ainda não ligo o carro.
— Mas não posso fazer isso para sempre. – suspiro, admitindo o
pensamento que me assombra desde que soube o que Ryan estava
fazendo com ela. — Não sei se posso salvar todas as namoradas dele
para sempre. Talvez River eventualmente irá deixá-lo, mas nós dois
sabemos que haverá outra. Ryan não é do tipo que fica sozinho. Ele
precisa de alguém para controlar e quebrar, e se não for você, ou River,
vai ser outra garota. Como passo o resto da minha maldita vida
mantendo o controle sobre ele e tentando convencer suas namoradas a
deixá-lo?
Isso está me matando, é o que eu não digo. O estresse é exaustivo,
mas quando imagino o que elas estão passando, meu estresse parece tão
trivial e não tenho força de vontade para ir embora.
Alison zomba. — É por isso que convenceremos River a prestar
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me encontrou. Não há como Mako vir para a faculdade aqui. Ele parece
muito velho, definitivamente mais velho que Ryan.
O perseguidor levanta uma sobrancelha quando continuo a olhar
estupidamente. Tremendo, sinto o sangue subir ao meu rosto.
— O que está fazendo aqui? – pergunto, com meu tom acusador e
áspero agora que ele me pegou olhando para ele.
Quem estou enganando, teria sido áspero de qualquer maneira.
Eu tinha acabado de sair da minha aula de psicologia e estava indo
em direção à minha loja de donuts favorita. Estou a apenas um
quarteirão de distância. Não é bom para o meu corpo, e Ryan ficaria
irritado se eu ganhasse peso, mas estou com muita fome hoje.
Pelo menos até Mako aparecer. Agora, meu apetite desapareceu
completamente. Na verdade, eu me sinto um pouco mal.
Ele sorri. — Comprando um donut.
Sem minha permissão, meus olhos percorrem seu corpo. Ele não
parece que come donuts.
— Certo. – digo em dúvida, e então me viro para caminhar em
direção à loja de donuts. Eu como donuts. Eu não sou uma mentirosa
como ele é.
Ele caminha atrás de mim, e meu sangue esquenta e gela ao mesmo
tempo. Um suor frio e nervoso escorre pela minha testa, embora esteja
30ºC aqui fora.
E se Ryan nos vir? Ele poderia facilmente passar de carro. A loja de
donuts fica a apenas alguns quarteirões de seu trabalho. Se Ryan visse
Mako andando ao meu lado, não sei como ele reagiria. Ele me ama e não
me quer perto de más influências. Uma olhada em Mako e é fácil ver
que ele se enquadra nessa categoria.
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otimista que tinha quando ele me disse pela primeira vez para onde
estava me levando, dois dias atrás.
Suspiro sonhadoramente com a menção de comida. — Estou
morrendo de fome. A única coisa que comi hoje foi um donut. – digo.
Ryan me dá um olhar estranho. — Espero que você não coma essas
coisas o tempo todo, River. Você vai engordar.
— Não vou engordar. – eu protesto, rindo e batendo em seu braço
em uma tentativa de humor.
Minha risada desaparece quando ele me encara com um olhar
sombrio. — Por quê? Porque você quer que os homens a cobicem? Não
aja como uma prostituta, River.
Pressiono os meus lábios, com meu coração caindo na boca do
estômago com suas palavras. Eu odeio quando ele diz coisas assim para
mim. — Pare de me chamar de prostituta, Ryan. Estou namorando você,
não estou? – digo, ficando irritada com seu xingamento.
Ele ri sem humor. — Então pare de agir como uma. É por isso que
você está vestida do jeito que está. Para mostrar seu corpinho gostoso
como se fosse seu direito.
Eu me sinto afundando rapidamente, circulando em um buraco
profundo que estou cavando. Eu não sei o que dizer. Quando tento me
defender, isso só piora as coisas. Isso nunca o coloca em seu lugar, nem
se preocupa em se desculpar. Parece que não importa mais - nunca serão
as palavras certas. Brigar com um advogado deve ser a coisa mais
frustrante que já experimentei.
Depois de um momento de silêncio, pergunto hesitante: — Você
quer que eu engorde?
Parece que ele está quase amargo sobre o meu corpo. Tenho curvas
nos lugares certos, uma bunda excessivamente generosa e seios
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empinados - eu sei disso e usei isso a meu favor durante meus dias de
festas antes de Ryan. Ele poderia dizer sim e esperar que eu ganhasse
peso. O pensamento envia uma injeção de medo em minhas veias.
Minha beleza costumava ser uma maldição, atraindo homens muito
antes de eu ter idade suficiente, mas agora que estou mais velha e sinto
mais controle de quem pode me tocar, gosto de quem sou e de minha
aparência. Eu gosto de mim e não quero mudar por ninguém.
Ele zomba. — Não seja estúpida. Eu não sairia com você se você
estivesse acima do tamanho 38.
Minha boca abre em choque. 38? É um número obscenamente
pequeno. Ele não percebe que uma mulher pode ter qualquer tamanho e
ainda ter uma barriga chapada? E daí se não tiverem? Por que os homens
sempre atribuem o valor das mulheres à forma de seu corpo e à
aparência delas? Não faz sentido para mim quando nossos corpos vão
para o inferno quando envelhecemos de qualquer maneira.
Com esforço, fecho minha boca e contemplo como diabos abordar
isso. Eu preciso fazer isso de uma maneira que não cause uma briga.
— E se eu for tamanho 40? – A pergunta sarcástica escapa antes que
eu possa impedir. Fecho os olhos em resignação. Isso provavelmente vai
irritá-lo.
Ele ri. — Você não é. Eu verifico suas roupas.
Não surte. Não surte.
— Por quê? – eu sussurro.
— Você afeta minha imagem, River. Não posso arriscar isso quando
estou tentando chegar ao topo.
Ele já se formou em Direito e conquistou uma clientela no escritório
de seu pai. Ainda assim, não tenho certeza de como uma mulher
vestindo tamanho acima de cinco tem algo a ver com isso. Se eu discutir
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sobre o corpo da mulher, ele vai nos virar e não vai me deixar comer
pelo resto da noite. Desesperadamente, quero argumentar sobre o quanto
errado é considerar qualquer mulher acima de cinco gorda e como ele
está agindo de forma obtusa, mas não quero estragar nosso encontro
antes mesmo de começar.
Além disso, estou com fome pra caralho.
Limpo minha garganta e forço um sorriso. — Não vou ganhar mais
peso, não se preocupe. Uso tamanho 38 desde os dezessete anos. Na
verdade, era tamanho 34 por causa da desnutrição, mas não mencionei
isso.
Não estou mais em Shallow Hill. Eu subi acima disso e com um
peso saudável. Eu controlo minha dieta na maior parte do tempo e me
exercito semanalmente. Meu tempo em Shallow Hill não é algo que
estou disposto a pensar.
Chegamos a um restaurante quatro estrelas chamado Rosebud. Eu
obviamente nunca tinha ido, embora tivesse ouvido falar que a comida
aqui é absolutamente divina. Quando entramos, a admiração toma conta
de todo o meu ser. O restaurante é decorado com tons de branco e azul,
com grandes arcos em cada entrada e plantas cuidadosamente estilizadas
e arte cara que decoram o local. Está quieto aqui, os clientes falando em
voz baixa e segurando suas facas e garfos delicadamente. É um pouco
chique para o meu gosto, mas tenho certeza que poderia me acostumar.
Esperançosamente.
Uma bela fonte do tamanho da minha casa em Shallow Hill fica na
entrada onde a anfitriã espera pelos convidados. Quando ela nos vê, ela
imediatamente reconhece Ryan. Um sorriso brilhante se abre em seu
rosto pequeno, e um ardor surge em seus olhos castanhos. Ela é linda. E
ela está olhando para o meu namorado como se soubesse mais sobre ele
do que deveria.
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— Boa noite, Sr. Fitzgerald. Por favor, siga-me, sua mesa está
pronta.
A mulher nos leva a uma sala separada com vista para o lago. O sol
já está começando a se pôr, com seus raios se estendendo sobre a água
cintilante. Vermelho, roxo e rosa brota do sol, pintando o céu com
aquarelas de algodão doce.
Ryan puxa minha cadeira para mim, antes de sentar na sua. A
mulher se afasta, dando um último olhar lascivo para Ryan antes que
nosso garçom se aproxime.
Se fosse o contrário, Ryan já teria me chamado de puta por chamar
a atenção. Talvez eu devesse fazer o mesmo.
— Gostaria de uma garrafa de vinho, Sr. Fitzgerald? – O garçom
pergunta, com seu tom respeitoso.
— Traga o Chateau Petrus Pomerol. – ele diz. O garçom abaixa a
cabeça e corre para pegar a garrafa. Não entendo muito de vinho, mas
acho que é muito caro.
Verifico o menu, as opções são limitadas, mas ainda esmagadoras.
Tudo parece bom e, para a minha vergonha, o meu estômago ronca
enquanto considero minhas opções.
O garçom volta, prontamente servindo uma taça de vinho para Ryan
e para mim, antes de colocar a garrafa em um balde de gelo para gelar.
Ele então lê os especiais.
Ryan me deixa pedir minha comida primeiro, e depois a dele.
Quando o garçom sai com nosso pedido, tomo um gole de vinho e quase
caio da cadeira.
— Isso é delicioso. – eu deliro, tomando outro gole. Ryan sorri,
satisfeito com a minha reação.
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— Você não viu todos aqueles homens olhando para você? Aposto
que gostou, não é?
Eu balanço minha cabeça desesperadamente.
— Você gostou. – ele acusa asperamente. — Olhe para si mesma...
olhe para si mesma agora!
Minha cabeça abaixa quando olho para meu vestido justo. Ele
termina alguns centímetros acima dos meus joelhos. Meus seios estão
aparecendo através do amplo decote, e a parte de trás do vestido é baixa,
expondo minha pele completamente, exceto por algumas tiras que
cruzam minhas costas.
Ele está certo, é um vestido sexy. E captei os olhares interessados de
alguns homens.
Lágrimas embaçam minha visão, distorcendo o rosto zangado de
Ryan. Isso só consegue torná-lo mais aterrorizante. Ele resmunga e me
empurra com toda sua força. Eu caio para trás e pouso desajeitadamente
no meu quadril. Minha cabeça bate contra o chão, fazendo com que as
estrelas surjam em minha visão.
Fico ali por um minuto enquanto ele sai furioso, completamente
chocada com a reação visceral de Ryan. Ele nunca colocou as mãos em
mim assim antes. Claro, eu cai uma vez depois de conhecer os pais dele,
mas ele não me jogou agressivamente do jeito que acabou de fazer.
Ofego, com medo de me mover e em choque com a rapidez com que
esse encontro foi ladeira abaixo. Depois da conversa sobre o evento
beneficente, achei que estávamos nos divertindo muito. Ele sorriu para
mim e brincou comigo, me elogiou mais algumas vezes com aquela
palavra feia – linda. Eu sorri para ele como se a palavra não me fizesse
sentir como se milhões de formigas estivessem rastejando sob minha
pele e fiz questão de dizer a ele o quanto eu estava agradecida por ele ter
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em me virar.
— Por que está parada no meio de um estacionamento? – ele
responde, com sua voz rouca percorrendo minhas terminações nervosas
maltratadas.
Meu estado mental está frágil hoje. Normalmente, posso confrontar
Ryan - literalmente - mas estou muito desapontada comigo mesma.
— Hoje não, Mako. – murmuro. Eu ando para frente - para longe
dele. Agora, mais do que nunca, tento andar sem mancar. Ele nunca
desistiria se visse. Ele segue imediatamente. Eu já sabia que ele iria, mas
isso me deixa com raiva de qualquer maneira. Eu viro, ranjo os dentes
contra a dor e olho para ele. — Pare de me seguir.
Ele não responde. Em vez disso, seu olhar preocupado me observa
da mesma forma que o Professor Tumbling acabou de fazer.
— Eu não preciso disso. – murmuro, me virando. Uma mão gentil
me detém. Eu me afasto de seu toque, não gostando de como o tipo
errado de calafrios percorre minha espinha. O tipo de arrepio que Ryan
deveria me fazer sentir. Isso faz minha pele arrepiar.
— O que ele fez?
— O que faz você pensar que ele fez alguma coisa? – eu digo.
Mako não responde de imediato. Ele enfia as mãos nos bolsos,
como se precisasse impedi-las fisicamente de fazer alguma coisa. Como
de me tocar.
— Então quem foi? – ele pergunta suavemente. Eu não me enganei.
Uma fúria tenebrosa está na beira do precipício em sua voz, ameaçando
roubar sua gentileza. É como um maremoto batendo em um barco de
brinquedo.
Balanço a cabeça e, mais uma vez, me viro para ir embora. Ele me
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e destravar a porta.
É uma sala que foi mantida a salvo de invasores e maus
adolescentes. Levanto o suporte e abro a estante.
Nenhuma quantidade de poeira poderia impedir meus pulmões de
inalar profundamente. A sala é pequena e cheira a naftalina e almíscar,
mas me traz paz mesmo assim. Há duas pequenas janelas aqui,
permitindo que a luz do sol entre. Os ácaros pairam nos raios enquanto
eu entro.
Mako tem que se curvar um pouco para passar, e eu tenho uma
vontade insana de rir ao vê-lo mexer seu corpo através da abertura. Eu
me afasto antes de ceder a esse impulso.
— Onde estamos? – Mako pergunta, com admiração em sua voz
enquanto olha ao redor da pequena sala.
— Onde vivem os sonhos de infância. – respondo enigmaticamente.
Foi aqui que fiz meus planos de como sair de Shallow Hill. Eu tinha
doze anos com um pacote de giz de cera e um pedaço de papel e um
rascunho de meu futuro. Fiz as contas de como seriam os meus
contracheques tendo um salário mínimo, planejei minhas economias,
com que idade eu teria direito a um emprego melhor e um cartão de
crédito e ajustei de acordo. Camilla me ajudava muito com isso,
explicando todas as coisas de adulto como crédito e como é importante.
Não tinha sonhos típicos de infância de conhecer o Príncipe
Encantado e me apaixonar. Ou se tornar uma astronauta ou descobrir a
cura para o câncer.
Só queria sair de Shallow Hill. Tudo depois disso viria mais tarde,
quando eu cumprisse meu objetivo - um que parecia tão impossível na
época.
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pergunto incrédula.
Ele balança a cabeça e se volta para uma prateleira empoeirada. Não
há nada para ver lá. Gostaria de pensar que sou muito mais interessante
de se olhar do que uma prateleira empoeirada.
Não sei por que estou chocada com a carreira dele. Considerando
que ele descobriu em que aula estou. E quando... faz todo o sentido.
— Foi assim que você descobriu onde faço faculdade? E que aula
estou tendo?
Ele tem a coragem de parecer um pouco envergonhado. — Talvez
eu tenha utilizado minha posição para propósitos nefastos. – ele admite,
me dando um sorriso pecaminoso.
Porra. Pare com isso.
— Por que você me procurou?
— Se eu disser que estou preocupado com você, você acreditaria em
mim?
Eu zombo. — Absolutamente não. Você nem me conhece. E você
foi muito rude na primeira vez que nos encontramos.
Ele enfia as mãos nos bolsos novamente. — Eu não te conheço. Mas
conheço meu irmão. E isso basta. – ele arranha o chão acarpetado com a
ponta de sua bota preta gasta, olhando para baixo enquanto contempla
outra coisa. — Quanto à maneira como te tratei, você ficou do lado de
Ryan e me tratou com hostilidade depois de dizer duas palavras para
mim. Eu reagi de acordo. – ele olha para mim, com aqueles olhos verdes
esmeralda me fixando no local. O canto de seus olhos enruga enquanto
um sorriso malicioso surge em seu rosto.
— Você ainda é hostil. – ele acrescenta. Eu cruzo meus braços, não
impressionada com sua avaliação e apenas provando seu ponto. Eu sou
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hostil. — Espero que Ryan não tenha dito muitas coisas horríveis sobre
mim. Estou curioso para saber que tipo de história ele inventou desta
vez para torná-lo a vítima.
— Não quero falar sobre ele. – digo, irritada com o fato de que
Ryan nem se preocupou em inventar uma história para mim. Eu vim
aqui para ficar em paz. Isso não é ficar em paz.
Ele balança a cabeça e caminha até um canto com um banco
empoeirado. Ele se joga sobre ele, não dando a mínima para a poeira que
cobre a madeira. Ryan nunca faria isso. Na verdade, acho que ele nem
teria pisado neste prédio.
Hesitante, eu me sento ao lado dele, o mais longe possível dele no
banco. O que reconhecidamente não é muito espaço quando seu corpo
ocupa três quartos dele.
Maldito mamute.
Um sorriso lento surge em seu rosto, mas ele não comenta. Não
tenho certeza se ele pode dizer o que estou pensando, mas às vezes
parece que sim. Eu quero fazer algo com esse sorriso. Dar um tapa, ou...
algo assim. Não sei o quê, mas sei que não deveria estar sentindo isso.
— Você vai me prender por invasão de propriedade, Detetive? –
pergunto ironicamente.
Ele ri, com um sorriso perverso se abrindo em seu rosto. Ele é muito
bonito. Estou tentada a enfiar uma faca no rosto dele. — Se você acabar
algemada, não será porque estou prendendo você.
Explosões de lava quente correm em minhas veias e direto entre
minhas pernas. Aperto minhas coxas e me mexo desconfortavelmente.
Idiota.
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tempo, ela me salvou. E bem quando realmente pensei que iria escapar
de Shallow Hill muito antes do planejado, ela foi arrancada de mim. Às
vezes me pergunto se fui uma pessoa horrível em minha vida passada, e
esta vida é meu castigo. Estou remediando quaisquer pecados que minha
alma tenha cometido.
Conto a ele sobre as inúmeras vezes que passei fome e tive que
implorar por comida depois que Camilla morreu. Os homens só me
davam comida se eu fizesse favores sexuais. Eu fiz isso. Era minha
forma de sobrevivência. Eu me tornei o que a Barbie sempre disse que
eu seria - uma prostituta.
É por isso que sei que Ryan não está errado. Eu sou uma prostituta.
Fiz sexo com homens aos treze anos para poder comer. Minha única
exigência era que eles usassem camisinha. Prefiro morrer de fome a
pegar uma DST. Tive uma sorte incrível de não ter tido isso até aquele
momento.
— Por favor, não se chame assim. – ele implora baixinho, mas
rispidamente. O tom suave me pega de surpresa. Eu olho para ele com
confusão. Não só eu não esperava que ele se importasse como eu me
chamava, como certamente não esperava que ele pedisse isso tão... bem.
Ryan está sempre exigindo coisas de mim, esperando minha obediência
e depois me xingando quando nem sempre consegue.
— O que?
— Você não é uma prostituta, River. Você foi repetidamente
estuprada e forçada a essas situações porque estava morrendo lentamente
de fome.
A fúria surge em seus olhos. Não sei como, mas sei que não é
direcionada a mim, mas por mim. E eu não sei como me sinto sobre
isso.
Eu abro minha boca. Eu quase digo as palavras.
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esperava que a voz dele viesse atrás de mim. Eu me viro e o vejo parado
no hall de entrada.
Estou assustada demais para dizer qualquer coisa. Ele dá um passo à
frente e eu manco para trás. Meu quadril ainda dói.
— Onde você esteve? – ele pergunta sombriamente.
— Sai com Amelia. – Ele levanta uma sobrancelha.
— Então por que Amelia disse que não vê você há uma semana?
Ele falou com ela? Porra.
Outro passo em minha direção. — Você está me traindo?
Balanço minha cabeça, com o meu coração disparado. — Não, claro
que não.
— Então por que diabos está mentindo para mim? – ele resmunga
por entre os dentes, com o olhar em seu rosto começando a parecer cada
vez mais com o de um demônio.
— Não sei. Porque estou brava com você.
Seus olhos se arregalam de surpresa por meio segundo antes de se
estreitarem em fendas finas. Uma risada irônica escapa por entre seus
dentes.
— Brava comigo? Eu não fiz nada além de cuidar de você em todo
esse relacionamento. Você tem tudo o que poderia pedir. Eu te amei e
cuidei de você. Só tratei você como você merecia. Se eu tive que te
ensinar uma lição quando você saiu da linha, então não é minha culpa. –
ele cospe. Literalmente também. A saliva sai voando de sua boca
conforme sua raiva aumenta.
— Eu não tenho livre arbítrio, Ryan?
Ele recua. — O que?
— Não preciso da sua permissão para viver minha vida. Se eu
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tona. Quase parece calculista, mas não tenho certeza. E para minha
surpresa, ele acena com a cabeça.
— Sinto muito. – ele diz.
Preciso de um dicionário de sinônimos. Quantas palavras existem
para a palavra surpresa? Sinto cada uma delas como se cada sinônimo
fosse uma emoção diferente.
— Você... você sente muito? – pergunto, com minha testa se
juntando em um profundo V. Montanha-russa. Essa é a melhor palavra
para descrever como me sinto.
Ele balança a cabeça e toca a mão na bochecha. — Sim. – ele
sussurra. — Sinto muito. Você não merecia nada disso.
Estreito os olhos, cética em relação ao comportamento dele. Todo
seu rosto se transforma. Com os seus olhos suavizando e o seu rosto
relaxando. Ele parece genuinamente arrependido. Apesar de meus
melhores esforços, sinto que estou amolecendo também.
— Então por que você fez isso?
A vergonha ofusca seus olhos quando ele olha na minha direção. —
Eu fico tão preocupado com você. Tantos homens se aproveitaram de
você e estou com medo de que alguém apareça e tente fazer isso. Não
posso protegê-la se não souber onde você está, River. Não posso manter
os monstros afastados se você mostrar a eles o que eles podem tirar de
você.
Eu mordo meu lábio e me sinto um pouco envergonhada.
— Eu... eu posso te dizer aonde vou, e não vou me vestir de forma
tão provocante. Mas eu preciso que você pare de me bater.
Ele vem até mim com pressa, mas não com raiva desta vez. Desta
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vez, não há nada além de amor em seus olhos. Ele envolve seus braços
fortes em volta de mim com força e me traz para perto, nariz com nariz.
— Eu sinto muito, baby. Eu não deveria ter feito nada disso. Eu não
vou mais bater em você. Fico tão frustrado porque você não entende
como os homens pensam, e eu entendo. Eu só preciso que você me ouça,
ok? Preciso saber onde você está e o que está fazendo. E preciso ter
certeza de que seu corpo está devidamente coberto para que os homens
não tentem roubá-la.
Concordo com a cabeça, e nós dois relaxamos nos braços um do
outro.
Mako estava errado. Ryan não quer ser dono do meu corpo. Ele só
quer me proteger. Manter-me segura.
E ninguém nunca fez isso por mim antes.
— Eu notei o espelho. – ele diz calmamente. Eu enrijeço antes de
me afastar.
— Ryan, eu estou tão, tão triste...
— Shh. – ele sussurra, me interrompendo. Ele agarra a parte de trás
da minha cabeça e me puxa de volta para ele. — Tudo bem. Eu entendo.
Eu já mandei alguém vir e substituí-lo.
A emoção cresce dentro do meu peito. Ou seja, alívio. Não queria
que ele me batesse de novo porque quebrei o espelho dele. Eu mordo
meu lábio. — Tem certeza de que não está bravo?
— Não, baby, eu não estou bravo. Eu te amo tanto, River. – ele diz,
pressionando sua testa contra a minha. — Não posso te perder. Eu não
posso viver sem você.
Lágrimas ardem em meus olhos. Não de tristeza, mas de felicidade.
Eu me sinto no topo do mundo agora. Sinto que finalmente estamos nos
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Ela relaxa em alívio. — Ah, que bom, estou feliz por não ser a
única. Eu só ia usar a gravidez como minha desculpa.
— Sim, eu costumo usar minha menstruação como desculpa, tudo
bem.
Nós rimos o resto da caminhada até o carro dela. Ela já está
inventando nomes loucos para bebês como Júpiter e Italea, que
pronuncia-se I-tall-ee-ah.
Eu me pergunto como Ryan gostaria de nomear nossos filhos.
que ele volte sua raiva para ela quando terminar comigo.
E ele vai.
Ele absolutamente fará isso.
Não posso ir para casa assim. Para enfatizar meu argumento, o
nome de Ryan surge na tela quebrada do meu celular. As pequenas
rachaduras percorrem seu nome com um emoji de coração no final.
É simbólico, e eu quero jogar a porra do celular.
Pressiono o botão de volume na lateral do meu celular.
Instantaneamente, o som estridente silencia. Ele vai ligar de novo.
Silencio o celular completamente para não ter que ouvir mais a desgraça
do meu relacionamento.
Estou suja de novo. Contaminada. Suja. Manchada.
Billy me contou o quanto sentiu a minha falta bem na frente da
Barbie. Ela assistiu com medo e resignação em seus olhos. Mais uma
vez, não por mim, mas por ela. Graças a Deus ele usou camisinha. Billy
não quer um mini correndo por aí, com certeza.
Após ter batido mim, ele se virou para Barbie e fez amor com ela.
Deitou-a no chão da cozinha e a fodeu gentilmente. Isso foi um aviso.
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sofá.
Estou molhada e minha pele está extremamente irritada, minhas
costelas quebradas provavelmente estão ainda mais rachadas com base
no quanto pouco consigo respirar, meu lábio está sangrando e estou
infeliz pra caralho. Esta é a sensação de morrer.
Lentamente, eu levanto do sofá, com os dentes rangendo, e rastejo
até a mesinha onde meu celular está. Demora algumas tentativas, mas
assim que o coloco na mão, apenas fico olhando para ele.
Para quem diabos devo ligar?
Há Amelia... mas não quero que ela me veja assim. Não quero
contar a ela sobre o que Ryan fez. Eu não poderia ligar para os pais de
Ryan, não quando foi o próprio filho deles que me deixou assim.
Não tenho ninguém. A menos que eu faça algo estúpido e ligue para
alguém que realmente não quero.
Coloquei o celular no ouvido. Eu não me importo mais neste ponto.
— Policial Brady.
