Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Material Teórico
Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Revisão Textual:
Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone
Estimativas Para Créditos de
Liquidação Duvidosa
• Constituição de Estimativa
Existem alguns ramos de negócio em que, simplesmente, não há como vender o produto
se não for concedido ao cliente um prazo para o pagamento. Apesar de a venda à vista ser
mais prática, rápida e segura, o parcelamento de compras é largamente utilizado no Brasil e
tornou-se uma marca do folclore e das tradições comerciais brasileiras.
Nesta unidade, iremos aprender como lidar, na contabilidade, com as estimativas para
crédito de liquidação duvidosa e suas consequências para o patrimônio. É muito importante
que você leia e interaja com os materiais disponibilizados. Conhecer os conceitos dessas
operações e seu correto tratamento contábil será de muito valor em sua carreira profissional.
5
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Contextualização
As três sócias, entre outras coisas, vão definir a estimativa sobre créditos de liquidação duvidosa.
Como, normalmente, elas costumam realizar vendas a prazo aceitando cheques pré-datados,
fizeram um levantamento e encontraram um histórico de 4% de vendas que se tornaram créditos
incobráveis. É isso que elas irão informar no sistema administrativo que usam para ajudar a
administrar a loja, como você pode ver a seguir:
Certamente elas vão tentar diminuir os créditos incobráveis, mas, por enquanto, vão mostrar
4% de ECLD no Balanço Patrimonial.
6
Estimativa Para Créditos de Liquidação Duvidosa (Ecld)
Breve Introdução:
Estudaremos nesta unidade a “Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa” (ECLD),
um aspecto necessário para constar nas demonstrações contábeis de qualquer empresa que
conceda prazos para pagamento aos seus clientes. Por isso, o contador precisa estar atento a
esse aspecto.
Uma boa parcela das empresas tem a necessidade de efetuar vendas à prazo, sendo que
normalmente os clientes costumam efetuar os pagamentos de suas dívidas. Ocorre que pelo
histórico que se verifica o Brasil, sempre há uma porcentagem de clientes que acabam não
pagando suas dívidas, seja porque repentinamente sofrem uma diminuição de renda, ficam
desempregadas, adoecem ou tem casos de doenças na família, se acidentam, acabam não se
dispondo a pagar por insatisfação ao produto que compraram, tiveram um desarranjo financeiro
motivado por compras excessivas, clientes que falecem, clientes que porque estão com pouco
fluxo de caixa priorizam o pagamento de outras dívidas, enfim, diversas situações que os
clientes enfrentam e que consequentemente levam a empresa a não receber a totalidade de
suas vendas a prazo.
Ilustrando essa situação, convido-o (a) a observar atentamente a seguinte figura:
Figura: Comparação entre vendas realizadas à vista e vendas à prazo.
Venda à vista
Venda à prazo
DUPLICATA
Pague-se daqui a
X 120 dias o valor
de $ X,00
7
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Glossário
O ato de pedir um prazo de pagamento para as mercadorias recebidas e paga-las posteriormente
com o dinheiro auferido nas vendas é conhecido popularmente como “trabalhar com o dinheiro
dos outros, e é justamente isso que ocorre, na sabedoria popular dos pequenos comerciantes, mas
vale pedir mais prazo para pagamento ao fornecedor do que solicitar empréstimos para giro de
caixa no banco, onde paga-se juros.
Para melhor entender esses hábitos de consumo do povo brasileiro, é muito interessante relembrar um
interessante caso das Casas Bahia, uma empresa de grande porte que vende móveis, eletrodomésticos
e eletrônicos no Estado de São Paulo:
Foto histórica da loja do Sr. Samuel Klein
8
O Sr. Samuel Klein é um imigrante polonês que viveu os horrores do nazismo e dos campos de
concentração e conseguiu, a duras penas, chegar ao Brasil e se estabelecer como comerciante.
Logo, se enveredou como vendedor de móveis e colchões.
Observando os hábitos e costumes do povo brasileiro, o Sr. Samuel percebeu que muita gente tinha
vontade e possibilidade de comprar móveis e bens de valor mais elevado, mas o alto preço para compra
à vista inibia uma negociação. O consumidor teria que se organizar e disciplinar financeiramente e
fazer uma poupança, acumulando recursos financeiros sem gasta-los com outras necessidades mais
imediatas para então se encorajar a entrar em uma loja de móveis e propor uma compra.
