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ONCOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.
TUMORES CUTÂNEOS
A pele é o maior órgão do corpo humano. Consiste essencialmente de três camadas: a epiderme (epitélio
escamoso estratificado), a derme (tecido conjuntivo) e a hipoderme, que é camada de tecido adiposo subjacente.
A epiderme é a camada mais externa, vive em constante regeneração. Suas principais funções são a proteção
do organismo e a síntese de queratina, feita pelos queratinócitos, que compõem cerca de 90% dos componentes
da epiderme. A camada mais superficial (extrato córneo) é composta por células epiteliais completamente
queratinizadas; a camada basal alinha-se como uma membrana, separando a epiderme da derme, e essas
células basais são as únicas que proliferam. Por entre as células basais, localizam-se os melanócitos, que são
os produtores de pigmento da pele.
A derme consiste em fibroblastos fusiformes, que produzem colágeno, e são os maiores responsáveis pela
resistência da pele, além de elastina e da reticulina. Os vasos, nervos e linfáticos situam-se na derme.
O câncer de pele é o mais frequente de todos os cânceres do organismo. E quanto a isto, podemos ter lesões
primárias da pele ou doenças caracterizadas por manifestações de outras patologias. Esta é a razão que justifica o
cuidado em que se deve ter ao se retirar algumas lesões da pele e mandá-las sempre para o exame patológico, e não
desprezá-las no lixo. Isto pode fazer com que o paciente perca as suas chances de cura, caso a lesão seja,
eventualmente, maligna. De fato, o paciente só tem uma chance de cura, que é o primeiro tratamento (Saulo Ataíde). Por
isso, é imprescindível a realização de biópsia em qualquer lesão tratada da pele, independente de seu caráter maligno
ou não.
É obrigação de todo médico conseguir a cura em cerca de 90% dos casos de câncer da pele, por se tratar de
uma doença que pode, e deve, ser diagnosticada facilmente, sendo simples o seu tratamento, desde que corretamente
executado na primeira vez.
Por esta razão, espera-se que todo médico saiba indicar uma biópsia adequada em qualquer lesão suspeita, o
mais precocemente possível. A confirmação histológica e o microestadiamento são essenciais antes do tratamento
definitivo, particularmente no melanoma, pois as opções variam desde procedimentos conservadores até outros mais
agressivos.
Para fins didáticos, alguns autores dividem o estudo dos tumores de pele em melanomas cutâneos e tumores
cutâneos não melanomas. Contudo, de uma forma geral, os tipos mais frequentes de tumores de pele são:
Carcinoma Basocelular (CBC)
Carcinoma Espinocelular (CEC)
Melanoma Maligno (MM)
Linfomas cutâneos de células T e Micose Fungóide (MF)
Sarcoma de Kaposi (SK): lesões nodulares diretamente relacionadas com a infecção por HIV.
Carcinoma de Célula de Merkel
Tumores anexiais
Metástases
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@medresumosoficial Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● ONCOLOGIA
PATOGÊNESE
A patogênese envolve exposição à luz ultravioleta, principalmente do espectro do tipo B que induz mutação em
genes supressores do tumor. Outros fatores que parecem estar envolvidos na patogênese são as mutações nos genes
regulatórios, exposição às radiações ionizantes e alterações na vigilância imunológica.
Existe ainda uma propensão ao desenvolvimento de múltiplos CBCs em alguns indivíduos, que pode ser
hereditária. O papel do sistema imunológico na patogênese do câncer de pele ainda não está completamente entendida.
Pacientes alcoólatras crônicos imunossuprimidos tendem a desenvolver CBCs infiltrativos com maior frequência.
M ANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Deve-se suspeitar de qualquer lesão de pele friável e que não cicatrize. Às vezes, a lesão pode apresentar
pequeno sangramento, cicatrizar e depois recidivar. Pode haver ulceração e telangiectasias.
SUBTIPOS DE CBC
Nódulo-ulcerativo: corresponde ao subtipo mais comum, aparecendo mais frequentemente em áreas expostas
ao sol e corresponde a 50% dos CBCs. Sua localização mais comum é na cabeça e pescoço. Caracteriza-se por
nódulos com aspecto brilhante e bordas perláceas, com telangiectaisas, podendo ou não apresentar ulceração
central.
