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M A N U A L D E T R A U M A O R T O P É D I C O

Lesões traumáticas da coluna cervical


Marco Túlio Costa

EPIDEMIOLOGIA Ressonância magnética


O trauma da coluna cervical é res- A TC e principalmente as radio-
ponsável por metade das 50.000 lesões grafias apresentam uma limitação
medulares que ocorrem nos Estados quanto à avaliação de partes mo-
Unidos a cada ano e 40% das lesões les da coluna cervical. Apesar de se
cervicais estão associadas a algum tipo constituir num exame caro, de alta
de déficit neurológico. Existe uma dis- tecnologia e de longo tempo de
tribuição bimodal quanto à idade com aquisição de imagem, a ressonância
o primeiro pico entre 15 e 24 anos e o permite a avaliação detalhada de le-
segundo pico após os 55 anos. sões ligamentares, disco interverte-
bral e edema medular.
DIAGNÓSTICO
Radiografia TRATAMENTO
Qualquer paciente vítima de • Fratura do côndilo occipital
trauma de alta energia deve ser sub- Normalmente secundário a com-
metido ao estudo da coluna cervical pressão axial, pode ocorrer de forma
com três incidências radiográficas isolada ou em associação com lu-
(AP, perfil e trans-oral). Achados do xação atlanto-occipital. Lesões neu-
exame físico e neurológico orientam rológicas não são comuns, porém
a solicitação de exames comple- quando ocorrem comprometem
mentares adicionais (Tomografia e/ particularmente os pares cranianos
ou Ressonância). IX, X, XI e XII. TC geralmente é indi-
Tomografia computadorizada cada na suspeita desta lesão.
(TC)
Na presença de radiografias apa- Classificação de Anderson e
rentemente normais, 5 a 8% dos Montesano:
pacientes apresentam fraturas cervi- Tipo I - Impactada (cominutiva)
cais. A TC tem indicação formal em Tpo II - Fratura da base do crânio
pacientes intoxicados com suspeita Tipo III - Avulsão do ligamento alar
de lesão cervical, pacientes alertas, As fraturas tipo 1 e 2 são estáveis
porém com achados clínicos positi- e necessitam de colar cervical tipo
vos para lesão cervical, na impossibi- Filadélfia por 2 a 3 meses. As fraturas
lidade de realização de radiografias tipo 3 necessitam de pelo menos o
adequadas e naqueles com achados halo e nos casos de instabilidade, ci-
suspeitos nas radiografias. rurgia (artrodese).

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• Luxação atlanto-occipital Tipo I - Fratura do arco posterior


Lesão associada à alta mortali- (mais comum)
dade, é duas vezes mais frequente na Tipo II - Fratura da massa lateral
criança que no adulto. Comprometi- Tipo III - Fratura explosão (Jeffer-
mento neurológico está presente na son)
maioria dos casos e o aumento do A estabilidade desta fratura é de-
índice de Powers (BC/OA) acima de terminada pela integridade do liga-
1.0 é indicativo de luxação anterior e mento transverso. O deslocamento
abaixo de 0.8 sugere deslocamento das massas laterais do atlas acima
posterior. de 6.9 mm, assim como o aumento
do intervalo atlanto-odontoide (IAO)
acima de 4 mm é indicativo de rup-
Figura 1. tura deste ligamento.
As fraturas do atlas, portanto, sem
ruptura do ligamento transverso (es-
táveis) devem ser tratadas com imobi-
lização com halo por 8 a 12 semanas,
enquanto que aquelas com lesão do
ligamento devem ser tratadas com
artrodese C1-C2.

A luxação ainda pode ser longitu- • Subluxação atlanto-axial


dinal, porém o tipo anterior é o mais O mecanismo usual destas le-
comum (50%). A TC é essencial para sões é uma combinação de flexão,
confirmação diagnóstica. Em função extensão e rotação. Limitação de
do elevado grau de ruptura ligamen- movimento e dor suboccipital são
tar, o tratamento definitivo com fusão comuns assim como a postura em
occipito-cervical é obrigatório. rotação cervical em uma direção
com inclinação da cabeça para a
• Fratura do atlas direção oposta. Nas radiografias
Representam 10% das fraturas podem ser observados o desvio do
cervicais e em mais de 50% dos ca- processo espinhoso e a assimetria
sos estão associados a outras lesões das massas laterais. Tanto a tomogra-
cervicais. Compressão axial é o meca- fia quanto a ressonância são úteis na
nismo proposto. Lesões neurológicas confirmação diagnóstica.
são raras e as queixas são inespecífi-
cas, como dor suboccipital, cefaléia e Classificação de Fielding e
limitação de movimentos. Hawkins
Tipo I – IAO < 3 mm (transverso
Classificação de Levine e Edwards: intacto)