— Oi, aqui é a River. Eu... você pode me dar o número do Detetive
Fitzgerald, por favor? Gostaria de falar com ele sobre o que aconteceu.
— Senhorita, posso levar o inquérito...
— Gostaria de falar com o Detetive Fitzgerald, por favor.
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Meu bichinho de pelúcia favorito, Rocky, está enfiado na minha
boca. O pelo sujo tem um gosto azedo na minha língua por estar em
tantos lugares imundos. Mas preciso dele. Preciso morder alguma coisa
para não chorar. Quando eu choro, dói. Acho que Billy quebrou minhas
costelas de novo. Ele disse que, desde que meus pulmões não fossem
perfurados, eu ficaria bem.
Como ele sabe que não foram?
Meu tornozelo está torcido quando tentei fugir dele. Torceu porque
Billy me agarrou pelos cabelos e me puxou para trás inesperadamente.
Meu tornozelo cedeu, junto com o resto de mim. Meu corpo, alma e
espírito... estão todos desistindo de mim.
Billy disse que se eu sair do quarto, serei punida novamente.
Minha mãe está no quarto ao lado, gemendo e gritando uma
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mistura de prazer e dor. Billy faz comigo as mesmas coisas que faz com
ela, mas nunca tive vontade de fazer os barulhos que ela faz. Não é
bom. Billy disse que deveria, mas tudo o que faz é machucar. Sempre
dói.
Com ele e com os outros homens que mamãe traz para casa.
Quando eles terminam com ela, eles vêm para o meu quarto à noite.
Eles me machucaram. Eles deixam hematomas e arranhões e até marcas
de mordidas. O último cara deixou uma cicatriz por ter mordido minha
coxa com tanta força.
“Billy, por favor!” Mamãe grita, com as paredes finas não fazendo
nada para mascarar seu terror. Carne batendo em carne segue seus
apelos desesperados, junto com um gemido alto. Billy sempre faz aquele
barulho quando termina. Aguardo ansiosamente aquele barulho porque
aí ele me deixa em paz.
Billy enfia a cabeça na porta alguns minutos depois, sem camisa e
com as calças ainda desabotoadas. Um cigarro está pendurado em sua
boca, com o cheiro forte entrando em meu quarto. As paredes estão
amarelas de tanto fumo. Acho que nunca vi a cor branca na minha vida.
Não quando qualquer coisa pura está contaminada em Shallow Hill.
"Você ainda está chorando?" ele pergunta, com uma sobrancelha
levantada enquanto ele traga o cigarro. Rocky ainda está na minha
boca, mas não tenho mais vontade de chorar. Agora, só quero me
encolher e me esconder.
Tiro Rocky da minha boca e o jogo para o lado, com o dinossauro
azul rolando pelo chão sujo.
"Não.", murmuro. As lágrimas ainda não secaram em minhas
bochechas. Billy não gosta quando minto, mas odeia ainda mais quando
mostro fraqueza.
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realmente tenho que fazer xixi. Mas não quero tentar me levantar na
frente de Billy. Ele vai me ver com dificuldade. Ele vai me ver chorar.
Ele vai me ver fraca. E então ele vai piorar essas coisas.
“Ok, Billy. Eu não tenho que ir muito.” eu minto. É uma mentira
que vale a pena dizer se isso significa que ele vai acreditar em mim e ir
embora. Ele olha para mim, com um sorriso astuto contraindo seus
lábios.
"Ok, River.", ele repete, com sua voz fria e suave. “Espero que não,
porque você está de castigo. Você não tem permissão para sair deste
quarto até de manhã. Você me escutou?"
Respiro dolorosamente, mas aceno com a cabeça.
Billy me dá um último sorriso e sai do quarto, fechando e trancando
a porta atrás de si. As trancas sempre estiveram do lado de fora, nunca
do lado de dentro.
No segundo em que ele sai, eu urinei. Está frio aqui, talvez isso me
mantenha aquecida durante a noite.
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Em que diabos eu me meti?
— Não quero ouvir nenhum comentário seu, ok? – eu exijo, olhando
para ele do meu lugar no chão.
Pareço absolutamente patética, eu sei disso. Mas isso não me
impede de fazer minhas exigências.
Mako olha para mim com uma infinidade de emoções em seus
olhos. A tristeza e a descrença estão presentes. Mas a emoção mais
dominante é a fúria desenfreada.
Eu e você, amigo.
— O que ele fez? – ele pergunta através de uma raiva mal contida.
Seus punhos estão cerrados com tanta força que as juntas dos dedos
estão esbranquiçadas.
— Nada, você pode apenas me ajudar, por favor? – eu desconverso,
não querendo falar sobre o quanto idiota meu namorado é. É embaraçoso
e não quero ouvi-lo dizer eu avisei. Depois de um momento, ele lembra
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Cada vez que seu nome aparece na tela, eu quero quebrá-la. Acabei
de receber este novo celular também, considerando que Billy quebrou o
outro. Durante toda a semana, eu enfrentei dificuldades. Eu iria de
furiosa para sentir falta dele e chorar por causa do que ele fez para mim.
Meus dedos pairavam sobre o teclado, desesperados para responder a
ele. Desesperados para implorar para que ele não se mate. Mas não
consegui fazer isso. Nem mesmo quando ele ameaçou vir me procurar.
Isso foi há dois dias, e ele ainda não me encontrou. Presumo que o
último lugar que ele esperava que eu estivesse era no seu irmão. Ryan
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que dizer isso? Olha, sinto muito, River. Sinto tanto a sua falta e estou
tão envergonhado da maneira como agi. Você está ferida e não era o
momento certo.
Eu sorrio, embora não com humor. — Quando é a hora certa?
Ele hesita em suas palavras. — O que você quer dizer?
— Você disse que não era a hora certa. Então, diga-me Ryan,
quando é a hora certa de bater na sua namorada?
— Não existe hora certa, não foi isso que eu quis dizer. – ele se
descontrola, ficando na defensiva. Ah, então ele não gosta de ser
criticado por me bater? E eu pensei que fugi dos meus problemas.
— Então o que você quis dizer?
— Quis dizer, que eu deveria ter lidado melhor com isso. Mas,
River, fiquei com raiva por você ter se colocado nessa situação. Eu disse
para você parar de ir lá. É perigoso e é isso que acontece. Você pode me
culpar por ficar irritado por você continuar entrando em uma casa
perigosa todos os meses? Onde você foi estuprada e abusada? Isso
estava prestes a acontecer. E você mentiu para mim, e ainda está
mentindo sobre quem te machucou. Você os está protegendo.
— Não estou protegendo eles. – eu me descontrolo. — Estou
protegendo todos os outros. Você está certo, há pessoas perigosas em
Shallow Hill. E meus fantasmas me alcançaram, mas não vou deixá-los
assombrar a vida de ninguém.
— Meu pai é advogado, eu sou advogado. Eu poderia colocá-los na
prisão. – ele argumenta.
Balanço a cabeça, com a frustração borbulhando dentro de mim. Ele
não entende. Ele nunca vai entender. Ele é um garoto privilegiado que
cresceu com pais amorosos em uma linda casa. Ele sempre conseguiu o
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que queria.
Mas ele não vai conseguir o que quer desta vez.
— Sinto muito. – ele diz, com sua voz à beira do desespero. — Eu
simplesmente te amo pra caralho, River. Mais do que qualquer pessoa
com quem já estive. Eu nunca me senti assim por nenhuma delas, então
isso é... isso é novo para mim, ok? Estou com tanto medo de perder
você. E naquela noite... foi como ver meu pior pesadelo ganhar vida. Eu
surtei. Eu te tratei horrivelmente. Estraguei tudo e sinto muito por isso.
Sua voz falha no final de sua frase, junto com a minha determinação.
Meus ombros relaxam. Por que dói tanto ouvi-lo sofrer? Não dói
nele quando sofro. Eu agarro meu cabelo e puxo, tão frustrada com o
efeito que Ryan tem sobre mim. É como uma correnteza - toda vez que
penso que vou me puxar para fora e me libertar, ele está ali para me
puxar de volta para baixo. Afogando-me e me sufocando. É tão
exaustivo lutar contra ele. Só quero voltar para onde estávamos antes de
ir para Shallow Hill. Estávamos tão felizes, e Deus, eu quero isso de
volta.
— River, podemos apenas... você pode, por favor, voltar para casa
para que possamos conversar?
Eu sinto que estou começando a ceder. Ele me bateu. Ele me
machucou. Ele me abandonou. Ele fez tantas coisas ruins comigo. Mas
penso na imagem dele apontando uma arma para a cabeça, o brilho
enlouquecido em seus olhos. Ele está sofrendo também. E talvez desta
vez, ele esteja realmente arrependido. Na verdade, nunca o deixei antes.
Talvez dessa vez ele tenha me levado a sério e mude.
— Por favor? – ele implora quando eu ainda não respondo. — Eu só
quero falar contigo. Ver como você está e se está bem. Eu prometo que
vamos apenas conversar. Eu nem vou tocar em você se você não quiser.
Eu suspiro. Temos muito o que conversar. Coloquei mais esforço
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com raiva de olhar para você, River. Por causa do que aquele filho da
puta fez com você. Eu quero matar ele.
E aparentemente eu também. Eu mantenho essa parte para mim, no
entanto.
— Por favor, venha se sentar. – Eu olho para o sofá. Memórias de
deitar indefesa no sofá em uma poça de xixi me atingem. Memórias de
choro e gritos por sua ajuda, enquanto ele gritava comigo e me dava um
tapa na cara.
Talvez isso tenha sido uma má ideia.
Eu dou um passo para trás.
— Você não vai embora. – ele diz. As palavras enviam uma
sensação de medo através de mim, como um expresso direto em minhas
veias. Quando meus olhos desviam de volta para ele, sua máscara
preocupada caiu e uma mais sombria a substituiu.
— Eu... eu não ia. – digo. Odeio o quanto fraca eu soei. Eu levanto
meu celular, com meus dedos se movendo em direção ao botão SOS. O
celular é arrancado da minha mão e jogado pela casa em questão de
segundos. Eu me encolho com o estrondo e o som de vidro quebrando.
Ótimo, lá vai outro.
— Você não precisa disso. Só quero te ajudar, River. Você nunca
me deixa ajudá-la.
Seu tom suave contrasta fortemente com a ação agressiva. É
honestamente aterrorizante. Mantenho a boca fechada para conter as
palavras, tentada a lembrá-lo de que estamos nessa situação por causa da
última vez que pedi ajuda.
Sutilmente, eu olho ao redor da casa. Eu conheço esta casa como a
palma da minha mão agora. Eu sei onde estão todas as saídas.
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O sorriso que ele retribui só pode ser chamado de mal. Assim como
ele.
Ainda bem que eu também posso ser.
O toque estridente do meu celular me assusta. Deixo cair a caneca
de café que estou lavando e ela se estilhaça na pia. Ryan gostou daquela
caneca. A ansiedade corre através de mim enquanto tento descobrir
como vou explicar como quebrou. Talvez ele não perceba.
Estúpida.
Ele usa esta caneca todos os dias.
Minhas mãos tremem enquanto as enxugo em um pano de prato
rapidamente e atendo o celular sem olhar quem é. — Alô?
Estúpida, estúpida, estúpida.
— Onde você está?
Eu fecho meus olhos e solto um suspiro alto. Faz apenas dois dias
desde que voltei para Ryan. Mako me ligou nos dois dias e tem sido um
inferno tentar esconder isso de Ryan. Eu também matei aula para que ele
não pudesse me encontrar lá. Estou me escondendo de Mako e ele sabe
disso. Ele sabe exatamente onde estou.
— Você não pode simplesmente me ligar, Mako.
Ainda bem que nunca salvei o número de telefone dele no meu
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ligações nos últimos dois dias. Achou que eu não ficaria preocupado?
— Sim, realmente. Eu achei. Fique tranquilo, estou bem.
Ele suspira. Ignoro enquanto corro para o banheiro para encontrar a
água oxigenada e um band-aid. Despejo água oxigenada e inspeciono a
ferida. É bem superficial, mas profundo o suficiente para causar uma
cicatriz. Agora definitivamente não poderei esconder meu erro de Ryan.
Lavo o sangue e enrolo um band-aid em volta dele com força.
— Você não parece bem. – eu faço uma pausa, observando o resto
do meu sangue escorrer pelo ralo.
— Eu estava bem até você ligar. – Verdade.
Ryan voltou ao que era antes. Amoroso. Doce. Atencioso. E meu
medo dele está diminuindo provisoriamente. Ele não mostrou seu lado
sombrio para mim desde o dia em que cheguei em casa, e é a ponto de
me questionar, pensando que talvez eu apenas tenha exagerado. É difícil
imaginar na minha cabeça quando ele está sendo tão amoroso agora.
Ele me comprou mais um celular novo, demitiu a secretária com
quem me traiu e trouxe champanhe para casa para comemorar. Eu quase
bebi a garrafa inteira e o deixei me foder na bunda naquela noite, apesar
do meu corpo machucado e quebrado. Encobri minhas lágrimas de
vergonha com a sinfonia de seu ronco.
Independentemente disso, estamos voltando a ser felizes novamente.
Ou algo assim. Ainda estou me recuperando e ele cuidou bem de mim
até agora. Ele deixou claro que, desde que eu seja uma boa menina e não
estrague tudo, ele continuará cuidando bem de mim. Ele prometeu.
— Só estou preocupado com você, River. – ele diz em voz baixa.
Sua voz grossa ressoa através de mim.
— Bem, faça um favor a nós dois e pare. – eu desligo e
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A mão de Ryan aperta meu cabelo, apertando cada vez mais até
que os fios começam a se soltar. Pequenas alfinetadas pontiagudas
surgem em todo o meu couro cabeludo. Mordo meu lábio para segurar o
gemido.
De repente, ele me solta, deixando minha cabeça girando e meu
estômago embrulhado. — Parece bom, baby. Avise-me quando chegar.
Ele se afasta sem olhar para trás, com o seu corpo se movendo
languidamente para fora da cozinha como se estivesse dando um passeio
à meia-noite na praia.
Outra lágrima escorre. Eu enxugo rapidamente e pego meu celular.
Estou pedindo pauzinhos de canela agora também.
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— Quer me explicar como seu cabelo acabou enrolado no dedo de
Greg Barber? – pergunto, com os meus dedos entrelaçados firmemente
enquanto me inclino para a mulher sentada diante de mim. 'Mulher' é
uma palavra generosa, considerando que ela parece um fantasma meio
morto.
— Quem? – ela resmunga, dando-me um olhar feio.
— Froggy. – digo. O reconhecimento surge em seus olhos castanhos
opacos. É triste dizer que há apenas uma fina camada de vida que separa
os olhos dela dos de Greg.
— Meu cabelo está enrolado... ele está morto? – ela leva três
segundos para concluir por que estou perguntando. Pego as fotos da cena
do crime e coloco na frente dela como resposta. Seus olhos se arregalam
e o horror toma conta de seu rosto. Lentamente, sua mão trêmula pega a
foto que mostra o peito de Greg com a palavra 'Ghost' esculpida nele. A
foto treme em seus dedos pálidos, enquanto a outra mão cobre a boca
aberta. Tinta vermelha colore as suas unhas, quase totalmente lascadas.
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— Fitzgerald!
Eu viro minha cabeça do meu computador para ver Amar vindo em
minha direção, com seu rosto impassível.
— Sim?
— Um homem está aqui. Alega que testemunhou o assassinato de
Greg Barber.
Eu me levanto tão rápido que a cadeira em que estava sentado quase
cai no chão. Ignorando isso, Amar me leva ao que poderia ser nossa
maior pista até agora. Se este homem testemunhou o assassinato de
Greg, há uma boa chance de que ele consiga identificar o Ghost Killer.
A testemunha está de pé com as mãos enfiadas nos bolsos e um
olhar ansioso em seu rosto envelhecido. O cara parece que passou por
uma ou duas guerras. Roupas esfarrapadas e sujas cheias de buracos e
fedor de mijo velho e água de esgoto.
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encapuzado disse algo que não consegui ouvir, levantou a arma e atirou
na cabeça do jovem. Eu corri depois disso, antes que eles pudessem me
localizar.
Suas mãos trêmulas percorrem a sua cabeça nervosamente, muito
parecido com meu próprio tique quando estou frustrado. Seu corpo e
braços estão em constante movimento, e várias vezes ele levanta a bunda
da cadeira como se estivesse se levantando, mas depois apenas se senta
nervosamente. É fisicamente impossível para este homem ficar parado.
— Por que você esperou tanto tempo para relatar isso, Sr. Davis?
Ele zomba, com uma gota de suor escorrendo pelo lado de sua
cabeça. Se ele não estivesse usando uma jaqueta leve, aposto que veria
manchas em sua camiseta. — Porque eu estava apavorado, cara. Corri de
volta para minha casa e basicamente esperei que alguém viesse me
encontrar e me matar em seguida. Eu estava tão paranoico; Não saí de
casa até agora. Achei que se eles estivessem vindo atrás de mim, eles já
teriam me eliminado. Então, vim direto para cá.
Reflito sobre a história dele por um segundo. Isso é consistente com
o local onde nós encontramos o corpo de Greg e também como foi
assassinado. Se a testemunha viu o corpo de Greg no chão e
ensanguentado, ele deve tê-los visto logo após o Ghost Killer esculpir a
palavra no peito de Greg.
— Pode me dizer alguma coisa sobre qualquer um dos homens?
Características, o que eles estavam vestindo, tatuagens, qualquer coisa
do tipo?
Ele passa as costas da mão na testa, escorrendo suor no processo. —
Hum... Hum, sim. O único cara segurando a... a vítima era careca com
algum tipo de tatuagem na parte de trás da cabeça. – ele hesita, com as
mãos tremendo. — Eu estava muito longe para ver exatamente o que
era, mas parecia algum tipo de pássaro.
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anos preso por roubo e assassinato em segundo grau. Saiu antes por
bom comportamento.
Cindy também nos disse que o ponto de encontro favorito de Brian
era o bar no centro de Shallow Hill. É um lugar decadente com
prostitutas na rua, prontas para atender, e pelo menos quatro negócios de
drogas em um raio de um quarteirão acontecendo a qualquer momento.
Amar e eu estacionamos na rua em frente ao bar, em um
Oldsmobile4 que cheira a fumaça de cigarro rançoso. Pegamos o carro
emprestado de um amigo de Amar, considerando que qualquer coisa
mais nova do que um carro de 2005 seria identificado como suspeito.
Você não dirige bons carros nesta cidade, a menos que seja um visitante
ou seja o dono da cidade. A última coisa de que precisamos é que
alguém perceba que somos visitantes.
Um lampejo de metal rangendo contra metal, uma chama brilhante e
então uma explosão de fumaça saindo de um cigarro aceso. — Você
realmente tem que fazer isso agora? – eu reclamo, olhando para Amar
com o cigarro pendurado na boca.
Ele encolhe os ombros. — Achei que você teria aceitado o fato de
que vai para casa cheirando a fumaça.
— Pelo que sei, você é o único que vai para casa para alguém que
odeia. – eu resmungo, pressionando o controle para abaixar sua janela.
Deixo-a aberta e observo toda a fumaça começar a sair.
— Ela não se importa muito quando estou vigiando um suspeito. Eu
fico estressado. – ele diz suavemente antes de tragar outra vez.
Minha resposta é interrompida por uma comoção no bar do outro
lado da rua. Nosso suspeito está sendo empurrado para fora do bar por
outro homem, o último gritando na cara do primeiro como se fosse
surdo. Uma briga começa, com os dois se socando como se estivessem
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na escola primária.
Eu gemo, com minha mão indo em direção à maçaneta para apartar
a maldita briga. Antes que eu possa segurar a maçaneta, o homem que
amargo.
— Ele está bem ao nosso alcance, eu posso sentir. – diz Amar,
enfiando as mãos nos bolsos e olhando para longe.
— Eu também. Eu só gostaria de saber o quanto perto.
A luz brilhante da tela da televisão é a única fonte de luz na casa
escura. Dormência tem um ruído. Quase como um barulhinho, mas mais
alto. Parece um zumbido, uma colmeia de abelhas fervilhando na minha
cabeça até que todo o resto seja abafado, exceto o caos dentro de mim.
Meus olhos estão vazios, olhando para o nada, incapazes de
processar o filme passando na minha frente. Não tenho ideia de quanto
tempo estou parada na frente da tela, destruindo ativamente meus olhos
enquanto tento abrir caminho para sair da névoa. Alguém poderia estar
totalmente nu e fazendo polichinelos na minha cara, e eu não notaria.
Não quando tudo o que posso sentir, ouvir e ver é dormência total.
Está até na minha língua, deslizando pela minha garganta e entrando nas
minhas entranhas, envolvendo cada órgão até parecer que sou apenas um
saco de cadáver oco, sem nada dentro de mim além do vazio.
Eu preciso... não sei do que preciso. Eu preciso de algo.
Talvez sair desta casa. A opressão é uma coisa viva e pulsante
quando só tenho permissão para sair para a aula. Faculdade e direto para
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entristece. Ele não parece tão feliz comigo no que parecem anos. Não
desde o primeiro ano de nosso relacionamento, quando quase nunca
brigávamos.
Não importa, pelo menos peguei Ryan de bom humor.
— Querido? – eu chamo enquanto bato gentilmente na porta um
momento antes de abri-la. Ele olha para cima de seu computador com
aborrecimento, com nenhum traço de seu bom humor em qualquer lugar
de seu rosto. Achei que ele ainda estaria feliz, mas o trabalho ainda deve
estar estressando-o mais do que eu pensava. Aparentemente, ele tem
lidado com um cliente difícil nos últimos dias. Ele não fala sobre
trabalho comigo, mas eu o ouvi reclamando com alguém no telefone que
ele ficou preso com um viciado que não consegue calar a boca.
Seu pai o faz aceitar um caso gratuito por ano, e ele não está muito
feliz em trabalhar com um viciado em drogas. Ryan despreza qualquer
um que usa drogas.
— O que eu disse sobre me interromper? – ele exige bruscamente.
A ansiedade toma conta de mim, interrompendo o bréu por tempo
suficiente para me fazer questionar por que estou aqui. Aperto a
maçaneta em minha mão com mais força para cessar qualquer tremor,
com o metal em minha mão ficando escorregadio de suor.
— Sinto muito. – eu me apresso para me desculpar. — Eu só queria
que você soubesse que eu iria me encontrar com Amelia.
Eu nem sei se Amelia está disponível. Não importa. Se ela não
estiver, passarei a noite em meu espaço seguro.
Ele se recosta na cadeira e observa meu corpo. Meus olhos também
abaixam, tentando ver o que ele vê. Uma camiseta folgada com minha
universidade exibida na parte superior com o mascote do nosso time - e
tenho certeza de que é uma mancha de ketchup - até minha calça de
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moletom larga. Não é meu estilo habitual, mas achei que seria uma
briga a menos entre Ryan e eu. Amelia não se importa com o que eu
visto, quem se importa se ela não ficar impressionada?
Ryan levanta uma sobrancelha para a minha roupa.
— Você sairia assim? – ele diz com desdém, olhando para mim
como se eu fosse um bife cozido demais em seu prato. Ryan gosta de
sua carne sangrando.
Eu me mexo. — Sim? Eu só iria passar um tempo na casa dela. Não
faremos nada de especial. – eu espero que sele o acordo. Uma noite
tranquila com minha amiga. Sem clubes, bares ou qualquer lugar público
realmente. Nem Walmart.
Ele zomba, cruzando os braços sobre o peito e virando um olhar feio
na minha direção. — Você iria sair com ela e David. Outro homem.
Minha sobrancelha abaixa em confusão. — David é o marido dela.
Por que isso importa?
— Por que isso importa? – ele repete condescendentemente. —
Porque você estaria saindo com outro homem sem mim por perto. Por
que precisa ser explicado como isso é desrespeitoso comigo?
Minha mão desliza da maçaneta e agarra a barra da camiseta. Eu
olho para baixo e para longe de seus olhos. Como uma covarde. A parte
inferior da minha camiseta desliza entre meus dedos enquanto tento
formular uma resposta que não o aborreça ainda mais.
— Não. Só pensei que você confiasse em mim.
Um sorriso sarcástico surge em seu rosto. O azul em seus olhos
quase desapareceu, em vez disso há uma cor tão turva e escura que mal
reconheço mais o homem à minha frente. Acho que não o reconheço há
muito tempo. Ou talvez ele esteja finalmente tirando a máscara e
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revelando quem ele realmente é. Quem ele tem escondido esse tempo
todo.
Já se passaram seis semanas desde que voltei para casa para Ryan. E
seis semanas desde que ouvi ou falei com o Mako. Parece que ele
finalmente desistiu de mim, e isso me deprime tanto quanto me alivia. É
uma coisa a menos com que tenho que me preocupar agora. Mas eu sinto
falta dele.
— Você não vai. – ele diz depois de uma pausa.
Quando diabos eu pedi?
As palavras quase escapam, mas mantenho o comentário preso atrás
de meus dentes cerrados, pesado em minha língua. Se escapar, ele pode
tentar cortá-la.
Depois de um momento controlando meu temperamento explosivo,
pergunto: — O que você quer dizer?
— Amelia é uma má influência para você. Não confio nela. – diz.
A camiseta passa por entre meus dedos de forma mais agressiva
enquanto muitas emoções para nomear surgem dentro de mim. Acho que
não precisava me preocupar em me sentir entorpecida quando Ryan é
um mestre mágico em trazer emoções para fora de mim. A raiva é mais
proeminente, mas logo atrás dela está o pânico. Amelia é a última pessoa
que posso perder. Ela esteve comigo em tudo - desde que escapei de
Shallow Hill e comecei a traçar meu próprio caminho na vida. Amelia
tem sido a mão que me guia durante alguns dos anos mais assustadores
da minha vida. Se alguém é a má influência, sou eu.
— Não, ela não é. – eu nego fracamente. Ele resmunga do fundo do
peito, olhando para mim com olhos diabólicos. Estou a três metros dele,
mas ainda sinto a necessidade de me afastar. Eu odeio que ele tenha esse
efeito sobre mim.
