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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

A serviço do prazer
por Diana LoBite
Porto Alegre
2019
© Reservados todos os direitos da autora. Nenhuma parte desta
obra poderá ser reproduzida, fotocopiada por processo mecânico ou
eletrônico sem permissão da autora.

CONTEÚDO ADULTO

PERIGOSAS ACHERON
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Prólogo
Calor no banheiro
O casamento
Não posso decepcioná-lo
Teimosas, ambiciosas, obstinadas
Casamentos dão azar
Chegou a hora
Nada quebra como um coração
O que parece fácil, mas não é
Tarde demais para voltar atrás
Misturado com álcool
De volta para casa
Se alguém me perguntar
Nunca confiar
Corações roubados
Nada será igual
Devolva o meu coração
Um adeus
Tatiana
O outro lado
Sem promessas
Sem notícias do Brasil
Como um menino
Nunca mais o devolvo
Epílogo
Bônus

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Caio
Gostar de alguém não estava nos meus
planos desde que me separei. Mas me apaixonar
por uma garota de programa, ah, isso nunca passou
pela minha cabeça.
Não sei quando foi. Me pergunto às vezes se
foi na hora em que ela sentou no meu pau, na noite
de máscaras no motel onde a conheci. Ou pode ter
sido antes, quando vi Mônica transando com outro
e percebi que aquilo mexia comigo.
Seu rosto meio coberto e as orelhas brancas
de coelha chamavam a atenção. Mas nada

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comparado aos peitos redondos onde queria me


enterrar.
Meu primo e eu assistíamos incrédulos ao
espetáculo de prazer para a qual ela estava se
preparando. Segurava nos tornozelos, baixando a
cabeça e empinando o rabo pequeno para o alto
enquanto um bando de homens aguardava para
comê-la.
Um cara fortão abriu sua bundinha e enfiou
um plugue anal ali. Um pompom de coelho ficou
aparecendo para o lado de fora, a parte que não foi
engolida por suas preguinhas apertadas.
— Sério que ela vai fazer isso? — perguntei
ao meu primo com a sobrancelha arqueada.
Meu coração batia de um jeito estranho ao
ver tantos caras prontos para entrarem na pequena
coelhinha. Um misto de tesão e vontade de levá-la
só para mim.
— Dar pra todos eles? — João falou abafado
por baixo da máscara do Batman.
— É.
— Pelo jeito. — Ele parecia tão
desinteressado quanto no momento em que
chegamos na suíte máster do motel.
— Bom, se é pra entrar na fila, então vamos
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lá — falei sem despregar os olhos da minha


coelhinha.
Ajeitei a máscara preta de seda e sentei no
último lugar vago no banco. João não se mexeu.
Todo mundo colocava suas camisinhas e fiz o
mesmo, rezando para não me acabar antes da
morena chegar em mim.
— Ai, não entra. Tão grande — ela gemeu lá
no começo da fila ao sentar no primeiro.
Magra e com o quadril estreito, parecia
impossível que tudo aquilo coubesse lá dentro. Mas
ela insistiu.
Com os pés apoiados no banco e os joelhos
erguidos, esperou que o cara a lubrificasse com o
próprio cuspe.
— Humm, delícia — ronronou,
escorregando até suas coxas tocarem as do homem
debaixo dela.
O desejo me consumiu quando ele se
agarrou na sua cintura fina e meteu com força. Os
gemidos agudos foram abafados pelo beijo do
moreno sentado ao lado dos dois. Ele grudou nos
cabelos pretos dela e enfiou a língua em sua boca
suculenta.
— Pula, putinha — o que a fodia pediu,
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mordendo afoito os seus peitos.


A garota foi obediente. Parou de beijar e
começou a subir e descer o quadril com gana,
gritando como louca.
— Fode a sua coelhinha gulosa.
— Cavalga, minha diva. — Ele estremeceu,
gozando.
Quando ela levantou e passou para o
próximo, até o meu primo, com dor de cotovelo por
causa da ex, como eu, notou que era impossível de
resistir.
— Caralho!
Ele jogou a cabeça para trás. Sentou ao meu
lado na fila de homens sobre o banco de madeira do
deque da piscina.
— Foda, né, cara? Espero não me acabar
antes da depravada chegar aqui — falei, me
tocando.
Ele me imitou enquanto esperamos pela
nossa vez.
— Vai na manha, coelhinha — o cara que a
comia gemeu e ela riu.
Ah, caralho. Enlouqueci por seu sorriso de
vadia.

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— Mas quero que você meta. Mete com


vontade, amor. Faz sem dó que eu aguento — ela
implorou.
O cara se gozou todo, lógico. Eu mesmo
quase não aguentei, vendo a coelha levar daquele
jeito.
Quando ela se virou e sentou de costas no
seguinte, mãos desesperadas passearam até seu
clitóris. Sua boceta se abriu como uma flor para
eles.
Foi um combustível que a excitou e a fez
bater o quadril mais e mais forte nas coxas do cara.
Naquela hora, só conseguia pensar no rabinho de
coelho enterrado nela, coitado.
Assim que o homem acabou, ela puxou o
pompom para fora, chupando o lado emborrachado
e o jogando longe. A garota ia me matar desse jeito,
eu tinha certeza.
— Ai, caralho — meu primo gemeu vendo a
cena.
A morena afastou as nádegas e sentou no
próximo, o encaixando onde antes estava o seu
plugue de rabinho. Joguei a cabeça para trás e me
contorci.
Já fiz algumas safadezas, mas nada desse
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tipo. Nunca me vi desesperado assim para estar


com alguém que está se entregando para outro.
— Não vai dar, cara. Não vai dar assim.
Porra.
João riu da minha cara. Foda-se, estava
enlouquecendo mesmo com toda aquela putaria que
parecia não chegar nunca em mim.
Era demais. Não consegui esperar. Quando
ela se aproximou para sentar no cara ao meu lado,
escorreguei pelo meio da sua bundinha e meu dedo
desapareceu lá dentro, engolido pelas preguinhas.
— Que delícia de cuzinho apertado —
sussurrei para ela, que dava com vontade para o
outro.
— Ai, vai, delícia — gritou, me
estimulando.
Mas a menina acabou derrubando o homem
entre suas pernas logo. Ele a abraçou ao gozar,
forçando minha pequena coelhinha contra seu peito
e me deixando ensandecido.
— Sua vez, gato. — Me encarou por baixo
da máscara branca.
Tremi como um menino virgem quando ela
montou no meu colo, afastando os lábios da vagina
para me receber. Deixei que se encaixasse, porque
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não conseguia fazer o meu corpo me obedecer.


Festas, putarias. Foda pra todo o lado. Eu até
que gostava. Mas não estava preparado para me
apaixonar quando ela me engolisse ao sentar em
mim. É, acho que foi aí nessa hora que caí de
quatro pela coelhinha.
Ela desceu no meu colo, fantástica e
deliciosa. Mesmo depois de tanto ser fodida, ainda
estava apertada. Abocanhei seus peitos siliconados
e me arrependi. Não por eles. Puta que pariu, eram
uma delícia. Mas porque minha garota não
aguentou ficar com a boca livre. Bastou um
segundo para ela se virar e beijar o meu primo.
— Gostei de você, Batman — ela falou pra
ele e me enchi de ciúmes.
A garota me matou quando enfiou a língua
na boca dele diante dos meus olhos. Segurei em seu
quadril e o ergui. Era como uma pluma. Subi e
desci as mãos, afoito.
— Pula, coelha, pula — gritei, mordendo
seu ombro
Ainda estremecia quando ela saiu de mim e
passou a perna sobre João. Meu coração se apertou
como as mãos dele na sua cintura fina.
— Caralho — ele falou, a segurando.
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— Que foi? — minha coelha perguntou.


João não deixou que escorregasse por seu
pau e a levantou, a colocando sentada no banco
como se fosse uma boneca.
— Não posso fazer isso — ele falou,
pegando a cueca.
Desviei o olhar por um segundo só para tirar
a camisinha. Quando virei para o lado, ela sorria
para as costas do meu primo que já havia
contornado a piscina.
— João — gritei enquanto me limpava.
— Vou atrás da Max — ele respondeu sem
parar de andar. — É dela que preciso. Não vou
mais me esconder no sexo.
Cada vez sabia menos o que é que nos faz
perder a cabeça, se é o amor ou uma boceta
molhada. Olhei para a menina ao meu lado e ela
encostou a orelha no ombro que eu mordia antes.
— Puta que pariu. — Esfreguei o rosto.
— Que foi? Seu namorado foi embora? — A
coelha riu, os cabelos muito pretos caindo ao lado
do seu quadril.
— Ele é meu primo. E a minha carona.
Endireitando a postura e abrindo um sorriso
maior ainda, ela falou a coisa mais inesperada da
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minha noite:
— Sério? Já acabei o meu trabalho por aqui.
Posso te dar uma carona, se quiser.
Parei de respirar na hora.
— Se quero ser levado pra casa pela
coelhinha tarada? Só se for agora.
Ela gargalhou e uniu os joelhos, se
levantando e estendendo a mão para mim.
— Vou te dar essa honra. — Piscou.
Peguei em seus dedos e a segui até a entrada
da suíte, nós dois passando pelados pelos casais e
grupos que transavam como loucos.
Estufei o peito. Podia sentir os olhares
invejosos queimando em mim. Ir embora com a
gostosa da festa era uma coroa na minha cabeça.
Não poderia estar mais satisfeito com a vida. E a
cada momento ela ficava melhor.
Passamos pela pista de dança e estendemos
os pulsos para o homem na saída da festa. Ele
passou o faixo de luz negra nas nossas peles e
conferiu o número, nos entregando os sacos com os
pertences.
Não queria me afastar da coelha então
peguei minhas calças e coloquei a camisa. Ela fez
menção de entrar no banheiro e a segurei.
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— Ei, vai demorar?


— Não vou te deixar sem carona, gatinho.
— Ela desapareceu pela porta, sorrindo.
Roí todas as unhas no tempo que a garota
demorou para voltar. Iria a pé para casa, mas não
iria sem ela.
Foi um baque quando reapareceu. De saia e
botas até as coxas, não foi o seu top ou a barriga de
fora que chamaram a minha atenção. O que me
atordoou foi o rosto perfeito dela. E aqueles olhos
verdes como os meus que pediam por mim.
— Você é tão linda. Tem certeza que tem
idade para estar nessa festa? — Me aproximei,
tocando sua bochecha com o dedo.
— Já fiz vinte e um, amor. — Ela fechou os
olhos por alguns segundos, curtindo o meu toque.
Suas mãos foram até a minha nuca e
desamarraram a fita de cetim atrás da minha
cabeça. A seda escorregou pelo meu rosto e ela a
pegou, me entregando. Já nem lembrava da minha
máscara.
— Uau. Parece que escolhi o cara certo para
levar pra casa.
Guardei o objeto de tecido e cocei a barba,
fazendo charme. Vestimos nossos casacos na saída
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e enfiei as mãos nos bolsos da calça ao entrarmos


no elevador. Se não fizesse isso, pagaria de babaca
segurando na mão dela.
— Bom, já que você vai andar por aí
comigo, precisa saber quem eu sou. Mônica Ferraz
— ela disse quando a porta se abriu já na garagem.
Mônica saiu andando na minha frente e a
segui até um Onix vermelho já meio batidinho.
Sentei ao seu lado e quando fui me apresentar vi
que olhava para o meu peito. Alguns botões da
camisa haviam ficado abertos e os deixei assim.
Seus olhos me devorando eram uma perdição.
— Caio Bauer. E não é o meu nome de
guerra.
Ela riu e colocou uma mecha do longo
cabelo para trás da orelha. Parecia uma menina,
mas tinha uma cara de safada que me levava à
loucura.
— Claro. O meu também não é — falou,
dando a partida no carro.
Saímos do motel e ela acenou para a cabine
escura da recepção. Não conseguíamos ver nenhum
rosto, mas saber que alguém ali atrás a conhecia de
outros atendimentos me deixou possesso.
Quantos caras entravam e saíam daquele
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corpo todos os dias? Quanto levaria até convencê-la


a ficar comigo? Quanto tempo eu demoraria para
perceber que estava surtando por ela?
— Vai me dizendo onde é a sua casa, ok?
— Certo.
Segui dando as indicações até pararmos na
porta do condomínio fechado onde eu morava.
Construído pelo meu avô, o lugar também abrigava
as casas do meu primo e a da minha ex-mulher.
Até então, achava uma ótima ideia ter a
Mariana por perto depois de ela ter acabado comigo
ao detectar falta de ambição da minha parte. Foi um
erro meu não ter me mostrado mais interessado nos
negócios da família. Mas isso me mostrou a
fragilidade do meu casamento.
Depois de mais de um ano da separação e
com todas nossas idas e vindas, vi que era uma
merda ter a ex morando na casa em frente da
minha.
— Coloca o carro ali naquele portão —
avisei.
Tirei o cinto e me inclinei por cima do corpo
de Mônica, roçando em seus peitos. Abri a janela e
toquei o painel com a minha digital.
— Você é rico — ela concluiu, erguendo
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uma sobrancelha.
— Minha família é.
Voltei para o meu lugar, passando o rosto
rente ao dela. Seu hálito de cereja me pegou
desprevenido e, meu amigo, que já estava se
animando nas calças, ficou duro de vez.
— Você é bem safadinho, né? Adoro. — Ela
passou a língua nos dentes enquanto dava uma
analisada na minha saliência.
— Pela direita — avisei, me remexendo no
banco.
— Só casão, hein? Você mora com os pais?
Quer que te deixe antes pra que não te vejam
chegar comigo? — falou, olhando admirada para as
construções.
— Não. Ia te convidar para entrar, na
verdade — respondi, desviando o rosto para a
janela.
— Ah, não vai mais?
Virei a cabeça mais rápido do que devia e
ela riu, percebendo o meu medo de perder a
oportunidade de tê-la nos braços mais uma vez. Só
que a queria apenas para mim, sem mais nenhum
cara para dividir sua pele delicada.
— Vou. Quer conhecer a minha casa,
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Mônica?
— Quero. E pode me chamar de Mon.
— Ok. Então pode parar aqui, Mon — falei
diante da maior casa da rua.
Nem era para ser minha. Mas, no desespero
de tentar reconquistar a Mariana, comprei a maior
obra de arte do condomínio só porque ficava diante
da janela dela.
— Puta que pariu, hein? Que bela família
rica você tem.
— O condomínio todo é do meu avô, pra
falar a verdade. — Dei de ombros e desci.
O jardim por si só era uma paisagem à parte.
Mas toda a iluminação que o arquiteto projetou
para a casa era o que dava o ar de glamour.
Abri a porta de três metros de altura que
fazia meus um e oitenta parecerem pequenos. De
saltos, Mônica ainda ficava a uns dez centímetros
de me alcançar.
— Nossa, tenho medo de estragar alguma
coisa e ter que trabalhar em mais uma festinha
como a de hoje para pagar. Acho que vou ficar do
lado de fora.
Estendi a mão para ela e a puxei para dentro.
— Vem. Além de você, não tem muita coisa
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aqui que me interessa.


A deixei na sala e fui até a cozinha pegar um
espumante. Quando voltei com as taças, vi seus
cabelos compridos de longe. Parada diante de um
balcão, Mônica passava os dedos pelos objetos.
— Você é casado — disse com desânimo
quando parei ao seu lado.
— Por quê? Você tinha planos de casar
comigo? — Estendi a bebida gelada para ela.
Quando se virou, fez uma cara de desdém
para mim. Mulheres feridas tentam nos ferir. Já
aprendi isso com a Mariana.
— Só fiquei decepcionada por ter me trazido
para a sua casa quando a sua esposa não está.
— Não ia te trazer se ela estivesse.
Achei que ela jogaria o espumante em mim
nessa hora, mas o que fez foi rir, resignada.
Estendeu a taça e tocou na minha, os vidros
tilintando.
— A vida é assim, não é? Os homens não
prestam, as mulheres menos ainda. — Bebeu um
gole e admirou a minha família no porta-retratos.
Eu, Mariana e nossos três filhos: Adriana,
Alan e Antônio.
— Diga por você. Sou um cara solteiro. —
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Dei de ombros e me afastei.


Vi pelo espelho na parede a sua cara de
choque. Me joguei no sofá e cruzei a perna,
esperando que se aproximasse querendo saber mais
detalhes de minha vida.
— Como assim?
Mônica subiu no sofá de joelhos, ficando de
lado. Passei o braço por sua cintura e o apoiei em
sua bunda deliciosa.
— Separado. E nunca traí a minha mulher,
se quer saber. Tentamos voltar, levei minhas coisas
para a casa dela de novo. Mas hoje a gente brigou
mais uma vez. Se estou em um relacionamento,
sigo as regras dele. Sou um cara comportado, sério.
— Não parecia hoje mais cedo. — Seu olhar
depravado me excitou.
— Ser comportado não quer dizer que eu
não seja tarado. — Virei o rosto para ela. — Gosto
de fazer umas coisas diferentes, mas nunca tinha
ido numa festa tão forte como a de hoje.
Sorrio ao lembrar que algumas horas antes
estava jogado em outro sofá, o do meu primo.
Minha noite seria um desastre e fui para a casa
dele, porque não aguentaria passar mais um sábado
sozinho nesse mausoléu, ainda mais com a Mariana
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do outro lado da rua, debochando da minha solidão.


— E você gostou?
Dava pra ver que Mônica estava ansiosa com
a minha resposta. Secou a taça e a colocou na mesa
de centro, mas sem sair do meio do meu abraço.
— Sei lá. Fiquei louco de ver tanta putaria e
me deu um tesão enorme. Pra experimentar foi
legal, mas não sei se vou repetir. Tantos caras com
quem dividir uma só garota é complicado para
mim. Gosto mais de ser dividido.
Ela relaxou e desceu as costas pelo encosto
do sofá, se aninhando sob o meu ombro.
— Todo mundo te querendo pode ser duro
às vezes. Gosto de sexo, mas essas festas têm
acabado comigo. Tem dias que tudo o que eu quero
é dormir de conchinha sem ter a obrigação de
transar com ninguém.
De cima, vi seus cílios alongados e o jeito
com que brincava com o cabelo. A saia subiu e ela
ignorou o fato de que a calcinha estava à mostra,
me deixando com saudades do seu sabor.
— Quer fazer isso hoje? — perguntei,
beijando o topo da sua cabeça e tentando parecer
desinteressado em sua resposta.
Mônica olhou para o alto, buscando
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confirmar no meu rosto que a minha proposta não


era uma brincadeira.
— Sim.
Sorri satisfeito. Até queria entrar nos
detalhes, saber o motivo de precisar ir a festinhas
como aquela em que nos conhecemos, a razão de
ter escolhido essa vida. Mas perderia a
oportunidade de convidá-la a passar a noite
comigo, de mostrar que sua companhia me
interessava mais do que aquilo que guardava entre
as pernas.
Talvez tenha errado aí, quando não
especifiquei tudo isso. Quando não me mostrei
indignado pela vida que ela levava e apenas fingi
estar tudo bem para poder ficar mais um pouco ao
seu lado.
Então foi assim que comecei a namorar uma
garota de programa. Fazendo de conta que nada
daquilo me incomodava. Deixando Mônica
adormecer na minha cama enquanto eu passava a
noite acordado, apenas admirando a sua beleza e
planejando como fazer para tirá-la daquela merda
toda.

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Mônica
Alguns meses depois
Gosto e não gosto de festas de casamento.
Adoro quando é de gente rica, como o João. Ele é
primo do Caio, o meu namorado, e vai casar com a
minha melhor amiga Maxime.
Comida fina de graça, aquelas bebidas que a
gente não compra nem quando estão na promoção e
todo mundo arrumado como se fosse para o Oscar.
Se bem que a tarde de hoje é quase isso. A
Max merecia um prêmio por ter conquistado o
coração do João. E ele? Ah, ele merecia uns dez.
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Fisgar uma garota de programa não é nada fácil. Eu


é que sei. É a minha segunda vez nessa de me
apaixonar e estou morrendo de medo.
E é aí que entra a parte que não gosto das
festas de casamento. Elas me fazem lembrar de
quando enlouqueci por um cara pela primeira vez.
Mas é melhor nem pensar nisso. Quando a
gente pensa muito, a gente fala e não posso abrir a
boca para ninguém sobre o meu segredo número
um. Esse ninguém conhece, nem a Maxime. E olha
que ela sabe tudo da minha vida. Até sobre o
segredo número dois. Tanta saudade que sinto e...
Ah, viu? Droga. O casamento é só daqui a cinco
horas e já estou com vontade de chorar.
Pego o vestido de madrinha escolhido pela
minha noivinha favorita e o coloco na frente do
corpo. O espelho me mostra uma garota de vinte e
um anos, mas que parece ter dezessete. Isso me dá
muita grana, mas me faz pensar que os homens não
passam de uns tarados.
Deixo o tecido vermelho sobre a cadeira e
prendo o cabelo no alto com a mão. Viro o quadril
para ver como fica. Queria um coque, mas o meu
namorado não quer. Caio gosta dos fios soltos,
batendo livres na altura da bunda.
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A porta atrás de mim se abre e Lisi enfia o


nariz no quarto. Sorri maliciosa quando me vê.
— Eu também poderia passar horas aqui
dentro admirando a sua beleza.
Suas mãos envolvem a minha cintura por
trás e os polegares se encaixam no gancho da
minha calça jeans. Cortei a camiseta para que
virasse um top e mostrasse meu piercing novo.
— Só queria fazer algo diferente no cabelo
— reclamo, encontrando os olhos azuis dela.
— Então faz — diz, pousando o queixo no
meu ombro.
— O Caio gosta mais dele solto.
— Para de ficar tentando agradar ao Caio. —
Lisi me vira e ergue a sobrancelha para mim.
Ela chegou há pouco do hospital e ainda está
com a roupa branca. É uma das enfermeiras que
trabalham no bloco cirúrgico com o João e a minha
amiga Max só não está mais preocupada com isso
porque agora Lisi está saindo comigo e com o Caio.
Às vezes vejo a Maxime fazendo cara feia
para os olhares que a colega dá para o seu noivo.
Mas é difícil mesmo. As loucuras que eles faziam
juntos antes, nossa, acho que só se vendassem a
Lisiane para ela não lembrar mais dessas coisas ao
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ver o doutor.
Quando comecei a ficar com o Caio, ele me
contou que saía com as enfermeiras do primo.
Pensei que estava só para a putaria comigo
também, no fim das contas. Mesmo que a gente se
encontrasse só para dormir de conchinha de vez em
quando.
Não esperava que se estendesse. Muito
menos imaginava que ele fosse me pedir em
namoro. Aí um dia a Lisi veio brincar com a gente.
Só que ela entrou no meio da conchinha e ficou.
Sem título nem nada. É a nossa amiga especial.
Eu gosto. Antes do Caio, curtia mesmo era
fazer festinhas com as minhas colegas. Só assim
pra conseguir gozar. Os caras não me davam tesão
de verdade, só um brilho extra pelo desejo que
sentiam por mim.
Quando um homem diz olhando no seu olho
que gosta de você como é, você finge que acredita.
Mas quando ele prova isso, ah, aí o desejo começa
a subir pela parte interna das coxas na hora.
E foi o que o Caio fez. Curtiu estar ao meu
lado e topou todas as maluquices que inventei pelo
caminho, principalmente as sexuais. Por isso me
sinto um pouco culpada quando não faço ao menos
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uma coisinha insignificante do jeito que sei que ele


gosta, tipo deixar o meu cabelo solto.
— Você sabe que ele me agrada sempre.
Nos agrada — me corrijo, virando o rosto de lado
para ela e fazendo charminho.
— É verdade. Falando nisso, ele já te contou
da surpresa que tem para nós?
— Não. Que surpresa?
— Vem. — Ela me pega pela mão e me
arrasta para fora do quarto de Caio.
Descemos as escadas e corremos para o
escritório. Até poucas semanas atrás o cômodo
nunca era usado, mas meu namorado agora é CEO
do grupo imobiliário da família dele, então quase
não sai mais de dentro da sala. Porém, o trabalho
nunca foi sua prioridade. Mal senta a bunda na
cadeira e já pede pela minha companhia e a de Lisi.
— Gatinho — ela chama e bate na porta
antes de entrar, me arrastando junto.
— Oi, meus amores. Já vou subir pra me
arrumar com vocês — fala e tira os olhos da tela do
computador na sua frente, parando bem no decote
de Lisiane. — Pensando bem, acho que vou agora.
Caio empurra a cadeira e levanta, apertando
um botão no teclado antes de se aproximar de nós.
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A camisa branca está pra fora da calça e o cinto


está aberto. Lisi começa a falar quando percebe a
roupa bagunçada dele:
— Você disse que tinha um presente para
nós e que queria que usássemos no... Caio, o que é
isso? — Ela aponta para o zíper entreaberto da
calça. — Com duas mulheres em casa você estava
batendo punheta?
Passo por trás dele e acaricio seu pescoço
com uma mão. Com a outra, toco no mesmo botão
do computador que ele havia apertado antes
— Claro que não. Estava trabalhando e... —
Caio para de falar quando o monitor se acende
diante de nós.
Ficaria mais aliviada se a imagem fosse algo
como uma ruiva fazendo sexo oral em um cara.
Acharia graça ao ver o meu namorado ficar
vermelho de cima a baixo por isso.
Contudo, o que está na tela é uma fileira de
arquivos de contratos imobiliários. Ele baixa a
tampa do notebook rapidamente e coça a nuca.
Passa a mão pela cabeça, desarrumando mais ainda
os cabelos castanhos. Seu jeito bagunçado o deixa
sexy e sinto algo molhar a minha calcinha.
— Ah, amor, nenhuma garota? Não me
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decepciona. — Lisi dá um passo e acaricia os


músculos fortes do nosso homem por cima da
camisa branca de algodão.
— Foi um contrato de última hora que me
mandaram para analisar. Esses caras não têm vida,
mas todo mundo sabe que eu tenho. Comigo o
negócio é diferente. Não gasto a minha vida
trabalhando e esses workaholics morrem de inveja
da minha dupla. — Ele a envolve com os braços,
afastando os fios loiros e deixando um beijo sobre o
pescoço.
Me aproximo por trás dele e encosto os
peitos nos músculos marcados das costas,
completando o nosso abraço. Caio vira o rosto e
beija meus lábios, a barba por fazer arrepiando a
minha pele.
— Então, e o presente? — sussurro,
deslizando os dedos para dentro da camisa.
— Ah, sim. O presente. — Caio escorrega
para fora do nosso sanduíche e para na frente do
cofre.
Ele digita a combinação e pega duas caixas
de veludo lá dentro. De costas, apoia uma no braço
enquanto abre a outra. Só fica de frente para nós
quando tem ambas abertas.
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Uma tem o meu nome e a outra o de Lisi. O


colar e os brincos de ouro branco têm as pedras da
cor dos olhos da dona. O meu é uma esmeralda e o
dela uma safira.
— Um presente para usarem na festa de
hoje, mas o que me interessa de verdade é o antes.
Já vou subir para tomarmos banho. Preciso vê-las
antes de colocarem os seus vestidos. As únicas
coisas que quero em vocês são as joias e os sapatos.
Tapo a boca com as mãos e meus cabelos
caem sobre os ombros. Jogo os fios para as costas e
dou pulinhos de alegria, pegando a minha caixa.
Me atiro nos braços de Caio e fico na ponta dos pés
para beijar a boca carnuda dele.
— Amei. Muito obrigada, meu amor.
— Não precisava, Caio. Deve ter custado
muito caro. — Lisi se aproxima, se juntando a nós
no beijo.
— Dinheiro não é problema aqui e gosto das
minhas meninas bem lindas para mim — responde,
abraçando nós duas ao mesmo tempo. — Agora
andem que eu quero foder esses rabos.
Nos viramos e ele dá uma palmada em cada
uma. Atiro um beijo ao passar na porta, mas ele já
não está olhando para nós. Com o quadril apoiado
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na mesa, Caio olha pela janela.


Odeio quando faz isso, e não é por ciúmes
da ex-mulher dele que mora na porra da casa da
frente. É porque sei que está pensando nas coisas
horríveis que ela passou metade da vida dizendo
para ele. Tipo que ele vai arruinar os negócios da
família quando herdar o império do avô.
Não quero nada disso, como aquela vaca
queria. Sei fazer a minha grana. Só preciso estar
com o meu homem, o cara que gosta de mim
mesmo eu sendo puta. E que não me vende a outros
caras.
No banheiro do quarto de Caio, Lisiane
deixa que eu a dispa. Sem pressa, abro os botões da
camisa e depois tiro sua calça jeans branca.
Deixamos a banheira encher e entramos nela para
esperar pelo pau que queremos dividir. E, com
esperar, quero dizer tocar uma à outra.
— Vem aqui — ela me chama, depois de
apoiar os cotovelos na borda da banheira redonda.
Afasto a água e a espuma. Os seios
deliciosos dela aparecem para mim. Me recosto
neles e as pernas de Lisi me envolvem. Damos um
beijo e a mão dela pega a minha e a enfia entre as
coxas. Meu dedo sente o clitóris no início da boceta
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e vai se enfiando até chegar ao fundo.


— Ah, assim, neném. Você sabe o que faz,
garota. — Ela mostra o pescoço para mim e o beijo.
— Mas você também sabe que gosto de te dar uma
folga do trabalho.
Sorrio quando diz isso. Não é segredo que os
meus dias são focados em dar prazer aos outros.
Poucos caras estão preocupados em me fazer gozar.
Finjo bastante e eles fingem que acreditam no meu
prazer. O que importa mesmo é que saiam
satisfeitos e voltem com mais dinheiro da próxima
vez.
— Isso não é trabalho. Com você e o Caio é
gostoso de verdade.
— Ok, mesmo que você sempre diga isso,
quero te chupar agora.
Suas mãos erguem o meu corpo até que a
minha bunda toque a parte de fora da banheira.
Levanto os joelhos e olho para baixo, minha boceta
ali, encarando a boca de Lisi.
— Ah, como adoro entrar aqui — diz,
beijando os lábios entre as minhas pernas.
Apoio os braços no chão e deixo que me
devore enquanto gemo. Quanto mais Lisiane suga,
mais meu grelinho pula para fora, desesperado para
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ser comido.
Respiro como alguém que corre no parque
em um dia de verão. Os sucos que saem de mim
fazem um barulho molhado e excitante enquanto
ela me penetra com dois dedos.
Deslizo a mão pelo meu corpo até que toque
seus cabelos, onde me agarro, forçando sua boca
contra a minha pele. Mais um pouco e dou a minha
primeira gozada da tarde. Porque aqui nessa casa é
assim, três, quatro, cinco. Muitas. Me perco no
delírio do que tenho vivido com esses dois.
— Calma, amorzinho. Parece que está com
pressa. — Lisi se estica, ficando a alguns
centímetros do meu clitóris rosado.
— E você parece que pretende me engolir.
Acha que não vou me gozar toda de uma vez
assim? — ronrono, acariciando seu lindo rosto.
— Então se entrega. — Mergulha de novo
na minha boceta.
Caio chega quando estou quase lá, curvando
as costas e contraindo a barriga, chamando pelo
orgasmo que quero dar na boquinha quente da
nossa amiga. Com os olhos entreabertos, o vejo se
recostar no batente da porta.
Cruza os braços e aprecia a cena. Adoro me
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exibir para ele. Sei que depois de um show desses,


ganho um pau bem duro, pronto para me fazer ver o
céu repetidas vezes.
— Vou te deixar gozar essa primeira com a
Lisi, mesmo que a minha vontade seja te botar de
quatro agora e te foder até perder as forças — fala
com uma voz tão suave quanto a de um locutor de
rádio.
Puta que pariu. Esse som, quando bate nos
meus ouvidos, é um chamado para a que eu me
entregue. Não consigo fazer outra coisa que não
seja obedecer.
A sensação começa devagar. Vem lá do
ponto onde a garota me lambe com paixão. Antes
dos meus batimentos se acelerarem, eles caem. Por
um segundo, acho que vou desmaiar. Mas toda a
energia volta em forma de um choque que se
espalha do meu púbis até o meu coração,
funcionando como um desfibrilador.
Dura muito tempo. O suficiente para Caio
surgir pelado perto do meu rosto, o pau rasgando
como uma rocha e pronto para me foder. Perto dele,
meu pequenino corpo parece frágil.
— Goza gostoso, princesa. — Ele me vira,
puxando a minha bunda até que encoste em seu
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quadril.
Sem fôlego, apoio o rosto no piso frio. Seu
corpo forte cai sobre mim enquanto encaixa a
cabeça dura do pau na minha entrada lavada do
orgasmo que ainda me faz estremecer.
Sinto as mãos delicadas da nossa garota nas
minhas costas. Elas descem até minhas nádegas e
as afastam, abrindo espaço para que Caio possa se
ver deslizando para dentro de mim.
— Porra, Mon, sua boceta ainda está
latejando de um jeito tão delicioso.
Aperto os olhos quando ele mete, mas sua
empolgação aumenta mesmo quando ganha um
beijo de Lisi. Me comendo por trás e sugando a
língua que me lambia há pouco, Caio enlouquece.
Ouço seus beijos enquanto uma mão desce
da minha barriga até o meu clitóris. O meu
botãozinho do prazer, que ainda estava ligado,
apenas esperando ser estimulado, começa a se
contrair na hora.
— Ai, vou gozar de novo — aviso, apoiando
as palmas das mãos, no chão, nas laterais da
cabeça.
Me entrego com ele dentro de mim, botando
cada vez mais forte enquanto segura meu quadril,
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que tenta deslizar para longe em meus movimentos


involuntários.
Então o telefone toca.
— Porra. — Caio rosna ainda na boca de
Lisi.
Ele se estica e pega o celular na calça jogada
no chão. Cada toque seu dentro de mim me faz
perder o ar. Lisiane percebe e não para de me
bolinar enquanto ri.
— Sim — Caio fala irritado ainda me
comendo.
— Vai mais uma, delícia — a garota
sussurra no meu ouvido e mordisca meu pescoço.
— Agora? Mas e o casamento? — Caio
espalma a mão na minha coluna, tentando me fazer
ficar quieta.
Me contorço com os movimentos na minha
boceta. Não consigo impedir. A terceira gozada
vem com força total e eu grito, mas Caio tapa a
minha boca, colando o peito nas minhas costas.
Vibro sob ele enquanto Lisiane tenta segurar o
riso.
— Ok. Já estou indo, vô.
Ele mal termina de falar e nós duas já
estamos fazendo beicinho. Joga o telefone longe
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depois de desligar e se estica, saindo de dentro de


minha boceta.
— Como assim? — reclamamos juntas.
— Onde você vai? — pergunto, me virando
de frente para ele.
— Tenho que ir antes para a festa. Tem um
possível negócio que tenho que resolver. Uns
investidores que vêm de longe e vão chegar mais
cedo para conversar comigo e com o vovô. Sinto
muito meninas — diz, se levantando. — Vou tomar
uma ducha rápida e posso deixar as duas no salão
de beleza se quiserem.
— Não precisa. — Lisi sacode a cabeça,
triste por não ter sido fodida hoje. — Acho que a
gente vai demorar mais um pouco aqui, já que
fiquei sem nada.
— Ah, gata. Não faz assim comigo.
Também vou sair mal. Estou com as bolas
estourando. Porra.
— Então me fode só um pouco. Goza
rapidinho e depois a Mônica me ajuda. Por favor.
— Ela senta nas pernas e junta as mãos.
Caio olha para o banheiro e passa a mão nos
cabelos.
— Puta que pariu. Vocês sempre me
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convencem.
Ele empurra Lisi pelos ombros devagar e ela
desliza o quadril até tocar o chão, erguendo as
pernas para o alto. Caio massageia o pau, se
preparando para entrar. Grosso e muito duro, sei
que vai se entregar rapidinho, com as bolas rijas do
jeito que estão.
— Olha pra mim — ordena, agarrando os
cabelos loiros de Lisi.
Ele força a entrada dela até a cabeça
encontrar a sua umidade, escorregando de uma vez
até o fundo. Cada vez que ela tenta fechar os olhos,
Caio puxa seus cabelos.
— Ah, gostosa do caralho. Vou jorrar leite
no grelinho dela e quero te ver tomando tudo até a
Lisi se gozar, tá bem, amor? — Me dá um beijinho
depois de dizer isso e fico esperando, sentada ao
lado da garota que dá para o meu namorado.
É lindo de ver. Com o tronco curvado por
cima dela, Caio mete, uma, duas, três, várias vezes.
De repente, sua respiração fica entrecortada e ele
sai dela. Segura o pau pela base e me encara. Os
bicos dos meus seios ficam duros na hora em que
encontro seu olhar sacana.
Envolvo o pau com minha mão pequena e o
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aliso mais perto da glande, batendo uma punheta


rápida para que esporreie a carne de Lisi. Me
aproximo e cuspo nele para pegar velocidade.
Funciona.
As coxas fortes se retraem e ele enterra os
dedos na bunda da garota ao meu lado. Aproximo a
glande do seu clitóris e o jato branco começa a sair,
lavando a bocetinha dela de porra.
— Ah, caralho. Que delícia, vocês duas —
Caio urra, tremendo sobre nós.
Seu corpo forte e de músculos marcados é
lindo e o suor que escorre por eles me faz ter
vontade de dar outra gozada.
— Preciso ir, gatinhas. Não posso te ver
tomando esse leitinho da boceta da Lisi ou não vou
conseguir sair daqui nunca. — Ele me dá um beijo
rápido e depois outro em Lisiane.
Antes de cair de boca entre as pernas dela,
vejo as costas fortes de Caio desaparecerem dentro
do box de vidro do chuveiro. É uma pena não poder
ficar e nos foder mais um pouco.
— Toma o leite do seu macho em mim —
Lisi geme, me puxando até ela.
Me abaixo para saboreá-la. A coisa mais
bonita em uma mulher é o seu sorriso quando dá
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uma bela gozada. E é com essa cara que desejo ver


a minha garota chegar no casamento do primo de
Caio hoje. Vou fazê-lo implorar para ir embora o
quanto antes e nos ter do jeito que gostaria: apenas
com as joias e os sapatos.
Não existe nada mais excitante do que um
homem que não consegue pensar em outra coisa
sem ser você: você nua. De corpo e de alma.

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Caio
Meu primo ergue a sobrancelha e se analisa
no espelho. A mão passa pelo cabelo castanho-
claro e João faz uma das suas caras de sedutor
quando termino de ajudá-lo a ajeitar a gravata e me
afasto.
— Foi uma burrice ter vindo mais cedo para
tratar de negócios antes do seu casamento. —
Encontro seus olhos no reflexo e balanço a cabeça.
Vim com ele até o salão de festas do local
onde a cerimônia acontecerá daqui a pouco. É um
píer lindo, com o Sol batendo no rio e fazendo tudo
parecer cena de cinema.
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— Também acho. Devia ficar aqui comigo,


bebendo todas essas coisas loucas que a Max pediu
no buffet mas que me proibiu de colocar na boca
pra não me embebedar.
— Devia era estar em casa. A Mon e a Lisi
estão lá agora, se comendo sem mim — resmungo.
— Porra. Que dupla. Essa eu perdi de
experimentar. — Ele ri e se vira. — Só provei um
ingrediente dessa receita de cada vez.
— Vai se foder — grito.
Dou um soco em seu braço e ele se encolhe,
rindo. Possivelmente por lembrar da noite na qual
transou com a noiva Max e com a minha Mônica ao
mesmo tempo.
— Foi uma boa época, essa em que você
ainda não sabia que estava completamente
apaixonado pela Mon e aceitava dividi-la.
— Quando eu ainda não sabia que ser
namorado de uma garota de programa podia doer
bastante? — pergunto, recostando o quadril na
mesa. — Porque dividi-la é algo que ainda tenho
que fazer, infelizmente.
— A Lisi me falou hoje mais cedo que ia pra
sua casa pra se arrumar com a Mônica. Se fosse eu,
com certeza não estaria aqui agora. Dividir a
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namorada com a Lisiane é tudo de mais excitante


que existe na vida — ele rebate, se apoiando na
mesa ao meu lado.
Penso nessa confusão toda de coisas que
estou fazendo e não queria e sobre as que queria e
não estou conseguindo fazer. Pego um copo de um
drinque colorido em cima do balcão onde estão as
roupas e outras coisas de João. Dou um gole e faço
uma careta.
— Toma essa merda que é pra parar de
pensar nas minhas garotas. Essa bosta tem mais
açúcar do que qualquer outra coisa. É suco puro —
reclamo, estendendo a taça para ele.
João olha espiado para a minha mão e a
segura, relutante.
— Não estou de olho nelas, você sabe. Sou
louco pela Max e ela me colocou fora da jogada.
Mas o que eu posso fazer se a Lisi é minha
enfermeira e passo o dia com os peitos dela na
minha cara. Também não sou cego e muito menos
tenho a memória ruim. — Dá de ombros.
— Sei que vocês já fizeram muitas putarias
juntos, mas agora ela está comigo e com a Mon. Na
verdade, só com a Mônica nesse momento. — Pego
outra taça e bebo tudo de uma vez. — Merda, devia
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estar lá com as duas.


— Então, porque não falou pro velho que
vocês viam essas coisas de trabalho na segunda-
feira? Tinha que ser logo hoje?
— Não tive escolha. Ele convidou esses
figurões todos para o seu casamento e eles
precisam ir embora da cidade amanhã. Você sabe, a
cada dia o vovô tem me pressionado mais e mais
para assumir as responsabilidades da empresa.
— Aquelas das quais você sempre fugiu?
Reviro os olhos para o meu primo e pego
outra das bebidas que Max o proibiu de tomar.
Entrego para ele, faz cara de nojo.
— Quando completei trinta anos as coisas
pioraram. A marca da minha idade deve ter ligado
algum tipo de alerta na cabeça dele.
— Ou pode ser o meu casamento, visto que
todo mundo achava que eu era o último incorrigível
na face da Terra.
Rimos. É verdade. Quem diria que um dia
veria João casando com alguém que não fosse a sua
ex, a Janaína.
— Bom, parece que a partir de hoje esse cara
sou eu — digo, resignado.
Ouvimos batidas na porta do pequeno
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espaço reservado para os noivos se arrumarem


antes da festa. Artur Bauer aparece impecável e
com a cara fechada.
— Atrasado. — Meu avô puxa a manga do
terno e confere o relógio.
— O senhor ligou em cima da hora. Vim o
mais rápido que pude — reclamo, deixando o copo
sobre o balcão.
João faz uma careta, debochando de mim
sem que o velho veja. Apresso os pés para que o
acompanhem até a área externa do lugar. Oitenta
anos e ele tem uma disposição de dar inveja. Tudo
baseado no prosperar, mas voltado para o trabalho.
Prosperidade, para mim, é ter fartura de
prazer e não de trabalho. Mas, infelizmente, para
ter prazer do jeito gosto, é necessário dinheiro.
Muito dinheiro. O que me obriga a ceder à pressão
do velho.
— O que você estava fazendo? — pergunta,
andando na minha frente.
— Analisando os contratos que me mandou
— minto.
Até dei uma olhada neles, mas o chamado de
Mon e Lisi me distraiu. Acabei deixando de lado o
trabalho e parti para a parte boa da vida. Aqueles
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papéis podiam esperar, as minhas garotas não.


Acelero e consigo chegar ao lado do meu
avô. Aperto os olhos para ver melhor contra o Sol.
Mais adiante, no gramado onde será celebrado o
casamento, um grupo de três homens conversa em
uma roda. É para onde estamos indo.
— Bom, esses caras aí são investidores de
alto nível. Estão interessados em construir um
empreendimento naquela quinta que temos.
Querem um conceito urbanístico ao estilo
americano. Gente rica e de renome, agrupadas em
um elegante bairro onde possam cuidar umas das
vidas das outras. Vivendo em segurança e no
modelo familiar que pretendem representar à
sociedade.
— Entendo...
— Não, você não entende. Mas espero que
passe a entender a partir de agora. — Bufa.
Penso no que está me falando e em qual será
a próxima coisa em mim que gostaria de mudar
além da minha falta de interesse pelos negócios da
família. Talvez a minha essência por completo.
— Senhores, esse é o meu neto, Caio Bauer.
CEO do braço imobiliário do Grupo Bauer. Caio,
esses são Pablo, Rafael e Toniolo. — Meu avô
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estende o braço para os três homens.


Pablo e Toniolo são duas águias, dá pra ver
pelas posturas. Na faixa dos setenta, ainda querem
muito mais do que o dinheiro pode dar: o poder.
Rafael deve ter por volta de quarenta. Mas já
em preparação para ir atrás da coroa dos poderosos,
assim como o meu vô gostaria que eu fosse por
vontade própria.
Ficamos ali, ao ar livre, conversando sobre a
viagem deles até Porto Alegre, o tempo, famílias e
negócios. Até que, por fim, o assunto que interessa
entra em pauta.
— E a nossa quinta, Artur. Tudo certo para o
negócio que vai nos jogar ao estrelato do mundo
imobiliário? — Toniolo abre um botão do terno e
pega uma das bebidas que um garçom passa
oferecendo.
— Basta apenas a formalização do contrato.
Vocês sabem, pelo Grupo Bauer, essa parceria é
sucesso certo.
Estou ficando sem paciência dessa conversa
que já leva uma hora e não me trouxe nada. Pelo
contrário, só penso no que perdi lá em casa.
— Então, sendo que, da nossa parte, o
terreno já está no negócio, o que falta para que ele
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se concretize? Dinheiro? — pergunto e meu avô dá


um sorriso orgulhoso pelo meu envolvimento na
discussão.
— Não, porque pretendemos arrecadar
durante o lançamento comercial oitenta por cento
do valor que será investido nas obras — diz Rafael.
— Ou seja, vocês não querem colocar
dinheiro próprio para iniciar a empreitada —
concluo e vovô me olha em seu modo de alerta.
Os três sócios se encaram e Toniolo é quem
contra-ataca:
— Bom, por esse ponto de vista, vocês não
colocarão dinheiro algum. Entram com o terreno...
— Que é um dos melhores da cidade, por
sinal — rebato, interrompendo sua fala.
Ele pigarreia.
— Continuando, entram com o terreno e a
imagem familiar.
Não sei o motivo, mas essas duas últimas
palavras me dão um aperto no peito.
— Imagem familiar? — as repito,
precisando urgentemente de mais explicações sobre
o termo.
— A concretização do negócio será
condicionada ao reforço de imposições da nossa
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parte, visando estabelecer uma imagem conceito ao


projeto final.
Cacete. Odeio gente que fala palavras
bonitas para tentar me enrolar. E esse Rafael está
fazendo exatamente isso.
— Você poderia ser mais claro? — insisto,
colocando o peso do corpo na outra perna.
Precisava abrir também uns botões da
camisa, tirar a gravata e ficar mais confortável.
Porra, está calor aqui.
— Precisamos que o outro lado tenha uma
representatividade impecável diante da sociedade,
assim como tem o nosso grupo empresarial.
Vendemos a projeção de um sonho e, para isso,
precisamos ser a personificação desse sonho.
Homens que desejam aparentar perfeição compram
de homens perfeitos.
Não consigo responder que entendi. Algo
está embolado na minha garganta. Se esse encontro
com os investidores partiu do meu avô ou deles, eu
não sei. Mas que alguém está focado na imagem
precária que a minha vida passou para a sociedade
desde que me separei, ah, isso tenho certeza.
Já tinha fama de playboy quando casei com
a Mariana. Era novo e me apaixonei pela primeira
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namorada. Naquela época, meu primo João já tinha


feito suas escolhas na vida. A medicina levou o
neto mais velho para longe dos negócios da família,
o que já era esperado, visto que apenas seguia o
caminho escolhido pelo meu tio.
O império Bauer sobrou para mim, que
gostaria apenas desfrutar das regalias dele. A ideia
era que fosse administrado pelo meu pai, mas ele e
a minha mãe morreram em um acidente de
helicóptero quando ainda era pequeno. Mal me
lembro deles. Fui criado como filho dos meus avós,
o que torna natural toda a expectativa que têm
sobre mim.
E eu era perfeito. Mas só até me separar da
Mariana e começar a expressar o meu desinteresse
em me envolver na parte burocrática dos negócios
da família.
— Então é isso, seu avô sabe dos
pormenores e, tudo estando nos conformes, em
pouco mais de um mês fechamos o negócio e você
será o responsável pelo maior empreendimento
imobiliário que esse país já viu — Pablo fala,
dando o assunto por encerrado essa noite.
Fico cheio de pensamentos nebulosos na
cabeça e agradeço quando o silêncio constrangedor
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que nos cerca é cortado pelas risadas dos primeiros


convidados que começam a chegar. Minha
namorada e eu somos padrinhos, então ela já
deveria estar aqui.
Sinto um alívio quando seu vestido
vermelho surge atrás de um grupo de pessoas. É
uma boa desculpa para me afastar dessa gente que
pretende me fazer um garoto-propaganda para o seu
empreendimento-conceito.
— Olha, Caio. Sua noiva chegou — meu
avô fala ao enxergar Mon.
Congelo na hora em que ele sorri. Como é
que é? Noiva? Minha nossa, ela não pode ouvir
essa palavra. Surtaria, sem dúvida nenhuma.
Porra. Meu vô não pode estragar o que
construí com ela até agora. Tenho tentado cozinhar
a garota em banho-maria há meses e tudo pode ir
por água abaixo. Conquistei a confiança de Mônica
na base do: te amo do jeito que você é.
Ela é um pássaro livre, se vê uma gaiola de
longe, já foge. Minha intenção era chegar aos
poucos até seu coração e convencê-la de que pode
largar a vida de garota de programa e confiar em
mim. Não tem sido fácil e esses velhos abutres
podem pôr tudo a perder em um segundo.
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Colocar seriedade no nosso relacionamento


antes do tempo é algo que não posso fazer. Mesmo
que seja o que mais quero desde que encontrei
aqueles olhos verdes por baixo da máscara de
coelhinha.
A garota de carmim desliza pelo gramado
acompanhada de Lisi e seu vestido azul. Ah, meu
Grenal de domingo.
Meu avô acena para elas e tenho vontade de
pular em seu braço e baixá-lo antes que o vejam e
venham até aqui. Mas é tarde demais. O sorriso
lindo da minha morena se abre quando me enxerga.
Merda.
— Lá vem ela. — Vovô pisca para mim, o
sinal de que devo dar um jeito de sustentar a
mentira de que já estou formando uma nova
família.
— Ah, estávamos ansiosos para conhecê-la,
Pablo diz, se virando em direção à Mônica.
Ela se solta do braço de Lisiane e estende a
mão ao meu vô, que a beija. Filho da mãe. Amo o
velho, mas é um cínico. Sei que queria que me
livrasse dela e voltasse para Mariana. Tudo em
nome do império Bauer.
— Como vai, senhor Artur? — Mônica olha
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para o ele, que a segura pelas pontas dos dedos.


Conheço esse olhar. Ela sabe muito dos
homens e, mesmo que eu nunca tenha dito nada, já
percebeu que tem diante de si uma velha raposa.
— Melhor agora, com a presença da mulher
que faz feliz o meu Caio. E você, querida, como
tem passado?
— Muito bem, obrigada. Seu neto também é
a alegria dos meus dias. — Ela busca os meus olhos
e sorri maldosa.
Devolvo um sorriso constrangido, desvio e
fito os sapatos. Sei a que se refere. E não são
jantares de casal ou noites abraçados no sofá. A
alegria dela envolve duas coisas: putaria e liberdade
e isso tem me tirado o sono. Como vou convencer
uma garota de programa a abandonar a vida que
ama para ficar só comigo?
— Oi, amor. — Beijo seus lábios quando se
aproxima.
— Oi.
— Esses são Pablo, Rafael e Toniolo, sócios
da P-Tor e amigos do vovô. Essas são, ahn, Mônica
e Lisiane.
Estou suando, com medo de pronunciar a
palavra namorada e ser fuzilado pelo olhar do seu
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Artur. Mas com um receio maior ainda de falar que


Mônica é minha noiva e a garota sair correndo.
— Muito prazer.
— Como vão?
Elas cumprimentam os três e param ao meu
lado. Caramba, como Mon pode ficar ainda mais
bonita? Adoro o jeito depravado como volta do
trabalho. Amo quando está de calça jeans e
camiseta na minha casa. Mas, vestida como uma
dama, tenho vontade de me ajoelhar aos seus pés e
pedi-la em casamento agora mesmo.
— Melhor impossível, com essa tarde
agradável — Rafael diz, olhando minha garota de
cima a baixo. — Não nos conhecemos de algum
lugar?
A mão pequena dela procura pela minha e a
aperta. Retribuo, passando confiança, mas a minha
vontade é de pular no pescoço daquele filho da
puta. Imaginá-la em sua cama me faz contrair o
maxilar. Porra, que vontade de socar a cara dele.
— Acho que não. Mônica não é daqui —
falo entredentes, e não é mentira, já que ela é de
São Paulo.
— Ah, me pareceu familiar. Devo ter
confundido.
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Ficamos todos em silêncio. Constrangimento


não é coisa que pegue a minha namorada e ela não
esboça reação nenhuma ao comentário, apenas
permanece sorrindo. Percebo o colar com a
esmeralda brilhando em seu pescoço e os brincos
aparentes.
Seu cabelo está preso em um coque, o que
tira o ar sexy que a acompanha o tempo todo
quando usa os fios lisos que vão até o quadril. Fico
aliviado por ter contrariado o meu pedido para que
deixasse o cabelo solto dessa vez. Parece mais
velha com esse penteado. Ao invés de representar
dezessete, fica dentro dos vinte e um que tem de
verdade.
— Se não se importam, prometi à noiva
arranjar algumas coisas antes da cerimônia. Se nos
dão licença — ela pede e se afasta com Lisiane ao
receber os acenos de cabeça dos homens.
A seda penetra entre suas nádegas e a carne
mastiga o tecido, remexendo de um lado para o
outro. Ter certeza de que não usa nada por baixo já
me deixa duro. Olho para os outros homens para
parar de pensar nisso e todos estão focados na
bunda da minha garota, até o meu avô.
Pigarreio e eles se voltam para mim. A
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conversa fiada recomeça, me colocando de novo


dentro do tédio.
Fico aliviado quando as cadeiras diante do
rio se enchem e a nossa hora de subir no pequeno
deque como padrinhos chega. As filhas dos noivos
recebem muitos ohs e ahs ao passarem, jogando
pétalas e trazendo as alianças.
Mas Maxime rouba todas as atenções
quando surge com a barriga enorme em seu vestido
branco. A melhor amiga de Mon é linda e tenho
certeza que o meu primo fez a escolha certa.
Sorte dele, ter conseguido tirar Max da vida
e tê-la só para si. Gostaria de saber como fazer o
mesmo, mas o meu caso é um pouco mais
complicado. Nem passa pela cabeça de Mon parar
de fazer o que faz e ser dependente do meu
dinheiro.
Olho para Mônica, tentando encontrar
lágrimas de emoção ou um olhar apaixonado que as
garotas dão em festas de casamento. Não me
surpreendo ao vê-la olhando para Lisi com um ar
safado.
— Porra. Mulher, você só pensa em sexo?
— sussurro para ela.
Lentamente, desvia o olhar para mim e dá
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um meio sorriso de forma petulante. Uma mecha


negra cai em sua bochecha quando volta a ficar de
frente para os noivos no altar.
— Tenho certeza de que está tão ansioso
para que tudo isso acabe de uma vez e possa ter a
mim e a nossa amiga na cama do jeito que queria
mais cedo.
— Você não sabe como. — Viro a cabeça
para não encarar mais o decote que me faz lembrar
da sua pele na minha.
Quando a celebração acaba e os noivos
seguem para o salão, vejo vovô se aproximar.
Mônica ergue a sobrancelha e sai na minha frente,
em busca de Lisi.
— Um belo casamento, não é? — Vovô
pergunta, as mãos nos bolsos da calça.
Seguimos andamos um ao lado do outro. Ao
nosso redor, dezenas de pessoas seguem conosco
em direção ao espaço envidraçado onde será
servido o jantar.
— Lindo. Esses dois foram feitos um para o
outro.
— E eu que não acreditei que o meu filho
Carlos conseguiria colocar o João nos eixos.
— Ninguém acreditou, vô — falo, olhando
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para as costas das minhas garotas logo adiante.


