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expei&ncia das mais significativase

(Buli, 1966)
parente. Mais suculenta e de sabor mais natural. Comecei a
Wer ter uma Idéja ao que um curso desse pensar que é
tipo parece a alunos do assim que me sinto algumas vezes, sem a parede transparente
que me en;
ino do primeiro vau, velamos amostrasdas
reeçõesdos garotos orientados volve, apto a comunicar, de fato, os meus sentimentos.Sinto que
mal e Dadoo mais: estou
progredindo, só não sei quanto. Eis-me a pensar,a considerar, a ponderar,
Sinto que estou aprendendo auto-abilidade a aprender. (Appell, 1959 )
(sics). Não estou ap •
dendo o trabalho da escola, estou
que a gente pode apren- Não posso ler esses testemunhos de estudantes —do primeiro grau,
por sua conta própria quanto a gente aprende da uni-
quando é um versidade, do nível de pós-graduação sem me emocionar profundamente.
que ensina gente. Eis
fessoresque se arriscam, que procuram veles próprios, confiam nos seus
Sinto um potEO de cmfusb nos Estudos alunos,
descobrindo aventuram-sepelo desconhecido existencial, enfrentam uma transição subjetiva.
fazer. Passo muito tempo trabalhando o E
tempo todo. Às vezes, que acontece? Fatos humanos, excitantes, inacreditáveis. Sentimos .que
fico faiando dernais. pessoas
tão sendo criadas, aprendizes estão sendo iniciados, futuros cidadãos emergem
para
Mm» pais não enfrentar o desafio de mundos desconhecidos.Se apenasum professor-erncem
o programa. Minhamãe fala que ela vai ousa
mais arriscar, ousa ser, ousa confiar, ousa compreender, a uma infusão de
e me deixará ir andandocom a minhapró-
pru pfrito vivo, em educação, a qual será, a meu ver, inestimável.

Gosto defle plano porque há uma 'de liberdade.Aprendo


leito do We outro jeito, quando (sic) tem que esperaros O Efeito sobre o Professor
aq.)i a gmte pode andar com a velocidade da *tite mesmo, e a gen- Voltar-me-ei, aWra, para uma outra dimensão que me estimula. Tenho fa-
te com muito mais revonsabili&de. (Shiel, 1966) lado do efeito sobre o aluno de um clima que encoraja a aprendizagemsignificativa,
•is dois exerrvlos do curso de do Dr. Appell: autoconfiante,pessoal. Mas nada disse do efeito recfproco sobreo professor. Quan-
do este se torna da libertação de tal aprendizagemauto-iniciada, verifica que
. Tertw p •do o qtn me aconuceupor meio dessaexpe- ele próprio mudou, tanto quanto o aluno. Diz um deles:
A Onbg conclusb a que chep é que, se tento medir o que se pas-
o eu era no consigo corro eu era ao começar Afirmar que me vi dominado pelo que aconteceu reflete, apenassu-
unta ois• eu senti se teren perdido Se e ol e• perficialmente, o que senti. Ensinei durante muitos anos, mas jamais expF
ran mim NSO parecem ter vindo i tona uma forma ou rimentei algo que remotamentese pareça com o que aconteceu. Eu,
tb que eu as exprimir ou escrever. São minha parte, jamais encontrei uma classe em que toda gente se manifesta
hexprimfveis. Sei qtn .enas lhes towei a Ajr»rffcie, imagi- tanto, üo profundamente se envolve, tão profundamentese estimula. Per-
Witir tantas oi•s qnse para à tona. talvez gu to• e,além disso, Se, numa organização tradicional em que o que se
teia o qtr nrte de coix temapra muitomais realça são a matéria a ser dada, as provas, as notas, há ou
VIÉS... Esu experiênciateve produziual- para uma pessoa "em transvrmação", com suas múltiplas e profundas ne-
«n mün, nb atou certo de nem como,e*atamente.Penso cessidades, enquanto luta para se realizar a si própria. Mas não é disso p o•
a gr melhor eu final da contas, é algoque priamente que se Quero apenas contar-lhe o que e dizerr
(Appll, 1963) que estou grato e também humilde perante a experiência. Gostaria de que
você soubesseque ela enriqueceu a minha vida e o meu ser. (Tenembwm,
. O *'hor seguiu um plano, mas eu estou .in R0Frs, 1961, p. 313,)
o arn letivo sinto-me mú vivo, mais real em relação a mim conta o seguinte:
A aú• e tanto estar '6, ern convanhia outros.O meu Rogers disse que conduzir os relacionamentoscom tais
com as criatva e com os outros aúlltos torna-se mais sene significa "virar a educação, tal como se apresentahoje, de pernas para o
mau «wow«tte. AO etupr urrg tvanja, a sernanapassa&, ai". Verifiquei que isso é verdade, quando tentei dar efetividade a tal mé-
• prno, ela me parEeu melhor, assim sem a pel (cula transe todo de tratar com os estudantes.A experiência que fiz mergulhou-meem

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relacionamentosque têm significado e são desafiantes,fora de qualquer
termo de comparação, para mim. Inspiraram-me, estimularam-me e me dei- SUMARIO
xaram, às vezes, chocado e temerosode suas conseqüências,tanto para Tentemos expor, um unto maiscalma e sobriamente,o que dissemoscom
mim quanto pam os alunos. Levaram-meao conhecimentode um fato a tal emoção e arrebatamento.
que só posso chamar; a tragédia da educação etn nossa época um alu-
no o outro a afirmarem que foi essa a sua primeira experiênciade Afirmei que é a mais infeliz a maneiracomo os educadorese o público
pensame focalizam o ato de ensinar. Isto os leva a uma multidão questões,irre-
vma confiança total, de uma liberdade de ser e de mover-se,de modo mais
coerente, no sentido de realçar e de manter. O núcleo de dignidade que levantes umas, absurdas outras, no que se refere à educação real.
breviveu, de algum modo, à humilhação, à distorção e ao cinismo corrosi- Disse que, se focalizarmos a facilitação de —como, porque e
vo. (Appell, 1959.) quandoos alunos apren&m, e como a aprendizagempamx "r e é sentidacomo
vinda de dentro — poderfamos estar no caminho certo.
Idealista Demais?
Sustentei que
Alguns leitores podem achar que o modo global de encarar o tema deste mais sobre as conAçõesAue facilitam a e que uma das
capftulo — a convicção de que os professor&podem relacionar-se, tanteñessas condições é a qualidade_4a atitude assumida relacionamentoi te •
como pessoas, evi-
com os seus alu os— é irremediavelmente irrealista e idealista. _do_aprendiz2
Podem ver que, em
essência, se trata de encorajar tanto professores quanto alunos
a serem criativos no denglâ Pósteriqrmen.tgL
seu relacionamento un$ com os outros e com a matéria em estudo Tais atitudes, que se afiguram eficazes no promover aprendizagem, podem
e podem achar
que atingir tal objetivo é praticamente impossfvel. Nesse modo de ser descritas. Antes de tudo, a trprysparente .a@isposi-
ver não estão so-
zinhos. Já ouvi especialistasde importantes escolasde ciência e eruditos ção de ser .uma pessoa,.de tér e de viveros Sentimentose
de impor-
tantes universidades argumentarem que é um absurdo tentar Quando essa autenticidadeinclui um apreço, configep_ggm
estimular todos os es-
tudantes a serem criativos precisamos é de uma multidão de técnicos
e de t a a• respeito-pele favorável à
lhadores medfocres e, se uns poucos cientistas, artistas e Ifderes clui uma sensfveltcuidad0EL empática capacida& ae ouvir, en!bgxiste, na_verda-
criativos emergem,
isto já será o bastante. Pode ser o bastante para eles. Pode ser o
bastante para convir ciima de liberdade, uma apreodizagem e um progresso estimulantes e
a este ou aquele. Quero:ir ao extremo de afirmar que nâé o
bastante para .mim. iniciados. Confia-se no desenvolvimento do aluno.
Quando me capacito do do estudante comum, quero -tentar
a sua nação. Estamos' trabalhando, dyramente, para libertar a incrível Tentei deixar claro que as pessoas que assumem tais atitudes e têm a cora.
eneré40
-átomo e do núcleo do átomo.-Sñãüedicarmos igual esforço sim, e igual dinhei- gem suficiente para agir com fidelidade a elas, não modificam, simplesmente, os mé-
ro — à libertag50@opqtenciai de cada indFtdÜo, ehião; á enormediscrepância todos de ensinar — na verdade os revolucionam. Quase não exercem as funções de
en-
tre o nosso nível de recursos da energia ffsi a•e dos recursos dá -eñergia professores.Já não conviria mais chamai-lhes professores. SIO caulizadores, fa ilita•
Ida • os-úuma universal e•merecida destrPiç5p.B dores que proporcionam, aos alunos, liberdade, vida, oportunidade-& apren&r.
Lamento não poder ser friamente ciéntffico a esse respeito. O problema é Evidenciei, através.de súbessivas pesquisas, a sugestão de que as pessoasque
urgente danais. Só posso ser apaixonado na minha afirmação de que assumem tais atitudes são consideradas mais eficientes, na sala de aula; que os p o•
a pessoa hu a•
na tem de ser levada em conta, que relações interpessoaisimportam blemas que lhes dizem respeito são os de fazer com que se.liberte a potencialidade
muito, que sa-
bemos algo sobre a.libertaç50 do potencial humano, que podemos dos seus alunos, não os que se referem às deficiências destes; que eles parecem criar
aprender muito
mais, e que, se não dermos atenção intensamentepositiva ao lado situações, nas salas de aula, nas quais não há crianças a quem se admire e crianças de
humano inte -
pssoal do nosso dilema educacional, a nossaciviliz estará a caminho da exaus-) quem se desgoste, mas em que a afeição e a estima constituem uma parte da vida de
(cujos, abiangência mais ampla, melhores máqui- cada criança; que, nas classes em que vigora tal clima psicológico, as crianças apren-
nas de ens no jamais resolverão o nosso dilema, na sua
base. Somente as pessoas dem mais das matérias convencionais,
como pessoas no seu relacionamentocom os a unos,
te começar a produzir certa abertura no mais
urgente problema da moderna educa- Mas, intencionalmente, fui além dos achados empfricos, para tentar fazer
com que se entre na vida rntima do aluno —dos cursos de primeiro grau, u i e sit •
rios ou de pós-graduação — que tem a sorte de viver e de aprender em tal relaciona-
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Manuscritonão-pubticado.Univ«sity of
mento interpessoalcom facilitadores, a fim de que se veja como a aprendizageme JACKSON, P. W. Thestudent%world.
sentida, quando ela é livre, auto-iniciada e espontânea.Tentei mostrar como se mo- Chicago, 1966,
difica até mesmo a relação aluno para com aluno —tornando-se mais consciente, A sudy of opennez in classroominter-
mais cuidadosa, mais sensível, ao mesmo tempo em que se expande a aprendizagem MACDONALD, J. B. & ZARET, Esther. MarquetteUniversity, 1966.
actions. Manuscrito não-publicado.
de matéria provida de significação. ReferVme à mudança que tam-
bém se processa no professor. Improving ColleF and UniversityTeaahing,14:
MOON, S. F. Teaching the self.
Em síntese, tentei indicar que, se ter cidadãos capa?esde viver, 213-229, Autumn 1966.
construtivamente. mundo em my_dança caleiddsc6pica, só os Boston, Houghton Mifflin, 1961.
se nos dispusermos a fazer deles.aprendizes auto-esttmÓládose auto-iniciadoss Final' ROGERS, C. R. On becomingapemon.
linking patterns in classroomto pupil
mente, meu probósito mostrar que essa espécie de aprendiz se desenvolveme- SCHMUCK, R. Some relationships of peer
Review, 71 : 337-359, 1963.
lhor, bnto quanto o sabemos, num relacionamento pessoa a pessoa que promova, attitudes and achievement. TheSchool
que facilite o crescimento. Psychology In die
Some aspectsof classroomsocial climate.
Schools, 3:59-65, 1966.
sêlf-dtrected curriculum, 1965. Manuscrito üo•
R ÉFEREN CIA s SHIEL, Barbara J. Evaluation: a
publicado. 1966.

APPELL, M. L. Selected student reactions to student-centeredcourses. Manuscri-


to não-publicado. Terre Haute. Indiana, State University of Ind., 1959.
Self•u de sta di g for the guidance counselor. & Guid-
ance Joumal: 143-148, out. 1963.
ASHTON—WARNER, sflvia. Teacher. Nova lorque., Simon and Schuster, 1963.

ASPY, D.N. A study of threg facilitative conditions and their relationshipto the
achievement of thir¿ gradá students. Dissertação de doutorado ão•pu li ada.
Universityof Kentucky, 1965.
AXLINE, Virginia M. Moraleon the school front. Joumal ofEducational Re-
—arche531-533, 1944.
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G. T. Dimensions of therapisrresponse as cpusal
Psychological Monographs,76, 1962. (todo o ne
in therapeutic change.
562.)
BILLS, R. E. CorrespondênciapessoaJ. 1961, 1966.
Studentreactions. Fall 1965. ão•pu li adO.
Cort-
BULL, Paüicia.
land, Nova lorque, State University College, 1966.
personality character-
EMMERLING, F. C. A study of the relationships between
and pupil perceptions. Dissertação de doutorado
istic of classroom tewhers
Aubum, Alabama. Auburn University, 1961.
131
130
CapítuloV

METODODE PROMOVERLIBERDADE
'Será due eu posso fazer isso na minha de aula?" Ê o pro-
bletna, parece-me, que seria levantado, a esta altura, pelo professor que
se terá impresionado favoravelmentepelo que ficou expreso no capi-
tulo anterior. Eis que, no presente caprtulo, tentei qlguns
dos métodos de que se pode servir o pmfesor, para piopor•
cionar oportunídadesde uma aprendizagemmais autoconfiante. Para
fazê-lo, utilizei-me dos trabalhos de vários educadores e pêsqüisadores,
cuja contribuição menciono nas refergncias. Aproveitei tamum dois ar-
tigos meus (1966-1967). Espero que o material dar Êesultante ao mesmo
tempo reanime e estimule o professor que se disponha a aventurar-se pe-
Ias águas um tanto frias da inovação em sala de aula.

Se um professor anseia proporcioAar a seus alunos liberdade para aprender,


de que modo poderá levar isso a cabo? Nb capftulo anterior apresentaram-seatitu-
des pessoais e subjetivas que se nos afiguram básicas na criação de tal clima. E não
há dúvida de que o professor empenhado em assumir essas atitudes desenvolverá
i modos de construir a liberdade, dentro da Sua sala de aula, adaptáveis a seus pró-
prio e que decorrerão da sua livre e direta interaç50 com os alunos. Assim,
dará crescente expansão a uma metodologia peSsoal — indubitavelmente, o melhor
processo.
Entretanto, é perfeitamente natural que o professor, disposto a correr o
da experiência, goste dé saber o que foi que outros tentaram, de que modo
chegaram a assumir aquelas atitudes pessoais na sala de aula, ao ponto de levarem os
alunos a percebereme usarem a liberdade que lhes é oferecida. É intenção deste a•

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pftulo expor, resumidamente, algumas vias ae acesso, métodos, técnicas usadas por mutação'i e Odireção de pesquisaw, mencionaremos circunstâncias em que o aluno
professores que tentaram ser facilitadores, que se empenharam em dar pa- se vê profundamente envolvido e em face de problemas que se tomam muitoreais
ra aprender. para ele.
Fico irritadíssimo Com a idéia de que deveser "motindo". O,
jovem é intrinsecamente arn-
Edificar sobre Problemas percebidos comb Reais
blehfé constituem desafios para g!e. É a ânsia de de conhe-
Para a aprendizagem auto-iniciada ocorrer, parece essencial:que a pessoa cer, de es—z e le as. O lado thste da maior parte da educação está em_gue,.
entre em com um problema que se lhe afigure real; e dessaforma o encare. aõ&s a cñança haver anos e está
O êxito no facilitar semelhante aprendizagem, parece, muitas vezes, relacionar-se di- rpuio bem amortecida. Mas cpptinua a.existlr,.g.nosa tare!?!_compfacilitadores de
retamente com tal fator. Um bom exemplo é o dos profissionais que se reúnem num aprendizagem, é a de suscitar essa ge;afjos p
grupo encontro básico porque enfrentam problemas que lhes dizem respeito. jovgrp e proporcionar-lhe a oportunidade de enfrentá-losE
Quase invariavelmente uma vez dada a liberdade no Contexto das atitudes descritas
no último capftulo, tais pessoas, no começo, resistem à idéia de serem responsáveis Promover Reatrsos
por Na própria aprendizagem, mas, em seguida, gradualmente, vão se capacitando 6 se mais em facilitar que
dessa oportunidade e dela se utilizam muito além das suas expectativas. Por outro em exercer a função de ensinar, organiza o seu tempo e os seus esforços de modo
lado, alunos de um curso:obrigatório esperam permanecer passivose ficam extrema-, multo diferente _dpconvencional. Em yez de empregar a maior parte do tempo em
mente perplexos e frustrados quando se lhes dá liberdade. '.'Liberdadepara fazer o preparar planos d? aula p exposições orais, concentra-se na promoção de todas as
quê?" — é a sua indagação, perfeitamente compreensível. pécies de recursos que_poderãoproporcionar a seuñIÜnos uma aprendizagemexpe-
Parece razoavelmente que, para a do gênero da que te- rFnaITorrespondente às necessidadesdeles. Ocupa-se,também, em fpzecçpm gee
mos discutido; é necessário que O aluno, seja de que nfvel for, se coloque perante tais reõursossejarpnçlaramentqdisponíveis, em imaginar_e%implificaros estágiospé
problemas qué tenham significado e relevância para ele, Em nossacultura, tentamos ticos e psicológicospor que deve passar o aluno para utilizá-los. Uma coisa,por
isolar o estudanu de e qualquer problema real da vida, um pe- "emplo, é sir+lplesmentedizer que detegninado]ivro Zencontra.na biblioteca, Isto
se os estudanta aprendam a ser pessoafliyres e quã -ciiiàiãüõó ãffño -corifere no espera até verificar que elNfoj em:
responsáveis,temos de nos dispor enfmtar prGtãdÇüõlWniEmana segúinte para indagar pode obter o livro. Ngrn
os problemas.nãéífàfêmdi da inaptidão de um menino pequeno para mudar, ou do todo-alurío terá Baciêñêiá-ôíJTñéresse de percorrgr todos essesestágios.Quanto
a a mim, já veri#quã Que, se na_sa!a de aula uma estaLeA-.Iiyms,-gggi
b?õbfema do seu irmão ais.• elhode construir um conjunto de alta fidblidade, ou
da dificuldade do universitário de formar os seus pontos de visu sobre os problemas exemplares para empréstimos, a feita e o resultan-
raciais, ou do medo de um professor iniciante de dar a sua primeira aula prática; ou te estfmylo para usar-á h.;nçãodas necessaa&s crescerp
ãõborbotõeà.
do de um adulto para tratar de relações interpessoaisou de problemas conjugais, al-
Bima confrontação real com um problema parece ser condição necessáriaa essetipo
o falar de recursos não penso só nos recursos acadêmicps usuais —livros,
de aprendizagem. artigos, ra trabalhar, . a rat no e equi ame s, maquinários,m fib
Seria, pois, sensato que todo professor tentasse obter dos seus alunos infor- mes, e coisas parecidas. Penso nos recursos manos — pessoas
mações sobre que fossem reais.para eles e relevantespara o u • que possam contribuir para os conhecimentos do aluno. Freqüentemente,hé pes-
so a ser O problema pode ser th simplescomo o que se exprime na frase soas estranhas que podem contribuir para pôr em foco certos problemas que se re-
autêntico
"preciso de uis e tais notas para ser aprovado"; ou pode tratar-sede um ferem ao aluno. O mais im rtante porém, sob este aspecto, é o pró rio rofessor
relação a ese ou aquele aspecto do programa. Seja o que for, o profes- como recurso humano. Põe-se a si próprio, o seu saber e a sua experiência —ais,
interesse em
.wr deverá estar bem informado para agir. claramente à .di»os" dos alunos, mas não se impõe a eles. Delineia os temasespe
problemas, pode cfficos em que se julga mais competente, e os a unos podemapelar para ele quanto
Uma vez que, em geral, os estudantes estão à margem dos
vwr necessário fazer com que enfrentem situações que se tornem problemas reais pa- ao que esteja apto a lhes dar. Trata-se, porém, de se oferecer a si mesmo,corno um
das últimas seções deste capftulo, ao traur de coisas como "si, recurso, competindo aos alunos saber até que ponto podem utilizar-se dele.
ta eles. Em
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Alguns dos modos pelos quais o professor pode tornar-sedisponível foram sitários e alunos de pós-yadução o qual tem algumas caracterfsticas interesantes
indicados na primeira parte deste livro. A senhorita Shiel colocou-seà @isposição Explicou, no início do curso, que o estudantepode obtera nou que q.iiser. o
dos alunos para consultas individuais, para atender aos que tinham alguma dificulda- que lhe interessa é passar de uma série para outra, mediante os créditos
de nas tarefas que executavam. O professor Faw não somente,ensejouessa espécie poderá consegui-los, se provar que leu certa quantidade de textos &terminados,
de consulta como estabeleceu vias de acesso, de modo que excursões e outros recur- submetendo-sea exames referentes à matéria neles contida. Nenhum liga-•
sos e experiências de aprendizagempodiam ser facilmente organizadaS.Pôs igual- a essa &cisão. Se, entreunto, o aluno uma nota mais alta, planejará,por sua
mente à disposição dos alunos os seus interessespróprios, especiais,através dos '
te• própria conta, fazer o que acha que justificaria um 'B" ou um eo
mas que escolhia para suas aulas. Um tipo de recurso humano pouco comum que foi Combs consultará cada um sobre o contrato a executar. Muitas yezes, apreznurn.g
por ele oferecido e que poderia ser muito mais amplamenteutilizado, consistiu em contratos meio pomposos, e será preciso podá-los até um tamariho mais razúel.
colocar estudantesmais velhos e experimentados à disposição dos iniciantes, Como QIando professor e aluno chegam a um acqrdo mútuo sobre o contrato, de maneira
consultores. Esta é uma experiência das mais valiosas, para ambasas partes, a qué corresponda a uma nota "B" "A", o aluno pode estar certo de que a
O Professor Richard Dean, do Instituto de Tecnolo ia da ré, desde que, simplesmente,atenda à$ suas obrigações contratuais, do fim do
ia dan-
do da maneiramais livre, um curso a emética Su rior, colocou-seà disposi- curso. Isso remove qualquer receio e apren$b, no correr das aulas, e torna possrvel
ção dos alunos, primeiro oferecendo, para o uso da classe, folhas mimeografadaspa- uma Fnulnamente livre. Os alunos podém discordar do professor,sem
ra;feedback, nas quais tentava resumir os rinci ais roblemas discutidos e esol i• que põem em risco sua aprovaçb. Podem exprimir o que realmentesenteme
dos em cada aula (assim como os que foram suscitados e não resolvdos). O aluno, pensam,
ao egar sa a, rece ia a folha de feedback da aula anterior, a qual o ajudava a re- Divis& em Grupos
frescar a mem r aso e o que a classe havia feito. Mais tarde, e e a Irmou que qua •
quer a uno p ena, se o quisesse,organizar também uma o a Não se afi ura razoáve[a imposi de liber não a er. O
forma, an oe e quan o a guns dos alunos resum am as scussões.Além disso ele e bom senso indica ortanto ue, se perfeita (vel dar a um po
os a unos frequentemente acrescentavam a ectos e cada um sobre o rdade para aprender sob sua r r ar on dade tam m se propor-
que se ava el o, ouso ea solução própria a temas e problemassuscta os. cionar condição aos que não se adaptim não desejamtal liberdade, erindo
ser instru os egua os. senhor iel recon eceu opro e os seu'
Um ponto que gostaria de acentuar é que, se empregássemoso mesmo tem-
po ga4 ua mente para p ane ar curriculos ré-determinados, aulas expositivas e alunos do sexto ano em dois grupos —um, autodirigido, outro, convemlonal. O fa-
to de gles terem liberdadepara ir e .vir de um para o outro consttuiu muito
xames, n o mag nosa de uma série de recursos ara a aprendizagem,sur-
feliz no caso. O Professor Dean, ensinando Matemática possibilitou ao'
ginam to esp e de novas formas depnvolver o aluno num ambientede a rendi-
álunos que não gostaramda liberdade que lhes fot dada transferirem-se para ag se-
zagem o qua e e po er a escolher os elementos que me or atendessemàs suas ne-
ções convencionais do mesmo
cessidades.
Nem sempreserão possfveis soluções tão fáceis, mas trata-se de problema
O Uso de Cdntratos que o facilitador de aprendizagem terá de considerar. Se os alunos
são livres deverão sê-lo tanto ara a render.passivamente quanto para ter a iniciati-
Expediente viável, capaz de ajudar-nos a proporcionarsegurançae respon, va da própria aprendizagem.Talvez, no daunvolvimenco da
sabilidade, numa atrnosfera de liberdade, 60 uso dos• o t atosde trabalho dos alu- pmgra-
mada, possa oferecer-se outra altemativa. Os alunos que preferirem ser guiados por
nos. Serve também, nb há dúvidas, para atenuar as incertezas e insegurançasque o
facilitador pode experimentar. Vimos como a senhorita Shiel fez uso perspicaz de escolherãoa aprendiz"em p og a•
madâ, Os que preferirem seguir orientações próprias e ter a iniciativa da aprendi&
contratos diários com. seus alunos, Isso os capacita a estabelecer objetivos próprios gem reunir-se-ão num ou adotarZo um dos vários modelos at' aqui &xrttos.
a planejar o que querem fazer. Constitui uma espéciede experiênciade.transição
entre a completa liberdade para aprender seja o que for, de interesse,e a aprendiza-
relativamente livre, mas 'ituada dentro dos limites de alguma experiéncia ins- Organização de Grupos de
titucional, Facilitadores de Aprendizagem
Será possível propiciar liberdade aprender, dentro de turmas A
O professor Arthur Combs utilizou-se de um tipo de contrato com univer-

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questão é freqüento e validamente suscitada. O Professor Weldon Shofstall (1966)
'lecionando futuros professores do curso secundário, chegou a interessante Para começar, amiga, se você tem feito todo o seu curso universi$
manei
ra de enfrenur o problema, rio comparecendo a aulas expositivas, tomando notas daquilo que o
fessor acha qué você deve anotar, lendo o que o professorquer que vod
De inicio, cria um clima, para a turma, c@mcertoscomentáriosde ordem leia, escrevendo o que o professor quer que você escreva ou fazendo ela•
pral: tórios do que ele acha que você deve informar, e submetendo-sea exames
sobre o que o professorquer que você saiba no fim ano — e se você
Sou um facilitador de aprendiza m e• o êssão os aprendizes.Não
há, aqu , pro essor no sentidotradicional. Aprender ou não é da inteira gosm desse método de educação — desista de fazer este curso Mas
você, se dispõe, honesta e sinceramente, a tomar o compromisso as •
responsabilidade pessoal de vocês. Minha única tarefa é a de permitir-lhes
que assumam essa responsabilidade, por iniciativa própria de cada um mir responsabilidade por sua própria aprendizagem, então, seja benwindol
Estou sempre disponfvel, ara consultas pessoais. Recomendo-lhes com in- Ê certo que há muitos outros meio* de dividir turmas granaes em grupos
sistência e aconse 0-os a iniciarem essas consultas pes;pais durante a pri- pequenos, funcionais, auto oti ados.•Os membros podem agrupar-se em termos de
meira semana.... Além disso, as consultas pessoais serão muito úteis pa- certos interessesespeciais ou de certos temas particulares ou por outros motivos. Ao
ra mim, como seu facilitador, porque quero também ser um aprendiz. Só descrever o método do Professor Shofstall, foi nossa iñtefição indicar, simplesrnen-
poderei aprender, se vocês suscitarem questões,objeções, e me fizerem su- te, que, se nos dispomos a dar tana atenção ao planejamentoda facilitação de
gestões, pessoalmente. aprendizagem quanto, ordinariamente, à preparação das aulas, muitos dos proble-
mas aparentemen.tp.jPFuperáveis serão resolvidos.
Ele, então, propicia a formação de grupos de "facilitadores de aprendiza-
gemo, relativarneneautonomos.
A Orientaçãoda Pesquisa
Vocês se inscreverão num grupo FA (de "facilitadores de aorendiza-
7 a 10 alunos. Dentro desse grupo, pode-sede•e diça o próprio
No campo das ciências, tem-se desenvólvidoum tipo especialiiado de
tempo e o dós outros, mas também se pode encontrar uma das mais esti- aprendizagemde e experiencial, a que se vem dando, recentemente,
mulantes e úteis experiências de aprendizagemque já se fizeram. Para a progressivo relevo. Vários indivTduos e grupos nacionais trabalham com o obJetivb
maioria do vocês, não haverá campo intermediário... Comparecerei ao gru de levar os estudantes a .setornarem pelo trábalho visan-
po FA, apenas a convite do próprio grupo. Avisem-me,por favor, com a do à descobertano domínio cientffico.
de um dia, se quiserem que eu estejapresente a uma reunião O estfmulo a esse movimento procede da urgente necessidadede manter a
do Vupo. ciência experimental como setor em transformação, como no mundo moder-
no, em vez de encerrá-la num livro de fatos já descobertos. A posse de um conjunto
SuFre grande parte da estrutura desses grupos: de conhecimentos a ciência não é proeza adequada po estudante de hoje. Por
O FA deveria escolher um presidente.SJgiro que ele não sirva isso, a finalidade é fazer cori que o estudante fuja da enganosa imagem da ciência
riais We durante uma semanacada vez. O presidenteé o. moderadorda como absoluta, completa e permanente. (Schwab, 1960 ) 'Suchman (1961, 1962 ) é
turma e deve apresentar-sea mim antes de cada reunião.do grupo FA, um dos que têm dado pormenores mais especfficos sobre a maneira pela qual essa
Além da escolha do presidente, poder-se-ia designarum dos para meta pode ser atingida. A fim de tenur fortalecer, no espírito do aprehdiz, os proe
ser o relator do grupo. Este me fariá um relatório, depois de cada reunião. cessos autônomos, Suchman advoga novo modo de encarar o aàsuntopara o qual os
Sugiro que haja um planejamento do trabalho do grupu-FA e se faça atri- prefessores de ciência necessitam treinamento especial. O professor estabeleceo
buição de tarefas com a antecedência máxima de duas reuniões , A falta quadro da pesquisa, mediante a colocíção de problemas, a criação de um. ambiente
de preparação por parte de cada um dos membrospara as reuniões do gru- receptivo para o estudante, a assistência aos educandos no ato de investipr. Isso
po é um sério ao efetivo funcionamento dos FA. possibilita aos alunos realizarem descobertas autônomas, empenharem-seem apren-
autodirigida. Tornam-se cientistas por si mesmos, num nfvel natural, pro-
No fim cada um dos cursos o Professor Shofstall pede aos alunos .que curando respostas a problemas reais, descobrindo, por conta própria, as surpresase
-ecmam aos que o curso no ano seguinte. Eis um extrato de alegrias da investigação cientffica. Podern não aprender muitos "fatos" cientfficos,
- uma cartas: mas desenvolvem uma apreciação real da ciência como pesquisa que nunca se acaba,
138
139
O reconhecimento de que não "hánada de definitivo em nenhuma
ciência verdadeira. "mundo" constitufdo de várias ''nações". Cada uma delu dirigida
É óbvio que, se professoresvoltados para o futuro vão se um certo número de encarregadosde tomar decis5es ("de isio • ak 'ff
empenharnessa
gspéciede estfmulo à pes u sa en re os seus a unos, devem, que tentam manter-sena função, sob uma variedade de
eles próprios, ter expe-
rimenta gua sentimento. Evidencia-se, pois, que o; cursos cionais" e "domésticas". Providos da história do seu mundo e de inform&
nos institutosde pre-
paração de professoresdever o ser dados da maneira dêscrita or $es de caráter econômico, militar e polftico das respectivasnações,os ens
Suchman uma vez
que s pnos professores devem experimentar a satisf o carregadosde tomar decisões distribuem os recursos básicos destinadosi
da descoberta or
autc-iniciativa, no domfnio da ciência. Este novo desenvolvimento defesa, ao desenvolvimento,à ajuda e ao comércio exteriores, a fim de
na área ie tffi•
Ca constitui um profundo questionamento dos atuais
conceitos de aprendizagem. A atender às necessidadesdos cidaüos quanto a bens de consumo,
prática educacional corrente tende, sem dúvida, a tornar as de interna e proteção contra ameaças do estrangeiro; Têm de enfrentar
crianças menosaut o•
mas e menos empfricas, na sua busca do conhecimento e
da compreensão, enquanto guerrase ameaças de guerras, exigências de cooperação militar e e o O i•
passampelas diversasséries do ensino elementar. Isto está ca, rivalidade de blocos, oposição ou insurreiçb intemas, O cum dos
totalmente.em
com a finalidade dos que põem a pesquisa como foco. Quando acontecimentos é determinado, em parte, pelas caracterfsticas sociais,
se permite às crian-
cas idearem a sua maneira de atingir novos conhecimentos,
os o eitos• ueadqui- nômicas e pol (ticas erigidas, dentro do sistema, pelo experimentador, e, em
rem por esse processo têm maior profundidade, compreensão parte, pelas respostase decisões dos próprios participantes.
e durabilidade. Tor
.nam-semais autonomas e baseiam-se ma!s solidamente num
método empfrico. O "tempo" é extremamentereduzido; cada perfodode cinqOehta
Como qualquer dos métodos descritos neste capftulo, os processos que 1m- minutos da simulação representa um ano, e a "temporada" de uma única
portam em desenvolver o estado de espfrito favorável à pesquisa podem,também simulação abrangeraté vinte períodos. Mas como "funciona" a si u•
eles, transformar-se em rotina ou, simplesmente, em outros meios de impor aos alu- lação? Como sabem os encarregados de tomar decisões, quai$ as conse-
nos um currfculo dirigido pelo professor. Sei que isso ocorre. Nunca se acentuará qüênciasdestase se foram boas ou más?
suficientemente e nenhum dos métodos aqui mencionados terá eficácia, a menos Na INS,•'as conseqüências das decisões são calculadas de acordo com
a intençb do professor seia a de criar um clima dentro do qual haja li- fórmulas matemáticas e determinados valores numéricos. Por exemlo,
berdade para aprender. usa-seuma fórmula para.fixar a relação entre a quantidade de recursos bá-
sicos empregados na produção de bens de consumo, de um lado, e, de ou-
A Simulação tro, o grau de satisfaçb do cidadão, com o padrão de vida resultante.
como Tipo de Aprendizagem Experiencial investe muitp pouco em bens de consumo, o padrão de vida cai; os cida-
A tendência para um tipo mais experiencial de evidencia-se dãos ficam insatisfeitos;se a insatisfação, medida por outra fórmula, cai
no uso crescente simulação como expediente a ser utilizado em sala de aula. além de certo nfvel, o encarregado-chefede tomar decisõesperde o cargo.
é um sistema em miniatura; um modelo de uma organização, uma Outra fórmula é usada para calcular a relativa força militar e defe •
nação ou um mundo — um 'laboratório," no qual uma ampla variedade de situa- siva de cada nação e de blocos multinacionais. Se at necessidadesda defesa
ções sociais poé ser reproduzida". (Sprague, Até aqui, o trabalho experi- 1 foram neglicenciadas,porque foram destinados recursosdemasiadosda na-
mental sobre simulação tem Sido telto mais no plano.das relações internacionaisdo ção aos bens de consumo (."eanhõesversus manteiga"), a coletividadede
que no de qualquer outro sistema social simples (Alger, 1963; Solomon, 1963; cidadãos fica igualmenteinsatisfeita com a segurançado pafs e, de novo,
Guetzkow, 1963), mas tem havido alguns estudos-pi!oto simulando famílias, siste- . . o encarregado-chefede tomar decisões corre o risco de perder o cargo. Foi
mas escolares, pa tidos•polfticos, Corpos legislativos e grupos de pies- muito engenhoso o desenvolvimento dessas fórmulas que proporcionam
sirnulaç50 é bztante complexa, donde.a necessidadede 'os participantes 1 um meio de dar aos participantes um feedback claro e realista, ceda vet
conhecimento do sistema e algum treino da maneira que tomam um conjunto de decisões.
como funcionar nele.
Sprague (1$6) descreve uma simulação de relações internacionais, que foi Fazem-se modelos de outros aspectos do sistema internacional, espe-
usada intensamente Com estudantes do curso secundário: cialmente os que se referem às comunicações. Barreiras nas comunicações
intermações, indiscrição do serviço secreto e de falsa informa-
A simulação entre Inter-Nation$ Simulation).modela um cão, dificuldades de comunicação explfcita sob tensão, efeitos de impreci-
140
141
diplomática, uso e abuso da imprensa internacional, problemas de co- litada, o aluno, üent ente deparacom lacunas no conhecimehto,instru
municação frente a frente, entre lideres nacionais ou numa organização mentos que lhe faltam, informações que precisa para enfrentar problema
mundial — tudo isso deve ser coberto numa simulação. da in meda. O alu-
Que tipos de aprendizagem decorrem do uso da experiência de simulação? no que precisa ãEiToño usar um ode encontrar um a
Ela proporciona ao estudante experiência, de primeira mão, dos vários nge conhecimento. O que I três meses na utili-
processos
que ocorrem na vida real: do ato de tomar decisão com base em informação zar-se uma programada de conve o em francês. Outro
incom
plefa e muúvel, o qual se toma urgente por implemento de prazo;
das dificuldades te e álgebra, seJa ara reso er problemasdo seu interesseou si
de comunicação, dos resultadosàs vezes desastrososdos mal-entendidos
e das men- para Ingr ar na nivers a e, trabalharánum programade instrução em ál
sagens cruzadas, ou da discrepância entre a comunicação verbal e o
comportamento
real; do manejo de relações interpessoais numa negociaçãor barganha
e em "transa- Usado em tais circunstâncias, não há dúvida de que um prWama ha il•
Ç6es". Através da experiência, na qual se envolve a fundo, o estudantenão apenas mente desenvolvido proporciona ao aluno experiências imediatas capazes de O
age, mas assume a responsabilidade pessoal pelo que decide fazer
e faz. Af se desen- satisfazer tia ta•oa a qu r r um con unto de con mentosde que necesste pa
volve um disciplinado compromisso quanto à coleta de informações,à decisão sua própria atividade, dá-lhe o sentimento de que o a ma r a tfvel de
e à
ação. Tal experiência tende a estimular um tipo construtivo e positivo de rendizageme a verific o de que o proceso de educa
aprendiza-
gem em vez das características pessoais negativas e Criticáveis tantas vezes
incremen- —asf el. Pode trabalhar no ritmo ue e convenha e concluir que um programacui-
tadas na educação usual. dadosamente projetado lhe oferece estágios coerentes e Inter-re utro fa-
Embora a pesquisa sobre os resultados da simu lação se encontre nos seus tor avor ve a maior importância que ta nstrução empresta ao reforçamento e à
prim6di0$, não há dúvidi que os estudantes se envolvem entusiasticamente e —nu- recompensa imediata o que a medidas uni e ava o orm a instru-
ma simulação como a INS sentem que estão aprendendo muita coisa sobre.relas 9ão programada for usada de maneira flex pode constituir-se em um qrandp
Góes internacionais, Sobre o comportamento humano, sobre as dificuldades de co, passo à frente para o atendimento das necessidades mac as de a rendiz
cional da mat na, ten o em vista que o n mero de alunos cresce exolosivamente.
(Sprague, 1966.) Por outro lado, preferemnitidamenteeste, ao sistema
de aula e*positiva. (Alger, 1963;) Outro valor, do meu ponto de vista, reside.em
que, apesar de ser o professor quem introduz a simulação no grupo, é a classe e sãó A aprendizagemprograma vem se esten&ndo a novas e. iinprevistas
os estudantes, individualmente, que assumem a responsabilidade de pô'la em execu- áreas. Berlin yc o 3 desenvolveram m rfei óamen das
çb, donde o grande proveito no tocante à aoreñdizagem dê auto-iniciativa. relações interpesso peggps pesspa$-trabalham, jung% enLPrefu de mútuo
interesse,constantes o texto pr só a!Ens dos-conceitosl
Programada como Aprendizagem Experiencial cognit vos sobre relacionamentos interpessoais mas também experimentando gra-
áfñiênte comunicação profundade uma para com a outra.
Como bem sabem os educadores, há um desenvolvimento enorme e em exe éões tanto industriais quanto a utilizar-se destas séries de
pansão nese campo. (Skinner, 1961; Fry, 1963; Gage, 1963; Pressey,1963 ) NSOé programaspara o .desênvolvimento,impressionadoscom o fato de que os
esta a ocasião para uma revisão de tais desenvolvimentos ou da teoria do mentos envolvem, a um tempo, a sensibilidade e a inteligênci»de que tais programas
namento operante-sobrea qual se funda estetra>alho. Cabe, entretanto,acentuar têm importante significado pessoal para o aprendiz.
que a programada pode ser usada numa variedade de meios. Pode ser con-
siderada como su rimento otencial a toda a aprendizagemou Como novo e utilís-
simo instrumentode faci Não é preciso dizer que a instrução ramada temjrandes riscos, em
ão rendtzagem. omo salientouSkinner ara
adqu rir o hábito da ação, o aluno deve empenhar-sena açWf. (1961, p. 3 tericial, se usada sem a devida prudência. Pode realmente se at se rna
um substitutivo do ato de pensar, em padrões e "gestalts" mais amplos, se se trans-
É cularmente interessante notar qup, no desenvolvimento da instrução forma num meio de pressionar conheci od
programada, há certa tendência para programas mais conc sos, em vez de cursos glo- considerada como instrumento de que se pode servir o educador
IS, a nFndo uma área total de conhecimento. ara mm, o desenvolvfrnento para o m lor exi Ilidade na instru o acl men se e I um
desses p mas mais curtos sugere a mais frutffera maneira de o estudante se en- os mais po erosos e ementos trabalho de que, até hoje, já nos dotou a P
V no uso das c amadas "máquinas e ens nar . Quando a aprendizagem act-

142 143
Os Grupos Básicos de Encontro sobre a experiência intensiva de grupo, em todas as suas formas, já se tem como cer-
Exemplo muito importante de nova expansão e fomentodo to que ela ajuda a criar na maior parte dos membros do grupo, atitudes que, entre
clima em que outras coisas, são eminentemente capazes de conduzir à ap e diza • exierierEiaI.
desenvolvea aprendizagem significativa é o grupe básido de
' encontro ou o ha•
mado 'treinamento de sensibilidade". Já vimos sua utilização, no
capftulo III, du•
rante o curso pór mim orientado. É uma via de acesso útil não
apenasà educação de ÂutAvaIiaçb
estudantes como também de professores e administradores, tendo
em vista os mais
novos objetivos do ensino. Tem especial releyo unto para esses A avaliaçãode cada um da sua ró ria aprendiza m é um dos mel
objetivos quanto pa-
ra a situação na sala de aula, meiospelo qual a aprendizagemauto-iniciadase toma a rendiz m I
Como já observamos um exemplo desse método em quando a pessoa tem de assumir a responsabilidade de decidir quais 0$ critérios i
ação e o discutiremos
com maior profundidade, num dos capftulos posteriores, aqui portantes para si, que os objetivos que tenta atingir e a extensão até onde os atin u
nos ateremos, apenas,
a uma descrição mais resumida. que realmente aprende a ser respon e por si ró rio, e r ir
que parece 1 ante instaurar certo rau de auto-avaliação em ual uer tentativa
O grupo de encontro ainda não é amplamenteusadoeminstituições
edu- de promover um 'PQ e apren zagem experiencial.
cacionais e relativamente poucos professores ou administradores o têm
experimen-
tado. Tem havido, entretanto, um borbulhante uso de intensiva
experiência de grã' Nos três primeiros capftulos deste livro, deparamos com alguns modos de
po para desenvolvimento de funções executivas no canipo dos negóciose
da admi- ensejar a auto-avaliação, A senhorita Shiel resolveu o problema das notas pela.rnú-
nistração pública, Sob várias etiquetas — Grupo de Treinamento, Grupo de
Laborá- tua discussão com seus a!unos. Faw deu muito que pensar aos alqnos, em termos do
tório, Curso de Treinamdôto de Sensibilidade, Curso Intensivo de Relações
Huma- que significa a avaliação e estimulou-os a avaliar sub-seç3esdo trabalho de cada um,
nas, Grupo Básico de Encontro — o método vem-setornando parteessencial do de-
mas reservou para si a responsabilidade da nota final. No meu curso, os estudantes
senvolvimento de I (deres tanto em atividades particulares quanto profissionais. (Ve-
eram os primeiros responsáveistanto' pelos i€ ios quanto pelas notas a se atribuf-
ja-se Bradford,Gibb & Lippitt, 1956.) rem. Em classes como a do Professor Comb$, o cumprimento das obrigÇ5es opt a•
É diffcil expor, em resumo, a natureza dessa experiênciade grupo, espe- tuais é, por si mesmo, o complemento da auto-avaliaçb que inicia com o ohtta•
Cialmente20rque ela varia de grupo para grupo, de Ifder para Ifder. (Veja-se a to. O professor Sbofstall fornece a seus alunos sumários de aprendizagens e,auto-
sição.feitapor Wechslere Reisel, 1959.) Essencialmente,o grupocomeçacom escas- avaliações feitas por antigos alunos, o que lhes dá uma noção da tarefa.
-sa eStrutúra imposta, de modo que a situação e os propósitos são ambíguos e a deci- do o curso, o aluno faz uma análise de suas forças e de suas fraquezas. Confere-a
'são compete aos membros do grupo. A função do Ifder é facilitar a expressãoe es-. com os outros membros do seu pequeno:grupo, a fim de obter u •feed a kdos
clarecer ou salientar o padrão dinâmico do esforço do grupo no sentido de uma ex- seus colegas, assim como sua própria avaliação pessoal. As notas finais 3500"eto de
periência significativa. Em tal grupo, depois de umatroca inicial decortesias,as ex. decisão dos representantesescolhidos em cada grupo, os quais entram em cpntato
pressões de cariter pessoal tendem a acentuar-se. Isso envolve, também,progressiva com o instrutor para fazer suas recomendações,
liberdade, comunicação direta e espontânea entre os membros do grupo. Os disfar-
ces tornam menos necesérios, as defesas se atenuam, encontros básicos •o o e É óWio que há muitos modelos a seBJir, por parte do estudante, para a
na medida em que as pessoas revelam sentimentos até então ocultos e aspectos do timativa dos esforços que fez e da própria aprendizagem. Contar com um mo&lo
que cada um é, assim como recebem feedback espontâneos— tanto particular é muito menos importante do que se sentir responsávelpelos obJdtivosa
gativos quanto positivos — dos e os•do grupo. Alguns ou vários dentre estes se atingir, inteligentemente, e seg.• doa própria vonta&. Um em.ldante pode escolher
mostram muito mais abertos às relações com os outros, tornando possÑel maior li- um objetivo muito rfgido como simplesmente o acúmulo de certa quantidadede i •
berdade de expressão. formação verificável, no campo de estudo. Outro pode utilizar-se de um curso pa•
ra se tornar mais espontâneo na $ua aprendizagem, mais aberto a uma ampla a ie•
Em geral, quando é frutffera a experiência, ela toma caráterprofundamen- dade de estímulos, ou livre para se mostrar tal como é, em resposta aos recursos
te individual, do que xeAJltamcomunicaçãomais direta péssóa-a-pessoa,
utocom- postos à sua disposição. Obviamente, os critérios serão muito essas
preens50 extremamenteacentuada, maiôr autenticidade e independênciade cada duas pessoas. Entetanto, cada uma delas agiu como aprendiz responsável e quase da
um, Crescentecompreensãoe aceitação dos outros. Embora restemuitOa aprender mesma maneira como um profissional responsável age na sociedade.

144 144.
Måtodos que näo se
CAGE, N. L, ed. Handbook Chicago, %Nally,
Glando o ltder concentra sua atencäo no ato de crier um clima de facilita- 1963.
hå certo nåmero de métodos tradicionais de que näo se utiliza, e talvez conve-
h• e io å•los muito resumidamente. N50 estabeleæ devems de cu. N50 deter- GUETZKOW, H., ed. Simulation in inter-nation relations. Englewood Cliffs,
leitunc NCOd' aulas expositivas (a menosque solicitado). NE faz avaliapöes New Jersey, Prentice-Hall, 1963,
ou crtticas. a menosque o aluno deseieo seu iulgamentosobre algum trabalho. Nt
provos obrigatörias. repongbiliza, sozinho, petas notas. PRESSEY, S. Teaching machine (and learning theory) crisis. JoumalofApAIM
Psychology, 47:1-6, 1963.
A breve acima, talvez chixe Claro que um facilitador näo é um
fessor nem enå simplesmenteaderindo, "da boca pra fora", a um métododiferente ROGERS,.C. R. To f#ilitate learning. In: PROVUS, M., ed. Innovadons for
de Då, real e operacionalmente,
a seus alunos, oportunidadede time to teach. Washington,D. C., National Education Association, 1966. p.
oren&rem a ser livres,com reoonsabiiidade. 4-19.

Observecöes Finais The facilitation of significant leaming. In: SIEGEL, L, ed.


Contemporary theoHesof inst-uction. Chandler Publishing Co., 1967.
Quem deeja criar condiG6espara a aprendizagemauto-iniciadae autodi i•
verifica jå ter em mäos certo nümero de métodos,compatfveiscom o novo SCHWAB, J. J. Inquiry, the scienceteacher and the educator. Review,
rnocb de encarar o assunto. Foi nosso prop6sito, neste capftulo, apresentaralguns 1960.
métodos e os meios podem ser usados. se acha, aqui, de ma-
mira alguma, uma relagäo completa e exausti a.•A intenqäo foi, antes,a de oferecer SHOFSTALL, W. P. • Training high school facilittors •of leaming. Manuscrito
um enfrnuJo ao facilitador, sugestöesüteis a vias de acesso que ele pode experimen- näo-publicado. Tempe, Arizona, Arizona State University, 1966.
tr adQtar, zwndo a sua pr6pria personalidadee o seu estilo pr6prio. Quanto
SKINNER, B. F. Why We needteaching machines. Harvard Educational Review,
for o nåmero de professores empenhados em criar um clima de liberdade nas
31±77-398, 1961.
Olas. tanto meis processos existiräo. utilizåveis na obtencäodesseobjetivo.Os que
mencionararn, neste såo um Simples esbogo inicial. SOLOMON, L. Reducing tensions in a test-tubeworld. War,PæceReport,
3 (7): 10-ä2, 1963.

SPRAGUE, H. T. Using simulations to teach intemational relations. Manuscrito


REFERENCIAS näo-publicado. La Jolla, California bWesternBehavioral Sciences Institute Re-
port, 1966.
ALGEP, C. U" of the inter-nation•si ulatio in undergraduateteaching. In: SUCHMAN,.J. R. Inquiry training: Building skills for autonomous ditcovery.
GUETZKOW, H.. ed. Simulationin inter-nationrelations. Englewood Merril-PalmerQuartedy of Behaviorand Development, 7:147-169,196}
Qiffs, Prentice-Hali, 1963.
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BERLIN, J. L & WYCKOFF, L. B. Re/adorW1ip
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WECHSLER, l. R. & REISEL, J. Inside a sensitivity training group. Los.Ange-
BRADFORD, L; GIBB, J.; LIPPITT, R. Explorationsin hurrwnrelationstraining. les, Instituteof Industrial Relations, UCLA, 1959.
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tionl EducationAss#iation, 1956.
FRY, E. Teching machines and programmed instruction. Nova lorque, McGraw-
Hi", 1963,

146 147
Terceira Pàrte

ALGUNS PRESSUPOSTOS
INTRODUÇÃOA TERCEIRA PARTE

A presente seção dará •ao leitor várias oportunidades de ver se concorda


com os princip:os e pressupostos que fundamentam nosso modo de encarar o te
ma deste livro. Alguns leitores os acharão chocantes e discordarb violentamente.
Outros, verificarão que sua própria experiência os confirma. Tentei, pelo menos,
áfirmá-los com toda a franqueza, de modo que cada-um possa tirar suas próprias
conclusões.

