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PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS
A serviço do prazer
por Diana LoBite
Porto Alegre
2019
© Reservados todos os direitos da autora. Nenhuma parte desta
obra poderá ser reproduzida, fotocopiada por processo mecânico ou
eletrônico sem permissão da autora.
CONTEÚDO ADULTO
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS
Prólogo
Calor no banheiro
O casamento
Não posso decepcioná-lo
Teimosas, ambiciosas, obstinadas
Casamentos dão azar
Chegou a hora
Nada quebra como um coração
O que parece fácil, mas não é
Tarde demais para voltar atrás
Misturado com álcool
De volta para casa
Se alguém me perguntar
Nunca confiar
Corações roubados
Nada será igual
Devolva o meu coração
Um adeus
Tatiana
O outro lado
Sem promessas
Sem notícias do Brasil
Como um menino
Nunca mais o devolvo
Epílogo
Bônus
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Caio
Gostar de alguém não estava nos meus
planos desde que me separei. Mas me apaixonar
por uma garota de programa, ah, isso nunca passou
pela minha cabeça.
Não sei quando foi. Me pergunto às vezes se
foi na hora em que ela sentou no meu pau, na noite
de máscaras no motel onde a conheci. Ou pode ter
sido antes, quando vi Mônica transando com outro
e percebi que aquilo mexia comigo.
Seu rosto meio coberto e as orelhas brancas
de coelha chamavam a atenção. Mas nada
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minha noite:
— Sério? Já acabei o meu trabalho por aqui.
Posso te dar uma carona, se quiser.
Parei de respirar na hora.
— Se quero ser levado pra casa pela
coelhinha tarada? Só se for agora.
Ela gargalhou e uniu os joelhos, se
levantando e estendendo a mão para mim.
— Vou te dar essa honra. — Piscou.
Peguei em seus dedos e a segui até a entrada
da suíte, nós dois passando pelados pelos casais e
grupos que transavam como loucos.
Estufei o peito. Podia sentir os olhares
invejosos queimando em mim. Ir embora com a
gostosa da festa era uma coroa na minha cabeça.
Não poderia estar mais satisfeito com a vida. E a
cada momento ela ficava melhor.
Passamos pela pista de dança e estendemos
os pulsos para o homem na saída da festa. Ele
passou o faixo de luz negra nas nossas peles e
conferiu o número, nos entregando os sacos com os
pertences.
Não queria me afastar da coelha então
peguei minhas calças e coloquei a camisa. Ela fez
menção de entrar no banheiro e a segurei.
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uma sobrancelha.
— Minha família é.
Voltei para o meu lugar, passando o rosto
rente ao dela. Seu hálito de cereja me pegou
desprevenido e, meu amigo, que já estava se
animando nas calças, ficou duro de vez.
— Você é bem safadinho, né? Adoro. — Ela
passou a língua nos dentes enquanto dava uma
analisada na minha saliência.
— Pela direita — avisei, me remexendo no
banco.
— Só casão, hein? Você mora com os pais?
Quer que te deixe antes pra que não te vejam
chegar comigo? — falou, olhando admirada para as
construções.
— Não. Ia te convidar para entrar, na
verdade — respondi, desviando o rosto para a
janela.
— Ah, não vai mais?
Virei a cabeça mais rápido do que devia e
ela riu, percebendo o meu medo de perder a
oportunidade de tê-la nos braços mais uma vez. Só
que a queria apenas para mim, sem mais nenhum
cara para dividir sua pele delicada.
— Vou. Quer conhecer a minha casa,
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Mônica?
— Quero. E pode me chamar de Mon.
— Ok. Então pode parar aqui, Mon — falei
diante da maior casa da rua.
Nem era para ser minha. Mas, no desespero
de tentar reconquistar a Mariana, comprei a maior
obra de arte do condomínio só porque ficava diante
da janela dela.
— Puta que pariu, hein? Que bela família
rica você tem.
— O condomínio todo é do meu avô, pra
falar a verdade. — Dei de ombros e desci.
O jardim por si só era uma paisagem à parte.
Mas toda a iluminação que o arquiteto projetou
para a casa era o que dava o ar de glamour.
Abri a porta de três metros de altura que
fazia meus um e oitenta parecerem pequenos. De
saltos, Mônica ainda ficava a uns dez centímetros
de me alcançar.
— Nossa, tenho medo de estragar alguma
coisa e ter que trabalhar em mais uma festinha
como a de hoje para pagar. Acho que vou ficar do
lado de fora.
Estendi a mão para ela e a puxei para dentro.
— Vem. Além de você, não tem muita coisa
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Mônica
Alguns meses depois
Gosto e não gosto de festas de casamento.
Adoro quando é de gente rica, como o João. Ele é
primo do Caio, o meu namorado, e vai casar com a
minha melhor amiga Maxime.
Comida fina de graça, aquelas bebidas que a
gente não compra nem quando estão na promoção e
todo mundo arrumado como se fosse para o Oscar.
Se bem que a tarde de hoje é quase isso. A
Max merecia um prêmio por ter conquistado o
coração do João. E ele? Ah, ele merecia uns dez.
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ver o doutor.
Quando comecei a ficar com o Caio, ele me
contou que saía com as enfermeiras do primo.
Pensei que estava só para a putaria comigo
também, no fim das contas. Mesmo que a gente se
encontrasse só para dormir de conchinha de vez em
quando.
Não esperava que se estendesse. Muito
menos imaginava que ele fosse me pedir em
namoro. Aí um dia a Lisi veio brincar com a gente.
Só que ela entrou no meio da conchinha e ficou.
Sem título nem nada. É a nossa amiga especial.
Eu gosto. Antes do Caio, curtia mesmo era
fazer festinhas com as minhas colegas. Só assim
pra conseguir gozar. Os caras não me davam tesão
de verdade, só um brilho extra pelo desejo que
sentiam por mim.
Quando um homem diz olhando no seu olho
que gosta de você como é, você finge que acredita.
Mas quando ele prova isso, ah, aí o desejo começa
a subir pela parte interna das coxas na hora.
E foi o que o Caio fez. Curtiu estar ao meu
lado e topou todas as maluquices que inventei pelo
caminho, principalmente as sexuais. Por isso me
sinto um pouco culpada quando não faço ao menos
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ser comido.
Respiro como alguém que corre no parque
em um dia de verão. Os sucos que saem de mim
fazem um barulho molhado e excitante enquanto
ela me penetra com dois dedos.
Deslizo a mão pelo meu corpo até que toque
seus cabelos, onde me agarro, forçando sua boca
contra a minha pele. Mais um pouco e dou a minha
primeira gozada da tarde. Porque aqui nessa casa é
assim, três, quatro, cinco. Muitas. Me perco no
delírio do que tenho vivido com esses dois.
— Calma, amorzinho. Parece que está com
pressa. — Lisi se estica, ficando a alguns
centímetros do meu clitóris rosado.
— E você parece que pretende me engolir.
Acha que não vou me gozar toda de uma vez
assim? — ronrono, acariciando seu lindo rosto.
— Então se entrega. — Mergulha de novo
na minha boceta.
Caio chega quando estou quase lá, curvando
as costas e contraindo a barriga, chamando pelo
orgasmo que quero dar na boquinha quente da
nossa amiga. Com os olhos entreabertos, o vejo se
recostar no batente da porta.
Cruza os braços e aprecia a cena. Adoro me
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quadril.
Sem fôlego, apoio o rosto no piso frio. Seu
corpo forte cai sobre mim enquanto encaixa a
cabeça dura do pau na minha entrada lavada do
orgasmo que ainda me faz estremecer.
Sinto as mãos delicadas da nossa garota nas
minhas costas. Elas descem até minhas nádegas e
as afastam, abrindo espaço para que Caio possa se
ver deslizando para dentro de mim.
