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Rio de Janeiro
2014
© 2006 by Geraldo Peçanha de Almeida
2014
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Para
Fernando, Jair, Paulo Henrique, Paulo Rota e Márcio, os
meninos que brincam com o corpo para encontrar o prazer
da alma.
Sumário
APRESENTAÇÃO
Teorias e conceitos
O que é Psicomotricidade?
Quem é psicomotricista?
Quais são suas áreas de atuação?
Qual a clientela atendida pelo psicomotricista?
Em que mercado de trabalho o psicomotricista atua?
A construção de ambientes educativos na multiplicidade dos
espaços
Lateralidade
Definição
Atividades que auxiliam o desenvolvimento da lateralidade
Em papel
Com tintas
Com sucatas
Com brincadeiras infantis
Seriação e classificação
Definição
Atividades que auxiliam o desenvolvimento da seriação
Brincadeiras e jogos infantis
Trabalhar a ansiedade
Rever os limites
Reduzir a descrença na autocapacidade
Diminuir a dependência e possibilitar a autonomia
Aprimorar as coordenações motoras
Melhorar o controle segmentar
Desenvolver percepção de ritmo
Aumentar a atenção e a concentração
Desenvolver antecipação e estratégia
Ampliar o raciocínio lógico
Desenvolver a criatividade
Perceber a socialização e a coletividade
Referências
MONÓLOGO DO CORPO
Pulsa
Pulsa
Pulsa...
Acena
A cena
Sem
a
Bom trabalho
Geraldo Peçanha de Almeida
TEORIAS E CONCEITOS
O que é Psicomotricidade?1
É a ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio do
seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e
externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com
o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao
processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas. (S.B.P.1999)
Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma
concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua
individualidade, sua linguagem e sua socialização.
Quem é psicomotricista?2
Por ser uma ciência ainda em busca de bases mais sólidas, o
psicomotricista ainda não tem todos os seus papéis definidos.
Sabemos que ele pode atuar em conjunto com outras especificidades,
mas também percebe-se sua atuação clínica e institucional. Já é
possível compreender que psicomotricista é o profissional da área de
saúde e educação que pesquisa, ajuda, previne e cuida do homem na
aquisição, no desenvolvimento e nos distúrbios da integração somapsíquica.
DEFINIÇÃO
As atividades que estão envolvidas nestas práticas dizem respeito
à organização geral do ritmo, ao desenvolvimento e às percepções
gerais da criança. A coordenação motora global é a condição que
deve ser desenvolvida primeiramente no espaço infantil.
É o trabalho que vai apurar os movimentos dos membros
superiores (braços, ombros, pescoço, cabeça) e, também, os membros
inferiores (pernas, pés, quadris etc.). Assim, uma grande organização
corporal deve ser construída a partir do trabalho de coordenação
motora geral. Danças, expressões corporais, exercícios combinados e
dissociados são os melhores trabalhos para que a criança possa ter
um bom desenvolvimento.
Se a criança conseguir acompanhar uma dança trabalhada pelo
professor, se a criança conseguir acompanhar uma atividade física
com movimentos associados e dissociados, se a criança tiver um
certo ritmo, se a criança possuir equilíbrio, poderemos dizer que ela
apresentará uma coordenação motora global satisfatória.
Em papel
Com tintas
Com sucatas
amarelinha
futebol
rodar pneu de borracha
deslizar com câmaras de ar no leito do rio
queima
duro ou mole
morto ou vivo
estátua
passar a bola
bimborão da cruz
esconde-esconde
passar anel
cirandas
cantigas de roda
moicanos
estilingue
Com bolas
DEFINIÇÃO
Esta coordenação diz respeito aos trabalhos mais finos, aqueles
que podem ser executados com o auxílio das mãos e dos dedos,
especificamente aqueles com grande importância entre mãos e olhos.
Quando uma criança começa a desenvolver uma boa coordenação
motora fina, será comum observar que ela também apresentará uma
boa tonicidade muscular nos membros superiores e inferiores. Ela
poderá apanhar copos de plásticos com água sem derramar, poderá
apanhar objetos delicados sem amassá-los, poderá pintar e colorir
sem muita força, poderá equilibrar a força necessária para colorir
desenhos nas mais diferentes texturas e superfícies e assim por
diante.
Também poderemos observar que é a coordenação motora fina
quem vai garantir um bom traçado de letra. A escrita da criança irá
depender muito do trabalho e do desenvolvimento da coordenação
motora fina que a criança estará apresentando. Para isto, é necessário
que o professor possa desenvolver atividades motoras que
possibilitem este desenvolvimento, no entanto jamais poderemos
desenvolver estas atividades dissociadas dos aspectos
socioemocionais que as envolve.
Uma criança precisa ser motivada, precisa ser encorajada, precisa
ser levada à possibilidade da tentativa. Para isso, faz-se necessário
que ela esteja preparada para o erro, para a perda e, principalmente,
para lidar com a situação que, porventura, possa surgir dali. Assim,
jamais podemos deixar de lado os aspectos psicológicos que
envolvem uma atividade lúdica ou motora para apreciar somente o
lado técnico dela. É a junção destes dois universos que dará um
resultado infinitamente melhor.
