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Aula 16 - Somente em

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Prefeitura de São José dos Campos-SP -
Língua Portuguesa - 2023 (Pós-Edital)

Autor:
Equipe Português Estratégia
Concursos, Felipe Luccas

30 de Novembro de 2023
Equipe Português Estratégia Concursos, Felipe Luccas
Aula 16 - Somente em PDF

Índice
1) Atos de fala
..............................................................................................................................................................................................3

2) Vocabulário: latinismos, estrangeirismo e neologismo


..............................................................................................................................................................................................
13

3) Tipos de dicionários
..............................................................................................................................................................................................
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NOÇÕES INICIAIS
Fala aí, pessoal!
Hoje vamos conversar sobre alguns temas que são trabalhados especificamente na linguística e na análise
do discurso, mas que são inerentes à interpretação de textos e de diversas espécies de interação entre os
usuários da língua, sendo também um tema afeto à pragmática.
A teoria dos atos de fala é de autoria do filósofo da linguagem John Langshaw Austin, que considerava que
"linguagem é ação"; não é mera descrição do mundo, mas sim uma "forma de agir no mundo", uma "ação
verbal", um meio de produzir efeitos práticos, como perdoar, nomear, prometer, ameaçar, sugerir, ordenar.
Essa visão ia além da mera análise de "verdadeiro" ou "falso" das proposições. Reconheceu que era
problemático avaliar a "vericondicionalidade", isto é, a veracidade ou falsidade de frases como "Bom dia!",
"Você gosta de chocolate?", "O Saci não apareceu".
Quando um padre diz “Enzo, eu batizo você em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, essa frase não
serve para descrever o mundo nem para ser analisada como logicamente verdadeira/falsa (como seria foco
da Filosofia e Semântica Referencial). Na verdade, ela produz um efeito na realidade, performa uma ação no
mundo. A essência da teoria é a performatividade ou função performativa dos atos: "todo dizer é um fazer".
Veremos a evolução e os detalhamentos dessa teoria.

ENUNCIADOS CONSTATIVOS E PERFORMATIVOS


A princípio, Austin dividiu os enunciados em: constativos e performativos.
Enunciados constativos: são constatações, relatam ou descrevem um estado de coisas e se podem ser
verificados como verdadeiros ou falsos. São as "afirmações" em seu sentido mais "tradicional".
Ex: A Terra gira em torno do sol.
Ex: Bebo demais.
Ex: Paris é linda.
Ex: Está quente aqui.
Enunciados performativos: realizam uma ação; concretizam um efeito no locutor ou no mundo quando é
emitido; não são constatações, não relatam ou descrevem nada, nem podem ser verificados como
verdadeiros ou falsos.
Ex: Eu batizo João, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...
Ex: Eu vos declaro marido e mulher.
Ex: Eu te demito, Felipe...
Ex: Eu declaro aberta a sessão legislativa.
Ex: Eu (Juiz) julgo o réu culpado.
Ex: Eu perdoo as dívidas passadas.
Posteriormente, Austin abandonou a distinção "constativo x performativo", ao notar que diversos
enunciados aparentemente "constativos" na verdade eram "performativos disfarçados", pois também

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visavam um efeito no interlocutor e não eram meras afirmações.


Por exemplo, ao dizer "está quente aqui", podemos ler um pedido disfarçado: "ligue o ar-condicionado" ou
"abra a janela", havendo então a realização do ato de pedir ou sugerir. Que fique claro que ele não negava
o valor meramente descritivo ou declarativo da língua, mas se distanciava da ideia de que a língua serviria
apenas para isso. Dessa forma, toda sua teoria, como mencionamos antes, vai focar na dimensão
"performativa".
OBS: inicialmente, a estrutura básica dos enunciados performativos eram afirmações com sujeito na primeira
pessoa com verbo na voz ativa; chegou a mencionar o conceito de "verbos performativos": aceito, aposto,
ordeno, prometo.
Ex: Eu aceito João como meu legítimo esposo (realiza um compromisso, um voto).
Ex: Eu deixo todos os meus bens para Fundação Maine Martins (realiza uma doação).
Ex: Eu aposto 50 reais no campeão (realiza uma aposta).
Contudo, o autor reconhece a existência de outras formas e que a criação de fórmulas gramaticais fixas não
atendia à infinidade de situações da língua.
Ex: Proibido fumar (realiza uma proibição).
Ex: Todos os funcionários estão convidados para a festividade (realiza um convite).
Nem todos os verbos são performativos e nem todas as forças ilocucionárias podem ser contidas em um
verbo preciso, exato.
Além disso, temos performativos implícitos. Em "promessa é dívida", temos a ação de prometer e seu
resultado, mesmo com estrutura nominal.

TRIPARTIÇÃO DOS ATOS DE FALA


Segundo Austin, o "ato de fala" compõe-se de três partes ou atos simultâneos. Estes aspectos são indivisíveis
e complementares:
ATO LOCUTÓRIO OU LOCUCIONÁRIO: refere-se ao conteúdo linguístico em si, a própria frase, os termos, o
nível fonético/gráfico. Trata-se do significado mais primário, mais manifesto, da estrutura gramatical
utilizada.
ATO ILOCUTÓRIO OU ILOCUCIONÁRIO: refere-se ao modo de dizer, a força, o tom de voz, o tom da escrita.
Pode-se afirmar que é o "como dizer". Essa "força ilocucionária" é o que pode causar de um conselho parecer
uma ordem, um pedido parecer uma ameaça, assim por diante.
Entendamos aqui o ato ilocucionário como a "maneira" como o locucionário foi usado: para fazer/responder
pergunta; para informar; para garantir; para anunciar veredito; para sugerir; para criticar... Isso pode ser
manifestar pelo tom, pela acentuação entoacional, pela pontuação, pelo modo do verbo, por advérbios e
qualquer forma de "modalizador" (expressões que indicam opinião/atitude do falante). Em termos simples,
podemos associar a "força ilocucionária" à intenção do falante: proposta, aviso, recusa, convite, doação,
compromisso.
Essa é a dimensão principal, que se confunde com o valor "performativo" que vimos antes.
ATO PERLOCUTÓRIO OU PERLOCUCIONÁRIO: refere-se ao efeito causado no outro, como o outro recebe ou
interpreta a mensagem. Engloba a influência causada no outro, os sentimentos, pensamentos ou atitudes
que provoca na prática. Aqui até entendemos melhor por que muitas vezes dizemos algo com uma intenção