— Porra, Mon, sua boceta ainda está
latejando de um jeito tão delicioso.
Aperto os olhos quando ele mete, mas sua
empolgação aumenta mesmo quando ganha um
beijo de Lisi. Me comendo por trás e sugando a
língua que me lambia há pouco, Caio enlouquece.
Ouço seus beijos enquanto uma mão desce
da minha barriga até o meu clitóris. O meu
botãozinho do prazer, que ainda estava ligado,
apenas esperando ser estimulado, começa a se
contrair na hora.
— Ai, vou gozar de novo — aviso, apoiando
as palmas das mãos, no chão, nas laterais da
cabeça.
Me entrego com ele dentro de mim, botando
cada vez mais forte enquanto segura meu quadril,
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convencem.
Ele empurra Lisi pelos ombros devagar e ela
desliza o quadril até tocar o chão, erguendo as
pernas para o alto. Caio massageia o pau, se
preparando para entrar. Grosso e muito duro, sei
que vai se entregar rapidinho, com as bolas rijas do
jeito que estão.
— Olha pra mim — ordena, agarrando os
cabelos loiros de Lisi.
Ele força a entrada dela até a cabeça
encontrar a sua umidade, escorregando de uma vez
até o fundo. Cada vez que ela tenta fechar os olhos,
Caio puxa seus cabelos.
— Ah, gostosa do caralho. Vou jorrar leite
no grelinho dela e quero te ver tomando tudo até a
Lisi se gozar, tá bem, amor? — Me dá um beijinho
depois de dizer isso e fico esperando, sentada ao
lado da garota que dá para o meu namorado.
É lindo de ver. Com o tronco curvado por
cima dela, Caio mete, uma, duas, três, várias vezes.
De repente, sua respiração fica entrecortada e ele
sai dela. Segura o pau pela base e me encara. Os
bicos dos meus seios ficam duros na hora em que
encontro seu olhar sacana.
Envolvo o pau com minha mão pequena e o
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Caio
Meu primo ergue a sobrancelha e se analisa
no espelho. A mão passa pelo cabelo castanho-
claro e João faz uma das suas caras de sedutor
quando termino de ajudá-lo a ajeitar a gravata e me
afasto.
— Foi uma burrice ter vindo mais cedo para
tratar de negócios antes do seu casamento. —
Encontro seus olhos no reflexo e balanço a cabeça.
Vim com ele até o salão de festas do local
onde a cerimônia acontecerá daqui a pouco. É um
píer lindo, com o Sol batendo no rio e fazendo tudo
parecer cena de cinema.
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Mônica em casamento?
— Não. O que eu quero é que esteja casado
com ela em trinta dias.
Rio e me afasto alguns passos. Não consigo
olhar para ele. Respiro e tento me acalmar.
— Ou o quê? — O encaro, desafiando sua
ira.
— Ou você não verá mais nem um centavo
meu até o resto da sua vida. Vai saber o que é
trabalhar de verdade e não ter nenhuma mulher ao
seu lado. Porque, não se iluda, menino. Tudo o que
querem é o que seu dinheiro pode comprar. Se quer
uma dica: descubra o que ela mais deseja, mas que
lhe falta dinheiro para ter. Compre isso e terá seu
casamento. Ou então, volte para a Mariana. — Ele
se vira e segue sozinho até o salão de festas.
Droga. Agora eu já sei. Não foi o casamento
do João nem os meus trinta anos. O que ativou a
pressão do meu avô sobre mim foi puramente o
poder, o maior manipulador do ser humano depois
do dinheiro.
— Caio. — João surge da lateral do salão de
festas e se aproxima antes que eu consiga alcançar
Mônica.
— Você não devia estar com a sua noiva?
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Mônica
Só conheço um jeito de aliviar a tensão de
um homem. E ele envolve uma massagem que leva
até uma gozada. Só que é um pouco difícil fazer
isso no meio de uma festa de casamento.
Desde que cheguei ao píer para a cerimônia,
Caio está com os ombros tensos. Fico agoniada ao
vê-lo assim e não poder fazer nada. Essa não sou
eu. Sempre dou um jeito e preciso deixar o meu
gatinho mais confortável.
Depois que tiramos as fotos de padrinhos
com os noivos, ele foi solicitado pelo avô para mais
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***
4 anos antes
Tudo nele parecia perfeito, o que despertou o
alerta da minha mãe, mas não o meu, infelizmente.
Parecia razoável aceitar a cada um dos seus pedidos
loucos. Mesmo que um deles envolvesse dormir
com um dos seus amigos.
— Qual é, amor? Estamos sem grana e o
cara está precisando. A garota dele está no hospital
há semanas — ele disse, tentando me convencer
que aquilo não era completamente errado, mas sim
um grande favor que eu podia fazer por alguém.
— Ela não vai gostar. Está grávida e de
repouso. Se ele a ama, pode esperar — rebati.
— Não confunda amor com necessidades
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***
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Caio
Puxo o braço de Lisi até que me envolva
com ele e eu possa descansar meu queixo em seu
ombro. Pigarreio e falo o mais alto que consigo em
meio a música.
— Lisi — começo, tentando encontrar
palavras certas para não ser rude com ela.
— Humm?
— Você sabe que sou apaixonado pela Mon,
né?
Seu peito se afasta ligeiramente do meu. Ela
me analisa com um olho fechado. Puxo suas costas
de volta para mim.
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o olhar.
Mesmo com as pernas bambas, me aproximo
de Mônica. Lisiane se afasta, sorrindo de orelha a
orelha. Uma pequena mecha de fios negros cai no
rosto delicado e eu a retiro, alisando a bochecha
corada dela. Ergo o seu queixo para que me encare,
mas ela faz força para continuar fitando os meus
sapatos.
— Tudo bem? — pergunto, finalmente
conseguindo que me olhe.
Sua cabeça balança em um sim e meu
coração balança também. Toda a tensão em seus
ombros é mais clara do que qualquer palavra que
ela use para tentar me convencer de que está tudo
bem.
— Beija, beija, beija — as mulheres ao
nosso redor começam a gritar.
Viro a cabeça de lado e finjo um sorriso. Por
dentro, cada órgão meu parece comprimido pelo
peso da rejeição que só eu sei que estou passando.
Eu tinha razão, colocar seriedade no nosso
relacionamento antes do tempo deixaria Mônica em
pânico. Preciso acalmá-la antes que meu avô veja o
desespero em seus olhos.
— Está tudo bem. — Passo a mão pelas
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— Do seu arrependimento.
Meus pensamentos se embaralham e minha
cabeça dói ainda da bebida da festa. Visto as calças
e junto o resto todo em um bolo que carrego sobre
o braço. Preciso sair daqui.
— Você pensa muitas coisas erradas de
mim.
Cruzo a sala apressado e Mariana se levanta
para me seguir. Abro a porta da rua e ouço um
carro se aproximando. Jogo meus sapatos no chão e
enfio os pés neles.
— Eu não sou ruim assim como você acha.
Foi bom, não foi? Nós dois. Ainda dá tempo de
recuperarmos o que tivemos. — Mariana apoia
metade do corpo na porta, cobrindo parte da pele
exposta.
Dou alguns passos de costas, olhando para
ela e tentando entender como consegue continuar
me usando mesmo depois de tanto tempo. Aos
poucos, começa a fazer sentido.
Não é ela. Sou eu. Deixo que me usem e me
enganem. Não vou atrás do que desejo por não
reconhecer o que me faz me perder de paixão. Mas
sei o que me tem de corpo e alma, diferente de
Mariana: Mônica. É ela que eu quero e é tudo o que
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preciso.
— Caio?
Me pergunto para onde foi o meu ar quando
ouço a voz dela. Aos poucos, giro o tronco em
direção à rua. De calça jeans rasgada e tênis, Mon
parece uma adolescente. O olhar dolorido que
dirige para o meu peito nu faz queimar a minha
pele.
