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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Fenômenos de Transporte 1
Análise Dimensional e Semelhança

Prof. Raniere Henrique P. Lira


raniere.lira@delmiro.ufal.br

Análise Dimensional e Semelhança


Há muitos problemas de interesse no campo de fenômenos de transporte
que não podem ser resolvidos usando apenas as equações diferenciais e
integrais.

Em razão da complexidade dos equacionamentos, muitas vezes é


necessário apelar aos métodos experimentais para estabelecer relações
entre as variáveis de interesse.

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Análise Dimensional e Semelhança
Como os estudos experimentais geralmente são caros, é necessário
realizar o mínimo de experimentos e isso é feito usando a técnica
chamada análise dimensional, que é baseada na noção de
homogeneidade dimensional.

Semelhança é o estudo da previsão das condições do protótipo a partir de


observações de modelos e envolve o uso de parâmetros adimensionais
obtidos da análise dimensional.

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 Análise Dimensional
Em certas situações são conhecidas as variáveis envolvidas no fenômeno
físico, mas não a relação funcional entre elas. A análise dimensional
permite associar variáveis em grupos adimensionais.

Pelo procedimento chamado análise dimensional, o fenômeno pode ser


formulado como uma relação entre um conjunto de grupos adimensionais
das variáveis envolvidas.

Obtidos por meio do Teorema Pi de Buckingham.

A Tabela seguinte, relaciona os símbolos e dimensões de quantidades


usadas na mecânica dos fluidos.

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Quantidade Símbolo Dimensões
Comprimento l L
Tempo t T
Massa m M
Força F ML/T2
Velocidade v L/T
Aceleração a L/T2
Gravidade g L/T2
Área A L2
Vazão Q L3/T
Fluxo de massa Qm M/T
Pressão p M/LT2
Tensão τ M/LT2
Massa específica ρ M/L3
Peso específico γ M/L2T2
Viscosidade dinâmica μ M/LT
Viscosidade cinemática ν L2/T
Tensão superficial Fenômenos de Transporte
σ 1 M/T2 5

 Teorema Pi de Buckingham (Teorema dos Π)


O teorema fornece resposta para sabermos quantos e quais são os grupos
adimensionais gerados a partir de um conjunto de variáveis pertinentes a
um determinado fenômeno físico.

Em um determinado problema físico, a variável dependente x1 pode ser


expressa em termos das variáveis independentes

x1  f x2 , x3 , x4 ,...., xn 
em que n representa o número total de variáveis. Em referência, x1 é a
variável dependente e x2, x3, xn, são as variáveis independentes.

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 Teorema Pi de Buckingham (Teorema dos Π)
O teorema afirma que (n – m) grupos adimensionais de variáveis, chamado
parâmetro Π, em que m é o número de dimensões básicas incluídas nas
variáveis, podem ser relacionados por:

1  f1  2 ,  3 ,....,  n  m 

em que Π1 inclui a variável dependente e os parâmetros Π


remanescentes incluem apenas variáveis independentes.

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 Determinação dos grupos Π


• 1º Passo – Liste todos os parâmetros envolvidos.
Esse passo requer o conhecimento do fenômeno a ser estudado.
• 2º Passo – Selecione um conjunto de dimensões fundamentais (primárias),
ex.: (Base F, L, T; Base M, L, T).
• 3º Passo – Liste as dimensões de todos os parâmetros em termos das
dimensões primárias.
• 4º Passo – Selecione da lista um número de parâmetros que se repetem, igual
ao número de dimensões primárias, e incluindo todas as dimensões primárias.
• 5º Passo – Estabeleça equações dimensionais combinando os parâmetros
selecionados no passo 4 com cada um dos outros parâmetros a fim de formar
grupos adimensionais (Haverá n-m equações).
• 6º Passo – Verifique, a fim de assegurar que cada grupo obtido é adimensional.
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Exemplo: A queda de pressão Δp, para escoamento em regime permanente,


incompressível e viscoso, através de um tubo retilíneo horizontal, depende do
comprimento do tubo, l, da velocidade média, v, da viscosidade do fluido, μ, do
diâmetro do tubo, D, da massa específica do fluido, ρ, e da altura média da
“rugosidade”, e. Determine um conjunto de grupos adimensionais que possa ser
usado para correlacionar os parâmetros dados.
Δp = f (ρ, μ, v, l, D, e)
1º Passo – Liste todos os parâmetros envolvidos.
n = 7 parâmetros
Δp ρ μ v l D e dimensionais
2º Passo – Escolha as dimensões primárias (Base M, L, T).
3º Passo – Liste as dimensões de todos os parâmetros em termos das dimensões
primárias.
p   v l D e m=3
M M M L dimensões
L L L primárias
LT 2 L3 LT T
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4º Passo – Selecione como parâmetros repetentes, igual ao número de dimensões
primárias, e incluindo todas as dimensões primárias ρ,v, D.
r = m = 3 parâmetros repetentes

5º Passo – Então resultarão, n – m = 4 grupos adimensionais.