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e o interlocutor sofre efeitos totalmente inesperados. Por exemplo, quando somos "grossos" ou "irônicos"
sem querer.
Para entender melhor essas dimensões linguísticas, analisemos um enunciado cotidiano:
"Como está quente"
No nível locutório, temos a própria frase, o componente linguístico. No nível ilocutório, podemos ter uma
forma de falar que pareça ser um mero "puxar assunto"; ou uma insinuação para ligar o ar-condicionado e
abrir a janela; em suma, o enunciado pode concretizar uma aproximação ou um pedido. No nível, temos a
reação à mensagem, a influência, por exemplo, de entender a insinuação e realmente ligar a refrigeração.
Destaco novamente, que tudo é extremamente interligado.
Aqui, percebemos a visão linguística dos "subentendidos", em que existe um ato de fala indireto, uma
intenção (função real do enunciado) por trás da estrutura linguística superficial (função manifesta).

ATOS DE FALA

LOCUTÓRIO ILOCUTÓRIO PERLOCUTÓRIO

TIPOS DE ATOS ILOCUCIONÁRIOS


John Searle, anos depois, expandiu a teoria e propôs o conceito de "finalidade ilocutória" para classificar
uma quantidade finita de usos linguísticos, o que gerou uma subdivisão dos atos ilocucionários, de acordo
com a situação linguística. Vamos perceber aqui que há uma mera organização das diversas "forças
ilocucionárias" (simplificando: intenção do enunciado) que estudamos.
ATOS ASSERTIVOS: asserção sobre um estado de coisas, afirmação que permite verificação do valor
verdadeiro ou falso. O falante afirma algo que provavelmente é verdadeiro ou com cuja veracidade de se
compromete.
Ex: O livro está sobre a mesa.
Ex: É divertido correr risco e sair ileso.
ATOS DIRETIVOS: visam levar as pessoas a realizarem ações. Podem ser mais suaves, como convites, pedidos,
sugestões; ou mais enérgicos, como ordens, broncas.
Ex: Se beber, não dirija.
Ex: Convido a todos a fazer um minuto de silêncio.
Ex: Saia agora!

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ATOS EXPRESSIVOS: expressam sentimentos ou atitudes, como gratidão, desculpas, condolências.


Ex: Acho triste que tantos estejam desempregados.
Ex: Agradeço por tudo que fez por mim.
Ex: Meus pêsames.
ATOS COMISSIVOS: visam produzir uma mudança por meio do enunciado. Os exemplos mais relevantes são
o convite e a promessa.
Ex: Se eleito, prometo baixar a gasolina.
Ex: Convido a todos a fazer um minuto de silêncio.
OBS: sim, isso mesmo, o autor coloca o convite em duas categorias. Não se preocupem, essa não é a única
inconsistência na obra, como reconhecem os linguistas.
ATOS DECLARATIVOS: visam a promover uma mudança na realidade, realizam atos concretos, como batizar,
nomear, julgar. O conceito se aproxima muito do de "ato performativo".
Ex: Eu declaro encerrada a sessão.
Ex: Eu batizo João...
Ex: Declaro o réu inocente e determino sua soltura.
Ex: Eu vos declaro marido e mulher.
Vale aqui relembrar que é a "força ilocucional" que diferencia um ato ilocutório do outro, distinguindo, por
exemplo, um pedido de uma reclamação, um conselho de uma ameaça.
OBS: Pessoal, Austin morreu antes que pudesse aprimorar sua teoria, então é natural que vários conceitos
apresentem contraexemplos. Também há múltiplas conceituações para as mesmas situações, que não são
de forma alguma excludentes. Não é nossa missão concordar ou validar o autor, mas sim conhecer a essência
de suas ideias.

PREF. MACAU RN / 2014


Na frase “Leia esta notícia para mim”, podemos identificar um ato de fala, isto é, uma ação verbal realizada
pelo idoso. Esse ato de fala expressa:
A uma dúvida B um arrependimento C uma ordem D uma afirmação E um alerta
Comentários:
Questão bem direta. A forma no imperativo "leia" indica uma ordem, configurando um ato ilocutório
diretivo.
Gabarito letra C.
FGV / PREF. MANAUS / 2022
Um aviso muito comum em nossas estradas é o que diz:

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“Se dirigir, não beba!”


