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REVISTA DO CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS DE SAÚDE

VOLUME 46, NÚMERO ESPECIAL 7


RIO DE JANEIRO, DEZ 2022
ISSN 0103-1104

Políticas e práticas
de cuidado em
HIV/Aids: diálogos
interdisciplinares
SUMÁRIO | CONTENTS

117 Política sexual e ativismo de HIV/Aids: a 169 Profilaxia Pós-Exposição sexual no Sistema
experiência da Loka de Efavirenz Único de Saúde: cuidados possíveis na
Sexual politics and HIV/AIDS activism: the prevenção do HIV
experience of Loka de Efavirenz Post-sexual Exposure Prophylaxis in the Unified
Pisci Bruja Garcia de Oliveira, Júlio Assis Simões Health System: possible cares in HIV prevention
Sandra Lúcia Filgueiras
129 Mulheres jovens que nasceram com HIV:
comunicação da soropositividade aos 182 Construção e validação de instrumento para
parceiros avaliação do cuidado a prisioneiros que
Young women born with HIV: communication of vivem com HIV/Aids
seropositivity to partners Construction and validation of an instrument to
Clarissa Bohrer da Silva, Maria da Graça Corso da assess the care for prisoners living with HIV/AIDS
Motta, Renata Bellenzani, Crhis Netto de Brum, Aline Fernando Henrique Apolinario, Silvia Justina Papini,
Cammarano Ribeiro Wilza Carla Spiri

142 Percepções dos profissionais de linha de


frente da saúde sobre HIV e juventudes ENSAIO | ESSAY
Frontline health professionals’ perceptions about
HIV and youth 196 Vulnerabilidade, Cuidado e integralidade:
reconstruções conceituais e desafios atuais
Maria Izabel Sanches Costa, Gabriela Lotta, Juliana
para as políticas e práticas de cuidado em
Rocha Miranda, Laura Cavalcanti Salatino, Elisabete
HIV/Aids
Agrela, Maria Cristina Franceschini, Marco Akerman
Vulnerability, Care, and integrality: conceptual
reconstructions and current challenges for HIV/
157 ‘Se beber, não transe’: interrogando os
AIDS care policies and practices
discursos na oferta da Profilaxia Pós-
Exposição (PEP) José Ricardo Ayres
‘If you drink, do not have sex’: questioning
the discourses in the offer of Post-Exposure 207 Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década
Prophylaxis (PEP) da epidemia: lições da história social da Aids
Remaking HIV prevention in the 5th decade of the
Willian Nathanael Cartelli de Paula, Gustavo
epidemic: lessons from the social history of AIDS
Zambenedetti
Gabriela Junqueira Calazans, Richard Parker, Veriano
Terto Junior
ENSAIO | ESSAY 207

Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década


da epidemia: lições da história social da Aids
Remaking HIV prevention in the 5th decade of the epidemic: lessons
from the social history of AIDS

Gabriela Junqueira Calazans1, Richard Parker2,3, Veriano Terto Junior3

DOI: 10.1590/0103-11042022E715

RESUMO A chegada da 5ª década da epidemia de Aids sob o impacto da pandemia da Covid-19 trouxe
importantes desafios para a prevenção do HIV/Aids. Este ensaio buscou sistematizar as reflexões produzidas
em projeto desenvolvido pela Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids que conjugou debates sobre
o momento presente das respostas à epidemia com o resgate da história social da Aids e da prevenção.
Trata-se da história social da epidemia de Aids nos seus 40 anos e abordaram-se lições no campo da
prevenção relevantes para repensar a prevenção na 5ª década. Apresentam-se princípios ético-políticos
que fundamentaram respostas bem-sucedidas à Aids no Brasil, bem como apontam-se caminhos futuros,
recomendando abordagens a serem adotadas e um pacote mínimo de recursos preventivos de acesso
universal. Para evitar o desperdício da rica experiência acumulada ao longo da história social da Aids,
propõe-se valorizar e recuperar lições aprendidas ao longo da história da prevenção, como a articulação
de estratégias culturais e estruturais – fundamentadas em direitos e mobilização social – às estratégias
de prevenção biomédicas e comportamentais e a combinação dos conceitos de vulnerabilidade e de di-
reitos humanos, instrumentais para analisar os determinantes da epidemia e propor intervenções social
e culturalmente apropriadas.

PALAVRAS-CHAVE HIV. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Prevenção de doenças. Ciências


sociais. História.

ABSTRACT The arrival of the 5th decade of the AIDS epidemic under the impact of the COVID-19 pandemic
has brought important challenges for HIV/AIDS prevention. This essay sought to systematize the reflections
produced in a project developed by the Brazilian Interdisciplinary AIDS Association that combined current
debates on the responses to the epidemic with the rescue of the social history of AIDS and prevention. We
deal with the social history of the AIDS epidemic in its 40 years and address lessons in the field of preven-
tion that are relevant to rethinking prevention in the 5th decade. We present ethical-political principles that
underpin successful responses to AIDS in Brazil, as well as point out future paths, recommending approaches
to be adopted and a minimum package of preventive resources for universal access. To avoid wasting the
1 Universidadede São Paulo
(USP) – São Paulo (SP),
rich experience accumulated throughout the social history of AIDS, we propose to value and recover lessons
Brasil. learned throughout the history of prevention, such as the articulation of cultural and structural strategies
gajuca@usp.br – based on rights and social mobilization – with biomedical and behavioral prevention strategies and the
2 Columbia University – combination of the concepts of vulnerability and human rights, instrumental in analyzing the determinants
New York, United States. of the epidemic and proposing socially and culturally appropriate interventions.
3 Associação Brasileira
Interdisciplinar de Aids
KEYWORDS HIV. Acquired Immunodeficiency Syndrome. Disease prevention. Social sciences. History.
(Abia) – Rio de Janeiro
(RJ), Brasil.