Em papel
Canudos de jornal
Fita crepe
Atividade
Primeiramente, faça centenas de canudos de jornal com as
crianças. A melhor maneira de fazer canudos é enrolando-os das
quinas em direção ao centro. Primeiro, faça uma pequena orelha no
papel para que a coordenação motora seja melhor trabalhada. É
necessário que os canudos fiquem bem fininhos e que a firmeza
deles os deixem parecidos com varas de madeira. Para isto, basta
apertar bem na hora de enrolar e, também, não deixar que as mãos
deem espaços para eles desenrolarem enquanto são feitos.
Depois de os canudos feitos, faça grandes esculturas tendo
sempre um tema gerador. Por exemplo, o tema é florestas. Se este for
o tema escolhido, cada grupo de cinco crianças deve montar uma
escultura que reproduza ou que lembre uma floresta.
Depois de a escultura pronta, faça uma exposição, explique e
exponha toda a plasticidade dela e assim por diante. Porém, o mais
importante é fazer com que as crianças, usando todos os colegas de
sala, consigam reproduzir, com pessoas, a mesma forma executada
em papel.
Neste momento, o corpo, o movimento, as percepções e a
organização geral do grupo irão contar muito, pois, para se chegar a
uma boa forma, será necessário o trabalho conjunto.
Com tintas
Com sucatas
Faça figuras geométricas usando barbante colado no papel.
Faça entalhes de figuras geométricas em barras de sabão,
frutas verdes ou em barras de argila.
Faça figuras geométricas em desenho a dedo na areia do
parque.
Coloque grãos dentro de vasilhas de vidro, de uma forma
harmônica, para confecção de objetos de decoração.
Faça maquetes com sucatas de caixas de papel.
Construa prédios, casas, lojas, carros, usando caixas de
remédios vazias.
Faça brinquedos usando potes de iogurtes, caixas, tampas,
colas e barbantes.
bola de gude
aboleta
cartas de baralho
dominós
colecionar figurinhas
video game
teclado do computador
cinco-marias (também conhecidas como bugalha)
boliches
bolas de chiclete
fazer roupas para bonecas
Com bolas
Pegue a bola de gude da mesa usando apenas a pinça de
cada dedo.
Pegue a bola de gude da mesa usando a pinça e faça-a
girar entre os dedos, sem deixá-la cair.
Siga girando a bola entre os dedos e vá passando ela de um
dedo para outro.
Faça bolinhas de papel crepom ou de argilas, ou com
massa de modelar com cada pinça do dedo.
Faça bolas de ar, com balões, de vários tamanhos.
Tente modelar as bolas de ar (balões) em formatos de
animais e pessoas.
Coloque bolas, de vários tamanhos, em uma bacia com
água morna para que a criança manipule.
Depois de manipular os vários tamanhos, dê a ela um giz
ou um pincel e peça para ela reproduzir as circunferências
se aproximando o máximo do tamanho natural.
Quando ela terminar, coloque o original em cima do
desenho e faça as comparações.
Pode-se também realizar esta atividade com as outras
formas geométricas.
RECEITA
INGREDIENTES
1 kg de farinha de trigo
1 kg de sal
água
corante
MODO DE FAZER
Coloque todos os ingredientes em uma bacia, ainda secos,
misture tudo e vá colocando água aos poucos até dar ponto de liga.
Quando estiver pronta a massa, pode ser guardada em geladeira,
envolta em um saco plástico por até uma semana.
DICA
Varie as cores da massa depois de pronta. Faça uma massa básica
e dê cores diversas no final. Corantes podem ser tintas, sucos
naturais, sumo de folhas e muitos outros.
Com esta massa, o professor pode realizar uma porção de
atividades lúdicas com o objetivo de estimular o desenvolvimento
da coordenação motora fina ou da coordenação visório-motora. Uma
boa atividade é a seguinte:
dardos
baralhos
coleção de figurinhas
legos
montagem de maquetes
amarelinha
esconde-esconde
ladrão e assassino
gato e rato
bambolê
pular corda
girar no carrossel
pesca em barracas de festa junina
quebra-cabeça
alinhavo
modelagem em argila
jogo de argolas
blocos lógicos
bola de gude
bonecos feitos de areia
corrida de ovo na colher
queda de dominós
futebol de botão
ioiô
pebolim / totó
tênis de mesa ou pingue-pongue
LATERALIDADE
DEFINIÇÃO
A capacidade de a criança poder olhar e agir para todas as
direções, com equilíbrio, com coordenação mínima corporal e com
noções de espaço, é a condição do trabalho de lateralidade. A
lateralidade é uma condição que a criança irá descobrindo aos
poucos. Ela poderá perceber que será muito útil à sua própria vida
poder executar dois ou mais movimentos simultaneamente e em
lados opostos.
Quanto mais forte for a referência e o treino, mais desenvolvidas
serão as diferentes partes que compõem o todo. No entanto,
devemos trabalhar com muita calma para respeitar o tempo das
crianças. Já é sabido que a criança destra ou sinistra não é
obrigatoriamente, ou necessariamente, somente destra ou sinistra.
Ao longo do processo escolar, uma criança poderá “mudar de mão”,
da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda como algo
normal. Quando isto acontece é porque a criança está testando suas
próprias condições internas.
O professor pode auxiliar nestas trocas e nestas tentativas, mas
jamais deve impor à criança com que mão ela deverá escrever. Esta
deve ser uma liberdade de escolha da própria criança. Senão, o
professor irá impor algo à criança e, na verdade, isso não
corresponderá ao que efetivamente ela quer e pode.
