Você está na página 1de 12

COLÉGIO BRASILEIRO DE ARQUITETOS

Anteprojeto de Lei para a Regulamentação


da Arquitetura e Urbanismo no Brasil
[Consultoria Jurídica: Miguel Reale Jr.]

documento: ANTEPROJETO DE LEI - versão 15/05/2003 (arquivo .PDF,


42Kb)
entrevista 1: Arq. Haroldo Pinheiro à Revista Mais
entrevista 2: Dr. Miguel Reale Jr. à Boletim da AsBEA

XVII CBA :: DECLARAÇÃO DO RIO

Apresentação
A proposta elaborada pelas Entidades Nacionais de Arquitetos e
Urbanistas, consubstanciada neste Projeto de Lei, concretiza os
compromissos assumidos no manifesto "Aos Arquitetos e à Sociedade
Brasileira", de 12 de maio de 1999, reafirmado em São Paulo em 11 de
dezembro de 2002 e propõe reordenar o exercício da Arquitetura e
Urbanismo, adaptando-o aos princípios da nossa Carta Maior.

Regulamentada a profissão pelo Decreto-Lei Federal nº 23.569, de 11 de


dezembro de 1933, progressivamente os profissionais deram início a
movimentos pleiteando uma regulamentação através de uma legislação
própria, fenômeno que tomou forma mais incisiva a partir do final dos anos
50. Redigiram um memorial e um Anteprojeto de Lei, encaminhados, no ano
de 1958, à Presidência da República, que se constituiu no primeiro Projeto de
Lei Federal para a regulamentação da profissão, que propunha a organização
própria e o direito à auto-gestão num único Conselho Federal e Regionais,
superando assim a estrutura organizativa multiprofissional criada pelo
Decreto de 1933, que regulava o exercício da profissão do engenheiro, do
arquiteto e do agrimensor.

Em 1966, a Lei Federal nº 5.194, de 24 de dezembro, reformou o


estatuto jurídico existente e no afã de modernizar o controle do Estado sobre
as profissões, promoveu a transformação do antigo Conselho Federal de
Engenharia e Arquitetura e seus Conselhos Regionais de Engenharia e
Arquitetura, criando o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia e os respectivos Conselhos Regionais – CREA’s, aos quais
submeteu um conjunto de novas profissões de nível superior e de segundo
grau, ampliando a sua área de abrangência para além dos engenheiros e
arquitetos, incorporando os agrônomos, os geólogos, os geógrafos, os
meteorologistas, dentre outras.

Portanto, os dois instrumentos legais que têm regulado o exercício da


profissão do arquiteto e urbanista, o Decreto-Lei nº 23.569 de 1933 e a Lei
Federal nº 5.194 de 1966, estão ligados à sociedade em transformações do
período pré-moderno e do Estado ditatorial, que tutelavam cidadãos e
profissionais aos mecanismos da estrutura administrativa do Poder Executivo.

Ao longo desse período assistiu-se a um processo acelerado de


urbanização; mudou o processo produtivo e tecnológico; mudaram as
perspectivas educacionais e culturais que orientavam a educação dos jovens
e a definição de vocações e o Brasil se viu envolvido por movimentos de
integração e intercâmbio regionais e globais. Tais transformações conformam
novas demandas e desafios que afetam diretamente o exercício das
profissões e seus marcos legais.

A Constituição de 1988 reconhece a cidadania, a dignidade da pessoa


humana e a liberdade de profissão e organização – como preceitos
fundamentais de participação na organização social, determinando a
reavaliação dos mecanismos até então existentes para essa participação.
Reafirma a condição da lei estabelecer requisitos que limitam o exercício de
determinadas profissões, considerando os preceitos da proteção da segurança
e da liberdade dos cidadãos.

Nesse contexto se inserem as atividades de arquitetura e urbanismo,


pelo interesse público, pelo caráter social e humano de que se revestem as
ações que visam atender à estratégia da ocupação do território nacional, à
organização do habitat, aos assentamentos humanos, à preservação do meio
ambiente e do patrimônio histórico, cultural, tecnológico, arquitetônico,
paisagístico e urbanístico.