Grande parte das pessoas no século passado tinha uma escolaridade muito baixa, não tinham noções
de educação financeira, usavam de sabedoria popular para administrar as finanças e simplesmente não
faziam poupança. Como se diz na expressão popular, “viviam a cada dia”. Então, incentivar as pessoas a
que fizessem uma poupança com a finalidade de comprar bens de valor elevado seria infrutífero.
Nesse cenário onde havia, como os economistas conceituam, a chamada “demanda reprimida”, o Sr.
Samuel Klein começou a parcelar a compra dos clientes em valores pequenos, que não intimidavam
e que não requeriam esforços de administração financeira das pessoas. Assim, começou a vender
mais e se destacar em sua atividade de comerciante. De certa forma, esse procedimento também
incentivava a disciplina financeira.
No entanto, com esse procedimento, o Sr. Samuel Klein despertou desconfiança porque também
despertava (ou poderia despertar) outro conhecido hábito (ou o que se imaginava que seria um
hábito), o da malandragem! O bem era entregue ao consumidor sem ter sido completamente pago e
não haviam garantias na operação. Portanto, seria uma loucura porque uma boa parcela dos clientes
certamente não voltariam para efetuar o pagamento.
Felizmente, a experiência observada pelo Sr. Samuel Klein foi bem diferente! Os consumidores
pagavam adequadamente o parcelamento. Em alguns poucos casos as dívidas não eram saldadas,
mas esses casos não prejudicavam e impediam a operação principal, que dava lucros. Com isso,
ressaltou-se uma importante característica do brasileiro, que é o da honestidade, de saber honrar
seus compromissos e contratos.
Mais do que isso, para pagar suas dívidas os consumidores precisavam ir no caixa da loja. Essa era
uma esperta exigência do Sr. Samuel Klein, que com isso tinha a oportunidade de fazer o cliente ir
até a loja, ver as novidades, ouvir novas propostas e evidentemente, fazer novos negócios.
Esse sistema foi mantido pelas Casas Bahia por muitos anos, até que recentemente um grande
banco de varejo assumiu a operação de parcelamento, mas continua usando a experiência das
Casas Bahia no relacionamento com seus clientes.
Essa experiência do Sr. Samuel Klein e de outros comerciantes ajudou a formar um forte
hábito comercial. Hoje são poucas as vendas de bens de valor elevado realizadas á vista, o
comerciante que não oferecer parcelamento praticamente não consegue se manter no mercado.
Brincando com esse hábito comercial no Brasil, o jornalista Joelmir Beting, falecido
em 2012, e muito famoso por criar frases inusitadas para comentar problemas
econômicos, disse que:
“QUEM NÃO DEVE NÃO TEM.”
Você pode conhecer outras frases no seguinte endereço:
<http://www.joelmirbeting.com.br>.
9
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Dessa forma, o mercado espera que toda e qualquer empresa que efetua vendas a prazo
prepare uma ECLD, uma Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa, o que gera também
a necessidade de que essa Estimativa seja escriturada e que ajustes sejam realizados para, por
exemplo, suprir uma provisão.
Também dessa necessidade de parcelar as compras, durante muitos anos houve a prática muito
usada (e que continua a ser bem usada) de receber cheques pré-datados. No sistema financeiro
nacional, considera-se que todo cheque é um documento à vista, podendo ser descontado a
qualquer momento. No entanto, por acordo de cavalheiros, os cheques são descontados apenas
na data acordada. Mas isso também gerava problemas, muitos consumidores esqueciam dos
cheques pré-datados que haviam emitido. Desenvolveu-se então um método genuinamente
brasileiro onde os consumidores realizam parcelamento no cartão de crédito.
O parcelamento no cartão de crédito, desde que a empresa não aceite outras formas de
parcelamento, pode eliminar a necessidade de realizar a ECLD, mas a inadimplência não deixa
de existir, passa a ser calculada pela administradora de cartões de crédito.
Conceituação
O termo ECLD (Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa) é um termo novo, que
surgiu com as normas internacionais de contabilidade. Assim, indica-se na tabela a seguir a
evolução da denominação dessa atividade:
Tabela: Evolução do Termo ECLD:
Denominações anteriores:
PDD
- Provisão para devedores duvidosos
PCLD
- Provisão para créditos de liquidação duvidosa.