— Mon, o que você está fazendo aqui?
— O que você está fazendo aí na casa da
Mariana?
Sua testa se franze e parece que vai chorar
a qualquer momento. Mas a tristeza dá lugar à
repulsa quando ela olha para um ponto atrás de
mim. Viro o pescoço e vejo minha ex-mulher
pelada na entrada de casa. Triunfante, Mariana vira
o pescoço de lado e sorri.
— Você gosta de dividir, não gosta? Sei que
empresta o Caio para a sua amiguinha. Tenho
certeza de que não se importa de ele ter matado a
saudade de mim essa noite — ela fala para Mônica.
A boca que amo tanto está escancarada
quando volto a fitá-la.
— Mon — balbucio, mas não sei o que
dizer, na verdade.
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Mônica
Um coração em chamas só poderia parar de
arder com uma chuva de verão como essa. Isso é
tão ridículo, como a porcaria da minha vida toda.
Ao menos me ajuda a disfarçar essas lágrimas
burras que insistem em cair sempre por quem não
merece.
Sozinha no condomínio de Caio e bem longe
da portaria, fico encharcada em segundos. Droga.
Ia chamar um Uber, mas, molhada assim, o
motorista não me deixaria entrar de jeito nenhum.
Viro à direita e a casa de João surge no meu
caminho. Ótimo. Agora a minha melhor amiga vive
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de Max.
Os dois se encaram e riem, soltando o ar
pelo nariz. São tão fofos. Queria que o meu
relacionamento com o Caio fosse assim, mas acho
que ainda temos tantos segredos que nunca
alcançaríamos esse nível cumplicidade.
— Chamei a Pam ontem, foi o meu presente
de casamento para o João — minha amiga fala,
olhando de maneira apaixonada para o amor da sua
vida.
— Caramba, Max. Você está grávida, quer
dizer, você está a ponto de ganhar o bebê a
qualquer momento e chamou uma garota para
dormir com você e o seu marido na noite da lua de
mel de vocês? Depois a pervertida sou eu. E, pelo
jeito que os olhos de vocês dois estão brilhando, foi
uma noite e tanto.
— Nossa, se foi. — João coloca uma mecha
cacheada atrás da orelha da mulher.
— Me sinto uma intrusa, interrompendo o
momento de vocês. — Jogo a toalha no mármore
do balcão e cruzo os braços, apoiando a testa neles.
— Mas, também, quem mandou passarem a lua de
mel em casa? Se tivessem ido viajar eu não estaria
aqui agora. É isso, se vocês não tivessem casado,
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encaro.
— Já entendi. Não precisa ficar nervosa. A
gente fica aqui nessa vida de merda mais um
pouco. Vamos ver até onde você aguenta do lado
de um ferrado como eu.
Meu coração dói. Ver o meu amor sofrendo
me machuca. Detesto quando Pedro se vitimiza.
— Não vai durar pra sempre. Você mesmo
diz isso. — Me ajoelho entre suas pernas.
— Só achei que você gostaria de se casar
comigo em uma capela em Las Vegas. Mas tudo
bem, cancelo tudo. — Ele olha para uma rachadura
no teto, ignorando o fato de que estou aos seus pés.
Minha pulsação se acelera.
— Ah, meu Deus. Isso é um pedido de
casamento?
— Era, mas a minha garota não está a fim.
— Claro que estou, meu amor. — Acaricio
seu rosto, sorrindo amorosa.
— Esse é o único jeito que encontrei, gata.
Juro que não queria. Mas eles vão pagar uma
bolada, além das passagens.
De cento e vinte batimentos por minuto, meu
coração passa a trabalhar com menos de cinquenta.
Estremeço.
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— Eles?
Pedro me afasta e levanta. Vai até a janela
do quarto onde eu estava, instantes atrás.
— Porra, amor. Todo esse dinheiro, o
suficiente pra gente ficar bem por uns três meses.
Um cara só não ia bancar tanto. Você nem é de
menor mais. Não é virgem. Pra ter valor tem que
ser com vários.
Ainda de joelhos, deito a cabeça no lençol e
tapo os ouvidos. É demais pra mim. Não posso
escutar. Mesmo assim, suas palavras abafadas não
me escapam.
— É uma despedida de solteiro. Um
conhecido que vai casar. Ele é mais três amigos
querem dar uma festa. São gente boa. Não vão te
maltratar. E é só uma noite. Mas você não quer.
Tudo bem. Achei que seria legal casarmos em
grande estilo, ser seu e você ser minha. Porque é
isso que me importa, baby, o seu coração. Colocar
um anel no seu dedo e te ter pra sempre, não só por
uma brincadeira de uma noite.
É fácil chamar de brincadeira quando não é
você quem tem que ceder seu corpo a um
desconhecido. Tenho vontade de vomitar quando
lembro do que fiz. Mas foi o que me manteve aqui.
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mais uma.
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Caio
Estou na segunda cerveja quando ela chega
no Manhattan, o clube onde atende. Quase estilhaço
o copo de vidro na minha mão ao ver os olhares
famintos dos caras para os seus peitos. É tão forte o
modo como entra na personagem que não sinto que
tenho próxima de mim a mulher que tanto amo.
Desfila pelo salão de luzes avermelhadas, o
caminhar é ritmado, a mandíbula dança,
mastigando o chiclete. Mônica fala arrastado ao
cumprimentar as colegas e os clientes. Vê-la nas
roupas de trabalho é sempre excitante, mas
doloroso. Bastante doloroso.
A vontade que tenho de agarrá-la acaba
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— Não posso.
— Por quê? — Passo os olhos em seu rosto
e só vejo vergonha.
— Porque não terminei a escola.
Não sei o que fazer com as mãos, então as
fecho e tento conter toda a raiva que tenho de mim
mesmo. Como assim eu não sabia que a minha
garota nem tinha terminado a escola? Como assim
não sei nada dela?
Será que tive tanto medo de perdê-la que
evitei insistir nos mínimos detalhes da sua vida?
Aperto a têmpora e tento raciocinar, mas me sinto o
maior burro da história.
Puta brilha em pequenas peças metálicas
sobre o colar dela. Já está me dando dor de cabeça.
— Por que nunca me contou isso?
— Porque você nunca perguntou. — Ela dá
de ombros.
— Sou um idiota. Um filho da puta de um
idiota. Meu medo de te pressionar criou um abismo
entre nós dois, Mon. Não era só sexo. Não era isso
que eu queria.
— Mas foi isso que me mostrou, Caio.
Não consigo me controlar. Puta. Puta. Puta.
— Porra, Mon. Estou tão irritado comigo
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Mariana pra ter certeza de que não era com ela que
queria ficar e agora está aqui, querendo me tirar da
vida — debocha.
Sua risada sarcástica me tira do sério. Ela se
vira e caminha até o balcão. Vou atrás e paro ao seu
lado enquanto pede um drinque e estende a mão
para mim.
— Seu cartão — fala e depois olha para o
funcionário que traz a bebida. — Meu cliente vai
pagar.
Entrego o cartão e suspiro. Como é difícil
lidar com as mulheres.
— Vai passar a noite comigo, então? —
pergunto, guardando o cartão no bolso da camisa
após recebê-lo de volta.
— Oitocentos reais. — Ela faz biquinho,
sugando o canudo.
— A noite toda, Mon. Quanto é?
Seu olhar surpreso me faz rir de lado. Ela
olha para o relógio e depois para mim.
— Pretendia atender dois ou três hoje.
Então, dois e quatrocentos.
— Ótimo. E em casa? Quanto é para me
atender na minha casa?
— Não faço isso, você sabe.
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— Ótimo.
— E agora?