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Tipo II – IAO 3 a 5 mm (transverso o tratamento cirúrgico (artrodese C1-


insuficiente) C2 ou fixação isolada do dente) em
Tipo III – IAO > 5 mm (ruptura função do risco de pseudartrose.
completa)
Tipo IV – Luxação posterior (artrite • Espondilolistese traumática
reumatoide) do axis
Tração cervical tipo mentoneira, A maioria está associada a aciden-
seguida de colar Filadélfia estão indi- tes automobilísticos e apresentam
cados nas lesões tipo I. A falha nesta uma mortalidade de 25 a 40%.
abordagem inicial é indicação de
tração esquelética por duas semanas Classificação de Levine e Edwards
seguida de halo-vest ou artrodese Tipo I - Lesão da pars articulars
C1-C2 nos casos não responsivos. As com deslocamento < 3 mm
lesões tipo II e III são consideradas Tipo II - Deslocamento > 3 mm
instáveis e, portanto, exigem fusão com angulação
atlanto-axial. IIa – Angulação acentuada
com pequeno deslocamento
• Fratura do odontoide Tipo III – Fratura- luxação (uni ou
Representam 5 a 15% das fraturas bilateral) C2-C3
cervicais com lesão neurológica em A fraturas tipo I são estáveis e po-
25% dos casos. Déficits neurológicos dem ser tratadas com colar cervical
são incomuns e os sintomas são ines- por 3 meses. As fraturas tipo III são de
pecíficos. indicação cirúrgica com instrumenta-
ção posterior C2-C3. As lesões tipo II
Classificação de Anderson e e IIa tem indicação de tração seguida
D´Alonzo: de imobilização tipo halo-vest e re-
Tipo I - Avulsão do ápice do odon- dução com compressão-extensão se-
toide (avulsão do ligamento alar) guido de halo-vest.
Tipo II - Fratura da base do odon-
toide/ IIa Cominuição associada • Fratura da coluna cervical
Tipo III - Fratura com extensão baixa
para o corpo de C2 Biomecanicamente diferente do
O tratamento da fratura tipo I en- segmento cervical alto, a coluna su-
volve o uso de colar cervical por 12 baxial é responsável por 50% da fle-
semanas. Fraturas tipo II com desvios xão, extensão e rotação. As causas
menores que 5 mm e angulações in- mais comuns de lesão são os aciden-
feriores a 10° podem ser tratadas com tes automobilísticos, seguidos pelos
colar ou halo-vest porém, pacientes acidentes desportivos, mergulho em
idosos com cominuição associada água rasa e ferimentos por arma de
apresentam melhores resultados com fogo

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Classificação de Allen e Ferguson corpo, enquanto que a via posterior


(mecanismo de lesão) tem indicação nas luxações irredutí-
Tipo I – Flexo-compressão veis (pós-tração), luxações crônicas e
Tipo II – Compressão vertical nas lesões primárias ligamentares.
Tipo III – Flexo-distração
Tipo IV – Compressão-distração COMPLICAÇÕES
Tipo V – Distração- extensão Podem ser inerentes ao trauma
Tipo VI – Flexão lateral inicial, como déficit neurológico
(completo e incompleto), lesão dos
Classificação de Nazarian pares cranianos, instabilidade e dor,
(compreensiva) assim como secundários ao trata-
Tipo A – Compressão mento proposto. A aplicação do
Tipo B – Distração halo, por exemplo, apresenta como
Tipo C - Rotação complicações infecção e soltura dos
pinos, úlceras de pressão e lesão du-
Instabilidade e piora do quadro ral. Tanto a via posterior quanto a via
neurológico direcionam para o trata- anterior também estão associadas à
mento cirúrgico. A via anterior pre- complicações, sendo esta última re-
valece na necessidade de descom- lacionada a disfagia, disfonia (lesão
pressão do canal por hérnia discal do nervo laríngeo recorrente) e fís-
traumática ou fraturas explosão do tula traqueo-esofágica.

