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Amboni (2002, p. 5) relata que: [...] as bibliotecas precisam de pessoas com atitudes,
conhecimentos e habilidades necessárias para tornar a estratégia uma realidade, bem
como enfatizar que os recursos humanos da biblioteca devem estar ligados à sua
estratégia de serviços, da mesma forma que a estrutura da organização e a tecnologia.
Para Castells (1999, p.25) apud Rocha e Dias (2005) “a tecnologia é a sociedade e a
sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas
tecnológicas”. Lojkine (1999, p.7) apud Rocha e Dias (2005), por sua vez, diz que a
Revolução tecnológica trouxe “o surgimento de uma civilização não mais dividida
entre aqueles que produzem e os que comandam, mas entre aqueles que detém o
conhecimento e os que são excluídos deste exercício”.
Valentim (2000, p.138-139) apud Rocha e Dias (2005), faz uma colocação muito
importante para todos os profissionais da atualidade:
Segundo Blattmann; Fachin; Rados (1999, p.10) apud Rocha e Dias (2005), na
Biblioteconomia existe uma preocupação por parte dos cursos, departamentos e
associações de classe em promover a educação continuada e permanente de seus
profissionais. Assim, ainda em Valentim (2000, p. 140) apud Rocha e Dias (2005),
observamos que: a atualização contínua do profissional da informação, assim como
de qualquer outro profissional que queira ser competente e dinâmico – é
fundamental. A formação obtida na graduação é absolutamente necessária, é alicerce
na formação deste profissional, na medida em que o indivíduo aprende a relacionar
a teoria e a práxis antes de atuar no mercado de trabalho.
A origem do termo competência vem da palavra latina competens que significa “o que
vem com”, “o que é adaptado” (MOURA et al., 2009). Os pesquisadores Fleury e
Fleury (2000, p. 21) elaboram um conceito de competência como “[...] um saber agir
responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,
recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo”, definição ilustrada na Figura 1.
As bibliotecas têm como objetivo principal, satisfazer seus usuários por meio de um
acervo organizado, atualizado e pertinente à comunidade. Ficando a critério de cada
biblioteca prestar os serviços que melhor atendam a sua demanda.
Área 1 – Informação
Descrição: Identificar, localizar, recuperar, armazenar, organizar e analisar
informações digitais, julgando sua relevância e propósito.
Competências:
1.1 Navegar, pesquisar e filtrar informações.
1.2 Avaliação de informações.
1.3 Armazenamento e recuperação de informações.
Área 2 – Comunicação
Descrição: Comunicar-se em ambientes digitais, compartilhar recursos por meio de
ferramentas online, conectar-se com outras pessoas e colaborar por meio de
ferramentas digitais, interagir e participar de comunidades e redes, ter consciência
intercultural.
Competências:
2.1 Interagir por meio de tecnologias;
2.2 Compartilhar informações e conteúdo;
2.3 Envolver-se com a cidadania online;
2.4 Colaborar por meio de canais digitais;
2,5 Netiqueta;
2.6 Gerenciar identidade digital.
Área 4 – Segurança
Descrição: Proteção pessoal, proteção de dados, proteção de identidade digital,
medidas de segurança, segurança e uso sustentável.
Competências:
4.1 Dispositivos de proteção
4.2 Proteção de dados e identidade digital
4.3 Proteção da saúde
4.4 Proteção do meio ambiente
Competências:
5.1 Resolução de problemas técnicos
5.2 Identificação de necessidades e respostas tecnológicas
5.3 Inovação e uso da tecnologia de forma criativa
5.4 Identificação de lacunas de competência digital
Por conseguinte, esse contexto plural pode representar inúmeros desafios para os
profissionais que não estão habilitados a atuar em meio a essa diversidade. Assim, a
biblioteca está permeada por “[...] desafios complexos que exigem muita atenção por
parte dos gestores das bibliotecas para poderem atravessar uma verdadeira
encruzilhada [...]”, fato esse que exige a adequação profissional, por meio da
aquisição de novas competências. (SANTA ANNA; CALMON, 2016, p.51).
Os autores Rossi, Costa e Pinto (2014, p.112), afirmam que os serviços de informação
são entendidos como toda assistência fornecida aos usuários para suprir suas
necessidades, “sendo o serviço de referência (entrevista realizada com o usuário para
identificar sua necessidade informacional) compreendido como um dos serviços”.
Estudos sobre serviços de informação prestados em Bibliotecas Universitárias,
desenvolvidos por Rossi; Costa; Pinto (2014), que indicam que os serviços de
informação mais característicos são:
a) capacitação: treinamentos focados na utilização do sistema, bases de
dados, normalização, direito autoral, inclusão digital, educação ao usuário,
entre outros;
b) comutação bibliográfica: permite a obtenção, mediante pagamento
antecipado, de cópias de documentos técnico-científicos disponíveis nos
acervos de bibliotecas conveniadas;
c) levantamento bibliográfico: recuperação de materiais bibliográficos
específicos para a necessidade informacional;
d) normalização bibliográfica: visa padronizar os documentos de acordo
com uma determinada norma;
e) processo de referência/assistência informacional: entrevista com o
usuário para identificar e buscar as necessidades informacionais, resposta a
informações bibliográficas factuais, auxílio na busca e na recuperação de
materiais bibliográficos (pessoal, online ou telefone). (Rossi; Costa; Pinto,
2014, p. 112).