— Agora você precisa dar um jeito de
descobrir o que Lisboa tem a ver com a vida dela.
— Porra. Não sei como fazer isso —
assumo, andando em círculos.
— Conheço alguém que pode te ajudar. É
um detetive. Vou pedir pro cara te ligar depois.
— Certo.
— Primo...
— Ahn? — faço, apoiando o quadril na
minha mesa.
— Desculpa.
— Pelo quê? É passado.
— Nunca devia ter tocado na Mônica.
Jamais devia ter usado nenhuma delas. Nunca devia
ter agido como se os outros não tivessem
sentimentos e vissem o sexo da mesma maneira que
eu.
— Ok. Só quero consertar tudo isso, ajudar a
Mon e ficar com ela. — Olho para cima, tentando
manter o controle.
— Ainda estou descobrindo um monte de
gente com quem tenho que me redimir por causa
das merdas que fiz quando era um viciado em sexo.
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Mônica
3 anos antes
O dia do meu casamento é o mais feliz da
minha vida. E o mais triste também. Se soubesse o
preço tão alto que pagaria por tudo isso, jamais
teria entrado nessa situação.
É nosso segundo dia em Vegas e o meu café
da manhã de princesa chega no quarto do hotel
trazido pelo meu amor. Pedro sorri por trás da
bandeja e suas covinhas aparecem para mim.
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quanto me deseja.
— E isso? Sabe o que significa?
Sacudo a cabeça em negativa. Não sei
mesmo explicar a ele o que quer dizer tudo isso.
— Ah, minha doce menina. — Ele acaricia
meu rosto.
Pedro olha para cada detalhe da minha
expressão enquanto mantém o dedo no meu
interior. Sua boca se enterra abaixo da minha orelha
e ele geme.
— Significa amor. Isso é amor. Quem está
com você é quem te ama. E hoje é o nosso dia. O
fato de nenhuma das pessoas que pensou te amarem
estarem aqui não vai estragar o melhor momento da
sua vida, princesa, porque não vou deixar. Agora
vem, quero a noiva mais linda do mundo.
Sua mão agarra a minha e me ergue da cama.
Seguro em seus ombros e pulo, encaixando minhas
pernas em sua cintura.
— Te amo. Obrigada por cuidar de mim —
falo, as mãos entrelaçadas na nuca dele.
Até esse momento eu ainda pensava que
tudo seria mesmo perfeito. Mas só até esse único
momento.
Quando se é garota de programa, se
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Caio
Passaria o dia inteiro, toda a semana e a
minha vida aqui admirando essa garota se pudesse.
Mas se não aparecer na porcaria daquele escritório
hoje vai ficar cada dia mais difícil ter Mônica
comigo.
Enrolada no lençol, seu corpo delicado não
parece ser aquele que guarda sua alma tão
selvagem. Ah, Caio, você só escolhe as
complicadas?
— Bom dia, coelhinha — sussurro e beijo
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minha vida.
Com ela, descobri que não sabia nada sobre
aproveitar os meus dias. Para o meu desespero,
Mônica pensa que nasceu para dar prazer aos
outros. Mas não é bem assim. Ela é uma ótima
professora no que se trata de curtir os bons
momentos, só que foi melhor ainda em me ensinar
que existem muitas outras fontes de prazer.
Cada manhã mais comprida ao seu lado na
cama, uma tarde carinhosa no ofurô, uma garrafa
de vinho compartilhada. Fazer nada com ela é
melhor que qualquer coisa que o meu dinheiro
possa comprar para me fazer feliz por alguns
instantes. Aquilo que começou tudo entre nós, o
simples dormir de conchinha, é das coisas mais
deliciosas que já fiz.
Todas as funções do meu corpo ficam alertas
e presentes quando estou ao seu lado. Nada mais
importa. E é o que pretendo para hoje e para
sempre: sermos eu e ela, aproveitando o melhor que
a vida tem a nos dar.
Chego em casa já tirando o terno. Jogo o
casaco sobre o sofá junto com a gravata e puxo a
camisa para fora das calças. Abro alguns botões e
paro ao ver a mesa posta: três lugares. Franzo a
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Mônica
Olho para o corpo adormecido de Caio. Lisi
me ajudou a colocá-lo na cama. Ela segura meu
braço com delicadeza e me puxa até a porta do
quarto, como se ele de fato pudesse ouvir alguma
coisa depois do remédio para dormir que
colocamos na sua bebida. Foi ideia minha, mas ela
quem conseguiu os comprimidos. Mais cedo, logo
que Caio saiu para o trabalho, corri até a casa de
Max em busca de ajuda.
***
Minha amiga abriu a porta e alisou a barriga.
— Ah, você está de volta. — Sorriu.
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balcão e me encarou.
— Porque preciso pagar as minhas contas de
algum jeito.
Minha amiga cruzou o balcão que nos
separava e passou por mim. Bufou e caminhou com
tanta raiva que os cabelos cacheados voaram atrás
dela. Max pegou a bolsa pendurada na parede do
hall e voltou trazendo um talão de cheques. Abriu a
primeira folha e o assinou, depois me fuzilou com o
olhar.
— Quanto você quer? — perguntou.
— Não, não, não. — Abanei o ar com as
mãos. — Não quero seu dinheiro. Não quero a
porra do dinheiro de ninguém, será que vocês não
entendem? Sou capaz de fazer a minha grana.
— Você é uma teimosa.
Maxime baixou a cabeça e escreveu uma
quantia no cheque. Arrancou a folha e estendeu o
braço para mim. Peguei o papel sem tirar os olhos
dela. Rasguei o cheque ao meio enquanto seu peito
subia e descia devagar, se estufando com ódio.
— Max, por favor. É só até eu arrumar outra
coisa. Se você não me ajudar, terei que deixar o
Caio para arrumar outro emprego na noite. Ele não
vai aceitar ficar comigo mais se souber que
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Eu:
Caraca, Max. Que gostoso.
Max:
É, amiga. Esse é top dos tops.
Eu:
Por que um cara desses precisa de uma GP? E por
que pagaria tanto por uma? Ele não gosta de bater,
né? Você sabe que não curto isso.
Max:
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Eu:
Eles?
Max:
São namorados. Se você achou esse gato, espera
pra ver o outro.
Eu:
Ai, essa vida ainda me mata.
Max:
Puta.
Eu:
Hahahaha. Olha quem fala.
Max:
Acho que é por isso que você não quer casar. E que
o João nunca leia isso: mas eu te entendo.
Eu:
Besta.
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Max:
Liga para ele e diz que é minha amiga. O Marcelo
vai adorar te conhecer.
loucura.
— Sinto muito — sussurro entre as bocas
dos dois. —, mas eu vou primeiro.
É devastador. Daniel segura meu tronco
quando meu corpo se curva para a frente em
espasmos de prazer. Gozo como uma louca em sua
mão e eles logo me acompanham.
— Porra — Marcelo grita.
Sinto a pressão e o ritmo que se intensifica
nas estocadas dele em Daniel. Os dois vibram e
suas mãos me apertam quando gozam juntos, logo
depois de mim.
Suados e cansados, nos soltamos uns dos
outros e morro de amores ao ver os dois trocando
carinhos depois do sexo. Marcelo me vê sorrindo
para eles e aponta para a cômoda.
— Pode pegar ali o envelope, querida. Toma
um banho e pode ir. Daqui pra frente a noite é só de
nós dois.
Faço o que ele diz. Saio de fininho depois do
banho. Os deixo namorando na banheira e tento não
interromper o clima. Vou embora morrendo de
curiosidade de saber sobre as aventuras da Max
com eles.
Já no táxi, de volta para a casa de Caio, olho
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Caio
Acordo com sede, muita sede. Olho para o
lado e vejo a garota enrolada no lençol. A
frustração me pega quando percebo seus cabelos
loiros derramados no travesseiro de Mônica. Sento
na cama e minha cabeça gira. Onde está ela? Como
cheguei até aqui? Preciso tomar água.