Dois dos capftulos tratam ostensivamentedo ensino de pós-graduação;as-


seguro, porém, que ul relação só existe na aparência. Na verdade, tudo, menos
umas tantas proposições,aplica-se a tQdos os nfveis de ensino, e o professordo se-
gundo grau pode, por exemplo, ver-sea si próprio, commais exatidão, quando pen-
sa que está a considerar um professor de pós-graduÇão e descobre que enxerga, de
um modo obl (quo, num espelho, a própria imagem. É essa a minha esperança.

Assim, eis as minhas concepções sobre O modó como os estudantesapmn-


dem, sobre o que é, na realidade, a educaçãoatuai, sobreo que elapode vlra Ere,
ainda, como a administraçãd educacional poderia ser.
CapítuloVI

IDEIAS -PESSOAIS SOBRE


ENSINO E APRENDIZAGEM

Este breve capítulo contém um resumo das convicções que


tirei da minha experiênciacomo profesor e serviu, com êxito,
no pasado, para suscitar reflexão. Assim, embora tenha sido es-
crito há mais de quinze anos, apresento-o neste livro, destinado
aos dias de hoje.
Escrevi o texto como exposição conci" dos meus pontos
de vista, a fim de estimular discussão. Fi-lo.no México, bem lon-,
ge do mundo acadêmico. Se o estilo e a intenç% de ser Mo ho-
nesto quanto possfve/lhe dão o sabor de não se
trau de mera coincidência.Passeigrande parte do meu tempo,
naquela excursão, a ler, a digerir e a sua obra.
A exposição capa muito bem a que tive ao d
brir as direções em que o meu pensamento me ia levando. 50
me sobressalteicom o fato de ser um herético em matéria de
educação e me admirei, intimamente, de que, ao tentar rever,
com honestidade, a minha experiência, ENSINAR se me afigu-
rou de tão pouca importância e APRENDER pasou a ser enor-
memente importante para mim. Como continuei a viversob esta
mesma ênfase, isto já não me parece tão surpreendentecomo
foi, àquela época.
O texto foi aprew7tado em um seminário de Harvardsobre
"métodos de influenciar o comportamento em aula", em que se

153
reuniam professores universitáriosvoltddospara o futuro, mui-
tos dos quais estavam usando técnicas de discussãonas suas au- rapia individual e_de grupe. Não pretendo, de forma alguma, apresentá-loscomo
Ias. Por conseguinte, fui ingênuo demais ao esperar um auditório conclusões para outros que não eu, ou como um modelo do que os outros po&rlem
compreensivoe receptivo. A resposta,ao contrário, foi furiosa- fazer ou ser. São apenas ensaiosda significação que, a partir de abril de 1952, timi
da minha experiência e algumas das embaraçosasquestõesque o seu despropósito
mente crítica,' em sua maior parte, com apenasalgunspartici- suscitou. Colocarei cada idéia ou significado num parágrafo separado por letras, não
pantes amáveis,a falarem, com força crescente,para indicarem porque se achem numa ordem lógica particular, mas porque, para mim, cada signifi-
que sua experiência os levava a conclusões um tanto ou quanto tem sua peculiar importância.
idênticas, sem que nunca houvessem ousado formulá-las.
a) Dados os objetivos deste seminário, devo começar pela afirmação: Mi,
O presente material, já foi publicado antes( 1 Na verdade, nha experiência tem sido a de que pão_poso ensiryr_a_outra como enSing.
as idéias nele contidas apresentaram-se de modo muito mais am- Para mim, trata-se afinal de uma fútil tentativa.
plo e muito mais adequado (espero) nos capítulos que o prece- b) Parece-meque co,u que eu po• ensinar a outro é mlativp
dem e que se seguem a ele, neste livro. Por que, entãQ, o incluo irrelevante e tem pouõa bu in'iihhEànte ihfluência sobm o seu _mmporpvt
aqui? Porque se trata do primeiro credo germinal de meu pensa- mento. Isto soa tão ridículo que só posso pô-lo em dúvida, ao mesmo tempo em
mento sobre a diferença entre ENSINO e APRENDIZAGEMe, que o exprimo.
por riais tosco e resumido que seja, pode encorajar algum leitor c) Compreendo, cada vez mais, que só me interesso
pelasaprendizacns

a formular certas convicções suas, profundas, mas ainda impreci- que influam significativamentesobre o corpaog-tarnento.Possivelmente,trata-se de
sas, sobre os progressos educacionais. São estas formulações pro- mera idiossincrasia que me é peculiar.
hesitantes, imprecisas, tfrnidas,que constituem o funda- d) Acabei por W7tir que a única aprendizaFtn qggipflgi siggif!cpgvamen-
nwnto da criatividade, e, se ao menos um leitor se arriscar por te sobre o é a que for_autodescoberE e auto-apmpriada.
via, a inclugo deste capítulo terá correspondidoa meus e) Tal aprendizagem a verdadepesoalmente apropriadae
propósitos. asimilada nÕEüñõÜõúma _experiência,não podem ser diretanwnte comügicadas
ao outro. Tão lógo alguém tenta comunicar essaexperiência, dir.etamente,não raro
aprewntar-lhes obwrvações muito breves, na esperança de
com natural entusiasmo, ela se transforma em ensino, e os seus reSultados são i o •
w vierern a ancitar reaç3esda sua parte, possaes la e e melhor
• certas
seqüentes.Senti certo alfvio ao descobrir, recentemente,que Sorén Kierkegaard, o
filósofo dinamarquês, achava a mesma coisa, devido à sua própria experiência e, há
que é algo rrwito embaraçoso, sobretudo quando reflito sobre um século, o exprimiu com toda a clareza. Isto torna muito absurdo o que eu disse.
experiências pessoais e delas procuro tirar a significação que parecelhes es- f) Como conseqüênciado que ficou expresso, dou-me conta d? qgepg@i
satisfatória, porque pare-
tr genuinnenu inerenu. A princfpio, tal reflex50 é bem o em xrprefeSsor.
derobrir urn sentido e um certo fio &ntro de uma multidãode fatos
a seg.Jir, desanimado, ao perceber g) Quando tento ensinar, o Bue faço algumas vezes, fico estarrecidocorr
Entretanto, rnuitas vezes, sinto-me,
para mim, se afiguram ridfculas à os resultados,que se me afiguram um pouco mais do que inconseqüentes,porque
tais reflexões, que t50 vande valor
tento encontrar o não raro, ocorre que o ensino tem êxito. Quando isto ocorre, acho que os resulta
maior pgu us pesou. Tenho a impressão d' que, se dos são prejudiciais. Parecem fazer com cue a pessoa desconfie da sua própria expe
mintu isso me leva, quase sernpre, a direç3es consideradas absurdas.
riênêia, o que sufoca a aprendizagemsignificativa. Daf, chego a
sintetwar_pg!ig-
dentro dos po'Eos minutos que se se •e ,tentarei do ensino ou não Em importância ou são nocivas..
experiência em aula, e da que me veio da prática de te-
tirei da minha h) Quando revejo os resultados da minha atividadedocenteno passado,a
conseqüências reais são as mesmas — ou produziram dano ou nada de significativt
ocorreu. francamenteaflitivo.
Mem, Palmer Otnrterty, Vergo
tt)• i) A concluúo é que me capacito de que em apren-
241•NX com
der, de pmferência, coiw que importàm, que têm alguma influência significativa

154 15E
o própriocompotanwnp. mais. O que eu gostaria de saber, fundamentalmente, é se algo do meu pensamento
j) rwlto o apmndizüo; em grupos,em relacionamen- Íntimo, tal como tentei expô-lo, correspon&, de algum modo, i experi'ncla que
individual, como na terapia, ou por conta própria.
vocês têm vivido, nas suas aulas, e caso seja assim, quais os significados reais, pam
k) que uma aas nwlhoms expe iê ia.•
vocês, da
pua mim, a de óudonar minhá defenúx, pelo
e unur como outm mncebe e xnte a sua expe

l) mamim Vmn&r, pra mim, consisteem afirmaras minhas


eluci&r_ minha e, asim, chegar a apros
do que a minha expedOocla pame malmente ter.
m) Todo ene cortejo de experiências e as significações que nelas descobri,
até • a, lançvarryme como que num processo,a um tempo, fascinantee,
não ra-
rot um unto aurnorizad«. Isto qwr dizer, pame, que deixei minha
nunw qw E me afiguÊapmgresiva, na busca de objetivos que
*flnir, quvMo o significadode tal experiência.A
6 flutuar nurna complexa corrente de experiências com a fascinante
de tenur compreender complexidade sempre em mudança,
ur dado quase r impresso de hwer fugido de qualquerdiscussb
quinto de ergino, Deixe-me voltar a uma observação de or-
e em SI manas, essas interpreuç5es sobre a minha experiên-
EfranMWis e EiOrnalasj nb, porém, particularmentechocantes. E
verifico 6 We me sobres"lto, um pouco,por.me haver
de — so comum que toda Fnte aceita como ottet".• Pos•
o dizendo que, se as experiências dos outros foram
i minha,e &E0brirem sVficados idênticos,daf decorreriam

a) Tal experiência implica que se &wria bolir o ensino. As pessoas que


umas as q:tras.
b) Abolira-iam os exunes, Estes dar a medidade um tipo de
I ot• e te.
e} P" a oli -se•ia nous e créditos.
dl Em pú menu razb, osdiplomas,dadoscomotf•
Ouüa es€ em o diploma assinala o fim ou a core
o se inureza por um processocontinuado de

o CO'Elus&S, pois verificaria que nin-


siFificativos, através corElus6es.

o p« Ñ50 quero rne tornar fantástico de-

166 157
CapítuloVII

SOBRE A' APRENDIZAGEM


E SUA FACILITAÇÃO

De que modo uma pessoa aprendê7Cômo facilitar aprendi-


zagens de importância? Quais os pressupostos teóricos,básicos,
envolvidos?Neste capítulo, tento responder a perguntas
sob uma forma expondo, simplesmente, o esencial
dos meuspontos de visa sobre tais questões.
Costuma-seiniciar uma expoiiç50 mencionando os prinerpios teóricos e ge•
rais para indicar, depois, a maneira como poderão ser postos em brática. Neste livro,
tenho seguido o curso oposto. Empenhei-me em apresentar uma
?neias prá!icas de métodos todos com o fim de tornadiv_tetm-
alunos para a aprendiza*rn auto-iniciadae gostaria de fazer
uma exposiçb sucinu e geral de dos princfpios (ou hipóteses)que podem
ser razoavelmenteabstraídos, a meu ver, dessas e de outras experiências semeihary
tes. Induzi-os da minha próprio pxperiência, do trabalho de muitos outros fa ilita•
dores de aprendizagem,que me davam conu do que fizeram e do que obtiveram,
além de pesquisas relevantes, muitas das quais relatadas nos capftulos anteriores.

Aprendizagem
Eis Certo número da princfpiovque podem, creio, ser abstraídos da experi-
ência usual e de pesquisas relacionadas com a mais recente maneira de arcarar o ass
su to€
1) OS humanos natumlpoE ialid•de de apmn&r. Sh
a re eito do em que v vem,a que, e a menosque,-ul seja arp
torpec!da por nosso sistema educacional. São ambiva entemente

159
volver-se e de aprender. A razão da ambivalência está em que toda aprendizagem sig•
10sfaz pouca diferença objetiva. A razão parece estar em que, se eu, como profes-
niflcativa envolve certa quantidade de dor — sofrimento ligado à própria aprendiza-
Frn ou associada a certas aprendizagens preliminares por que se passou. O sor ou administrador, aceito o valor com que o conforma, então,
há ameaça contra o valor com que eu me conformo, em relação às exigênciasso-
primeiro tipo de ambivalência pode ser exemplificado pela situação da criançaque
ciais. Se eu permito que essa contradição exista, poderei também uda ,•po uese-
aprendea andar. Tropeça, cai, machuca-se. E um processo penoso. No entanto, as
rei forçadp a reapreciaralguns dos meus valores, O mesmo se aplica ao antigo inte-
elewias de estar dennvolvendo o seu potencial compensam, de muito, as pancadas e
resse pelos "beatniks" e ao atual interessepelos "hippies". Se lhes é permitido man-
conus6es. O segundo tipo de ambivalência evidencia-se quandoum estudante,que
tinha sido absolutamenu ó melhor, sob todos os aspectos, no segundo grau, na sua ter a çjeição de quase todos os valores da classe média, então, a aceitação de tais va-
cida&zinha, verifica, depoisde se matricularem estabelecimentô lores por uma pessoa que os tem como parte de si mesma é profundamente ameaça-
de ensino da, uma vez que à maioria das pessoas afigura-se que, na medida em que os outros
rior ou numa Universida&, que não passa de um, entre vários alunos brilhantes. Ha-
estão certos, elas estão erradas.
verá, para ele, penosa aprendizagema assimilar, ainda que, na maioria dos casos,o
consiga e siga adiante. Não raro, essaspenosase ameaçadorasaprendizagenstêm algo a ver com
certas contradições no interior de cada um. Veja-se o exemplo de alguém que.acre-
Esta potencialidade e desejo de aprender, descobrir, ampliar o he i e -• dita "terem os cidadãos,.nestepafs, igual direito, a toda. espécie de oportunidade,
-to e expriêncla, podem gr libertados sob as condições apropriadas. Trata-se de ten- seja qual for". Masdescobre também ter a convicção de que "não quero que um ne-
d&ncia em que se pode confiar, e todas as vias de acesso à educação que temos des- gro more nas minhas vizinhanças". Toda aprendizagem que se origine desse dilema é
sobre e em torno do natUral desejo de aprender do alúno. penosa e ameaçadora, pois as duas crenças não podem abertamente coexistir, e qual-
quer aprendizagemque emerja da contradição envolve mudança nftida na estrutura
2) A significativa verifica-x quando o estudante perube que do ser.
maurie a mleciona c@mos xuspróprios obietivos. De maneira um tan-
to mali fórmal, que uma pessoa só aprende significativamente aquelas coisas 4) As queameaçamo próprio Mo mais
percebe implicarern na manuunção ou na elevação de si• es a.Pense-se,por bidG e assimi7adasquañdÕaS ameaça' êxErnas reduzetp zurp m(nimo. O jovem
um morrwnto, em dois estudantes que fazem um curso de Estatfstica. Um trabalha atrasado em leitura já se sente-ameaçado e desajustado por causa dessa deficiência.
rum projeto de pesqUisa,para o qual necessita,claramente,do material consunte Quando é forçado a tentar ler em voz alta na frente do grupo, quando é
ridiculariza-
do atrso, a fim de comleur suas investigações e progredir na sua carreira profissio- do pelo esforço que faz, quando as notas obtidas refletem, nitidamente,
o seu malo-
ml. O outro faz o • soporque é obrigatório. A úhica relaçãocom os seus objetivos gro, não é surpreendente que possa passar muitos anos na
escola, sem qualquer pro-
—u indivJúJal é, simplegnente,a de que lhe é preciso completá'loa gresso perceptfvelna sua aptidão para a leitura. Pelo contrário, um
ambiente de
fim continuv Universidade.Não há pôr em dúvidaas diferençasde apoio e compreensão,a falta de notas, ou um estímulo à
auto-avaliação,removem
que decorrem. O prlrneiro aluno adquire uma aprendizagem fu • ai ameaças externas e lhe permitem fazer progressos,
porque já não se acha paraliza-
cional da a€ ia; o sewndo, aprende como há de ''consewir passar". do pelo temor. É essatambém uma das grandes vantagens
da "máquina de ensinar",
quando usada convenientemente.Aqui, o mau leitor começa
elemento relacionado com princfpio refere-sei rapidez da no seu próprio nfVel
de realização e cada passo que dá, praticammte de
QJando uma pesoa tem objetivo a alcançare vê que dispõe minuto a minuto, é marcado por
alguma recompensa e por um sentimento detriunfo.
um rrwurial relevanu i obtençio do quo quer, a aprendizagem faz com grande
r.i&z. apenas,0 breveespaçode tempo necessárioa um Espanta-me a circunstância de tendermos a desconsiderar, por córhpleto,
a
cento aprender a dirigir um carro. É evidente que o tempo de aprendizagem de evidência que nitidamentecorrobora esse princfpio. Aproximadamente há uns
ua•
• tos reúziria a uma f •ç5 que ordinariamenteé empregado,se o renta anos, HerbertWilliams(l à época uni professor, recebeu o encargode
uma
percebe • nutéria se relaciona os nus o*tivos pessoais.Prova- classe, na qual todos os mais sérioes "delinqüentes" dentro de
dm amplo sistema es-
um ou um mainto tempo atualmente dispendido. colar foram reunidos.Eram os "piores elementos" de uma
comunida& de 300.000.
Não lhe seria possível levar refeito instrução muito
3) A qtn na de cada um —ne individualizada, e os jovens se
aAnr Por que tem ha-
fur«, n'O raro, Judiciais, causa de um jovem ado-
(1) H. D. Williarm,Experimentin Self•di e tedEdu atIo •,
vai i acola cabelos De certo, o comprimento dos cabe- 'School and Soclety", 93 —3 ,

160
161
encontravam em todos os nfveis de escolaridade. Como seria fácil imaginar,tratava-
de reurdados intelectualmente (Q. l. médio, 82), mesmo quanto ao desempenho se, uma vez mais, livre para perceber os sfmbolos, na página, diferenciando
gscolar. Era muito e»çíguo o equipamento especial. Além das carteiras e quadros- outros, reconhecendo os diversos elementos de palavras
negros usuais, havia, na sala, uma grande mesa, na qual ele colocou livros ilustrados, significados parciais e untando reuni-los em suma, progride no processo de .rery
de leituras, de histórias, e manuais sobre várias matérias, apropriadas a todos os f• diza*rn. Toda sorte de aprendizaFrn envolve creEente dife et i•ç5 do carnpo de
veis de alfabetização. Dispunha, também, de material de arte. Só havia duas regras: experiência e a assimilação dos significados Tais
-o aluno tinha de estar ocupado a fazer alguma coisa e a nenhum se permitia a o e— ções, a meu ver, são mais eficazmente efetuadas sob duas espécies de condiçõe id•
cer ou perturbar o outro. A cada um se dava notfcia, sem qualquer crftica, dosFe- damenu diversas. Podem ocorrer quando a ameaçaao omaniüno é Intens. mg
sultados obtidos em seu trabalho. Só se ofereciam estímulos e sugestõesà atividade ameaças dessa espécie diferem muito das que ati • o próprio ser, quando per.
desenvolvida por iniciativa própria. Assim, se o aluno se ocupasse num ramo de atV cebidas como tais. O solúdo em luta, por exemplo, aprende muito rapidünente a
Vidade artfstica, 'receberia assistência para ingressar numa classe especial de Arte. Se silvo da granadaque passa acima sua do rufdo da We esu
o seu interesse fosse por Matemática ou Mecânica, tomar-se-ia providência para que vindo em direção. Aprende logo a dixriminar uma trilha normal daquela cuja
pudesse seguir cursos dessas matérias. O grupo permaneceureunido durantequatro superffcie está revolvida, pois esta pode ser um campo minado. Reage, em tais
meses. Nesse perfodo, a avaliação do desempenhoescolar (pelo Teste de Realização sos, a ameaçasde natureza muito grave, mas que atinFm 0 seu organismo, Mo o
de Sunford) dos que haviam ficado a maior parte do tempo no grupo, registrou um seu próprio ser intimamenie considerado. De fato, quanto mais rapidamente
acréscimo, em média, de quinze meses,e o progressoera v!sfvel em Leitura, Aritmé- de a fazer tais discriminações, mais se engrandeceo seu eu. Na situação educacional
tica e •ouüas matérias. O•au e to foi qua.tra vezes super,iorao que normalmente se ordinária, ameaças reais de vida ou do morte SIO raras e, quando o o •
de um grupo em tal grau de retardamento, e isso a despeito do fato de serem rem, os alunos reagem bem. As crianças aprendem, por exemplo, as regras do tráfe-
abundantes as inaptidões quanto à leitura e outras matérias. O incrfvel progressode- go, rápida e satisfatoriamente. Mas humilhações, ridfculo, depreciações, menovre-
correu da atividade informal, autodirigida. Estou convencido de que nio se dá o de- zo e desrespeito — essas são ameaças à própria pessoa, à percepção que se tem de si
vido apreço a estudos desse tipo, fúnaamentalmente, porque eles constiuem certa mesmo e, como tal, interferem duramente na aprendizagem. Por outro lado, como
ameaça aos professores. Aqui se evidencia que a maior parte dos aluno' não-promis- ficou exposto antes, quando a ameaça ao eu é reduzida ao mfnimo, o indivtduo utv
sores aprendem rapidamente quando simplesmente se lhes dá onnrtunidadepara is- liza-se das oportunidades para aprendere a fim de $0
So e quando não se tenta ensinar-lhes. Da', parecer a muitos professoresque seriam
privados das suas funções, motivo
mudizapm
dos modos mais consiste em colocar o estu•
A razão do êxito dessa aventura eminentemente heterodoxa e pouco dis- dante em confronto experienéiil' direto com problemas práticos — de natg_cey.»
pendiosa estará na atitu& do próprio Prof; Williams do pressupostode que cial, ética e filos f ca ou pessoal — e com prob emas Os exemplos
o seu interesse elas cond o ar d biente da saúde, da situação dem variar, desde a situação,de grupos de alunos empenhados numa produçEo tea•
pessoal de "uno terá servido de estímulo aos ovens. Afirma ue r eu en- tral, escolhendo a peça e o elenco, desenhando e montando cenário e vestuário, trei-
trar em conuto com cada os atores, vendendo ingressos, até confrontações mais Altis. Sempre me im-
vidade dQ que na de lecionar, A prova de que demonstroUprofundd e simpático in- pre$ionou o fato de que cursos intensivos, breves, enfrentaLE2-
teresse além de confiança nos delinâüeñtes juvenis é que acabou por se tornar supe- b emas imediatos, na "linha ssorgxvm_ conse-
rintendente de uma instituiç50 alta •íe teprogressista. lñilõs — são eq)ecialmente -porquz tentam superar_problemas
a experiênciaSQh que experimentam diariamente.
5) Quando é fraca a amepcpao "eu" pode-se
"r levaó a efeito. Em certo sentido, esta é ape-
7) A apmndiza m ilhada uando o aluno participa m" onuvelmenm
nas uma extensão, ou uma elucidaç5ó, do princ(plo anterior. Um bom exemplo do A aprendizagem significativa aumenta ao m mo, quando o aluno
em aula,
que ele implica é o caso do fraco em leitura. Quando é chamado para ler escolhe suas próprias direç6es, ajuda a descobrir recursos de aprendizado próprio,
deixa-se tomar de um pânico interior e as palavras, na página aberta, tansformam,
formula problemas que lhe dizem respeito, decide quanto ao curso de acro a — ,
sua car-
se em sfmbolos mend$inteligíveis do que quando se encontra assentado,na Vive as conseqüências de cada uma dessas escolhas. É evi&nte, tanto no campo da
teira, antes de ouvir o seu nome. OÜando se acha num ambiente em que esté certo-
ao seu eu, vê- indústria quanto no da educação, que a aprendizañõiñIõFiãiTãÜfiÕñÑã-
de sua segurança pessopl e quando se convence de que não.há ameaça
—caz que a aprendizagem passiva.

162 163
8) Â auto-iniciada que envolve toda a do
apmndiz FACILITAÇÃO
—ndmen quanto inteli ncia —é a mais durável e impregnante.
br mos sso em onde a aprendizagemmais eficaz é a da pessoa
que de xa envo er, totalmente por si mesma, Expusemos, suficientemente, nos capftulos anteriores, vários métodos de
Nip de aprendizagem"só f±ilitar a aprendizageme várias qualidadesde que se deve revestiro facilitador,
do pescoço para c ma um t!po de aprendizagem "em nfvel visceral" donde não ser necessário apresentar aqui mais que um brevfssimo sumário do que se
uperimental de uma nova pode abstrair do tema em pauta.
ou ne d? uma habilidade diffcil ou no ato de Ériação 1) O facilitador tem muito a ver com o esubelecimento da divos" ini-
• tfsti a — um qya4rg,NQpoema, uma
cia/ ou o clima do grupo ou da experiência em aula. Se a sua filosofia básicaé a da
nhada Elemento importante em tais situações é que o confiança no grupo e nos indivfduos que o compõem, esse ponto de vista será co-
que está fazendo sua própria aprendizagem que a municado de muitas maneiras sutis.
pode manter ou
gundonar em face de aprendizaFrn mais profunda, sem
ter de apelar para alguma 2) O facilitador ajuda a tmzer à tona e a elucidar tanto os propósitos in.
Aatorld" qtn lhe corrobore o julgamento a
dividuais, na clase, quanto os mais Frais do grupo. Se não temeaceitar intenç6es
contraditóriase metas em conflito, se se capacitaa permitir que os indivfduos, com
do a autocr e a auto-a senso de liberdade, afirmem o que estariam dispostos a fazer, ajudará a criar. um cli-
s a vali 50 feita or outms tem
a Eunddria. As melhores ma para a aprendizagem. Não lhe é necessáriotentar a manufatura de um propósito
de pesquisa, tanto na indústria
unificado, no grupo, se neste não existe objetivo único. Poe•pet iti a existência
ge que a criatividade desabro-
cha numa atmosfera liberdade.A de diversidadede propósitos, contraditórios e complementares, no relacionamento
criação. Os pais sensgonprgnderam de uns com os outros.
uma criança deve crescer e tomar-se Indepenante e putoconfiante, é 3) Conu com b deEjo do aluno de realizar ospmpósitos que tem rntl-
és@me.iggs do, para cada um, como força de subjacente à aprendizaFrn significatlüa.
própriosenpnos quanto Mesmo se o aluno quer ser guiado e conduzido por outra pessoa, o facilitador pôde
aas de tais ju(Z0$ e escol_has.Os pais podem oferEer.informaç50 e modelosde com- aceitar tal necessidadee motivo e, ou serve ele próprio de guia, se o desejo for,esse,
p t• e to, mas é a criança em desenvolvimento ep qge_dgvemayaliar ou estabeleceuma linha de esüJdO, para o aluno cuja aspiraçüó maior seja a de per-
chegar ggangoaospa- manecer em situação de dependência. E, quanto à maioria dos alunos, 'podeajudá-
'bes que lhes sej• apropriados. criinça bu o 10sa utilizar-se dos seu$próprios impulsos e propósitos como força que os impele
no Tio à aprendizagem.
depen&ntes e imaturosgAJ se rebelarão 4) É@penha-" em organizare tomar dipéprveis pa-
e lutios extemos. ra a apmndizagem, da mais ampla ordem posfvtl.
10) apmndiz*tn mais útil no mundo moderno,é à do õõñFiñaõGktos, os
gens, téEQ!gasaudio-vjsuais —todo o remrso concebível de que possam querer utili-
próprio pro— ap z m uma contrnua aberturaô experi'nclae Ô
±ar-se para o seu progresso sãs üiptiY0%.
de mudança Acentuños, nosapftú)ei
«turiores, que uma eoécie de eprendizgwn estática,de foi 5) Considera-se a si megno como rXurso flexÍvel a ser utilizado pelo gru-
wada anteriores. Se a nossa cultura atua! sobrevive é porquefornos ca, po. Não se degrada por se fazer de recurso. Coloca-se à disposição dos alunos como
pau desenvolver pessoas para as quais a mudança é o fato centró da vide,AA' — o selhei o, lente, informante, como alguém que tem experiência no campo do es-
conviver,utisfatoriamente, corn esse fato central. duer dizer que tais tudo. Quer ser usado pelos alunos, individualmente, ou pelo grupo, do modo que
se preomJparõo,como tangg&pje lhe pareça mais significativo, ao mesmo tempo em que se lhe afigurará satisfatório
para
agir da maneiracomo eles queiram.
n' i a üilg•pe tati p dg serácontinuamen.
6) Corre"ondendo às expresões do grupo, na aula, aceita, aum tempo,
novas e desáfiadoras aprendizagens sobre situações em mu.
o conteúdo intelectual e as atiWdes emotivas, e esfoma por dar a cada avecto o
incesgnte.
grau de realce que lhe é empmstadopelo grupo ou pelo indivkduo, Na medida em
164
165
confianças, tais dúvidas sobre 0; outros e sobre si mesmo,como algo que lhe Vem
que for autêntico, procedendo dessa forma, aceita racionalizações e intelectualiza-
do Intimo, não comofatos objetivosde realidadeexterior, irá depararcom a at*.
tanto quanto Aimentos profundos e realmente pessoais.
mosfera purificada para um intercâmbio significativo entre si e seus alunos..Tal i •
7) Quando estabelece o clima de rece tividade em aula, o facilitador tercâmbio abrirá um longo caminho para a determinação das verda&iras atitudes
apto tornv, progres vamentetum do que tem assumidoe experimenüdo, possibilitando-lhevir a serum melhorfacilita-
gxedmindo opiniões como asge um entre outms dor de aprendizagem.
8) Toma a iniciadva de compartilhar com o grupo, unto xntimen-
was idias, de modo a não exigir nem impor, mas simplesmente a repre- CONCLUSÃO
— u uma que os alunos podem acolher ou recusar. Fica, as-
sim, livre para exprimir os próprios sentimentos, proporcionando feedback aos alu- Espero que o presente capítulo tenha proporcionado uma visão do esboço
nos, na sua reaç50 a eles como indivíduos, e partilhando suas próprias satisfações de hipóteses e princfpios subjacentes às práticas e aos métodos das pessoas e dos
dnapontamentos. Em tais expressões, são as Nas atitudes peculiares que entram grupos cuja e*periência foi exposta nos primeiros capftulos.
em co-participação, nio os juízos ou as apreciações de outrem.
9) Atravé da experiência, em aula, permanece aunto às expresões de
profundos ou forus; Podem ser sentimentos de conflito,
de dor e ou-
tros semelhantes, quê, fundamentalmente, se encontram no interior
dos indivfduos.
esforça por compreendê-los do ponto de vista da pêssoa e
por comunicar
receptividade empática. Por outro lado, podem ocorrer sentimentos
de raiva,
afeição, rivalidade e outros semelhantes —atitudes interpessoais
dos
m«nbros do grupo. Mais uma vez ele está tão alerta para essas
átitudes quanto para
Eéias que esüo wndo expressas e, através da sua receptividadea
tais tens3esou
timiuç&$, ele ajuda a explicitá-las, para que o grupo as compreendae utilize
de
aunara construtiva.
10) No exemfcio tu de fxilit"or de aprendizagem,o Ifder
tEonhxer e conta de que s_pode
a zus alunos na medida em que se sente confortável ao

em ingeripx_dé$seu"lunos. Pode "partilhar-se" apenasna


em que se sent relativamenu em condições de correr este risco. Só se intá-
Vi, no grupo, c«no membro, quando sente, de fato, que ele e seus alunos se acham
em de igualda&, como aprendizes. Manifestaconfiança no desejode
por pa•te do aluno, apenas quando sénu tal confiança. Ocorrerá, muitas
sua atitu&s nh serio mol& a fxil}tar a aprendizagem.Ele mesmo
a—u á sus alunos. Consi&rará imposfvel a a eit•ç de atitudesquedife•
rem inunsamenu dag próprias. Mosüa -se•áincapaz compreender alguns
dN únos nitidunenu diversos dos seus. Ficará irritado e ressenti-
com aluno para com ele e se zanprá diante de certos comportamen-
se senu duramenU crftico e avalia&r. Quando tiver a experiên-
lev«n facilitar. a aprendizagem, fará um esforço pata ap•
*In, para Erne i€da e u cônscio di que elas ocorrem e as exprimirá tais
ai • inurior. der expres<o i tais tais jufzos, taisdes-
167
166
Capítulo 'VIII

PRESSUPOSTOS CORRENTES SOBRE


EDUCAÇÃO UNIVERSITARIA: UMA
EXPOSIÇÃO APAIXONADA

No correr dos últimos dez anos, tenho-me preocupado cada


vez mais intensamente com o dano causado aos alunos na sua
preparação nos cursos de pós-graduação, nos diferentes setores
profissionais. Em 1963, tentei documentar minha preocupação
num artigo a que dei o título de "Curso de Pós-Gradução de Psi-
cologia: Uma Exposição Apaixonada". Submeti-o à de
uma revistaprofissionàl de Psicologia que, entretanto, o réjeitou
por considerá-lomuno polêmico e capaz de provocar divergên-
cia entre a ciência e à profissão de psicólogo. Dei conhecimento
da existência do documento e, desde então, milhares de cópias
se distribuíram, a pedido de váriaspessoas diver-
sos campos de estudo. Desconfio de que se transformou num
dos textos não publicados mais amplamente. lidos, no correr da
1ultima década. Ê esta a sua primeira apresentação em letra de
fôrma.

Cartas recebidas, em resposta, evidenciam que os falsos pres-


supostos que surpreendi no estudo de pós-graduaçãode Psicolo-
gia existem também em outros campos. E o que de modo espe-
cial se patenteia no artigo de Arrovwmith "A Lástima
das Escolas de Gradução", O seu vibrante protesto é contra o
ensino de "humanidades" e ele afirma; jubilosamente, que tudo
vai bem quanto ao ensino das "ciências".

169
Sário que, em nossos programas de pós-graduação,devamos,tão freqüentemente,
Dal, embora o conteúdo deste capítulo se refira à educação exibir padrões tímidos Ou reacionários que nos colocam antes no remanso estagna:
pós-universitária do psicólogo, uma vez que é o setor que conhe- do que à frente da sondas revoltas da história.
ço mais intimamente, estou plenamente convencido de que mi- Nos últimos anos, tenho tido a oportunidadede observarcerto númerode
nhas conclusões também se aplicam à maior parte das escolas se- Departamentos de Psicologia. Reuni material colhido entre estudantes dos cursos de
pós-graduaçãodos mais diversos lugares. Para mim, as e o material
cuhdárias, ao ensino de pós-gradução, em geral, e, na verdade, a
todas a} fases de nossos vastos empreendimentos educa- lhido suscitam questõesdiffceis e perturbadorassobre o padrãogeral de educação
cionai$. 9 cientffica e profissional, em nossa disciplina. Quando examinamos o que fazemos,
mais do que o que p fe• os, nessa área, o quadro que emerge é, na minha opi•
Sugiro, pois, simplesmente, que os educadores de todos 0$ nião, de entristecer.
niveis perguntem a si mesmos; "Os preSupostos aqui relaciona; Estou perfeitamente cônscio de que membros de outras ciênci" e profis-
dos aplicam-se, sob algum aspecto, ao programa educacional de s3es se colocam em atitude igualmente crftica à educação pós-universitária nas suas
que me ocupo?" Se a resposta for "Não" será muita sorte deles. respectivas áreas. Limito minhas observações ao campe da psicologia por duas rae
zões. É o único do qual possofalar com conhecimentode primeira mio. É também
neste texto, exprimir forte e crescentepreocupaçãopessoalsqbre
a ciência que deveria liderar o processo de preparação de novos cientistas e p ofis•
as poltticas educação em vigor na maior parte dos Departamentosde Psicologia
sionais.
em de instrução de grau pós-universitário. O tema da minha exposi•
çS0 é, muito resumidammu, que, no preparo psicólogos, estamosfazendo um PRESSUPOSTOS IMPLTCITOS
frabalho pouco inteligente, ineficaz e perdulário, em détrimento da noisa disciplina
e da socieda&, Creio que podemos julgar melhor nossos programas de educação universitá-
Mi tem como base a certeza de ue o futuro da civiliz ã ria, examinando os pressupostosimplfcitos sobre os quais parecembasear-se.Apre-
de de se encontrarem solu perg É um sentarei esses pressupostos, tais como os vejo, e algumas.das evidências que os con-
que o ornem fez grandes progressos na SOIVÇ(O de uitog.dpZL o• testam. Espero que o leitor considere as afirmações feitas, em relação com alguma
da sua óàstdhcia, aniggl- situação departamental do seu conhecimento, e veja em que medida lhe é50aplicá-
por seu insucesso-na problemaspsicológ&os.çom_qgzzdéron2 veis.
atritos interpessoais,inter-raciais e intemacionais, delinqüêncúps distúrbios rp- PRESSUPOSTO IMPLÍCITO NP 1:
tul•dos de menuisñ, a-crescenteperda do sensode propósitoe a inapti-
Não se pode confiar que o estudante busque sua:própria aprendizagem
dB pra apren&r, errihTVil que nos mantenhaà altura 40 conhecimentggeral.ecn
Assim,a jógici.de nossa Went/fica e profissionat
de• pe he cada vez mais ortante no futuro previsível de socie- Trata-se de pressuposto larrgamentedifundido, na grande maioria dos de-
em confronto com problemas. partamentos. Seriz de supor que se devessegonfiar no estudante que
Obviamenu, essa:situaçãoconstitui um desafio à Psicologia a outras i • logo, para que persegwse só e a função da faculdadà dáveriaser a de
ssão.
cias do comportarnento. Deveríamos selecionar e ireinar indivíduos para uma efi i• t

criativa na busca e ná descoberu do novo e significativo conhecimentode Ém vez —disso, verdade é que-a-atitude da faculdade é, quaseuniformemenõã7e
Acrexe que, se a Psicologia, mais que as outras ciências, tem acesso uma orienta ão desconfiada.O trabalho tem de ser especificado; sua realizaçãosu-
curwlativa de conhecimento sobre a aprendizagem,a criatividade e o de- pervsionada; os alunos têm de ser continuamente orientadose avaliados. É, na ver-
dade, então, rarfssimo que p aluno possa ver no seu programa uma em
de pegoas autónomas, parece que os nossos proWamasde formação
que se comporte com liberdade na busca de aprendizagensque sejam importantes
deveriam ser superiores aos de outras áreas de estudo.
para ele.
Seri esse ocaso? Temo que nb. Como disserecentementeSigmund Koch,
presteza em olo a • os Há muitos anos, tentei expor os pontos de vista divergentes a esse respeito:
• psicólogos, "NB somos conhecidos pela
movimento da história". Dado como coisa normal que não se tenham Muitos acreditam que os' objetivos da edtbação universitária podem
i fr«tu
bito notar pú610ps americanos entre os pioneiros, nem por isso me parece rt$es. 171

170
-ser melhor atingidos exige que todo o trabalho do aluno seja
sunenu orienüdo por um programa, cujo conteúdo é obrigatório, ra a pesquisa e para uma pesquisa de maior significação. Dizem eles:
as notas
tenham de ser conquista&s e os cursos a fazer cuidadosa e As atiWdes, a ip#ependênclade pensamentoe adispo$içb de p.rsit-
claramente de•
finldos. Acreditam que um currículo minuciosamente tir nos próprios interesses2
planejado, que expo• Eiracterizam um
nha O conhecimento e as especialidades a adquirir,
será talvez o nosso me- 9'! levamo i di f•
IhM método de realizar tais objetivos. duo a re$stir prpsses. que ievam ao conform!smoa grn da-
Outros crêem que devem apelar para método bem
diferente. Pareces
do pg@50ae "tudo, de o hEITie g•a
lhes que a melhor educaç50, sobretudo a melhor üitação de determinadosmodos de pensar. Em a. i posi•
educaçãopós-u i e sitú•
fia, é a que dá liberdadeao aluna na busca ção de muitpsvezes influirna exg!usãq
habilidades
afi9%Tm relacionar-secem os seus p ó•" pessoas dotadas de cgacterfrticas convenientes para a pesquin. (American
prios de cómpetênciaprofissional e cientfiica. % que o sàguhdõ PsyÕhÕÕôistÃià5ó,p.
i73).
mais de acord; com o que sabemos sobre as Assim, parece razoável acreditar que "onfiança no aluno seria
leit da aprendizagem e os princípios do desenvolvimento to muito mais sólido do que a presente atitude de suspeição que tem efeito
e do Crescimento definiti-
individuais. vamente prejudicial à autoconfiança. MacKinnon, estudandoa capacidade Inventiva
Uma esudante curso de pós-graduaçãodiscute o mesmoproblema com de arquitetos, relaciona os fatores na infância dessas pessoasque estZo grandemente
maior sensibilidade. Diz ela: associadosà sua atuai criatividade (segundoo juízo dos seus colegas). O primeiro
fa-
tor de sua formação é: ''Um extraordinário respeito pela criança e confiança
A atitude generalizada, no ensino wperior é, hoje, a do na sua
estudante aptidãopara fazer o que lhe era adequado». (1963, p. 20).
verws faculdade, e não a do estudante com a faculdade. Pergunto-me
se es- Bem, poderfamostenur estendertal respeito e confiança aos nossos alunos
sa "atitude de em matéria de eúcação, n50 remontaráao siste-
rrw de primária e elemenur. Aqui se pede ao estudante que dos cursos de pós-graduação.
decore .as em vez de cornpreender, intrinsecamente,os conceitos bási-
cos e as raz&s &zas rWag. O aluno é, antes,levadopelamão aprender, PRESSUPOSTO IMPLICITO NR 2:
pdenüdq_no A çappcidade nos exames é o melhor critério de selpg_do
Professores a deram desse modo e a maioria deles trans alho e de julgamento da vôçaêãgpmÊissional.
no e.a ' 'aprendizagem de oposiçZp". Foi o que eles experimentarame,
as•
estuúnte universitário. O melhor candidato a ser selecionado para a preparaç$pcomo
Mais tarde, no Éu depoimento, apela para uma possibilidade altemativa:
o que passou, anteriormente, nos exames. O estudante pós-universitáriopsicólogo é
mals pro-
missor é o que melhor se saiu nas.provas de tal ou til departamento.
penso, as duas walidades mais fundamentaise, ao mesmo
Este pressuposto, mais uma vez implfcito na grande maioria
rnais prais a êxistirem na aprendizagemsão e espo sa i• dos departa-
mentos, faz com se dê excessiva ênfase ao histórico escolar
Liberda& para di»or do tertvo e.liberdade de pe sa ü •to,que de seleçãode alunos para os cursos de pós-graduação.Leva
e às nous no processo
ao esuJdanu e expandir-senum ambienteestimu- também i utilizaçto de
medidastais como o "Graduate Record Examination" e o
envolver e ser capaz tanto se dar quanto de atrair para "Miller Analogia Test",
na de que elas possam prever o "êxito acadêmico", isto é, a
'i. O aluno deveria sentir-se passar.emcursos semelhantesaos de gradúaçío. Leva, aptidão para
para ptW40; para dos exames como o critério primacial para determinara
é claro, ao un
para o faz e o que tendência dos estudantes
selecionadospara.o curso de pós-graduação.
Embora se evidencieque para passar nos examesé habilidade
seu lugar no treinamento profissiGüTÂüise
encontram forte num seleto grupo de nove
que antes,gyrendizggem rotineira
quatro Emanas à fomwlação dos princfpios pelos quais qug_qorgginalidadede pen-
orienur o ensino a:perior de Psicologia, no sentido de maior iniciativa pa- samento e que, afinal, são as maiÕviÍidai.
que a educação...
172
173
. realce às aptidões nas áreas do pensamentoe da avaliação
convergenus, a expensas do desenvolvimentodo pensamento
divergente. Exame dg-uma estrangeira
Tentamos ensinar os nossos alunos a darem respostas "correus"
que a nos- 3) Seis horas de uma primeira prova de habilitação
sa civilizaç50 nos ensinou serem corretas. Isto é
pensamento covergente . 4) Seis horas de uma segunda prová de habilitação (ambas no primeiro
Com exceçto das artes, temos,em regra, desestimuladoo
desenvolvimento ano do curso)
do penumento divergente, de modo não intencional,
porém efetivo. .5) Três horas de prova de Metodologia e de Estatística
(1957, p. 19)
6) Quatro horas de exame.num determinadoponto essencial da Psicolo-
Da morna nos termos da pesquisa de Getzels,e Jackson, verificar- gia
que os nosos atuais métodos de seleção e de atribuição de valor situam-se 7) Duas horas de exame num ponto secundário
mais em um QI alto do que na criatividade individual. É útil 8) Prova oral sobre a tese de Mestrado
julgar os nossos uwais
prooesos de a ali•ç50 à luz das observações desses autores,a respeito dos 9) Banca examinadora da proposta para Ph.D.
dois tipos
de alunos: 10) Banca Examinadora da tese de Ph.D.
11) Defesa oral da tese de Ph.D.
Parecenos que a essênciado bom desempenhodos nossosadolescen-
tes dotados de criatividade reside na sua aptidão para produzir novas for- Uma vez que 10 a 50 por cento dos que se submetem a tais provas malo-
mas, para arriscar-se à associação de elementos que são tidos, de ordinário, gram na primeiratentativa, o número real de exames feitos é considera*lmente
como independentes ou éissemelhantes,para "se lançar em novas dire- maior do que o que indicamos acima. Compreende-seque a ansiedadesofrida na se-
960s". O adolescente criativo afigurou-se-nos possuir a aptidão para se li- gunda tentativa é enormemente (às vezes insuportavelmente) maior. Além do mais,
bertar do usual, para "divergir" do rotineiro. Pareceu-nos deleitar-secom O há um espaço tão grande entre esses e*ames, ue,•du a te os quatro a sete anos do
risco p a incerteza do desconhecido. Ao contrário, o adolescentede QI ele- curso, a principal preocupaçãodo aluno é com a próxima espadade Dâmoclessus-
vado afigurpu-s+nos possuir, em alto grau, a aptidão e a necessidadede pensa sobre a sua carreira. Como a lista acima não é exaustiva, claro que essesexa-
a o oú •se ao usual, de ser "canalizado e controlado" no sentidoda res- mes principais não passam de um acréximo às argüições, provas semestraise finais,
posu exata — a de costume. Pareceu-nos esquivar-sedo risco e à incerteza feitas ao longo do curso.
do ésconhecidoo procurar o amparoe a segurançado conhecido(1963, É óbvio que o aluno não tem como adquiriro sensoda total e Indepen-
p. 172). dente liberdade que, é a base de uma atividade profissional criativa.
O efeito desse sewndo pressupogo é que os alunos, submetidos à seleçãoe Não surpreendeque um universitário que abandonou ocurso tenha escrito:
a ali•ç para serem psicólogos, tendem a se distinguir antespela capacidadede pas- Está bem que a faculdade imponha aos alunos .certa dose pesada de
nos exames do que pelas qualidades que os indicariamcomo poss(veisdes o i• trabalho académico.Sei que eles sentemque têm que "dar duro". Mas,
independentes de conhecimentos novos. nesta universidade,nunca se chega ao ponto em que o aluno sinu que o
'departamento,agora, me dá apoio no meu esfoFço para
PRESSUPOSTO INPLICITO NR 3: O modo como os examesinvalidam uma verdadeiraaprendizagemfiindlca-
do pelo aluno de uma outra universidade, o qual escreve:
Ava/iago é edc.ução,•edgca'ão é avaliação. Muitos, quando fazem o exame, nunca estão certos do grau
É incrfvel a maneira como esse pressuposto absurdo acabou por se arraigar, veitamento em que se acham. A nota da prova depende de se descobrir ou
no ensino superior dos Estados Unidos.Os exames tornaram-seo não o ponto ou os pontos que correspondem ao modo de ver do professor.
prin$io e o fim da educação. um meio de vida para o universitárioe difi il•
marte se poderia imaginar meio de vida mais idiota. O aluno curso de pós-
de Psicol$a, numa Universidade, tem de enfrentar os seguinteso stá u• (1) É i p; ta t• notar que todos ot unlwrsit&ios et•do sf• c.ftulo es$o e hedo•
em tróalhos de pós-gradueç&oalta t• nwrit&ios. Um deles faz urna bolsa de espe iall•
z•ç u a Fu d•çh Nocional de Ciência, outás em di s— ••o iae5es, dú o mérito
Exvne de uma primeira Ifngua estrangeira de um. Nenhumadas citaç6esconstitui "re*itlrrwntos" alunos a gi ellz•do•
ou
frustrados. Por rrwtivo de discriçio, os autores das clteç30spmfemm nb sar
174
175
Na aula, você tem de sintonizar o espfrito na freqüência da onda de que se
dizem: "para o inferno com o espinafre"; Embora eu nio possaprovara aute ti i•
utiliza o professor. Você gostariade entender o que ele quer dizer, na sua
dade dessa afirmação, ela, certamente,exprime o mesmopo to•devista
exposição, mas Isso é dificultado pela tentativa de determinar o que ele vai
pela maioria doshomens de ciência.
exigir como resposta, no exame.(Clarck, 1962, p. 42)
É diffcil exagerar o dano causado a universitáriospromissorespor esse
Outro aluno, ainda de uma outra universidade,exprime um pouco da an-
pressupostocompletamentefalso de que eles só aprendemse forem ameaçados,
Nstia que tal método suscita:
constantemente,de um malogro catastrófico. Embora eu esteja certo de que a aio•
Sai-se do curso sabendo um bocQdo do jargão e a maior parte das res-
ria dos professoresuniversitários negaria que tal pressuposto,todo o seu
postas. Percorrem-se as páginas do caderno de notas onde se registrou
ç modo de proceder demonstra, clarissimamente,que é esse o princfpio operacional
que O professor disse e, no exame final, espera-sedevolver-lhea maior pa •
te dos fatos importantes mencionadose dasidéias básicasexpostas.O pro- que orienta o seu trabalho.
fessor quer e espera uma aceitaçãocega; quer de volta o que nos deu, não PRESSUPOSTO IMPLItlTO NO. 4:
nos deixando a oportunidade de digerir e de reagir. Quase não há
possibili- Exposição de matéria é igual a aprendizagem: o que é dado, na lição» é o
dade de s(ntese.Exige-se do aluno que se conforme ao ponto de vista do
professor e nenhuma recompensa é dada ao pensamento criativo e á reação que o aluno aprende.
individual à matéria. O tema em estudo apresenta-seem preto e branco, Mal se pode imaginar, parece, que pessoas inteligentes sustentemsemelhan-
sob forma unidimensional. AO escrever isto, sinto-mefrustrado. É um sen. te pressuposto. Entretanto, observe-se,apenas, uma laboriosa e circunspecta somiS-
timento de amargura, uma revolta,um abafamento Íntimo como o da égua são de professoresde faculdade a discutir sobre os temas que se deveminéluir no
fervendo, numa caldáira, sem uma brecha para libertar o vapor; é um vapor programade um curso de pó9graduação Psicologia:verificar-se-áque, na idéia
que queima. que fazem do curso, aquilo que esta"abrange" (bela expressão!) é o que é aprendi-
Nos exames principais, o aluno, de regra, não tem o menor indício de qual do.
será o objetivo da prova, O exame versará,simplesmente,sobre "Psicologia Geral", Eis a reÇão de um aluno depois de seguir, pela metade, um curso desses,
"Psicologia Social", ou sobre um outro campo. Mas, desdeque o aluno sabe que as cuidadosamenteplanejada:
westões serio formuladas pelo professor X ou pelo professorY, não perderáo seu
urnpo O pior de tudo, penso,é o fato que pouquíssimosalunosacham
sobre o que é importante, para ele, em PsicologiaGeral ou
Psicol$a Social. Focalizará, em vez disso,os interessese os preconceitosdos dois que estão aprendendo alguma coisa, seja o que for. Quase todos sentem
que trate; apenas, de continuar a idiotice do curso universitário, no qual
Comenundo esse aspecto, diz um aluno:
tremenda quantidade de matéria é jogada em cima da gente, e de cada um
Gasta-se unto tempo tenündo adivinhar as questões que cairão na se que regorgite a maior parte disso num exame, após o que dará
prova, que nio se tem tempo para aprender 0 que se quer aprender. a impressãode haver aprendidoalguma coisa. Poder-se-á,sem úida,.ter
Para que nio *pense que essassio apenasextravaganciasde universitários adquirido algum conhecimento de certos fatos isolados sobre Psicologia,
deixe-me acrescentar a citação de um Cientista que recorda um pouco da mas nenhumdete*poderá ser integrado de modo coerente.
experiência: O pressupostode que aprenderé equivalentea ouvir uma exposição
está
Essa coerção teve, sobre mim, um efeito tão desencorajador, que, de- intimamente vinculado ao anterior, segundo o qual educação é
avaliação. AtTibos se
que fiz o exame final, a consideração de qualquer problema me re-. relacionam estreitamente ao pressuposto que se segue.
pugnava, durante um ano intiro.
Quem &clatmj isso foi Albert Einstein; Retratamuito bem o impactode PRESSUPOSTO IMPLÍCITO NR 5;
certo sisurna de sobre um esprritosensfvel, inquiridor, criativo. Diz-se que
afirmação menos comedida foi feita por outro cientisu maduro, um notáyelastró- Conhecimentoé a àcumulação,pedra soêre pedra, de conteúdo e de in-
nomo. S,JRenu que verdadeiros avanços no conhecimento procedem de pessoas que formação.
fazern o que querem faer. Todos o que se dá com as crianças a comer espi- Pensar-se-iaque a Psicologia, de todas as disciplinas científicas, fosse, com
núe ruibarbo. Ocorre o mesmo com a aprendizagemcompulsória. Os meninos toda a probabilidade, a que menos haveria de sustentar esse pressupostoimplícito,