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 46, N. Especial 7, P. 207-222, DEZ 2022
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Introdução Entretanto, a despeito do caráter social das


doenças e epidemias, chama a atenção como
A chegada da 5ª década da epidemia de Aids os discursos públicos sobre elas, cada vez mais,
sob o impacto da pandemia da Covid-19 trouxe exacerbam a responsabilização individual
importantes desafios para a prevenção do HIV/ diante da prevenção e do cuidado.
Aids. Na última década, fomos impactados por Nesse contexto crítico, impactado por re-
promessas frequentes do fim da epidemia de trocessos e distintas disputas discursivas no
Aids1. Contraditoriamente, no entanto, obser- campo da Aids, é urgente discutir os caminhos
vamos incrementos na prevalência de HIV, que a prevenção deve tomar nesta 5ª década.
especialmente entre jovens, e na mortalidade Diante desse desafio, a Associação Brasileira
por Aids2. A mobilização de tais expectativas Interdisciplinar de Aids (Abia) desenvol-
sobre o fim da epidemia relaciona-se, pelo veu o projeto ‘Combinando a Prevenção’,
menos parcialmente, com outra marca impor- no qual buscamos conjugar debates sobre
tante da última década: a existência crescente o momento presente das respostas à epide-
de um conjunto de recursos tecnológicos para mia com o resgate histórico da prevenção.
prevenção do HIV e tratamento da Aids. Não Tivemos, assim, como premissa o entendi-
obstante, o acesso a tais recursos permanece mento de que resgatar a história da epidemia
extremamente desigual, ocasionando uma é uma forma de conhecê-la, resguardar sua
distribuição díspar de infecções, adoecimento memória e aprender com as lições do passado
e mortes. para que possamos aprimorar o presente e ter
A excessiva ênfase nos recursos tecnoló- melhores perspectivas no futuro. Partimos do
gicos da prevenção tem mobilizado enfoque reconhecimento de que as grandes conquis-
predominantemente prescritivo e normativo, tas da resposta brasileira à epidemia foram a
fundado no discurso técnico, esvaziado de sen- ousadia e o sucesso da resposta social e política
tidos práticos e das inexoráveis conexões com à Aids5 e que essa resposta, na atualidade, não
a vida daqueles mais afetados pelo HIV/Aids. deve desperdiçar os aprendizados de quatro
Vivemos, nos últimos dois anos, sob o décadas de experiência com a epidemia de
impacto da pandemia da Covid-19, que difere Aids6. Compreendemos, dessa forma, que
da Aids nas formas de infecção e adoecimento, momentos críticos também se configuram
mas que compartilha inúmeras condições de como oportunidades para a reflexão crítica e
vulnerabilidade para infecções, adoecimentos a construção de novos caminhos.
e mortes, além do caráter pandêmico, como Buscamos sistematizar, neste ensaio, as
epidemia global. A pandemia da Covid-19 reflexões produzidas ao longo deste projeto.
repercutiu negativamente nos cuidados em Na primeira parte, procedemos a uma recupe-
saúde em geral, não sendo diferente no que ração da história social da Aids, identificando
tange ao HIV, ocasionando prejuízos no acesso os principais desafios das quatro décadas da
das pessoas a prevenção, testes diagnósticos epidemia de Aids e as lições aprendidas sobre
e serviços de saúde, como apontaram Mário prevenção. Na segunda parte, fazemos reco-
Scheffer e Caio Rosenthal3,4 em artigos opi- mendações para a prevenção do HIV e da Aids
nativos na ‘Folha de S. Paulo’. na 5ª década da epidemia.
Nossa experiência com a pandemia da
Covid-19 expôs incontáveis perdas e danos
compartilhados, reiterando nosso saber sobre Percurso metodológico
a dimensão coletiva das pandemias, tão caro
ao campo da Aids. Concomitantemente, expli- O projeto ‘Combinando a Prevenção’, desen-
citou o quão desigualmente distribuídos tais volvido pela Abia ao longo de 2021, envolveu
perdas e danos se dão em nossa coletividade. a realização de dois seminários nos quais

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foram feitas apresentações que revisitaram sua distribuição, tendendo a dar menor ênfase
diferentes aspectos das respostas à epidemia às questões sociais. Mesmo no caso da epide-
de Aids no Brasil. Também foi apresentada miologia social latino-americana, tradição que
uma sistematização da experiência da Abia aborda mais fortemente as questões sociais,
com a pedagogia da prevenção, que reuniu isso se dá por meio dos determinantes sociais
importantes aprendizados das trocas com os da vulnerabilidade perante o HIV/Aids. Neste
participantes de inúmeros eventos e atividades ensaio, procuramos examinar uma dimensão
realizados pela Abia. Tendo partido, ainda, da complementar, mas distinta: as diversas manei-
perspectiva de que o campo da Aids integra as ras em que a sociedade brasileira se mobilizou
respostas coletivas produzidas, articuladamen- e se organizou para enfrentar a epidemia. São
te com as comunidades, por ativistas, pesqui- os processos sociais e políticos desencadeados
sadores, profissionais e gestores, realizamos pela chegada do HIV/Aids, construídos ao
encontros com esses atores para ouvir lições longo das mais de quatro décadas da epidemia
da sua experiência. A partir das contribuições no País, que nos interessam.
dessas diferentes experiências, foi elaborado O segundo termo que queremos precisar é o
um documento de sistematização com reco- de ‘ondas’. Tratamos de ondas, aqui, no sentido
mendações para a prevenção na 5ª década da de Betinho: as ondas da resposta social9. Diante
epidemia de HIV/Aids7. da Aids como evento social, como a sociedade
se organiza, a cultura conceitua e a política
define estratégias para seu enfrentamento?
História social da epidemia Argumentamos, assim, que podemos identi-
de Aids ficar em cada uma das quatro décadas dos 40
anos de Aids um período distinto de respostas
Nesta seção, tratamos da história social da sociais à epidemia. Nomeamos esses períodos
epidemia de Aids, enfocando os diferentes como ondas, pois, como uma onda, é difícil
momentos da epidemia, desafios e respostas precisar exatamente quando uma começa e
ante a Aids nos seus 40 anos. Em seguida, outra termina10.
partimos desse pano de fundo histórico mais Tais ondas têm características demarcado-
geral para abordar lições especificamente no ras e, apesar de considerarmos períodos apro-
campo da prevenção, que nos dão pistas para ximados, há acontecimentos que as delimitam,
pensar prioridades para a prevenção na 5ª como indicado a seguir. De 1981, quando o
década que está se iniciando. primeiro caso de Aids foi diagnosticado pela
Queremos, inicialmente, enfatizar alguns medicina, até aproximadamente 1991, temos
aspectos importantes em relação à linguagem. uma primeira onda que pode ser descrita como
Quando falamos, neste artigo, em epidemia, ‘anos de crise’; marcada também por grande
estamos nos referindo a um evento social, e não resistência por parte das comunidades e popu-
simplesmente viral ou epidemiológico. Uma lações mais afetadas, que tinham que resistir
das primeiras lições de Betinho, um dos fun- não somente ao vírus, mas também ao estigma
dadores da Abia, na década de 1980, é que uma e à discriminação, bem como às políticas nem
epidemia é um evento social, um processo que sempre adequadamente delineadas ou efeti-
cria respostas sociais8. Em cada contexto, a so- vadas. Definimos o começo da segunda onda
ciedade conceitua o que é uma epidemia, lan- em torno de 1991, culminando em 2001 com
çando respostas de diferentes tipos. Devemos, a ‘Sessão Especial da Assembleia Geral das
portanto, atentar a essa resposta social para Nações Unidas sobre HIV/AIDS’ (Ungass) e a
entender uma epidemia. A epidemia de que Declaração de Doha. Esse período foi marcado
a epidemiologia trata pode restringir-se mais pelos esforços para constituir um movimen-
aos modos de transmissão, aos modos virais e to global contra a Aids. No meio dessa onda,