Em papel
Com tintas
Com sucatas
baralhos
corrida do ovo na colher
cordas
dardo
dobraduras
futebol de botão
rodas/cirandas
palitos para colagem
tiro ao alvo
morto-vivo
basquete
bexigas/balões
blocos lógicos
bolas
marchas
movimentos alternados
“onde está a cenoura do coelho?” – atividades em
revistinhas onde há uma figura em busca de outra e, para
tal, é necessário traçar um caminho
DESENVOLVIMENTO DE PERCEPÇÃO MUSICAL
DEFINIÇÃO
Quando se fala em desenvolvimento de percepções, é importante
que o professor saiba que estas atividades não têm como objetivo
desenvolver excelência, mais sim talentos. É um trabalho sobretudo
de estimulação e, como tal, busca-se, a partir dele, criar uma
referência no universo infantil para as questões que envolvem a
musicalização ou a vocalização.
Estes trabalhos com as percepções musicais podem ser
desenvolvidos a fim de que a criança apure a audição para o
reconhecimento e a prática da fala, mas também para criar uma
audição seletiva para a musicalização que envolve cada ambiente,
seja ele educacional ou não.
Dessa forma, todo tipo de trabalho que envolve a sonorização é
bem-vindo à escola. Cantiga de roda, brincadeiras de trava-línguas,
músicas das mais diversas origens e orientações, poesias e
reproduções sonoras são algumas das infinitas atividades que
podem ser desenvolvidas no espaço escolar.
Uma das maiores preocupações mundiais hoje é o modo como as
crianças têm acesso aos conhecimentos e, portanto, às variadas
formas de estruturação do saber. Teóricos, pais e profissionais das
mais diversas áreas, buscando aprimorar e desenvolver um modelo
capaz de cotejar um desenvolvimento amplo; na visão de alguns
holísticos, que dê conta de uma gama muito maior de habilidades,
chegam facilmente a uma das respostas: a música está sim nesta base
sobre a qual desenvolverá as competências nos indivíduos. A escola,
por sua vez, tem total condições de fomentar este trabalho, visto que
para tal não há necessidade de grandes investimentos físicos, mas
sobretudo intelectual.
Competências transversais, as quais já mencionamos, podem ser
desenvolvidas com o auxílio de materiais absolutamente fáceis,
economicamente baratos e pedagogicamente corretos. A música será
mais um meio pelo qual atingiremos o pleno desenvolvimento dos
indivíduos, dos atores escolares, nesta fase da vida. A apuração do
ouvido, o conhecimento a que se submete a criança e as novas
estruturas desencadeadas a partir de então formam um invejável
leque de possibilidades que, por sua vez, possibilitará novas e outras
estruturações ou (re)estruturação dos conhecimentos desenvolvidos.
É difícil alguém que não se relacione com música, de um ou de
outro modo: ouvindo, cantando, dançando ou tocando um
instrumento. Cada um tem uma forma de relacionamento com ela.
Chegamos, às vezes, a pensar que exista algo inato nesta nossa
predileção humana pelos sons. O fato de sermos educados ouvindo
um e outro som, o fato de observarmos na cultura brasileira uma
enorme quantidade de variedades tão ricas, faz-nos elementos
carentes cada vez mais de tais manifestações artísticas. Assim, nosso
corpo não só está necessitado desse trabalho como também nossas
atividades cotidianas. É ai que entra o trabalho de estimulação, de
convivência e de percepção, bem ao gosto da Psicomotricidade .
Como linguagem artística, a música, além de ser uma área de conhecimento, é
um agente capaz de atingir o ser humano profundamente, nele provocando
profundas mudanças, reações, que se manifestam em seu próprio ser,
envolvendo corpo, sentimentos, mente e espírito. O prazer que se tem pela
música é o que chamamos de qualidade estética, isto é, a capacidade de
conhecer, fruir, sensibilizar, imaginar e fazer arte. Em uma sociedade que se
pauta, em grande parte, pelo uso indiscriminado da tecnologia, pela
espoliação do meio ambiente e pela busca prioritária do lucro, é importante
despertar o indivíduo para outros valores, humanos, ecológicos e artísticos.8
Músicas folclóricas
Sons bucais
Sons da natureza (vento, chuva, trovão, raio e mar)
Risadas
Choro
Sons de pássaros
Sons de objetos variados
Sons produzidos por instrumentos fabricados para tal
10 Idem
DESENVOLVIMENTO DE PERCEPÇÃO OLFATIVA
DEFINIÇÃO
Com as mesmas orientações da percepção anterior, esta
percepção tem um papel muito importante no cotidiano da criança.
É a percepção que irá auxiliar a criança no reconhecimento do
mundo dos perfumes e dos sabores.
Muitas vezes, condenamos a criança por ela não comer ou não
gostar deste ou daquele aroma. Claro que isto é possível e, acima de
tudo, é legal, pois afinal somos livres para nossas escolhas. No
entanto, é importante lembrar que muitas destas escolhas não
podem ser feitas por nossos alunos simplesmente porque eles não
conhecem, nunca sentiram aquelas sensações antes e, portanto, como
reconhecer, ou se reconhecer dentro delas?
Assim, antes de cobrar que a criança goste ou não deste ou
daquele aroma, ou sabor, faz-se necessário iniciá-la no mundo que
exala perfumes e que é impregnado deles.