Elemento fundamental da história, da cultura, da tecnologia, da vida e da


cidadania do país, a arquitetura e urbanismo são expressões da cultura e
portadores da identidade nacional e dos valores da sociedade no campo
artístico, cultural e tecnológico, constituindo patrimônio brasileiro. Tais
características são reconhecidas na esfera mundial por organizações como a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –
UNESCO e a União Internacional de Arquitetos – UIA. As criações
arquitetônicas e urbanísticas, a concepção e a qualidade das edificações, a
inserção harmoniosa no ambiente circundante, o respeito às paisagens
naturais e urbanas, bem como do patrimônio edificado coletivo e privado são
do interesse público e são, pois, vitais para o país.

As Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanistas – Instituto de


Arquitetos do Brasil (IAB), Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas
(FNA), Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA),
Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) e Associação
Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) – entendem que é chegado o
momento de a lei consagrar a organização própria dos arquitetos e
urbanistas. Desta forma, é imperioso o encaminhamento do Projeto de Lei
que pretende aprimorar o exercício profissional, para a prestação os serviços
à sociedade beneficiária da arquitetura e urbanismo.

Tal Projeto de Lei promove uma releitura dos instrumentos legais


existentes e se articulada a um Código de Responsabilidade Profissional, a um
Código de Ética, bem como às demais normas constitucionais e
infraconstitucionais brasileiras, em especial à Lei 9.610/98, que trata de
Direitos Autorais e as demais que se relacionam com a arquitetura e
urbanismo, reunindo os princípios que os profissionais assumem e que os
qualificam para a efetivação do registro profissional universitário, nos termos
do Artigo 5º, Inciso XIII e Artigo 22, Inciso XVI da Constituição Federal,
relativamente às Qualificações e Condições para o exercício da profissão.

Brasília, 12 de março de 2003.

Haroldo Pinheiro Villar de Queiroz


Presidente do IAB, Instituto de Arquitetos do Brasil

Eduardo Bimbi
Presidente da FNA, Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas

Itamar Costa Kalil


Presidente da ABEA, Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e
Urbanismo

Henrique Cambiaghi
Presidente da AsBEA, Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura

Lucia Porto
Presidente da ABAP, Associação Brasileira dos Arquitetos Paisagistas

12/03/2003 - fonte: IAB-DN

Anteprojeto de Lei do Colégio Brasileiro de Arquitetos e Urbanistas

Os arquitetos brasileiros, também membros integrantes da criação do


Sistema Crea/Confea, se deparam há muito tempo com a necessidade de
criação de um sistema profissional exclusivo dos arquitetos, como ocorre em
todo o mundo.

Desde a década de 50 que os arquitetos brasileiros tentam obter sua


independência do atual sistema profissional brasileiro (Crea/Confea), que
congrega em sua estrutura mais de 240 modalidades, entre engenheiros
(civis, eletrônicos, mecânicos, de alimentos, entre outros), agrônomos,
geógrafos, meteorologistas, e muito mais, desvirtuando toda sua intenção
original.

O momento atual é bastante propicio a apresentação de nosso anteprojeto de


Lei, que será levado ao Congresso Nacional.

Principalmente pelo consenso obtido por todas entidades nacionais de


arquitetos, IAB, FNA, ASBEA, ABEA e ABAP, na montagem da lei, e pela
recente eleição do Arquiteto Jaime Lerner como presidente da União
Internacional de Arquitetos, entidade que congrega arquitetos do mundo
todo.
Como nós, brasileiros, que dirigimos a maior entidade mundial de arquitetos
não conseguimos dirigir nossa própria entidade?

É por isso, e por vários outros motivos, que apresentamos o projeto de


Lei abaixo, que será apresentado no Congresso Nacional, esperando a
colaboração de todos arquitetos brasileiros para alcançarmos a nossa tão
esperada independência.

Transcrevemos também abaixo um pequeno resumo da montagem desta


ultima proposta.

- O Colégio Brasileiro de Arquitetos e Urbanistas foi instalado em 08 de julho


de 1988 - face à Medida Provisória convertida na Lei Nº 9649, a qual, em seu
Artigo 58 desautarquisava os conselhos profissionais - objetivando a criação
de um conselho autônomo para os arquitetos brasileiros e sua equiparação
aos arquitetos de todo o mundo.