Esse cartaz aconselha que
(A) dirijamos com cuidado.
(B) tragamos sempre nossos documentos.
(C) mostremos cuidado nas ultrapassagens.
(D) preservemos a natureza ambiental.
(E) tenhamos prudência.
Comentários:
Analisando pela teoria dos atos de fala, "Se dirigir, não beba" consubstancia um ato ilocutório diretivo, que
visa a obter um certo comportamento da pessoa. Em suma, concretiza um conselho. Agora vejamos:
Temos uma condicional: SE beber, ENTÃO não pode dirigir. Qual a mensagem? Devemos ter prudência, se
dirigirmos alcoolizados, podemos causar acidentes. Então o gabarito é letra E.
Por que não poderia ser a A? Também fala de cuidado, que é sinônimo de prudência... O problema é que fala
de "dirigir"; não é pra dirigir com cuidado, é para NÃO DIRIGIR. Percebem? Sutileza.
Vejamos as demais:
(B) tragamos sempre nossos documentos.
Incorreta. Não é para dirigir, com ou sem documento.
(C) mostremos cuidado nas ultrapassagens.
Incorreta. Se ultrapassar, é porque está dirigindo. Não é para dirigir!
(D) preservemos a natureza ambiental.
Incorreta. Que absurda, nem sei o que dizer rs... É para não dirigir, mesmo que seja um carro elétrico, que
não emite gás carbônico rs... Não tem relação alguma com o ambiente. É não dirigir bêbado para não causar
acidentes.
Gabarito letra E.
PREF. PATOS / 2018
“Está relacionada aos atos de fala que o texto pretende realizar. Sendo o texto uma sequência de atos de
fala, tais atos devem estar relacionados e obedecer às condições para a sua realização. Por exemplo, não é
possível ao locutor, em um mesmo ato de fala, dar uma ordem e fazer um pedido; ou perguntar e asseverar,
e assim por diante.” O texto se refere à:
A Coerência temática.
B Coerência pragmática.
C Coerência semântica.
D Coerência sintática.
E Coerência estilística.
Comentários:

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A teoria dos atos de fala considera elementos extralinguísticos, como a relação entre os participantes, a
intenção, o cenário, o contexto. Trata-se de tema analisado pelo olhar da pragmática. É a força ilocucional
que diferencia os atos de fala, diferenciando por exemplo um pedido de uma ordem, uma pergunta de uma
acusação, um conselho de uma ameaça. Então, podemos concluir que presume a impossibilidade de se ter
intenções diferentes ao mesmo tempo no mesmo ato, isso seria incoerente. Em suma, seria uma incoerência
pragmática dar uma ordem e um pedido ao mesmo tempo, uma vez que são diferentes, não cumulativos e
excludentes.
Gabarito letra E.
FGV / PREF. MANAUS / 2022
Uma mãe diz a um filho: “- O senhor não me saia mais daqui!”; essa frase representa
(A) um conselho.
(B) uma ordem.
==bec==

(C) um aviso.
(D) uma reclamação.
(E) um pedido.
Comentários:
Sejamos diretos. A mãe possui "autoridade" sobre o filho, então está mandando nele, emitindo uma ordem,
obrigatória!
Gabarito letra B.

CONDIÇÕES DE FELICIDADE DOS ATOS DE FALA


Para que um ato seja "feliz", não no sentido de um ato sorridente e saltitante rs, mas no sentido de "eficaz",
algumas condições precisam ser atendidas. O falante deve ter competência/autoridade/legitimidade ativa
para praticar o ato e as circunstâncias devem tornar o ato viável.
Ex: Eu aceito João como meu legítimo esposo (realiza um compromisso, um voto).
Se o ato não for emitido por um dos nubentes, não será feliz (eficaz), por falta de autoridade. Não pode um
convidado bêbado aleatório estar na primeira fila e falar o "sim" pelos noivos...
Ex: Eu deixo todos os meus bens para Fundação Maine Martins (realiza uma doação).
Caso o falante não seja o titular dos bens, o ato não será feliz.
Ex: Eu declaro aberta a sessão legislativa.
Se o declarante não for o presidente da sessão ou pessoa com competência para abrir, o ato será infeliz. Não
pode a copeira responsável por servir a água abrir a sessão. Também é preciso que o ato seja emitido no
momento e local adequado: se o presidente da sessão disser "eu declaro aberta a sessão" em casa, no
chuveiro, 3h da manhã, logicamente o ato será infeliz.

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COLABORAÇÃO E RELEVÂNCIA
Para que a comunicação se efetive, os falantes vão processar não apenas elementos linguísticos, como sons
e palavras em sua forma mais literal, superficial, mas também interpretará diversos aspectos pragmáticos:
contexto, identidade dos falantes, entoação, intenção, tempo, lugar, situação e até uma pré-acordada ajuda
mútua entre locutor e interlocutor, que permitirá extraírem implicaturas conversacionais, isto é, inferências
a partir dos elementos extralinguísticos da conversa. Esta "ajuda mútua" que o falante deve fornecer de
acordo com seus objetivos no momento da conversa foi chamada por Paul Grice de "Princípio de
Cooperação".
Esse princípio será desdobrado em 4 regras, ou "máximas conversacionais", referentes à forma como o
falante expressa informações, bem como à sua pertinência, sua à veracidade e ao seu volume.
Reproduzo as máximas aqui utilizando as palavras de José Luiz Fiorin, em seu livro "Argumentação".
"Máximas da Quantidade
a) Que sua contribuição contenha o tanto de informação exigida;
b) Que sua contribuição não contenha mais informação do que é exigido.
Máximas da Qualidade (da verdade)
Que sua contribuição seja verídica.
a) Não afirme o que você pensa que é falso;
b) Não afirme coisa de que você não tem provas.
Máximas da relação (da pertinência)
Fale o que é concernente ao assunto tratado (seja pertinente).
Máximas de maneira
Seja claro.
a) Evite exprimir-se de maneira obscura;
b) Evite ser ambíguo;
c) Seja breve (evite a prolixidade inútil);
d) Fale de maneira ordenada."
Evidentemente, cabem críticas, pois essa teoria se baseia num modelo "ideal" de conversa, abstraindo
conflitos entre as partes e criando regras como condições para o sucesso do ato comunicativo.
Vejamos então, exemplos em que há "violação das máximas", causando problemas na comunicação.
Ex: O garçom mostra um bule e pergunta: "Café?". O ouvinte analisa bem o bule e responde: sim, é café com
certeza.
Vejam que ele não entendeu a oferta subentendida; interpretou literalmente o conteúdo e achou que tinha
que perguntar se era café ou não. Poderíamos dizer que o garçom foi verdadeiro e sucinto, utilizando a
menor forma linguística possível para oferecer o café. O ouvinte, por sua vez, não observou a máxima da
pertinência. Naquele contexto, era óbvio que seria impertinente, incoerente, absurdo, perguntar se o café
era café.