— Mas, se até ele conseguiu, talvez ainda
haja esperança para você.
— Desculpe? — Franzo a testa e viro o rosto
para ele.
— Você já passou da hora de arranjar juízo e
transmitir uma boa imagem para a nossa empresa.
Ser CEO do braço imobiliário é só o primeiro
passo, garoto. O João seguiu o caminho do pai e fez
medicina. Logo, você é o meu herdeiro na parte
profissional.
— Ótimo. Já aceitei isso, não? Estou até
indo trabalhar regularmente. — Paro de andar e ele
também estaca.
— Ah, meu querido netinho Caio. Quando é
que você vai entender que um cargo desses envolve
ter uma imagem impecável, esposa, família e todas
essas coisas que a sociedade quer para fechar
contratos.
— Vô, você só está falando isso por causa
desse negócio e do plano de marketing da P-Tor.
— Caio, preste bem atenção no que vou
dizer agora. — A sua mão se apoia no meu ombro e
ele parece que vai me engolir com o olhar
dominador. — Pensei que estivesse encaminhado
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quando casou com a Mariana, mas aí ela te largou


pela sua falta de ambição, e essa era uma garota
esperta. Quando você se juntou com o João nas
festas e arruaças, fingi que era uma fase. Mas até o
seu primo percebeu que era hora de virar homem.
Dei o tempo que achei justo para você se recuperar
da separação. Quando a Mônica surgiu, pensei que
um casamento sairia logo. Mas parece que só que te
interessa é foder aquelas duas bocetas ali. Sei o que
você anda fazendo. Tenho cada linha da sua fatura
de cartão de crédito me dizendo que gasta rios de
dinheiro com a sua namorada e a amiguinha de
vocês. Não sou bobo, menino, e não vou deixar que
arruíne aquilo que levei uma vida inteira para
construir.
— E eu não vou. Minha vida privada não
tem relação com o Grupo Bauer.
— Você acabou de ver que tem. Quero esse
negócio, Caio. O projeto vai aumentar nossa
fortuna em cinquenta por cento e isso não é
brincadeira. Seremos donos do maior
empreendimento habitacional de luxo da América
Latina. Não posso mais dar a cara de uma família
que essa empresa quer, mas você ainda pode.
— E o que espera que eu faça? Peça a
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Mônica em casamento?
— Não. O que eu quero é que esteja casado
com ela em trinta dias.
Rio e me afasto alguns passos. Não consigo
olhar para ele. Respiro e tento me acalmar.
— Ou o quê? — O encaro, desafiando sua
ira.
— Ou você não verá mais nem um centavo
meu até o resto da sua vida. Vai saber o que é
trabalhar de verdade e não ter nenhuma mulher ao
seu lado. Porque, não se iluda, menino. Tudo o que
querem é o que seu dinheiro pode comprar. Se quer
uma dica: descubra o que ela mais deseja, mas que
lhe falta dinheiro para ter. Compre isso e terá seu
casamento. Ou então, volte para a Mariana. — Ele
se vira e segue sozinho até o salão de festas.
Droga. Agora eu já sei. Não foi o casamento
do João nem os meus trinta anos. O que ativou a
pressão do meu avô sobre mim foi puramente o
poder, o maior manipulador do ser humano depois
do dinheiro.
— Caio. — João surge da lateral do salão de
festas e se aproxima antes que eu consiga alcançar
Mônica.
— Você não devia estar com a sua noiva?
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— Vamos tirar umas fotos, porque logo vai


anoitecer. O fotógrafo pediu pra chamar os
padrinhos. Cadê a Mon?
— Fugindo do vovô, como eu gostaria de
fazer.
João ri, os ombros relaxados de quem não
está sofrendo pressão nenhuma na vida.
— Qual era o esquema dos negócios que não
podia esperar outro dia? — ele pergunta, apertando
os olhos contra o Sol.
— O mesmo de sempre. Ele só quer fazer de
mim mais um cretino que usa as pessoas.
— Todo mundo usa todo mundo, Caio. A
vida é assim.
— É mas me revolta aceitar o que ele me
pediu e virar tudo aquilo que me recusei a ser
quando Mariana me pressionou.
— Ambicioso? — Seu sorriso de satisfação
aparece.
— Um filho da puta movido pelo ímpeto de
ser poderoso.
João fica sério e inclina a cabeça na direção
de onde veio. Max já está tirando algumas fotos e o
seu véu voa atrás da cabeça.
— Isso parece até praga da Mariana — diz,
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me encarando outra vez.


— Nem me fala. Seu Artur me deu duas
possibilidades de escolha. Uma delas envolve
voltar com ela. Então tenho que dar um jeito que
ficar com a outra possibilidade.
— Que é?
— Convencer Mon a sair da vida e casar
comigo. O que já era o meu plano, você sabe. Só
que agora preciso fazer tudo isso acontecer em
trinta dias.
O jeito como João começa a rir me deixa
puto.
— Casar com a Mônica em um mês? Fala
sério. Ela nunca vai aceitar — diz, tocando no meu
braço.
Me contraio e ergo a sobrancelha.
— Obrigado pelo apoio, primo.
— Só estou te dando a real. Mas e se você
não fizer o que ele quer?
— Me tira da empresa e me deixa sem
dinheiro nenhum.
João para de rir e coça a barba.
— Meu, sinto muito, mas acho que vamos
ter que nos acostumar com a presença da Mariana

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na sua vida outra vez então. Porque você não é


ingênuo, né? Sem dinheiro, fica sem nenhuma das
duas.
— É, eu sei — respondo, acenando para
Mônica quando ela se vira para me procurar.
E se eu soubesse que ela não sairia correndo,
já estaria de joelhos na sua frente a essas alturas.

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Mônica
Só conheço um jeito de aliviar a tensão de
um homem. E ele envolve uma massagem que leva
até uma gozada. Só que é um pouco difícil fazer
isso no meio de uma festa de casamento.
Desde que cheguei ao píer para a cerimônia,
Caio está com os ombros tensos. Fico agoniada ao
vê-lo assim e não poder fazer nada. Essa não sou
eu. Sempre dou um jeito e preciso deixar o meu
gatinho mais confortável.
Depois que tiramos as fotos de padrinhos
com os noivos, ele foi solicitado pelo avô para mais
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conversas sobre negócios. Escapei sem chamar a


atenção e tomei o meu lugar na mesa reservada
para nós.
— Espero, finalmente, ser seu até o final da
noite — a voz cansada dele surge por trás de mim
no salão de festas repleto de flores caras.
Giro o tronco e dou um sorriso aberto. Caio
apenas movimenta os lábios em resposta.
— Ser nosso você quer dizer, né? —
pergunto, alisando seu braço forte enquanto
desabotoa o terno e o coloca sobre as costas da
cadeira.
Pisco para Lisiane e ela apoia o queixo no
cotovelo, apreciando meu namorado e suspirando.
Os fios loiros foram ondulados e presos na lateral
direita do rosto.
— Claro, meninas. Ser de vocês. — Caio
senta ao nosso meio e me beija de leve.
— Estávamos falando do vestido da Max.
Ela conseguiu ficar mais perfeita ainda com aquela
barriga. Você já viu noiva mais linda que aquela?
— falo, empolgada.
Caio procura meus olhos e me encara de um
jeito estranho. É como se tentasse me dizer algo
que não pode de fato falar.
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— Que foi? — pergunto, me aprumando na


cadeira.
— Ele só não quer te dizer que sim, Caio já
viu uma noiva mais linda do que aquela. E era a
própria noiva, querida. Eu.
Ergo a cabeça e me viro. Uma mulher de
cabelos pretos e curtos está parada atrás de mim,
encabeçando uma fileira de crianças. Reconheço os
quatro na hora: Mariana e os filhos de Caio.
— Oi, Mariana — ele diz, desanimado e vira
os joelhos para fora da mesa.
— Então são vocês os convidados que
faltavam na nossa mesa. — Mordo o lábio.
Tento conter as palavras ofensivas que
gostariam de pular pela minha garganta afora, tipo:
puta que pariu, Maxime. Obrigada por me colocar
na mesma mesa que a ex do meu namorado. Só que
não, cacete.
— Claro que sim. João não seria louco em
separar uma família.
— Nós não somos mais uma família — Caio
rebate.
— Isso. Diga aos seus filhos que não são
mais a sua família — Mariana sibila.
Meu namorado deixa a cadeira e se abaixa
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para abraçar os filhos. Seu suspiro resignado vira


um sorriso quando Adriana fura a barreira
interposta pela mãe e corre até o seu colo. A
menina de cabelos castanhos o aperta forte.
— Oi, pai.
— Oi, meu amor.
Antônio para de tirar meleca do nariz e
confere se pode abraçar Caio também. Ele analisa a
mãe e vê que ela me fuzila com o olhar, portanto,
não vai notar qualquer coisa que o pequeno faça.
— Oi, tia Mon — eles gritam e acenam para
mim.
A mãe faz cara de nojo para os beijos que
me dão antes de correrem em volta da mesa. Ela se
aproxima e analiso o seu corpo por baixo do
vestido verde. É magra de cima a baixo, inclusive
no rosto, parece uma modelo de capa de revista.
— Com licença. — Mariana senta ao meu
lado e pulo para a cadeira de Caio, ficando com
Lisiane.
Desvio o rosto para minha amiga e reviro os
olhos. Ela ri, balançando a cabeça.
— Eu podia matar a Max por ter deixado o
João nos colocar juntas — sussurro.
— Entenda o lado dela. Onde enfiar Mariana
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e os filhos do Caio que não fosse ao lado dele?


Melhor a ex do que o avô e seus amigos, que
passariam a noite toda falando de trabalho
— Verdade — resmungo, pegando minha
taça de champanhe.
As mãos do meu namorado se apoiam no
meu ombro e ergo o queixo. Ganho um beijinho e
um sorriso.
— Pegou meu lugar, amor?
— Senta aqui. Vou ficar do outro lado da
mesa com as crianças — digo, me levantando.
— Ah, mas quero ficar com você. — Ele me
enlaça pela cintura e me balança.
Brinco com os botões da camisa dele e puxo
a gravata, olhando em seus olhos. Mordo a boca e
ergo a sobrancelha, indicando Lisiane para ele.
— Fica. A Lisi vai te cuidar. Estarei logo ali,
na sua frente.
Nossa garota infla o peito e seu decote faz
saltar os seios para fora. Seu sorriso malicioso
convence Caio a ficar ao lado dela.
Faço a volta na mesa redonda e sento
exatamente na frente dele. Já havia medido antes e
meu pé alcança a cadeira diante de mim facilmente,
o que é perfeito para o que pretendo.
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Os noivos chegam e logo o jantar é servido.


Adriana põe os olhos em mim quando o primeiro
prato surge à sua frente. A carinha é preocupada e a
boca tensa não me permite ver os dentinhos que já
estão faltando.
— Que foi, Adri? — pergunto, pousando a
mão sobre o seu braço.
— A mamãe faz a gente comer essas coisas
verdes a semana toda. Achei que hoje a comida
seria mais gostosa. — Seu garfo cutuca os
aspargos.
Procuro por Mariana entre as flores do
arranjo de mesa. Escolhi uma posição na diagonal
dela, exatamente onde não poderia ficar me
analisando e fazendo das suas caretas. Já bastam as
vezes em que a flagro me cuidando da sua janela do
outro lado da rua da casa de Caio.
— Me dá. Eu como e quando chegar uma
coisa mais gostosa divido com você, ok?
Seu riso banguela aparece e os legumes vêm
parar todos comigo. Quando Mariana se curva para
ver os pratos limpos dos filhos, meneia a cabeça,
satisfeita por ter crianças comportadas, o que
definitivamente não é o caso.
Assim que a música começa a tocar e os
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noivos abrem a pista de dança, os três pequenos


correm para longe. Mas Mariana não. Ela fica e
conversa com as pessoas que passam sem sair do
seu lugar, como se fosse a acompanhante do meu
namorado.
Deixo que se iluda. Posso entregar muito
mais a ele do que uma falsa imagem da família
perfeita.
— Vocês não vão dançar? — ela pergunta
de repente, se virando direto para mim.
— Agora não. — Balanço a cabeça.
Ergo a barra do vestido vermelho e chuto a
sandália para longe. Meu pé toca o joelho de Caio e
sorrio quando ele se contrai.
— Ah, então não se importa se ele dançar
comigo, né? — Sua mão toca o pescoço dele e
deslizo por sua coxa até chegar entre as pernas.
Caio abre a boca mas a fecha logo em
seguida. Rio.
— Ele torceu o pé ontem, querida. Não vai
dançar hoje — Lisi mente, descendo a mão por
baixo da mesa.
Mariana vira a cabeça e aperta os olhos.
Sabe que é mentira, mas não vai discutir. Ela
empurra a mesa e sua cadeira vai para trás. Na
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mesma hora em que desaparece entre as pessoas na


pista de dança, o pescoço de Caio se solta.
— Porra. Não aguentaria mais nem um
minuto ao lado dela. Mariana me deixa tenso. —
Ele gira a cabeça de olhos fechados, tentando
relaxar.
— A gente te achou tenso antes mesmo dela
chegar. Pensamos em fazer algo pra te ajudar. —
Lisi desliza os dedos até o cinto no terno dele e o
abre devagar.
Caio coça o rosto e olha para os lados. Foca
na região entre as pernas e suspira.
— Meninas, não vamos conseguir fazer isso
aqui.
Faço um beicinho e ele solta os ombros.
Abre o zíper e pega a mão de Lisi, a colocando
dentro das calças. A expressão de satisfação que faz
alguns segundos depois é linda.
— Amor — sussurro, me aproximando da
mesa. — Você não pode fazer essa cara ou as
pessoas vão perceber. Olha pra mim.
Seus olhos verdes se abrem e ele pigarreia,
ajeitando o quadril na cadeira. Meu pé avança e
contraio as coxas quando sinto a pele delicada do
seu membro tocar a minha.
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— Relaxa, gatinho. — Lisiane se apoia no


braço dele e recosta a cabeça em seu ombro.
O movimento é para disfarçar a mão que
agora o masturba. Sinto o pulsar da cabeça do pau e
me esfrego nele. A respiração de Caio fica
entrecortada.
O sorriso malicioso de Lisi para mim me faz
pressionar mais a planta do pé contra ele. Sorrio
satisfeita quando começa a fechar os olhos outra
vez.
Vejo Max e João ao longe. Alguns
convidados já estão bêbados e dançando como
loucos. Mariana conversa com o avô de Caio e as
crianças brincam com as filhas dos noivos. A
excitação de fazer o proibido me consome e tenho
medo de molhar o vestido.
Seguro nas laterais da cadeira transparente e
empurro o quadril para frente. Meu pé chega mais
longe e consigo massagear as bolas por cima da
roupa. Caio morde o lábio e suas mãos apertam
forte o guardanapo de tecido.
— Olha pra mim — ordeno outra vez.
— Vou gozar, Mon. Vocês precisam parar
agora — ele geme.
— É isso o que queremos, gato. — Lisi
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aproxima o rosto do pescoço dele e seu cotovelo


desaparece por baixo da toalha.
Devagar, Caio se curva para a frente. Me
movo contra ele, sustentando o olhar. Passo a
língua nos lábios e sorrio, colocando uma mão na
nuca.
Os impulsos aumentam e o atingem em
forma de um gozo que ele tenta segurar, mas não
consegue. Seus ombros balançam ligeiramente para
frente enquanto seu líquido escorre pelo meu pé,
quente e viscoso. Dessa vez, quando seus olhos se
fecham, deixo que relaxe.
— Acho que fizemos um bom trabalho. —
Lisi seca a mão no guardanapo e ajeita a postura.
Caio sacode a cabeça e seus cabelos ficam
bagunçados de um jeito natural. Ele os apalpa,
tentando colocar os fios no lugar.
— Por quê, Deus? Por que me escolheu
como cobaia para as loucuras que essas duas
inventam? — Esfrega o rosto e olha para cima
antes de pegar o tecido para se limpar.
Rimos enquanto ele fecha as calças. Baixo o
pé e tento secá-lo, mas não consigo muita coisa.
Meus dedos ficam cheios de porra, mas coloco a
sandália de volta mesmo assim. Levanto e vou até o
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lugar que Mariana ocupava antes.


— Nem chegamos em casa e você já está
dizendo isso. Espera pra ter nós duas na sua cama
mais tarde.
— Mon — ele começa a falar, erguendo a
cabeça para mim, mas Max o interrompe.
— Com licença, preciso roubar a madrinha
por um instante para tirar algumas fotos só eu e ela.
Minha amiga me arrasta para longe de Caio
e Lisi. Olho para trás e vejo que meu namorado fala
algo no ouvido da garota loira. Os olhos azuis dela
encontram os meus na hora em que sua cabeça
balança, concordando com o que seja lá que ele
está dizendo para ela. Não consigo ver além da sua
expressão de surpresa seguida de um sorriso, pois
Maxime pega minhas mãos e as coloca em sua
cintura.
— A madrinha beija a barriga — o fotógrafo
fala, me fazendo desviar o olhar da mesa.
Mas minha cabeça continua lá, pensando no
que eles estão falando e como Caio está estranho
hoje. Suspiro e me abaixo, tocando os lábios no
tecido branco que cobre a gravidez de Max.
Quanto mais quero fugir de encará-la, mais
sou obrigada a enfrentar resignada que preciso ficar
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feliz com as coisas boas que aconteceram na vida


da minha amiga. Mesmo que sejam as mesmas
coisas que tenham escapado da minha própria
história.
Ah, como a vontade de chorar me aperta a
garganta com suas garras malvadas. Isso era tudo o
que gostaria de ter tido um dia. Mas os meus planos
deram errado. Muito errado.
Agora já é tarde. Não posso voltar e
consertar todas as besteiras que fiz. Se há algo que
posso me permitir, é ter alguns momentos de
felicidade ao lado de Caio, aproveitar seu sorriso
antes que acabe. Porque isso já aprendi. Mais cedo
ou mais tarde, tudo o que é bom termina.
As pessoas que amo sempre seguem os
mesmos caminhos. Se não tentam tirar proveito de
mim, elas se afastam, porque não posso dar o que
precisam.
Esse é o meu destino. Talvez por isso ainda
me surpreenda por ter a amizade de Max. Mas ela
já apanhou muito da vida. É especial e me entende.
Queria poder me abrir e contar tudo o que passei,
mas não tenho coragem. Isso colocaria em risco
outras vidas que são valiosas para mim.
Encosto a bochecha em seu ventre e sorrio
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para a câmera, mesmo estando com vontade de


chorar. Quisera eu ter tido uma amiga quando foi a
minha vez.
Queria que Max estivesse comigo naquela
época. Talvez tivesse me alertado para o que viria a
seguir. Porque quando os nossos pais avisam que
estamos prestes a fazer uma bobagem, bom, aí sim
é que deixamos que elas aconteçam.

***

4 anos antes
Tudo nele parecia perfeito, o que despertou o
alerta da minha mãe, mas não o meu, infelizmente.
Parecia razoável aceitar a cada um dos seus pedidos
loucos. Mesmo que um deles envolvesse dormir
com um dos seus amigos.
— Qual é, amor? Estamos sem grana e o
cara está precisando. A garota dele está no hospital
há semanas — ele disse, tentando me convencer
que aquilo não era completamente errado, mas sim
um grande favor que eu podia fazer por alguém.
— Ela não vai gostar. Está grávida e de
repouso. Se ele a ama, pode esperar — rebati.
— Não confunda amor com necessidades
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fisiológicas. — Suas mãos me enlaçaram por trás.


De braços cruzados, eu não conseguia
relaxar e ceder. Como podia aceitar me dividir
assim?
— Eu não entendo ainda. Você não se
importa em saber que estarei nos braços de outro?
Pedro me vira de súbito e seu polegar
passeia pelo meu rosto. É tão lindo. Adoro sentir
seu toque enquanto vejo cada uma das tatuagens
em seu bíceps músculos.
— Gata, sua alma está nos meus braços. O
seu corpo não é nada perto disso. Estamos
conectados para sempre e a cada vida vamos trocar
essa roupa. Só que, enquanto isso, precisamos de
grana para viver nessa Terra.
— E se a gente falar com os meus pais.
— Porra. — Ele me solta e caminha até a
janela, os braços balançando ao lado do corpo. —
Eles não querem saber de você. Não aceitam o
nosso amor. Sabe que a ajuda que vão oferecer é te
tirar de mim e te levar de volta para eles. Essa é
nossa casa agora.
Pedro me encara e abre os braços, mostrando
a peça bagunçada onde temos vivido desde que fui
embora do aconchego do lar dos meus pais por
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causa do nosso amor. As poucas roupas que trouxe


estão empilhadas junto com as dele ao lado do
colchão onde temos dormido.
A cada dia longe da minha mãe, adiciono ao
meu coração uma camada extra de proteção. Já são
muitas e nem ela nem o meu pai fizeram algo
incisivo para me terem de volta. Pensei que no meu
segundo dia vivendo com Pedro a polícia já estaria
aqui. Mas não. Eles simplesmente deixaram que
sua menininha de dezessete anos fosse viver ao
lado do namorado de quase trinta.
— Eu sei, eu sei. Você tem toda a razão.
Mas e depois? Pegamos esse dinheiro e o gastamos.
Vou ter que fazer isso de novo?
— Claro que não. Tenho uma proposta. Vou
botar um negócio com um amigo e vou te dar uma
vida de rainha. Você vai ver. É só uma vez,
gatinha. — Beija meus cabelos e me abraça.
Solto todo o ar dos pulmões e tento esquecer
o que estou prestes a fazer. Repouso em seu peito
nu e sinto seu calor em minhas bochechas.
Não posso decepcioná-lo. Só alguns minutos
e posso melhorar a nossa vida. É a minha chance de
provar aos meus pais que o nosso amor é
verdadeiro e que consigo sobreviver longe deles,
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que posso ser independente.


Será só uma vez. Só uma vez.

***

Procuro por Caio e Lisi quando as fotos com


Max acabam, mas não estão mais na nossa mesa.
Seguro o vestido sobre a coxa para ir atrás deles,
mas minha amiga me pega pelo pulso outra vez.
— Onde você vai? Vou jogar o buquê agora
e preciso da minha madrinha.
Deixo os ombros caírem e finjo um sorriso.
Já estou de saco cheio disso. Queria aproveitar só a
parte boa da festa e não a que me faz ficar
agoniada.
— Segura pra mim? — Max estende o
buquê de lírios brancos.
— Ok. — Reviro os olhos e pego as flores.
— Que foi?
— Nada. Só queria procurar o Caio. A
Mariana está no pé dele a noite toda. Falando nisso,
adoramos a presença dela na nossa mesa — digo,
andando atrás de Maxime até um pequeno palco no
meio do salão. — Obrigada.

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— Não tive escolha.


— Como assim? O casamento é seu — falo
com a voz mais aguda do que pretendia.
— Nem tudo acontece como gostaríamos.
— Eu é que sei. — Reviro os olhos.
Ela me olha por cima do ombro.
— Não, não sabe. Só vou dizer uma coisa
pra você: pense sobre o que deseja para a sua vida e
não perca tempo.
— Por que está me falando isso?
Max estende a mão para que eu a ajude a
subir o degrau. Ela ajeita o véu e pega as flores das
minhas mãos.
— Porque o avô de Caio deu um ultimato a
ele hoje.
— Como assim? Que tipo de ultimato?
Como você sabe?
— O João acabou de me contar. Ele tem
duas escolhas e uma delas envolve voltar com a
Mariana.
— E a outra? — pergunto, sentindo meu
peito se comprimir dentro do vestido.
— Casar com você.
Meu coração se perde e começa a bater tão

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descompassado que minha cabeça gira. Dou alguns


passos atrás e sinto braços e mãos tocando em mim,
mas não consigo ouvir o que Max fala no
microfone.
Me sinto tão atordoada. Casar comigo? Eu
não posso. Não. Definitivamente não posso. Preciso
sair daqui. Preciso de ar.
Tento afastar as mulheres que me cercam,
mas são tantas. De repente algo me surpreende. Um
buraco se abre na pista de dança quando elas caem
nas minhas mãos: as flores de Max que eu estava
segurando há pouco.
Não. Não. Não.
Não as quero. Preciso entregá-las a alguém
que possa recebê-las. Estendo os braços e olho
assustada para as pétalas brancas.
— Ah, meu Deus! — Lisi se aproxima,
segurando em meus ombros. — Parece que você
será a próxima a casar, docinho.
Caio olha para mim logo atrás dela. Passa o
dedo nos lábios e sorri satisfeito, erguendo uma
sobrancelha sugestivamente para mim.
Não posso decepcioná-lo. Mas já sei que
vou. Volte a bater, coração. Por favor.

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Caio
Puxo o braço de Lisi até que me envolva
com ele e eu possa descansar meu queixo em seu
ombro. Pigarreio e falo o mais alto que consigo em
meio a música.
— Lisi — começo, tentando encontrar
palavras certas para não ser rude com ela.
— Humm?
— Você sabe que sou apaixonado pela Mon,
né?
Seu peito se afasta ligeiramente do meu. Ela
me analisa com um olho fechado. Puxo suas costas
de volta para mim.
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— E que curto muito estar com você —


completo.
— Essa conversa está estranha, Caio. Você
está estranho hoje.
— Você se importa se eu for sozinho pra
casa com ela essa noite?
— Tem algo esquisito acontecendo. O que é
que você não quer me contar? — Lisi dá um passo
atrás de novo.
Minhas mãos seguram as suas. Tem um
olhar azul de mar furioso. Não tenho alternativa a
não ser usar da sinceridade.
— Quero pedir a Mônica em casamento.
Aos poucos, o queixo dela cai, quase
tocando o chão. Quando a boca se fecha e vira um
sorriso, a tensão e o medo de ser rejeitada vão
embora, deixando seus ombros expostos mais
leves.
— Não creio.
— Acredite.
As mãos delicadas fogem de mim e enlaçam
minha nuca em um impulso. Ela dá saltinhos e
gritinhos.
— Queria te encher de beijos, agora. Pena
que não posso, com toda essa gente. A Mon teria
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que fingir que me odeia.


Rimos da situação louca em que nos
colocamos. As pessoas achariam estranho eu beijar
outra garota a alguns metros de Mônica. Mal sabem
eles que ela adora me ver fazendo isso.
Mas seria pior ainda se algum dos amigos do
vovô me flagrasse com as mãos em outra que não a
minha noiva. Pensando nisso, recomeço a dançar
para não chamarmos a atenção. Lisi balança
comigo e fala em meu ouvido.
— Estou tão feliz. Você precisa fazer o
pedido mais lindo. Cadê o anel?
Minha nossa. Que anel? Quando paro de me
mexer outra vez e escancaro a boca, ela percebe
que não tenho anel.
— Não acredito nisso, Caio. Sério que você
não tem anel? — Ela cruza os braços diante dos
seios. — Você não pode fazer o pedido sem ter o
anel perfeito para ela.
— Posso dar um jeito nisso. — Passo a mão
nos cabelos e arrasto Lisiane para fora da pista de
dança.
Paro ao lado da nossa mesa e vejo que
Mônica ainda está tirando fotos com Max. Falo
rápido antes que volte:
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— Vou dar a ela o anel que estava com a


minha mãe no dia do acidente.
O lábio inferior de Lisi treme. Ela faz uma
carinha de apaixonada, juntando as mãos e
franzindo a boca em seguida.
— Ah, meu Deus! Isso está ficando sério
mesmo.
— Você não vai ficar magoada?
Sua mão toca meu peito e ela sorri.
— Eu adoro ficar com vocês, mas sei que
tenho estado entre duas pessoas que relutam para se
entregar ao amor. Já era hora de um dos dois
enxergar isso. E um casamento não impede que
recebam a minha visita de vez em quando — ela
ronrona, brincando com a minha gravata.
Porra. Meu pau já fica louco de ver essa
carinha linda querendo ir pra minha cama com a
minha futura esposa. Olho para trás, procurando
por ela e a vejo ao lado de Maxime, ajudando a
garota grávida a subir no pequeno palco do salão.
— Ai, a noiva vai jogar o buquê. Dá licença
que preciso ficar longe disso — Lisi diz, indo para
atrás de mim e usando meus ombros para se
esconder.
— E chegou a hora mais esperada pelas
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solteiras. Meninas, preparem o dedo, meninos,


preparam o pedido de casamento.
Max solta o microfone e se vira de costas,
agarrando o buquê com ambas as mãos. Dezenas de
garotas se reúnem na pista de dança, onde toca a
clássica Single Ladies, da Beyoncé. Ela finge que
vai jogar as flores, mas não as solta. Gritos e
suspiros surgem por todos os lados.
Procuro por Mon, mas a minha baixinha está
desaparecida no meio de tantas mulheres
desesperadas para ganharem a sorte do dia.
— E lá vai — Lisi fala sobre o meu ombro.
O buquê voa das mãos de Max e faz uma
pirueta no ar. Ele cai na multidão feminina e o mar
de garotas vai se abrindo aos poucos para que todas
vejam quem será a próxima a casar.
O vestido vermelho vibrante aparece
solitário no meio da pista e perco o ar. Porra, minha
Mon olha para as pétalas brancas e abre a boca,
assustada.
Lisi corre até ela e sorrio, me aproximando
alguns passos. De repente, todos os olhos estão na
mulher mais deslumbrante da noite, mas ela não
parece tão feliz quanto ficaria qualquer uma das
outras garotas dessa festa. Ela me vê e logo desvia
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o olhar.
Mesmo com as pernas bambas, me aproximo
de Mônica. Lisiane se afasta, sorrindo de orelha a
orelha. Uma pequena mecha de fios negros cai no
rosto delicado e eu a retiro, alisando a bochecha
corada dela. Ergo o seu queixo para que me encare,
mas ela faz força para continuar fitando os meus
sapatos.
— Tudo bem? — pergunto, finalmente
conseguindo que me olhe.
Sua cabeça balança em um sim e meu
coração balança também. Toda a tensão em seus
ombros é mais clara do que qualquer palavra que
ela use para tentar me convencer de que está tudo
bem.
— Beija, beija, beija — as mulheres ao
nosso redor começam a gritar.
Viro a cabeça de lado e finjo um sorriso. Por
dentro, cada órgão meu parece comprimido pelo
peso da rejeição que só eu sei que estou passando.
Eu tinha razão, colocar seriedade no nosso
relacionamento antes do tempo deixaria Mônica em
pânico. Preciso acalmá-la antes que meu avô veja o
desespero em seus olhos.
— Está tudo bem. — Passo a mão pelas
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costas nuas de Mônica e a envolvo em um abraço.


Amasso as malditas flores entre nós. Sinto raiva e
alívio por estarem ali. Acho que seria muito pior
chegar em casa empolgado, fazer o pedido e
receber um não de Mônica. Foi ilusão minha
acreditar que aceitaria casar comigo. Logo ela, uma
garota que gosta do seu jeito estranho de ser livre.
Só que a raiva me consome quando penso na
possibilidade de um sim. Mesmo que fosse após
algumas taças de espumante, mesmo que ela se
arrependesse depois. Seria o momento mais feliz da
minha vida.
Mas, por causa dessas flores, ele nunca vai
existir. Porque agora eu já sei, Mônica não quer
casar comigo. Não preciso ser muito esperto para
desconfiar disso pela expressão dela. O beijo que
me devolve é o que sela a minha certeza. Frio e
rápido, não é o que se espera de uma garota que
anseia por ser pedida em casamento.
— Só não dá as flores pra ninguém, ok? —
sussurro em tom de brincadeira, olhando para o
buquê quando ela tenta forçar um sorriso. — Finge
que gostou, pelo menos, porque, pela sua cara, todo
mundo vai notar que você achou uma bosta pegar
esse buquê.
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— Não é só a minha, sua expressão também


está falando para as pessoas o quanto ficou
constrangido com isso — sussurra, seca, com o
rosto no meu ombro.
As mulheres nos aplaudem e logo se
dispersam quando a música recomeça. Lisi se
mistura entre elas. Minha mão agarra a de Mônica e
a conduzo de volta para o nosso lugar, onde deixa
as flores e não volta a olhar para elas.
— Aqui — diz, parando um garçom que
carrega algumas taças em uma bandeja.
Pega duas e as coloca na mesa. Depois, pega
mais duas e toma uma de cada vez sem parar para
respirar.
— Amor, você já bebeu demais. — Coço o
canto do olho e tento interrompê-la, mas quando
toco seu braço, Mariana aparece de volta ao nosso
lado.
Pelo seu olhar satisfeito, sabe o mesmo que
eu: Mônica não gostou de pegar as flores. Puta que
pariu, tenho uma raiva dessa cara que a minha ex
faz.
Eu sei que Mariana só sorri assim quando
tem certeza de que vai sair vencedora de mais uma
das suas rixas ou discussões bobas. E isso é tudo o
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que menos quero agora. Especialmente agora.


— Deixa a menina comemorar essa
conquista maravilhosa que é ser a pretendente de
um dos herdeiros mais ricos de Porto Alegre. —
Mariana puxa sua cadeira, mas Mônica a
interrompe.
— Não. Não senta. Você tem toda a razão.
Vamos comemorar. Você já tem experiência com
esse cargo. Pode me ajudar — ela fala, estendendo
a última taça cheia para Mariana e pegando outra
que passa nas mãos de uma garçonete.
Minha ex-mulher franze a testa para mim em
seu jeito esquisito de pedir ajuda. Porra, preciso
acabar com isso.
— Mon. — Seguro o seu cotovelo e ela olha
para a minha mão.
— Que foi? Achei que gostasse ter de várias
garotas à sua disposição. Te incomoda ter as suas
duas mulheres juntas? Assim fica mais fácil de
escolher com qual ficar — pergunta, irônica.
Meu sangue ferve com o que diz. Me
controlo para não a apertar forte. Suspiro e coloco
toda a minha gana nas palavras.
Foda-se essa merda. Meus planos já estão
todos arruinados mesmo.
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— Não. O que me incomoda mesmo é ter


que dividir a minha mulher — assumo sem tirar os
olhos dos dela.
A boca vermelha na minha frente se abre e
se fecha. Mariana toca no pulso de Mon e sorri.
— Ah, que maravilha. Adoro te contrariar.
Vamos, deixar o Caio irritado é uma das minhas
especialidades — fala, puxando minha namorada.
— Divida ela comigo, querido.
— Adeus, benzinho. Suas garotas vão se
divertir.
Aumento a pressão e não deixo que Mônica
escape. Seu corpo se volta para o meu e a encaro de
cima.
— Vamos para casa. Você já bebeu demais.
Está agindo como uma adolescente.
— Humm. Espera, me deixa ver aqui. Não
vai dar. Por que iria para casa com um cara que não
está sendo honesto comigo? Que depois de tantos
meses me diz que não gosta de me dividir? — Ela
se vira e tenta se livrar de mim, mas não consegue.
Puxo seu braço outra vez e ela me desafia
com o olhar. Mariana só falta gargalhar atrás de
nós.
— Por que está fazendo isso, Mon? Mais um
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pouco e toda a festa olhará para nós. — Aperto os


olhos, tentando encontrar em seu rosto uma
explicação para o que aconteceu depois que ela
pegou o buquê.
— Estou estragando a sua imagem?
Desculpa se não sou como você gostaria e não
atendo às suas expectativas. Talvez a Mariana
possa te ajudar com isso, já que ela desempenhou a
função muito bem. Porque tudo isso é uma questão
profissional, não é? Não era o que esperávamos, eu
ter pego o buquê. Sinto muito pela situação
constrangedora. Sou livre e você já sabe, sempre
vai ter que me dividir com outros caras. Homens
que me usam e me descartam quando não precisam
mais de mim, como você.
Reflito por alguns segundos e seu olhar não
deixa de me queimar por momento nenhum. Chego
à conclusão de que tudo está no seu devido lugar.
Mônica não é a mulher certa para ser minha esposa
e eu não posso renunciar ao que sou se ela não me
quer.
— Ótimo. É isso que você pensa, que sou o
tipo de cara que usa as mulheres. Só quero que
você saiba de uma maldita coisa antes de ir embora.
Eu planejava te fazer a porra de um pedido de
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casamento hoje, mas, pelo visto, ficar ao meu lado


não está nos seus planos. Dava pra ver pela cara de
nojo que fez ao pegar o buquê.
— Não seja ridículo, Caio. Não sou uma
sonhadora que pensa que tudo vai se resolver com
as palavras mentirosas de um homem. É fácil falar
agora que você ia me pedir em casamento. Você
me tem pela garota bobinha com quem se diverte às
vezes. Mas não sou essa menina que você pensa. Já
vivi coisas que você nem desconfia que
aconteçam.
— Se não sei nada sobre o que você já
passou, é porque não se abre comigo.
— Quem não se abre comigo é você, Caio.
Esconde coisas importantes e planeja mudar o meu
destino sem me consultar. E, se quer saber, ainda
dá tempo de usar o seu pedido. É só trocar a noiva,
não é? Ainda te sobrou a Mariana.
Mônica segura o tecido sobre as coxas e sai
porta afora. Ela chega na rua e percebe que
esqueceu alguma coisa.
Cruzo os braços e olho ao redor. Todos
dançam e se divertem, passando batido pela
discussão na nossa mesa. Encaro Mariana e ela já
não sorri.
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Quando volta, Mon passa entre nós dois e


pega a bolsa sobre a mesa. Leva também a chave
do meu carro e desaparece outra vez.
— Me dá uma carona? — Engulo a saliva e
pigarreio, tentando fingir para Mariana que tudo o
que está acontecendo é absolutamente normal.
— Gosto dela. Finalmente uma competidora
à altura.
Rio, soltando o ar e os ombros.
— É, mas parece que ela já desistiu do
prêmio.
— Você que pensa, querido. Conheço esse
tipo de garota.
— E de que tipo é?
— O contrário do seu. Aquele que você mais
gosta: o meu. Teimosas, ambiciosas, obstinadas.
Balanço a cabeça e me atiro na cadeira.
— O problema é que ela é tudo isso, mas,
diferente de você, o prêmio que ela deseja é outro
que não eu.
— E qual é então?
— Não sei. Mas adoraria descobrir.
***
Queria dizer que não me sinto mais à

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vontade na casa onde morei com Mariana por


tantos anos. Mas seria mentira.
Enquanto subo as escadas carregando Alan,
reconheço cada uma das coisas que me
acompanharam enquanto vivi aqui. Minha ex me
segue, de mãos dadas com Adriana, ela desliza
atrás de mim sem fazer ruído nenhum.
— Vou colocá-la na cama — avisa ao
chegarmos no segundo andar.
Entro no quarto do meu filho e o cheiro
adocicado de criança me dá um aperto no peito.
Sinto tanta falta de dormir e acordar com eles,
mesmo morando do outro lado da rua. Parece que a
cada dia nossa intimidade diminui.
— Papai — ele geme, sonolento.
Com seu corpinho entorpecido, sofro para
trocar a roupa formal pelo pijama. Sento na ponta
do colchão depois de cobri-lo e fico admirando seu
rosto delicado.
Desço de volta para a sala e Antônio está no
sofá, jogando no celular. Mariana chega por trás de
mim e se senta. De camisola de seda, posso ver
cada um dos detalhes do corpo que tanto beijei e
amei até que tudo se acabasse.
— Vai dormir, Tony. Quer que o papai te
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coloque na cama? — Me aproximo dele e aperto


um botão na tela para que ele perca o jogo.
— Pai. — Ele revira os olhos. — Não sou
mais criança. Nem durmo a essa hora mais.
— Sério? — Arqueio uma sobrancelha para
Mariana mas ela dá de ombros.
— Não é fácil gerenciar sozinha o sono de
três crianças.
— Você não está sozinha. Pode me chamar.
Moro aqui na frente — digo, puxando meu filho
mais para perto de mim.
Antônio se aninha sob o meu braço e relaxo
as costas no sofá. Estou exausto.
— Claro, né, Caio. Vou lá na sua casa te
chamar no meio da noite e interromper as suas
festinhas — Mariana debocha. — Não estou assim
tão desesperada. E o Tony vai sobreviver se não for
deitar cedo todos os dias.
Suspiro e paro de falar para não criar uma
nova discussão. Por hoje, já estou cheio delas.
Mariana terminou comigo para ver se me dava um
susto e me fazia ser mais ambicioso. Não
funcionou. Depois de perceber isso, vive dos seus
joguinhos para me conquistar de volta.
Ultimamente tem usado seu papel de mãe e a
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criação dos nossos filhos para tentar me fazer ter


pena dela. Cada palavra que diz é pensada e, a
essas horas, já não tenho cabeça para ter uma
conversa calculada com ela.
Meus olhos pesam e tento mantê-los abertos.
A música do joguinho no celular de Antônio é
relaxante e o seu calor no meu abraço me dá uma
sensação boa, algo que me faz lembrar as noites de
antigamente com as crianças. É tão gostoso que me
entrego e adormeço.
Acordo com lábios macios envolvendo os
meus. O peso em meu colo agora é outro. Dedos
descem pelo meu peito até pararem no meu zíper.
Minha cabeça gira e não sei onde estou.
Uma dor nas costas e um aroma diferente.
Essa casa não é a minha. Não estou na minha cama
e essa boca que me beija é tão diferente da boca da
Mon. Ah, meu Deus.
— Mariana. — Abro os olhos e vejo a
mulher de cabelos curtos ajoelhada entre as minhas
pernas.
Com o meu pau nas mãos, ela se prepara
para abocanhá-lo. É tarde demais quando tento
impedi-la. Os lábios envolvem a minha glande e a
sugam.
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Pressiono seus ombros e contraio as coxas,


gemendo. Suspendo a respiração a cada centímetro
que ela vai me engolindo.
— O que você está fazendo? — sussurro,
segurando seu rosto para que me encare.
— Shiu — ela faz, saindo de mim.
Mariana se apoia nas laterais das minhas
pernas e senta no meu colo. Baixa as alças da
camisola e seus seios pequenos ficam disponíveis
para mim.
— Não podemos fazer isso — digo, a
empurrando para o lado.
Ela resiste e espalma as mãos no meu peito.
— Por quê? Você brigou com a sua
namoradinha. Eu estou há tanto tempo sozinha.
Conhecemos tudo um sobre o outro. Uma noite
para aliviar as tensões não vai fazer mal a ninguém,
bem pelo contrário.
— Não dá, Mariana. Não quero fazer isso.
— Seguro em seus braços e a coloco ao meu lado
no sofá.
Levanto e começo a ajeitar a roupa. O par de
pernas diante de mim se abre, revelando a pele
delicada que beijei por tantos anos.
— Para de pensar com a cabeça de cima,
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Caio. Seu pau quer, dá pra ver. Reconhece o meu


cheiro e está desesperado pra se enterrar em mim.
Baixo a cabeça e olho para o filho da puta do
meu pau, mais duro que concreto e louco para foder
a Mariana. Não consigo raciocinar. Parece que ela
tem razão. Não devemos nada a ninguém e uma
noite não vai mudar nossas vidas.
Mesmo sabendo que não é do corpo dela que
preciso, talvez possa me ajudar a deixar de lado
tudo o que aconteceu hoje. Só por alguns instantes
quero esquecer a expressão de pavor de Mônica ao
encarar a possibilidade de ficar comigo pelo resto
da vida.
— Vem. — Os pés de Mariana me envolvem
pela cintura e me rendo.
Cubro seu corpo com o meu, beijando os
seios delicadamente. Ela joga a cabeça para trás e
geme. Desço, levando suas roupas para baixo até
que fique nua para mim. Na sala da minha antiga
casa, me dispo para sentir a minha ex-mulher,
aquela que ainda quer ser minha.
Sua pele, tão conhecida, se arrepia quando
toco sua entrada, escorregando pelos lábios que tem
entre as pernas. A coluna arqueada e o jeito que
estremece nas minhas mãos me deixam louco.
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— Ai, que saudades de você me comendo —


ela diz sem me olhar nos olhos.
Acho que nós dois sabemos que se fizermos
isso, não conseguiremos ir até o fim. Seguro em sua
nuca e empurro o quadril contra Mariana. O corpo
delgado, mas que é tão diferente do de Mon.
— Sou sua. Me devora. — Ela crava as
unhas nas minhas costas.
— Isso, arranha, morde o homem que você
quer — digo em voz baixa em seu ouvido enquanto
aumento a velocidade dos meus movimentos.
Minha mão se encaixa sob a bunda magra
dela e a ergue. Entro mais fundo e fica cada vez
mais gostoso. Quando o contrair começa nas
minhas bolas, paro de me mover para não gozar.
— Por que parou? — Ela me olha de
relance.
Desvio os olhos e tiro o pau latejante para
longe da pressão deliciosa da bocetinha de
Mariana. Sento ao seu lado, nossas coxas se
tocando. A expressão safada que faz quando encara
os músculos da minha barriga me deixa louco para
voltar para dentro dela.
Mas não preciso me mover. Suas pernas
pulam para o meu colo e ela segura meu pau pela
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base, deixando o peso do corpo fazê-lo escorregar


de volta para o seu interior.
— Porra, Mariana. Você está tão molhada.
— É a saudade que o meu corpo sente do
seu.
Agarrada no meu pescoço com uma mão,
vejo que com a outra começa a se tocar. Os
movimentos delicados que proporciona a si mesma
a fazem perder o controle. Ela cavalga
deliciosamente em mim, girando o quadril e os
dedos enquanto a cabeça pende para trás.
A cada investida, fica mais difícil para mim.
Controlar a vontade de gozar parece que só
potencializa o latejar na cabeça do meu pau. Seguro
Mariana pela cintura para tirá-la de cima de mim
antes que não consiga mais impedir o gozo. Mas é
tarde demais. O corpo delicado em minhas mãos
estremece e seu peito se fecha, se inclinando para
frente.
— Ahn — ela faz, cravando os dentes no
meu ombro ao gozar.
O jeito que me comprime é devastador.
Tento segurar, mas não posso.
— Para, Mariana. Sai. Vou gozar em você,
porra — arfo em seu pescoço.
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Sinto a rigidez dos bicos dos seios no meu


peitoral. Perdida no prazer, ela se abraça em mim,
forçando o clitóris contra o meu púbis. Me perco na
intensidade de sua pressão. É como se me
chupasse, me obrigando a deixar acontecer.
— Ai, ai. De novo. Vou gozar de novo —
a vozinha sussurra na minha orelha.
Se torna impossível resistir. Preso dentro de
uma mulher linda, meu pau se entrega, cuspindo
para dentro de Mariana toda a minha energia.
Dou um rugido abafado em seu ombro e me
perco no prazer. Contraio a barriga e abraço a
garota no meu colo. É tão gostoso e reconfortante.
Leva toda a minha tensão e tira um peso de dentro
de mim. É hipnotizante. É delicioso. É
reconfortante.
É errado.
Quando me dou conta do que acabei de
fazer, solto Mariana do nosso abraço tão rápido que
ela cai de bunda no chão. Ao invés de gritar, ela
não reage. Fica sentada sobre o tapete, nua.
— Foi mais rápido do que pensei — diz,
abraçando os joelhos.
— Do que você está falando? — pergunto,
catando minhas roupas.
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— Do seu arrependimento.
Meus pensamentos se embaralham e minha
cabeça dói ainda da bebida da festa. Visto as calças
e junto o resto todo em um bolo que carrego sobre
o braço. Preciso sair daqui.
— Você pensa muitas coisas erradas de
mim.
Cruzo a sala apressado e Mariana se levanta
para me seguir. Abro a porta da rua e ouço um
carro se aproximando. Jogo meus sapatos no chão e
enfio os pés neles.
— Eu não sou ruim assim como você acha.
Foi bom, não foi? Nós dois. Ainda dá tempo de
recuperarmos o que tivemos. — Mariana apoia
metade do corpo na porta, cobrindo parte da pele
exposta.
Dou alguns passos de costas, olhando para
ela e tentando entender como consegue continuar
me usando mesmo depois de tanto tempo. Aos
poucos, começa a fazer sentido.
Não é ela. Sou eu. Deixo que me usem e me
enganem. Não vou atrás do que desejo por não
reconhecer o que me faz me perder de paixão. Mas
sei o que me tem de corpo e alma, diferente de
Mariana: Mônica. É ela que eu quero e é tudo o que
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preciso.
— Caio?
Me pergunto para onde foi o meu ar quando
ouço a voz dela. Aos poucos, giro o tronco em
direção à rua. De calça jeans rasgada e tênis, Mon
parece uma adolescente. O olhar dolorido que
dirige para o meu peito nu faz queimar a minha
pele.
— Mon, o que você está fazendo aqui?
— O que você está fazendo aí na casa da
Mariana?
Sua testa se franze e parece que vai chorar
a qualquer momento. Mas a tristeza dá lugar à
repulsa quando ela olha para um ponto atrás de
mim. Viro o pescoço e vejo minha ex-mulher
pelada na entrada de casa. Triunfante, Mariana vira
o pescoço de lado e sorri.
— Você gosta de dividir, não gosta? Sei que
empresta o Caio para a sua amiguinha. Tenho
certeza de que não se importa de ele ter matado a
saudade de mim essa noite — ela fala para Mônica.
A boca que amo tanto está escancarada
quando volto a fitá-la.
— Mon — balbucio, mas não sei o que
dizer, na verdade.
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A passos largos, a garota vem em minha


direção. Não notei quando pegou o buquê da festa
de casamento ontem. Mas o vejo em suas mãos
quando o enfia em meu peito junto com a chave do
meu carro.
— Vai se foder, Caio. Nunca mais olha na
minha cara, seu playboy de merda. Fica com essa
daí, porque vocês se merecem.
— Mônica, por favor — imploro, indo atrás
dela. — Como você vai voltar para casa.
— Eu me viro. Sempre dei um jeito nas
coisas. Ter você na minha vida não mudou isso.
Bem pelo contrário. Deixou tudo mais difícil.
— Vamos conversar — falo, já no meio da
rua.
Mônica gira o corpo de repente e coloca a
palma da mão no meu peito. Os cabelos compridos
chicoteiam nas costas.
— Me deixa.
Paro de andar e fico olhando para ela.
Esfrego o rosto, incrédulo. Não é possível que eu
tenha tanto azar.
— Mon, obrigado por ter trazido o meu
carro — resmungo, na falta de saber o que dizer.
Ela se vira e balança a cabeça.
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— Não vim trazer seu carro.


Apoio as mãos na cintura e fecho os olhos.
— O que você veio fazer aqui então —
pergunto.
Sei o que ela vai dizer, mas preciso ouvir.
Talvez, sentindo a dor eu caia na real e entenda que
a vida não nos entrega o que pedimos na hora em
que queremos.
— Vim dizer que aceitava casar com você.
Que, no fundo, acreditava que podia dar certo. Que
conseguiríamos provar que o nosso amor era de
verdade e não mais um casamento de fachada. Mas
estava errada mais uma vez. Só mais uma vez —
ela fala, andando de costas.
Quando se vira, Mônica ergue o braço e
estende o dedo do meio para mim. Ela desaparece
na esquina e chuto a roda do meu carro.
— Porra — grito no meio da rua.