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— Você pode não discutir comigo pelo menos uma vez? Quando
vai perceber que estou apenas tentando fazer o que é melhor para você?
— Você está tomando uma decisão por mim. – eu argumento. —
Você nem conhece Amelia.
— Eu a conheço bem o suficiente para saber que ela é uma vadia
louca por garotos. Ela não se esforça para me incluir em nada, o que só
me diz que ela não me quer por perto. E a única razão pela qual ela não
me quer por perto é para poder influenciar você.
Minha boca cai aberta. Amelia já tentou convidar Ryan para muitas
coisas antes, mas sempre ignorei. Eu realmente não sei por quê. Nas
poucas vezes em que Ryan e Amelia ficavam juntos, David era
superdoce e sensível, enquanto Ryan sentava-se rigidamente ao meu
lado e desprezava tudo o que eles faziam. É honestamente embaraçoso.
Mas agora, suponho que Amelia não iria querer Ryan por perto, não
depois da maneira como ele me tratou. Amelia guarda mais rancor do
que qualquer pessoa que já conheci. Ela nunca mais aceitará Ryan, e
esse pensamento me deixa incrivelmente triste. Inevitavelmente, isso
colocará uma barreira entre nós. Ryan é meu futuro, não sei como vou
manter uma amizade com ela quando eles se odeiam.
— E nós nos esquecemos do seu pequeno acesso de raiva? Quando
você me deixou por uma semana e Amelia se recusou a me deixar vê-la?
Não tenho respeito por alguém assim.
Quer dizer quando você me deixou em uma poça de mijo e depois
fodeu sua secretária? Aquele acesso de raiva?
Ele continua, fazendo-me sentir cada vez menor. — Eu deixo você
morar aqui sem pagar aluguel. Você não paga nada e eu lhe dou tudo o
que pede. O mínimo que você pode fazer é reconhecer o fato de que tudo
que já fiz foi cuidar de você. Isso é o que estou fazendo agora. Eu só
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Amelia me liga vários dias depois. Ryan está bebendo com os seus
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ver e não parecesse suspeito para Ryan por que de repente estou saindo
com alguém que nunca sai antes.
— Não sei, Amelia. Eu teria que perguntar a Ryan. – digo antes de
prender meu lábio inferior entre os dentes e mordê-lo em carne viva.
Ela fica em silêncio por um momento. — Ele está em casa? Ele
pode vir. – ela sugere docemente, o que só serve para me fazer sentir
pior. Aqui está ela, fazendo um esforço para convidar alguém que
provavelmente detesta. Não perguntei como ela se sente em relação a
Ryan agora, e acho que não vou perguntar. Não estou pronta para ouvi-
la dizer o quanto ela acha que ele é ruim para mim.
— Ele saiu com alguns amigos. – admito.
— Então tenho certeza que ele não se importaria de você sair com
sua melhor amiga do mundo, certo?
Minha boca se abre, prestes a falar a verdade e dizer a ela que não
posso mais vê-la. As palavras param, mas também a minha desculpa que
se segue. Ryan está fazendo sabe-se lá o quê com quem sabe com que
pessoas, e eu tenho que ficar em casa e fazer... nada?
Olho para Bilby descansando em seu lugar atrás de mim, cochilando
confortavelmente. Como se sentisse meu olhar, ele abre seus olhos
dourados - olhos que me atraíram para ele para começar porque eles se
parecem exatamente com os meus - e mia baixinho para mim, como se
ele estivesse me dizendo uma palavra.
Vá.
— Eu só poderia ficar por algumas horas. – eu me resguardo. Vou
passar lá e voltar antes que Ryan chegue em casa.
Ele me disse para não esperar por ele antes de me dar um beijo de
despedida. Da última vez que ele saiu com os amigos, só voltou para
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casa às duas da manhã. São apenas sete horas agora. Estar em casa às
dez ou onze me daria bastante tempo para me deitar de pijama e agir
como se nada tivesse acontecido.
— O... ok, bem, o jantar estará pronto em quinze minutos. – ela
responde, vacilando em suas palavras como se estivesse confusa. Acho
que nunca me dei um toque de recolher antes.
— Ok, estou a caminho.
Desligo e corro escada acima para vestir uma legging e uma
camiseta universitária de manga comprida. Nada muito chamativo e
revelador. Está 30 graus lá fora agora, mas as palavras de Ryan estão
presas na minha cabeça.
Você se veste como uma prostituta para que os homens olhem para
você.
Escovar meu cabelo e colocar uma maquiagem leve leva dois
minutos antes de eu sair pela porta e dirigir.
Minhas mãos tremem e a adrenalina corre em minhas veias. Estou
saindo furtivamente de casa para ver minha melhor amiga. Minha
melhor amiga que nunca fez mal a ninguém em toda a sua vida. Alguém
que não merece ser banida por mim como se fosse uma vagabunda
desviante, quando a única que age assim sou eu.
Eu franzo a testa. Não é de admirar que Ryan fique bravo comigo.
Estou sempre mentindo e me escondendo dele. Ele não confia em mim,
e ainda não estou dando a ele um motivo para isso. Ainda assim, não
viro o carro.
Embora desobedecer às exigências de Ryan envie doses altamente
tóxicas de ansiedade em minhas veias, não vou perder tempo com minha
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minha coxa.
— Fizemos sexo? – pergunto, embora a resposta esteja atualmente
me dando um tapa na cara. Eu deveria ter perguntado, você me
estuprou?
A mandíbula de Ryan contrai. — Você quer dizer que não se lembra
de mim transando com você?
Odeio quando ele responde a minha pergunta com outra pergunta.
Olho para a garrafa de água com a substância suspeita seca dentro
dela. Ele nota minha expressão. Um sorriso sinistro aparece em seu rosto
frio. Não há outra emoção na ação além de diversão amarga.
— Não preciso drogar minha namorada para dormir com ela. – ele
diz com amargura, adivinhando minha linha de raciocínio.
Mas você drogou, doce Ryan.
— É Alka Seltzer. Tive uma forte dor de cabeça ontem à noite por
causa da bebida. – ele explica secamente. A vontade de pegar a garrafa e
cheirá-la é avassaladora, mas isso só pioraria a situação. Ele já está
irritado com alguma coisa. Algo que não tem nada a ver com meu corpo
devastado ou com a porra de uma garrafa de água.
Quando apenas o encaro, ele finalmente caminha em minha direção
até ficar parado ao pé da cama. A posição me deixa vulnerável. Eu me
sinto em desvantagem. Nua, confusa e... dolorida. Muito dolorida.
Se não fosse pelo dragão cuspidor de fogo olhando para mim, eu
procuraria por hematomas.
Calmamente, pergunto: — Há algo errado?
— Onde você esteve ontem à noite?
Meu coração parece uma pedra caindo em um poço. Ele cai tanto
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que temo tê-lo perdido em algum lugar na boca ácida do meu estômago.
No entanto, posso senti-lo bombeando em um ritmo alarmante, com a
adrenalina correndo em minha corrente sanguínea.
— O que você quer dizer? – eu pergunto, com a minha voz
surpreendentemente equilibrada.
— Não se faça de idiota comigo, River. – ele resmunga. Ele aperta o
edredom com a mão e o arranca do meu corpo. Minhas tentativas de
segurar o cobertor são em vão. Instintivamente, cubro meu corpo nu,
curvando minhas pernas contra meu peito de forma protetora.
— Diga-me do que diabos está falando, Ryan. – eu exijo, forçando o
aço em minha espinha. Parece que acabei de esvaziar uma seringa cheia
de gelatina na espinha.
Como é que enfrentei homens grandes e assustadores desde o início
da minha existência, mas esse homem ainda consegue provocar o medo
em mim? Ele é muito menor do que muitos dos homens que enfrentei na
minha vida.
— Você foi à casa de Amelia ontem à noite. – ele diz, com seu peito
começando a arfar com raiva crescente.
Porra, como diabos ele sabe disso? A raiva soca meu peito. Demora
dois segundos para descobrir. O filho da puta me rastreou. Ele está
rastreando meu maldito celular para ver onde estou.
— Como você sabe disso, Ryan? – pergunto, com minha voz ainda
enganosamente calma. Não gosto que minha privacidade seja violada.
Recebi tão pouco dela durante toda a minha infância - ou melhor,
absolutamente nada dela. É preciosa para mim. Sagrada.
Ele sorri para mim, provavelmente notando minha raiva crescente.
O tremor começa nas pontas dos meus dedos, subindo pelos meus
membros e pelo resto do meu corpo como um raio viajando ao longo de
um poste de metal.
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Ele estava tão quebrado, soluçando até não conseguir respirar. Não
demorou muito para que eu estivesse chorando com ele. Ele jurou que
isso nunca mais aconteceria. Ele tirou o rastreador do meu celular bem
na frente dos meus olhos, me devolveu e prometeu melhorar. Ter meu
celular e minha privacidade de volta foi o que acabou com minha
determinação. Nunca vi Ryan tão chateado na minha vida, então sabia
que ele deveria estar realmente arrependido pelo que fez.
Os olhos de Mako escurecem em um verde musgo. Assim como seu
irmão. Tudo fica escuro quando eles ficam com raiva. É como se a
sombra maligna que habita dentro deles viesse à tona.
Ele acena com a cabeça lentamente, com uma mecha de cabelo
caindo em sua testa. Meus dedos latejam com o desejo de afastá-la de
volta. Curvando-se, ele pega o marcador. Então ele se aproxima de mim,
trazendo seu corpo alinhado com o meu. Com a respiração suspensa, não
ouso desviar o olhar de seus olhos, mesmo quando ele envolve o braço
atrás de mim e desliza a caneta no meu bolso de trás.
Calor me atinge, tão quente que o oxigênio em meus pulmões
evapora. Se é assim com camadas de tecido nos separando, como ele se
pareceria pressionado contra mim, pele contra pele?
Tenho vergonha do pensamento assim que ele passa pela minha
cabeça. Eu amo Ryan. Eu nem gosto de Mako.
Os dedos familiares de ansiedade envolvem meu peito. Sem pensar,
olho ao redor, convencida de que Ryan vai me ver de alguma forma. Só
porque ele desligou o rastreador do meu celular não significa que não
haja pessoas me observando. Sei que ele não confia em mim, não depois
que menti para ele sobre Amelia.
Eu claramente não mereço a confiança dele. Olhe para mim agora.
Agindo como uma vagabunda e pensando em seu irmão. Um irmão que
ele despreza.
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E eu.
Meu ar condicionado finalmente entra em ação assim que mais suor
surge em minha testa. Eu nunca pensei que teria que me preocupar com
Mako dizendo qualquer coisa para Ryan até agora. E se Ryan o irritar e
disser a Ryan que fiquei na casa dele por uma semana em retaliação? Se
eu ainda não soubesse que são as pessoas boas que morrem jovens,
apostaria dinheiro que Ryan teria um ataque cardíaco ali mesmo.
Ryan fica em silêncio por um momento. — Basta fazer o bolo de
carne e deixá-lo pronto às seis. Não o queime. Não se atrase. Apenas
faça algo certo pelo menos uma vez. Você consegue fazer isso? – ele
pergunta, com sua voz sombria e condescendente.
— Sim. – eu sussurro.
Ele desliga o celular sem mais comentários. Estamos brigando
novamente. Os cantos dos meus lábios contraem para baixo quando a
culpa me ataca. Eu odeio quando Ryan está irritado comigo.
Primeiro, olho seu irmão e permito que ele entre no meu espaço
pessoal. Então, reclamo por ele não ter me informado sobre esta noite
antes, em vez de perceber que Ryan está sobrecarregado de trabalho
agora.
Eu também ficaria com raiva de mim.
Meu pé pressiona o acelerador com mais força. Esta noite precisa
ser perfeita.
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Achei que ser forçado a comer uma comida que você não gosta iria
irritá-lo, mas a tensão que sai dele é potente e sufocante. Não entendo a
reação dele, mas adoraria descobrir. A curiosidade em mim queima para
saber por que o bolo de carne o deixaria tão zangado.
— Sim. – eu respondo. — É caseiro. – acrescento, como se isso
fosse torná-lo mais atraente.
Ele engole e pega o garfo. Silenciosamente, ele dá sua primeira
garfada. E depois outra. E outra. Ele dá várias garfadas antes de eu
perceber que Ryan e eu apenas o observamos com um fascínio mórbido.
Bem, eu estou, pelo menos. Ryan o observa com um sentido doentio de
satisfação.
Pela primeira vez, quero bater em Ryan pela maneira como ele está
tratando o irmão.
Esse sentimento me assusta. Eu amo Ryan. Eu deveria estar do lado
dele, não importa como.
Talvez ele se sinta assim porque Mako fez algo muito ruim para
Ryan quando eram crianças. Talvez tenha batido nele feio. O machucado
de alguma forma. Tem que haver uma boa razão, e eu preciso me
lembrar disso.
Eu como minha própria comida, orgulhosa de como está saborosa.
Esta é a única coisa boa que veio de ter uma infância de merda lutando
contra a fome e o desespero. Assim que tive meios para cozinhar,
mergulhei nisso. Eu cozinhei tanto; Tive que doar 98% para abrigos de
sem-teto porque havia muita comida.
Aperfeiçoei a culinária, e é algo pelo qual Ryan sempre me elogiou.
Algo de que sempre tive muito orgulho.
Olho para cima para ver Mako visivelmente forçar outra garfada.
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de que me lembro é de cair para trás, com a sensação sem fim de cair no
ar na boca do estômago. E então nada.
A dor aguda na minha cabeça me ataca primeiro. Então o zumbido
em meus ouvidos segue logo atrás. A dor é ofuscante. Apenas o
pensamento de abrir meus olhos parece cansativo e doloroso.
Pés se arrastam ao meu lado. Lentamente, as memórias começam a
voltar. O jantar com Mako. Como Ryan ficou bravo quando Mako me
contou sobre o Ghost Killer. E quando Mako saiu, como Ryan tinha me
agredido.
De novo.
Assim que a memória atinge, o mesmo acontece com a dor no meu
dedo. Meu mindinho acabou de sarar e agora outro dedo está quebrado.
No entanto, tive muitos ossos quebrados durante a minha infância. Se eu
quisesse, poderia acolher a dor como uma velha amiga. Às vezes,
abraçá-la é a única maneira de superar isso.
Ignorando a dor em meu dedo, volto minha atenção para a pessoa
que está andando. Estou em uma cama - nossa cama. E eu estou
completamente nua. O ar frio é registrado e imediatamente arrepios
percorrem pela minha pele como um maremoto.
Porra. Se Ryan notar, ele saberá que estou acordada. A pele de
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Ele não parece zangado. Acho que prefiro isso ao cálculo frio em seu
tom. Pelo menos quando ele está furioso, sei o que esperar. Este lado de
Ryan é imprevisível.
— Eu estou. – eu deixo escapar, com minha voz alterada e áspera.
Tento limpar a garganta, mas a desidratação arde demais e só piora as
coisas. — Posso beber um pouco de água? – pergunto baixinho,
propositalmente subjugando a minha voz para soar doce.
Ele gesticula com a cabeça para a mesa de cabeceira ao meu lado.
Eu olho ao meu lado e vejo uma garrafa meio cheia de água e um par de
Tylenol. Não gosto que a água tenha sido aberta, mas no momento não
me importo. Ele não iria me drogar agora, iria? Ele já me tem onde me
quer. Quando levanto minha mão para pegar a garrafa, vejo meu dedo
ainda quebrado. Está roxo e dobrado de forma não natural. A visão traz
de volta a sensação de dor. Por um único momento, eu tinha esquecido
disso. Agora, é tudo o que posso sentir.
Ignorando a dor, pego a garrafa com a mão boa e tomo alguns goles
de água primeiro, antes de forçar os dois comprimidos na minha
garganta. Meu único arrependimento é que eles não são algo mais forte.
Se eu tivesse que suportar isso do homem que amo, pelo menos me
deixe ficar tonta enquanto faço isso.
— Como você está se sentindo? – ele pergunta.
Quero ficar com raiva dele. Fazer a ele as perguntas clichês. Como
você pode? Por que você faria algo assim comigo. Eu pensei que você
me amava…
Mas não faço. Eu apenas o encaro, com os olhos cheios de mágoa e
raiva. Não estou nem com raiva do meu dedo no momento. Não, estou
com raiva da violação do meu corpo. Como um covarde, ele baixa os
olhos para o meu corpo. Ao que ele fez comigo enquanto eu estava
inconsciente por sua própria mão. Ele prometeu que não faria algo assim
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novamente.
Ele prometeu.
Quando seus olhos se erguem para os meus, eles estão vazios. Ele
encolhe os ombros e me dá um sorriso. — Você é minha namorada,
River. Eu possuo você. Eu posso te foder sempre que eu quiser.
— Você teve que fazer isso enquanto eu estava inconsciente?
Depois que você me deixou inconsciente? – eu desafio.
Outro encolher de ombros. — Por que não? Sua boceta estava
disponível e me excitou ao vê-la tão vulnerável a mim. Qual é o
problema? – ele pergunta, com sua voz ficando alterada. Ele age como
se eu não estivesse sendo razoável. Como se perguntar por que ele iria
me estuprar fosse uma pergunta absolutamente absurda.
Mordo meu lábio inferior. Não quero irritá-lo mais.
— Você teria dito não para mim? – ele pergunta, com sua voz
mudando para um tom mais suave. Ele parece um pouco magoado, e
isso me influência. — Sempre adorei que você seja tão acessível e
disposta a fazer qualquer coisa que me deixe feliz. Não pensei que fazer
sexo com minha namorada fosse tão doloroso para você.
Eu franzo a testa. Fazer sexo com seu parceiro não é doloroso, ele
está certo sobre isso. Mas isso não faz com que esteja tudo bem. É
estranho saber que alguém estava dentro de mim sem que eu soubesse.
Sentindo isso. Consentindo com isso. Isso não é a mesma coisa que um
namorado me despertando para o prazer do sexo - com isso eu sempre
ficaria bem. Não havia como acordar. Nenhuma oportunidade de dizer
sim ou não. Um sentimento sombrio cobre o interior do meu corpo.
Eu me sinto usada e suja. Eu me sinto... estranha dentro do meu
próprio corpo.
— Eu só... só queria ter experimentado isso com você. – eu sussurro
finalmente. Seu rosto suaviza.
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A apreciação se foi.
Eu tecnicamente não tenho que responder, mas a desculpa escapa
da minha boca de qualquer maneira.
— Eu quebrei na porta do carro. – É a primeira coisa que me veio à
mente. E quando suas sobrancelhas franzem, percebo que provavelmente
não era a desculpa certa.
— Sim. – ela diz, com suspeita em sua voz. — Normalmente, os
dedos não quebram quando são esmagados assim. E especialmente na
maneira como seu dedo foi quebrado.
— Já terminamos? – pergunto impaciente. Ela dá um passo para
trás, pressionando os lábios, aparentemente sentindo minha agitação
crescente.
— Se você não se sente segura...
— Eu me sinto bem. – eu surto, interrompendo-a. Eu não quero ir
por este caminho. A última coisa que preciso é de uma enfermeira
intrometida fazendo perguntas e tentando se intrometer na minha vida.
Estou feliz por não ter contado a ela sobre o ferimento na cabeça. Ryan
disse que não sangrei e que há um pequeno galo se formando na minha
nuca. O galo não está se formando dentro da minha cabeça, então não
estou preocupada. Mais do que provável, eu tenho uma leve concussão.
Eu já havia me curado da última concussão, cortesia de Billy.
Ryan já prometeu que me acordaria a cada duas horas como punição
por causar a concussão.
Em primeiro lugar, eu não teria que vir a este inferno proibido por
deus se eu fosse capaz de cuidar do meu dedo sozinha. Infelizmente,
estava muito dobrado para colocá-lo de volta no lugar. E considerando
que nenhum de nós tem experiência médica, é provável que só
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tivéssemos piorado.
Billy tinha experiência médica. Não há como ele ter adquirido seu
conhecimento médico à moda antiga, frequentando a faculdade. Tenho a
sensação de que Billy lidou com muitos ossos quebrados em sua vida e,
em vez de ir para o hospital, aprendeu a lidar com eles sozinho. Ele tinha
que ter alguém para ensiná-lo com certeza. Suas conexões vão longe e
com pessoas com muitas ocupações diferentes.
Policiais. Políticos. Empresários. Médicos. Até celebridades.
Felizmente, tive apenas pequenos ossos quebrados. Dedos, dedos
dos pés e meu nariz. Billy colocaria meus ossos de volta no lugar para
mim. Nunca tive a impressão de que ele fazia isso porque se importava,
mas porque ter uma prostituta imperfeita não venderia muito bem.
A enfermeira me dá instruções de como cuidar do dedo. Eu mal
ouço, muito ansiosa para dar o fora daqui. Ryan está do lado de fora da
porta, esperando por mim. Ele se recusou a me deixar vir sozinha, para o
caso de a enfermeira que me ajudou ser um homem. Disse que não gosta
quando outro homem me toca, mesmo que seja para cuidar de um dedo
que quebrou.
Eu só quero ir para casa. Eu odeio hospitais, e estou descobrindo um
novo ódio por essa enfermeira também.
— Posso ir agora? – pergunto, cortando-a no meio da frase. Ela me
dá um olhar desprezível e bufa.
— Sim. – ela diz brevemente.
Saio sem agradecer. As enfermeiras merecem agradecimentos, mas
ela vai ter que receber isso de outro paciente esta noite. Página 232
Estou seriamente tentado a apenas sequestrar a pequena moça.
Realmente pensei que ela tinha feito uma descoberta quando ela me
ligou naquela noite. Pior noite da porra da minha vida. Ao ouvir sua voz
baixa pelo receptor, impotente e com dor - eu quase enlouqueci.
Acho que perdi a cabeça.
E então ela desapareceu. Correndo de volta para a porra dos braços
dele. Tanto que eu queria dirigir até a casa dele e levá-la de volta. Mas
eu já vi isso antes. O vai e vem. A manipulação mental. Como ele as
machuca e depois as atrai de volta para seus braços.
Ele é um mestre da manipulação. Ele as convence de que é culpa
delas que ele bata nelas. Como ele faz isso, não faço ideia.
Sei que não consigo nem começar a entender o feitiço sob o qual
elas foram colocadas. Perguntei a Alison repetidamente como ela
continuava caindo na mesma velha merda. Houve tantas vezes no
começo em que ela se enfureceu comigo, gritando comigo que nunca
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Ghost Killer.
E posso apostar que o motivo do Ghost Killer é insubordinação. O
suspeito é um líder de gangue ou traficante. Alguém a quem essas
vítimas obedeciam. Aposto que ele estava no controle, como a maioria
dos líderes de gangues. E se as crianças são alguma coisa hoje em dia,
elas estão convencidas de que têm a vida toda planejada.
As vítimas mentiram, roubaram ou traíram o Ghost Killer de alguma
forma. Talvez algumas delas até o tenham desafiado, pensando que são
durões. Seja qual for o caso, elas agiram contra a pessoa errada e
pagaram o preço por isso.
— Diga-me a quem o DNA está vinculado no minuto em que você
descobrir. Vou vê-los, mesmo que estejam em outra porra de estado. –
digo a Redd.
Eu me afasto da cena, com Amar seguindo atrás de mim. Quieto
como de costume.
— O que você está pensando? – Amar pergunta depois de um
minuto me deixando sofrer em silêncio.
— Vou descobrir a qual gangue Sage pertencia, e então vamos
vigiar o ponto de encontro deles. Veja quem entra e quem sai.
Amar não discute. É uma vigilância perigosa, vagando pelas ruas
onde o crime acontece em plena luz do dia sem se importar com o
mundo. Mas esse é o ponto que eu mesmo alcancei. Não dou a mínima
se é perigoso, eu só quero pegar o assassino.
Quem quer que seja, é uma barata. Os crimes aumentaram 8% desde
que ele começou a matar seus fantasmas há um ano. As overdoses
aumentaram em 14%. Esses são números enormes dentro de um ano.
E deixar as vítimas em público para que as encontremos mostra sua
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trilhar. Mas isso não significa que elas não tiveram a chance de mudar
suas vidas. Isso não significa que elas não poderiam ter sido salvas.
O idiota está me provocando com elas, eu sei disso. Eu sinto isso
nos meus ossos.
— Você está levando para o lado pessoal. – Amar observa ao meu
lado. Em vez de responder, dou uma guinada com o carro para frente,
voltando para a delegacia. Eu tenho que descobrir com quem exatamente
Sage estava envolvido.
— Você está certo, eu estou. – eu admito.
— Talvez você devesse se retirar. – ele sugere baixinho.
Ranjo meus dentes. Apenas Amar se sentiria seguro o suficiente
para dizer merdas como essa para mim. Este caso parece pessoal porque
é pessoal.
— Nós dois sabemos que ele matou seu verdadeiro pai, Mako. Não
contei isso a mais ninguém, mas estou começando a questionar essa
decisão.
Piso no freio um pouco forte demais quando paro em um sinal
vermelho, fazendo o carro parar repentinamente. O carro atrás de mim
buzina, quase nos acertando na traseira com a minha manobra. Se eu
estivesse em um carro de polícia agora, o carro teria ficado silencioso.
Não sou um idiota que precisa mostrar meu distintivo para alguém,
então ignoro sua raiva.
— Merda, desculpe. – murmuro, passando a mão pelo meu cabelo
novamente. Estou tão cansada pra caralho.
Ficamos em silêncio enquanto digiro sua ameaça velada. Está vindo
de um bom lugar, eu sei disso. Mas não significa que não queira
estrangulá-lo por dizer isso. Eu não deveria estar neste caso com meu
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quando ela dá um grande passo para trás e olha para mim com os olhos
semicerrados. Parece que ela quer montar meu pau enquanto corta
minha garganta. Não tenho certeza de como me sentir sobre isso, mas
foda-se se eu não quero deixá-la fazer isso de qualquer maneira.
Ela estende as mãos para cima e as desce pelas curvas. Sua cabeça
inclina para trás, expondo sua garganta esbelta. Eu poderia facilmente
estender a mão e envolver minha mão em volta do pescoço dela. Eu
poderia apertar até que seu rosto fique rosa e ela esteja desesperada para
respirar. Seus olhos se dilatariam e ela imploraria por mais.