- Tendo Lei 9649 tido seus efeitos suspensos por força de liminares
encaminhadas ao STF (uma pelos partidos políticos de oposição, outra pela
CNPL e uma terceira por diversas entidades de engenheiros e arquitetos, IAB
inclusive), o CBA reuniu-se em 12 de maio de 1999, e aprovou o manifesto
"Aos Arquitetos e à Sociedade Brasileira", reafirmando "os princípios que tem
orientado as ações para o estabelecimento de um organismo próprio que vise
o gerenciamento do exercício profissional".

- De 1998 a 2002 participaram do CBA 13 presidentes de entidades: Carlos


Fayet, Haroldo Pinheiro (IAB); Eduardo Bimbi (FNA); Gogliardo Maragno,
Maria Elisa Meira, Hélio Dias, Itamar Kalil (ABEA); Edison Musa, Gianfranco
Vanucchi, Henrique Cambiaghi (AsBEA); Benedito Abbud, Rosa Kliass e Lucia
Porto (ABAP).

- Vários colegas, delegados das cinco entidades, participaram do Comitê


Executivo - instância criada para aplicar-se à sistematização das
contribuições que levaram ao presente texto. Mesmo com risco de
esquecimento, cito a participação no Comitê das(dos) colegas Albano Volkmer
(RS), Angelo Arruda (MS), Antonio Meneses Jr. (DF), Benedito Abbud (SP),
Carlos Faggin (SP), Carlos Fernando Andrade (RJ), Gilberto Belleza (SP),
Isabel Eiras (RJ), João Carlos Diório (PR), José Borelli (SP), José Eduardo
Novaes (SP), José Eduardo Tibiriçá (SP), José Roberto Geraldine Jr. (SP),
José Tabith (SP), José Wellington Costa (SE), Lilia Varella (RJ), Luiz Augusto
Contier (SP), Luciano Fiaschi (SP), Maria Elisa Baptista (MG), Marco Fogaccia
(SP), Miguel Pereira (SP), Roberto Py (RS), Rosa Kliass (SP), Valeska Pinto
(SP), além de estudantes, dirigentes da FENEA, que também participaram de
algumas reuniões.

- Dezenas de outros colegas de todo o país, membros das instâncias


dirigentes das cinco entidades, acompanharam e opinaram durante a
evolução do processo nestes cinco anos.

- As cinco entidades se alternaram na coordenação do colegiado e todas as


decisões do CBA foram alcançadas por consenso, em afirmação democrática
exemplar, o que demonstra a maturidade dos arquitetos brasileiros e de suas
instituições mais representativas.

- O presente Anteprojeto de Lei foi aprovado pelas instâncias superiores das


cinco entidades, com a orientação de dar conhecimento à sociedade e
propugnar por sua aprovação junto ao novo Governo Federal.

No âmbito do Sistema Confea/Crea's, atuaram também para abrir e manter


desobstruídos os canais de discussão sobre o processo iniciado pelo CBA,
neste período, os arquitetos: (1) Conselheiros Federais: Adolfo Maia (PA),
Anestor Tombini (PR), Gogliardo Maragno (Ensino/MS), Ilka Beatriz (RJ),
Itamar Kalil (Ensino/BA), Jorge Neves (CE), Lucas Mali (MS), Lucio Dantas
(RN), Maria Laís Pereira (MA), Roberto Simon (SC). (2) Presidentes de
Crea's: Alberto de Farias (DF), Edson Dal Lago (RS), Luciano Guimarães (CE),
Osni Scroeder (RS). (3) Coordenadores Nacionais das Câmaras Especializadas
de Arquitetura: André Müller (RS), José Borelli (SP), José Wellington (SE). (4)
Assim como inúmeros colegas que atuaram e atuam nas Câmaras
Especializadas nos Crea's.

- Contribuíram, ainda, para esta evolução os assessores legislativos do


Ministério do Trabalho e da Câmara dos Deputados, consultados em 1999 e
2000.

- O Escritório Reale Advogados, através da Dra. Simone Tatsch e do Dr.