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Mônica
Um coração em chamas só poderia parar de
arder com uma chuva de verão como essa. Isso é
tão ridículo, como a porcaria da minha vida toda.
Ao menos me ajuda a disfarçar essas lágrimas
burras que insistem em cair sempre por quem não
merece.
Sozinha no condomínio de Caio e bem longe
da portaria, fico encharcada em segundos. Droga.
Ia chamar um Uber, mas, molhada assim, o
motorista não me deixaria entrar de jeito nenhum.
Viro à direita e a casa de João surge no meu
caminho. Ótimo. Agora a minha melhor amiga vive

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lá também. Posso trocar de roupa e consigo ir


embora.
Começo a correr, mas paro. Li uma vez que
a chuva molha mais quando andamos apressados.
De qualquer maneira, acho que já não tenho
nenhuma parte do meu corpo seca e a calça jeans
está pensando uns trinta quilos agora. É como
correr com caneleiras.
Passo pelo jardim e paro na frente da porta
gigantesca. Toco a campainha e cruzo os braços
abaixo dos seios. João abre a porta apenas de
cuecas boxer. Ele dá um sorriso malicioso e foca
nos bicos dos meus peitos, totalmente expostos pela
camiseta molhada.
— Caralho, Max. Essa é mais uma das suas
surpresas para a nossa lua de mel? — pergunta,
olhando para trás e voltando a me devorar com os
olhos.
— Tirando a Pam, não pensei em mais nada.
Será que é o presente de casamento dos nossos
padrinhos? — O rosto de Maxime surge por cima
do ombro dele e ela morde a boca, confusa.
Um arrepio deixa os meus pelos eriçados.
Reviro os olhos, pensando que todo mundo quer me
tirar do sério hoje.
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— Ai, dá licença. — Afasto João,


empurrando seu corpo com a mão em seu peito.
Ele olha para os meus dedos e franze a boca.
Os olhos verdes se apertam e ele me deixa passar,
fechando a porta logo em seguida. Vou direto para
a cozinha.
— Está tudo bem? — Max pergunta,
correndo atrás de mim com sua barriga imensa.
— Parece que está? Casamentos me dão
azar. Eu e o Caio terminamos.
Gotas enormes caindo da barra da minha
calça lavam o porcelanato aos meus pés. Os dois
param na minha frente, as bocas escancaradas pelo
que eu acabei de dizer. E, mesmo assim, João
continua olhando para os meus seios.
Cruzo os braços para escondê-los e Max
percebe. Ela dá um tabefe no bíceps do marido e
faz cara feia.
— Vou lá buscar uma roupa seca. E você —
ela aumenta o tom de voz e ergue um dedo para o
primo de Caio. —, faça um chá quentinho para ela.
E se comporte.
Os cachos de Maxime voam quando ela gira
o corpo com irritação. De costas, ninguém diria que
está a poucas semanas de dar à luz.
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— Então, o que houve para que você venha


parar na minha casa na manhã seguinte ao meu
casamento? — O marido da minha amiga contorna
o balcão e vira de costas para mim.
João remexe nos armários até encontrar uma
caixa de chá e uma xícara. Coloca a água para
ferver e me encara, apoiando o quadril na pia.
Analiso cada detalhe do abdômen trincado
até chegar na barra de elástico da cueca. A marca
em V que entra pelo tecido me faz sentir aquele
arrepio de novo. Pelo menos posso fingir que é por
estar toda molhada. A roupa molhada, quero dizer.
— E aí? Vai ficar me comendo com os
olhos? — João diz, rindo e cruzando os braços.
Balanço a cabeça e meus cabelos jogam
pingos por tudo. Bufo, irritada com toda essa
situação.
— Só estava me perguntando se ter dormido
com você aquela vez não foi a maior bobagem da
minha vida — falo.
— Por que está dizendo isso? — Max surge
ao meu lado e joga uma camiseta para João.
Ele a segura no ar e se veste, cobrindo a
visão do paraíso que é o seu corpo. De roupão de
seda branco, Maxime me entrega uma toalha e uma
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pilha de roupas suas e senta em um dos bancos


altos da cozinha.
— Peguei as menores que tinha, mas mesmo
assim não sei se vão servir. Sou muito maior do que
você.
Dou as costas a eles e ergo a camiseta pela
barra. Cubro os seios com um braço e giro o tronco
para pegar a blusa de Max. João olha para mim e
passa o polegar no lábio como se eu fosse um
pedaço de carne apetitoso.
— Dá pra parar? — Ela gira sobre o banco e
o encara, apoiando o queixo na mão.
— Desculpa, amor. É que seria tão bom se
fosse a segunda parte do seu presente de
casamento. — Ele se aproxima dela, mordendo a
sua boca.
Já com a parte de cima, que vai até a metade
das minhas coxas, tiro a calça e a calcinha com
dificuldade, pois estão coladas na minha pele. A
roupa toda de Max fica um pouco larga mesmo,
mas tudo bem. É o suficiente para que eu possa
voltar pra casa.
— Dá pra vocês me explicarem que história
é essa de presente de casamento? — pergunto,
passando a toalha pelos cabelos e sentando ao lado
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de Max.
Os dois se encaram e riem, soltando o ar
pelo nariz. São tão fofos. Queria que o meu
relacionamento com o Caio fosse assim, mas acho
que ainda temos tantos segredos que nunca
alcançaríamos esse nível cumplicidade.
— Chamei a Pam ontem, foi o meu presente
de casamento para o João — minha amiga fala,
olhando de maneira apaixonada para o amor da sua
vida.
— Caramba, Max. Você está grávida, quer
dizer, você está a ponto de ganhar o bebê a
qualquer momento e chamou uma garota para
dormir com você e o seu marido na noite da lua de
mel de vocês? Depois a pervertida sou eu. E, pelo
jeito que os olhos de vocês dois estão brilhando, foi
uma noite e tanto.
— Nossa, se foi. — João coloca uma mecha
cacheada atrás da orelha da mulher.
— Me sinto uma intrusa, interrompendo o
momento de vocês. — Jogo a toalha no mármore
do balcão e cruzo os braços, apoiando a testa neles.
— Mas, também, quem mandou passarem a lua de
mel em casa? Se tivessem ido viajar eu não estaria
aqui agora. É isso, se vocês não tivessem casado,
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eu não estaria aqui agora.


Levanto a cabeça e aponto o indicador de um
para o outro. Eles erguem as mãos, mostrando
inocência.
— É verdade. É tudo culpa de vocês dois —
acuso.
— Pode ir parando por aí, mocinha. Não
posso viajar assim, queria fazer alguma coisa
especial da minha lua de mel, ok? E, em primeiro
lugar, que história é essa de ter terminado com o
Caio? — Max pergunta.
— E, em segundo lugar, qual a relação
daquela noite em que transamos com a briga de
vocês dois? — João apoia as mãos no mármore e
me encara.
Olho para o teto e depois para a minha
pulseira. Remexo nos pingentes enquanto tento
encontrar as melhores palavras para explicar. É
uma mistura de sentimento, mas o principal é a
culpa. Ela vem abraçada na minha pilha de
segredos. Coisas pequenas, como quando disse a
Max que ninguém nunca me viu vestida de noiva.
Mas coisas grandes também.
— Ontem quando peguei o buquê, usei
aqueles milésimos de segundos que tive para pensar
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em alguma desculpa para negar um possível pedido


de casamento do Caio.
— E por que você faria isso? — João
interrompe minha linha de raciocínio.
— Shiu. Deixa a Mon falar. — Max o fuzila
com o olhar.
Inspiro e solto o ar fazendo barulho. Meus
ombros caem e dou um sorriso cínico.
— Porque eu faria isso não vem ao caso
agora. O que importa é que não precisei de
desculpa nenhuma naquela hora. O Caio não me fez
pedido algum. Só me falou para fingir que tinha
gostado de ganhar o buquê, pedindo que não o
desse a ninguém.
João faz a volta no balcão e passa por mim,
parando na porta de vidro que dá para o jardim. Ele
olha para a piscina e esfrega o rosto.
— E no que aquela noite se conecta com
tudo isso? — pergunta sem me olhar.
Levanto e começo a andar em círculos pela
sala. Minha cabeça sempre dói quando percebo que
atitudes idiotas que imaginei, por algum momento
serem insignificantes, tomaram proporções
gigantescas no futuro.
A noite em que transei com João foi uma
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delas. Era para ser uma brincadeira. Max me


convidou e não era a primeira vez que Caio me via
com alguém.
— Ele mentiu para mim desde o começo.
Mentiu que não se importava de ter uma namorada
que é garota de programa. Mentiu que gostava de
me ver com outras pessoas. Mentiu que queria algo
sério comigo.
— Eu te avisei sobre isso, não te avisei? —
Max fala, acariciando a barriga.
— E você tinha toda a razão. No fundo,
agora que está sendo pressionado a ser um homem
de respeito, voltou correndo para os braços da
Mariana — conto a eles o que acabei de presenciar.
As mãos de Max me envolvem quando
termino de falar. Já estou chorando, mas, dessa vez,
a chuva não pode me ajudar a esconder as lágrimas.
— Você tem certeza disso que está dizendo,
Mon? — Ela ergue meu queixo com o dedo.
Fungo e balanço a cabeça em um sim.
— Saí furiosa da festa ontem quando ele não
me fez o pedido. Surtei quando finalmente assumiu
que me dividir o incomodava. Mas cheguei em casa
e me arrependi. Pensei no que era mais importante
para mim e cheguei à conclusão de que o Caio
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poderia me ajudar a ter o que eu queria. E não digo


financeiramente.
— Você está falando sobre Lisboa? — Max
sussurra.
Faço uma cara feia para ela e minha amiga
entende que falou demais. Olha para o marido e
depois para mim. Ainda de costas para nós, João
parece não ter ouvido nada.
— Então, vim trazer o carro dele que levei
ontem. Ia falar o que estava sentido, que ia tentar
me livrar dos meus problemas, se ele estivesse
disposto a me ajudar. Mas, quando estacionei na
rua dele, vi o Caio saindo da casa da Mariana.
— Ele pode ter ido ver as crianças. Pode ter
sido só isso, amiga. — Max aperta meus braços, me
encorajando a ver tudo com olhos de uma menina
boba.
Mas não sou mais assim. Mesmo que não
tivesse enxergado claramente o que aconteceu ali
entre os dois, meu coração já me dizia que algo
desconfortável estava no ar.
— Só se a Mariana espera o Caio nua,
porque era assim que ela estava na porta, se
despedindo dele — gemo, me desvencilhando de
Max.
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João para ao nosso lado e me abraça,


deixando um beijo em meus cabelos.
— A gente já brigou tanto por causa da Max,
mas gosto de você. Sei que no fim fez o que pode
para ajudar a minha mulher e me mostrar que eu
devia ajudá-la também. Talvez o Caio ainda não
tenha percebido isso. Que, apesar de forte e
independente, você precisa de apoio e confiança.
Conhecendo meu primo, não sei se um dia ele será
capaz de dar tudo isso a uma mulher como você,
Mônica. É muito mais fácil ficar com alguém
dentro dos padrões da sociedade. Dê um tempo a
ele. Talvez acabe percebendo que o fácil nem
sempre é o que precisamos.
— Ainda bem que você não gosta de coisas
fáceis, não é, meu amor? — Max fala e nós rimos.
Seco as lágrimas e tento focar no que mais
importa para mim e no que preciso para conseguir o
que quero.. Pode demorar, mas eu vou conseguir.
— Você tem razão, João. O que desejo não
chega nem perto de ser fácil. Mas vou atrás disso.
Com o Caio ou sem o Caio. Tenho que ir. Chama
um Uber pra mim, Max? Ainda vou trabalhar.
— Sério que você ainda vai atender hoje? —
João ergue a sobrancelha pra mim.
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— Não ia, se o Caio estivesse disposto a me


ajudar, mas agora tenho que retomar os meus
planos. — Dou de ombros e beijo a bochecha de
cada um.
Vou para a frente da casa esperar o carro.
Pego meu telefone e suspiro ao não encontrar
nenhuma chamada de Caio.
Não sei onde estava com a cabeça quando
pensei que poderia contar com a ajuda dele para dar
um jeito na minha situação. Mas é melhor assim.
Não poderia casar com ele, de qualquer maneira.
Afinal de contas, já sou casada.
***
3 anos antes
— Nem acredito que o meu docinho
finalmente vai fazer dezoito anos. E, para
comemorar, olha o que o melhor namorado do
mundo tem pra você.
Pedro tira a mão de trás das costas e vejo
duas passagens de avião. Escancaro a boca,
incrédula com o meu presente. Há tanto que não
faço nada de diferente. Desde que saí da casa dos
meus pais minha vida é um tédio.
Passei os últimos meses acreditando na
promessa do meu namorado de que nos meus
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dezoito viajaríamos para compensar. Morar com


um cara sem o consentimento dos pais pode ser
mais complicado do que se imagina. Mas ele
cumpriu o que disse.
— Ai, meu amor. Que incrível. Para onde é?
— Las Vegas, bebê.
Dou saltinhos ao pegar os bilhetes e grito
como uma menininha. Pedro me rodopia no ar e
beija meu pescoço.
— Só tem uma coisinha que preciso da sua
ajuda para que essa viagem aconteça. Porque, você
sabe, estou investindo tudo naquele negócio que te
falei. A grana ainda não está sobrando assim, a
ponto da gente ir pros States.
Ergo a sobrancelha e me afasto dele.
Suspendo a respiração, rezando para que o pedido
que tem a me fazer seja razoável. Viro de costas,
porque não quero ver seu rosto quando me falar.
— E o que é?
— Lembra daquela vez que você ajudou o
meu amigo, aquele que estava com a mulher no
hospital?
Merda. Eu sabia que não seria razoável.
Nada razoável.
— Como poderia esquecer? — pergunto, o
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encarando com raiva.


Não quero chorar, mas está doendo tanto.
Arde lembrar como é ceder o seu corpo para
alguém que não te ama. Machuca imaginar isso
acontecendo outra vez.
— Ei, gatinha. — Ele se aproxima e me
abraça. — Você não precisa fazer, se não quiser.
— E não quero, Pedro. — Aperto os olhos,
brigando com minhas pálpebras molhadas.
Me solto das mãos grandes dele e arrasto os
pés até a janela. Minha testa toca o vidro e tento
esfriar a mente.
— Ok. Não vou te obrigar. A gente só vai
perder a oportunidade de conhecer esse lugar
incrível.
— Já conheço os Estados Unidos.
— Ah, esqueci que você era a filhinha do
papai. Desculpa se eu sou um merda e ainda
preciso de ajuda pra te dar uma viagem bacana
dessas. — Ele joga as passagens no chão e senta na
ponta da cama.
Odeio quando faz isso. Minha família não é
rica, mas não vivíamos mal como aqui.
— Você sabe que não ligo pra isso. Só quero
estar com você, ser só sua. — Ergo as mãos e o
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encaro.
— Já entendi. Não precisa ficar nervosa. A
gente fica aqui nessa vida de merda mais um
pouco. Vamos ver até onde você aguenta do lado
de um ferrado como eu.
Meu coração dói. Ver o meu amor sofrendo
me machuca. Detesto quando Pedro se vitimiza.
— Não vai durar pra sempre. Você mesmo
diz isso. — Me ajoelho entre suas pernas.
— Só achei que você gostaria de se casar
comigo em uma capela em Las Vegas. Mas tudo
bem, cancelo tudo. — Ele olha para uma rachadura
no teto, ignorando o fato de que estou aos seus pés.
Minha pulsação se acelera.
— Ah, meu Deus. Isso é um pedido de
casamento?
— Era, mas a minha garota não está a fim.
— Claro que estou, meu amor. — Acaricio
seu rosto, sorrindo amorosa.
— Esse é o único jeito que encontrei, gata.
Juro que não queria. Mas eles vão pagar uma
bolada, além das passagens.
De cento e vinte batimentos por minuto, meu
coração passa a trabalhar com menos de cinquenta.
Estremeço.
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— Eles?
Pedro me afasta e levanta. Vai até a janela
do quarto onde eu estava, instantes atrás.
— Porra, amor. Todo esse dinheiro, o
suficiente pra gente ficar bem por uns três meses.
Um cara só não ia bancar tanto. Você nem é de
menor mais. Não é virgem. Pra ter valor tem que
ser com vários.
Ainda de joelhos, deito a cabeça no lençol e
tapo os ouvidos. É demais pra mim. Não posso
escutar. Mesmo assim, suas palavras abafadas não
me escapam.
— É uma despedida de solteiro. Um
conhecido que vai casar. Ele é mais três amigos
querem dar uma festa. São gente boa. Não vão te
maltratar. E é só uma noite. Mas você não quer.
Tudo bem. Achei que seria legal casarmos em
grande estilo, ser seu e você ser minha. Porque é
isso que me importa, baby, o seu coração. Colocar
um anel no seu dedo e te ter pra sempre, não só por
uma brincadeira de uma noite.
É fácil chamar de brincadeira quando não é
você quem tem que ceder seu corpo a um
desconhecido. Tenho vontade de vomitar quando
lembro do que fiz. Mas foi o que me manteve aqui.
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O que me salvou de voltar humilhada para a casa


dos meus pais. No fim das contas, aquela noite
horrível passou. Estou aqui, viva, com o meu amor.
E grávida.
Engulo o muco salgado e seco os olhos. Vai
ficar tudo bem. É pelo meu filho. Teremos uma
linda família feliz. Ninguém poderá falar de nós.
— Eu vou — digo, levantando o rosto do
colchão. — Provarei aos meus pais que o nosso
amor não é brincadeira, que você me ama de
verdade a ponto de se casar comigo. E, como você
disse, será em grande estilo, pra todo mundo ver
que estamos bem. Muito bem.
Pedro senta ao meu lado e alisa os meus
cabelos. Seu sorriso é orgulhoso e satisfeito.
— Te amo tanto. E eu juro, é a última vez.
Não vão mais tocar em você depois que virar minha
esposa.
Finjo um sorriso. Não sei o motivo, mas
alguma coisa me diz que ainda não é a hora de
contar ao Pedro sobre o bebê. Talvez isso o faça
desistir de Las Vegas, do nosso casamento ou, até
mesmo, de mim. Voltar para casa humilhada e
grávida está fora de questão.
Preciso ser forte. É só por uma noite. Só
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mais uma.

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Caio
Estou na segunda cerveja quando ela chega
no Manhattan, o clube onde atende. Quase estilhaço
o copo de vidro na minha mão ao ver os olhares
famintos dos caras para os seus peitos. É tão forte o
modo como entra na personagem que não sinto que
tenho próxima de mim a mulher que tanto amo.
Desfila pelo salão de luzes avermelhadas, o
caminhar é ritmado, a mandíbula dança,
mastigando o chiclete. Mônica fala arrastado ao
cumprimentar as colegas e os clientes. Vê-la nas
roupas de trabalho é sempre excitante, mas
doloroso. Bastante doloroso.
A vontade que tenho de agarrá-la acaba
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comigo. Mas, o que me despedaça de verdade, é


saber que outros é que farão isso.
Saia colegial verde e cinza e uma blusa
branca colada. Meias pretas até as coxas e uma bota
da mesma cor. Frágil, submissa e inocente. As
qualidades preferidas dos clientes dela.
Tudo a faz se encaixar no papel da
menininha. Ou melhor, quase tudo. Uma tira de
camurça presa em seu pescoço exibe a palavra
dolorosa: puta.
Seus olhos faíscam quando me encontram
sentado sozinho em uma mesa logo à entrada.
Nunca me senti tão distante do seu amor. Tudo o
que há ali é raiva.
— O que você está fazendo aqui? Vai
embora, Caio. Não sou a Max, pra você fazer o
fiasco que o João fez por ela quando estava
atendendo aquela vez. Não tenho outro emprego e
não posso correr o risco de ser impedida de atender
no Manhattan. — Ela espalma as mãos na minha
mesa.
A cerveja faz uma onda no meu copo e apoio
o braço no couro do sofá onde estou sentado.
— Por que você não tenta arrumar um
emprego então? — pergunto, olhando para os
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cabelos escuros dela se espalhando pela madeira da


mesa.
Um cara passa por trás do seu corpo e se
inclina para olhar por baixo da saia. Ergo o quadril
e me levanto em um impulso. Mônica me para,
empurrando meu peito. O homem nem percebe que
passou perto de levar um soco meu e logo se
enrosca em uma loira que dança perto do DJ.
Olho para o pescoço dela: puta. As letras
cintilam na minha frente.
— Para, Caio. Porra. Você não está
entendendo? Quer ferrar a minha vida?
— Quero te ajudar, Mon — falo,
aproximando meu rosto do dela. — Por que você
não me deixa te ajudar? É sério isso que falei. Por
que você não trabalha em outra coisa?
— Porque não vou ganhar a quantia que
preciso.
— E por que não tenta? Posso conseguir
algo pra você lá no escritório. Com o tempo,
ganhará cada vez mais. Pode fazer uma faculdade,
quem sabe.
Mônica olha para os pés. Seguro seu queixo,
mas ela se recusa a me encarar. Quando fala, é em
um fio de voz:
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— Não posso.
— Por quê? — Passo os olhos em seu rosto
e só vejo vergonha.
— Porque não terminei a escola.
Não sei o que fazer com as mãos, então as
fecho e tento conter toda a raiva que tenho de mim
mesmo. Como assim eu não sabia que a minha
garota nem tinha terminado a escola? Como assim
não sei nada dela?
Será que tive tanto medo de perdê-la que
evitei insistir nos mínimos detalhes da sua vida?
Aperto a têmpora e tento raciocinar, mas me sinto o
maior burro da história.
Puta brilha em pequenas peças metálicas
sobre o colar dela. Já está me dando dor de cabeça.
— Por que nunca me contou isso?
— Porque você nunca perguntou. — Ela dá
de ombros.
— Sou um idiota. Um filho da puta de um
idiota. Meu medo de te pressionar criou um abismo
entre nós dois, Mon. Não era só sexo. Não era isso
que eu queria.
— Mas foi isso que me mostrou, Caio.
Não consigo me controlar. Puta. Puta. Puta.
— Porra, Mon. Estou tão irritado comigo
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mesmo e com esse lixo todo. Passou dos limites.


Não posso te ver fazendo isso mais. Foda-se essa
merda.
Estico o braço e agarro o colar que tem no
pescoço. Antes que consiga pensar, a raiva me
consome. Arranco a peça de tecido em um
movimento brusco.
Um dos seguranças do Manhattan surge
atrás dela e toca seu braço. Mônica olha para os
dedos dele e depois para o rosto do cara.
— Tudo bem por aqui?
— Claro, claro. Tudo bem. — Ela balança a
cabeça e coloca os cabelos atrás da orelha.
— Mesmo? — o homem insiste, franzindo a
testa.
— Mesmo. Fica tranquilo.
Ele vai embora e Mon me encara outra vez.
Suspira e solta os ombros antes de pegar o colar no
chão.
— Tirar o termo puta da minha roupa não
faz com que saia da minha pele. — Ela abre a mão
e me mostra a palavra outra vez. — Vai embora
antes que arruíne a minha vida. Tenho que trabalhar
e já estão de olho em você.
— Ok. Sou seu cliente hoje — digo,
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coçando o canto da boca.


Mônica ri e relaxa o braço que segura a
pulseira. Os cabelos caem na frente do rosto
quando olha para a mão, logo antes de me encarar.
— O que você quer, Caio? Vamos ser
sinceros agora.
— Ficar com você, coelhinha.
Ela para de rir e vira a cabeça de lado.
Quando fica séria, não se parece em nada com a
minha Mon, leve e despreocupada.
— Se quer ficar comigo, por que fodeu a
Mariana hoje?
Ótimo. Delicada como só a minha garota
sabe ser. Só que não. Sua feminilidade trabalhada
na idealização de que é uma garotinha não condiz
com o jeito bruto com que fala.
— Por quê? — pergunto, olhando para o teto
enquanto procuro as palavras mais sinceras que
consigo. — Porque me parece que já ouvi essa
história antes. Afogar as mágoas em um velho e
conhecido corpo é algo muito comum. Tenho
certeza de que não sou o único a fazer isso. Mas,
como todo mundo, aposto que também não fui o
único a me arrepender logo depois.
— Então você deu uma trepada com a
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Mariana pra ter certeza de que não era com ela que
queria ficar e agora está aqui, querendo me tirar da
vida — debocha.
Sua risada sarcástica me tira do sério. Ela se
vira e caminha até o balcão. Vou atrás e paro ao seu
lado enquanto pede um drinque e estende a mão
para mim.
— Seu cartão — fala e depois olha para o
funcionário que traz a bebida. — Meu cliente vai
pagar.
Entrego o cartão e suspiro. Como é difícil
lidar com as mulheres.
— Vai passar a noite comigo, então? —
pergunto, guardando o cartão no bolso da camisa
após recebê-lo de volta.
— Oitocentos reais. — Ela faz biquinho,
sugando o canudo.
— A noite toda, Mon. Quanto é?
Seu olhar surpreso me faz rir de lado. Ela
olha para o relógio e depois para mim.
— Pretendia atender dois ou três hoje.
Então, dois e quatrocentos.
— Ótimo. E em casa? Quanto é para me
atender na minha casa?
— Não faço isso, você sabe.
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— Sei também que pode abrir uma exceção


para mim.
Vejo que fixa o olhar em um ponto nas
minhas costas. Me viro e observo o segurança nos
olhando outra vez.
— Caio, não posso te atender todos os dias.
Acabou. Você está agindo como um lunático
possessivo que não aceita o fim do relacionamento.
Jogo as mãos para o alto. Ela está me tirando
do sério.
— Porra, Mon. Sabe o que me fez me
apaixonar por você? Não foi a sua fragilidade, seu
corpo de menina ou essa merda toda. Eu precisava
ser o cara que com o coração daquela garota tão
determinada.
— Determinada a quê, Caio? A sentar em
um monte de paus desconhecidos para ganhar
dinheiro?
— Determinada a ir atrás daquilo que a
motiva a fazer o que faz. Aquilo que você nunca
me contou o que é.
Ela fica em silêncio e suspira. Se vira e
cobre a boca enquanto apoia a outra mão no
quadril.
— Mas sabe o que me chateia nisso tudo.
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Não ter tido tempo de te falar o que estava


acontecendo. Soube na tarde do casamento sobre os
planos no meu avô. Não tive dúvidas sobre te fazer
o pedido. Isso até ver a sua cara de desesperada ao
pegar o buquê. Mas eu sei, Mônica, sei que tem
algo que você me esconde desde sempre. Agora
me sinto um idiota por ter respeitado a sua
individualidade, a sua sexualidade. Talvez a
Mariana e o meu avô tenham razão. Me falta pulso
firme para ser um bom CEO e um bom chefe de
família.
Odeio admitir que as pessoas que me
incomodam tanto podem estar certas. Mônica ri e
me encara.
— Você não sabe de nada. Diz isso porque é
mais um querendo provar sua virilidade, me
tornando uma esposa submissa.
— Não. O que quero é descobrir porque
precisa fazer o que tem feito. Pode parecer
liberdade, mas isso sim é uma total submissão, por
mais que se recuse a admitir.
— Você está sendo um escroto, jogando a
merda da minha vida na minha cara. Vindo no meu
trabalho e tentando me contratar como um cara
qualquer, e não aquele que diz que me ama.
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— Desculpa. Não queria ser mais um idiota


que quer reforçar sua virilidade, pagando pela sua
companhia, mas foi o jeito que encontrei para te
ajudar. Você sabe que sequer gosto de sair com
garotas de programa. — Ergo um ombro,
mostrando indiferença.
Ela ri e engasga com a bebida, tossindo
álcool por todo o balcão. Sua testa se contrai em
uma expressão incrédula.
— Me ajudar? Você bebeu muito antes de eu
chegar? Acha que me contratando como sua puta
particular terei algum benefício? Só vou me ferrar,
se quer saber. Perco o contato com os meus clientes
daqui e eles logo me trocam por outra.
— É isso que desejo.
— Mas não é o que eu quero. — Ela bate
com o vidro no balcão.
A bebida respinga e o barulho chama a
atenção de outros funcionários do clube. Dois deles
se aproximam de nós. Suspiro e passo a mão no
cabelo, o ajeitando antes de bagunçá-lo de vez. Dou
uma conferida no espelho atrás das bebidas do bar.
Ainda estou apresentável, mas isso não vai durar.
— É difícil me ver perder o controle. Desde
que nos conhecemos você nunca viu, na verdade.
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Bom, chegou a hora — digo em tom calmo e me


viro de frente para Mônica.
Os caras já estão tão perto de nós que posso
sentir seus perfumes baratos. O jeito como bufam
igual touros faz subir a minha adrenalina.
— Como é que é? — Ela quebra o quadril
para um lado de um jeito afetado. — Você está me
ameaçando?
— Só tem uma coisa que me tira do sério,
Mônica Ferraz. E é perder as pessoas que amo.
Sinto muito pelo que vou fazer agora, mas perdi o
autocontrole na hora em que me senti ameaçado.
Seus olhos se apertam, tentando entender o
que vai acontecer a seguir. Sou mais rápido do que
os brutamontes ao nosso redor. Agarro a garota
pelas coxas e a jogo sobre o meu ombro em um
movimento só, como se fosse um pacote de batatas.
Os três homens pulam em minha direção,
mas consigo desviar, chutando um banco na
direção deles. Eles caem um por cima dos outros.
Me afasto e olho para a cena, todos amontoados na
frente do balcão.
— O que você está fazendo, Caio? Para com
isso — ela grita e me estapeia nas costas.
— Você está muito leve. Tem comido?
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Puxo a saia curta dela o máximo que posso,


porque as pessoas estão divididas entre olhar para
mim e para o rabo da minha garota. Idiotas. Eu
faria o mesmo.
— Caio, eles vão me proibir de voltar aqui.
Por favor. Me bota no chão. Por favor.
Os gritos se transformam em soluços e meu
coração se achata quando seus punhos caem atrás
de mim, desistindo de lutar. Sinto o desespero em
sua voz e isso me corrói. Do que tem tanto medo?
Dou poucos passos pelo salão. Nenhuma
colega dela tenta me impedir, muito menos os
clientes. Tem uma coisa que me para. O clique que
estala sobre a minha orelha me faz deixar de andar.

— Solta a menina, porra.


O cano gelado da arma na minha cabeça não
me dá medo. O que em faz estremecer é pensar em
sair daqui sem a minha garota.
Alivio a pressão dos meus braços e ela
escorrega pelo meu peito até que seus sapatos
toquem o chão. Trinco os dentes enquanto a vejo
ajeitar a roupa e o cabelo.
— Não vou mais perder ninguém que amo,
caralho. Você está entendendo o que isso quer
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dizer? Não saio daqui vivo sem você, Mon. Já perdi


meus pais. Perdi o meu avô quando ele começou a
me ver como seu sucessor e deixou de lado o seu
amor por mim. Perdi os meus filhos quando meu
casamento acabou e a Mariana me afastou deles.
Não vou te perder. Se você não for embora comigo,
terá que ir ao meu enterro amanhã, porque não
quero mais essa merda de vida se não for ao seu
lado.
Odeio fazer alguém chorar. Odeio ver o jeito
com que ela sacode os ombros na minha frente e
cobre a boca ao soluçar. Mas odeio mais ainda não
saber se está chorando porque me ama ou porque
tem raiva de mim.
— Você pisou na bola e agora está aqui no
meu trabalho me ameaçando, fazendo a porra de
uma chantagem emocional, seu mimado. Você não
sabe o que é perder alguém de verdade, alguém que
está vivo e te quer, mas que você não pode nem
chegar perto — ela grita, curvando o corpo para
frente ao me falar essas coisas que me dão gana de
mim mesmo, gana dela.
Minhas mãos se fecham e aperto os dedos
para conter a raiva. Sempre aceitei perder, acreditei
em justiça, empatia, equilíbrio. Foda-se tudo isso.
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O que quero agora é sentir tudo ao máximo, desejar


e fazer acontecer até arder.
— Sabe por que não sei disso? Porque você
me tratou como um objeto desde que me conheceu.
Me usou como fuga, mas nunca confiou em mim.
Nunca explicou o motivo de manter essa merda de
vida. Era divertido, era excitante, mas virou amor.
E decidi que o amor é uma coisa que não foge de
mim mais, Mônica. Vou te falar a porra de uma
coisa que está entalada na minha garganta há algum
tempo, desde quando finalmente assumi que te
amava mais do que tudo: você não vai mais atender
aqui no Manhattan, porque está demitida. Eu sou o
filho da puta do dono dessa merda. Comprei essa
bosta de lugar há semanas. Você está fora.
O cara com a arma na minha cabeça olha
para os lados, buscando por alguém que confirme o
que estou dizendo. Os funcionários trocam olhares
e dão de ombros, sem entender. Quando Kátia, a
gerente, corre até nós, todos eles já sabem que é
verdade.
— Pelo amor de Deus, baixa essa arma — a
ex-dona do lugar diz para o homem que me
mantém refém.
— Mas, Kátia, ele estava tentando levar a
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menina — ele se defende, ainda em dúvida se me


liberta ou não.
Olho para a mulher de mais de quarenta
anos. Montada no salto alto e calça de couro,
balança os cabelos loiros, agitada. Sua camisa preta
de bolinhas tem três botões abertos que revelam
parte dos seios. Apenas a mantive aqui porque não
saberia lidar com tudo isso.
Mas foi uma brincadeira que me custou caro.
Nunca pensei que precisaria tanto dinheiro para
convencê-la a me vender o Manhattan. O mais
difícil foi obrigá-la a deixar Mônica sem clientes o
máximo de tempo possível.
Tive que mudar as regras do lugar e dar
outros tipos de comissões às meninas, como da
venda de bebidas. Não conseguia deitar a cabeça no
travesseiro a cada dia das últimas duas semanas na
qual descobria que Mon havia dormido com
alguém.
Tentei até mesmo que Kátia colocasse
Mônica no bar, com um salário obsceno, mas ela se
recusou. Disse que não era justo com as colegas.
Porra. Tem vezes que sou tão egoísta que só tenho
raiva de justiça, porque ela está relacionada com a
porcaria de um ponto de vista. Nada me parece
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mais justo que ela sair dessa vida.


— Ele é a porra do seu chefe. Então tenha a
decência de mantê-lo vivo para que pague o seu
salário. Isso se já não estiver na rua — Kátia fala,
colocando a mão sobre o cano da arma e a
baixando ela mesma.
Suspiro, aliviado por não sentir mais o metal
sobre a minha pele. Me viro de frente para o
segurança que me ameaçava e fecho a cara.
— Você cumpriu o seu trabalho. Agora pode
ir.
Olho para Mônica e ela está em choque, o
queixo escancarado. Seus olhos verdes ainda
tentam entender o que acabaram de assistir.
— O que você queria? Falei que não ia mais
esperar até perder quem amo de novo — digo,
colocando uma mão no bolso e agarrando o pulso
dela com a outra. — Agora vamos.
Mônica trava o pé no chão, se recusando a
me acompanhar.
— Me solta, Caio. Porra. — Ela puxa tão
forte o braço que me surpreendo quando sua mão
me escapa. — Não vou a lugar nenhum. Você tem
estragado a minha vida. Diminuiu meu salário,
atrasou os meus planos. Você quer me ferrar?
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— Quê? Eu quero te ajudar. Te proteger.


Tentei de tudo para te tirar daqui, a Kátia te
ofereceu a vaga no bar e você não quis. Qual é,
Mon? Você quer continuar dando pra qualquer um,
é isso?
O tapa estalado na minha bochecha queima.
Sei que mereço, mas não esperava por ele. Esfrego
a pele ardida e olho para Mônica, magoado.
— O que quero é ser livre. É não ter a porra
de um cara que vem me dizer o que tenho que
fazer. Quando e como vou trabalhar. Pra quem vou
dar ou não. E se vou ganhar a porcaria do meu
dinheiro ou me ferrar e ficar sem grana porque ele
acha justo.
As palavras que a garota vestida de colegial
despeja em mim são doloridas. Até então tudo me
parecia uma questão de proteger e manter quem
amo por perto. Agora, me parece que estou tratando
Mon como minha propriedade. Aperto os olhos e
apoio a mão na testa. Toda essa confusão está me
dando uma dor de cabeça dos diabos.
— Desculpa, Mon. Fiz tudo errado. Entendi
tudo errado. Mas estava às escuras. Nunca soube
como agir em relação a nós dois e ver o seu
desespero ontem ao pegar o buquê da Max me
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matou por dentro. Fiz a maior merda da minha


vida, dormindo com a Mariana. Não tenho
justificativa para isso, a única coisa que posso fazer
é te pedir perdão. Agora que você já sabe, meu
plano era te colocar de gerente, te fazer dona desse
lugar. Qualquer coisa para que você fosse só
minha. E livre. Sinto muito se fiz tudo errado.
Kátia pigarreia atrás de mim. Me viro e a
loira está com os braços cruzados e a boca franzida.
— Vocês vão é quebrar o Manhattan se
continuarem discutindo desse jeito na frente dos
clientes, isso sim.
Ela se vira para Mônica e esfrega a bochecha
da menina com o polegar, secando algumas
lágrimas. Analisa cada detalhe do rostinho delicado
à sua frente.
— Kátia, por que você fez isso? Por que não
me falou?
— No seu lugar, daria qualquer coisa para
ter um cara fazendo isso por mim. Nunca, em quase
trinta anos de trabalho, vi alguém fazer algo do
tipo. Vá para casa, anjo, pense. Coloque a cabeça
no lugar e reveja quais são as suas prioridades e o
que te trouxe até aqui.
A mulher mais velha se aproxima e sussurra
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no ouvido da outra algo que não posso ouvir.


Mônica me olha. Está ferida, mas assente e se
afasta.
— Obrigado, Kátia — digo, quando se vira
em minha direção.
— Não é por você. É por ela.
A gerente me dá as costas e as pessoas
começam a deixar de lado a cena que acabaram de
presenciar. Mônica volta, carregando suas coisas.
Trocou de roupa e agora parece que vai ao
shopping, de jeans e uma blusa comportada.
Morde o lábio antes de falar comigo:
— Vamos? — Ela gira o corpo e sai na
minha frente.
— Você veio de carro? — Apresso o passo
para alcançá-la.
— Não. De Uber. Pretendia encher a cara
hoje.
Solto o ar, fazendo barulho. Entramos no
elevador e nos olhamos no reflexo do espelho ao
mesmo tempo. Ela apoia o ombro da parede interna
e me analisa.
— Desculpa. Tudo o que menos queria era te
dar motivos para ficar bêbada — falo suavemente.
— Somos tão bonitos, não somos? — ela
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ignora o meu pedido de desculpas e continua me


encarando. — Conhecemos cada detalhe do corpo
um do outro, das fantasias sexuais. Mas, por dentro,
somos dois desconhecidos.
Antes que eu possa dizer que quero muito
mais do que conhecer seu corpo, a porta se abre e
ela anda pela garagem até o meu carro. Senta logo
que destravo a porta. Tomo meu lugar no banco do
motorista.
— Me deixa te conhecer? Me deixa te amar,
Mon? Não posso te perder — me viro para ela e
seguro seu queixo.
Mônica sorri de um jeito diferente, meiga.
Pela primeira vez vejo uma garota frágil de verdade
e não uma personagem. O jeito como cede fácil me
assusta e me faz ligar um sinal de alerta. Mas estou
tão desesperado que me deixo enganar e aceito a
maneira como cede ao meu pedido.
— Você não vai me perder, Caio. E vai me
amar hoje. Vou fazer amor com você pela primeira
vez.
Só entendo o significado do que disse
quando deixa que solte o meu peso sobre o dela na
minha cama. Nossos olhos não se desligam um do
outro por nenhum momento.
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— Te amo — sussurro, afastando os cabelos


dela dos seios.
Abro a blusa e beijo cada um deles sem
pressa. Subo pelo pescoço e lambo sua boca
suculenta. Um sorriso tímido aparece quando me
abraça.
— Eu também te amo tanto.
Fico com a impressão que quase cai no
choro ao falar. As palavras saem trancadas e isso
me dói.
— E não estou falando porque preciso casar
com você. Porque estou sendo ameaçado pelo meu
avô ou porque quero me redimir por casa da
Mariana. Eu só te amo. Sempre tive medo de
assumir isso e você fugir. Sei que dá valor para a
sua liberdade, mas me deixa te amar.
— Eu deixo. — Ela envolve minha cabeça
com os braços e me deita em seu peito.
Cada batida do seu coração me dá a sensação
de que não é verdade o que diz. Devia estar calmo,
tranquilo, mas o escuto bater apressado, como
quem se esforça muito para fazer o que está
fazendo.
Sinto os dedos puxando minha camisa pelo
tronco e me afasto. Ela abre também minha calça e
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enfia as unhas grandes e vermelhas no elástico da


cueca boxer.
— Deita. — Ela me puxa e me coloca de
costas na cama.
Mônica começa beijando meus olhos. Desce
suave para o meu queixo e volta para a boca. Seu
suspiro me deixa desesperado. Agarro sua nuca e
enfio a língua entre seus lábios. Todo o meu corpo
está rígido e anseia por estar dentro do dela.
— Calma. — Mon se afasta e desce para o
meu peito.
Me lambe e me arranha carinhosamente.
Todos os meus pelos se arrepiam quando chega no
tecido. Mordisca minha barriga e se levanta, tirando
a roupa.
— Sabe, é estranho não te deixar me
devorar, mas é bom.
Sua pele toca a minha cueca quando me
monta. Ela se remexe, esfregando o clitóris até que
a cabeça do meu pau apareça para fora do elástico.
— Se continuar assim, gozo rapidinho.
— Quero que seja mais do que isso.
— Quer que seja como?
— Que você saiba algo de mim. Algo que
desconhece, já que quer tanto.
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Tiro as mãos debaixo da cabeça e acaricio


sua barriga, subindo até a boca que guarda o
melhor beijo do mundo. Preciso tudo dela e ela
precisa saber disso.
— Não é você que precisa de mim. Sou eu
quem precisa de você. Quero te cuidar. Mas se for
importante pra você, vou te ajudar a cuidar de si
mesma. Não importa para onde vou, mas tem que
ser com você.
— Entra em mim como ninguém jamais
entrou: com amor — pede sem tirar os olhos dos
meus.
Mon levanta o quadril e baixo a cueca. Seu
corpo deita sobre o meu e nos abraçamos. O beijo
que me dá é doce e delicado. Um novo sabor dela
que até então eu desconhecida.
— Nunca quis ninguém como te quero —
digo, deixando meu pau escorregar para o seu
interior.
Mônica se contorce e a prendo em meus
braços. Seu gemido me mata e o calor do seu corpo
me deixa louco.
— Ninguém nunca teve de mim o que você
tem. — Enterra o rosto no meu pescoço.
Entro e saio dela conforme seus
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movimentos. Nossas peles se esfregam uma na


outra e já não sei mais quanto posso aguentar.
— Você é incrível quando ama. Vai me
fazer gozar mais rápido do que nunca.
Ela ri, soltando o ar pelo nariz. Levanta,
sentando suavemente em mim. Seus cabelos negros
caem nas costas e volto a tocar sua boca, passando
o polegar de um lado para o outro enquanto tento
me controlar.
— Vamos juntos, amor. — Ela se balança
pra frente e pra trás, mordendo o lábio e apertando
os olhos.
Quando está quase lá, puxo seu corpo e a
coloco junto a mim outra vez. Preciso sentir seu
coração e o quanto bate ao me amar. Preciso que
sinta o meu e o quanto se descompassa por estar
com ela.
— Porra, Mon. Isso é incrível. Não dá mais.
Me sente em você — digo, me entregando inteiro
ao seu toque delicado.
Enterro os dedos em sua bunda e a aperto.
Mônica estremece e se desmancha também. A
vibração se espalha do meu sexo pela minha
barriga até chegar na minha coluna. Me perco
agarrado à mulher da minha vida. Nem posso
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acreditar que está aqui comigo agora.


— Desculpa, não devia ter gozado dentro de
você, não aguentei. Mas não tem problema. Tudo o
que mais quero é ter um filho seu — falo,
colocando seu cabelo atrás da orelha.
Mônica escorrega para o meu lado e coloca
uma mão no meu peito. Suspira e fala com o rosto
encaixado no meu pescoço. Não posso vê-lo, mas
sei que está chorando.
— Pronto para saber mais de mim? —
sussurra.
— Sempre.
— Só tenho condições de falar uma coisa de
cada vez.
— Ok.
— E não quero falar sobre como aconteceu.
Não ainda.
— Tudo bem — concordo, ansioso para
saber o que é.
Ela faz círculos sobre os meus músculos
com a ponta da unha. Para de repente, quando
percebe que estamos em silêncio há bastante
tempo.
— Você nunca vai ter um filho meu, Caio.
Me apoio nos cotovelos para encará-la. Seus
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olhos de esmeralda estão decepcionados.


— Você não está me dando o fora outra vez,
não é? Porque já falei que não vou te deixar, Mon.
Sua cabeça balança e ela rola no colchão,
fitando o teto. Queria poder consertar tudo e só vê-
la sorrir. Sempre.
— Não posso ter filhos — diz tão baixinho
que sei que é porque as palavras doeram muito para
sair de dentro dela.
Puxo seu tronco até se aninhar sob o meu
braço. Acaricio seus cabelos por um bom tempo.
Nenhum de nós dois fala nada. Não conseguiria
controlar a língua se abrisse a boca. Estou
desesperado para saber mais, só que ainda não é a
hora. Recém demos o primeiro passo depois de
tanto tempo.
Quando Mônica adormece, pego o telefone e
desço até o meu escritório. Baixo o volume quando
começa a chamar.
— Alô.
— Oi.
— Fez o que eu disse?
— Sim. Fui ao Manhattan.
— E ela?
— Está dormindo na minha cama.
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— Ótimo.
— E agora?
— Agora você precisa dar um jeito de
descobrir o que Lisboa tem a ver com a vida dela.
— Porra. Não sei como fazer isso —
assumo, andando em círculos.
— Conheço alguém que pode te ajudar. É
um detetive. Vou pedir pro cara te ligar depois.
— Certo.
— Primo...
— Ahn? — faço, apoiando o quadril na
minha mesa.
— Desculpa.
— Pelo quê? É passado.
— Nunca devia ter tocado na Mônica.
Jamais devia ter usado nenhuma delas. Nunca devia
ter agido como se os outros não tivessem
sentimentos e vissem o sexo da mesma maneira que
eu.
— Ok. Só quero consertar tudo isso, ajudar a
Mon e ficar com ela. — Olho para cima, tentando
manter o controle.
— Ainda estou descobrindo um monte de
gente com quem tenho que me redimir por causa
das merdas que fiz quando era um viciado em sexo.
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— Esquece isso, João. Agora só preciso


saber de quem é que a Mônica foi obrigada a se
afastar.
— Vou te ajudar. Eu juro.
— Obrigado.
— Mesmo que a Max não queira nos contar,
a gente vai descobrir o que a Mon esconde e vou
ficar ao seu lado até o fim. Até te ver tirar essa
garota dessa merda toda.
— E eu vou, João. Vou conseguir.

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Mônica
3 anos antes
O dia do meu casamento é o mais feliz da
minha vida. E o mais triste também. Se soubesse o
preço tão alto que pagaria por tudo isso, jamais
teria entrado nessa situação.
É nosso segundo dia em Vegas e o meu café
da manhã de princesa chega no quarto do hotel
trazido pelo meu amor. Pedro sorri por trás da
bandeja e suas covinhas aparecem para mim.
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— Bom dia, mulher da minha vida. Pronta


pra o nosso grande dia?
— Estou tão ansiosa. Mal posso acreditar
que vou mesmo casar com você. Menos ainda que
será em Las Vegas.
Chuto os lençóis e monto nos tornozelos,
dando pulinhos com o quadril. Ele larga o tabuleiro
na minha frente e senta no colchão, com o café da
manhã entre nós dois.
— Comigo as coisas acontecem em grande
estilo, meu amor. Te disse. Podem até não serem
exatamente quando queremos, mas acabam sendo
melhores do que o esperado. — Ele passa a
manteiga em uma fatia de pão e a morde.
— Eu sei. Acredito em você. Se não
acreditasse, não estaria aqui. Só fico chateada pelo
fato de outras pessoas que supostamente me amam
não levarem a sério o nosso amor.
Seu pescoço vira ligeiramente e seus olhos
se estreitam. Pedro para de mastigar e toma um
gole de suco de laranja para engolir tudo mais
rápido.
— Docinho, não quero te decepcionar, mas
já está mais do que claro que as suas amiguinhas da
escola não gostam de você. Elas têm inveja por não
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terem um homem de verdade que as veja como


mulheres, como eu te vejo.
Dou de ombros e enfio uma uva na boca. Ele
pode falar qualquer coisa, ainda me dói saber que
as minhas amigas me abandonaram, assim como os
meus pais.
— Pode até ser, mas meus pais deviam estar
comigo no dia do meu casamento. Sou romântica.
Sempre sonhei em entrar com o meu pai e ser
entregue ao meu noivo por ele. Queria ter um
álbum de festa cheio de fotos com a família e...
Pedro não me deixa terminar de falar. Ele
tapa a minha boca com o indicador e passa por
cima do nosso café da manhã, cobrindo meu corpo
com o seu. Quando me olha, me hipnotiza e
esqueço até sobre o que estava falando.
— Sabe esses lábios que estão em você? —
Ele me beija.
— Uhum.
— E essas mãos que te acariciam? — Elas
deslizam pela minha barriga até chegarem entre as
minhas pernas.
— Ah — arfo sem deixar de encará-lo.
Seu dedo entra em mim e contraio o ventre.
Sinto seu membro me pressionando, mostrando o
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quanto me deseja.
— E isso? Sabe o que significa?
Sacudo a cabeça em negativa. Não sei
mesmo explicar a ele o que quer dizer tudo isso.
— Ah, minha doce menina. — Ele acaricia
meu rosto.
Pedro olha para cada detalhe da minha
expressão enquanto mantém o dedo no meu
interior. Sua boca se enterra abaixo da minha orelha
e ele geme.
— Significa amor. Isso é amor. Quem está
com você é quem te ama. E hoje é o nosso dia. O
fato de nenhuma das pessoas que pensou te amarem
estarem aqui não vai estragar o melhor momento da
sua vida, princesa, porque não vou deixar. Agora
vem, quero a noiva mais linda do mundo.
Sua mão agarra a minha e me ergue da cama.
Seguro em seus ombros e pulo, encaixando minhas
pernas em sua cintura.
— Te amo. Obrigada por cuidar de mim —
falo, as mãos entrelaçadas na nuca dele.
Até esse momento eu ainda pensava que
tudo seria mesmo perfeito. Mas só até esse único
momento.
Quando se é garota de programa, se
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descobre rapidamente que existem duas maneiras


de atender: sob efeito de alguma substância ou
permanecendo limpa. Para a segunda opção, é
necessário ser forte, muito forte. Tanto quanto
homem nenhum é capaz de ser.
Com o tempo, descobriria que trabalhar
usando a primeira hipótese me tiraria do mercado
cedo. E perdi todas as minhas escolhas quanto a
isso. O caminho que optei, me impediu de deixar a
vida de GP no tempo em que gostaria. Então só me
restou aguentar na carne.
Só que, naquela noite, Pedro achava que eu
não seria capaz de cumprir o acordo que tinha com
aqueles caras sem nada na cabeça para me
entorpecer. E, para piorar, o acerto era que tudo
acontecesse logo depois do nosso casamento.
Chego na capela com a visão turva. Mas
feliz. Cada champanhe que bebo é por causa da
alegria. É pelo amor. Uma, três, nove taças. O que
tem dentro de cada uma delas? Não sei exatamente.
Mas fará de mim algo disponível para meninos
mimados e pervertidos.
A música toca e alguém me manda entrar
quando a porta se abre. Sozinha com o meu vestido
de noiva, ando devagar pelo tapete vermelho. Cada
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banco vazio pela qual passo é um vacilo das batidas


do meu coração.
— Você está deslumbrante — meu noivo
sussurra por baixo do véu branco quando paro ao
seu lado.
Um homem começa a falar e não entendo
uma palavra do seu inglês carregado. E não é
porque não sei. É porque estou zonza demais.
Somos só ele, Pedro e eu. De testemunha, apenas
Deus.
Pedro: o homem para quem entreguei a
minha vida. Nossos olhos se encontram e vejo o
delírio em sua íris. Nunca me senti desse jeito. É
como se eu fosse a coisa mais necessária da vida
dele.
Coro e torno a me concentrar no
desconhecido. O leve virar do meu pescoço é o
suficiente para que tudo volte a rodar.
É como um apagão. Em um momento estou
dizendo sim para o cara que celebra o nosso
casamento e, no outro, estou chorando no corredor
do hotel.
— Vai ser rápido, amor. Eles são legais.
Prometeram que vão te tratar com carinho.
Pedro segura meu rosto com as duas mãos.
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Em alguns momentos o vejo duplicado, mas logo


volta a ser só um.
— Por favor. Não quero mais. Estou
arrependida. Por favor, Pedro. Não me obrigue a
fazer isso.
Balanço a cabeça freneticamente. Meu
penteado já deve estar desmanchado, porque fios
estão caídos por dentro do meu decote. Ele me solta
e aponta para as luminárias decoradas do hotel
luxuoso.
— Caralho, garota. O que você tem na
cabeça? Acha que isso é tudo uma brincadeira?
— Claro que não. Sei que é muito mais do
que podemos ter.
Seco o nariz na manga do vestido e o tecido
bordado com pérolas falsas me arranha. Meu
estômago se contrai e pressiono as costas contra a
parede para tentar me manter em pé.
— Então presta a atenção no que vou te
dizer — ele fala, a mão indo em direção ao meu
pescoço e me pressionando. — Você não vai me
fazer de idiota. Não pense que conseguiu o que
queria e agora vai se livrar da responsabilidade.
Ficamos presos aqui como dois bandidos se não
entrar na porra daquele quarto agora. Casei com
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você, não casei?