Um gemido escapa de sua boca e todo o meu corpo se transforma
em aço.
— Ryan! – ela arfa em outro gemido. Meus olhos se estreitam em
fendas finas enquanto a raiva sobe em meu peito. Suas mãos continuam
a explorar seu corpo enquanto gemidos suaves e melódicos vibram em
sua garganta. Um resmungo escapa da minha boca antes que eu possa
pará-lo.
— O que você está fazendo, River?
Sua cabeça cai para frente, com seus olhos âmbar escuro e cheio de
raiva e luxúria. Minha porra de combinação favorita.
— É isso que você quer, Mako? – ela provoca, com sua voz baixa e
ofegante. — Você quer tocar meu corpo, sentir como minha boceta está
molhada? – Um sorriso surge em seu rosto e os seus olhos reviram
novamente. — Ah, Ryan!
A pele ao redor dos meus dedos está ameaçando romper de tão forte
que estou cerrando os punhos. A vadia está zombando de mim. Estou a
três segundos de dizer foda-se e empurrá-la contra uma dessas
prateleiras e ensinar-lhe aquela lição.
— Continue assim, River. Você não será capaz de gemer o nome
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errado quando sua boca estiver cheia do meu pau. – eu ameaço com um
resmungo baixo.
Suas mãos caem de seu corpo e a alegria curva seus lábios. De sexy
a fria em questão de segundos.
— Você nunca vai me ter, Mako. Você nunca mais vai encostar um
dedo em mim.
— Está disposta a me prometer isso? Porque vou fazer de você uma
mentirosa, garotinha. – eu desafio, com a minha sobrancelha levantada
sarcasticamente. Eu entro em seu espaço, pressionando nossos peitos
juntos. — Acho que nós dois sabemos que Ryan não te satisfaz do jeito
que você precisa ser.
Com que rapidez meu plano de mocinho saiu pela janela, é
realmente comicamente patético. Essa garota traz à tona algo em mim
que ninguém mais pode. Não quero desejá-la, mas acho que nunca tive
escolha. Ela não deveria estar comigo, mas acho que preciso que ela
esteja.
A escuridão que tentei tanto controlar vem à tona. River sabe como
me irritar. Especialmente quando sua cabeça cai para trás mais uma vez,
seus olhos reviram e ela solta um longo gemido.
— Ahhh, Ryan. – ela geme, dramática, mas ainda muito sexy. Sem
pensar, minha mão estende e faz exatamente o que venho fantasiando
desde que ela começou essa merda. Aperto sua garganta, vendo-a
vermelha enquanto ela geme a porra do nome errado. Quando eu
terminar com ela, ela estará implorando para que eu a machuque.
— Tente de novo. – eu resmungo. Minha mão mal está apertando.
Meu aperto é firme o suficiente para fazê-la parar, mas nem de longe o
quanto forte eu realmente quero apertar. O suficiente para fazer seu rosto
ficar rosado e suas pernas tremerem de desejo. O rosto de River fica
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— Oi, baby. – Ryan diz atrás de mim, beijando o topo da minha
cabeça. Estou sentada à minha mesa, fazendo um trabalho para minha
aula de Saúde Publica.
— Oi. – eu respondo distraidamente. Tenho investido em escrever
este trabalho estúpido nas últimas horas, e estou quase terminando.
Meus ombros doem, minha cabeça lateja e tudo que quero é uma garrafa
inteira de vinho na frente.
Um suspiro é arrancado da minha garganta quando minha cabeça
vai para trás. Meu rabo de cavalo está enrolado na mão de Ryan
enquanto ele puxa minha cabeça para trás o máximo que pode. O rosto
inexpressivo de Ryan está acima de mim, olhando para mim com frio
desapego.
— Cheguei em casa de bom humor, pronto para ser mimado pela
minha linda namorada. Em vez disso, tudo o que recebo é um oi. Isso é
jeito de tratar seu namorado?
— Sinto muito. – digo apressadamente, com a minha voz tensa. Seu
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Tudo o que fez comigo, tudo o que o perdoei não é mais perdoável.
Não a surra, a habilidade mental, viver com medo e ansiedade. Tudo
isso. Não mais.
dar prazer a outra mulher. Ele o enfiou no corpo de outra mulher hoje.
A boca dele tem beijado os lábios dela e sussurrado doces mentiras em
seu ouvido. Com as suas mãos deslizando por sua pele, provavelmente
causando arrepios enquanto ele a fode. Ele provavelmente a olhou bem
nos olhos e a fez acreditar que ele realmente a quer.
Na realidade, tudo o que ele realmente quer sou eu. E ele odeia isso.
Ele odeia me querer tanto. Ele odeia ser tão viciado em mim que sente a
necessidade de me moldar em uma bolinha em suas mãos como massa
de vidraceiro. Ele aperta com muita força e, como massa de vidraceiro,
escorro pelas fendas de seus dedos, separando-me lentamente até
escorrer para o chão.
Ele não pode me conter. E quanto mais ele tenta, mais ele falha.
Meus olhos se levantam ao mesmo tempo em que a sua cabeça
abaixa, aqueles olhos azuis feios e opacos encontram os meus. Meu
mundo está finalmente mudando do jeito que precisa ser. Não sei por
que ele precisou me trair para eu acordar. Não sei por que o abuso físico
e o estupro não foram o catalisador. Talvez porque eu pensei que a dor é
superficial. Eu posso me recuperar. Mas a traição é profunda. É uma dor
que marca como lobos acasalando e durará para sempre. Sabendo que eu
não era boa o suficiente para mantê-lo querendo apenas a mim. Sabendo
que toda vez que ele sai da minha cama, ele está entrando nas pernas de
outra mulher.
E isso simplesmente não vai funcionar.
— Magoou. Mas eu te perdoo. – ele diz simplesmente, antes de se
virar para pegar a bucha.
Eu nunca pedi perdão.
Eu a pego dele, esguicho um pouco desse sabonete líquido nela e
começo a esfregá-lo. Eu o adoro, assim como ele queria. Eu me agacho e
ensaboo suas pernas enquanto a água espirra diretamente no meu rosto.
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— Você precisa que eu vá buscá-la? – A voz aveludada diz como
uma saudação pelo alto-falante do meu celular. Fecho meus olhos, com
a tentação tomando conta.
Diga sim, River. Diga sim.
— Não. – eu suspiro. Meu lábio encontra-se entre meus dentes
enquanto me preparo para o que estou prestes a pedir a ele. — Preciso
que você leve Bilby.
Mako fica em silêncio do outro lado da linha, acelerando o meu
coração. E se ele disser não? Para onde iria Bilby? Amelia é
severamente alérgica a gatos, e não há absolutamente nenhuma maneira
de mantê-lo na mesma casa que Ryan. Não depois da noite passada. Eu
me recuso a colocar meu gato em perigo. Ele significa tudo para mim, e
eu nunca me perdoaria se ele acabasse morto por causa de minhas más
escolhas.
— Bilby? – ele repete finalmente, confuso.
— Meu gato.
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Mais silêncio.
— Ryan machucou o gato?
Meus olhos se fecham novamente, constrangida com as palavras
prestes a sair da minha boca. — Sim. Não posso pôr em risco a vida
dele.
— Mas você pode a sua própria? – Eu ranjo os dentes. Não importa
que tenha me preparado para isso antes mesmo de ele dizer, isso ainda
me irrita.
— Mako, por favor. – digo em vez disso, com o mesmo desespero
da noite passada se aproximando. — Não estou ligando para você para
falar sobre mim. Eu… eu só preciso que o Bilby fique seguro agora. Por
favor.
Seu suspiro baixo é abafado. — Preciso ir buscá-lo?
— Não. Não, vou entregá-lo antes da aula de hoje.
— Estarei lá. – Meus lábios se curvam enquanto as lágrimas ardem
meus olhos. Nem sei exatamente por que estou chorando, mas o desejo
está se tornando insuportável. Talvez porque tenha que desistir do meu
gato - temporariamente - porque ele não está mais seguro na casa para
onde o trouxe. Eu me sinto tão envergonhada. Isso é algo pelo qual
nunca vou me perdoar.
— Mako?
— Sim, River?
— Obrigada. Por isso.
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Dois olhos redondos me inspecionam da cabeça aos pés.
— Parece que finalmente está recebendo o que merece. – comenta
Barbie, antes de colocar os lábios enrugados em volta de um cigarro.
Ignoro o comentário dela, considerando que já me envolvi em uma
armadura para desviar de seus comentários desagradáveis e presunção.
Apenas Barbie ficaria satisfeita com o fato de sua filha estar sendo
abusada. Especialmente quando esta é a vida que ela sempre quis para
mim, e fui estúpida o suficiente para acreditar que estava conseguindo
algo que ela nunca conseguiu - segurança.
Olho para o maço quase vazio sobre a mesa. No momento, não dou
a mínima para germes.
— Dê-me um. – digo em vez disso, acenando com a cabeça em
direção aos cigarros. Surpreendentemente, ela empurra o maço junto
com o isqueiro. De uma mulher abusada para outra, às vezes tudo o que
precisamos é de um cigarro.
Tiro um cigarro, acendo e trago avidamente.
Não tenho ideia se Ryan realmente batizou minhas bebidas. Talvez
eu esteja grávida, mas agora estou com muita dor para parar de fumar o
cigarro. Faz uma semana desde que ele me pediu em casamento, quase
matou meu gato e então prontamente me espancou - de novo - e ele não
me deixou fora de vista uma vez, até esta noite. Felizmente, ainda não
mostrei sinais de gravidez, então estou começando a duvidar de sua
ameaça.
— Você sabia que Billy estava matando pessoas por toda a cidade?
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– eu começo. Barbie meio ri, meio zomba, com o som cheio de pigarro.
— O que lhe deu a impressão de que ele não estava matando
pessoas? – ela pergunta com condescendência.
Balanço minha cabeça. — Isso é diferente. Billy é inteligente o
bastante para encobrir os seus assassinatos. Ele os está deixando
deliberadamente do outro lado da cidade, aparentemente no último ano.
Ele é considerado um serial killer - eles até o apelidaram de Ghost
Killer.
Barbie ri abertamente, com os seus olhos sem vida brilhando de
alegria. Barbie foi exposta a vários cadáveres ao longo de sua vida.
Principalmente por overdose, mas posso apostar que ela também
testemunhou assassinatos. Provavelmente de viciados em drogas
enlouquecidos tendo colapsos mentais e entrando em ataques psicóticos.
E tenho certeza de que Billy fez de algumas pessoas um exemplo para
garantir que Barbie permanecesse em seu lugar.
— Isso é muito engraçado. – ela diz entre risos, apagando o cigarro
em uma lata de cerveja vazia. Ela costumava manter cinzeiros de vidro
por perto até quebrá-los todos na cabeça de seus clientes. Agora é mais
simples usar o lixo. Afinal, há uma tonelada disso por aqui.
Reviro os olhos para sua elegância.
— Você sabe que isso não é normal para Billy. Ele está sob o radar,
Barbie, e você sabe disso. Por que ele estaria deixando corpos pela
cidade?
Seus olhos se movem, e algo como medo surge em seus olhos.
Desapareceu antes que eu possa ter certeza.
— Ele está ficando viciado em metanfetamina de novo. – ela diz
casualmente. Mas não é nada casual, nós duas sabemos disso. Já se
passaram mais de quinze anos desde que Billy ficou viciado em seu
próprio produto e começou a matar todos os seus homens. Ele invadiria
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a casa, furioso por não ter mais ninguém em quem pudesse confiar
porque todos eles estão mortos.
Barbie era inteligente o suficiente para não fazer perguntas. A
mulher não saberia lhe dizer quanto é oito vezes nove, mas ela não viveu
tanto tempo lidando com alguém como Billy apenas por pura sorte. Ela é
incrivelmente esperta, mesmo quando está chapada. Tantas vezes, eu me
perguntei se a Barbie é muito mais sábia do que ela deixa transparecer.
Então, Barbie manteria sua boca fechada, eu ouviria através da porta
e Billy desabafaria sobre como todos os seus homens continuaram
fodendo as garotinhas que ele trafica e arruinando seu valor. Ou eles
estariam roubando suas drogas ou dinheiro para si mesmos. Ou eles
davam a ele um olhar que ele não gostava.
Seja qual for o caso, ele matou todos eles. Isso colocou Billy em
uma situação difícil quando ele não tinha ninguém para cumprir as suas
ordens. Ele largou as drogas, reconstruiu seu império e ficou bem desde
então.
— Eu não entendo. Ele sabe o que aconteceu da última vez.
Barbie pressiona os lábios, encolhe os ombros magros e acende
outro cigarro. Eu faço o mesmo. Vou precisar dele para esta conversa.
Billy em metanfetamina é... o mal encarnado. É o juízo final. Ele é o
terceiro anticristo que Nostradamus previu.
— Eu não sei o que aconteceu. – ela finalmente diz. — Explica por
que ele apareceu do nada e nos espancou.
Ambas as nossas feridas daquela noite foram curadas, apenas para
serem substituídas por outras. Ela pode gargalhar e rir ao me ver, mas
não parece nada melhor. A única diferença é que a Barbie nunca deixou
de exibir hematomas. Esse é o normal dela. Neste ponto, cada parte de
mim sofreu algum tipo de trauma que não tenho certeza se sei mais
como sentir dor. Acho que estamos virando iguais.
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Olho para a minha mão, com um gesso feio e um anel ainda mais
feio. Eu nem sei por que ainda estou usando essa maldita coisa.
— Ele pode voltar a qualquer momento. – ela continua, tirando-me
dos meus pensamentos sombrios. Seus olhos viram para mim com um
aviso claro. Barbie nunca me avisa sobre nada, exceto o Billy.
Especialmente Billy drogado. Não deixo isso subir à minha cabeça e
pensar que é porque ela realmente se importa comigo. Mas se eu morrer,
esta casa será leiloada e todas nós sabemos que a Barbie não tem
dinheiro para comprá-la de volta.
Por mais que ela odeie, eu estou mantendo-a a salvo das ruas. Se
alguém podia sobreviver, essa seria a Barbie. Ela é como uma maldita
barata, a vadia poderia sobreviver ao apocalipse. Não significa que ela
queira, no entanto.
— Ele tem aparecido com frequência? – pergunto, embora eu possa
sentir meu coração disparar. Não tenho a ilusão de que estou segura
aqui. Que Billy aparecendo nunca mais acontecerá. Mas eu esperava que
ele estivesse muito ocupado matando seus homens em vez de vir ver a
Barbie.
Ela dá uma tragada no cigarro, atrasando uma resposta que eu
gostaria muito de saber. Se ele vem com frequência, então corro mais
perigo do que imaginava.
Por fim, ela responde. — Cerca de uma vez por semana. Ele esteve
aqui ontem à noite.
O súbito desejo de fugir desta casa quase me paralisa. Eu tenho
minhas respostas. Ou pelo menos a resposta que vou conseguir quando
se trata do diabo. Hora de ir.
— Então acho que é hora de eu ir embora.
Barbie sorri. Eu disse isso casualmente, mas, novamente, esta não é
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— Ah, não, você não vai. – ela diz, passando por mim e parando
bem no meu caminho. Ela põe as mãos na cintura, com a barriga
protuberante realçada pelas mãos pequeninas, e me encara com a
impaciência e raiva mal contida. Não posso culpá-la. Eu mataria
qualquer um que fizesse isso com Amelia.
Suspiro, com meus ombros caindo em derrota. — Você não pode
dizer nada, Amelia. Eu... eu consigo lidar com ele.
Seus olhos se arregalam como balões transbordando de hélio. Logo
eles vão estourar. Isso não pode ser bom para o bebê.
— Por favor, não leve a mal, River, mas com certeza parece que
você é a única que está sendo manipulada. – ela responde, com a voz
significativamente mais suave. Eu aceno com a cabeça porque ela está
certa. Não parece que eu manipulei Ryan.
— Tenho que jogar com inteligência. – digo. Ela morde o lábio,
parecendo contemplar algo.
— Quero que você fique comigo. Você não pode voltar para aquela
casa.
Tenho sido muito boa em evitar Ryan desde a noite em que ele me
pediu em casamento, ameaçou matar meu gato e me estuprou com
poucas horas de intervalo. O que deveria ser o dia mais feliz da minha
vida, virou o mais tenebroso muito antes de Ryan fazer o pedido.
Aposto que está fodendo com a secretária enquanto conversamos.
— E eu planejo fazer isso... eventualmente. – eu acrescento com um
olhar triste. — É uma situação delicada que precisa ser tratada como tal.
Não quero te envolver nisso, Amelia. Prefiro morrer a envolver você e
seu bebê ainda não nascido em qualquer tipo de perigo.
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fazer. – ela diz com um olhar que diz que você está em apuros.
Mako olha para mim, com um sorriso pecaminoso no rosto. A
maneira como ele olha para mim só pode ser descrita como obscena -
com seu sorriso lascivo e olhos ardentes. E com Amelia observando a
interação com muita atenção, me dá vontade de limpar o olhar do rosto
dele com um pano Clorox e depois borrifar os olhos dele com Lysol para
garantir.
Limpo minha garganta e olho para Amelia com o sorriso mais
inocente que consigo. O que não quer dizer muito quando nada sobre
mim jamais foi inocente.
— O Mako aqui se alistou como meu cavaleiro pessoal de armadura
brilhante, não importa o quanto eu tentei mostrar a ele que eu sou o
dragão. – eu explico. Amelia levanta uma sobrancelha.
— É? E há quanto tempo ele tenta e não consegue salvá-la? – ela
pergunta, com seu tom quase condescendente. Amelia sabe tão bem
quanto eu que nunca fui de aceitar ajuda. Não importa se você é uma
fera de um 1,85m com patas de urso no lugar das mãos, vou chutar suas
bolas se isso significar que você vai parar de tentar me salvar. Parece
que sempre acabo querendo apenas acariciar as dele, mas pelo menos o
recado já foi dito.
— Muito tempo. – murmuro. Eu gritei na cara de Mako e até dei um
tapa na maldita obra de arte sexy e, infelizmente, ele ainda persiste.
Então, parece que vou ter que dar um chute nas bolas dele a seguir... e
então talvez acariciá-las.
— River deixou perfeitamente claro que pode cuidar de si mesma.
Apesar de suas habilidades de durona, o que deixei perfeitamente claro é
que não vou a lugar nenhum até saber que ela está segura. E se der uma
olhada na Prova A. – ele aponta para meu rosto machucado. — Isso
ainda não aconteceu.
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Abro a minha boca para mostrar a ele que meu pé está prestes a
desaparecer quando Amelia me interrompe. — Ok, crianças.
Claramente, isso vem acontecendo há algum tempo. – ela me dá um
olhar feio. — Acho que está claro que River está em uma situação difícil
e nem sempre é fácil sair imediatamente, não importa o quanto
queremos que ela saia.
Meus ombros relaxam com a compreensão inesperada de Amelia.
Às vezes esqueço que Amelia também teve uma infância difícil. Ela
cresceu com um pai alcoólatra e abusivo. Mesmo depois de completar
dezoito anos, ela ficou por perto para tentar cuidar dele até ir para a
faculdade. Até hoje, ela ainda luta contra seu amor por ele.
O maior equívoco com os sobreviventes de abuso é que eles estão
fazendo a escolha de ficar. Qualquer um na nossa situação iria embora se
fosse assim tão fácil. Mas quando alguém está ameaçando sua vida
diariamente, às vezes ficar parece ser a escolha mais segura. Mesmo que
você saiba que isso vai te matar um dia.
O abuso imprevisível ainda é previsível, e isso pode ser um pouco
menos assustador do que tentar reconstruir uma vida por conta própria
com o medo constante de que essa pessoa venha atrás de você e a roube.
Todo aquele trabalho duro se foi. E às vezes sua vida também.
— Vou deixar vocês dois resolverem qualquer tensão que esteja
acontecendo aqui. River, espero um telefonema mais tarde. – Amelia
anuncia, ainda de olho na minha estranha interação com Mako. Como eu
poderia estar pensando em outro homem quando o atual em minha vida
está me usando como um saco de pancadas está além de nós duas. Mas
está acontecendo. E eu não tenho certeza de como diabos parar isso.
Ou se eu quero.
Amelia me dá um abraço de despedida, dá uma última olhada em
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para o benefício dele, mas para o meu. Se eu vou sair viva desta
situação, seria estúpido cutucar o urso antes de preparar a armadilha.
— Sim. – digo com alegria forçada. Espero que ela não veja como
meu sorriso é falso. Parece que foi tão eficaz quanto Botox seria em seus
pés de galinha.
— Espero que sim, se você se encontra na situação que pensa estar.
– ela comenta, tocando alguns botões na tela. — US$ 60,87.
Porra, estes são caros. Eu insiro meu cartão com mais força do que o
necessário. Ela também não perde isso. Ou talvez os nervos em sua
flacidez não estejam funcionando bem e ela não está realmente me
dando um sorrisinho presunçoso.
Minha transação termina quando ela guarda meus itens. E agora o
momento constrangedor em que ela espera o recibo sair da máquina
enquanto penso em apunhalá-la no olho com a caneta presa ao colete de
trabalho. Quando ela entrega o recibo, dou o sorriso mais doce que
consigo.
— Muito obrigada, senhora.
Nós duas estamos revirando os olhos quando me afasto.
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Olho para os pauzinhos, à beira das lágrimas.
Não estou grávida.
Alívio total preenche meu corpo, tão potente que quase desmaio.
Luto para esconder os pauzinhos em um dos meus tênis.
Ryan está com outro humor. Estou sentada no closet, soluçando e
chorando enquanto ele anda pela casa. Estou nua e ainda mais
machucada do que antes. Ele não me bateu desta vez, apenas me fodeu
com força até eu gritar de dor. Só então ele fodeu com mais força. Acho
que ele não precisou bater dessa vez quando obedeci como uma boa
garotinha e o deixei profanar meu corpo.
Ele não gosta que eu não ame mais fazer sexo com ele. Isso o
incomoda, o corta profundamente. Ele quer de volta o que tínhamos no
começo. Quando poderia ser tão rude quanto quisesse, e eu imploraria
por isso. Eu não recuaria toda vez que a sua mão chegasse a um
centímetro do meu rosto. Meu rosto não se curvaria em desgosto, meus
olhos não ficariam vidrados enquanto eu me desligava. Toda vez que
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quando ele está em casa comigo. Estarei fazendo algo banal e Ryan
aparecerá e apontará algo que fiz de errado enquanto ele estava no
escritório, me observando. Então, sem Wi-Fi, não pode me vigiar em
seu celular e, desde que possa me ver, não há como escapar.
Percorro meus contatos e paro na única pessoa para quem poderia
ligar agora. Eu realmente não quero, mas ela entenderia minha situação
melhor do que a maioria. Clico no botão de chamada antes que eu possa
mudar de ideia e levo o celular trêmulo ao meu ouvido.
— Alô?
Deus, Alison parece tão doce. Eu me encolho me afastando de sua
voz.
— Sou eu. – digo baixinho.
— Onde você está? – ela pergunta instantaneamente, com sua voz
endurecendo como aço.
Deixo cair minha cabeça em minha mão, não me importando que
qualquer contato com as queimaduras envie chamas percorrendo minha
carne. O fato de ela saber sem que eu precise dizer nada é uma prova do
que tem lidado há anos. Não há como eu ter ficado tanto tempo quanto
ela. Não porque sou mais forte que ela, mas porque sou mais fraca e
teria me matado. Eu já quero depois de apenas dois anos.
— Na casa dele. Mas posso encontrar você na esquina. – Sussurro.
— Estarei lá em dez minutos.
Meu dedo aperta o botão vermelho antes que eu possa dizer a ela
para não vir. Com o coração acelerado, fico com as pernas bambas, pego
uma sacola e começo a colocar roupas nela. O closet se tornou meu
espaço seguro de Ryan e, na maioria das vezes, ele me deixa ficar com
isso.
Um armário bate na cozinha abaixo de mim. Não há como eu
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escapar de casa sem que ele me veja se ele estiver na cozinha. É no final
do corredor do hall de entrada e o psicopata estará vigiando a porta da
frente como um falcão. Tentei sair há alguns dias sem a permissão dele
e acabei ficando amarrada à cama durante a noite.
Meus pulsos ainda doem e as lesões ao redor deles ainda não
cicatrizaram.
Calço um par de tênis, abro silenciosamente a porta do closet e
espio ao redor. Ele ainda está lá embaixo. Cada passo é amplificado pelo
meu coração acelerado enquanto caminho até a janela. Há um telhado do
lado de fora da janela e, ao lado da casa, é uma estrutura coberta de
trepadeiras e lindas flores cujo nome não sei. Nunca me importei em
aprender.
Mordendo meu lábio, eu gentilmente levanto a janela. Para mim,
parece que estou arranhando um quadro-negro com um prego, mas, na
realidade, quase não faz barulho. Hesitantemente, eu saio. A primeira
lufada de ar fresco é emocionante e aterrorizante ao mesmo tempo.
Como se não me apressasse, nunca mais terei o prazer de experimentar o
ar fresco. Bem quando vou fechar a janela atrás de mim, Ryan entra no
quarto. Eu paraliso. Ele paralisa. Nós dois olhamos um para o outro em
estado de choque.
Em conjunto, nós dois entramos em ação. Ele corre para a janela
enquanto eu corro em direção à extremidade da casa.
— River, volte aqui. – ele grita. Sua voz não é alta o suficiente para
chamar a atenção para nós. Há apenas algumas casas por perto, mas
estão perto o suficiente para ouvir um barulho alto.
Chego à extremidade da casa e corro ao longo da até chegar ao
terraço. Assim que piso o pé, uma mão de aço envolve meu bíceps e me
puxa de volta. Eu grito, mas é imediatamente abafado pela mão de Ryan.
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não sinto muito. Não estou arrependida de jeito nenhum. Mas meus
instintos de sobrevivência estão me perseverando.