Miguel Reale Jr., foram e serão fundamentais na evolução e conclusão dos
processos jurídico e legislativo

12/12/2002 - fonte: IAB-SP

www.iab.org.br
Miguel Reale Jr. indica caminhos para novo órgão de controle
profissional
Em entrevista ao Boletim da Asbea, que reproduzimos aqui, o jurista Miguel Reale
fala sobre o trabalho que seu escritório está desenvolvendo para as cinco entidades de
arquitetos: Asbea, Abea, FNA, IAB e Abap.

As cinco entidades representativas dos arquitetos - Abea, Abap, FNA, AsBea e IAB -
contrataram no fim do ano passado o escritório Reale Advogados, uma das mais
importantes bancas de advocacia do País, para dar uma assessoria jurídica para a
constituição de um novo organismo de controle da profissão. O que demonstra que os
arquitetos estão cada vez mais empenhados na criação desse novo organismo. "A
preocupação do jurista com o processo de transição retrata também o nosso zelo e
cuidado com o problema", afirma o arquiteto José Eduardo Tibiriçá, vice-presidente da
AsBEA. "A forma responsável e altamente profissional com que vem sendo conduzida
a formatação desse organismo e a cooperação de um jurista desse porte à nossa
causa nos deixa confiantes no resultado final", completa. Tibiriçá ressalta ainda que as
entidades que formam o CBA receberam uma nova injeção de ânimo na certeza da
justiça de seu pleito, "agora afiançado pelo jurista como demonstra a entrevista
abaixo".

Boletim da Asbea - Como o senhor avalia o desejo dos arquitetos em


constituir uma nova entidade de controle e regulamentação da sua profissão?

Miguel Reale Júnior - Há um anseio bastante antigo desses


profissionais em criar sua própria entidade de controle profissional. Isso se
justifica porque o Confea, conselho que reúne arquitetos, engenheiros,
agrônomos e que se desdobra em dezenas de profissões, termina por não
atender diretamente aos interesses, exigências e necessidades dos
arquitetos. E a profissão ganha cada vez mais repercussão na vida da
sociedade contemporânea, seja no plano do urbanismo, na proteção do
patrimônio cultural, da natureza e do meio ambiente. O papel do arquiteto
hoje cresce de relevo nas grandes cidades e as questões intrínsecas à
profissão ficam relegadas a segundo plano porque o Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia tem milhares de outras tarefas e não
pode se dedicar especificamente à valorização da profissão do arquiteto.

Boletim da Asbea - Como deve se dar a constituição do novo


organismo de controle e de regulamentação da profissão?

Miguel Reale Júnior - É necessário que exista um projeto de lei porque


a disciplina que buscou transformar os conselhos profissionais em entidades
de cunho privado - uma medida provisória - teve seus efeitos suspensos por
medida liminar concedida numa argüição de inconstitucionalidade no
Supremo Tribunal Federal (STF). Disso decorre a necessidade de que haja um
projeto de lei. O trabalho do legislador, que é o nosso caso, deve ser,
obrigatoriamente, um trabalho de captação da realidade, em primeiro lugar,
para depois passar a ser o de normatização. Temos colhido com os
representantes das diversas entidades quais são as suas apreensões e
sugestões. Nosso interesse é elaborar uma minuta de projeto de lei e então
discutir com membros da classe as disposições que vão estar ali contidas.

Boletim da Asbea - Como o senhor disse, o caminho legal passa pela


elaboração de projeto de lei. De quem deve ser a iniciativa de apresentar
esse projeto de lei ao Congresso?

Miguel Reale Júnior - Um projeto de lei pode ser apresentado tanto


pelo Executivo como por parlamentares. E, nesse caso, apresentado por
lideranças partidárias ganha maior peso e relevo. Pode ser também
apresentado pelo próprio governo, desde que ele se convença da necessidade
e importância do assunto. Acredito que se trata de um projeto de lei
importante e, portanto, com condições de sensibilizar o Executivo para que
ele tome a iniciativa de enviá-lo ao Congresso Nacional. Poderemos também
levá-lo às lideranças partidárias para que elas o endossem, já que, dentro de
algum tempo, ele deverá representar o pensamento da classe acerca do
órgão que irá congregar todos os arquitetos.

Boletim da Asbea - No Congresso, há inúmeros projetos de lei nunca


votados. Nesse quadro, quais as possibilidades que o tema seja colocado em
votação?

