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Patologia Ocular
26.1 Pálpebra
26.1.1 Calázio
Calázio é a lesão inflamatória mais comum da pálpebra, responsável por 13,4% de
todas as lesões benignas da pálpebra. Localiza-se na pálpebra superior ou inferior e se ca-
racteriza por um processo inflamatório localizado na pálpebra derivado da obstrução dos
ductos que drenam as glândulas sebáceas da pálpebra, que podem se romper e liberar
material que presumivelmente incita a reação. Secreções, infecções ou neoplasias podem
levar à obstrução do ducto. A maioria dos casos de calázio está relacionado a condições
inflamatórias como dermatite seborreica, acne rosácea, blefarite crônica ou conjuntivite
viral. Quando recorrem no mesmo local e são refratárias a tratamento ou atípicas na apa-
rência devem alertar o oftalmologista para a possibilidade de uma condição complicadora
como uma neoplasia, principalmente em idosos. O carcinoma sebáceo é classicamente
a neoplasia que imita a apresentação clínica de um calázio inflamatório. Clinicamente se
apresentam como um nódulo ou inchaço geralmente indolor. A condição pode ser unilate-
ral ou bilateral, isolada ou múltipla.
É mais frequente no sexo feminino, entre os 57 e 72 anos e ocorre com maior fre-
quência na pálpebra superior, provavelmente devido à presença de um número maior de
glândulas meibomianas. Em aproximadamente 10% dos casos é multicêntrico. É conheci-
do como um “grande mímico”, pois clinicamente pode simular uma doença inflamatória
(calázio, blefarite, blefaroconjuntivite) ou outros tumores (CBC, CEC) (Figuras 26.2 a 4).
Figura 26.3
Existem vários padrões morfológicos do CSeb (Figuras 26.6 e 7). A maior parte dos
casos se apresenta em ninhos distintos de células neoplásicas (variante lobular), ou grupos
grandes com eventual necrose central (comedocarcinoma). Um padrão papilar pode tam-
bém estar presente e ser proeminente, e combinações de qualquer um desses subtipos
morfológicos podem ocorrer (padrão misto).
Figura 26.7
Acomete os indivíduos de meia idade ou idosos, afeta ambos os lados da córnea, mais
comumente do lado nasal. Ele geralmente causa irritação, vermelhidão
A proteção dos olhos com óculos de sol, o uso de chapéu e lubrificação são a melhor
maneira de reduzir os sintomas. Colírios vasoconstritores e colírios ou pomadas lubrificantes
podem aliviar os sintomas. Porém, em alguns casos, o tratamento medicamentoso não é sufi-
ciente ou eficaz, e a remoção cirúrgica se faz necessária. Apesar de ser considerada uma lesão
benigna eventualmente ocorre recidiva ou a ocorrência de neoplasia intra-epitelial conjuntival.
A incidência varia de acordo com o país, de 0,1 casos por 100.000 por ano na África a
1,9 casos por 100.000 na Austrália. É a terceira lesão conjuntival mais comum em adultos
(após pterígio e nevo).
Na alta latitude norte afeta principalmente homens idosos, perto do equador homens
e mulheres são igualmente afetados em uma idade mais jovem. Acontece mais precoce-
mente e é mais agressivo em pacientes com xeroderma pigmentoso e HIV.
As lesões de NIC e carcinoma de células escamosas envolvendo o limbo devem ser ex-
cisadas com pelo menos uma margem conjuntival não envolvida de 3-4 mm. Uma margem
conjuntival grande é importante, pois o tecido aparentemente não envolvido clinicamente
ainda pode conter células displásicas. A crioterapia tem-se mostrado eficaz, ampliando
efetivamente as margens cirúrgicas. Margens positivas ou se houver alguma preocupação
com doença residual, a quimioterapia tópica pode ser usada após a excisão.
A taxa de recorrência de NIC após excisão cirúrgica pode ocorrer em mais da metade
dos casos e vários anos após a cirurgia.
Figura 26.9
Figura 26.12
Figura 26.13
Figura 26.15
O melanoma uveal é raro, com uma incidência que varia de 5-8 casos por milhão e
embora raro, é o câncer primário do olho mais comum em adultos.
De 30-50% dos pacientes com melanoma uveal irão desenvolver metástase em até 10
anos do diagnóstico, independentemente do tipo de tratamento aplicado sendo a sobrevi-
da média após a metástase de 6 a 12 meses.
Figura 26.17
Figura 26.19
Figura 26.21
Apesar do excelente controle local das metástases uveais com métodos de teletera-
pia, braquiterapia, quimioterapia, entre outros, com resultados visuais geralmente favorá-
veis, o prognóstico é bastante reservado sendo a sobrevida em 1 ano de 57%.
26.4 Retina
26.4.1 Retinoblastoma
Em 1971, Knudson descreveu o mecanismo de “double hit” para a gênese do tumor
em pacientes com retinoblastoma. Isto é, para o desenvolvimento da neoplasia é ne-
cessária a perda de função de ambas as cópias do gene responsável pelo desenvolvimento
normal da retina. O gene do retinoblastoma é chamado gene Rb, localizado no cromosso-
mo 13q14.2. A mutação inicial inativa uma cópia do gene. Essa mutação pode ocorrer em
células somáticas ou germinativas. A segunda mutação ocorre em células somáticas na
retina em desenvolvimento.
Se a primeira mutação ocorre nas células da linha germinativa, isto é, onde todas
as células do corpo carregam uma cópia mutada do gene do retinoblastoma, o paciente
apresenta a forma hereditária de retinoblastoma. Estes pacientes representam aproxima-
damente 40% de todos dos casos de retinoblastoma. Em 90% dos casos, isso representa
uma nova mutação sem histórico familiar de retinoblastoma. Essas crianças apresentam
retinoblastoma em idade mais jovem, o que é explicado pelo fato de todas as células já
terem o “primeiro hit” ou a primeira alteração. A herança germinativa (retinoblastoma he-
reditário) predispõe a tumores bilaterais e multifocais. Estes pacientes também têm um
risco significativamente maior de outros tumores secundários, incluindo tumores neuroec-
todérmicos primitivos no cérebro (os chamados “retinoblastoma trilateral”). Finalmente,
há uma chance de 45% de que seus filhos desenvolvam retinoblastoma, porque essa ca-
racterística é herdada de maneira autossômica dominante, com 90% de penetração. Por
isso a determinação do tipo de mutação, germinativa ou somática é importante para a
condução desses pacientes.
Figura 26.30
Figura 26.17
Figura 26.18
Figura 26.26
2. Pereira PR, Odashiro AN, Rodrigues-Reyes AA, Correa ZM, de Souza Filho
JP, Burnier MN Jr. Histopathological review of sebaceous carcinoma of
the eyelid. J Cutan Pathol. 2005;32:496-501.
6. Pereira PR, Odashiro AN, Lim LA, Miyamoto C, Blanco PL, Odashiro M,
Maloney S, De Souza DF, Burnier MN Jr. Current and emerging treatment
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7. Shields CL, Welch RJ, Malik K, Acaba-Berrocal LA, Selzer EB, Newman JH,
Mayro EL, Constantinescu AB, Spencer MA, McGarrey MP, Knapp AN,
Graf AE, Altman AJ, Considine SP, Shields JA. Uveal Metastasis: Clinical
Features and Survival Outcome of 2214 Tumors in 1111 Patients Based
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