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Longe de considerar o golpismo dos anos sessenta como ação de indivíduos ou grupos
isolados que, em campo comum e interesses mútuos, deram prosseguimento a um projeto
civil e militar de autoritarismo brasileiro. Dreifuss esboça um breve panorama da
consolidação de um grupo político muitas vezes deixado de lado pelos pesquisadores não só
do Golpe de 64, mas também da sua movimentação no interior da sociedade brasileira. A este
grupo, denominado de “bloco de poder orgânico”, ficaram a cargos a tarefa de desestabilizar
um regime democrático em nome dos interesses de políticos e empresariais.
João Goulart assumia o posto de presidente sob fortes impulsos conspiratórios por
parte de seus opositores, tanto é que só é aceito no poder quando se torna dependente de um
regime parlamentarista; contudo, ao retomar ao presidencialismo ainda em 1962, sua figura
erigiu posições cada vez mais radicais por parte dos políticos conservadores e, acima de tudo,
da classe empresarial que o enxergava como potencial inimigo de seus interesses de
acumulação de capital.
Deste modo, o plano de ação do grupo de poder coordenado pelo IPES consistia em
ataques frontais ao Poder Executivo, exercendo uma verdadeira generalização do medo,
instituindo uma necessidade de retomar o que estava sendo perdido, a liberdade propagada
pelas classes altas e médias da sociedade. O golpe foi fruto de uma ação coordenada pelo
grupo de empresário que, em conjunto com a classe oligárquica-industrial e com as Forças
Armadas, tomaram de assalto o populismo de origem getulista e destituíram-no da
presidência, justificando uma ação democrática.
No pequeno texto da autora não há sequer menção explícita a luta de classes, mas de
constituição de uma sociedade imersa em conflitos entre reformistas e conservadores, com os
“radicais” colocados à margem das análises. Argelina Figueiredo analisa dois aspectos em que
as forças de esquerda ou reformistas deram vazão ao crescimento dos ideais golpistas: a
instituição do parlamentarismo e o presidencialismo no pós-plebiscito em meados de 1962.
Porque a ação de conciliação era o esperado para as forças comprometidas com a democracia
liberal-burguesa.
A autora não contrapõe, e sequer cita, os conflitos entre a classe dominante e as classes
dominadas. A conjuntura econômica é esvaziada e em seu lugar as ações de indivíduos e
grupos solitários se sobressaem nesta análise. O ponto forte de sua análise é, talvez, a
conciliação dos reformistas junto aos conservadores como ideal para frear o desmonte das
instituições democráticas materializada sob o governo de João Goulart.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DREIFUSS, René Armand. 1964, a conquista do estado: ação política, poder e golpe de
classe. Vozes, 1987.