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houve o surgimento de tratamentos eficazes, ele em contextos extremamente diversos:


em 1996, quando se iniciou uma batalha para nos países industrializados da América do
assegurar acesso aos medicamentos para todos Norte e Europa Ocidental e em diversos
que precisavam, principalmente em países mais países em desenvolvimento econômico
pobres, mas também em comunidades pobres e social da América Latina, Ásia e África
em países ricos. A terceira onda ocorreu entre subsaariana.
2001 e 2011, nomeada de período de ampliação Em muitos países, incluindo o Brasil, essa
de escala (scale-up), começando com a Ungass e experiência configurou-se como uma crise
o estabelecimento da declaração de compromis- profunda, especialmente em comunidades
so dos países em enfrentar a epidemia e tornar gays, mas também em outras populações
os tratamentos acessíveis em escala mundial. marginalizadas e estigmatizadas, que foram
Ao longo dessa década, várias ações foram arti- rapidamente afetadas pela nova epidemia,
culadas e construídas, proporcionando gradu- como usuários de drogas e trabalhadoras
almente uma rebiomedicalização da epidemia, sexuais. Tratando-se de grupos marginali-
com fortes consequências até hoje. Por fim, zados e destituídos de poder social, foram
temos, de 2011 a 2020, a quarta onda, quando vistos como populações parcialmente
autoridades e instituições passaram a prome- ‘dispensáveis’ ou sem importância, o que
ter o possível ‘fim da Aids’. Não obstante, tal gerou atrasos, restrições e inadequações
narrativa tenha sido repetida inúmeras vezes, nas respostas.
não estamos mais perto do final da epidemia Houve, assim, uma ousada crítica à falta
ao término desta onda10. de ação por parte do poder público em
Nesse sentido, os 40 anos de Aids se encerram quase todas as sociedades, bem como forte
com uma decepção entre o que se pensou como resistência, proveniente desses grupos, ao
possível e o que de fato se alcançou. Mobilizam, estigma e à discriminação associados à Aids
assim, interrogações sobre a quinta onda, que se e à sexualidade, de forma que se constituí-
iniciou em 2020, tendo como marco a chegada ram respostas sociais e políticas no âmbito
da Covid-19. Se nossa experiência com a Aids dessas comunidades mais afetadas, fundadas
pode ser compreendida em ondas, a Covid- na resistência, na arte de cuidar e na prática
19 chegou como um tsunami pela rapidez e da solidariedade. Foi nesse contexto que
violência com que se impôs, derrubando tudo se deram a invenção do sexo seguro e as
à sua frente; levantando muitas dúvidas sobre experiências de ativismo cultural.
as respostas futuras no campo da Aids e sobre Aos poucos, também, já na segunda
a possibilidade do tão prometido ‘fim da Aids’. metade dessa década, começa alguma
Vamos caracterizar mais densamente essas inovação institucional, com a criação, no
ondas para situarmos o debate e, posterior- âmbito da sociedade civil, das primeiras
mente, apontarmos lições aprendidas sobre Organizações Não Governamentais de Aids
prevenção ao longo desta história. (ONG/Aids) e, nos espaços governamentais e
intergovernamentais, do primeiro Programa
Global de Aids da Organização Mundial da
A primeira onda: Saúde (OMS), de alguns programas estadu-
inventando a epidemia nos ais brasileiros11–13, em 1985, seguidos do pro-
grama nacional brasileiro, em 1986/1987. No
anos 1980 final dos anos 1980 no Brasil, deu-se início
à criação e à implantação do Sistema Único
Na primeira onda, a Aids teve que ser in- de Saúde (SUS), construindo um contexto
ventada. Foi preciso entender o que era esse institucional fundamental para a consoli-
vírus, desenvolver políticas para lidar com dação do enfrentamento da epidemia5,11.

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A segunda onda: O movimento global para o acesso ao tra-