Para um trabalho a contento, a postura do professor também
deve ser de descoberta, uma vez que dificilmente há uma formação
mais específica neste sentido. As descobertas coletivas podem
enriquecer muito as atividades pedagógicas e facilitam a convivência
do grupo.
DEFINIÇÃO
Como nos trabalhos anteriores, a importância da percepção
gustativa é também grande. No entanto, vale ressaltar que, neste
caso, todo o trabalho já se realiza em tempo real, ou seja, enquanto a
criança segue descobrindo sabores, vão também incluindo-o no seu
cardápio diário, constituindo assim uma nova ou uma boa referência
em alimentação.
O cuidado primordial agora deve ser para que a criança tenha
contato com os alimentos reais. Quanto menos estes alimentos forem
processados, melhor. Assim, nunca bater, liquidificar, cozinhar,
amassar coisas do gênero, caso o alimento possa ser consumido cru
ou em sua forma natural.
Quando a criança tem contato apenas com alimentos
“disfarçados”, do tipo empanado, frito, cozido demais e assim por
diante, fica muito difícil para ela reconhecer os cheiros, o gosto e as
texturas de cada alimento. Dessa forma, a repulsa ou a não aceitação
é latente, uma vez que ela só está habituada com alimentos que
tenham aquelas mesmas características de quase toda a sua
alimentação: muito condimento, muito tempero, muita gordura ou
muito açúcar, o que não é bom em qualquer dieta.
Introduzir alimentos diferentes, novos a cada dia, diversos em
suas texturas, sabores, consistências e características constitui uma
ótima atividade no processo de desenvolvimento das percepções
gustativas, e isso é um grande trabalho que a escola pode
desenvolver ao lado ou em parceria com a família.
DEFINIÇÃO
O espaço é na infância e, também, na vida adulta um grande
desafio. O espaço requer pleno domínio do sujeito para a perfeita
integração do ser ao ambiente.
O espaço constitui muito mais que uma dimensão física: paredes,
portas, janelas, ruas, casas, prédios, entradas e saídas. Há nos
espaços as mais diferentes ações que o constitui como tal. Assim, ter
condições de reconhecer, interferir e agir sobre estes espaços e
dentro deles passa a ser um dos maiores desafios do trabalho de
Psicomotricidade escolar.
A escola tem de proporcionar esta condição primeiramente em
suas próprias atividades. Uma criança tem de desenvolver plena
autonomia de movimento no espaço escolar. Ir ao banheiro, ir à
cozinha, entrar e sair de depósitos, ginásio, piscinas, jardins e salas
administrativas é a primeira forma de desenvolver as noções
espaciais na criança em idade pré-escolar.
Nunca será possível conseguir todo o desenvolvimento das
noções espaciais trabalhando apenas com papel ou com atividade
em quadra. É necessário pensar e aceitar que é, no espaço social, o
desenvolvimento mais fértil e mais consistente em relação a esta
idade.
Fazer passeios com as crianças em shopping, ir ao cinema, tomar
um ônibus no terminal pode parecer desafiador quando se têm
crianças de quatro ou cinco anos em suas mãos, mas, se avaliarmos o
benefício destas atividades, tomaremos certamente mais cuidado e
não as deixaremos de realizar, pois os benefícios sempre serão
maiores.
DEFINIÇÃO
O tempo é uma das mais difíceis habilidades para se trabalhar na
escola infantil, dada a dificuldade de se distinguir, por parte da
criança, o tempo real do tempo ficcional. As histórias que ela ouve se
passam em um tempo, as cobranças que ela escuta se passam em um
outro muito mais real, e o dia tem uma organização temporal que
ainda não é de domínio ou de aceitação ou de reconhecimento por
parte dela. Dessa forma, devemos ter todo um cuidado de nos
preparar para a paciência, que também é uma questão de tempo,
para que nunca desistamos de realizar este tipo de trabalho.
As noções e o domínio do tempo irá auxiliar a criança na
construção do fio narrativo no momento em que ela ouve histórias.
Também é a noção de tempo que leva a criança a desenvolver os
hábitos do cotidiano: dormir, acordar, tomar banho, almoçar, jantar,
ir a escola e muitas outras atividades rotineira acontecem em função
do tempo, embora muitas crianças tenham grandes dificuldades de
perceber esta condição.
Mais tarde, quando ela precisar se comunicar com mais destreza,
é o tempo que irá costurar suas narrativas e suas percepções do
mundo que a cerca. Assim, desenvolver um bom trabalho de
percepção temporal é uma premissa para que a criança na idade pré-
escolar possa se incluir cada vez mais no universo em que vive.
A noção de tempo, por exemplo, é bastante complicada para que
uma criança assimile. Quantos pais quase enlouquecem quando
percebem que seus filhos não lhes obedecem. Chamar ou avisar uma
criança que está no quarto brincando pode dar conta do que estamos
falando: a mãe grita da cozinha para a criança que está no quarto
(Filha, em 10 minutos sairemos para a escolinha. Arrume suas coisas
e pegue sua mochila). Parece uma tarefa trivial para os adultos,
porque para a criança essa pode ser uma das mais complexas tarefas
a ser executada ou compreendida por ela. Imagine que, para dar voz
à autoridade da mãe, a criança tem de parar de brincar, tem de saber
o quanto são 10 minutos, saber que este tempo deverá ser suficiente
para arrumar uma mochila, mas, afinal, o que é arrumar uma
mochila? Etc. etc. etc.