Deixo o quarto e abro as portas que encontro
no caminho até a escada. Nada. No andar de baixo,
vou direto até a geladeira e tomo uma garrafa de
água de uma vez só. Apoio as mãos no balcão e
espero que as coisas parem de girar.
— Droga. Odeio quando isso acontece —
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Marcelo:
Gata, 22h hoje então? Estaremos te esperando. Ligo
depois para passar o endereço.
Eu:
Beleza. Estarei lá.
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pegar o telefone.
Todo meu corpo trava. Perco o chão ao ser
comparado com um agressor.
— Lógico que já ouvi falar e eu nunca teria
coragem de tocar na Mônica.
— Caio, você é advogado. Sabe que não se
trata só disso. Sabe também que o que está fazendo
é uma forma de violência contra ela, quando destrói
suas coisas e impede que ganhe seu próprio
dinheiro. Fora a vigilância, o prejuízo e...
— Ok. Ok. Você é advogada dela agora, ou
o quê? — Abaixo o braço devagar, ainda mantendo
Lisi afastada e entrego o celular para Mônica.
Ela morde a boca e o guarda, sempre
olhando para o chão. Lisiane esfrega o rosto e
depois agarra meus ombros.
— Está mais calmo?
— Não vou tocar em mais nada dela. Pode
ficar tranquila. Só estou puto porque as duas me
mentiram. Achei que a Mon tinha entendido que eu
queria mesmo casar com ela, que fosse parar de
atender.
— Ia. Mas isso não acontece da noite para o
dia, como você gostaria. Por mais que eu tentasse
explicar, você não queria ouvir. Ficou cego com
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Mônica
Agarro os braços da poltrona na hora da
decolagem. Aos poucos, a história que construí nos
últimos anos vai se afastando de mim. Da pequena
janela posso ver Porto Alegre ficando cada ver
menor. E Caio cada vez mais longe.
Ele vai sofrer, sei disso. Não tanto quanto
eu. Talvez até seja melhor assim, que ele volte com
a Mariana e fique mais perto dos filhos.
Ah, que estúpida que eu sou. Não é possível
que depois de tanto tempo ainda tenha que pagar
por um maldito erro que cometi na minha vida, e
esse erro se chama Pedro.
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punição.
— Você é uma vadia. Eles me falaram sobre
o quanto estava gostando de estar lá, dando para
todos aqueles caras. A culpa é sua. É tão
imprestável que nem os seus pais vieram atrás de
você.
Começo a rir. Sério que ele vai apelar para a
falta de confiança?
— Não seja ridículo. Eles me amam tanto
que me deixaram livre. Isso é amor. Respeitaram a
minha escolha idiota de ficar ao seu lado.
— Então é isso que você pensa desde o
início? Que foi uma burrice sair de casa para ser
minha?
— Não sou sua — grito, abrindo a mala e
jogando dentro dela mais algumas coisas que vejo
espalhadas pelo chão.
— O que você está fazendo? — Ele aperta
forte meu braço e me puxa.
— Vou embora dessa merda.
— E vai viver na rua? Ou acha que seu pai
vai te aceitar de volta? Só eu te amo. Só eu posso te
dar o que precisa e aqui é o seu lugar.
— Fiz o que você quis. Acreditei que me
amava, mesmo quando tudo me dizia o contrário.
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escola.
O reconheço de longe. Seu jeito sedutor,
apoiado no muro em um ombro só. Baixo a cabeça
e faço menção de atravessar a rua, agarrada aos
meus cadernos. Ele acende o cigarro e solta a
fumaça quase no meu rosto.
— Onde vai com tanta pressa, princesa?
Meu coração balança. Será que já sente
saudades de mim?
— Vou para casa.
— Então vai voltar comigo? Porque a sua
casa é aquela que está te esperando. Nossa cama
está tão vazia sem você. Todas as minhas noites são
em claro, imaginando como seria te ver carregando
o nosso filho.
Estremeço ao ouvir as palavras dele. Pedro
joga o cigarro no chão e me segura pelos ombros.
Abro a boca, mas não consigo dizer nada. Olho
para trás, para ver se alguém nos observa.
Tenho medo que minhas amigas da escola o
vejam aqui. Foi tão difícil voltar a falar com elas.
Não teve nenhuma que não tenha me jogado o
famoso eu te avisei.
— Me solta, Pedro. Preciso ir embora.
— Sempre tão corajosa na hora de ir
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Caio
— Mônica — grito para o vazio do meu
quarto depois de ler a carta que ela me deixou.
Nenhuma resposta. Sua ausência me
preenche de agonia por dentro.
Pensei que as coisas ruins só aconteciam
uma única vez na vida. O tal raio que não cai no
mesmo lugar duas vezes. Uma grande bobagem.
Meus pais morreram porque o dinheiro
estava sempre em primeiro lugar. Mariana se
divorciou de mim porque tudo o que eu dava a ela
não era suficiente para suas ambições.
Sei lá, pode ser inocência, mas achei que
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Mônica
3 anos antes
Espero uma hora depois de meus pais terem
ido deitar. Olhando para o teto do meu quarto,
brinco com os polegares sobre o peito enquanto
penso que em poucas horas estarei na cama com
alguém que sequer conheço.
E se ele for um velhote gordo e nojento? E
se for um sádico? Pedro disse que ele pagou mais
caro por uma coisa especial, mas não quis me dizer
o que era para que eu não desistisse. Foi uma
bobagem me antecipar isso. Desejei não encontrar
esse cara mais do que tudo quando ele falou. Me
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boca.
A velocidade com que entra em mim
aumenta até suas pálpebras se fecharem. Pedro
estremece e me empurra forte uma última vez
enquanto goza. Relaxa o corpo e deita a cabeça
sobre meu peito como se fôssemos dois amantes
apaixonados.
Segundos depois, se afasta e sai de mim,
guardando o membro e arrumando a roupa outra
vez. Seu líquido pegajoso escorre até meu joelho
quando acaricia meu rosto e sorri.
— Foi demais, não foi? Agora vamos. Tem
um cara que vai adorar te receber molhadinha
assim.
Quando Pedro para na frente do motel e
passa o peito por cima do meu corpo para abrir a
porta do passageiro, estremeço. Olho de relance
para a fachada do lugar. Pelo luxo do prédio,
constato que esse será mais um dos amigos ricos
dele.
— Vai. Quarto número sete. Seja uma boa
menina e faça o que ele mandar. Será livre depois
de hoje. Se pensar em fugir, lembre dos seus pais e
do quanto gosta deles. — Levanta a camisa e me
mostra a arma outra vez.
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— E o que é?
Sua boca não me responde, mas engole a
minha. Afoita, a língua me invade e as mãos me
apalpam como se eu fosse o último copo de água
do deserto.
Em segundos, me vejo nua na sua
frente. Espero que tire a camisa e observo o tronco
perfeito.
— Me chupa — ordena após tirar as calças.
Fico de joelhos na sua frente e engulo em
seco. Dessa vez estou cem por cento aqui. Não
bebi, não tomei nada e preciso fazer isso como se
estivesse curtindo muito e o único com quem já
transei sem ser por obrigação foi Pedro.
Ai, tenho tanta raiva dele. Não quero que
tenha exclusividade na minha vida em nada. Puxo
o elástico da cueca boxer para baixo e o pau de
cabeça vermelha sai para fora, pulsante.
Sinto as bochechas queimarem quando
Tiago ergue meu rosto para que nossos olhos se
encontrem. Tudo que posso ver em sua expressão é
o mais puro desejo.
— Beija ele todinho como vi você fazer nos
meus amigos, princesa. Seja minha, só minha. Pelo
menos essa noite. Você será muito bem
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recompensada.
