A Lojas Americanas foi fundada em 1929, seus fundadores queriam construir uma loja parecida com o Five and Ten Cents (lojas que vendiam mercadorias a 5 e 10 centavos de dólares americanos) que havia sido bem recebida nos Estados Unidos e na Europa. Ao chegarem no Brasil, perceberam que as lojas eram caras e especializadas, levando aos consumidores de renda média a terem que comprar em vários lugares diferentes, vendo essa abertura no mercado decidiram abrir a primeira Lojas Americanas em Niterói, Rio de Janeiro, com o propósito de abastecer a população com uma grande variedade de produtos a preços acessível, tanto que usava o slogan “Nada além de 2 mil réis”. Ela foi muito bem recebida, e no final do ano já contava 4 lojas. Desde então venho expandindo constantemente, na década de 90 formou um joint venture com o grupo Wal Mart, na década 2000 abriu dezenas de lojas em todo o país e adquiriu os sites de comércio eletrônico Shoptime, Submarino, Sou barato e Supermercado Now, além de criar o próprio Americanas.com, juntados sob o nome B2W Digital, dessa forma, entraram numa nova área expansiva da época que até hoje gerava um lucro significativo para a empresa e espiava para uma tecnologia importante para o futuro, tanto que em um ataque hacker que paralizou o site por quatro dias, foi estimado uma perda de $1 bilhão em vendas, e que foi essencial para manter as vendas durante o período da pandemia. Nos últimos anos, a Lojas Americanas S.A. se fundiu com a B2W Digital S.A. gerando a Americanas S.A. Logo antes da crise, em 2022, a empresa contava com mais de 3500 lojas e 44 mil funcionários, sendo desses 600 engenheiros que trabalhavam no desenvolvimento de sistemas e soluççoes para comércio eletrónico.
Quem está por trás nas Americanas?
Os três principais acionistas entraram desde 1982, eles são Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Macel Telles, são os homens mais ricos do Brasil e possuem 30% das ações como acionistas de referência, de forma que tem influência no rumo da empresa. Os outros 70% são distribuídos entre diversos investidores e instituições, por exemplo bancos credores como o Santander e Ítau. Fora os acionistas e participando diretamente na tomada de decisões da empresa, se encontrava, antes da crise, como presidente da Americanas Miguel Gutierrez. Sua estrutura, na parte de liderança, estava divida em um Conselho de Administração, diretoria, conselho fiscal e seis comitês. E a remuneração dos administradores eram fixas, baseadas em alguns critérios, incluindo principalmente o volume de vendas e despesas, fator que será importante para explicar algumas possíveis motivações. Como aconteceu a crise? A crise se inicou no dia 11 de janeiro de 2023 quando o CEO da Americanas, Sergio Riel renunciou o cargo e relatou uma inconsistência de R$ 20 bilhões no montante da empresa. Depois disso tudo se desenrolou em questão de dias, em duas semanas o valor das ações havia sofrido uma desvalorização de quase 95%, a saida de Riel e o anuncio do rombo minou a confiança dos investidores pela empresa que faz com que as ações percam valor. Houve diversos processos judiciários e discussões, e no final de tudo foi revelado que a Americanas estava devendo mais de R$ 43 bilhões para 16,3 mil credores. Além disso, as firmas de classificação como Fitch e S&P rebaixaram o rating da Americanas de B para D, simbolizando calote, já que ela está devendo dinheiro para diversos investidores e não tem condições de pagar. Com a disponibilização de documentos a Americanas admitiu que houve fraude por parte dos executivos, incluindo o antigo CEO Miguel Gutierrez que havia sido parte da empresa durante 30 anos, que estavam intencionalmente reportando valores errados para o balanço. Fez parte também a firmas de contabilidade PwC, que auditou e analisou os balanços da Americanas e não detectou nada de incomum.
Quais foram os precursores para a crise?
A análise preliminar de R$ 20 bilhões ocorria devido uma operação chamada “risco sacado”, comunmente praticado no varejo, na qual a empresa pega um empréstimo do banco para pagar os fornecedores, ganhando tempo para pagar de volta. Porém nesse caso, a Americanas não registrou essa operação como despesas nos balanços da empresa, dando a impressão que ela estava lucrando muito mais do que ela realmente lucrava. Isso tem consequências como se tornar mais atrativa para investidores, já que aparenta ter bons lucros e bom crescimento, esse desnível também é refletido no salário dos executivos, que como citado anteriormente dependia dos lucros e despesas. Houve também o grande volume de venda de ações no final do ano passado por parte dos diretores da Americanas, que pode ser um crime caso tivessem conhecimento do rombo, pois constituiria uso de informação privilegiada para se beneficiar no mercado. Por último, com o aumento da inflação os consumidores perdiam poder de compra e o aumento de juros para combater a inflação desacelerava a economia, por desincentivar o investimento em negócios.
Quem foi afetado pela crise?