— Uhum — emito um ruído abafado pela
força que faz na minha garanta.
— Não era isso que você queria?
Tento afirmar, mas mal posso me mover.
Meu medo se mistura com uma dor latejante na
cabeça.
— Fiz a minha parte. Agora faça a sua.
Pedro me solta e minhas mãos se fecham
contra o meu pescoço. Começo a escorregar até o
chão, mas ele me segura. Força a minha boca e tira
algo do bolso que enfia no fundo da minha língua.
— Amanhã você não vai lembrar de nada —
diz, um pouco mais calmo.
Sei que está mentindo. Lembraria para
sempre dessa noite. Engulo a pílula que me deu e
tento encará-lo, mas não consigo sustentar o meu
próprio olhar e Pedro não para de checar a porta
onde quer tanto que eu entre.
— Pedro?
— Ahn?
— A gente nem teve a nossa lua de mel —
falo baixinho em uma última tentativa de comovê-
lo.
Sua mão sustenta a parede, ficando ao lado
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do meu rosto. O jeito que me olha irritado, o


tamanho do seu corpo, tudo me faz ter certeza que
o meu erro foi grande, imenso. Muito maior do que
previa a minha mãe.
— Pra você ver como eu sou bom, mas tão
bom marido que vou ficar sem lua de mel para
poder te dar do melhor. Você vai lá, vai se divertir.
A minha noite será uma merda, mas a sua será
inesquecível.
E ele tem toda razão. Inesquecível.
Não tenho tempo de raciocinar. Pedro abre a
porta e me joga dentro do quarto. Nem tento brigar
com a fechadura. Seria energia perdida. Vejo as
luzes da cidade aos meus pés na parede
envidraçada do outro lado da suíte.
Noto um conjunto de sofás com uma mesa
de centro cheia de garrafas de bebidas. Na lateral,
um pequeno balcão de bar também repleto delas.
Os homens olham para a televisão e gritam quando
o que acho que é um gol acontece. Quando o
frenesi passa, notam a minha presença.
A música baixa e ouço as risadinhas. Aos
poucos, eles vão se aproximando. Tenho certeza de
que era para ser menos gente, mas minha cabeça
está tão confusa que já duvido da minha própria
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existência. Ao formarem um círculo ao meu redor,


conto cinco deles. Tento de novo: seis. Quatro.
Fecho os olhos e aperto a têmpora.
— Olha. Nossa noivinha chegou.
— Pela cara dela, deve ser virgem.
— É verdade. Parece que tem dezesseis
anos.
— De repente até quinze. Porra, vamos
deixar essa boceta acostumadinha essa noite.
— Estamos muito felizes que aceitou fazer
isso, neném.
— Agora é toda nossa.
Me imagino lutando com eles, aumentando
sua ânsia por me possuírem contra a minha
vontade. Posso escolher ser dócil, pedir por favor
ou qualquer coisa do tipo. Correr, gritar. Mas não é
o que faço. Opto por mentir quando um lampejo de
sanidade passa diante dos meus olhos.
Não. Definitivamente não teriam isso de
mim, uma garota frágil, pronta para ser violada.
Engulo em seco e tento falar do jeito mais seguro
que consigo:
— Vocês é que são meus, meninos. Quero
que me mostrem o que têm aí, porque o broxa do
amigo de vocês ali fora só sabe foder uma mulher
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batendo nela. Então quero ver quem é homem o


suficiente para fazer gozar uma garota praticamente
virgem.
Eles riem. Meu coração bate desenfreado.
Tenho medo que não acreditem em nada da
bobagem que despejo, tentando fazê-los amansar
suas bolas desesperadas por maltratar uma mulher.
É pela minha vida. Pela vida do meu filho.
Não vejo outro jeito de fazer isso que não esse. Eles
se entreolham e alguns dão de ombros.
O primeiro se aproxima e sua mão passeia
do meu pescoço até a minha nuca. O beijo tem
gosto de morango com cerveja. Não é ruim.
— Me deixa mostrar o que posso te dar,
gatinha.
O moreno me vira e abre meu vestido de
noiva em um puxão. O tecido branco desliza pelos
meus braços e tento cobrir meus seios. Rio da
minha inocência em tentar me mostrar confiante.
— Que bundinha.
Tombo para a frente de uma das poltronas
com o tapa estalado na minha nádega. Não é forte o
suficiente para doer, mas me assusta.
Passo uma perna para fora da armação do
vestido e depois a outra. De lingerie, inspiro fundo
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para manter o equilíbrio e não cair ao me virar de


frente para eles outra vez.
Solto o cabelo e giro a cabeça, usando os
fios como um chicote. Alguns gritam e outros
mordem os punhos, tentando controlar a ânsia por
pular em cima de mim. Tonta com o movimento,
sento no sofá e ergo os joelhos, colocando os pés
como apoio na beirada. Ainda não consigo
acreditar que vou fazer isso.
— Quero saber como é gozar na boca de um
homem de verdade. Tem alguém aqui que sabe
fazer isso?
Posso sentir minha pulsação no pescoço, de
tão acelerada que está. Só consigo pensar que rirão
da minha cara, se jogarão em cima do meu corpo e
me abusarão como doentes. Mas me surpreendo
quando um loiro tira a camisa e se ajoelha aos meus
pés.
— Vou te mostrar o paraíso, bebê. — Ele
segura as minhas coxas e se enterra entre as minhas
pernas.
Puxo seus cabelos quando a língua escorrega
sobre a minha calcinha. Ele afasta o tecido para o
lado e cospe. O indicador custa a entrar, mas
quando chega ao fundo, me faz arquear as costas.
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Logo um pau surge nos meus lábios. Todos


eles parecem mais dóceis e o meu medo começa a
se dissipar. Coloco a língua para fora e deixo que
entre em mim. Grosso e com a cabeça
avermelhada, mal se enterra e já começo a
engasgar.
Alguém tira meu sutiã com delicadeza e
bocas sugam meus seios enquanto mãos passeiam
pelo meu corpo. Estremeço e desligo por alguns
segundos. Volto com as contrações no meu clitóris
e o pau que força a minha entrada. Me assusto com
o que estou sentindo: é bom.
— Fica mais linda gozando, princesa —
alguém fala no meu ouvido.
Balanço com as estocadas e gemo com
tantos beijos. Homens fortes, altos e deliciosos, se
entregando em uma única tarefa: me dar prazer.
Não gozo com o primeiro que me come.
Quando ele se rende e vibra dentro de mim, me
beija antes de escorregar para fora.
— Minha vez. Não saio daqui até te fazer se
entregar de novo, baby — um deus negro diz ao
cobrir o meu corpo.
Ele não tem muito trabalho. Sensível da
primeira vez, perco o controle quando seu pau toca
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o fundo da minha vagina. Sua pele roçando no meu


clitóris é como fogo na palha.
Ouço suas risadas e sinto outra boca na
minha enquanto ainda tento puxar o ar. Recupero o
fôlego e minha garganta se fecha quando assumo a
mim mesma o que está acontecendo: no meio de
toda essa merda, estou sentindo prazer.
É difícil aceitar como esses desconhecidos
me tratam com mais carinho do que o Pedro, que
deveria me amar. E ele é tão burro que me fez um
favor, deixando que eu descobrisse isso sozinha ao
me entregar para todos esses homens.
Tento me levantar quando o segundo goza,
mas me viram e me empurram de leve. De quatro,
não posso ver quem entra em mim.
— Mama aqui, gatinha.
Dois paus são pincelados na minha boca. Os
lambo. A cada movimento forte dentro de mim,
fecho os olhos. Percebo logo que não é o que
querem. Quanto mais os encaro, mais rápido
perdem a batalha.
Pedro errou, me entregando as chaves da
minha liberdade. Deixou que descobrisse algo que
eu não sabia que tinha: poder sobre os homens.
Com pequenos detalhes, percebo ser capaz de
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controlar todos esses caras desesperados por mim.


Cuspo nas cabeças dos paus que lambo e
sorrio, encarando o moreno e o loiro na minha
frente. Um terceiro chega e me beija, segurando
meus cabelos. Oferece também o seu pau, que
engulo o máximo que posso e depois o coloco para
fora.
— Ai, fode essa bocetinha, lindo. Massageia
meu grelinho — gemo, olhando para trás.
— Porra, você é deliciosa.
A mão enorme se embrenha entre as minhas
pernas e me acaricia. Desfruto do toque e deixo que
os outros dedos me sintam. Meu terceiro orgasmo é
monumental. Um líquido escorre de mim em tanta
quantidade que fico sem graça.
— Que foda, meu. — O homem em cima de
mim solta seu peso e estremece.
Acidentalmente, enquanto goza, seu pau
escorrega para fora e entra com tudo por trás. Urro
de dor e desabo pra frente, mas o cara não consegue
controlar os movimentos, gozando como um louco
e gemendo no meu pescoço.
— Desculpa, carinho — sussurra e morde
meu ombro de leve.
Com a entrada liberada, depois dele, vem
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outro. E outro. E outro. Acho que é aí que o


comprimido que Pedro me deu faz efeito de
verdade.
Acordo no hospital não sei quanto tempo
depois. Não há nada de errado comigo e nenhum
daqueles caras me fez mal. Só não estou mais
grávida. E Pedro quer me matar.
— Onde é que você estava com a cabeça? —
grita assim que abro os olhos.
— Pedro, onde estamos?
As luzes me cegam e minha nuca queima.
Aperto o pescoço por trás, tentando fazer a dor
parar.
— Estamos no hospital, gastando tudo o que
você ganhou fodendo aqueles caras ontem, sua
burra. Por que não me falou que estava esperando
um bebê?
Percebo naquele momento que quando você
permite que alguém te decepcione várias vezes, a
culpa não é dela, é sua. E eu já estava carregando
uma porção de culpas na minha bagagem, podia
deixar essa de lado. Pelo menos na cabeça de
Pedro, porque eu já sabia que o meu coração a
levaria para sempre. Só que não permitira que ele
tivesse outra arma contra mim.
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— Porque eu não sabia — minto.


— Então saiba que a sua noite ontem foi em
vão. Você perdeu o bebê e estamos mais
endividados do que nunca com a conta do hospital.
Não consigo derramar uma lágrima. Só duas
coisas dominam os meus pensamentos. Uma delas
é que preciso me afastar de Pedro. A outra, que a
minha mãe sempre teve razão.

***

Demoro a perceber onde estou ao acordar.


Caio dorme de barriga para cima ao meu lado. Seu
rosto perfeito e relaxado tem a expressão de paz
que só os homens conseguem carregar.
Queria confiar nele. De verdade. Mas não
tenho coragem de acreditar em mais ninguém e o
que descobri ontem sobre ele ter comprado o
Manhattan me deixou ainda mais insegura.
Pode ser por amor, medo, proteção. Não
importa, Caio entrou para a lista de homens que me
tirou a liberdade e tentou fazer de mim sua posse.
Adoraria acreditar no conto de fadas.
Receber dele as chaves da porta da prisão e fingir
que é bom viver ali só porque as grades estão
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abertas. Só que a minha inocência já foi embora há


tempos. Sei que os portões podem se fechar a
qualquer momento.
Mas eu sei. Não amamos alguém por causa
das coisas boas que faz. Amamos apesar das
bobagens que comete. Foi assim que descobri que
não amava Pedro de verdade, porque as coisas ruins
que ele me fazia não me mantiveram apaixonada.
Essa é a grande diferença entre ele e Caio: apesar
dos passos errados que dá, o amo cada dia mais.
É o sinal de que devo ir embora. Outra vez
perdi o que me mantinha livre. Outra vez preciso
me reconstruir. Outra vez não vou conseguir
sozinha.
Desço as escadas na ponta dos pés. Olho
para a casa de Mariana através da janela enquanto
ligo para a única pessoa que pode me ajudar sem
me cobrar nada em troca.
— Mãe? — sussurro, abraçada à camisa de
Caio.
— Tatiana?
Meu peito perde o compasso a cada vez que
ela me chama assim. Faz voltar todas as decisões
que fui obrigada a tomar na minha vida, inclusive a
que me impede de casar com Caio agora: o fato de
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eu ter de viver escondida de Pedro e nunca poder


me divorciar dele se quero continuar viva.
— Você lembra aquilo que me disse quando
te liguei pedindo ajuda três anos atrás?
Ouço o suspiro do outro lado da linha. Só
uma mãe reconhece pela voz do filho que sua alma
está ferida.
— Que nada quebra como um coração — ela
responde sem hesitar.
Dessa vez, quem suspira sou eu. Admitir que
a sua mãe está certa é sempre duro.
— Você tinha razão.
— Eu também tinha razão sobre a outra
parte? — ela fala rápido demais, como se tivesse se
preparado para essa ligação por um bom tempo.
— Sim. Você tinha razão quando disse que
eu voltaria para casa um dia. Preciso de ajuda outra
vez. Perdi o meu trabalho aqui e, se ficar, posso
colocar a minha vida e a de vocês em risco.
— Não pense duas vezes. Sua família está te
esperando. Sempre estará. Será difícil, mas vamos
conseguir juntos.
— Obrigada, mãe.
— Tem dinheiro para vir?
— Estava juntando. Falta pouco, mas dou
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um jeito. Não se preocupe.


— Tatiana?
— Sim.
— Foi o Pedro? Ele te encontrou outra vez?
Aperto o telefone com as duas mãos. Me
sinto tão culpada por fazer toda a minha família ter
medo dele, por vê-los vivendo como fugitivos
mesmo depois de tanto tempo.
— Não, mãe. Mas se eu não for embora
agora ele vai me achar.
— Então não perca tempo.
Desligo e olho para o contato dela no meu
celular. Sem fotos, sem pronomes. Eles não
existem. Eu não existo. Se me deixasse entregar ao
amor e casasse com Caio, Pedro viria atrás de mim.
Agradeceria pessoalmente por tê-lo ajudado a me
encontrar na hora em que nosso casamento fosse
publicado em edital nos jornais e na internet.
Pior de tudo: Caio descobriria que menti
para ele desde o primeiro dia. Meu nome não é
Mônica, é Tatiana. Todos os meus documentos são
falsos, assim como os que consegui para a minha
família, que hoje depende bastante do meu dinheiro
por causa disso.
Pedro não arruinou só a minha vida, também
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destruiu o destino de cada uma das pessoas que


amo. Não posso permitir que faça isso com Caio
também. Preciso ir embora e, enquanto não posso,
preciso fazer com que o amor da minha vida
acredite estar tudo bem entre nós. Mesmo que meu
coração se quebre outra vez.

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Caio
Passaria o dia inteiro, toda a semana e a
minha vida aqui admirando essa garota se pudesse.
Mas se não aparecer na porcaria daquele escritório
hoje vai ficar cada dia mais difícil ter Mônica
comigo.
Enrolada no lençol, seu corpo delicado não
parece ser aquele que guarda sua alma tão
selvagem. Ah, Caio, você só escolhe as
complicadas?
— Bom dia, coelhinha — sussurro e beijo
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seus cabelos bagunçados sem a intenção de acordá-


la.
Mon apenas suspira mais forte. Deixo o
quarto e preparo uma bandeja com o seu café da
manhã. Quando volto e abro a porta, já está sentada
sobre os travesseiros em pernas de índio. Minha
camisa cai nos seus ombros e ela sorri com o rosto
inchado. As covinhas logo desaparecem quando
percebe o que tenho nas mãos.
— Bom dia, meu amor. Preparei seu café na
cama.
Puxo um banco e apoio a bandeja nele.
Sento ao lado de Mônica no colchão e me inclino
para beijá-la, enfiando a mão em seu pescoço, por
baixo dos cabelos.
— Bom dia — diz com a voz rouca.
O beijo que me dá é retraído. Me afasto e a
vejo olhando para a comida. Depois, brinca com as
mãos e puxa a gola da camisa até o pescoço sem
me encarar.
— Ei, o que foi? Ainda está chateada
comigo, não é? — Levanto seu queixo e encontro
seus olhos de esmeralda.
— Claro que não. Só estou um pouco
enjoada. Acho que bebi demais esse fim de semana.
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— Não precisa comer, se não quiser. Só


toma bastante água, ok?
Seu queixo balança e ela volta a sorrir. Me
envolve com os braços e deita no meu peito.
— Desculpa, é tudo tão estranho. Parece que
depois de tanto tempo somos pessoas diferentes que
mal se conhecem. É outra coisa quando envolve
amor e demonstrar os nossos sentimentos. Quando
estou com um desconhecido só pelo sexo não sinto
esse desconforto e...
Puxo seus braços quando começa a falar e
tapo a boca dela com a minha para que não
continue. Não posso ouvi-la contar esses detalhes
mais.
— Não vamos mais falar disso, está bem?
— Ok. — Ela coloca os cabelos para trás da
orelha e me encara.
Não precisaria me dizer que está assustada
sobre se abrir desse jeito. Posso ver em cada
detalhe, cada movimento seu. A segurança que tem
quando seu corpo é a sua arma vai embora ao
precisar trabalhar com os sentimentos e isso me
preocupa tanto. Faz com que me sinta um filho da
mãe, tirando dela o que lhe dá confiança e sustento.
Só que não suporto mais. Simplesmente não posso
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permitir que continue fazendo isso.


— Olha, tenho que ir trabalhar. Queria te
colocar em um pedestal de ouro, com uma redoma
de vidro para te proteger. Infelizmente, não posso.
Acho que você detestaria.
Sua risada me deixa mais seguro sobre estar
no caminho certo. Mônica estende as pernas e fica
olhando para o café da manhã intocado.
— Detestaria mesmo. Você sabe que gosto
de movimento e uma vida agitada.
— Tivemos uns meses, hummm, intensos, se
é que me entende. Sexo, bebidas, orgias, festas,
joguinhos de sedução. Hoje é o primeiro dia depois
que colocamos as cartas na mesa e não quero que
seja um tédio. Aos poucos vamos ajustando a nossa
rotina e colocando de volta coisas que gostamos de
fazer, mas, no início, será um pouco chato. Até
porque estou com esse projeto grande para fechar.
Prometo que vou te dar uma vida incrível. Só, por
favor, entenda isso e tenha paciência. Não fuja de
mim. — Rio, mas Mon fica tensa.
Seus ombros relaxam alguns segundos
depois e ela se joga sobre os travesseiros. A camisa
se abre, revelando a pele que me seduz por
completo.
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— Vou passar em casa, fazer algumas coisas


e ir na academia.
— Você pode ir na academia aqui do
condomínio. Tem um personal. Posso ligar e
agendar, se quiser.
Rimos quando ela tenta disfarçar o rolar dos
olhos. Não quero que fique longe por muito tempo,
mas não posso controlar cada passo que dá.
— Vou na minha academia. Se mudar de
ideia, te aviso. Mais tarde volto para preparar um
jantar para nós dois.
— Traga suas roupas. Vai passar a noite aqui
comigo. — Apoio as mãos no colchão, nas laterais
do seu corpo.
Beijo o pescoço macio e deixo meu peso cair
sobre ela aos poucos. O fino tecido da camisa
social que visto e que nos separa não é suficiente
para que meu pau não a deseje mais do que tudo.
— Caio, não posso dormir aqui todos os
dias. Também preciso ir atrás de outra coisa para
fazer da vida. — Ela tenta me afastar, colocando as
mãos no meu peito, mas não cedo.
— Ainda vamos conversar melhor sobre
isso. É sério, Mon, quero casar com você.
Felizmente, teremos que acelerar as coisas. Porque,
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porra, preciso dormir e acordar ao seu lado todos os


dias. E isso não é de hoje. É desde a noite em que
nos conhecemos, acredite em mim.
Aspiro o aroma do seu peito ao deslizar pelo
seu corpo. Olho para cima e ela pestaneja. Mordo
um mamilo e a sinto suspirar. As unhas se enterram
nas minhas costas.
— Eu acredito — Mônica geme, jogando a
cabeça para trás.
Desconfio do que me diz. Mon não é do tipo
que cede sem discutir. É estranho quando você
prepara a sua armadura mais forte e suas melhores
armas e o oponente se rende.
— Acredita também que te faço gozar em
cinco minutos só com a minha língua? — pergunto,
sedento do seu sabor.
Porra, por que sua risada é tão gostosa? Ela
se apoia nos cotovelos e me olha petulante.
— Quatro e cinquenta e nove, quatro e
cinquenta e oito...
— Ah, caralho. Não vai dar — digo, me
levantando.
Mônica abre a boca, mas desiste de falar.
Faz um biquinho e sopra o ar.
— Por que você é tão mau comigo? Sério
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que vai embora sem pagar o que prometeu?


— Não foi isso que disse.
Abro o cinto e o zíper, baixo a calça e sorrio
malicioso. Sei que vou me atrasar, mas foda-se.
Tento abrir os botões, mas vejo que vou demorar
muito então arranco a camisa de uma vez.
— Fazer amor com você ontem foi incrível,
coelhinha, mas te foder em um 69 é matador —
digo, montando nela.
Seus olhos ficam ávidos de repente. Seguro
o pau pela base e encaixo entre os lábios da minha
morena. Ser engolido por essa boquinha assim de
manhã é tudo o que quero para o resto da minha
vida. Mais nenhuma mulher me importa.
— Ah, isso, minha deusa. Suga tudo
enquanto te faço gozar na minha boca.
Abro os lábios da sua bocetinha e sorrio ao
ver que já está pingando por mim. Bebo seu suco
doce e me lambuzo. Mônica tem um perfume
inebriante entre as pernas que me deixa viciado.
Enterro a língua entre a carne macia e subo
até achar o clitóris. Suas mãos me apertam e meto
forte em sua boca, ouvindo o som das minhas bolas
se chocando com seu rosto delicado.
Perco o controle e deixo de lado todo o meu
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discurso. Mônica é minha puta e adoro isso. Tanto


quanto adoro quando é minha namorada, minha
amiga e como vou adorar quando for minha esposa.
Mas agora a quero bem vadia, engolindo meu pau
como só ela sabe fazer.
Ponho pressão quando percebo que o seu
grelinho está cada vez mais intumescido. Também
estou assim, pronto para gozar em sua garganta.
— Vai, baby. Entrega essa bocetinha pra
mim que vou te dar leitinho de café da manhã.
Pressiono suas coxas e afasto a bunda dela
alguns centímetros do colchão para poder engolir
toda sua boceta. Meu coração é um descompasso,
assim como a minha respiração, mas preciso dela,
preciso que se entregue a mim antes de me entregar
a ela.
A cabeça do meu pau palpita e ele se
enrijece mais ainda. Mônica aperta meu quadril
contra seu rosto e me força para dentro da sua
boquinha tenra, desesperada por mim.
Giro a ponta da língua e a afasto da sua pele
rosada e úmida. Vejo a flor que é seu clitóris dar
suas primeiras contrações. Volto a tocá-lo, sugando
o botãozinho com vontade. Sua excitação explode e
o líquido escorre de dentro dela quando goza.
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Mônica trava uma luta com o meu corpo sobre o


seu.
Perco o controle ao senti-la alucinada sob
mim. Ergo o quadril e volto a baixá-lo, socando
forte entre seus lábios. A sensação é louca e
deliciosa. Tenho medo de machucá-la, mas não
consigo parar de forçar contra sua boca. É
arrebatador. Estremeço e relaxo, gozando como um
louco em sua garganta.
— Você ainda acaba comigo — gemo,
mordendo a parte interna da sua coxa.
Deslizo para fora dela e rolo para o lado. Sua
mão acaricia os gominhos da minha barriga e sinto
cócegas.
— Pode acreditar, você também acaba
comigo — fala, passando o punho no rosto para
limpá-lo.
Levanto e a puxo pela mão. Seus seios
tocam meu peito quando a envolvo em meus
braços.
— Pra mim é muito difícil entender como
ninguém conseguiu casar com você ainda. Me dá
muito medo de não conseguir também. Todo
mundo falou a vida inteira que não sou um cara
ambicioso. Bom, tenho aí uma meta e não vou
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desistir dela. Se tem algo que cobiço, é ser o cara


que vai casar com você, Mon — assumo, cheirando
seus cabelos.
Sinto a rigidez do seu corpo delgado nas
minhas mãos. Ela disfarça, me puxando em direção
ao banheiro.
— Vem, vamos tomar um banho rápido,
porque você tem que trabalhar. Esse negócio de na
riqueza e na pobreza é muito bonito, mas prefiro o
primeiro.
Chego no escritório relutante. A testa
franzida do meu avô me desestimula mais ainda.
— Caio, venha aqui — ordena assim que
passo diante do aquário que é sua sala.
No meio de todos, separado apenas por
paredes de vidros, ele consegue controlar todo
mundo. Volto um passo e abro a porta.
— Sim.
— Boa tarde.
— Bom dia — falo, olhando no relógio de
pulso.
Ainda são onze horas. Entro e enfio as mãos
nos bolsos da calça.
— Espero que tenha se atrasado por ter ido
dar entrada nos papéis do casamento.
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Reviro os olhos e suspiro. Por que é tão


difícil lidar com ele?
— Mal pude conversar com a Mônica sobre
isso. Não é o tipo de coisa que se coloca pressão.
Quer que eu perca a noiva?
— Prefere perder todo o seu dinheiro? E não
seja ridículo, qualquer garota casaria amanhã com
um cara rico como você. E, se ela não quiser, tem a
Mariana.
— Não vou voltar para a Mariana, vô. Isso
está fora de questão.
Devagar, ele tira os óculos e os coloca sobre
a mesa. Cruza as mãos e sorri.
— Vai casar com a pervertida e fazer da sua
mulher sua amante, então? — Sorri, malicioso.
Cerro o maxilar e bufo. Se tem alguém que
sabe me tirar do sério é ele.
— Já sei que correu para os braços da
Mariana quando levou um chute na bunda da sua
namoradinha.
— Não foi bem assim que as coisas
aconteceram.
Seu Artur soca a mesa. Me desafia com o
olhar.
— Não me importo com quem trepa ou com
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quem vai casar. Só quero a porcaria daquele


negócio, Caio. Quero morrer em paz, sabendo que
deixei um homem de verdade no comando da
minha empresa. Se com toda essa pinta de galã e o
dinheiro que tem não consegue manter um
casamento ou amarrar com uma garotinha, então
você não está pronto para administrar esse lugar.
— Não vou discutir com você sobre o que
penso. Minha vida privada não tem nada a ver com
isso. Tenho feito um bom trabalho aqui e...
— E porra nenhuma. Vinte e nove dias,
Caio. Vinte e nove dias e quero esses dois papéis na
minha mesa: a sua certidão de casamento e o
contrato com a P-Tor.
Solto o ar devagar e me viro para deixar a
sala. Tento me controlar, mas não consigo. É mais
forte do que eu.
— Sabe, tem gente que fala que toda a morte
é uma escolha. Talvez a do meu pai tenha sido isso:
a escolha dele em fugir de você.
Quando saio, ouço o estrondo. É vidro se
partindo e sei o que é: o retrato da minha família
que ficava sobre a mesa do velho. A porra da
família que sequer lembro que tive, porque eles
explodiram no ar atrás de mais dinheiro e poder.
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Sempre por ordens do meu avô.


Não vou mentir, a vida inteira fui um bon
vivant. Me pergunto se a culpa tornou Artur Bauer
tolerante quanto a isso. Na ausência do meu pai,
teve que mudar todos os planos que tinha para si e
acabei perdido no meio dessa história. Tinha vezes
em que me queria como um grande empresário e
me trancava em casa para estudar e ter aulas
particulares. Em outras, me emprestava um barco
para dar uma festa milionária de um final de
semana inteiro.
Quando era mais novo, minha vida era
baseada em ir a eventos e curtir com o João. Mas
isso nem é a minha primeira escolha quando se
trata de diversão. Usar meu tempo agradando quem
eu gosto sempre foi minha prioridade. O que
acabou me afastando das festas e mulheres foi
conhecer Mariana.
Viajar com ela e as crianças pelo mundo, ir
aos melhores restaurantes, dar à minha ex as
melhores joias. Isso virou a minha alegria.
Então meu casamento acabou e fiquei um
pouco perdido. Voltei a sair com o meu primo. Fugi
para a noite outra vez, mas algo dentro de mim
ainda estava faltando. Até a coelhinha chegar na
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minha vida.
Com ela, descobri que não sabia nada sobre
aproveitar os meus dias. Para o meu desespero,
Mônica pensa que nasceu para dar prazer aos
outros. Mas não é bem assim. Ela é uma ótima
professora no que se trata de curtir os bons
momentos, só que foi melhor ainda em me ensinar
que existem muitas outras fontes de prazer.
Cada manhã mais comprida ao seu lado na
cama, uma tarde carinhosa no ofurô, uma garrafa
de vinho compartilhada. Fazer nada com ela é
melhor que qualquer coisa que o meu dinheiro
possa comprar para me fazer feliz por alguns
instantes. Aquilo que começou tudo entre nós, o
simples dormir de conchinha, é das coisas mais
deliciosas que já fiz.
Todas as funções do meu corpo ficam alertas
e presentes quando estou ao seu lado. Nada mais
importa. E é o que pretendo para hoje e para
sempre: sermos eu e ela, aproveitando o melhor que
a vida tem a nos dar.
Chego em casa já tirando o terno. Jogo o
casaco sobre o sofá junto com a gravata e puxo a
camisa para fora das calças. Abro alguns botões e
paro ao ver a mesa posta: três lugares. Franzo a
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boca e vejo a cabeça de Lisi surgir atrás da parede


da cozinha. O seu sorriso se desafaz ao notar minha
expressão.
— Gatinho, tudo bem? Parece que não
gostou de saber que vou jantar aqui essa noite. —
Seu corpo pula diante de mim.
— Claro que não. Só pensei que seríamos eu
e a Mônica hoje, mas parece que ela quer fugir de
alguns assuntos.
Lisi suspira e morde a boca. Usa um vestido
verde soltinho que adoro, porque consigo ver cada
detalhe do seu corpo quando se movimenta.
— Gato, tenha paciência com ela. Soube da
confusão com o buquê e a Mariana. Vai dar tudo
certo, só está um pouco assustada ainda. É normal
que queria fazer algo para se sentir segura.
— Tipo sexo?
— Sim. — Lisi ri e olha para os pés.
— E por isso você está aqui.
— Não — ela fala de um jeito cantado e
balança a cabeça. — Estou aqui para tentar manter
um ambiente de paz. Parece que vocês dois andam
soltando farpas para todo o lado. Relaxar um pouco
não vai fazer mal a ninguém.
Fico quieto. Não posso dizer a ela que
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desejava relaxar com a minha namorada apenas.


Porra, curto muito estar com as duas, mas queria
que a Mon entendesse que estamos entrando em um
momento mais nosso agora.
— Ok. Vamos relaxar então. O que vamos
beber?
— Colocamos um vinho branco na geladeira
— fala.
Caminho até a cozinha e pego o vinho. Abro
a garrafa e coloco três taças sobre o balcão.
— Lisi — digo, servindo a primeira e
olhando para o líquido branco. — Por acaso você
sabe de algo que não sei sobre a Mon, mas que eu
deveria saber? Tenho me sentido perdido em
relação a ela.
Vejo de canto de olho que Lisiane cruza os
braços e morde o lábio superior. Ela se aproxima
enquanto sirvo o segundo copo.
— Caio, acho que só a Max conhece a
Mônica melhor do que nós dois. A única coisa que
sei agora é que ela está chateada por você ter
comprado o Manhattan. E, convenhamos, foi um
tanto possessivo fazer isso.
Paro de servir e a encaro. Seus olhos azuis
tentam me xingar pelo meu erro.
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— Foi um ato desesperado. Já não sabia


como tirar a Mon disso.
— E, pelo jeito, também não sabe que
comprar a boate não é garantia de nada.
— Como assim? Você sabe de algo e não
quer me contar, viu?
— Sabe do quê? — Mônica surge por trás de
Lisi e passa o braço sobre seu ombro.
Os cabelos molhados pingam no vestido
verde da outra. Mon usa uma camiseta minha que
vai até a metade das coxas e mais nada.
— Oi, amor. Perguntei à Lisi se ela sabe o
que vamos jantar, mas ela não me disse — minto,
esticando o pescoço para beijar Mon.
— Pedi sushi. — Ela senta em um dos
bancos do balcão e pega a última taça que servi.
As duas trocam olhares cúmplices e sei que
há algo aqui. Ergo o meu copo e sorrio, fingindo
não ter percebido nada.
— Um brinde aos nossos bons momentos
juntos.
— Aos bons momentos — falam ao mesmo
tempo.
O telefone de Mônica toca e ela desaparece
para atendê-lo. Bebo um gole generoso e suspiro.
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— Deve ser a comida — Lisi diz,


constrangida.
No mesmo momento, meu telefone toca
também. É da portaria do condomínio.
— Acho que não, porque estão ligando para
mim — falo e atendo.
Libero o entregador e vou para a porta
esperar por ele enquanto Lisi leva as taças e a
garrafa para a mesa de centro da sala. Pego as
coisas e, quando volto, ela levou tudo para perto do
sofá. Mônica já está sentada no chão ao seu lado.
— Aqui está. — Entrego o pacote para elas e
me sento entre as duas.
— Estou morrendo de fome. — Mon bate
palminhas, ansiosa enquanto a outra arruma as
coisas sobre a mesa de centro. — Toma, bebe,
amor.
Me entrega a taça e faço o que diz. Lisi
passa o braço na minha frente e enfia um sushi na
boca dela.
— Toma, docinho.
— Hum. Que delícia.
— Pra você também, príncipe. — Ela me
oferece.
Como. Quando termino de engolir, Lisi já
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está com a taça diante do meu nariz outra vez. Bebo


e volto a me servir. Ao terminar, percebo que as
duas não beberam nada ainda, mas já estou na
terceira dose. As coisas começam a ficar turvas.
Devoramos o jantar em minutos. Mônica
levanta para colocar uma música e volta, sentando
entre as pernas da amiga. Fico frustrado, mas tento
deixar de lado. Era para estar no meu colo, mas
tudo bem. Uma noite gostosa com as duas não é
ruim.
— Acho que agora já quero a sobremesa. —
Mon vira o rosto de lado e devora a boca de Lisi
com o olhar.
Cada toque que dão uma na outra parece que
é medido para me excitar. Pego mais uma taça que
me oferecem e relaxo, apoiando as costas no sofá.
A tontura já me domina.
— E o que temos de sobremesa, amor?
— falo com a voz rouca.
— A boceta da Lisi.
Rimos. Fico de joelhos e enfio o rosto entre
as duas. Minha boca sente as línguas quentes que se
misturam. Passo as mãos em suas costas e a
vertigem em domina. Quase as derrubo ao tentar
me segurar.
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— Ei, está tudo bem?


Mônica me ajuda a sentar. Deixo a cabeça
cair sobre o sofá e fecho os olhos. Não sei se
consigo abri-los outra vez.
É. Não consigo.

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Mônica
Olho para o corpo adormecido de Caio. Lisi
me ajudou a colocá-lo na cama. Ela segura meu
braço com delicadeza e me puxa até a porta do
quarto, como se ele de fato pudesse ouvir alguma
coisa depois do remédio para dormir que
colocamos na sua bebida. Foi ideia minha, mas ela
quem conseguiu os comprimidos. Mais cedo, logo
que Caio saiu para o trabalho, corri até a casa de
Max em busca de ajuda.
***
Minha amiga abriu a porta e alisou a barriga.
— Ah, você está de volta. — Sorriu.

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— Por pouco tempo. — Beijei seu rosto e


passei por ela. — O João está em casa?
— Sim. Vai tirar a semana de folga por
causa do casamento.
— Droga.
— Ei — ela protestou.
— É que preciso da sua ajuda e ele não pode
saber. Vem. — Puxei Max até a cozinha,
atravessando toda a sala.
Olhei para trás para me certificar de que
João não estava no andar de baixo. Ao fitar Max do
outro lado do balcão, percebi a testa franzida e os
braços cruzados entre os seios e a barriga de
grávida. Sentei no banco alto diante dela e busquei
toda a minha paciência para aquela conversa.
— Max...
— O que você está aprontando? Pelo tom
meloso da sua voz dá pra ver que tem algo fora do
lugar.
— O Caio comprou o Manhattan —
murmurei, apoiando os cotovelos no mármore.
— O quê? — ela berrou, aproximando o
rosto do meu.
— Shiu.
Virei o pescoço e olhei para a escada. Apoiei
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o queixo nas mãos e arregalei os olhos.


— Dá pra gritar menos? Preciso te pedir um
favor antes do João aparecer.
— Você precisa me falar o que está
acontecendo. Até já sei o motivo do Caio ter
comprado o Manhattan, mas quero entender o que
você vai fazer da sua vida agora. Onde vai atender?
Você sabe que é arriscado colocar fotos suas na
internet e atender em motéis como eu fazia, Mon.
Aquele cafetão pode te encontrar. O que tem em
mente?
Soprei o ar e joguei para trás os cabelos que
caíam no ombro. Queria contar tudo para a Max.
Dizer que Pedro foi muito mais do que um cafetão
na minha vida. Só que ser sincero com quem
amamos é mais arriscado do que ser sincero com os
inimigos. Ao tentar me proteger, Max poderia abrir
a boca para João e aí Caio armaria uma confusão.
Minha melhor amiga não faz ideia de que já
fui casada e que Pedro está atrás de mim até hoje.
Para justificar o fato de que não tenho redes sociais
e não existo na internet, falei a ela que era tudo por
causa de um cafetão que me ameaçava. O que não
deixa de ser verdade.
— Não posso explicar tudo agora.
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— Ah, entendi. Você vai parar de atender, é


isso? Vai casar com o Caio e dar um jeito na sua
vida. — Ela sorriu, esperançosa.
Sua expressão mudou quando me viu fechar
a cara. Apoiei as mãos nos joelhos e esfreguei a
calça jeans.
— Não é bem assim, Max.
Os cílios dela bateram sem parar, como se
fossem levantar voo. Pareceu não ter processado
bem o que eu disse.
— É como, então? Se você está aqui no
condomínio é porque se acertou com o Caio, não
foi? Ele comprou o Manhattan. Vocês vão casar. O
que é que está errado nisso, Mônica?
— Tudo — falei, baixando a cabeça.
Alisei os fios que caíram sobre o meu braço
outra vez. Bendito cabelo que me dava tanto
trabalho e tanto dinheiro.
Não sabia que palavras usar para não falar
demais. Tudo precisava ser medido.
— Preciso que me dê o telefone de algum
ex-cliente seu. Dos que pagam melhor. Não
importa o que goste de fazer. Só preciso de
dinheiro pra ontem.
— Por quê? — Max espalmou as mãos no
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balcão e me encarou.
— Porque preciso pagar as minhas contas de
algum jeito.
Minha amiga cruzou o balcão que nos
separava e passou por mim. Bufou e caminhou com
tanta raiva que os cabelos cacheados voaram atrás
dela. Max pegou a bolsa pendurada na parede do
hall e voltou trazendo um talão de cheques. Abriu a
primeira folha e o assinou, depois me fuzilou com o
olhar.
— Quanto você quer? — perguntou.
— Não, não, não. — Abanei o ar com as
mãos. — Não quero seu dinheiro. Não quero a
porra do dinheiro de ninguém, será que vocês não
entendem? Sou capaz de fazer a minha grana.
— Você é uma teimosa.
Maxime baixou a cabeça e escreveu uma
quantia no cheque. Arrancou a folha e estendeu o
braço para mim. Peguei o papel sem tirar os olhos
dela. Rasguei o cheque ao meio enquanto seu peito
subia e descia devagar, se estufando com ódio.
— Max, por favor. É só até eu arrumar outra
coisa. Se você não me ajudar, terei que deixar o
Caio para arrumar outro emprego na noite. Ele não
vai aceitar ficar comigo mais se souber que
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continuo atendendo — falo, omitindo meus planos


de ir embora do país.
— Cai na real, Mônica. Se você o deixar, vai
entregar o Caio de bandeja pra Mariana. Ele precisa
estar com alguém. E, se não for você, esse alguém
será aquela mulher. — Ela juntou os papéis picados
e os colocou na lixeira.
Eu sei, amiga. E tudo isso me mata por
dentro, penso.
— Já te falei que não tenho escolha, Max.
Infelizmente.
— Você sabe que, do meu ponto de vista,
tem sim. Pode aceitar a ajuda que quero te dar, não
a que quer receber. Pode escolher ficar ao lado dele
e estudar para um dia fazer alguma coisa da qual se
orgulhe.
— Me orgulho do que construí, mesmo que
seja fazendo o que faço. E, se você não me ajudar,
não conseguirei fazer nada disso que está dizendo.
— Ok. Eu te entendo. Vivi da mesma coisa,
mas não é sobre isso que estou falando. Você podia
contar a ele que...
— Bom dia, bom dia — João falou por trás
de nós duas.
Sua mão deslizou pela minha cintura e senti
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seu rosto em minha bochecha. Fez o mesmo com a


esposa.
— Bom dia.
— Bom dia, amor.
— Então, ouvi a conversa de vocês. Contar o
quê e a quem? — João ergueu o queixo e me
encarou.
Só com esse olhar, conseguiria tirar qualquer
coisa de uma mulher. Principalmente a roupa.
— Caio comprou o Manhattan — Max
despejou.
— Max — protestei.
— Que foi, o João ficaria sabendo mais cedo
ou mais tarde. — Ela deu de ombros.
Olhamos as duas para ele. João pigarreou e
passou a mão no cabelo desarrumado. Seus olhos
passearam por toda a cozinha, mas não pararam em
nós.
— Doutor João Bauer, não acredito que você
sabia disso e não me contou — Max falou,
boquiaberta.
Suas mãos delicadas estapearam o peito do
marido enquanto ele tentava se defender. Me
inclinei para a frente e fingi uma tosse até que ela
voltasse a prestar atenção em mim.
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— Então? — perguntei quando ela me


percebeu de volta.
— Ah, o telefone do personal. Claro. —
Max piscou e pegou o celular.
Instantes depois, meu telefone vibrou no
bolso. Olhei para a tela e vi o contato que me
enviou. Um moreno de olhos acinzentados sorrindo
com os dentes mais perfeitos que já vi.
Fitei as costas musculosas de João. Droga.
Queria saber mais sobre esse ex-cliente de Max,
mas não podia perguntar na frente dele. Resolvi
mandar uma mensagem para a minha amiga.

Eu:
Caraca, Max. Que gostoso.

Max:
É, amiga. Esse é top dos tops.

Eu:
Por que um cara desses precisa de uma GP? E por
que pagaria tanto por uma? Ele não gosta de bater,
né? Você sabe que não curto isso.

Max:
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Não, sua louca. Ele é bi. Ou melhor, eles são.

Eu:
Eles?

Max:
São namorados. Se você achou esse gato, espera
pra ver o outro.

Eu:
Ai, essa vida ainda me mata.

Max:
Puta.

Eu:
Hahahaha. Olha quem fala.

Max:
Acho que é por isso que você não quer casar. E que
o João nunca leia isso: mas eu te entendo.

Eu:
Besta.

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Max:
Liga para ele e diz que é minha amiga. O Marcelo
vai adorar te conhecer.

— Vocês duas vão ficar conversando por


mensagem, agora? Só pra eu saber, assim pego o
meu celular e a gente cria um grupo, o que acham?
— João falou, largando um copo de suco de laranja
na minha frente.
— Tenho que ir — disse, pulando do banco.
— Não estava te mandando embora.
— Eu sei, preciso mesmo resolver algumas
coisas agora que seu primo virou a minha vida de
ponta cabeça.
Max deu alguns passos em minha direção e
seu olhar de gata me analisou com preocupação.
Pegou as minhas mãos e as colocou sobre a sua
barriga. Foi tão doloroso para mim. Tentei desviar
os olhos, mas ela me impediu, segurando meu
rosto.
— Dinda, se cuida. A gente te ama —
sussurrou e me deu um selinho nos lábios.
Por cima do ombro dela, flagrei João nos
encarando, o quadril apoiado na pia. Ele acenou
para mim. E era provável que pela última vez.
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Saí da casa deles e andei pelo condomínio,


olhando para o contato no meu telefone. Parece
idiota dizer que fiquei com vergonha de ligar para o
tal Marcelo, mas não estou acostumada a fazer isso.
Atendo os caras que chegam no Manhattan
como se fossem gatinhos que conheci na balada.
Marcar algo assim me assusta ainda.
Sentei no cordão de uma pracinha e apertei o
botão de chamar. Minha mão suava segurando o
aparelho.
— Alô — disse baixinho.
— Sim? — a voz grossa e confiante
perguntou.
— Eu, eu sou amiga da Sugar. Ela me deu
seu telefone — falei, titubeante, usando o nome de
guerra de Maxime.
— Humm, que delícia, mas você parece tão
tímida para ser amiga da Sugar. Ela te falou que
tipo de atendimento gosto de ter?
— Mais ou menos.
Brinquei com a barra da camiseta e olhei
para os lados para ver se ninguém estava passando.
Fiquei com medo de ligar da casa de Caio e ele ter
alguma escuta, sei lá. Acho que já estou ficando
neurótica outra vez.
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— Será que você consegue suprir o que


preciso?
— O que tem em mente?
— Eu e meu namorado. Ele dentro de você.
Eu dentro dele.
Abri a boca e soltei o ar devagar. Uau!
Apertei as coxas ao sentir meu clitóris formigar.
— Confesso que nunca fiz isso.
— Então... eu pago muito bem, porque sei
que são poucas garotas que topam algo do tipo. Se
você não estiver pronta, melhor nem aparecer.
— Não, não é isso. Eu gostaria de tentar.
— Gatinha, ou você vai e fode forte ou você
não serve.
Ele era bem direto. Porra.
— Ok. Posso te mandar uma foto minha?
Gosta de menininha ou mais estilo safada?
— Puta. Bem puta.
Deitei a cabeça para um lado e para o outro,
tentando relaxar o pescoço. Tinha certeza de que
estava com a calcinha molhada. Droga.
O Caio me mataria. Até então, ele sabia de
tudo e nada era uma mentira. Essa seria a primeira
vez que atenderia escondida dele. E pior, estava
ficando excitada com isso.
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— Certo. Espera na linha que te mando uma


foto.
Procurei no celular uma foto minha com
uma roupa bem apelativa. Botas de cano alto até as
coxas, minissaia de couro e top vermelho para
combinar com a boca. Apertei enviar e voltei para a
ligação.
— Oi.
— Humm. Pequenina, mas com peitões. Não
sei se aguenta nós dois.
Soltei os ombros, chateada. Definitivamente
não era a minha semana de sorte. Nunca levei um
fora de ninguém, muito menos de um cliente.
— Eu... — comecei a tentar outra vez, mas
ele me interrompeu bruscamente.
— Mas vou pagar pra ver. Acho que o
Daniel vai gostar de foder esse seu rabinho
pequeno.
— Ah, ok.
— Tenho que admitir que não vou conseguir
fazer mais nada até ver essa cena. Você pode hoje?
— Claro. Ótimo.
— Só podemos mais tarde, pode ser?
— Dou um jeito — respondi, já maquinando
que tipo de coisa teria que fazer para conseguir
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estar na cama deles.


***
— Você tem certeza disso? — Lisi pergunta,
os olhos azuis tentando encontrar algo não dito na
minha expressão.
Ela olha para Caio, que dorme
profundamente. Sua respiração é suave. Nem um
pouco parecida com a minha.
— Claro — minto.
— Ok. Vai. Não sabemos quanto tempo ele
vai dormir, então não demora.
— Juro que vou parar com tudo isso, mas
agora só preciso de dinheiro para colocar as coisas
em dia. Sei que o Caio fez o que fez por amor, mas
algumas coisas passaram dos limites.
— Eu sei, docinho. Te entendo e não te
julgo. Os meninos são possessivos quando estão
apaixonados. Mas, se depender de mim, você vai
continuar sendo uma garota livre. Só temos que
encontrar um jeito para que isso aconteça. — Ela
pisca e sorri.
As mentiras já estão virando um nó. A cada
um, contei uma história e não sei por quanto tempo
conseguirei sustentá-las antes que o meu castelo de
areia desabe.
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Não sou idiota ou teimosa a ponto de não


aceitar o dinheiro de Max ou de Caio na situação
desesperadora em que me encontro agora. Mas
falar a eles a quantia que preciso levantaria
suspeitas. Ainda teria que dar mil desculpas e
justificativas.
Podia vender minhas coisas. Até as joias que
Caio me deu. Mas tudo levaria tempo e isso é algo
que não tenho.
A coisa mais prática a fazer é deixar Maxime
pensando que apenas quero pagar minhas contas.
Lisi acha que só quero ser livre. E Caio, ah, meu
gatinho, ele ainda está sonhando que estaremos
casados em menos de um mês.
Bom, e eu? Só sei que preciso desaparecer
de Porto Alegre antes que Pedro me encontre e
acabe com as pessoas que amo.
— Obrigada, Lisi. Qualquer coisa me liga.
— Ok. Se cuida. O Caio me mata se te
acontece alguma coisa.
— Fica tranquila. Essa é a minha vida. Sei
por onde piso.
Mentira. Só mais uma delas.
Ando pelo condomínio até a portaria, onde o
táxi já está me esperando.
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— Boa noite, madame.


— Boa noite. — Mostro a ele a tela do meu
celular com o endereço do motel.
— Conheço. Motel, né? — O cara de uns
trinta e poucos anos tenta conter o sorriso. — Vive
aqui ou é casa de cliente? Pra morar nesse lugar,
você deve cobrar bastante.
— E você deve ganhar pouco, se é
intrometido desse jeito. Posso descer e você já
perde a corrida e ganha uma denúncia — sibilo,
sem paciência para ser julgada por mais um babaca.
— Desculpa, moça. Só queria saber se você
era pro meu bico.
— Não, meu filho. Não sou. Agora anda que
estou perdendo dinheiro aqui, de conversa furada
com você. E não tente bancar o espertinho, porque
se os seguranças da portaria não receberem a
confirmação de que cheguei bem, vão atrás da
placa do seu carro — invento.
— Ok. — Ele ergue as mãos e se ajeita no
banco do motorista.
Arrasto o quadril até chegar exatamente atrás
dele. Não quero que fique me olhando pelo
retrovisor.
Porto Alegre vai passando pelo meu vidro e
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já sinto saudades. Será que um dia voltarei a ver


essa cidade? Desde que cheguei aqui, fugindo de
Pedro, só vivi coisas boas. Foi um tempo de medo,
mas que me trouxe pessoas incríveis, como a Max,
o Caio e a Lisi.
Chego no motel suando frio. Em silêncio no
táxi a caminho dali percebi que as atitudes do meu
dia tinham me levado para um caminho sem volta.
Simplesmente não podia mais desistir de ir
embora. E, por mais forte que fosse, sempre tinha
guardado no fundo do coração um fiozinho de
esperança.
— Chegamos. — O taxista para o carro na
portaria do motel.
Estendo a mão com a quantia exata. Não
digo nada.
— Quer que te busque?
Desço e bato a porta ainda em silêncio.
Idiota. Odeio que me julguem e analisem o que eu
faço sem saber meus motivos. Nem a minha voz
esse daí merece ouvir.
Ajeito a jaqueta cinza até que fique da altura
da minha saia. Alguém na portaria me reconhece e
o portão se abre. Aceno sem enxergar através do
vidro fumê, desfilando pela passagem de carros.
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Paro diante da garagem da suíte e respiro


fundo. Não sei se é a minha última vez nessa vida,
mas que será o meu último atendimento no Brasil,
ah, disso tenho certeza. Só espero que seja bom.
Dou um toque no celular de Marcelo e
entro. Passo pelo carro deles e subo as escadas,
ajeitando o top preto por baixo da camisa de tule.
Antes que chegue no último degrau, a porta
se abre e tropeço, me apoiando no peito nu do
moreno.
— Opa. Amor — ele grita e olha pra trás.
—, sua surpresa chegou chegando.
Puta que pariu. Descubro que eles vão
acabar comigo essa noite quando Daniel sai do
banheiro esfregando os cabelos molhados. Tão
molhados como já está a minha calcinha.
— Tudo bem? — Marcelo pergunta, me
colocando em pé outra vez e fechando a porta atrás
de mim.
Não consigo responder. Não consigo fechar
a boca. Não consigo tirar os olhos de Daniel.
Caramba. Será que vou conseguir voltar a
raciocinar?
— Você pode respirar, se quiser. Prometo
que somos bem cheirosos — Daniel fala, andando
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até mim, a cintura enrolada em uma toalha branca.


— Disso tenho certeza — falo, rouca.
Eles riem. Analisando-os ombro a ombro,
acho que posso gozar só de passar a noite olhando
para eles. Mas sei que não vai ser o caso. Aponto
de um para o outro.
— Vocês são gays?
— Não — respondem juntos.
— Somos bi — Daniel é quem explica.
— Estamos namorando, mas gostamos de
dividir uma garota às vezes.
— Entendi. — Balanço a cabeça e tento me
situar.
Foco no trabalho. Foco no trabalho.
Dou um passo adiante e ponho uma mão em
cada peito nu, deslizando as unhas pelas curvas
entre os músculos. Realmente eles são muito
perfumados.
— Então... podemos começar a brincadeira?
— A gente não brinca, Mônica. E se a Sugar
te deu o nosso contato, é porque está preparada
para ser fodida de verdade essa noite.
Não tenho tempo de falar. Daniel agarra
minha cintura e me vira, pressionando minha nuca
contra a porta. Com a outra mão, puxa meu quadril
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e passeia por baixo da minha saia.