Combinação dos parâmetros selecionados com cada um dos outros parâmetros.

(ρ, v, D, Δp, μ, l, e)
Formando as equações dimensionais, temos:

 1   a v b D cp  2   d veD f 

 3   g v h D il  4   jv k D le

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 1   a vb D cp  2   d veD f 
a b d e
M  L
 3    L c  M 
2 
 M 0 L0 T 0 M  L
 3    L  f M 
M L T
0 0 0

 L  T   LT   L  T   LT 

M :a 1 0 a  1 M :d 1 0 d  1
L :  3a  b  c  1  0 b  2 L : 3d  e  f  1  0 e  1
T : b  2  0 c0 T : e  1  0 f  1

 1   1 v 2 D 0  p  2   1 v 1 D 1 

p 
1  2 
v 2  vD
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 3   g v h D il  4   jv k D le
g h j k
M  L M  L
 3    L i L   M 0
L0 T 0
 3    L l L   M 0
L0 T 0
 L  T   L  T 
M :g 0 g 0 M : j0 j0
L : 3g  h  i  1  0 h0 L : 3 j  k  l  1  0 k 0
T : h  0 i  1 T : k  0 l  1
l e
 3   0 v 0 D 1 l   4   0 v 0 D 1 e 
D D
6º Passo – Certifique-se que cada grupo obtido é adimensional.
p  l e
1  2  3  4 
v 2  vD D D
A relação funcional é:  1  f  2 ,  3 ,  4 
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 Parâmetros adimensionais comuns e significado físico


Parâmetro Expressão Significado físico Situação importante

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Q  f  D,  , p 

Q D  p n = 4 parâmetros dimensionais

L3 FT 2 F (Base F, L, T): D, ρ, p → m = 3
L
T L4 L2 n – m = 1 adimensional
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Q D  p
1  D a  b p c Q  3 
L FT 2 F
b c L
a FT 2   F   L3   T L4 L2 
L   4   2 
    F 0 L0T 0
T 
 L  L   
a  2
F :b  c  0
L : a  4b  2c  3  0 b 1  1  D 2  1 2 p 1 2 Q
2
T : 2b  1  0 c  1
2

Q 1 2 p
1  2 1 2  Q  CD 2
D p 
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 Semelhança
A semelhança é uma indicação de que dois fenômenos têm um mesmo
comportamento.
Na mecânica dos fluidos o termo semelhança indica a relação entre dois
escoamentos de diferentes dimensões, mas com semelhança geométrica
entre seus contornos.
O escoamento de maiores
dimensões é denominado
protótipo, e o escoamento de
menor escala é denominado
modelo.

Fonte: BISTAFA, S. R., Mecânica dos Fluidos –


Noções e Aplicações, Ed. Edgard Blucher, 2010.

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 Semelhança
Grande parte dos projetos de engenharia que envolve estruturas,
aeronaves, navios, portos, barragens, poluição do ar e da água,
frequentemente utilizam modelos.
Com o desenvolvimento de um
modelo adequado é possível
predizer, sob certas condições,
o comportamento do protótipo.

Modelo reduzido em escala geométrica da tomada d’água e da comporta


vagão da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso IV (CHESF), no rio São
Francisco, projetadas pela Ishikawajima do Brasil Estaleiros S/A, 1978.
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 Semelhança
Ensaios em túneis de vento de um modelo em escala oferecem a
vantagem de serrem mais econômicos e realizados em um tempo menor
do seria um teste de um modelo em escala plena (protótipo).

Fenômenos de Transporte 1 Fonte: POST, S., Mecânica dos fluidos aplicada e


computacional. Ed. LTC, Rio de Janeiro, 2013.
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 Semelhança
Túnel de vento.

Fonte: POST, S., Mecânica dos fluidos aplicada e


computacional. Ed. LTC, Rio de Janeiro, 2013.
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 Semelhança
Para que haja similaridade entre o protótipo e o modelo devem ser
atendidas as seguintes condições:

Semelhança geométrica – condição onde o modelo tem a mesma forma


que o protótipo.

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 Semelhança
Semelhança cinemática – refere-se a dois fluxos de diferentes escalas
geométricas mas que têm o mesmo formato das linhas de corrente
(equivalência dos campos de velocidades).

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 Semelhança
Semelhança dinâmica – exige que em pontos geometricamente
semelhantes haja semelhança das forças envolvidas, que sejam do
mesmo tipo, sejam paralelas e que a relação entre forças tenha o mesmo
valor em todos os pontos (implica a existência de semelhança geométrica
e cinemática).

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Fonte: BISTAFA, S. R., Mecânica dos Fluidos – 24


Noções e Aplicações, Ed. Edgard Blucher, 2010.