Pigmentado: grosseiramente semelhante ao nodular, porém pigmentado, particularmente nas bordas.
Esclerosante (esclerodermiforme) ou morphea-like: apresenta-se como uma mácula única, endurecida,
hipocorada ou rósea, com limites mal definidos. É uma variante de CBC que apresenta comportamento mais
agressivo. A necessidade de biópsia é imperativa e o tratamento requer alguns cuidados, principalmente pela
dificuldade de definição de margens.
Superficial: ocorre mais comumente no tronco e apresenta-se como uma mácula avermelhada, maldefinida,
superficial, que lembra uma lesão eczematosa.
Fibroepitelial: apresenta-se como pápula de coloração róseo-acastanhada, sem manifestações inflamatórias ao
redor.
COMPORTAMENTO BIOLÓGICO
O risco de CBC é de invasão local. Geralmente, é de crescimento lento, e invade localmente ao invés de
produzir metástases. Se não for tratado adequadamente, invade progressivamente o tecido subcutâneo, muscular e
mesmo ósseo. Metástases são raras, mas quando ocorrem os locais mais acometidos são linfonodos e pulmões.
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TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
Há várias opções terapêuticas, como excisão cirúrgica, criocirurgia, curetagem com eletrocoagulação, Imiquimod
tópico (modificador da resposta biológica), terapia fotodinâmica e radioterapia.
Quando o tratamento é apropriado, o prognóstico da maioria dos pacientes com CBC é excelente. Deve-se
recomendar proteção solar e exame de todo o tegumento cutâneo. Pacientes com história de CBC apresentam risco
aumentado para o desenvolvimento de melanoma.
OBS²: A Doença de Bowen consiste em uma placa eritematosa, ligeiramente elevada, geralmente bem-delimitada, que
é considerada um carcinoma espinocelular in situ. Pode ser simples ou múltipla, de crescimento lento, podendo estar
presente por vários anos antes do diagnóstico.
FATORES DE RISCO
O risco relativo para CEC é mais alto em pessoas de pele clara, olhos claros e cabelos loiros ou ruivos, em
pessoas com atividade externa expostas à radiação ultravioleta e em pacientes com elastose severa, efélides e
telangiectasias faciais. Os principais fatores de risco para desenvolvimento de CEC são:
Exposição à radiação ultravioleta A e B
Exposição à radiação ionizante
Xeroderma pigmentoso
Infecção pelo HPV subtipos 6,11, 16 e 18
Transplantes de órgãos
Ulceração crônica
Osteomielite
Dermatite actínica
Lesões precursoras: queratose actínica, queratose por ascênico, queratose induzida por radioterapia.
Doença de Bowen
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
A lesão precursora principal do CEC é a queratose actínica. Geralmente, são lesões de 2 a 6 mm da mesma
coloração da pele, róseas ou marrons. Podem involuir espontaneamente ou persistir e algumas tornarem-se CEC.
A maioria dos CECs invasivos ocorre em região da cabeça e pescoço, e em segundo lugar no tronco. As lesões
são papulosas ou em placas, de coloração rósea e hiperqueratóticas. Podem apresentar ulceração. Geralmente, os
pacientes descrevem a lesão como descamativa ou dolorosa, ou ferimentos que não cicatrizam e que sangram quando
traumatizados.
COMPORTAMENTO BIOLÓGICO
O CEC invasivo apresenta potencial para recidiva e metástases. Lesões maiores que 2 cm têm 15% de chances
de recidiva local e 30% de chance de metástases. Independentemente do tipo de tratamento escolhido, a taxa de cura
em cinco anos é de 70%,
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Os CECs de orelha e de lábio são agressivos, com índices de recidiva e metástases variando entre 10 a 25%.
Outros locais associados à taxa de elevada recidiva e metástases são o couro cabeludo, região frontal, nariz, pálpebras,
membrana mucosa, face dorsal das mãos, pênis, escroto e ânus.
Os CECs que surgem em pele lesada ou cronicamente doente apresenta 40% de risco de metástases.