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Ex: O aluno tira 8 na prova e mostra ao pai:


— Pai, tirei 8, sou o mais inteligente da escola, como sempre digo.
O pai então responde ironicamente:
— Parabéns, filho: além de gênio, você é modesto.
A ironia, o sarcasmo e a dissimulação violam a máxima da qualidade, pois se diz algo que o próprio falante
sabe ser falso. Contudo, a intenção é a criação de um efeito sentido.
Ex: A mãe está sozinha em casa, liga para a filha e pergunta:
— Filha, você já chegou?
A filha então responde:
— Não, ainda não cheguei.
Violou-se aqui a máxima da quantidade, pois a resposta não forneceu a informação pretendida: saber onde
estava, que horas chegaria, etc... Informações autoevidentes constituem respostas inúteis.
Ex: O francês, língua falada na frança, é muito musical.
O adendo "língua falada na frança" também viola a máxima da quantidade, pois oferece informação adicional
não requerida.
Ex: Na véspera do aniversário de Maria, sabendo que precisa comprar um presente urgentemente, sua mãe
se aproxima de Joana, irmã de Maria, com a chave do carro na mão e diz:
— Não comprei ainda o presente de Maria.
Então, a filha Joana responde:
— Eu já.
A filha Joana não entendeu que a mãe compartilhava com ela um problema, esperando uma sugestão, ou,
mais claramente, convidando-a para buscar um presente com ela naquele momento.
Vejamos a mesma situação, mas com Joana cooperando e fornecendo a resposta exigida, observando
máxima da relação:
— Não comprei ainda o presente de Maria.
Então, a filha Joana responde:
— Há um shopping aqui perto.
A violação da máxima da "relação" gera interações incoerentes.
Ex: Paulo descobre que seu genro Jorge é estelionatário e tenta avisar sua filha Jéssica, esposa do criminoso.
— Jéssica, descobri que seu marido é um criminoso.
Então, a filha responde:
— Onde você comprou essa gravata?
Ex: João e Maria, casados, estão conversando sobre política. João espera Maria terminar suas sentenças,
mas quando vai replicar, sempre é interrompido. Impaciente, diz:
— Por favor, deixe-me terminar minhas frases, já que eu não a interrompi enquanto você falava.
Então, a Maria responde:

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— Você nunca me ouve ou me dá espaço para dividir meus sentimentos!


Aqui, foi violada a máxima da maneira, uma vez que Maria não respeitou a regra básica de "turnos de fala",
cada um falar na sua vez, com alternância. Além disso, violou a máxima da verdade, pois não foi interrompida
e declarou que "nunca era ouvida".
Bem, os exemplos são infinitos, mas já temos uma boa noção com os exemplos acima.

FGV/ PC RJ / Auxiliar de Necropsia / 2022


Num passeio, alguém pergunta a um dos acompanhantes: – Que horas são? A resposta mais relevante para
essa pergunta é
A Não sei, mas estou com uma fome danada;
B Deve ser tarde porque o sol já está se pondo;
C Ali na esquina, vamos ver no relógio da torre;
D Hora de voltar, pois já estou cansado;
E Para que ficar preocupado com a hora?
Comentários:
Vejam, a banca falou de "relevante": está cobrando a máxima da relevância. A resposta deve ser a que atende
o objeto real da pergunta.
Ao perguntar "Que horas são?", qual é de fato a resposta pretendida? Qual é a função real dessa pergunta?
É saber a hora exata. Então, qualquer resposta que não forneça essa informação com quantidade, qualidade
e pertinência, não será a melhor para a situação comunicativa.
Portanto, a resposta mais relevante é a "Ali na esquina, vamos ver no relógio da torre", pois o ouvinte
entendeu a intenção de saber a hora exata e no relógio será encontrada a hora exata.
As demais, por decorrência lógica, não são pertinentes à pergunta. O locutor não quer saber se o ouvinte
está com fome, se é tarde, se alguém está cansado ou preocupado com a hora. Só queria a hora exata.
Gabarito letra B.
FGV/ PC RJ / Auxiliar de Necropsia / 2022
Numa noite friorenta, um casal recebe um casal de amigos para jantar; sentam-se inicialmente na sala de
visitas, onde as janelas estão abertas e a mulher recém-chegada diz: “Os jornais dizem que hoje vai ser a
noite mais fria do ano!”
Nesse caso, a frase tem uma função manifesta e uma função real, que correspondem, respectivamente, a:
A uma informação e um pedido;
B uma declaração e uma ordem;
C uma manifestação afetiva e uma informação;

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D uma constatação e uma explicação;


E uma explicação e uma solicitação.
Comentários:
Sejamos diretos. A intenção verdadeira, o sentido pretendido, a força ilocutória, a função real era pedir que
fechassem a janela por causa do frio. Contudo, este foi um ato de fala indireto, feito por meio de uma
"informação" (função manifesta) que continha o pedido subentendido (função real). A função real tem
relação com o valor performativo do ato de fala, o nível ilocutório. Já a mera declaração, a informação de
que seria a noite mais fria do ano, em seu conteúdo linguístico em si, se relaciona ao valor constativo e ao
nível locutório.
Gabarito letra A.