SUGESTÕES DE LEITURA
1. Gregg R. Klein, Alexander R. Vaccaro. Cervical Spine Trauma: Upper and Lower In: Vaccaro (ed.)
Pinciples and Practice of Spine Surgery. Mosby 2003: 441-467.
2. Vaccaro A R. Fractures Of The Cervical, Thoracic And Lumbar Spine. Marcel Dekker 2003
3. Barros Filho TEP. Clínica Ortopédica. Traumatismos da Coluna Vertebral. MEDSI 2000

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Lesões traumáticas da
coluna tóraco-lombar
Rogério Lúcio Chaves de Resende
Jefferson Soares Leal

INTRODUÇÃO E AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO


EPIDEMIOLOGIA A avaliação deve consistir da histó-
As fraturas da coluna tóraco-lom- ria clínica (queixas do paciente, diag-
bar apresentam grande importância nósticos prévios, detalhes do trauma,
tanto devido à sua frequência quanto evolução dos sintomas, etc.), exame
às repercussões funcionais e morbi- físico detalhado e estudos de ima-
dade das mesmas. gem adequados. Alguns pacientes
Algum tipo de déficit neurológico podem não ser capazes de informar
está presente em até 20% destes pa- sobre o trauma e nem mesmo sobre
cientes [1]. seus sintomas, sendo assim, diante de
São as fraturas mais comuns do um paciente politraumatizado, este
esqueleto axial e correspondem a deve ser considerado como portador
aproximadamente 90% das fraturas de uma fratura de coluna e de défi-
da coluna [1]. Aproximadamente 2/3 cit neurológico até prove o contrário.
ocorre na transição tóraco-lombar, Aproximadamente 24% das fraturas
entre T11 e L2 [2] e isso se dá pela tóraco-lombares não são identifica-
mudança brusca do segmento to- das na primeira avaliação [1].
rácico rígido, mais estável e cifótico O exame físico deve consistir da
para a coluna lombar, um segmento avaliação geral, avaliação neuroló-
mais flexível, menos estável e lordó- gica completa e exame específico da
tico [3]. lesão.
Apresentam distribuição bimodal. Como todo paciente vítima de
O primeiro pico ocorre entre 20 e 40 trauma, o exame geral deve seguir
anos de idade, sendo mais comum o protocolo estabelecido pelo “ATLS”
em homens (2/3) e resultante geral- (Advanced trauma life suport). Especial
mente de traumas de alta energia atenção deve-se reservar para afastar
(quedas de alturas, acidentes de trân- lesões torácicas e abdominais.
sito, etc.). Já o segundo pico ocorre No exame do local da lesão, es-
na população geriátrica e frequen- coriações, hematomas e equimoses
temente resultante de traumas de locais sugerem trauma grave possi-
muito baixa energia (quedas da pró- velmente com importante lesão teci-
pria altura, etc.) [1]. dual. Dor a palpação posterior na li-

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nha média, localizada, é sugestivo de pedículos da mesma vértebra, dis-


lesão do complexo ligamentar pos- tanciamento entre os processos es-
terior (CLP). Pode-se, em casos mais pinhosos de vértebras adjacentes e
graves, palpar uma deformidade local outras alterações são sinais de lesões
(“stepoff”), alterações de alinhamento, da coluna e devem ser atentamente
distanciamento e/ou crepitações en- pesquisados.
tre os processos espinhosos. A realização de tomografia com-
No exame neurológico deve ser putadorizada (TC), idealmente com
caracterizado claramente o status reconstruções nos planos sagital
neurológico do paciente e classificá- e coronal, é essencial e deve fazer
lo tanto pelo sistema de “Frankel” parte rotineira da propedêutica. A
(Quadro 1) quanto pelo sistema “ASIA” TC é importante para classificar as
(American Spinal Injury Association). lesões, avaliar e mensurar o acometi-
Não é objetivo de este texto descre- mento do canal vertebral por algum
ver sobre a abordagem do Trauma fragmento ósseo, detalhar a morfo-
raqui-medular. logia das lesões e definir a conduta
terapêutica [4].
O papel da ressonância magné-
Quadro 1. Classificação de tica (RM) ainda não é consenso. É
Frankel de lesão medular certo que sua realização não é neces-
Tipo Descrição sária em todos os pacientes. A RM é
o exame ideal para avaliação das le-
A Função motora e sensitiva ausente
sões de partes moles. As indicações
Sensibilidade presente, motora au-
B
sente
mais aceitas atualmente são: déficit
Sensibilidade presente, motora pre- neurológico não compatível com o
C nível da lesão óssea, déficit neuroló-
sente porém não útil (Até M3/M5)
Sensibilidade presente, motora pre- gico sem alterações nos exames pré-
D
sente e útil (Força M4/M5) vios (raio X e TC) e avaliação de lesão
E Função sensitiva e motora normais do CLP quando não for possível esta
definição com o exame físico e os
O diagnóstico das lesões da co- exames de imagem prévios [4].
luna tóraco-lombar é realizado por
radiografias (raio X) em pelo menos
duas incidências – ântero-posterior CLASSIFICAÇÕES
(AP) e perfil. Alterações no alinha- Existem diversas classificações
mento dos corpos vertebrais, rota- para fraturas tóraco-lombares e não
ção entre eles, irregularidades dos há consenso sobre qual usar. As mais
platôs vertebrais, acunhamento, comumente aplicadas na prática
alteração da angulação sagital (ci- clínica são: a classificação de Denis
foses, etc.), distanciamento entre os (1984) e a classificação de Magerl e