176 177
Cout* aos psicólogos mostrar que a aprendizagem se realiza, antes de tudo, e sig i•
ficativamente, quando em relação direta com os propósitos e motivos individuais, sunção de urru ortodoxia de conhecimento. Em outros, há maior receptivida& peta
doudos de sentido. ErtFetanto, a maioria dos Departamentosde ensino saperior a divergência. Na medida em que exista um único ponto vista aceitável, isso é O
parte da corivicç50 de que há uma série de elementosfundamentais de construção mie haver de mais desastrosopara uma ciência em &znvotvimento. Um estu•
da ciência.psicológica que o estudante deve dominar em seqüência,quer se adaptem únte assim a suaexperiência :
ou não a seus interesses correntes. acvi (falado ritual e do do seu
Há uma
Alguns do melhores entendidos em Psicologia pensam diferentemente. mento, em termos que permitem Aqui, não fu outra
confaência Educação para a Pesquisa em Psicologia, antes mencionada,faz coisa senão imiur o os mais velhos disseram. O resuludo é um " *O•
as importantes observações seguintes: escolasticismo": repetiçb inútil das idéias e preconceitos da faculda&.
Em Psicologia, o conhecimento de fatos é importantepara a pesqui- Um procedimento que me atingiu mais fortemente tu pris
sa. Não é fácil, porém, determinar a quantidadede tal conhecimento a ser. meira aula, é o que eu chamo "método de estudar através de citações", um
Obtido num curso superior. Muito do conhecimentofactual do cientisu gotejar de nomes &sse ou daquele participante de certas espécies
experimentado foi: acumulado durante sua carreira e provavelmente não quisa, ji aprovadas. É comportamento bem calculado para contar o
podà ser duplicado através do ensino explfcito. Além disso, o tempo de apoio da faculdade; serve i finalida& de eliminar o esforço de pengr, por
que dispõe o estudante é, inevitaVelmente,dividido entre matériasteóricas parte de quem cita, e liquida, efetivamente,qualquer argumento contririo.
e experiência prática sobre os métodos e a arte da pesquisa. Por todas essas Enquanto o apelo às por pesquisa pode ter valor se não se
razões, Insistimos em advertir contra a sobrecargado programa de ensino nart por si próprio, autoritário, é indicativo da mentalidadeestreita dode•
superior com matérias de natureza substantiva, quer isso resulte de exig • partamento que apenas certos ramos da pesquisa sejam merecedores de ci-
cias do Departamentoquer da escolha do aluno. (American Psychologlst, tacão... Aprende-seaqui, rapi&mentg, oque esperamde nós.
1959, p. 172)
Não há por que estender.o assunto. Muitas vezes, professoresde famjlda&
Em geral, contestamos o pressupostode que quanto mais preparação çriticam o dogmatismo, embora, no seu comportamento,o exibam, em alto Vau.
formal tenha a pessoa para a pesquisa,tanto mais produtiva e criativa será
Não•raro, a ortodoxia refere-seao método a os "verda&iros métodos" de
esta. duvidamos de que quanto mais completo for o do f• logia cientffica que se consideram imutáveis. De qualquer modo, quando ocorrem,
nio da e de outros instrumentos,por parte de umapessoa, tanto no Departamento,atitudes como at que descrevemos,O ambiento6 contrárioa
mais eficaz será ela, em pesquisa; duvidamosde que ao maior conhecimen-
esforço cientffico autêntico, Dar só pode reajltar uma pseudociéncia.
to didático da literatura corresponda mais provável contribuição para tal
conhecimento; duvidamos de que aumentecontinuamenteo valor da teo-
ria sobre pesquisa quando esu se torna mais formalizada e pormenorizada. PRESSUPOSTO IMPLICITO Nq 7:
Psychologist, 1959, p. 170.) Método é ciência
Creio ser pertinente observar quefiarvard e certo número de outras escolas Eis um pressupostoque eu acho muito difundido, sobretudo na Psicologia
médicas importantes aboliram o curso pré-médico de nfvel secundário, exigência norte-americana. Um procedimento rigoroso é freqüentemente consi&rado (a Jul.
que se baseava na filosofia da "acumulação ped a-so e•ped a".Harvar.dobservou gar-se Belo comportamento das faculdades) muito mais importante do que as idiias
que, até o terceiro ano de Medicina, os que não haviam passadopelo pré-médicoti- que.se pretende investigar. Estatfsticas meticulosas e um requintado plano de pes-
nham aproveitamento bem melhor do que .os que haviam feito esse curso, além de quisa parecem maior peso que observações significativas sobre problemas i po •
mostrarem maior largueza de vistas e serem alunos mais promissores. tantes.
Ainda uma vez, quando cientistas proeminentesno campo da Psicologia
PRESSUPOSTO IMPL(CITO NO. 6:
reúnempara discutir a instrução superior, rejeitam resoluümente tat preguposto:
Conhecem-severdades em Psicologia A educação para para
a competência
Em alguns departamentoscom que tive contato, evidencia-sebem essa pre-
ou outros. &ãesenvolvimento de tal competência é importante; multo
178
179
mais importante orém, é o desenvolvimentoda criatividade individual lhes proporcionam estfmulos, numa atmosfera de liberda&, para pmduzír idéias,
para reformular sistematizar ainda que pareçam as mais desarrazoadai,verificar-se-áque realmenteproduzem
fatos conhecidos, para arquitetar_ idéias para solução de problemas, em maior quantida& e de melhor qualida& do
Psychologist,T959, p. 170.) que um grvpo de contiole, como ficou demonstradona pesquisa de Pames e
Meadow.(1963)
PRESSWOSTO INPL1t1TO NR 8:
A meu ver, na nossa insegurançi profissional, atribufmos enormeimpor-
passivos podem tornar-se cientistas criativos. tAncia à expulsão de cientistas "cabeçudos" e à punição severa de toda abertura se •
Alguns dos pressupostosmencionados antes evidenciamque muitos depar- sfveli especulativa,"esportiva",que é a essênciado verdadeiroCientista.Quais os
tvnentos atuam na convicçio que o aluno que absorvee depoisdevolve, no exa- partamentos de Psicologia, do conhecimento do leitor, que estariam dispostos a dar
me, o We aprendw, êxito futuro em que se pode apostar.De minha parte, valor àquelas qualidades entre os seus alunos?
Alunos "invulgarmente apreciadoresdos elementós in-
entretanto, n'O conheço estudos a resbeito, capazes de dar apoio a tal suposição.
Anne Roe, após trabalhar.amplamente num estudo sobre cientistas de realce, o • tuitivos, da sua natureza; que se fazem notar pelo seu profundo empenho
cluiu que alBJns dos fatores que, no nosso sistemaeducacional, afetam os alunos, de na busca do significado estético e filosófico de toda experiêrwia". (T$lor
e Barron, 1963, p. 386.)
modo adversono seu desenvolvimentocomo cientistas, são os que se seguem:
Alunos "que se abrem para os seus próprios sentimentos e emoções,
1. insuficiente•da•atitude
de "resolução de problemas" na para seus interes±s estéticos e para uma consciêrwia sensfvel de si mesmos
escola. e dos outros". (MacKinnon, 1963, p. 36.)
2. A tendência geral dos professoresde depreciarviolentamenteas
idéias "selvagene ou "tolas". As afirmações acima resumemcaracterfsticas objetivasde jovenscientistai
A restrição i curiosidade. {1963) de valor e de profissionais eminentementecriadores. Sio contudo, o tipo de uali•
dades pessoais que muitos psicólogos temem existirem neles.próprios e nos seus alu'
Semelhmumente, numa bem ftindamentadainvestigaçãofeita em cente- nos:
nas de superiores, Thist}ethwaite (1963) mostra que vigorosasdiscussões,em
Aila, e flexibilidade de mrrfculo se associam,significativamente, com o númerode
douto • " em ciências sociais, produzidos pg estes cursos em relaç50 ao número
PRESSUPOSTO IMPLÍCITO NR 9:
at iAJl•s. Muito interegante é o fato de que os mesmoselementosestão ega• "Podar" a maiona dos alunos é método de produzir cientis-
tivrnenu associados ao número de em ciências naturai'. Eis um assun- tas e clínicos.
to que mereceestudo
Parece-me um escandaloso desperdfcio do pote iai•hu a o o fato de que,
MacKinnon acentumJ, no seu extenso trabalho investigação-sobre ia•
dos universitários cuidadosamente selecionados que recebemos nos nossos
ti id•de, um fato a que n'O se um dado a devida atenção. Diz ele:
pós-graduação, só uma proporção mfnima consegue o seu Ph.D. Denota atitude ir-
ledp, 0 segando elemento da palavra KnowledF, significa espo • responsável da nossa disciplina a circunstância de que, em sua maior parte,.os depar-
te. O conhecimento resulta de um jogo como que se conhece,isto é, com tamentos não têm a menor idéia da porcentagem dos seusalunos que obtêmPh.D.
fatos. Pessoainstruída na ciência não é, como nos habituamos, Ocorre que, em departamentosafortunados,um entre dois alunos êxito. E •al-
tuttas vezes, a pensar, apenas aquela We fatos, mas, antes, a que gunsdepartamentos, só um em cinco, ou mesmo um em sete,dos que iniciam o u •
a capEidade de jogar com o que conhece, dando rédeasà imaginação, sor logram, realmente,obter o título. Usualmente,considera-seque isso evidencia
criativvnente, para rrwdar o seu mundo de aparênciasfenomenaisnum que o departamento mantém "altos padrões". Nio sei de nenhum outro campo de
de construtos cient(ficos. (1963, p. 23.) trabalho em que se tome tal atitu&. Em Medicina, já se reconheceu,há muito, que,
quando se seleciona um grupo de alunos talentosos, essepotencial há de conservar-
Penso saber o que aconteceria, na maioria dos departamentos,ao estudan- se no exercfcio da profissão. A falta de êxito é tida mais como reflexo da Escola de
te "ré&aS i sua imaginaçãocriadora!" Medicina que do aluno; Também a indústria considera que deve conservar o poten-
e
No enunto, quando se ensinam os alunos o proferir jufzos sobre idéias se ciai humano de talento. Mas em Psicologia, não é assim.

181
180
Há outro fator, que explica o caráter remoto do relacionamento faculdade-
O lastimável desgaste mencionado acima ocorre, em parte, porque OS alu-
aluno. É que se torna quase impossível aproximar-sedo aluno, quando o relacioni-
nos falham diante de algumas das numerosas barreiras de avaliação descritas antes e
mento fundamental,com ele, é o de um juiz e avaliador.É o que su9ereum estu•
suo eliminados do curso ou perdem o estímulo de continuá-lo. Mas ocorre também,
dante que descreve o relacionamento fa uldade•alu o, na sua universidade:
em grande parte, porque os alunos possuidoresde certa tendência à originalidade, fi-
cam desencantados com a esterilidade de um programa que se baseia nos pressupos- Vejo . , professoresa se.esconderematrás de uma máscara de obje-
tos esboçados nestas páginas e se transferem para outros campos de estudo. A obser- tividade impessoal, "científica", para evitar o risco de se envolverem pes-
vaçio de tais ocorrênciasreforça a minha convicção de que, entre os alunosque soalmente num relacionamento interpessoal e, ulvez, desgostosos com a
abandonam os nossos departamentos de Psicologia, poder-se-idmencontrar, a um tarefa de avaliação que eles próprios se impuseram.
tempo, os menos e os mais promissores do nosso futuro potencial de psicólogos.
Qualquer sistema de avaliação contfnua exclui alguns dos menos competentesou Há exemplosde professoresque armam um "duplo laço" para o aluno,
transmitindo-lhe mensagem contraditória. Seria como se algum deles dissesse: "Seja
menos inteligentes. Tende, também, a eliminar, muito definitivamente,os maissin-
e criativos dos nossos alunos, que simplesmentese recusamrcomo dizem benyvindo a um relacionamentointerpessoalcaloroso e Íntimo —e quando você
" vier com excessiva intimidade eu o castigarei com uma nota ruim". A analogia com
eles,a "suportar todo esseMickey
os pais de esquizofrênicos é dolorosamente clara.
De modo geral, parece que a maior parte dos departamentos se satisfaz bas- Ainda uma vez, é a evidência'bem fundada que contradiz o décimo pressu-
tante com um processo de depuração que desperdiça a grande maioria (de 50 a 85 posto, Thistlethwaite, em estudo já mencionado, verificou que "â informalidade e o
por cento) dos alunos de pós-graduaçãotão uidadosa eñte•gele io ados. A idéia calor dos contatos estuda te•fa uldade", na instituição, relacionam-se, sig ifi ati a•
de que é responsabilidade da profissão aumentar o número de psicólogos,tirados ••+le te,com a média.de aproveitamento dos Ph. D. em.Ciências Naturais,assim
dentre os alunos mais talentosos, mal entra em nossa cabeça. Na minha opinião, o mo em Artes, Humanidadese Ciências Sociais. (1963) Á Psicologiapode pôr em
fato de um estudante deixar um departamento deve ser considerado gomo possfvel risco o próprio futuro pela sua insistência em que o indivíduo não é mais do que
malowo do próprio departamento na seleção, no ensinor no relacionamentofacul- simples máquina.
dadealuno, ou na criação de um estimulante clima profissional e cientffico. Tal fato
&veria ser estudado, em todos os seus ângulos, a fim de corrigir as deficiências.A POR QUE ESTES PRESSUPOSTOS?
indústria tem tentado fazê-lo através de entrevistas com os que se dispõema aban-
&nar a empresa ("exit interviews/'), A Psicologia deveriafazer coisa semelhante, Por que.se apegam os departamentos a esse modo de proceder e aos p essu•
postos subjacentes,quando um simples estudo casual lhes revelaria• felécia? Por
que a ascenção e o prestígio, nos Departamentos de Psicologia, dependem da adesão
PRESSUPOSTO IMPLÍCITO NR 10: a essesfrágeis pressupostos?Por que, para exemplificar, um professor de faculdade
que leva metade de seus alunos a fracassar nas provas é, provavelmente, considerado
alunos mais consideradoscomo obietos manipuláveisdo que melhor (porque mais '.'severo") do que os seus colegas que não "dão bomba" a nin-
comopesoas. guém? Por que quem trata os alunos omo pessoas, como seres humanos, como co-
Em certo número de departamentos,o relacionamentofacÚldade-alunoé, legas mais moços, é suscetfvel de sero ado com alguma suspeita pelos seus colegas?
wm dúvida, remoto e impessoal. Isso parece decórrerde duas causas. Em primeiro Como é que os modos de proceder descritos vieram a ser üo compensadóres, que se
a atual filosofia ultra-behaviorista, subjacente à Psicologia de hoje, tendea ver incrustaram na Psicologia norte-americana,apesar de seu fundamento errado?
todos os simplesmente como máquinas manejáveispor meio de recom-
E como não queremser ti- Só posso especular. Sem dévida, uma das razões reside no fato de que os
_p«tsae punição. Os alunos são tratadosna mesma
alunos, consciente ou inconscientemente,depois de "comerem de colher" durante
como objetos, o efeito nftido é o moral baixo. Chegam até a se tratarem uns aos
'mais de dezesSeisanos de vida acadêmica, tendem a exigir á mesma coisa, cada vez
wtros da mesma forma. Em alwns departamentos,onde se dá excessivo realce à
mais. Outra razão pode estar em que os alunos originais, curiosos, autónomos, que
•ali•çSo, o áluno A não dará ajuda ao seu colep B, porquequalquerprogressode
perseguem objetivos próprios, são quase sempre incômodos para se ter por perto.
B automaticamenucoloca A em pontomais bainna "curva". Isto pareceum tipo
Desafiam convicções assentadase modos fixos de fazer as coisas e; daf, como
ãitude viciou, por parte de que se espera venha a ser, mais tarde, membro de
fessores de faculdader tendemos a evitar que se produzam tais tipos. Outra razão
umaeqJipe cientfficaou profissional.
183
182
ainda que. por se haver feito da pesquisa antes um fim do que um meio, daf se se•
guiram várias o ensino, toda a importância foi dada à semos — programa capaz de formar psicólogos independentes, abertamente inquisi-
dos planos de pesquisa, e os próprios alunos se tornaram objetos de pesquisa, dores, que não temam a buscwde vias de acesso à verdade, genuinamente nwas e
O mais importante de tudo, talvez, é que os pontos de vista filosóficos profundamente significativas.
de psicólogos
sobro a e a natureza do homem parecem não se emparelharemcom os p o•
no nu próprio ampo de estudo. Essas são, apenas,algumaspossibilidades.
O problema exige investigação mais ampla. Deve haver uma explicação REFERENCIAS
racional para
a obstina& maneiri como og departamentosde Psicologia se apegarama
certas AMERICAN PSYCHOLÔGIST.
Ob$Oleut. Education for researchin psycholOgy. (Relató-
rio de um grupo de seminário patrocinado pelo Education and Training Board
of the American Psychological Association). 14:167-179, 1959.
O REVERSO DA MEDALHA
ARROWSMITH, W. The sameof tha graduateschools. HarpemMapzinà,232
Estou ciente de que nem todo o ensinoque se desenvolveno meio univer- mar, 1966.
sitirlo sob os pressupostos que relacionei. Um aluno de pós-graduação,depois
de fazer certo número de reclamaç5es,escreve: CLARK, J, V. Education for the use of behavioral science. LOS Angeles, InstV
of Industrial Relations, UCLA, 1962.
Só excepcionalmente deixarei um curso onde me sinta inspirado, ex-
Citado, estimulado. Eis um excelente professor,que estimulaa liberdade de GETZELS, J.• . & JACKSON, P. W. The highly
penumento. Não se submete às pressõesque o obrigariam a ver os seus alu• lescent In: TAYLOR, C & BARRON, F.,ed. Scientificcmativity:ftsrec-
nos transporem a "linha final", mas está cônscio de que não existe "linha ognition and development Nova lorque, John Wiley and Sons, 1963.
final". Cria uma atmosferade de estímulo r«lexãp. Qaluno
a e honestemepg
GUILFORD,J. P. A revisedstructure of intellect. Reporrfrom
PsychÕlôgi
ma «n estudo Alas próprias-idéiii éiigtivas. O professornão quer que seus ca/ Lab LorAngeIes, University of Southern Califomia, (19), 1957.
alunos come certo o que ele diz; antes,encoraja-osa pensarsp>ze
MACKINNON, D. W. The nature of creativity. In:
pensart reagir, duvidar;a aceitar, a ieje_itar,a incorppx.ev
teaching. Extrato; de uma conferência realizada na University
of Kentucky»
É uma gran± sorte da Psicologia contar com' professoresque operama Bulletin of the BureaU of School Service, Lexington,
um de hipóteses muito diferentes,cuja honestidadecompreensi-
Kentucky, College of
Education, University of Kentucky, 35, (4), 1963.
va..ouse& lwa nus alunos i curiosidade e'à excitação científicas. I
Embora os mét+s operacionais da maioriados nossosprogramasde póy PARNES, S.J. MEADOW, A. Development of individual creative talent In:
tenúrn a ficar na linha dos pressupostosenumerados,nãoseriatio diffs TAYLOR, C. BARRON, F. ed. *Endfic-cmaüvity: and
cil orpnizar programa arAplarnenteprogressist, baseado em princípios totalnünte developmgn¿ Nova lorque, Johó Wiley and Sons, 1963.
diversos. Muitosdos seus blementosjá se acham elaboradosno relatório sobre "Edu- ROE, Anne. Personar problems and science. In: TAYLOR, C. & BARRON, F.,
para a Poquisa em Psicologia", ao qual fiz diverias referências.Tentarei ex. ed. cmativity: 'ts recognition anddevelopment. Nova lorque, John u
plicar ul pMmenorizaúmente, no próximo capftulo. Wiley-andSons, 1963.

UM DESAFIO FINAL TAYLOR C, & BARRON' F., ed. ±ientific CtEtivity:Its re.'Itia7 and
velopment Nova lorque, John Wiley and Sons, 1963.
No dia em We a Psicologia quizr fazer uma aprEiaç50 refletida dos seus
de profigional, rejeitará, creio eu, a maior parte dos seus pres- THISTLETHWAtTE, D. T ha college environment as a
em curso. Tentei indicar, entretanto,que, na basede nado, da determinant of research
potentiality, In; TAYLOR, C. & BARRON, F., ed,
própria literatura sobre peswig em Psicologia, estão os fatos e as descobertassobre recognition and development Nova lorque, John Wilev and
Sons, 1963.
aai• p" fa o• construir um prograrrw pós-graduaçãode que nos orgulhás-

184
185
Capftulo
IX

UM PROGRAMA REVOLUCIONARIO
PARA A EDUCAÇÃOUNIVERSITARIA

Lamentoo fato de que o capítulõàhteriorse componha,


quase inteiramente, de críticas neFtivas visando ao que exista
Ê meu desejo dar forma a uma exposição que sirva de possível
sucedâneo e que encerre os valores que me afiguram impor-
tantes tanto na educação de nível superior quantõ ao ensino de
pós-graduação.Ê o que tento fazer neste capítulo. Inclui-se na
discusúo do noso tema, pois me que o modelogeral
proposto é aplicáVeltanto ao treinamento profissional para o
ensino, quanto à preparação de cientistas do comportamento,

Quero formular algumas wgest3es, para um pr07ama de*inado a alunos


(vel de pós-graduação, nas várias ciências do comportamento. Apesar de ser ape•
nas uma tentativa, o que propomos, se considerado seriamente, poderá suscitar e •
dadeira revolução nas práticas dos atuais cursos. Como sou um psicólogo e um edu+
cador, minhas sugestõesestarão, sem dúvida, condimentadas pela experiência nesses
setor.es.Todavia, creio que terão sua importância não só para as várias ciênciasso•
ciais e de comportamento como, igualmente, para outros campos. Po&rão também
adaptar-se,com as modificações apropriadas, a nfveis de ensino inferiores. Na verda-
de, aS mais sérias tentativas de levar realmente a cabo programas semelhantes têm si•
do feitas e se têm mostradoeficazes tanto no nivel da educaçãoelementarquanto
da universitária. Por que, então, escolho a educação pós-universitáriacomo alvo de
minhas.observações? Em primeiro porque tenho mais experiência e maiscome
petêncianeste último nfvel e porque é muito mais cômodo, para• ñi ,falar por ex-
periência própria. A segunda razão está em que acredito que, de todos os diferentes

187
niveis de desde o jardim da infancia até o trabalho de pós-doutorado,
entlno de pós-graduação é o que mais se distancia do o se oriente no sentido de focalizar, antes,a solução de problemascientf,
desenvolvimentoprincipal da ficos e profisslonais significativos do que, primacialmente, o treinamen-
e o menos educativo no exato sentido da palavra. A
terceiro razão é to metodológico numa disciplina. A solução
que eu gostaria de oferecer alwmas propostas problemas que tenham
positivas, porque estou certo de que significado leva, sempre, a aprendizagens interdisciplinares, onde, com
o educacional se vai tomando cada vez mais amadurecido
para as espécies muito mais probabilidade, se verificam aberturas e avanços;
mudança terEiono sugerir.
— promova interação fntima, humana, comunicativa entre pessoas reais —
Finalidades aluno e aluno, aluno e faculdade, faculdade e aluno;
focalize, por meio de tal interação, problemas reais -s tanto pessoaise
O principal objetivo do programa que descrevereiseria o de emocionais quanto intelectuais e profissionais — com que se &fronte
estabelecerum
ambiente efetu_artlivremente, uma .aprendizagemautodiri- o aluno seu trabalho;
gldi e criativa. Embora isso pareça simples, esti em contradição
direta com o ambi- desenvolva o aluno como aprendiz autodisciplinado e crftico, capaz de
ente criado na maioria dos cursos de pós-graduação nas ciências do
comportamento. avaliar tanto as suas quanto as contribuições dos.outros. Assim, o aluno
Essa finalidade geral se fragmentaria em certo número objetivos mais trabalhará, não para receber a de outrem, mas tendo em vista
eqmfficos que s50, creio compatfveis uns com os outros. Poder-se-iadizer, as- os próprios objetivos socializados e auto-realizáveis;
sim, que a finalididé dó programa,como um todo, é a de proporcionaruma situa. — ca acite o aluno a ada tar-se inteli n I (vel e cri ivam
qJe: vas situações problemáticas do futuro, a pr,ólemas com que nem sequer
tenha sonhado, ao tempo da atiyida± It i e ;itá ia,•
resuure, estimule e intensifique a insaciávelcuriosidadeque o aluno
tem, desde Ordinariamente, quando chega à universidade,essa capacite o aluno a dar contribuições contfnuas, criativas aos problemas
mrioslda& entOrpeceue se embotou num conformismo passivo; humanos que vão ao extremo de ameaçar a destruição da raça humana.
Tais contribuições poderão resultar ou do acessó.à ciência pura, ou da
encoraje 0 e*udante escolher seus próprios interesses e a desenvolvê- prática profissional, ou da combinação de
10s dentro de objetivos profissionais madurros e incentivadoresde pro-
— capacite o alú.nq a. ser aceito como alwém que pertence ao de
profissionhis qUàIificados que tentam arrostar estas significativas inquie-
promwa todos os tipos de recursos —a palavra escrita, o laboratório, o tações ciehtfficas e humanas.
pra a aprendizagem programada,o ser humanoi fo a•
do, a relevante experiência dp organização,a relevanteexperiênciade Seleção de Alunos
comunidade —etudo com que o aluno posg alimentar nus interesses.
Assim inclulrb que dêem ao aluno experiência para se o u• Proporia um igo oso•sistema de selação, que excluiria, quanto possfvel,
os
pg problemas hurnanos, uis como existem no seu contexto natural, não se mostrassemcapazes de tornar-se estudiosos od
profissionais criativos.
tü'to q:anto em aula no laboratório; 'parte do meu raciocínio está em que a recusa de ser admitido
em um mirso não
constitui golpe grave à personalidade do aluno. É uma
rejeição que pode ser'raciona-
p.mita ao•aluno fazer acolhas responsáveis em relação ás was próprias lizada com relativa facilidade. Mas,uma vez admitido, o aluno
não seria rejeitado, a
assim assumir a responsabilidadedas conseqüências rião ser por motivo muito grave. Ao contrário, caberia
ao corpo docente desenvolver
era&s, tanto quanto. das certas; todo$os alunos selecionados como indivfduos
competentes do ponto de vista pro-
fissional. Não seriam atormentados, a cada momento;
ao aluno participanu a.fo •ç50e na cmstrução de todo o com exigências e provas, cujo
propna we ele é parte; efeito principal é o de destruir a autoconfiança e a
curiosidade. Toda falta de êxito
cid aluno, na obtenção do Ph.D., deveria ser
— S' oriente, primwialmente, mais para oa problemas futuros da ciência e considerada como o que realmente é —
um malogro de que ambos são responsáveis, o corpo
da profissb do que para a sua história pasgda ou mesmo paraa p ese • docente tanto quanto o aluno.
te dos chamados"fatos"; Gostariade sugerirtrês critérios de seleção.O primeiro
Cia", talvez mais especificamente definida como
seria a "inteligên-
um alto grau de aptidão para esol•
188
189
problemas. A raz50 critério reside,simplesmente,em que, no geral, a inte- tar no ensino de pós-graduaçãO, é porque eles padecem de uma deficiência funda-
ii*Eia "pap a pena". dois profissionais completamenteiguais, sob todos os mental. Essencialmente, supõe-se que o aluno que soube saltar bem as barreiras que
outros apectos, o mais brilhante é o que, provavelmente,estaria em melhores o • lhe foram opostas, antes de colar grau, também saberá safar-se, garbosamente,das
die6et oferecer contribuição. mais durável. dificuldades de um curso de pós-graduação. Uma vez, entretanto, que, no programa
que desereverei,não se oporá nenhuma barreira do tipo usual, acho que tais medi,
O critério pode parecerarpreendente sena o grau de compre- das se tornam inúteis.
ernp6tIca de que a pessoa é capaz. No presente momento, não há instrumento
completanwtte para medir a aptidão empática, mas alguns estãosendo
ELEMENTOS DO PROGRAMA
e não é essa uma tarefa impossfvel. Existem dois motivos para a escolha
desse critério. Nas ciências do comportamento, a verdadeiraaptidão para compreen-
É óbiio que, uma vez que, tanto a faculdade quanto os alunos formados
der, precisa e sensivelmente, o mundo interior de outra pessoa, é uma das principais
devem participar do planejamento e da execução do programa, e se os vários depar-
fonus informaçb em que se.pod&rnbaseartanto as atividades científicas quanto
tamentospodemorganizar o respectivotrabalho de modo um tanto ou .quanto di-
as profissionais. A sem/ndarazão está em que, como o Dr. John Shlien salientou pa-
verso, o que se segue é um conjunto de sugestõesque seriam modificadas conforme
ra mim, há muitos anos, a aptidão empátiça é_um dos melhores índices singulares de
0 seu uso em diferentes situações da universidade. As idéias seriam melhor coloca-
maturidade psicológica. A pessoa imawra não se itir com reendero mun-
das como instruções e informações gerais que se devem proporcionar ao aluno i i•
ele é erent constitui certa
ciante.
Daí! co senãQ di$tnrEE as idéias e os Sentimentos alheios, a fin
de os tornar menos ameaçadores si. S6 quem está razoavelmenteseguroda pré- Apresentaçãodo Programado Aluno
pr ident e r pria que oütrp pessop S?jg diferente
e ún corrvreender e dv valor a essasirWaridade. -Éis, então, os dois motivos Eis uma descrição muito geral que lhe ofereço, uma noção global das opor-
porque considero a aptiüo iâvática como um critérid importante. tunidades postas à sua disposição, como candidato, que você é, a um tftulo de dou-
tor em ciências do comportamento. Há, evidentemente,muitas perguntas Sem res-
O terceiro e último critério é aindamais diffcil de determinar;não, porém, postas, na presente descrição, mas talvez baste esta exposição para lhe dar uma o i•
creio eu. e o grau de curiosidadeespontâneae de originalidadeque a entação geral:
revela.
til de adivinhar a a e-ço hp i• A. Você tem a liberdade de usar os próximos quatro anos para se tornar
rrmto, sobre ylas de acesso à egrgn@i- o mais competente cientista do comportamento de que você seja ca-
que paz.
brn a ma Na verdade, os atuais testes de cria- B. Você é livre para usar os cursos deste e de outros departamentos;o
uso sirnulüneamento com uma entrevista) baseiam-separte corpo docente de uns e dá outros; os laboratórios, as bibliotecas, as
na mediçb da curiosidade, parte em elemento que se lhe relaciona de perto — a o i• cl (nicas, as possibilidadesde estágio de que estes disponhamou que
ou a sinplaridade da a uma nwa situação. Penso no modo in- resultem de conexão com a universidade,para desenvolver bró-
formai do Dr. L L. Thurstone essaqualidade,propondoenigmasdo ti- pria educação científica e profissional. O único limite está em tlue,
po desu: "Saponha a 'Bia dirnim.JhJ mais pesada em vez de aumentar e em muitas dessas oportunidades, será preciso, para que você goze
mais leve, quando Flada. Faça urra relação, grande quanto possfvel,dos das suas Vantagens,obter a permissãodo corpo docenteou de quem
que essa mudança proúiria." Obviamente, só um espírito bem aparelhado tenha o encargo dos diversos serviços. isso compete
por uma «npla e imaginativa sem o receio de exprimir idéiasconjectu- a você.
raig mu únicu, po&ria realizar, E•e to,tal tarefa.É essadupla qualidadeque
As oportunidadesdentro de comunidade mais amplasão tão im-
eu consideraria irnportantenum alunode curso pós-universitário.
portantes quanto as que a universidade ofe e e.•Vo pode querer des-
três os meus únicm critérios. não incluo as notas Obtidas -locar-separa outros centros em.que se estejam fazendo pesquisas dum
nos anuriores, o registro examesfeitos e outros critérios que têm sido tipo pelo qual você se interesse. Pode desejar ir ao encontro de oportu-
por OferEerem certo rn&e de previsãoa respeitÓdo trabalhoa e e u• nidades para observar ou servir em clínicas, escolas, bairros, indústrias,

'191
laboratórios ou instituições de pesquisa existentes em comunidades
Quer você se concentre, por completo, num estudo independente,
maiores. Far-se-á tudo que for possível para ajudá-lo a utilizar-se das
oportunidades aue você queira. quer trabalhe num grupo tutelado, quer divida o seu tempo entre es-
ses tipos de esforço, você será primacialmente responsávelpelo plane-
C. Durante as primeiras semanas da sua presença aqui, você terá a opor- jamento e pela execução do seu programa. Você terá de a
tunidade de encontros, em pequenos grupos, com todos os professo- seu orientador e à comissão escolhida, no começo de cada trimestre
res do departamento (e, talvez, se você ooquiser,com os corpos docen- (ou semestre), os planos experimentais do trabalho que você espera
tes de outros departamentosque se relacionemcom o nosso).Esses realizar esse perfodo. Ao fim de cada perfodo você descreverá
encontros darão ensejo a cada professor de falar-lhe sobre o seu pró. o que fez e como avalia os seus progressos e desempenhos, ou a falta
prio trabalho e interesses, a pesquisa de que se ocupa no momento, as destes. Terá de mencionar, também, os critérios que para a a•
oportunidades que possam surgir de você trabalhar com ele, as orienta- liar e julgar o seu próprio trabalho.
ções cientfficas e profissionais que segue e suasesperanças e expectati-
vas para o futuro. A finalidade desses encontros é a de dar-lhe a opor- Você terá a oportunidade de unir-se a um grupo básico de encontro,
tunidade de um esclarecimento inicial Sobre o seu próprio campo de composto de vários dos seus colegas e de uns tantos membros do cor-
e fixar alguma impressão sobre os professores com os quais
6 po docente. que cada grupo seja integrado por seis a oito
venha 'á trabalhar.
doutorandos e quatro a seis professores. Tanto quanto possível, cada
aluno participará do grupo em companhia de seu orientador, pelo
Você terá de escolher, tão logo se ache preparado, um orientador do menos, algum dos seus consultores. Será um grupo completamente
seu tabalho e, pelo menos, dois professores a mais, para consultas. diverso daquele com o qual voe realiza o seu trabalho. Dará oportu-
A escolhd do orientador e a composição desse grupo cabem inteira- nidade a que você se encontre com os outros, enquanto pessoas; a que
mente a você, dependendo, apenas, de que obtenha o consentimento você analise os sentimentos e as atitudes inter:individuais; a que você
dos profe$soresque O servirãó. A função do seu-orientadore da co- tome mais consciênciade você mesmoe do impacto que você produz
migZo é a de responder às cona.lltas que-você lhes faça sobre quais- sobre outrem. Ensejará também mútuo feedback no qual os outros
O
quer probtemas; de mantê-lo informado sobre recursos de que você informem sobre o modo como vêem o que, em você, lhes parece fraco
nb tenha conhecimento; de indicar-lhe o que lhes par.eçafraco no ou forte, e você faça o mesmo em relação a eles. Isto se aplica unto ao
prograrna que você esteja desenvolvendo e discutir com você as várias corpo docente quanto aos alunos, A primeira finalidade desse grupo
que se lhe ofereçam, em relaçãoao trabalho que e e u• de enconfrO é a de dar a todos os seus membros a oportunida&
de
A final do que você faça é sua, do estudante,não melhorarem sua comunicação interpessoal e de crescerem e se dese ••
da comissão escolhida. Esta não dará aprovação nem desaprovação volverem como pessoas. O encontro se fará inicialmente durante um
formais ao seu plano. É função dela atender às suas consultas e dar. fim de semana completo e, depois, com os intervalos que
vocês es•
lhe toda a ajuda possfvel para que você desenvolva, enriqueçae leve a mos desejarem e planejarem. Em termos gerais, espe a•se. uevocê
te-
cabo o nu programa de trabalho. nha alguma experiência de grupo de encontro, durante
cada um dos
anos em que você esteja na universidade; O grupo.de encontro
Nio é preciso we esse grupo a trabalhar com você duran- não é
uma exigência, mas acredita-se que a maior parte dos alunos
te os watro anos. Se os seus interesses mdarem, você pode optar gostará
de aproveitar-sedessa oportunidade.
Ia ecolha de outro orienudor e de um grupo diferente de consultores.
É privilégio G, Durante os próximos quatro anos você apresentará evidências que de.
E. Muito seu trabalho se comporá, nauralmente, de estudo indepen- verão provar, ao final do perfodo, que você é um cientista do compor-
&rge. E prov"el, no entanto, que você prefira trabalhar num grupo tamento, informado e capaz de fazer trabalho criativo de
tutetr, ligado ao seu orientador, e este está preparado para aswmir pesquisa e de atuar em boas condiçõeà de ordem profissional, mere-
Durante certos perfod0$ de tempo, você poderá cendo, por isso, que se lhe dê o título de doutor.
Eh• mais útil o trabalho nesw grupo vinculado a outros professores, Essa evidência será cumulativa e incluirá os relatórios dos seus t a•
enriq,iÇarn os seus. balhos, durante cada perfodo, assim como a maevocê faça

192 193
deles. Incluirá, também, até as primeiras coisas que você tenha tenta- l. São os os critérios que presidirãoo trabalho da bancaexa-
do, ainda que, mais tarde, possam vir a ser considerados esforços inci- minadora:
pientes. Você poderá querer por exemplo, visualizarum campo que 1. A aptidão revelada e o que você promete nas suz contibuiç&s
você imaginou ter algum interesse.Muito bem, faça-o, escreva a res- ao conhecimento. O juízo, sob esse critério, se baseará no traba-
peito e coloque seu relatório na pasta que lhe serádesignada. Guarde lho de pesquisa que você tenha apresentado, assim como em con-
uma cópia,para você, de modo que tenha sempre em suas mãos, todos
tribuições teóricas significativas. Considerar-se-ãoa qualidadedo
os documentos que forem entregues à universidade. pensamento teórico criativo que se inclua nos seus projetos; a ade-
Tomando ainda o mesmo exemplo, além do reconhecimentoque quação da metodologia científica e o grau de contribuição signifi-
faça de dado campo de observação,você talvez possa interessar-se por cativa ao Conhecimento testado.
uma pequena pesquisa, nessa área. Consultará os membros da sua cou 2. Cornpetênciaprofisiona/ e Eu promissor. Os métodos
missão sobre o de tal pesquisae sobre os meios de realizá-la. usados pela banca, nesta área, variarão, de certo modo, conforme
Uma vez .levadaa cabo, escreverásobre ela e o texto será colocado em o seu de especialização.Haverá material na sua pasta,refe
sua pasta. rente a esse tópico, O juízo se baseará em apreciaçãoes-
Você se interessar aindaopor um tipo diferente de observa- crita, feita pelos que estão bem familiarizados com sua atividade
ção, digamos, das práticas de uma cl (nica de doentes mentais, de um profissional — por exemplo, colegas e superiorescom quemvocê
sistema escolar ou de uma indústria. Nesse caso, o que você escrever a tenha trabalhado, se você se acha num setor cl (nico, colegaSe su-
respeito será arquivado. Mais tarde, você pode incumbir-se de algum pervisores dos setores.educacional, industrial ou de computação,
projeto, numa escola, numa indústria ou dentro da comunidade. Tam- se você se especializou em tais áreas. Na medida em que se adap-
tarem à sua especialização, serão considerados os seguintesel+
bém isso '.podeconstituir parte da comprovação do seu trabalho. Em
prosseguimento, pode ocorrer que você escreva artigos teóricos, rela- mentos: sua perícia no campo profissional; a probabilidade de que
tórios de casos ou da sua experiência como estagiário, ou, ainda, estu- você venha a ser um -Ifder fecundo nessesetor; sua atitude para
dos sobre pesquisasmais elaboradas.Alguns dessestextos serão,por com você próprio, para.com o seu trabalho e para com os outros;
sua qualidade, dignos de publicação, e espera-seque você prdvidencje sua eficiência nas relações interpessoais, enquanto envolvidas na
sua atividade profissional; e sua compreensão pessoal dos proble-
sua divuigáção num perfodo adequadowTambém aqui, uma.-consulta
mas que um profissional deve enfrentar, na sua área,
ao orientador pode ser útil ao aperfeiçoamento do trabalho e ésEblha
da via adequada à sua publicáção. Caso você se especialize num campo de aplicação profissional, co-
Esperamos ter dado um esclarecimento geral Sobreo modo como mo indústria, cl (nica, psicologia infantil, ou ensino, ter-se-á em vista a
você comprovará ser um profissional competente e um cientista fe u • proteção do interesse da sociedade, através de prova oral ou escrita em
que se teste o tipo de conheCtmento necessário à atividade profissional
que af se deva exercer, de um modo responsável.
H. A avaliação do que ficar evidenciadoe a decisãosobre a sua aptidão
para receber o tftulo de doutor, serão tarefa de um grupo de cinc.o. Es-
3. A e te €o e pmfundidade de wa aprendizagemno
do, A avaliação, nos termos deste critério, basear-se-á, al pla e •
sa banca examinadora, escolhida pelo departamento, compor-se-á, erv
te, no estudo do que você tenha evidenciado e registrado na sua
sua maioria, de cientistas do Comportamentopertencentesa outras
pasta — trabafhos escritoswamostras, obseÑações, levantamentos,
universidades.Você e a comissãocom que trabalhepoderão indicar
relatórios de pesquisa —assi o o por meio de exame oral.
pessoas, que lhes pareçam competentes, para integrar a banca exami-
nadora, mas a decisão final caberá ao Corpo docente do departamento.
J. No correr dos quatro anos, você se submeterá
às provas que se lhe ofe-
R função da banca examinadora é a de avaliar os dados contidos na reçamuVocê mesmo poderá pedir a seg orientador que o deixe
Sua pasta e conduzir exames orais ou escritos adicionais, a fim de de- fazer
exames preliminares de doutorado, realizados em anos
terminar Se a sua contribuição ao conhecimento nas ciências do com- anteriores,ou
requerer provas escritas ou orais, depois de certo tempo de trabalho,
portamento justifica a concessão do título de doutor,

194 195
g fim de ajudá-lo a apreciar, por sua própria contà, o desenvolvimento
desde o. começo, em nível experiencial, com problemas reais que chamam por uma
verificado. As notas dadas e as avaliações serão pára o seu uso pessoali
solução. Não se trau só de "problemas" que os outros lhe propõem.
n'O eonstiundo elemento para o julgamento final de seu.trabalho.
Valerb como um diagnóstico a respeito dos seus objetivos, visando a Claro que o programa focaliza, na aprendizagem, o que é simificativo para
indicar-lhe está mais forte ou mais fraco, na sua preparação. o aluno. Não é acidenül o fato de aue nada se tenha ditp sobre o ato de ensinar. O
A:gere-se, insistência, que você passe por um "ensaiode aprecia- ensino, no sentido usual de dar aula e esparzir conhecimento não soliciudo, é irre-
dirigida por wa comissão e outros membros do corpo docente, levantepara o nosso programa.
alm;ns meses antes de seu exame pela banca integrada por elementos O que o programa põe em foco é necessidade de proporcionar um clima
de fora. Tratar-se-á,ainda, de um simples-diagnóstico.Feito o "en- psicotvco adequadoà aut"irigida e significativa, Isfo•quer dizer li•
saio", você consultará individual ou coletivamente os membros do cor- berdade para ter idéias fora do comum, sem correr o risco de ser rudemente castiga-
po docente que o dirigiram, para verificar em que áreasvocê parece do. Quer dizer a possibilidade de ter à disposição imen" dose de recursosesti-
deficiente e os meios pelos-quais você possa apresentar-see a seu tra- mulantes — situações comunitárias, máquinas de ensinar, oportunidades no labora-
balho, de maneira mais adequada. tório, seres humanos em atividade criadora, tanto quanto Os recursos de rotina,
K. O pagamento de sua educação profissional será a taxa usualmente co- mo livros, filmes, gravadorese coisas semelhantes.Li e d•de, estfmulo, o p ee •
brada que fazem cursos de pós-graduação,com tempo integral, são humana sobre os propósitos e as frustrações deste ou daquele — eis o que con9
para a obtenção do título de doutor. titul o clima adequado a essa espécie de aprendizagem que tem caracterfsticas pré-
õrias.
Em tudo isso, o professár desempenhaum papel tão diffcil, embora muito
O FUNDAMENTO LOGICO DO PROGRAMA diferente, quanto o do lente convencional. Tem de ser imaginoso para providenciar
Muito do seu fundamento lógico básico, assim como os pressupostos sobre os recursos mencionados sendo ele próprio um desses recursos conforme a con-
os quais ele assenta, Eham-se claramente implfcitos no próprio programa. Toda- veniêneia e o desejo.do aluno. Vê no aluno uma pessoa e ele próprio reage como
via, elvez seja bom tomar explfcitos essespresatpostos. pessoa. É mais livre de ser assim, porque não tem poder algum o aluno. Pode
tirar a máscara e ser, diante do aluno, tal qual é — uma pessoacom atitu&s, i te es•
O mais significativo é que o plano se constrói a partir da hipótese de que ses, sentimentos, propensões e o jeti os,•
O e quer apnnder, desde que se lhe ofereçaambienteadequado.
Pouwfssimos educadores acreditam nisso, apesar da?didência de pesquisas feitas, O programa, como foi esbóçado, baseia-se, -fundamentalmente,na auto.
na forrrus mais inferiores de vida, para dar.apoio a esseponto de vista. Rae e na auto-avaliação, promovendo, assim, verdadeira criitividade. Nb se trata
bs e minhocas escolhem mais complexos, com problemasmais difíceis de porém, de auto-avaliação insulada e autista, pois o contfnuo feedback c@moutros
resolver, •a do se lhes -d' oportunidade, Assim, em nosso programa, o aluno está estudantese com a faculdade dá uma dimensão de à estimativa que o alu-
continuamente trabalhando com problemas não resolvidos que lhe parecem impor- no faz de si mesmo. Apesar disso, o julgamento final compete ao aluno, que pode
untes para seus objetivos e desenvolvirnento. Tenta resolver os problemas com que enveredar, se for essa a. Ala escolha, por um curso de investigações e de aç50 que a
se depara.Hobb$o diz bem, ao afirmar quá a função do professoré, "peloseu todos os outros pareça absurdo.
exemplo e pelos seus propósitos, estimular os alünos ensinar-lhesa arte de pre- O programa acaba inteiramente com o mecanismo dos testes, provis e ava-
em dificuldades s6 controláveis por sua própria ) liações que, desgraçadamente,se tornaram a característica central e.a nota distintiva
A aprendizagem do aluno um raras na malidede, desde o in (cio. Quer tra- da educação norte-americana. Assim, o aluno pode ler um livro pelo que este contri-
'baltw num exola, numa clfnica, numa indústria ou num laboratório—como sini- bui para a sua aprendizagem e não, si ple • e te,para apanhar, aqui e ali, os itens
ples ou como participante de atividadis em tais situações defronta-se, que provavelmentecairão na prova. É forçado a evoluir no seu próprio rumoe a
descobrir direç6es que lhe sejam em vez de contar, passivamente,
com as recompensas que irá receber sob a forma de notas.
texto ap • udo no "A • ia Cou • O programa esboçado visa a desenvolver a pessoa como um todo — não
ca Edueaüon", 1%5. simplesmente alguém repleto de informações, mas alguém que exista num relacio-