...

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VOCABULÁRIO: NEOLOGISMOS, ARCAÍSMOS,


ESTRANGEIRISMOS; LATINISMOS.
Ainda nas questões inerentes a semântica e vocabulário, vejamos alguns conceitos importantes.

Estrangeirismo

São palavras emprestadas de outras línguas, incorporadas ao português em sua forma original ou
adaptada.

Vejamos alguns exemplos:

Chat

Webnário

Pizza

Face

Shopping

Teen

Blog

Deletar

Restaurante

Abajur

Bife

Futebol

Estresse

Latinismo

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O latinismo também envolve o uso de palavras estrangeiras: consiste no emprego frase, locução
ou construção gramatical própria do latim; também é chamado de romanismo.

Na linguagem formal, especialmente na jurídica, ainda predominam expressões latinas. Vejamos


as principais:

Ab initio - Desde o princípio.

A contrario sensu - Em sentido contrário, pela razão contrária.

A posteriori - Pelo que segue, depois de um fato. Diz-se do raciocínio que se remonta do efeito à
causa.

A priori - Segundo um princípio anterior, admitido como evidente; antes de argumentar, sem
prévio conhecimento.

Ad referendum – para referendo, para apreciação, que será avaliado e confirmado.

Apud - Em, junto a, junto em. Emprega-se em citações indiretas, isto é, citações colhidas numa
obra.

Carpe Diem - "Aproveita o dia". (Aviso para que não desperdicemos o tempo). Horácio dirigia
este conselho aos epicuristas e gozadores.

Curriculum Vitae - Conjuntos de dados relativos ao estado civil, ao preparo profissional e às


atividades anteriores de quem se candidata a um emprego.

Data venia - Concedida a licença, com a devida vênia. É uma expressão respeitosa com que se
inicia uma argumentação discordante da de outrem.

Et cetera (ou Et caetera) (abrev.: etc.) - E as outras coisas, e os outros, e assim por diante. Apesar
de seu sentido etimológico (= e outras coisas), emprega-se, atualmente, não somente após nomes
de coisas, mas também de pessoas, como expressão continuativa.

Exempli gratia (abrev. e.g.) - Por Exemplo. É expressão sinônima de verbi gratia (abrev.: v.g.).

Habeas Corpus - "Que tenhas o corpo". Meio extraordinário de garantir e proteger todo aquele
que sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, por
parte de qualquer autoridade legítima.

Habeas Data - "Que tenha os dados", "Que conheça os dados". Trata-se de garantia ativa dos
direitos fundamentais, que se destina a assegurar: a) o conhecimento de informações relativas à
pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais

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ou de caráter público; b) a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo.

Habitat - conjunto de circunstâncias físicas e geográficas que oferece condições favoráveis à vida
e ao desenvolvimento de determinada espécie animal ou vegetal; ambiente de habitação.

Homo sapiens - Homem sábio; nome da espécie humana na nomenclatura de Lineu.

Id est - Isto é, quer dizer. Às vezes, aparece abreviadamente (i.e.).

In memoriam - Em comemoração, para memória, para lembrança.

In posterum - No futuro.

In terminis - No fim. Decisão final que encerra o processo.

In verbis - Nestes termos, nestas palavras. Emprega-se para exprimir as citações ou as referências
feitas com as palavras da pessoa que se citou ou do texto a que se alude.

Ipsis Verbis - Pelas próprias palavras, exatamente, sem tirar nem pôr.

Lato sensu - Em sentido amplo, em sentido geral.

Per capita - Por cabeça, para cada indivíduo.

Quorum - Número mínimo de membros presentes necessário para que uma assembleia possa
funcionar ou deliberar regularmente.

Sine die – sem dia, sem data certa para acontecer. Utiliza-se muito em situações nas quais não há
prazo programado, devendo-se simplesmente aguardar.

Sic - Assim, assim mesmo, exatamente. Pospõe-se a uma citação, ou nela se intercala, entre
parênteses ou entre colchetes, para indicar que o texto original é da forma que aparece.

Statu quo - "No estado em que". Emprega-se, na linguagem jurídica, para indicar a forma, a
situação ou a posição em que se encontra certa questão ou coisa em determinado momento.

Stricto sensu - Em sentido restrito, em sentido literal.

Verbi gratia (abrev.: v.g.) - Por exemplo.

Verbum ad verbum - Palavra por palavra, textualmente, literalmente.

Vide - Vê, veja, veja-se, veja em. Usa-se quando se quer que o leitor consulte outra palavra,
expressão ou trecho.

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https://www.soportugues.com.br/secoes/curiosidades/expressoes_latinas.php (com acréscimos)

Há diversas outras, que devemos ir anotando conforme resolvemos questões. Para pesquisar um
dicionário de expressões mais completo, com uma lista praticamente infinita, vale consultar o site
especializado abaixo:

https://www.soleis.adv.br/expressoeslatinas.htm

Neologismo

Na aula de formação de palavras, estudamos processos de formação das palavras existentes. No


entanto, a necessidade de novas palavras é infinita, pela dinâmica da língua.
==bec==

O neologismo é a invenção de uma palavra nova, para atender às novas necessidades expressivas
dos falantes. Dentro do conceito amplo do fenômeno linguístico chamado de “neologismo”,
podem ser abrigados estrangeirismos, gírias, combinações, derivações, composições e outros
diversos processos de formação de palavras.

Trata-se de um processo de formação de palavras muito importante, pois acompanha a evolução


da língua e atende a necessidades comunicativas novas. Normalmente, o estrangeirismo reflete
uma demanda que a língua ainda não atende plenamente. Em suma, quando uma palavra nova
surge, é porque os falantes não achavam que existia uma opção adequada para aquela expressão.