TRATAMENTO E PROGNÓSTICO
O tratamento depende do tamanho, profundidade e grau de diferenciação do tumor. A maioria dos tumores é de
tratamento cirúrgico, tendo como prioridade a obtenção de margens cirúrgicas e histopatológicas livres de tumor, tanto
lateral quanto profundamente. Radioterapia fracionada pode ser uma alternativa de tratamento para pacientes que não
podem ser submetidos à cirurgia. Para pacientes com doença linfonodal indica-se a linfadenectomia radical da base
linfonodal acometida, associada ou não à radioterapia adjuvante.
A maioria dos pacientes com CEC primário apresenta bom prognóstico. Os pacientes com doença metastática,
no entanto, apresentam um prognóstico sombrio a longo prazo. Pacientes com doença linfonodal apresentam menos de
20% de chance de sobrevida em dez anos, enquanto aqueles com doença metastática a distância a chance de
sobrevida é de 10%.
OBS³: Deve-se, portanto, optar pelo uso de exames de imagem (TC, RNM) para estadiamento de lesões com suspeita
de invasão de tecidos ósseos (ex: região periorbitária). Caso haja invasão, tem-se a radioterapia como indicação
iminente.
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Lesões em áreas de maior risco de recidiva (ex.: face, couro cabeludo, pavilhão auricular) e com maior
necessidade de preservação de tecidos e resultados estéticos (contudo, os resultados estéticos não são tão
eficientes em pacientes com pele muito clara, que podem apresentar a formação de áreas de telangiectasias
após à radioterapia).
Menor custo e risco cirúrgico em relação à cirurgia de Mohs, com resultados de cura semelhantes
Resgate cirúrgico e efeito paliativo
A radioterapia não é recomendada para tratamento primário em pacientes mais jovens por menores resultado
estéticos e maior carcinogênese à longo prazo.
Quanto aos aspectos técnicos da radioterapia para o tratamento do tumor maligno de pele não-melanoma,
temos:
Radioterapia adjuvante: para disseminação linfonodal positiva, faz-se radioterapia com extensão do campo,
aumentando a margem de tratamento da lesão primária e inclusão de outras áreas se necessário. As margens
de tratamento podem ser de até 1cm, se lesões pequenas (<2,0cm) e bem circunscritas e maiores se com uso
de elétrons e outros fatores. A escolha de energia (ortovoltagem, elétrons ou fótons) varia de acordo com a
profundidade da lesão, com a necessidade de bolus para altas energias e com a necessidade de proteção de
estruturas adjacentes (ex.: chumbo de proteção de córnea, subpalpebral).
Dose e fracionamento:
o Radioterapia adjuvante: para LND (+), usa-se fracionamento usual de 200cGy (total = 54Gy).
o Radioterapia exclusiva: fracionamentos diversos possíveis. Exemplos: 10 x 400cGy, 15 x 300cGy, 20 x
250cGy. Os esquemas mais hipofracionados apresentam maiores índices de efeitos colaterais do tratamento
(ex.: necrose).
MELANOMA MALIGNO
Trata-se de um tumor originado de melanócitos. O melanoma cutâneo é o câncer de pele que apresenta
comportamento biológico bastante agressivo. A incidência do melanoma cutâneo vem aumentando rapidamente. A
incidência atual crescente está associada a aumento de exposição à radiação solar. O melanoma cutâneo é uma
neoplasia melanocítica potencialmente letal, com propensão para metástases sistêmicas.
Contudo, a causa precisa é desconhecida. Sugere-se que o melanoma teria origem em um nevo melanocítico
em aproximadamente 50% dos casos. Os principais fatores de risco são:
História prévia de melanoma
Nevus displásicos múltiplos
Exposição solar aguda intensa
Idade acima de 15 anos
Imunossupressão
Lentigo maligno
Nevos congênicos
Nevos atípicos ou displásicos
Sensibilidade solar
Pode apresentar os seguintes tipos histológicos: superficial, nodular, lentigo maligno (carcinoma in situ),
lentiginoso acral, etc. Os principais fatores prognósticos são idade e sexo, localização e subtipo histológico.
DIAGNÓSTICO
Para diagnóstico precoce do melanoma, avaliam-se as seguintes características (regra do ABCD):
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Assimetria: padrão assimétrico da lesão por causa da taxa de crescimento desigual da neoplasia.
Bordas irregulares: o mesmo índice de crescimento desigual também resulta em bordas irregulares da lesão.
Coloração variável: presença de várias cores, como preto e diferentes tonalidades de marrom (escuro ou claro)
Dimensão da lesão: lesões que apresentem características ABC com 6 mm ou mais de diâmetro são suspeitas
para melanoma.