Denominação atual:
– ECLD
Estimativa para créditos de liquidação duvidosa
10
A sigla “PDD” certamente continuará a ser usado por algum tempo nas conversas informais
dos contadores, que estavam acostumados a esse termo. Mas, atualmente, o PDD é o ECLD,
que basicamente é uma estimativa de perdas que as empresas fazem sobre os valores a receber
provenientes de vendas a prazo de mercadorias, produtos ou serviços.
A estimativa de perdas sobre as operações dos valores a receber de suas vendas a prazo tem
como objetivo informar a empresa e os usuários de suas demonstrações contábeis que talvez
(ou provavelmente), alguns dos seus clientes não irão quitar suas dívidas. Um exemplo:
Do total de vendas a prazo de mercadorias a diversos clientes que soma R$ 100.000,00,
A Empresa Essencial S/A após cálculos conclua que talvez a empresa não venha a receber
R$ 3.000,00, o que será, então, uma perda para a empresa a ser contabilizada no resultado.
Consequentemente, a empresa não poderá contar com uma entrada de numerários.
11
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Não existe um percentual padrão ou único para a constituição da Estimativa, é necessário que
cada empresa, em seu mercado e ambiente de negócios específico faça um estudo personalizado.
Nagatsuka Teles (2002 p.125) apontam que:
O montante da provisão é estabelecido, normalmente, com fundamento na
experiência acumulada pela empresa em suas vendas a prazo (estatísticas
de não recebimento) e análise de tendências no mercado (inadimplência no
setor econômico). O ideal talvez fosse analisar duplicata por duplicata, ou seja,
cliente a cliente, e aí efetuar a provisão, mas sabemos que nem sempre isso é
possível, por isso, a sistemática mais utilizada é o estabelecimento de uma média
estatística de inadimplência dos últimos três ou cinco anos.
Nessa citação utiliza-se a expressão “provisão”, que atualmente deve ser substituída por “estimativa”,
conforme estudamos acima. A autora Nagatsuka é o sobrenome de casada da Profa. Divane Alves
da Silva, uma das autoras desta unidade.
12
Assim, entende-se que um supermercado que praticamente realiza todas as suas vendas à
vista, terá uma estimativa muito mais baixa do que uma loja de eletrodomésticos ou de vestuário.
Para encontrar uma porcentagem adequada, realiza-se um estudo normalmente baseado em
experiências passadas.
Importante
Métodos de cálculo da ECLD tenho o passado como base são mais confortáveis, mas nem sempre
são adequados. Está em discussão na IASB formas para se utilizar planejamentos como base para a
formação da ECLD. Ver comentários ao final desta unidade.
Por isso, é necessário que o contador tenha relacionamento interpessoal com os executivos de
outras áreas da empresa, envolvidos com os clientes e as operações. Por exemplo, uma consulta
ao diretor de vendas certamente ajudará no estabelecimento de uma estimativa mais adequada.
A Tecnologia da Informação, pelas quais os clientes podem ser estudados tendo como base um banco
dados de um sistema CRM (Customer relationship management – Administração de relacionamento
com o cliente), pode ajudar no estabelecimento de uma ECLD.
13
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Observações
Antes disso foram tentados alguns vários planos econômicos, procure estudar a respeito.
Observações
É importante comentar neste momento que o regulamento do imposto de renda, o RIR/99 aponta
que todas as perdas são indedutíveis, uma vez que, pela sua própria natureza, não foram necessárias
para o desenvolvimento da atividade empresarial. O próprio RIR/99 classifica algumas despesas
também como indedutíveis.
14
c) os créditos com pessoas jurídicas coligadas, interligadas, controladoras e
controladas ou associadas por qualquer forma; (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
d) os créditos com administrador, sócio ou acionista, titular ou com seu cônjuge
ou parente até o terceiro grau, inclusive os afins; (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
e) a parcela dos créditos correspondentes às receitas que não tenham transitado
por conta de resultado; (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
f) o valor dos créditos adquiridos com coobrigação; (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
g) o valor dos créditos cedidos sem coobrigação; (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
h) o valor correspondente ao bem arrendado, no caso de pessoas jurídicas que
operam com arrendamento mercantil; (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
i) o valor dos créditos e direitos junto a instituições financeiras, demais instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil e a sociedades e fundos de
investimentos. (Vide Lei nº 9.430, de 1996).