construindo um movimento tamento iniciou-se em 1996. O Brasil foi o
primeiro país a disponibilizá-lo de forma uni-
global nos anos 1990 versal, conseguindo, em menos de seis meses
após o anúncio em Vancouver, aprovar a Lei
Coincidindo com o término da primeira onda e nº 9.31311,12,15, que garantiu o acesso a todos os
o início desse segundo momento da história da cidadãos que precisavam desses medicamen-
Aids, ocorreram importantes acontecimentos tos. Essa conquista impulsionou o movimento
no cenário global, como a queda do muro de global para que outros países pudessem seguir
Berlim e a reestruturação mundial pós-Guerra o mesmo caminho. Foi crucial nesse processo
Fria, com menor militarização e maior desen- a inclusão dos princípios dos direitos humanos
volvimento humano. Dessa forma, os anos 1990 como norte, compreendendo o acesso ao trata-
configuraram-se como um período de inovações. mento como intrínseco ao direito fundamental
No Brasil, aconteceu a primeira eleição à saúde8,11,12,16.
direta para presidente, após o período de
redemocratização, com inúmeras mudanças
políticas e sociais10,11. Ao longo dos anos 1990, A terceira onda: aumento
o movimento global de Aids foi construído e da escala da resposta global
consolidado. Houve a criação de instituições
e respostas, tanto em nível nacional quanto
ante a epidemia nos anos
internacional. Em 1996, foi criado o ‘Programa 2000
Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids’
(Unaids) como uma nova organização multi- O evento que marcou o início dessa onda foi
lateral, que reuniu mais de dez agências da a Ungass, primeira vez em que a Assembleia
Organização das Nações Unidas (ONU) para Geral da ONU organizou uma sessão especial
responder conjuntamente à Aids em nível sobre uma questão de saúde, resultando na
global. O Programa Nacional tornou-se mais Declaração de Compromisso, por meio da qual
robusto, a partir de 1994, com os primeiros em- os 189 países signatários se comprometeram
préstimos do Banco Mundial negociados pelo em enfrentar a Aids. Poucos meses depois,
governo brasileiro, ampliando massivamente foi assinada a Declaração de Doha – ‘Acordo
a resposta ante a epidemia no Brasil. Houve sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
também importante incremento no número Intelectual relacionados ao Comércio’ (Acordo
de ONG/Aids em função do financiamento Trips e Saúde Pública) –, estabelecida no
governamental para apoiar ações da sociedade âmbito da Organização Mundial do Comércio,
civil, passando de algumas dezenas para mais abrindo exceções às regras de propriedade
de 400 organizações nessa década11,12,14. intelectual em casos de emergência de saúde
Em 1996, durante a Conferência pública (como na Aids). O Brasil teve um papel
Internacional de Aids, realizada em Vancouver, diplomático muito importante nas negociações
foi anunciado o sucesso de pesquisas com que resultaram nessas declarações17.
novos medicamentos antirretrovirais usados No curto espaço de tempo entre a assinatura
em combinação, vindo a permitir o tratamento dessas duas declarações, em 11 de setembro de
eficaz para a Aids. Contudo, em função dos 2001, houve o ataque às Torres Gêmeas nos
altos preços dos medicamentos, abriu-se um Estados Unidos, acontecimento social que
grande dilema para o mundo, pois o tratamento marcou uma nova fase de remilitarização das
só estaria disponível para pessoas ricas em relações internacionais, encerrando o enfoque
países ricos se não fossem criadas políticas dado ao desenvolvimento nos anos 1990. Ainda
para garantir o acesso9. assim, o mundo caminhou para o aumento

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da escala global da resposta ante a epidemia, Segundo esses críticos1,19,20, o discurso do


buscando ampliar o acesso ao tratamento, por ‘fim da Aids’ encobriu uma realidade dura e
meio de grandes iniciativas de saúde global, difícil. Em meados da década de 2010, pouco
como o Fundo Global de Luta contra a Aids, mais de metade das Pessoas Vivendo com
Tuberculose e Malária, o Plano de Emergência HIV/Aids (PVHA) tinham acesso aos me-
do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio dicamentos. Outra parcela significativa de
da Aids (PEPFAR), entre outros9. PVHA, especialmente de países mais pobres,
Ao longo desse período, também houve só tinham acesso a ‘medicamentos de segunda
a consolidação e a descentralização do classe’, ou seja, antirretrovirais mais antigos e
chamado ‘modelo brasileiro’, caracteriza- mais baratos, mas que têm efeitos colaterais
do pelo acesso universal ao tratamento, a mais numerosos e mais sérios do que as novas
fundamentação nos princípios dos direitos gerações de medicamentos. Mesmo países
humanos e a incorporação da prevenção com suposto acesso universal aos medica-
do HIV ao SUS5,11. Isso trouxe um grande mentos, como o Brasil, tinham altas taxas
sucesso ao Brasil no enfrentamento da epi- de mortalidade nessa década2. Além disso,
demia, que já contava com o acesso ao tra- havia falta de acesso à prevenção em todos os
tamento. A descentralização e a integração países, pelo menos se considerada como um
de diversas ações ao SUS configuraram-se direito de todos, e não privilégio de alguns12.
como grandes conquistas nesse período, Insumos como a Profilaxia Pré-Exposição
valorizando de forma ímpar o princípio da (PrEP), que surgiu nessa década, têm acesso
integralidade como um critério essencial restrito a alguns segmentos populacionais,
para a operacionalização do SUS18. Durante sendo bastante limitado mesmo no conjunto
essa década, começou a surgir uma certa desses grupos20.
rebiomedicalização das respostas diante No Brasil, essas tendências globais convive-
da epidemia. Com o sucesso do tratamento, ram com dificuldades políticas e ideológicas
pela primeira vez, foi possível imaginar uma adicionais: o surgimento de forte movimento
resposta biomédica efetiva ante a Aids, o que conservador ao longo dos anos 2010, articulado
se aprofundou de diferentes maneiras com ao fortalecimento de políticas de austeridade
a onda que estava se iniciando9. e de retirada de direitos sociais, com o conse-
quente desmonte de muitos componentes dos
programas governamentais6,11. Enfrentamos
A quarta onda: prometendo significativa redução do financiamento para
o fim da Aids nos anos 2010 as ONG/Aids nesse período, também marcado
por certa fragmentação do consenso sobre o
A nova onda, no começo dos anos 2010, foi ‘modelo brasileiro’11. Houve, além disso, forte
marcada pela promessa do ‘fim da Aids’ e a ênfase às respostas biomédicas marcadas por
mobilização de muita esperança. Esse discurso uma perspectiva individualizante20, em que a
foi articulado pelas lideranças e instituições prevenção é conceituada e construída menos
responsáveis por coordenar a resposta global como uma prática comunitária ou coletiva
ante a epidemia e adotado como meta alcançá- do que uma prática individual do paciente
vel pela ONU até 2016; tendo sido importante sob orientação médica, o que pode ter sido
para inspirar diversas organizações multilate- reforçado no contexto de crescimento do con-
rais, mas também iniciativas bilaterais, como servadorismo no País. Ao final dessa década,
o PEPFAR estadunidense sob o mote de uma a chegada da nova pandemia da Covid-19, em
‘geração livre da AIDS’. Contudo, ativistas e 2020, já encontrou um contexto fragilizado
pesquisadores começaram a questionar esse de respostas à Aids e teve grande impacto
otimismo1,19,20. flagrante sobre ele.

