Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
11.2 ANATOMIA
A anatomia da região cervical é bastante complexa. Basicamente, o pescoço é
dividido pelo músculo esternocleidomastóideo (ECM) em triângulos anterior e
posterior. Do ponto de vista cirúrgico, divide-se o pescoço em três zonas (Figura
11.2):
11.4 TRATAMENTO
Há duas condutas aceitas no tratamento dos ferimentos cervicais (Figura 11.3). A
primeira opção é o tratamento cirúrgico mandatório para todas as lesões que violam
o platisma. A porcentagem de exploração negativa varia de 35 a 67%. As vantagens
são baixa incidência de lesões despercebidas e morbimortalidade relativamente
baixa. A segunda opção é a exploração seletiva. Nesse caso, quando não estão
presentes os fatores que indicam cervicotomia imediata, o paciente é submetido a
uma série de exames, que podem reduzir a taxa de exploração negativa em 10 a
20%.
Figura 11.3 - Algoritmo de conduta no trauma cervical
O trauma contuso é mais raro. A avaliação das lesões vasculares, nesse caso,
começa com a ultrassonografia com Doppler, complementada, posteriormente, com
a arteriografia, se necessário. Pode ocorrer lesão da íntima, com trombose de
carótidas. A lesão raquimedular deve ser avaliada com parâmetros clínicos e
radiografia de coluna cervical. A tomografia pode ser útil para as lesões de laringe,
principalmente nas tentativas de estrangulamento. A lesão esofágica no trauma
contuso é muito rara e geralmente o diagnóstico é clínico.
Algumas lesões traqueais podem ser tratadas conservadoramente desde que sejam
menores do que um terço da circunferência da traqueia ou das cartilaginosas, além
de lesões isoladas em oligossintomáticos.
11.4.2 Cirúrgico
#importante
A indicação absoluta de tratamento cirúrgico via
cervicotomia de um trauma cervical que dispensa
exames complementares é a instabilidade
hemodinâmica.
Sempre que se torna necessário o acesso à traqueia, deve-se ter em mente que o
istmo da tireoide pode ser ligado e seccionado para evitar sangramentos e lesões
iatrogênicas. Lesões traqueais podem ser reparadas, sendo realizados
debridamento e sutura primária. Lesões maiores, com perda tecidual, são tratadas
na fase inicial com traqueostomia, seguida de reconstruções traqueais programadas
eletivamente. As anastomoses traqueais são realizadas conforme a Figura 11.4.
Figura 11.4 - Anastomose cricotraqueal ou traqueotraqueal
Legenda: (A) dissecção e secção da área traumatizada – a seta aponta a porção membranosa 2
mm mais comprida; (B), (C) e (D) sutura posterior tipo chuleio contínuo; (E) sutura contínua
fixada com o primeiro ponto separado; (F) pontos separados nos anéis traqueais; (G)
anastomose completada.
Fonte: acervo Medcel.
Suturas simples devem ser realizadas com pontos separados, conforme a Figura
11.5.
Figura 11.5 - Sutura simples da traqueia
Pode ocorrer lesão carotídea no trauma contuso, sendo, em 90% dos casos, da
artéria carótida interna. Metade dos pacientes permanece assintomática.
Figura 11.6 - Aspecto do intraoperatório de lesão da artéria carótida comum por arma de fogo
O acesso cirúrgico aos vasos cervicais nos terços proximal e médio do pescoço é
possível por meio de incisão longitudinal ou oblíqua anterior ao músculo ECM, do
manúbrio ao mastoide, seguida de abertura do músculo platisma, com dissecção e
rebatimento posterior do ECM. Realiza-se a ligadura do tronco venoso
tireolinguofacial, com amplo acesso à artéria carótida comum, à sua bifurcação e à
veia jugular interna (Figura 11.7).
Quando a lesão for mais alta, deverá ser realizada a extensão distal da incisão para a
região infra-auricular posterior, com secção da inserção mastoide do músculo ECM;
assim, associada ou não à fixação das arcadas dentárias com a mandíbula em
subluxação anterior, é possível isolar e tratar lesões até 2 cm da entrada da artéria
carótida interna no crânio. Trata-se de acesso difícil, de modo que as lesões nessa
região devem, sempre que possível, ser tratadas por meio de arteriografia.
Figura 11.7 - Acesso aos vasos cervicais nos terços proximal e médio do pescoço