196
197
namento significativo para com os outros e para consigo mesmo, Nos grupos de
encontro, o aluno a oportunidadede se tornar mais uma pesoat mais auto*
consciente e mais compreensivoem relação aos outros. Não se transformarásim- Capítulo
X
plesmente num técnico rfgido, resultado demasiadamenteevidente de muitos dos
programas de pós-graduação em ciências, mas especialmentetrágico nas ciências do
comportamento.
Um dos aspectosdo programaque pode intrigar a muitos leitoresé o uso
(em larga escala ou inugralmente) de examinadores de fora, na decisãoa tomar so-
bre se o candidato mereceou não um título de Ph.D. Não advogo especialmentea
avaliação feita por estranhos,a qual pode ser tão falha quanto a do próprio corpo
docente da faculdade. Tem ela, porém, a enorme vantagemde permitir que o pro-
fessor se faça amigo do seu colega mais jovem, o aluno, Ficará ansiosopara vê-lo
sair-se ajudá-lo com conselhos e advertência — em vez de, periodicamente,
tenur apanhá-lo" nas provas, ou pretender excluí-lo do curso para mostrarque
ele, o professor, é "inflexível". Livrar-se-áo professordo duplo constrangimento ALGUMAS IDEIAS SOBRE
em que habitualmentevive — de um lado pelo desejode ser -alguémque ajuda, ADMINISTRAÇÃO EDUCACIONAL
humanamenu, os seusalunos e, de outro, pela necessidadecontfnua.defazer o pa-
pel de juiz e de executor, ao mesmotempo. Livre, o professorse incumbiráapenas
de uma tarefa a dé facilitar a aprendizagem dos seus alunos. Não há dúvidade que o ponto de vista apresentadoneste
/ivro é contagiosoe insinuante. Se as salas de aula forem per-
Finalmente, o programa permite que o aluno se torne, como pes.soa,um
profissional completo — um cientista em exercfcic, um facilitador de aprendizagem
meáveisà nossa opinião, logo se suscitarão problemassobre a
em alguma data futura, depois de receber o seu título, mas durante todos os
administraçãode uma escola. Será possível adotar-seorientação
dias de todos os anos do seu u so•de pós-graduação.Aprende sendo e fazendo, e, semelhante? Vi-me compelido a formular breve exposição a res-
paramim, este constitui o melhor tipo de aprendizagem, peito dese complexo tópico. Espero que ela seja,pelo menos,
sugestiva»e tenha alguma utilidade'para os que carregam tal
ônus que se vai tornando cada vez mais pesado em n055ãépoca.
POS—ESãlTO
Como nunca fui responsávelpela administração de algum instituto ou siste-
A muitos, o programa que delineei parecerá impraticável, remoto, es ueCi• ma educacionali este capítulo será breve. Não gosto de escrever sobre áreas em que
do das realidades do ensino superior. Entretanto, o fermento agora tão evidente nas não tive experiência direta. Todavia, fui por um grandecentro de acon-
industriais e em institÜições tão estáveiscomo a Igreja Católica Roma, selhamento e por vários grupos cwpesquisa e pprendi muitas coisas sobre adminiy
na começa a insinuar-se também na educação amais conservadora das nossas ins- tração, da maneira mais difícil. Cometi a minha porção de erros. Tive também a ex-
tituiç6es. Assim, talvez as minhas propostas venham a ressoar, agora, num acorde periência bastantecompensadora de ver tanto uma instituição quantoos ihdivfduos
mais sensível do que poderia obter antes. que a compõém crescerem e florescerem. Em tais ocasiões, creio ter dado a minha
contribuição ao "Crescimento das pessoaS", para mim, a mais importante função de
um administrador.
Muito do ponto de vista que cheguei a sustentar, relativamenteà adminis-
tração, tem sido afirmadopor outros. Gordon (1955) oferece-noscompreensiva
análise e duas histórias de casos. Excelente apresentaçãofoi feita pelo falecido Dou»
glas McGregor, há mais de uma década (publicada em 1961). Apreciei, de modo par-
s»ticulare sua exposiçã0E porque nela se formvla o que eu senti ter aprendido, nas mv
nhas tentativas de dirigir uma organização.
198
199
McGregor desenVolve uma "'Teoria X" que fornece a base de muito
do o •
rente comportamento executivo. Propõe, também, uma 'Teoria Y" baseada sença poderia ser facilmente reggstrada e a sanção aplicada aos
na ex- que não atenaessem
periência e na pes uis •o eciências sociais e do comportamento, à convocação.Sem dúvida, o diretor ficou surpreendidoe,
que servem de Certamente,suasopie
fundamento a todo este•livro. O que escreveu acerca dessasteorias ni6es sobre a natureza humana foram confirmadas, quando descobriu que
refere-seà orga- suasde-
nizaç50 industrial. Gostaria de parafrasear suas idéias, colocando-as terminações eram formalmente aceitas, mas, depois, completamente
num contexto desatendidas
educacional. Ao foz •lo,utilizo-me, amplamente, do seu trabalho. através do uso de meios sutis e indiretos.
Mas o administrador que é "brando" que só quer harmonia, que
tenta ser
A OPINIÃO CONVENCIONAL amável e condescendente,também se decepciona, caso adote e tente
aplicar essa
teoria convencional. Suas persuasões caem em ouvidos moucos. Verifica
que profes-
O administrador educacional que segue o padrão usual de arcar com a res- sores (e alunos) abusam dele. Exigenvlhe mais e mais, pois ele é pessoa
benevolente,:
ponsabilidade de sua escola ("Teoria X" de McGregor) vê sua tarefa como a de uti- mas produzem cada vez menos,se_se trata de empregar os seus próprios
esforços,
lizar a energia do corpo docente e dos alunos, a fim de ir ao encontro dos objetivos Assim, ainda uma vez, sua opinião sobre a natureza, tanto de professores
quanto de
e das exigências do sistema educacional. Em primeiro lugar, considera-seo organiza- alunos, é confirmada e ele acabará, provavelmente,por se tornar cético. Não
raro,
dor responúel pelo dinheiro disponível, equipamentoe gente, de modo a realizar no seu ceticismo, dá uma guinada no sentido de se aproximar dos "duros"
O objetivo educacional que tem em mira. Isto quer dizer que deve motivar e dirigir
Embora as práticas de grande número de administradores educacionais
.o docente e, atraüés dele, os alunos; que sua função principal é a de contro- (provavelmente da maioria) se su eta •d esse método tradicional de
lar as e modificar o comportamento de todos os membros da escola, de tal administra-
são, tal ponto de vista entra em choque, crescentemente, com a experiência
modo que a meta educacional seja alcançada. No cerne de sua pol (tica está a OPV e a pes•
quisa das ciências do comportamento e com o que se vem tentando fazer
ni50 de que, se se permitir que professores e alunos executem suas tarefas com os em diver-
sas empresas industriais, progressistas e bem sucedidas. Vejamos, pois,
meios a seu alcance, uns e outros se mostrarão apáticos ou resistentesao objetivo o que se pas-
sa quando empregado um método alternativo.
eúlcacional. Com a faca e o queijo na mão, o administradordeve, pois, premiá-los,
puni-los e perwadi-los, de modo que todos trabalhem para a realização do objetivo
que ele próprio, O seu conselho de direção ou 0 Estado definirem como o que o • UMA VISÃO MODERNA
à "ecbcação"l As premissas da teoria sobre administração a que McGregorchama "Teoria
Y" foram exemplificadas em todos os capítulos anteriores deste livro. Os p essupos•
Nesse uwal método de administração educacional,está implícito certo mó-
tos sobre que se bàseia essa teoria, as espéciesde evidência oriundas das ciências do
do de ver a natureza humana. Implica que tanto o professorquanto o aluno são a•
comportamento que a apóiam, a visão da natureza humana que a impregna, o sti•
uralmente "ticos e ten&m a evitar qualquer esforço persistente.Considera que
tuem a espinha dorsal do que eu expus. Conseqüentemente,bastar-me-áapresentar,
n'O se dispõem a asaamir responsabilidadee preferemser guiados ou condu-
em termos resumidíssimos, a minha versão sobre tal teoria, no que esta se relaciona
tidos. É dessa opinião. que professoresf alunos (mas especialmente
com a administraçãoeducacional.
últimos) são indiferentes quanto à realização dg objetivo educacionale só tra-
balhrn pra atingi-lo se se institui uma apropriada série de controles do seu'com- À luz da teoria dé McGregor, a administração educacional é responsável pe-
Ia dós recursos da instituição — os professores, os alunos, os fundos, o
equipamento e os materiais, de modo que todas as pessoas nela envolvidaspossam
Uma vez que, no capftulo VIII, "pus, de uma forma mais emocional,vá. trabalhar, juntas, para definir e reãliZar próprios objetivosedÚcacionais.A mo-
rios dos preswpostos Wbjacentes a esse tipo de método,aqui não é preciso que me Ia mestra da organização é a motivação para o desenvolvimentoe a aprendizagem,
mub. Acrescentaria, apenas, que administradores e professores que suste • inerente a cada pessoa. A tarefa do administrador é a de adaptar as condições o ga•
um essa teórica podem gr considerados "duros" ou "brandos". Quem é nizacionais e os métodos de operação, de•tal modo, que. as pessoas possam realizar
cujos controles são, em regra, do tipo cuja disciplina é de asia•
melhor os próprios objetivos, promovendo também os objetivos da instituição, de-
&nenu estriu, acha que Ala opinião sobre as pessoase, portanto, sua teoria, são
finidos de comum acordo. O administrador verifica que seu consiste,ante;
ptxque os Albordinados sabotam, continuamente,a sua política. Por de tudo, em remover obstáculos, tais como a rotina; em criar oportunidadesdentro
recentemente, um diretor determinou que cada professor se das quais professores, alunos e administradores (incluindo ele mesmo) podem fazer
pre-
— tasse em poltrona numerada, nas reuniões de Convegação, de modo que a uso, livremente, das suas potencialidades;em estimular o desenvolvimentoe a mu

201
de cinquenta membros. Esforcei-me por construir processosor*nizaúnai$ oo i•
dança; em criar clima, dentro do qual cada pessoa possa acreditarque se valorizam liáveis com a visão da poterwialidade humana que impregnavao nosso trabalho de
as suas potencialidades, que se confia na sua capacidade e responsabilidade,que se aconselhamento.Embora cometêssemosmuitos funcionamos bem, à
dá apreço a suas aptidões criativas. sa maneira heterodoxa, e penso que é justo dizer que fomos decididamentebem
sucedidos no &senvolvimento de pessoas. Conhecemos poucas organizaç&s em
Do que ficou dito deveria tornar-se evidente quea responsabilidade,tanto que o pessoal dirigente revelasse tão dedicada lealdade ao grupo e fosse tão p odu•
quanto a autoridade e a iniciativa, se difundiriam por todo o grupo, a fim de faze •
tivo. As horas de trabalho nada significavam, e, peta noite a dentro, nos fins se
se o melhor uso de todo conhecimento, habilidade e originalidade disponíveis, ele-
manae nos feriados, os membros do corpo dirigente eram encontradosno
a do•se,assim, ao máximo o acerto das decisões.Se tal polftica é seguida,também
a desempenhar as tarefas que eles próprios se atribu fam.
se.elevaao maximo o desenvolvimentoindividual de cada um.
Cumpre ao administrador empenhar-sepessoalmentetanto na sua função Agrada-me a circunstância de que, enquanto procurávamos, às apalpade
executiva quanto na abertura dos possíveis caminhos para o seu corpo docenWe Ias, processos organizacionais mais eu ia certo número de per-
para os seus alunos. Não se apaga a si mesmo,mas utiliza as suas qualidadesde lide guntasque sentia ter de fazer continuamentea mim mesmo.Os administradores
rança, sua visão, sua informação mais ampla, todas as características que o conduzi- de escolas e de sistemas po&m receber algum estfmulo novo e, tal-
ram a situar-se numa posição de responsabilidade,sob o impulso positivo de uma vez, algum desafio, da leitura dessas Apresento-as, aqui, sob a forma
organizaçb viva e em mudança. Parte de suas funções é a de servir de catalizador como as escrevi em 1948.
para a libertação da capacidade de outros, mas estará falhando na sua tarefa se, ao
mesmo tempo; não liberta e desenvolve a sua própria potencialidade. Seu ofício é Devaneiosde um Administrador
fazer as pessoas crescerem, mas ele mesmo é uma dessas pessoas.
1 Confio na capacidade do grupo o dos que o integram, para ir ao
O treinamento prático, em tal sistema educacional, deveria considerar o• encontro dos problemas que enfrentamos, ou, basicamente,só confio em
mo seu problema mais importante a respostaa esta indagação: "Como gerar ou de- mim próprio? Vejo que, quando assumo o risco, a Incerteza de Pôr minha
senvolvermaior número de líderes facilitadoresde aprendizagem?"A finalidade confiança no grupo, a engenhosidade,a responsabilidadee a fo ça•semul-
seria a de colocar tais Ifderes nos nfveis da administração, da docência e da discên- tiplicam. Se tenho medo de o fazer, e confio em mim próprio, daf realltam
de
cia — pessoas capazes de ouvir, compreender, aceitar, esclarecer,comunicar, passividade no grupo, certa disposição para deter-see criticar, enquanto se
um. grupo a experimentar, com maior nitidez, os
ajudar tanto ao indivíduo como a ressecam iniciativa e o esforço construtivo.
que dificuldades, os desejos, as frustrações,
fins correntes e mutáweis a 2. Deixo o grupo livre para uma discussão criativa, dispondo-mea
efetivamenteautodirigidos.
os antagonismos, de modo a que possaci' vir a ser mais cãnpreender, aceitar e respeitar todas as atitudes ou me ponho, sutilmen-
apoderar-se de certos artifícios
Esse tipo de treinamento é difícil, porque não basta te, a tentar a manipulação da discussão do grupo, de modo a levá-lo
uma pessoa, alguém capaz de
de método ou procedimento. O I (der precisatornar-se eu quero? Acho que isso testa, muito profundamente, a minha filosofia bá-
mais diversos pohtos de vista e sentimen-
realmente eqtender e malmente aceitar os Sica Quando há genuína boa vonude para com todas as atitudes a se
de vista e sentimentos, sem os impor aos ou- exprimirem tanto críticas e hostis quanto construtivas — o grupo nnte
tos, expresspdo seus próprios pontos
prático cuidará, essencialmente, de õroporcionar opor- que se trata de organização *1a, e responde com vigor, com lealdadee com
tros. Por iS%0,o treinamento
a pessoas que facilitarão o desenvolvimento de outros responsabilidade.Quando o corpo de funcionários é tão livre para dar a
tunidades de desenvolvimento
indivíduos ou grupos, contribuição das suas atitudes quanto o corpo de profissionais, esse p i •
se harmoniza cfpio ulvez seja mais intensamente operante. Ao contrário, se a liberdade
Essa, em resumo, é a teoria de administraçãoque melhor não passa de uma pseudovariedade, desenvolve-se a suspeita,
aqui, só a expusemos em termos
com o ponto de vista expresso neste livro. Mas,até
a remediar isso. 3. Minha participação, como I (der, fa •seá através da honesta e •
abstratos.TalVez um exemplo possa ajudar
pressão das minhas próprias atitudes, mas sem a tentativa de controlar as
atitudes dos outros? Numa situação tal como a de um grupo dirigen-
PEQUENA ILUSTRAÇÃO t', em que o meu ego está com mais certeza envolvido, é tão importante
Centro de Aconselhamentoda que eu exprima o que sinto quanto o faça o meu próximo. Mas isso testará,
Duranu os doze anos em que fui cnefe do
cresceu até se constituir aproximadamente
Universidade de Chicago, a organização 203
202
de novo, intensamente,a filosofia do Ifder. Pode ele exprimir sua atitude de auxiliares acha que eu tenho sido•ditatorial demais ou que tenho agido
de modo a implicar: 'Será melhor que você pense a mesmacoisa", ou, ao com favoritismo, só poderá ser construtivo dizê-lo a mim. A experiência
contirio: "isto é exatamente o que eu sinto, mas outros podem ter atitu• pode ser penosa, mas resulta em crescimento. Se isso, porém, for recalcado
d$ muito diversas" e só se exprimir em oposições a alguma nova política proposta por mim,
4. Conto com atitudes básicas para a motivação, ou penso em p o• a tensão não se dissolve, antes ameaçaacentuar-se. .. Daf termos achado
cessos superficiais de motivar o comportamento?Sentimos, atraves de nos- eminentementeimportante a tentativa de criar uma atmosfera dentro da
sa experiWa, que, quando um problema é percebido pelo grupo, é o si• qual atitudes reai$se exprimam em função dos seus objetos reais. Quando
&rado livre e abertamente, e o modo de enfrentá-lo é descoberto e expe- tal oco&e, a tensãose reduz, e, quase inevitavelmente,as percepções(e
rirnentado pelo grupo, nesta linha se segue a aç50. Se o processo não foi portanto, os comportamentos) se alteram. Em tal atmosfera o estado de
ase, nenhuma dow de concordância formal levará a ação construtiva espírito nem sempreé superficialmente amável, mas é honesto e real, como
O Vupo aparenta-sea um organismo, e, quando se sente nitidamente i • se se houvesse chegado a um bom ancoradouro. (Rogers, 1948.)
ocorre, inevitavelmente, a ação. Quando se acha em divergência,
a é confusa ou conflitante, e não haverá polftica, por mais elegante- Comentário
mente estereotipada, que possa fazer com que as coisas se passem diferen- Antes e depois de escrever essas indagações, tive sob minha responsabilida-
de à liderança de vários grupos, com diferentesgraus de êxito. Em relação a um de-
les, acho que fracassei, como líder, e alguns dos fatos que ocorreram foram desas-
5. Disponho-me a ser responsávelpor aquelesaspectosda.ação que
trosos. Ao me esforçar por compreender esse penoso insucesso,concluf que ele se
0 grupo me delegou? Se não quero assumir a responsabilidade,devo dizê- •verificou porque o meu comportamento foi de tal ordem que não pude dar respos-
Io. Se a aceito, sou obrigado a dar-lhe execução, tas afirmativas às sete perguntas relacionadas acima. Estava ansioso demais pelos
6. Confio ern que o indivíduo realize a sua tarefa? Aqui mergulha- "resultados" e o que aconteceu foi que eu e todos os membros do grupo ficamos
mos, diretamente, na questão de saber o que é supervisão.Se supervisãoé decididamenteinsatisfeitoscorn os resultados.Sentia que não havia "tempo sufici-
a incumbência de um feitor que dirige o indivíduo sobrecomo ele faz o ente" para uma confiança total na capacidade do grupo, nem permitir que.as
trabalho, entb, penso que muito do que tenho escrito é negado. Che- tensões se manifestassemabertamente. Daf resultou que a confiança posta no g u•
gunos a atriuair nwo termo supervisão. Consideramos que po foi, numacerta medida,incompleta, e o clima psicológico, em igual medida, o de
o de *Jpervis50 é a oportunidade que se oferece à pessoade deter: uma pseudo•li e dade.A experiência é penosa demais para ser recordada, e mal pôs:
ming, pel• reflexão, mais claramente, os problemas com que se defronta so crer que tenha falhado, tão significativamente, na realização daquilo em que tão
no seu as desagradáveis exigências que se lhe fazem e.o meio de profundamente creio.
se adaptar a elas; as experiências malogro que tem tido no seu aconse-
A experiência ensinou-me, contudo, uma lição definitiva. Se alguém está a
Ih ,• os problemas que sinta na sua orientação pessoalao corpo diri- exercer controle sobre o grupo, segundo a 'Teoria h", então, é sumamenteimpor-
Acho que quanto maior for a responsabilidadeque se dê ao i di f• tante que o faça às claras..Muitas organizaçõesfuncio am com toda a eficiência sob
na Aja brefa, tanto mais intensamenteele a desempenhará,mas, se um tipo hierárquico de •auto idadecontroladora. Isso é indubitavelmente
preferível
essa responsabilidade, então, sua atitu& é a de se li- a que uma organização funcione, sob a "Teoria Y" e de uma
pseudo maneira. Na
mitar a dizer: "eu trabalho aqui" determinação@a?_ çondições a -vigorar numa sala de aulas a autenticidade é, talvez;
7. Quando ocorrem uns&S, prowro tomar possível que elas ve- ê*itõ.SõáTrnjnistrador só pode assegurar pe-
ima.
Ñ• , abertarrwnu, i luz? Penso cve os administradoresse inclinam a quena parcela de liberdade aos membros da sua orgañização, deve
ser completamen-
estb agindo bem, quando nenhuma tensão se evidencia. Com ba. te claro a respeito do controle que pretende exercer sobre
os setores restantesdas
msa parece mito mais sudável aceitar o fato de uma atividades de todos. Foi, pelo menos, o que me ensinou a penosa
experiência do
tms'o como básico, e a lidar com ela. As pessoas,porque são pes• meu insucesso.
estão fadadas a ficar, às vezes, insatisfeitas, a se sentir à margem
gupo, ciumenus, críticas em relÇ50 aos outros, etc. Passamos
ga • CONCLUSA o
obieto. Se o corpo
qtn a uns50só é perigosa quando se desviado seu Um administrador educacional pode agir de modo adaptável a toda a nossa

205
auxi-
maneira de encarar o tema deste livro. Pode operar de modo a envolver os seus
e as aptidões destes,a lwarem
liares, como participantes, a utilizar o conhecimento
isso
conta a básica tendência humana para a aprendizagem e a auto-realização. Fazer
não é fácil e a medida em que se pode alcançá-lo depende, fundamentalmente, da
atitude do administrador. Contudo, vale a pena o risco, uma vez que só desse rrwdo
se utilizará a estimulantes potencialidade do grupo pata levar avantea organização
—e os membros que a constituem.

REFERENCIAS
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MCGREGOR, D. M. The humanside of enterprise. In: BENNIS, w.G.; BEN
NE, K. D. CHIN, R., ed. Theplanningofchange. Novalorque,Holt Quarta Parte
Rinehart & Winston, 1961, p. 442-431. (Originalmente,palestrano Massas
chusetts Institute of Technology, 1957.)
collegeper-
ROGERS, C. R. Some implicationsof cliànt-centeredcounselingfor
Measurment, .• 0- ,
1948.
sonnel work. Educational & Psp\ological RAMIFICAÇÕESFILOSÓFICAS
E SOBRE VALORES

206
4
INTRODUÇÃO A QUARTA PARTE
Já se terá evidenciado, claramente, que a orientação que permeia .estelivro
não é .umatécnica nem um método de facilitar a aprendizagem, Toda a considera-
950 do nosso tema situa-se, obviamente, num contexto pessoal,contexto filosófico
e de valores numa visualização do objetivo de desenvolver a pessoahumana, Creio
que isso ficou impl fcito ao longo da obra. Parece-me, porém, interessar ao leitoi que
se façam êxpl(citos esseselementosbásicos, de fundo.
Assim, nesta quarta parte do livro, começarei por tentar expor os meus
pontos de vista mais fundamentais sobre as pessoase a capacidade que têm de viver
e de estar em-inter-relacionamento.Exprimir-me-ei de um ângulo muito pessoal.O
capítulo que se segue apresentauma tinha de pensamento e de teoria ao modo co-
mo o homemmoderno, atuandonum meie em constante mutação, com instituições
que se eSfacp!amem torne dele, pode ainda encontrar e determinar.os
lhe orientem a vida, nesta mundo O problema a enfren-
tar,Togo após, é basicamentesuscitado pelas ciências do comportamento:haverá
isto•aque se chama liberdade,para seres humanos que, segundo a maior parte dos
psicólogos, são .inteiramentecondicionados pelo seu ambiente? O capftulo final,
deFta quarta parte, encara questão raramente posta em relevo. Se o ponto de visu
completo e a filosofia destelivro atingirem, com êxito, a sua finalidade, que espécie
de pessoa emergirá? Gostaremos de tal pessoa? Escolhê-la-emos para dela
fazer o ob-
jetivo em direção do qual nos movemose pelo qual lutamos?
Mas que tem a ver tudo isso com a educação? A educação, aos olhos da
mdioria, tem de cuidar de currículos, de métodos, de administração de
ensino. Con-
i testo-o com a afirmativa de que o educador de amanhã, seja o mais humilde
profes-
sor de um jardim de infância ou o Reitor de uma grande
Universidade,terá de
ao nível pessoal mais profundo, que posição assumirá perante
a vida. A menos quo

209
tenha verdadeirasconvicções quanto ao modo pelo qual virá ao encontro dos seus CapftuloX}
valores, sobre que sorte de indivíduos espera que emerjam da sua organização edu•
• io al, se está a manipular robôs humanos ou a tratar com pessoasindividuais li•
vres, e que de relacionamento se esforça por estabelecercom essas pésoas,
terá levado ao insucesso não apenas a sua profissão a sua cultura. Dispenso-mej
assim, de Justificar as respostas que tento dar a essas questões tão intensamente dise
cutidas. Não peço ao leitor que concorde, pois algumas das minhas idéias estão lon-
de ser corwencionais, Só lhe peço que reflita, por si mesmo,nessesproblemas;
até que saiba em que posição se coloca, e porque, pois os seusalunos e o seu públL
o cada vez mais, a esse respeito.

O SER EM RELACIONAMENTO

Este capítulo é a verúo revista de uma palestra sumamente


pesoal•que fiz numaaswnbléiada Ameriàn Personeland
GuidanceAssociation, em Dallas. Deixou-meatônito o fa-
to de que milhares'de pesoas abarrousem o auditório,
desde às 8,30 h da manhã (l), pra ouvir uma palestra so-
bre relacionamentointerpe•al. que este
contém muito de mim mesmo e, portanto, talvez contribua
para compreensão dos que D e a ele se
neste livro.
Exatamente como foi espantoso, para mim, ter de encarar milhares de ros-
tos, em hora tão matinal, experimento igual sensação,próxima do pinico, todas as
Vezes que tenho de começar a escrever um novo capítulo. De que modo poderei es-
tabelecer contato real com uma multidão de leitores desconhecidos, sobre cuja for-
mação, sobre cujas expectativas e atitudes nada, absolutamentenada, sei? Tal p eo•
cupação adquire especial profundidade, quando quero falar sobre relações interpes-
soais. Não creio que um capítulo erudito, abstrato, promova esse contato. Além
disso/ não desejo instruir meus leitores ou impressioná-los com o conhecimento que
tenho sobre tal matéria, Não está no meu propósito dizer-lhe o que você.devepen-
Sir, sentir ou fazer. Como enfcentar o dilema?
A única solução que me ocorre é que talvez eu possa dar algo de mim mes-
mo, algo da minha experiência em relacionamentos interpessoais,algo do que parea
ça ser eu próprio, na comunicação com os outros. Não• coisa fácil de fazer. Masse
eu conseguir isso, se puder aquinhoá-lo com algo de mim mesmo, então, pensoque
você compreenderáo que eu falo ou me deixará a falar sozinho, Você decidiráse

210 21h
tem alguma importância para o seu trabalho, a sua carreira, a sua profissão,a tos, o significado pessoal, até mesmo o significado que se Eha sob a intervSo con*
'
wa vida. Ala reoção poderá ser esta: 'É exatamente o que eu tenho sentido, o que de quem fala. Às vezes, também, numa mensagemque parece nio ter i po •
'
1 unho ou esta outra, igualmente válida: "0 que sinto é muito dife e • tancia maior, ouço um profundo clamor humano, uma 'silenciosa iplica" que jaz
te. Minha experiência ensinou-me algo inteiramente diverso". Num caso e noutro, encoberta e ignota sob a *Jperficial aparência da pessoa.
ISO poderá 0 se definir a si mais claramente,mais nitidamente, Aprendi, assim, a pergantar a mim mesmo: posso ouvir sons e captar o
com maior segurança. Acho que é o que vale a pena, e é algoque espero poderfa- delineamentodo mundo Íntimo de uma outa pessoa?Possodar ress"ncia ao que
ilit• . ela me diz, fazer corn que suas palavras repercutam, em mim, de um extremo ao ou-
Assim, vou compartilhar com vocês a miscelânia de uma bagagemde tro, tão profundamente,que sinu os signifiçados que ela tem medo de comunicar,
aprendizagens, que aprendi ou estou aprendendo sobre essemisterioso ofício mas gostaria de o fizer, tanto quanto os significados de que 6 consciente?
com outros seres humanos, sobre comunicação entre as pessoas. Penso, por exemplo, numa entrevistaque tive com certo jovem adolescente
Vou dividir um pouco das minhas satisfações e dos meus descontentamentos, nessa e cuja gravação ouvi há pouco tempo. Como tantos adolescentesde hoje, dise a• e
irei, A razio por que chamo a isso um ofício misterioso está em que quasenunca ele, noinfcio da entrevista, que não tinha objetivos de alguma. Quando O ire
estabelecer comunicação interpessoal ou só se consegue em parte, Você, terroguei sobre isso, disse-me de maneira ainda mais vigorop, que lhe faltava wal-
com a probabilidade, jamais se sentiu inteiramente compreendidopelo outro; quer objetivo, que não pos*lfa um só, sequer. Indaguei-lhe: "Não M nada que você
urnbém, não. No entanto, sinto-me extremamente compensado quando sou ca- gostaria de fazer?" "Nada ... bem, sim, gostaria de continuar a viver." Lembro-me,
paz, num caso particular, de com outrem. Acho
comunicar verdadeiramente muito nitidamente, do que senti, àquela hora. Sua resposta repercutiu p ofu da•
preciosfssimo quando, em certo instante, à; vezes, me senti realmente próximo, em mente em mim. Ele estaria a dizer-me, simplesmente, que; como todo o mundo,
conuto Íntimo, a outra pessoa. queriaviver. Por outroalado, talvez estivesse a afirmar, e isto me pareceu,uma
sibilidade bem evidente, Que, sob certo aspecto, a questão dó viver ou n'O se torna-
Gosto de Ouvir ra um problema real, para ele. assim, dar-lhe em todos os ,nf-
veis.•Nãosabia, ao cérto, qual era a mensagem. Queria, aperus, a i • ea os
O primeiro — ti e to, o mais simples, que eu quero, pois, compartilhar
realmente ouvir Penso que talvez seja essa, de significados que sua afirmação pudesse ter, incluindo a weñtual hipótese de que,
com vocês, é o prazer
Lembro-me que sou assim, desdeos pri- em certo instante, houvesse pensado, mesmo, em Nicidar-se'." Não cheguei a formu-
torva úta, uma minhas caracterfsticas.
criança fazia uma pergunta ao professore este lar isto, verbalmente.Tê-lo-ia assustado, o Maspenso que o fato de me
moiros dias da escola primária. Uma
perfeiumente correta a uma pergunta completamente diferente. dispor a ser capaz deouvi-lo, em todos os nfvéis, constiWiui talvez, uma das razões
lhe úva resposta
por que se lhe tornou possível dizer-me, antes de terminar a entrevista, que, a certa
Vintw-me, sempre, um sentimento de pesar e de aflição. Minha reação era: "Mas o
altura, pouco antes, estivera a ponto de estourar os miolos. Este pequeno episódio é
nio ouviu o We ele perBJntou!" Sentia uma espéciede desesperoinfantil
mse era (e é) tão comum.
um exemplo do que significa, para mim, querer ouvir, realmente, uma pessoa, em
ante • tela falta de
todos os níveis dos quais ela se esforça pot comunicar-se.
saber por que me satisfaz ouvir alwém, Quando realmente posso ou•
Vejo, entrevistasterapêuticas e nas intensivas?experiênciasde grupos
vir entro em contato com ele. Isto enriquece a minhavida. Ouvindo os ou;
quevieram a tdrt para mim, grande significado, nos últimos anos, que ouvir traz
tros, o we sei sobre o indivíduo, a personalidade,a psicoterapiae os
consigoconseqüências. Quando ouço, verdadeiramente,uma pessoa e apreendo o
tel"onarnentos interpesoais. Há, ar, outro motivo peculiar de satisfação: quando que mais lhe importa, em dado momento, ouvindo não apenas as Nas palavras, mas
realmente alwérn, é como se ouvis" a música das esferas,pois, além da men- a eleamesma, é duando lhe faço saber que ouvi seus significados pessoaisprivados,
irnediaU da seJa qual for, há 0 universal, o geral. Ocultas em todas as
muitascoisas acohtecem.Há, antegde uma aparêtEia de gratid50. A pessoa
pesoais realmente ouço, parecem existir leis psicológicas
se sente libertada. Quer transmitir-me algo mais sobre o seu mundo.
m, da irnpresionante ordem que encontramosno universo como um to• senso de liberdade. Penso que sê to a•mais acessível ao processo de mudança.
novo
e o sentir-se
do. Hi, assim, a um urnpo, o prazer de ouvir tal pessoa, em particular,
m"ie contato com 0 que é universolmente verdadeiro.
Notei, muitasvezes, em terapia, assim como grupos, que, quanto mais
Quando refiro ao pruer de ouvir uma pessoa,quero dizer, é claro, ou- profundamente posso ouvir os significadosza pessoa, tanto mais coisas ocorrem. Al-
' vf • profundidade, Isto é, ouço as palavras, as idéias, os matizes dos sentimen- go que vim a observar, quase universalmente, é we, quando' a pessoa verifica eàtar

212
ouvida em profundidade, os olhos se lhe umedecem. Vejo-a, na
acepção
real, a chorar de alegria. É como se dissesse:"Graças a Deus, alguém Com o leitor. Apraz-me ser ouvido. Certo número de
me ouviu. mas insolúveis quase me faziam explodir, ou me vi a girar minha vida, probl+
Al.*n como eu sou l" Em bis momentos,fantasio a hipótesede um em torno de cfrculos toi-
netro na sua masrnorra, a dedilhar, dia após dia, uma mensawrt em mentosos ou, por algum tempo, dominavam-mesentimentos de
código Morse: desvalia e desespe-
"Aiw6mmeouve?Hó alguém at? rança, o que me dava a impressão de que estava a afundar-me
alguém ouvir-me?" Finalmente, certo dia, es• numa psicose. Penso
uma Onue ütidinha que ele soletra: "Sim!" Essa que fui mais feliz que a múria das pessoas,por encontrar,
mfmicao liberta da nessascircunstâncias,
•otid , ei-lo a tornar, outra vez, um ser humano. Há, hoje indivfduoS que se mostravam capazes de ouvir-me e, então, de
em dia, muita gente libertar-me do caos
Vivo em cárceres privados, gente que nadaOexterioriza d0\que tem dos meus sentimentos. Tive a sorte de encontrar pessoas aptas a ouvir
no seu Ínti- as coisas sig-
mo, cuias tênues mensagens só com muito esforço se podem nificativas para mim, com um pouco. mais de profundidade do que eu
captai. próprio as
conheciá. Ouviam-me sem me julgar, me diagnosticar, me apreciar; 'me
isso parece ao leitor sentimental demais ou um tanto exagerado,gostF avaliar. Sim-
ria exp«-lhe a experiência que tive recentemente,num grupo básicode encon- plesmente ouviam-me, esclareciarfrrne, respondiam-me,em todos os níveis
em que
se situava minha capacidade de comunicar-me. Posso dar o testemunho
eo, do qual participam quinze pessoasde importantes de que,
executivos.Logo.nas quandp a gente se_açhaem angústia p%ic016gicae alguém realmente nos
primeiras sess5es da semana, muito intensas, pediu-se a todos que escrevessemalgu- ouve sem
se pôr_p a querer se responsabilizar por ri". a-téntar moldar-nos, isso é
ma certo sentimentoou sentimentosque experimentasseme que tremendamente_bom, Naquelas circunstâncias, minhas tensões relaxaram-se. Foi-me
quisesern transmitir ao grupo. Seriam declaraçõesanónimas. Alguém escreveu:$ dado pôr à luz sentimentos alarmantes, de culpabilidade, de desespero,
"NSO me relaciono com as pessoas. Tenho uma fachada quase impene- perturba-
ções que haviam sido parte da minha experiência. Se me prestam atenção, se
trWeL me toca, e nada transpira de mim. Reprimi tantas emo- me ou-
vem, sou capaz de perceber novamente o meu mundo, de um modo novo; e ir para
que quase a urn completa esterilidade emocional. A situação não me a frente, É espantoso como sentimentos antes completamente apavorantes se
mas não sei o que possa fazer." É, claramente,uma mensagemdo cárcere. tor-
nam suportáveis só porque alguém nos deu*ouvidos. Surpreende que o que parecia
Mai. tarde, ao fim da wmana, um membro do meu grupo se identificou como quem insolúvel passa'e Qlucionar-se, depois que uma pessoanos ouviu; quantas confusões
,ertwera a anonima e estendeu-se em pormenor, sobre os seus sentimen- tidas como irremediáveis voltam a fluir em curso; relativamenteIfmpidose
quando
isolamento e de frieza. Sentia que a vida tinha sido tão brutal para alguém é compreendido. Foram-me profundmente preciosos os momentos em
que
ele, que se vira forçado a viver na maior insensibilidade, não só no trabalho, co- experimentei. estar sendo escutado de modo sensfveli empático, intenso.
mo relaç6es sociais e, pior tudo, até mesrnona famflia. Ao desenvolver,grae Agradou-meeo fato de que, na época em que necessitava,desesperadamen-
ú.a/rnente. maior expressivida&, no grupo, sem o receio de ser ferido e dispondo-se te, dessa espécie de ajuda, eu treinava e desenvolviaterapeutas,pessoas
mais os sentimentos dos outros, ocorreu a experiência o pe sado• que rece-
biarfi o que lhes era devido, independentes, que nada temiam de mim e que se
rnos-
paa nós que participávamos. travam capazes de me acompanhar ao longo de um período obscuroe agitado, du-
Diverti-me e, ao memo tempo, me aWei quando, numa carta escrita algu- rante o qual eu passava por uma grande germinação interior. Tornou-se agudamente
ele incluiu este parWafo: "Quandovoltei (do nosso claro para mim que, ao desenvolver meu estilo de terapia para os outros, eu estava,
ma Emanas sem dúvida, em algu • fvelinconsciente, desenvolvendoo tipo de ajuda que
tti-h•e se foze umi Jovemque se hwvesw &ixado seduzir,mas ainda se qüeria
e poderia usar para mim mesmo.
maravilhwa corn a sensaç50 de que era aquilo, exatamente, que queria e de que pre-l
i•val Ainda nb Ei bem wem foi o pelawduç50 vocêou o grupo,
foi aventura mie todos participamos; suspeito que esta última hipóte- Quando não Posso Ouvir
6a De qualquer forma .•e o essaexpri&ncia intensamente Voltemos a alguns dos meus descontentamentos,nessedomfnio. Desagra-
da• enão poder ouvir a outrem, não o compreender. Se é apenasuma deficiência
Penso nb ex*ar afirmando que, por nos havermosmostrado, mdi.
ouvi-lo, autenticamente, ele se libertou da sua pri- de compreensão,uma falta de atenção ao que me está sendo dito, ou certa difi ul•
nós do grupo, capazes
menos até ponto, no ensolaradomundo de um dade de entenderas palavras, então não sinto mais que um ligeiro dexontentamen-
e veio a apandir-se, pelo
relEiorurrwnto interpeswat. comigo mesmo.
Mas o que me põe realmente desgostoso comigo é não poder outra
deSe pessoa porque já estou, de antemão. tão certo do que ela me vai dizer que não lhe
• uma que eu gostaria compartilhar dou ouvidos. Só posteriormente verifico não ter prestado atenção senão ao que já

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214
decidira que ela ia me dizer. Na verdade, deixei de ouvir. Pior que isso são as vezes. que estou sentindo em dado momento não é, de forma»alguma,coisa fácil, mas o
em que não posso escutar uma pessoa porque o que está sendo dito constitui a ea• que me encoraja é pensar que, ao longo dos anos, tenho feito progressos a esse res-
ca para mim, com o risco, até de mudar minhas opiniões ou meucomportamento. peito. Convenço-me,no entanto, de que se trata de uma tarefa para a vida toda e
Ou, pior ainda, quando me descubro a tentar distorcer sua mensagem, a fim de fazê- de que nenhum de nós será realmente, algum dia, capaz de entrar, de modo satis-
Ia dizer o que eu Quero qtle diga, só escutando isto, Coisa talvez um tanto sutil, e é fatório, na intimidade de tudo que se passa no âmago de nossaprópria experiên-
surpreendente habilidade que tenho quando o faço. Exatamente por deformar um cia.
pouco Atas palavras, por distorcer, num mínimo, o que ela pretende significar, pos- Em lugar do termo autenticidade tenho usado, às vezes, a palavracon-
tornar evidente que não só ela diz o que eu quero ouvir, mas que se mostra a pes- gruência. Esta significa que, quando o que e*perimento, em dado instante, se torna
soa que eu quero que ela seja. É só quando verifico, através do seu protestoou do presente à minha consciência, e o que af se patenteia também se revela no ato de
meu gradual reconhecimento de que estou a -manipulá-la, sutilmente, que fico des- comunicação, cada um desses três níveis se casa um com o outro ou é congruente.
gostoso de mim próprio. Sei, também,por haver estadodo outro lado,oguanto é Em tais momentos,integro-mecomo um todo, sou uma peça inteiriça. A maior
dEepcionante ser tido por aquilo que não se é, ser ouvido como se estivessea dizer parte das vezes, é claro, eu, como qualquer outra pessoa, ponho à mostra certá in-
o que não se disse ou não se pretendeusignificar. Tudo isso cria ódio, desconcerto congruência. Aprendi, entretanto»que a autenticidade, ou a genuinidade, ou a con-
e desiluSo. gruência — seja qual for o termo que se queira usar — é a basefundamental do que
possa haver de melhor na comunicação, no relacionamento.
Quando 0$ Outros não Entendem Que significa, para niim, ser autêntico? Poderia dar muitos exemplos,
aprendizagem que desejo compartilhar com o leitor é a ae que,me oriundos dos mais diversos setores. Mas uma significação; uma apreñdizagem, está
sinto terrivelmente frustrado e me fecho sobre mim mesmo, quando tento exprimir em que nada há a temer, basicamente,quando me apresento tal qual sou, quando
algo que é profundamentemeu, que é parte do meu mundo interior, privado, e a me mostrosem atitude defensiva,desarmado, eu, só eu. o fa-
Wtra pessoanão compreende.Passo por uma experiência de vazio e de solidão, to de que tenho muitas.deficiênçlay Quitos defeitgszgomgto.uma
quando assumo o riE0, a incerteza de compartilhar com outrem o que me é extre- sou freqüentemenv ignorante quando deveria ser informado, freqüentemente sou
marnent? pessoal e não encontro receptividade nem compreensão. Chego a acredi- p?õconceituoso em lugar de ter o Gptrito aberto, freqüentemente reypJo sentimen-.
tar q.je é tal experiência que transforma certas pessoasem psicóticas. Elas perderam tôs aue as circunstâncips não jus!ificam, entãp, serei muito mais wtênfico. E quan-
a esperançode que alguém as possa,oompreendere, perdida essa esperança,seu do assim me apresento, sem disfarce, sem fazer esforço para ser diferente do que
inurior, que se val tórnando cada vez • aisexcêntrico, é o único lugar em sou, possoapren er mui o mais — a es o•sesou criticado e hostilizado — e
we viver. Já não podem partilharcom ninguémuma experiênciahumana. me. mostro multo mais descontraído, sou -muito mais capaz de. me aproximar dos
Smpatizo corn elas, porque sei que, ao tentar compartilhar algum aspecto sensfvel, outros. Além disso, minha boa disposição para ser vulnerável gera nos outros, com
privado, pmioso, experimental de mim mesmo, se essa comunicação é submetida quem me relaciono, sentimentosmuito mais autênticos, o que é extremamente
i avaliaçb, i reanimação,à recusatà distorção do que pretendosignificar,reajo compensador.Assim a vida me é muito mais agradável, quando não me ponho
na
violenumente: "0hl não adiantal"flesse momento, sabe-se o que é estar só. defensiva, não me oculto atrás de uma máscara, tentando tão só exprimir
o meu
eu autêntico.
Assim, corno o pode ver, ouvir, de forma criativa, ativa, sensfvel, eia-
ernritici, nbavaliativa, é, para mim, terrivelmenteimportante,num relaciona. A Comunicação da Minha Autenticidade
merm É proporcioná-la.Tem sido extremamenteimportanteencontrá-
Tenho uma sensação de prazer quando ouso comunicar a minha autentici-
Ia, »bret.ldo em certos instantesda minha vida. Sinto que cresci interiormente,
dade a outrem. Isso está longe de ser fácil, em parte porque o que experimento mu-
quando a Estou absolutamente certo de haver crescido, de me haver
da a cada instante e, ainda, por causa da complexidade dos sentimentos. De regra,
libertado e ervandecido, quando fui ouvido dessa maneira.
há um intervalo, às vezes de instantese às vezes de dias, semanas ou meses, entre o
QUERO SER AUTENTICO ciue se experimenta e o que se comunica. Em tais casos, experimento alB1ma coisa,
sinto algo, mas só mais tarde vou me capacitar do que é, só mais tarde ouso comu-
para outa área de minhas aprendizagens:fico satisfeitíssimo
nicá-lo, quando o que experimenteie senti .já se tornou suficientementefrio para
poso ser autêntico, quando posso entrar na intimidade de tudo que se pas-
de mim. Agra&-me ser capaz de ouvir a mim mesmo. Saber realmehte c
que me arrisquea partilhá-locom outro. No entanto, é experiênciamuito maissa-

216 217
momentoem que tal coisa dadeimensa de óes}oas, nenhuma, porém, que lhe tivesse amizade di'
tisfat6ria poder comunicar o que há de real em mim, no
vivo. ta, "Na verdade", acrescentou ele, "há apenas duas criaturas no mundo com as
ocorre, 'Sinto-me, então, genuíno, espontâneo,
num en- quais tenho um relacionamentorazoavelmentecomunicativo: são os meusdois fi.
Esses sentimentos reais nem sempresão positivos, Certa pessoa, lhos." Quando terminou, deixava escapar algumas lágrimas de pena de si mesmo,
fazia parte, referia-se a si mesma de um modo
contro básico de grupo, do qual eu que, estou certo, vinha contendo há muitos anos. Mas a honestidade e autenticida-
completamente falso, mencionando o orgulho que sentia em manter
que me parecia de da sua solidão é que fizeram com que muitos membros do grupo fossem ao en-
para enganar
" caradurismo", sua aparência, sua fachada, quanto era habilidoso contro dele, num sentido psicológico. Mais significativo, ainda, foi que a sua cora.
mais, até que,afinalz
os outros. Meu sentimentode irritação foi subindo, cada vez gem de se mostrar autêntico nos capacitou, a todos, de sermos mais em
fez, de certo modo, estourar
o exprimi dizendo simplesmente: "0ht maluco l" Isto nossascomunicações, de desafivelarmos as máscaras que ordinariamente usamos,
autêntico, mais genu (no, deixou
a bolha de sabão. Daf em diante, ele se tornou mais
nossa intercomunicação melhorou. Achei bom que
para um lado a fanfarronice, e a
ele tomasseconhecimento de minha iriitação no exato momento em que ela ocor- Minhas Incapacidades de Ser Autêntico
Fico desapontado quando verifico — e, é claro, sempre a posteriori depois
Lamento dizer que, freqüentemente, sobretudo com sentimentos de irrita- de certo te po.— que fui amedrontado em excesso ou ameaçado demais para de$cer
de
só em parte me capacito do que me está acontecendo,na hora, e a tomada ao âmago do que experimentava e, conseqüentemente; deixei de ser congruente ou
conxi&ncia completa só yem depois. Só posteriormente compreendo qual foi o meu
genuíno. Vem-me logo à lembrança um caso que me é penoso revelar. Há alguns
f sentimento. É só quando acordo no meioda noite e me surpreendoa lutar, raivosa- anos, fúi convidàdo -para passar doze meses como membro do Centro de Estudos
mente, contra uma pessoa,que verifico a írritação sentida na véspera. Fico sabendo, Superiores de Ciências do Comportamento, em Stanford, Califórnia. Os membros
ent50, tarde demais, quão profundo terá sido o meu sentimento; constituemum grupo escolhido, porque são tidos como intelectuais brilhantes e
para
mas, pelo menos, aprendi a procurar essapessoa, se necessário,no dia seguinte, bem-informados. É sem dúvida inevitável que haja certo número de pessoas eminen-
exprimir minha irritação, e, gradualmente, vou aprendendo a rñe inteirar, com mais
ostentar seus conhecimentos e seus feitos. A cada membro parece importante
rapidez, do que se passa dentro de mim. No último encontro básico do grupo, do im#resssionaros outros, ser um tanto mais convencido, um tanto mais sábio do que
qual participei, fiquei, em horas diferentes, muito irritado com dois indivíduos. Em — eal e teé. Dei-me comigo mesmo a fazer exatamente a mesma coisa a desem-
relaç50 a um deles, só me capacitei disso no meio da noite e tive de esperara manhã peñhar um papel de maior segurança e de maior competência do que de fato pos-
para expressá-fo. No tocante ao outro, fui capaz de perceber logo o que suta, Não sou capaz de dizer quanto me aborreci, intimamente, ao verificar o que
sentia e de exprimi-lo na reunião em que o fato se deu. Num e noutro caso, isso le- fazia. Não estava sendoeu mesmo; representava um papel.
vmenos a uma comunicação autêntica, a estreitar nossas relações, e, gradualmente,
estabelecerum vínculo entre nós. Mas,nessa matéria, sou um aprendiz meio lento. Lamento quando suprimo meus sentimentos, por tempo demasiado, de
modoque eles irrompemdistorcidos; sob a forma de ataque ou ofensa.Tenho um
O Enconüo da Autenticidade nos Outros amigo de quem gosto muito, mas cujo padrão particular de comportamentodefini-
E animador o encontro da autenticidade numa outra pessoa. Algumas ve- tivamente me aborrece. Por causa da usual tendência de ser delicado, polido e amá-
zet, nos yupos de encontro básico que têm constituído parte importantíssima da vel, conservei comigo esse aborrecimento por um tempo demasiadamente longo.
mintu experiência nessesúltimos anos, alguém diz algo que procede dele mesmo, de Quando, finalmente, passou dos limites, irrompeu não apenas como irritação mas
modo tran"arente e integral. É perfeitamenteóbvio quandouma pessoanão se es- como agressão ao amigo. Foi doloroso, e levamos algum tempo para reatar nossas
atr" de uma máscara,mis fala do que lhe é profundamente íntimo. Quando relações.
corro a gu encontro. Quero entrar em contato com uma pessoaautênti-
ca. Nio ruo, são muito positivos os sentimentos então expressos. Às vezes, são in- Agrada-me, intimamente, ter a força bastante para permitir que outra pes-
neptivos. Lembro-me de certo senhor, colocado em posição de alta soa afirme sua própria autenticidade e "pare de mima Penso que
se trata de uma
um cientista que chefiava um grande departamentode pesquisa possibilidade bem ameaçadora:Em certas circunstâncias, tive de enfrentar esse
teste
numa po&rosa firma eletrbnica, que parecia fer "muito êxito", Um dia, no mencio- I fina! de liderança num staff ou como pai. Posso livremente bermitir que
tal membro
encontro, teve a coragem de falar do seu isolamento, de nos dizer de um staff, ou meu cliente, ou tneu filho, ou minha filha se tornem
pessoassepa a•
em Aia vida, contara com um só amigo, sequer. Conhecia uma quanti- das .de mim, com idéias, propósitos e valores que não se identifiquem com os
meus?

218 219
Lembro-me de um poema sobre o matrimónio, de Kahlil Gibran(l onde se leêm pósitos. Tornam-se exploradores. Tentam encontrar o significado das suas vidas, no
estesversos: trabalho que executam. Trabalham com empenho duas vezes maior, num curso em
que nada é exigido, do que.nos outros em que se multiplicam as exigências. Se nem
Que haja na vossa junção
ssempre consigo criar essa atmosfera é, penso, por estar apegado a algum hábito an-
E que os venbS do céu dancem entre vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão: terior meu, alguma falta de disposição para que seja completa a liberdade.Mas
Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossa alma. quando logro fazê-lo, a educação se torna o que deveria ser: uma procura excitante,
uma busca, não mera acumulação de fatos logo superados e esquecidos. Os alunos
Dai o vosso coração, mas não O confieis à guarda um do outro. transformaram-se em pessoas a agir, capazes de viver uma vida em mudança. De to-
Pois somente a mão da Vida pode conter vosso coração, das as aprendizagens que tenho efetuado, penso que esse clima de liberdade tan-
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente: tas vezes sou capai de criar, que posso, de modo, ter comigo e em tomo de
Pois as colunas do Templo erguem-seseparadamente. mim, é um dos mais preciosos elementos de minha personalidade;
E o carvalho e 0 cipreste não crescem à sombra um do outro.