Miguel Reale Júnior - Há projetos que, pelo relevo e importância,


acabam sensibilizando os deputados. Existem casos que tiveram uma
tramitação até bastante rápida. O tema que trata da organização da categoria
dos arquitetos é de grande importância exatamente por causa da repercussão
das tarefas desse profissional em questões de ordem social, especialmente
pelas crises que vivem as médias e as grandes cidades brasileiras. Elas
dependem da atuação de um órgão de classe dos arquitetos com capacidade
para falar em nome deles sobre assuntos que são pertinentes a eles,
especialmente com relação à urbanização e humanização dos centros
urbanos.

Boletim da Asbea - O senhor tem conhecimento de um conselho, como


é o caso do Crea, que reuna número tão grande de profissões?

Miguel Reale Júnior - Não conheço. É também inusitada a criação de


uma entidade referente a uma profissão tão bem definida quanto a dos
arquitetos desmembrada de um conselho maior. É uma experiência nova e,
exatamente por isso, que a questão mais delicada é a das disposições
transitórias que regulem a passagem de um conselho para outro no campo da
organização administrativa, dos processos que se encontram em andamento
por faltas disciplinares e da execução das sanções disciplinares impostas para
que não haja uma solução de continuidade e que os processos e as
penalidades não venham a se perder por prescrição. Essas são questões
delicadas que se constituem num desafio para o trabalho do jurista.
Anteprojeto de Lei para a Regulamentação da Arquitetura e
Urbanismo no Brasil - Entrevista à Revista MAIS em 16/out/2002

Revista Mais - Quais são as expectativas de o projeto ser aprovado no


Congresso Nacional? O senhor está muito otimista, não?

Haroldo Pinheiro - Estamos otimistas por saber que a causa é correta,


tanto para a arquitetura brasileira quanto para a sociedade a que servimos.
Nossa expectativa é de um debate em alto nível a ser realizado no Congresso
Nacional sobre o Anteprojeto de Lei que apresentamos e de sua aprovação
em prazo curto, de forma que possamos ter um conselho profissional com a
agilidade que as questões prementes da profissão exigem. Convém enfatizar
que - embora o Colégio Brasileiro de Arquitetos tenha discutido este
Anteprojeto durante quatro anos, buscando um texto consensuado, simples e
contemporâneo - o que buscamos é apenas igualar a fiscalização e o controle
da arquitetura brasileira aos padrões dos demais países do mundo e aos de
outras profissões daqui mesmo do Brasil (medicina, odontologia, farmácia,
enfermagem, administração, economia, advocacia, corretagem de imóveis e
tantas outras) que também tem os seus conselhos autônomos, como deve
ser.

Revista Mais - Quem apresentará o anteprojeto?

Haroldo Pinheiro - Seguiremos as orientações do nosso Consultor


Jurídico, o Dr. Miguel Reale Jr. Mas podemos antecipar que o
encaminhamento deverá ser feito através do Poder Executivo, por tratar do
desmembramento de uma autarquia pública federal. No Congresso Nacional
já há lideranças interessadas na defesa do anteprojeto de lei. Buscaremos
trabalhar com parlamentares conhecedores das questões afetas à arquitetura
- tais como o acesso à habitação, desenvolvimento urbano, saneamento,
assim como aos aspectos culturais e tecnológicos da profissão - e que não
sejam suscetíveis às pressões que, sabemos, ocorrerão.

Revista Mais - Os cerca de 80 mil arquitetos brasileiros não perderiam


força saindo sistema Confea-Creas?