Um neologismo que ficou muito popular ultimamente foi o verbo “despiorar”, formado por
prefixação.

Essas palavras podem ou não ser dicionarizadas.

BFF (best friend forever— melhor amigo; formado por uma sigla em inglês)

Portunhol (combinação de “português” com “espanhol”)

Esquipáticas (combinação de “esquisitas” com “antipáticas”)

Apertamento (combinação de “aperto” com “apartamento”)

Aborrecente (combinação de “aborrecer” com “adolescente”)

Internetês (combinação de “internet” com sufixo –ês, indicativo de idioma)

Refri (redução derefrigerante)

Mimimi (onomatopeia para “choro”, “drama”, “reclamação”)

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Showmício (show+comício)

O neologismo pode se manifestar não só na forma das palavras, mas também no sentido. Seguem
alguns exemplos desse “neologismo semântico”.

Gato (ligação clandestina)

Zebra (resultado inesperado)

Já era (acabar)

Ir para o espaço (acabar, falhar, desandar)

Bombante (agitado, animado)

Amarelar (acovardar-se)

Pistolão (favorecimento de alguém conhecido)

Peixe (favorecimento de alguém conhecido)

(ALERJ / Especialista Legislativo / 2017 )


O item abaixo em que o latinismo empregado foi adequadamente definido é:
a) Não houve quórum para a votação do projeto/presença máxima dos membros;
b) A construção da estrada acabou com o habitat de alguns animais/hábitos alimentares;
c) A decisão foi tomada ad referendum da Direção/sem levar em conta;
d) As provas foram transferidas sine die/sem que o motivo fosse explicado;
e) A renda per capita do Brasil está baixa/individual.
Comentários:
“per capta” é “por cabeça”, ou seja, por indivíduo, individual.
A Não houve quórum para a votação do projeto/presença mínima dos membros;
B A construção da estrada acabou com o habitat de alguns animais/ ambiente natural;
C A decisão foi tomada ad referendum da Direção/ com referendo, levando em conta;

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D As provas foram transferidas sine die/sem que o dia preciso fosse marcado;
Gabarito: letra E.

(PREF. UBERLÂNDIA-MG / Professor / 2022 - Adaptado )


Julgue o item a seguir:
(Neologismo) É uma palavra nova, introduzida na língua para atender a uma determinada
necessidade expressiva dos falantes.
Comentários:
Exatamente, a banca traz o conceito genérico de neologismo.
Gabarito: Correto.

(PREF. PORTO FERREIRA-SP / Professor / 2022 )


Leia o trecho abaixo retirado do texto.
“A tia e o tio tomavam conta dele, justinhamente .”
Assinale a alternativa que apresenta o nome da figura de linguagem utilizada no termo destacado.
a) Metáfora.
b) Metonímia.
c) Paradoxo.
d) Neologismo.
e) Prosopopeia.
Comentários:
A palavra “justinhamente” não existe, mas foi criada adicionando-se o sufixo “-mente”, formador
de advérbio, ao advérbio “justinho”, que já tinha um diminutivo estilístico. Aqui, temos um
exemplo de grande liberdade na utilização dos processos naturais da língua para atender a novas
demandas comunicativas.

(CIS-AMOSC-SC / Auxiliar Administrativo / 2018 )


As expressões latinas ipsis litteris, sine die e lato sensu significam, respectivamente.
a) literalmente • em sentido amplo • sem data marcada
b) literalmente • sem data marcada • em sentido amplo
c) em sentido amplo • sem data marcada • literalmente.
d) sem data marcada • literalmente • em sentido amplo

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e) em sentido amplo • literalmente • sem data marcada.


Comentários:
As expressões latinas ipsis litteris, sine die e lato sensu significam, respectivamente: literalmente •
sem data marcada • em sentido amplo
Gabarito letra B.

(AL-MA / Téc. de Gestão Administrativa - Revisor / 2013 )


Assinale a alternativa em que o latinismo sublinhado tem seu significado explicado corretamente
é:
a) A decisão está ad referendum da Congregação / A Congregação irá confirmar a decisão
indicada.
b) O país chegou a um superavit de 5 milhões de dólares / o país chegou a receber um
investimento externo de 5 milhões de dólares.
c) A proposta foi sui generis / foi uma proposta que defendia interesses da própria família ou
grupo.
d) Era uma condição sine qua non / uma decisão sem apoio da maioria.
e) A prova foi transferida sine die / a prova foi transferida para a mesma data do mês seguinte.
Comentários:
a) expressão latina ad referendum significa “para apreciação, para validação futura”.
b) O país chegou a um superavit de 5 milhões de dólares / o país chegou a ter saldo positivo de 5
milhões de dólares. (deficit ou défice é “saldo negativo”)
c) A proposta foi sui generis / foi uma proposta incomum, especial, única.
d) Era uma condição sine qua non / uma decisão obrigatória, indispensável.
e) A prova foi transferida sine die / a prova foi adiada sem data definida.
Gabarito letra A.

(PREF. ARAGUAÍNA-TO / Técnico I / 2020 - Adaptada)


A expressão latina sine die indica que o adiamento se deu sem que se estabelecesse uma nova
data para a retomada do debate.
Comentários:
Essa expressão cai muito: transferida sine die = adiada sem data definida.
Gabarito: Certo.