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Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década da epidemia: lições da história social da Aids 213

A quinta onda: a Aids A primeira característica demarcadora da


nos anos 2020 depois do prevenção na primeira onda da epidemia,
nos anos 1980, é que as primeiras iniciativas
tsunami da Covid-19 bem-sucedidas de prevenção quase sempre
se constituíram como respostas comunitá-
A partir de 2020, com a chegada da Covid-19, a rias, sobretudo daqueles grupos mais afetados
Aids perdeu a sua prioridade como a epidemia pela epidemia, como gays, pessoas usuárias
global (ou pandemia, na linguagem que a OMS de drogas injetáveis e trabalhadoras sexuais.
usou para descrever a Covid-19) mais importante Um segundo aspecto importante a ser re-
do século XXI, o que mobiliza nossa reflexão. conhecido é o caráter cultural das abordagens
Significou, também de certa forma, o término bem-sucedidas de prevenção, fortemente en-
da narrativa do ‘fim da Aids’. O Unaids ainda raizadas nas realidades das comunidades mais
manteve, parcialmente, essa narrativa em seu afetadas. A invenção do sexo mais seguro – a
lema para as celebrações do Dia Mundial de promoção de práticas sexuais que minimizam
Luta contra a Aids de 2021: ‘Acabar com as de- os riscos de transmissão do HIV, o que, além
sigualdades. Acabar com a AIDS. Acabar com as da camisinha, inclui estratégias como o sexo
pandemias’. Porém, de alguma forma, reconheceu sem penetração, a masturbação compartilhada,
que não se trata de um fim facilmente atingível a adoção do sexo oral ao invés do sexo anal
como prometido ao longo da década anterior. Há ou vaginal, a tomada de decisões sobre po-
inúmeras dificuldades para a resposta global, e sições (ativo/passivo) e as práticas com base
os recursos anteriormente existentes para a Aids no status sorológico para HIV e outras formas
já não estão mais garantidos. de segurança negociada – se deu inicialmente
Concorrentemente, a Covid-19 reforçou as em diferentes comunidades homossexuais ao
apostas sociais na biomedicina como fonte de redor do mundo. Posteriormente, quando se
respostas efetivas a epidemias, com o desenvol- identificou a relevância da transmissão he-
vimento de vacinas em velocidade impensável terossexual na África, as comunidades locais
quando comparado ao insucesso das vacinas também responderam com seus programas de
contra o HIV após 40 anos de epidemia. Por sexo mais seguro ancorados culturalmente.
outro lado, o negacionismo do conhecimento Da mesma forma, a redução de danos foi um
científico básico (especialmente por parte de conceito elaborado pelos usuários de drogas e
muitos líderes políticos) teve impactos pro- pelas pessoas envolvidas em fornecer serviços
fundos em diferentes contextos da Covid-19 de saúde para eles em um nível comunitário.
ao mesmo tempo que a dura realidade da epi- Esses conceitos não foram inventados por es-
demia de Aids, já experimentada na década pecialistas em universidades ou Ministérios
passada, continuou a se agravar. da Saúde, mas nas comunidades afetadas em
profunda articulação com seus valores e reali-
dades culturais; e somente depois, aos poucos,
Mapeando a prevenção do outras instâncias começaram a se envolver. Um
HIV na história social da dos primeiros cartazes de que se tem conhe-
cimento no Brasil, por iniciativa do Grupo de
epidemia de Aids Apoio à Prevenção da Aids (Gapa-SP), intitu-
lado ‘Transe numa Boa’ (1985), foi criado por
Tendo como pano de fundo essa história social um artista da comunidade gay e usado para
da epidemia de Aids, apontamos algumas fazer a prevenção comunitária e a promoção
lições aprendidas sobre a prevenção do HIV/ de sexo mais seguro em nível comunitário21.
Aids, relevantes para pensarmos sobre a 5ª As primeiras campanhas de mobilização
década da epidemia. social e política para a prevenção surgiram na

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214 Calazans GJ, Parker R, Terto Junior V

segunda metade dos anos 1980. Um exemplo social e programática; e a noção de ‘grupos
que merece destaque é a campanha pelo con- de risco’ foi criticada de forma contundente.
trole do sangue, cujo lema foi ‘Salve o Sangue A proposição do conceito de vulnerabilidade
do Povo Brasileiro’, na qual a Abia esteve ocorreu no cenário internacional original-
muito envolvida por causa de Betinho e de mente no livro ‘AIDS in the world’, publicado,
seus irmãos, dado o grande impacto dos bancos em 1992, por iniciativa da Coalizão Global
clandestinos de sangue, não fiscalizados, para de Políticas contra a Aids e organizado por
as pessoas vivendo com hemofilia. Tratou- Jonathan Mann, Daniel Tarantola e Thomas
se de uma grande mobilização que acabou Netter23. No Brasil, a Abia publicou uma tra-
resultando na proibição da comercialização dução parcial no livro ‘A Aids no Mundo’, em
de sangue e hemoderivados na Assembleia 199324. A noção de vulnerabilidade encontrou
Constituinte, em 1988, bem como no esta- ampla receptividade por aqui, tanto pelo con-
belecimento do controle público sobre esse texto social e político da redemocratização
setor. Não obstante, essa campanha foi ini- como pela ação e pelas reivindicações de dis-
ciada alguns anos antes e mobilizou inúmeras tintos movimentos sociais em suas lutas por
parcerias dos ativistas de Aids com os mili- direitos25. Posteriormente, contribuições dos
tantes da reforma sanitária, ensinando-nos campos da medicina social e da saúde coletiva
sobre o caráter eminentemente político da brasileiras possibilitaram seu adensamento
prevenção, que só pode se efetivar com forte conceitual, assegurando relevante centrali-
mobilização social e política. A disponibili- dade, acadêmica e política ao conceito25. A
dade de recursos técnicos, como o teste para Abia, por sua vez, desenvolveu reflexões e
detecção do HIV nos bancos de sangue, não análises concebendo a vulnerabilidade social
era suficiente para assegurar o controle da como uma forma de violência estrutural26.
transmissão sanguínea do vírus. Foi essencial Teve início, assim, a teorização do que se
intensa articulação política juntamente com tinha aprendido com a campanha para o con-
vigorosa mobilização social para assegurar a trole do sangue, compreendendo de que forma
tomada de decisão política sobre o necessário intervenções estruturais poderiam enfrentar
controle público desse setor. O controle do os determinantes sociais da vulnerabilidade e
sangue configurou-se como uma das primeiras da violência estrutural27 com base no conceito
intervenções estruturais, que dependeu do e na prática dos direitos humanos. O desenvol-
estabelecimento de uma legislação e de uma vimento desse referencial teórico-conceitual
série de políticas públicas, para assegurar o na prevenção foi uma grande inovação concei-
controle efetivo da transmissão da infecção tual, pois as concepções sobre epidemia e os
do HIV por meio de transfusão de sangue e seus motores são fundamentais para definir o
de outros hemoderivados11,22. que é necessário para confrontá-la.
Na segunda década da epidemia, nos anos A proposição da noção de intervenção es-
1990, também surgiram novidades que valem trutural contra a vulnerabilidade foi sendo
a pena sinalizar. Pela primeira vez, interven- arquitetada em meados da segunda década
ções comportamentais fundadas em teorias da epidemia, quando o acesso a medicamen-
da psicologia foram articuladas para tentar tos eficazes começou a surgir. Rapidamente,
ensinar como reduzir, ou melhor administrar, compreendeu-se que a existência dos medi-
os riscos de infecção. O próprio conceito de camentos não teria significado e efetividade
risco foi questionado nessa década como caso não houvesse acesso. Entretanto, para
fundamento para a prevenção. Nesta revisão assegurá-lo, era necessário enfrentar a vulne-
crítica, o conceito de vulnerabilidade foi arti- rabilidade social e a violência estrutural, que
culado como uma alternativa à ideia de risco impunham barreiras ancoradas em diferenças
individual, dando destaque às dimensões de geografia, realidade socioeconômica, entre