— Ah, você vai se arrepender. – ele murmura, me arrastando para o
banheiro. Não tenho ideia do que ele planejou para mim, mas foda-se se
vou deixar isso acontecer.
— Foda-se. – digo. Meu corpo fica completamente mole, tornando-
se um peso morto em seus braços. O peso repentino é inesperado,
fazendo-o tropeçar. Antes que ele possa continuar me puxando, eu viro,
arrancando o cabelo no processo e chuto suas bolas. Sempre pensei que
seria Mako quem receberia isso, mas, mais uma vez, eu estava errada
quando se trata desse homem.
— Vadia! – ele grita, imediatamente se curvando e respirando com
dificuldade. Meu pé se levanta e eu o chuto na testa, empurrando sua
cabeça para trás. Ele grita e cai no chão. Com o coração batendo forte,
eu me levanto e corro para as escadas. A adrenalina correndo em minhas
veias está atingindo níveis tóxicos, me deixando sem fôlego.
— Volte aqui! – ele grita, com sua voz estridente e enlouquecida.
Com muito medo de olhar para trás, continuo correndo, alcançando as
escadas e quase me jogando. Os passos pesados de Ryan soam atrás de
mim. Ele está perto. Muito perto. A cozinha fica mais perto do que a
porta da frente e ele está logo atrás de mim. Vai demorar muito para
abrir a porta. Virando rapidamente, sigo em direção à cozinha a toda
velocidade. Quando me viro para a cozinha, a mão de Ryan encontra
meu braço, quase me acertando.
Eu vou direto para as facas. Eu tenho planejado por este momento,
mas não assim. Isso deveria acontecer quando ele estava dormindo, e eu
tendo a vantagem. Mas não estou prestes a deixar esse momento passar
em branco. Não quando finalmente posso me vingar.
Alcanço as facas no momento em que os braços de Ryan envolvem
minha cintura e me puxam para trás. Meus dedos já estão fechados ao
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segundo plano, tornando-se um ruído. Fico sem peso, com meu corpo
flutuando no ar. Com serenidade, eu me inclino e agito minha mão
sobre o sortimento de facas no chão, provocando-o sobre qual faca eu
vou pegar. Finalmente, minha mão pousa sobre a faca maior. Quando ele
vê a faca que escolhi, seus olhos se arregalam comicamente.
Eu rio, curtindo seu susto.
Levantando-se, ele avança em minha direção, presumindo que
levará a melhor. Como um filme em câmera lenta, observo minha mão
em um arco perfeito, com a faca deslizando por sua bochecha. Observo a
pele se abrir sob a lâmina afiada, o sangue surgindo do ferimento e
escorrendo pelo rosto, e apenas sorrio.
Ele grita, absolutamente enfurecido.
Ah, não. O que ele fará agora que seu rosto perfeito foi marcado
para sempre?
E tudo o que posso fazer é sorrir.
O choque o paralisou, mas o prazer mantém meu corpo relaxado e
livre. Eu movo a faca mais uma vez, com a ponta da lâmina deslizando
em seu peito, parando-a em seu caminho. Ele olha para baixo em
descrença, com a dor ainda não ofuscando o choque puro surgindo
através de seu sistema.
Muito lentamente, seus olhos se erguem para encontrar os meus
enquanto sua boca fica aberta. Não tenho certeza se posso descrever o
olhar que surge em seu rosto. Algo parecido com onde-eu-me-meti.
Dou a ele um sorrisinho perverso. — É a minha vez de ser a quem
pune. Página 298
inclina sobre mim. Ela se inclina e beija suavemente meus lábios mais
uma vez. O beijo não demora. Seus lábios se movem pelo meu queixo e
pescoço, lambendo e chupando enquanto ela desliza mais para o sul.
Ela faz uma pausa longa o suficiente para lamber um dos meus
mamilos, envolvendo o bico rosado em sua boca. Eu gemo, arqueando
minhas costas com seu toque. Com um som, ela solta meu mamilo e
continua seu caminho. Sua língua rosa aparece, com a ponta lambendo
ao longo da minha barriga chapada, descendo no meu umbigo e,
finalmente, na minha boceta.
Não tenho vergonha de como estou encharcada. Alison é gostosa,
não há como negar. Quando ela fica entre minhas pernas, eu me apoio
em um cotovelo, muito fascinada por ela para não me dar uma visão
completa. Ela olha para mim através dos olhos semicerrados. Tanta
inocência.
Nunca pensei que usaria essa palavra, mas é a única coisa que
consigo pensar quando olho para ela, com a boca posicionada sobre
minha boceta. Linda. Estou retirando o significado dessa palavra e
dando para Alison Lancaster.
Porque, porra, ela é linda.
O primeiro toque de sua língua faz minha cabeça cair para trás. É
hesitante, quente, úmida. É incrível, e eu preciso de mais.
— Alison. – eu suspiro, quando sua língua pressiona e ela lambe
toda a extensão do meu centro. Eu estremeço, movendo meus quadris
para encontrar sua boca pecaminosa. Quando minha cabeça cai para
frente mais uma vez e eu dou a ela uma olhada novamente, ela já está
olhando para mim com um pequeno sorriso satisfeito no rosto.
Meu lábio está preso sob os meus dentes com tanta força que estou
perto de cortar a pele. Ela continua lambendo e chupando até que o
orgasmo está aumentando rapidamente, chegando ao ápice e me levando
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procurando minha boca mais uma vez. Estou muito feliz em ceder à sua
demanda silenciosa.
O suor escorre pela minha testa enquanto sinto o meu segundo
orgasmo crescendo cada vez mais alto, com o tom de nossos gemidos
seguindo o exemplo.
Meu núcleo aperta enquanto a espiral me consome cada vez mais
até que parece que vou entrar em combustão espontânea. Em segundos,
nossos orgasmos atingem o pico e estamos perdendo o controle. Nossas
mãos lutam desesperadamente enquanto tentamos encontrar algo sólido
para nos agarrar enquanto nossos corpos são completamente arrastados
em ondas de puro êxtase. Olhos arregalados fixos juntos enquanto
gemidos são arrancados de nossas bocas conectadas.
Só quando gozo é que eu percebo que nós estávamos praticamente
gritando. O silêncio repentino é ensurdecedor, apesar de nossa
respiração ofegante cruzar o silêncio.
Acabamos de fazer sexo.
Porque eu disse a ela que matei Ryan.
Saio de cima dela e fico de costas, com ambas os peitos arfando.
Com ambas com os olhos olhando para o teto em choque e descrença. E
talvez um pouco de pânico. Finalmente, eu viro minha cabeça para ela e
a observo. Eu realmente olho para ela. Seus grandes olhos expressivos,
longos cabelos castanhos e pequenas sardas espalhadas em seu nariz e
bochechas.
Meus olhos percorrem seu corpo. Um corpo que conheci muito
bem. Ela é magra, mas curvilínea, com seios fartos e pernas longas.
Sardas espalhadas em seus ombros e abdômen, marrom claro contra um
fundo bronzeado.
Ela é linda. E uma garota muito mais complexa do que eu pensava.
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Ela não olha nos meus olhos, aparentemente com muito medo de
encarar a realidade do que acabamos de fazer. Parece que uma agulha
espetou meu coração. Nada grave, mas o suficiente para doer.
— Você se arrependeu? – ela sussurra, com a sua voz rouca.
Lágrimas surgem em seus olhos e eu observo a sua reação com um
fascínio mórbido. Ela está chorando porque comi ela ou porque eu matei
o ex-namorado dela?
— Não. – eu sussurro, respondendo a ambas as perguntas.
Uma respiração áspera sai de seu peito, expulsando toda a tensão de
seu corpo com ela. Só assim, ela fica mole. E assim meu coração se
aquece novamente, aliviado por ela não estar me rejeitando. Ela se vira
de lado, me encarando completamente e colocando as duas mãos sob a
bochecha.
— Eu também não. – ela diz suavemente. Um pequeno sorriso
hesitante estampa seus lábios inchados.
Com meus olhos fixos naqueles lábios, pergunto: — Então por que
você está chorando?
Ela ri, enxugando uma lágrima perdida antes de retomar sua
posição.
— Sinceramente não sei. Isso foi... muito para assimilar. E o fato de
basicamente termos celebrado você matando nosso agressor fazendo
sexo é meio fodido. – Quando dou a ela um olhar engraçado, ela sorri
timidamente e se corrige. — Ok, realmente fodido. – ela encolhe os
ombros. — Mas foi bom. Parecia um encerramento.
Concordo com a cabeça, confortada por estarmos na mesma página.
O que fizemos não foi fazer amor, nem mesmo foder. Nós certamente
nunca vamos namorar. Embora houvesse atração mútua, era realmente
apenas seguir em frente de uma situação fodida em que ambas ficamos
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presas. Duas almas se conectando por algo que nenhuma mulher deveria
ter que suportar. Foi a libertação.
— Você vai me denunciar? – pergunto baixinho.
Seus olhos nunca se desviam quando ela diz: — Não. Você deu a si
mesma e às futuras mulheres que se encontrariam nas mãos de Ryan
algo que eu não fui capaz de dar. Ele nunca iria parar. Mako tentou, mas
ninguém acreditou nele e Ryan conhecia muitas pessoas poderosas. E
eu... não tentei o suficiente. Mas você conseguiu.
— Liberdade. – eu sussurro. Ela lentamente acena com a cabeça,
com compreensão em seus olhos.
Faz tanto tempo desde que provei isso na minha língua. É quase o
suficiente para dominar o gosto da boceta de Alison na minha língua.
Mas eu fui embora, não foi? Isso não conta para nada? Mesmo que
eu me transforme em uma assassina. Ou eu vou em breve, pelo menos.
Uma batida na porta faz meu coração parar. Eu me escondo nas
sombras, olhando para a silhueta de uma pessoa parada do lado de fora
da porta.
Eu não estou esperando ninguém. Ninguém deveria estar batendo
nessa porta.
Outra batida leve me provoca. Meus pensamentos raivosos me
levam para a toca do coelho. E se for do trabalho de Ryan, procurando
por ele? Não, não. É sábado. Ele só está no sótão desde ontem à noite.
Segunda-feira, no entanto. O que vou fazer na segunda-feira? Ryan não
vai aparecer. Seu pai vai se perguntar, ligar para ele provavelmente.
Ryan não vai atender, e então seu pai virá procurá-lo. Como diabos eu
deveria olhar Matt na cara dele e mentir para ele? Acho que deveria ter
pensado nisso antes de me meter nessa confusão.
Outra batida me afasta dessa linha de pensamento.
É a polícia? Ryan conseguiu um celular? Não… já escondi o celular
no nosso quarto. Não pode ser isso. Apenas um minuto atrás, eu o vi,
certificando-me de que seu corpo estava pendurado com segurança em
torno da viga de madeira e os nós em torno de seus pulsos ainda estavam
apertados. Ele não escapou e tenho certeza de que ninguém pode ouvi-lo
gritando. Moramos em uma mansão, pelo amor de Deus, e o sótão nem
fica no lado da casa mais próxima da rua. Certamente, se alguém
pudesse ouvir gritos vindos de dentro da casa, alguém já teria me
salvado.
Eu rio desse pensamento. As pessoas são péssimas. É inteiramente
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Mordida.
— Você é uma vadia fodida, sabia disso? – Ryan grita de seu lugar.
Ele está ensanguentado e machucado, com os braços pendurados no teto
com uma corda. Ele está nu, exceto por uma cueca boxer suja pendurada
em seus quadris. Pequenos cortes marcam sua pele, a maioria já
endurecida com sangue seco. Sangue fresco escorre por seus braços das
feridas em torno de seus pulsos. Eu o encaro fascinada enquanto mordo
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meu biscoito.
Minha outra mão gira em torno da faca de corte que estou usando
para cortar sua pele. Cada grito me dá uma pequena emoção. Foi isso
que ele sentiu quando exerceu seu poder sobre mim? Quando ele me
espancou e me estuprou? Eu admito, pode ser bastante máximo.
Estendo o biscoito, com meu braço esticado, um olho fechado
enquanto posiciono o biscoito sobre a cabeça de Ryan. — Sabe, vocês
dois são o diabo. – murmuro, concentrando-me em obter a imagem
certa. Sorrio quando obtenho, então parece um homem com um biscoito
no lugar da cabeça. — Você. E esses biscoitos.
— Ei! – ele grita, com saliva voando de seus lábios. — Porra, me
escute! – Meu braço abaixa e meus olhos desviam novamente para os
dele. Eles estão cheios de adrenalina, com medo potente e raiva em seus
feios olhos azuis. Se olhares pudessem matar…
Mordida.
Porra. Estes são viciantes.
— Vai me explicar por que diabos está fazendo isso? Hã? Porra,
diga-me, River!
Levanto uma sobrancelha, não impressionada. — Pelo que sei, não
preciso responder porra nenhuma se não quiser. E ah, quase esqueci de
te contar. – eu estalo meus dedos para ele, fazendo-lhe um sinal de arma
com um sorriso perverso. — Eu comi sua ex-namorada.
Seus olhos se arregalam brevemente antes de se fecharem em
fendas. — Você está mentindo.
Eu rio e balanço a cabeça. — Ela tem uma sarda bem aqui – eu
aponto bem acima do meu quadril. — E uma sarda bem aqui. – digo,
apontando para a parte interna da minha coxa esquerda a seguir, para
cima perto do meu centro. Seus olhos fazem buracos em minha mão,
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e sua vingança era fazer com que outras pessoas se sentissem como ele.
Ele quer que todos os outros sofram como ele sofreu.
Isso é errado. Nojento. Mas eu entendo.
— Está arrependido de como me tratou? – pergunto suavemente. —
Por me fazer sentir como seu pai fez você se sentir?
No momento em que faço a pergunta, também me pergunto se o
deixarei ir se ele disser que sim. Agora que entendo Ryan pela primeira
vez, estou com medo do que vou fazer.
Ele pondera sobre a minha pergunta, com a raiva ardente ainda
brilhando em seus olhos. Depois de um momento, Ryan fala. —
Aproveitei cada segundo disso, River. Eu nunca vou me arrepender. As
mulheres são fracas e impotentes. Se eu tive que sofrer com essas coisas,
então todas vocês também. Eu me recuso a me arrepender por isso.
Não é de admirar por que seus olhos azuis eram sempre tão opacos.
Ele não tem mais alma nele. Matt tirou isso dele.
Ele tirou tudo de Ryan e agora ele quer tirar tudo de mim.
— Acha que sou fraca? – Sussurro, confusa com a sua observação -
e um pouco magoada também. Eu tenho sido tudo menos fraca.
Seus olhos se tornam sarcásticos, mas eles não me afetam mais.
Nem suas palavras vazias. — Bati e estuprei você e você continua
correndo de volta para mim, com o rabo enfiado entre as pernas como
uma boa cadela. Você é tão, tão fraca. – Seu corpo treme com a fúria
crescente. — Você está manchada, River. Ninguém vai amar uma
vagabunda suja que veio de Shallow Hill. Especialmente uma que teve
mais paus dentro dela do que uma prostituta em um bordel.
Sorrio lentamente, suas palavras são tão parecidas com as que Billy
me disse não muito tempo atrás.
Estou manchada.
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SERENA: Sinto sua falta, amor. Já faz um tempo que você não me
visita. Venha aqui? Estou usando sua roupa favorita. ;)
Eu suspiro. Minha roupa favorita nela não era nada. De preferência
com o rosto enfiado no colchão e a bunda para cima. Serena sempre
tentou me impressionar com lingerie rendada com babados. Eu nunca
me importei com nada disso quando tudo que queria era uma foda rápida
e ir embora.
Por alguma razão, ela pensou que a lingerie faria com que eu
ficasse, em vez de desenvolver algum tipo de personalidade.
Nunca aconteceu.
Apago a mensagem, depois o número dela, e guardo o celular no
bolso de trás. Serena mal prendeu minha atenção para começar, ela não
tem chance de conseguir nem mesmo uma lasca agora.
Não quando uma mulher em particular está ocupando meu espaço
cerebral. Eu sabia desde o momento em que conheci River que ela iria
me arruinar. Só não tinha percebido que também pareceria condenação.
Meu celular vibra no bolso de trás novamente, indicando uma
chamada recebida. Com um resmungo frustrado, tiro o celular do bolso e
atendo antes de olhar para ver quem é.
— Sim? – eu resmungo.
— Oi… – Uma voz familiar e hesitante surge.
— Oi, Ali. – eu cumprimento com um suspiro. Não me importo em
ouvir ela, mas já sei no que essa conversa vai se concentrar.
— Você soube da River? – ela pergunta.
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— Não. Eu deveria?
Silêncio.
— Ali? – eu pressiono. Quando ela ainda não responde de imediato,
o medo circula pelo meu sistema e um buraco se forma no meu
estômago. Automaticamente, temo o pior. É um sentimento com o qual
me familiarizei bastante, embora definitivamente não tenhamos uma
relação amigável.
— Acho que você deveria falar com ela. – ela diz finalmente. Não
preciso vê-la para saber que ela está roendo as unhas. É um hábito pelo
qual Ryan batia nela constantemente, antes de mandá-la a um salão de
beleza para obter de acrílicos.
— Ela está bem, Ali? O que houve? – pergunto impacientemente,
com meu tom obscurecendo. Sento-me ereto e desligo o noticiário.
— Na... nada. Bem... ela está bem. Ela não está ferida nem nada. –
ela se apressa, hesitando em suas palavras. Minha sobrancelha franze.
Minha ansiedade muda de marcha. Algo está acontecendo - só não tenho
ideia do quê.
— Aconteceu alguma coisa? – pergunto lentamente, cada vez mais
irritado com a falta de explicação dela. Minha mão está agarrando meu
cabelo, prestes a arrancar as mechas.
Ela suspira de frustração. — Sim, mas acho que você deveria falar
com ela, Mako. OK? Isso é tudo o que estou dizendo.
— Ok. – respondo enquanto o meu dedo toca no botão vermelho.
Minha impaciência aumentou. Ser legal é a última coisa em minha
mente quando eu estou muito ocupado imaginando todos os meus
pesadelos ganhando vida. Minha mente gira, considerando as
ramificações se eu simplesmente aparecer na casa de Ryan. Está tarde.
Ele provavelmente vai pirar, mas posso usar a desculpa de precisar
trabalhar no caso. Vou me encontrar com a testemunha dele amanhã e
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não tive a chance de falar com Ryan sobre isso há alguns dias.
Já decidido, pego minhas chaves e vou para a porta, mal me dando
tempo de amarrar os cadarços das minhas botas.
Paro no meio da porta, com minha mão ainda na maçaneta. Talvez
eu deva ligar primeiro? Eu disco o número de Ryan enquanto fecho a
porta atrás de mim e entro no carro. A linha toca, e toca, antes de
finalmente ir para a caixa postal. Eu tento mais uma vez, apesar do fato
de já estar saindo da garagem.
Quinze minutos depois, estou estacionando em sua entrada ampla e
detestavelmente longa com a porra de uma fonte estúpida no meio. Eu
não ficaria surpreso se Ryan construísse um monumento de si mesmo no
meio um dia.
Há algumas luzes acesas na casa monstruosa. Ver esta casa faz meu
lábio se curvar toda vez. É exagerada, com paredes brancas e elegantes,
vidro e madeira que compõem a totalidade da casa. É moderna e muito
pretensiosa.
Porra. Estou nervoso. Minha mão está deslizando pelo meu cabelo,
frustrado com essa merda. Com Ryan e o desconforto intenso e
constante que ele tem me dado desde que fui adotado.
Saindo do carro antes de acabar saindo da garagem, subo correndo
os degraus e bato na porta com força algumas vezes. Olhando para a
hora no meu relógio, noto que são apenas oito e meia. Ryan ainda deve
estar acordado.
Quando ninguém atende, eu bato mais algumas vezes. Às vezes eu
gostaria que ele agisse como qualquer outro idiota rico e contratasse um
mordomo. Eu dou cinco segundos antes de tentar a maçaneta da porta.
Trancada. Há câmeras me gravando agora em um monitor para o celular
de Ryan. Demoro mais um minuto, esperando que ele veja que sou eu e
abra a porta.
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lâmpada acesa na sala de estar. Forço meus ouvidos, para ouvir passos
ou vozes.
— Ryan? – eu chamo em voz alta, desligando a lanterna e enfiando
o celular no bolso de trás. A última coisa que preciso é ser acusado de
invasão de propriedade por um advogado idiota. Ryan aproveitaria a
oportunidade e comeria como um doce.
Uma voz abafada surgiu, mas eu não consigo identificar onde.
Enquanto me concentro no ruído abafado, um estrondo vindo do andar
de cima chama minha atenção.
Juro pela porra de Deus, se ele apenas estivesse batendo nela... Meu
corpo está se movendo antes que eu possa pensar, correndo pela cozinha
e no corredor. Eu quase bato na parede enquanto me movo ao redor da
escada de mármore branco. Quase tropeçando nas escadas, eu paro
quando o rosto de River aparece. Ela tinha acabado de fazer exatamente
o que eu fiz - quase caindo na pressa de descer as escadas.
— O que você está fazendo aqui? – ela grita, assim como grito. —
Ele te machucou de novo?
— O que? – ela pergunta, perplexa. Estamos ambos imobilizados
em cada extremidade da escada, olhando um para o outro com
expressões selvagens.
— Ele está lá em cima? Ele te machucou? – pergunto novamente
asperamente.
— Não... eu... ele não está aqui. – ela gagueja. A batida no meu
peito lentamente se acalma conforme minhas suspeitas aumentam. Ela
parece ter sido pega com uma faca sobre um cadáver. Culpada pra
caralho. Intrusos não se anunciam. Ryan poderia facilmente ter me
convidado e não ter contado a ela. Então, por que diabos ela parece
verde no rosto? E por que seus olhos estão mudando com paranoia e
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nervosismo?
— O que você está fazendo aqui? – ela grita novamente, cruzando
os braços e ampliando sua postura em uma posição defensiva. Seu
queixo levanta enquanto ela olha para mim. Mal consigo controlar a
vontade de interrogá-la. Afinal, estou invadindo a casa dela. Ela tem
todo o direito de suspeitar de mim.
— Ryan me convidou. – eu minto, enrijecendo minha coluna.
Ela revira os olhos. — Não, ele não convidou.
— Como você sabe?
— Porque ele nem está aqui. – ela repete. Nesse momento, outra
voz abafada soa de algum lugar. Inclino a minha cabeça, tentando
localizá-la.
Percebendo que minha atenção é desviada, ela desce as escadas e se
atira sobre mim, com o cheiro de canela envolvendo todos os meus
sentidos. Tropeçando para trás, luto com seu corpo e o corrimão para
não cair para trás. Que porra é essa?
— Você me assustou. – ela diz sem fôlego. — Mas estou feliz que
você esteja aqui agora. Posso ir até ai?
O olhar em meu rosto só poderia ser descrito como totalmente
perplexo.
— O que diabos está escondendo, River? – eu acuso duramente. Ela
fica tensa em meus braços e imediatamente me empurra e passa por mim
como se não tivesse se jogado dramaticamente em mim.
Essa mulher é uma porra de... nem sequer eu sei.
— Vá embora. – ela ordena estoicamente e toda a emoção de sua
voz se foi.
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machucado, é uma cueca boxer suja. Porra, ele cheira a merda também.
Franzindo o nariz, circulo ao redor dele, observando todos os seus
ferimentos.
Parece que ela usou algo fino e afiado para cortá-lo, como uma faca
de corte. Os cortes não são muito profundos, alguns precisando de
pontos, especialmente o grande corte no peito. Todo o seu torso está
manchado de hematomas, a maioria ainda de um roxo escuro. Ele não
está aqui há tempo suficiente para qualquer um deles ficar amarelo e
verde.
Seu pé parece estar em um ângulo não natural, embora eu não veja
nenhum osso aparecendo. Dois de seus dedos da mão esquerda estão
definitivamente quebrados, completamente dobrados em ângulos
estranhos com osso saindo. Sorrio quando percebo que são os mesmos
dois dedos que River quebrou - um deles foi obra de Ryan. Dedo
mindinho e indicador.
Essa é minha garota.
Eu olho para a mão dela, notando seu dedo indicador e, em seguida,
percorro meus olhos pelo resto dela. Parece que ela acabou de sair de um
ringue de boxe. Ela tem hematomas recentes nos braços e no pescoço,
um corte na testa e um lábio inchado. Tudo pelas mãos de alguém que
dizia amá-la. Suas costelas e concussão já estão curadas, mas os efeitos
persistentes em sua mente nunca desaparecerão.
Esta mulher passou por mais merda do que a maioria pode suportar
na vida. E ela passou por isso a vida inteira. Acho que nunca conheci
alguém tão resiliente. Tão forte. O que ela está fazendo com Ryan... é
uma loucura. Comprovadamente insano. Mas considerando o que ela
passou, porra, não posso culpá-la. Não posso culpá-la por finalmente
explodir.
— Por favor, Mako. Você é um policial. Você é um bom policial.
Não deixe essa vadia se safar dessa merda. Por favor, solte-me. – ele
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como um. Eu estava animado para ganhar um irmão quando nossos pais
me adotaram. Mas você sempre considerou isso um insulto.
— Porque isso foi! – ele grita, tremendo em suas amarras. — Eles
nunca teriam outro filho. Eles disseram que eu era o suficiente para eles.
Estávamos perfeitamente felizes sem você, mas então papai cuidou do
caso de assassinato de seu pai e ele apenas teve que desenvolver um
fraquinho por você. Ele simplesmente não podia deixar você ficar no
sistema como qualquer outra criança desse país. O que há de tão especial
em você, hein? Você é um detetive medíocre que nem consegue
descobrir quem é o Ghost Killer. Você não é bom o suficiente para nós.
Suas palavras me atingem como borracha na madeira. Não posso ser
magoado por alguém com quem nunca me importei de verdade. Eu
tentei em um ponto. Tentei muito construir um relacionamento com ele,
criar um vínculo inquebrável entre irmãos.
Mas ele só queria me odiar. Não demorou muito para que eu parasse
de me importar o suficiente para detê-lo. Ele me torturou, me machucou
e tornou minha infância miserável.