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(PREF. LAGUNA-SC / Engenheiro Civil / 2022 )


Vícios de linguagem, conforme Cegalla (2007, p. 634), são "incorreções e defeitos no uso da língua
falada ou escrita. Originam-se do descaso ou do despreparo linguístico de quem se expressa."
Alguns professores pontuam, ainda, que qualquer desvio das normas gramaticais pode ser
considerado um vício de linguagem.
Assinale em que o vício de linguagem NÃO está corretamente identificado em parênteses:
a) Comemoraremos seu aniversário em um happy hour. (ESTRANGEIRISMO)
b) Vou deletar o arquivo que recebi. (NEOLOGISMO)
c) A flor tem odor e frescor. (ECO)
d) Haviam pessoas dispostas a caminhar pelo calçadão. (BARBARISMO)
e) Eu vi ela no supermercado. (CACOFONIA)
Comentários:
Barbarismo é o erro de pronúncia, grafia ou uso de uma determinada palavra. Em “haviam”, temos
erro de concordância.
C e D são exemplos adequados e autoexplicativos dos vícios de linguagem.
C A flor tem odor e frescor. (ECO- rima, terminações iguais)
E Eu vi ela no supermercado. (CACOFONIA- mau som ou ambiguidade sonora “viela”)
Gabarito letra D

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Sumário

Estrangeirismo .................................................................................. Erro! Indicador não definido.

Latinismo .......................................................................................... Erro! Indicador não definido.

Neologismo ...................................................................................... Erro! Indicador não definido.

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TIPOS DE DICIONÁRIOS
Quando não conhecemos o significado de uma palavra, pesquisamos geralmente no google. É
assim que funciona hoje em dia; mas, para efeito nostálgico e didático, vamos imaginar que
buscaremos a palavra no bom e velho dicionário. Folhearemos as páginas em ordem alfabética,
avançando numa enorme lista sequencial, até acharmos a palavra. O processo é tão instrumental,
que não paramos para refletir sobre o dicionário e seu funcionamento. Devemos fazer isso agora,
pois essa reflexão cai em prova rs...

Primeiramente...

— O que é um dicionário?

Tecnicamente, é a lista dos itens do léxico.

— Mas o que é esse tal de "léxico"?

Léxico é conjunto de palavras de uma determinada língua. Dicionários fornecem uma imagem,
uma "foto" do léxico. O léxico comum seria o conjunto de palavras compartilhadas por todos os
usuários. Esses itens lexicais são enumerados nos dicionários lexicais. Observe:

Existem dezenas de tipos de dicionários, precisamos conhecer as principais categorias.

Quanto à especialização de temas, dicionários podem ser:

GERAIS: apresentam palavras sem distinção do campo semântico. Podem ser monolíngues,
bilíngues, trilíngues, multilíngues.

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ESPECÍFICOS: tratam de assuntos em particular, como dicionários de sinônimos, termos jurídicos,


publicidade, filosofia, verbos, gírias, expressões idiomáticas etc.

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Quanto à apresentação dos itens, os dicionários majoritariamente adotam a estrutura "palavra por
palavra". São chamados, então, de ALFABÉTICOS ou SEMASIOLÓGICOS. A pesquisa é feita a
partir do significante (na prática, da palavra em si).

Ex: Significante (chilrear) >>>> Significado (canto dos pássaros)

Significante (coachar) >>>> Significado (voz dos sapos e rãs)

Alguns dicionários apresentam seus itens "ideia por ideia", por isso são chamados de
ANALÓGICOS ou ONOMASIOLÓGICOS. Assim, é possível procurar uma palavra que o usuário
ainda não sabe exatamente qual é, por meio de associações.

Ex: Significado/conceito (vozes dos animais) >>>> chilrear, coachar...

Entre os dicionários especializados, é importante para a prova relembrar alguns:

DICIONÁRIOS ETIMOLÓGICOS: focam na origem e na evolução das palavras.

DICIONÁRIOS ONOMÁSTICOS: focam nos nomes próprios, sobrenomes, alcunhas, topônimos...

DICIONÁRIOS HISTÓRICOS: focam na datação dos verbetes.

OBS: Muito cuidado! A banca pode separar esses conceitos de forma estanque nas questões;
contudo, na prática, o dicionário etimológico geralmente é histórico, já que trata da origem e da
evolução da palavra. Os Onomásticos também podem trazer a história dos nomes próprios. É
possível haver um dicionário Etimológico Onomástico, por exemplo. O importante é saber o
essencial de cada tipo.

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Podemos afirmar que a etimologia pode explicar algumas supostas arbitrariedades da língua
portuguesa, como a caótica ortografia das palavras.

Nesse sentido, reproduzo texto muito elucidativo de Ernani Terra:

S.O.S. Português

O sistema ortográfico em português é misto, ou seja, algumas palavras são grafadas de acordo
com o critério fonético – a pronúncia –, enquanto outras são escritas com base na etimologia.
Obsessão, obcecar e obcecado são exemplos de palavras que seguem o critério etimológico, pois
obedecem à grafia latina, de onde provieram. Ocorre que obcecado e obsessão não têm a mesma
origem, ou seja, não provêm da mesma raiz latina, diferentemente de obcecar e obcecado. [...]
Em síntese, obcecado e obsessão têm origens diversas, daí as grafias diferentes.

Outras palavras da língua portuguesa costumam despertar esse mesmo tipo de dúvida, como
acender (atear fogo) e ascender (subir). A primeira provém do latim accendere, e a segunda do
latim ascendere. As duas têm exatamente a mesma pronúncia, mas são escritas de modo diferente
porque a raiz delas não é a mesma. A melhor maneira de ter certeza sobre a grafia de uma palavra,
então, é a consulta a um bom dicionário, em que se encontra também a origem dela.

TERRA, Ernani. Nova Escola. São Paulo: Abril, p. 22, mar. 2010.

Embora seja algo bem específico de lexicografia, já caiu em prova o conceito de “Tesauro”:
vocabulário de um ramo do saber que descreve sem ambiguidade os conceitos a ele atinentes;
thesaurus (Houaiss).