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 Teoria dos modelos
A teoria dos modelos pode ser desenvolvida a partir da análise
dimensional. Mostramos que qualquer problema pode ser descrito em
função de um conjunto de termos pi:

1 p   ( 2 p ,  3 p ,K,  np )
Se esta equação descreve o comportamento de um protótipo, uma relação
similar pode ser escrita para o modelo deste protótipo:

1m   ( 2 m ,  3m ,K,  nm )

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 Teoria dos modelos


Assim, se o modelo é projetado e operado nas seguintes condições:

 2m   2 p
 3m   3 p
M  M
 nm   np

Já que a forma de ϕ é a mesma para o modelo e o protótipo, temos:


1m  1 p
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 Teoria dos modelos
O valor medido no modelo, Π1m, será igual ao valor de Π1p do protótipo,
desde que os outros termos pi sejam iguais.
As condições especificadas pela igualdade dos outros termos pi fornecem
as condições de projeto do modelo e são conhecidas como condições de
semelhança ou leis do modelo.
Suponha que as forças inerciais, forças de pressão, forças viscosas e
forças de gravidade estejam presentes, então a semelhança requer que,
nos pontos correspondentes dos campos de escoamento:

FI m F  p m F m Fg m


    const.
FI  p F  p p
F 
 p F 
g p
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 Teoria dos modelos

FI m F  p m F m Fg m


    const.
FI  p F  p p
F p Fg p

 FI     FI     FI   
    FI      FI      FI 
 Fp     F     Fg   
  m  Fp  p   m  F  p   m  Fg  p
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 Teoria dos modelos
As relações mostram que:

 Fp   Fp   FI     FI   
         FI      FI 
F    F   
 FI  m  FI  p    m  F  p  g  m  Fg  p

Eum  Eu p Re m  Re p Frm  Frp


Δp  vl v
Eu  Re  Fr 
ρv 2  gl
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 Teoria dos modelos


As formas anteriores sendo únicas,
FI  f ( Fp , F , Fg )
Como há apenas uma dimensão básica, ou seja a força, a análise
dimensional permite escrever a equação em termos de razões de forças,

Eu  f (Re, Fr )
Concluímos que: se o número de Reynolds e o número de Froude são os
mesmos no modelo e no protótipo, o número de Euler também deve ser o
mesmo, garantindo a semelhança dinâmica.

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 Teoria dos modelos
Podemos escrever a razão da força inercial como:

FI m mm a m
  const.
FI  p mpa p

A semelhança cinemática é satisfeita pelo fato da razão de velocidades ser


uma constante (padrão de linhas de corrente).

A razão de comprimento sendo constate entre todos os pontos


correspondentes dos campos do escoamento, caracterizando a
semelhança geométrica (mesma forma).

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 Teoria dos modelos


Portanto, para garantir a semelhança completa entre o protótipo e o
modelo, exigimos que:

• A semelhança geométrica seja satisfeita.

• A razão de massa dos elementos correspondentes do fluido seja uma


constante.

• Os parâmetros adimensionais apropriados sejam iguais.

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Exemplo: Que velocidade deveria ser selecionada em um túnel de
vento no qual um modelo de automóvel em escala 1:9 deve simular
uma velocidade de 12 m/s? Despreze efeitos de compressibilidade.

 vL vL
Re m  Re p Re  
 ν
vmLm vpL p

νm νp
Fonte: https://autoentusiastas.com.br/2016/03/tunel-vento-para-design

Lp m 9
vm  vp  12   v m  108 m / s
Lm s 1
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 Geométrica
vL v2 Semelhança
Análise dimensional → Re  ; Fr  completa
 Cinemática
ν Lg  Dinâmica

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 Qual fluido escolher? 2
v 2m vp
vmLm vpL p Fr m  Fr p  
Re m  Re p   Lm gm Lpgp
νm νp
v 2m L g v 2m 1
2
 m m  2

v L vp Lpgp vp 2
νm  m m νp (1)
vpL p
vm
 0 , 7071
Subst. na eq. (1):
vp
1
ν m  0 ,7071   10  6 m 2 / s
2
ν m  3,536  10  7 m 2 / s 

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Análise Dimensional e Semelhança

Bibliografias Consultadas:
BISTAFA, S. R., Mecânica dos Fluidos – Noções e Aplicações, Editora Edgard Blucher, 2010.
BRUNETTI, F., Mecânica dos Fluidos, 2ª Edição, São Paulo: Editora Pearson, 2008.
CANEDO, E. L., Fenômenos de Transporte, 1ª Edição, Rio de Janeiro: LTC, 2010.
FILHO, W. B., Fenômenos de Transporte para Engenharia, 2ª Edição, Rio de Janeiro: LTC, 2012.
FOX, R. W.; McDonald, A. T., Introdução à Mecânica dos Fluidos, 6ª Edição, Rio de Janeiro: LTC, 2006.
LIVI, C. P., Fundamentos de Fenômenos de Transporte: Um Texto para Cursos Básicos, 2ª Edição,
Rio de Janeiro: LTC, 2012.
POST, S., Mecânica dos fluidos aplicada e computacional. Editora LTC, Rio de Janeiro, 2013.
POTTER, M. C. e WIGGERT, D. C., Mecânica dos Fluidos. 3ª Edição, Editora Cengage Learning, São
Paulo, 2004.

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