Seu toque é carinhoso, mas firme. Seguro o
pau pela base e o coloco na boca aos poucos. Com
a mão nas minhas costas, gentilmente ele me
empurra até que quase tudo entre.
— Assim. Delícia, você. Que boquinha
apertada. Vamos enfiar só mais um pouquinho, ok?
Ergo os olhos e tento mostrar algum sinal de
que estou de acordo, mas é difícil balançar a cabeça
então faço ok com o polegar levantado. Seu quadril
se move para frente e a glande do pau se enfia em
mim até tocar minha garganta. Me dá ânsia, mas ele
insiste.
— Já vai passar, gatinha — diz, malicioso,
enquanto me observa engolindo seu membro.
Tiago fode um pouco a minha boca e
mantenho os olhos nele enquanto isso. Não deve ter
mais de vinte e cinco anos. Loiro e forte na medida
certa, com certeza vai à academia todos os dias.
Tem cheiro de dinheiro e tudo nele exala riqueza.
Seus enormes olhos azuis se abrem e ele sorri de
lado ao me pegar o analisando.
— Gosta do que vê? É lindo, não é? Nós
dois, corpos perfeitos, sexo gostoso, uma noite
divertida. Gatinha, parece que você é novata nisso,
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cliente.
Caminho até ele e quando paro na sua frente,
ajeita meus ombros e puxa as laterais da minha
boca, forçando um sorriso.
— A não ser que o homem tenha tara por te
comer contra sua vontade, seja confiante e
sedutora. Mostre que está gostando de estar ao seu
lado. E isso envolve gemer muito e gozar com ele.
Mesmo que seja de mentirinha, ok? — Ele pisca e
sorri.
Baixo a cabeça e coloco o cabelo atrás da
orelha. Fecho os olhos e tento me concentrar no
que falou. Quando o encaro outra vez, vejo o diabo
em sua expressão e sei que é só o reflexo da minha.
Corajosa, enceno meu melhor olhar de sedução.
Deixo de lado meu jeito meigo ou o modo
apaixonado como sempre fitei Pedro. Só faço
replicar a maneira depravada como a maioria dos
caras me olha na rua. Pelo modo como Tiago me
agarra pela cintura, a técnica funciona.
— Você é uma aluna fantástica. Nunca me
senti tão desejado quanto agora.
Nos beijamos intensamente e meu clitóris
vibra ao encontrar com seus dedos ágeis. Sinto os
joelhos falharem quando entram em mim.
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Caio
É o meu limite. Sem forças e sem
esperanças, vejo a cada hora que passa aumentar a
distância que me afasta de Mônica. Estou outra vez
no quarto dela, erguendo travesseiros e tapetes,
tentando encontrar qualquer coisa que possa me dar
uma pista. Nada.
Como me arrependo de ter deixado para
aprender algumas coisas na força bruta. Sou tão
idiota. Foi necessário perder alguém outra vez para
perceber que devia ter agido antes.
Esperei demais. Aproveitei cada momento
ao lado dela como se eles fossem durar para
sempre. Agora não tenho nenhuma ideia do seu
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paradeiro.
Ando de um lado para o outro sem saber o
que fazer. O detetive que João conseguiu foi tão
longe quanto eu: zero.
Pior de tudo é pensar no meu futuro. Daqui
para a frente, meu tempo é mais curto ainda. Ou
volto para Mariana ou perco tudo.
Tenho estranhado o silêncio dela depois do
que aconteceu entre nós. Nas vezes em que fui ver
os meninos, ela sequer estava em casa. Mas não me
importo. Não é das opções que tenho cogitado,
ficar com a minha ex.
Preciso fazer alguma coisa. Essa espera tem
me agoniado e mal tenho ido trabalhar. Meu avô
me cobra todos os dias. Já estou enlouquecendo,
apelando para as orações e para qualquer santo
milagreiro.
Pulo quando meu telefone toca. Pego o
aparelho no bolso com irritação. Não reconheço o
número e falo com agressividade para quem quer
que esteja atrapalhando a minha busca.
— Oi. — A voz feminina é rouca e penso se
já a ouvi alguma vez.
— Sim?
— Tudo bem?
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***
25 anos antes
O perfume dela era o sempre o melhor.
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pequenino.
O coração de rubi pendeu e girou até a
palma da mão. Ele olhou para o espelho e a viu
sorrindo. Era o que mais gostava, fazê-la rir.
— Gosta desse, não é? — Ela se abaixou
diante dele e segurou o pulso do menino com
carinho.
— É o mais bonito.
— Sabe por quê?
— Não.
— Porque é o seu coração. Ganhei do seu
pai no dia em que ouvimos os seus batimentos pela
primeira vez.
Caio abriu a boca e olhou surpreso para o
anel dourado, como se tivesse nas mãos um pedaço
o próprio corpo. Brincou com o círculo, girando a
peça de um lado para o outro.
— E você chorou?
— Como um bebê.
Como ela podia ter um sorriso tão bonito?
— Então você sempre leva o meu coração
com você quando sai?
— Sempre. — A mãe virou a cabeça de
lado, enfaticamente. — Sabe por quê?
Caio ficou com vergonha, mas outra vez não
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Mônica
2 anos e meio antes
Escuto as batidas do meu coração como se
fossem as de um tambor. Não consigo reler as
palavras impressas no papel em minhas mãos, de
tanto que tremo.
Desmaiei a caminho da escola. Uma senhora
que passava na rua chamou uma ambulância. O
nome do meu problema está escrito nessa folha:
gravidez.
— Considerando a avaliação que fiz, você
está em estado avançado da gestação, Tatiana. Não
desconfiou de nada? — o médico do posto de saúde
pergunta, me encarando sério por baixo dos óculos.
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encaro.
— Vamos dar um jeito nisso. Esse homem
não vai te fazer mal. Não vamos deixar. Isso passou
dos limites. Casar com ele foi uma maluquice,
Tatiana.
Apesar do desapontamento, nunca me deixa
desamparada. Ela circula a mesa e esfrega minhas
costas.
— É sério, mãe. Preciso sair da cidade. Ele
não pode saber da criança. Presta atenção no que
vou falar. Pode me mandar embora se quiser, mas
preciso que saiba a verdade. — Levanto e seguro
em seus ombros.
Os olhinhos miúdos se apertam mais ainda,
como se soubessem que o que vou dizer vai causar
dor. Vai mesmo. Ao menos em mim já dói.
— Não sei se é filho do Pedro — falo
baixinho por causa da vergonha que sinto.
— O quê?
O maxilar dela treme e seu rosto enrugado
fica marcado pela consternação. Odeio magoar
minha mãe.
— Ele me obrigou a dormir com outros
homens. Essa é a verdade. O pai nunca pode saber,
entendeu?
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Caio
Piso no aeroporto de Lisboa e pego o meu
telefone. Um segundo depois, ele apita como uma
ambulância. Pensei que seria mais difícil encontra
Mônica. Por alguns momentos, me perguntei se
seria possível.
Agora, olhando para as dezenas de
mensagens que me mandou enquanto estava no
avião, descubro que foi ela quem me encontrou. E
não parece nem um pouco feliz por isso.
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Mônica
Jogo o dinheiro para o motorista do táxi e
desço do carro às pressas. Corro para dentro de
casa, batendo as portas que encontro no caminho
até o quarto da casa dos meus pais em Lisboa.
Me ajoelho e pego uma mala grande debaixo
da cama. Começo a jogar dentro dela as coisas mais
importantes.
— O que está acontecendo, filha? — Minha
mãe surge na porta.
Não temos tempo. Cada segundo em que eu
parar para explicar a ela mais os coloco em risco.
— Temos que partir outra vez, mãe. Explico
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depois.