Haroldo Pinheiro - Ganharão força, em função da visibilidade que a


profissão passará a ter a partir da sociedade. Vejam que uma das tarefas
principais de um conselho profissional é, justamente, articular a profissão
com a sociedade. Dar à sociedade a certeza de que a profissão está sob o
controle de seus profissionais - fato que não ocorre hoje, pois o cidadão não
sabe sequer que pode recorrer contra a má prática ou a prática ilegal da
arquitetura e do urbanismo. Por outro lado, vejam que as vitórias que a
profissão vem acumulando recentemente derivam da ação das entidades, e
apesar do Sistema Confea/Crea's. Cito, por exemplo: (1) a aprovação do
Estatuto da Cidade, luta histórica do IAB, em conjunto com os movimentos
populares mais recentemente reunidos no FNRU; (2) a eleição de Jaime
Lerner, delegado do IAB à Assembléia da União Internacional dos Arquitetos -
UIA, para a Presidência da UIA (fórum internacional onde se discutem o
ensino e a prática da arquitetura, entre outras matérias de interesse da
profissão); (3) a definição do paisagismo como atribuição do arquiteto, obtida
pelos sindicatos de arquitetos em oposição à resolução do Confea que
pretendia conceder esta atribuição aos agrônomos. Enfim, só haverá
vantagem em deixarmos de ser a minoria de um conselho multiprofissional e
passarmos a tratar com soberania as questões que nos são afetas.

Revista Mais - Alguns críticos dizem que o CBA poderá se transformar


em mais uma estrutura burocrática. O que o senhor tem a dizer a respeito?

Haroldo Pinheiro - O atual Sistema Confea/Crea's trata de questões tão


díspares quanto a metereologia e a geologia; a engenharia de alimentos e a
engenharia de minas; a arquitetura e a engenharia de pesca (são mais de
240 títulos profissionais hoje dependentes do Sistema Confea/Crea's).
Naturalmente isto exige uma burocracia pesada, que acaba atuando mais
para sua própria sustentação do que para resolver os assuntos de interesse
de tantas profissões. O Conselho de Arquitetura e Urbanismo atuará dedicado
às questões específicas de uma única profissão e o nosso Anteprojeto de Lei
considerou toda a moderna legislação vigente (tal como o Código de Defesa
do Consumidor, por exemplo). Teremos uma estrutura mais leve, menos
onerosa e conflituosa do que a atual, sem dúvida. Será melhor para os
arquitetos e será melhor também para os profissionais que permanecerão no
Sistema Confea/Crea's, que herdarão um conselho menos pesado que o
atual.

Revista Mais - Aprovada a lei, qual será a primeira medida?

Haroldo Pinheiro - As disposições transitórias do Anteprojeto de Lei


definem o prazo e as condições para a realização da transição política,
processual e patrimonial de um conselho para o outro - com a participação de
representantes do Sistema, das câmaras especializadas de arquitetura e das
entidades nacionais. Depois, a convocação de eleições gerais, diretas, para os
conselhos regionais e federal. Instalados os plenários estaduais e nacional,
com arquitetos eleitos em todo o país, eles próprios estabelecerão suas
prioridades a partir das discussões ocorridas nas próprias eleições a que terão
se submetido.

Revista Mais - Como será a divisão patrimonial? Um arquiteto de


renome comentou que esse problema prejudicaria o futuro Colégio de
Arquitetos. O senhor pode esclarecer essa dúvida?

Haroldo Pinheiro - Este patrimônio é público, construído a partir de


recursos recolhidos compulsoriamente de arquitetos, engenheiros, agrônomos
etc. Parte dele será deslocado de uma autarquia pública (o atual Sistema
Confea/Crea's) para outra (o futuro Conselho de Arquitetura e Urbanismo),
na justa medida da contribuição realizada pelos arquitetos desde 1933. O
Anteprojeto de Lei propõe a realização de uma auditoria para determinar o
patrimônio atual do Sistema (com prazo para conclusão previsto em 210 dias,
após a aprovação da Lei) e, daí, qual parte dele caberia ao Conselho de
Arquitetura e Urbanismo. Se ocorrer dúvida sobre o resultado da auditoria, o
Anteprojeto de Lei prevê um arbitramento ágil, através da chamada "Lei
Marco Maciel". Havendo espírito público e honestidade, não cremos que
venham a ocorrer problemas intransponíveis.

Revista Mais - Como é tratada a questão do "sombreamento"


profissional à luz do projeto de lei que prevê a criação do Colégio de
Arquitetos do Brasil?