A noção de tempo para a criança, no primeiro momento, só
acontece de duas formas: o agora e o muito depois. Portanto, o agora
é aquilo que ela está vivendo e o muito depois é aquilo que pode
acontecer, mas este acontecimento não dependerá de absolutamente
nada da parte dela. Ela apenas continuará a executar aquilo que está
executando até que a mãe, brava e sem paciência, possa entrar no
quarto e ajudá-la a executar tudo aquilo que há 10 minutos solicitou.
Aos poucos, a criança vai percebendo que o tempo antes, durante e
depois são coisas interligadas e que muitas, ou quase todas as nossas
ações, são dependentes dele e, para tanto, ela deverá também se
sujeitar a tal.
É uma tarefa das mais difíceis e que requer um esforço muito
grande de pais e educadores, senão a noção interna de tempo e de
responsabilidade pode passar despercebida pela criança, e
desenvolver estas mais tarde pode ser uma missão quase impossível.
DEFINIÇÃO
O nosso corpo possui características que são somente nossa,
embora sejamos muito semelhantes. Cada corpo irá desenvolver
uma ou várias características que lhe serão particulares. O prazer, a
dor, a sensação e a percepção sempre irão acontecer com todos, no
entanto, a intensidade de cada um destes aspectos vai depender de
questões ora orgânicas, ora sociais e muitas vezes emocionais pelas
quais todos nós nos constituímos.
Por outro lado, o corpo é formado de tantas partes, de tantas
especificidades que uma criança se surpreende todos os dias com
tais descobertas. Assim, devemos proporcionar a cada criança que
viva plenamente estas descobertas. As castrações, os impedimentos,
os preconceitos e as limitações sempre são e serão atitudes
condenáveis em qualquer universo, principalmente na infância,
onde as crianças ainda estão se descobrindo, e as experiências são
muito significativas para a vida que segue.
O trabalho do professor deve ser para reconhecer e perceber
questões estruturais do corpo, mas, acima de tudo, ele deve
desenvolver atividades onde a criança possa se reconhecer, descobrir
seus próprios sabores, suas próprias condições e, portanto, seus
limites de exploração, uso e ações corporais.
cinco-marias
queima
betes
cabra-cega
gato e rato
adoleta
areia
argila
bonecas
bonecos de histórias infantis
bonecos de desenhos da TV
bumbo
bambolê
peteca
dama
dobraduras
fantasias / figurinos
fantoches
geleias/melecas
modulação em gesso
ioiô
pega varetas
morto-vivo
estátua
duro-mole
pega-pega
moicanos (uma espécie de gincana onde há uma senha
para cada nova fase de acesso. Esta dada por um moicano,
mediante a descoberta da senha que o desperta)
pular cordas
andar sobre cordas
danças folclóricas
danças circulares
danças de rua
danças livres
ritmos que podem ser feitos a partir de sons mecânicos, ou
de sons produzidos pelas crianças ou ainda de um
convidado para tocar
11 Maria
Augusta Salin Gonçalves. Sentir, pensar e agir-corporeidade e educação.
Campinas, SP: Papirus, 1994.
SERIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
DEFINIÇÃO
Esta é uma das atividades mais comuns do dia-a-dia da escola
infantil, pois é ela quem irá garantir que as crianças reconheçam o
mundo onde vivem.
Também chamada de classificação, é uma atividade que
desencadeia o reconhecimento de todos os materiais, as texturas, as
formas e os conceitos que envolvem o espaço social onde a criança
está envolvida.
Um bom trabalho de seriação deve ser feito no ambiente real,
aquele de verdade. Assim, textura se ensina passando a mão na
parede, pegando nos objetos, indo às feiras livres, visitando casas,
museus, saindo às ruas e assim por diante. Claro que o professor
poderá trazer materiais para serem explorados na sala de aula. Mas,
é imprescindível que a criança tenha os dois tipos de trabalho.
Mesclar atividades, mas sempre priorizar atividades em ambientes
reais. Esta é sem dúvida uma boa atitude pedagógica do educador
infantil.
TRABALHAR A ANSIEDADE
É durante o jogo que a criança é muita cobrada sobre o equilíbrio
emocional. É durante o jogo, onde a atividade é quase sempre muito
intensa, que a criança se vê sem recursos emocionais para lidar com
a pressão incondicional imposta pela ação de jogar. Sendo assim, é
ali que podem-se desenvolver ótimas percepções sobre a ansiedade e
como lidar com ela. É a prática da ação que leva o indivíduo à
elaboração própria de mecanismos regulares para o enfrentamento e
a superação.
REVER OS LIMITES
Durante os jogos, é comum uma criança se comportar como se
fosse o centro da prática e que, portanto, a vitória ou o sucesso do
grupo diz respeito somente a ela. É também possível perceber que as
crianças nesta condição possuem uma dificuldade muito forte em
aceitar as derrotas.
A noção da fragilidade, da perda e do fracasso é constantemente
evitada por algumas crianças. Assim, o jogo pode, naturalmente ou
não, possibilitar que esta percepção se plasme diante da criança. Ter
a noção de limite é muito saudável para as crianças, pois as coloca
em uma posição de aprendizes, papel salutar na infância.