— Calcinha fio dental. Nem precisava,
amor. — Ele a arranca com um puxão, rasgando o
tecido fino.
— Porra. Eu andava louco pra te ver
fodendo uma gostosa como essa. Temos que ligar
para a Sugar para agradecer — Marcelo rosna,
alisando o pau por cima da toalha.
Daniel se abaixa e enfia o rosto entre as
minhas nádegas. Gemo quando a língua entra direto
no meu cuzinho, em um beijo delicioso.
A toalha do seu namorado cai e vejo o pau
com a cabeça rosada recebendo um carinho de
Daniel enquanto o moreno me devora. Ele para e
vira para o outro, abocanhando o pau até que
desapareça. Marcelo fecha os olhos e ergue o
queixo, pressionando a cabeça de Daniel.
— Vem, me ajuda nessa chupada — ele me
pede, parando por alguns segundos.
Me ajoelho e faço o que diz. Beijamos juntos
a glande inchada e, quando uma gota de prazer
escorre dela, passo a língua para senti-la.
— Isso é meu. — Daniel pressiona o meu
pescoço e invade a minha boca com desejo, como
se realmente buscasse o sabor de Marcelo em mim.
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— Tira a roupa — Marcelo ordena e senta


na ponta da cama. — Primeiro quero vê-lo te
comendo.
Daniel me ajuda, puxando peça por peça até
que esteja completamente nua diante dele. Seu
nariz toca meu pescoço e aspira, descendo até os
meus peitos e mordendo os bicos. Ele os puxa e a
dor faz com que me arrepie.
— De quatro — ordena, me forçando pelos
ombros até o chão.
Marcelo atira uma camisinha para ele, que a
pega no ar e a coloca. Depois, cospe na mão e alisa
o pau.
— Nossa, que rabinho de nada. Isso me dá
um tesão. — Daniel me dá um tapa forte e vou um
pouco para a frente.
Ele me puxa e se enfia inteiro em mim. Grito
quando o sinto chegar ao fundo. Seu punho se
enrola nos meus cabelos e sou cavalgada com
força.
— Pega esses peitos, amor. Olha como são
deliciosos — convida o namorado.
Marcelo se ajoelha do meu lado e amassa
meus seios, enfiando o pau na minha boca outra
vez. Eles ficam assim, me fodendo por um tempo
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enquanto se beijam por cima do meu corpo.


É quente e quero vê-los. Tento virar a cabeça
e contraio as coxas ao observar as carícias que
trocam enquanto me comem. Nunca tinha transado
com dois caras assim, se tocando.
É assustadoramente excitante, como se não
fossemos homem e mulher, apenas. Somos muito
mais do que isso Corpos que guardam uma imensa
fonte de prazer, que não julgam, só sentem.
— Quero comê-la um pouquinho antes de te
foder, amor — Marcelo fala, saindo da minha boca.
Eles trocam de lugar e Daniel arranca a
camisinha e escorrega entre os meus lábios. Seu
pau é mais grosso.
— Caralho — Marcelo fala, separando os
lados da minha vagina com os dedos. — Que
delícia.
Suspendo a respiração quando entra todo,
depois de colocar a camisinha. Ele se curva e
agarra meus seios, que balançam pela força que
Daniel emprega na minha boca.
Engasgo e deixo as lágrimas rolarem nas
bochechas enquanto soca. Desfruto de cada
segundo de prazer ao lado desses dois homens
lindos. É louco e muito bom.
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— Tesão de mulher que você é, mas agora


quero comer o Daniel. Vem, amor. Fode essa
bundinha apertada que vou comer seu cu —
Marcelo fala, voltando para a ponta da cama.
Daniel obedece e tusso quando deixa seu pau
sair dos meus lábios. Ele anda até o namorado e
aprecio seu corpo. A bunda é perfeita, mas as
costas fortes são de tirar o fôlego.
Sem camisinha nem nada, ele monta no
parceiro. Marcelo urra ao entrar aos poucos até que
só as bolas fiquem de fora. Sentada no chão, fico
boquiaberta ao vê-los. O membro ereto de Daniel
aponta para o alto enquanto ele rebola. Uau!
— Senta aqui nesse caralho, gostosa —
Marcelo manda, sorrindo ao me ver olhando para o
pau do namorado.
Ele pega uma camisinha e a desliza até a
base do membro de Daniel, que não para de subir e
descer, arfando de tesão. Levanto e mordo a boca.
Fazia tempo que não me sentia assim trabalhando
nesse ramo. É como se eu fosse uma novata outra
vez.
— Não tenha medo — Daniel fala, parando
de se mover.
Ele me vira e me puxa. A cabeça do pau roça
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na minha bunda até se encaixar. Contraio os


músculos e prendo o ar.
— Relaxa esse cuzinho, gata. Quero gozar
nele enquanto o Marcelo jorra em mim. Senta aqui.
Você é quem tem o controle.
— Ok — falo, insegura.
— Isso, assim. — ele beija meu pescoço
enquanto se enterra aos poucos na minha bundinha.
— Foda isso, amor. Que surpresa tão apertadinha.
Eles riem e se beijam. Apoio as mãos nas
coxas de Daniel e subo e desço. Começo devagar,
mas me entrego quando ele vai até meu clitóris.
Seus movimentos circulares me tiram do
eixo. Empino o quadril e faço cada vez mais forte.
— Isso, vadia. Pula nesse pau — Marcelo
fala, virando o rosto de Daniel até que encontre sua
boca.
As línguas dos dois se enroscam e eles
arfam. Me sinto uma deusa, dando prazer a esse
casal tão safado e sem pudores.
— Dani. Vou gozar. Tá demais isso —
Marcelo avisa, pressionando a minha garganta para
que me junte ao beijo.
O dedo de Daniel em mim aumenta de
velocidade. Ele o esfrega e aperta, me levando à
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loucura.
— Sinto muito — sussurro entre as bocas
dos dois. —, mas eu vou primeiro.
É devastador. Daniel segura meu tronco
quando meu corpo se curva para a frente em
espasmos de prazer. Gozo como uma louca em sua
mão e eles logo me acompanham.
— Porra — Marcelo grita.
Sinto a pressão e o ritmo que se intensifica
nas estocadas dele em Daniel. Os dois vibram e
suas mãos me apertam quando gozam juntos, logo
depois de mim.
Suados e cansados, nos soltamos uns dos
outros e morro de amores ao ver os dois trocando
carinhos depois do sexo. Marcelo me vê sorrindo
para eles e aponta para a cômoda.
— Pode pegar ali o envelope, querida. Toma
um banho e pode ir. Daqui pra frente a noite é só de
nós dois.
Faço o que ele diz. Saio de fininho depois do
banho. Os deixo namorando na banheira e tento não
interromper o clima. Vou embora morrendo de
curiosidade de saber sobre as aventuras da Max
com eles.
Já no táxi, de volta para a casa de Caio, olho
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para o envelope e o aperto contra o peito. Tem


dinheiro o suficiente para juntar com o que guardei
e comprar uma passagem de última hora.
Entro na casa e troco de roupa no hall
mesmo. Meu coração para quando escuto as vozes.
Merda. Estou ferrada. Caio acordou. Subo as
escadas correndo.
Por mais que o meu coração esteja lutando
para tomar as decisões certas, por mais que o meu
ego esteja inflado por ele estar desesperado para
ficar comigo, sei que fiz a coisa mais arriscada que
podia. Não queria decepcioná-lo, mas sou campeã
em fazer isso com quem amo.
Todos os tipos de culpas e frustrações
passam por mim em uma onda de calafrios. Sou
uma estúpida por magoar o meu amor desse jeito.
Por magoar todo mundo.
Abro a porta e é como um cenário de filme
policial. O quarto desordenado que encontro
funciona como um lembrete para mim: os homens
são insistentes no que querem.

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Caio
Acordo com sede, muita sede. Olho para o
lado e vejo a garota enrolada no lençol. A
frustração me pega quando percebo seus cabelos
loiros derramados no travesseiro de Mônica. Sento
na cama e minha cabeça gira. Onde está ela? Como
cheguei até aqui? Preciso tomar água.
Deixo o quarto e abro as portas que encontro
no caminho até a escada. Nada. No andar de baixo,
vou direto até a geladeira e tomo uma garrafa de
água de uma vez só. Apoio as mãos no balcão e
espero que as coisas parem de girar.
— Droga. Odeio quando isso acontece —
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sussurro e olho para o meu corpo.


Estou só de cuecas boxer e não faço ideia de
como a noite acabou. Achei que nem tinha bebido
tanto, mas que merda.
Sacudo a cabeça para acordar de vez e volto
a andar pela casa atrás de Mônica. Nem no jardim a
encontro. Não é possível. Subo as escadas e olho de
relance para um dos quartos onde acabei de entrar
para procurá-la. É o dela.
Quer dizer, Mon nunca dorme lá, mas é onde
deixa suas coisas, roupas e tudo o que precisa
quando está aqui. Resolvo voltar para dar mais uma
olhada. A cama está arrumada, como sempre, e
suas maquiagens estão espalhadas no balcão ao
lado do notebook.
Notebook. Pela primeira vez o vejo
entreaberto e ligado. A curiosidade me invade. Será
que essa porcaria sabe mais sobre ela do que eu?
Não seria tão horrível assim se desse uma olhada
nele.
Sento na cadeira da penteadeira e levanto a
tampa do computador. Apenas uma pasta com
algumas fotos do casamento de Max e João e o
navegador estão abertos.
Passo as fotos e meu coração balança a cada
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sorriso caloroso de Mônica. Porra, como posso


querer que alguém assim tão perfeita seja só
minha? Mas eu quero. Não: preciso que seja apenas
minha.
Troco a tela e vejo as abas abertas do
navegador. Vou passando algumas pesquisas na
internet e quase tenho uma parada cardíaca quando
leio as palavras tão dolorosas: remédio para dormir
misturado com álcool.
Não é possível. Mon não pode ter feito isso
comigo. É uma coincidência. Tem que ser. Troco a
janela outra vez e paro de respirar quando vejo o
aplicativo de mensagens do celular dela logado no
computador.
Queria ter sangue frio para ler tudo. Não
consigo. Sinto o fervilhar da raiva me dominar
quando leio a primeira conversa, poucos minutos
antes de eu ter chegado em casa:

Marcelo:
Gata, 22h hoje então? Estaremos te esperando. Ligo
depois para passar o endereço.

Eu:
Beleza. Estarei lá.
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É impossível não perder o controle. Aperto a


têmpora e tento pensar, mas não dá. Quero rolar a
conversa e ler tudo, ler também as outras, só que as
minhas mãos são mais rápidas.
— Porra — grito, espatifando o computador
de Mônica contra a parede.
Lisi surge de roupão instantes depois. O
quarto todo já está uma zona, porque não consegui
evitar de destruir tudo.
— Caio, o que você está fazendo?
— Você a ajudou, não foi?
— Ajudou no quê, Caio? O que está
acontecendo. — Ela tenta segurar meus braços.
Me desvencilho e aperto forte a nuca. Ando
de um lado para o outro.
— Pensei que fosse minha amiga, Lisi.
Achei que podia confiar em você. Eu disse que
queria casar com ela, tirá-la dessa vida e você
ajudou a Mônica a me dopar para poder atender
aqueles filhos da puta — falo entredentes,
apontando para o aparelho quebrado no chão.
Suas lágrimas podiam ser as minhas, mas
estou tão irritado que não consigo deixar que rolem
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pelo meu rosto. Ela aperta os olhos e fala em um


sussurro:
— Te pedir perdão não vai resolver. A única
coisa que posso te falar é que tem coisas que você
nunca vai compreender.
— Ela foi atender?
— Sim.
A confissão de que Mônica está agora na
cama de alguém acaba comigo. Me sinto desolado.
— E nunca vou entender por que não me
falam o que está acontecendo.
— Você pode saber, pode fingir, mas nunca
vai sentir o que é ser mulher, Caio. Você a está
assustando, tirando a liberdade dela e fazendo com
que dependa unicamente de você. Nós lutamos e
fugimos disso com muito esforço e a Mon não quer
entregar a vida dela nas suas mãos.
— Mas por quê, porra? Jurei que cuidaria
dela.
— Os homens juram muitas coisas.
— Eu sou diferente — falo, sentando na
cama e enterrando o rosto nas mãos.
— Todos vocês são. Até o dia em que se
cansam de nós.
— Essa discussão não leva a lugar nenhum.
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Não tenho como provar que vou cuidar da Mônica


para sempre.
— Mas tem como provar que você a
respeita.
— Como, pelo amor de Deus?
— Tendo paciência.
— Eu tive, Lisi. Tive a maldita de uma
paciência de merda desde que a conheci.
— E foi isso que a manteve ao seu lado. Não
coloque tudo fora agora.
— Não aguento mais. Não posso viver
sabendo que a minha mulher está trepando com
outros caras. Estou desesperado. O que eu faço para
tê-la só pra mim, Lisi? O que eu faço?
Levanto a cabeça e sinto a maior vergonha
do mundo ao deparar com a expressão de choque
de Mônica ao ver suas coisas destruídas. Não a
ouvi entrar, mas posso ouvir agora seus soluços e
eles doem em mim.
Acreditei que conseguiria lidar com tudo
isso facilmente. Mas a decepção estampada no
olhar de quem amo me diz que terei que colocar
mais empenho do que imaginava para que Mônica
fique ao meu lado. Muito mais do que apenas ter
paciência.
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— Baby, onde você estava? — Levanto e


olho cada detalhe do seu rosto, procurando por algo
diferente ou machucado.
— O que foi que você fez, Caio?
— Enlouqueci ao descobrir que a minha
mulher estava com outros caras, está bem? Surtei
mesmo, porra.
Suas mãos me estapeiam e ela se afasta,
dando um passo para trás. Só consigo ver em seu
rosto que está chocada por finalmente ver o pior de
mim: o Caio possessivo que a quer só para si desde
o início.
— Não sou sua mulher, Caio. Sou um ser
humano livre. Nunca serei propriedade de ninguém.
E se estou trepando com outros caras, saiba que foi
por uma escolha estúpida que fiz na minha vida um
dia, pensando ser a mulher de alguém. Você
destruiu as minhas coisas.
— Desculpa, me perdoa. Não vi mais nada
na minha frente. Fiquei cego quando li aquilo. Só
quero te proteger, quero te dar uma vida decente,
amor.
— Eu mesma posso me proporcionar uma
vida decente. Se, por algum momento, você criou
ilusões sobre mim ou sobre o meu jeito de ser,
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espero que volte à realidade.


— Pensei que você ia parar de atender —
digo, passando a mãos nos cabelos, desesperado.
— Quem disse que era o que eu estava
fazendo?
Meu sangue ferve quando Mônica começa
com isso. Era só o que faltava, dizer agora que
estava fazendo outra coisa e eu surtei por ciúmes.
Posso provar.
— Me dá seu telefone — ordeno e estendo a
mão.
Mônica sacode a cabeça, se recusando. Dou
um passo à frente e ela recua, levando a mão até o
bolso da calça jeans para proteger o aparelho.
— Para de mentir pra mim, porra. Sei o que
li no seu computador.
Trêmula, Mônica pega o celular e me
entrega. Passo as mensagens do aplicativo e
descubro que tudo foi apagado. Não há nada ali.
Aperto o aparelho com força e ergo o braço para
jogá-lo contra a parede.
— Você apagou tudo, caralho.
— Caio, para. Pelo amor de Deus. Você já
ouvir falar em Maria da Penha, porra? — Lisi grita,
agarrando meu braço e pulando ao meu redor para
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pegar o telefone.
Todo meu corpo trava. Perco o chão ao ser
comparado com um agressor.
— Lógico que já ouvi falar e eu nunca teria
coragem de tocar na Mônica.
— Caio, você é advogado. Sabe que não se
trata só disso. Sabe também que o que está fazendo
é uma forma de violência contra ela, quando destrói
suas coisas e impede que ganhe seu próprio
dinheiro. Fora a vigilância, o prejuízo e...
— Ok. Ok. Você é advogada dela agora, ou
o quê? — Abaixo o braço devagar, ainda mantendo
Lisi afastada e entrego o celular para Mônica.
Ela morde a boca e o guarda, sempre
olhando para o chão. Lisiane esfrega o rosto e
depois agarra meus ombros.
— Está mais calmo?
— Não vou tocar em mais nada dela. Pode
ficar tranquila. Só estou puto porque as duas me
mentiram. Achei que a Mon tinha entendido que eu
queria mesmo casar com ela, que fosse parar de
atender.
— Ia. Mas isso não acontece da noite para o
dia, como você gostaria. Por mais que eu tentasse
explicar, você não queria ouvir. Ficou cego com
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essa história de casamento. Precisei de grana, Caio,


porque você acabou com os meus planos quando
comprou o Manhattan.
— E por que não me pediu?
Mônica revira os olhos. Ela bufa e encara
Lisiane, como se elas já tivessem discutido cada
uma das reações que eu teria nessa conversa. Era
um silencioso eu te disse.
— Porque você não quer, não é? — falo,
andando de um lado para o outro.
Suspiro, pensando no que vou fazer. Não
suporto mais essa situação. Paro de me mover
quando Mônica se ajoelha e pega uma mochila
debaixo da cama. Não consigo acreditar no que
estou vendo. Não é possível que ela vá fazer isso.
Suas mãos jogam algumas coisas para dentro
e fecham o zíper com raiva. Não quero ser
agressivo outra vez, mas não sei como reagir para
impedi-la de me deixar.
— O que você está fazendo? — pergunto,
desesperado.
— Sei que fiz errado. Não devia ter sido
assim. Só posso te pedir que me perdoe, Caio.
Nunca quis te magoar, mas não tive escolha — ela
fala, pegando o notebook quebrado e o guardando.
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— Você sempre teve. Podia não ser agora,


mas a gente ia conseguir se organizar para que você
ganhasse seu próprio dinheiro. Daríamos um jeito,
mas você não quis.
— Você não conhece o meu mundo. — Ela
se vira bruscamente e me encara, raivosa.
— Você tem razão. Você também não
conhece o meu, mas agora faz parte da lista de
pessoas que foram embora da minha vida — falo,
entredentes.
— Te garanto que isso é o melhor que faço
por nós dois.
Mônica dá dois passos e Lisi se atravessa na
nossa frente. As duas trocam olhares que falam sem
dizer nada outra vez.
— Mon, não age sem pensar — sussurra.
O duelo de olhares dura um tempo. Quando
Mônica solta a mochila no chão, Lisi respira
aliviada. Já eu, tiro uma tonelada das minhas
costas.
— Vou embora. Vocês precisam conversar.
Só não se matem. — Ela beija cada um de nós dois
e parte.
O silêncio que compartilhamos é longo
demais. Dura tempo o suficiente para que eu caia
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na real: não medi as consequências que teria que


enfrentar quando aceitei o desafio de lutar por
Mônica.
— Machucamos um ao outro de várias
formas, mostramos nossos piores lados. Agora não
dá mais pra voltar, não é? — pergunto, soltando os
ombros.
— Não. Eu tentei te avisar. Tentei te dizer
que você não tinha noção de onde isso podia dar. E
ainda não tem.
— Mas precisava tentar, porque te amo.
— Também te amo, Caio. Por isso não quis
te ver sofrendo. Te entregar as partes de mim que
você desconhece significa dor e sofrimento. E pelo
jeito, o mesmo serve para você.
— Ok. Estou disposto a enfrentar tudo isso.
A recompensa vale a pena.
— Talvez seja tarde demais.
Ando devagar até ela e entrelaço nossas
mãos, olhando para cada um daqueles dedos que
tocam o meu corpo e a minha alma como ninguém.
Isso me dá uma ideia. Não posso mais perder
tempo. Nem um segundo.
— Nunca é tarde para o amor. Posso estar
meio zonzo ainda. Parece que todo o meu sangue
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está misturado com álcool, mas quero te dar um


presente — falo, a puxando até o corredor.
— Caio... — ela diz, hesitante.
— Vem.
Abro a porta do meu quarto e a coloco
sentada na cama. Abro a gaveta da cômoda e pego
a caixinha azul de veludo ao lado da minha coleção
de relógios. Porra. É tão difícil. Estou mais
ofegante do que se estivesse correndo. Inspiro para
tentar relaxar.
Quando estou mais calmo, me viro e
caminho até Mon. Ela brinca com a pulseira e então
seus olhos encontram os meus. E eles têm medo.
Queimam, brilhando de desejo e amor, mas têm
muito medo.
— Caio, não...
— Shiu. — Cubro sua boca com o indicador.
— Esse é o anel que estava com a minha mãe no
dia em que o helicóptero em que estava com o meu
pai caiu. Ela não queria ir. Queria ficar comigo,
mas o meu avô insistiu que seria bom que o meu
pai a levasse a um jantar importante de casais
milionários. Guardei com todo o meu amor a única
coisa dela que tenho até hoje. Errei, fazendo o que
fiz com a Mariana ontem. Me perdoa. A melhor
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coisa que posso fazer pra te mostrar o quanto você


é especial para mim é te dar essa parte tão
importante das minhas memórias.
— Não posso aceitar, Caio. Isso é seu. A
lembrança mais linda que a sua mãe podia te
deixar.
Beijo Mônica e me ajoelho diante dela.
Ponho seus cabelos atrás da orelha e seu sorriso
amoroso aparece.
— Ela sempre dizia: Caio, meu querido, um
dia uma garota vai aparecer e ela vai roubar o seu
coração. No dia em que sentir esse vazio no peito,
você pode dar esse anel a ela. Nunca se esqueça
disso. E eu nunca esqueci. Você já está com ele
Mônica, o meu coração.
Abro a caixinha e o solitário rubi em
formato de coração reluz para nós dois. Tiro a peça
de ouro do suporte e pego a mão de Mon. Tenho
mais medo do que jamais tive, mas preciso entregar
o meu coração de verdade para ela.
— Pode ir. É isso o que quer. Ser livre. Se é
isso que precisa, vá. Não posso ficar ao seu lado se
tenho que te dar essa liberdade. Simplesmente não
posso. Mas, se quiser ficar ao meu lado para o resto
dos seus dias, vou pagar pra ver. Pelo menos uma
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vez na vida vou atrás de algo com todas as minhas


forças, porque você é isso, o ar que preciso para
viver. Não vou desistir de você. Você quer se casar
comigo, Mônica Ferraz?
O tempo que ela demora para responder
equivale a uma eternidade. Mas quando seus braços
envolvem meu pescoço, me derrubando no chão,
choro como um menino.
— Sim. Ser a senhora Bauer está na lista das
coisas que mais quero na vida — ela diz com a voz
rouca e ergue meu queixo para me beijar.
— Te amo.
— Eu que te amo.
Ajeito Mônica no meu colo e encaixo o anel
em seu dedo. Cheiro seus cabelos e tiro o corpo do
chão, a carregando até a cama. Dormimos de
conchinha, como na primeira vez. Sem sexo, só
amor. Amor que vai embora com ela quando
acordo e encontro os lençóis vazios, a não ser por
sua carta de despedida.

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Mônica
Agarro os braços da poltrona na hora da
decolagem. Aos poucos, a história que construí nos
últimos anos vai se afastando de mim. Da pequena
janela posso ver Porto Alegre ficando cada ver
menor. E Caio cada vez mais longe.
Ele vai sofrer, sei disso. Não tanto quanto
eu. Talvez até seja melhor assim, que ele volte com
a Mariana e fique mais perto dos filhos.
Ah, que estúpida que eu sou. Não é possível
que depois de tanto tempo ainda tenha que pagar
por um maldito erro que cometi na minha vida, e
esse erro se chama Pedro.

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Parece piada, mas é a segunda vez que


ganho um anel e logo tenho que deixar toda a
minha vida para trás. Olho para as joias na minha
mão direita. Sim. Estão lado a lado agora.
Adicionei mais um anel na minha mão. Mas
esse é para lembrar que conheci o amor de verdade.
E nunca esquecer que um dia fui amada. Com todas
as minhas falhas e defeitos, com tudo de mim
exposto, mesmo assim Caio me quis ao seu lado.
O outro anel, a aliança prateada que me faz
lembrar todos os dias que dei o passo errado e que é
por isso que tenho que fazer o que faço desde
então. Essa é a segunda grande mudança da minha
história, mas nem por isso menos assustadora que a
primeira.
***
3 anos antes
Duas coisas conseguiram fazer com que eu
decidisse mudar. Uma delas foi Pedro ter chegado
ao meu limite. A outra, foi ter descoberto em Las
Vegas o meu poder sexual sobre os homens.
Meu marido não tinha mais domínio sobre
mim e ele mesmo havia me mostrado isso ao me
deixar à mercê de outros homens. Perder o meu
filho desencadeou o restante da enxurrada de
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emoções que me faltava.


— Tudo bem, baby? — Pedro segura minha
mão, sentado ao meu lado na poltrona do avião de
volta para casa.
— Sim — minto, desviando o olhar para a
janela.
— Tão quieta desde que deixamos os
Estados Unidos.
— Cansada. — Suspiro, contando as
casinhas e prédios que se aproximam enquanto
pousamos.
— Tudo vai voltar ao normal agora.
— Claro.
Ele não podia ter mais razão. As coisas
voltariam a ser como antes. Bem antes, quando
ainda vivia com meus pais e era feliz e não sabia.
Como todas as meninas, sonhava com o
príncipe encantado. E ele apareceu. Mais velho e
sedutor, rondou os meus passos até que me
entregasse.
Filha única de pais mais velhos, os deixei
revoltados ao apresentar meu novo namorado. Era
continuar com ele ou ir embora. A segunda opção
foi a primeira de muitas decisões erradas que tomei.
Deixei a escola e a minha família. No fundo,
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fiz tudo acreditando que eles mudariam de ideia.


Veriam em Pedro um bom homem e logo ele teria
sua cadeira na ponta da nossa mesa.
Esse dia nunca chegou. Meus pais sempre
foram bons, mas não me impediram de trilhar o
meu caminho. Fui embora livremente, com as
portas abertas para um mundo pronto para aceitar
todos os meus erros.
Chegamos na nossa minúscula e quase vazia
casa depois da dolorosa viagem. Casa. Nem sei se
esse nome serve para esse lugar. Pedro me vê
revirando os olhos para a bagunça quando
entramos.
— Que foi? Você cagou tudo, amor.
Podíamos nem voltar para esse lixo, mas você
estava grávida. Agora temos que aguentar mais um
pouco até dar um jeito de arrumar um lugar melhor.
— Você só pode estar brincando. Eu acabei
de perder um filho. Estive com vários homens que
nem conheço. Minha vida está um caos e sem
perspectiva de melhorar. Você não dá uma dentro
para melhorar a nossa vida e a culpa é minha?
O tapa que me dá arde, mas não me pega de
surpresa. Já imaginava que ao despejar essas
palavras sinceras ele me daria algum tipo de
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punição.
— Você é uma vadia. Eles me falaram sobre
o quanto estava gostando de estar lá, dando para
todos aqueles caras. A culpa é sua. É tão
imprestável que nem os seus pais vieram atrás de
você.
Começo a rir. Sério que ele vai apelar para a
falta de confiança?
— Não seja ridículo. Eles me amam tanto
que me deixaram livre. Isso é amor. Respeitaram a
minha escolha idiota de ficar ao seu lado.
— Então é isso que você pensa desde o
início? Que foi uma burrice sair de casa para ser
minha?
— Não sou sua — grito, abrindo a mala e
jogando dentro dela mais algumas coisas que vejo
espalhadas pelo chão.
— O que você está fazendo? — Ele aperta
forte meu braço e me puxa.
— Vou embora dessa merda.
— E vai viver na rua? Ou acha que seu pai
vai te aceitar de volta? Só eu te amo. Só eu posso te
dar o que precisa e aqui é o seu lugar.
— Fiz o que você quis. Acreditei que me
amava, mesmo quando tudo me dizia o contrário.
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Coloquei a minha vida em risco e perdi o meu filho


por você.
— Fez o que fez por ser ambiciosa. Ficou
comigo porque queria um cara melhor do que
aqueles meninos da sua idade. Foi teimosa em
contrariar os seus pais e obstinada, capaz de
qualquer coisa para ficar comigo. Não carrego essa
culpa sozinho.
— Tira a mão de mim, Pedro.
— Ou o quê? Vai chamar a polícia e contar
que é uma puta que deu para os amigos do marido?
Nada mais me importa. Já estou farta,
esgotada disso. Se Pedro quiser me matar, que
mate. Cuspo na cara dele e chuto o meio das suas
pernas.
— Só não saio dessa carregando tanta culpa
porque tenho certeza que essa criança não queria
nascer se fosse para ser seu filho — digo, fechando
o zíper da mala.
Pedro se contorce e esfrega o rosto. Pego
minhas coisas e bato a porta. Seu grito ecoa em
todo o prédio:
— Vadia!
Não tenho um tostão. Sequer posso pagar
por um ônibus. Caminho até arrebentar o couro da
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minha sandália. A tira da mala corta minhas mãos e


a troco de um lado para o outro enquanto tento
descolar os fios do meu rosto suado.
Esqueço tudo o que me incomoda quando
viro a última esquina. A rua tem o cheiro familiar
de infância, de amor. Corro os últimos metros com
um fôlego extra.
Paro diante da porta de madeira e solto a
mala. Respiro fundo e relaxo os ombros. Quando
estou pronta para bater nela com os nós dos dedos,
a maçaneta gira.
Meses sem seu abraço caloroso, seu amor
sincero. Como eu poderia saber que esse seria só o
nosso primeiro reencontro?
— Até que enfim, filha.
Minha mãe me recebe com um sorriso no
rosto. Ela olha para trás e grita:
— Ela voltou.
— Finalmente — meu pai devolve.
Seus braços me envolvem e balançamos até
que ele se junte a nós. Entre lágrimas, a risada
prevalece.
— Como você sabia que eu estava aqui na
porta? Nem deu tempo de bater — digo, segurando
nos ombros da minha mãe.
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— O quê? Essa daí não sai da janela desde


que você saiu de casa. — Meu pai afasta o ar com a
mão.
— Ainda tem lugar para mim por aqui? —
Olho para os sapatos e coloco o cabelo atrás da
orelha.
— Seu lugar é aqui. Tudo está te esperando.
Sua cama, a comida favorita, até mesmo a escola.
Não deixamos de pagar uma mensalidade. — Ele
segura meu rosto e me faz encarar seu sorriso.
— Pai, eu sinto muito. Tenho tanta
vergonha.
— Não tenha. Precisa se orgulhar de ir atrás
do que acredita. Nem sempre as coisas são como
esperamos. A maioria delas, na verdade.
— Me orgulho de ter os pais que tenho, que
me amam mesmo sendo uma tola.
— Ah, chega disto. Anda tomar um banho
que vou servir uma fatia de bolo para nós. Essa
casa andava um tédio sem você. A vida de dois
velhos é muito monótona.
Nossa paz dura um mês. Fugindo de pensar
que Pedro não me amava tanto assim, encontro um
pouco de paz. Mas meu ego se sente coroado
quando ele aparece em uma manhã na saída da
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escola.
O reconheço de longe. Seu jeito sedutor,
apoiado no muro em um ombro só. Baixo a cabeça
e faço menção de atravessar a rua, agarrada aos
meus cadernos. Ele acende o cigarro e solta a
fumaça quase no meu rosto.
— Onde vai com tanta pressa, princesa?
Meu coração balança. Será que já sente
saudades de mim?
— Vou para casa.
— Então vai voltar comigo? Porque a sua
casa é aquela que está te esperando. Nossa cama
está tão vazia sem você. Todas as minhas noites são
em claro, imaginando como seria te ver carregando
o nosso filho.
Estremeço ao ouvir as palavras dele. Pedro
joga o cigarro no chão e me segura pelos ombros.
Abro a boca, mas não consigo dizer nada. Olho
para trás, para ver se alguém nos observa.
Tenho medo que minhas amigas da escola o
vejam aqui. Foi tão difícil voltar a falar com elas.
Não teve nenhuma que não tenha me jogado o
famoso eu te avisei.
— Me solta, Pedro. Preciso ir embora.
— Sempre tão corajosa na hora de ir
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embora. Tem medo do seu marido agora?


Meu Deus, por que ele tem que berrar isso
assim no meio da rua? Não contei a ninguém sobre
o nosso casamento ou o bebê e meus pais ficariam
desapontadíssimos se soubessem.
— O que você quer de mim? — sibilo.
— Que você cumpra seus compromissos de
esposa.
— Ah, até pouco tempo eu era uma vadia
que dava para os seus amigos, agora quer que eu
seja sua mulher outra vez?
Seus olhos maldosos baixam para o primeiro
botão da minha camisa branca. Ele passa a língua
nos lábios e sorri.
— Eu sou bom. Te perdoo, pra provar que te
amo. Não é isso que você diz? Que seus pais te
aceitariam de volta porque te amam do jeito que
você é? Pois então te digo o mesmo. Te aceito de
volta e esqueço tudo o que aconteceu.
Jogo a cabeça para trás e rio. Faço força até
conseguir me libertar da pressão das suas mãos.
— Sério? Nossa, era tudo o que eu queria,
voltar para aquela vida de merda que você me deu.
— Você é uma puta mesmo — ele fala e
cospe no chão. — Se não vai ser por bem, vai ser
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por mal. Se você não quer voltar para casa, tudo


bem. Por mim não tem problema. Mas não pense
que vai se livrar de pagar as dívidas que fiz por
você.
— Que dívidas, Pedro?
— Humm, me deixa ver aqui. A casa que
aluguei, a viagem para Vegas, o casamento, o
hospital...
— Eu não tenho como pagar por isso. Você
sabe. Quer que eu faça o quê? Diga aos meus pais
que preciso de dinheiro para te dar?
Pedro pega o celular no bolso e vasculha
alguma coisa nele por alguns segundos. Sorri de um
jeito afetado quando encontra o que quer. Ele vira a
tela e me vejo entre mãos e corpos que me
possuem.
— Pedro...
Tento pegar o telefone, mas ele o ergue no
alto da cabeça. Colo meu corpo ao dele, tentando
disfarçar quando uma senhora passa do outro lado
da rua.
— Posso dizer a eles eu mesmo. Melhor,
mostro essas fotos e tenho certeza de que vão te
deixar voltar para mim.
Fecho os olhos e aperto a têmpora. Ai, meu
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Deus. Que confusão em que me meti.


— Ok. Quanto você quer? — cedo.
— Melhor me perguntar o que eu quero.
Suspiro e o encaro, erguendo uma
sobrancelha. Filho da mãe.
— Então, o que você quer, Pedro?
— Que você faça um trabalho para mim.
— Um trabalho pra você? — Rio.
— Sim. O último. Um encontro com um
amigo para pagar as contas que me deixou.
— Você é um cara de pau.
— E você é uma puta. Não esqueça que
posso provar isso. Você não pode provar nada
contra mim, apenas que sou um marido enganado
pela sua falta de vergonha na cara.
Pedro é um filho da mãe. E eu sou uma
burra. Me deixei ficar presa em suas mãos como
um cordeirinho.
— Quem me garante que será a última?
Vegas era para ter sido o ponto final.
— Era, você quem ferrou tudo, docinho.
Ninguém te garante nada nessa vida. Apago as
fotos e te dou metade da grana.
— Não quero esse dinheiro.
— Melhor para mim.
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— Quero o divórcio. Essas fotos você enfia


onde quiser.
Aproveito a chance de corrigir as merdas
que fiz. Preciso me livrar dessa mancha que foi o
casamento com Pedro.
Ao mesmo tempo, me faço de
despreocupada sobre as imagens. Mas, no fundo,
sei que se parassem nas mãos dos meus pais seria
um completo desastre. Continuariam me amando,
mas eu nunca mais sairia do meu quarto. Ou me
mataria de vergonha.
Pedro se joga para trás e se apoia contra o
muro outra vez. Faz charme, tocando a parede
apenas com os ombros. Aperta os olhos e dá aquele
sorriso que me fez cair de paixão naquele maldito
dia que ouvi a sua voz pela primeira vez.
— Acho que vai se arrepender, mas tudo
bem. Se é isso que quer.
— Ótimo. Me avisa o dia e a hora. Estarei lá.
E tenha certeza de que será a última vez que vai me
ver nessa vida.
— Só tenho uma condição.
Reviro os olhos. Minha paciência já está se
esgotando. Pedro testa todos os meus limites.
— Você nunca joga limpo?
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— Estou sendo o mais claro possível. Só


quero uma última coisa antes de te deixar ir para
sempre: te ter nos meus braços uma última vez.
***
Já é noite quando chego em Portugal.
Arrasto a mala até a porta e respiro fundo. Sorrio
levemente quando ela se abre antes que eu bata.
Cada toque, cada olhar que recebo ao nos
encontrarmos apaga todas as minhas dores.
— Até que enfim, filha.
O sorriso está sempre pronto para mim, não
importa quão errados sejam os meus passos. Minha
mãe olha para trás e fala:
— Ela voltou.
— Finalmente — meu pai responde.
Eles me abraçam. O aroma que vem da
cozinha é reconfortante.
— Na janela outra vez? — pergunto.
— Sempre. — Meu pai beija minha testa.
— Pelo jeito, hoje tem meu bolo de
chocolate preferido.
— Todos os dias, meu amor. Tudo aqui é
feito esperando por você.
— Agora anda, vá tomar um banho que tem
alguém ansioso para cortar o bolo.
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Não é como se eu estivesse seguindo em


frente. Minha vida funciona através de trocas: solto
um amor para agarrar outro. Mas dessa vez vai
durar. Nunca mais deixo a minha família de novo.
Mesmo que tenha que passar o resto das minhas
noites acordada, sonhando com Caio ao meu lado.

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Caio
— Mônica — grito para o vazio do meu
quarto depois de ler a carta que ela me deixou.
Nenhuma resposta. Sua ausência me
preenche de agonia por dentro.
Pensei que as coisas ruins só aconteciam
uma única vez na vida. O tal raio que não cai no
mesmo lugar duas vezes. Uma grande bobagem.
Meus pais morreram porque o dinheiro
estava sempre em primeiro lugar. Mariana se
divorciou de mim porque tudo o que eu dava a ela
não era suficiente para suas ambições.
Sei lá, pode ser inocência, mas achei que
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Mônica era diferente. E ainda acredito nisso. Não é


das coisas que nos recusamos a enxergar. É algo
estranho que não consigo aceitar.
Maldito raio que não vou deixar me atingir
de novo. Me recuso a aceitar que ela partiu por não
querer se casar comigo ou, pior ainda, por achar
que a pessoa certa para mim é a Mariana.
A garota mais ousada que conheci. Corajosa
como ninguém. Mon é uma menina que se esconde
atrás de toda essa vida de aventuras sexuais por
algum motivo. E vou descobrir qual é.
Pulo da cama e esfrego o rosto. Visto uns
jeans e jogo uma camisa por cima do corpo. Agarro
a carta que me deixou até amassá-la.

Amor verdadeiro é quando conhecemos

todos os riscos e ainda assim os queremos. Quando


te conheci, sabia que eles eram muitos.
Você me conquistou ao fazer o mesmo.
Amou todos os espinhos, e não só a rosa.

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Nunca me senti tão necessária para alguém.

E assim como você foi o primeiro cara que me teve


de verdade, tenho certeza que será o último.
Mas, quando os riscos deixam de ser apenas

meus, sei que é hora de partir. Tudo em você vale a


pena. Vale cada minuto de dor que vou sentir por
não estar ao seu lado para sempre. Tudo o que eu
precisar fazer para que você fique bem, vou fazer.
Como agora.
Se um dia alguém me perguntar quem foi

meu grande amor, com certeza direi que foi você.


Te amo.

— Desculpa, Mon, mas o meu amor também


é verdadeiro. Não vou te deixar partir assim.
Vasculho o quarto ao lado do meu e só
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encontro algumas poucas roupas e outras coisas que


eu mesmo dei a ela. Noto logo ter levado o anel da
minha mãe que usei para pedi-la em casamento.
Apesar de toda a merda que estou vivendo, um
meio sorriso me escapa quando percebo que quer se
lembrar de mim, ter algo para recordá-la da nossa
conexão.
Desço as escadas de dois em dois degraus.
Ignoro o fato de precisar ir trabalhar. Pobre ou rico,
nada mais importa a não ser trazê-la de volta para
mim.
Pego as chaves do carro no balcão. Ainda
em pé, bebo de uma vez só uma garrafa de suco de
laranja. Não posso perder tempo.
Dirijo até o prédio velho onde vive, na
esperança de ainda estar ali. Meu telefone toca
antes que possa descer do carro e o atendo no
painel digital.
— Sim.
— Caio, onde você está? Esqueceu que
temos uma reunião? Ou tínhamos, já que era há
meia hora atrás e você não apareceu. Cada dia fica
mais difícil de lidar com você — meu avô termina
de falar e emite um rugido alto.
— Tenho algo importante a resolver agora.
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— Não há nada mais importante do que você


chegar aqui antes da manhã terminar.
— Vô, com todo o respeito, a minha vida é
muito mais importante do que esse jogo de poder
que você adora brincar com seus amigos ricos.
— Você é um de nós, Caio. Se não está aqui
jogando, seu lugar é na sarjeta.
— Já disse, estou com um problema e nada é
mais importante do que isso.
Ela dá uma gargalhada alta. Não leva a sério
nada do que digo.
— Qual delas é o seu problema? Mônica,
Mariana ou a loirinha gostosa?
Trinco os dentes com as palavras dele. Se
não respeita nem a mim, como posso querer que as
trate decentemente?
— Mônica foi embora. E, estou tentando não
fazer nenhuma associação, mas não para de pipocar
na minha cabeça o fato de que isso está relacionado
a você e a pressão que me obrigou a fazer sobre ela.
— Você é mesmo um menino. Eu fui
tolerante. Te dei a chance de escolher. Apesar de
estar na cara que essa moça não é a mulher certa
para um Bauer, te dei a possibilidade de ficar com
ela. É lógico que viu que você não está pronto para
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dar tudo o que ela ambiciona. Assim como não


conseguiu fazer com a Mariana.
Aperto forte a direção. Como consegue me
irritar tanto? Parece que faz isso para que eu
exploda de uma vez e faça logo o que quer. A raiva
me sobe à cabeça.
— Não volto para o escritório até encontrar
Mônica. Mas não pense que isso é negligência da
minha parte. Você terá o seu contrato milionário e
terei a minha garota. Porque é o caralho que eu não
sou capaz de fazer isso. Não sou o menino que me
acusa de ser. E vou te provar isso, ou não me
chamo Caio Bauer.
Tenho certeza que posso ouvir seu risinho de
satisfação. Era isso que ele queria: despertar a gana
em mim, a necessidade desesperada de conseguir o
que quero.
E, nesse momento, não tem nada que deseje
mais do que ter a minha garota ao meu lado. E
continuar rico para dar a ela tudo que esse mundo
me permitir.
Saio do carro e entro no prédio quando uma
senhora sai e deixa o portão aberto. Vou de escada
até o terceiro andar porque não tenho paciência
para o elevador.
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Começo batendo na porta de Mônica


devagar mas quando não tenho resposta, minha
mão pesa sobre a madeira. Penso no quanto ela
nunca gostou de me trazer até sua casa.
O máximo que consegui ver foi a sala quase
sem móveis, quando estivemos aqui para buscar
alguma coisa e ela não conseguiu me fazer esperar
no saguão do prédio estranho onde vive. Insisto nas
batidas contra a madeira.
— Porra, não conseguiu entender que não
tem ninguém? — uma mulher fala atrás de mim.
Olho para a porta aberta no corredor e uma
garota de cabelos laranja aperta um olho como se
tivesse acabado de despertar de um sono de dois
meses. Minha boca se abre quando percebo que
está pelada, apenas metade do corpo escondido pela
porta do seu apartamento.
— Sou o namorado da Mônica — digo,
tentando não olhar para o peito dela.
— Eu sei. Já te vi por aqui. E ela avisou que
você viria. — Sua voz é rouca como a de quem
fuma há muito tempo.
— Avisou? — pergunto, surpreso.
A mulher assente e suspira. Ela me analisa
de baixo para cima e sorri de um jeito safado
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quando chega na minha boca.


— Você não precisa ficar sozinho agora que
ela foi embora.
— Não vou ficar sozinho. Vou atrás da
Mônica.
Sua gargalhada ecoa no prédio. Ela
desaparece dentro do apartamento e volta com uma
camiseta grande demais. Me mostra um chaveiro
que gira no dedo.
— Se você descobrir algum rastro dela,
parabéns, porque já dei uma olhada no apartamento
e não ficou nem um fio de cabelo.
— Ela não disse para onde foi? — Pego as
chaves dela.
— Não. Nem somos amigas. Conheço ela de
vista. Só me pediu para entregar as chaves para o
síndico, porque ele não estava por aqui. Entrei para
ver se tinha alguma coisa interessante. — A ruiva
dá de ombros.
Consigo acertar na segunda chave. A sala
tem o cheiro do perfume de Mon. Meu peito se
esvazia como o apartamento.
Sofá, cama, geladeira, fogão, mesa e
algumas cadeiras. E só. É como se ela vivesse
sempre pronta para partir a qualquer momento.
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— Ninguém consegue arrumar suas coisas e


ir embora assim tão rápido — sussurro, entrando no
banheiro também vazio.
— Pelo visto, não tinha muito mesmo.
Tento calcular como Mônica podia viver
aqui e ter tão pouco fazendo o que fazia. Onde
colocava o dinheiro que ganhava?
— Obrigado. — Devolvo as chaves e giro a
maçaneta para sair ao ver que ficar seria perda de
tempo.
— Ei, não vai nem me dar seu telefone?
Saio sem responder. A garota enfia a cabeça
no corredor.
— E se ela aparecer? Como vou te avisar?
Paro de andar e aperto os dentes. Porra. A
contragosto, dou o número para ela e vou embora.
Mas não sem perceber seu sorriso satisfeito.
Volto para o condomínio onde moro. Sei que
Mon não esteve no Manhattan porque desde que
comprei a boate eles sempre me avisam a qualquer
sinal dela. Só tenho mais um lugar onde posso
tentar encontrar informações de Mônica e ele é
onde a melhor amiga dela estiver.
Dirijo direto até a casa de João. Entro sem
bater e não vejo ninguém na sala. Passo pela
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cozinha e vejo meu primo e a mulher deitados em


duas espreguiçadeiras na frente da piscina.
— Será que esses dois vão nos dar um dia de
paz na nossa lua de mel, amor? — João ergue os
óculos de sol e aperta os olhos ao me ver diante da
porta do jardim.
— Não sei, não. Acho que eles estão
levando a sério essa coisa de serem padrinhos
presentes. — Maxime se apoia nos cotovelos.
De maiô verde e com um enorme chapéu, ela
parece uma garota cheia de classe. Mas ao se virar
de lado para me enxergar, a barriga enorme faz
com que se movimente como uma tartaruga de
casco no chão.
— Calma, amor. Não vai cair, daí. — João
se senta e a ajuda a fazer o mesmo.
Olho para os lados como se eles pudessem
esconder minha namorada em algum lugar tão perto
de mim que não posso vê-la. Os dois me encaram,
esperando que eu fale logo de uma vez o que quero
aqui.
— Max, cadê a Mônica? — pergunto,
apoiando as mãos na cintura.
— Ué, como eu vou saber? Na casa dela?
Maxime tira o chapéu enorme e amassa os
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cachos, despreocupada. Minha irritação aumenta a


cada segundo em que eles não me levam a sério.
— Acabei de sair do seu apartamento e a
única coisa que prova que ela esteve lá um dia é o
seu perfume.
— O quê? — Maxime levanta, se apoiando
no ombro de João, me olha assustada. — Como
assim?
Leio em seu rosto a total surpresa. Merda. Se
nem a melhor amiga de Mon sabe onde ela está,
como vou achar essa garota?
— Nós brigamos ontem e quando acordei
hoje de manhã ela já não estava. Deixou uma carta
de despedida e evaporou — falo, entregando o
papel nas mãos dela. — Você deve ter alguma
pista, Max. Uma coisa qualquer que possa me levar
até ela.
João levanta e lê a carta por cima do ombro
da mulher. Espero impaciente.
— Ela esteve aqui ontem — ele diz quando
termina.
Max olha feio para o marido e me entrega a
carta. Seus braços enlaçam a região sobre a barriga
e ela vira de costas para mim.
— O que ela queria, Max? — pergunto,
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guardando outra vez a carta no bolso.


Maxime não diz nada. Faço sinal com a
cabeça para que João tente alguma coisa. Ele
suspira e chega por trás da esposa.
— Ela te disse alguma coisa, amor? Estava
precisando de algo? Notou uma atitude diferente?
Sua amiga pode estar em uma situação difícil agora
e talvez você seja a única pessoa que pode ajudar
— ele fala em tom carinhoso.
Dá pra ver sua hesitação em falar e trair a
amiga. Sua cabeça maquina o que pode ou não ser
dito, até ceder, provavelmente ao perceber que o
risco da amiga estar em apuros é muito maior do
que ela se irritar por ter falado demais.
— Dinheiro — Maxime sussurra.
— Dinheiro? Por quê? — pergunto, andando
em círculos.
Max se desvencilha das mãos de João e
torna a olhar em minha direção. Franze a testa
como se estivesse fazendo força para lembrar de
algum detalhe.
— Não sei exatamente. Falou que você tinha
comprado o Manhattan, que tinha contas a pagar.
Ofereci ajuda. Pensei que estivesse se sentindo
acuada pelo seu excesso de proteção, só isso. Não
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imaginei que estivesse planejando ir embora. Fico


até triste que não tenha me contado nada. Mais do
que isso, não acha que pelas coisas que disse na
carta parece que estava tentando te proteger?
— E por que ela faria isso? — falo,
agoniado.
Max morde o lábio. Ela deixa o corpo cair
na espreguiçadeira e solta os braços.
— Amor, você precisa nos dizer o que sabe.
— João senta diante dela e ergue seu queixo.
— Me sinto uma idiota. Nunca tinha
percebido o quão pouco sei sobre a vida da minha
melhor amiga.
— Ei, não é culpa sua. Você respeitou o
espaço dela. Também estava envolvida com os
próprios problemas.
Max aquiesce e eu também me sento ao seu
lado. Seguro em sua mão e ela me encara.
— Mesmo que seja pouco, preciso que me
diga o que sabe sobre a Mônica. Temos que
encontrá-la, Max.
— Vamos ligar para ela — Maxime diz,
como se tivesse acabado de ter a melhor ideia do
mundo.
— Já tentei ligar, mas ela não fica online
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desde a madrugada. Não tenho mais para onde


fugir. Pelo que já havia pesquisado quando comprei
o Manhattan, nem mesmo eles sabem nada sobre
ela. Mônica sequer tem redes sociais e começo a
achar que há alguma coisa por trás disso tudo.
Maxime olha para os pés e brinca com uma
pétala amarela caída de alguma flor. Aperto sua
mão um pouco mais forte para que volte a prestar
atenção em mim.
— Max...
— Tem um cara... — ela começa ainda sem
me olhar.
João me encara. Minha cabeça dói e tenho
medo que ela continue. Cada palavra que disser a
partir daqui pode me ferir muito. Pode cortar de vez
o meu elo com Mônica e levar para longe de mim
outra vez uma pessoa que amo. Meu primo acaricia
o joelho da esposa e a encoraja a falar:
— Você conhece esse cara, querida?
— Não.
— Então, o que tem ele?
— Ela disse que não usava a internet por
causa dele. Que a assustava, ameaçou sua família e
por isso se mudou para Porto Alegre.
Abro a boca, desesperado para despejar um
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milhão de perguntas, mas João faz sinal para que eu


espere. Passo a mão nos cabelos e tento conter a
ansiedade.
— Era um namorado?
— Acho que não. Ela falava que era um
cafetão.
— Ok. Se ele ameaçava a família dela, então
Mônica tem alguém e pode ter voltado para perto
deles. Você sabe onde vivem?
— Não. Não. Não.
Maxime balança a cabeça freneticamente.
Ela tenta se levantar, mas João a segura.
— Max, olha pra mim. — Ele mantém seu
rosto entre as mãos e posso ver o quanto Maxime
não quer trair a amiga, porque é óbvio que ela sabe
a resposta.
— Eu não sei, João.
— Maxime, precisamos descobrir por que a
Mônica está com tanto medo. Se ela fugiu, pode ser
que esse homem esteja atrás dela. Você é a única
que pode nos ajudar, ajudar a sua amiga. Ok?
A garota solta o ar e se levanta em um
impulso. Ela passa por nós dois e para na frente da
piscina. Demora um pouco até que tenha coragem
de contar e quando fala, o som sai agudo.
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— Lisboa. Mônica esconde os pais em


Lisboa e tudo o que ganha é para mantê-los lá, em
segurança.
João levanta e abraça a esposa por trás. Ela
começa a chorar e ele a balança.
— Baby, calma.
— Ela nunca vai me perdoar. Me fez jurar
tantas vezes que eu não diria nada a ninguém. Que
os pais poderiam morrer se fizesse isso. Sou a pior
amiga do mundo.
— Não, amor. Algo grave podia acontecer se
você não nos contasse.
— Vocês precisam encontrar a Mônica. Meu
Deus, não vou conseguir ficar em paz até saber se
está bem.
— Vou achá-la. Pode ter certeza. Vou trazer
a Mônica de volta para casa com a família. E em
segurança. Se tem uma coisa que não vou permitir
é que saia da minha vida se ainda me ama como a
amo.

