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Funções da Literatura
Funções da Literatura
Resumo
Os actos ilocutórios são considerados por John Searle as unidades mínimas da comunicação
linguística. Estudar os actos ilocutórios implica uma análise exaustiva dos recursos linguísticos
que convencionalmente os realizam, em cada língua. Por outro lado, dado que nem sempre o
falante diz o que quer dizer, ou quer dizer o que diz, o estudo dos actos ilocutórios envolve ainda
a complexa análise dos processos de indirecção, uma área de investigação hoje em dia
largamente tributária da reflexão pioneira de Grice.
Os actos ilocutórios expressivos são uma das classes de actos ilocutórios propostas por Searle,
pouco explorada na literatura disponível. Apresentamo-la aqui estruturada em várias subclasses,
com princípios de análise e propostas de sistematização de algumas das variadíssimas estruturas
que permitem a sua realização em português: tipos de frase, verbos e expressões performativas e
outros recursos de verbalização da modalidade apreciativa.
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1.Introdução
Os actos de fala estão inscritos flog novas programas de Português do ensino básico,
homologados em 2009, como conteúdos dominanternente procedimentos que devem ser
trabalhados em gala de aula, embora não explicitamente sistematizados através de uma
metalinguagem.
Mais concretamente, Os actos de fala são mencionados no 2° ciclo, nas competências específicas
Expressão Oral (Participar em situações de interacção oral) e Conhecimento Explícito da Língua,
Piano discursivo e textual.
Trata-se, pals, de urn conteúdo que foi legitimado pelos textos reguladores por excelência das
práticas pedagógicas dos docentes, os programas oficiais, Significa isto pie se pressupõe uma
formação sólida dos professores de Português na área da Pragmática Linguística.
As palavras e a linguagem têm um enorme poder nas nossas vidas, uma vez que, quando
comunicamos, interagimos com os outros, não nos limitamos simplesmente a dizer/falar algo. Na
maior parte das situações comunicativas, há determinado objectivos precisos nos nossos actos de
fala/ actos elocutórios. Os enunciados podem servir para emitir juízos, expressar emoções, levar
os outros a fazerem algo, legitimar a realidade ou, até, criar realidade nova. A linguagem tem,
assim, uma função social. Especifiquemos, então, estes aspectos.
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1.1.OBJECTIVOS.
1.3.Actos ilocutórios
Acto linguístico que o falante realiza quando, em determinado contexto comunicativo, profere
um enunciado, sob certas condições e com certas intenções. Falar é realizar actos de acordo com
certas regras, ao pronunciar determinada frase, em contexto específico, o falante executa,
implícita ou explicitamente, actos como «afirmar», «avisar», «ordenar», «perguntar», «pedir»,
prometer», «objectar», «criticar», verbos que denotam explicitamente actos Alguns suportes
básicos dos actos ilocutórios expressivos em português
Definida uma tipologia, passemos à análise de alguns suportes mais convencionais da força
ilocutória dos actos expressivos: os verbos e expressões performativas e as frases
exclamativas.39 Propomos alargar brevemente a análise a frases optativas e interjeições. A nossa
reflexão leva-nos ainda a analisar estruturas híbridas que, provavelmente, realizam
simultaneamente actos expressivos e asserções e não são contempladas na bibliografia
consultada: frases com adjectivos e advérbios avaliativos. Estes suportes, evidentes ao nível da
superfície da frase, conferem determinadas propriedades ao enunciado, funcionando como
indicadores da sua força ilocutória. de fala. Assim, o acto ilocutório que surge no discurso do
falante como indirecto é descodificado pelo interlocutor como principal. Este exercício de
interpretação tão complexo mobiliza conhecimentos de vários tipos: “conhecimento de uma
língua, conhecimento de actos linguísticos, conhecimento de princípios de cooperação
conversacional e conhecimentos sobre o mundo.” (Lima 2007: 54) Todos estes níveis de
conhecimentos permitirão ao falante fazer as inferências necessárias à compreensão; quando o
falante está socializado, este processamento é extraordinariamente rápido, graças ao princípio de
cooperação (Grice, 1975). O reconhecimento da inedequação ou não relevância contextual do
acto ilocutório literal desencadeia um raciocínio inferencial que recupera a implicatura
correspondente ao acto ilocutório indirecto. Sem recorrer à perspectiva puramente intencional de
Grice, Searle não tinha como explicar uma interpretação não literal de um acto como o que se
segue:
Este enunciado pode ser entendido como assertivo (é a descrição de um facto), como directivo
(pede-se, indirectamente,18 que alguém faça alguma coisa para mudar o estado de coisas, por
exemplo, fechar a janela…), ou ainda como expressivo (exprime-se o desagrado pela
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temperatura da sala). Mas o que o falante faz ao enunciar (25), literalmente, é apenas uma
asserção. A situação contextual é que vai esclarecer o objectivo ilocutório deste acto de fala.
Portanto, um mesmo enunciado pode corresponder à realização de mais do que um acto
ilocutório. Mas num contexto concreto, só um acto é realizado, directa ou indirectamente.
1.5.Considerações Finais
Espero ter contribuído, corn estas reflexões e sugestões e actividades, para evidenciar as
potencialidades que urn trabalho sobre actos de fala encerra na aula de Português Língua
materna. As práticas sobre a língua, que constitui do ensino aprendizagem do Português, poem
em relevo a inseparabilidade entre competências e conteúdos, entre gramática e discurso. As
dimensões sociais, subjectivas e interactivas da Língua estão de facto inscritas na sua estrutura, e
o conhecimento explícito da língua que os programas consagram e defendern, envolve
necessariamente urna dimensão reneta pragrnática. Relativamente à tipologia dos actos
expressivos, será importante recordar que muitos deles são actos meramente sociais,
institucionais, isto é, não é uma condição necessária à sua realização que o falante experimente
de facto o estado psicológico inerente ao acto: quando pede desculpa, não tem de estar realmente
arrependido, ou quando felicita o seu interlocutor, não tem de estar realmente feliz pelo seu
sucesso. Daí que seja pouco relevante centrar a análise deste tipo de actos ilocutórios nas
emoções expressas, devendo optar-se por outro critério mais objectivo, por exemplo as funções
sociais desempenhadas por cada enunciado expressivo. Isto não invalida que possa haver
expressão sincera de sentimentos de gratidão ou arrependimento através de actos expressivos.