De certas coisas que tenho dito, confio em que ficou evidenteque o que RECEáER E bAR AMOR
verdadeiramente me satisfaz é o poder de revelar minha autenticidade e de senti-la Minha aprendizagem sobre o relacionamento interpessoal tem Sido, em qu-
ou permiti-la em outrem. Desolador e lamentável para mim, é não ser capaz de dar- tra área, lenta e penosa para mim. Anima-me e me satisfaz, extremamente,
lhe oportunidade em mim mesmo •ou de tolerar autenticidade diversa da minha, no admitir e permitir-mesentir o fato de
Acho que a minha capacidade de ser congruente e genuíno ajuda, muitas ve- me apreço. Isso no entanto, me tem sidó muito diffcil, por causa,
autênticae con-
zes, à outra pessoa. Quando a outra pessoaé transparentemente suponho, de certos eje • htosde minha história passada. Durante muito tempo,
gruente quem recebe ajuda sou eu. Nos raros momentosem que a autenticidade tendia a repelir, quase automaticamente, quaisquer sentimentos positivos orienta-
profunda de um vai ao encontro da autenticidadeprofundado outro, ocorrea me, dos na minha direção. Acho que a minha reação era: "Quem? Eu? Não há razão pa-
-morável i 'relação eu-tu" a que se referiu Martin Buber, o filósofo existencialista ju- ra que' se interes$epor mim. Você poderia gostar do que fiz, dos meus empreendi-
deu. Esse mútuo encontro, profundo e pessoal, não acontece muitas vezes, mas es- mentos, não de mim. 'Ê Eis um aspecto sob o qual a minha própria terapia mito me
tou convencido de que, se não acontece, ocasionalmente, não somos humanos. ajudou. Ainda não me considero invariavelmente capaz, mesmo agora, de admitir
que Os: óutros tenham sentimentos afetuo$os e amáveis para comigo, mas, quando
DESENCADEAR LIBERDADE PARA OS OUTROS posso fazê-lo, vejo nisso uma verdadeira libertação. Sei que algumas pessoas me li-
sonjeiam para tirar certa vantagem própria. Outros me elogiam porque temem
Há mais de uma espécie de aprendizagem. Gosto de dar liberdade aos ou- se
mostrar hostis. Recentemente, há os que me admiram porque sou um
tros e penso que, a esse respeito, adquiri e desenvolvi considerável aptidão. Com fre- "grande no?
me" ou uma "autoridade". Chego, porém, a reconhecer o fato de que certas
qõência, embora nem sempre, sou capaz de tomar um grupo, um curso ou uma clas- pessoas
me apreciam, autenticamente, gostam de mim, me estimam, e
se de alunos e torná-los psicologicamente livres. Posso criar um clima no qual cada quero experimentar
a sensação de que estou de acordo com isso. Penso que me
tornei menos arredio, na
um o que é e por si próprio se dirija. Há, no começo, certa suspeição; as pessoas medida em que ia séndo realmente capaz de receber ede absorver
é uma e;pécie de armadilha e, quanto aos essessentimentos
Eharn que a liberdade que lhes de afeição.
alunos, perguntam logo pelas notas que irãO ter. Não seriamlivres porque, no final,
eu os avaliaria e julgaria. Quando procuramos uma solução, da qual todos participa- Cheguei à conclusão de que muito me enriquece a capacidade
de ter
mos, para a absurda exigência da Universidade de medir a aprendizagem por meio ou de interessar-meou de
sentimento
notas, começün, então, a se sentir realmente livres. Desencadeia-sea curiosidade. c egue até ela. Como tantos outros. costumava recear
que isso me_fizessecair numa
e grupos passam a perseguir seus próprios objetivos, a realizar seus pro- permitogããFdãe7éTe pÕdÕãntrolar-me, ou
Imppg-me-exigênçias{ Penso
medroso a esse respeito. Como os meus clientes,
também eu fui aprendendo,aos
(1) Tt• E ito "O de Kahlil Gibran; Ed, Civilização Brasileira; tradução de M• • poucos, que sentimentos
nem para dar, nem para re-\
ChalitA

221
Poderia expor, aqui, exemplos tirados das minhas próprias experiências,
figas. depois de refletir sobre isso, pareceu-me que, se o fizesse, acabaria sendo e a balancei. Quando ficou quietinha eu a
por pu'debaixo das
demais pessoal e cobertas e chamei sua mãe. Esta me disse mais tarde que,
a revelar identidades de outros; assim, vou exemplificar quando Mark/a
com certo caso em que ajudei duas pessoas a irem mais longe do que"eu beija, para dar boa noite, numa nova inspiração, puxa;lhe o
poderia ter rosto, beija-lhe
ido, penso, quanto à capacidade de demonstrar amor. O fato ocorreu a outra face e diz: ''*te é para o Padre Andy." Olha-a,sorri e
com dois ami- acrescenta:
gos, ambos padres,aos quais darei os nomes de Joe e Andy. Joe participara 'Você sábe, mamãe, ele gosta de mim de modo muito especial,
de um não é?"
vupo de encontro básico, conduzido por mim, e fora profundamente Então vira o rosto e dorme,
afetado pelo
que fizemos. Pylaistarde, Andy atuou também como membro Queria falar-lhe desses incidentes, Carl, como prova de que
deum grupo a que eu o seminá-
estivera associado. Alguns meses mais tarde, recebi uma carta de Andy,
na qual ele rio orientado por vo •me ajudou a reagir, em cada caso, livre e
confiada-
dizia: mente, seguindo minhas próprias inclinações. Palavras, eu as tinha
em men-
te, há muitos anos. _Em teoria, sempre sustentei, rigorosamente, que
Prezado Desde o fim do nosso seminário, estou tentando es- penso
ser assim que um homem — um cristão — um padre, age verdadeiramente.
crever-lhe uma carta. Fiquei à espera de uma folga para sentar-me e reunir,
Mas sempre tive dg-iutar, duramente, até chegar ao ponto de fazê-lo com
uma a uma. as minhas impressõessobre aqueles três dias. Vejo que essa
liberdade, sem hesitação ou angústia. Deixei o seminário que realizamos
folga é um sonho, por isso resolvi enviar-l}v pelo menos uma notícia.
realmente sabendo que não poderia dizer às pessoas,simplesmente,
que as
Talvez, a melhor maneira de dizer-lhe o que significou o nosso se- estimo, ou que elas são dignas de afeto, especialmentequando precisam
minário seja a de um incidente ocorrido não muito tempo de- que tais sentimentos lhes sejam demonstrados. Desde então, muitas
vezes
tenho podido, de um modd ou de outro, demonstrar isso quando
anteso
Joe (o outro padre) dava assistênciaa uma senhoragravementeneu- teria dito. É o que vem trazendo alegria e paz a muitos, como
àquela mãe,
r6tica, com tendências à esquizofrenia, ao suicfdio e ao sentimento de cul- àquela.criança e a mim próprio.
Gastara uma fortuna com psiquiatras e psicologos. Uma tarde, pediu- Eis por que penso muitas vezes, com gratidão, no nosso grupo.
Como
rrw ele que fosse em sua companhia à casa daquela senhora, a fim de estar você há de imaginar, vivamente, do afeto e da cordialidade dos
com ela, tocar violão e Conversar.Como Joe esperava,aquilo se participantes daquelegrupo em-áue eu lutava; com tanto empenho, para
ser
tran<ormou num encontro básico. Num dado momento, ela disse que suas verdadeiramente
honestoem rela#o a mim mesmoe a vocês.É diffcil di-
a inteiramente. Quando se irritava, suaF mãos também zer "obrigado" por uma experiência como essa. Possa
uma vida mais livre,
irritwam; se estava feliz, sqas mãos ficavam felizes; quando estaüasuja, mais honesta, mais afetuosa dizê-lo por mim. Ainda
me vêm lágrimas aos
as se apresentavamsujas. Enquanto falava e gesticulava,sentou-se olhosr quando penso naquelas poucas horas finais, todos
nós participando
p«to de mim, no sofá. Subitamente, tive Ímpeto de toniar-lheas mãos. profunda e calorosamentee sem nenhumainsistência.
Não me recordode
Simplesnente não me podia passar pela cabeça que essa senhora estivesse ter'sido algum dia tão tocanté para mim, nem de ter sentido
afeição tão
ã:ja. Assim fiz. primeira reação foi dfzer-me:"Obrigada!" Então, teve autêntica por qualquer outro grupo dê pessoas. Poderia
continuar esta, mas
uma de acesso, a tremer e a gritaL Viemos a saber,depois, que ela penso que você já viu bem quanto sou verdadeiramente
grato ao
revivia uma horrfvel experiência traumática do seu passado.Joe pôe os ao grupo, a você. Só rezo para que me seja dado fazer
aos outros o que vo•
nos ombros dela. Seg.rei-lhe a mão, como se disso dependessea sua cê.e os outros fizeram por: mim. Muito obrigado.
vida. Finalmente, o acesso passou; Pôs minha mão nas suas, virou-a de um Não estou absolutamentecerto de que pudesse ir tão
lado para outo, olhou-a. Observou: "Não está quebrada nem sangrando, ram esses dois amigos, mas ãt a• emuito haver quanto o fo-
e*á?" a cabeça negativamente. "Mas deveria estar, sou tão suja l" tido alB1ma participação na aju-
da a quem pôde fazer mais que eu. Penso que esse é um
Uns minutos depois, no correr do encontro, estendeu-mesua mão e dos aspectos mais emocio-
nantes do trabalho com pessoas mais jovens.
.aminha.
É também muito significativo para mim o fato de
Um pwco mais tarde. Sua filhinha, de uns oito anos, começou a gri- poder testemunhara ve-
racidade dessa narrativa. Desde que recebi a carta de
ur. É muito emotiva e cheia de problemas.Pedi licença e fui vê-la. Sentei- Andy, passei a conhecê-lo, e a
Joe muito melhor. Tive também o privilégio de entrar
unena cama, com ela e cantei. Daf a pouco, carreguei-anos na intimidade da senhoracu-
ja vida psicológica eles, literalmente, salvaram,
Assim, pude sentir a confirmação

223
do meu ponto de vista de que sentimentos de apreçoe de afeto não são; basicamery Prezo, enormemente, minha capacidade de progredir na infindável tentatV
te, perigosos, nem quando se dão, nem quando se e e e „ mas, ao contrário, pro- va de ser autêntico,.em dado instante, quer a autenticidade se exprima em irritaçb
movem o crescimento das pessoas. ou em entusiasmo ou em perplexidade. Alegra-me que.a autenticidade, em mim, ge-
re maior autenticidade no outro, e que nós nos aproximemos numa recíproca rela-
ção eu-tu,
Tenho Maior Capacidade de Apreciar os Outros
E me é agradável a predisposieão para e$ar apto a receber, sem os rejeitar,
Menos receoso de dar ou sentimentos positivos, tornei-me mais ca-
a cordialidade e o interessedos outros, porque isso faz crescer.minha própria capa-
pEitado a apreciar as pessoas. Vim a acreditar que isso é bastante raro. Pois, tantas
cidade de ter afeição, sem o medo.de me enganar ou de me apegar à idéia de os
vezes, mesmo em relação a nossos filhos, nós os amamos antes para exercer controle
manter sob o meu controle.
sobre eles do que porque os apreciamos. Penso, home, quecumadas experiências
mais satisfatórias que conheço e também das que melhor suscitam o crescimento Esses, na minha experiência, são alguns dos elementos que tornam a o u•
da outra pessoa consiste, simplesmente, em apreciar alguém da mesmaforma co- nicação entre as pessoas, o estar em relacionamento com as pessoas, mais enriquece-
mo aprecio um pôr-do-sol. Se deixo que a*pessoas sejam o que são, vejo-as tão ma- dor e engrandecedor. Estou longe de alcançar esses elementos, mas o fato de me ver
ravilhosas quanto um crespúsculo vespertino. De fato, a razão por que aprecio Ver- a esforçar-mepor fazê-lo, transforma a vida humana numa aventura ardente, exci-
dadeiramente um p —do-solestá em que não posso controlá-lo. Quando vejo o cair tante, perturbadora, inquietante, enriquecedora e, sobretudo, digna de ser vivida.
'i
da tarde como o fiz um dia desses,não posso imaginara mim mesmodizendo: Sua-
vize um pouco o alaranjado no ângulo direito e acentue mais o arroxeado na base;
também as nuvens um pouco mais cor-de-rosa." Não faço isto. Não tento
controlar o pôr-do-sol. Olho-o, pasmado, enquanto ele acontece. Gosto muito mais
de mim, quando experimento os meus auxiliares, meu filho, minha filha, meus ne-
tos, apreciando o desdobrar de uma vida. Creio que essa é uma atitude um tanto
quanto orienul, mas, para mim, é a mais satisfatóiia.
Assim, nessa terceira área, ter apreço ou amar, ser apreciado ou amado são,
para mim, experiênciasque acentuam o crescimentointerior, Uma pessoa que é
amada, lhe dá apreço, não porque se quer-possuf-la, vê florescer e desen-
volver O em ama de modo não-possessivo,a si mesmo
enriquece,Essa tem sido, pelo menos, a minÑexperiência.

DOU VALOR À COMUNICAÇÃO E AOS


RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS
Deixe-rrw terminar este capítulo, dizendo que, segundo a minha expe i •
cia, a verdadeiracomunicação e os verdadeiros relacionamentos interpessoais
capaz suscitar o cresc mento. o o ac Itar o cresci
o os. Enri u 0-mequ o os outros proporcionamum
clima metoma fv
Eis por que dmt muito valor à minha capacidade de ouvir, sensitivamente,
a dM e a a}.ia, o temor, a irritação, a perplexidadee a angústia,a determinaçãoe
de manifestados por outra pessoa. E dou valor, mais do que o pode•
ria i; oportunidades que se oferecem outra pessoa de ser verdadeiramenw
e.az mtvir tudo isso em mim,

224
225
Capítulo
xif

UMA VISÃO MODERNA DO


PROCESSO DE VALORES

O trabalho do profesor e do educador, assim como o do


terapeuta, está inextrincave/mente envolvido no problema dos
valares. Sempre se considerou a escola como um dos meiospe•
10s quaisTêÜtüFãTñrisrmte õs ieüsi'ã7ô7ãS óe -zimãderação
que se lhe segue. Mas agora esse processo pa• por uma sub(eva-
çao, com muitos dos nossos ióvens declarando-se "desligados'{
do confuso e hipócrita sistema de valores que, segundo.eles,
atua no inundb atua]. Como se há de orientar o eo
ñféÊLip cidadão — em face desse complexo e desconcertante
problgpà?
Durante umas férias,na Jamaica, há algum tempo, enquan-
to observava a abundante vida ne fundo do mar, através de mi-
nha máscara para pesca submaqna, e o desenvolvimentoigual-
mente fascinante-de três dos meus netos, tentei um ensaiosobre
ese problema, baseado, amplamente, na minha experiênciaem
Psicoterapia(l Quando o terminei, não me senti satisfeito, mas

(1) Versão condensacWdestecapftulo foi"antes publicada sob 6 tftulos"Toward Modem


Approach to Values", Journal of Abnormal and Social Psychologyv 1.964,68, 160-167.

227
ele resistiu ao teste do tempo e, agora, considero-obom,
pelo que tem de ousado e arriscado. Sinto, em relação Participo dessa generaliZada preocupação. Também eu tenho tido a exp--
um pequeno número de outros artigos, que escrevi mais
a esse e a riência dos mais eSpecfficos problemasde valor que surgem no meu próprio campo,
eu "sabia", conscientemente, e que a minha
do que a Psicoterapia.Sentimentose convicçõesdo cliente,sobrevalores,mudamfreqüen.
I
inteligência teve de temente, durantea terapia. Como pode ele, como podemos nós saberse a mudança
esperar algum tempo para apreender o que por mim mesmo se verificou numadireçãocorreta?Ou assumiuele, simplesmente, comoalgunssus-
foi
escrito. Achei também que há nele alguma sugestão tentam, o sistemade valores do seu terapeuta?Será a psicoterapia.
apenasum estra-
significativa
para Buitas outras pesoas. I tagema por meio do qual valores inconfessadose acríticos do terapeuu são transmi'
tidos, a um cliente isento de desconfiança? Ou essatransmissão
Não antevia, àquela época, a multidão de jovens que hoje de valorescorrespondeao propósitoabertamentesustentadopelo terapeuta?Pode
se declaram em aberta rebelião contra nosso sistema de este transformar-seno padre moderno, que mantém e comunica um sistemade va-
valores,
mas já então Verificara que o fundamento de tal revolta lor adequado aos nossos dias? E que sistema de valor será este? Muito se tem discu-
Se en-
contrava na cultura. Espem — creio — que a maneira de valori- tido tais problemas, desde certas exposições bem pensadas e empiricamentefunda-
zar e de viver aqui apresentada tem alguma importância, tanto mentadas,como as de Glad (1959), até as mais polêmicás afirmações. A verdade é
para o '*hippie" quanto para o "quadrado" que o problemageral enfrentadopela cultura se evidencia,não raro, penosae espe-
em suma para to-
dos os cidadãos deste caótico mundo moderno. Não antecipo cificamente, no microcosmo cultural a que se dá o nome de relacionamentotera-
que todos os cidpdãos e todos os educadores concordem com o pêutico.
que está dito aqui, mas creio que o tema central pode oferecer Gostariade tentar umadespretensiosa
visão desseproblema,comoum
matéria para uma reflexão fecunda. do. Observei mudahçasno modo de ver os valores, enquanto as pessoaspassamda
infância à idade adulta. Mais tarde, verifico mudanças ainda, quando a pessoatem
Há a sorte de continuar a crescer em direção a•u averdadeira maturidade psicológica.
hoje, com o problema dos valores. A juven-
tude, em Muitas dessas observaçõesdecorrem da minha.experiência de terapeuta, em que tive
está profundamente incerta quanto aos valores que
a rara oportunidade de surpreender as vias que uma pessoa percorre no sentido de
a orientam; valor" várias»religiõesperderammuito de sua influência; uma vida de maior plenitude. Dessasobservaçõescreio ter visto emergiremcertas
pessoas requintadas, de ditersas, mostram-se inseguras e inquietas quanto . diretrizes que ofereceriam novo conceito do processo de. valores, mais aceitável no
abs objetivos a sgitpntar g êvgpnsjdergr. Não se'precisa ir muito longe para
descobrir mundo moderno. Comecei por apresentar algumas dessas idéias, parcialmente, em
as razões. A cultura mundial, sob todos es seus aspectos, torna-se cada
vez mais notas prévias (1951, 1959); gostaria agora de as divulgar de modo mais claro e mais
científica e relativfsticax de vista rígidos, absolutosa respéitodos valo- completo.
res que o passado nos legou, mostram-seanacrônigos. Ainda mais importante, tal--
vez, é o fato de que p homem moderno se vê assediado,de todos os ângulos,pyly Acentuaria que a posição favorável eai que me encontro para fazer essas
teiõhdicáções de valores divergentes e contraditórios.Vá não é passfv$ _comoo_eca observaçõesnão é a do•erudito ou do filósofo: falo a partir de minha experiência
em um passadoKisi6hcb nãe muito distante, do ser humano em funcionamento, ta! como tenho vivido com ele na experiên-
sistema
valores dos nossos maiores, da nossa comunidade ou da nossa igreja, e ir tocando. cia pessoal da terapia e em outras situações de crescimento, mudança e desenvolvi-
a vida g.rn jamais exaniiñàñá" ñaúreza e os mento.
tal sistema.
Na presente situação, n'O é surpreendentééue as orientaçõesde valor, Algumas Definições
oriundas do passado, se afiwrem num estado de desintegração ou de colapso. Inda. Antes de apresentar algumas das minhas observações conviria esclarecer o
ga-se se existir, valores universais. Sente-se, muitas vezes, que que entendo por valores. Muitas definições têm sido propostas, mas me pareceram
talvez unhamos perdido, em nosso mundo moderno, toda a possibilidade de uma úteis Certas distinções feitas por Charles Morris (1956). Salientou ele que valor é
base geral ou de valores. Resultado natural dessa incerteza, dessaper- termo que empregamosem diversos sentidos. Uiamo-lo para referirmo-nosà ten-
plexida&, é uma crescente um interesse,uma busca de acessosegu- dência de todo ser vivo de demonStrarpreferência, nas suas aç3es, por certa es-
ro e significativo e valores que se possam sustentar como apropriados ao mundo de
pécie de objetos ou de objetivos mais do que por outros. A esse comportamento
preferencial; Morris chama ' 'valores operativos". Não envolve qualquer reflexão

229
cognitiva ou conceitual. Trata-se; simplesmente, da escolha do alimento, e o mesmo alimento lhe repugna. Dá valor à segurançae ao repouso,mas
Valor indicado pelo
comportamento, quando o organismo seleciona um objeto e rejeita outro. rejeita-osem favor de uma experiência nova. O que ocorre parecerespondermelhàr
Quando
a colocada num labirinto em forma de Y, escolhe o braço liso do Y, a um processoorganfsmicode avaliação,no qual cada elemento,cada do
em
vez da trilha revestida de lixa, indica um valor operativo, que é experimentado, é, de algum modo, ponderadoe selecionadoou rejeitado,de-
pendendo de que, em dado momento, ative.ou não o organismo. Essa complicada
Uma segunda maneira de usar o termo designa os chamados"valores
con- ponderaçãoda experiência é, evidentemente,uma função organfsmica, não consci-
cebidos". É a preferência por um objeto simbolizado. De regra,
em tal. escolha, há ente nem simbólica. Trata-se de valores operativos,não de valores conceitualizados,
uma antecipação ou previsão do reSultado do comportamento, I
dirigido no sentido Pode no entanto, tal processolidar com complexos problemasde valor. Lembraria
do objeto simboliza" A preferência por "a melhor pol (tica é a
da honestidade" ao leitor a experiência na qual crianças pequenastinham, espalhadosna suafrente,
constitui um valor concebido.
1 vinte ou mais pratos de alimentos naturais (isto é, sem sabor). Durante algum tem-
Por fim, o uso do termo pode designar "valores objetivos". Usa-se po, os meninos tendiam a dar valor a alimentos que lhes garantiam a sobrevivência,
a pala.
vra nesse significado, quando se quer falar do que é objetivamente o crescimento,o desenvolvimento.Se, de começo, se empanturravamde
preferível,quer
seja, de fato, sentido ou concebido como desejávelou não. O que tenho a logo depois tomavam um 'Forre" dá proteínas. À escolha de uma dieta pobre em
dizer qua-
se não envolve essa última definição. Preocupar-me-eicom os valores alguma vitamina sucedia-sea procura de alimentos ricos na mesmavitaminas Utili-
operativ& e, i
Cbrn os valorá conceitualizados. zavam-seda sabedoria do organismo nas escolhas de valor, ou talvez, mais precisa-
mente, a sabedoria fisiológica do corpo guiava seus movimentoscomportamentais,
O MODO DE AVALIAR DO INFANTE resultandono que poderfamosconsiderai escolhas de valo •o jetiva tecorretas.
Falemos primeiro do infante. A criatura humana viva tem, a princrpio, Outro aspecto da -via de acesso da criança ao valor é que a fonte ou a loca.
uma clara via -de acesso aos valores. Prefere certas coisas e experiências e rejeita lização do processo avaliativo se acha, nitidamente, dentro dela própria. Ao contrá-
ou-
tras. Pode-se inferir do estudo do seu comportamento que prefere as experiências rio do que se dá com muitos de nós, a do que gostae do que nãp gosta,
que mantêm, elevam ou ativam o seu organismo, e rejeita as que não preenchem e a origem dessasopções de valor resideestritamentedentro dela. Ela é o gentrodo
esa finalidade. Observemo-lo um pouco: processo de avaliação, a evidência das suas escolhas lhe é fornecida pelos seuspró-
prios sentidos. Não se deixa, nesse ponto, influenciar pelo que seus pai± pensam que
A fome é avaliada negatiVamente.Aexpressão é, em geral, clara e aos deveriapreferir, ou pelo que a igreja diz, ou pela opinião do mais recenteperito no
assunto, ou pelos talentos persuasivos de uma firma de propaganda. É do da
O alimento avaliado positivamente. Mas qUandoele está satisfeito, sua própria experiência que seu organismo afirma em termos não-verbais:' 'isto é
o alimento é avaliado negativamente, e o mesmó leite a que ele reaje com bom para mim", "'isto é ruim para mim", "gosto disto", "detesto aquilo". Rir-se-ia
tartu avidez, é agora cuspido para fora, ou o seio que pareciacontenta-lo da nossa preocupaçãoa respeito de valores, "se a pudesse)entender.Como poderia
tanto é agora rejeitado, quando ele tira a boca da teta e vira a cabecinha alguém.deixar de saber de que ela gosta e desgosta, o que é bom para ela e o que
com óma divertida expressão facial de náusea e repugnância. não o é?
Dá valor à segurançaassim como ao afago e à carfcia que parecem A MUDANÇA NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Dá valor às experiências que faz por conta própria, o que observa-3 Que acontece a esseprocesso de avaliação sumamenteeficaz, solidamente
mos pelo Seu evidente prazer em descobrir os dedos do pé, em inventar fundado? Por que sucessãode eventos o trocamos pela mais rfgida, incerta e inefi-
movimentos, na sua infindável curiosidade. caz via de acesso aos valores que nos caracterizam à maioria de nós, adultos? Tente
Mostra sua n ftida avaliação negativa da dor, dos gostos amargos, dos mos expor, resumidamente, uma das principais maneiras pelas quais, penso, isso
rufdos subitamente altos. ocorre. A criança necessita de amor, deseja-o, tende a comportar-se de modo a sus.
citar a repetição dessa experiência desejada. Masdaf decorrem complicações. O mes
Tudo isso é lugar-corrwm, mas vejamos esses fatos em termos do que nos
nino puxa os cabelos da sua irmãzinha e acha bom ouvir os seus gritos de dor e p o•
dizwn as vias de acesso da criança aos valores. Trata-se, antes de tudo, de um
testo. Ouve, então, dizerem-lhe: ' 'você é um menino levado e mau", e isto é reforça-
de avaliação»flexível, mutável, não de um sistemafixo. Gosu de um certo
231

I
do. às vezes, por um tapa em sua mão. Reduz-se o carinho para côm ele. Como
a ex-s
periência se repete, muitas vezes, essa e várias outras sêmelhantes, o
menino vai, aos confiançp básica em relação ao que ela própria experimenta como guia do seu com-
poucos, aprendendoque lhe parece'ibom'i é, com freqüência,i 'mau", aos portamento. Aprende dos outros grande número de valores concebidos e adota•os
olhos dos outros. Ocorre, então, O estagio seguinte, em que ele chega
a tomar, em como seus, ainda que se lhe afigurem amplamente discrepantes do que ela experi-
a si mesmo, a atitude assumida pelos outros. Agora, ao puxar
os cabelos da menta. Como tais conceitos não se•baseiam na sua própria maneira de avaliar, tene
irmã, ele entoa, solenemente: "mau, menino maul 'i Fez a introjeção dem a se tornar fixos e rígidos, em vez de serem fluidos e mutáveis.
do ju fzo de va•
lor do outro, tornando-o seu. At, perde o contato.Como seu próprio
processo o ga•
n(smico de avaliação. AbandonaO critério do seu organismo, Alguns Padrões Introjetados
spindodo locus da
e tentando, para não se privar do afeto dos outros,
comportar-se de acor-
com os valores destes. dessa maneira, acredito, que a maioria dentro nós acumula os padrões in.
trojetados de valores pelos quais vivemos. Na cultura de hoje, fantasticamente com-
Veja-se outro exemplo, em nível etário superior. Um jovem sente, embora plexa, os padrões que introjetamoscomo desejáveisou ão•desej veisvêm de uma
inconscientemente, que é -mais amado, e tem mais apreço dos pais, se resolve variedade de fontes e são, com freqüência, altamente contraditórios nos seus signi-
ser médico em vez de artista. Aos poucos, vai fazendo a introjeção dos valores liga- ficados. Relacionemos umas poucas das introjeçõesrcomumente sustentadas:
.dos à idéia de ser médico. Chega a desejar acima de tudo ser médico. Na Universida-
Desejos e comportamentos sexuais são, na sua maior parte, maus. AS
de porém, ei-lo frustrado pelos sucessivos fracasso¿em Química, matéria absoluta-
fontes dessa síntese mental são muitas — pais, igreja, professores.
mente necesgria a ue •se quer formar em Medicina, apesar da cirEüñSfância de
que 0 conselheiro vocacional lhe assegureque tem aptidão para fazer o curso. Só A desobediência é má. Aqui, pais e professores unem-se aos militares
nas entrevistasde aconselhamentoé que o jovem começa a verificar ter perdido para enfatizar esse conceito. Obedecer é bom. Obedecer sem discussão ain-
-completamente O contato com suas reações organfsmicas, com o processo de avalia- da é melhor.
que lhe é próprio. Ganhar dinheiro é o que há de melhor, As fontes desse valor concei-
Ainda -um outro exemplo, tirado de um curso meu, para a preparação de tual são numerosasdemais para se mencionarem.
professoras. Pedi-lhes, logo no começo: "Façam, por obséquio, uma relação de dois Aprender uma acumulação de fatos eruditos é sumamentedesejável.
três valores que vocês gostariam de transmitir às crianças com quem irão traba- Passar os olhos pelo livro e fazer leituras exploratórias, a esmo,para
ihü." diversos objetivos de valor, mas alguns dos itens me surpreende- se divertir, é indesejável.
ran. Muitas relEionaram coisas como "falar corretamente", "usar um bom inglês,
sem palwrasde gfria". Outras mencionaram claramente: "fazer as coisas de acordo A fonte dos dois últimos conceitos ét provavelmente, a escola, o sis-
as Uma exprimiu sua esperança de que "quando eu lhes disser que tema educacional.
exrwam o seu nome no alto da página e à direita da folha, com a data abaixo, que- A arte abstrata é boa. Este juízo de valor tem origem nas pessoasque
ro que foçarn maneira e não de alguma outra forma", consideramos sofisticadas.
Confesso que fiquei um tanto estarrecido com o fato de que, para algumas O comunismo é absolutamente may. Aqui, o governo é a fonte prin-
dessasmoças, os valores mais importantes a trangnielr às crianças fossem evitar ep cipal.
ros de grarnáticaou seguir, meticulosamente,as instruçõésda professora.Senti-me Amar o próximo é o sumo bem. Este conceito procede da igreja,tat-
desconcertado. De certo» tais procedimentbs não haviam sido experimentados como yez dós pais.
os mais satisfatórios e significativos elementos das suas próprias vidas. A enumera- A cooperaçãoe o trabalho de.equipe são preférfveis à ação isolada,
950 tais valores só se pode atribuir ao fato de que os mencionados comportamen- Aqui, os companheiros são fonte importante,
obtiveram e, daí, foram introjetadoscomo profundamentei po •
Trapagear é e desejável,O grupo de companheirosé, de
novo, a origem.
Esses vários exemplos talvez indiquem que, na tentativa de ganhar ou de
o afeto, a aprovação, a estima, a pessoa abdica do locus de avaliação que era
Coca-Cola, chicletes, refrigeradoreselétrícos,TV a cores e automó-
veis são, todos, absolutamentedesejáveis.Esta concepção não provém só
O tntimo na infância, para su stituf•lo pelo dos outros, Aprende a ter uma dés-
da publicidade, mas é reforçada pelas pessoas, do mundo inteiro. Da Jamaie

233
ca ao Japão, de Copenhague a Kowloom, a "'Cultura Coca-Cola" passou a .Porque abdicou em favor de outros o locus da sua avaliação e perdeu
ser considerada 0 apogeu do desejável. o Contato Com a sua maneira própria de avaliar, o adulto se sente p ofu .•
damente inseguro e facilmente ameaçado nos seus valores. Se algumas des-
Eis uma pequenae diversificada amostra das miríades de valores concebi-
sas concepções forem destruídas, que outras se colocariam no seu lugar?
dos que as pessoasfreqüentemente introjetam e sustentamcomo seus, semjamais
Essa possibilidade ameaçadora faz com que ele sustente as suasconcepções
levarem em consideração sues reações orgânicas a esses padrões e objetos. de valor mais rigidamente ou mais confusamente, ou de ambos os modos,

Caracterfsticas Comuns do Processo A DISCREPANCIA FUNDAMENTAL


de Avaliação do Adulto Creio que esta descrição do indiv (duo, apegado a valores quase todos
Creio ter ficado claro do que precede que o adulto jetados sob a forma de conceitos fixos, raramenteexaminados ou testados,é a ima.
comum — sinto que me .gem da maioria de nós. Ao assumir as concepções dos outros como nossas, privamo-
estou referindo à maioria de nós tem uma via de acesso
aos Valores,com as se-
, caracteristicas: nos do contato com a sabedoriapotenciar da nossa própria atuação e perdemos a
confiança em nós mesmos. Uma vez que essas sínteses mentais de valores divergem,
Seus valores, na sua maioria»são introjetados de com freqdência, do que, na realidade, experimentamos,vemo-nos divorciados, basi-
outros indivíduos
ou grupos que possuem certo significado para o adulto, camente, de nós mesmos, e a isso se há de atribuir grande parte das tensõese insegu-
mas são considera-
dos por este como ú .• ranças atuais. Essa fundamental discrepância entre os conceitos do indivíduo e o
A fonte ou locus da avaliação da maioria dos assuntos acha-se que ele está experimentando, entre a estrutura intelectual dos seus valores e o pro-
fora
dele. cesso de avaliação que continua irreconhecido no seu interior — constitui parte da
alienação de si mesmo, encontradiça no homem moderno. É problema, dos maiores,
O critério pelo qual seus.valoressão estabelecidosé o grau de amor
ou de aceitação que lhe possam causar. para o terapeuta.

Essas preferências concébidas não se relacionam de modo algum ou


não se reEonam claramente com a sua maneira própria de experimentá-
Restauraro Conüto com a Experiência
Alguns indiv fduos têm a sorte de.não se ajustarem à imagem descrita, dado
Muitas vezes, bá uma ampla e irreconhecidadiscrepância entrea evi- o seu.ulterior desenvolvimentono :sentidoda maturidadepsicológica. Vemos que
oriunda da sua própria experiência e essesvalores concebidos. isso ocorre, em psicoterapia, onde nos esforçamos por estabelecerum clima favo-
Por não se abrirem essasconcepções ao teste da experiência, têm de rável ao crescimento da pessoa. Vêmo-lo a acontecer também na vida, na medida
ser sustentadasde um modo rfgido e imuüvel. A alternativa.acarretaria em que esta proporciona ao indivíduo um clima terapêutico. Concentremo-nos
um nesta matdração de u •valo , tal como a observei na.terapia.
colapso de seus valores. Por isso, são valores' 'justos e retos" +- como o di-
reito dos Medase dos Persas, que não se modificava. m primeiro lugar direi, entre parênteses,que o relacionamentoterapêuti-
co não é estitufdo de valores. Muito pelo contrário. Quando é mais eficaz, parece-
Como não são estáveis, não se dispõe de meios para solucionar con-
tradições. Se o adulto me, tal relacionamento é assinalado poi um valor primário, isto é: que esta pessoa.
da comunidade a concepção de que o di-
nheiro é owmmum bonum e, da igreja, a concepção de que O que mais va- este cliente, tem valor. Como pessoa,vale por ser única, por ser uma criatura singu-
le é o amor ao próximo, não tem como descobrir qual dos dois é o maior lar. É quándo sente e verifica ser estimada, como pessoa, que poae lentamenteco-
Valor para meçar a avaliar os diferentes aspectos de si mesma, E o que mais importa é que pode
Daf ser um aspectocomum da vida moderna lidar com valo-
res absoluumente contraditórios. Discutimos, calmamente, a possibilidade
Começar, a princípio com muita dificuldade, a captar e a sentir o que se passa no
seu interior, que sensação é essa, o que experimenta, como reage. Usa do que expe-
de uma bomba de hidrogênio num pars que consideramos nossoini-
rimenta como algo em referênciadireta ao que se pode transformar na formação de
migo, mas, ao mesmo tempo, enchem-sede lágrimas os nossos olhos quan-
do lemos*no cabeçalho dos jórnais, notfcias sobre o sofrimento de uma conceitualizaçõesexatas e como orientação para o seu comportamento.Gendlin
(1961; 1962) descreveua maneira como isso ocorre. Quando o que é experimenta-

235
do se vai abrindo cada vez mais ao indivfduo, quando este se capacita a mover-se cer e atualizar, Os valores não se mantêm-rigidamente mas são continuamente mutá-F
mais livremente no dos seus sentimentos, significativas mudanças começam veis. A pintura que no ano passadô parecia significativa agora se afigura desinteres-
a verificara na sua vida de aos valores, a qual assume muitas das característi- sante; o modo de trabalhar com as pessoas que fora experimentado, antes, como
cg que tinha na infincia. bom, parece agora inadequado; a crença que enúo se afigurava verdadeira agora se
experimenta como verdade.irasó em parte, ou talvez como falsa.
VALORES INTROJETADOS EM RELAÇÃO Outra caracterfstica do modo como essa pessoa avalia a experiência reside
COM A EXPERIENCIA em que esta é sumamentediferenciada ou, como diriam os semanticistas,extensio-
Posso, talva, demonstrar o que ficou dito, através da revisão de alguns dos nal. Como as participantes da minha classe de futuras professoras aprenderam, os
ocemplos valores introjetados, já reteridosi sugerindo o que ocorre com princípios gerais não são tão úteis quanto as reações sensitivamente discriminadas,
quando O individuo entra em maior intimidade com o que se passadentro de Diz uma delas: .Com este menino percebi que deveria ser muito firme e ele parece
-ter recebido bem isto, o que me fez sentir satisfeita. Mas, de regra,não agirei da
mesmaforma em relação a todas as crianças," na sua experiência de rela-
O indivfduo, na terapia, volta-se para o passado e verifica: "mas eu
cionamento com cada um dos meninos para orientar seu próprio comportamento.
me divVa puxando os cabelos da minha irmã —e nem por isso me trans-
Já indiquei, por meio de exemplos, quanto e até onde se diferenciamas eações•i •
formei numapessoamá." dividuais do que tenham sido, previamente, valores introjetados, sólidos e monolf-
O estudante, que fracassavaem Oufmica, conclui depois de entrar ticos.
contato maior com a sua experiência: "Não dou valor a isto de ser dou-
Há outra maneira pela qual a via de acesso da pessoa amadurecida é seme-
embora meus pais o façam; não gosto de Qufmica; não gostode fazer lhante à da criança. O locus da avaliação estabelece-se,ainda uma vez, firmemente,
o mirso de Medicina; e não me acho um fracassopor abrigar essessenti- no interior da pessoa.É a sua própria experiência que fornece a informaçãbe o
feedback do valor. Isto não quer dizer que ela não se abra a toda evidência que,pos-
O adilto reconhece que os desejos e comportamentos sexuais podem sa obter de outras fontes. Masquer dizer que tal evidência é tomada como o que ela
ser amplarnentesatisfatórios e permanentementeenriquecedoresem suas é — vinda de fora e não tão significativa quanto suas próprias reações.Assim, po-
cMi*q0êrcias, ou frfvolos e temporários, muito aquém.de satisfatórios. de um amigo dizer-lhe que um novo livro é.bem decepcionante. Lê duas críticas dess
de acordo com asa própriá.experiência, o que nem semprecoinci- favoráveissobreo livro; a hipótese em perspectiva é de que não lhe dará valor. En-
de com as normas sociais, tretanto, se lê te} livro, sua avaliação se baseará nas reações que ele lhe desperta,
não
no que lhe foi dito pelos outros.
Considera a arte numa nova perspectiva de valor. bii'. "Este quadro
profundamente, tem grande significado para mim; Acontece que Esse processo de avaliação envolve também certo desaponto ante o que, de
é urna abRraç50, mas não é nisto que se baseia a minha avaliação." imediato, se•está experimentando, seguido de um esforço para Sentir
e esclarecer to-
caos os seus complexos significados. Lembro-me de um cliente
Repnhece, livremente, que um livro ou uma pessoa comunistas con- que, já quase a se en-
cerrar a terapia, perplexo diante de certo problema, pôs as
têm ou prn atitudes, ou objetivos com que está de acordo, assimcomo mãos na cabeça e disse:
"Agora, que é que estou sentindo: Quero aprofundar nisto.
e val&es de que discorda. Quero saber o que é."
Então se pôs aiesperar, quieta e pacientemente, tentando
Verifica que, às vezes, experimenta a cooperação como significativa perscrutar a si mesmo, até
que.pôde disce nir a exata qualidade dos sentimentos
e válida pra ele e que, mitras oporunida&s, quer estar $6 e agir só. que experimentava. Como ou-
tros, tentava el entrar na sua própria intimidade.

A AVALIAÇÃO NUMA PESSOA MADURA A inti idade com o que se passa dentro de nós
suscita processomuito
mais complexo que o da àiança. Na pessoa madura, tem ele
O de avaliaçb que parece em pessoa mais amadu- muito mais alcance
extensão, pois, no instante presente do que é
red& é, certos muito parecidoao da criançae, sob outrosaspectos, experimentado, se envolvem impres-
sões de memória de tudo quanto se aprendeu
diferenu. É flexfvel, baseado em dado momento particular e de importante, no passado. Tal mo-
mento não apenas o impacto sensório, imediato, mas tem o significado
no o esse morrwntoé experimentadocomo capaz de engrande- o procede de experiências semelhantes, que
anteriores. Há, nele, ao mesmotempo, o no-
vo e velho. Assim, quando experimento uma pintura ou uma pessoa, minha expe- todavia, uma e outra são, até certo ponto, aptas a serem testadas, por meio de mé-
tiência contém dentro de Si as aprendizagens que acumulei a partir de contatos pas- todos científicos: Gostaria de esclarecerque, embora as proposições Seguintessejam
com pinturas ou com pessoas, tanto quanto o novo impacto desse encontro enunciadas firmemente com o propósito de torná-las claras, apresento-as de idida•
particular. De igual modo, o momento da experiência contém, para o adulto amas mente como hipóteses a experimentar.
durecido, hipóteses a respeito das conseqüências. "Gostaria, agora, de tomar uma
terceira dose desta bebida, mas o que aprendi antes, indica que amanhã pela manhã L Há, dentro da pessoa humana, Base orgânica para um proces-
estarei arrependido." "Não é agradável exprimir, de maneira franca, meus senti- so organizado de avaliação.
mentos negativos sobre esta pessoa, mas a experiência passada mostra que, hum res Formula-se a hipótese de que essa base é algo que o ser humano comparti'
lacionamento contfnuo, isto acabará sendo útil." Passado e futUro se acham, ambos, lha com as demais criaturas do mundo animado. É parte do processo de funciona-
neste momento e entram na avaliação. mento da vida de qualquer organismo são. É a capacidade de receber informações
Acho que, nas pessoas de que falo (e aqui vejo, de novo, certa similaridade em feedback que torna o organismo continuamente apto a ajustar o seu comporta-
com a criança), o critério do processo de avaliação consiste no grau-atéonde o ob- mento e reações, assim como a realizar o máximo possfvel de auto-engrandecimen-
jetO da experiência ativa o próprio indivíduo. Torna a pessoamais rica, mais com- •to.
pleta, mais amplamente desenvolvida? Este pode afigurar-se um critério egoísta ou II. Esse processo de avaliação, no ser humano, é eficaz na hea/i-
anti-social, mas não se revela tal, pois que relacionamentos profundos e proveitosos
zação do auto-engrandecimento,na medida em que o indi-
com outros são experimentados como ativadores.
víduo se abre à experiência que está correndo dentro de si.
Como a criança, o adulto psicologicamente amadurecido também Corifia e
O critério organfsmico com a diferença de que é capaz de o fazer consciente- Tentei dar dois exemplo; de indivfduos que entram na intimidade da sua
mente. Capacita-se de que, se pode ter toda a confiança em si próprio, os seus senti- própria experiência: o da criança pequenina que ainda não aprendeu a rejeitar ós
mentos e as suas intuições hão de ser mais perspicazesque sua inteligência; de que, processos que se desenvolvemdentro dela; e o da pessoa amadurecida psicologicas
mente que reaprendeu as vantagens desse estado de abertura.
enquanto pessoa integral, tem condição para ser mais sensível e exato, do áue se
contar apenas com as suas idéias. Donde não ter receio de dizert "Sinto que esta ex- Há um corolário da segunda proposição que deve ser exposto nos
seguintes
petiência (ou esta coisa, ou esta direção) é boa. Mais tarde, sabereinrovavelmente, termos: um meio de dar assitência -ao indivíduo para que ele se
encaminhe a essa
por. que sinto que é boa." Confia na totalidade de si mesmo. abertura à experiência é um relacionamento no qual se lhe dê apreço
como pessoa
Peto que venho dizendo se evidenciará que tal processo de avaliação na pes•__ separada, no qual o que é experimentado dentro dele seja empaticamente
compre-
soa amadurecida,não é coisa fácil ou simples,O processoé complexo, as opções, endido e avaliado e no qual se lhe dê a liberdade de experimentar seus
próprios sen-
se timentos e os dos outros, sero se ver ameaçado por fazê-lo.
rwitas vezes, desconcertantes e diffcéis, e não há garantia de que a escolha feita
como auto-ativadora. Mas uma vez que a evidência, seja qual for, é
mele, de fato, Este corolário procede, obviamente, da experiência terapêutica.
É a - te
experimentado, os erros são
acessfvel à pessoa e uma vez que esta se abre ao que é afirmação das qualidades essenciais a um relacionamento
que promova crescimen-
engrandecera pessoa,
corrigfveis. Se determinado curso de ação não é suscetfvel de to. Já existem alguns estudos empíricos — o de Ba ett•Le a d
(1962) é um bom
ou revisões. Desenvolveum máxi-
isto será sentido e ela poderá fazer ajustamengos exemplo os quais oferecem apoio a essa afirmação.
de um na-
mo de intercâmbio de informaçõese, assim o o•a bússolagiroscópica
o cursd no sentido do seu verdadeiroobjetivo de
gio, continuamente corrigir Proposição Referenteaos Resultados
auto-realização, do Processode Avaliação
Chegamos agora ao núcleo de toda teoria dos valores ou do ato de avaliar.
Algumas Referentes Quais são as suas conseqüências? Gostaria de entrar nesse novo campo, formulando,
ao de Avaliação desde logo, duas proposições sobre as qualidades do comportamento que emerFtn
Precisemos o significado do que disse, através da formulação de duas deste processo de avaliação. O que se evidenciará, em apoio a essas proposições,
vista. Embora
posições em que se contêm os elementos essenciais do meu ponto de Virá da minha própria experiência como terapeuta.
possam projetar testes empfricos de cada proposição, na sua integralidade,
não III, Nas pessoas que estão se movendo para uma maior abertu-

239
re às suas experiências, há uma semelhançaorgan/smica Seu eu, seus sentimentos sobre si mesmo, acabam por ser positivas
nas direções dos valores. mente avaliados. Partindo de um ponto em que se considera a si mesmo
com desagrado e desespero, o cliente chega a se avaliar e às suasreaç3es
IV. Essa semelhança nas direções dos valores são do gênero das
como sendo dignas.
que realçam o desenvolvimento do próprio indivíduo, o
dos outPos, dentro da sua comunidade, e contribuem para Estar num processo é positivamente avaliado. Começando por dese-
jar algum objetivo rfgido, os clientes acabam por preferir o excitamento
a sobrevivência e a evolução da espécie.
de estar num processo.
Notável tem sido O fato da minha experiência de que, em terapia, onde os Mais do que tudo, talvez, o cliente passa a valorizar a abertura a toda
Ândivfduos sio valorizados, onde há maior.liberdade para sentir e para ser, parecem a sua experiência interna ou externa. Estar aberto e sens(vel aos próprios
vir tona certas direç6es dos valores, Não são direções caóticas, mas ao contrário, sentimentose reaçõesÍntimos, às reações e sentimentosdos outrose às
têm algo de Airpreendentementecomum. Tal aspecto comum independe da perso- realidadesdo mundo objetivo —eis a orientação que, nitidamente, prefere.
nalidade do terapeuta, pois observei idênticas tendências emergiremde clientes Essa abertura torna-seo mais valorizado recurso do Cliente.
assistidos por terapeutas de personalidades marcadamente diversas.Tal semelhança  sensibilidade em relação aos outros e a aceitação destes são positi-
não parece ser devida às influências de determinadas culturas; essas orientações se vamente avaliadas. O cliente chega a apreciar os outros pelo que eles são,
evidenciarn em mylturas tão diverãétitãs quanto as dos Estados Unidos, da Holanda, exatamente coroo chega a apreciar a si próprio pelo que é.
da França e do Japão. Suponho gue a unidade nas direções dos valores se deve ao
fato de que pertencemos, todos, à mesma espécie — que, assimcomo a criança.hu- Finalmente, relacionamentos profundos são positivamente avaliados. Esta-
mana individualmentea escolher dieta semelhanteà escolhidapor outras belecercom outra pessoa um relacionamento próximo, fntimd, real, completamen-
crianças, também o cliente, em terapia, tende individualmente a escolher orienta- te comunicativo parece corresponder a uma profunda necessidadede todos os indi-
ções de valores semelhantesàs por outros clientes. Haveria certosele- v (duos, é algo sumamente valorizado.
mentos de experiência que tendem a produztr maior desenvolvimentointerior e que Eis, poi$, algumas das direções preferidas, que observei nos indivfduos que
seriam exolhidos por todos es indivfduos, por constituirem uma espécie, se fossem se encaminham para a maturidade pessoal.Embora esteja certo de que a por
gmuinunente livres para escolher. mim oferecida é insuficiente e, talvez, so • ehps aspectos, imprecisa; abre, a meu
Indiqu«nos almirnas dessas direções dos valores tais como as observei nos ver, excitantes possibilidades.Tentarei explicii por quê.
clientes que se encaminhamem direção ao crescimentoe à maturidadepes- Acho significativo que, quando os indivíduos são considerados como pes-
soas, as valores que escolhem não abrangem toda a gama de possibilidades. Não ve-
Tendem a remover a fachada. A presunção, a atitude de defesa,a jo, em tal clima de liberdade, uma pessoa que chegue a valorizar a fraude ou O assas•
rnSEara no rosto tendem a ser negativamente avaliadas. sinato ou o roubo, enquanto outra valorize uma vida de auto-sacriffcio,e outra va-
lorize só o dinhliro. Ao contrário, parece haver um íntimo e latente-traço comum.
Tendem a fugir do "deve". O constrangedor sentimento de "devo fa- Ou'o acreditar &ue, quañdo o ser humano é interiormente livre para escolher seja o
z« ou • assim e assim" é negativamente avaliado. O cliente foge de ser o
que for a que d •valo , tende a valorizar objetos, experiências e metas
"deve ser", não irrVOrtando quem haja estabelecido o imperativo. que contribuam para a sua própria sobrevivência, crescimento e desenvolvimentoe
Tendem a se afasur da 'Ida ao encontro" das expectativas de outros. para a sobrevivência e desenvolvimentodos outros. Formulo a hipótese de que é ca-
outros, como um fim em si mesmo, é negativamenteavaliado. racterfstica do organismo humano preferir metas que socializam e ativam quando
Ser W€ € o é waliado. O cliente tende a progredir é exposto a um clima de promoção do crescimento.
Éntido Er ele próprio, de seremreais os seussentimentos,de ser Corolário do que tenho dito• que, em qualquer cultura, estabelecidoum
que ele é. Trata-se, ao que parece, de preferência muito profunda, clima de respeito e liberdade em que se •lh€d valor, como pessoa, o indivfduo ama-
durecido tenderá a escolher e a preferiras mesmas direções de valores. Trata-se de
A autodirÇ50 é positivamenteavaliada.O cliente descobreem si
e confiança no fazer was própriasewolhas,conduzindo hipótese, altamente Significativa, que poderia ser testada, Quero dizer que, embora
cmcenu
o indivfduo de que fàlo não possua um sistema consistente ou mesmo estávelde va-
a proviaviú.
240 241
lotes ó processo de avaliação, dentro dele, levaria ao aparecimento de
direões de valores que seriam constantes ao longo das Culturas e ao longo do tem- outros, somos temerosos e inseguros, e nos devemos apegar, rigidamente, aos vaio'.
POS res que introjetamos.
Outra que vejo é que os indiv(duos que apresentam o processo Mas se a vida ou a terapia nos proporcionamcondições favoráveispara
fluido de avaliação, por mim descrito, cujas direções de valores São, geralmente,as prosseguirmos em nosso crescimento psicológico, movemo-nos como que numa es-
relacionadas, serão altamente eficazes no processo contínuo da evolução humana, pirai, desenvolvendo uma via de acesso aos valores que partilha da direção eda flui*
Se a espécie tem d' sobreviver, de algum moqo, nestemundo, a criatura humana dez do infante, mas vai mais longe ainda; na sua riqueza. Em nossas transaçõescom
deve tornar-se mais preparada para adaptar-se a novos problemas e situações; deve a experiência, somos, de novo, o locus ou a fonte de avaliação, preferimosaquelas
estar apta a selecionaro que tiver valor para o desenvolvimentoe a sobrevivência, experiências que, a longo termo, nos elevam, utilizamos toda a riquezade nossa
das novas e complexas situações; deve ser exatã na sua apreciação aprendizagem cognitiva e de nossa atuação, mas, ao mesmo tempo, confiamos na
da realidade, se lhe cabe fazer tais seleções. A pessoa psicologicamente amadurecida, sabedoria de nosso organismo.
que venho descrevendo,tem, creio eu, as qualidadesque a induzirão a valorizar Acentuei que nossas observaçõesnos levam a certas afirmaçõesfu da e •
aquelas experiências que facilitarão a sobrevivênciae o progressoda raça humana. tais. O homem tem, dentro de si, uma base organfsmica de valoração. Na medida em
Será ela digna participante e condutora do processo da evolução humana. que pode, livremente, entrar em contato com esse processo interior, comportar-se-&
Eis que voltamos, afinal, ao problema da universalidade dos valores, mas de modo auto-empreendedor.Conhecemos mesmo algumas das condições que o ha•
por um caminho difárente. Em vez de valores universzis "vindos de fora" ou de um bilitam a entrar na intimidade do seu próprio processo de experiência.
sistema universal de valor imposto por algum grupo filósofos, dirigentes, padres — Em terapia, tal abertura à experiência leva ao surgimento de orientações
-deparamos com a possibilidade de orientações de valores humanos, universais, as de valores que se apresentam comuns aos indivíduos e talvez mesmo às culturas.
quais emergem do que é experimentado pelo organismo do homem. Da terapia pro- Em -termos mais tradicionais, diremos que os indivfduos; assim em contafo com-o
a evidência de que Valores tanto pessoais quanto sociais vêm' à tona de forma que experimentam,chegam a atribuir valor a normastais como sinceridade;inde-
e como fruto da experiência, quando O indivfduo entra em contato Íntimo pendência, autodireção, autoconhecimento, receptividade social; responsabilidade
com seu processo organfsmico de avaliação. Sugerimos que, embora o homem mo- social e relacionamentos afetuosos interpessoais,
&rno já não confie na religião na ciência ou na filosofia, nem
crervas, como. capazes de lhe ro rcionar seus valores, pode encontrar,dentro Concluí que uma novp_.espécie.de emergente universalidade.de dirgções_de
torna possfvel,.quando os indiv fduos se encaminham para a maturidade
si mesrLQcgena-hasg-nrgan.fsmica_de
psicoi6gica, ou, mal*zexatampnte,quando se encaminham na direção de major aper-
novo, a entrar em contato com ela, provará ser uma Via de acesso organizada, adap-
al aos e valor que to os nós enfrentamos. tura própria experiênciá. base ó valores faz com qué os indivfduos se engran'
tãivae
deçam a si e aos outros, e promovam um processo evolu io io„ positivo.

