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All content following this page was uploaded by Eduardo Augusto Werneck Werneck Ribeiro on 09 March 2019.
Franco Farinelli 2
farinell@dsc.unibo.it
Tradução livre:
Eduardo Augusto Werneck Ribeiro
Introdução:
1
Artigo publicado em: Political Geography, nº. 19, 2000, p. 943-955.
2
Docente do Departamento de Comunicação da Universidade de Bolonha - Via Toffano, 2/2, 40125 Bologna, Itália.
3
N.T. – Cidade localizada no centro - norte da Alemanha.
naquele momento era meramente sugestivo e existia apenas na forma de um
embrião, por transformar isto em um franco protesto contra uma “representação
puramente política” da superfície da Terra.
Representação política significava (naquele momento) uma
representação que considerava – como Leyser escreve – os aspectos políticos
de um país, que é a distribuição do território e lugares dentro do interesse
político estatal (mas também nas fronteiras tênues) dos quais que tinham o
poder hegemônico. Pelo contraste, de acordo com Leyes, a “geografia
verdadeira” deve deixar estas preocupações para os burocratas, e lidar com “a
variação do ecúmeno (orbis habitatus) imposto e constituído pela própria
natureza”; tratará portanto com divisões naturais. A disciplina era por esta
razão também chamada “geografia natural” ou “geografia pura”, onde o “puro”
designa a rejeição da utilidade dos conhecimentos geográficos, uma recusa
para servir uma função política. É significativo que foi precisamente com o
rótulo de “geografia pura” que geografia burguesa surgiu pela primeira vez.
Aparentemente, esta era a geografia que por razões outras, que alegavam o
direito do conhecimento geográfico em ser neutro e usado a não ser pelos
geográficos.
Nós temos que ler a rápida resposta dos geógrafos estatais
(Staatsgeographen) para estas idéias para percebemos que é precisamente
esta alegação, aparentemente tão humilde, que representou a única forma
possível de crítica não na geografia, mas por meio da geografia. Entre as vozes
mais entusiastas neste debate era de Gustav Conrad Hering, conselheiro
imperial de guerra da Prússia e autor de “Considerações sobre a utilidade e a
necessidade da Geografia” publicada em Berlin em 1728. Ele reproduz a teoria
de Leyser de certa maneira. Mais adiante, ninguém empregou o critério correto
na classificação geográfica. Isto nem foi um dicionário propriamente – que é um
catálogo alfabético de lugares diferentes – tampouco baseado nas fronteiras
políticas de regiões diferentes (Länder), mas era uma perspectiva sobre a
situação natural, sobre os caminhos em que as regiões e lugares são situados
na relação com o mar, rios e “outras localidades não tocadas”. Por todo esse
tempo, divisões políticas e a nomenclatura (Benennungen) que fundamenta
desde o papel principal que eles representavam, afirma Hering, mas a tão
chamada geographia naturalis não seguiu esta regra nunca mais. Para Hering,
sobre o país, a nomenclatura dos espaços deve lembrar estritamente ligada
com as divisões políticas e os critérios nos livros de geografia devem refletir
esta hierarquia de poder: “primeiro deve vir a melhores partes da política
espacial seguida pelas menores” (Hering, 1728:14–15, 20, 21, 47–48, 27).
Como pode ser notado, o tema do discurso sobre o método geográfico
está conectado através da questão da sua instrumentalidade para a relação
entre conhecimento e poder. Para chamar esta relação em questão outra vez,
como Leyer fez, significa rejeitar a existência do poder, começando com sua
primordial expressão, as forças maiores decidem o que tem nome ou que não
tem, efetivamente decidem o que existe e o que não existe. A geografia
aristocrática feudal implicitamente e completamente deu esta função para o
mapa. Como poderíamos chamar, questiona Eberhard David Hauber, autor em
1727 do livro “O Útil discurso sobre o presente estado da Geografia”, o espaço
natural que Leyser estava discutindo? “Pegue seus mapas”, disse Hauber e “dê
uma olhada: Que tipo de nome você pode achar?”. De acordo com Hauber, a
geografia natural não poderia oferecer uma resposta, porque o único espaço é
politicamente dividido poder ter um nome – nome do Estado e seu organismo.
Portanto, Hauber conclui, a divisão política deve remontar a fundação da
Geografia, e isto é desde então o que tudo deve iniciar, não da mesma forma
porque a maioria dos leitores são mais inclinados em direção a este tipo de
geografia. Se isso foi diferentemente, continua o autor, apenas imagine o “caos
que resultaria de uma inversão de ordem!” (Hauber, 1727:71).