Ele não me queria como irmão antes, certamente não vai conseguir
um agora.
pior, mas funciona pra caralho. Minha cabeça bate contra o encosto do
sofá e suspiro em derrota. Se eu tivesse contado a ela antes... talvez ela
não sentisse que tinha que fazer o que fez. Ela já teria partido, vivendo
sua vida longe dele. Mas Ryan ainda estaria aqui, já procurando por sua
próxima vítima.
— Sinto muito. – eu repito.
— Então, essa história de encobrimento? – ela pergunta, mudando
rapidamente de assunto.
Relutantemente, eu permito. — Ele disse que tinha uma viagem de
trabalho na cidade vizinha. Essa foi a última vez que você o viu.
Ela acena com a cabeça uma vez. — O que acontece quando
descobrem que ele não fez isso?
— É aí que entra a traição dele. Ele poderia facilmente ter saído
para ver outra mulher. Você não sabia dos seus métodos de traição e
acreditou completamente nele quando disse que tinha que viajar para
trabalhar. Se você sabe que ele está traindo, esse será o motivo. Se você
brigou e ele saiu furioso com você, isso faz você parecer culpada. No
que lhe diz respeito, vocês dois eram um casal feliz e sem problemas.
— Tudo bem. – ela concorda. Eu balanço minha cabeça, já sentindo
um peso batendo em cima dos outros 20 quilos em meus ombros.
— Ele estava indo para se encontrar com a amante dele. O Ghost
Killer o pegou primeiro.
River para, com seu corpo inteiro se tornando pedra. Isso me lembra
da reação dela quando contei a ela sobre o Ghost Killer, no dia em que
vim resolver o caso com Ryan e acabei comendo bolo de carne.
Minha mãe costumava fazer bolo de carne para mim. Ela cozinhava
horrivelmente, mas era a única coisa que ela sabia fazer de verdade. Foi
tudo o que comi durante doze anos. Eu não conseguia comer desde
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então. Claro, meu irmão idiota sabia disso e decidiu enfiá-lo de volta na
minha cara.
— Como teve essa ideia? – ela pergunta baixinho, trazendo minha
atenção de volta para ela. Não tenho certeza do que há exatamente no
Ghost Killer que a deixa desconfortável, mas eu não posso culpá-la
exatamente. Sua reputação ganhou atenção suficiente agora que é notícia
nacional. Estar na mesma cidade com um serial killer deixaria qualquer
um desconfortável.
— Sexta-feira de manhã, Ryan me ligou e disse que sabia quem era
o Ghost Killer e já havia construído um processo contra ele. Ele alegou
que encontrou evidências e colocaria o assassino na prisão até segunda-
feira. Ele não compartilhou qual era a informação, mas estava confiante
de que o pegou. Ele passou dez minutos esfregando na minha cara que
descobriu quem era o Ghost Killer antes de mim.
O rosto de River empalidece, sua careta se intensifica enquanto
compartilho algo de que não posso deixar de me envergonhar. Que meu
irmão descobriu quem é o Ghost Killer antes de mim. Ele sabia, e a
única maneira que consigo pensar é porque ele estava fazendo algo
sórdido. O Ghost Killer tem policiais e advogados em seu bolso. Só acho
que ninguém conhecia seu rosto até Ryan.
A lembrança daquele telefonema me irrita novamente. No segundo
em que Ryan desligou o celular, quase quebrei as juntas dos dedos na
mesa de metal da sala de interrogatório. Eu queria que o Ghost Killer
fosse encontrado, não importa o custo, mas foda-se se não doía que
Ryan fosse o único a resolver o caso. Sua confiança era tão inabalável
que acreditei nele.
— Vamos mostrar que o Ghost Killer sabia que Ryan tinha provas
contra ele e se livrou dele. – eu continuo.
River se mexe, encolhendo os joelhos contra o peito e envolvendo-
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os com os braços com força. Ela apoia o queixo nos joelhos e me encara
com tristeza.
— Vamos fazê-lo falar. – ela garante suavemente.
Balanço minha cabeça, passando minha mão pelo meu cabelo. Não
tenho esperança de que Ryan fale. Se sei alguma coisa sobre meu irmão,
é que ele é uma pessoa rancorosa e má. Não me contar quem é o homem
que estou perseguindo há um ano será sua única vitória.
Repasso o restante do plano com ela, certificando-me de que ela
entenda o papel que terá de desempenhar muito em breve. Por mais que
isso me mate, River nunca pode ser vista como a namorada abusada,
pelo menos não até que haja uma quantidade suficiente de evidências
para mostrar que Ghost Killer pegou Ryan. Qualquer coisa para manter
o motivo longe de River é a principal prioridade agora, mesmo que isso
signifique que a reputação de garoto de ouro de Ryan não vai queimar
em chamas com ele.
— Ele precisa desaparecer, River. – digo hesitante. Ela sabe
exatamente o que quero dizer.
Ela acena com a cabeça, não parecendo nem um pouco perturbada
por matá-lo. Algo não está certo em permitir que ela faça isso.
— Eu não acho que posso deixar você fazer isso.
Sua cabeça vira para mim.
— Porra, você não pode. Isto é por mim. Não se atreva a agir como
meu cavaleiro. Quando você vai perceber que não preciso de você para
me salvar? – ela range os dentes, com os olhos perspicazes com raiva.
— Você tem razão. Você não precisa de mim para te salvar. Mas se
eu puder ajudar a evitar que você caia nesse buraco, eu o farei.
Ela balança a cabeça, olhando para longe. Ela deveria esperá-lo em
casa esta noite, de acordo com nossa história inventada. Quando ele não
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voltar para casa, ela vai ligar para meus pais, perguntando se tiveram
notícias dele.
Eles vão garantir a ela que ele está bem, provavelmente atrasado.
Ela vai dormir preocupada. De manhã, quando ele ainda não estiver em
casa, ela vai reportá-lo como desaparecido. É quando a merda vai ficar
real. Realmente muito real.
Ansiedade percorre em meus nervos. Meus braços tremem enquanto
minha adrenalina pulsa. Farei tudo ao meu alcance para manter a
monitorização longe de River. Vou virar um mentiroso por essa garota.
E foda-se, não vou me arrepender nem um segundo disso. Não quando
essa garota me prendeu em seu pequeno feitiço sombrio.
Depois de tudo dito e feito, ainda estou determinado a mostrar a ela
como é um relacionamento real. Nem estou preocupado se ela me quer
de volta. Eu sei que ela quer.
— Esta é a minha matança, Mako. – ela diz suavemente,
sintonizando-me de volta na conversa. — Eu meti... você... nisso. E serei
eu quem o matará.
— Essa noite?
— Essa noite.
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Mako está ao meu lado, apesar de eu pedir para ele ficar lá embaixo.
Ele se recusou e me seguiu apenas para olhar para o patético e velho
Ryan, pendurado por uma corda no teto. Faz apenas dois dias e ele está
desidratado e sofrendo de perda de sangue. Seus braços estão ficando
cinza com uma leve tonalidade azulada, todo o sangue foi drenado de
seus membros há algum tempo. Parte de mim quer deixá-los para baixo
para que ele possa sentir a dor aguda e ardente.
— Prometi a mim mesma que enfiaria alguma coisa na bunda dele.
– eu afirmo calmamente. A cabeça de Mako vira na minha direção muito
mais rápido do que a lenta elevação da cabeça de Ryan. Ele me encara
com o fervor de um atiçador quente em uma fogueira.
— Por quê?
— Pelas vezes que ele enfiou o pau na minha bunda e me estuprou
brutalmente. – eu respondo, com minha voz calma e uniforme. Pressiono
meus lábios, abrindo-os e adiciono: — Duas vezes.
A reação de Mako, no entanto, é oposta à minha. Ele quase explode,
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colocou lá.
Os olhos de Ryan se arregalam gradualmente enquanto eu falo.
Quando termino, ele está tremendo. Percebi que não estou interessada
em beijar seus pés e implorar por perdão. O idiota está balançando como
uma árvore vazia nos ventos do inverno. A qualquer momento, ele será
arrancado do chão e jogado direto na porra de um triturador de madeira.
— Vai pagar por isso, River. Você também. – ele grita, desviando
seu olhar fervoroso para Mako. Nenhum de nós lhe deu uma resposta.
Dar a ele qualquer tipo de garantia ou satisfação certamente me manteria
acordada à noite depois que tudo isso fosse dito e feito. Não importa a
tortura e a matança - saber que ele encontrou até mesmo a menor coisa
para se agarrar em seus últimos dias me faria revirar a noite toda.
Preciso do meu sono de beleza, considerando que tive tão pouco
durante o nosso relacionamento. Ele me deve muito.
— Você não está enojado com isso? – Ryan grita perplexo, olhando
para Mako como se ele tivesse barbatanas e estivesse voltando a ser o
peixe que lhe deu o nome.
Sinceramente, não espero que Mako me queira mais. Eu mostrei as
profundezas da minha depravação. Deixei mais do que claro que estou
muito longe de sentir remorso por minhas ações. Na verdade, deixei
claro que também estou gostando.
Mako é muito... bom. E o pensamento de perder algo assim antes
que eu tivesse dói. Mas posso lidar com isso. Vou me recuperar e, se de
alguma forma me safar disso, vou viver o resto da minha vida com
Mako enfiado no canto de trás do meu cérebro, apenas para sair quando
meu vibrador estiver no meu clitóris.
O referido homem apenas cruza os braços sobre o peito e ergue uma
sobrancelha de tédio. — Sou um detetive. Já vi coisas piores. E também
sei exatamente como encobrir um assassinato. – ele lembra.
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— Por que você iria querer ajudar uma psicopata, Mako? Você
sabe que ela vai te matar a seguir.
— Estou ficando entediada com suas habilidades de barganha.
Como você é advogado? – eu interrompi. Para ser sincera, não quero que
essa semente seja plantada na cabeça de Mako. Aceitei o fato de que ele
não vai me querer, mas isso não significa que quero que ele pense que
sou o mesmo tipo de monstro que seu irmão.
— Vamos acabar logo com isso, River, certo? – Mako diz. Eu tento
captar seu tom, encontrar qualquer tipo de emoção nele. Mas ele está
completamente desprovido disso, e não tenho certeza de como
interpretar isso.
— Primeiro. – eu anuncio. — Quem é o Ghost Killer, Ryan?
Já sei quem é, mas prefiro que venha da boca de Ryan. Ainda não
descobri como vou abordar essa situação. Eventualmente, eu teria que
contar a Mako a verdade. Ele não vai me perdoar por guardar esse
segredo. Mesmo agora, não tenho certeza do que está me impedindo. O
que diriam meus livros de psicologia?
Ah, sim. Que eu tenho pavor de Billy. Billy é o meu famoso
sequestrador. Ele me prendeu em uma casa, fez uma lavagem cerebral
em mim para acreditar que, se eu escapasse, morreria e depois me
deixou sozinha em casa com a porta aberta.
Estou com muito medo de sair por aquela porta, com medo de que
Billy esteja ali esperando por mim.
Ryan inclina a cabeça para trás e ri. Risos e gargalhadas, com a voz
áspera e rouca. — Como se eu fosse te dizer isso. – ele gargalha, o som
é maníaco e desequilibrado. — Você nunca vai saber quem é, e ele
esteve bem debaixo do seu nariz o tempo todo.
Mako está tenso, mas não diz uma palavra. Em vez disso, ele apenas
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encara Ryan com uma indiferença fria, guardando seu último momento
com seu irmão na memória. Eu observo Mako de perto, esperando para
ver se ele quer continuar tentando.
— Vou tornar sua morte menos dolorosa. – eu negocio.
Mako vira a cabeça para mim. — Não, River.
Ryan apenas olha para mim. — Vá se foder, vadia. Não vou contar
nada a ele.
Suspiro, resignada com o fato de que, se Mako não o pegar logo, a
identidade do Ghost Killer sairá da minha boca. E esse pensamento me
apavora mais do que a perspectiva de ser pega pelo assassinato de Ryan.
— Apenas faça isso. – Mako pede baixinho. Eu encontro seus olhos
verdes e não encontro nada além de segurança. Ele está me dizendo que
está tudo bem, e parte meu coração que Ryan ainda esteja machucando
Mako, mesmo diante da morte.
Calmamente, vou até a vassoura quebrada, coberta com fita dupla-
face, exceto pela ponta irregular. Pendurado na ponta do cabo está o feio
anel de noivado de Ryan. Na fita, estão pequenos cacos da caneca
favorita de Ryan. Quando ele me vê chegando com isso, ele luta
arduamente, movendo o corpo de um lado para o outro, tentando escapar
das cordas, mas só consegue desalojar os ombros de suas juntas.
Mako não se vira quando tiro sua cueca, agarro o seu pau mole e
começo a cortá-lo com a faca de corte. Em vez disso, ele pega o rolo de
fita adesiva, arranca um pedaço e coloca na boca de Ryan para abafar o
grito maníaco saindo de sua garganta.
Hesito um pouco quando termino minha tarefa. Posso ser um pouco
desequilibrada, mas porra, isso é nojento. Quando termino, respiro fundo
para tentar acalmar meu estômago revirado. Então, sem hesitar, enfio a
vassoura na bunda de Ryan.
Mesmo a fita adesiva não pode conter os gritos de Ryan. E essa
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olhos arregalados e boca aberta. Por motivos que ainda não estou pronta
para enfrentar, tiro o celular do bolso e disco o número de Matt sem
dizer mais nada. Mako retoma sua posição anterior, embora eu tenha a
sensação de que é porque ele quer se esconder dessa conversa.
Tenho que falar com um estuprador. Alguém que machucou um
garoto repetidamente. E agir como se nada estivesse errado. Como se ele
não fosse um pedófilo de merda e eu não apenas matei seu filho.
— Fitzgerald. − Matt responde sonolento. Imagino-o acendendo a
luz em seu criado-mudo, enquanto Julie levanta a cabeça com o olhar
confuso, imaginando por que seu marido está recebendo uma ligação
tarde da noite. A saudação faz meu lábio tremer. Ouvir sua voz faz todo
o meu corpo se contorcer de desgosto.
Engolindo em seco, abro a boca e faço a coisa mais difícil que já
tive que fazer. Lamentar o desaparecimento de Ryan. — Oi, Matt, é
River. − digo, com minha voz tremendo.
Há uma breve pausa, cheia de confusão e apreensão, antes de Matt
se recuperar, parecendo mais alerta. — River! É tão bom ouvir você.
Está tudo bem?
Meus olhos se fecham quando ouço a pergunta. É uma pergunta
simples, na verdade, mas ainda tem a resposta mais complicada.
— Hum, na verdade não tenho certeza, Matt. − eu respondo,
mantendo meu tom preocupado. — Olha, eu realmente sinto muito por
te ligar tão tarde, mas sexta à noite, Ryan disse que tinha que sair da
cidade para trabalhar. Ele não disse para onde estava indo, mas... − eu
paro, deixando as lágrimas se acumularem e sangrarem em minha voz
— Ele já deveria estar em casa. E... ele não está respondendo minhas
mensagens ou ligações. Só estou muito preocupada com ele. − eu
termino o tom com uma fungada, lágrimas reais escorrendo pelo meu
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rosto.
Até agora, a cabeça de Mako já levantou e ele está olhando para
mim com algo entre surpresa e admiração. Tudo o que eu tinha que fazer
era me permitir sentir. Permitir-me encarar o fato de que o homem por
quem pensei estar apaixonada acabou sendo nada mais do que o próprio
Satanás. A maçã não cai muito longe da porra da árvore.
— Hum... bem, uma reunião de trabalho, não é? Bem, querida,
tenho certeza de que ele acabou passando a noite em um hotel ou algo
assim. Vou ver se consigo falar com ele. Se não tivermos notícias dele
até amanhã de manhã, farei algumas ligações, ok? Apenas tente não se
preocupar, tenho certeza que Ryan está são e salvo.
Mako faz uma careta enquanto mordo o interior da minha bochecha
com força. Eu fungo e faço parecer patético quando digo: — Ok, Matt.
Muito obrigada. Avise-me se souber alguma coisa.
— Ok, querida, eu vou. Boa noite agora.
Desligo o celular e solto uma respiração áspera. Falar com Matt foi
especialmente difícil.
Muito mais difícil do que assassinar meu próprio namorado.
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A casa está completamente escura, exceto pela luz forte da TV na
minha frente. Eu fico na frente dela, observando a repórter falando em
uma voz monótona. Ela está usando maquiagem demais.
Eu me corrijo. Ryan sempre disse que eu usava maquiagem demais.
Ela é bonita. Linda.
"Os policiais ainda estão investigando o desaparecimento de Ryan
Fitzgerald, um morador de 25 anos da Carolina do Norte, que foi dado
como desaparecido em 8 de Setembro. Se alguém o viu ou ouviu falar
dele, por favor, entre em contato com a delegacia de polícia local..."
Entre em contato com a delegacia de polícia local? Para onde eles
acham que ele fugiu? Fora do Estado? Ora, ele estava apenas em um
sótão, minha querida. Agora, não há mais nada dele para encontrar. Nem
mesmo se você for procurar na merda de porco.
Um toque estridente atrai meu olhar para o meu celular tocando,
vibrando na mesa ao meu lado. Julie. Eu ainda não falei com ela.
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— Não posso fazer isso, não posso fazer isso, não posso fazer
isso…
— River, me escute...
— Eles estão acampando do lado de fora da porra da casa, Mako. −
digo trêmula, com minha voz pronta para sumir por causa dos tremores.
Passo a mão pelo cabelo, apertando o couro cabeludo até sentir pontadas
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É anoitecer, o que significa que está escuro aqui. Nossa única fonte
de luz é a lua brilhando pelas janelas e a luz suave do meu celular na
minha mão. Os olhos verdes de Mako estão escuros, escurecendo seus
olhos para um verde musgo intenso.
Minha mão está no meu peito, segurando meu coração acelerado,
enquanto meus olhos arregalados permanecem fixos nos dele. Eu só
posso imaginar como eu pareço para ele agora.
— Você é linda. − ele sussurra, como se lesse minha mente. Eu
odeio quando ele faz isso. Odeio que ele saiba o que estou pensando.
Essa palavra - linda - envia gelo pelas minhas costas e fogo em
minhas veias, tudo de uma vez. Mako me chamando de linda é
debilitante. Eu quero odiá-lo e apreciá-lo.
— Odeio essa palavra. − digo de volta, endireitando-me em uma
posição um tanto normal que um ser humano deveria estar.
— Por quê? − ele pergunta, com sua voz ainda baixa e calma. Como
se falarmos mais alto, seremos pegos pela bibliotecária rosnante que
exige silêncio o tempo todo. Eu gostaria que houvesse uma aqui. Ser má
com Mako parece muito divertido.
— Ouvi isso toda a minha vida das pessoas erradas. − eu admito.
Uma raiva fria se instala em seus olhos, mas ele não a libera. Tão calmo
e contido. Tão diferente de seu irmão.
— Você se sente melhor quando ouve isso vindo da pessoa certa? −
ele pergunta, com seu corpo parado.
— Eu não sei. − sussurro. Dou um pequeno passo em direção a ele.
Encurtar o pouco de distância entre nós é como aproximar a mão da
boca de um tigre. A qualquer momento, vou precisar de ajuda. — Diga
isso de novo.
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— Você mudou minha vida, foi o que você fez. − O V entre minha
testa intensifica quando franzo a testa. Não sei o que ele poderia querer
dizer com isso.
— Você deu um soco no nariz de um homem por tocá-la de um jeito
que você não gostou. Ele estava se preparando para bater em você, e eu
intervi.
Meus olhos se arregalam quando a memória vem correndo de volta,
atingindo meu cérebro como um maremoto. Aquele era o Mako. O
homem que parou o babaca bêbado ao me dar um tapa depois que
quebrei o nariz dele. Afastei-me dele sem agradecer, embora estivesse
tentada a mostrar meus agradecimentos de maneiras mais nefastas.
— Puta merda. − eu suspiro. — Eu me lembro disso. Eu não tinha...
não sei por que não percebi que era você.
Ele encolhe os ombros, dando um passo em minha direção. A
ansiedade de antes começa voltar quando a temperatura na sala começa a
subir.
— Você também não percebeu que fui eu quem dançou com você
naquela noite. − ele diz - calmamente - como se não tivesse acabado de
jogar uma enorme bomba em mim.
— Foi você? − pergunto incrédula, com meu corpo recuando em
estado de choque. Mako tem sido meu homem misterioso esse tempo
todo? O homem que assombraria o fundo do meu cérebro, apenas para
ser solto em raros momentos de fraqueza.
Um sorriso satisfeito contrai o canto de seus lábios.
— Fui eu. − ele confirma. Ele está olhando para mim agora como se
finalmente tivesse me recuperado. É sexy como o inferno, e meu corpo
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Eu não planejei que esse momento acontecesse, pelo menos não
agora de todos os tempos. Admitir para River que eu estou apaixonado
por ela acabou escapando. Mas é muito difícil se arrepender quando ela
está olhando para mim como se estivesse se preparando para me
devorar. A demanda inebriante escapando de seus lábios me fez reagir
instantaneamente, ouvindo seu comando como um cão treinado.
Eu a alcanço em dois grandes passos, ou talvez seja um e ela deu o
outro passo. Minha mão está acariciando em seus cachos macios e sua
boca ainda mais macia está pressionando a minha de uma só vez. Os
lábios de River McAllister nos meus parecem o paraíso na terra.
Um suspiro trêmulo escapa de sua boca, girando na minha enquanto
nossas bocas se abrem e nossas línguas se encontram. Porra, ela tem um
gosto mais doce do que eu imaginava. Incontáveis noites, eu fantasiei
sobre esses lábios nos meus. No meu corpo, e especialmente no meu pau
enquanto eu me distraía a pensar nela. Muitas noites fazendo a mesma
coisa, desde o momento em que coloquei os olhos em River dando uma
coça no paspalho no clube. No momento em que seus olhos dourados
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— Eu… ainda não estou pronta para brincadeira anal. − ela diz
gentilmente. O porquê de ela não estar pronta ameaça ferver meu
sangue. River já havia admitido em voz alta o que Ryan fez com ela. Eu
fecho meus olhos, coagindo minha temperatura perigosamente crescente
a cair antes que eu transborde. Agora não é hora de perder a cabeça.
— Ok. − eu respiro, abrindo meus olhos novamente. — Algo mais?
Ela dá um aceno de cabeça. — A única coisa que peço é que não me
trate como se eu fosse de vidro. Eu não sou fraca. Nunca serei fraca. Eu
só quero que você seja você.
Bem, isso já posso fazer.
Antes de pressionar meus lábios contra os dela mais uma vez,
sussurro: — Nem por um segundo pensei que você fosse fraca.
Suas roupas são arrancadas de seu corpo em questão de segundos.
Garras e mãos atacam minhas roupas enquanto ela rasga o tecido do meu
corpo com a mesma seriedade. Nossas bocas se abrem apenas o tempo
suficiente para tirar as roupas antes de se colarem uma na outra mais
uma vez.
Esta sala é empoeirada e suja, não é um lugar ideal para fazer sexo.
Mas venderia minha alma ao diabo se isso significasse que nunca teria
que parar.
Eu a pego, com as suas longas pernas suaves envolvendo minha
cintura. Meus joelhos quase colapsam quando sinto seu calor úmido
contra meu pau. Um gemido segue quando seus quadris movem uma
vez, duas vezes... — River. − eu resmungo. — Você está me matando.
Ela sorri contra a minha boca e move os quadris novamente, com
meus olhos copiando o movimento de seus quadris. Antes que eu me
envergonhe e caia e a deixe cair, ou goze aqui e agora, vou até o banco
em que nos sentamos apenas alguns meses atrás. O mesmo banco que
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Ela já viu meu pau antes, como era grande, mas imagino que senti-lo
dentro dela é uma perspectiva totalmente nova.
Eu não posso evitar. Um enorme sorriso satisfeito se abre em meu
rosto, me fazendo revirar os olhos quando ela o vê. Sei que sou maior
que a maioria, muito maior que a maioria. Mas não me importo com o
que alguém diga, nenhum homem pode negar a satisfação final quando
uma garota elogia isso. Especialmente a garota por quem você está
loucamente apaixonado.
— Eu machuquei você? − pergunto, levantando meus quadris um
pouco. Sua boca se abre e seus olhos voltam ao estado semicerrado.
— Gosto do jeito que você me machuca. − ela sussurra. Algo
primitivo surge dentro do meu peito. É uma fera viva que respira que
River acabou de acordar de seu sono. Minhas mãos apertam seus quadris
até ter certeza de que ela vai ficar com marcas das minhas mãos por um
ou dois dias. Ela se inclina para frente e encosta seus lábios carnudos
nos meus.
Meus jeans descartados estão ao lado do banco. Com facilidade
praticada, tiro minhas algemas e as coloco em seus pulsos, prendendo-as
atrás das costas em segundos. Ela para, com minhas ações alcançando-a
quando ela percebe o que eu fiz.
— Eu sou sua prisioneira? − ela pergunta sedutoramente.
Eu mordo meu lábio, gostando bastante da forma como seu peito se
projeta e seu corpo se curva para acomodar as algemas.
— Enquanto você estiver disposta a ser. − murmuro.
— Você vai me soltar no segundo que eu mandar. − ela me diz, com
sua voz suave, mas severa. Eu encontro seu olhar, certificando-me de
que ela pode ver a verdade em minhas palavras.
— Elas vão embora antes que você termine a frase. − eu prometo.
Ela acena com a cabeça uma vez, girando os pulsos suavemente,
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perdê-lo.
Fecho os meus olhos, com uma expiração áspera liberando o pânico
persistente. Eu agarro cada lado de sua cabeça e levanto suavemente sua
cabeça até que seus olhos lacrimejantes e vermelhos estejam olhando
para mim. Meu coração para e se contrai. Ela é tão linda que dói.
— Entendo. É assim que me sinto há meses. Mas se eu tiver algo a
ver com isso, River, isso nunca vai acontecer.