Haroldo Pinheiro - O "sombreamento" profissional ocorre quando há


intersecção de responsabilidades entre duas ou mais profissões numa mesma
área de atuação. Ocorre hoje, por exemplo: (1) na medicina e segurança do
trabalho, envolvendo engenheiros, arquitetos e médicos (está sendo discutida
entre o Conselho Federal de Medicina e o Confea); (2) na química,
envolvendo químicos e engenheiros químicos (vem sendo discutida entre o
Conselho de Química e o Confea). E ocorre também, por exemplo, entre
arquitetos e engenheiros civis na área do projeto arquitetônico. A diferença é
que o assunto deixará de ser tratado num plenário em que somos minoria,
eventualmente sujeito a decisões corporativas, para ser tratado
soberanamente, como convém, entre o Conselho de Arquitetura e Urbanismo
e o Confea.

Revista Mais - Qualificação profissional e Exame de Ordem. Estes são


temas sobre os quais não se chegou a um consenso na elaboração do
Anteprojeto de Lei para a Regulamentação da Arquitetura e Urbanismo no
Brasil. Quando estes temas poderiam voltar a ser discutidos?

Haroldo Pinheiro - Nestes aspectos o Anteprojeto de Lei não inova -


não avança nem retrocede. Como não houve consenso entre as entidades
nacionais de arquitetos, deixamos esta discussão para o Conselho de
Arquitetura e Urbanismo. Eleito e instalado o Conselho, seu Plenário terá
autoridade para tratar dos assuntos no momento em que considerar
conveniente. Enquanto isso, os temas prosseguirão sendo discutidos entre as
entidades e internamente, em suas instâncias deliberativas, para que
possamos contribuir no futuro.

Revista Mais - Globalização econômica e a competição internacional


entre profissionais. Como o projeto de lei trata este tema?

Haroldo Pinheiro - O Artigo 6º do Anteprojeto de Lei define os


requisitos para inscrição no Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Em seu
parágrafo 3º, faculta ao Conselho "exigir outros requisitos para a
inscrição profissional que atendam à proteção da profissão e à sua
qualificação". A realidade atual do trânsito internacional de serviços de
arquitetura foi aí considerada, concedendo ao Conselho a necessária agilidade
para tratar do assunto. É óbvio, tanto nesta quanto em qualquer outra
questão, que um conselho uniprofissional terá mais agilidade e,
especialmente, conhecimento de causa para resolver qualquer questão em
favor da profissão que gerencia. Assim é no Brasil, com as demais profissões
não envolvidas no Sistema Confea/Crea's; assim é no mundo inteiro, com os
conselhos de arquitetura de todos os países com população de arquitetos até
menores que a nossa. Não existe no mundo, repito, um conselho
multiprofissional como o nosso - e a inovação brasileira não fez escola. É
tempo de mudar e vamos mudar, com a responsabilidade e a honestidade de
princípios que o assunto exige.

Revista Mais - Para onde arquitetos e futuros arquitetos devem dirigir


suas perguntas para futuros esclarecimentos

Haroldo Pinheiro - Para a sua entidade ou, caso não seja filiado, à que
mais se aproximar de sua atuação profissional.

DECLARAÇÃO DO RIO

Os arquitetos brasileiros, reunidos no Rio de Janeiro em 03 de


maio de 2003, no XVII Congresso Brasileiro de Arquitetos, fórum
maior de tomada de decisões coletivas da categoria, vem, perante a
sociedade brasileira e suas instituições; a coletividade cultural,
científica e tecnológica e perante os arquitetos e estudantes de
arquitetura do País, publicamente declarar:
1. que a existência de uma legislação própria de regulamentação e
fiscalização da arquitetura e urbanismo é uma reivindicação
unânime dos arquitetos brasileiros;

2. que o Anteprojeto de Lei apresentado neste Congresso é a


legítima expressão do trabalho realizado pelas entidades
nacionais de arquitetos e atende às decisões do XV Congresso
Brasileiro de Arquitetos;

3. que delegam às nossas entidades nacionais a incumbência do


imediato encaminhamento deste Anteprojeto de Lei aos
poderes Executivo e Legislativo;

4. que sua convicção é que o próximo Congresso Brasileiro de


Arquitetos será realizado dentro da vigência da nova
legislação.

Rio de Janeiro, 03 de maio de 2003


Plenária Final do XVII Congresso Brasileiro de Arquitetos
Documento aprovado por unanimidade

Você também pode gostar