Uma lesão assimétrica, com bordas irregulares, coloração preta ou amarronzada e uma dimensão maior do que
6 mm, até que se prove o contrário, deve-se pensar em melanoma. Além disso, qualquer lesão escura na palma da mão
ou planta do pé, segundo a literatura vigente, até que se prove o contrário, deve-se pensar em melanoma.
Para um diagnóstico mais concreto do melanoma, pode-se fazer dermatoscopia ou exame clínico completo da
pele. Contudo, na maioria dos casos, o diagnóstico de melanoma só é realizado quando já se tem uma metástase
importante (que acomete, principalmente, o cérebro).
GRADUAÇÃO DO MELANOMA
Utiliza-se a Classificação de Breslow: determina a espessura/profundidade tumoral (dimensão vertical a partir
do ponto mais profundo de invasão ao topo da camada granulosa ou à célula mais superficial em caso de ulceração).
Velha classificação Nova classificação (tendência)
I: ≤ 0,75mm I: ≤ 1mm
II: 0,76 – 1,5mm II: 1,01mm – 2mm
III: 1,51 – 3,99mm III: 2,01mm – 4 mm
IV: ≥ 4mm. IV: ≥ 4mm
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OBS : Níveis de Clark: I a V. Esta classificação vem caindo em desuso, pois ela não prevê a profundidade de locais
menos espessos da pele: uma lesão em pálpebra, por exemplo, tem comportamento e profundidade diferente de uma
lesão na palma da mão.
ESTADIAMENTO CLÍNICO
Estadiamento do melanoma maligno
T- Espessura (a e b)
o T1: ≤ 1,0 mm
a: ausência de ulceração e nível II/III
b: com ulceração ou nível IV/V
o T2: 1,01 – 2,0 mm
a: ausência de ulceração
b: com ulceração
o T3: 2,01 – 4,0 mm
a: ausência de ulceração
b: com ulceração
o T4: > 4,0 mm
a: ausência de ulceração
b: com ulceração
N - Linfonodos Regionais (Infiltração tumoral do linfonodo: a e b)
o N0: Ausência de metástase em linfonodos regionais
o N1: 1 linfonodo
a: micrometástase*
b: macrometástase**
o N2: 2 - 3 linfonodos
a: micrometástase*
b: macrometástase**
c: metástases em trânsito / satelitoses / sem metástases linfonodais
o N3: 4 ou mais linfonodos metastáticos, ou linfonodos confluentes, ou metástases em trânsito/
satelitoses com linfonodos metastáticos
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TRATAMENTO
As opções de tratamento e intervalos de seguimento variam de acordo com o estadiamento da doença. Após o
diagnóstico histológico, o tratamento do tumor primário é cirúrgico. De uma forma geral, os melanomas são bastante
resistentes à radioterapia, sendo indicada apenas de modo paliativo, para melhorar as condições do paciente. Portanto,
a cirurgia tem grande importância para tratamento de melanoma, tendo resultados favoráveis quando associado à
quimioterapia e imunoterapia.
Para a eleição de tratamento, faz-se uma associação da Classificação de Clark com o estadiamento clínico do
tumor:
Estádio 0 (TisN0M0): excisão com margens
Estádio I (T1-2aN0M0): excisão com margem de 1 a 2cm sem aumento da chance de recidiva (Veronesi et al,
1988 e 1991) e sem alteração do aspecto estético.
Estádio II (T2b-4bN0M0): excisão com margem e linfadenectomia seletiva ou linfonodo sentinela (Essner et al,
1999). Como adjuvância, faz-se uso de interferon alfa-2b em altas doses (Eastern Cooperative Oncology Group
trial EST 1684, 1996), quimioterapia, bio-quimioterapia e imunoterapia.
Estádio III (TxNxM0): excisão com margem de 1 a 3cm. Como adjuvância, utiliza-se interferon alfa-2b em altas
doses, quimioterapia, bio-quimioterapia, imunoterapia, infusão perfusional (com mephalan)
Estádio IV (TxNxM1): faz-se apenas tratamento paliativo com cirurgia, radioterapia, quimioterapia, bio-
quimioterapia, tamoxifeno, imunoterapia, etc.