Seus olhos se fecham, seus longos cílios negros se aglomeram com
lágrimas se espalhando por suas bochechas avermelhadas. Ela cede e
acena com a cabeça.
— OK. Eu posso aceitar isso.
Minha testa franze. Eu pensei que ela tinha parado de ir lá por algo
tão trivial. Duvido muito que a Barbie pague muito aluguel a River.
Mas talvez ela esteja preocupada com dinheiro. Suponho que sem Ryan,
ela acha que precisará começar a se sustentar novamente.
— Nós dois sabemos que não é seguro, River. − digo calmamente,
apoiando os cotovelos nos joelhos separados e entrelaçando os dedos.
Eu olho para ela, observando seu rosto inexpressivo. Ela está sentada na
beirada do banco, com a coluna ereta e os próprios dedos entrelaçados
com força. Ela parece estar prestes a correr.
— Eu sei. − ela concorda. Seus olhos abaixados levantam para os
meus. Algo está à espreita nas profundezas de suas órbitas de mel - uma
emoção que não consigo identificar. Uma pedra se instala em meu peito
e meu estômago embrulha como se eu tivesse bebido leite estragado.
— Você sabe. − eu ecoo lentamente. — E se Billy estiver lá? − eu
pressiono, lembrando o bicho-papão de sua infância e o homem que a
espancou até jorrar sangue de todos os lados. O homem que estou
morrendo de vontade de colocar minhas mãos e conduzir minha própria
tortura. Se eu não a estivesse estudando como um arqueólogo estuda
hieróglifos, teria perdido o ligeiro tremor à menção de seu nome. A
reação desperta todos os tipos de sentimentos dentro de mim. Não
importa o quanto River tente esconder, ela tem pavor de Billy.
Mais uma razão para conhecê-lo.
— Ele não vai estar. − ela afirma com firmeza, segura de si. Não sei
como ela poderia saber disso, mas se sei alguma coisa sobre essa mulher
teimosa é que não importa o que eu diga, ela vai de qualquer maneira.
— Eu vou com você então. − Seus olhos se arregalam e viram para
mim. Um protesto se forma em sua língua, mas eu aperto meus lábios e
dou a ela uma clara advertência, balançando a cabeça uma vez. Seus
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ombros abaixam em derrota. Se ela souber alguma coisa sobre mim, não
importa o que ela diga, irei de qualquer maneira.
Eu fodi tudo.
No momento em que aquelas palavras saíram da minha boca, eu
sabia que tinha fodido tudo. Eu deveria ter pensado melhor antes de
dizer a Mako que vou ver a Barbie. Mas não sabia como ir embora
depois que acabamos de... bem, aquilo, e não ser estranho. Você não sai
apenas com um "até logo" quando alguém te fode do jeito que Mako me
fodeu.
Meu estômago aperta com um desejo inebriante e uma emoção
aguda pela milionésima vez quando me lembro do que fizemos apenas
vinte minutos atrás. É patético da minha parte já querer fazer isso de
novo. E de novo. E outra vez.
Mas preciso ver a Barbie. Já esperei muito tempo, muito ocupada
me escondendo em casa e longe de olhares indiscretos. O Ghost Killer -
ou Billy - ainda está por aí. Eu esperava obter mais informações da
Barbie enquanto tento descobrir como diabos devo contar a Mako quem
é o Ghost Killer. Ele vai me odiar, eu já sei. Ele dedicou muito tempo e
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E esta casa suja não existe em nenhuma lista para impressionar seu
namorado. Ryan zombou e olhou para esta casa e Barbie. Toda a
experiência me deixou envergonhada e com um gosto ruim na boca, e
tenho quase certeza que fez Ryan olhar para mim com um pouco menos
de admiração.
Com Mako, só quero protegê-lo desta vida. Não porque sinto
necessidade de impressioná-lo, mas porque tenho medo de que ele tenha
pena de mim. A última coisa de que preciso é pena.
Mas claro, Mako sempre me surpreende. A mesma coisa que
diminuiu nos olhos de Ryan é a mesma coisa que brilha nos olhos de
Mako enquanto ele olha para mim. Admiração. Ele não precisa dizer as
palavras agora, ele já as disse antes. Ele está... orgulhoso por eu ter saído
de um inferno como este e me tornado a mulher que sou hoje. Mesmo
que eu seja uma assassina. Não importa para Mako. Não quando a
pessoa que matei merecia cada coisa que fiz a ela.
— Você tem o dinheiro? − pergunto impaciente. Barbie está sentada
em sua cadeira de sempre, fumando um cigarro.
— Você não pode vir aqui para visitar sua mãe uma vez? Você só
vem aqui por dinheiro. Você está começando a me fazer sentir usada.
Eu dou a ela um olhar seco. — Que fofo, Barbie. Muito fofa.
A escuridão surge no canto da minha visão. Odeio estar nesta
cozinha.
— River já contou a história de como ela conseguiu o nome dela? −
Barbie pergunta, olhando Mako de cima a baixo como um pedaço de
carne. Eu a corrigiria se não fosse culpada de fazer a mesma coisa toda
vez que estou perto dele.
— Não. − Sua resposta é curta e concisa. Eu diria desinteressada se
não fosse pela peculiaridade de uma sobrancelha arqueada em minha
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se joga e bate a porta atrás de si. Não querendo que ele vá embora sem
mim, entro no carro, mal fechando a porta antes que ele saia da
garagem, deixando marcas de derrapagem em nosso rastro.
Ambos os punhos estão cerrados ao redor do volante com tanta
força que o couro está rachando sob seu aperto. As juntas dos dedos
brancas me encaram na escuridão, me lembrando de que estraguei tudo.
De novo.
Seus braços tremem e sua respiração preenche o silêncio tenso com
rajadas curtas e desconexas.
— Você tem uma foto dele? − ele pergunta firmemente, com raiva
colorindo seu tom.
— Sim. − sussurro, com minha boca com gosto de cinzas. Lágrimas
embaçam minha visão quando pego meu celular e procuro a única foto
de Billy que tenho. Tirei-a anos atrás, antes de partir. Ele estava
particularmente louco naquela noite, brutalizando-me e destruindo-me
mentalmente e fisicamente. Eu já havia garantido minha vaga na
universidade e sabia que iria embora em uma semana. Ainda não sei por
que me arrisquei, mas entrei furtivamente quando Billy estava olhando
para mim, ainda zangado por tudo o que fiz naquela noite. As razões da
raiva de Billy me escapam, a única coisa que resta é o abuso que ele
infligiu por causa disso.
A luz forte do meu celular ilumina o rosto sério de Mako enquanto
eu entrego o celular trêmula. No segundo em que seus olhos pousam na
foto, ele pisa no freio e joga o carro no acostamento. Meu corpo se
inclina para frente com a força e, mesmo no meio de sua raiva, Mako
ainda se preocupa comigo o suficiente para colocar o braço em meu
peito e me empurrar de volta para o assento.
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miseravelmente.
— River. Seu namorado foi assassinado há apenas duas semanas.
Você me disse que aquele homem perfeitamente comestível fodeu até a
alma do seu corpo e, uma hora depois, expulsou você do carro porque
descobriu que seu agressor também é um notório serial killer e você
sabia disso e não contou a ele. E, que sua mãe lhe disse que aquele
notório serial killer também é seu pai. − ela faz uma pausa para um
efeito dramático, ganhando um revirar de olhos. — Por que diabos eu
não estaria preocupada?
— Não sei se ele é realmente meu pai. − murmuro, ignorando os
outros vários pontos válidos que ela fez.
— Quer ele seja ou não, ele é um homem mau que tem aterrorizado
você a vida inteira. Eu entendo porque Mako está chateado, eu realmente
entendo. Mas ele não entende até que ponto você está absolutamente
apavorada com Billy? Ele não percebe o trauma que o homem infligiu a
você e, por sua vez, ganha sua lealdade relutante simplesmente porque
você teme por sua vida?
Foi por isso que liguei para Amelia e contei tudo a ela. Bem, nem
tudo. Obviamente, não contei a ela que torturei e matei meu namorado.
Confio em Amelia com toda a minha alma e ser, mas isso não significa
que ela merece ser sobrecarregada com um segredo como esse.
Mas estou feliz por ter confessado tudo a ela. Ela não é apenas um
ombro para chorar e um ouvido para ouvir, mas ela entende. Ela entende
como é ser abusada. Ela entende o trauma e o medo. Nós duas sabemos
que eu deveria ter contado a verdade a Mako. E porque mantive minha
boca fechada, várias pessoas foram assassinadas por causa do meu
silêncio. Nunca foi dito, mas sei que esse pensamento também passou
pela cabeça de Mako.
— Não sei, Amelia. Acho que ele está com muita raiva para
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racionalizar dessa forma. É difícil para alguém fazer isso quando não
sabe como é ter alguém assim assombrando sua vida.
Ela suspira e acena com a cabeça, concordando.
— Acha que Billy vai saber que foi você e Barbie que contaram a
Mako quem ele realmente era?
Mordo meu lábio, debatendo o quanto devo divulgar. Se eu conto a
ela a verdade sobre como estou com medo de que Billy venha atrás de
mim. Olho para ela, e o que quer que esteja em meus olhos deve
responder a sua pergunta. Seu lábio treme.
— As câmeras estão funcionando de novo? − ela pergunta no lugar
da minha resposta. Eu aceno uma vez.
— Venha para casa comigo.
— E possivelmente colocar você e a vida de seu filho ainda não
nascido em perigo? Eu deveria dar um soco em você por sugerir algo
assim. − digo, com um tom mordaz. Ela se encolhe, mas acena com a
cabeça em aceitação. A triste verdade é que Amelia entende que não há
muito que eu possa fazer para me livrar de Billy. E saber disso, como
minha melhor amiga, a está matando por dentro. Assim como
aconteceria comigo se nossos papéis fossem invertidos.
— Então, tirando esse maldito Ghost Killer. Como você está
lidando com tudo? − ela pergunta, forçando a conversa para longe de
algo incrivelmente assustador enquanto ela distraidamente esfrega a mão
na barriga. Ela disse que ele já começou a chutar. Olho fixamente para a
barriga dela, subornando silenciosamente o bebê Beckham para chutar a
mãe para que eu possa sentir.
— Tudo como meu namorado abusivo sendo assassinado ou o fato
de que acho que me apaixonei por seu irmão e ele me odeia agora? −
Amelia me dá um olhar divertido. Eu suspiro. — Não estou triste pelo
Ryan. Talvez eu devesse estar porque estivemos juntos por mais de dois
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anos, mas qualquer amor por ele já foi pela janela. Ele me bateu, me
estuprou e me traiu. Eu não sinto nada.
Amelia cai dramaticamente contra o sofá. — Estou feliz que você
disse isso. Eu estaria totalmente disposta a simpatizar com você se você
ainda estivesse apaixonada e sentisse a falta dele, mas isso também
machucaria minha alma.
Sorrio, sentindo-me um pouco mais leve do que há dias. — Quanto
a Mako… não sei o que está acontecendo. Finalmente percebi que ele é
tudo que eu quero em um homem ao mesmo tempo em que ele percebeu
que eu sou tudo que ele odeia em uma mulher.
Amelia bate levemente na minha perna, dando-me um olhar. — Isso
não é verdade, River. Mako está chateado, e com razão. Mas ele disse
que te amava, e mesmo que eu só o tenha encontrado por tipo, trinta
segundos uma vez, ele não parece ser o tipo de homem que diz isso para
qualquer uma. E nesses trinta segundos, ele olhou para você como se
você pendurasse a porra da lua e as estrelas, por mais brega que essa
merda seja, ok? Ele te ama, ele só está magoado.
Meu lábio treme, e maldita seja a vadia por me dar esperança. Eu
odeio esperança. Odeio essa palavra tanto quanto odeio a palavra linda.
A esperança é desesperada. Esperança é decepção. Eu não esperava que
Mako voltasse para mim e agora estou destruindo essas expectativas e
substituindo-as por outras esperançosas. De mau gosto.
— Devo entrar em contato com ele?
Ela não responde de imediato, parecendo procurar a resposta nas
minhas meias de pinguim, como se os pássaros que não voam fossem
revelar os segredos do universo. Por fim, ela diz: — Deixe que ele venha
até você. Ele precisa se acalmar e pensar sobre as coisas racionalmente,
e agora, isso é muito difícil de fazer quando ele está lidando com pais
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— O quê? − gritei.
— Eu odiava minha mãe.
Nunca na minha vida pensei que estaria sentado aqui consolando
minha mãe enquanto enterrávamos seu filho - meu irmão. Não que eu
pudesse tecnicamente chamá-lo assim. Ele nunca foi muito irmão e mais
um abusador. Isso é o que ele era para muitas pessoas.
A cabeça de mamãe está apoiada em meus ombros, chorando com
seus olhos azuis tristes enquanto baixamos o caixão de Ryan no chão em
uma manhã fria de sábado. Um caixão vazio. Papai está do outro lado
dela, mal se segurando enquanto abraça sua esposa do outro lado, com
seu braço firmemente em volta de sua cintura fina. Eu estou me
controlando para não levantar meu braço para trás e bater nele. Não
importa que eu odiasse Ryan, isso não muda o fato de que ele estuprou
um garoto por sabe-se lá quantos anos. Ele realmente parou?
Isso é algo que nunca saberei.
Ainda não contei à mamãe a verdade sobre ele. Eu tentei, mas foi
tão difícil de fazer enquanto ela estava de luto pela morte de seu filho.
Estou com medo de ver como ela reagirá quando tiver que chorar pelo
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marido também.
Como muitas pessoas se preocupam com Ryan, mamãe e papai
insistiram em um funeral particular. Apenas família mais próxima, com
a óbvia inclusão de sua namorada.
Ela não está aqui, no entanto. Não tenho certeza se é porque ela
achava que não conseguiria manter a pretensão de sofrer por um homem
que a machucou de tantas maneiras, ou se ela não veio porque não
queria me enfrentar. De qualquer maneira, mamãe e papai estão
chateados por ela não ter vindo, sem uma palavra sobre o motivo.
E eu? Eu só estou puto pra caralho.
Parte de mim não sente que tenho o direito de estar com raiva. Ryan
fez uma merda bem fodida com ela, e se ela não quer aparecer no funeral
dele, então ela não deveria. Talvez eu só esteja com raiva porque isso me
daria uma desculpa para vê-la. Falar com ela. Mesmo que fosse apenas
uma interação cheia de raiva, teria acalmado algo em minha alma vê-la
novamente.
— Nenhuma mãe deveria ter que enterrar seu filho. − Mamãe
sussurra ao meu lado, enxugando o nariz com o lenço delicadamente.
— Eu sei, mãe. − sussurro também, sentindo um milhão de tons
diferentes de culpa quando sou eu quem ajudou a colocá-lo no chão – ou
melhor, em um monte de estômagos de porcos. Não me sinto culpado
por isso ter acontecido, sinto-me culpado por minha mãe ser quem está
sofrendo por isso.
O padre faz algumas orações. Mamãe dá um passo à frente, com o
ursinho de pelúcia de infância de Ryan em sua mão. Supostamente,
quando ele era um bebê, ele nunca largou aquela coisa. Era seu consolo
quando estava com medo, segurando o ursinho de pelúcia com as mãos
minúsculas, convencido de que isso o manteria seguro. Mamãe decidiu
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nos melhores termos - sem minha culpa - mas ela não conseguiu abrir a
maldita boca em nenhum momento enquanto eu a ajudava a encobrir o
assassinato do meu irmão?
Porra, ela até tentou obter a resposta de Ryan antes de matá-lo, já
sabendo a resposta por si mesma. E ela ainda manteve a boca fechada.
Isso dói. Dói que ela soubesse o quanto eu queria resolver este caso, o
quanto isso estava me afetando, e ela não se importava o suficiente
comigo para acabar com meu sofrimento.
Sou um ótimo detetive, eu sei disso. Estou prestes a ser promovido a
sargento, pelo amor de Deus. Cada detetive tem o seu. O único
criminoso que deu a eles um inferno absoluto para pegar. Ghost Killer
era o meu, e nenhuma parte de mim teria se envergonhado se River
revelasse suas suspeitas para mim.
A única coisa que me irrita mais do que River mentindo para mim é
o fato de que o Ghost Killer estava bem debaixo do meu nariz o tempo
todo, tentando foder com a investigação de qualquer maneira que
pudesse. Depois que sua história começou a mudar, parei de confiar
nele. Parei de ouvir. O uso prolongado de metanfetamina fode com sua
memória e não é estranho Billy provar seu próprio produto. Começou
com apenas alguns pequenos detalhes que mudaram e, eventualmente,
alguns detalhes importantes.
Isso me faz pensar o que teria acontecido com a investigação se
Billy tivesse vindo até mim como um homem sóbrio. Detesto admitir
que ele provavelmente teria conseguido foder com o meu caso. Eu não o
estaria perseguindo por tanto tempo se ele não fosse um homem
inteligente. Acho que posso ser grato pela metanfetamina se isso
significar que tenho um assassino frio começando a cometer erros.
O fogo dentro de mim está forte desde o momento em que vi
Benedict Davis no celular de River, olhando para a câmera com olhos
frios e sem vida e uma expressão que melhor se adequaria aos seus
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minuto.
Eu me afundo mais no colchão até ter certeza de que posso sentir o
chão frio penetrando em minhas omoplatas e espero que Billy apareça.
O tempo torna-se diluído. Caí em um sono inquieto quando ouço a
batida de uma porta. Meu corpo acorda de repente. Mal consigo me
impedir de ficar ereta. Se Billy não me matar primeiro, o ataque de dor
de fazer algo assim certamente o faria.
Abro minhas pálpebras, apenas para encontrar uma luz suave.
Mesmo com a suavidade do brilho, ele envia pontadas de dor na minha
cabeça.
— Você está acordada. − ele diz friamente. A escada de madeira
range sob seu peso. Cada rangido se irradia por todo o meu crânio,
seguido por uma dor penetrante tão aguda que tenho certeza de que meu
cérebro está se despedaçando. O filho da puta me deu uma concussão.
— Não me diga. − murmuro, com minha garganta seca e ardendo de
desidratação. No momento em que as palavras saem da minha boca, eu
me preparo para seu punho. Billy nunca gostou quando eu respondi.
— Cuidado. − ele surta. Felizmente, ele mantém as mãos para si
mesmo neste momento. Quando reúno coragem para olhar para ele, ele
está de pé sobre mim, com as pernas abertas e as mãos nos bolsos. Com
o rosto impassível e bem vestido como sempre, como se estivesse
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engravidei de você.
— É? − grito, com a histeria começando a possuir meu corpo. —
Queria que você também tivesse feito isso, Billy! Eu gostaria que você
também tivesse. Pelo menos eu nunca teria conhecido um homem vil e
patético como você!
— Cale-se! − ele grita, parando seu objetivo para me dar um soco
na parte de trás da cabeça. Estrelas surgem em meus olhos e, sem minha
permissão, o meu corpo relaxa. Assim que faço isso, Billy finalmente
abaixa minha calça. O frio atinge minha bunda, e algo sobre esse
sentimento faz minha pele arrepiar. Era sempre quando eu sabia que ia
ficar feio enquanto crescia. Uma vez senti minha calça escorregar pelas
minhas pernas, minha rede de segurança havia sumido e o que vinha
depois sempre doía.
A luta em mim rejuvenesceu, eu me contorço com força, movendo
para frente e para trás, mas sem sucesso. Seu peso cai em cima de mim,
me prendendo no lugar. Sinto sua ereção pressionando minha bunda nua,
com o zíper esfregando dolorosamente contra minha pele.
Ele enfia a mão entre nossos corpos, rapidamente desabotoando e
abrindo a calça em questão de segundos. Eu ofego quando sinto carne na
carne.
— Você é meu pai e vai me estuprar?! − grito, indignada e
perturbada por sua falta de moral.
Ainda não quero acreditar que ele é meu pai. Mas, no fundo, sei que
Barbie e ele não estão mentindo. Pequenas partes de memórias passam
pela minha cabeça. Barbie cuspindo em mim quando sorri para meu
ursinho de pelúcia velho, dizendo que eu sorria igual ao Billy. Ou
quando empurrei outro garoto por enfiar a mão no meu vestido,
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sonho. Coloque esse cigarro na boca mais uma vez sem responder à
minha maldita pergunta, e você estará engolindo a ponta errada. Agora.
Onde. Ela. Está?
Olho diretamente em seus olhos sem vida, agora infundidos com o
medo que ela está perdendo desde que eu disse a ela que sua filha foi
sequestrada por um dos homens mais perigosos do país. Respirações
ofegantes escapam de seus lábios rachados, com seu peito bombeando
profundamente.
— Eu... estou sendo honesta quando digo que não sei para onde ele
a levou. Mas sei que ele conduz alguns de seus... negócios no centro de
Hawk. Ele aparece lá algumas vezes por semana. Essa é a única
informação que tenho. É verdade quando digo que fico fora de seus
negócios.
Mentirosa. Mas vou aceitar as poucas informações que ela deu.
Melhor do que porra nenhuma, eu acho.
Sem quebrar o contato visual, eu lentamente me afasto. Sua mão
continua a tremer enquanto apaga o cigarro e então, muito gentilmente,
leva-o aos lábios.
— Eu vou encontrar River. Viva. E então vou levá-la para casa e
dar-lhe a vida que ela merece. Mas você nunca mais a verá. Então, se
você se importa com sua filha, console-se com o fato de que ela viverá
como uma porra de uma rainha enquanto você apodrece aqui e definha.
Ela sopra uma nuvem de fumaça e apaga o cigarro. Ela não parece
afetada por minhas palavras, mas traz seu olhar para o meu, com uma
emoção sem nome brilhando nas profundezas de seus olhos mortos.
— Obrigada.
Ela se levanta, joga a ponta de cigarro em uma lata de refrigerante,
com o cigarro se apagando em qualquer líquido que esteja lá dentro. E
então calmamente passa por mim e desaparece por um corredor,
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seja aberta e minha bunda esteja fora do banco. Contorno meu carro e
corro em direção à porta da frente, assim que a porta se abre, minha
garota sai correndo esbarrando em mim, com os olhos arregalados de
pânico.
— River! − Seus olhos se fixam em mim e, quando fazem isso, as
lágrimas os inundam. Ela quase me derruba, jogando todo o seu peso em
meu corpo.
— Mako! Cuidado! − A última coisa que vejo é o cano de uma arma
apontada diretamente para minha cabeça.
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O tiro é disparado, com o som alto e abrasivo ecoando. Sinto Mako
se mover embaixo de mim, logo antes de cairmos no chão. Outro tiro
ecoa. Aperto os olhos com força, esperando sentir a queimação nas
costas, mas tudo o que sinto é o peso de Mako abaixo de mim.
— Não se mova mais um maldito centímetro! − Uma voz grita atrás
de mim. Viro a cabeça e vejo o parceiro de Mako apontando uma arma
para Billy, com o último apontando para ele, segurando seu ombro
ensanguentado.
Virando minha cabeça para trás, levanto e inspeciono Mako. O
sangue está se acumulando sob ele, mas seus olhos estão abertos e vivos,
e seus dentes rangendo de dor.
— Mako! Você está bem? Por favor, me diga que você está bem. −
digo, as palavras saindo da minha boca enquanto eu cuidadosamente me
afasto dele. Ele ofega com o movimento.
— Estou bem. − ele resmunga.
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olhos azuis brilhando com excitação e pura maldade encarnada. Ele está
gostando desse impasse. Mesmo estando completamente em menor
número e já baleado, ele está tendo um prazer doentio com isso. Billy
sempre amou a emoção de sua vida pairando precariamente à beira da
morte.
Dou um passo para o lado, ainda mantendo a maior parte do meu
corpo atrás do de Mako, apenas se isso significar evitar que ele se
estresse ainda mais. — Você não é um deus, Billy. Você é apenas um
velho fracassado que não tem lealdade. É por isso que você continua
matando todo mundo, certo? Você não pode confiar em uma única alma
neste mundo porque todos te desprezam. − digo as palavras com todo o
ódio que posso.
Os lábios de Billy se curvam. Minhas palavras o consome porque
ele sabe que é verdade. As drogas destruíram o pouco de sanidade que
lhe restava. Ele está muito paranoico agora. Muito nervoso. É por isso
que ele se meteu na investigação de Mako. Ele pensou que se pudesse
mexer os pauzinhos por dentro também, ninguém iria pegá-lo. A última
coisa que ele esperava era que eu tivesse um relacionamento com um
detetive e chegasse perto o suficiente para contar a verdade. Billy matou
tantas pessoas. Feriu tantas famílias. Ele tem um inimigo a três metros
dele o tempo todo, e ele sabe disso.
— Eu te dei a vida, vadia. Vou tirá-la. − ele grita. Eu rio de suas
palavras. Em sua audácia de pensar que me matar é a pior coisa que ele
poderia fazer comigo. Ele já fez o seu pior. Ele já me arruinou para o
resto da vida. Eu nunca serei normal por causa dele. Matar-me seria uma
misericórdia.
— O caralho que você vai. − Mako intervém antes que eu possa
dizer qualquer outra coisa. Em um movimento rápido, Mako levanta a
arma, segurando-a pelo cano, levanta o braço e atira a arma diretamente
na cabeça de Billy. Ele acerta seu alvo, a coronha da arma acerta Billy
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tempo do que Ryan e fez muito pior comigo ao longo dos anos. Eu
também quero fazer parte disso.
Eu me arrasto para dentro de casa, lutando contra o frio que quer
tomar conta do meu corpo por estar de volta dentro desta casa. Demorou
meses até que eu pudesse entrar na casa da Barbie sem querer vomitar e
ter um colapso mental.
Só preciso me lembrar: estou segura agora. Mako está aqui. Amar
está aqui. Billy vai morrer, quer ele queira ou não. Estou segura.
No momento em que estou correndo para a cozinha, vejo uma faca
cravada no peito de Billy. Mako está sangrando muito e parecendo mais
pálido a cada segundo. Ele não está indo bem e esse conhecimento
instantaneamente pega qualquer outra coisa que eu esteja sentindo e atira
em chamas. Só consigo pensar no declínio da saúde de Mako.
— Amar, leve-o para o hospital.