Como esta referência para os leitores mostra, esta perspectiva da
desordem é para ser entendida literalmente. A crítica da ordem no discurso
geográfico é de fato equivalente à crítica da ordem social existente, como os
ultrapassados geógrafos estatais ficaram bem alertados. O esforço de Leyser
em ir contra geografia política natural é uma tentativa de trancedenter a
situação política existente. Entretanto, teorizando um tipo de conhecimento que
não serve uma função política, serve para libertá-la da realidade política
contingente, por sua vez apenas servindo para subordinar ela para outro tipo
de política fundada sobre outro tipo de denominação. Apenas em nome de uma
ficcional pureza pode a “Geografia Natural” criticar a Geografia estatal, que é
uma forma de conhecimento que foi imediatamente instrumento para os
interesses do poder da aristocracia feudal. Esta polarização entre a “Geografia
Natural” e a Geografia estatal reflete a polarização no século dezoito ente a
moralidade e a política. Como Reinhardt Koselleck (1976:118–119) lembrou, a
critica política burguesa não estava baseada simplesmente sobre os assuntos
morais, mas embora existisse a separação entre a moral e um campo político.
Nesta perspectiva, a separação dentro do conhecimento geográfico em dois
campos, um natural e outro político, é historicamente ambos uma premissa e
uma conseqüência de uma critica política que vem da geografia. Como
julgamento moral, julgamento geográfico e mais geral julgamento cientifico,
funções como uma crítica das políticas, não simplesmente porque isso julga
políticas, mas principalmente porque isso é um julgamento subjetivo que fica
fora do terreno da política. Ambos os julgamentos moral e o cientifico
geográfico conformam a estratégia do Weltbürgerplan, que é do plano da
burguesia de dominação do mundo. Este plano foi baseado no que Koselleck
(1976:194) chama de uma “colaboração indireta“ – uma separação, primeiro,
do Estado absolutista no Estado do desenvolvimento da “sociedade civil”, e
segundo, da ocupação do Estado no caminho que aparentemente apolítico
precisamente por causa desta separação.
A guerra civil entre os “geógrafos estatais” e os “geógrafos puros”
atrasou todo um século. Os antigos estavam seguros em considerar o espaço
como produção política; os posteriores tentaram individualizar e classificar
sistematicamente espaços naturais. No livreto de Hering and Hauber, as
palavras Land 4 (região) e Staat 5 (Estado) são sinônimas; elas são duas
palavras diferentes, no entanto, elas não significam diferentes coisas. Do
contrário – e isto é apenas um dos típicos exemplos - Johann Christian Gatterer
em seu “Manual de Geografia” publicado em Gottingen em 1775 antecipou o
desenvolvimento da Länderkunde (que é Geografia Regional) como algo
diferente do Staatenkunde (que é a Geografia política). Mas a Länderkunde era
de pequena importância apesar da tentativa em descrever as fronteiras
políticas como linhas naturais. Em outras palavras a região para Gatterer foi de
pequena importância, mas Estados para os quais o autor deu nomes naturais:
4
N.T. - do alemão
5
N.T. - do alemão
por exemplo: ele definiu a região da Espanha e Portugal como a “Península
dos Pirineus”. Isso foi um método que não teve conseqüências. A limitação do
estudo de Gatterer era contido em suas próprias premissas, porque era
impossível descrever a península sem separa-la outra vez em dois difertentes
Estados (Gatterer, 1775:5, 187; Wisotzki, 1897:202). Em última instância
também para Gatterer, a Geografia regional praticamente não poderia ser
diferenciada de uma simples descrição política.
Em um período de transição de uma visão de mudo feudal (Weltbild)
para uma visão burguesa, este exemplo é apenas uma iminência da impotência
do geógrafo em prever – sem mencionar em termos contraditórios e oscilantes
– a destruição dos estreitos limites espaciais de um Estado absoluto que a
Alemanha inventou na queda da organização da opinião pública germânica.
Isto também é uma demonstração da impossibilidade da imposição da visão
burguesa do mundo ao menos isso era dentro de uma ampla e mais complexa
Weltanschauung, uma complexa e elaborada teoria de conhecimento. De
acordo com Habermas, o mundo das imagens é sempre ideológico porque eles
legitimam o poder. Ele tem uma missão paradoxal de justificar um principio de
normas sociais sem permitir um discurso espontâneo que inauguraria a falsa
pretensão da existência de instituições. As representações de um mundo que
legitima o poder dão uma justificação aparentemente objetiva para estas
normas que não podem ser justificadas na relação com as normas sociais em
geral. Portanto, estas normas, com o objetivo de ser estabelecidas, precisam
de uma aparente justificação e legitimação (Habermas, 1973:174). E o que
Habermas diz sobre representação do mundo em linhas gerais é, acima de
tudo, verdade para os mapas.
Eu gostaria (portanto) de alguém explicar para mim como uma pessoa pode
construir uma geografia para “a Geografia” ou uma geografia que serve a um
propósito histórico ou para qualquer um outro, sem usar a participação política.
Para isto, esta pessoa precisaria de mapas regionais alternativos, porque os
mapas atuais são baseados em tais participações. Eu ainda não posso
compreender como o autor pode rejeitar a divisão política e, ao mesmo tempo,
pensar que os mapas regionais que foram usados até hoje são validos.
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