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Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década da epidemia: lições da história social da Aids 215

outros marcadores sociais tornados em desi- sobre a prevenção, já que os princípios da


gualdades. Assim, a luta pelo acesso universal redução de danos – de ênfase nas pessoas e
ao tratamento antirretroviral foi concebida suas reais possibilidades de ação e contextos
também como uma mobilização social para de vida, não julgamento e redução de danos e
garantir, social e politicamente, o acesso como riscos –funcionam tão bem no campo sexual
uma realidade no contexto dessa segunda onda quanto no do uso de drogas.
da epidemia. Com essa crescente biomedicalização, no
No início da terceira onda, houve gradual final da terceira onda, começou-se a observar
ampliação de escala do acesso ao tratamento gradual despolitização das campanhas de pre-
como fruto da Declaração de Compromissos venção, o que mobilizou grande preocupação
da Ungass. A criação das iniciativas globais, dos diferentes atores no campo da Aids32 e
que contaram com milhões de dólares para levou o Unaids33 a desenvolver e publicar um
fomentar o acesso aos medicamentos, foi dos primeiros textos sobre prevenção combi-
uma grande conquista. O questionamento da nada. Dessa forma, a transição entre a terceira
propriedade intelectual e das leis que impu- e a quarta onda se deu em meio à apreensão
nham barreiras em função das patentes foi diante da ênfase dada à prevenção biomédica
também pauta importante no campo nessa e ao reconhecimento da necessidade de frear
terceira década. Houve muitos avanços na esse processo para não perder a relevância
incorporação do princípio da universalidade das outras formas de prevenção. Sobretudo
do acesso no âmbito dos sistemas de saúde no no âmbito da prevenção combinada, a preven-
Brasil e em países servidos por essas grandes ção comportamental e a prevenção estrutural
iniciativas globais. foram vistas como alternativas importantes,
Esse período foi marcado ainda pelo sur- que poderiam ser utilizadas juntamente com
gimento das primeiras formas de prevenção a biomedicina.
biomédica. Entre aproximadamente 2005 e É importante destacar, entretanto, que a
2010/2011, a cada ano, novas ideias foram sur- prevenção combinada, apesar de algumas van-
gindo no campo biomédico, como a circuncisão tagens, tem importantes limites, especialmente
masculina28, o Tratamento como Prevenção como foi articulada pelas instituições oficiais.
(TcP)29, a Profilaxia Pós-Exposição (PEP)30, Sua proposição configurou-se como uma ten-
as primeiras pesquisas sobre microbicidas e a tativa de não restringir a prevenção somente às
PrEP31. Até mesmo a camisinha, que nos anos abordagens biomédicas, mostrando-se assim
1980 tinha sido promovida pelas comunidades como um esforço de resgate das dimensões
gays como uma maneira de sexo mais seguro – estruturais e comportamentais da prevenção.
continuar fazendo sexo, sem perder o prazer Contudo, as concepções vigentes da prevenção
ou se abster –, ou seja, como um dispositivo combinada nunca reconheceram as dimensões
da prevenção comunitária, foi repensada e comunitárias e culturais da prevenção, des-
empacotada como uma barreira biomédica. considerando importantes aprendizados da
Chama a nossa atenção, no entanto, como, primeira década da epidemia como se pode ob-
ao longo desse período, a redução de danos servar nos documentos do Unaids33 e na forma
perdeu força no Brasil apesar de continuar como tem se dado sua adoção34. O conceito
sendo usada de forma muito efetiva em outros de prevenção combinada também não con-
países. Vale a pena questionar por que saiu seguiu escapar a uma perspectiva técnica (ou
de nossa prioridade. Compreendemos que, até tecnicista) da prevenção, não valorizando
no contexto da guerra contra as drogas no sua dimensão política. A mobilização social e
País, foi muito difícil manter essa política. a política têm sido ignoradas como estratégias
Entendemos, no entanto, que suas lições con- de prevenção, mas sabemos terem sido funda-
tinuam sendo importantes para refletirmos mentais em experiências anteriores35, como

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216 Calazans GJ, Parker R, Terto Junior V