— Porra, isso...
— ... Eu ficaria feliz em fazer isso. − Amar e Mako falam ao mesmo
tempo. — Mas não vou deixar você sozinha com ele. Vou levar Mako
até o carro e já volto.
Olho de lado para Amar, ainda desconfiada de onde está sua moral
quando se trata de cumprir a lei. Algo me diz que ele não é certinho e
estava mais do que disposto a deixar Mako fazer o que ele queria. Mas
não tenho tanta certeza de que ele faria o mesmo por mim.
— Estou bem, já resolvi isso. − Mako argumenta. Ele cambaleia.
— Você vai para o hospital, cara. Você perdeu muito sangue. −
Amar diz, correndo em direção a Mako e forçando o braço pesado de
Mako ao redor de seus ombros. O fato de Mako não lutar mais só
aumenta minha preocupação.
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quero olhar nos olhos enquanto tiro sua vida. Quero ver a vida
desaparecer deles quando eu fizer isso.
Lentamente, ando até a forma esparramada de meu pai no chão, com
cuidado para não escorregar em seu sangue.
— Amar, por favor, saia. − sussurro.
— Faça o que você precisa fazer, mas não vou deixar você sozinha.
Viro minha cabeça para o lado, observando-o de perto. Quando ele
vê meu olhar, ele repete: — Faça o que você precisa fazer.
Eu sorrio e me viro para Billy.
— Você é patético. − digo calmamente. Eu me agacho, com a arma
pendurada entre meus joelhos enquanto o observo. — Você viveu toda a
sua vida como o monstro. Desesperado para ser o pior para que ninguém
pudesse te machucar. Diga-me, Billy. Você está machucado? − eu faço
uma pausa e arranco a faca de seu peito. Seus gritos causam arrepios
quentes na minha espinha. — Você sente a dor agora? − eu provoco
enquanto enfio meu polegar no ferimento de faca que Mako infligiu.
Os gritos de Billy se intensificam, com suas mãos envolvendo meu
pulso com força. Ele poderia quebrá-lo se quisesse, mas seu aperto é
muito fraco. Ele está perdendo sangue e, se eu não me apressar, ele
morrerá devido aos ferimentos antes que eu tenha minha chance. Se eu
não me apressar, Mako também morrerá. E isso simplesmente não é
inadmissível.
— Você pode me matar, River. Mas nunca vou morrer. Estarei
dentro de você pelo resto de sua vida, causando-lhe dor. Você nunca
será capaz de me esquecer. − ele parece maníaco com seus olhos
enlouquecidos e dentes sangrentos.
Eu sorrio.
— Isso pode ser verdade. Mas será fácil não sentir dor quando tiver
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a doce lembrança de ser a última coisa que você viu antes de morrer.
Ele grita, abrindo a boca para expelir mais veneno. Eu não hesito.
Eu levanto a arma para sua testa e fixo meus olhos nele.
E eu puxo o gatilho.
Sua cabeça é jogada para trás, com sangue e massa encefálica se
espalhando pelo ladrilho. Seu corpo cai, e tudo se desvanece em silêncio
por trás do som do tiro.
Silêncio puro e absoluto.
Algo que nunca tive o prazer de experimentar na presença de Billy.
Parece... bom. Ótimo. Eu coloco minha bunda no chão, sem me importar
que estou sentada em uma poça de sangue. A arma faz barulho perto de
mim.
E eu encaro o cadáver de Billy e apenas sorrio.
dele.
— Esse não era o problema, Mako. Eu me senti... me sinto segura
com você. Eu não estava apenas com medo pela minha própria vida, eu
estava com medo pela sua também. Acho... acho que só tinha mais medo
de Billy.
Ele balança a cabeça e pega minha mão. Não consigo desviar o
olhar da maneira como sua mão enorme envolve completamente a
minha. Eu me sinto tão pequena em comparação com Mako, mas em vez
de me intimidar, me faz sentir segura.
— Ele aterrorizou você durante toda a sua vida, junto com muitos
outros homens, incluindo meu irmão. Você me conhece há pouco tempo.
Não posso esperar que seu medo e falta de fé na população masculina
substituam a proteção que tentei lhe dar. Se alguém deveria estar se
desculpando, deveria ser eu. Eu tentei muito te proteger, e falhei. Sinto
muito por isso. − Sua voz falha na última palavra. Mais lágrimas
inundam meus olhos, e estou mais uma vez balançando a cabeça.
— Por favor, nunca se desculpe por isso. Billy sempre iria me
encontrar, Mako. − eu repito, roubando suas palavras semelhantes de
antes. — Tornei isso impossível para você porque queria me salvar. Isso
é importante para mim.
— River, sei que você pode se salvar. Mas só porque você pode,
não significa que você sempre precisa. Você é incrivelmente forte e eu a
admiro por isso, mas isso não significa que vou deixar você andar por
este mundo sozinha. Você não é uma donzela em perigo, mas prefiro
morrer se não proteger minha garota enquanto ela chuta bunda dele,
entendeu?
O amor não filtrado enche meu peito com tanta força que parece que
meu coração é um balão cheio de hélio. Não consigo descrever a
sensação avassaladora que está tomando minha alma e a dilacerando,
abrindo espaço para o homem ao meu lado. Essa é a única maneira que
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A faca em minha mão treme. Não estou bem neste momento. Meus
olhos encaram o tomate que eu estava cortando, com o líquido vermelho
pingando da ponta serrilhada. Eu estava bem e então o líquido vermelho
lentamente se transformou em sangue.
Uma mão desliza pelo meu corpo. Minha mente gira em espiral.
Sinto a mão de Billy. De Ryan. Todos os homens que tiraram algo de
mim se transformando em um. A mão agarra o meu quadril e me vira.
Instintivamente, minha mão levanta - a que segura a faca de açougueiro -
e pressiona-a ao pescoço dele.
Ele para. Os olhos verdes me encaram, com a familiaridade girando
na escuridão que invadiu minha mente. A clareza volta correndo e o
mundo entra em foco mais uma vez. Mako está olhando para mim
intensamente, com seu rosto cuidadosamente calmo como uma lousa em
branco. Um riacho de sangue escorre na ponta da faca cravada em sua
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pele.
— Ah, meu Deus. − eu saio correndo, com a faca escorregando da
minha mão. Ele a pega antes que caia e é esfaqueado no caminho para
baixo. Minhas mãos levantam para meu rosto e o constrangimento
inunda meus poros. — Eu sinto muito. Porra. Sinto muito, Mako. −
Minha voz é abafada por minhas mãos, mas sei que ele me ouviu muito
bem.
Estou absolutamente horrorizada. Eu quase o matei. Na verdade,
quase o matei.
Ouço o barulho da faca na bancada atrás de mim. E então parece
que a tábua de corte está sendo deslizada pela bancada, para longe de
nós. Um puxão forte e minhas mãos abaixam do meu rosto. A rapidez
disso força um suspiro da minha garganta, e as minhas mãos caem
facilmente.
Suas mãos agarram meus quadris e, de uma só vez, ele me levanta e
me coloca na bancada. Ele me acomoda de modo que meu corpo fique
sentado no canto inferior, onde os dois balcões se encontram.
— Mako! Cuidado! − eu advirto, cautelosa com seu ferimento à
bala. Ele está quase curado, mas ainda não está cem por cento. Ele não
tem permissão para levantar coisas pesadas, e tenho certeza de que o
médico me classificaria como um objeto pesado.
Ele ainda não disse uma única palavra. Oh, Deus. Provavelmente
vai me expulsar agora. Quase cortei seu pescoço. E o pior, é que sou
realmente capaz disso.
— O que desencadeou você? − ele pergunta finalmente, colocando
um dedo sob meu queixo e levantando meu queixo. Meus olhos cheios
de lágrimas encontram seus verdes firmes.
— A faca. − admito com relutância.
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— Por quê?
Eu tento desviar o olhar, mas ele levanta meu queixo de novo para
ele. — Porque a última vez que usei uma, machuquei alguém com ela.
Parece que estou segurando uma arma em minhas mãos agora, não algo
para cortar tomates.
— Ajudaria se a faca se tornasse algo diferente de uma arma?
Minhas sobrancelhas franzem com confusão. — O que quer dizer?
Pensei que era isso que eu estava fazendo cortando tomates... − Minha
voz falha quando ele pega a faca com uma mão, puxa a gola da minha
camiseta com a outra e começa a cortar o tecido no meio.
— Mako. − suspiro, atordoada. A ponta da faca arranha minha pele.
Não o suficiente para cortar a pele, mas o suficiente para deixar uma dor
maçante. Quando olho para ele, os seus olhos estão fortemente
concentrados na faca. Ele está me arranhando de propósito.
Minha frequência cardíaca aumenta, acelerando minha respiração
junto com ela. Minha camiseta cai dos meus ombros e pelos meus
braços. Ele corta meu sutiã em seguida - gostava desse sutiã - e depois
meu short e calcinha. Quando ele termina, meu corpo nu está enfeitado
com pedaços de tecido.
— O que está fazendo? − sussurro, com a ponta da minha língua
saindo para molhar meus lábios secos. Ele me ignora e agarra meus
tornozelos e os abre, colocando cada pé em cada balcão. Em seguida, ele
junta todas as sobras e as joga para trás. Distraída, observo todas elas
caírem no chão.
— Recuperar o que uma faca significa para você.
Meus olhos se voltam para os dele. Ele entra no meu espaço.
Arrepios elétricos percorrem minha espinha quando a textura áspera de
seu jeans esfrega minha boceta nua, provocando um suspiro agudo da
minha garganta.
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ritmo.
— Mais. − murmuro, empurrando meus quadris para frente.
— Diga-me o que quer. − ele exige, ainda não cedendo aos apelos
do meu corpo.
— Me lamba. − sussurro com urgência. Quase grito de frustração
quando sinto sua língua sair, lambendo meu pescoço. Normalmente, eu
não reclamaria, mas não quando preciso da língua dele na minha boceta.
— Mako! − grito, sabendo muito bem que ele sabia exatamente o
que quis dizer.
— Sim? − ele pergunta inocentemente.
— Lamba. Minha. Boceta. − murmuro, com minha mão deslizando
em seu cabelo rudemente e puxando com força. Eu sinto o sorriso contra
o meu pescoço.
— Boa menina. − ele elogia. Ele beija meu pescoço suavemente
antes de seguir com aqueles beijos pelo meu peito. Parando no meu
peito, ele envolve sua boca quente em torno do meu mamilo. Minha
cabeça cai para trás e meus quadris começam a mover mais uma vez
enquanto ele continua a enfiar a faca dentro de mim.
Ele tira outro suspiro de mim quando seus dentes substituem sua
língua, e ele morde meu mamilo. Alfinetadas quentes percorrem meus
nervos, quase me fazendo gritar de dor cada vez mais. Mas mais potente
do que a dor aguda são as ondas de prazer que percorrem meu corpo.
Elas se misturam até que eu não consiga distinguir a dor do prazer.
Com um som, ele solta meu mamilo. Colocando primeiro na área
sensível, ele continua seu caminho passando por meus seios, até meu
abdômen e, finalmente, até minha boceta encharcada.
Ele se ajoelha diante de mim, com a faca firmemente dentro de
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mim. Quando ele olha para mim, seus olhos escurecidos para um verde
musgo, quase gozo ali mesmo. Vendo Mako se ajoelhar diante de mim
como um cavaleiro faria com uma princesa, questiono por que nunca
quis que ele me salvasse.
Mantendo contato visual, ele lentamente se inclina para frente e
coloca sua língua para fora para atacar o meu clitóris. A pequena
quantidade de contato envia meus olhos revirando para trás da minha
cabeça. Antes que eles possam encontrar os olhos de Mako novamente,
ele está gemendo e enfiando a boca no meu núcleo. Não consigo conter
o gemido alto que sai dos meus lábios e ecoa na cozinha. Não quando
sua língua é tão quente e precisa contra o meu clitóris.
Ele geme contra mim, enviando vibrações deliciosas por toda a
minha boceta. A única coisa que consigo pensar em fazer é enfiar minha
mão em seu cabelo macio e me esfregar em sua boca, tomando cuidado
com a faca ainda cravada dentro de mim. A espiral no meu estômago
aperta mais e mais. Meu estômago apertou quando o orgasmo atingiu o
ápice. Meu corpo se imobiliza, fazendo com que o orgasmo seja muito
mais acentuado.
A espiral aperta e eu gozo. A euforia pura toma conta do meu corpo.
É como se minha alma se elevasse de meu corpo físico. Os gritos que
saem da minha boca soam tão distantes, como se eu estivesse flutuando
sobre eles enquanto as ondas de êxtase me inundam.
Distraída, sinto a faca sair de mim e Mako se afastar. Meus olhos
semicerrados mal registram Mako de pé e tirando sua própria calça
jeans. A única coisa que me atrai de volta à terra é a sensação do pau de
Mako projetando-se contra o meu núcleo.
A visão fez meus olhos se arregalarem mais uma vez. Acho que
nunca vou me acostumar com a visão dele. Incrivelmente grosso, com
um comprimento que certamente não é natural. O pau de Mako é
intimidante e de dar água na boca, e agora, parece muito duro.
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Ele envolve seus braços sob minhas pernas e me puxa para frente.
Minhas mãos agarram cada lado da bancada, firmando meu corpo
enquanto ele se alinha. Minha testa franze quando sinto algo molhado
contra minha coxa.
Eu olho e noto uma grande quantidade de sangue escorrendo pela
minha coxa, escorrendo da mão de Mako.
— Ah, meu Deus. − digo. Ele levanta a dita mão e puxa meu rosto
para o dele, não dando a mínima que ele está me cobrindo com seu
sangue.
— Isso te incomoda? − ele pergunta, com sua voz e rosto expresso
em tom sério.
Levo um segundo para responder. O sangue dele me incomoda?
Não no sentido que ele pensa. Não gosto do pensamento dele ferido.
Mas estou chocada com isso? Não, nenhuma dessas coisas. Além disso,
eu tenho a sensação de que Mako se fez sangrar deliberadamente. Olho
para o pequeno rastro de sangue seco em seu pescoço. Ele nem se mexeu
quando fiz isso. Meus olhos desviam de volta para os dele. Eles são
poços ardentes de lava jorrando sua necessidade em mim. A última coisa
que Mako sente é dor.
Mordo meu lábio e balanço a cabeça negativamente.
Ele não precisa ouvir mais nada. Mordendo o seu próprio lábio
carnudo, ele se alinha e enfia seu pau profundamente em minha boceta
em um único movimento.
— Ah, meu... porra, Mako! − Minha cabeça bate contra o armário.
Eu me sinto tão impossivelmente preenchida.
Muito parecido com os seus cuidados com a faca, ele desliza
lentamente antes de me preencher de novo. Prazer intenso sobe pela
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maldita sobrevivente?
Mako abre a boca para falar, mas eu o interrompo. — Na verdade,
quando eles vão me deixar em paz? Quer eu seja uma vítima ou uma
sobrevivente, lembrar-me do meu trauma não é uma cura para mim!
A investigação foi encerrada rapidamente após a morte de Billy.
Com a declaração de Amar e Mako apoiando a minha, eles consideraram
o caso encerrado. O Ghost Killer estava oficialmente fora das ruas, isso
é tudo com o que eles realmente se importavam.
Decidi que era melhor fazer terapia. Seria muito hipócrita da minha
parte me tornar uma terapeuta, mas recusar o serviço para mim. Isso tem
ajudado, mas nunca poderei falar sobre a verdade real. O que fiz com
Ryan e Billy, e como os matei tão insensivelmente. Poucas pessoas
sabem a verdade, mas Mako é o único que realmente conhece os
detalhes do que aconteceu naqueles dois dias. É algo que aprofundou
tremendamente nossa conexão.
Algumas noites, ficamos acordados até o amanhecer, conversando
sobre meus sentimentos e pensamentos sobre o assunto enquanto ele
apenas escuta. Já concluí que não estou totalmente sã devido aos anos de
abuso e trauma. Certas coisas estão me provocando, mesmo algo tão
pequeno quanto Mako levantando as mãos em direção ao meu rosto.
Também concluí que Mako também não é são. Puramente porque
ele concorda em ficar com uma lunática como eu. Ele ama minha
loucura e aceita cada parte de mim, incluindo o lado sombrio e
assassino. Mesmo agora, ainda não aceitei isso totalmente. Há uma
pequena parte de mim esperando que Mako se vire para mim e se torne
um monstro familiar. Mas todos os dias, ele prova que é a coisa mais
distante de um monstro, e mais parecido com o cavaleiro de armadura
brilhante que eu nunca quis que ele fosse.
Mako larga o celular e se esgueira pelo sofá até se aconchegar ao
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meu redor.
— Não posso dizer por que eles escolheram vê-la como uma vítima
e não como uma sobrevivente, e não posso dizer por que escolheram vê-
la como uma história e não como uma pessoa, mas o que posso dizer é
que as pessoas que importam veem você como essas coisas. Você está
certa de que não está curando para você, então talvez seja melhor você
simplesmente parar de ler os artigos.
Eu suspiro, com meus ombros relaxando.
— Só quero que o resto do mundo siga em frente como estou
tentando fazer. Não quero mais ser conhecida como a namorada do
falecido Ryan Fitzgerald. Ou a vítima do Ghost Killer. Só quero ser eu e
o resto do mundo voltará a não saber quem eu sou.
Ele vira meu corpo e me pega debaixo da minha bunda e me coloca
em seu colo. Minhas pernas envolvem em torno de sua cintura. A calma
me atinge com sua presença me envolvendo. Por mais que minha
valentona interior odeie admitir, é aqui que me sinto mais segura. Nos
braços de Mako.
Minha vida era tão sombria antes de ele entrar na minha vida. Eu
estava constantemente cercada pelo mal do mundo que sugou todas as
coisas boas da vida de mim e me deixou com nada além da vontade de
morrer. Agora, tenho todas essas coisas de volta. Todas as coisas boas.
Tenho esperança. Amor. Segurança. Um futuro de verdade. E a vontade
de viver. Mako devolveu essas coisas para mim como se estivesse
tirando-as da lixeira de Achados e Perdidos e devolvendo-as ao seu
legítimo dono.
— É impossível que as pessoas se esqueçam de você, baby. Tudo o
que pode fazer é mostrar a eles quem você é. O que eles tiram disso não
é problema para você. Os pensamentos e opiniões de outras pessoas não
vão mudar você.
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— Acho que é muito cedo para isso. − digo, com meus olhos fixos
em Bilby enquanto o acaricio. Ele olha para mim e pula para longe.
Acho que ele apenas me mostrou seu desacordo.
Ele se recuperou do período com Ryan. Mako e ele se apaixonaram.
Constantemente se abraçando e se entendendo. Acho que sou a segunda
favorita de Bilby agora. É tão irritante quanto fofo.
— O quê? − ele pergunta.
Movo meu dedo indicador entre mim e a sala de estar.
— Ficar aqui todas as noites. Deixar as roupas aqui. Eu estou
praticamente morando aqui agora. Tenho certeza de que é muito cedo.
Somos mesmo namorado e namorada? Você nunca me pediu em
namoro, você sabe. Você também nunca me pediu para me mudar. São
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essas coisas que devemos apenas supor, mas nunca falar? Não vamos
fazer aniversário...
— Baby, por favor, cale a boca. − ele pede baixinho, com sua voz
grossa mais baixa do que o normal. O som faz meu núcleo apertar com a
luxúria. Deus, o que sua voz pode fazer apenas comigo é totalmente
antinatural. E depois do incidente com a faca alguns meses atrás, meu
corpo ficou mais reativo a ele do que antes. A excentricidade de Mako
abriu uma nova porta de desejo para mim.
Meus lábios se fecham, ficando sérios. Eu estou nervosa. Não sei
por que estou nervosa, no entanto.
Mako caminha em minha direção. Ou melhor, ele espreita em
minha direção. Ele parece um tigre perseguindo uma presa pelo jeito que
ele se aproxima de mim. Prendo a respiração e meus nervos se acendem
como fogos de artifício. Quando Mako Fitzgerald volta toda a sua
atenção para mim, eu ganho vida.
— Você quer ser minha namorada? − ele pergunta, mas não do jeito
típico do ensino médio, mas sim, me perguntando o que eu quero. Ele
puxa meu corpo para a beira do sofá e se agacha diante de mim,
colocando as mãos em minhas coxas nuas. Arrepios se espalham pela
minha pele pelo toque de sua pele na minha. Estou muito arrebatada por
ele para ficar constrangida com minha reação.
Ele está sempre me dando uma escolha. Sempre me coagindo a
expressar minha opinião e defender o que quero. Tive meu livre-arbítrio
e voz roubados de mim desde que me lembro. Billy foi o primeiro, como
uma criança arrancando a laringe de uma boneca. Ninguém nunca me
deixou tê-lo de volta até Mako. É como calçar botas novas - dói e é
desconfortável, mas quando me acostumar, eu me sentirei segura e
confortável me defendendo. Sabendo que não vou mais levar um tapa na
cara - ou pior - porque falei.
— Sim. − digo finalmente. Mako não parece surpreso com a minha
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palavras dela, não minhas - e Mako parecia que acabou de saber que
ganhou na loteria e saiu correndo do quarto. Alison corou e o seguiu,
aparentemente não querendo ver a ostra de Amelia também.
— Você está coroando. Vou fazer você começar a fazer força em
um minuto. − Anuncia a enfermeira. A médica de Amelia entra correndo
no quarto um segundo depois, já a examinando.
— Estamos prontos para conhecer um lindo bebê? − A médica
pergunta animadamente e com um sorriso largo, seus dentes brancos e
retos contrastam fortemente com sua pele escura. Dra. Ivy Jackson é
uma das médicas mais renomadas do país, e Amelia se recusa a deixar
qualquer outra pessoa tocá-la durante o parto. Tenho certeza de que se a
Dra. Jackson não tivesse conseguido fazer o parto de Amelia, ela teria
tentado se esconder na teimosia.
— Doutora, tire esse alienígena de mim. − Amelia resmunga, com o
suor brilhando em sua testa. Dra. Jackson ri e fica entre as pernas de
Amelia.
— Não se preocupe, querida, este lindo menino vai nascer em breve
e você não sentirá nada além de amor. Eu prometo isso a você.
Antes que Amelia possa pensar em uma resposta, ela está gritando
de novo.
— Comece a empurrar. − ordena a Dra. Jackson. Só posso presumir
que Amelia está ouvindo com base em seu rosto roxo contorcido e nos
gritos intensificados que saem de sua boca. David segura a mão dela,
não parecendo nem um pouco incomodado com o fato de que Amelia
está esmagando-a. Não, ele está muito ocupado olhando maravilhado
para baixo entre as pernas de Amelia.
Alguns minutos depois, pequenos gritos substituem os de Amelia.
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— Estou tão feliz em ver vocês dois juntos. − Julie diz animada,
com as mãos entrelaçadas sob o queixo enquanto olha para Mako e
minhas mãos unidas com entusiasmo.
Um pouco exagerado, Julie.
Decidimos que era hora de vir jantar. Somos só nós três agora. Uma
grande diferença desde a última vez que estive aqui, há mais de um ano.
Ghost Killer não matou Ryan de verdade, nem Matt jamais sofreu
nenhuma consequência real por suas ações - além de perder sua esposa e
filho adotivo - mas ambos ainda são fantasmas para nós. Nenhum deles
está aqui, mas podemos sentir a presença deles de qualquer maneira.
Termino de comer a melhor torta de maçã de todos os tempos e
sorrio amplamente para ela, apreciando sua aceitação mais do que ela
jamais saberá. E também aprecio esta deliciosa torta de maçã.
Fiz Mako esperar para anunciar o nosso noivado depois que ele
colocou aquele anel no meu dedo há mais de oito meses. Achei
apropriado, considerando que não fazia nem um ano desde a morte de
Ryan e eu já havia superado ele. E Julie ainda estava se recuperando de
seu recente divórcio com Matt para completar. Esta mulher passou por
muita coisa no ano passado. Muita. Então, acho que se eu tivesse ficado
com outra pessoa, Julie poderia não ter ficado tão animada. Não que eu
fosse vê-la novamente de qualquer maneira.
Mako confessou o que sabia sobre Matt no dia em que seus pais o
visitaram no hospital. Deitado em uma cama de hospital, se recuperando
de um ferimento à bala. Mako culpa a morfina por deixar isso escapar
quando o fez, mas não se arrepende. Julie, é claro, entrou em negação.
Mas, eventualmente, Matt admitiu que tocou em Ryan.
Foi um turbilhão de drama depois disso. Julie queria que Matt fosse
para a prisão, mas não havia provas. Ryan está morto. A única
desvantagem desse fato, eu acho. Então, Matt se safou disso. Ele afirma
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— Ah, porra.
— O que?
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Benedict Davis pode ser um grande aliado. Ele ganhou meu respeito
apenas por escapar das garras de Mako por tanto tempo. Quem dificulta
a vida dele, facilita a minha vida.
— Entre outras coisas. − digo casualmente.
Benedict debocha, aparentemente contemplando algo. Ele está
tentando decidir se deve me matar ou não? Ele não irá muito longe.
— Chame-me de Billy. − Um sorriso surge em seus lábios e ele se
inclina para frente, entrelaçando seus dedos calejados e imitando minha
posição. Eu olho para suas mãos, notando as cicatrizes. Aposto que o
corpo desse homem está coberto por elas. Não dou a mínima para como
ele as conseguiu - é o que elas representam. Ele não tem medo de sujar
as mãos. Obviamente, pelos corpos que encheram minha cidade no ano
passado.
Eu poderia usar músculos assim. Eu serei o mentor, ele pode ser
meu cachorro leal e arrancar a cabeça de qualquer um que eu mandar.
— Diga-me, Ryan. O que você poderia ter para me oferecer que eu
gostaria?
Meu sorriso cresce.
Uma loira peituda enfia seus seios falsos na minha cara. Ela os
segura, pressionando-os juntos e beliscando um de seus mamilos. Eu
curvo meus lábios. Suas unhas rosa brilhante são mais longas do que o
pau do meu pai. É nojento.
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