DESENVOLVER A CRIATIVIDADE
Atividades de criatividade é uma das mais interessantes em jogos
que exigem individualidade, estilo próprio do jogador. Entre essas
atividades, estão as personalizações das casas conquistadas na
amarelinha. Também são ótimas atividades de criatividade as cinco-
marias, legos e projetos a serem montados. Baralhos, dominós,
trilhas e barbantes, sem deixar de se lembrar dos elásticos, são
excelentes exercícios de criatividade.
PERCEBER A SOCIALIZAÇÃO E A COLETIVIDADE
É a busca da autonomia um dos maiores desafios da escola.
Tornar a criança um indivíduo capaz de perceber seus atos e as
consequências deles no meio em que vive tem sido a tarefa mais
sublime da educação infantil. A criança precisa do outro. Ela precisa
estar e ser do mundo, mas nunca se pode esquecer de que ela está
em um mundo que pertence a todos, inclusive a ela, mas não só dela.
Os jogos coletivos, do tipo futebol, vôlei e tantos outros esportes
coletivos, ajudam a construir este espírito de coletividade e, também,
ajudam a desenvolver questionamentos e aceitação de regras morais
da comum(unidade).
Observação importante
As brincadeiras infantis e os jogos infantis precisam ganhar
objetivo. Para isto, estamos apresentando uma estrutura para
auxiliar o professor na percepção do que uma brincadeira pode
trazer aos seus alunos. Com esta dinâmica de planejamento, o
professor pode pensar na brincadeira, pensar nas condições que ela
oferece e propor, antecipadamente, algumas modificações ou
intervenções. Para tal, é necessário entender uma brincadeira na sua
amplitude total. Brincar requer também um bom planejamento. Veja
o que uma brincadeira pode trabalhar e como podemos enriquecer
um planejamento diário com elas.
EXPRESSÃO CORPORAL E TEATRO PARA SÉRIES FINAIS E
ENSINO MÉDIO
DEFINIÇÃO
A expressão corporal é uma atividade de complementação das
atividades de percepção corporal. Aqui a criança já é levada a um
tipo de trabalho mais dinâmico, com uso de reações e sentimentos
primeiramente provocados e depois espontâneos.
O objetivo deste tipo de trabalho é que a criança se reconheça
como humana, dotada de limitações e de reações ora imperceptíveis
para ela, mas perceptível para o outro com o qual ela convive.
Assim, o trabalho de expressão corporal requer muita atenção do
professor para perceber o que a criança traz, o que ela deixa no
grupo e, principalmente, como se dão as relações dela no espaço
coletivo.
Para Le Boulch (1982), o contato corporal tem um papel fundamental na relação
do recém-nascido com sua mãe. Contrariamente ao que sugeria Freud, o contato
corporal é mais importante que o alimento na relação entre mãe e filho. O autor
ainda salienta que há momentos de privilégio para que esta simbiose possa
acontecer: a hora da mamada, do banho, da troca de fraldas e na hora de dar o
seio. A criança está em contato corpo a corpo com a mãe, sente o calor, o contato
cutâneo, o cheiro, as palavras e o rosto da sua mãe. Toda a sensibilidade é posta
em jogo no momento de satisfazer a necessidade alimentar, e este rito que se
repete a cada três horas acostuma a criança à presença sempre estável.
MATERIAIS NECESSÁRIOS
Sucatas, pedaços de papel, objetos diversos: lenços, bolas, lápis,
cartões de cores, velas, lanternas, frutas...
Atividade
Coloque as crianças todas, sem calçados, esparramadas por uma
sala bem arejada e limpa. Peça a elas que caminhem livremente, sem
direção determinada, e, em seguida, peça-lhes que acelerem um
pouco o passo. Essa atividade irá também ajudar a autoestima e a
confiança da criança. Quando os passos estiveram bem rápidos,
diminua um pouco o ritmo e repita essa variação umas três ou
quatro vezes.
Agora peça que elas escolham um dos objetos que você colocou
no centro da sala (garrafas de plástico, bolas, velas, lanternas,
pedaços de papel, frutas e tantos outros). Com este objeto, a criança
terá de se relacionar de agora em diante. Primeiro, peça que elas
imitem o ato de fabricação do objeto, sem parar de andar, e, agora,
lentamente ao som de uma música tranquila e relaxante.
No caso de uma fruta, o aluno pode imitar o processo de colheita,
de lavagem e de transporte dela. Quando você se certificar de que
todos estão realizando os gestos, peça para que eles comecem a
utilizar o objeto para uma ação qualquer; por exemplo, ele pode
começar a descascar a fruta, em gestos, pode fazer da fruta uma bola
de jogo, pode imitar com a bola que está jogando vôlei com alguém e
assim por diante. O importante é fazer a criança reproduzir atos e
gestos que estão ligados às utilidades reais dos objetos.
Lembre sempre que é uma atividade de imitação e quanto mais
lento a criança fizer isto, melhor serão os resultados, pois assim ela
estará se conscientizando da prática e da sequência dos atos. A
câmera lenta, aquele recurso da televisão, é maravilhoso neste
momento. Inclusive você pode pedir um “congelamento” da ação
que está sendo executada de momentos em momentos. Agora peça
que os alunos troquem os objetos por outros que estão sendo
utilizados por outros colegas e repita a mesma dinâmica.
Neste momento, você terá chegado à parte mais importante desta
atividade. Sem deixar que eles parem de executar a atividade que
estão fazendo, peça para que todos andem apenas em uma das
pernas e movimente o corpo apenas para trás.