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Quadro 2. Classificação de Denis

Tipo Mecanismo de trauma Colunas acometidas


Falha da coluna anterior por compres-
são, preservação da coluna média, po-
Compressão Carga axial com flexão
dendo haver ou não falha da coluna
posterior por tensão
Falha por carga axial das colunas an-
Explosão Carga axial terior e média, podendo haver ou não
falha da coluna posterior
Falha da coluna posterior por tensão,
Flexo-distração podendo haver ou não falha também
Flexão e distração com fulcro na
por tensão da coluna média e podendo
coluna média ou anterior
haver ou não falha da coluna anterior
por compressão
Rotação ou cisalhamento (trans- Falha, por definição, das três colunas –
Fratura-luxação
lação) ou flexo-distração. altamente instáveis

Quadro 3. Classificação de Magerl et al. (Adotada pela AO-ASIF)


Tipo Mecanismo de trauma Subtipos
A1 Impactadas
A COMPRESSÃO A2 Split (separação)
A3 Explosão
B1 Lesão posterior ligamentar
B DISTRAÇÃO B2 Lesão posterior óssea
B3 Lesão anterior - hiperextensão
C1 Tipo A + rotação
C ROTAÇÃO C2 Tipo B + rotação
C3 Cisalhamento – rotação (Slice)

Gertzbein (1994) adotada pelo grupo adotada pela AO-ASIF consiste de


AO-ASIF [1]. três grandes grupos (A, B e C) que
A classificação de Denis é base- depois se subdividem em 9 sub-
ada no conceito das três colunas (an- grupos maiores (Quadro 3). Os tipos
terior, média e posterior) e consiste são relacionados ao mecanismo de
de 4 grupos chamados: compressão, trauma (força aplicada) e se correla-
explosão, flexo-distração e fratura- cionam com o grau de instabilidade
luxação (Quadro 2) (Figura 1). e a gravidade das fraturas. Elas se
A classificação de Magerl et al. tornam progressivamente mais gra-

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Quadro 4. Score “TLICS”


(Thoracolumbar Injury Classification and Severity Score).
Parâmetro Qualificadores Pontuação
Compressão 1
Morfologia Explosão 2
(Tipo da lesão) Translação/rotação 3
Distração 4

Integridade do complexo Intacto 0


ligamentar posterior
(ruptura por tensão, rotação Suspeito/Indeterminado 2
ou translação)
Lesado 3
Intacto 0
Lesão de raiz 2
Completo 2
Status neurológico
Lesão de medula ou cone medular Incom-
3
pleto
Cauda equina 3

ves e mais instáveis do tipo A1 para uma pontuação igual ou maior a 5


o C3 [1]. é melhor conduzido cirurgicamente.
Mais recentemente, num esforço Se a somatória for igual a 4 a conduta
para tornar mais objetivo a classi- deve ser individualizada.
ficação das lesões e a tomada de
decisões em relação ao tratamento, DECISÃO TERAPÊUTICA,
Vaccaro et al. [5] (2005) criaram a clas- TRATAMENTOS E
sificação chamada “Thoracolumbar COMPLICAÇÕES.
Injury Classification and Severity Score” A decisão a respeito da melhor
(TLICS) (Quadro 4). Trata-se mais es- forma de tratar uma lesão traumática
pecificamente de um score que avalia tóraco-lombar é muitas vezes com-
cada caso em relação à morfologia da plexa e não é consenso. Esta decisão
fratura, ao status neurológico e em deve ser individualizada em relação a
relação à integridade ou não do CLP. cada paciente e sua fratura.
Estes parâmetros são pontuados e o Os objetivos de toda estratégia
total da pontuação vai ser levado em terapêutica são os mesmos; indepen-
consideração para a definição da con- dente do tratamento: manter ou res-
duta. Um score de 3 ou menos sugere taurar a estabilidade da coluna; evitar,
tratamento conservador enquanto corrigir ou minimizar deformidades