no controle do sangue e na garantia do acesso saúde, como Covid-19, monkeypox e uma série
universal ao tratamento, de forma que não de outras condições crônicas e transmissíveis.
existiria TcP, um dos pilares da prevenção bio- Enfim, a prevenção combinada pode articu-
médica, se não tivesse ocorrido anteriormente lar não só abordagens para enfrentar a Aids,
a luta política travada por ativistas e aliados mas – considerando o caráter sindêmico que
para garantir acesso como um princípio de di- combina vulnerabilidades igualmente à Covid-
reitos humanos para todos. Compreendemos, 19, à tuberculose, ao HIV e a outras – também
assim, que as dimensões cultural, comunitária, combinar a prevenção de outras condições
política e social precisam ser reenfatizadas no de saúde. Nesse sentido, é um conceito que
âmbito da prevenção combinada. apresenta vantagens e não deve ser despre-
Por fim, a prevenção combinada não tem zado, mas é importante superar os limites das
contemplado adequadamente as preocupações perspectivas vigentes e empobrecedoras da
relacionadas com as metodologias de trans- prevenção combinada39. Para evitar o desper-
missão de conhecimentos sobre prevenção. dício da rica experiência acumulada ao longo
Abordagens pedagógicas construcionistas, que da história social da Aids, é preciso valorizar
possibilitem a construção conjunta de conhe- e recuperar as lições aprendidas ao longo da
cimentos sobre prevenção, não têm integrado história da prevenção.
os modelos de como colocá-la em prática. Pelo
contrário, a prevenção tem adotado pedago-
gias caracterizadas, pela educação popular Recomendações para
brasileira e latino-americana, como ‘educação que possamos refazer a
bancária’36, tratando os destinatários das po-
líticas de prevenção como contas bancárias
prevenção do HIV na 5ª
vazias, nas quais os especialistas depositam os década
conhecimentos ‘corretos’. Nessa perspectiva,
se as pessoas seguissem as orientações dos Como produto deste projeto, foi elaborado
especialistas, tudo daria certo. Diferentemente um documento7 para ampla disseminação,
do que se fez no âmbito do tratamento com que sistematizou os aprendizados derivados
as pedagogias de tratamento em discussão da experiência compartilhada das respostas
desde o começo das políticas de acesso, não à Aids no Brasil e as recomendações para a
tem havido esforços de criação de uma pedago- prevenção na 5ª década. Nele, arrolamos os
gia adequada à prevenção, o que traz grandes princípios éticos e políticos que fundamentam
dificuldades para que a prevenção combinada as experiências bem-sucedidas de políticas de
possa avançar37,38. Aids no País:

• defesa dos direitos humanos;


Como podemos refazer e
repensar a prevenção na • reconhecimento da solidariedade como
modo de compreensão e de enfrentamento
quinta década da epidemia? dos determinantes da epidemia;

Há algumas lições que podem ser sinaliza- • respeito à autonomia;


das. A ideia de prevenção combinada continua
oferecendo um quadro conceitual útil para • abordagem aberta, positiva e não repressi-
pensar a 5ª década da epidemia, até porque já va da sexualidade e do uso de drogas;
está explicitado que a Aids vai conviver com
a prevenção de outras doenças e agravos de • reconhecimento da mediação pelos

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Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década da epidemia: lições da história social da Aids 217

contextos sociais das práticas – sexuais, de uso efetivamente fazendo, pensando e falando;
de drogas, de prevenção e cuidado –, de forma valorizando a escuta sobre conhecimentos,
que sua transformação dependa de ações sentidos e significados e práticas; reconhe-
integradas intersetoriais e interdisciplinares; cendo a dimensão comunitária da prevenção;
mobilizando redes de profissionais de saúde
• compreensão de que desigualdades, injus- e de atores da sociedade civil; e
tiças sociais e processos de estigmatização e
discriminação configuram-se como relações • a redução de vulnerabilidades, que atribui
de poder e devem ser enfrentados; e centralidade à dimensão social, em seu
caráter estrutural – como iniquidades, pro-
• gestão participativa que articula as pró- cessos de discriminação e estigmatização –,
prias comunidades afetadas, ativistas, es- bem como aos princípios de direitos humanos
pecialistas, gestores e pesquisadores na e justiça social buscando assegurar a rees-
construção, desenvolvimento e controle das truturação da prevenção combinada, sem
respostas político-institucionais ante a aids. abandonar as outras dimensões.

Para defrontar os desafios da 5ª década A adoção do referencial teórico da vulnera-


da epidemia de HIV/Aids, recomendamos bilidade e dos direitos humanos provê meios
submeter a linguagem e os conceitos que para compreender os aspectos comportamen-
orientam as ações de prevenção à contínua tais da prevenção (dimensão individual), anco-
reflexão crítica, buscando explicitar suas in- rados nas relações com os contextos materiais
terfaces com as relações de poder38. Nesse e culturais das pessoas e das comunidades
sentido, para superar os limites das concepções afetadas (dimensão social) e com políticas,
vigentes de prevenção combinada, é preciso programas, serviços e recursos disponíveis
articular estratégias culturais e estruturais – nesses contextos (dimensão programática)40.
fundamentadas em direitos e na mobilização Com tais fundamentos, compilamos o
social – às, já convencionadas, estratégias de conjunto de recomendações articuladas no
prevenção biomédicas e comportamentais. A âmbito do projeto e as organizamos segundo
combinação dos conceitos de vulnerabilidade as dimensões da vulnerabilidade – individual,
e de direitos humanos tem se mostrado instru- social e programática24,41:
mento relevante para orientar análises sobre os
determinantes da epidemia e a proposição de 1. Na dimensão individual, levando em conta
intervenções sociais, por meio da incorpora- as possibilidades de exposição ao HIV por
ção de abordagem interseccional, que articule meio das práticas sexuais e de uso de álcool
gênero, raça, sexualidade, classe, território. e drogas, é premente:
Diante dos esforços por imprimir maior
precisão à linguagem que orienta a prevenção • assegurar maior grau e qualidade da
e não desperdiçar a experiência que constitui informação, por meio de ações de comu-
o sucesso da resposta brasileira, postulamos nicação em saúde em diferentes meios
que as políticas de prevenção devem se ancorar (impresso, rádio, internet e redes sociais),
em duas abordagens centrais: reconhecendo o acesso limitado à internet e,
assim, a relevância dos meios tradicionais e
• a redução de riscos, que toma em conta daqueles disponíveis nos serviços de saúde;
o que é possível às pessoas em suas vidas;
atentando aos seus diferentes momentos e • considerar as diferentes capacidades de
relações; não enfatizando somente as dimen- elaborar as informações disponíveis e as
sões normativas, mas o que as pessoas estão incorporar aos repertórios cotidianos de

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218 Calazans GJ, Parker R, Terto Junior V

preocupações, bem como de transformá-las e cientificamente informada sua preven-


em práticas protegidas e protetoras; ção, conforme suas necessidades, situação
afetiva, fase de vida e seus projetos de
• reconhecer o aspecto relacional da co- felicidade42;
municação, de forma a assegurar espaços
de escuta e fala para pessoas e comunidades • mensagens ousadas de prevenção, que ex-
afetadas, sem discriminações. plicitem a dimensão do desejo e do prazer;