Dessa forma (RASTELI E CALDAS, 2015, p. 4) traz como reflexão que esse processo
deve ocorrer no âmbito das bibliotecas, no qual discutiremos em parte do estudo:
O papel social das bibliotecas precisa ser permeado pelo acesso às
informações e apropriação do conhecimento, podendo ser caracterizadas
como locais de construção permanente de cultura, para permitir a
aprendizagem e o desenvolvimento cultural dos indivíduos e grupos sociais.
No entanto Flusser (1983) descreve em seu estudo que a ação cultural carrega em si
significados díspares.). Essa ambiguidade pode ocasionar a desinformação por parte
dos profissionais bibliotecários, considerando que a literatura da área ainda é muito
incipiente. “A cultura como ação, está subentendida de poder transformador social
enfatizando a criação, a expressão dos sujeitos.” Isso é: um processo educativo
individual, por meio das atividades culturais como prática um processo de educação
coletivo. “O compartilhamento das informações.” (RASTELI E CALDAS, 2015, p. 12)
Ou seja, a ação cultural se constitui como uma potente ferramenta para a mediação
cultural, enquanto a animação cultural, apesar da limitação, pode conduzir o sujeito à
mediação. Já a fabricação cultural não possibilita o ato de mediar, pois consiste em
uma ação em que a atividade é imposta e os sujeitos não são convidados a participar.
Porém, por meio dela pode-se chegar a uma ação em que os sujeitos participem do
processo de mediação de fato. Enquanto a primeira, a ação cultural, visa a
apropriação cultural, as outras duas não almejam isso. Contudo, Coelho Neto Neto
(2012, p. 268) trouxe à tona a expressão animação cultural em seu Dicionário crítico
de política cultural, incluindo-a no rol de atividades englobadas pela mediação cultural:
“Os diferentes níveis em que essas atividades podem ser desenvolvidas caracterizam
modos diversos da mediação cultural, como a ação cultural, a animação cultural e a
fabricação cultural”.
Segundo Rateli (2019), os termos animação e ação cultural podem ser utilizados
genericamente como sinônimos, isto é, na posição de estratégias pedagógicas de
mediação ou de intervenção, é possível, entretanto, distinguir características
singulares para cada uma delas.
Quadro 4 - Diferenças conceituais das atividades culturais em bibliotecas
Nessa afirmação, Santos (2015) traz a reflexão de que o bibliotecário deve associar
os conhecimentos da área de biblioteconomia aos conhecimentos de cultura e poder
organizar e oferecer ações em que as informações culturais passem a ser
apresentadas e discutidas pelos usuários. O profissional da informação precisa “ser
proativo, lidar com imprevistos, ter criatividade, cultura geral, sensibilidade, trabalhar
com profissionais de outras áreas, buscarem parceiros, ter uma equipe envolvida e
altamente comprometida” (OLIVEIRA, 2010, p. 125). E Flusser (1983) nomeia o
bibliotecário responsável pela promoção de cultura de “bibliotecário-animador”.
O autor também reforça que é fundamental que o bibliotecário que pretenda atuar
como agente cultural, tenha o entendimento das diferenças conceituais existentes
nesse campo de atuação, a fim de que possa adotar aquele mais adequado à
finalidade de suas ações. “Além disso, deve estar apto a desenvolver um trabalho de
caráter [trans e] interdisciplinar com uma equipe de profissionais de várias áreas”
(CABRAL, 1999, p. 40).
Baltazar Filho (2009) apresenta o bibliotecário como um potente agente cultural que
por meio de projetos e atividades/manifestações culturais integra a unidade de
informação aos sujeitos sociais. Gerlin e Barcellos (2017, p.124) afirma que o
bibliotecário ao elaborar uma ação cultural precisa antes realizar “o planejamento de
acordo com as características do perfil do grupo, tendo em vista que o diálogo deve
ser previsto ao longo de todo o processo. Esse agente cultural dá prosseguimento a
um conjunto de etapas que tenha como meta a criação de um processo dinâmico e
interativo”.
Essa constatação permite identificar que ao assumir essa função no contexto de uma
unidade de informação, o bibliotecário poderá trabalhar com uma variedade de
atividades culturais conforme exposto no Quadro 5 com o auxílio de autores como
Almeida Júnior (2013); Sperry (1987); Tsupal (1987); Milanesi (1987) e Vieira (2014).