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Mônica
3 anos antes
Espero uma hora depois de meus pais terem
ido deitar. Olhando para o teto do meu quarto,
brinco com os polegares sobre o peito enquanto
penso que em poucas horas estarei na cama com
alguém que sequer conheço.
E se ele for um velhote gordo e nojento? E
se for um sádico? Pedro disse que ele pagou mais
caro por uma coisa especial, mas não quis me dizer
o que era para que eu não desistisse. Foi uma
bobagem me antecipar isso. Desejei não encontrar
esse cara mais do que tudo quando ele falou. Me

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acalmou, dizendo não ser nada de mais e que nunca


faria algo para me machucar.
Rio. Ah, se ele soubesse o quanto já
machucou meu coração. Sou uma menina de
dezoito anos marcada para sempre.
Estendo o braço e abro a gaveta da cômoda
ao lado da minha cama. Enfio a mão por baixo dela
e encontro a folha dobrada. Trago o papel até o
meu peito e é como se tivesse colocado um tijolo
sobre meu corpo, tamanha é a pressão que ela me
causa.
Desdobro o papel que diz que sou casada
com Pedro. Devia estar preocupada com outra
folha, o meu diploma, mas encaro a certidão de
casamento de uma garota que nem saiu da escola.
Devia pensar no meu futuro com a alma
livre, mas me sinto prisioneira da culpa por ter
perdido o filho que deveria me acompanhar para
sempre. A primeira lágrima rola de lado pelo canto
do meu olho e pinga no travesseiro.
Esfrego o punho no rosto e a seco. Chorar
não adianta nada. Preciso acabar com isso de uma
vez.
Troco de roupa e coloco o vestido que usei
no meu aniversário. Um tubinho preto até a metade
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das coxas. Faço uma maquiagem e prendo o cabelo


sem deixar um fio bagunçado.
Escondo o papel debaixo do colchão e vou
até o quarto dos meus pais. Abro uma fresta na
porta e aguardo até ouvir suas respirações ruidosas.
Saio pelos fundos e pulo o muro, arranhando
os braços e joelhos ao cair do outro lado. O ponto
avermelhado da ponta do cigarro em brasa se
movimenta e reconheço os cheiros que antes me
deixavam alerta de um modo bom. Agora, o
perfume barato e o odor de fumo de Pedro me dão
vontade de vomitar.
— Achei que tivesse desistido. Ia te dar mais
cinco minutos.
— Ou o quê? — pergunto corajosa, tirando
as folhas presas na roupa.
— Ou ia entrar lá pra te buscar. Daria um
jeito nos seus pais e você seria livre para mim para
sempre — Pedro ergue a barra da camisa e me
mostra sua arma.
Ele joga no chão o cigarro por terminar e
agarra meu cotovelo. Seus dedos machucam, mas
não tento me libertar.
— Relaxa. Tensa assim o cara nem vai
conseguir entrar em você.
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Trinco os dentes. Já sei que bancar a difícil é


pior, mas meu íntimo se recusa a ceder assim tão
fácil. Quero ser fácil para o homem. Seduzi-lo e
acabar logo com essa merda toda. Só não consigo
ser boazinha com Pedro mais depois do que me fez
passar.
Ele me arrasta pela rua escura e me joga
contra um carro estacionado. Sinto o vidro gelado
tocar meus ombros e um calafrio percorre meu
corpo.
— Já sei. Tive uma ideia. — Me analisa com
lascívia.
Ah, Deus! Como odeio as ideias de Pedro.
— Do que você está falando?
— Vou te comer antes dele. Assim, vai
chegar prontinha e molhada para a festinha a dois.
Desvio o rosto quando me pressiona contra o
carro, tentando me beijar. Suas mãos passeiam pela
parte interna das minhas coxas até tocarem meu
clitóris.
Em um movimento rápido, ergue o braço e
me dá uma bofetada. Levo a mão ao rosto, tentando
abrandar o calor que sinto na bochecha.
— Que porra foi essa, Pedro? — Abro a
boca, surpresa.
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— Puta. Já veio pronta. Nem a calcinha


colocou, porque está louca para dar para outro.
— Você é um cretino. Quer que eu seja sua
esposa comportada, mas banca o ciumento ao me
vender para os outros. Se quer saber, até agora
todos eles foram melhores que você.
Pedro passa o polegar sobre o lábio e ri. Seu
olhar é diabólico. Tudo nele me mostra que escolhi
as palavras mais erradas possíveis. Com a mão
esquerda, agarra meu rabo de cavalo até que meu
pescoço fique disponível. Com a outra, o aperta e
me ergue até que eu fique na ponta dos pés.
— Sabe o que é pior pra você? Que esse seu
jeito de vadia me deixa louco — rosna no meu
ouvido.
Pressiona minha barriga com o quadril e
sinto sua excitação. Na rua escura, ergue meu
vestido e puxa minha perna até se encaixar em
mim.
— Pedro, o que você está fazendo? Estamos
no meio da rua — pergunto enquanto ele abre o
zíper da calça.
— Você não se importa, não é? É uma vadia
de beco. Anda pronta. É só levantar a roupa e meter
— fala enquanto me beija pelo rosto.
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Sua língua tenta entrar na minha boca e só


cedo quando pressiona os dedos contra meu
pescoço. Ele me empurra até o capô e a cabeça do
pau me pressiona entre as pernas.
Dói quando me invade. Dói meu coração.
Ele resfolega, entra e sai, a testa colada na minha
enquanto tenta enxergar nossos sexos se chocando.
— Fica comigo, baby. Sente como é
gostoso, nós dois. Sua boceta gosta. Já está
pingando pelo meu pau. Com essa delícia, podemos
ficar ricos. Você gosta de dar. É uma vagabunda
por natureza. Te empresto pra esses caras que não
tem capacidade de ter uma mulher como você —
ele fala, rouco, enquanto me fode cada vez mais
rápido.
— Para, Pedro. Você não está vendo? Você
é um lixo. Se tem uma coisa que não estou, é
molhada por você. E nunca mais estarei.
Suas mãos me apertam e ele gira meu
pescoço até que eu o encare. Seus olhos são
doentes, loucos. Obsessivos.
— Ah, neném. Aí é que você se engana,
porque eu vou te molhar todinha e é agora mesmo.
Essa boceta está pedindo por porra, gatinha.
— Não — tento gritar, mas ele cobre minha
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boca.
A velocidade com que entra em mim
aumenta até suas pálpebras se fecharem. Pedro
estremece e me empurra forte uma última vez
enquanto goza. Relaxa o corpo e deita a cabeça
sobre meu peito como se fôssemos dois amantes
apaixonados.
Segundos depois, se afasta e sai de mim,
guardando o membro e arrumando a roupa outra
vez. Seu líquido pegajoso escorre até meu joelho
quando acaricia meu rosto e sorri.
— Foi demais, não foi? Agora vamos. Tem
um cara que vai adorar te receber molhadinha
assim.
Quando Pedro para na frente do motel e
passa o peito por cima do meu corpo para abrir a
porta do passageiro, estremeço. Olho de relance
para a fachada do lugar. Pelo luxo do prédio,
constato que esse será mais um dos amigos ricos
dele.
— Vai. Quarto número sete. Seja uma boa
menina e faça o que ele mandar. Será livre depois
de hoje. Se pensar em fugir, lembre dos seus pais e
do quanto gosta deles. — Levanta a camisa e me
mostra a arma outra vez.
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Não respondo, apenas desço do carro e bato


a porta. Ouço o barulho do vidro sendo aberto no
momento em que estou tentando baixar um pouco o
vestido.
— Estarei aqui na frente te esperando —
Pedro fala, a cabeça inclinada para mim.
Nunca senti tanta vergonha como na hora de
explicar para a recepcionista o que estou fazendo
parada na frente do vidro dela. Mas é óbvio que já
sabe quando apenas balbucio algo quase
ininteligível:
— Sete.
— Um momento — sua voz robotizada me
assusta ao invadir o ar e olho para trás para ver se
alguém a ouviu.
Ninguém. O carro de Pedro não está mais
por ali e a rua escura está vazia. Outro barulho
mecânico e, quando olho para frente, o portão está
se abrindo. Não me mexo.
— Pode entrar — diz a mulher que não
consigo ver.
Faço o que manda e as ruelas do motel
aparecem na minha frente. Olho para a esquerda e
para a direita, sem saber para onde ir. Escolho o
caminho de números ímpares e sigo procurando até
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encontrar o quarto à minha espera.


Pigarreio ao parar na frente da garagem. E
agora, meu Deus, o que devo fazer? Bato?
Percebo o recorte interno de uma porta e giro
a maçaneta no meio dela. Está aberta e entro,
parando ao lado de um carro luxuoso. As escadas
em caracol me parecem assustadoras. Me sinto em
um filme de terror, mas em vez de fugir do
monstro, estou indo em direção a ele.
Ouço um barulho e um vulto surge no último
degrau. Uma música toca baixinho e um fio de luz
vermelha bate na parede ao meu lado.
— Oi, a recepção avisou que você havia
chegado. Pode subir. Não tenha medo. A gente já
se conhece.
Sinto sufocar e fico me perguntado se ele
está enganado ou se fui eu que enlouqueci de vez.
Me aproximo devagar e ao chegar na metade da
escada já sinto seu perfume.
Fico aliviada ao reconhecer o rosto mais
perto da luz. É um dos garotos de Las Vegas. Sinto
um pouco menos de medo agora. Estava apavorada,
cogitando se Pedro não andava me drogando e me
vendendo por aí enquanto eu estava fora de mim.
Agradeço mentalmente por não ser esse o caso.
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— Bom te ver de novo — o cara fala.


Dou um sorrisinho falso e passo a mão nos
cabelos. Preciso me mostrar interessada. Se pensar
que desejo estar aqui tanto quanto ele, acabamos
com isso de uma vez.
— Digo o mesmo.
Ele segura meu queixo na entrada do quarto
e me puxa para dentro, fechando a porta atrás de
nós. O lugar é todo decorado como se fosse o Taj
Mahal e nunca vi nada mais lindo do que isso.
— Precisava te ver de novo. Aquela noite,
quando chegou a minha vez, você passou mal. Foi
uma pena. Não passo um segundo sem pensar em
você nos meus braços. No meu pau dentro do seu
corpo. Ah, meu nome é Tiago.
— Fico lisonjeada com o seu interesse. Só
não entendo o que alguém como você quer comigo.
Lindo do jeito que é, conseguiria qualquer uma
facilmente.
Ele vira o corpo para mim e me pressiona
conta a parede. Seu peito aperta meus seios e a mão
passeia pela minha nuca.
— Quero fazer com você o que não consigo
com as outras — diz, rouco, devorando meus lábios
com o olhar.
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— E o que é?
Sua boca não me responde, mas engole a
minha. Afoita, a língua me invade e as mãos me
apalpam como se eu fosse o último copo de água
do deserto.
Em segundos, me vejo nua na sua
frente. Espero que tire a camisa e observo o tronco
perfeito.
— Me chupa — ordena após tirar as calças.
Fico de joelhos na sua frente e engulo em
seco. Dessa vez estou cem por cento aqui. Não
bebi, não tomei nada e preciso fazer isso como se
estivesse curtindo muito e o único com quem já
transei sem ser por obrigação foi Pedro.
Ai, tenho tanta raiva dele. Não quero que
tenha exclusividade na minha vida em nada. Puxo
o elástico da cueca boxer para baixo e o pau de
cabeça vermelha sai para fora, pulsante.
Sinto as bochechas queimarem quando
Tiago ergue meu rosto para que nossos olhos se
encontrem. Tudo que posso ver em sua expressão é
o mais puro desejo.
— Beija ele todinho como vi você fazer nos
meus amigos, princesa. Seja minha, só minha. Pelo
menos essa noite. Você será muito bem
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recompensada.
Seu toque é carinhoso, mas firme. Seguro o
pau pela base e o coloco na boca aos poucos. Com
a mão nas minhas costas, gentilmente ele me
empurra até que quase tudo entre.
— Assim. Delícia, você. Que boquinha
apertada. Vamos enfiar só mais um pouquinho, ok?
Ergo os olhos e tento mostrar algum sinal de
que estou de acordo, mas é difícil balançar a cabeça
então faço ok com o polegar levantado. Seu quadril
se move para frente e a glande do pau se enfia em
mim até tocar minha garganta. Me dá ânsia, mas ele
insiste.
— Já vai passar, gatinha — diz, malicioso,
enquanto me observa engolindo seu membro.
Tiago fode um pouco a minha boca e
mantenho os olhos nele enquanto isso. Não deve ter
mais de vinte e cinco anos. Loiro e forte na medida
certa, com certeza vai à academia todos os dias.
Tem cheiro de dinheiro e tudo nele exala riqueza.
Seus enormes olhos azuis se abrem e ele sorri de
lado ao me pegar o analisando.
— Gosta do que vê? É lindo, não é? Nós
dois, corpos perfeitos, sexo gostoso, uma noite
divertida. Gatinha, parece que você é novata nisso,
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mas se fizer tudo direitinho, pode ser a dona do


mundo — sussurra e me afasta do seu pau, me
puxando pelos cabelos.
Não sei o que dizer. Só anseio que essa seja
a última vez, mas, apesar de tudo, até agora ele está
se mostrando uma companhia agradável. Sento
sobre os tornozelos e ele se abaixa para me beijar.
Me sinto como se fosse sua namorada.
— Quer que eu te ensine? — pergunta,
roçando o dedo no meu rosto.
— Se você quiser. — Dou de ombros.
— Vem. Vou te mostrar como ter tudo que
quiser nessa vida.
Mordo o lábio ao pensar que tudo o que mais
desejo é me livrar de Pedro e parar de decepcionar
meus pais. Tenho certeza que não é dando para
todos os caras do mundo que conseguirei isso.
Mesmo assim, não custa nada ver o que tem para
me ensinar.
Ele vai até a banheira e enfia a mão na água.
Me chama, dobrando os dedos e sorrindo safado.
Fico com vergonha quando sua expressão faz algo
entre as minhas pernas se contrair.
— Primeiro: isso é um negócio. E, como
qualquer negócio, o que você quer é agradar ao seu
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cliente.
Caminho até ele e quando paro na sua frente,
ajeita meus ombros e puxa as laterais da minha
boca, forçando um sorriso.
— A não ser que o homem tenha tara por te
comer contra sua vontade, seja confiante e
sedutora. Mostre que está gostando de estar ao seu
lado. E isso envolve gemer muito e gozar com ele.
Mesmo que seja de mentirinha, ok? — Ele pisca e
sorri.
Baixo a cabeça e coloco o cabelo atrás da
orelha. Fecho os olhos e tento me concentrar no
que falou. Quando o encaro outra vez, vejo o diabo
em sua expressão e sei que é só o reflexo da minha.
Corajosa, enceno meu melhor olhar de sedução.
Deixo de lado meu jeito meigo ou o modo
apaixonado como sempre fitei Pedro. Só faço
replicar a maneira depravada como a maioria dos
caras me olha na rua. Pelo modo como Tiago me
agarra pela cintura, a técnica funciona.
— Você é uma aluna fantástica. Nunca me
senti tão desejado quanto agora.
Nos beijamos intensamente e meu clitóris
vibra ao encontrar com seus dedos ágeis. Sinto os
joelhos falharem quando entram em mim.
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Não preciso fingir. Os minutos que Tiago


gasta esfregando a palma da mão na minha pele são
deliciosos. Sendo beijada no pescoço e masturbada
por um cara lindo de morrer, estremeço e
choramingo quando o orgasmo mais forte da minha
vida me atinge.
— Isso, perfeita. Você conseguiu me fazer
acreditar que sou tudo o que mais deseja aí dentro
dessa bocetinha linda — sussurra na minha orelha.
Os pelos do meu corpo se eriçam e quero
mais. É libertador e delicioso. Mas não demoro
muito a descobrir que nem tudo são flores.
— E é o que vou fazer agora. Entrar em
você. Com todo esse desejo pingando entre as suas
pernas o seu trabalho sempre será rápido. Mesmo
que um homem pague para passar a noite ao seu
lado, se o deixar louco, o sexo não passará de
quinze minutos. Ou seja, quanto mais desesperado
você o deixar, menos trabalho terá. Entendeu?
— Sim — respondo, segurando em sua mão
e entrando com ele na banheira.
Sento e apoio as costas na parede de fibra,
relaxando os ombros na água morna. É tão gostoso.
— Ah, e prenda o cabelo e não molhe o
rosto. Ou não vai conseguir atender muita gente se
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tiver que se arrumar entre cada cliente. Mas isso


você deixa para eles, porque sei que essa noite você
é só minha.
Brinco, afastando a água com as mãos. Rio
dos detalhes que me dá. Pelo tanto que sabe, já
deve ter passado a noite com centenas das garotas
mais lindas do país.
— Como você sabe de tudo isso? —
pergunto, trazendo uma camada de espuma até
meus seios.
— Namorei uma garota de programa. — Ele
ergue um ombro e se aproxima de mim, se
encaixando entre as minhas pernas.
— Sério?
— Sim. E tudo o que eu mais queria era que
saísse dessa vida e casasse comigo.
— E ela não quis?
— Não. Gosta de ser livre.
— Você ainda gosta dela, não é?
Tiago beija meu pescoço e sinto o clitóris
formigar outra vez. Ele sabe como me deixar
excitada.
— Talvez — responde, o rosto enterrado sob
meus cabelos.
— E não vai atrás dela por quê?
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— Porque agora também quero ser livre.


Nada nos aprisiona mais do que o amor.
Abro a boca e não falo nada, chocada com as
palavras dele. Nunca ouvi algo mais inteligente do
que isso. Todas as formas de amor que conheci me
aprisionaram de alguma maneira. Repito as
palavras mentalmente: nada nos aprisiona mais do
que o amor. Mas não nasci pra ser livre.
— Mas vamos deixar isso de lado e curtir a
nossa liberdade fodendo.
Com os dedos habilidosos, afasta os lábios
da minha vagina e rapidamente escorrega a cabeça
do pau para dentro de mim.
Sem que precise dizer nada, Tiago me ensina
minha última lição: nunca confie em um homem.
Depois de tudo que disse, tentando ganhar minha
confiança, se mostrando um bom professor, ele se
torna só mais um dos filhos da puta quando chega a
hora de fazer o que quer comigo.
— Tiago, para — falo, assustada.
Empurro seu peito com as palmas das mãos
e tento tirá-lo de mim, mas é forte e pesado. Sem
parar de me beijar e tentar enfiar a língua na minha
boca, ele pergunta:
— Que foi, gatinha? Não está gostoso? Você
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acabou de gozar pra mim. Agora é a minha vez.


Olho para os lados, a procura do que está
faltando. Não vejo nada e Tiago parece não querer
ver.
— A camisinha. Você não a colocou. Para
— peço, me debatendo.
Sua pressão sobre mim aumenta e seu pau
entra até o fundo. Com as mãos por baixo do meu
quadril, ele me ergue um pouco e enfia um dedo
entre as minhas nádegas.
— Ai, Tiago. Para. Você tem que colocar a
camisinha — imploro.
— Gata — diz, entredentes, se afastando
ligeiramente. — Paguei pra gozar dentro de você.
Bem caro, por sinal. Lembra daquela regra?
Chegou a hora de agradar o cliente. Fica quietinha
e finge que é a minha namorada, que vou te encher
de mim, ok?
Quero chorar e lutar, mas sei que não vai
adiantar de nada. Enquanto suga meus peitos e me
aperta contra seu corpo com força, olho para cima e
repito o mantra: nunca confiar, nunca confiar,
nunca confiar.

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Caio
É o meu limite. Sem forças e sem
esperanças, vejo a cada hora que passa aumentar a
distância que me afasta de Mônica. Estou outra vez
no quarto dela, erguendo travesseiros e tapetes,
tentando encontrar qualquer coisa que possa me dar
uma pista. Nada.
Como me arrependo de ter deixado para
aprender algumas coisas na força bruta. Sou tão
idiota. Foi necessário perder alguém outra vez para
perceber que devia ter agido antes.
Esperei demais. Aproveitei cada momento
ao lado dela como se eles fossem durar para
sempre. Agora não tenho nenhuma ideia do seu
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paradeiro.
Ando de um lado para o outro sem saber o
que fazer. O detetive que João conseguiu foi tão
longe quanto eu: zero.
Pior de tudo é pensar no meu futuro. Daqui
para a frente, meu tempo é mais curto ainda. Ou
volto para Mariana ou perco tudo.
Tenho estranhado o silêncio dela depois do
que aconteceu entre nós. Nas vezes em que fui ver
os meninos, ela sequer estava em casa. Mas não me
importo. Não é das opções que tenho cogitado,
ficar com a minha ex.
Preciso fazer alguma coisa. Essa espera tem
me agoniado e mal tenho ido trabalhar. Meu avô
me cobra todos os dias. Já estou enlouquecendo,
apelando para as orações e para qualquer santo
milagreiro.
Pulo quando meu telefone toca. Pego o
aparelho no bolso com irritação. Não reconheço o
número e falo com agressividade para quem quer
que esteja atrapalhando a minha busca.
— Oi. — A voz feminina é rouca e penso se
já a ouvi alguma vez.
— Sim?
— Tudo bem?
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— Estou ocupado no momento. Pode me


dizer o que deseja?
O silêncio do outro lado da linha é cortado
por um grito e portas batendo. Sim. Já ouvi isso
antes.
— Posso ligar depois. Só achei que estaria
interessado em saber notícias da sua puta.
Me perco no mecanismo de respirar. Não sei
se solto o ar, se o prendo. Esqueço tudo o que devia
saber naturalmente.
Reconheço os ruídos na linha como os que
escutava quando ligava para Mônica. O prédio dela
sempre aquela zona. A mulher falando comigo só
pode ser sua vizinha ruiva.
— Não. Por favor. Sou todo ouvidos —
cedo, mudando o tom de voz.
— A polícia esteve aqui — despeja sem
rodeios.
Minha cabeça gira e sento na cama,
desesperado. Meu Deus, será que aconteceu algo
com a minha garota?
— Ela está bem? A Mônica está viva?
— Essa Mônica não sei, mas eles vieram
atrás de uma tal de Tatiana. Parece que a Mônica
deixou o carro abandonado em uma rua. Foram
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atrás dos documentos do veículo e aquele Onix


vermelho em que andava está registrado em um
nome falso, mas dentro dele tinha alguma coisa
com o nome dessa Tatiana e, com isso, chegaram
no endereço daqui.
Olho para a escrivaninha de Mon e pulo até
ela. Pego uma caneta e abro um caderno de
anotações em uma folha qualquer.
— Eles te falaram o nome todo? Mais
alguma coisa?
— Sim. Espera.
Aguardo no outro lado da linha até que ela
volte com alguns dados. Escrevo tudo, mesmo o
que não parece importante.
— Obrigado. Nem sei como te agradecer —
falo ao terminar.
— Eu sei... — tenta uma voz sexy.
— Olha, não posso te dar o que você quer —
aviso, já sabendo que ela se insinuaria para mim.
— Que pena, mas uma ajuda financeira não
cairia mal, sabe?
— Ok. Não se preocupe quanto a isso. Você
será bem recompensada. Se tiver mais alguma
novidade, não hesite em me ligar.
Desligo e mando uma mensagem para uma
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das secretárias do escritório para que transfiram


algum dinheiro para a menina, aproveitando que
ainda as tenho para me ajudar. Assim como devo
aproveitar minhas contas bancárias antes que meu
avô as bloqueie, porque, pelo jeito, estou longe de
conseguir o que ele deseja.
Aperto contra o peito a folha com os
rabiscos. Finalmente tenho uma pista de Mônica.
Não faço ideia de quem seja essa Tatiana, mas vou
atrás dela. Espero que possa me ajudar a encontrar
a mulher da minha vida.
Depois que entreguei o nome para o
detetive, ele não demorou muito para me ligar.
Voltei para o escritório e tentei controlar minha
ansiedade fingindo trabalhar.
A cada vibrar do meu telefone, pulava sobre
ele como um tigre. Quando o número do
investigador piscou na minha tela, estava olhando
para ela, como se fosse ser capaz de materializar
alguma novidade sobre Mônica. A voz animada
dele me mostrou de cara que tinha boas novas.
— Então, senhor Bauer. Como vai?
— Como eu vou? Sem respirar enquanto
espero você ligar com notícias.
— Pode soltar o ar, porque o que tenho a
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dizer é que temos mais sorte do que juízo, porque,


bem, não sei se o senhor quer saber, mas tive que
usar alguns métodos um tanto ilícitos para
encontrar a tal Tatiana.
— Não quero saber o que você teve que
fazer, desde que me diga de uma vez tudo o que
descobriu.
— Como eu disse, tivemos sorte. Muita
sorte.
— Fala logo de uma vez. Essa Tatiana está
com a minha Mônica?
— Não tenho certeza, mas acho que pode
saber onde ela está.
Suspiro e pressiono a têmpora. Quero criar
expectativas, mas tenho tanto medo de ser uma
furada, uma falsa conexão.
— Preciso que você descubra como faço
para encontrar a Tatiana.
— É só aparecer na reunião que marquei
para você — ele fala e dá uma risada presunçosa.
Duvido que esse cara seja assim tão bom que
já conseguiu me colocar cara a cara com essa
garota. Talvez eu encontre Mônica muito antes do
que imaginava.
— Do que você está falando?
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— Encontrei um anúncio dela na internet. É


recente e procura por um advogado brasileiro que
atenda adivinha onde?
Não preciso ser um gênio para saber a
resposta. Não consigo parar de pensar em pegar o
primeiro avião para Lisboa desde que Maxime me
contou que Mon tem os pais em Portugal. Talvez
essa mulher seja prima, irmã, qualquer coisa da
minha namorada. Talvez até a mãe.
— Lisboa — digo com a voz rouca.
— Exatamente, patrão. E você é o nosso
advogado. Entrei em contato com um informante
em Portugal. Ele ligou e se fez passar por você.
Criamos um perfil falso e marcamos com ela.
Sábado pela manhã. É a sua chance.
Olho para o calendário sobre a minha mesa.
O tempo é curto.
— É muito apertado. Não sei se chego nesse
dia.
— É melhor correr. De todos os anos de
profissão que tenho, uma coisa posso dizer com
certeza: se a sorte bate na sua porta, pegue-a pela
cauda, doutor.
Desligo o telefone e olho através da parede
de vidro para a sala diante da minha, a do meu avô.
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Submerso em seu mundo cheio de papéis e


contratos, ele trabalha de cabeça baixa como se
tudo no Universo dependesse da sua dedicação.
— Sinto muito, vô, mas, no momento, tenho
coisas mais importantes a fazer que ganhar mais
dinheiro do que poderei gastar algum dia na minha
vida — sussurro para mim mesmo.
Jogo minhas coisas pessoais em uma pasta e
saio porta afora. Paro na recepção e olho para as
três senhoras de uniforme.
— Uma de vocês, me arrume uma passagem
para Lisboa. A primeira que conseguir. De
preferência, pra ontem.
Seus olhos desviam de mim e vão até as
minhas costas. Sem virar, posso ver o rosto irritado
do senhor Bauer.
— Onde você acha que vai, Caio?
Penso um pouco. Não quero estragar tudo.
Só quero trazer a Mônica de volta, casar com ela e
fechar o contrato com a P-Tor. Será que é pedir
demais? Queriam que eu fosse ambicioso. Então,
estou dando o meu melhor.
— Tenho uma proposta de fusão. Uma
grande oportunidade em Lisboa. Consegui uma
reunião de última hora para sábado. Preciso ir.
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Meu vô me olha de lado e franze a boca.


Quando coloca as mãos nos bolsos da calça e
desinfla o peito, sei que está tudo ok, ele acreditou
em mim.
— Ótimo. Ótimo. Vá atrás disso. Deixa que
cuido de tudo aqui com a P-Tor.
Estendo a mão e ele me puxa para um
abraço. Me dá batidinhas nas costas e sorri ao se
afastar um pouco.
Tem uma coisa que não entendo no ser
humano. Se somos sinceros, ninguém gosta do que
dizemos. Se mentimos, fazendo parecer que tudo
está acontecendo como o esperado, as pessoas
adoram. Bom, se meu avô quer assim, assim será.
— Faça uma boa viagem. E me traga um
pastel de Belém.
Beijo seu rosto e sorrio. Vou trazer muito
mais do que isso, vovô.
— Pode deixar. Trarei muitas novidades. —
Aceno já da porta.

***

25 anos antes
O perfume dela era o sempre o melhor.
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Contudo, não importava seu preço ou o aroma


frutado que exalava, sempre que o sentia, o coração
do menino batia mais rápido.
Caio passou correndo pela porta do quarto
da mãe. Segurava a última fatia do bolo de
chocolate que havia feito mais cedo com ela. A
babá caminhava devagar atrás dele. Suas perninhas
pararam ao reconhecer o cheiro da mãe se
arrumando para sair.
Enfiou o rosto na porta e olhou para o
pedaço de bolo em sua mão. Então era por isso.
Mamãe não havia lhe contado que sairia, mas ela
sabia. E ele começava a associar as tardes em que a
mãe ficava com ele como as que trariam a ausência
dela posteriormente.
— Meu amor, entre. — Ela o olhava pelo
espelho onde terminava de pintar os olhos.
— Onde a senhora vai, mamãe?
A mãe soltou o lápis de olho e girou no
banco diante da penteadeira. Sentada, ficava quase
da altura do filho. Ainda assim, curvou as costas
para uma conversa olho no olho.
— O papai tem uma reunião muito, muito,
muito importante essa noite e a mamãe vai com ele.
— Mas você nem provou o bolo que nós
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fizemos. — Caio baixou a mão que segurava o bolo


e olhou para ela.
— Faremos muitos bolos juntos, meu filho,
de todos os sabores.
A jovem mulher acariciava o rosto do
menino com a certeza de quem teria todo o tempo
do mundo ao seu lado. O pequeno forçou um
sorriso e estendeu a fatia marrom para ela, os
dedinhos melecados da calda de chocolate.
— Ah, meu querido. A mamãe não pode
comer agora. Acabei de passar batom — ela
recusou, acenando com a mão.
Os ombros de Caio baixaram outra vez e ele
franziu a boca. Suspirou e engoliu a torta. Enquanto
mastigava, a mãe o limpava com lenços de
maquiagem. Levantou o queixo do filho quando
terminou.
— Olha, nós vamos de helicóptero para
chegar mais cedo de volta em casa. Amanhã
teremos o dia todo juntos. Certo?
Caio fez que sim com a cabeça. A mãe
levantou e calçou os sapatos. Seus olhos brilharam
quando abriu a gaveta de joias na sua frente. Cada
uma delas transformava sua mãe em uma princesa
diferente. Pegou um anel e o colocou no dedo
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pequenino.
O coração de rubi pendeu e girou até a
palma da mão. Ele olhou para o espelho e a viu
sorrindo. Era o que mais gostava, fazê-la rir.
— Gosta desse, não é? — Ela se abaixou
diante dele e segurou o pulso do menino com
carinho.
— É o mais bonito.
— Sabe por quê?
— Não.
— Porque é o seu coração. Ganhei do seu
pai no dia em que ouvimos os seus batimentos pela
primeira vez.
Caio abriu a boca e olhou surpreso para o
anel dourado, como se tivesse nas mãos um pedaço
o próprio corpo. Brincou com o círculo, girando a
peça de um lado para o outro.
— E você chorou?
— Como um bebê.
Como ela podia ter um sorriso tão bonito?
— Então você sempre leva o meu coração
com você quando sai?
— Sempre. — A mãe virou a cabeça de
lado, enfaticamente. — Sabe por quê?
Caio ficou com vergonha, mas outra vez não
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sabia o motivo da mãe levar o anel para onde fosse.


Queria mesmo era dizer que o levasse então,
porque tudo o que mais desejava era estar sempre
ao lado dela.
— Você roubou meu coração, querido.
— Como assim? — ele perguntou,
preocupado.
— Quando ouvi seus batimentos, os meus
pararam. Meu peito ficou vazio e percebi que, a
partir daquele momento, mais nada importava nessa
vida.
— Então por que você não fica comigo
hoje? — o menino despejou, corajoso.
A mãe mordeu a bochecha e estendeu a mão
para ele. Caio entendeu o que ela queria e tirou o
anel e o colocou no dedo anelar da mãe. Sorrindo,
ela falou:
— Caio, meu querido, um dia uma garota
vai aparecer e ela vai roubar o seu coração. No dia
em que sentir esse vazio no peito, você pode dar
esse anel a ela. Nunca se esqueça disso. Você não
foi o primeiro a roubar meu coração, docinho.
— Não? — Ciumento, ele franziu o cenho.
Mamãe negou com a cabeça e passou a
língua nos lábios. Brincou com o anel dourado
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como ele fazia segundos antes.


— Seu pai foi o primeiro, meu amor. E a
mamãe precisa estar ao lado dele essa noite. Mas
não se preocupe, dividi um pedacinho do meu amor
para cada um de vocês e juro que sempre estarei
aqui, ao seu lado, torcendo para que encontre logo
essa menina que vai roubar o seu coração como
vocês roubaram o meu.
Ela deu um beijo estalado na bochecha do
filho e levantou. Pegou o casaco e a bolsa sobre a
cama. Caio a chamou antes que partisse:
— Mamãe...
— Sim. — Ela se virou, um fio solitário
caído do coque aloirado no topo da cabeça.
— Já encontrei a primeira.
— Desculpe? Não entendi.
— Já encontrei a primeira menina que
roubou o meu coração. É você.
Os dentes brilhantes dela apareceram e a
mãe correu até o garotinho, o abraçando forte e
aspirando o aroma do pescoço que ainda há pouco
cheirava a bebê.
— Eu te amo — ela disse pela última vez.

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Mônica
2 anos e meio antes
Escuto as batidas do meu coração como se
fossem as de um tambor. Não consigo reler as
palavras impressas no papel em minhas mãos, de
tanto que tremo.
Desmaiei a caminho da escola. Uma senhora
que passava na rua chamou uma ambulância. O
nome do meu problema está escrito nessa folha:
gravidez.
— Considerando a avaliação que fiz, você
está em estado avançado da gestação, Tatiana. Não
desconfiou de nada? — o médico do posto de saúde
pergunta, me encarando sério por baixo dos óculos.

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Em pé, ao lado de um aparelho de ecografia,


ele aguarda pela minha resposta. Antes de falar,
penso nos meus últimos meses. Engordei bastante,
mas achei que era algo normal depois de tudo o que
andava comendo por causa do fim do
relacionamento com Pedro.
Tive náuseas e dores de cabeça. Nada de
exagerado. Minha mãe achou que era ansiedade.
— Não — respondo sinceramente, ainda em
choque.
— Não sentiu falta dos sangramentos?
Dou de ombros e balanço a cabeça. Suspiro
e deixo o resultado do exame cair no meu colo.
— Perdi um bebê há uns meses. Disseram
que demoraria até que as coisas se reorganizassem.
Pensei que fosse por isso.
— Certo.
Ele baixa a cabeça e faz anotações. Parece
satisfeito com a minha resposta. Quando termina,
aponta para a maca onde estou sentada.
— Deite-se.
Obedeço e olho para suas mãos erguendo
minha camiseta. As batidas do meu coração voltam
a soar no meu ouvido quando me dou conta de que
ali onde ele está tocando tem um bebê.
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— Você vai sentir o frio do gel, ok?


— Ok.
O lubrificante viscoso se espalha pela minha
pele com a pressão do pequeno aparelho na mão do
médico. Segundos depois, a tela escura do monitor
ao meu lado fica clara. Um triângulo preto aparece.
Dentro dele, um pequenino ser humano.
— Um menino. — O médico sorri.
Tento fazer o mesmo, mas o que sai é um
par de lágrimas. Esfrego a manga da camisa nas
bochechas e analiso a imagem sem entender muito
bem.
— Está tudo certo com ele?
— Aparentemente. Temos que fazer os
exames atrasados, calcular a data do parto, essas
coisas.
Ah, meu Deus! Esse bebê tem que sair daí
algum dia. A ideia me apavora. Não pelo parto,
mas pela proximidade de Pedro. Ele não pode saber
que estou grávida. Não quero que tenha mais
alguma coisa com que me ameaçar. Sequer tenho
certeza se é filho dele.
— E podemos saber de quanto tempo estou?
— pergunto, me apoiando nos cotovelos.
— Sim. Vou fazer as medições e já te digo.
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Deita, por favor.


Faço o que pede. Olho para o gesso no teto
enquanto espero. Minha mãe vai me matar. Vou
perder o ano na escola outra vez. Será que não dou
nenhuma dentro?
— Vinte e sete semanas — o doutor fala,
esvanecendo meus pensamentos.
— Humm, e o que seria isso, exatamente?
— O encaro, perdida.
— Quase seis meses. Em menos de três
meses seu bebê estará pronto para nascer.
Saio do consultório atordoada, tentando
calcular o que dá pra fazer em tão pouco tempo. Se
contar aos meus pais, Pedro descobrirá e tenho
medo que use a criança para me chantagear.
Penso na possibilidade de ir embora de casa
de novo. Desiludir minha mãe e meu pai outra vez
me massacra por dentro. Com certeza pensariam
que fui embora com o meu ex. Não posso fazer
isso. Independente de qualquer coisa, preciso ficar
ao lado deles.
Atravesso o nosso jardim e abro a porta da
sala. Sinto o cheiro do bolo que sai do forno todas
as tardes na nossa casa.
— Mãe — chamo, levantando o pano de
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prato sobre a forma no balcão da cozinha.


Passo o indicador na cobertura de chocolate
e lambo o dedo. Segundos depois, o sinto pela
primeira vez. Não sei se é psicológico ou se antes
de saber que estava grávida eu ignorava seus
movimentos. Minhas mãos se juntam em concha
sob meu umbigo.
— Meu filho. — Sorrio.
— Tatiana?
Minha mãe surge na porta. Seu rosto está
vermelho e tem um papel nas mãos. Ah, essa não!
É minha certidão do casamento com Pedro.
— Mãe? Onde você pegou isso? — Ando
até ela e pego a folha.
— Filho, Tatiana? Que filho? Você casou
com aquele marginal? Devia ter nos contado.
Podíamos ter anulado esse casamento. Seu pai foi
atrás dele. Vamos dar um jeito nisso, minha filha.
Só, por favor, não me diga que você vai ter um
filho daquele canalha.
— Como assim o pai foi atrás dele?
Entro em desespero e começo a rezar
mentalmente. Sento e coloco as mãos na cabeça.
— O Pedro é louco, mãe. Ninguém pode
saber que estou grávida. Você me escutou? — A
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encaro.
— Vamos dar um jeito nisso. Esse homem
não vai te fazer mal. Não vamos deixar. Isso passou
dos limites. Casar com ele foi uma maluquice,
Tatiana.
Apesar do desapontamento, nunca me deixa
desamparada. Ela circula a mesa e esfrega minhas
costas.
— É sério, mãe. Preciso sair da cidade. Ele
não pode saber da criança. Presta atenção no que
vou falar. Pode me mandar embora se quiser, mas
preciso que saiba a verdade. — Levanto e seguro
em seus ombros.
Os olhinhos miúdos se apertam mais ainda,
como se soubessem que o que vou dizer vai causar
dor. Vai mesmo. Ao menos em mim já dói.
— Não sei se é filho do Pedro — falo
baixinho por causa da vergonha que sinto.
— O quê?
O maxilar dela treme e seu rosto enrugado
fica marcado pela consternação. Odeio magoar
minha mãe.
— Ele me obrigou a dormir com outros
homens. Essa é a verdade. O pai nunca pode saber,
entendeu?
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Puxo uma cadeira, e minha mãe cai sentada,


soltando o ar e ainda em choque. Pulamos com o
barulho de pneus cantando na frente de casa. Um
tiro ecoa no ar e eu e ela colocamos a mão no peito
ao mesmo tempo. Corremos até o portão e vemos o
carro de Pedro virando a esquina.
O corpo ensanguentado do meu pai está
aninhado no chão duro da calçada. O rosto está
irreconhecível e noto sua dificuldade em respirar.
— Pai. — Corro para juntá-lo.
— Só me diz que não é verdade. — Ele se
vira com dificuldade. — Diz que você não virou
garota de programa para sustentar aquele marginal.
— Pai... — Sinto uma pontada no ventre e
me encolho, mas logo desaparece.
Seu olhar de desgosto surge, mesmo debaixo
dos machucados. Uma negativa não expressada é
um sim, e ele sabe disso.
— Isso é passado. Essa menina espera um
filho e nós temos que sair daqui se pretendemos
protegê-lo — minha mãe diz enquanto me ajuda a
colocá-lo para dentro de casa.
Lavamos suas feridas em silêncio. Quando
sentamos todos em volta da mesa da cozinha, o
único barulho que ouvimos é o da lâmpada velha
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prestes a queimar. Volta e meia minha barriga dói.


— Tenho um amigo na polícia — meu pai
quebra o silêncio.
— Você não devia ter ido atrás dele, pai.
Agora entende o quanto Pedro é perigoso?
— Nós sempre entendemos, Tatiana. Você é
quem se recusava a ver — minha mãe fala sem me
encarar.
— Consigo documentos falsos e fugimos.
— Para onde, pai? Vamos viver do quê?
— Para o Nordeste, sei lá, damos um jeito.
Pra quando é esse menino?
Pigarreio e falo baixinho:
— Três meses.
Eles arregalam os olhos e suspiram em
seguida, ao perceberem que não há nada o que
fazer contra o tempo.
— Isso parece um pesadelo.
— Confia em mim, mãe. Vou resolver tudo
isso. Eu comecei, eu vou terminar.
Aperto forte sua mão. Pedro não vai me
fazer brigar com a minha família outra vez. Custe o
que custar. Farei o que tiver que ser feito. Nada é
como antes. Tenho que proteger meu filho, acima
de tudo.
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Analiso a senhora que tanto amo, sentada ao


meu lado. Seus olham mudam de repente. De
magoados, se tornam desesperados.
— Tatiana — minha mãe grita, empurrando
a cadeira com força para trás.
Ela olha apavorada para o chão abaixo de
mim. Paro de respirar antes de ver para onde está
olhando. Já sei o que é. Minhas coxas colam uma
na outra e desmaio antes de ver a poça de sangue.
Acordo no hospital horas depois e bastante
atordoada. É um rebuliço de enfermeiras e médicos
ao meu redor. Eles medem meus sinais, falam sem
parar, mas só o que escuto são as palavras da minha
mãe:
— Ele é tão lindo, filha, mas tão pequenino.
— Como ele está, mãe?
— Lutando para sobreviver. Os médicos
disseram que foi muito estresse e isso te causou
contrações.
Cubro a boca com a mão e choro de raiva.
Pedro não vai tirar meu filho de mim. Nunca. Não
vou permitir.
— Onde está o pai?
— Resolvendo tudo o que pode para
partimos.
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— Como assim? Já?


— Uma colega sua foi lá em casa. Disse que
Pedro está rondando a escola atrás de você.
Tiramos o que pudemos de casa, porque os
vizinhos também já o viram por lá. Ele foi muito
claro com o seu pai.
— Sobre o quê?
— Sobre levar a mulher dele de volta pra
casa. Viva ou morta.
Estremeço e afundo no travesseiro. Meu
corpo todo dói.
— Você e o pai precisam ir. O mais longe
que puderem. Fico aqui até o bebê ter alta.
— Não vou te deixar aqui — ela se
desespera.
— Vai, sim. Peguem o dinheiro que o pai
tem guardado. Não mexam no que está no banco.
Pedro pode rastrear os saques. Ele conhece muita
gente.
— É muito longe. Como você vai sozinha
com o bebê depois?
— Já decidiram para onde ir?
— O amigo do seu pai arranjou tudo. Temos
uma casa esperando por nós em Lisboa. Seu pai vai
deixar o trabalho. Não sei como vamos fazer para
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sobreviver, só sei que não podemos continuar aqui.


Abro e fecho a boca sem dizer nada. Não era
o que esperava, mas ok. É longe até para Pedro e é
isso que importa.
— Então o pai conseguiu os documentos?
— Sim.
Ótimo. Uma nova identidade. Uma nova
chance. Vou reconstruir tijolinho por tijolinho da
casa que derrubei ao conhecer Pedro.
— Vida nova, mamãe. E vou dar a vocês
uma muito melhor do que tinham aqui. Ou não me
chamo Tatiana — falo entredentes e com o queixo
erguido .
— Minha filha, a partir de agora, você se
chama Mônica. Mônica Ferraz.

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Caio
Piso no aeroporto de Lisboa e pego o meu
telefone. Um segundo depois, ele apita como uma
ambulância. Pensei que seria mais difícil encontra
Mônica. Por alguns momentos, me perguntei se
seria possível.
Agora, olhando para as dezenas de
mensagens que me mandou enquanto estava no
avião, descubro que foi ela quem me encontrou. E
não parece nem um pouco feliz por isso.

Mônica: Caio, que porra você pensa que


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está fazendo? A Max me contou que você está


vindo para Lisboa. Fica longe de mim. É sério.

Mônica: Só para o caso de você não ter


entendido: volta para casa.

Mônica: Sei que está no avião, mas, quando


ver essas mensagens, dê a volta e compre uma
passagem para o Brasil no mesmo dia.

Mônica: Por favor. Só vá embora.

Sorrio maliciosamente para o número de


telefone dela. Ergo os olhos bem a tempo de ver a
minha bagagem passar na esteira. Puxo a alça e
deixo o saguão, arrastando a mala atrás de mim.
Sacudo a cabeça, irritado. Mônica está louca se
pensa que vou embora .
Assim que deixo a área de desembarque,
vejo a garota de casaco até os joelhos correr até
mim. De óculos escuros e coque, ela me tira para
fora da fila de passageiros recém-chegados, me
agarrando pelo pulso e me prensando contra uma
parede.
— Você não leu as minhas mensagens? Vá
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embora, ok? Só vá embora, pelo amor de Deus —


ela diz incisiva, tocando o indicador no meu peito
várias vezes.
Olho para seu dedo e passo o polegar no
lábio inferior. Porra. Ela não sabe o que causa em
mim, não faz ideia que esse simples contato
desperta o meu melhor e o meu pior lado. Pro bem
ou para o mal, me sinto vivo ao seu lado e nem ela
vai me impedir de ter isso.
Suspiro, decepcionado comigo mesmo. Será
que nunca vou ter controle perto dessa mulher?
Com uma mão, seguro a nuca de Mônica e, com a
outra, a cintura, a trazendo até mim.
Em um movimento rápido, giro nossos
corpos e troco as posições, a colocando na parede.
Toco seu nariz com o meu e analiso os detalhes do
seu rosto delicado. Boca com boca. O mesmo ar.
Ela se movimenta e seguro suas mãos, as colocando
sobre a cabeça.
— Caio, está todo mundo olhando pra gente
— diz sem desviar o olhar de mim.
— Não ligo que todos estejam nos olhando,
só quero que me devolva o ar que me roubou
quando foi embora — falo, entredentes.
— Existe alguma maneira menos dolorosa
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de eu te falar que isso é impossível, que você tem


que ficar longe de mim?
Balanço a cabeça devagar, em negativa.
Impossível é você ficar longe de mim, baby.
— Você sabe o tempo que esperei pra ter o
meu coração roubado outra vez? Não faz a mínima
ideia, não é?
Seu olhar fica intrigado. Não sabe do que
estou falando.
— Vá embora, Caio. Eu desisti de você. É
perigoso para todos nós.
— Eu não posso. Você está com ele. —
Olho para o alto e sorrio de lado ao ver o anel da
minha mãe em seu dedo.
— É isso que você quer? O anel da sua mãe?
Te devolvo. Pronto.
Jogo a cabeça para trás ao rir da sua
inocência. Ainda com seus pulsos presos em uma
das minhas mãos, toco seus lábios com a outra,
apreciando cada curva rosada deles.
— Você está com o meu coração, Mônica. E
minha mãe me avisou que isso aconteceria.
— Que eu estaria com o seu coração ? —
ela pergunta, confusa.
— Não. Que eu saberia quando o amor da
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minha vida chegasse, porque sentiria o vazio no


peito. Foi naquele primeiro dia em que você dormiu
de conchinha nos meus braços. Eu relaxei, deixei
que você o levasse para sempre. Agora não tem
mais como devolvê-lo. Preciso estar perto de você
para me manter vivo, Mônica, porque você é a
guardiã do meu coração.
Trago sua boca até a minha e a devoro em
um beijo faminto, como se, com isso, pudesse
voltar a sentir os meus batimentos outra vez.
Aqueles que deixei de sentir quando encontrei sua
carta de despedida sobre o travesseiro alguns dias
atrás.
É o tipo de beijo que eu jamais esperaria.
Mônica desliza os pulsos para fora da minha mão e
me recebe, afoita. Ao parar de me beijar, olha para
mim com preocupação.
— Você precisa ir embora. É muito perigoso
para nós dois. Para a minha família. Por favor,
Caio. Volte para casa. Estou tentando dar um jeito
de voltar, mas, enquanto não consigo, preciso que
fique longe de mim.
— Me deixa te ajudar. Me fala o que está
acontecendo — imploro ao vê-la se desvencilhando
de mim.
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Em segundos, já está há alguns passos de


distância. Lágrimas riscam suas bochechas de
menina.
— Ainda não posso. Se eu te falar, tenho
certeza que você vai diretamente ao encontro do
problema. Sei que gostaria me proteger, mas é
muito perigoso e prefiro que fique longe de tudo
isso. Acredite, é o melhor que pode fazer por mim.
— A Max me falou sobre o cara que te
persegue. Já tenho gente atrás dele, Mon. Juro que
nunca vou deixar que toque em você outra vez.
Vejo o desespero em seus olhos. Dou um
passo em sua direção, mas ela vai se afastando de
mim.
— Não, não, não. Você precisa ficar longe
dele, Caio. Se estiver te seguindo, pode chegar até
mim outra vez. Sinto muito, mas não posso ficar
mais perto de você. Não posso colocar em risco a
vida do... das pessoas que amo.
Mônica olha para os lados e tento
acompanhá-la, mas se mistura a uma multidão de
turistas recém-chegados. Faço a volta no grupo,
mas não a vejo.
— Mônica. Mônica — chamo, afastando as
pessoas ao meu redor.
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— Caio — ela me chama.


Procuro ao redor e paro quando a localizo já
na rua, dentro de um táxi. Ela apoia o rosto sobre o
vidro abaixado do carro e me olha de um jeito
triste.
— Volta pra casa — ela fala, mas não a
escuto, apenas posso ler em seus lábios.
Deixo os ombros caírem e esfrego o rosto.
Provavelmente esteja certa. Minha razão me diz
que é melhor ir embora, pela sua segurança, pelos
meus problemas com meu avô no Brasil. A questão
é que minha emoção está tentando me dizer outra
coisa que não consigo entender muito bem, porque
me falta uma peça para clarificar tudo isso que está
confuso no meu peito: o meu coração, aquele que
está com Mônica.
Para chegar até ela, preciso falar com três
pessoas. Só com a ajuda delas vou conseguir o que
quero.
Pego o celular e disco o número do
investigador enquanto caminho até a um homem de
terno que aguarda, segurando uma placa como meu
nome. Faço sinal com a mão para que ele espere
enquanto falo no telefone.
— Sim, senhor Bauer — o investigador diz
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do outro lado da linha.


— Não me importa quanto vai custar. Não
me importa o que tiver que ser feito. Você tem até
amanhã para encontrar o tal Pedro.
— Mas, senhor...
— Você entendeu. Não saio de Portugal sem
levar Mônica e família dela em segurança de volta
para o Brasil.
Desligo e chamo outro número. Estou mais
determinado do que nunca. O beijo que Mon
acabou de me dar só aumentou meu fôlego para ir
atrás daquilo que é meu por direito.
— Caio? — Ouço a voz do meu primo.
— João, não sei quanto tempo vou demorar
para voltar, mas preciso que você faça um favor
para mim.
— Claro. E o que seria isso?
Suspiro e passo a mão nos cabelos. Posso
colocar tudo a perder, mas preciso tentar.
— É a P-Tor, João. Preciso que você seja a
cara da família Bauer ou não conseguirei fechar
esse contrato em poucos dias. Nunca vou voltar
para a Mariana, mas preciso me manter o Grupo
Bauer e casar com a mulher da minha vida. Para
isso, tenho que achar aquele filho da puta da qual
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ela tem fugido e ficar aqui para protegê-la enquanto


não o encontro. Só você pode me ajudar a domar o
vovô e a P-Tor agora.
— Estarei esperando por vocês no aeroporto
com o contrato na mão — ele fala, e posso
imaginar seu sorriso confiante.

Desligo e guardo o telefone no bolso. O


homem de terno na minha frente ergue a
sobrancelha.
— Senhor Bauer? Rui Torres, serei seu
motorista aqui em Portugal.
— Bom dia, Rui. Muito prazer.
Vamos até a BMW e logo que ela começa a
andar, abro o vidro no banco de trás e olho para o
céu cheio de nuvens. Um raio de sol abre espaço
entre elas e sorrio. Só tenho mais uma pessoa para
quem pedir apoio. E ela é a mais importante.
Mãe, preciso muito que a senhora me ajude
a me reencontrar com o meu coração. Você tinha
toda a razão quando falou que um dia eu o
descobriria vivendo completamente fora do meu
peito. Mas se ele vai ficar com a Mônica, só me
ajuda a viver ao lado dela o resto da minha vida,
peço mentalmente para a mulher que partiu,
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levando pela primeira vez o meu coração para


longe de mim.