— É ele? Te encontrou de novo? — Suas
mãos trêmulas me seguram, me fazendo parar para
encará-la.
Olho para os pés. Não sei por onde começar.
Queria dizer que tudo vai dar certo, mas já não sei.
— Talvez.
— Como assim, Tatiana? Não existe talvez
e, se você está fazendo as malas, é porque sabe que
Pedro está por perto.
Deixo o corpo cair no colchão e abraço os
joelhos.
— Eu conheci uma pessoa, mãe.
Com dificuldade, ela senta ao meu lado e
segura meu rosto, me obrigando a olhar em seus
olhos.
— É outro Pedro? — pergunta, o medo da
minha resposta estampado em sua expressão.
— Não. De jeito nenhum — digo, um tom
mais alto do que deveria. — Caio é bom, me
ama. E é de verdade dessa vez.
— Então não estou entendendo o que está
acontecendo.
— Ele é rico.
— E isso é um problema?
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***
2 anos e meio antes
Tudo está pronto e logo embarcaremos para
Portugal. Meus pais estão escondidos na casa de
uma amiga da família desde que o bebê nasceu e
hoje finalmente é o dia da sua alta. Não consegui
convencê-los a partir e me deixar sozinha com ele.
— Vamos? Quero passar no cartório antes.
Já agendei para fazer a identidade e o passaporte do
neném. Vou deixar também uma autorização de
viagem para vocês — digo, entrando no pequeno
quarto que temos divido nas últimas semanas.
Meus pais trocam olhares cansados. Como
me sinto culpada por tê-los feito passar por tudo
isso, tirá-los das suas vidas confortáveis e
transformá-los em fugitivos. A única coisa que
posso fazer agora é jurar nunca mais entregar o
meu coração a alguém.
— Tem certeza de que isso é necessário,
filha? Você vai conosco, não precisamos de
autorização para viajar com nosso neto.
Procuro pelos documentos que vou precisar
enquanto evito olhar para o meu pai. Respondo
remexendo nos papéis.
— É por segurança. Melhor prevenir.
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Caio
Reservei uma suíte na mesma rua onde foi
marcado o encontro com a tal Tatiana, a Avenida
da Liberdade, em Lisboa. Espero impaciente no
saguão até dar o horário. Troquei as roupas leves
pelo casaco, porque a capital de Portugal está no
fim do inverno. Meu telefone toca e o pego no
bolso. É o investigador, ligando do Brasil.
— Chefe, quase na hora?
— Sim. Já estou desesperado aqui,
aguardando.
— O meu informante mentiu para a tal
Tatiana que o seu escritório em Lisboa estava em
reformas, porque ela tentou cancelar de novo, mas
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Tatiana
— Então, alguém pode me explicar o que
está acontecendo? — Minha mãe cruza os braços,
desconfiada.
Abro a boca e demoro mais do que o
necessário puxando o ar. Só preciso tempo para
pensar em algo razoável. Não funciona, porque
nada me vem à cabeça. Melhor ser direta, ela tem
me pedido para parar de rodeios e histórias pela
metade.
— Mãe, esse é o Caio, o cara de quem te
falei.
Mordo a boca ao ver o olhar surpreso dos
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completo.
— Se o senhor conhece Tatiana do Brasil,
sabe que o que queremos é que Pedro mantenha
distância de nós. Tatiana está com a família dela,
vai arranjar um serviço e ficaremos todos bem. Se
espera algum tipo de pagamento que não seja
apenas financeiro, agradeço, mas pode ir.
— Pai. — Olho assustada para ele.
Seus ombros se contraem e encaro Caio,
pedindo desculpas com o olhar. Com as mãos
apoiadas no quadril, ele sorri como se não
esperasse nenhuma reação diferente dessa que meu
pai acabou de ter.
— E é verdade. Você sabe o que cobram em
troca de favores — meu pai continua, o dedo em
riste.
Reviro os olhos e solto Gabriel, que se
remexe desconfortável no meu colo. Ele desliza
pelas minhas coxas e desaparece, correndo dentro
de casa.
— O senhor tem toda a razão e fico aliviado
por saber que a sua filha tem alguém que zele por
ela. Era algo que me preocupava muito. Devo mais
à sua filha do que ela a mim. Mas, isso não vem ao
caso agora. Preciso saber de tudo o que aconteceu
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Caio
Por muitos anos, imaginei como seria se
minha mãe tivesse sobrevivido ao acidente de
helicóptero. Sonhava que ela tinha sido encontrada
viva e que, sentada na nossa sala de estar, contava
sobre o momento mais difícil pela qual havia
passado. Os braços arranhados, as cicatrizes que
carregaria para sempre, eu podia ver todos os
detalhes, mas o ponto mais forte na minha
imaginação sempre era o seu olhar, aquele de quem
encontrou a morte e a deixou para trás, como nos
filmes.
Tatiana não tem machucados ou marcas
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Tatiana
Caio alugou um apartamento de frente para o
mar em Sesimbra, para onde fomos na mesma noite
que nos reencontramos. Queria ajudar a pagá-lo,
mas, mesmo que ele deixasse, não teria dinheiro o
suficiente para um lugar tão luxuoso.
Acordo ao ouvir a porta da rua bater e me
levanto. Escovo os dentes e vou para a sala de
camisola. A cidade está vazia essa época do ano e
as únicas pessoas que consigo enxergar da sacada
são os meus pais, brincando com Gabriel na praia.
Apoio os braços no vidro e deito o queixo sobre
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eles.
— Achei que Gabriel fosse esquecer de
mim. Nos dias em que estava com você, ficava
desesperada por não poder ligar e deixar que
ouvisse a minha voz — digo ao ouvir Caio se
aproximando por trás.
— Por isso muitas vezes ia embora sem
explicação nenhuma? — Caio pergunta.
Confirmo com a cabeça sem me virar. Seu
perfume mexe em algo dentro de mim. Não consigo
acreditar que, de todos os homens com quem
estive, exista esse um que me cause sentimentos tão
loucos e apaixonados.
— Desculpa por ter te atrapalhado.
— Você não tem que pedir desculpas. Eu
devia ter sido sincera desde o começo, mas achei
que era uma brincadeira, que era passageiro. Pra
falar a verdade, mal gostava de estar com homens.
A maioria me dava asco, depois de Pedro. — Giro
o corpo e o encaro
Caio passa o polegar no lábio, confuso. Seu
cabelo bagunçado e a calça caída nos quadris
brigam por minha atenção.
— A presença da Lisi na nossa cama era por
isso? Ainda tem dificuldade em ter prazer só com
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um homem?
Olho para o alto para me impedir de
continuar encarando o volume em suas calças. Ou a
camiseta apertada, marcando os músculos da
barriga.
— Não sei o que você fez. Se foi o dormir
de conchinha ou o me amar, mas quebrou essa
maldição. Não sabe o quanto meu corpo se sente
completo junto ao seu.
Gosto do sorriso safado dele, mas ergo o
indicador quando dá um passo em minha direção.
— Ok. Entendi. Isso não é um convite.
— Não. Nem pensar. Pode ser que a gente
demore muito a encontrar Pedro. Pode ser que você
tenha que retornar ao Brasil e eu precise encarar a
realidade de te ver voltando para a Mariana.
O modo como revira os olhos é fofo. Amo
que não tenha paciência para ouvir sobre os nossos
futuros separados.
— Se tem uma coisa que tenho certeza desde
que te conheci é que não vou voltar para ela. Mas,
mesmo assim, se não puder te ter, vou me certificar
de esfregar na sua cara o que está perdendo. —
Caio ergue a camisa e a tira por cima da cabeça.
Ponho a mão na cintura e abro a boca para
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louça.
Minha mãe franze a testa. Sei que está
irritada por eu diminuir tudo o que Caio fez até
agora, mas se tem algo que não preciso, é que
torçam para ele resistir ao meu lado até acabar seu
prazo para casar.