SUMARIO
expor algumas observações, tiradas da experiência em Psicoterapia
reEonam com a busca, empreendida pelo homem, de alguma basesatisfa-
t6ria a sua via de aos valores. RE FER IAS
DeErevi O modo como o infante entra, diretamenté,numa transaçãode va- BAR RETT—LENNARD, G, T. DimensionSof therapistresponseas.causalfactors
jores com o seu mundo, przzando rejeitando suas experiências, na medida em in the therapeutic change. Psycho/ogical Monographs, 76, 1962. (43, todo o
que servem à sua própria ativação, utilizando todo o senso do seu tenro mas com.
ne 562.)
plexo organismo,
GENDLIN, E. T. Experiencing: A variable in the processof therapeuticchange.
DiS" que parecemos perder esa capacidade de avaliação direta e acabamos
as maneiras e a agir nos termos daqueles valorescapazes American Joumal of Psychotherapy, 15.233-245,1961.
por -nos comporur
nos prormcionar aprovação sociar, afeição, estima. Para conquistar amor, a di• Experiencing and the creation ofmeaning. Nova Iorque, TW
carnos do de avaliação, Porque ocentro das nossas vidas reside,agora, nos Free Press of Glencoe, Division of the Macmillan co.. 1962.

242
243
GLAD, D. D. Operationalvaluesin psychotherapy. Nova lorque,Oxford U i• Capítulo XIII.
versity Press, 1959.

MORRIS, C. W. Varietiesofhutnan value. Chicago, University of ChicagoPress,


1956.

ROGERS, C. R. Clientcentered thempy. Boston;HoughtonMifflin co., 1951.


cap. 11, p. 622-524.
. Atheory of therapy, personality and interpersonalrelationships.
In: KOCH, S., ed. Psychology: A study ofa science.Formulationsofthepe •
sonand the social context Nova lorque, McGraw-Hill}1959. v. 3, p. i 8$
256.

LIBERDADE E COMPROMETIMENTO

"Liberdade" para aprender ou para escolher;aprendizagem


"autodirigida":eis conceitos completamente insustentáveisse-
gundo o que pensam muitos cientistas do comportamento, para
os quais.o homem não passa de um produto inevitáveldó seu
condicionamento.No entanto, são termos de que me utilizei,
livremente,neste livro,como se tivesem reaL
Tentei enfrentar, diretamente, divergência,numa pa-
[estra que fiz, quando fui honrado com o título de "Humanista
do Ano" pela AssociaçãoHumanista Americana Não prê-
tendo ter dado soluçãoao velhíssimoproblema da liberdadee
do determinismo,mas, de minha parte, formulei um modo de
convivercom ele. Os que se acham perplexos ante os modernos
pontos de vistà_mecanicistas-deterministas,
de um lado, e, de ou-
tro, em face das ondas de liberdade dos estudantes, das nações
subdesenvolvidas
e do "Poder Negro" talvez encontrem,neste
capítulo, algum.interesse e, possivelmente, alguma ajuda.
Um dos .mais profundos temas da vida moderna, do homem moderno, é o
problema saber se o conceito de pssoal tem algum sentido, seja qual
for, no mundocientífico dos nossosdias. Â crescentecapacidadedos especialistas
de prevere de controlar o compor!amentofez com que o problema viesse,subita-

(I) Freedomand Commitment. The Humanist, 1964, 124, no 2, 37-40,

245
do indivíduo e que só por meio de um comportamentoocorre.
menu, i tona. aceitarmos o positivismo lógico e a ênfase estritamentebehavio- A sua descrição científica do comportamento repele tudo que participe, de algum
,rlsta, preponderantes no cenário psicológico norte-americano, não há nem lugar pa-
modo, da liberdade. Por exemplo, o Dr. Skinner (1964, pp. 90-91) descrevecerto
ra á discussão. O titulo deste capftulo não terá o menor significado. experimento no qual um pombo é condicionado a girar no sentido dos ponteiros do
Mas se escaparmos da estreiteza das ciências do comportamento, esse pro- relógio. O comportamentodo pombo é "favorecido" por uma retribuiçãoa qual-
blema não será apenas um tema, mas o principal dos temas definidoresdo homem quer movimerfto que o aproxime da direção dos ponteiros, até que, pouco a pouco,
moderno. Friedman, no seu livro (1963, p. 251), levanta "a problemáticado ho- a ave está girando e girando num movimento constante. É o que se denominaum
mem moderno a alienação, a natureza dividida, a tensão não solucionada entre a condicionamento operante. Pediu-se aos althos que observaram a demonstração,
liberda& pessoal e a compulsão psicológica, conseqüentes à 'morte de Deus'. Os que escrevessemum relatório sobre o que tinham visto. Suas respostas inclufram as
problemas da pessoal e do comprometimento pessoais tornaram-se, na ver. seguintes idéias: que o pombo fora condicionado a e"erar um reforço para um tipo
dade, muito agudos, num mundo em que o homem já não se senteapoiado numa re- de comportamento correto; que o pombo achava que algama coisa lhe poderia tra-
ligi50 sobrenaturale experimenta a intensa divisão entre sua consciênciae aqueles zer de novo o alimento; que o pombo obwvara que certo comportamento parecia
elementos do funcionamento dinâmico do qual é inconsciente.Se tem de ex- produzir uma vantagem particular; que o pombo "ntia que a comida lhe seria dada,
trair um significado qualquer de um universo que, pelo que sabe, pode ser indiferen- conforme a ação que desenvolvesse: que o pássaro chegou a asociar sua ação ao es-
te, 0 homem moderno tem de chegar a alguma posição que seja sustentável em face talido que fazia quem lhe dava o alimento. Skinner ridiculariza essas afirmações par-
dessas infinitas incertezas. que elas vão além do comportamento verificado, pelo fato de se terem usado os ter-
Asirn, escrevendocomo um cientista do comportamentoe como alguém mos esperar,achar, obsewar e associar. Do seu ponto de vista, toda explicação esu
interesado no humano, no pessoal, no fenomenológicoe no intan- em que o pombo fora refocçado quando emitia determinado tipo de comportamen-
gfvel, de•contribuir, até onde estiver ao meu alcance, parao contfnuo diá- to; o pássaro rodava até que o recipiente aparécesse de novo; certo comporbmento
referente à significação e à possibilidade de liberdade. produzia determiñado resultado; o alimento era dado ao pombo quando este agia
de determinada maneira; e o estalido dos dedos do encarregado de dar a comida
O HOMEMDESTITUIDO DE LIBERDADE relacionava com o tempo gasto na ação da ave..Estas últimas afirmações
p comportamento do pombo, dum pomo de vista cientffico,
Esclareça-se, antes de tudo; que, para a maioria dos psicólogos e dos que
em ciências do comportamento, o tftulo deste capítulo pa e e ia,• aver- Skinnerprossegue, salientando que os alunos, indubitavelmente, relauvam
o que eles próprios esperariam, sentiriam e úhàriam, se fossem submetidosa cir-
estranhfssimo.Para grande número de cientistas do comportamento,o hos
cunstâncias análogas, Justifica-se, dizendo que não há.mais realidade em tais idéias,
mern é livre, nem pode, como homem, livreñomprometer-secom algum o je•
no ser humano, do que há no pombo; que só por haverem sido aquelas palavras re-
tivoe uma vez que é controlado por fatores externos. Portanto, nem liberdadenem
forçadas pela comunidade verbal na qual os indivfduos se desenvolveram é que
$50 conceitos Viáveis na moderna ciência do comportamento, ram elas usadas. Comenta o fato de que a comunidadoverbal que os condicionou a
tal como é uajalrnente entendida. usar tais termos não viu no deles mais do que eles viram no
Para rnostrar CVe ão•estouexagerando,veja-se O que afirma o Dr.. B. F. 'pombo.Em outras palavras, os eventos internos, se é que existem, não têm signifr
Skinner, de Harvard, um aos mais coerentes advogadosde uma psicologia estrita- caçãocientífica.
menu Diz ele: Em face dos métodosusados para mudar o comportamentodo pombo,
A hipótese de que o homem não é livre é essencialà aplicaçãodo muitas pessoas, além do Dr. Skinner, acham que, por meio de tal reforço positivo, o
método cientffico ao estudo do comportamento humano, O homem inte- comportamento humano, tanto quanto o do animal, pode ser "modelado" e contro:
livre, tido como responsávelpelo seu comportamento,é apenas lado. No seu livro WaldenTwo, diz Skinner:
um pré-científico das causasque são descobertasno curso de
cientffica. Todas essas causas alternativas situam-sefora do indi- Agora que sabemos como atua o reforço positivo e como não o faz o
vfduo. (1953, p, 477) negativo, podemos ser mais deliberados e, daf, obter maior êxitoem nosso
planejamento cultural'. Podemos realizar uma de controle, sob o
Desg ponto de vista participam muitos psicólogos e outros que sentem, qual o controlado, embora sica um sitema de normasmuito mais escrupu-•
O Skinneri que todas as causas efetivas de comportamento residem fora
247
246
O controle de temperamentos? Dê-me as e eu lhe
losamente do que no regime antigo, E entirá livre. Estará fazendo o que que você me diz do controle da motivação, da mo-
darei o homem! Que 6
quer, não o que é forçado a fazer. Af reside a fonte do enorme poder do que farão os homens mais produtivos e de maior êxi-
delagem de interesses
reforço positivo — não haverá repressãonem revolta. Por um cuidadoso técnicas disponíveis e alp
planejamento cultural, controlambs, não o comportamento final, mas a to? Isto lhe parece fantástico? No enunto, há
nas possibilida&s .
inclinação para comportar-se os motivos,os desejos,as aspirações.O cu- mas podem ser testadas experimentalmente. Pense
Controlemos as vidas de nossos filhos e veremos o que se pode faze
rioso que, em tal caso, jamais se levantao pmblema da liberdade. (1948,
p. 218) (1948, p. 243)
Universida& da Costa
Outro experimento psicológico, feito pelo Dr. Richard Crútchfield, em Uma experiência que tive, há POUCOtempo, numa
Alguns psicólogos esuda•
Berkeley (1955), ilustra, ainda uma vez, um meio pelo qual o comportamento pode Ocidenul, ilustra, ainda, a falta de liberdade do homem.
contolado, dando a parecerque o indivíduo não é livre. Nesseexperimento, cin- comportamento, num grupo, po-
vam os meios pelos quais os padrões individuais de
deriam ser modificados. Quatro sujeitos asse u a •se
co sujeitos, ao mesmo tempo, ficam sentados lado a lado, dada um numa cabina in. em tomo de uma mesa. Em
dividual, separadosuns dos outros por biombos. Cada cabina é munida de um painel de um anteparo, e, assim, invi-
frente de cada um colocou-se uma limpada, munida
com várias chaves e luzes. O sujeito usará as chavespara assinalaros seus julgamen- 4 sfvel aos outros. Foi-lhes oferecido um tema para debate, Observou-se um i di f•
tos a respeito dos itens, projetados na parede, em frente ao grupo, As luzes acionam e nunca assumia papel de liderança,
duo, que parecia menos dominante, no grupo,
. sinais que indicam os julgamentos que os outros quatro membrosdo grupo fizeram Então, na segunda parte do experimento, deu-se-lhe uma nota, na qual foi i fo a•.
a respeito dos itens. Informa-se aos sujeitos que eles serão identificados pelas letras do de que a discussão estavasendo ouvida e observada por especialistas e que, quan-
A, B, C, D, e E e deverão responder,um de cada vez, nessaordem. Entretanto, do estes pensassemque ele contribufa, utilmente, para o processo do grupo, sua
quando entram nos cubículos, cada um des o e• uese identifica pela letra E. Não lâmpada piscaria. Competir-lhe-ia julgar, por si mesmo, se era proveitoso O que fa-
se lhes permite conversar durante a sessão. zia. Aos outros três, mais dominantes, se deram as mesmas instruções, com a e e•
Na realidade, as luzes de cada cabina são controladas pelo experimentador ção de que lhes foi dito que sua lâmpada piscaria quando não fôsse útil a respectiva
e não exprimem julgamentos dos outros quatro membros. Assim, quanto aos itens contribuieão. Formulou-se outro tema de discussão e todos foram informados de
cruciais, sobre que o experimentador quer impor pressõesde grupo, pode ele dar a que, o•fi de meia hora, deveriam tentar chegar a conclusões sobre o problema
aparênciade que todos os quatro membros, de A a D, concordamnuma resposta proposto. Agora, toda vez que o "retrafdo" fala, sua lampada tremeluz. E, sempre
que, evidentemente, diverge da resposta correta. Dessa forma, cada sujeito depara que os •ovtr6s falam, as respectivas lâmpadas também piscam, mas com sentido
com um conflito entre o seu próprio julgamento e o que supõe ser o consenso do oposto, isto é, indicando que não contribuem. Passada meia hora de tal condiciona-
grupo. A pergunta poderá ser, por e e plO,•esta: "Qual das duas figuras irregula- mento, o membro tímido já quase se impõe como Ifder do grupo. E mais, o padrão
res'é a maior, a figura X ou a figura Y?" A pessoavê, claramente, que X é maior parece persistir ao longo de meia hora adicional em que não se utilizam as ISmpadas.
do que Y, embora, um a um, os jatos de luz indiquem que os outros quatro e • Tudo se passa com três cientistas amadurecidos e um jovem estudante pós-graduado
'bros do grupo, todos eles, consideram que a figura Y é a maior. Agora, cabe-lhe dé- que são submetidos a essa•p o a,Na primeira sessão, o jovem quase não toma parte.
bidir, a seu tumo. Como responderá?Que chaveapertará?Crutchfield mostrou que, Na sessão em que as luzes piscam, ele assume papel tão dominante que, no fingi,
quando se pede ao grupo que faça um sumário do ocorrido, o membro mais velho
dadas condições corretas, quasetodos abandonarãoa evidência doi seus sentidos ou
volta-se para ele e diz: "Por que você não faz uma sfntese? Você é o mais habilita-
de sua honesta opinião e se o fo a ão•ço o aparente consenso do grupo. Por
do para isto."
exemplo, alguns matemáticos de altQ n (vel 'submeteram-se ao falso consenso do gru-
po sobre problemas de aritmética extremamente fáceis, dando respostaserradas que Aqui, uma vez mais, afigura-se que o comportamento é extremamente ma.
jamais formulariam, em circunstâncias normais. nipulével e que não existe essa coisa a que se chama liberdade. Os membrot do g u•
po se comportam como marionetes, movidas por um cordão, segundo O capricho
Aqui, de novo, se afigurariaevidente que o comportamentodo indivíduo é
dos experimentadores.
modelado por estímulos exteriores, neste caso um estfmulo social, e que não há es-
sa coisa a que se chama liberdade para escolher o próprio comportamento. Isto nos Um exemplo a mais do grau de controle que os cientistas são capazes de
ajuda a explicar por que Skinner, no seu WaldenTwo, faz o herói dizer o seguinte: exercer envolve um experimento com ratos. Há alguns anos, o Dr. James Olds
(1955) descobriu que poderia implantar pequenos eletrodos na área septal do cére-
"Bem, que é que você me diz do projeto de personalidade?Isto lhe

248 249
bro de ratos de laboratório. Quando um dessesanimais aperta uma barra, na sua Lembro-mede um jowm, fichacb como equizofrê±o, a
gaiola, isto faz com que uma corrente de um minuto passe pelos eletrodos. Se o ele- muito ternpo, num hospital do Estado. Tinha grande dificulda& exprimira e,
trodo penetrou no lugar exato do tecido cerebral, verifica-se uma experiência de tal durante uma hora, fez poucas referências a pesoas que haviam deixado,
modo agradável, que o animal entra numa orgia de apertar barra, muitas vezes até fi- mente, 0 hospital; ficou depois calado por uns quarentaminutos. se levatF
car exausto, Entretanto, a natureza subjetiva da experiência parece tão satisfatória tou para sair, resnungou, a meia voz: "Se pockrn fazer isso, ulvez eu
que o animal a prefere a qualquer outra espécje de atividade. Mesmo depois da possa também." Nada mais disse — nem foi uma declaração dramática ou
exaustão, com um breve repouso e um pouco de comida e água, o rato volta á orgia ciada com força e vigor, mas afirmaçãode uma exolha feita por aquelejowm
do prazer. Em um experimento, os ratos continuaram dessa maneira durante vinte que trabalharia para sua própria melhora e eventual liberação do hospital. Nto foi
e quatro horas do dia por, exatamente,três semahas.Bastante curioso é o fato de surpresa, pois, quando passadosuns oito meses, obtinha alta. que essaexpe-
que os ratos não sofreram dano algum, nem físico, nem mental, quer durante quer riência de opção responsávelé um dos aspectos mais profundos da psicoterapiae
depois do experimento. Resta-nos, apenas, especular se o procedimento teria o mes- um dos elementosque mais solidamente de base à mudançade personali-
mo efeito, se aplicado, no seu todo, a seres humanos, dada
Como um artigoda revista Life deixou claro ao leitor comum, não se fa- Lembro-me, ainda, de outra pesoa jovem, vez uma estudante univer-
zem experiências desse tipo apenas com animais, pas começam a ocorrer situações sitária, intensamentetranstornadae i beira de umacrise psicótica. No enuntQ, de
em que tal estfmulo eletrônico do cérebro é utilizado para a obtenção de certos ob- pois de certo número de entrevisüs, nas quais criticou vivamente as pessoasque n'O
jetivos médicos em seres humanos. Obviamente, não pode haver, com criaturas hu• haviam conseguido dar-lhe aquilo que precisava, afinal: "Bem, nesa base,
manas, a mesma experimentação que se tem feito com animais. Todavia, já sabemos a responsabilidade é minha. Quero dizer, parece-me realmente claro que não posso
que essas tênues correntei eletrônicas, a passarem por diminutas porções do cére- depender de ninguém mais para dar-me uma educação: E acrescentou,t a 0iIa•
bro, eliciam sentimentos de prazer, ódio ou medo e, até mesmo, sensaçõesdepressi- mente: ' 'Vou obter isso por mim mesma." Continua a perscrutar essa experiência de
vas de extremador. uma opção importante e responsável. Percebe que é uma arriscado, mas
que lhe dá uma sensaçãode força. A força, que lhe parece provir de dentrp de si
Penso que de tudo -isso ressalta, claramente, que o homem é uma máquina própria, é grande e intensa, embora ela se stnta também muito só e desprovida de
—uma máquina complexa, é certo, mas que se vai tornando, crescentemente, sujeita apoio exterior. Acrescenta, ainda: "Começarei a fazer mais coisas que sei que devo
ao confrole científico. Quer o comportamento venha a ser manejado através do con- fazer." E fez, de fato.
dicionamento operante, como em Walden Two ou "modelado" por formas i p p i•
sas de condicionamento que impliquem pressão social, ou, ainda, controladb.por Não me seria diffcil multiplicar os exemplos. Um jovem colega, falando $o•
eletrodos no cérebro, _parece,nitidamente, evidenciar-se -que a ciência está fazendo bre o modo como toda a sua vida fora distorcida e espoliada por seus pais, chega, fi•
do homem um objeto e que os propósitos de tal ciência não são apenasa compres- halmente, à seguinte conclusão: "Talvez agora, que eu vejo isto, O problemaseja
são e a predição, mas também o controle. Assim, não haveria lugar para conceito meu."
tão estranho aos fatos, como este de que o homem é livre. O homem é uma.máquV Explicarei comeum pouco mais de minúcia o modo como tal$ opções o o •
na, é destituído de liberdade, não se pode comprqrneter, em sentido algum dotado rem em terapia. Uma jovem colegial de dezesseis anos, imatura, multo religiosa, la•
de significação; é simplesmentecontrolado por forças, planejadas ou não, exteriores da numa famflia muito severa,-estabeleceupata si, claramente,um padrãode ideal
a ele. masculino de trabalho e desempenho escolar que superava, quase com certeza, qJa
capacidade. No ano anterior; sofrera uma crise nervosaque a oprimira bastante. Me•
ses depois, procurou-mepara que eu lhe desse ajuda. Para tomar apenasum dos
O HOMEM LIVRE muitos temas que foram objeto das entrevistas, focalizarei seus pontos de vista so•
bre o que constituiria ser uma mulher, tal como ficaram minuciosamente registrados
'Impressionam-me os progressos científicos, ilustrados pelos exemplos que em minhas notas. Durante as primeiras entrevistas, deixou claro que não gosuva de
ofereci' Vejo-os como um grande tributo à engenhosidade, à perspicácia e à persis- crianças, que não lhe agradaria casar-sej que preferiria ser homem ou agir como um
tência das pessoas que se dedicam à pesquisa. Deram estas enorme contribuição ao homem. Concordei Com esses Sentimentos.
nosso "ber. Entretanto, para mim, deixaram inexpresso algo de muito importante.
'Maistarde, disse-me ela: "Admiro tanto as qualidades maxulinas, que de-
Tentarei expô-lo a partir, antes de tudo, da minha experiência em psicoterapia.

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sejaria ser homem. Talvez alguém devesse esclarecer-me e mostrar-meque eu pode- ajudá-la, a princfpio de um modo intelectualmentedesdenhoso,depois, aos
ria ser uma bela jovem." Essa atitude, ainda mais ambivalente, foi aceita como sen- de maneira mais calorosa e pessoal. Por fim, num instante sumamente dramático,
do dela própria, diz-lhe: "Lisa, aperte minha mão!" Erolhe, com ótwio conflito e terror, deixar pata
Duas entrevistas depois, fala-me a respeito do seu desagradoem relação a Qtrás a segurançada sua intocabilida&t e aventurar-sepelo mundo dos ela io a e •
crianças pequenas,mas acrescenta, pensativa: "Talvez esse meu desagradotenha si- i tos humanos, reais, em we se põe, literal e figurativamente, em cv'uto com ou-
do mais ou menos forçado. Talvez eu apenas penseque não gosto de crianças." trerrv O leitor é uma peswa extraordinária, Se o filme não lhe arrancou algumas
neste ponto.
A seB1ir, noutra entrevista, fala com mais liberdade do seu medo do párto,
do receio de que o casamento viesse a interferir na sua carreira, dizendo que ainda Um behwiorista tentaria, talvez, explicar que aquele estender de mios re-
se via atrapalhada com todos esses problemas, mostrando ambivalênciabem defi i• sultaria do intermitente reforço de movimentos parciais. Acho tal explicÇ50 im-
da. precisa e inexata. O signific"o da d i€o é que é essencial i compreensão do ato.
O que tento sugerir com tudo isso é que me sentiria incapaz de explicar a
Numa das entrevistas finais, diz: "O senhor sabe que eu tenho refletido so- mudança positiva que pode ocorrer em psicoterapia, se omitisse a importincia do
bre feminilidade e, agora, vou ver se posso traduzir isso em palavras.Sou uma moça. senso de escolha livre e responúel, por parte dos meus clientes. Creio que essaex.
Aceitarei isto, não como um destino, não com um espírito de submissão,mas como periência da liberdade de escolha é um dos mais profundos eler{entos subjacentesà
significando o que pode haver de melhor. Posso, provavelmente,fazer uma porção mudança.
de coisas boas a mais, sendo eu mesma; e antes desenvolvendominhas próprias apti,....
d6es que tentando fazer algo diferente. Aceitarei isto como um desafio. Já quaseme
livrei do sentimento de que queria ser homem. Quero ser exatamenteo que eu sou. SIGNIFICAÇÃO DA LIBERDADE
Talvez, antes de o conseguir, já me Sinta feliz, realmente, por ser um tipo feminil. Em face dos avançoscientíficos mencionados,como podemos falar, ainda,
Estou começando a aprender a cozinhar, a ser uma boa cozinheira, a fazer disso, de liberdade?Em que sentido um cliente é livre? Em que sentido qualquer um de
além de tudo, umd arte." nós é livre? Que possível definição de liberdade pode haver, no mundo moderno?
Vemos de novo aqui o lento desabrocharde uma experiênciade opção pes- Tenumos tal definição.
soal que se mostra fundamental a toda mudança de personalidadee do comporta- Em primeiro lugar, a liberdade de que falo é coisa essencialmenteinterior,
mento que daf resulte. Ela escolhe, livremente,a autopercepçãode um modo diver- algo que existe na Dessoaviva, inteiramente à parte de.qualquer das
so e, dessa nova maneira de-perceber-se,fluem muitas mudançasde atitudes e de e te •
as•dealternativas em que tantas vezes supomosconsistir a liberdade. Falo daquela
comportamento. espéciede liberdade que Viktor Frankl deEreve, com nitidez, na sua experiência de
Ou talvez eu possa exprimir um pouco melhor a significação de uma opção um campo de concentração, quanto tudo —posses, status, identida& é arrancado
livre e responsável,citando frase de um psicótico, confuso e amargo, internado aos prisioneiros, Mesese anos em tal ambiente, mostraram, todavia, apenas,que
por três vezes num hospital do Estado. Seu último internamentodurava dois anos e "tudo pode ser tomado de um homem, menos uma coisa: a última das liberdades
meio na época em que comecei a assiti-lo. Pensoque as mudançasque se iam verifi- humanas— a de escolher a sua própria atitude, sob qualquer dal circunstâncias da-
cando, gradualméñte, basearam-se e se resumiram numa frase dita por ele, numa das das, a de escolher o seu próprio caminho" (1959, p. 65). É a tibdrdade interior, sub
entrevistasem que se sentia particularmente transtornado: "Não seio que vou fazer; jetiva, existenciàl, que tem sido o objeto das minhas observações.É a convicção de
mas que voufuer, vou!" Para mim, essa frase substitui volumes! que "posso viver minha própria vida, aqui e agora, segundo a minha própria escoe
lha" É a espécie de coragem que capacita uma pessoa a e t a • àincerteza do des•
Parg os que viram o filme David and Li", —esperoque os leitores tenham conhecido, tal como ela própria decidiu. É a descoberta do significado do está
passado por essa rica experiência — posso esclarecerexatamenteo que tenho discu- no Intimo de cada um, significado que decorre da atenção sensfvele aberta às com-
tido. David, o adolescente esquizofrênico, entra em pânico quando alguém o toca. plexidades do que se está experimentando. É o ónus de se tornar responsávelpela
Sente que o "contato traz a. morte" e tem um medo insuportávelde que o toquem espéciede ente que se escolhe ser. É o reconhecimento da pessoa de que ela é um
e acha que toda rélaç50 humana, fntima, implica tal contato. No entanto, ao final processo de i •a-se ,não um produto estático, acabado. O indivíduo que assim pen-
do filme, faz uma escolha audaciosa e positiva do tipo das que temos descrito. Ten- sa, profunda e corajosamente, suas próprias idéias, que se impõe a si mesmo sua sin-
ta dar uma ajuda a Lisa, a jovem que não tem contato algum com a realidade. Tenta gularidade, que escolhe o seu ser, responsavelmente,'pode ter a sorte de deparar

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com centenas de alternativas.objetivas, externas, para suas opções, ou pode ter a vos e naturais, livres de aparências, e sinceros. Onde os Conformistas tendiam
falta de sorte de não descobrir alternativa alguma. Mas sua liberdade existe, de ual• perda da perspicácia Sobre os seus próprios motivos e Comportamentos, a pessoain'
quer maneira. Assim, falamos, antes de tudo, de algo que existe dentro do i di f• dependentemanifestava boa compreensão de si mesma.
duo, algo antes fenomenológico que externo, mas, ainda assim, que pode ser capta-
Qual o significado desse aspecto do estudo de Crutchfield? Parece implicar
do.
que a pessoa interiormente livre, aberta à sua própria experiência, douda do senso
O segundo ponto definidor dessa experiência de liberdade consiste em da sua liberdade e da sua opção responsável, está, provavelmente. mais de
que esta existe não como contradição com a imagem do universo psicológico, à ser controlada do que aquela a quem faltam tais qualidades.
maneira de uma seqüência de causa e efeito — mas como um' complemento de tal
universo. A liberdade, corretamente entendida, é a efetivação, pela pessoa, da se- Outro caso de pesquisa, nesse campo, à qual estive intimamente vinculado,
qüência ordenada da sua vida. O homem livre movimenta-se volutariamente, de- produziu impacto decisivo sobre mim, nos anos que se seguiram à experiência.
sembaraçadamente, responsavelmente, para representar papel significativo no mun- petente aluno de pós-graduação que, há muitos anos, estwe sob minha supervisão,
—docujos acontecimentos determinados se verificam por meio dele e por meio da sua escolheu para tema de estudo os fatores capazes de predizer o comportamento de
espongnea escolha e vontades delinqüentes adolescentes. Fez cuidadosos levantamentos objetivos do meio
lógico na famflia, das experiências educacionais, das influências de vizinhança e cul-
Vejo, pois, a liberdade de que estou falando como existindo numa dimen- turais, das experiências sociais, da situação de salde e dos precedentes herediürios
So diferente da seqüência determinada de causa e efeito. Considero-a cómo a li' de cada delinqüente. Tais fatores extemos foram classificados tendo em vista sua
berdade que existe na pessoa subjetiva, uma liberdade de que ela .çp. ajosa e te•se natureza favorável ao desenvolvimento normal, numa série contínua, desde os ele-
utiliza•pa a dar vida a suas potencialidades. O fato de que esse tipo de liberdade pa- i mentos destrutivos do bem-estarda criança e inimigos do desenvolvimento sadio até
reça completamente irreconciliável com a imagem behaviorista do homem é algo os que, em alto grau, são conducentes a este. Quase sob a forma de reflexão poste-
que discutirei um pouco mais tarde. rior, classificou-se também o grau de autocompreens50,desde que sentia que, em-
bora esse não fosse um dos .fatores primacialmente determinantes, poderia partici-
A Libeidadesuscita uma Diferença parr de algum modo, da predição do comportamento fuuro. Tratava-se, essencial.
Bastante curioso é que se evidencia, cientificamente, a importância desse mente, de medir o grau em que o indivíduo fosse aberto e realista em relação a si
(1955), antes mencio- próprio e à sua situação, de julgar até onde fosse emocionalmente receptivo aos fa-
sentido da liberdade. Por exemplo, no estudo de Crutchfield
quase todo mundo se sub- tos ocorridos no seu íntimo e no meio em que vivia.
nado, afirmei que, sob circunstâncias especiais, extremas,
contudo, acentuadas diferenças indivi-
mete a certoArau de pressão de gruôó. Há, Esses dados sobre setenta e cinco delinqüentes foram comparados com 0$
com as características da personalidade.
duais que se relacionam definitivamente, referentesao seu comportamento e ajustamento, dois a três anos depois do estudo
tendiam ser submeter, a concordar, a se conformar, as-
Assim, os. indiv (duos que incapacidade
inicial. Esperava-seque os levantamentossobre o meio familiar e a experiência
em geral, sua
sim como os que podiam ser controlados, evidenciaram, não tendiam
cia: com os viessem a ser os melhores indicadores do comportamento poste-
que os inconformistas
de suportar, efetivamente, as tensões, ao passo rior. Para nosso espantd, o grau-de autocompreensãofoi o que melhor se prestou
a pressão de forças conflitantes.
a entrar em pânico, quando colocadós sob à predição, correlacionando-se0,84 com o compohamento ulterior, enquanto a na'
sentimentosde inferioridade tureza da experiência social figurava com corre14ção0,55 e o meio familiar 0,36.
O conformista tendia também a exprimir
quem não se submetia à pressãotinha um senso de Não estávamos, simplesmente, preparados para crer nesses achados e arquivamós O
desadaptação pessoais, enquanto
mais autodomfnio e autonomia estudo até que pudesse ser replicado. Replicou-se, mais tarde, num novo grupo de
competência e suficiência pessoais. Manifestavam
as atitudes dos outros. setentae seis casos, e todos os achados essenciaisSe• o fi a a ,embora de manei-
ho modo de pensar. Julgava também, melhor,
ra não mais tão extraordinária, Além disso, 0$ achados resistiram mesmo a uma aná-,
para os nossos propósitos, é o fato de
O mais importante, acima de tudo, lise pormenorizada. Ao examinarmos apenas os delinquentes que vinham dos lares
conformistas; tendiam a mostrar certa falta de
que os que se rendiam à pressão, os mais desfavoráveis e que neles permaneceram, ainda se verificou a verdade de we o
emocionais. Eram emocionalmentelimita-
abertura e de liberdade, nos processos seu futuro comportamento fora previsto melhor, não pelo condicionamento desfa-
a tendência de reprimir os próprios im-
dos, desprovidos -de espontaneidade, com vorável que*aviam recebido em seu meio familiar, mas pelo grau de o p ee s50•
que faziam suas próprias escolhas, eram, por
pulsos. Os não-conformistas, aqueles
e espontâneos. Revelavam-semais e p essi•
real que possu(am sobre si mesmos e sobre o seu ambiente. (Rogers, Keli, McNeite
outro lado, muitO mais abertos, livres 1948.)
255
Só lentamente comprpendo o significado desseestudo. Apenas começava a que os levaram a seus triunfos e os desviarampara seuserros. Eram paixões
ver o significado da autonomia interior. O indivíduo que se considera a si mesmo e e crenças pessoais,suas, embora.as sustentassemcom a convicção de que
i situaç50, claramente, e que livremente assume a responsabilidadepor seu prós fossem universalmente válidas. Creio que eram competentes para seguir
prio ser e por tal situação, é pessoa muito diferente da que simplesmentese acha nas seus impulsos, ainda mesmo com o risco de que estesos induzissem a erro.
-prat de ciramstancias exteriores. Essa diferença se revela, com nitidez, em impor.- E, agora, o que eu aceito do. que eles fizeram, aceito pessoalmente, guiado
tuttes aspectos do wu comporumento. por paixões e crenças semelhantesàs deles, sustentando,de minha parte,
que os meus impulsos são válidos, universalmente, embora deva admitir a
possibilidade de que eles se tenham enganado. (1958, p. 145)
A EMERGENCIA DO COMPROMETIMENTO
Até aqui, tenho falado, primordialmente. sobre a liberdade. E sobre o com- Pelo que vemos, pois, um moderno filósofo da ciência crê que o
prometimmto? Certamente, o mal da nossa época é a falta de propósito, a falta de metimentopessoal profundo é a única base sobre a qual pode a ciência manter-se,
•ifi ado, a falta de comprometimento por parte dos indivíduos. Haverá algo que firmemente, de pé. Isto está, na verdade a uma grande distância do positivismo
possa dizer em relação a isso? gico dos últimos vinte ou trinta anos, o qual colocou o conhecimento bem longe, no
espaço impessoal.
Para mim, é claro que, em terapia, como indiquei nos exemplos dados, o
compranetimento com os propósitos e o significado da vida é um dos mais impor- Falarei' um pouco mais sobre o que entendo por comprometimentoem
tutt,n elementos de mudança. É so quando a pessoa decide: "sou alguém; sou a!- sentido psicológico. penso que é fácil dar a essa palavra .signi.ficaçãode asiada e •
de ser; o p o eti• e a ser eu próprio", que a mudançase toma pos- te superficial, indicando que a pessoa, por uma simples escolhaconsciente, se com-
prometeu num ou outro curso de ação. Acho qge o significado é bem mais profun-
do que esse.O comprometimento pessoal é uma direção organfsmica, total, envol-
Num interessantfçsimo simpósio, realizado na University, recentemen- vendo não só o espfhito consciente, mas, por igual, a direção de todo o organismo.
te, O Dr. SiFuJnd Koch fez o esboço da revoluçãoque se estáverificandona ciên-
cia, na e nas artes, em.que certo senso de compromissose vai tornando, Na minha opinião, o comprometimentoé algo que alg.lém dexobm den-
outra k, widente, após longo pertodo úJrante o qual tal ênfase inexistiu. tro de si mesmo. É um confiar na reação total do eu, maisdo que apenas na da meni
te. Tem muito a ver com a criatividade. A explicação que nos dá Einstein do modo
Paru do que ele quis dizer ser esclarecido por uma referência ao Dr. como se encaminhou para a fórmulação da teoria da nenhumco'
Mi h•el Polanyi, o filósofo que foi ante; disso um ffsico, ao expor suas nhecimento claro do•seu objetivo, é um excelente exemplo do que entendo pelo
sobre o que é, basicamente, a ciência. No seu livro PersonalKnowledge, Po- senso de comprometimentobaseadonuma reação organfsmica total. Diz ele:
tanyi evi&ncimJ que mesmo o conhecimento ciehtffico é um conhecimento pessoal,
um conhecimento cornprometido. Não nos podemos apegar, comodamente,à Con- Durante todos aqueles anos, houve um sentimentode uma direção,
viÇ50 de O conhecimentocientffico é impessoale "vindo de fora", que nada de estar indo diretamenteno sentido de algo concreto. É, sem dúvida, mui-
pie • ver corn o indivfduo que o descobriu.Ao contrário, pelaciência, sob to• 9-
to difícil exprimir, em palavras, esse sentimento, mas, inegavelmente,ele
PS seus perpassa o comprometimento pessoal, disciplinado, e Polariyi ocorreu e deve, nitidamente, distinguir-se das considerações posteriores
wsunu, muito we toda a tentativade estabelecerum divórcio bre a forma racional da solução. (Citado por Wertheimer,1945, p. 183-
entre a ciência e a pegoa é absoluumente irrealiSta. Penso expor-lhe, de modo cor; 184)
a opini50, •a do digo we, a seu ver, o positivismo lógico e toda a estrutura Assim o comprometimentoé mais do que uma decisão.É a atuação de um
em ciência n'O nos podem fazer escapar ao fato de que todo conhecimento indivfduo em busca das direçõesque emergemde dentro de si próprio. Disse Kierke-
e é e compreendido por meio de um profundo gaard que "a verdade só existe no processo de tornar-se, no processo de apropria-
• p o uti e to '*Soal ruma peswisa disciplinada. ção" (1941, p. 72). É esta criação indiüidual de uma verdadepessoal,atrave da
ação, que constitui a essência do comprometimento.
Lha brwe citaçb talva algo do sabor de seu pensamento.AO fa•
cientista, Polanyi: O homem obtém maior êxito em tal comprometimento, quando atua
mo indivfduo integrado, total, unificado. Quanto mais atua dessafórma total, maior
assim, que urfto Kepler quanto Einstein ti"eram acesso à na-
confiança tern nas direções que, inconscientemente, escolhe. Sente uma confiança
tureza com pabc6esintelecuais e com cmças inerentesa essaspaixões,
257
na sua experiência mesmo quando disso, se tem sorte, só possui relances parciais
na sua consciência. Qual a resposta à contradição a que me referi? Quanto a mim, contento-me
em considerá-la um profundo e persistente paradoxo. Embora os paradoxos sejam,
Entendido no sentido em que o descrevo,é claro que o comprometimento não raro, frustrantes, podem,ainda assim, ter bastante fecundidade.Em Ffsica M o
uma realização. É aquela espécie de direção, plena de propósito e de significado, paradoxo de que a luz é uma forma de propagação de onda e, ao mesmo tempo, se
que 56 gradualmente é emareendida pela pessoa que chega, pouco a pouco, a viver, pode verificar que ela se constitui de quanta,contradiçãoentre a teoria onúlr ea
intimamente, em' relação com o que é a sua própria experiência —um relacionamen- teoria corpuscular da luz. Esse paradoxo continua irreconciliável, e, no entanto, so-
to no qual suas tendências incônscientes são tão respeitadas quanto as suas opções'
bre sua baseea F fsre-tem feito importantes progressos.
cong:ientes. É 0 tipo de comprometimento noosentido do qual Creio que os indiví-
podem se encaminhar. É um aspecto importante no viver de modo pleno. O filósofo Friedman acredita due muito do mesmoponto de vista é neces-
Sário, quando se enfrenta o problema filosófico da significação. Diz Ele: "Hoje, só
A CONTRADIÇÃO IRRECONCILIAVEL se pode encontrar o significado, se absoluto, por meio da atiWde de quem se disp5e
a viver com o absurdo, a permanecer aberto ao mistério que jamais pode esperar
'Confio em que tenha ficado bem claro que apresenteidois pontos de vista
definir." (1963, p. 468)
marcadamente divergentes e irreconciliavelmente contraditórios. De um lado, a mo-
dema ciência psicológica, assim como muitas outrasforças da vida atuai, sustentam Participo dessaconvicção de que devemosviver, abertamente,com o misté-
opini50 de que 0 homem não é livre, de que é controlado, de que termos como 4 rio, com o absurdo. Deixe-me colocar O tema de minhà discussão,como um todo,
"propósito", '*escolha!' "comprometimento" não possuemteor significativo, de sob a forma dê uma contradição.
que o homem nada mais é do que um objeto que podemos amplamente o p ee • Parte da vida moderna está em face do paradoxo de que, visto sób certa
e ainda mais amplamente controlar. Grandes esforços fofam fritos e estão sendo perspectiva,o homem é uma máquina complexa. Encaminhamo-nos,dia a dia, para
para implantar esta berspectiva. Pareceria, na verdade, herético pôr em dúvida uma compreensãomais precisa e para um mais preciso controle desse mecanismo
ponto de vista. Objetivo a que chamamos o homem. De outro lado, em outra dimensão significativa
No entanto, como Polanyi acentuou em outro dos seustrabalhos (1957), da sua existência, o homem é subjetivamentelivre; sua opção e sua
os da ciência podem Contrariar a verdade. Diz ele: sabilidade o fig• a -lhe a vida; ele é, de fato, o arquiteto de si mesmo.Partever-
dadeiramentecrucial da sua existência é a descoberta do seu próprio comprornisso
Nos dias emme se podia silenciar uma idéia pelo fato de ser ela cono Significante de viver empenhando todo o seu ser.
trária religião, a teologia era a maior fonte singular d? enganos.Hoje, Se a tudo isso o leitor reagir dizendo: "Mas essespontos de vista não po-
,wandO qualquer pensamentohumano podeser desacreditado,sob o estig- dém ser, ambos, veidadeiros", minha respostaé: "Trata-se de um profrndb paradF
ma de n50-cientffico, O poder antes exercido pela teologia passou a ser xo com o qual temos de aprendera viver."
prerrogativa da ciência; daf se ter transformado a ciência, a seu turno, na
maior fonu sinBJlar de erro,
Animo-me, pois, a dizer que, contra a visão do homem como destituído de
corno um objeto, existe a evidência oriunda da terapia, da vida subjetiva, REFERENCIAS
asim como da pesquisa ob)etiva,de que a liberdadee a responspbilidadepessoais
têm sivtificado crucial, que uma pessoa não pode viver uma vida completa sem esta
CRUTCHFIELD, R. S. Conformityandcharacter. Âme"n Psyahologist10:
liberda& e responsabilidade pessoaise de que a autocompreens50e a opção respons 191-198, 1955.
s*el diferença marcada e mensurável no comportamento do indivíduo.
Em ta/ contexto, 0 comprometimento há de ter significado. Comprometimento é a FRANKL, V. E. From death camp to existentialign. Boston, BeaconPress,
e mutável direção total do indivíduo, bawada num relacionamentoínti- 1959.
mo e recotivo entre a pessoae todas as tenütcias da sua vida, conscientese in-
conzientes. A menos mse, indiv fduos e como uma sociedade, possamos fazer FRIEDMAN, M. The problematicrebel.. Nova lorque, Random House, 1963,
•&ssa capacidade de sermos livres e de comprometermos,a hu• klERKEGAARb, S. Concludingunxientificposxctipt Walter'Lowre,ed;
pa e e• t ,estará estabelecendo uma colisão como destino, Princeton, Princeton University Press,1941.

259
OLDS, J. A physiologicalstudy of reward. MCCLELLAND, D. C.. eos Capítulo XIV
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134143,
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1967.