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Mônica
Jogo o dinheiro para o motorista do táxi e
desço do carro às pressas. Corro para dentro de
casa, batendo as portas que encontro no caminho
até o quarto da casa dos meus pais em Lisboa.
Me ajoelho e pego uma mala grande debaixo
da cama. Começo a jogar dentro dela as coisas mais
importantes.
— O que está acontecendo, filha? — Minha
mãe surge na porta.
Não temos tempo. Cada segundo em que eu
parar para explicar a ela mais os coloco em risco.
— Temos que partir outra vez, mãe. Explico

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depois.
— É ele? Te encontrou de novo? — Suas
mãos trêmulas me seguram, me fazendo parar para
encará-la.
Olho para os pés. Não sei por onde começar.
Queria dizer que tudo vai dar certo, mas já não sei.
— Talvez.
— Como assim, Tatiana? Não existe talvez
e, se você está fazendo as malas, é porque sabe que
Pedro está por perto.
Deixo o corpo cair no colchão e abraço os
joelhos.
— Eu conheci uma pessoa, mãe.
Com dificuldade, ela senta ao meu lado e
segura meu rosto, me obrigando a olhar em seus
olhos.
— É outro Pedro? — pergunta, o medo da
minha resposta estampado em sua expressão.
— Não. De jeito nenhum — digo, um tom
mais alto do que deveria. — Caio é bom, me
ama. E é de verdade dessa vez.
— Então não estou entendendo o que está
acontecendo.
— Ele é rico.
— E isso é um problema?
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— É mais complicado do que parece, mãe


— digo, sem paciência.
— Então explique. Sinceridade, Tatiana,
sinceridade. Depois de tudo o que passamos, não
quero saber as coisas pela metade. Estava achando
estranho você aparecer antes do tempo que
combinamos, mas agora entendo que há algo por
trás disso tudo.
Reviro os olhos e me concentro em tentar
explicar um pouco da situação que tem me
consumido nos últimos dias. Minha mãe tem razão.
Não posso esconder a verdade de quem mais me
ajudou.
— Eu e o Caio começamos a namorar há
alguns meses. Ele é herdeiro de um grupo muito
influente no Sul do Brasil. Tudo ia bem entre nós.
Apesar de gostar dele, nunca achei que pudesse
virar algo sério. Eu trabalhava, juntava o meu
dinheiro e mandava para vocês. Meu plano era vir
para cá no ano que vem e levá-los de volta comigo
depois de encontrar um bom advogado que me
ajudasse a manter o Pedro afastado de todos nós.
Bem, você sabe disso. Mas aí surgiu algo no meio
do caminho.
— O quê, exatamente?
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Pisco muitas vezes, tentando não chorar ao


contar como as coisas se perderam nas últimas
semanas. Minha mãe aperta minha mão, me
encorajando a continuar.
— O avô de Caio conseguiu um grande
negócio. Mas, para que ele se concretize, Caio
precisa se casar. Só que, você sabe, eu não posso
casar.
— Ah, meu Deus, Tatiana. — Ela leva as
mãos ao rosto.
— Por isso fugi do Brasil. Um simples
noivado colocaria a minha imagem estampada em
vários jornais, de bandeja para que Pedro me
encontrasse. Agora Caio está aqui em Portugal,
quer me levar de volta. E pior, está atrás de Pedro.
Tenho tanto medo que Pedro mate o homem que
amo, que ele mate vocês, mãe.
Me entrego e choro, apoiando a testa no
braço. Minha mãe acaricia minha cabeça, me
consolando.
— Quando você chegou, combinamos que
não iriamos mais fugir. Decidimos lutar e buscar os
nossos direitos. A consulta com o advogado está
marcada e tenho certeza de que vai nos ajudar a
manter Pedro longe do menino.
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— Nem posso pensar em Pedro perto do


meu filho.
— Nós não vamos sair daqui fugidos outra
vez. Está decidido, Tatiana. Seu pai e eu não temos
mais idade. E não vamos deixar que saia daqui
sozinha com o seu filho para que ele veja a vida
que você leva.
— Mãe — protesto, olhando para ela
indignada.
— É verdade. Tivemos que nos submeter a
isso para nos sustentarmos, mas seu filho não
precisa saber o que a mãe faz. Estamos
reconstruindo a nossa dignidade, Tatiana. Tenha fé
e não deixe o medo te dominar. Logo isso tudo será
passado e estaremos de volta ao Brasil.
— Não sei se tenho estrutura para encontrar
Pedro outra vez, mãe.
— Pois tenha. Você é o nosso porto seguro e
não vai afundar agora.
Concordo com a cabeça. Lembrar da última
vez em que o vi me faz estremecer. Pensar em
quando tive que deixar meu filho partir com meus
pais em segurança e ficar no Brasil me dá medo de
que toda a história se repita. Não tenho estômago
para assistir Pedro atirando em alguém outra vez.
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***
2 anos e meio antes
Tudo está pronto e logo embarcaremos para
Portugal. Meus pais estão escondidos na casa de
uma amiga da família desde que o bebê nasceu e
hoje finalmente é o dia da sua alta. Não consegui
convencê-los a partir e me deixar sozinha com ele.
— Vamos? Quero passar no cartório antes.
Já agendei para fazer a identidade e o passaporte do
neném. Vou deixar também uma autorização de
viagem para vocês — digo, entrando no pequeno
quarto que temos divido nas últimas semanas.
Meus pais trocam olhares cansados. Como
me sinto culpada por tê-los feito passar por tudo
isso, tirá-los das suas vidas confortáveis e
transformá-los em fugitivos. A única coisa que
posso fazer agora é jurar nunca mais entregar o
meu coração a alguém.
— Tem certeza de que isso é necessário,
filha? Você vai conosco, não precisamos de
autorização para viajar com nosso neto.
Procuro pelos documentos que vou precisar
enquanto evito olhar para o meu pai. Respondo
remexendo nos papéis.
— É por segurança. Melhor prevenir.
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Saímos de casa um de cada vez e nos


encontramos no hospital. Depois de fazer toda a
burocracia para a alta e pegar a certidão de
nascimento, fico em choque ao me ver parada
diante da enfermeira que carrega meu filho para
que eu o leve para casa definitivamente.
— Vai, Tatiana, segura o menino.
Engulo em seco. Olho para a folha na minha
mão e a entrego para o meu pai.
— Agora ele tem nome: Gabriel, como o
anjo que trouxe as boas novas.
Eles sorriem, mas eu continuo travada. A
enfermeira dá um passo em minha direção e faço
uma cama com os braços. Já peguei Gabriel muitas
vezes, mas logo o devolvia para o seu berço cheio
de aparelhos e controles.
Dessa vez, não o devolverei mais. Agora,
assim como meus pais, a vida de Gabriel depende
de mim. Mas ainda não sei nem cuidar da minha.
Se eu soubesse que teríamos tão pouco
tempo juntos, teria aproveitado melhor cada
segundo em que tive a oportunidade de cheirar sua
cabecinha ou segurar sua mãozinha. Mas, naquele
dia, ao fazer seus documentos apressadamente, o
dividi com minha mãe muitas vezes.
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Chegamos em casa exaustos e com medo de


tanta mudança. Sento na cama e apoio os cotovelos
no berço que pegamos emprestado ainda sem saber
que seria usado por apenas única noite.
Olho para Gabriel com uma paixão que
nunca havia sentido. Meu anjo. Tão perfeito e
delicado.
— Tatiana? Vá dormir, querida. Amanhã
você tem que sair cedo para pegar a identidade
dele.
— Já vou. Só estou... só estou juntando
forças para fazer tudo isso.
Ouço o suspiro do meu pai. Ele senta ao meu
lado e esfrega o rosto. Ajeito a coluna e seguro sua
mão.
— Sinto muito.
— Não estou aqui para que você me peça
desculpas. Muito menos para te deixar com mais
medo ainda. Mas estamos com um problema que
não sei como resolver.
Giro o quadril e fico de frente para ele.
Aperto mais forte a mão dentro da minha.
— O que houve? Você ou a mãe estão
doentes?
Ele sacode a cabeça lentamente. Fala sem
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conseguir olhar para mim:


— Gastamos todas nossas reservas nessas
passagens e no adiantamento do aluguel da casa.
Também teve o hospital, os documentos falsos e...
Sem pensar, levo um dedo aos seus lábios.
Não posso ouvir seus lamentos por tudo de mal que
causei à nossa família.
— Vou dar um jeito, pai. Não pense nisso
agora.
Adormeço em um colchão ao lado da cama
dos meus pais. Tento não pensar na minha
promessa de conseguir dinheiro para nos sustentar,
mas ela não me sai da cabeça. Só conheço um jeito
de fazer isso, e ele me dá arrepios.
A manhã da partida é agitada. Enquanto
meus pais terminam de arrumar as coisas, saio para
buscar o documento de Gabriel. Paro na porta antes
de ir. Minha garganta se aperta por deixá-lo em
casa pela primeira vez. Volto até o quarto e sorrio
ao ver minha mãe fazendo gracinhas para ele.
— Neném mais lindo da vovó. — Brinca,
sorrindo por cima do berço.
Ando até eles e pego meu filho no colo. O
aperto forte contra o peito e balanço seu corpinho
delgado de um lado para o outro.
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— Mãe, vai ser sempre assim tão difícil me


separar dele?
— Gostaria de te dizer que não, mas estaria
mentindo. — Ela me abraça e me beija. — Sofri
tanto quando você partiu.
Encontro seus olhos exaustos e murmuro um
pedido sincero.
— Desculpa.
— Você estar aqui, lutando por sua família,
é a maior prova do seu amor por nós — fala,
sacudindo a cabeça e se recusando a aceitar minhas
desculpas.
— Mãe, ontem o pai me disse que
precisamos de dinheiro. Prometi que vou resolver o
problema. Mas não consegui parar de pensar nisso.
Tudo o que menos quero é magoar vocês. Acontece
que só vejo um jeito de arrumar grana e...
— Ei, ei, ei! — Ela me interrompe e senta na
cama. — Olha para essa criança.
Faço o que ela pede. Gabriel é perfeito. Cada
traço delicado é um lembrete do amor. Daria a
minha vida por ele, mesmo sem saber ao menos
quem é seu pai.
— Existe nesse mundo algo mais importante
do que o seu filho?
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— Não — respondo, o apertando mais forte


contra o peito.
Gabriel resmunga e se remexe, abrindo e
fechando os olhos. Faço um ruído para que volte a
dormir.
— Viu? É instintivo. O que você mais quer é
que ele fique bem. Faça o que tiver que fazer,
Tatiana. Nós não vamos te julgar. Proteja o seu
filho do jeito que puder. Estamos do seu lado.
Agora dê esse menino para a sua avó e vá buscar o
que falta. Partiremos em poucas horas.
Com uma lágrima escorrendo, entrego
Gabriel para ela. Toco sua cabecinha com os lábios
sem saber que o próximo beijo que daria nele
levaria muito tempo para acontecer.

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Caio
Reservei uma suíte na mesma rua onde foi
marcado o encontro com a tal Tatiana, a Avenida
da Liberdade, em Lisboa. Espero impaciente no
saguão até dar o horário. Troquei as roupas leves
pelo casaco, porque a capital de Portugal está no
fim do inverno. Meu telefone toca e o pego no
bolso. É o investigador, ligando do Brasil.
— Chefe, quase na hora?
— Sim. Já estou desesperado aqui,
aguardando.
— O meu informante mentiu para a tal
Tatiana que o seu escritório em Lisboa estava em
reformas, porque ela tentou cancelar de novo, mas
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ele insistiu, oferecendo de graça a primeira


entrevista com o senhor como uma compensação
pelo contratempo.
— É indiferente para mim, não teria cara de
pau de cobrar alguma coisa dela — digo, blasé.
— Precisamos que a Tatiana nos diga onde
está Mônica.
— Disso, já sei. Agora me conte uma
novidade — falo, revirando os olhos, irritado.
— Bom, eu não serei camarada como
senhor, que não quer cobrar da Tatiana, sinto
muito. Com o que acabei de descobrir, tenho
certeza que mereço até uma bonificação.
Olho para a uma poltrona mais afastada no
lobby e vou até ela. Me sento, sabendo que o que
tem para me dizer pode me desestabilizar.
— Do que você está falando?
— Essa menina está sofrendo coisas que não
merece. Há dois anos ela e os pais partiram de São
Paulo, fugindo de um homem. Além de ser
traficante, ele tem mil acusações, dentre elas, uma
de assassinato. E, você está sentado, chefe? — ele
pergunta, vacilante.
— Sim — confirmo, apertando com a mão
livre o braço da poltrona.
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— O cara é marido da sua Mônica.


— Marido? — falo mais alto do que deveria
e algumas pessoas param no meio do saguão para
me olhar.
Pigarreio e tento disfarçar, mas, por dentro,
meu coração quase para de bater, desapontado ao
descobrir que a minha Mônica já é casada. Morro
de ódio de mim mesmo por saber que o filho da
puta do marido dela é o motivo de todos os seus
medos e problemas. Como pude ser tão cego que
não vi por baixo de toda aquela armadura de garota
independente que ela precisava ser protegida?
— Meu Deus. Preciso encontrá-la antes
desse maluco — digo, entredentes.
— Exato. E talvez a Tatiana possa te ajudar.
— Espero que sim, porque a Mônica está tão
assustada que sequer confia em mim.
— Assim que tiver mais informações entro
em contato.
— Ok.
Desligo sem conseguir pensar em mais nada.
Meus batimentos aumentam no ritmo da minha
excitação e ansiedade em encontrar minha garota.
Levanto em um impulso e olho para os lados,
atordoado com o que acabei de descobrir, zonzo
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por me dar conta de que encontrar Mônica agora é


questão de vida ou morte.
— O senhor precisa de um táxi? — o
recepcionista pergunta ao me ver vagando perdido
no lobby luxuoso do hotel.
— Não, obrigado — respondo, olhando para
o relógio sobre a porta de entrada.
Decido sair uns minutos antes, porque a
impaciência já está me dominando. O vento queima
meu rosto e enfio as mãos nos bolsos. Atrasadas,
folhas secas de outono ainda fazem um colchão nas
calçadas.
Centenas de turistas caminham devagar,
carregando suas sacolas. Respiro fundo e me forço
a seguir o ritmo lento deles. De agitada, já basta
minha cabeça. Pensamentos e perguntas indo e
vindo freneticamente. Como convencer Tatiana a
me dizer onde Mônica está escondida? Será que as
duas se conhecem ou será que essa mulher é só
uma laranja?
Procuro as indicações nos prédios nas
laterais da larga avenida. Pela numeração, estou
chegando perto do café onde marcamos. Olho para
frente e, quando um grupo de japoneses se dispersa,
vejo o quiosque no meio da calçada, mais adiante.
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Paro de andar com o choque. Não sinto mais


o frio e muito menos o vento.
Rio. Não, todo o meu corpo sorri. Em um
banco verde desses de praça, uma jovem brinca
com uma mecha do cabelo, a enrolando e
desenrolando no dedo. Ela para e ergue a cabeça,
olhando para mim quando me aproximo. Sua
expressão ansiosa se transforma em preocupada e
ela levanta de súbito.
— Tatiana? — digo, já sorrindo.
Não posso acreditar no que vejo: minha Mon
diante de mim outra vez. A boca avermelhada se
abre e, movendo a cabeça de um lado para o outro,
ela procura por uma direção para onde fugir. Antes
que consiga aproveitar uma brecha entre os carros
para atravessar a avenida, seguro seu pulso.
— Mon, para. Não foge de mim. Vou te
ajudar. Juro.
— Não, Caio. Você não entende. Sequer me
conhece de verdade para dizer que pode me ajudar.
— Mônica gira o braço dentro da minha mão, o
puxando para se libertar.
Trago seu corpo com força até mim e ela
cola o peito no meu. A íris esverdeada me analisa
com medo e acho que isso é pior do que a raiva.
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Significa que ela vai continuar tentando fugir.


Quero abraçá-la, colocar seu corpo delgado sobre
os ombros outra vez e impedi-la de me deixar de
novo.
— Para — digo, incisivo. — Já sei de tudo,
porra. Sei o motivo de ter fugido e sei que me ama,
mas não pode ficar comigo, porque já é casada. Há
quanto tempo você tem se escondido do filho da
puta do seu marido, Mônica? Ou seria Tatiana.
O lábio inferior dela treme. Me sinto
culpado por ser tão agressivo, mas não me ocorre
outro jeito de mostrar que não vou desistir dela.
— Dois anos e meio — sussurra tão perto do
meu rosto que sinto seu hálito doce de morangos.
— Puta que pariu. — Relaxo a pressão sobre
ela e me viro, passando a mão no rosto e nos
cabelos.
Preciso me situar no que está acontecendo.
Aos poucos, parece que o véu vai saindo da minha
frente e me mostrando que eu não sabia de nada do
que estava vivendo nos últimos meses.
Volto a encará-la, mas ela desvia, enfiando
as mãos nos bolsos do casaco preto até os joelhos e
suspirando. Cerra as pálpebras e, quando volta a
cabeça em minha direção outra vez, abre apenas um
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dos olhos. A claridade extrema do céu cheio de


nuvens faz com que pareça um anjo.
— Não vou te deixar — sussurro.
— Se você me encontrou assim tão fácil,
significa que outras pessoas podem me achar.
Preciso ir embora daqui. Você pode até achar que é
mentira, mas eu já pretendia te deixar. Estava
planejando voltar para perto da minha família há
tempos. A história do casamento só acelerou as
coisas. Aceita isso, Caio. Volta para o Brasil e para
a sua esposa. Vocês têm seus filhos e tudo mais.
Mônica não consegue me encarar e a
situação é tão ridiculamente mentirosa que quase
rio. Dá pra ler em seus olhos que tudo o que menos
quer é me ver com Mariana outra vez.
— Desculpa, mas não vou te deixar. Você
pode falar o que quiser. Que não me ama mais, que
ia voltar, não me importo. Sou seu amigo e amigos
ajudam.
Seu cheiro doce, a textura da pele, a
vibração. Era tudo o que mais queria sentir nos
últimos dias. Me segurar para não apertar sua nuca
e trazê-la até mim é devastador. Se ela está na
minha frente, carregando o meu coração, por que
não posso pegá-lo de volta com um beijo?
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— Você não está pronto de verdade para me


conhecer — aponta com um tom desafiador.
— Te conhecer é tudo o que mais quero há
meses. Não vou fingir. Estou mesmo muito
surpreso por você ter me escondido que era casada.
Mas isso não importa agora, o que me interessa é a
sua segurança. Lógico que, no meu íntimo, tudo o
que mais queria era te encontrar. Achei que a
Tatiana seria um passo até o seu esconderijo. Estar
ao seu lado, assim tão rápido, sem esperar, é
atordoante, Mon. Quer dizer, Tatiana — falo,
sentando no mesmo banco em que Mônica estava
quando cheguei.
Acho que nunca vou me acostumar com isso
de chamá-la pelo nome verdadeiro. Olhando bem, é
impressionante como os dois combinam com ela:
Mônica e Tatiana.
A observo relaxar os ombros e sentar ao meu
lado, tocando o quadril no meu. Seus olhos
encontram as nuvens brancas e escuto o ar que sai
pesado do meio dos seus lábios.
— Só vou aceitar a sua ajuda porque os
meus pais não aguentam mais. Não têm mais idade
para isso e a cada dia me sinto mais culpada por ter
tirado a liberdade deles. Trabalharam a vida toda
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para que pudessem aproveitar esse momento e os


transformei em fugitivos.
— Quando você colocou aquele anúncio na
internet atrás de um advogado, não ficou com medo
de que o seu marido te encontrasse?
Brinco com as mãos, tentando mantê-las
junto a mim, porque tudo o que mais querem é
abraçar a mulher da minha vida. Ela suspira e puxa
uma perna para cima do banco, virando o corpo em
minha direção.
— Sim. Nunca tive tanto medo. Mas
precisava agir. Tenho que fazer alguma coisa para
impedir legalmente que Pedro se aproxime de mim
e da minha família. Assim como eles, estou
cansada da vida que levo.
— Então é para se ver livre dele que estava
buscando um advogado — concluo.
— Sim. E, bem, talvez seja melhor ser você
a pessoa a me ajudar. Assim, vai entender tudo o
que aconteceu na minha vida até aqui.
— Por não me contou nada disso antes?
— Como te contar a história da minha vida,
se nem tive a chance de vivê-la?
A sua dor me atinge. Preciso salvar essa
garota ou sofrerei com ela para sempre.
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— Ok. Então vamos começar a escrever essa


história. O que acha?
— Ok, Caio. Aceito que você me ajude. Mas
com uma condição. Você precisa saber que não
fugi porque não te amava — confessa.
Porra. Não consigo mais. Preciso tocá-la.
Aperto sua mão bem forte e levanto sua cabeça,
forçando que me encare.
— Nunca duvidei do seu amor. Nem por um
segundo.
— Caio…
Mônica desvia o olhar e se liberta das
minhas mãos. Coloca o cabelo atrás da orelha e fala
sem me encarar:
— Enquanto Pedro não estiver atrás das
grades, nós não vamos ficar juntos.
Jogo a cabeça para trás e levanto, irritado.
— Por que está fazendo isso comigo?
— É perigoso. Você precisa entender. É
maior do que eu. Tem algo que preciso proteger
mais do que a minha própria vida.
Rio. Nada pode ser mais importante do que
isso. Ela levanta e para bem na minha frente.
— Jura que vai ser apenas o meu advogado
até que tudo se resolva?
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— Essa é a coisa mais difícil que você já me


pediu. — Toco sua bochecha com o indicador e a
acaricio.
Ver como ela gosta do meu toque me deixa
desesperado para lhe dar mais, só que dura pouco e
logo sua expressão fica séria. Mon dá um passo
atrás e ergue uma sobrancelha.
— Tem mais uma coisa que você tem que
saber. Se quer mesmo ser meu advogado, quero que
conheça o meu bem mais precioso.
Dou de ombros, despreparado para o que
vou encontrar. Inocentemente, penso que Mônica
vai me mostrar algo relacionado ao dinheiro que
fez no Brasil. Uma casa, uma coleção de joias, sei
lá.
Ela se vira e começa a andar. Apresso o
passo e sigo ao seu lado por duas quadras. Mônica
para de caminhar sob algumas árvores.
Uma senhora brinca com um garotinho. Ele
agarra os joelhos dela e chuta as folhas secas para o
alto, que voam. O menino dá uma gargalhada
quando ergue os braços tentando pegá-las. É
pequeno e acredito que tenha cerca de dois anos.
A mulher vira a cabeça para nós quando
entramos em seu campo de visão. Seus lábios se
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curvam para cima em um sorriso e ela volta a olhar


para a criança.
— Você deve ser o advogado da Tatiana.
Muito prazer, sou a mãe dela — diz, fazendo o meu
coração parar.
— Muito prazer. — Nervoso, estendo a mão
que ela aperta com suavidade.
— Tem certeza que está pronto para me
conhecer? — Mônica pergunta outra vez com a voz
baixa.
— É tudo o que mais quero — repito em um
sussurro, ainda sem entender direito o que está
acontecendo.
— Então — ela diz e se vira, olhando para o
menininho. — Vamos começar pela parte mais
importante. Esse carinha aqui se chama Gabriel. E
é meu filho.
O menino ergue os braços para ela, que o
pega no colo de um jeito apaixonado. Abro a boca,
surpreso. Abraço as costelas e começo a rir. Ela
levanta a sobrancelha.
— Meu Deus! Estou chocado. Mas não de
uma maneira ruim. Quer dizer, sei lá. Você falou
que não podia ter filhos.
— Foi no parto dele que soube que não
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poderia mais ter outros.


Abaixo a cabeça e passo a mão pela nuca.
Olho para ela outra vez e sorrio.
— Você fica linda de mãe.
Encabulada, mostra as covinhas na bochecha
enquanto admira o filho. De tudo o que já a vi
fazer, nada a deixa tão bonita quanto a simplicidade
e o amor transparente em seu olhar para o menino.
— Obrigada.
Gabriel continua brincando, entretido com a
folha em sua mão. A avó dele pigarreia, sem
entender o motivo do advogado da filha a estar
chamando de linda. Nós dois trocamos olhares e
fico feliz de compartilhar um sentimento com ela
outra vez.
Gabriel se remexe para sair do colo e
Mônica o põe no chão. Ele pega um montinho de
folhas e as coloca sobre um banco. Dobro um
joelho e fico da sua altura. Os olhos verdes brilham
como o da mulher que amo.
— Oi, carinha. Você é o bem mais precioso
da sua mãe. Vou te proteger e você vai me ajudar a
recuperar o meu coração, ok?
O bebê ri, como se me entendesse. Pega uma
folha seca e a entrega para mim. Agradeço com o
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meu melhor sorriso, aquele que reflete os meus


pensamentos: meus filhos vão adorar o novo irmão.
Preciso encontrar o desgraçado do Pedro
logo para poder encher a minha vida de amor outra
vez. E para sempre.

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Tatiana
— Então, alguém pode me explicar o que
está acontecendo? — Minha mãe cruza os braços,
desconfiada.
Abro a boca e demoro mais do que o
necessário puxando o ar. Só preciso tempo para
pensar em algo razoável. Não funciona, porque
nada me vem à cabeça. Melhor ser direta, ela tem
me pedido para parar de rodeios e histórias pela
metade.
— Mãe, esse é o Caio, o cara de quem te
falei.
Mordo a boca ao ver o olhar surpreso dos

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dois. O que foi que eu disse de mais?


— Você falou de mim? — Caio pergunta.
— Mas ele não era o seu advogado? — ela
fala quase ao mesmo tempo que ele. — Agora
virou seu namorado?
— Ex — a corrijo.
Meu ex-namorado-noivo-advogado é quem
cruza os braços agora, emburrado. Preferia não ter
que reforçar que não estamos mais juntos, mas não
quero dar esperanças. Nem a ele, nem a mim.
— Por pouco tempo. Vou encontrar Pedro e
casar com a Mônica.
Vejo uma sobrancelha da minha mãe se
arquear. Pigarreio e olho para baixo.
— Tatiana.
— O quê? Ah, sim. Claro, Tatiana — Caio
se corrige.
— Afinal, você é o advogado dela ou não é?
Arregalo os olhos para minha mãe, para ver
se ela se toca e para de fazer perguntas. Não posso
exigir muito dos meus pais, porque realmente
passei muito tempo contando as coisas pela metade.
Quando ia procurar ajuda, meu mundo já estava um
caos. Acho que desde então eles tentam tirar de
mim todos os detalhes que podem. Só que mostrar
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esse meu outro lado para Caio me envergonha.


Sou sua Mon, divertida, leve e que ama as
coisas boas da vida. Sou livre. Mesmo que tudo
isso seja mentira, que minha vida seja, na verdade,
carregada de angústia, pressão e compromissos.
Mesmo que de livre eu não tenha nada, mostrar
para ele tudo isso me assusta. Posso deixar de ser a
garota dos seus sonhos sem dificuldade nenhuma.
— Sou sim — Caio confirma e pega Gabriel
no colo. — Dela, do Gabriel e de vocês. Vou levá-
los de volta para o Brasil em segurança.
— Não faça promessas que talvez não possa
cumprir — alerto.
O jeito como ele se vira para mim,
carregando meu filho no colo e sorrindo, me deixa
de pernas bambas. Caramba, será que esse efeito
duraria para sempre? Olho para o lado e vejo uma
garota que passa corando ao observar as covinhas
do meu ex-namorado. Isso me irrita
profundamente. Ah, mas que droga. Caio sequer é
meu agora. Aperto os olhos como se fosse
choramingar.
— Que foi? É sério, princesa. Não saio
daqui sem vocês. Vim buscar a minha mulher e o
meu coração. Nada é mais importante que isso —
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Caio fala, pensando que estou incomodada por ele


querer me ajudar e não por estar morrendo de
ciúmes.
— Pelo amor de Deus. Você sabe que tem
data para voltar. Não quero que perca tudo por
minha causa.
Com uma mão, ele mantém Gabriel sobre o
braço, com a outra, segura meu rosto e sustenta
meu olhar. A proximidade me faz estremecer.
— Acordei uma manhã e percebi que tudo já
estava perdido sem você ao meu lado.
— Nós combinamos... — alerto, ao sentir
seu ar sedutor, tentando me conquistar.
— Eu sei, baby. Sei o que combinei com
você e não vou passar dos limites enquanto não
tiver certeza de que você está em segurança. Mas
depois, ah, prepare-se.
Rio e logo olho para minha mãe pra ver se
ela ouviu as últimas palavras, que, graças a Deus,
Caio disse em um volume mais baixo. Acho que
não percebeu, mas noto seu sorriso ao nos analisar.
— Vocês ficam lindos juntos.
— Mãe!
— Que foi? É verdade.
— Nós não estamos juntos. É sério. Você
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sabe, se o Pedro nos encontra, mata o Caio se sonha


que está comigo.
— Eu sei, minha filha. Só disse que vocês
formam uma linda família. E esse rapaz gosta
mesmo de você, para ficar ao seu lado sabendo o
que você faz para sobreviver. Ainda mais agora,
que descobriu que você até já tem um filho.
Caio desanda a gargalhar e eu também não
consigo segurar o riso. Minha mãe fecha a cara,
incomodada por não saber do que achamos tanta
graça.
— Conta pra ela, princesa — Caio pede,
ainda secando as lágrimas de tanto rir.
— Eu que sou uma santa, mãe. Caio tem três
filhos e a ex-mulher mora na casa da frente da dele.
Rimos mais ainda quando ela leva as duas
mãos ao rosto e abre a boca. Gabriel acha a
expressão da avó engraçada e joga a cabeça para
trás, rindo também.
— Então temos que dar um jeito de resolver
tudo isso logo. Preciso ir ao Brasil ajudar vocês.
Minha nossa. Uma casa com quatro filhos precisa
de uma avó.
— Mãe, sem expectativas — imploro,
juntando as mãos.
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— Ok, ok. Não está mais aqui quem falou.


— Ela movimenta as mãos e pega a bolsa sobre um
banco. — Vamos? Não que eu esteja criando
expectativas, mas preciso contar ao seu pai as
novidades. Ele vai querer conversar com o Caio
também.
Esfrego o rosto. Óbvio que a minha mãe se
apaixonaria pelo Caio. Só espero que o meu pai
também goste dele. Deixo que os dois andem na
frente e vou atrás, olhando a cena que eu menos
esperava encontrar hoje: Caio levando Gabriel no
colo e conversando com minha mãe, que, andando
ao seu lado, toca seu braço a cada cinco segundos.
Balanço a cabeça e sorrio. O mundo é mesmo
louco.
A caminhada até a nossa casa dura vinte
minutos. Meu pai surge na janela da antiga
construção portuguesa ao ouvir as nossas vozes na
rua, mas logo desaparece. Há muito que não vivia
esse clima de alegria ao lado da minha mãe. Só
espero que isso não acabe quando meu pai
conhecer Caio.
Passo na frente deles e o seguro pelo pulso
sem parar de caminhar. Entro em casa o levando
comigo. Com o outro braço, ele ainda traz Gabriel.
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Entretido com os botões da camisa, meu menino


nem desconfia que o homem que o leva já foi seu
padrasto.
— Pai — chamo ainda no hall.
Tiro os sapatos e Caio se esforça para fazer o
mesmo sem soltar meu filho.
— É por causa dele. Gabriel fica no chão,
você sabe — me justifico, dando de ombros e
apontando para o menino.
Caio me olha de um jeito apaixonado,
brilhante. Chega a parecer um pouco excitado.
Morde a boca e dá um sorriso de lado.
— Que houve? — Devolvo um olhar
intrigado.
— Ver você como mãe é matador. Se tinha
um ponto final que faltava para que eu morresse de
amores por você, agora não falta mais.
Sorrio, constrangida. Nem sei o que dizer.
Olho para o chão e vejo um carrinho colorido. Pego
o brinquedo e o mostro a Gabriel. O pequeno se
atira nos meus braços e o ajeito no colo. Caio
analisa cada um dos meus movimentos.
— Quando você disse que não podia ter
filhos, sofri. Não por te ver incompleta, mas porque
sonhava em te ver como mãe, entregue a alguém
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como está agora. Nunca tive tanto orgulho de você


e das coisas que fez para proteger sua família. Você
sabe o quanto eu te amo, Tatiana?
Caio toca meu queixo e me faz sustentar seu
olhar. Ouvimos passos se aproximando e sua mão
se afasta.
— Filha? — Meu pai surge ao meu lado.
Ele coloca as mãos na cintura e franze a testa
ao ver Caio me tocando. Sem constrangimentos,
meu ex estende a mão para ele. Desconfiado de
tudo o que passamos, o senhor baixinho que tanto
amo custa a ceder ao olhar penetrante do homem
diante de si.
— Pai, esse é Caio. Caio Bauer. Um velho
amigo do Brasil. E agora, nosso advogado.
O peito dele se enche e os olhos se apertam.
Vira o corpo para mim e segura meu braço com os
dedos gelados.
— Você não acha que é perigoso trazer esse
moço aqui? — fala baixinho no meu ouvido.
— Ele é bom. Pode confiar. Vai nos ajudar a
voltar para o Brasil.
Rapidamente, vira o pescoço em direção ao
desconhecido parado em seu hall. Parece que nada
do que eu disse foi o suficiente para ele confiar por
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completo.
— Se o senhor conhece Tatiana do Brasil,
sabe que o que queremos é que Pedro mantenha
distância de nós. Tatiana está com a família dela,
vai arranjar um serviço e ficaremos todos bem. Se
espera algum tipo de pagamento que não seja
apenas financeiro, agradeço, mas pode ir.
— Pai. — Olho assustada para ele.
Seus ombros se contraem e encaro Caio,
pedindo desculpas com o olhar. Com as mãos
apoiadas no quadril, ele sorri como se não
esperasse nenhuma reação diferente dessa que meu
pai acabou de ter.
— E é verdade. Você sabe o que cobram em
troca de favores — meu pai continua, o dedo em
riste.
Reviro os olhos e solto Gabriel, que se
remexe desconfortável no meu colo. Ele desliza
pelas minhas coxas e desaparece, correndo dentro
de casa.
— O senhor tem toda a razão e fico aliviado
por saber que a sua filha tem alguém que zele por
ela. Era algo que me preocupava muito. Devo mais
à sua filha do que ela a mim. Mas, isso não vem ao
caso agora. Preciso saber de tudo o que aconteceu
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com vocês. Quanto mais detalhes, mais rápido a


minha equipe encontrará Pedro.
Meu pai troca a perna onde apoia o peso do
corpo, cruzando os braços e franzindo a boca. Até
eu rio, dessa vez.
— Equipe? Viu, isso está cheirando a coisa
que não se pode pagar com dinheiro. Eu sabia.
Minha Tatiana não vai pagar com o que o senhor
espera — fala, negando com a cabeça.
Já não sei onde me enfiar de vergonha.
— Espero levá-los em segurança de volta
para o Brasil. E, casar com a filha de vocês —
completa sem constrangimento.
Meu pai dá uma risada forçada e encara
minha mãe.
— Não disse? Mais um que pretende
comprar o corpo da menina. Pode ir. Não está à
venda. Não queremos outro que pensa que é dono
da vida dela.
— Pelo amor de Deus, pai. Quer se acalmar?
— Tudo bem, Mon. — Caio toca meu
ombro, paciente. — O senhor deve protegê-la. Já
disse que fico aliviado por vê-lo fazendo isso. Mas
quero deixar uma coisa bem clara aqui, amo a
Mônica e...
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— Então ama a pessoa errada, porque essa


Mônica não existe. É um personagem que a minha
filha tem que viver, infelizmente. Se espera levar
para si a garota que provavelmente conheceu em
um bordel, não é isso que vai ter.
Já não sei mais o que fazer. Meu pai não
desiste fácil. Dou um passo a frente, mas minha
mãe me segura, me impedindo de interromper o
debate.
— Essa garota que, sim, conheci enquanto
trabalhava, está com o meu coração e vim buscá-lo.
Só que ele só vive se estiver com ela. Então estou
disposto a fazer o que for necessário para que fique
em segurança. Ela e vocês. Não sou dono da sua
filha, nem me acho no direito de controlar seus
passos. Se estou aqui, é porque tenho certeza de
que foi embora ainda me amando. E, enquanto me
amar, lutarei para ficar ao lado dela.
— Isso é verdade? — Meu pai me encara,
franzindo a testa e sinalizando Caio com a cabeça.
— Sim — confirmo e mordo o lábio inferior.
— Mas, ele está aqui profissionalmente. Vai nos
ajudar, só que tem prazo para voltar. Se não
resolvermos a situação com Pedro até lá, Caio volta
ao Brasil para resolver a vida dele.
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— Mon... — Caio tenta me interromper.


— Foi combinado assim, não foi? Pela
segurança de todos — insisto.
Vejo a decepção em seu olhar ao concordar.
— Você tem razão. Foi o que combinamos.
Assinto com a cabeça, satisfeita. Melhor
assim. Não posso mais com expectativas, com
falsos momentos que não duram muito e que levam
todo o meu ar quando vão embora. Se Caio perder
tudo o que tem, nunca vou me perdoar. E se Pedro
o matar, vou morrer com ele.
— Então vamos ao trabalho. Preciso saber
exatamente como foi a última vez em que
encontraram Pedro — Caio fala, esfregando as
mãos, ansioso por me ajudar e acabar com tudo isso
de uma vez.
Olho para os lados e meus pais estão me
encarando, esperando que eu fale pela primeira vez
sobre aquele maldito dia em que nos separamos.
Aquela manhã sobre a qual nunca falamos e que
nos manteve distantes uns dos outros por absoluta
falta de escolhas. Porque quando o medo chega,
domina tudo o que encontra.

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Caio
Por muitos anos, imaginei como seria se
minha mãe tivesse sobrevivido ao acidente de
helicóptero. Sonhava que ela tinha sido encontrada
viva e que, sentada na nossa sala de estar, contava
sobre o momento mais difícil pela qual havia
passado. Os braços arranhados, as cicatrizes que
carregaria para sempre, eu podia ver todos os
detalhes, mas o ponto mais forte na minha
imaginação sempre era o seu olhar, aquele de quem
encontrou a morte e a deixou para trás, como nos
filmes.
Tatiana não tem machucados ou marcas
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visíveis. Mesmo assim, posso reconhecer em seus


olhos aquilo que tanto usei para confortar o meu
coração quando sonhava que minha mãe não estava
morta: o olhar de quem venceu a morte.
Escorado com um ombro na parede da
cozinha, ouço suas palavras lentas e sofridas.
Enquanto isso, sua mãe, também em pé, embala um
Gabriel adormecido e seu pai enxuga as lágrimas,
impotente. É como aquele momento que imaginei,
a mulher que tanto amo, diante de mim, contando
como sobreviveu aos segundos mais duros pela
qual passou:
— Estava tudo acertado. Pedro não sabia da
existência de Gabriel. Pelo menos era no que eu
acreditava até então. No dia em que descobri o
bebê, já estava em estado avançado e logo entrei
em trabalho de parto quando ele agrediu o meu pai.
Foram oito semanas sombrias com Gabriel
internado e meus pais escondidos na casa de uma
amiga, preparando tudo para que partíssemos assim
que Gabi saísse do hospital.
Aperto os olhos ao perceber uma grande
diferença na mulher que conheci e na garota diante
de mim agora. Me impressiona o quanto gosto das
duas, mas Tatiana tem tudo aquilo que eu sentia
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falta em Mônica: amor pela família, vontade de


mudar de vida e um olhar sincero, entregue.
— Quando ele foi liberado, gastamos boa
parte do que tínhamos para partimos no primeiro
avião do dia seguinte, apenas o tempo que
precisaria para fazer os documentos dele. A
situação estava ruim, meu pai não trabalhava mais e
a aposentadoria da minha mãe estava parada no
banco, pois tínhamos medo que Pedro nos
rastreasse. Todos os segundos eu me culpava por
ter tirado deles a dignidade que passaram a vida
toda construindo.
O pai dela cobre a mão de Tatiana com a
sua, mas não fala nada. Ela olha para a pele
enrugada dele e sorri.
— Minha esperança estava nas alturas
quando saí de casa naquela manhã para buscar os
documentos de Gabriel. Ele estava fora de perigo e,
finalmente, ao meu lado. O voo seria dali a algumas
horas. Tudo se encaminhando para uma nova vida
longe do tormento que era ter Pedro rondando os
nossos passos desde que eu havia o deixado.
Seu suspiro me leva de volta aos meus
antigos sonhos em ter minha mãe contando sobre o
acidente na qual gostaria que ela tivesse
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sobrevivido. Era o que eu via, seus lábios soprando


o ar logo antes de chegar na pior parte da história.
— Então, na primeira esquina que virei, dei
de cara com ele. E era um Pedro muito pior do que
eu estava acostumada, alguém que não precisava
fingir que me amava mais. Nunca contei os
detalhes para ninguém. E talvez nunca conte,
simplesmente porque não consigo. Dói demais.
O zumbido do aquecedor é a única coisa que
ouvimos por alguns minutos. Gabriel dorme no
colo da avó e passo a mão nos cabelos, ansioso por
saber tudo o que aquele desgraçado fez com a
minha princesa. Quando ela recomeça, é entre
lágrimas:
— Pedro me colocou em um carro e me
levou para um barracão fora da cidade. Estava
louco, revoltado por se sentir enganado. De alguma
forma, soube que eu tive um bebê. Fiz o que pude
para convencê-lo de que Gabriel nasceu morto.
Mas ele não estava satisfeito. Em sua cabeça, eu o
havia enganado. Ele queria ser o pai daquele filho,
mesmo acreditando que ele estava morto. Mesmo
que eu insistisse não ter certeza se era dele ou de
um cara que havia me obrigado a atender. Tudo o
que eu mais queria era que ele me deixasse em paz.
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Meu tempo escorria pelas mãos e temia perder o


voo. Não teria como pagar outras passagens para
todos nós e ele descobriria que meu filho estava
vivo. Mas Pedro estava tranquilo. Não tinha pressa
para executar sua vingança. Ele me deixou sozinha
por alguns minutos e fiquei em pânico quando
voltou, trazendo um homem vendado e amarrado
que reconheci como aquele cliente que poderia ser
o pai de Gabriel.
Ela fraquejou nas palavras e eu já no
aguentava mais. Puxei uma cadeira e me sentei
diante dela para que meu olhar a encorajasse a
terminar de contar a história.
— Pedro repetia sem parar que ia corrigir
tudo aquilo, que eu não precisava mais ter medo de
ter tido um filho com outra pessoa e, assim, poderia
voltar para casa. A solução era simples: matar
Tiago. E foi o que fez. Eu não estava preparada
para aquilo, para os respingos de sangue que senti
no meu rosto quando tirou a arma da cintura e
apertou o gatilho. Pela primeira vez na vida, o
choque me fez agir. Enquanto Pedro observava seu
trabalho, corri para fora do galpão. Mas alguns
trabalhadores que limpavam o terreno do lado me
viram naquele estado. Gritaram por mim enquanto
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eu me embrenhava cada vez mais mato a dentro.


Quando estava longe o suficiente para pegar o meu
telefone, era tarde demais. Meus pais já haviam
partido. E eu era um retrato-falado estampado ao
lado do de Pedro nos jornais como suspeita de um
assassinato. Mesmo que eu nunca fosse encontrada,
minha sentença estava feita: não conseguiria deixar
o país ou poderia ser presa.
Automaticamente, minhas mãos foram para
a cabeça. Não podia acreditar no que estava
ouvindo.
— Só me restou fugir e esperar tudo aquilo
passar. Quando consegui entrar em contato com os
meus pais e explicar tudo, eles já estavam em
Lisboa. Combinamos que um ano seria o suficiente.
Depois disso, eu os encontraria. Mas o dinheiro foi
acabando, minhas oportunidades diminuindo. Eu
não era mais ninguém. Quando me vi, estava em
Porto Alegre, fugindo de Pedro e voltando a
atender para poder sustentar a minha família e me
juntar a eles outra vez, porque ninguém queria dar
emprego para dois idosos ilegais. Então você
apareceu e eu não conseguia mais me desligar. Já
não sabia quem eu era e o que devia fazer. Até
que...
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— Até que eu coloquei a sua vida e a vida


dos que você ama em risco ao te pedir em
casamento — concluo, chocado.
Levanto de súbito e ela ergue a cabeça para
mim. Quero colocar seu rosto entre as minhas mãos
e fazer mil promessas. Corrigir tudo isso e lhe dar a
vida que merece. Só que ela tem razão. Chega de
promessas. Vou fazer o que tiver que ser feito.
— Temos que sair daqui. É perigoso. Pedro
pode rastrear a sua vinda ou a minha. Melhor
ficarmos em um hotel ou alugar alguma casa até
que o encontremos e tenhamos certeza de que tudo
está bem.
Mônica assente e se levanta também. Ela se
apoia no encosto da cadeira e une os ombros,
cansada de tudo o que acabou de dizer.
— Desculpe fazer vocês reviverem tudo
isso. Mas agora que sei sobre o crime que Pedro
cometeu acho que vai ficar bem mais fácil de
encontrá-lo. Só quero dizer que eu sequer fazia
ideia de tudo isso que estava acontecendo com a
mulher da minha vida. Ela sabe, fiz e vou continuar
fazendo tudo o que puder para lhe devolver os dias
felizes roubados. Já estava de saco cheio de ver a
Mônica, ahn, Tatiana atendendo no Manhattan.
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Comprei aquele lugar e comprarei o mundo, se


precisar. Mas vou levá-los de volta para casa em
segurança e vou casar com a filha de vocês.
Seus pais trocam olhares e dão um sorrisinho
satisfeito um para o outro. Tatiana me olha
preocupada. Pronuncia as palavras sem emitir som,
mas leio em seus lábios:
— Sem promessas.

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Tatiana
Caio alugou um apartamento de frente para o
mar em Sesimbra, para onde fomos na mesma noite
que nos reencontramos. Queria ajudar a pagá-lo,
mas, mesmo que ele deixasse, não teria dinheiro o
suficiente para um lugar tão luxuoso.
Acordo ao ouvir a porta da rua bater e me
levanto. Escovo os dentes e vou para a sala de
camisola. A cidade está vazia essa época do ano e
as únicas pessoas que consigo enxergar da sacada
são os meus pais, brincando com Gabriel na praia.
Apoio os braços no vidro e deito o queixo sobre

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eles.
— Achei que Gabriel fosse esquecer de
mim. Nos dias em que estava com você, ficava
desesperada por não poder ligar e deixar que
ouvisse a minha voz — digo ao ouvir Caio se
aproximando por trás.
— Por isso muitas vezes ia embora sem
explicação nenhuma? — Caio pergunta.
Confirmo com a cabeça sem me virar. Seu
perfume mexe em algo dentro de mim. Não consigo
acreditar que, de todos os homens com quem
estive, exista esse um que me cause sentimentos tão
loucos e apaixonados.
— Desculpa por ter te atrapalhado.
— Você não tem que pedir desculpas. Eu
devia ter sido sincera desde o começo, mas achei
que era uma brincadeira, que era passageiro. Pra
falar a verdade, mal gostava de estar com homens.
A maioria me dava asco, depois de Pedro. — Giro
o corpo e o encaro
Caio passa o polegar no lábio, confuso. Seu
cabelo bagunçado e a calça caída nos quadris
brigam por minha atenção.
— A presença da Lisi na nossa cama era por
isso? Ainda tem dificuldade em ter prazer só com
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um homem?
Olho para o alto para me impedir de
continuar encarando o volume em suas calças. Ou a
camiseta apertada, marcando os músculos da
barriga.
— Não sei o que você fez. Se foi o dormir
de conchinha ou o me amar, mas quebrou essa
maldição. Não sabe o quanto meu corpo se sente
completo junto ao seu.
Gosto do sorriso safado dele, mas ergo o
indicador quando dá um passo em minha direção.
— Ok. Entendi. Isso não é um convite.
— Não. Nem pensar. Pode ser que a gente
demore muito a encontrar Pedro. Pode ser que você
tenha que retornar ao Brasil e eu precise encarar a
realidade de te ver voltando para a Mariana.
O modo como revira os olhos é fofo. Amo
que não tenha paciência para ouvir sobre os nossos
futuros separados.
— Se tem uma coisa que tenho certeza desde
que te conheci é que não vou voltar para ela. Mas,
mesmo assim, se não puder te ter, vou me certificar
de esfregar na sua cara o que está perdendo. —
Caio ergue a camisa e a tira por cima da cabeça.
Ponho a mão na cintura e abro a boca para
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protestar. Ele ri de um jeito safado e desce a calça.


— O que você está fazendo? Está frio —
falo, me abaixando para juntar suas roupas.
— É bom sentir esse ar fresco para acordar.
Vou tomar um banho.
Ele se vira e vejo sua bunda deliciosa ainda
coberta pela cueca, mas não dura muito. Ele a retira
enquanto atravessa a sala e a chuta para o alto, a
pegando em seguida. Vira para trás e ri quando me
vê analisando suas costas de boca aberta. Filho da
mãe gostoso.
Faço um mantra e uso o melhor do meu
poder mental para não invadir o banheiro enquanto
Caio toma banho. Ouço seus movimentos ao
retornar para a sala, que tem uma cozinha
integrada, mas só deixo a varanda ao sentir o aroma
de café fresco.
Dentro do apartamento está mais quentinho
e encontrá-lo sem camisa e com a calça de abrigo
caída nos quadris esquenta tudo mais ainda.
Principalmente entre as minhas pernas.
Ele serve duas xícaras e empurra a minha
pelo balcão. Dou um gole e faço uma careta. Vejo
meu rosto de bebê refletido no armário preto
lustrado da cozinha.
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— Minha nossa, Caio, seu café ainda é


horrível.
Cuspo o líquido viscoso na pia e ele ri.
— Coelhinha, Sempre tive alguém para
cuidar disso. Faz poucos dias que você partiu. Não
deu tempo de aprender a fazer um café melhor.
Mordo a bochecha e limpo a boca com o
braço, pensando que esse alguém era Mariana antes
de mim.
— Tão pouco e parece que foi há meses.
— Uma eternidade — fala com a voz rouca,
se aproximando de mim com um meio sorriso.
Seguro no balcão por trás, tocando nele com
o quadril. Caio me encurrala e apoia o braço na
lateral do meu rosto, com a outra mão, toca meus
lábios.
— Não vejo a hora de ter você na minha
casa, me ensinando a fazer café.
— É mais fácil eu fazer do que te ensinar.
Demoraria uma vida para conseguir isso.
— E é o que desejo. Que leve a vida inteira
para me mostrar as coisas que ainda não sei. Você é
uma boa professora.
— Não sei, não.
— Sabe sim. Me ensinou a amar — diz, tão
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perto que o ar quente que sai da sua boca me


arrepia.
Seus olhos penetrantes me devoram. Tenho
certeza que estou corada, porque minhas bochechas
queimam. Assim como o meu clitóris.
E o cretino percebe isso. Caio olha para os
pelos arrepiados do meu braço e sorri malicioso.
Meu coração é a única coisa que escuto quando
cola a testa na minha.
Ai, caramba. Não posso fazer isso. Preciso
ser forte, mas não consigo. Ele vai me beijar e
preciso provar que sou resistente, que sou capaz de
cumprir a regra que eu mesma estabeleci.
Desvio os olhos do seu rosto e vejo um prato
com os biscoitos favoritos de Gabriel. Sem pensar,
estico o braço e pego quatro deles. Enfio todos ao
mesmo tempo na boca e começo a mastigar. Passo
o dedo no queixo para limpar os farelos e Caio joga
a cabeça para trás.
Ele se afasta, empurrando o balcão atrás de
mim. Aperta os punhos, com gana do que acabei de
fazer. Não consigo não rir. Ele logo faz o mesmo
que eu. Nossa, como amo o seu riso.
— Isso foi jogo sujo, princesa.
Pisco muitas vezes sem conseguir falar por
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causa da boca cheia. Acho que vou mastigar uns


três dias o tanto de coisa que enfiei na boca.
— Sabe que vai ter volta, não é?
Arregalo os olhos e engulo um pouco da
bolacha. Me viro para a pia e encho um copo com
água. Termino de beber e respiro aliviada. Mas não
dura muito tempo, giro o corpo e Caio já está em
cima de mim outra vez. Sustento seu olhar o
máximo que posso. Não sei quem de nós dois vai
ceder primeiro e beijar o outro.
— Você precisa entender que a sua regra é
desnecessária. Vou fazer tudo para te ter. Possível
ou impossível. Você já é minha e nada vai mudar
isso.
— Caio...
— Escuta, sei que está com medo e respeito
isso, mas estamos perdendo um tempo precioso
juntos. Mais cedo ou mais tarde, serei seu marido,
independente do que o meu avô, Mariana ou Pedro
desejem. Porque esse amor é maior do que todos
eles.
Meu peito se enche de borboletas e nunca
me senti tão amada quanto agora. Só que tenho
medo. Já me deixei enganar por promessas.
Olhando para a boca diante de mim, não parece tão
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ruim se eu voltar atrás e quebrar a regra. Pode ser


que dê tudo certo mesmo. Se Caio tiver razão, vou
me arrepender de tudo isso que não estou me
permitindo fazer, como pular no seu colo, segurar
sua nuca, olhar nos seus olhos e, ah, droga, já estou
fazendo isso.
No momento em que começo a raciocinar,
meus lábios já estão tocando de leve nos dele. E o
nosso tempo acaba. A maçaneta da porta da sala
gira e logo ela se abre. Escorrego do colo de Caio e
pigarreio ao ver meus pais entrando em casa.
Gabriel corre atrás de mim e se agarra nos meus
joelhos.
— Ei, bebê, como foi o passeio?
— Um vento que você não imagina —
minha mãe fala, totalmente alheia à ereção que
Caio tenta disfarçar, procurando algo inexistente
dentro da geladeira.
— Sério? — Pergunto enquanto pego meu
filho nos braços e tento segurar o riso por ver o
meu ex naquela situação.
Ele me dirige um olhar insistente, um aviso:
o que fiz que terá volta. Ergo uma sobrancelha, o
desafiando.
— Vocês não estão com frio? — Minha mãe
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pergunta ao ver que estou só de camisola e Caio


apenas de calça.
— Aqui dentro está quente — respondo,
fitando as costas nuas e deliciosas do homem ainda
dentro da geladeira.
Ele me encara de um modo malicioso. Sabe
que não é mentira. Aqui dentro de mim está muito
quente. Muito mesmo.
Trocamos um sorriso cúmplice. Ah, droga.
Eu devia ser mais resistente. Esses dias ao lado dele
serão difíceis. E, pelo visto, enlouquecedores.
Ainda mais com os meus pais se apaixonando pelo
Caio, como eu.
De tudo o que já passei, fico abismada
quando meu pai se depara com um homem sem
camisa no mesmo cômodo que ele e não fala nada.
Pior ainda, sorri quando Caio fala do almoço.
— Vou fazer um churrasco. Gostam? Vou
sair e comprar tudo. Sei que não querem ficar
trancados aqui o tempo todo, mas acho melhor que
só deem passeios assim como hoje, bem cedo,
quando não há ninguém na rua. Podem deixar que
tomo conta do resto. Alguma preferência?
Meus pais se olham e fico esperando que
recusem, que digam que não é necessário. Mas eles
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fazem exatamente o contrário.