— Da louça, do almoço, da casa onde
estamos, de ir atrás do Pedro, de te tirar da vida,
de...
— Ok, ok — aceito, erguendo as mãos. —,
mas só vou dizer uma coisa para vocês: não vou
ceder. Aceito toda a ajuda que ele me oferecer, mas
não vou carregar a culpa de ter arruinado a vida de
outra pessoa.
Vou para o quarto e deito na minha cama.
Gabriel logo aparece e o ajudo a subir e deitar ao
meu lado. Ele tem três bonecos nas mãos. Aponta
para a menina e depois para os meninos.
— Mamá, Biel, Cao.
Seco as lágrimas fugitivas e fungo. Sorrio,
confirmando suas palavras:
— Isso mesmo, meu amor. Mamãe, Gabriel
e Caio.
Estou mesmo ferrada.
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Caio
Na penúltima noite antes de ter de voltar ao
Brasil acordo ao sentir o cheiro dela. Entreabro os
olhos e vejo sua silhueta recostada na minha porta.
Morde a manga da camisola. Tem a gola caída no
ombro. A pele nua reluz com o reflexo da lua. Os
cabelos são tão compridos que terminam pouco
antes da barra da roupa, logo abaixo do quadril.
— Oi — digo com a voz sonolenta.
É a primeira vez que demonstro que a vi me
observando. Nas outras, me virava de lado e
deixava que me observasse. Cheguei a dormir sem
nenhuma peça de roupa. Essa foi a noite que ela
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tipo.
Me dói ir embora sem conseguir de fato
ajudá-la. Só que se eu não for, também vou tornar
um inferno a vida de outras pessoas que amo,
principalmente os meus filhos, e eles não merecem
isso. Bufo e levo a mão até o rosto dela, esfregando
sua bochecha com delicadeza.
— Sim — respondo mesmo sem ter certeza
se é o certo.
Seco a lágrima que escorre até o meu dedo.
Odeio fazê-la sofrer.
— Podemos dormir de conchinha hoje? —
pergunta, me fazendo sorrir, o que parece
inadequado para o momento.
— Sim — repito, deitando outra vez e dando
batidinhas no espaço vazio diante de mim para que
ela o ocupe.
Mônica desliza para o lugar ao meu lado e
suas costas se colam ao meu peito. Enfio o rosto
entre seus cabelos e aspiro. Porra, como amo esse
cheiro.
— Mon, só preciso te pedir uma coisa. Por
favor, diga que vai responder apenas com um sim
para ela.
— Ok.
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Tatiana
Chegou o dia de Caio voltar ao Brasil e só
consigo pensar que estou fazendo algo errado. Se
deixar que ele fique, vou me culpar para sempre
por tê-lo feito perder tudo. Se deixá-lo ir, quem
perde sou eu, perco todo o amor que jamais um
outro alguém me deu.
Abro os olhos e encontro Gabriel na minha
cama. Depois que saí do quarto de Caio, meu filho
logo começou a chorar. Atendê-lo durante as
madrugadas é um sonho. Algo que pode parecer
terrível para outras mães é um milagre para mim.
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sozinha.
Sorrio ao ouvir Caio dizendo o meu nome.
Gosto de Mônica, mas um dos meus grandes
sonhos dos últimos anos era voltar a ser a Tatiana
de antes. E isso saindo da boca dele é melhor ainda.
— Esses dias com você aqui ao nosso lado
me deu esperanças de que ela mudou. Minha filha
jamais encontraria alguém bom assim se fosse a
mesma menina de antes, correndo atrás de cometer
tantos erros.
— E vou embora aliviado por saber que ela
tem pais amorosos com quem contar. Espero que
tudo se resolva logo e vocês voltem para casa.
— É, vamos ver o que o futuro nos reserva.
Tenho andado muito preocupado com o dinheiro
também. Não podemos ficar muito tempo aqui
dentro. Ela precisa ir atrás de um emprego, porque
agora não já tem como nos sustentar, os quatro.
Não quero a menina naquela vida mais.
Suspiro e tapo a boca para não fazer mais
barulho. Olho para o alto, tentando segurar as
lágrimas. Pobre do meu pai, tão preocupado
comigo que envelheceu vinte anos nos últimos
cinco.
— Quanto a isso, não será um problema.
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Caio
3 meses depois
No salão principal do Manhattan, cruzo os
braços e apoio o quadril na mesa onde ficará o bolo
do nosso casamento. Passo o polegar nos lábios e
sorrio ao ver como a minha noivinha está sexy em
seu jeans apertado. Sexy e desesperada.
— Ai, meu Deus! Vai dar tudo errado.
Como você pode me deixar seguir em frente com
essa ideia? Casamentos dão azar, Caio. — Ela se
vira para mim e aperta as bochechas, colando as
palmas das mãos no rosto.
Sua boquinha faz um O que adoro e já me
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cinco vezes.
Tatiana se vira e me encara. Me dá um beijo
leve sai andando para trás.
— Essa coisa de passar o dia em salão é
coisa da sua ex. Só vou aparecer lá para arrumar o
cabelo e fazer a maquiagem. Sauna, massagem,
isso é o que espero de você, noivinho. — Pisca para
mim e se afasta.
Realmente, essa garota não poderia ser mais
diferente do que Mariana. Minha ex-mulher nem é
a noiva, mas tenho certeza de que está desde ontem
no cabeleireiro, tentando ficar mais bonita do que a
minha futura esposa, o que é impossível.
Ela vem ao casamento. Acho que só para
não dar o gostinho de parecer incomodada. É tão
petulante que quando cheguei de volta ao Brasil e
falei que tudo estava resolvido, que não voltaria
para ela, apenas deu de ombros e foi embora,
dizendo que tinha paciência para as minhas
aventuras de menino. É bom ela ter mesmo, porque
vou passar muitas encarnações ao lado de Tatiana.
— Amor, vamos! Pelo amor de Deus. Os
convidados vão chegar e te encontrar de calça
jeans.
— Posso tirar, se você quiser — ela grita, já
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ganhar.
Tatiana faz uma expressão de dúvida e sorri.
A porta do elevador se abre e ela sai por baixo do
meu braço.
— Depende. Tem a ver com outras garotas.
Talvez até na nossa cama...
Aperto os punhos e rio. Esse será o melhor
casamento do século.
Deixo minha noiva no salão e vou para casa
me arrumar. Quando chego no condomínio e dobro
a esquina para a minha rua, fico surpreso ao
encontrar o carro do meu avô diante da garagem.
Desço e ouço as vozes e risadas. Abro a
porta da frente e ele e João estão rindo na minha
sala, cada um com um copo de uísque na mão.
— Ah, finalmente chegou o homem do dia
— João fala e me cumprimenta.
Ouço um gemido de criança e ele olha para o
lado. Em um carrinho de bebê, o pequeno Carlos
resmunga por atenção. Meu primo não parece o
mesmo de antigamente e jamais o imaginei como
pai. Prefiro esse João de agora mil vezes ao safado
que só pensava em usar as mulheres, inclusive a
minha Tatiana. Mas não tinha como não o perdoar
depois de tudo o que fez para se redimir, me
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Você
Vai
Ser
Papai
FIM
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Caio
Dois anos e meio anos depois
Rimos e conversamos no gazebo. Hoje é
meu aniversário e nunca me senti tão grato por
estar vivo.
As gêmeas brincam no jardim da casa do
meu avô. Chamam-se Mônica e Helena, como as
mulheres da minha vida. A garota por quem sou
apaixonado e a minha mãe, que é uma avó muito
presente.
Depois de tudo o que passou nos últimos
anos, ainda não reaprendeu a lidar com a riqueza.
Tudo o que descobre que tem, doa para instituições
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Doutor Safado
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