15
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Ao ler o Art. 43 da Lei 8.981/95, chama-se a atenção para outra lei, a Lei nº 9.430/96. Entende-
se que as perdas apuradas sobre possíveis inadimplências, para fins fiscais, são indedutíveis.
Assim, conforme determina a Lei nº 8.981/95 – Art. 43, § 4º, a partir de 01/01/1995, o percentual
passou a ser a média efetivamente apurada nos três últimos exercícios.
O exemplo no capítulo 5.3.1 é baseado nos procedimentos indicados na lei 8.981/95.
Exemplo de cálculo
Vamos supor que a Manufatura de Bolsas Indianópolis Ltda , uma empresa especializada
em produção e venda de bolsas de luxo, no exercício 20X3, tenha deixado de receber 4% do
valor das duplicatas que tinha para receber na data do balanço; no exercício 20X4, essa perda
correspondeu a 5%; no exercício de 20X5, a 3%.
Então, temos:
• 4% – perda em 20X3;
• 5% – perda em 20X4;
• 3% – perda em 20X5.
4% + 5% + 3% 12%
= = 4%
3 3
16
Em 31 de dezembro de 20X6, o percentual a ser aplicado sobre os valores a receber das
vendas a prazo seria de 4%.
Esse procedimento de cálculo vai ao encontro do que comentaram Nagatsuka e Teles (2002,
p. 125):
o percentual relativo da provisão em relação ao montante de duplicatas a receber
poderia variar de empresa para empresa, dependendo do setor econômico no
qual ela se insere, o controle de risco de crédito que utiliza, a qualidade de sua
carteira de clientes e até mesmo as condições conjunturais da economia.
O resultado a ser obtido com a aplicação da média de 4%, dessa forma, não é uma suposição
sem sentido, tem “lastro” e é o resultado da observação do comportamento real dos clientes da
empresa Manufatura de Bolsas Indianópolis Ltda nos últimos três anos e que provavelmente se
repetirá no próximo exercício social.
Constituição de Estimativa
17
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
ATIVO PASSIVO
ATIVO CIRCULANTE
Clientes...........................................10.000.000,00
Estimativa para Créditos de Liquidação
duvidosa..........................................(400.000,00)
18
Para melhor entender essa análise, observe as seguintes figuras:
+10.000.000,00 400.000,00
- 400.000,00
= R$ 9.600.000,00
ATIVO PASSIVO
ATIVO CIRCULANTE
+
Clientes...........................................10.000.000,00
= R$ 9.600.000,00
19
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Muito Importante
Até o momento em que esta unidade foi finalizada, os procedimentos para o cálculo da
ECLD estão atualmente em discussão na IASB, onde junto com a FASB Norte-Americana está
sendo elaborada a Norma Internacional sobre instrumentos financeiros IASB 9.
Uma crítica que se realiza aos atais procedimentos de cálculo da ECLD é que se baseiam
no passado e tem, portanto, mais credibilidade, porém, impedem que cálculos baseados em
outros critérios sejam utilizados. Por exemplo, imaginemos que uma empresa lance no mercado
um produto ou serviço novo e inovador, sem igual. Não é correto em um caso desses buscar
o histórico da empresa, em alguns momentos esse nem existe. É necessário então estabelecer
critérios para que dados planejados também possam servir de base para as estimativas. Esse
assunto certamente será contemplado na Norma Internacional IASB 9.
20
Material Complementar
21
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Referências
CORDEIRO DA SILVA, Edson. Como Administrar o Fluxo de Caixa das Empresas: Guia
de sobrevivência empresarial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
IUDÌCIBUS, Sergio de. Et al. Contabilidade Introdutória. 11.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GRIFFIN, M.P. Contabilidade e finanças. São Paulo: Saraiva, 2012. (Série Fundamentos).
(E-book)
22
MÜLLER, A. N. Contabilidade básica: fundamentos essenciais. São Paulo: Pearson
Education, 2012
23
Unidade: Estimativas Para Créditos de Liquidação Duvidosa
Anotações
24
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo - SP - Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000