Para os bibliotecários que desejem coordenar ações culturais, Quílez Simon (2008)
apresenta algumas habilidades essenciais que os profissionais da informação
precisam desenvolver:
a) Habilidades informáticas: necessário para a elaboração de tabelas
estatísticas, folders, cartazes; envio de correio eletrônico; realização de
pesquisas na web; preparação de planilhas; edição de imagens; acrescenta-
se a divulgação de eventos em redes sociais.
b) Habilidade de localização e uso da informação: a pesquisa na web é
fundamental. Toda atividade cultural na biblioteca precisa da apresentação
de informação. Por isso, o bibliotecário precisa pesquisar quais são as obras
e os sites que disponibilizam informação sobre aquilo que está sendo
apresentado. Para o desenvolvimento da atividade cultural também precisa
de conhecimento. O profissional da informação precisa saber ao menos o
básico sobre o objeto da atividade cultural.
c) Conhecimento de procedimentos e tarefas instrumentais: o
bibliotecário não precisa dominar a montagem dos equipamentos da
animação cultural, mas recomenda-se conhecer um pouco sobre os
aparelhos. É preciso planejar, por exemplo, a iluminação do local, o som, a
disposição das peças para a exposição. O autor orienta, se possível, contratar
um profissional da área para a montagem da animação cultural.
d) Técnicas e ferramentas de gestão: é preciso organizar as tarefas no
planejamento da atividade cultural. O autor recomenda alguns programas de
administração de projetos. É importante que o bibliotecário não centralize
todas as tarefas e permita que outros profissionais da biblioteca participem
na elaboração da atividade cultural. E também explore as habilidades de cada
profissional. No entanto, normalmente não há disponibilidade de formar uma
equipe.
e) Habilidade de competências de comunicação e difusão: é necessário
manter uma base de dados com contatos de interessados nos projetos
culturais e possíveis parceiros. Além de se comunicar com órgãos públicos,
associações, editoras. A divulgação das atividades culturais pode ser feita
por meio de folders, cartazes. A mídia também pode auxiliar na divulgação.
O autor recomenda o envio de e-mails. Atualmente as redes sociais são um
excelente meio de divulgação (QUÍLEZ SIMON, 2008, p.105-120 apud
SANTOS, 2015, p. 183-184).
Rateli, (2021. p.131) concluiu em sua recente pesquisa, que a mediação cultural é
“categoria essencial em todas as bibliotecas, independentemente de suas tipologias,
plasmando-se em todos os fluxos informacionais que circulam através das mediações
implícitas e explícitas”. Desse modo, assinalou-se as seguintes premissas da
mediação cultural em bibliotecas:
a) todas as bibliotecas são mediadoras culturais, independentemente de suas
tipologias;
b) a informação é um produto da cultura; já a mediação cultural é um processo
mais amplo, que engloba a mediação da informação e da leitura;
c) a mediação cultural abrange todas as atividades das bibliotecas,
espraiando-se em mediações implícitas e explícitas;
d) no que tange às mediações explicitas e à função cultural e de lazer das
bibliotecas, a mediação cultural é desenvolvida através dos modos de ação
cultural, animação cultural e fabricação cultural;
e) uma pedagogia apropriada ao trabalho do bibliotecário com a comunidade
(mediações explícitas) necessita de maiores investigações, apesar de os
pesquisadores participantes da pesquisa apontarem propostas promissoras,
destacando a perspectiva dialógica, a do oprimido e a da negociação cultural;
f) a mediação cultural é um processo que envolve estratégias de
comunicação, interferências e dispositivos;
g) a mediação cultural é um processo complexo, de práticas heterogêneas,
envolvendo dispositivos, suportes, linguagens e técnicas;
h) a mediação cultural na biblioteca encerra as noções de interação,
compartilhamento, diálogo, apropriação, protagonismo e cidadania cultural;
i) a mediação cultural refere-se a processos complexos englobando os
diversos dispositivos na construção de sentidos;
j) nos processos de mediação cultural, a atuação do bibliotecário abre se em
possibilidades para o acesso, a produção, a circulação, a apropriação e o
protagonismo cultural, considerando-se a construção de significados e o
desenvolvimento sociocultural da comunidade;
k) os processos de mediação cultural em bibliotecas vinculam-se à
construção de sentidos a partir do contato com os elementos formadores da
cultura;
l) a gestão pública e as políticas culturais também são reconhecidas como
instâncias de mediação cultural;
m) o bibliotecário precisa de conhecimentos transdisciplinares para atuar
como mediador cultural e para assim contribuir para a apropriação cultural.
(RASTELI, 2021. p.131).
Lessa e Gomes (2017), reforçam que existem bibliotecas funcionando como centros
de cultura ou bibliotecas integradas aos centros de cultura, bibliotecas dentro de
museus ou arquivos dentro de bibliotecas, para não citar aquelas que podemos
encontrar em museus ou exposições que integram, a um só tempo, processos
informacionais e culturais. Nesse contexto, justifica-se a relevância e pertinência da
presente pesquisa, que coloca em análise a conceituação teórica que gira em torno
dos fazeres e saberes da mediação cultural e da ação cultural em qualquer tipo de
biblioteca.
REFERÊNCIAS
MELO, P.; VIEIRA, R. O bibliotecário como agente cultural. São Paulo: AGBOOK,
2012.