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nos planos sagital e coronal; evitar de realizar as medidas destes parâ-


déficits neurológicos ou otimizar a metros [5].
capacidade de recuperação de défi-
cits já estabelecidos; melhora da dor
e permitir reabilitação precoce [1]. Figura 1.
Os fatores mais importantes no
processo decisório sobre o trata-
mento são o status neurológico do
paciente, a estabilidade da coluna, o
grau de deformidade e a presença ou
não de lesões associadas.
As indicações absolutas para tra-
tamento cirúrgico são: a deterioração
do status neurológico na presença de
compressão neural persistente e lesão
Medida do comprometimento do canal
com ruptura completa do complexo vertebral realizada nos cortes axiais da
ligamentar associada à luxação carac- TC. Mede-se a distância ântero-posterior
terizando instabilidade grosseira. nos níveis adjacentes ao da fratura, faz-se
uma média e compara-se com a medida do
É prática universal a indicação de nível da lesão.
cirurgia para os pacientes com défi-
cits neurológicos, mesmo quando já
estabelecido e não progressivo. O score “TLICS” é uma maneira ob-
O conceito prático e objetivo de jetiva e simples de ponderar os fato-
estabilidade da coluna, ainda são res mais importantes na escolha do
controversos e por isso gera dúvida tratamento e vem sendo progressiva-
sobre quais lesões são instáveis e de mente mais usado.
indicação cirúrgica. Sinais de lesão Quando optado pelo tratamento
do CLP, translação e rotação vertebral conservador, este geralmente é reali-
são indicativos de lesões instáveis zado usando-se órteses para imobili-
que devem ser operadas. zação. As órteses mais usadas são o
A presença de cifose segmentar colete de “Jewett” e o chamado “OTLS”
maior que 20 a 30 graus e acunha- (órtese tóraco-lombo-sacra). Elas são
mento vertebral maior que 50% são eficazes no tratamento conservador
indicações usuais de intervenção ci- de fraturas de T6 a L4. Para fraturas
rúrgica e também são sinais sugesti- proximais a T5 deve-se prescrever
vos de lesão do CLP. O comprometi- uma extensão cervical e para fraturas
mento do canal vertebral maior que de L5 deve-se usar uma extensão para
40 a 50%, mesmo em pacientes sem uma das coxas imobilizando uma das
déficits neurológicos, é uma indica- articulações coxo-femorais junto com
ção cirúrgica. Veja abaixo a maneira o tronco. Geralmente se usa por perí-

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odo de 12 semanas. Não é indicado seria necessário complementar a fixa-


repouso absoluto, o paciente pode ção curta com um suporte anterior ou
deambular e movimentar-se em uso estender a fixação posterior para mais
da órtese. de um nível, Gaines et al. (1994) cria-
O tratamento cirúrgico pode ram a “Load Sharing Classification” que
ser realizado tanto por via posterior é um score que leva em consideração
(VP) quanto anterior (VA) e, menos a cominuição óssea, o desvio dos
frequentemente, por dupla aborda- fragmentos e a deformidade final na
gem. Os objetivos são a correção da fratura para avaliar se este nível ainda
deformidade, estabilização, descom- pode ser considerado um suporte
pressão do tecido neural quando há anterior. Segundo estes autores, uma
déficit neurológico e realização de pontuação maior ou igual a 7 indica-
artrodese do segmento instável. ria a necessidade de complementa-
A abordagem mais comum é a fi- ção da fixação por VA ou extensão da
xação e artrodese por VP e o material artrodese posterior [6].
de síntese mais utilizado é a fixação Devido à complexidade destas
com parafusos pediculares associado fraturas, várias complicações são des-
a hastes posteriores. Sempre se tenta critas acompanhando estes quadros.
fixar o mínimo de segmentos pos- Independente do tratamento, estes
síveis e realizar artrodese curta (um pacientes podem apresentar: trom-
nível acima e um nível abaixo da fra- boembolismo pulmonar; siringomie-
tura). Em ossos osteoporóticos é indi- lia; dor e deformidade residual; e em
cado não realizar artrodeses curtas. pacientes com déficits neurológicos,
A VA é uma opção menos fre- úlceras de pressão, infecções uriná-
qüente e geralmente reservada para rias e pulmonares de repetição, etc.
os casos de necessidade de descom- Em relação ao tratamento cirúrgico, a
pressão direta do tecido neural atra- principal complicação é a infecção do
vés da retirada de fragmentos ósseos sítio cirúrgico que pode se desenvol-
retropulsados para o canal vertebral ver em até 10% dos casos. Uma grave
e para aqueles casos onde, devido à complicação é a deterioração do sta-
importante destruição do corpo ver- tus neurológico que pode acontecer
tebral, se necessita de suporte ante- em até 1% dos pacientes operados.
rior para sustentação de carga. Outras são pseudartrose, falha de fi-
Com o objetivo de definir quando xação, fístulas liquóricas e etc. [1].

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