Vai parecer uma grande confusão, porém é assim mesmo. No
começo, eles terão dificuldades de realizar movimentos combinados,
mas depois isso vai melhorando. Vá acrescentando outras
dificuldades ao longo dos exercícios, por exemplo: sem executar os
primeiros movimentos com os objetos escolhidos (estes podem ser
abandonados nesta altura da atividade), peça aos alunos que andem
para frente e, ao mesmo tempo, movimente o braço esquerdo em
círculo e o direito para cima e para baixo.
Quando este movimento estiver bom, coloque linhas retas e
curvas no chão (com o apoio de um giz ou de uma fita adesiva) e
peça-lhes que repitam a mesma operação só que desta vez em cima
do percurso delimitado. Pode também pedir que eles penteiem o
cabelo andando em cima da linha, mas sem deixar de movimentar
um dos braços, por exemplo. Com lenços, é possível vendar os olhos
e realizar uma série de movimentos alternados. Para isso, você pode
colocar obstáculos no meio da sala para que eles aprendam também
a localizá-los espacialmente. Com lenços, ainda é possível realizar
atividades aéreas do tipo coreografias sincronizadas.
Você pode inclusive ensaiar uma apresentação para uma festa da
escola somente com os movimentos de lenços. Para isto, faça
coreografias com cinco ou seis lenços coloridos por aluno e crie com
eles movimentos dos mais variados possíveis, inclusive pensando na
alternância das cores, na direção dos movimentos e na harmonia dos
ritmos. Isso fará com que os alunos possam interessar muito mais
pelas atividades de coordenação motora viso-espacial.
Observação importante
12 Secretaria
de Educação. Prefeitura Municipal de Florianópolis.Consultora: Profa. Dra.
Beatriz Ângela Vieira Cabral. Teatro e Pressupostos Curriculares, em versão online, acesso
em 20/12/2004.
13 AZEVEDO, Jo. HUZAK, Iolanda. PORTO, Cristina. Serafina e a criança que trabalha.2ª
ed. São Paulo: Ática, 1996.
14 ROUBINE, J. J. A linguagem da encenação teatral 1880-1980. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1980.
15 Secretaria
de Educação. Prefeitura Municipal de Florianópolis.Consultora: Profa. Dra.
Beatriz Ângela Vieira Cabral. Teatro e Pressupostos Curriculares, em versão on-line, acesso
em 20/12/2004.
16 Idem.
PROJETO: Vagamundeando pelos textos dramáticos
APRESENTAÇÃO DO PROJETO
Este trabalho quer desenvolver percepções elementares para a
iniciação da leitura e da produção de textos teatrais, com atividades
para o desenvolvimento de argumento, de roteiro e construção da
tessitura dramática final. O projeto que será apresentado aqui
pretende ajudar os profissionais que trabalham com a escrita no dia
a dia da escola, com o movimento, com a arte e com a
Psicomotricidade, a executar uma proposta interdisciplinar onde
teatro, corpo, escrita, arte e pessoas estejam em sintonia.
Para contar com mais esta possibilidade na construção do leitor,
do apreciador e do produtor dos textos diversos e nas possibilidades
que se constroem para aqueles que querem trabalham com o corpo e
a mente, é necessário ter a convicção de que ele é apenas uma
referência, não um modelo. É mais uma ferramenta para o trabalho a
partir do universo das tragédias e das comédias humanas.
É um trabalho muito específico para alunos a partir de 10 anos de
idade. Claro que se podem fazer as adaptações diante de cada uma
das realidades, no entanto as crianças do ensino fundamental, séries
finais e os alunos do ensino médio é que são os alvos deste projeto.
Aqui fica a prova de que a Psicomotricidade pode-se alinhar,
justapor-se a outras ciências na construção de um homem mais
humanizado.
NÍVEL DE APROXIMAÇÃO
Compreende o primeiro momento do trabalho. Ele é o momento
para o professor, para o inteirar-se do que realmente o espera
enquanto fomentador do trabalho com textos dramáticos em sala de
aula e com os movimentos necessários no desenvolvimento da
prática. Mas, há um segundo momento nesta proposta que é o da
aproximação com os alunos, leitores a serem conquistados. Este
momento talvez tenha de apresentar um caráter mais leve, mais
solto, de busca das impressões que os alunos possuem do teatro, dos
textos, dos artistas etc. É o momento do namoro, conforme
experiência descrita acima.
NÍVEL DE ESTRUTURAÇÃO
Este é o nível da informação mesmo. É o momento em que o
professor irá trabalhar os recursos, as ferramentas, a composição e a
estrutura geral de um texto dramático e de uma montagem de
espetáculo. Para isto, segue um roteiro de informações essenciais. É
aqui também que se aproxima do aluno textos e informações que lhe
servirão de suporte.
NÍVEL DE CRIAÇÃO
Passado o momento de descoberta, passado o momento de
informação, passado o momento das leituras e de apreciação, é
chegada a hora de levar o aluno à criação. Como estamos falando de
escola, de sala de aula, esta criação poderá ter sempre o caráter da
coletividade e de ludicidade. Nestes momentos de criação coletiva, o
diálogo, as trocas e as demais tentativas serão sempre somadas
àquelas outras coisas que chamamos currículo de formação e
objetivos da escola. Não se busca, a partir de um trabalho como este,
formar excelência, mas despertar leitores, apreciadores do teatro,
construtores de experiências, percepções humanas.