— Qualquer coisa que não seja porco ou
frango. Já não aguentamos mais essas carnes —
meu pai responde, erguendo um ombro como que
para se desculpar e fugindo de me encarar.
Caio veste um casaco de moletom com
capuz e sai. Não sem antes beijar a cabeça de
Gabriel e a minha. Mal bate a porta e eu protesto:
— Vocês aceitaram os favores dele!
Nenhum dos dois me encara. Minha mãe vai
para a pia e fica surpresa de encontrá-la limpa:
— Você lavou a louça do café?
— Mãe, não ignora o que eu disse. E foi o
Caio quem colocou a louça na máquina.
Ela bufa e se vira, pousando uma mão no
meu ombro. Meu pai puxa uma cadeira e senta,
brincando com os polegares como faço quando
estou ansiosa.
— O que houve? Vocês estão estranhos?
Boto Gabriel no chão e ele desaparece pelo
corredor. Minha mãe e meu pai demoram um
pouco. Um esperando que o outro fale.
— Estávamos conversando agora, ali na
praia. Sabe, minha filha, estamos com bons
sentimentos. Esse rapaz nos trouxe um pouco de
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boas energias e principalmente fé. Não dá pra negar


o quanto gosta de você. O jeito como te olha, as
coisas simples que faz para te agradar e até as
complexas, como arriscar perder tudo para vir atrás
de você.
Não estou acreditando no que ouço. Aperto a
têmpora e dou um sorriso falso.
— Vocês querem que eu acredite que em
pouco mais de um dia ao lado dele já têm certeza
de que é o homem da minha vida? Já falei que não
vou deixar que Caio deixe a carreira, a vida dele,
por se recusar a fazer o que o avô pediu. Se o prazo
acabar, nunca vou me perdoar. O que vocês
pensam? Está sendo extremamente difícil para mim
não ceder aos meus sentimentos por ele, mas tenho
medo de machucar a todos nós.
— Você quer saber mesmo o que nós
pensamos? — meu pai pergunta, me olhando por
cima para me desafiar.
— Por favor — digo, as mãos na cintura.
— Pensamos que já é a hora disso acabar.
Não aguentamos mais. E ver alguém cuidando da
nossa família depois de tanto tempo de luta é um
alívio.
— Ele só está cuidando do almoço e da
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louça.
Minha mãe franze a testa. Sei que está
irritada por eu diminuir tudo o que Caio fez até
agora, mas se tem algo que não preciso, é que
torçam para ele resistir ao meu lado até acabar seu
prazo para casar.
— Da louça, do almoço, da casa onde
estamos, de ir atrás do Pedro, de te tirar da vida,
de...
— Ok, ok — aceito, erguendo as mãos. —,
mas só vou dizer uma coisa para vocês: não vou
ceder. Aceito toda a ajuda que ele me oferecer, mas
não vou carregar a culpa de ter arruinado a vida de
outra pessoa.
Vou para o quarto e deito na minha cama.
Gabriel logo aparece e o ajudo a subir e deitar ao
meu lado. Ele tem três bonecos nas mãos. Aponta
para a menina e depois para os meninos.
— Mamá, Biel, Cao.
Seco as lágrimas fugitivas e fungo. Sorrio,
confirmando suas palavras:
— Isso mesmo, meu amor. Mamãe, Gabriel
e Caio.
Estou mesmo ferrada.

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Caio
Na penúltima noite antes de ter de voltar ao
Brasil acordo ao sentir o cheiro dela. Entreabro os
olhos e vejo sua silhueta recostada na minha porta.
Morde a manga da camisola. Tem a gola caída no
ombro. A pele nua reluz com o reflexo da lua. Os
cabelos são tão compridos que terminam pouco
antes da barra da roupa, logo abaixo do quadril.
— Oi — digo com a voz sonolenta.
É a primeira vez que demonstro que a vi me
observando. Nas outras, me virava de lado e
deixava que me observasse. Cheguei a dormir sem
nenhuma peça de roupa. Essa foi a noite que ela
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passou mais tempo parada na minha porta.


Já são alguns dias dentro desse apartamento
e nenhum de nós dois sabe mais como manter o
controle. Na primeira noite em que vi a garota
apoiada na porta do meu quarto durante a
madrugada, sorri satisfeito. Minha ideia estava
funcionando. Acreditei que não demoraria muito
até Mônica ceder e se aninhar ao meu lado debaixo
das cobertas.
Voltar às nossas noites abraçados de
conchinha seria incrível, mas acho que não
conseguiria fazer isso por muito tempo, como no
começo do namoro. Tenho rolado na cama por
horas antes de pegar no sono, ansioso para que ela
desista de se manter afastada de mim.
Porém, o pior é acordar ensopado, com o
pau rasgando de tão duro por sentir o seu perfume
no ar. Por mais que tente me aliviar, em segundos
já estou pronto de novo. Tudo porque o meu corpo
quer o dela e não as minhas mãos.
Só Mon pode me acalmar e cada vez tenho
dormido menos por não ver essa maldição ter fim.
Faltando poucos dias para o prazo dado por Artur
Bauer para que me casasse, só consigo ver duas
coisas acontecendo: Mônica fugindo de mim e eu
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fugindo do meu avô.


— Não consegue dormir? — pergunto a ela,
correndo a mão pelos cabelos e a apoiando sob a
nuca.
— Não. Parece que fica cada dia mais difícil.
— Vem aqui — digo.
Tenho receio de receber um não ao
perguntar se quer vir até mim, então apenas ordeno
que venha. Mon não é das mais obedientes, coisa
que adoro. Mas, nesse momento, só quero que seja.
Parece que alguém no céu escuta os meus apelos e
Mônica acena com a cabeça, concordando. Me
afasto para o lado e dou espaço para que se sente no
colchão.
Seu caminhar, mesmo tímido, entrega todo o
poder de sedução que a garota tem. O quadril se
movimenta graciosamente a cada passo dado, quase
revelando a intimidade entre as suas pernas. Me
pergunto se está de calcinha e sinto meu pau se
contrair e inchar mais ainda. Droga de autocontrole
furado.
— Você quer conversar? — pergunto assim
que se aproxima e puxa o pé até colocá-lo lado da
coxa.
— Só preciso te pedir duas coisas. Por favor,
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diga que vai responder apenas com um sim para


elas.
Suspiro e ajeito a postura, sentando com as
costas na cabeceira. Não quero recusar um pedido
seu, mas como prometer algo que não sei se posso
cumprir?
Reflito sobre isso por alguns segundos e
começo a entender o que tem passado por sua
cabecinha confusa. É exatamente isso que tem me
pedido nos últimos dias: que eu não jure fazer
coisas que talvez não possa cumprir, como proteger
sua família e ficar ao seu lado para sempre. Agora
quer me pedir duas coisas que não faço ideia do
que sejam e ainda implora para que as cumpra.
— Fala, Caio. Promete que vai dizer sim.
Seu rosto gracioso tem uma expressão
assustada e, por um segundo, tudo o que desejo é
trazer de volta aquele jeito despreocupado da minha
coelhinha. Mesmo sabendo que por trás daquela
máscara havia uma história dolorosa que ela
escondia com todas as suas forças.
— Ok, princesa. Já te disse mil vezes. Vou
te dar tudo o que você quiser. Vou fazer o
impossível, se for você quem me pedir.
Aliviada, ela solta o ar e ergue o queixo.
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Penso que está olhando para o teto, mas, quando


volta a me encarar, percebo que estava apenas
tentando segurar as lágrimas.
— Você vai embora amanhã? — ela faz a
primeira pergunta, fingindo segurança.
Esfrego o rosto, exausto de toda essa
situação. Entendo o medo dela e também tenho os
meus. Até agora nem João, nem o meu investigador
conseguiram fazer muita coisa por mim. Se meu
avô estava levando a sério tudo aquilo, é provável
que amanhã apenas mande jogar as minhas coisas
pela janela do escritório. Quando voltar para o
Brasil, é certo que vou encontrar minha casa já com
outros moradores. Mas o pior é que antes de tudo
acontecer, Mariana vai me ligar para reclamar do
cartão de crédito que será recusado.
Me odeio mais do que nunca por ter deixado
tudo isso de lado, por não ter me preocupado em
organizar uma vida onde eu pudesse ser livre de
verdade e não dependente das vontades dos outros.
Vejo os fios de cabelo caídos pra frente do corpo de
Mônica e me sinto culpado. Brinca com eles. Ela
tem razão, não sei o que é não ser livre de verdade.
E se não aparecer de volta no Brasil amanhã e
reatar com Mariana, aí sim vou descobrir algo do
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tipo.
Me dói ir embora sem conseguir de fato
ajudá-la. Só que se eu não for, também vou tornar
um inferno a vida de outras pessoas que amo,
principalmente os meus filhos, e eles não merecem
isso. Bufo e levo a mão até o rosto dela, esfregando
sua bochecha com delicadeza.
— Sim — respondo mesmo sem ter certeza
se é o certo.
Seco a lágrima que escorre até o meu dedo.
Odeio fazê-la sofrer.
— Podemos dormir de conchinha hoje? —
pergunta, me fazendo sorrir, o que parece
inadequado para o momento.
— Sim — repito, deitando outra vez e dando
batidinhas no espaço vazio diante de mim para que
ela o ocupe.
Mônica desliza para o lugar ao meu lado e
suas costas se colam ao meu peito. Enfio o rosto
entre seus cabelos e aspiro. Porra, como amo esse
cheiro.
— Mon, só preciso te pedir uma coisa. Por
favor, diga que vai responder apenas com um sim
para ela.
— Ok.
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— Faz amor comigo?


Mesmo sem enxergar seu rosto, sei que está
sorrindo.
— Não — responde.
Meus olhos, que estavam semicerrados,
agora se abrem de repente. Dei os meus sims, por
que agora me diz que não? Apoio o peso do corpo
sobre o braço e me levanto por cima dela. Puxo seu
ombro para que me encare e vejo sua boca
contraída e o olhar sério que cria uma ruga entre as
sobrancelhas. Do nada, desmancha a expressão e
sorri, mas de um jeito sedutor.
— Não vamos fazer amor, porque preciso
me entregar inteira para você. Se essa será a nossa
última noite juntos, quero que me possua com toda
a intensidade que deseja, para nunca mais esquecer
de como é estar dentro de mim. Talvez eu não
consiga devolver o seu coração como você gostaria,
mas posso deixar que o sinta bater outra vez —
ronrona.
Todos os pelos do meu corpo se arrepiam e
enterro o rosto no travesseiro, apertando o lençol
nas minhas mãos. Ah, se eu pudesse gritar e
externar toda a ânsia que sinto por tê-la agora.
— Me deixa sentir como é ter alguém a
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serviço do meu prazer.


Perco todo o controle quando diz isso.
Deslizo a mão até a região entre suas coxas e
estremeço ao perceber que veio até aqui com más
intenções planejadas, pois está sem calcinha. Meus
dedos tocam diretamente sua pele nua e arfo,
desesperado por fazer o que me pede.
Ergo a camisa que veste e fico paralisado ao
ver a fina linha de pelos que agora atravessa seu
púbis. Nunca a vi assim, apenas totalmente
depilada. Não sei até quando meu pau vai aguentar.
Tiro a roupa dela por cima da cabeça enquanto a
encaro.
— Gostou? — pergunta, aqueles olhos
perversos que me dominam.
— Porra, queria ser capaz de garantir que
terá mais prazer do que eu, mas não tenho certeza
disso.
— Você me enlouquece, sabia?
— Você é quem me deixa maluco. Além de
todos os pensamentos sujos que me faz ter, me
confunde o tanto de outras coisas que gostaria de
fazer ao seu lado. Para sempre.
— Essa noite é o nosso para sempre, gato.
Me faz sua — implora, arqueando as costas e se
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oferecendo para mim.


— É tortura te ter sabendo que é a última
vez. Mas é a tortura mais gostosa que jamais existiu
— falo, descendo pelo seu corpo e deixando rastros
de beijos por toda a pele com cheiro de framboesa.
Quando chego na altura do clitóris, inundo
sua boceta doce com a minha saliva, lubrificando o
pequeno espaço por onde escorrego o indicador.
Minha língua varre cada milímetro entre suas
pernas e então circula sem parar o ponto rosado que
se contrai, chamando por mim.
Insisto nos movimentos sem tirar os olhos
dos dela, que me analisa com a boca aberta,
ofegante. Ponho mais um dedo, dois na sua entrada
deliciosa e Mônica cerra as pálpebras e segura em
meus ombros, cravando as unhas na minha pele.
Seu gozo doce molha meu queixo e tudo o
que mais quero é entrar em seu corpo, mas
continuo chupando o clitóris, mesmo que ela
permaneça se contorcendo e tremendo. Aperto sua
bunda por baixo, fazendo mais pressão e
prolongando seu prazer.
— Me beija — Mon diz sem fôlego quando
finalmente relaxa sobre o colchão.
Rastejo por cima do seu corpo, fazendo o
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que me pede, invadindo sua boca com a minha.


— Gostosa. Linda. Porra, como te amo.
— Obrigada. Isso foi incrível, ter você me
dando prazer é sempre bom.
Me afasto e a encaro, sorrindo. Umedeço os
lábios e prendo seus punhos sobre a cabeça com
uma só mão. Ela arfa, assustada com o meu
movimento rápido.
— Você realmente acha que é esse o prazer
que posso te dar?
— Não é? — pergunta, receosa.
— Não, não é. E sabe do que mais. Quero
que se lembre amanhã de como estive em você.
Quero que me sinta a cada movimento, cada vez
que se sentar. Você ainda vai gozar pra mim. Bem
forte. E sem fazer nenhum barulho.
— Caio...
— Entendeu?
Ela concorda com a cabeça e morde o lábio.
Cada movimento seu me deixa maluco.
— Sou eu quem mordo essa boca hoje,
coelhinha. Só eu. — Reclino o peito sobre o corpo
dela e puxo o seu lábio inferior com os dentes.
Ela aperta os olhos e estica as mãos, presas
pelas minhas. Levanto o quadril e giro o tronco de
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Mônica em um movimento. Pressiono meu pau


entre suas nádegas e ela geme, empinando a bunda.
— Preparada para mim? — digo com a boca
colada em seu ouvido.
— Sim — ela sussurra, rouca.
Passo os dedos entre suas pernas e sinto o
líquido melado de quem acabou de se entregar em
um delicioso orgasmo. A pressão aumenta na
minha glande e roço a cabeça na entrada úmida
dela. Sou chupado para o seu interior e me deixo
escorregar até o fundo, a fazendo emitir um
grunhido.
Cubro sua boca com um beijo para que fique
quieta. Ergo o quadril e deslizo para fora, ouvindo
o barulho molhado do nosso contato íntimo.
Entro e saio sem pressa enquanto ela agarra
o lençol e enfia o rosto no travesseiro para não
gritar. Minha mão livre abre espaço por baixo do
seu corpo, chegando outra vez até o grelinho
intumescido.
O esfrego em um vai e vem mais rápido do
que o do meu quadril. Ela força mais ainda o rabo
para trás e mordo seu ombro, já desesperado para
me entregar logo dentro de Mônica. Mas não vou
ceder. Quero que nunca mais esqueça de como é
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fazer sexo comigo.


— Você quer mais fundo, né? Ok. Sinta isso,
princesa. — Aperto seu púbis e a trago até mim, a
deixando de quatro.
Faço o caminho da sua coluna com a língua,
lambendo tudo até chegar no pescoço. A pele
arrepiada e o arco nas costas são o sinal do seu
prazer.
— Amo o jeito como está encharcada —
sibilo em sua nuca.
— Vai, Caio, me fode. Me come toda. Sou
sua. Nunca nenhum homem me deu prazer como
você. Se soubesse o medo que tive disso, de deixar
Lisi ir embora e ver que você era o único capaz de
me fazer gozar — Mônica confessa e enlouqueço
de tesão por ouvir que, de tantos que passaram por
sua cama, sou aquele que a faz estremecer.
— Dá uma olhada pra você. Por momento
nenhum duvidei que algo especial existia entre a
gente. — Levo o dedo que estava entre as pernas
dela até sua boca e ela suga o mel doce do seu
prazer.
Quero senti-la, então a beijo vorazmente e
aperto os olhos ao ver todo o meu corpo em contato
com seus sabores. É incrível. Perco o controle e
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enfio cada vez mais forte, voltando a acariciar seu


clitóris. Não demora muito e ela avisa que já não
suporta mais:
— Caio, vou gozar. Não para.
Faço o que ela me pede e, mesmo que a veja
tremer e gemer com o rosto no travesseiro, insisto
até que se entregue outra vez e depois mais uma. Já
estou suado, maluco por gozar também, mas ela é
minha prioridade. Não vou terminar até vê-la
rendida.
Seu corpo amolece e diminuo os
movimentos aos poucos, até parar. Como é bom o
contato com sua pele.
— Não tira isso de mim, coelhinha. Nós
dois. Não é a melhor coisa do mundo?
Deixo que ela se liberte e se vire. Nossos
olhos se encontram e vejo a decepção que sente em
ter que me deixar partir. O polegar passeia na
minha barba por fazer e curto o carinho.
— A gente combinou...
— Ok — aceito, não querendo que ela deixe
a minha cama agora por discordarmos do que
prometi fazer amanhã.
Não posso perder essa corrente que está
passando por nós agora. Preciso mantê-la para que
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Mônica continue a lembrar do nosso amor por


muito tempo.
— Goze comigo, por favor — implora, me
abraçando e tocando o nariz no meu.
Olho no olho, pele com pele. Assim é o
nosso último orgasmo juntos. Delicadamente, me
movimento esfregado o púbis no dela. Seu gemido
baixinho me excita, mas nossas mãos entrelaçadas
como as nossas almas é o que me derruba.
Mon ergue a barriga ao se entregar mais uma
vez. É lindo e cedo ao prazer quando sua vagina se
contrai, apertando meu pau muitas e deliciosas
vezes.
Entrego toda a minha energia para ela, todo
o meu amor. Até a minha alma. É intenso e sai de
dentro de mim em ondas fortes e avassaladoras.
Quando consigo parar de tremer, beijo sua testa e
sussurro:
— Te amo e vou te amar para sempre.
— Eu também — diz, passando as unhas nas
minhas costas.
Rolo para o lado e ela se aninha no meu
abraço. Dormimos assim, do jeito que mais gosto.
Acordo com frio quando a luz entra na
minha janela. Mônica já não está mais ao meu lado
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e só tenho certeza que não é um sonho porque o


anel da minha mãe está no seu lugar vazio na cama.
Pressiono a joia dentro da palma da mão e choro
como um menino.

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Tatiana
Chegou o dia de Caio voltar ao Brasil e só
consigo pensar que estou fazendo algo errado. Se
deixar que ele fique, vou me culpar para sempre
por tê-lo feito perder tudo. Se deixá-lo ir, quem
perde sou eu, perco todo o amor que jamais um
outro alguém me deu.
Abro os olhos e encontro Gabriel na minha
cama. Depois que saí do quarto de Caio, meu filho
logo começou a chorar. Atendê-lo durante as
madrugadas é um sonho. Algo que pode parecer
terrível para outras mães é um milagre para mim.

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Ainda deitada, acaricio seu cabelo de fios macios.


— Não consigo expressar o tamanho da
minha gratidão por tudo que você fez pela nossa
família. — A voz melodiosa do meu pai ecoa no
apartamento, me sobressaltando.
Apoio o cotovelo no colchão e levanto,
tentando não fazer barulho para não acordar Gabi.
Ele suspira mais forte, mas não se mexe. De pés
descalços, ando até a sala sem deixar que me
vejam. Fico escondida atrás da porta do corredor.
Na fresta aberta, vejo a silhueta dos dois
homens pelo reflexo do vidro da sacada. Ao lado de
Caio, uma mala aguarda para partir com ele.
Será que vai embora sem se despedir de
mim? Um nó se forma na minha garganta ao pensar
na nossa última e maravilhosa noite de amor. Odeio
todos os erros do passado pela qual ainda tenho que
pagar depois de tanto tempo.
— Fico até envergonhado de ter desconfiado
de um homem como você no princípio.
— E o senhor deve permanecer desconfiado,
pelo menos até que encontremos Pedro. É isso que
vai proteger a nossa garota. Tatiana é corajosa
demais, tenho medo que coloque sua vida em risco
ao enfrentar coisas que acredita poder encarar
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sozinha.
Sorrio ao ouvir Caio dizendo o meu nome.
Gosto de Mônica, mas um dos meus grandes
sonhos dos últimos anos era voltar a ser a Tatiana
de antes. E isso saindo da boca dele é melhor ainda.
— Esses dias com você aqui ao nosso lado
me deu esperanças de que ela mudou. Minha filha
jamais encontraria alguém bom assim se fosse a
mesma menina de antes, correndo atrás de cometer
tantos erros.
— E vou embora aliviado por saber que ela
tem pais amorosos com quem contar. Espero que
tudo se resolva logo e vocês voltem para casa.
— É, vamos ver o que o futuro nos reserva.
Tenho andado muito preocupado com o dinheiro
também. Não podemos ficar muito tempo aqui
dentro. Ela precisa ir atrás de um emprego, porque
agora não já tem como nos sustentar, os quatro.
Não quero a menina naquela vida mais.
Suspiro e tapo a boca para não fazer mais
barulho. Olho para o alto, tentando segurar as
lágrimas. Pobre do meu pai, tão preocupado
comigo que envelheceu vinte anos nos últimos
cinco.
— Quanto a isso, não será um problema.
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Tatiana é minha sócia em um empreendimento em


Porto Alegre. Vai receber a parte dela em mãos, por
segurança. Vou tratar de tudo.
Abro a boca para protestar, mas percebo que
é melhor não entregar meu esconderijo e confessar
estar ouvindo a conversa. Caio falava sobre o
Manhattan e não quero ganhar dinheiro com aquele
lugar, explorando meninas. Preciso lembrar de
tratar disso depois.
O seu telefone toca e ele pede licença para o
meu pai, se afastando e parando exatamente no
outro lado da parede onde estou apoiada. Tranco a
respiração, mas talvez seja capaz de ouvir os meus
batimentos. Quando fala alô, reconheço o timbre
agudo que responde do outro lado da linha:
— Caio, meu amor, já está voltando para a
nossa casa? — Mariana fala com animação.
Pulo, assustada com o murro que ele dá na
parede.
— Estava achando muito estranho o seu
silêncio — rosna para a ex-mulher.
— Foi apenas pra você perceber que não era
pressão minha. Somos um do outro e nenhuma puta
vai nos separar, docinho.
— Ah, Mariana, vá se...
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— Ei, ei, ei! O que você anda aprendendo no


baixo clero? Escuta, quer que te busque no
aeroporto e vamos direto até a casa do seu avô para
contar que reatamos?
Aperto os punhos contra o peito e me
arrependo de tudo, de deixá-lo ir, de ser uma fraca.
Caio demora em seu silêncio e quando fala, sinto a
dor em sua voz.
— Ok. Vinte horas — cede, sabendo que
não tem mais nada que possa fazer.
Deixo as costas escorregarem pela parede
enquanto escuto as rodinhas da mala se afastarem
em direção à porta.
— Não vai se despedir da Tatiana e do
Gabriel? — meu pai pergunta, surpreso.
— Minha despedida foi esse tempo que
passei aqui, ao lado deles. Deixei meus beijos e
orações enquanto dormiam. Não seria capaz de
partir se os visse acordados. É doloroso demais.
— Você tem razão. Seria doloroso para a
minha filha também.
Ouço os tapinhas de cumprimento que os
homens dão uns nas costas do outro e abafo o choro
quando a porta da rua se abre. Ela bate em seguida
e meu pai funga. Me apoio na parede e levanto com
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dificuldade, ando até ele e posso ouvir o celular de


Caio tocar outra vez. Ainda está no corredor, a
alguns passos de distância de mim. Não posso
deixá-lo partir sem um adeus digno. Apenas não
posso.
— Filha...
Meu pai segura minha mão quando ela toca
na maçaneta. O afasto e tento manter o controle.
Me despedir dele vai tornar tudo mais difícil. Caio
atende o telefone que toca insistentemente e sua
voz tira um sorriso de mim:
— Tarde demais, cara. Acabei de perder
tudo o que eu mais queria — fala com a voz rouca.
Fico na ponta dos pés e vejo através do olho
mágico. O elevador se abre, mas Caio não entra,
concentrado em escutar quem quer que esteja do
outro lado da linha. De terno escuro, está
divinamente lindo.
— O quê? Não é possível. — Ele anda de
um lado para o outro, como um leão, levando a
mão até a testa.
Olho para trás e vejo minha mãe se
aproximando com um Gabriel sonolento no colo.
Meu filho coça os olhinhos e sorri quando me vê.
— O que está acontecendo aqui? —
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pergunta, olhando do meu pai para mim.


— Caio foi embora — sussurro.
Tranco a respiração e volto a me concentrar
nele andando no corredor. De repente, seus pés
param e ele cai de joelhos, chorando. Droga,
droga, droga! Odeio vê-lo assim. Pouso a testa na
madeira e, automaticamente, começo a chorar mais
ainda.
Ouço seus passos. Sua risada. Não, é uma
gargalhada. Olho outra vez. Fita o aparelho como
se algo incrível estivesse nele e dou um passo atrás
quando caminha em direção à minha porta.
— Ok, primo. Agora preciso ir. Tenho que
resolver a coisa mais importante da minha vida.
Tropeço nos pés quando Caio quase arromba
a porta, mas ele me segura em seus braços. O beijo
que me dá é afoito e fico até com vergonha dos
meus pais. Nunca beijei ninguém na frente deles.
Meu corpo tenta rejeitá-lo, dizer para o meu
cérebro que não posso ceder depois de tanto tempo
sendo forte. Só que não consigo, minhas pernas e
braços amolecem enquanto tem as mãos na minha
cintura e a língua macia passeando na minha boca.
Quando para de me beijar, segura meu rosto
e dá o sorriso mais lindo de todos. O brilho nos
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olhos me traz uma esperança que nunca senti. Não


sei o motivo, mas retribuo.
Caio abre a boca para falar e começa a rir.
Suas pálpebras se fecham e vejo traços do alívio
que o domina agora. Tenho a impressão de que
suas palavras farão rolar muitas lágrimas. Mas não
só isso, que e o peso que minha família sente há
anos vai se dissolver na sua fala. Caio quebra o
silêncio, quebrando também as grades da nossa
prisão:
— Pedro morreu.
Trêmula, minha mãe olha para mim, o olhar
que pergunta se isso é verdade. Dou de ombros,
porque não sei de nada. Encara Caio e ele confirma
com a cabeça.
— João acabou de me mandar o atestado de
óbito. O investigador só não encontrou Pedro
porque estávamos procurando nos lugares errados.
O lugar certo era o cemitério. Ele morreu há dois
meses.
Abro a boca e olho assustada para os meus
pais. Eles também não têm reação. Volto a encarar
Caio quando ele continua.
— Seu casamento em Las Vegas era falso.
Tudo era uma mentira. Pedro nunca foi seu marido
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e não existe ninguém de quem você tenha que se


divorciar, nenhuma dívida que tenha que assumir
em nome dele. Nada, nenhuma ligação. Tudo foi
fruto da loucura daquele psicopata.
— Mas, mas como vou voltar ao Brasil?
Como ser a Tatiana outra vez se sou procurada pela
polícia desde que Pedro matou Thiago? —
pergunto, aflita, tentando entender os buracos que
ainda estão sem resposta na minha mente.
Caio sacode a cabeça e pressiona a têmpora.
Seu sorriso ainda está lá e isso me deixa angustiada
para saber o que ele sabe.
— Você não é mais procurada pela polícia.
Queriam suas informações como testemunha, mas
acabaram descobrindo câmeras no lugar onde o
crime aconteceu e ficou evidente a culpa exclusiva
de Pedro. Ele foi preso e morto dentro da cadeia.
Cubro a boca com a palma da mão, em
choque. Caio me abraça e beija o topo da minha
cabeça.
— Vocês estão livres. São outra vez donos
das suas próprias vidas.
Minha mãe desaba a chorar e se vira para
abraçar o meu pai, prensando Gabriel entre os dois.
O menino resmunga e o retiro dali para que lavem
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suas almas nos braços um do outro.


Faço o mesmo com meu filho e é libertador
soltar esse peso invisível. Choro de alegria
abraçada a ele e Caio nos enlaça com os braços
fortes.
Quero me dar esperanças. Desejo isso mais
do que tudo, mas Pedro ter morrido não resolve
todos os meus problemas. Caio ainda precisa ir
embora, ainda precisa ter sua família perfeita até
amanhã e isso é impossível.
— Obrigada por tudo, mas você tem que
partir — sussurro e ele ergue o meu queixo, me
forçando a encará-lo.
— Tem alguém lá em cima que escuta todas
as minhas orações, princesa, e sabe o que João e
Max me mandaram te dizer?
— Não. — Balanço a cabeça, ainda com
medo.
— Bom, primeiro a Max pede desculpas,
mas ela não conseguiu te avisar...
— O quê? Do que você está falando?
— O bebê deles nasceu.
— Que amiga, vou matar aquela garota —
falo mais alto do que deveria.
Caio ri e não entendo o motivo.
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— Docinho, nós dois estávamos isolados,


totalmente incomunicáveis do mundo.
É verdade. Desde que chegou, Caio tem
mantido o próprio telefone desligado. O meu
número do Brasil, abandonei há tempos. A
segurança da minha família era a prioridade.
— Ela não conseguiu te avisar sobre o
nascimento porque João estava fazendo o possível
para nos ajudar.
— Como assim? — pergunto, confusa.
— E parece que ele conseguiu.
Caio tira o telefone do bolso e me mostra
uma imagem. Aperto os olhos e leio com atenção.
O encaro de boca aberta ao constatar que é o
contrato do Grupo Bauer com a P-Tor. Assinado.
— Como ele conseguiu isso? — pergunto,
tirando o aparelho das mãos dele para ver melhor se
tudo é verdade.
Caio o pega de volta e passa a imagem para
o lado com o dedo. Vira o telefone e me mostra.
Um outdoor gigantesco diante de um terreno revela
a imagem da família perfeita do Dr. João Bauer, um
dos herdeiros do Grupo Bauer, segundo o texto
publicitário. Ao lado dele, Mel, a filha de Max, e a
própria filha adolescente do médico primo de Caio.
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Nos braços, minha melhor amiga carrega seu mais


novo bebê.
— Eles queriam contar só quando
conseguissem a assinatura do contrato. João entrou
como sócio no braço imobiliário do grupo apenas
para isso. Os Bauer são um exemplo de família
perfeita, não são? — pergunta, sorridente.
Aperto os lábios e confirmo com a cabeça.
Eles parecem mesmo da realeza. Então Caio ergue
meu rosto e nossos olhares se encontram. A ficha
do que está acontecendo finalmente cai quando ele
fala:
— Agora sim estamos livres de verdade.
Jogo a cabeça para trás e começo a rir. Solto
Gabriel e ele vai até a minha mãe. Quero pular nos
braços de Caio, mas ele enfia as mãos nos bolsos,
procurando por alguma coisa. Quando a encontra,
toca um dos joelhos no chão.
— Tatiana, você quer se casar comigo? —
pergunta, abrindo a mão e me mostrando o anel de
coração que era da sua mãe.
— Sim. Sim. Sim. Mil vezes. E nunca mais
devolvo esse anel ou o seu coração. Vai precisar
ficar ao meu lado para poder senti-lo — respondo,
me jogando em seus braços.
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— É tudo o que mais desejo, Coelhinha.


De todos os beijos que já trocamos, esse é o
melhor. O primeiro beijo livre que dou no amor da
minha vida.
— Eu ainda não entendi essa coisa de
Coelhinha — meu pai resmunga para a minha mãe
atrás de mim e eu e Caio rimos com os lábios
colados um no outro.

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Caio
3 meses depois
No salão principal do Manhattan, cruzo os
braços e apoio o quadril na mesa onde ficará o bolo
do nosso casamento. Passo o polegar nos lábios e
sorrio ao ver como a minha noivinha está sexy em
seu jeans apertado. Sexy e desesperada.
— Ai, meu Deus! Vai dar tudo errado.
Como você pode me deixar seguir em frente com
essa ideia? Casamentos dão azar, Caio. — Ela se
vira para mim e aperta as bochechas, colando as
palmas das mãos no rosto.
Sua boquinha faz um O que adoro e já me
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imagino ali dentro. É o que tenho feito na maior


parte do nosso tempo livre, para falar a verdade.
Desde que voltamos de Portugal, ela
literalmente é outra pessoa. Pensar que desejei
viver para sempre ao lado de Mônica e que hoje
vou me casar com Tatiana é engraçado. Às vezes,
quando estou gozando, ainda grito por Mon. Tati
cai na risada e me chama de pervertido, transando
com ela e pensando em outra.
— Vem cá, princesa — falo, puxando minha
garota para um abraço. — Nasci para fazer todas as
suas vontades, você sabe. E amei a sua ideia de
casar no Manhattan. Adorei tudo o que tem feito
até aqui. Você transformou esse lugar em um
espaço maravilhoso. Assim como essa noite vai
transformar essa sua crença boba de que
casamentos dão azar.
Ela faz beicinho e se entrega, passando os
braços no meu pescoço. Sabe que tenho razão.
Tatiana aceitou ser dona do Manhattan, desde que
pudesse fazer o que quisesse com ele. E agora aqui
estamos, com uma agenda lotada para realizar
casamentos, aniversários e todo o tipo de evento
pelos próximos dois anos.
— Eu sei, mas usar o meu próprio
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casamento como propaganda está me


enlouquecendo. Será o primeiro e, se der errado,
não teremos mais nenhum cliente. Prometi às
meninas que aceitaram ficar e trabalhar ao meu
lado que tudo daria certo.
— E vai dar. Isso é só uma parte de tudo o
que construiu. O restaurante ainda está funcionando
maravilhosamente bem, a renovação no salão ficou
perfeita e a reforma que vamos fazer no andar onde
eram os quartos também vai se transformar em uma
linda sex shop.
Tatiana suspira e gira o corpo dentro do meu
abraço. De cima, vejo a tensão deixar seu rosto e os
lábios formarem um sorriso. A decoração burlesca
puxada para o vermelho de antes agora é delicada.
Os papéis de parede em um tom de baunilha. Os
detalhes em dourado de antes ficaram, assim como
os lustres. O ambiente não é mais sensual, porém
ainda é luxuoso. Duas floristas terminam os
arranjos sobre as mesas e outras pessoas andam de
um lado para o outro depois de terem recebido as
ordens da minha noiva.
— Vou morrer de ansiedade até a noite.
— Querida, você sequer deveria estar aqui.
É seu dia de noiva. A dona do salão já te ligou
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cinco vezes.
Tatiana se vira e me encara. Me dá um beijo
leve sai andando para trás.
— Essa coisa de passar o dia em salão é
coisa da sua ex. Só vou aparecer lá para arrumar o
cabelo e fazer a maquiagem. Sauna, massagem,
isso é o que espero de você, noivinho. — Pisca para
mim e se afasta.
Realmente, essa garota não poderia ser mais
diferente do que Mariana. Minha ex-mulher nem é
a noiva, mas tenho certeza de que está desde ontem
no cabeleireiro, tentando ficar mais bonita do que a
minha futura esposa, o que é impossível.
Ela vem ao casamento. Acho que só para
não dar o gostinho de parecer incomodada. É tão
petulante que quando cheguei de volta ao Brasil e
falei que tudo estava resolvido, que não voltaria
para ela, apenas deu de ombros e foi embora,
dizendo que tinha paciência para as minhas
aventuras de menino. É bom ela ter mesmo, porque
vou passar muitas encarnações ao lado de Tatiana.
— Amor, vamos! Pelo amor de Deus. Os
convidados vão chegar e te encontrar de calça
jeans.
— Posso tirar, se você quiser — ela grita, já
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do outro lado do salão, fingindo abrir o botão.


Ergo a sobrancelha e mordo a boca. Adoraria
tê-la nua aqui, mas nunca mais vou permitir que
outro homem a veja assim. É minha agora. Só
minha. Livre, realizada, independente. Voltou a
estudar, tem cuidado dos pais e de Gabriel, além
dos meus próprios filhos, que Mariana
aparentemente esqueceu na minha casa há dois
meses e nunca mais foi buscar.
— E, por favor, teste o som do microfone do
juiz de paz antes — ela diz para uma menina e a
reconheço como uma das garotas que trabalhavam
no Manhattan.
Porra, minha mulher é perfeita. Pra
completar, ainda está mudando a vida de muita
gente.
Tatiana caminha até mim e para ao meu
lado, apoiando as mãos no quadril. Dá uma última
olhada em tudo e sorri.
— Podemos ir.
— Ainda não entendi por qual motivo você
não quis um padre para celebrar o nosso casamento.
Ela franze a testa e me olha de um jeito
atrevido.
— As futuras noivas que casarão aqui
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podem até não saber o que acontecia dentro do


Manhattan, mas eu sei o suficiente para não ter
coragem de fazer isso. Um bom celebrante e um
juiz de paz está ótimo para mim.
Rio e a conduzo até o elevador com a mão
em suas costas nuas. A porta se fecha e pressiono
seu corpo contra a parede.
— Estou contando os segundos para te ver
de noiva, colocar a aliança no seu dedo e te levar
para a nossa cama — digo, os lábios roçando nos
dela.
Sempre que tento seduzir Tatiana, lembro
que tenho a mais experiente nos meus braços e o
jeito como me encara me diz que ela também sabe
disso. É como se quisesse me devorar. E eu quero
ser devorado.
— Você fala isso porque nem faz ideia das
surpresas que tenho para você — sussurra.
Aperto os olhos, tentando imaginar o tipo de
coisas incríveis que podem vir de uma surpresa
dela. Meu pau lateja e aperto sua barriga contra
meu corpo para que o sinta.
— É algo como o presente de casamento que
Max deu para João? Lisi vai voltar para a nossa
cama? — pergunto, ansioso por saber o que vou
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ganhar.
Tatiana faz uma expressão de dúvida e sorri.
A porta do elevador se abre e ela sai por baixo do
meu braço.
— Depende. Tem a ver com outras garotas.
Talvez até na nossa cama...
Aperto os punhos e rio. Esse será o melhor
casamento do século.
Deixo minha noiva no salão e vou para casa
me arrumar. Quando chego no condomínio e dobro
a esquina para a minha rua, fico surpreso ao
encontrar o carro do meu avô diante da garagem.
Desço e ouço as vozes e risadas. Abro a
porta da frente e ele e João estão rindo na minha
sala, cada um com um copo de uísque na mão.
— Ah, finalmente chegou o homem do dia
— João fala e me cumprimenta.
Ouço um gemido de criança e ele olha para o
lado. Em um carrinho de bebê, o pequeno Carlos
resmunga por atenção. Meu primo não parece o
mesmo de antigamente e jamais o imaginei como
pai. Prefiro esse João de agora mil vezes ao safado
que só pensava em usar as mulheres, inclusive a
minha Tatiana. Mas não tinha como não o perdoar
depois de tudo o que fez para se redimir, me
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ajudando a libertá-la da escravidão em que vivia.


— Pronto, pronto. Papai está aqui. — Ele
pega o bebê no colo e o balança de um lado para o
outro.
João se afasta e meu avô serve um copo de
uísque e me entrega. Já está pronto para a festa, em
um dos seus ternos milionários.
— Hoje eu poderia morrer feliz.
— Seu Artur, o que é isso? — pergunto,
constrangido.
Bebo um gole do líquido amargo e encaro o
homem diante de mim. Seu sorriso é de orgulho.
— Eu sabia que você conseguiria. Essa noite
é a realização final de tudo o que me jurou ser
capaz de fazer. Você agora é o homem que eu
queria que mostrasse a si mesmo. Capaz,
determinado. Uma águia. Fechou o contrato,
expandiu o império Bauer e está casando com o
amor da sua vida. Nunca duvidei das suas
capacidades.
— Não era o que parecia — rebato.
— Se não acreditasse em você, teria te
deixado brincando de gastar o meu dinheiro pelo
resto da vida e contratado os melhores CEOs do
mercado. Mas eu queria o sangue e a garra Bauer
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nessa empresa. Você só provou a si mesmo que era


um de nós, porque eu já tinha certeza.
— Obrigado, vô.
Deixo que ele me abrace e é como se um
último peso saísse das minhas costas. O resmungar
do bebê cessa e ouço os passos de João se
aproximando. Retribuo o abraço sem
ressentimentos e me afasto do nosso avô quando
meu primo fala:
— Então, vamos ajudar o noivo a melhorar
essa cara ou a Tatiana vai desistir.
— Cala a boca — digo, dando um soco em
seu ombro.
Subimos as escadas e passamos as duas
horas seguintes rindo e lembrando das bobagens
que já fizemos antes de chegar até aqui. Ouvir as
histórias de solteiro do magnata Bauer também nos
arranca risos entre os choros assustados de
Carlinhos.
Quando julgam que estou pronto, eles se
afastam e me viro para encarar o espelho. Passo a
mão nos cabelos, dando uma última ajeitada.
— É, parece que a Tatiana vai pensar ainda...
— João ri.
— Filho da puta — falo entredentes e tento
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deixar um tabefe em seu pescoço, mas meu avô nos


separa, rindo.
— Ei, ei, crianças. Vão sujar a roupa. Anda,
vamos lá fazer daquela menina mais uma Bauer.
Abro o maior sorriso do mundo. Sim, a
minha garota é determinada e resistente como nós.
A minha Tatiana Bauer.
A última coisa que imaginei foi chegar antes
da noiva, mas ao entrar no salão lotado do
Manhattan, descubro que ela já está lá.
— Finalmente. A sua noiva está me
enlouquecendo. Chegamos há meia hora e ela está
lá em cima, andando de um lado para o outro como
uma leoa — Maxime fala, jogando os cabelos
cacheados para o lado.
Está deslumbrante em um vestido azul e
logo que vê o marido, pega seu bebê dos braços
dele, deixando um beijo em sua boca.
— Anda, vai para o seu lugar na entrada.
Vou avisar a cerimonialista que você chegou.
— Mas já? — pergunto, assustado com a
pressa delas.
— O que você quer, Caio? Esperar mais um
pouco? Achei que estava ansioso para casar com a
minha amiga, porque ela está.
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Sorrio ao pensar que Tatiana está nervosa no


andar de cima, louca para que eu coloque a aliança
em seu dedo.
— Certo.
Me afasto e vou para perto da porta do salão.
Aguardo no hall, tentando ver os rostos das pessoas
lá dentro. O lugar já está lotado e o burburinho é
alto. Respiro fundo para manter as mãos estáveis,
pois não param de tremer.
Meu Deus, fico agoniado ao pensar em tudo
o que passei para chegar até aqui, o lugar onde
conheci a minha futura esposa, o relacionamento
louco que tivemos e o monte de coisas que
enfrentamos nos últimos meses. Por momento
nenhum duvidei que esse dia chegaria, mas estar
aqui agora é assustador. De um jeito bom, mas não
deixa de ser assustador.
Olho para o relógio no meu pulso, aflito
pelos padrinhos demorarem a voltar com a
cerimonialista. Max e João entrarão primeiro,
depois Lisi e o meu avô, que não achou nada ruim
desfilar para algumas centenas de pessoas
acompanhado de uma garota maravilhosa. Depois
entro sozinho e aguardamos que o pai de Tatiana a
entregue para mim.
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Tenho vontade de chorar só de imaginar esse


momento que vai acontecer daqui a alguns minutos.
Preciso me concentrar. Não estou preparado para
cruzar aquele tapete vermelho lavado de lágrimas,
mas não posso impedir que isso aconteça quando a
porta do elevador se abre diante de mim.
Uma senhora sai dele e sorri. Aperto os
olhos, tentando lembrar da desconhecida. Talvez
seja da parte da minha noiva, porque não me
recordo dela. Apesar de seu rosto ter algo muito
familiar.
— Pensou que eu te deixaria entrar sozinho
no dia em que casasse com o amor da sua vida? —
ela fala suavemente e estende uma mão para mim.
A analiso da cabeça aos pés. Desde o vestido
da cor do vinho até o coque que prende os cabelos
já esmaecidos. É só quando paro em seus olhos que
a reconheço. Meu coração falha e abro a boca sem
entender se o meu nervosismo é tanto que estou
tendo uma visão.
— Mãe?
— Sim, meu filho. Sou eu. — Ela sorri e
ignoro sua mão estendida.
Dou um passo à frente. Seguro seu rosto e
observo cada um dos detalhes. Ela é real e está bem
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na minha frente. Enterro o nariz em seu pescoço e


percebo que o cheiro doce é o mesmo. Meus
soluços são descontrolados e ela acaricia minhas
costas enquanto espera que eu me recomponha.
Quando isso acontece, me afasto e tomo suas mãos
nas minhas.
— Como é possível? Você morreu, mãe. Eu
estava lá. Vi o seu caixão.
— Por agora, só vou te dizer que eu não
estava dentro dele. Talvez seu avô não tenha te
contado que dois corpos nunca foram encontrados,
o meu e o do piloto do helicóptero. Passei semanas
abandonada na floresta, sem memória e sem chance
de resgate, pois tinham certeza da minha morte.
Quando achei uma estrada e um carro passou, fui
levada para um hospital, onde fiquei meses. Sem
lembrar de quem eu era, o resto dos meus anos
foram em uma instituição pública para doentes
mentais. Sozinha em outro estado, nada passava na
minha cabeça para me situar da vida que tive, até
que há uns das atrás a notícia do casamento do
herdeiro Bauer passou na televisão da clínica. Foi
uma enxurrada de informações, mas eu tive certeza,
aquele menino lindo prestes a casar era o meu filho.
Insisti até que as enfermeiras me ajudassem a
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descobrir a sua história e vi todos os fatos baterem,


eu era mesmo a sua mãe.
— Não posso acreditar que você está aqui.
Preciso saber de tudo, quem cuidou de você, onde
estava e...
Ela pousa o indicador nos meus lábios e me
silencia.
— Isso pode esperar. O que não pode, é a
sua noiva. Anda, me dê o seu braço.
— Mas, mãe, como você chegou até aqui?
Todo mundo sabia e não me contou.
— Sua garota é boa em guardar segredos e
fazer surpresas, meu querido.
Encaixo meu braço no dela e, assim, dou o
primeiro passo em direção ao salão. Sorrindo, mas
com o rosto inchado de chorar de alegria.
Tatiana é uma safada. Me enganou direitinho
com a história de ter uma surpresa para mim
relacionada a mulheres.
Maxime já está a postos e bate palminhas
quando me vê. Ela e João são os primeiros a
atravessar o espaço repleto de flores claras e
amigos queridos. Lisi e meu avô seguem os dois.
Quando chegam no púlpito, olho para a
minha mãe e sorrio, ainda sem acreditar que está
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mesmo ao meu lado. Cruzamos juntos o tapete


vermelho e não quero soltar a mão dela ao chegar
no final, mas a cerimonialista me olha de cara feia.
Estranho quando a música nupcial começa a
tocar nos dedos do pianista ao fundo do salão e a
porta se abre, revelando a minha noiva. Está tão
perfeita e angelical que logo esqueço que a ordem
das coisas está errada e que os nossos filhos
deveriam entrar antes dela.
Impossível não chorar ao vê-la vindo até
mim ao lado do pai. A saia rodada do vestido tem
uma cauda que se arrasta atrás dela e as flores
descem em uma cascata diante do seu ventre.
Quando se aproxima e o pai oferece a sua
mão delicada para que eu a tome, estou tremendo
mais do que o normal para um noivo nervoso e ela
ri. Os olhos verdes estão pintados delicadamente,
como sua maquiagem e as pétalas que tem
trançadas no cabelo negro.
— Você quer acabar comigo hoje? —
sussurro ao parar com o ombro ao lado do dela.
— Não viu nada ainda, noivinho — diz sem
me olhar, mas vejo sua expressão satisfeita.
Queria dizer que ouvi tudo o que foi dito na
cerimônia, mas não presto atenção em nada. Só o
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que me interessa é aquele bendito sim que sai da


sua boca ao final.
— Sim — Tatiana pronuncia em alto e bom
som.
Trêmulo, conduzo a aliança dourada até seu
dedo anelar e ela me derruba com o olhar
apaixonado. Repete o passo depois que dou o meu
sim.
Finalmente estou autorizado a beijá-la e faço
isso sem pudor nenhum, com mil coisas querendo
entrar na minha cabeça, como o fato de que agora
tenho mãe outra vez, mas só o que sinto é sua
língua doce na minha. Sua mão segura o meu rosto
e ela sussurra dentro dos meus lábios:
— Você sabe que sou a sua coelhinha, né?
— Para sempre.
— E você sabe o que as coelhinhas fazem?
— pergunta no meio dos gritos de comemoração
das pessoas.
— Sexo? — respondo e ela ri, concordando
com a cabeça.
— Também, mas tem uma outra coisa que
elas fazem. — Gira meu rosto e me faz ver a
entrada do salão outra vez.
Um a um, nossos filhos começam a desfilar
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pelo trilho vermelho em direção a nós dois. Gabriel


é o primeiro e a avó tem que ajudá-lo a parar no
lugar certo e me mostrar a placa que carrega
dizendo você. Alan, Adriana e Antônio o seguem,
cada um com o seu cartaz nas mãos. Os três param
em fileira na minha frente, ao lado do filho de
Tatiana. Viram as suas placas e leio o que dizem
ainda sem ter a mínima noção do que me espera.

Você
Vai
Ser
Papai

Abro a boca e me viro para minha esposa.


Ela põe as mãos em forma de coração sobre a
barriga e ri, jogando a cabeça para trás.
— Como isso é possível, baby?
— Parece que os médicos estavam errados,
maridinho. Fiz um exame ontem e Adriana vai
ganhar duas irmãzinhas. Mais duas garotas para a
sua vida, meu amor. Uma cama cheia de garotas
pra você.
Enlaço Tatiana pela cintura e a rodopio no
ar. Gritos e aplausos nos envolvem e não quero
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mais saber como tudo começou ou o quanto doeu


para chegar até aqui. Só o que importa é o agora e
as pessoas que tenho comigo. Para sempre.

FIM

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Caio
Dois anos e meio anos depois
Rimos e conversamos no gazebo. Hoje é
meu aniversário e nunca me senti tão grato por
estar vivo.
As gêmeas brincam no jardim da casa do
meu avô. Chamam-se Mônica e Helena, como as
mulheres da minha vida. A garota por quem sou
apaixonado e a minha mãe, que é uma avó muito
presente.
Depois de tudo o que passou nos últimos
anos, ainda não reaprendeu a lidar com a riqueza.
Tudo o que descobre que tem, doa para instituições
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ligadas a doenças psiquiátricas.


Ocupa seus dias com meus filhos, vivendo
em minha casa comigo, Mônica e os seis netos,
pois Gabriel agora também é meu. Registrado e
amado.
Ele e Carlinhos correm atrás das minhas
filhas, que ainda dão passinhos tortuosos e
gritinhos animados. As meninas de João e Maxime
brincam com os meus mais velhos e com os meus
sogros.
— Se eu soubesse que teria nove bisnetos,
não teria me preocupado tanto com a sucessão da
empresa. Mas confesso que achei que vocês dois
seriam uns belos de uns playboys — vovô diz,
rindo.
Está mais leve. Orgulhoso de sua prole e
tudo o que construiu. Deixou de lado os negócios e
tem se dedicado à família como nunca o vi fazer.
— Tentamos, mas essas garotas nos pegaram
de jeito. — João beija o topo da cabeça de Maxime.
— Sim, primo, essa garota me pegou de
jeito. — Troco olhares com Tatiana.
No meio de todos, pisca para mim, o ombro
colado no de Lisiane. Minha esposa ainda continua
bem safada, do jeito que gosto. Não deixou que
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nossa amiga se afastasse e ainda recebemos sua


visita na nossa cama. Enlouqueço ao ver minha
rainha se entregando ao prazer das duas bocas.
Mas é a única com que a divido. Suspiro
aliviado ao pensar que ninguém mais além de nós
dois toca em Tatiana agora. Todos aqueles caras
ficaram para trás.
Tenho tanto orgulho da mulher que se
tornou. Uma empresária, a melhor nora e mãe
incrível. Não posso lembrar do dia em que a
conheci, pois logo me vem à cabeça como as
pessoas escondem segredos que jamais
imaginaríamos.
Aquela menina de cabelos compridos e
ancas estreitas me parecia uma garota de programa
disposta a tudo por dinheiro. Descobri que por trás
daquela máscara de coelhinha existia uma mulher
determinada a consertar os erros do passado.
Fico me perguntando se de fato fiz algo para
ajudá-la em seu caminho. Ela jura que sim, mas
acho que quem me colocou nos trilhos foi Tatiana.
E naturalmente, porque tudo o que faço é pelo amor
que sinto por ela e pela nossa família.
Na época que era casado com Mariana ainda
não conhecia a alegria, mas agora sei exatamente o
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que é esse sentimento. É orgulho, é pertencimento,


é conexão.
De repente, todo mundo fica em silêncio.
Olham para o jardim e vejo minha mãe vindo com
o bolo.
Antes de pousá-lo na mesa onde estão as
coisas que sobraram do coquetel que fizemos, todos
já estão cantando parabéns a você.
Vou para perto dela e assopro as velas. Não
peço nada. Só agradeço. Agradeço por ter de volta
o meu coração.

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Doutor Safado

Lindo, desejado e bem-sucedido, Dr. Bauer é um cirurgião


plástico que usa todo o seu tempo livre para pensar em
safadezas ou seduzir as colegas do hospital. Sensual, braba e
indomável, Maxime Santos é Sugar Baby, uma jovem mãe
que decidiu ser acompanhante de luxo após um acidente
envolvendo sua filha.
Quando o doutor João Bauer recebe uma indicação para
atender uma nova e pequena paciente, o médico conhece
Maxime. A jovem mãe é nas horas vagas uma garota de
programa pronta para ser devorada. Mas, no resto do tempo,
luta para dar uma vida normal à pequena Mel.
Enquanto ela fantasia sobre possibilidades para o seu futuro
ao lado do cirurgião de sua filha, o médico vê nela a chance
de se redimir pelos erros do passado. SUGAR BABY vai se

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deixar seduzir pelo DOUTOR SAFADO ou será que ela vai


tomar as rédeas e domar o coração desse médico quente e sem
limites?
Luxúria e amor se misturam nessa história apaixonante.

Disponível no Kindle Unlimited:


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