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1$,1948
SKINNER, B. F. WaldenTwo. Nova lorque, Macmillan,1948,
O OBJETIVO: APESSOA EM
. ±ienceandhuman behavior, Nova lorque, Macmillan, 1952. PLENO FUNCIONAMENTO
Behaviorism at fifty. In: Wann, T. W., ed. Beha io is •à d
Phawnenolow: Contrastingbasesfoi modempsychology. Universityof
Chicago Press, 1964. p, 90-91. Por queestamos lutando? Por que desejamos o '*melhor" (seja
qual for a nossa definição do termo) na vidafamiliar, na escola,
WERTHEIMER, M. Productivethinking. Nova lorque,HarperE194$ na universidade, na comunidade? É porque, creio, esperamos de-
senvolver o que há de "melhor" nos:seres humanos. Masrara-
mente conseguimos dar uma idéia explícita do exato signifiàado
desse objetivo. Que espécie de ser humano queremos déw•vvol-
ver?
Há alguns anos, escrevendo como terapeuta, tentei dar uma res-
postà pesoal a essapergunta 0). Não tenho por que me escusar.
pelo fato de que este capítulo se haja fórmulado tendo como re-
ferênciaa terapia.A meu ver o "melhor" da educaçãoproduzi-
gia pessoa muito semelhanteà que resulta do "melhor" da tera-
pia, Na verdade, será muito útil a profesores e educadores refle-
tirem sobre esse problema, num contexto exterior à escola.Ser-
lhes-á mais fácil verem numa focalização mais especializada,os
aspectos com os quais concordam e os de que discordam,no
quadro que lhes ofereço,

I
II): Este caprtulo a versb revisu de um iexto antáriormentepublicado sob o tftu/o The
Concept of thá Fully.Functioning , '"RYFhotherapy:Thmry, Resarch,and
Practice", 1963, 1,00 1, 17-26,

26 T
que cada um de nós, de tempos em tempos, especula sobre as ca- críticas que mencionei» termos que, eventualmente, lhe assegurariam uma definição
racterfsticas gerais da pessoa 6tima. Se a educação, como desejarfamosque ela fo- operacional e uma prova obietiva,
obtivesse o mais completo êxito na promoção do crescimentoe do dese ol i•
mento pessoais, que espécie de pessoa se formaria? Ou, referindo-me ao campo no OS ANTECEDENTES A PARTIR DOS
mial tenho maior experiência, supondo-se que a psicoterapia se realizasse.demanei- QUAIS SE TEM ACESSO AO PROBLEMA
ra Otima, We e• ip de pessoa se desenvolveria?Qual o hipotético ponto final, 9
máximo, do crescimento e do desenvolvimento psicológico? Quero dieutir a questão Fique claro, desde o início, que me referireiaos antecedentesda terapia
do ponto de vista da terapia, mas creio que os ensaiosde respostaque formulo se centrada no cliente. Possivelmente, toda psicoterapia coroada de êxito tem como re-
aplicariam à educação, ou à famflia, ou a qualquer outra situação cuja sultado uma personalidade idêntica mas disso estou hoje menos certo do que antes,
finalidade wja o construtivo das pessoas.Estou levantandoo pro- donde o meu propósito de estreitar o meu campo de consideração. Assim, presumo
blema: mial o objetivo? que é uma pessoaótima? que essa hipotética pessoa que descrevo passou por uma experiência intensiva e ex-
tensiva em terapia centrada no cliente, e que a terapia foi tão completamente coroa-
Muitas vezes tenho feito essa pergunta a mim mesmo e tenho ficado cons- da de e êxito quanto teoricamente é possível. Isso quer dizer que o terapeuta foi
insatisfeito com a espécie de respostas correntes. Parecém equfvocas de- paz de entrar num relacionamento intensivamente pessoal e subjetivo com tal clien-
fnais, relativfsticas &mai$, para terem algum valor ponderávelno desenvolvimento te relacionando-se,não como um cientista com o seu objeto de estudo,nem co-
uma ciência da personalidade. Não raro, nelas estâ contido, também,certo pre- mo um médico na expectativa de diagnosticar e curar, mas pessoa a pessoa.Quer di-
dissimulado que as torna insatisfatórias. Penso -nanoção comumente acei- zer que o terapeutasente tal cliente como pessoa que é, de incondicional autovalor;
ta we a pessoa que completou a terapia, ou que é jnteiramente madura, se ajus- -de valor independente das Alas do Seu componamento, dos seus senti'
,tvá Mas a que sociedade? A qualquer espéciede sociedade, sejam quais mentos. Quer dizer que o terapeutaé capaz de permitir-sea compreensãodesse
forem Alas caracterfsticas?Não concordocom isso. Penso no conceito , implícito cliente; que nenhum obstáculo interior o impede de perceber o que se afigura ser o
ern nwitas obras de Psicologia, seg.Jndoo qual a terapiacoroada de êxito significa cliente em cada instante do relacionamento; e que pode comunicar algo da sua Com-'
a pass• de uma pessoa de uma categoria diagnosticada como patológica a uma preensão empática ao cliente. Quer dizer que o terapeuta sentiu-se bem ao entregar-
ouüh tida como normal. Mas acumula-sea evidência de que há tão pouca concor- se plenamente a este relacionamento, sem saber, cognitivamente, aonde ele o levará,
ern relação às categorias de diagnóstico que elas se tornam praticamente sem cóntentando-se em proporcionar um clima que deixará o cliente livre para
sivtificado corno conceitos científicos. E mesmo que a pessoase torne "normal", ele mesmo.
essa uma conwqüência adequadada teapia? Além disso, a experiênciados Para o cliente, a terapia em condições ótimas significa uma exploração,
últimos arm terryrnefeito perWntar o termo psicopatologianão seria, simples- dentro de si mesmo,de sentimentos caàa vez mais estranhos, assim Como desconhe-
-mmte, o conveniente de todos aqueles aspectosda personalidadeque Cidos e arriscados; a exploração só se mostra possível porque ele vai aos poucos veri a
os p«itos em diagnósticos temeriam, acima de tudo, verificar existirem neles pró- ficando que é aceito incondicionalmente.Assim, entra na intimidade de elementos
Por mJtaz razões, a mjdança no diagnóstico não é, para mim, descri- da sua experiência que, -no passadovlhe foram negados ao conhecimento, por serem
satisfatória do resultado da terapia. Se me volto para outro tipo de conceito, por demais ameaçadores,prejudiciais à estruü.Jrado seu w. Descobre-sea expen-
v«ifico que, de uma pessoa cujo crescimentopsicológico é 6timo, se diz que atin- mentar tais sentimentosde modo amplo, comprãto, no relacionamento,de modo
li qiu um estadO positivo de mental. Mas quem define o que seja saúde mental? que, em dado instante,ele é o seu medo, a sua ira, a sua ternura,.asua força. E
DeEonfio de que a Clfnica Mennfngere Ceniro de Eitudo sobrá a Pessoaa defini- quando vive estes sentimentos amplamente diversos, em todos os graus de intensie
de modo completamente-diverso. certo de que o Estado Soviético ofe- dade; descobre que teve uma experiência de si próprio, que ele é tudo isso que seri-
recria ain& umaoutra&finição, te. Vê o seu comportamento transmudar-se,de modo construtivo, de acordo com o
seu "eu", experimentado dé uma nova a ei a„A ede à verificação de que já não
Irrvetidos por indagações essas, pus-me a especÚlar sobre as a a te•i
precisa temer a experiência por que há de passar, mas pode acolhê-la, livremente,
rfsticas da pessoa que sai de uma terapia,Se esta atingiu o máximo de êxito. Gosta• como parte do seu eu em mutação e desenvolvimento.
ria de partilhar com o leitor algumas dessasexpeculaçõespessoais.O que eu• ue o
formular um conceito uórico sobre O estágiofinal étimo da terapia,ou, na Eis uma breve descrição do que a terapia centrada no cliente pode vir a ser,
da Espero afirm-lo em termos que o eximiriam de algumas das em condições ótimas. Ofereço-a como simples introdução ao que de modo especial

263
me preocupa: quais as características da personalidade que se desenvolveriano clien- do — de que não estoy me fingindo de cansado de que apenas me encon-
ti,Zomo resultante de uma experiência dessa espécie? tro, fisiologicamente.em nível inferior. Antes, parecia-meque eu estava,
sempre, a criticar o meu cansaço.
AS CARACTERÍSTICAS DA PESSOA APÓS A TERAPIA Terapeuta: "Assim, voci pode deixar-se estar cansado, em vez de se pôr a
Qual, pois, o ponto final ótimo da psicoterapia,o ponto de maiorCresci- criticar o seu cansaço.'
mento psicológico possível? Tentarei responder à a meu jeito, baseando-
Cliente; "Sim, a dizer que eu não deveriaestar cansado,ou coisa seme-
me no conhecimentoque adquiri a partir da experiênciaclínica e da pesquisa,mas
levando-o ao extremo, a fim de melhor delinear a espécie de pessoa que emergiria
lhante. E parece, de algum modo, ser bem profundo que eu, realmente,
se a terapia fosse a mais eficaz. Quando medito profundamente sobre a resposta,a não posso combater esse cansaço, e a isso se acrescenta a sensação real de
descrição tal pessoa parece-me inteiramente unitária, mas, para maior clareza da que tenho que reduzir minha atividade, pois estar cansadonão é coisa tão
apresentação, dividi-la-ei em três facetas. horrível assim. Penso que posso também, de certo modo, captar, aqui, um
traço da razão por que eu estaria assim, a partir da maneiracomo meu pai
1. APESSOA SERIA ABERTA À PRÓPRIA EXPERIENCIA é, da sua maneira de ver certas coisas como essas. Por exemplo, digamos
que eu estivesse doente e que lhe contasse isso e que se afiguraria que ele
A frase em epfgrafe veio a ter significado cada vez mais definido para mim. haveria de querer, abertamente, fazer alguma coisa a respeito, mas comuni-
Trata-se do pólo oposto à agitude defensiva. Descrevemos,no passado,tal atitude caria também: "Ah! caramba, mais um O senhor sabe,
como resposta do organismo às experiências apercebidasou antecipadascomo in- algo assim, ou,coisa parecida."
congruentes com a estrutura do eu. A fim de manter a auto-estrutura, dá-se a tais
experiência uma simbolização distorcida, na consciência, o que reduz a i o g u • Terapeuta: "Como se houvessealgo de tremendamenteirritante nisso de
cia. o indivfduo se défende contra qualquer ameaçade alteração no conceito se estar fisicamente mal,"
Cliente: 'Sim, estou certo de que meu pai, tal como eu, tem o mesmo des•.
Na aberta à -suaexperiência, entretanto, todo estímulo quer se ori- respeitopor sua condição fisiológica. Agora, no último tive um to •
gine dentro do organismo, quer do meio ambiente, transmite-se, livremente,através cicolo, uma distensão violenta, chegava aouvir estalar o meu pescoço e tu-
do sistema nervoso, sem ser. distorcido por um mecanismo de defesa. Não haveria do mais. Dora, de fato, o tempo todo, no começo era lancinante. E o medi-
necessidade do mecanismo de•"subpercepção" por meio do qual o organismose pre- co examinou-me, disse-me que não era nada sério, que iria sarar por si, des-
vine de qualquer experiência que ameacep eu. Ao contrário, quer o estímulo seja o de que eu não virasse demais a cabeça. Bem, isso foi há uns meses — e, re-
de uma configuração de forma, de cor ou de som, do meio sobre os nervos centemente, observei,que — diabol dói mesmo e ainda está doendo —e que
quer seja um vestígio da memória do passadoou uma sensaçãovisceral não é culpa minha, isto é ..
de medo, de prazer ou de desgosto, a pessoa estaria "vivendo-o", tê-lo-ia inteiramen-
te acessfvel à consciência. Terapeuta: "Isto nada prova de mau a seu respeito

Talvez eu dê a esse conceito significado mais vfvido, ilustrando-o com uma Cliente: "Não — e uma das razões por que, eu acho, fico mais cañ±ado do
entrevista gravada. Jovem profissional relata, na quadragésimaoitava entrevista, o que deveria estar é esse mau jeito Já marquei uma consulta
como se tornou mais aberto a algumas de suas sensaçõessomáticas,assim co- com um dos médicos do hospital para ele dar uma espiadanisto e tirar
mo a outros wntimentos: uma radiografia ou coisa semelhante. Suponho que o senhor dirá que estou
ficando mais acuradamenteou mais objetivamente sensível, a coisas dessa
"Não me parece que seria possfvel a quem quer que seja relatar espécie. Posso dizer-lhe, com certeza, que isso se aplica também ao que eu
todas as rwdanças que sinto. Mas senti, de certo, recentemente, que tenho como e a quanto como. E isso é, realmente, uma mudança profunda, como
mais respeito, maior objetividade, para com o meu corpo. Quero dizer que estou dizendo. E, de fato, meu relacionamentocom minhar mulhere
não espero demais de mim mesmo. Eis como se verificou isto: parece-me meus dois filhQS se tornou — bem, o senhor não o reconheceria,logo, se
que, no passado, cosumava lutar contra certo cansaço que sentia, depois pudesse ver-me por dentro como o senhor faz — quer dize — não parece
do jantar. Bem, agora, est0U qua" certo de que me sinto realmente haver nada mais maravilhoso do que real e genuinamente —E ti , realmen-

265
te, amor pelos filhos e, ao mesmo tempo, recebê-lo. Não sei como exprimir
desse instante e não poderá ser previsto de antemão, nem por mim nem por ou•
isso. Respeitamo-nos, agora, de tal modo nós ambos -s pois Judy e nós já
trem 'i. Não raro, encontramos clientes a exprimirem sentimento dessa espécie.As-
O observamos como participantes disso houve tal mudança nela —pa-
sim, um deles, no fim da terapia, diz de um modo um tanto perplexo: "Ainda não
rece, de fato, ser uma coisa muito profunda s"
cheguei ao fim da urefa de me integrar e de me reorganizar, mas isto é apenas o •
rerapeuta: "Parece-me que você está dizendo que pode prestar atenção a fuso, não desencorajador, agora que verifico que isto é um processo contfnuo... É
você mesmo, de modo mais preciso. Se o seu corpo diz que você está can- excitante, inquietante às vezes, mas profundamente encorajador, sentir-se em Çüo
s+, você o ouve e acredita nele, em vez de criticá-lo; se sente dor, perce- e saber nitidamente, que a gente vai indo para diante, mesmo quando não se sabe,
be isto: se o que existe é realmenteamor pela sua mulher ou seus dois fi- conscientemente, aonde isto nos leva,"
lhos, você pode sentir isso, e se lhe afigura que, neles, se revelam também Um modo de exprimir a fluidez que se faria presenteem tal vivência exis-
mudanças." têncial está em dizer que o eu e a personalidadeemergiriam da experiência, em vez
Pode-se ver, aqui, num extrato de interesserelativamentemenor, mas sim. de ser esta transladada óu distorcida para adaótar•sea uma preconce-
bolicamente importante, muito do que tenho tentado dizer sobre a abertura à expe- bida. Isto significa que alguém sõtorna participante e observador do processo de ex-
riência. A princfpio, aquele cliente não podia passar por um sofrimento ou por uma periência organ «mica, em vias de desenvolver-se,em vez dê controlá-lo. No capftulo
doença, com liberdade, porque estar mal lhe parecia inaceitável.Nem podia sentir VI, tentei descrever a maneiracomo se me afigura esse tipo de vivência.
ternura ou amor por seus filhos, porque tais sentimentos significavam ser fraco e ele
Todo esse cortejo de experiênciase as significaçõesque nelas
queria sustentar a fachada dé homem forte. Mas agoraqpode abrir-se à experiência
do seu organismo ficar cansado, quando está cansado, sofrer uma dor quando sen-
descobri,até agora, lançaram,mecomo que numprocesso,a um
te dor; pode ainda, livremente, experimentar o amor que sente por sua filha, e tam-
tempo, fascinante• e, não raro, um tanto atemorizador. Isto
bém exprimir um aborecimento em relação a ela, como disse depois, em outra fase quer dizer, parece, que me deixei levar por minha experiência
da entrevista, Pode viver, plenamente, suas experiências orgânicas, totais, em vez de numa direção que se me afigura progressiva, na busca de objeti-
eliminá-las de sua consciênàia. vos que ma/ posso definir, quando tento compreendero signifi,
cado de tal experiência. A sensaçãoé ade flutuar numa comple-
Usei o conceito de, acessibilidade à consciêncianumatentativa de elu i• xa corrente de experiênciascom a fascinante possibilidàdede
dar 0 que significa, para mim, abertura à experiência. Isto podesermal ó pree • tentar compreender sua complexidade sempre em mudança.
dido. NSO quero dizer que'esse indivíduo se capacitaria, de
tudo que se passa no seu Íntimo, como a centopéiase tornariaconscientedê'tbdas Tal vivência de dado instante significarpois, ausência de rigidez, de organi-
as suas pernas. Ao contrário, seria livre*para viver um sentimento, subjetivamente, zação forçada, da imposição de uma estrutura sobre a experiência. Trata-se, ao con-
tanto quanto de tornar-se conhecedor dele. Experimentaria amor ou sofrimento ou trário, de um máximo de adaptalidade, de uma descoberta da estrutura na experiên-
medo, vivendo, em tal atitude, subjetivamente. Ou poderia abstrair-se dessasu jeti• cia, de uma fluida e mutável organização do eu.e da personalida±.
vidade e caput na consciência: "sinto uma dor", "estou com medo , amo". O A personalidadee o eu estariamem fluxo contfnuo, os únicós elementos
ponto crucial reside em que não haveria barreiros, nem inibições, que impedissema estáveis seriam as capacidadese limitações fisiológicas do organismo, as contínuas
plena exp«imentaç50 de qualquer coisa que se,fizesse organicamente presente,e a e periódicas necessidadesorganfsmiéa' de sobrevivência, de engrandecimento, de
xessibilidade i consciência é uma boa maneira de medir essa ausência de impeci- alimento, de afeição, de sexo, entre outras. Os traços mais estáveis da personalida-
de abrir-se-iam à experiência z_à. flexível satisfação das necessidadesexistenciais
no flieio existente.
2. APESSOA VIVERIA DE UMAFORMAEXISTENCIAL.
Creio evidenciar-se que, para a pessoaplenamente aberta à sua experiência, 3. A PESSOA VERIA O SEU ORGANISMOCOMO MEIO FIDEDIGNO DE
n50-defensiva, cada momento seria novo. A complexa configuração LEVAR AO COMPORTAMENTO MAIS SATISFATÓRIO, EM CADA
estfmulos internos e externos que ocorre, em dado momento,jamais existiu an- TUAÇÃOEXISTENCIAL.
tes, de maneira exatamente igual. Coneqüentemente, nossa hipotética pessoa se ca-
pxitaria de quet "o que serei no próximo momento, assim como o farei, procederá Faria o que "sentisseestar certo" naquele momento imediato e acharia que

267
esta, em geral, seria uma orientação competentee fidedigna paraseu o porta e •
primir sua irritação para com a filha, quando "sentia" tal aborecimento, tanto quan-
to experimentava afeição a ela. Verificou que o fazia de modo a não somenteliber-
Se isso parecesseestranho, deixe-me expor o racioc(nio que lhe servede tar-se da tensão em si próprio, como a permitir que a menina.desse vasão,também,
fundamento. Desde que alguém se abre à sua experiência, terá acesso -a suas contrariedades. Descreve as.diferenças entre comunicar-se com a sua filha e
a todos os da•
dos disponíveis na situação, sobre os quais irá basearo seu comportamento: impor-lhe Na irritação. Continua ele: "Pc;s se percebe que não lhe estou impondo
as exi-
gências sociais, suas próprias necessidadescomplexas e pdssivelmente os meus sentimentose parece-meque posso mostrar isto, no meu rosto. Talvez ela
conflitantes;
suas lembranças de situações análogas, sua percepção da singularidade de o veja, como se dissesse: sim, papai está com raiva: mas eu não tenho de me subme-
tal situa-
cão, etc., etc. Os aspectos dinâmicos de cada situação seriam,na verdade, muito ter. Porque ela jamais se submete. Isto é tema bom para uma novela, sinto-o assim".
complexos. Mas ele poderia permitir que seu organismo total, que.sua consciência Em tal caso, aberto à sua experiência, o cliente em quesfo escolhe, com Surpreen-
participanu, consideras%rn cada estfmulo, necessidadee exigência,.sua relativa in- dente habilidade intuitiva, um curso de ação sutilmente orientado, o qual vai.ao en-
tensidade e imporüncia, e, após essa-complexa ponderação e avaliação, haveria contro da sua necessidade de libertar-se da tensão causada pela irritação que experi-
de
descobrir o curso de Ç50 que mais proximamente satisfizesseas suas necessidades menu, mas também de satisfazer sua necessidade de ser um bom pai e de atender à
na situoç50. Poder famos encontrar uma analogia de nossa descrição, comparando a alegria de ver o desenvolvimento saudável da sua filha, Entretanto, tudo isso ele o
pessoa em a um grande computador eletrônico. Aberta à sua experiência. to- obtém fazendo, simplesmente, aquilo que lhe parece que é correto fazer.
dos os dados oriundos de suas impressões sensfveis, de sua memória, de seu apren-
Em nível inteiramentediverso, parece que o mesmotipo de complexase-
dizado anterior, dos seus estados viscerais e internos iriam alimentar o computador. ieção organfsmica determina o comportamento da pessoa dotada de poder criador,
Este 'tomariaos múltiplos impulsos e forças nele inclufdos como dados e computa. Verifica estar a mover-se numa certa direção, bem antes de poder dar-lhe base com-
ria, logo, O curso de ação que seria a via mais econômica para satisfazer as necessi- pletamente consciente c racional. Durante esse se move no sentido de
dades nestasituação existencial. Eis o comportamento de nossahipotética pessoa. um novo tipo de expressãoartística, um novo tipo .deestilo literário, de uma
Os &feitos que, na maioria dentre nós, fazem com que esse processo perca nova teoria no campo da ciência, de um novo método de ensino, tal pessoa simples-
o seu valor 550 a inclusão material não exisfenpial ou ausênciade dados. É mente confia em sua reação organfsmica. Sente-se segura de estar no seu caminho,
quando lembranças e aprendiàagens anteriores são computadascomo se fossemrea- mesmôquando ñ50 pode descrevero ponto final da jornada. É o tipo do compor-
lida&s e não como lembranças ou aprendizagens, que surgem respoStas ta e •tocaracterístico também, penso eu, da pessoa que tirou toda a vantagem da
erróneas para o comportamento, Ou quando certas experiênciasameaçadorassão terapia ou daquela cuja experiência educacional habilitou-a a aprender como apren-
der.
impedidas de chegar à consciência, e enúo retiradas da computaçãoou nela i luf•
das de forma distorcida, também se produz errot •Mas para a nossa hipotética pes- A PESSOA EM PLENO FUNCIONAMENTO
Soa 0 seu organismo seria inteiramente digno de confiança, porque se tftilizaria de
todos os dados disponfveis, tornados presentes de maneira antes exata que deforrpa- Gostaria d? reunir esses três traços numa apresentação descritiva mais uni-
da. Don& comportar-se, tantd quanto poss(vel, de macio a satisfazer todas as suas fica&. Parece que a pessoa que emerge de uma experiência de crescimento indivi-
às de engrandecimento, sua associação coin os outros, e as de dual teoricamente ótima, quer-se trate de terapia centrada no cliente.ou de alguma
iBJal género. outra experiência de aprendizagem e desenvolvimento, é a pessoa em pleno funcio-
namento,Trata-se de alguém capaz de viver plenamente os•ecom todos os seus
Nos atos de ponderar, de ajustar, de computar, o orgañismOnão Seria,de
sentimentos e reações. Usa de todo o seu equipamento orgânico para sentir, tão e a•
modo algum, infatfvel. Daria, sempre, a melhor resposta possível aos dados de que
tamente quanto possível, a situação existencial, interior e exterior. Põe em aç50 to•
dispusesse,mas, às vezes, os dados poderiam faltar. Em razão, todavia, do fator de
dos às dados que o seu sistema neFvoso lhe possa, então, proporcionar, dele usando
à experiência, quaisquer erros, qualquer comportamento resultanteque
conscientemente, mas reconhecendo que o seu organismo, como um todo, o asio•
n50 fosse satisfatório, corrigir-se-iam rapidamente. As computaçõesestariam, por
nalmenteserá, e freqüentementeé, mais sábio do que sua própria consciência.Ca-
assim diz«, em processo de correção, porque seriam, continuamente,conferidas
pacita-se a permitir que o seu organismo total funcione em toda a sua complexida-
no Comportamento,
de na escolha, dentro de uma multidão de possibilidades, daquele comportamento
Talvez não agrade a minha analogia com o computador eletrônico. Trate- que, em dado instante do tempo, seja mais genérica e genuinamentesatisfatório.
mos do assunto em termos mais humanos. O cliente, antes mencionado, viu-se a e • Capacib-se a confiar no seu funcionamento orgânico, não porque o seu organismo

269
seja 'infalível, mas porque a pessoa, ela própria, pode estar plenamenteaberta às mas, na medida em que cresce O requinte da pesquisanessa tornando
dg cada uma das suas ações e corrigi-las se se mostram pouco satisfa- razoável esperara sua mensurabilidade.
tórias.
É capaz de experimentar todos os seus sentimentose a nenhum deles teme; C. EXPLICAÇÃO DE UM PARADOXO DO CRESCIMENTO PESSOAL
é ela o próprio crivo de evidência, mas está aberta à evidência venha dondevier; em,
pnha-se, inteiramente, no processo de ser e de vir a ser ela própria, e assim se lhe Temos deparado, em alguns de nossos estudosde pesquisa em psicoterapia,
revela que é pura e realisticamente social; vive, completamente,dado i sta te„ as com diferenças desconcertantesnas análises da personalidade através de us•
apren& que esu é a maneira mais saudável de viver todo o tempo. É ela um orga- tes aplicados antes e depois da terapia, feitas por diversosespecialistas.Relativamen-
nismo em pleno funcionamento e, dada à consciência de si mesma que flui livre- te a clientes cujo proveito pessoal em terapia é amplamentesustentadopor outras
mente na e através da Ala experiência, é uma pessoaem pleno evidências, vamos encontrar contradições entre os especialistas, na interpretaçãode
seus testes de personalidade. Em resumo, psicólogos orientados estritamente para o
ALGUMAS IMPLICAÇÕES DESTA DESCRIÇÃO diagnóstico da personalidade,os quais estabelecemcomparações entre o indivfúo e
Eis, pois, o meu ensaio de definição do hipotético ponto final da terapia, a ps normas gerais,tendem a ficar preocupados com o que se lhes afigura como ausên-
rninha descrição do quadro de que os nossos clientes reais se aproximam, mas que cia de defesas da personalidadeou certo grau de desorganização,ao concluir-se a te-
jamais realizam inteiramente, a imagem da pessoa que está a aprender,continua- 4 rapia. Pode ocorrer-lhesque a pessoa se está "desintegrando". O psicólogo terapeu•
mente, como aprendeç.Acabei gostando dessa descrição,tanto pgr:qqeacredito que ticamente orientado tende a encarar a mesma evidênciacomo indicativa de fluidez,
ela fundamenta na minha experiência clínica e educacional e dessaexperiência de abertura à experiência, de uma organização da personalidadeantes existencial
tira a sua verdadet como também por estar convencido de que dela decotremsigni- que rfgida.
9
ficativas implicações clínicas, cientfficas e filosóficas. Gostaria de apresentaralgu- A mim me parece possfvel que o "relaxamento", abertura uma pessoa
.mas dessas ramificações e implicações, tais Como as que está passandopor marcado crescimento pessoalse afigurem, em termos de or•
mas aplicáveis a uma população, como um desvio de tais normas, como "anormal"e
A. ADEQUAÇÃO À EXPERIÊNCIA CLINICA Mas essas mesmasqualidades podem indicar que todo crescimento pessoal é er a•
Em primeiro lugar, afigura-se-nos que nossa descrição contém certa base do por um certo grau.de desorganização, seguida de reorganização. A dor» novas
para os •fe o e os de experiência clínica numa terapia bem sucedida. Notamos o compreensões,da aceitação de novas facetas de si próprio, o sentimentode incerte-
fato de que o cliente desenvolve um locus de avaliação no seu fntimo; isto está de za, vacilação e mesmocerto turbilhão interior —tudo isso constitui parte !ntgwante
acordo corÑo conceito segundo o qual o organismo é fidedigno. Já fizemos nosso do prazer e da satisfação de ser•semais g gente mesma, mais amplamente alguém,
comentário sobre a satisfação que sente o cliente de ser e de vir a ser ele próprio, funcionando, como tal, de modo mais completo. Essa, para mim, é uma explicação
prazer due se associa ao pleno funcionamento. Verificamos que os clientestoleram significativa do que, de outro modo, seria um desconcertanteparadoxo.
I uma série mais ampla e uma variedade de sentimentos, incluindo alguns que eram,
anteriormente, produtores de ansiedade; e que tais sentimentosse integram,de for- D. ACRIATIV1qADE COMO UMA RESULTANTE
ma útil, em suas personalidades organizadas de modo mais flexível. Em suma, os
conceitos que afirmei parecem ser suficientemente amplos para conter os resulta- Um dos elementos que me agradam na formulação teórica que propus é
dos positivos da terapia,tal como a conhecemos. que a pessoa figurada é criativa. Como ponto final hipotético da terapia, bem Se po•
deria ela apresentar como uma das pessoa "autorealizadas" de Maslow. Dada sua
B. ENCAMINHAMENTO PARA HIPÓTESES; OPERACIONAIS sensivel aberturapara o mundo, sua confiança própria aptidão para formar novos
relacioamentosgom o seu meio, seria o tipo de pessoada qual emergiriamprodutos
Embora a formulação, tal como foi oferecida, seja confessadamenteespe-
e vivênciascriativas. Não se "ajustaria", necessariamente,à sua cultura, nto seria,
culativa, leva-nos, creio eu, na direção de hipóteses que se podem propor em rigoro• quase certamente,um conformista. Mas,em qualquertempo e sob qualquercultura,
sos termos operacionais. Tais hipótesesindependeriam de culturas e seriam univer-
viveria construtivamente, em harmonia tanto maior com sua cultura quanto mais
sais, é o que penso, em vez de serem diversaspara cada espécie de cultura. equilibradamente esta atendesseàs suas necessidades.Em certas siuaç6es culturais,
É que os conceitos dados não são facilmente testados ou medidos, poderia, sob alguns aspectos, ser extremamente infeliz, mas continuaria a set ela

270 271
própria, a comportar-se de tal modo que proporcionasse o máximo possível de satis- (de compannetrismo, de relacionamento atetivo, etc.) — experiência muito comum
facão às suas mais profundas necessidades. na pessoa defensivamente organizada seria simplesmente desconhecida em nosso
Indivíduo hipotético. Ele participaria das ptividades auto-reguladorasextremamen.
Tal pessoa seria, creio eu, reconhecida pelo estudioso da evolução humana
te complexas do seu organismo —.os controles termostáticosfisiológicos tanto
como o tipo que mais provavelmente se adaptaria e sobreviVeriaem condições a •
quanto os psicológicos — de tal modo que viveria harmoniosamente,quer em rela.
bientais submetidas à mudança. Seria capaz de, criativamente, realizar ajustamentos
ção a si mesmo quer em relação aos outros.
perfeitos tanto a mvas quanto a velhas condições. Estaria bem na vanguarda da evo-
lução humatw F. COMPORTAMENTOCONFIÁVEL MAS NÃO PREVISIVEL

E. CONSTRÓI—SESOBRE A CONFIANCA NA NATUREZA HUMANA Essà visão do ser humano étimo tem certas implicações que se referem
previsibilidade e cuja meditação considero fascinante. Ter-se•devidenciado, a partir
A visão por nós apresentada implica, evidentemente, que a natureza básica da imagem teórica por nós esboçada, que a configuração particular dos estfmulos i •
do ser humano, quanto atua livremente, é construtiva e fidedigna. Para mim, trata s ternos e externos com os quais a pessoa vive, em dado momento, jamais existiu an-
se da inevitável conclusão de mais de trinta anos de experiência em psicoterapia. tes, da forma descriu; e também que o seu comportamento é uma rea-
Quando somos capazes de libertar o indivíduo das suas defesas, de modo a que ele ção realfstica à exata apreensão de toda essa evidência inernalizada. Claro, portan-
se abra à ampla variedade das próprias necessidades, assim como à igualmente ampla to, que tal pessoa parecerá a si mesmaalguém merecedor de confiança, não, porém,
variedade das exigênciaS ambientais e sociais, pode-se confiar em que as suas reações especificamente previsível. Se, por exemplo, enfrenta uma novi situação, com uma
Serão positivas, voltadas para" o futuro, construtivas. Não precisamos perguntar figura de autoridade,.não pode prever qual será o seu comportamento. Este
quem o•so ializará, pois uma de suas aspirações mais profundas é a de associar-se, daquela figura de autoridade e de suas próprias reaçõese desejosimediatos,etc
de comunicar-se com os outros. Quando é, plenamente, ele próprio, não pode dei- etc. Cdnfiará essa pessoa em que se comportará de modo apropriado, mas não sabe
xar de ser realisticamente socializado. Não precisamos indagar quem lhe controlará de antemão, o que fará. Encontro esse ponto de vista expresso, muitas vezes, pelos
os impulsos agressivos, pois, quando se abre a todos os seus impulsos, a sua necessi- clientes, e creio que se trata de algo profundamente importante.
dade de ser estimado pelos outros e sua tendência de ser afetivo são tão fortes quan- Mas o que venho dizendo sobre o cliente Seria igualmente verdadeiro se
to os seus impulsos de malhar os outros ou de apoderar-sedeles. Será agressivoem aplicado ao cientista que lhe estuda o comportamento. O cientista consideraria vá-
situações nas quais a agressão é realisticamente apropriada, mas não haverá necessí-. lido o comportamento dessa pessoa, sobre o qual po&ria falar depois que o orres•
dade exagerada de agredir. Seu comportamento, como um todo, nessae em outias se, mas não teria como prognosticá-lo ou predizê-lo rwsuaespecificidade. As razões
áreas, quando se abre totalmente à sua experiência, é equilibrado e realístico, como disso são as que se seguem. Se o comportamento donossa hipotética pessoa é deter'
convém à sobrevivência e à eleva$ão de um animal eminentementesocial, minado pelo exato sentido de tudo que revela a Complexa evidência real, em dado
Simpatizo pouco com o conceito outrora dqminantede que o homem é instante do tempo, e apenas em virtude de tal evidência, os dados necessáriosà pre-
basicamente irracional e, portanto, as seus impulsos, p não bontrolados,levariam visão são claros. Seria preciso possuir instrumentos capazes de medir, um a um, os
i destruição dos outros e de si próprio. O comportarhentodo homemé apurada, múltiplos estímulos -em ação e um computador mecânico de grandes proporções pa-
mente racional, movendo-se, com sutil e ordenada complexidade,em direção aos ra calcular o mais ecpnômico vetor de reação. Enquanto se processassea computa-
objetivos que seu organismo tenta realizar. A trágédia da maioria dentre nós é que ção, nossa hipotética pessoa já teria realizado essa soma e essa ávaliação complexas,
nossas &fesas nos impedem de estarmos conscientes dessa racionalidade, de modo dentro do seu próprio organismo, e-já teria atuado. A ciência, se eventualmentefor
que, conscientemente, nos movemos numa direção, énquanto que, organismica- capaz coligir todos esses dados, com suficiente exatidão, estaria teoricamente em
nos movemos em outra. Mas, em nossa pessoa hipotética, não existiriam tais condições de analisá-los e de chegar às mesmas conclusões e, assim, apreciar o com-
barreiras, e ela participaria da sua racionalidade orgânica. O único controle de im- portamento depois de ocorrido. É duvidoso que pudesse coligir e analisar tais dados,
pulsos que haveria ou que se verificaria ser necessário é o do natural e interno equi- instataneamente, o que seria necessário, se tivesse de predizer 0 comportamento.
Ifbrio de uma exigência em relação a outra, ao lado da descoberta de comportamen-
satisfação de todas Isso se pode esclarecer salientando-se que o comportamento da pessoa de-
tos que seguiriam os caminhos mais rigorosamente próximos da
satisfação de uma necessidade (de agres- sajustada é que se apresenta especificamente prevMvel e que certa perda de previsi-
as necessidades. A experiência da extrema
a satisfaçãode outras necessidades bilidade se evidencia sempre que se acentuam a abertura à experiência da vivência
.sáo,secual, etc.) — de tal modo que violentasse
273
272
oxistencial. No tocante à pessoa desajustada, o comportamento é previsível precisa-
mente porque é subrnetido a padrões r(gidos. Se tal pessoa aprendeuuma forma dé Ias em que o cliente sente, dentro de si mesmo, o poder da escolha aberta. Ele 6,
nação hostil à autoridade, e se sua "aversão à autoridade" é parte do modo como se livre — para se mostrar tal qual é ou para se esconder atrás de uma fachada; para ir
concebe a si mesma enquanto em relação com a autoridade, e se, em face disso, ela à frente ou para retroceder; para comportar-se de modo destrutivo para consigo
nega ou distorce qualquer experiência que proporcionasse uma evidênciacontrária mesmoe os outros ou de maneiraa elevar-se;literalmente livre para viver ou morrer,
então seu comportamento e' especificamente previsfvel. Pode se dizer com segu- em ambos os significados, fisiológico e psicológico, dos termos. Entretanto, quando
rança que, se lhe apresenta uma situação nova perante uma autoridade, ela lhe entramos no campo da Psicoterapia, com métodos objetivos de pesquisa, estamos,
teri hostil. Quanto mais, entretanto, a terapia, ou qualquer relacionamentoque pro• como outro cientista qualquer, comprometidos a um completo determinismo. Des-
mova ascenç50 individual, aumenta a abertura dessa pessoa à sua própria e peri • te ponto de vista, toda idéja, sentimento e ação do cliente são determinados pelo
cia, tanto menos previsfvel será o seu comportamento. Isto é nitidamente confirma- que os precede. O dilema.que estou tentando descrever não é diferente do encontra-
do por um estudo feito em Michigan (Kelley & Fiske. 1951), no qual é tentada a do em outros campos — apenas se focaliza, aqui, de modo mais agudo, Tentei fazê-
previsão de Ocito em psicologia clfnica. As previsõesno tocante aos homens subme- Io ressaltarem ensaio escrito há algum tempo, contrastando os dois pontos de vis
tidos i terapia, o perfodo de investigação, foram definitivamentemenos ta. No campo da psicoterapia,
precisas do que em relação ao grupo, como um todo. eleva-seao máximo tudo que é subjetivo, íntimo, pessoal; aqui, certo rela-
O venho dizendo aqui tem algo a ver com a afirmaçãousual de que o cionamento é vivido, não examinado, e uma pessoa,não um objeto, emer-
propósito final da psicologia como ciência é "a previsão e o controle do comporta- ge, uma pessoa que sente, escolhé, Crê, age, não como um autômato, mas
mento humano", frase que, a meu ver, traz implicaçõesfilosóficasperturbadoras. como uma pessoa.E aqui tambéméstá o máximo emtiêñéia — a análi9
Sugiro que, quando 0 indiv (duo se aproxima do ótimo quanto ao seu funcionamen- objetiva dos mais subjetivos aspectosda vida; a redução a hipótesese, even-
to completo, o seu comportamento, embora sempre legítimo e determinado, se tualmente, a teoremas,de tudo que tenha sido considerado como o mais
torna mais diffcil de predizer; e embora sempre digno de confiança e correto, mais pessoal, o mais completamente íntimo, o que mais inteiramente correspon-
diffcil de controlar. Daf decorre que a ciência seus nfveis mais al- de a um mundo privado. (Rogers, 1959.)
tos, vtria a ser, talvez, mais uma ciência de compreensÃQ4p qpp uma Nos termos de nossa definição da pessoaem seu pleno funcionamento, a
visão, uma análise do que ocorreu mais do qyg, fundamentalmente, I relaçãoentre liberdade e determinismo pode, acredito, ser visu numa nova.perspec,
um contrÕJedo que está para ocorrer. tiva. Poderíamos dizer que nas condições ótimas da urapia a pessoa experimentaa
No pral, essa linha de pensamento é confirmada pelos nossosclientes, que mais legftima, completa e absoluu liberdade. Quer ou opta por seguir o curso de
se sentem confiantes em que o que irão fa2er, em uma situa$ão dada, será apropria ação que constitui o vetor mais econômico em relação a todos.os estfmulos, inter-
do, compreensível e correto, mas que não podem prever, de antemão,como irão nos e externos, por que tal comportamento é que será o mais profundamentesatis-
comportara. Confirma-a também nossa experiência de terapeuta,em que estabele- fatório. Mas será esse o mesmo curso de ação que, tendo em vista outro aspecto de
um relacionamento através do qual podemos estar certos de que aquela pes- sua superioridade, pode considerar-se determinado por todos os fatores atuantes em
soa &xoYiró si mesma, será ela própria, aprenderá a atuar mais livremente, sem dada situa'ão existenciàl. Contrastemos isso cóm a descrição da pessoa defensiva-
posamos, bntretanto, antecipar o conteúdo específico da'próxima sentençada mente organizada. Quer ou opta por seguir certo curso ação, mas acha que não
próxima fase de urapia ou da solução comportamental do cliente em fase de deter- pode comportar-se da maneira que escolhe. É determinada pelos fatores da situação
minado problema. A direção geral é correta e podemos estar certos de que será existencial, mas essesfatorgs incluem sua defensividade, sua recusa ou distorção de
apmriadae mas O seu conteúdo especffico é imprevisfvel. certos dadosrelevantes.Daf a.certeza de que o seu comportamento estará aquém de
plenamentesatisfatório. É ele determinado, sem que a pessoa seja livre para fazer
uma opção efetiva. A pessoa em pleno funcionamento, ao contrário, não só experi-
G. RELAÇÃO ENTRE LIBERDADE E DETERMINISMO
menta, mas utiliza, a mai$ absoluta liberdade, quando, espontânea, livre e volunta-
Gostaria referir-me a uma implicação filosófica finàl que tem alta signi-
riamente escolhe e quer o que é absolutamente determinado.
para mirtv Como indiquei no capftulo anterior, andei perplexo, durante al-
em face do paradoxo vivo, existente em Psicoterapia, entre liberdade e Behl sei que não se trata de uma idéia nova, para o filósofo, mas foi a t•
deurminigno. Gostaria acrescentar mais uma idéia a esse respeito.No relaciona- mador considerá-la de um ângulo totalmenteinesperado, na análise de um Conceito
mento urpêutico algumas das experiências subjetivas que mais se impõem são aque- da teoria da personalidade. Nela reside, a meu ver, o fundamento lógico da realidade

274 275
subjetiva da absoluta liberdade de escolha, tão profundamente importante na tera•
pia e, ao mesmo tempo, igualmente fundamenul para O completo determinismo,
pedra angular da ciência. Nesse quadro, posso ter acesso, subjetivamente, à experi-
ência da pura escolha que o cliente experimenta; posso, também, como um cientis-
XELLEY, E. L, & FISKE, DonaldW. Theprediction clina
pvdaolow. Ann Arbore Uni"ersity of Michigan, 1951.
ta, estudar o seu comportamento como sendo absolutamente determinado.
ROGERS, C. À. Personsorscience: A philosophicalquestion. AmerEanPv-
a"ologist, Ib, 267-278,1955.

CONCLUSÃO
terapia ou do melhor
que possa haver em indiyÇyp_quwhajB crescimento si-
col co time a
__ggigljdades„ r.ga fs i as;. pessoaAue será
socializada e apropriada em seu comportamentp; uma pessaagd?tiva, cujas especffi-
cas formas. dg_çomnortamerito não são facilmente previsfvei%
em mudança,_sempre e „dese vol i e to, sempre a. des o rir•sQa si mesma e ao
áue há de novo em si, a cada instante sucessivo do terppp.

Acentue-se, entretanto, que o que foi por mim descrito é uma pessoa que
não exi$tp, Trata-se de objetivo teórico, do ponto final do crescimentode uma p"-
soa. Vemos pessoas a encaminharem-se partir do melhor -dase õe•
riências em ?duçaçgo, do melhog@as experiências em teraóia, do_melhor ñií-
cionamentosna f ia e nos grupos. Mas o que incide sob nossasobservaçÕéiFa
a imperfeita.-aencaminhar-separa aquele objetivo. O que descreviconstitui
a minha versão do objetivo em sua forma "pura"

Escrevi este capftulo em parte para•clarificar minhas próprias idéias. Que


espécie de pessoas unde a vir das minhasaulas, dos meus grupos, da minha terapia?
O que mais importa, todavia, é que escrevi para tentar forçar os educadores a pen-
sarem, • ais profundamente, nos seus próprios objetivos. Prevalece há tanto tempo
a presunçãode que todos nós sabemos o que constitui um "homemeducado", que
qua* nunca encaramosde frente o fato de que nossa cômodadefiniçãoé agora
limlevante para a sociedade moderna. Daf por que este capítulo
constitui um •desafio a eaucadores de todos os nfveis. Se não lhe agradao meu con-
ceito pessoa em pleno funcionamento, como objetivo de educação, então dê sua
da pessoa que emergiria da educação dos dias de hoje, e publique-a para
contwcimento de todos. Precisamos de um grande número de tais definições, a fim
de que se posa estbelecer um diálogo moderno, verdadeiramentesignificativo so-
bre o que deva constiwir o nosso étimo, o nossocidadão ideal de hoje. Espero qúe
capftulo trazido uma pequena contribuição a esse diálogo.

276 277
Quinta Parte

UM MODELO PARA A REVOLUCAO


INTRODUÇÃOA QUINTAPARTE

Estamos chegando ao fim do volume. A III Parte manteve-nosum tanto


fora da sala de aula em meio a pressupostos, princípios e planos gerais.A IV Pare
te abandonou inteiramente o sistema educacional, parastratar de problemas de va-
lor e de questõesfilbsóficas sobreas quais o educadordeveria pensar.i te sa e •
te, mas. na minhaopinião, raramenteo faz.

Agora, na V Parte,voltamos ao dia a dia real do mundo daeducação, Eis


aqui um plano pático de mudança unh plano que poderá ser posto em
execução
por qualquer organização educacional que tenha a coragem e, ao mesmo
tempo, se
disponha a enciminhar alguns dos seus fundos ordinários para o processo de
mudan-
ça ou possa angariar fundos para realizar tal objetivo.

Assim, com este capítulo, encerramoso círculo. Eis uma maneira nãor
necessariamente,a maneira — por meio da qual todo um sistema pode
encaminhar;
se no sehtido dos métodos de ensino descritos na I Parte e
da organização adminis-
trativa delineada no Capftulo X. Melhor ainda, tal sistema
educacional pode divisar
processos mais criativos de proporcionar liberdade para aprenaer
aos estUdantes, à
escola, aos pais, ao corpo administrativo.Estes se verão a
mover-se,com audácia,
para o que a educação deverávir a ser no futuro. Que experiência
renovadoraserá
asua, que excitante perspectiva Se nos abrirá a todosl

.4- à81
CapftubXV

UM PLANO DE. MUDANÇA AUTO—


Dl RIGIDA NUM SISTEMA EDUCACIONAL
1

Esforcei-me,,tanto quanto pude, por fazer este capítulo o


mais amplamente realístico —a um plano de mudança prático,
exeqüível. Não se tata de teoria nem de filosofia (emboraam-
bas aqui estejam implícitas). Trata-sede um capitulo "como fa-
zer", no qual tentei enfrentar tanto as potencialidades excitan-
tes como os riscos envolvidos num processo de mudança pesoal
e organizacional. (l)

Confesso, para começar, que o•tftulo antes escohido para este capftulo era
"Um plano Prático de Revolução Educacional". Senti que issoppdena contrariare
hostilizar demais a muita gente. Por que seria necessária uma revolução na edu a•
ção? Afinal de contas, dezenas e dezenas de milhares de dedicados monitores, ins-
trutores, professores —por todo o espectrodo ensino, desde o jardim da infância
-até à escola superior —v trabalhando empenhadamente em nosso sistemaedu a•
cional, tentando fazê-lo progredir de múltiplas maneiras. Assim, por que falar de re•
Volução? Gostaria de deixar bem claras as minhas razões para acreditar que $6 uma
extraordinária mudança na dirÇão básica da educação pode ir ao encontro das new
cessidades da cultura contemporânea.

(1) Este capftulo é uma do ensaio primelro, -no Leadenhlp,


meio da 1967, v. 24, 717-731. Copyright by tha Assciation for and
NIum Devetopment,NEX

283
NOVO OBJETIVO EDUCACIONAL: por eles compostas — é a experiência intensiva de grupo. Conhecida por uma varies
UM CLIMA PARA A MUDANÇA dade de termos (T-grupot treinamento de laboratório, treinamento de sensibilidade,
O mundo está mudando a uma velocidade extraordinária, Se nossa socie- grupo de encontro básico, seminário) tem ela, subjacentes, tema e características o•
muns»
dade
gia, nas comun os relacionamentpssociais, O grupo intensivo ou grupo de usualmente se compõe de
no passado, mas devemos colocar a nossa confiança nos dez a quinze pessoase de um facilitador ou Ifder. É relativamente ão•estruturado,
iremos ao enõmro novesproblemas. Pois, quanto mais ra- proporcionando um clima de máxima liberdade para a expressão pessoale explora-
pidamente a mudança nos atinge, tanto mais as respostas o '&gnbecimento , os ção de sentimentose a comunicação interpessoal.Dá-se ênfase às interaçõesentre
tãiüós, as hãbiffdídes, se tornam dg suaeqgi- os membros do grupo, numa atmosfera que estimula cade um a pôr de parte suas
défesas e suas fachadas, habilitando-o, assim, a se relacionar direta e abertamente
com os outros membrosdo grupo o "encontro básico". Os indivíduos acabam
Isso implica não somente em novas técnicas para a mas também, por se conheceremuns aos outros mais amplamente do que é possível nas usuais
O m ue vivemos a finalida- relações sociais ou de trabalho; o clima de abertura, de assumir o risco e de ho es•
de da educação deve ser o desenvolvimento de indivfduos abertos à mudança. So-
tidade gera a confiança que habilita a pessoa a reconhecer e a mudar atitudes de au-
das perplexidades todefesaetestar e adotar comportamentos mais inovadores e construtivos e, a segufr,
um mundo em que os probl ais ra idamente relacionar-se mais adequada e efetivamente com os outros, na situação de sua Vidá
O fim da educaç o eve ser o dúénüolvimento de uma sociedadeem que a; npsçnac
cotidiana.
possamviver de um de uado à muda a do ue à rigidez. No mundo
que e para vir, a de enfrentar adequadàmenteo novo é mais im ' r- Desde meadosde 1940, tais grupos.experimentaistêm sido utilizados ex-
tante do que a ap o de conhecer e tensamente com executivos industriais, administradores governamentais, grupos
Tal ob etivo im lica profissionais e leigos — grupos considerados normais e de bom funcionamento
orém, a seú'turno u
sob uma ampla variedadede patrocínios, o mais conhecido dos quais será,talvez p
tornem abertos e flexíveis, efetivamente envolvidos no processode mudança.De-
do National Training Laboratory. (Benne, Bradford & Lippitt, 1964)
vem ser capazes, a um tempo. dg cpn;eryar,e transmitir o conhecimentoe os valQ-
res essenciais do passagg, assim como de acolher, avidamente as inovações que se Em termos gerais, a finalidade dessas experiências intensivas de grupo-é a
essátias à prepara o de um futuro incerto. de aperfeiçoar as aprendizagens e em áreas tais como as
de liderança e de comunicação interpessoal: Outro o jetivo• de suscitar uda •
Há que se descobrir u io de desenvolver dentrodo sistemaeducacio- ça nos climas e estruturas organizacionais em que os membros trabalham. Essas ex-
I como um to o e dos seus m onentes,um clima ue conduzaao periências de grupo são caracteristicamente 4evadas a efeitb de forma residencial,
Crescimentopessoal, um clima no ual a inov 50 não se•atemida no ual as capa- intensiva, vivendo e se encontrando os participantes pór perfodos que variam de
cidades criativas três dias e duas'ou tr s•se a as.(Variante amplamente usada é a dos cursos de trei•
timuladas ao invés de serem Há que se descobrir um meio de desenvolver namento de se*ibilidade oferecidos por departamentos universitáriós, nos quais os
,uñélña, no sistema, através do qual o foco se,projete não sobre o ensinar, mas so- qruposse encorftram uma vez por semana ao longo de um semestre ou mais.)
bre a facilitação da aprendizagem autodirigida. Só assim se poderá desenvolvero in- De alguns anos para cá, os educadores começaram a utilizar-se da e peri •
divfduo criativo, que.está aberto à totalidade da sua experiência; Ciente dela, a ela cia de grupo, embora em pequena escala. Exemplos: grupos envolvendo administra-
receptivo e continuamente em de mundança. E só dessa forma, creio, po- dores de escolas •(Clark, T. C. & Milles, M. B,, 1954), professores (Browers & Soar;
Ceremos dar efetividade a uma organização educacional criativa, que esteja também, 1961), grupos de professorese estudantesda mesmainstituição (Boyer, 1964) e,
continuamente, em processo de mudança, ocasionalmente, grupos intensivos, dentro de salas de aula (Milles, 1964; Clark, J.
V. & Culbert, 1965). No âmbito educacional, os objetivos têm sido os de libertar a
Um Instrumento de Mudança Educacional capacidade dos participantes para melhor liderança educacional, através de relacio-

Um mais eficazes meios já descobertosde fÇiIitar a aprendizagem


construtiva, o crescimento e a mudança — nos indivíduos Como nas organizações (I) No original: ' 'Workshop"