Dentro da empresa, os acionistas de referência Lemann, Sicupira e Telles sofrem perdas devido a diminuição no valor das ações da empresa e na necessidade de injetar capital para impedir a falência da companhia. Eles perderam também reputação por estarem atrelados a uma empresa na qual houve fraude. Também perdeu reputação a PwC por ter aprovado os balanços da Americanas que continham tamanho rombo. Os investidores, bancos credores, todos aqueles que haviam ações na empresa perderam valor, e os que haviam investido capital esperando um retorno com o crescimento da empresa também. Os bancos que faziam parte do “risco sacado” também perderam, pois a Americanas não possui fundos para pagar os empréstimos apropriadamente. A empresa obviamente perdeu muito, perdeu seu valor como empresa e investimento assim como a confiança do mercado e população, sua marca perdeu força devido a esse rombo. Por exemplo, a população estava optando por não comprar com a Americanas com receio de que o produto nunca chegue por causa do fim do fornecimento. Além disso, de forma geral as varejistas perderam confiança por medo que esteja acontecendo algo similar por baixo dos panos. A Marisa, WestWing, C&A, VIA, Lojas Renner, Magazine Luiza, todas elas perderam valor na bolsa brasileira, como consequência da perda de confiança da população nas lojas de varejo.
Quem saiu ganhando?
Os executivos que venderam as ações antes da crise se beneficiaram, já que a empresa perdeu o valor logo depois. Os competidores das Lojas Americanas viram um aumento em seus negócios, já que havia um buraco que poderia ser preenchido por eles. E se a Americanas conseguir se recuperar, aqueles que investirem nela enquanto seu valor está muito baixo verá um retorno muito alto.
Como acaba a história?
Dois fatores que afetam muito o futuro da Americanas é a dívida de R$ 43 bilhões e a perda de confiaça, ou seja, a má reputação contraída. A dívida pode ser considerada um problema de curto a médio prazo, na qual a resolução afeta diretamente se a empresa vai falir ou não. Para solucionar essa dívida a Americanas propôs um plano de recuperação que está sendo discutido entre eles e seus credores com o intermédio da Justiça, esse plano contem uma injeção de capital de R$ 10 bilhões com suporte dos acionistas de referência e a “venda” das dívidas, converter parte das dívidas em ações e vender as dívidas com desconto, de forma que quem compra está apostando que a empresa sobreviverá e pagará o empréstimo a longo prazo com juros. Se a empresa conseguir concordar em um bom plano de recuperação o problema da dívida seria resolvido, porém tem o problema da confiança, para concordarem depende que acreditem que a empresa sobreviverá e pagará as dívidas a longo prazo com juros, e para a empresa gerar lucro suficiente tem que resolver o problema da reputação manchada. A Americanas perdeu valor na bolsa e a confiança dos investidores com esse escândalo, dificultando que receba mais investimentos para alavancar o crescimento, perdeu também a confiança com os consumidores, este é um problema que afeta o longo prazo da empresa e nela se sustenta se ela consegue voltar a lucrar. A confiança com os consumidores pode ser conquistada novamente assim como o Facebook fez, mesmo depois de todo escândalo com roubo de informações, é possível que uma mudança de nome ajude, de qualquer forma se a Lojas Americanas voltar a prestar seus serviços sem problemas a confiança será restaurada, será necessário recuperar os consumidores perdidos para os competidores, mas isso são detalhes de negócio que terão que ser bem planejados. A confiança dos investidores poderá ser reconquistada com uma transparência adequada, considerando que depois de uma fraude como essa terá uma forte atenção sobre seus balanços, uma boa e confiável administração, e uma expectativa de lucro. Como suas ações estão bem desvalorizadas, pode-se usar isso como inventivo para que apostem na volta da Americanas, considerando que tem história e estrutura grande. Suas estruturas montadas não irão desaparecer por causa da crise, elas foram danificadas, mas podem ser reutilizadas e talvez uma outra opção seria reaproveitalas para outro modelo de negócio. Acredito que enquanto tiver uma boa possibilidade de lucro a Lojas Americanas sobrivevirá, mas isso também é influênciado pela situação atual da economia do Brasil, se ela desacelerar tornará mais difícil as vendas e o lucro das lojas de varejo e por cosnequência a volta da Americanas.
Onde entra a tecnologia?
Um aspecto importante para o futuro é o e-comércio, como mencionado, as vendas eletrônicas constituem parte significativa do lucro da empresa, é por esse meio também que a confiança abalada gerou problemas, os pedidos feitos na plataforma não foram entregues. Logo a tecnologia constitue um instrumento vital para a continuação da empresa, quão bem ela consegue vender depende de quanto a tecnologia suporta. A tecnologia poderia ser usada para garantir a transparência de seus negócios, facilitando a reconquista de confiança, por outro lado o uso de redes sociais para marketing pode ser essêncial também. Por fim pode-se afirmar que o futuro da Americanas depende do uso adequado da tecnologia.