Numa definição mais ampla, que associa “Tesauro” ao dicionário de ideias (analógico), temos:
“Tesauro, também conhecido como thesaurus ou dicionário de ideias afins,é uma lista de palavras
com significados semelhantes, dentro de um domínio específico de conhecimento. Por definição,
um tesauro é restrito. Não deve ser encarado simplesmente como uma lista de sinónimos, pois o
objetivo do tesauro é justamente mostrar as diferenças mínimas entre as palavras e ajudar o
escritor a escolher a palavra exata. Tesauros não incluem definições, pelo menos muito detalhadas,
acerca de vocábulos, uma vez que essa tarefa é da competência de dicionários.”

Ex.: tesauro de museologia

Outro conceito importante nesse tema é a TERMINOLOGIA: "conjunto vocabular próprio de uma
ciência, técnica, arte ou atividade profissional, como, por exemplo, a terminologia da Informática,
da Biotecnologia, do Direito, da Música, etc. Daí haver dicionários e glossários de termos médicos
ou jurídicos, por exemplo.

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ORGANIZAÇÃO DE VERBETES
Como vimos, a organização tradicional dos dicionários é alfabética. Vejam mais um exemplo:

Observemos alguns detalhes sobre a organização dos verbetes. Esta "imagem" de um verbete
pode ser chamada de "ficha lexicográfica".

A palavra "talvez", em negrito, é a "entrada" do verbete, com sua data e pronúncia correta
(ortoépia).

Depois há uma lista numerada de acepções (sentidos) com exemplos de uso para contextualização.
As das últimas acepções indicam um uso formal.

A parte inferior esquerda da aba traz a etimologia (origem e formação): combinação de


"tal"+"vez".

Há dicionários que se preocupam em datar os verbetes, chamados dicionários históricos.


Dicionários focados na formação e na origem da palavra são chamados de etimológicos.
Percebam, contudo, que essas informações aparecem sinteticamente em um dicionário
tradicional, também chamado de “lexicográfico”.

Pode haver também abas com sinônimos, antônimos, parônimos...

Nos dicionários analógicos, procura-se um termo para encontrar ideias afins. Por isso dissemos
que mostram um campo semântico, palavras associadas. Permitem então a busca de palavras
interligadas; alguns, inclusive, chamam-se "Dicionário de Palavras Interligadas". Alguns são
ilustrados, mas a maioria traz esquemas. Vejamos o exemplo do Dicionário Analógico Aulete
Digital.

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Vejamos o exemplo do famoso Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, de Francisco Ferreira


Azevedo. Notem que o verbete está numerado e há uma lista de outras palavras associadas:
Anedota>>Piada.

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Os dicionários acima são digitais ou eletrônicos, trazem os verbetes em “formato informático”,


isto é, reproduzem a estrutura dos dicionários físicos, adaptando-a em janelas ou abas digitais,
com uma caixa de pesquisa.

Agora segue um mapa mental com as informações mais importantes vistas até aqui.

Dicionários

Lexicais: enumeram Analógicos: partem Etimológicos: Onomásticos:


do significado e
==bec==

as palavras e seu focam na origem e focam nos nomes


significado, apresentam na evolução das próprios,
alfabeticamente. palavras palavras. sobrenomes,
associadas, num alcunhas,
campo semântico. topônimos...

(MPE-GO / Assistente Administrativo / 2022)


Um dicionário ensina o seguinte sobre o vocábulo alfabeto: empréstimo do latim, composto de
alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego.
Esse tipo de dicionário nos dá dos vocábulos
A) a formação histórica.
B) as marcas gramaticais
C) a origem espacial.
D) a origem temporal.
E) a relação entre as línguas.
Comentários:

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Vejam que ele mostra a composição histórica da palavra, a origem dos componentes, enfim: a
etimologia. Como comentamos, a etimologia é também um estudo histórico.
Muito cuidado: a “relação entre as línguas” da letra E se refere aos dicionários bilíngues, como
um “português-inglês”. O fato de mostrar a etimologia e haver uma palavra de origem latina não
faz ser um dicionário de latim. É preciso ter em vista que o português tem origem no latim, é uma
língua latina.
Gabarito: letra A

(PREF. JOÃO PESSOA-PB / 2014 )


Os dicionários são obras importantes para o trabalho do professor. Assinale a alternativa em que
o tipo de dicionário não está adequadamente explicado.
a) Dicionário etimológico – dicionário que indica a origem dos vocábulos empregados, com seus
significados.
b) Dicionário histórico – compilação de vocábulos, com a preocupação de datação das ocorrências.
c) Dicionário lexical – compilação completa ou parcial das unidades léxicas de uma língua.
d) Dicionário eletrônico – dicionário fornecido em formato informático.
e) Dicionário onomástico – dicionário que se restringe aos nomes dos seres, reunindo os
substantivos e verbos de uma língua.
Comentários:
Dicionário onomástico – apresenta nomes próprios, sobrenomes, apelidos, topônimos. Não
apresenta verbos de uma língua. Os verbos aparecem nos dicionários lexicais comuns, mas há
também dicionários específicos de verbos, que mostram sua regência, sua conjugação.
Gabarito: letra E.

(PREF. FLORIANÓPOLIS–SC / Bibliotecário / 2016 )


Julgue o item a seguir.
Dicionário é uma obra de referência que dá informações sobre palavras e sua grafia, pronúncia,
significado, etimologia, sinonímia e antonímia.
Comentários:
Exatamente. Notem que essas informações adicionais, além do sentido, como etimologia,
sinonímia, antonímia, também aparecem em dicionários lexicais comuns.
Gabarito: Correto.

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