2. Na dimensão social, enfocamos aspectos • espaços compartilhados e comunitários


sociais, políticos, econômicos e culturais que de escuta e diálogo sem julgamentos morais,
constrangem as práticas individuais e insti- para que as pessoas possam falar das suas
tucionais, sendo imprescindível: dificuldades com a prevenção, trocar co-
nhecimentos e construir juntas invenções
• construir alianças com diferentes movi- comunitárias para superar tais dificuldades;
mentos e segmentos sociais para mobilizar
contextos socioculturais abertos, positivos • acolhimento e aconselhamento que
e não repressivos à sexualidade e ao uso proporcionem avaliação de risco e de
de drogas; vulnerabilidade nas práticas sexuais e de
uso de álcool e drogas, para subsidiar as
• promover mobilização comunitária e escolhas dos recursos preventivos e apoiar
debate público sobre prevenção, sexo mais sua adesão a eles e ao seguimento clínico
seguro e redução de danos; adequado e conveniente;

• salvaguardar marcos legais e políticas • um pacote mínimo e universal de recursos


sociais que garantam o reconhecimento e preventivos para todas as pessoas que preci-
os direitos das comunidades mais afetadas, sem e queiram, que disponha de: informações
combatam à discriminação e à intolerância sobre sexo mais seguro, redução de danos e
e não criminalizem a transmissão do HIV; prevenção combinada; camisinhas (interna
e externa); gel lubrificante; kit de redução de
• fomentar estratégias de mobilização danos; testes para HIV e as demais Infecções
social, cultural e política para construir Sexualmente Transmissíveis (IST); PrEP (oral
ambientes sociais e culturais livres de es- e injetável) e PEP; vacinas para hepatite B
tigmas associados à sexualidade, ao uso de e HPV (Covid-19 e monkeypox); acesso ao
drogas, aos jovens e à soropositividade para diagnóstico oportuno e à terapia antirretro-
HIV e outras condições. viral, assegurando o TcP e a prevenção da
transmissão vertical;
3. Na dimensão programática, compreen-
dendo que a vida das pessoas é mediada por • ações de prevenção fundamentadas no
instituições sociais – como serviços de saúde, princípio da equidade, que articulem ao
escolas, locais de trabalho, entre outras –, é menos sexualidade, gênero, raça, classe e
importante que elas assegurem a oferta e o território como marcadores importantes do
acesso a: acesso e da adesão aos recursos preventivos;

• intervenções preventivas adequadas • acolhimento para jovens em espaços


culturalmente e negociadas com as co- amigáveis, que conjuguem o diagnóstico,
munidades, que reconheçam a autonomia a prevenção e o tratamento no mesmo
das pessoas para escolher de forma livre momento, de forma a ampliar os cenários

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Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década da epidemia: lições da história social da Aids 219

de acesso, por meio da adoção de estratégias o documento de sistematização7, esperamos


de educação entre pares e articulação com que possa se constituir em uma ferramenta
a comunidade local; a ser utilizada por atores da sociedade civil
e operadores locais da política de saúde e de
• PEP e PrEP, de forma simplificada e uni- outras políticas intersetoriais, espalhados pelo
versal, distinta da prescrição de tratamento País para promover diálogos, reencantar a ima-
para HIV e disponível também na atenção ginação e favorecer a incidência política sobre
básica; planejamentos locais, municipais e estaduais.

• redes de apoio social para aqueles a quem


se dirigem as ações de prevenção, que con- Agradecimentos
frontem o estigma – sobre os jovens, a se-
xualidade, o HIV, a Aids e outras condições Aos participantes de diversos grupos de discus-
– e mobilizem articulações intersetoriais. são realizados para apoiar a construção deste
texto: Alexandre Grangeiro, Carlos Duarte,
Para reduzir vulnerabilidades e enfrentar Cláudia Santamarina, Cristina Pimenta, David
os determinantes da violência estrutural, é Oliveira, Denize Lotufo, Inês Dourado, Jorge
preciso favorecer e mobilizar capacidades de Beloqui, Juan Carlos Raxach, Marcelo Jardim,
respostas. Para isso, é necessário criar uma pe- Márcia Lima, Maria Inês B. Nemes, Maria
dagogia da prevenção37,38 dialógica, fundada na Letícia Ikeda, Nêmora Barcellos, Rafael Sann,
educação popular e que disponha de metodo- Ronaldo Hallal, Sílvia Aloia, Simone Monteiro,
logias que permitam construir conjuntamente Thiago Torres, Vagner de Almeida e Vera Paiva.
– entre técnicos, pessoas e comunidades para Aos membros da equipe da Abia pelas suas
quem se dirige a prevenção –, de forma a pro- contribuições ao longo deste processo.
porcionar autonomia e liberdade de escolha Aos participantes das atividades (rodas de
sobre os recursos preventivos mais conve- conversa, capacitações e seminários) reali-
nientes a cada pessoa que deles precise41,43. zadas pela Abia com temáticas de relevância
direta para o conteúdo deste documento.

Considerações finais
Colaboradores
Tomamos como inspiração, neste projeto,
respostas culturais e sociais à epidemia de Calazans GJ (0000-0003-2414-1281)* e Parker
HIV/Aids que já mobilizaram transformações R (0000-0003-3796-0198)* contribuíram para
profundas na sociedade brasileira. Apostamos concepção e delineamento; redação do artigo;
que as lições aprendidas com esta experiência e aprovação da versão a ser publicada. Terto
acumulada podem contribuir para a reinven- Junior V (0000-0002-4446-9914)* contri-
ção da prevenção no contexto crítico da 5ª buiu para concepção e delineamento; revisão
década da epidemia, fortalecendo ações e crítica; e aprovação da versão a ser publicada. s
políticas integradas ao SUS. Ao elaborarmos

*Orcid (Open Researcher


and Contributor ID).

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wp-content/uploads/2015/11/PolicyBrief_portugues_
jan2016.pdf.
Recebido em 11/05/2022
Aprovado em 14/09/2022
Conflitos de interesses: inexistente
38. Parker RG, Perez‐Brumer A, Garcia J, et al. Preven-
Suporte financeiro: projeto desenvolvido com o apoio do
tion literacy: community‐based advocacy for access Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções
Sexualmente Transmissíveis, do Ministério da Saúde (DCCI/MS)
and ownership of the HIV prevention toolkit. J. int.
aids soc. 2016 [acesso em 2022 maio 9]; 19(1):21092.
Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/
full/10.7448/IAS.19.1.21092.

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