NÍVEL DE EXPERIMENTAÇÃO
Este é um nível mais profundo para aqueles grupos de alunos
que já possuem uma caminhada na leitura e na construção, ainda
que elementar, de textos dramáticos, principalmente aqueles que
envolve um bom trabalho de corpo. É um momento para se permitir
tentar, usar a criatividade, relacionar-se com outras linguagens
artísticas, como o desenho, a plástica, a música etc.
Cenário
Um cenário pode apresentar várias características importantes
para a completude do texto dramático. Será importante perceber que
alguns autores fazem questão de defini-lo com pormenorizações no
início de cada texto. Esses buscam garantir que os elementos
pensados e definidos estejam efetivamente em cena a fim de garantir
certas leituras por parte da plateia. Assim, um pano pintado, uma
construção arquitetônica pós-moderna ou um simples monte de
folhas jogado pelo chão pode, por vezes, ser uma solicitação do
autor do texto, e não do diretor da peça. Valerá a pena conferir com
os alunos os porquês destas escolhas em relação ao cenário. Onde
estão as bases das escolhas dos elementos cênicos e assim por diante.
Um exemplo bem interessante é a peça de Brechet, Os fuzis da
Senhora Carrar. Há um forno no palco, onde um pão é assado
durante o espetáculo. O tempo para assá-lo é justamente o tempo da
peça.
A biografia do autor
Não que este elemento seja constante, ou que podemos fazer uma
generalização dele, mas a leitura prévia de uma biografia, ainda que
sucinta do autor do texto, pode dar pistas dos elementos de sua
produção. É sempre importante ter mínimas informações a respeito
do autor, da trajetória dele e da produção elaborada antes de se fazer
uma leitura do texto. A percepção de fatos que se cruzam entre
realidade e ficção sempre deixou muitas indagações no ar. São elas
que às vezes explicam, ou complicam, o entendimento de uma peça.
O importante é saber que sempre valerá recorrer a estas informações
a fim de abastecer a memória, formar uma boa fortuna crítica para
entrar com segurança na análise do texto.
Rubrica
É uma espécie de orientação à montagem do texto. Ela sempre é
apresentada entre parênteses. Normal-mente, fica entre o nome da
personagem que está falando e o verso a ser dito. É uma espécie de
informação primária a ser observada para garantir a intenção do
autor para aquela fala da personagem. Em textos, como os de Nelson
Rodrigues, elas são sempre muitas e algumas bastante subjetivas. De
qualquer forma, elas são partes importantes em um texto dramático
e merecem atenção na hora da leitura.
Elementos cênicos
Os elementos cênicos podem ser diversos. Além das questões de
cenários, algumas peças, quando apresentadas no palco, ganham
elementos que se juntam à montagem. Esses possuem imagens e
representações diversas. Nas críticas teatrais, encontradas nos jornais
e em livros especializados, pode-se ter a noção de muitos desses
elementos e como eles funcionaram na montagem. Normalmente
esta é uma interferência que fica muito a cargo do diretor e do
produtor do espetáculo. De qualquer forma, é importante o aluno ir
se acostumando com este universo de reinvenções ou de releituras,
pois é o simbólico colocado em objetos concretos em cena.
O argumento
O argumento é a situação-problema que irá gerar o texto, de onde
nós partimos para construir os diálogos. Normalmente uma peça de
teatro já se inicia com o conflito instaurado. Assim, vale a pena
discutir bastante na oralidade a situação-problema para depois
perceber de onde partiremos para a construção do texto.
Exemplo 1
Dentro de um ônibus, dois amigos se encontram depois de um
longo tempo. Um diz que está morrendo e o outro, no meio de
tumulto, não sabe como se comportar.
Exemplo 2
O patrão e o empregado, o motorista, dentro da garagem do
prédio, discutem quem é o culpado pelos amassados e pelas batidas
que o carro apresenta.
Exemplo 3
Seu filho chutou a bola para o quintal do vizinho, o vizinho não
está lá, mas em compensação lá estão dois pastores alemães e seu
filho chora porque quer demais a bola.
Exemplo 4
O herói de Titanic briga com Macabéa que está tendo problemas
com seu vizinho Paulo Leminski.
O roteiro
O roteiro é uma espécie de predeterminação dos fatos, dos
encontros, das intrigas. É o momento que vamos colocando
sucintamente as ações que se sucedem uma a outras. É um
relacionamento prévio daquilo que iremos percorrer durante a
escrita. Quem irá fazer o quê e quando essas coisas acontecerão.
Precisamos desta organização até que os alunos se familiarizem com
o fio condutor da tessitura.
A construção da tessitura
Este é o momento da produção propriamente dita. É aqui que as
personagens ganham vida. É aqui que as falas aparecem. É aqui que
as rubricas são definidas e que as ações ganham formato de
narrativa. É importante saber que sempre é possível voltar e refazer
uma ou outra colocação. Alguns personagens se perdem no meio da
narrativa, outros ganham força demais e outros ainda podem deixar
de existir. É aqui que a presença do autor, do produtor do texto
ganha personificação.
O argumento: ___________________________________________
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O enredo: _______________________________________________
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O cenário: ______________________________________________
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As personagens: _________________________________________
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Iº ato: __________________________________________________
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Referências