285
namentos interpessoaisaperfeiçoados,ou de fomen;ar a aprendizagemda pessoa
como um todo —o estudante, o professor, o administrador.
Desenvolve-se um clima de confiança mútua a partir dessa mútua li-
Os grupos intensivos têm sido usados, também, numa base experimental,
berdaãõ7e expressão de sentimentos reais, positivos e negativos.
c@m egressos de escolas, jovens desempregadose pré-delinqüentes, como um meio
de ajudá-los a obter maior maturidade pessoal assim como eficiência através de de- membro_se encaminhaz para a maior aceitação do seu ser total — do seu
senvolvida competênciapesSoal e .interpessoalpara enfrentar certa variedade de sv ser emocional, intelectudg.ffsico, tal como é.
tuae5es na vida. Com indivíduos menos inibidos pela rigidez defensiva, a possi ilida•
Embora esses diversos usas no âmbito oducacional Xenhamtido resultados de de mudança nas atitu±s e no comportamento pessáis, nos métodos
nos métodos administrativos — torna-se menos ate-moñüdora,
satisfatórios e promissores, quase não se tem tentado utilizar a experiência do grupo
intensivo para uma coerente via de acesso à mudança de. um sistema de ensino pú- Com a redu o da rigidez defensiva,os indivíduos podem ouvir uns
blico, em sua totalidade. Daf, uma conseaüênciaque tem comumenteocorrido, é aos outros, com os ,n
que um professor.ou membro da direção de uma faculdpdevolta de umaexperiên- Há um desenvolvimentode feedback duma pessoapara a outra, de
cia desse gênero pronto para agir de modo novo e mudado, mas vai apenas desco- modo que cada indivíduo fica sabendo como os outros*o considerame
brir que suas atitudes não são bem acolhidas numa organização educacional "está- que impacto ele produz nos relacionamentos interpessoais.
vel e bem-regulamentada". Duas alternativas se abrem: ele volta, decepcionado,à gzura&mente,
seu comportamento anterior, convencional, •ouse torna uma influência embaraçosa Como os indivfduosse ouvemuns aos outros
uma fornar antes um
e perturbadora na sua instituição, não sendo compreendido nem aprovado.
com objetivos comuns do que uma estrutura formal, hierárquica.
Parece bem evidente gue esse novo instrumento de mudançasó se pode emergem
Dessa liberdade maior e dessacomunicação
usar da maneira mais eficaz se todo o sistema se move em direção à mutabilidade, Ã inovação pássa a ser uma
nova*
modo a que se acomodem à mudança tanto o seu pessoal como as unidades com-
possibilidade antes desejável que ameaçadoia.
ponentes. A .indústria já est4 aprendendo isso. O princfpio de abertura às possibili-
dades de mu&nça em todo o sistema durantà um perfodo de tempo relativamente Essas aprendizagens em experiência de grupo tendem a persistir teme
é a essência do plano que se aprensentará. porária ou mais pernamentemente, nos relacionamentoscom os iguais,
com os alunos, os subordinadose mesmo com os superioresque siga •a
experiência dé grupo.
As da Experiência Intensiva de Grupo
'UM'PLANO
de prosseguir, afigura-se-meconvenienteexpor, de um modo um
unto mais amplo e mais preêiso, as hipóteses subjacentes ao processo dos grupos de Tendo exposto a necessidadede mudançaeducacional e a experiência in-
encontro básico (ver RogerS, 1967, para uma descrição mais oompleta desseproces- tensiva de grupo como instrumentoou processopor meio do qual poderiaela ser
so), Essa área, no seu todo, é uma daquelas em que a prática já ultrapassou, de mui' provocada, gostaria de apresentar,agora, um plano especffico para a execução des•
to, tanto a teoria quanto a pesquisa. Conseqüentemente, as hipóteses que se seguem se propósito. Acentuaria,qge todos os elementos desse plano foram experimenhados
foram muitas vezes validadas na prática, mas existe apenas modesta dose de pesqui' e considerados eficazes tanto na indústria e na educação, quanto no que toca a ou-
sa relativamente a esses pontos. Eis, poiSi.às hipbteses práticas: tros. grupos. Por todo o país, dispõe-se de pessoal.experiente cujas atitudés e conhe-
cimento prático permitem levar a efeito essas atividades. A novidade consistirá na
Um facilitador, pode desenvolver,num grupo com. o qual esteja em 'eunião desseselementos dentro de um plano inteligivelmente integrado.
contato intensivo, um clima psicológico de segurança,no qual ocorram,
liberdade de expressão e redução da autodefesa. A Escolha de um Sistema Educacional como Alvo
O plano é de tal natureza que se aplicaria a qualquer organização educacio-
Ém tal clima psicológico, muitas das reaç3es do sentimento imedia- ele
nal ou a um certo número de tais organizações, simultaneamente. Supõe-se que
to de cada membro para.com os outros e para consigo mesmotendem a fundamental, médio, universitário ou
seria igualmente eficaz num sistema de ensino
ser expressadas. de pós-graduação. Poder-se-ia verificar Certo acréscimo no grau de rigidez à medida
aplicariam
que se fosse avançando nessa progressão, mas os mesmos princfpios se
287
com alguma modificação indicada pelo bom senso, segundo o específico de eada si- mentar e de tentar novos métodos de proceder, em situação relativamentesewra,
tuaç50 a ser encarada. Embora os pequenos grupos de encontro constituam o âmago da experi-
O primeiro passo, ao iniciar-se o plano, é a escolha de um sistemaedu a io• ência, haverá sessões gerais importantes, nas quais se exporão grupos temaseúe
nal em um dos niveis mencionados. Só há um critério para essa escolha.É que um cacionais estimulantes, apresentados ou por membros das próprias equipes ou pelos
ou mais indivíduos em posições de mando — de preferênciao administrador-chefe participantes da equipe de facilitadores. Isto pode proporcionar dados cognitivos,a
e um Ou dois dos seus assistehtes ou membros da direção — desejeme se serem acrescentadosaos de caráter interpessoal com os quais lidam os pequenosgru-
disponham
a envolver-se num grupo de encontro básico. Se estiverem dispqstos a POS.
experimentar
as mudanças que ocorrem em tal experiência intensiva de grupo, poderãoformular
Que acontecerá numa dessas semanas intensivas? É quase impossívelexpri-
um juízo razoável e experiencial sobre 0 restante do planos É uma base
muito sim- mir em termos inteligíveis a qualidade das relações que se desenvolvem, Com base
ples mas também extremamente importante para O plano total que se segue. Certo em experiência passada, lembro-me de administradores que trabalharam, Àmtos,du-
número de administradores e de sistemas educacionais já manifestaramo seu inte- rante vinte anos, e descobriram que jamais Se haviam .conhecida, de modo comple-
resse em se empenhar numa experiência desse gênero.
to, um ao outro, como pessoas; de sentimentos negativos que, durante anos, preju-
dicaram planos e trabalhos e, agora, podiam vir a lume, com segurança, para serem
Uma Experiência Intensiva de Grupo para compreendidos e desfeitos; de sentimentos positivos, cuja expressão parecera,sem-
Administradores: O Primeiro Passo pre, arriscada demais; de ideai$.e..esperançasque pareciam fantásticos demais para
que os outros participassem deles; de irritações súbitas que se suscitavpm no grupo e
Seria oferecida a adhinistradores e membrosda direção do sistema opor- eram expressas, antes fortalecendo que destruindo os relacionamentos, no contexto
tunidade de participaremde um seminário intensivo(ou grupo de encontro, bu de confiança e de abertura que se tinha estabelecido; de tragédias e problemaspes-
T.grupo) de uma semana, a.se realizar longe da sedede seu trabalho, de preferência soais que tornaram compreensível a couraça atras da qual certos indivfduos se es-
num lugar relativamente solitário, onde estariam livres das habituais interrupções' condiam e de que começavam, agora, a emargir; daí, o.intenso senso de comunidade
e distraç6es de uma vida de administrador. Teria de ser, é claro, düranteas férias, que se desenvolve.em lugar da alienação quecada um sentia; a disposição de correr
antes do início das aulas. O custo seria largamentesubsidiado, como se mostrará ao o risco de novos comportamentos,novas. direções, novos prop&itos; a deteçmina-
final do.capftulo, mas cada um pagaria uma taxa como sinal do compromisso assu- ção de reelaborarrelaçõesde família e processosde organização. Eis apenas umas
mido. Parece preferível ue.•aexperiência de grupo seja voluntári?, mas seria aceitá- poucas manifestaçõesdo ocorrido numa experiência intensiva de grupo, na qual in;
divíduos que inter-atuavam desempenhando papéis — de superintendente, de e •
vei também, se a administração decidisse, a participação de toda a equipeacima de
bro da diretoria, de -supervisor — éomeçavam a interagir como pessoasem sua
certo nível. tota-
lidade, com sentimentos, tanto quanto idéias, capazes tanto de serem feridas quan-
um experiente facilitador, de fora, e Cháum bom número deles,à escolha) to de serem atividades. Refiro-me, ainda uma vez, à publicação recente em que se
servirá de catalizador e participante de cada grupo de dez a quinze administradores. coligiram alguns aspectos das experiências de grupo levadas a efeito. (Rogers, 1967)
Organizações como o Center for Studies of the Person, p National Training Labora; Que poderemoS esperar como resultado de experiência desse gênero,
para
tory, ou o W%tern Training Laboratoty podem ser a fonte de facilitadorespara ca- o diretor, o superintendente ou presidente, os reitores, supervisores
ou especialistas
da grupo e• o stitui ia a equipe p ofj60 al•de élanejamento. em administração, nos vários setores? Nossa experiência tem mostrado
que alguns
desses resultados podem ser descritos sob forma um tanto esquemática,
como se ve-
O grupo (ou grupos) será relativamente não-estruturado e, se a experiêncie rificará nas proposições que se seguem.
passada serve de orientação, focalizar-se-á mais a exploração dos sentimentose rela-
cionamentos 'interpessoais correntes. Muitas vezes, angústias e inimizades que, du-
rante anos, impediram uma comunicação real vêm à superfície e são resolvidas em O Administrador
oito ou dez horas diárias de encontros intensivos de grupo. O grupode encontro
fornece ao administrador um microcosmo para o estudo dos problemasque ele en- será menos apegado à suas próprias idéias e opiniões e, da', pode
frenta e dos problemas criados por ele mesmo, na sua organização, Pelo confronto, ouvir mais apuradamente os outros administradores ou membros do
corpo
descobre a maneira como os outros o vêem. Tem, ainda, a oportunidadede experi- docente;

288 289
considerará mais fácil e menos atemorizador aceitar idéias de ino-
vação; membros do corpo docente que desejem envolver-se nos grupos de
encontro básico.'
terá menos necessidadeda proteção de regrasburocráticas e, daí, Dependendo da dimensão do sistema, o seu número setápequeno ou grande.
A ex-
decidirá as questõesmais na base do mérito; periência tem indicado que de 80 a 120 pessoas podemenvolver-se, uma
vez,
com seis a dez grupos,Constituindo o âmago do trabalho. Ainda aqui, ha-
comunicar-se-á de modo mais claro com os superiores, os iguais verá propósito de retirá-los dacampuS,t reunindo-os em local adequadamente
e os subordinados, porque suas comunicações estarão mais orientadas para isola-
do pelo período de uma semana,se possfvel, durante as férias, ou por um longo
-objetivos abertamente declarados e não para auto•p oteç oencoberta fim
de semana de uns quatro dias, se a utilizaç$ de uma semanainteira não for
viável.
será mais orientado para a pessoa e mais democrático, nas reu- Se se incluem ou não os cônjuges, é questão, certamente,a ser discutida, uma
vez
niões da equipe ou do corpo docente; que certo impacto inicial sobre o lar e a família é ocorrência comum e, se se in-
disporá mais aberta e intensamente dos recursos potenciais do seu cluem marido e mulher (talvez em grupos separados}, ter-se-á uma basecerta para
corpo docente e da sua-equipe; experiências significativas a serem comportilhadas.
mais provavelmente encarará e enfrentará abertamente os atritos Convirá, talvez, dizer uma palavra sobre o aspecto voluntário dessesg u•
emocionais pessoais, entre ele e os seus colegas, em vez de encobrir os con- pos, Certos indivfduos, tanto na indústria quanto em sistema de.ensino,iá ouviram
flitos com novos "regulamentos" ou evitá-los de outras maneiras; histórias sobre os T-grupos, as quais o assustam são "'grupos de terapia'Ç forçah
as pessoas a revelarem seus sentimentoS, etc. Ou eles ignoram completamente cômo
estará mais apto a aceitar feedback da.sua equipe, tanto o positi- •essesgrupos se desenvolvem e andam cheios de perguntas como: "De que sepoderia
'vo quanto negativo, e a usá-ló para uma construtiva visão do seu próprio falar durante uma semana inteira?" Parece que a melhor.maneira de lidar com tais
interior e do seumodo de proceder; situações é a de começar a lidar com aqueles que estão prontos para se arriscarem
estará mais apto a se comunicar realisticamentecom o seu conse- num grupo, deixando que notfciaS da experiência circulem pelo grupo total, o que
lho diretor e, assim, possivelmente,a lançar as basesda alteraçãoda estru- Virá a criar novas disposições para participar, (Num recente grupo de enfermeiros,
Cura organizacional do sistema de ensino (o que será especialmenteverda- yerifiquei que a mais importante razão pela qual se inscreviam era a de que tinham
deiro se os próprios membros do conselho houveremparticipado de uma sabido de significativas e importantes mudanças no comportamento e nas relações
cxperiência intensiva de grupo). .pessoais de colegas que há haviam participado de experiências anteriorese, agora,
queriam eles submeter-se ao mesmo processo.)
Entrei em alguns pormenores na descrição dessaexperiência inicial de gru-
po para os administradores. Serei muito mais-breve na descrição dos semináriosou Outro ponto a mencionar é que, nesse estágio, não há expectativade ati •
grupos de encontro que se pguem, uma vez que a natureza do processo e o seu con- gir todos os professoresou membrosdo corpo docente.É suficiente que esse
e
aquele participante tenham companheiros com os uaís•elespossam partilhar
texto serão muito parecidos. e pe•
riências oriundas do trabalho intensivo. Desde que muitos dos professoreshajam
A julgar pela minha própria experiêhcia no trabalho Com educaçãoe siste- também passado por tais experiências, o membro do corpo •docente voltará
mas educacionais, há pouca razão para acreditar que o plano parasse éom o seminá- path
um ambiente da escola que será essencialmente receptivo a quaisquer
rio que acabamos de descrever. Dado o número de membrosinfluentes entãoenvol- mudanças nb
seu comportamento, atitudes, propósitos e relacionamentos. 1
vidos, o provável é que tomem a decisão de ptosseguir na experiência, de modo a
torná-la mais amplamente disponfvel a todos do sistema. Daqui para diante, os pas- Importa ainda salientar-se-que àquelas mudanças e inovações sobre as quais
se tomou uma decisão (nesse ou em outros grupos) poderão, provavelmente,
sos que descrevo são apenas os-de um possível programa e plano, uma vez que a ser le-
Vadas à prática, pois resultaram de uma auto-escolha. Tem-se queixaçh, ordinari«
equipe profissional e os administradores se transformarão, agora, em colaboradores
mente, de que novas idéjas-gm--matérizde ensinoz
no planejamento das maneiras pelas quais procederão. Entretanto, descrevereial-
gunsdos possíveis e prováveis elementos que se seguirão. "sobrando" mas que contra elas tendem a resistirprofessores e administra:.
dores. O resultado, porém, é compTãámente diverso quando os
Experiência Intensiva de Grupo para Professores tentar algumas dessasnovas Id Ias.
I Se nos perguntarmos quais as consequüênciasde ordem pessoalque advie
Dentro do mesmo padrão, dar-se-á oportunidade aqueles professores ou
rão para professores e membros do corpo docente, pod&remos,de novo,tentar uma

291

i
relação de algumas delas que parecem apoiar-se na experiência. se lhes dará atenção, a principio só por parte do facilitador,
ãFFÜÔñÜñõãTÜñÕFÕõõñírñõñÕarñaocente. Não raro, ainda pela pri-
O Professor meira vez ver-seLQDLAm_ppniçipante dá
muitas das mudanças caracterfsticas já mencionadas no -um mero recipiente passivo. Em espécie foi tentado,•
tocante ao administrador com estes acréscimos; verificou-se que, quase sempre, a solução de problemas ou de impasses na sala de au-
Ia, à qual o grupo todo teve acesso,veio de que os alunos optarampor assumir
-terá mais capacidade de ouvir os alunos. especialmentequanto aos
maior responsabilidade em relação a si mesmos, a seu trabalho. a suas ações.
Embora não se espere que mais de uma fração exígua das classes passe, nes-
será mais capaz de aceitar as idéias inovadoras, desafiantes, se estágio, por tal tipo de experiência intensiva de grupo, o efeito produzido sobre
"per.
yêm dos estudantes,em vez de reagir contra os alunos, nessasclasses,poderá ser razoavelmente
'insistindo
tenderá a dar tanta a!gnção os alunos quanto O Estudante
a que ag conteúdo do curso; sentir-se-á mais livre sen.çimentoswtange_pgitivos
superará, mais provavelmente, os atritos quanto negativos, na classe em relação aos colegas, ao professor, ao con,
mas com estudantes, em vez de lidar com dé teúdo das matGias do ü s ;•
&linar ou punitiva; tenderá a orientar esses sentimentos para um relacionamento rea-
desenvolverá, na I (iticp, em vez de
cente à espentaneidade, ao pensamentp c_riativo independente terá meior energia para dedicar à aprendizagem, pois temerá me-
e autodirigido. no? a avaliação contínua e a puniEãq;
descobrirá que é responsável por. sua própria
Grupos de Encontro para Unidades de Classe quanto se -t6rnaemais e mais, participante do' processo de aprendizagem do
A fase seguinte será uma experiência intensiva de grupo para uma classe ou grupe;
unidade de curso. Muito possivelmente, isso resultará 40 desejo de um professor sentir:sepálivre para enveredar pelos caminhos excitantes da
que, a partir de sua própria experiência ingensiva de grupo, acha que gostaria de im- com mals segurança de quê o seu professor o compreenderá;
primir novas direções ao seu relacionamento com a classe, mas está um tanto perple- verificará que tanto o seu temor respeitoso pela autoridade quan:
xo quanto ao modo de fazê-lo. to spa revolta contra ela dimíriüem, ñp•tfi didaem que descobre
que p o-•
Num grupo que envolva uma classe ou uma unidadede curso deverãoin- fessores e administradores são seres humanos fal (veis, a se relacionarem
de
cluir-se todos os que se relacionam com a classe — assistentes,monitores, supe iSo• modos imperfeltps conT os alunos;
res, afé mesmo o zelador ou porteiro, desde que tenha um relacionamento real com e verifiçpré_que o processo de aprendizagem o habilitará
g Classe. Uma vez que uma experiência residencial fora do campus provavelmente enfren-
har direti e pessoalmente o problema do significado
de sua vida.
não será possível, exceto no nível universitário, um arranjo diferente se fará muitas
vezes necessário. Pode ser que cinco dias de sejam dedicados à ex-
periência intensiva de grupo, com a participação de•u facilitador de fora que aju- Grupos Intensivos para Pais
de a estabelecer o clima de liberdade de expressão e de liberdade de escolharespon-
Se os grupos mencionadosacima são& todo eficazes na consecu$o
sável, Pe iti —á e estimulará a alunos -e professores que discutam problemas dos
seus objetivos, o ferrñento atrairá a•ate ç o da comunidade.
que existam na classe. os problemas de maior ou menor dificul- Conseqüentemente,
será útil que, em conexão com alguns deles, se ofereça aos
dade qUanto ao conteúdo material docurso, mas muitocedo se iniciará a expressão pais uma experiência in-
tensiva de grupo (desde que se tr*e deum sisteha fundamental ou rr#o de
de sentimentos, no respectivo contexto. Talvez pela primeira vez em sua vida o es- educa-
pão). O grupo poderá constituir&e de presidentes e membros das
seps sentimentoy serão ouvidos e
diraorias dashs•
sociações de pais e mestresou de pais de alunos que se tenham
numa
292
293
experiência grupo na classe. O padrão terá de ser, sem uma se terá imbuído de mais amplos Conhecimentosde si mesmae dos
dúvida, diferente. Pode-se outros. Ca;
proporcionar uma experiência de grupo de fim de semana
— e algumasdelas têm-se da uma se terá tornado mais flex ível, até certo ponto. Cada uma terá verificado
que'
mostrado eficazes ou uma sessão de três horas,
à tarde, uma vez por semana,ou se encontra empenhadaem mudanças.
uma "maratona" de vinte e quatro horas. Pai e
mãe do aluno poderão muito bem
ser inclufdos, se há interessepor parte dos•dois. Penso não ser preciso acrescentar que tais grupos verticais. ainda ue em
i número e o ambientede
A finalidade de tais grupos é a de enriquecer
o relacionamentodos pais uns qualquer sistema edÜõaãonal. EmbÔra os tenhamos descrito em termos mais ad+
com os outros, com a criança e com a escola,
assim como a de esclarecero signiflca- quaaô± ao cúrsb médio, poddrri ser utilizados em qualquer nfvel, desde.ojardim de
do do programa executado no sistema
escolar. Certamente só uma fração mínima infância (sim, crianças do jardim também têm sentimentos) até a escola superior.
dos pais pode ser atingida: estes, porémr servirão
de intérpretes do programa junto Etn qualquer nível, o grupo vertical contém o fermento de uma revolução no clima
aos outros membros da comunidade.
educacional:

Grupos "Verticais" Tábua de Tempo


Até esta altura, quase todos os grupos planejados Ao executar o plano delineado até aqui, é essencial que as várias e pe i •
são de pessoasiguais ou
quase iguais. Usualmente, é mais fácil as pessoas cias de grupo se mantenham dentro de um período de tempo razoavelmentecurto,
se
umas Com as para que não se dissipe o impacto. É impossível ser específico, pois dependemuito
sia.tü_S.Mas, em
se tentará o grupo "vertical". No começo, será, de saber se estamos lidando com um sistema elementarecompreendendoseis esco-
provavelmente,na
base do convite e incluirá pessoasque já tenham tomado Ias, ou com uma universidade freqüentadã por dezenas de milhares de alunos ou
parte em grupos de encon-
tro anteriores. Se for possível, será residencial e fora do com uma faculdade de milhares. Entretanto, O objetivo será manter, pelo menos,
campus. Deixe-me esboçar
um grupo dessa espécie e suas prováveis conseqüências. nove seminários durante o primeiro ano acadêmico do programa, com um a dez gru-
pos de encontro em cada um dessesseminários. Assim, o númerode pe;soasenvol-
Convidar-se-iam dois membros do conselho diretor, dois oficiais adminis-
Vidas na experiência intensiva de grupo andará, no mínimo, pelas centenas;fração
trativos, dois pais, dois professores, dois alunos dos melhores e dois
dos mais fracos suficiente do total do corpo administrativo, docentee discente,de modo a que não
ou que tenham deixado a escola. Desde que tal grupo poderia encontrar
algumadi- se percamos resultados.
ficuldade em desenvolver suas atividades, a reunião se faria em torno de
certos te-
mas, como; "As Escolas (tais e tais): o que gostoe o que nãogostoneláseu que PLANO PARA MUDANÇA CONTIM.JA
desejaria que elas fossem."
Parte muito importante do plano é Ãue se estabeleça,dentro dó sistema,
Quem nunca participou de uma experiência de grupo podesupor que, num uma aptidão para a mudança contínua, de modo que frações cada vez maioresdos
grupo t o— iüÕ Fi EÑÕFÉFÕoas, verdadeiramente, seus membrospossamter a oportunidade de uma ou mais de umaexperiência-inten-
tanto, grupos muito parecidos têm sido conduzidos com re_sultados extremamente siva de grupo. É também importante que a equipe inicial de facilitadores de fora es•
compensadores. Quando um dos diretores do ftabelecimento chega ao ponto de teja preparadapara retirar-se,ficando; apenas, com uma função consultiva, se isto
poder ouvir o ódio, o desprezo de quem se desligou da escola e as razõesdessessen- "for desejado. Esses dois objetivos serão alcançados da maneira que descrevemosa
timentos negativos; quando o professor descobie que tal membro da diretoria não seguir.
é um ' 'tiranete" mas um ser humano, dotado de sentimentos não raro confusos e
inseguros sobre o papel que tenta desempenhar;quando um aluno dos primeiros da O Treinamento de Facilitadores
I
classe aprende que outros, menos brilhantes, são, às vezes, mais receptivos do que Aos que participaram de seminários anteriores dar-se-áa oportunidadede
ele em matéria de sentimentos; quando um pai verifica que tem, na verdade, que requereremtreinamento posterior Como facilitadores de grupo. Dentre os reque-
aprender de um adolescente, e vice-versa; quando críticas e esperançasamplamente rentes sele io a -se•ácerto número, não tanto com base nos precedentesa ad i•
divergentes, a respeito da escola, vêm à tona, na sua integridade, e são examinadas e cos, mas tendo em Vista as atitudes. O tipo da pessoa selecionada será aquela relati'
1,
desafiadas ho contexto emocional.em que existem; quando a confiança mútua se vamente não defensiva, a que se relaciona de modo real e genuínocom os outros,a
desenvolve num clima que inclui mútuas diferenças; então, podemos dizer, com que Se capacita dos seus sentimentose pode exprimi-los, a que é dotada de empatia
considerável segurança, que pessoa alguma do grupo permaneceráimutada. Cada sensível para com os sentimentosdos outros, que tenha mostradointeressar-sepelos

294 295
outros de modo não possessivo,
experiência da minha vida",
A tais pessoas se proporcionará um seminário residencial de treinamento,
com a duração de três semanas,no perfodo de férias; af terãoampla Oportunidade Possibilidade de Mudança Rápida Demais
de ler, de ouvir gravações de grupos com a maior variedade de líderes, de ver filmes
de experiência de grupo e de relacionamento interpessoais,assimcomo de posterior Administradores particularmente os que se orgulham do "tranqüilo fur#
participação em grúpos de encontro básico. Os vários proCessosadvogados pelos di- cionamento" da sua organização —pe# temer que o plano esboçado procuza mua
ferentes Ifderes serão experimentados. Aos participantes se' dará a oportunidade de dança demasiada,. Não se pode negar que, os problemas, sobretudo os in-
servir como "co-facilitadores" na liderança de grupos. terpessoais, são encarados abertamente em vez de serem varridos para debaixo do
tapete, quando os relacionamentos interpessoais tomam o lugar dos papéis represen-
Como um suplemento ou uma alternativa a esse seminário, as pessoasem-
treinamento seriam estimuladas a inscrever-se no programa de estágio interno ou no tados e dos regulamentos, quando a apreridizagem O a sua facilitação são mais foca-
para educadores oferecidos-pelos National Training Laboratories. lizadas que ó ensino professoral uma certa quantidade de:turbulênciaconstrutiva
é inevitável. Acentue-se que o plano proposto não pretende resolver todos os p o•
Com esse grau de preparação, cada pessoatreinada pode trabalhar como
blemas — em éez disso, Wbstitui os problemas de uma organizaç50 que vita a uma
co-facilitador com um membro da equipe externa, dirigindo grupos no ano seguinte.
estática pela que po*m surgit nóma omanização centrada em umpro-
Quando houver concordância mútua sobre a sua competência para lidar com gru-
POS, por sua própria conta, ela assim o fará, ficando um ou mais membros da equipe
externa como consultores. Possibilidade de Rejeição pela Comunidade
Dessa maneira se terá lançado a base de uma mudança continuada e de um O plano colocaria o sistéma educacional numa triJha, • u adireção, intei-
fermento a atuar no sistemá. Posteriores e)cperiênciasde grupo para membros do ramente diversas das que dominam numa escola comum ou a•u i e sidade. Dati
corpo docente, para pais, administradores, poderão ser mantidas. Novos grupos ver- o risco de uma discrepância grande-demais entre as diretrizes aprovadas pela comu-v
ticais se formarão. A esse tempo, por igual, novos meios de trabalhar, impossíveis idáde• as que se tpnham adoudo. Atenua-%, parcialmente, esse• is o,através
de se prever agora, se desenvolverão e poderão ser experimentados.Assim, quando envolvimento dos membrosda diretoria e dos pais na experiência intensiva de grupo.
o grupo profissional original se tiver afastado para uma função menosativa, o siste• Entretanto, não que em toda comunidade há inditfc!uo?
ma educacional já terá incorporado, em seu interior, uma função facilitativa,que se apegam a uma volta ao passado, à rfgídos pontqs-de-visfa sobre o que a esco!? ou
equivalerá a contínua abertura para a inovação, a contínua mudança. a—ÜñÑ Ñd Te e á ser, além dê prpfÚndamente,a libérdade de pensar,
É perfeitamente viável a utilização, por parte de outros sistemas, dos servi- como à mutaçãoràpída, caracterfsticadg
cos dessesfacilitadores para instaurar um programade mudançasnas suas próprias derno. Uma vez que-tais IndiÜTdÜ3se grupos provavelmente não aproveitariam da
organizações. Isso fará apenas com que o processose difunda mais. oportunidadede participar de uma experiênciaintensiva de grupo, precisamente
porque isto e ol e• uda ça, representam eles um problema difícil a aue não pare-
Riscos e Objeções ce possfvel dar uma soluçãofácil e oportuna.Dependemuito do contexto dentro
do qual o sistemaindividual existe. (Alguns grupos de direita vêem, agora, os grupos
Até aqui, o plano tem sido apresentadoem termos positivos. Quais os seus de encontro como lavagem cerebral de inspiração comunistal)
perigos? Que criticás se lhe podem fazer? De ue• odo poderá sair-se mal?
Possibilidade de Crfticas dos Grupos Profissionais
Possibilidade de Dano para as Pessoas
Elemento' do plano que, provavelmente,suscitará a crftica e mesmo a in-
Teme-se.não raro, que da abertura de uma experiência de grupo, da reve- dignação por parte de psicólogos, psiquiatras e outros profissionalmente envolvidos
de sentimentos até então ocultos possa resultar algum dano para a pessoa,O no campo de relacionamentos interpessoais, é o treinêrne!ito de membros dó corpo'
risco existe, mas é muito pequeno. Em questionáriosde acompanhamentode quase docente e de administradorescomo facilitadores de grupo. O argumento é que um
500 pessoasque haviam sido membros de grupos, sob minha responsabilidade,duas treinamentoprofissional completo com um graduado em Filosofia ou em Medicina
*ntirom que a experiência lhes fora mais prejudicialque útil. O assuntoé sério e e• é necessáriose a pessoavai exercer tal função. Já ficou evidenciado, com segrança,
cessita estudo posterior, mas indica ser o medo quase inteiramentedestituído de que esse ponto de vista é errôneo. Exemplo expressivd é O trabalho de Rioch (1963)
Outras respostas variaram de muito favoráveis até "a mais significativa no qual se mostra um treinamento dado a donas de casa selecionadas, durante
296
da associação ao sisfema, seria interessante que, em dado momento, se
um ano, habilita-as a se encarregar da terapia de indivíduos perturbados — terapia a apreciação de observadores*adicionais.92a apreciaçãopode ser comparadaà di
que, quanto a sua qualidade, não se diferencia do trabalho de experientes profissio- equipe original, fanto no começo quanto na continuação do programa.Sugere-se
fiais. Asim, o objetivo e processos delineados têm um bom precedente. 'Isto não que cada equipe faça observações e entrevistas com figuras répmentativas ad i•
garante que estejam livres dos ataques de grupos profissionais. nistração, da supervisão, dos eor#os docente e discente, nq tocante a cada pnto a
ser apreciado. Farão apreciações e avaliações descritivas, no mfnimo, sobre as se-
guintes dimensõesde pressupostosimplfcitose de atitudes e comportamentos,de
OS ASPECTOS FINANCEIROS métodos de ensino e de inovações:
Embora sejamvárias as razões pelas quais a experiênciaintensiva de grupo
a) A teoria implfcita no funcionamento do sistema educa-
tenha sido muito mais abundantementeutilizada na indústria e na administração
cional;
pública (Departamento de Estado, Serviço do Imposto de Renda, etc.) do que no
ensino, uma das razões mais importantes é a financeira. Os custos são consideráveis b) Os pressupostos educacionais ou a filosofia impl (cita;
e envolvem, fundamentalmente, dois itens. O primeiro é a despesacom a equipe c) Os pressupostos implfcitos quanto ao desenvlvimento da pe so alie•
profissional de facilitadores, para inaugurar-se o programa, despesaque decresceà de e o crescimento humano;
medida que os facilitadores recém-treinados, sa (dos do próprio sistema, vão assu, d) As atitudes de superiorese subo}dinadosuns para com os outros;es
rmindo suas funções. O segundo refere-seaos seminários residenciais, cuja despesa, atitudes de professores e alunos uns para eom os outros;
por pessoa,sobe, aprpximadamente, a US$ .15 por dia, depeneeodpdas acomoda-
ções: A instituição educacional pública não está, ordinariamente,preparadapara e) O moral em todos os níveis do sistema;
incluir essa espécie de despesa no seu autodesenvolvimento, quando, êntretanto, f) Os principais métodos educacionais em uso>
indústria quer, é capaz e está ansiosa por fazê-lo, g) O grau de estfmulo dado à aprendizagem auto-iniciada;
Daf a necessidadede angariar fundos — ou do sistema educacional ou da h) O grau até onde estão sendo desenvolvidas e empregadas
brganizaçãoa que se faça apelo para ajuda profissional (CSP, NT L, WT L, etc.) educacionais construtivas;
a fim de'finahciar essas despesas extraordinárias. O Ministério da Educação ou uma
i) O grau até onde comportamentos educacionais construtivos comu-
fu daç o•"riam fonte natural de recursos.Não se deveráprocedercom otimismo nicação aberta, confiançà,receptividade a novas idéias,flexibilidade
demasiadamente tranqüilo, pois todas as agências que angariam fundos tendem a ser
de estrutura organizacional — existem no sistema.
tão Conservadorasquanto burocráticas e um plano destinadoa produzir mudança
significativõe expansiva em matéria de educação poderia ser colocado sob suspeita. para o mais amplo alcance possível de informação destinadaà apreciação,
Claro que o de que se precisa é de organização não somentecapaz de proporcionar sugere-se o empenho de equipes como as que se seguem, as quais façam suas obser-
fundos, mas suficientemente dotada de imaginação e de visão progressistaem sua e avaliações:
polftica'interna. Organizações desse tipo são numerosas. 1) Uma equipe composta de um' educador, um consultor da organização
Naturalmente, as exatas quantias necessárias dependerãoda dimensão do e um psicólogo social. Essa equi0e fará repetidas apreciações;de seis
sistema educacional. Daf por que não tentamos, aqui, estimativa de espécie alguma. em seis meses, durante dois ou tres anos.
2) Equipe idêntica que fará apenas uma apreciação durante o segundo
Apreciação de Mudança ano do programa,devendoos seu; juízos ser comparadoscom os do
que uma pesquisa.
O que temos exposto é antes um programa de ação do primeiro grupo, a fim de descontar alguma influência possfvel.
medidas, de maneira
Dificilmente se poderia empreender, entretanto, tal série de 3) Uma equipe composta de um administrador, um *membrodo corpo
mudança, ou da ausência de
responsável, sem se providenciar alguma apreciação da docente e um aluno dó sistema educacional. A informação obtida por
poderia fazer tal aprecia-
mudança, a ocorrer. São várias as maneiras,pelas quais se essa equipe será, talvez, um pouco menos objetiva, mas provavelmente
cão. Um dos processos possíveis é O que se segue. será muito mais rica em pormenor. Pelo menos duas apreciações, uma
antes do iñfcío do
A apreciação feita por observadoresbem qualificados, no começo, outra passados dois anos, serão feitas por essa equipe.
depois de iniciado o
programa, pode ser comparada à que se realiza, a intervalos,
influir pela sua continua-
programa. Como é possível que os observadores se deixem 299

298
Um Programa de Pesquisa
REFERENCIAS
O plano descrito ofereceria também a possibilidäde de um rigoroso progra-
'ma de pesquisa, em que se estudassem um ou mais dos grupos de encontro båsico BENNE,K.; BRADFORD, L; LIPPITT, R. The laboratory In:
propostos, a fim de determinar se mudangas mensuråveis em especfficas dimensöes BRADFORD, L; GIBB, J. R.; BENNE, K. D.,ee T. grouptheoryand
de atitudee de comportamentoocorremde fate. Tal pesquisausaria instrumentos laboratorymeüod. Nova lorque,Wiley, 1964. p. 1545.
de confjanca apurada, administrados ao grupo experimental e a um.equivalente
grupo de contråe que näo houvesse passadopor uma experiéncia de grupm Esses BOWERS, N. E. & SOAR. R.S. Evaluationof laboratoryhumanrelations
instrumentos seriam administrados antes e depois da experiénciå de grupo e, ainda, training for classroom teachers. Studies Of human relations in the teaching.
depois de um periodo subseqüente de seis meses ou de uma ano- learning process:v V. Final report. Columbia, University of. South Carolina,
1961. ContractNe 8143, U.s. Office of Education.
Basta• os dizer que tal proposta de pesquisa foi cuidadosamente desenvol-
Vida e poderia ser inclufda no programa, se assim se desejasse. BOYER, R. K. A laboratoryapproachto the improvementof student faculty
relations and educational systems in engineering. National Training Laboraa
tories Relations TrainingNew, 872) 1-2, 1964.

CLARK, J. V. & CULBERT, S. A. Mutualytherapeutic


perception
and sélf.
OBSERVAGÖES CONCLUSIVAS awarenessin a T- group. Journal of Applied BehavioralScience, t: 180-194,
1965.
Ao concluir este cap(tulo, gostaria de dizer que tentei formular um plano
pråtico de mudanga autodirigida, numa organizaqäo educacional. Cada um dos ele- CLARK, T. C. & MILES, M. B. Part Il: The TeachersCollegeStudies,human
mentos propostos foi experimentado e tido como eficaz. O que é novo é a compo- relationstrainingfor school administrators. Journal of Social .10(2):
siGäo de todos os elementos num plano compreensfvel, a ser utilizado como padräo 25-39, 1954.
näo apenas para um, mas para muitos sistemas.
MILES, M. B. the T-group and the In: BRADFORD. lt.; GIBB, J,
As ünicas exigéncias para pör em aqäo nossa prpposta seriam a boa BENNE, K. D.. ed. T-groupüeotyand /a o otoo• åode Noéa Io .•
de um sistema educacional (o que näo se afiguraria diffcil) e O apoio financeirö.de que, Wiley, 1964.
ajguma agéncia ou fundacäo (o que seria mais diffcil).
RIOCH,Margareth
J.: ELkES, E.; FLINT, AA; USDANSKY, B. S.; NEWMAN,
Por que desejei apresentar semelhante piano? Porque Creio que: R. G.; SIBLE_R, E. NIMH pilot study in training mental healthcounglors.
American Jouma/ of Orthopsychiatry, 33:678-689, 1963.
se trata de um processo que se ajusta åf necessidadeseducacionais de
nossa cultura atual; ROGERS, C. R. The processof the basic encountergroup. In: BUGENTAL, J.
é um plano capaz de ser reproduzido ent muitos sistemas educacionais,
F. T., ed. Thechallenrsofhumanisticpsychology. Nova lorque,McGraw-
1967. R. 261-276.
de todos os nfveis;

esse plano corresponde å natural e estabelecida oti a o„para o cres-


cimento e a mudanca, a qual existe em todo indivlduo e é latente em toda
organizaqäo;

näo depende da aceitagäo passiva de mudangas sugeridas de fora;


esse plano resultaria na espécie de revolugäo educacional necessåria å
realizacäo da confianga no de aprendizagem, no processo de mu-
dance, maisdo que em conhecimentos eståtieos.

301
MUDANÇA EDUCACIONAL
AUTODIRIGIDA EM AÇÃO

O plano descrito no cap(tulo anterior, a ser aplicado a um sistema educacion


nal completo, não era, até recentemente,mais que um sonho. Embora tenham sido
feitas algumas tentativas para obter apoio para ele, duas agênciasdo governo — in-
cluindo o Ministério da Educação —e duas das maiores fundações o consideraram im-
praticável, imprudente, infundado, "avançado" demais para mereceraprov*ão. Ao
mesmo tempo em que os meios oficiais e os burocratas o tinham como inaceitável,
espalhava-sea notícia do plano, e certo número de sistemas escolares propunha-se
pô-lo em prática.
Por fim, entretanto, o plano obteve financiamento(l) e o que, antes, era
uma fantasia, está agora a meio caminho para ser traduzido na árdua realidade,co-
todos os problemas dessa metamorfose.

ESCOLHA DE UM SISTEMA
Dentre os vários sistemaseducacionais que haviam manifestadoo desejo
serem alvo do empreendimento,um foi por nós escolhido em razão de diversasvan-
tagens.

Incluia u a•es olasuperior feminina, que fez um grande investimen-


to no treinamento de professores, vários cursos de nível médioe apreciá-
vel número de escolasde nfvel fundamental.

(I) os furüos que tornaram esseprojeto possfvelforam uma subvençb fundaçw


Babcok e uma contribuiçb pessoal de Chorles F. Kettering II, feitas. ambas,à ' uip• que
veio a tornar-se o Centro de Estudos xbre a Pessoa; uma subvenção Fundação Merrill
i uma doação de Everett B•g l , feitas i Universidadedo Imaculado Coração:

303
sessõestratou de inovação em matéria de ensino e a outra do próprio programado
Tratava-se um sistema em que dois dos principais administradores grupo de encontro em todas as questões e críticas suscitadas a respeito.
e muitos dos Ifderes influentes eram entusiasticamentea favor da experiên-
cia; Membros da mesma equipe foram convidados a participar de uma assem.
biéia com os alunos do Imaculado Coração. Considerável número de professores
Estava geograficamentepróximo da equipe profissional;
da Universidade compareceu também. Os problemas suscitados ajudaram-nosa veri-
Tinha muita facilidade de realizar encontros fora do campus. ficar que os alunos faziam menos idéia do que seja o projeto do que os professores,
A escolha recaiu, assim, sobre o sistema do Imaculado Coração, em Los e disso, -naturalmente,resultavacerto temor e apreensão por parte deles. As ques-
Angeles, o qual compreende a Universidade do Imaculado Coração, muitas escolas
tões mais dramaticamentecarregadas de receio e de críticas vinham daqueles que
de nivel médio e diversas escolas de nível fundamental que estão sob a administra- não tinham a menor experiência de grupo.
ção e a supervisão da Ordem. Talvez essa notícia dos primeiros passos, dados todos num perfodo de no-
venta dias a partir do início do projeto, indique da intensidadecom que o pro-
NO momento em que escrevo, o programa está há poucos meses apenas em
grama vem sendo executado.
funcionamento. É cedo para se fazer mais que uma tentativa de relatório a respeito. I
A comisão conjunta de planejamentodas duas instituições já introduziu algumas Algumas Críticas
modificações significativas no plano original, como era de se esperar, mas o nosso
projeto estáem plena execução. Embora não-fasíe apropriado nem sensato discutir eventOS significaiivo$;
verificados nas diversas sessõesdos grupos de encontro, há certo número de• eaç6es,
crfticasppoéitivas, de quese falará nos parágrafosseguintes,as quais; poqi$iyaspu
ALGUNS DOS PRIMEIROS PASSOS
negativas, servirão de algum modo, ao planejamento do Centro de Estudos sóbrea
Quarenta e cinco administradores e membros do corpo docente da Pessoaé da Universidadedo -Imaculado Coração. Mencionanvse, primeiro, as crfti'
Universidade ofemeram-se, voluntariamente, para as primeiras sessõesde cas:
encontro. Dividiram-se em quatro grupos, encontraram-separa um primei-
toe, a seguir;para um segundo fim de semanaintensivo. Houve crítica a alguns dos facilitadores, sentindo membrOs de certos,
grupos que os seus facilitadores não eram tão competentes como deveriam
Trinta e seis :administradores e membros do corpo docente dé três i a
estabelecimentos de. ensino médio encontraram-se em pequenos grupõs du- ser e que alguns eram '.'iritrometidos 'oemais, impondo objetivos ao g upo
em vez de permitir que este se encaminhasSe para os pró#rios objetivoS
rante-dois fins de semana. (Estes e todos os outros grupos mencionados
forarnvoluntários.) Algumas pessoas'deixaram de voltar a um segundo fim de semana,
Quarenta Ifde es•estudantis de uma escola de nfvel médio encontra- sentindo ou que a experiência não lhes era útil ou que ficaram magoados
ram-se em três grupos por um fim de semana. nas sessões do grupo, ou, ainda, que não chegaram a assimilar tudo das ex-
periências do primeiro fim de semana.
Quando, passadoum mês ou mais, se encontrarampara um segundo
todos os grupos tenham Sidd voluntários,.houve uns poucoS
fim de semana, professores seus (dentre os referidos no parágrafo anterior)
participantes que sentiram uma sutil coerção para comparecer, pressãoso-
se dispunham, então, a reunir-se em orupos compostosde alunos e de
cial vinda ou de colegas ou de superiores.
membros do corpo docente, misturá que, no começo, evitaram. Cedo veri-
ficaram que havia uma comunicação entre gerações. Alguns membros do corpo docente da Universidade criticaram, so-
brctudo, a ênfase com que se considerava a pessoa, nos grupos de encon-
Cento e oitenta professores, equipes de administradores e diretores de vin-
tro. Sentem que o individuo é tanto um biólogo ou um professor ou um
te e úas de nfvel fundamental reuniram-se em vários grupos pequenos, por
lente de inglês, quanto uma pessoa, não sendo razoável que haja uma sepa-
diversas vezes, para dois encontros de fim de semana, separados, geralmente, por um
ração entre ele e as funções que exercem. Tanto quanto foi possfvel, pro-
mês ou mais. Em cada caso, as pessoas continuavam no es o•g upoem que ha-
curou-se tranqÜilizá-los, afirmando-lhes que todas as facetas da pessoa, in-
-viam o eçado•.
cluindo o seu trabalho e os interesses da sua Carreira, tanto quanto os seus
Membros da equipe do Centro de Estudos sobre a Pessoa promoveram, por mais Íntimos. sentimentos, são bem acolhidos num grupo de encontro,
duas vaes, encontros com membros do corpo docente da Universidade, Uma das
305
ALGUMAS REAÇOES POSITIVAS tinham reunido por iniciativa própria.e o de Estudos a Pessoafoi
Certas reaç6esque se seguiram,imediatamente,aos .encontros iniciais fo- vidado a enviar um facilitador. Estávamos aptos a fazê-lo. No meu modo de ver, es-
ram consideradas dignas de nota pela equipe de planificação: ta é a melhor indicação que t(nhamos de que, já a essaaltura, o vinha ea•

Há um considerável número de membrosdo corpo docente,em to- lizando suas finalidades.


dos Os níveis, que não compareceu ao prirrfeirofim de semana, mas que es- Não seria possível mencionar todos os convites que
teve presente,logo na primeira oportunidade, a um segundo grupo de fim dos que tiveram significação especial são relacionados aqui.'
de semana,
O Diretório Estudantil da Universidade pediu que se transformassem,
Houve, quase imediatamente, dois pedidos de reuniões de grupos de por algum tempo, suas reuniões semanais em sessões sensibilidadeeos
encontro para os docentes de determinados departamentos da Universida- alunos dedicaram cinco dessas sessões a de encontro.
de.
A equipe dirigente do jornal estudantil da Universidade decidiu reali-
Reunião regular do corpo docente' que se seguiu foi consideradaa zar um grupo de encontro de doze horas, com um facilitador convidado,
mais viva de que se tinha lembrança, a que deu mais ensejo à participação. do Centro de Estudos sobrea Pessoa;e com o do corpo
que lhes servia de patrono. Foi uma sessão mui;o construtiva. mem-
Reuniões, ainda, de certos departamentosda Universidade,desde a tendência era, em geral, a
bros da equipe mostravam-se muito céticos e sua
. realização dososeminários, descreveram-secomo mais comunicativas que ' que os grupos de en-
de formar um grupo de 'rebeldes". No final sentiam
antes, com os problemas a virem a lume com muito mais franqueza.
contro eram não apenascomDatfveis como também úteis à realização dos
Certa professora, empenhadaem um novo curso, a respeitodo qual seus objetivos de edificar um mundo mais humano.
se sentia confessadamente insegura — insegurança a que deu vasão no seu -l
grupo de encontro — decidiu convocar os alunos para planejarem e levarem Algúns estudantes negros iniciaram e organizaram um seminário de
à execução Ocurso, e relatOu.que essa foi uma aventura altamente estimu- negros e brancos, havendo convidado um facilitador que estaria presente
lante, apenaS nas três primeiras sessões, ficando à parte e só entrando no' debate
se isto parecesse, la a e te• e essá io. Mais takde, o convite se estendeu a
Houve orna série de convites de professores e de professoras para a todas as sessões. Foi dos mais intensos, movimentados e acalorados encon-
realização de breves encontros de grupo, nas respectivas classes. vos do ano. E o diálogo conginua.
Reaçã9 que se seguiu quase imediatamente foi a de que, em dois casos, Por iniciativa de alunbS'de ambas as instituições, reuniu-se,em fins
houve 0 convite para se dirigir uma breve sessãodo tipo de encontro de grupo, in- de semana, grupo de encontro co-educacional de moças da Universidade do
cluindo todos os alunos de nível especializado de certo departamento, junto com os i .lmaculadoCoração e de rapazes do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
respectivos professores. Grandes progressos se verificaram no tocante ao relacionamento de rapazes
Em grupos de professores, verificou-se um progressona solução de rixas é moças, como pessoas, não, simplesmente, como "possfveis" namorados.
entre pessoas, as quais, durante anos, vinham embaraçando o trabalho de determina- Foi um verdadeiro sucessoe a i i iativa•se estendeua outrasatividades.
ou departameqto. Têm-se elaborado planos para a realização de experiências
da
Em outras circunstâncias, tais sentimentostinham sido expressos,aberta- MUDANÇAAUtODlRIGlDA EMSALAS DE AULA
mente, sem que, porém, os problemas suscitados se resolvessem.
•A' comissão conjunta de planejamehto. tem-se surpreendido com a ve ifi a•
Pediu-se,.quase imediatamente, que se 'iniciasse, nas próximas férias, um ção de várias mudanças ocorridas na chamada instrução de sala de aula. Isto pode
programa de treinamento de, pelo menos, vinte membrosdo corpo docente, admi- ser ilustrado com algumas cartas de feedback que temos recebido. Eis uma, escrita
nistradores e alunos que desejavam tornar-se facilitadores de grupos. por uma professora de esaa fúndamental:

RESPOSTA A CONVITES O senhor pergunta o que me aconteceu .. consegui algo puro e sim,
ples —há algo "novo" dentro de mim .. . Eu escutei, E ouço, ouvi, estou
Depois das primeiras séries de encontros, praticamente todos os grupos se ouvindo coisas para que, antes, nunca atentara'... e gosto disto. Resulta-

307
do? Ao que sei, tudo 6timo.Tenho ouvido meus alunos. Pergunto-lhesse Meu comportamento na sala de aula é radicalmente To •
alguma coisa ficou sem explicação ou não foi entendida —os maiores 'na hei-me capaz de confessar ansiedade a meus alunos e,
landros", todos, levantam as mãos. Além disso, tornaram-se mais t'ecepti- me sinto mais do qua nunca, na aula. as moças a me
vos. Tive o mês mais atarefado, mais estimulante,trabalhoso,excitante, chamarem pelo meu pré-nome e, passadas algumas semanas, todas jáo fa-
cheio, ocupado, mas, umbém, mais feliz, desde que comecei a lecionar,e permite boa dose livre permuta. Já não estoudando nous,
zem. Isto
isso ainda não terminou.
nem mesmo exames. Os alunos escrevem suas próprias west6es — as que
Uma das professoras da Universidade deu as suas aulas de modo inteira- são mais significativas para eles em termos de conteúdo da matéria e, a se-
-mente diferente, depois de haver participado de um grupo de.encontro. Envia-nos, guio discutimo-las.
Com certo prazer, a nota que distribuiu com antecedênciae três páginasinteiras de
dos alunos. É material, longo demaispara ser citado, mas certo
v número de frases, dentre as que dirigiu aos alunos, mostrarão o espírito com que
PLANOS DE PESQUISA
es-
té regendo sua cadeira:
Poder-se-ia imaginar que só temos contado com reaç3es espontâneas we,
Meu objetivo pessoal, nesteaçg, é pg@tir a liberdade obviamente, tendem a vir das fontes mais favoráveis; eis alwns dos passos que te•
possfvel no estudp de . De forma algumê.os çpnsi@erpxeçjglentes mos dado para obter dados mais empíricos:
quais refrren_tesaqgur- Elaboraram-se planos para uma rigorosa investigação empfrica dos e•
descobrir, com vocês, novos insigh!S-we tornarão
mais siõñífíâiivb para todos nós o nosso modo defer sultados de alguns grupos, usando-se medidas pré e pós-experiência de
po, quer no sistema do Imaculado Coração, qser em sistemas de es•
não envplve, dinpmigpmgñte,.a_pe.$QQt como um todo, tam- cola pública que estão ansiosos para cooperar. Esse rigoroso estudo.terá de
bém não envolve_evendizagem verdadeira.
•ser levado a efeito durante o segundo ano do projeto. Vários instrumentos
Vocês são os melhores crfticos de que lêzm, foram experimentados sob forma pioneira, durante o primeiro ano.
porque só vocês podem fazer importantes e relevantes aplicaçõesa vocês Uma apreciação dos processos de ensino e de administração da Uni-
mesrnos, como pessoas . , . Alguns d? vocês podem assústa .•se
com esse ti- versidade,das relações docente-discentes,no mesmo nível, do estado de es-
po curso. Por favor, e p i a ۍo teda z liberdade. pfrito de professores e alunos, assim comO de outras dimenies. foi empre-
outra reaçãOque lh9$ a respeitode di- endia; por uma experimentada equipe de educadores de fora e tal aprecia-
verdas_poisay val?Anenacorret-Q-rjsço. E vocês? ção repetri-se-á,a intervalos, ao longo do proWamaecuja duração se preten-
de venhaa ser de dois a três anos. As apreciações não serb conhecidas pela
As reaç5esdos alunos são tão favoráveis que pareceria quase uma repetição equipe de pesquisa nem pela Universidade até que se complete o
matériado Capítulo III transcrevê-lasàwi.
Vários alünos dos cursos de doutoramento das Universidades existen-
Uma professora de uma escola primária div tes na mesma área, estão planejando executar ou já executaram invesiga-
ções de pesquisa sobre diferentes aspectos do proyama, como base para
Quando voltei do primeiro fim 'de semana,simplesmentenão pude suas teses.
dar aula. Havia coisas demais acontecendo dentro de mim] Então, falei às
crianças. respeito de minha experiência e tentei transmitir-lhes algo do es- Alunos dos departamentosde Sociologia e de Psicologia da Universi-
pfrito coisa. Elas ficaram encantadas e umas che*ram a chorar, enquan- dade responderamentusiasticamentea um convite para participar de uma
to eu lhes falava. A partir daí, os relacionamentos, na sala de aula, se tor- avaliação do. programa total e estão trabalhando nisso, intensamente. En-
naram muitfssimo melhores. Os alunos me viam como ã uma pessoae eu os viaram a todos os participantes questionário muito mais extenso do'me
4 a equipe de pesquisas ousaria impor aos alunos ou ao corpo docente.
via como pessoas. Passaram a me procurar, individualmente, muitas vezes.
Vinham ã mim para abraçar,rnecom expressõesde carinho. É simplesmen-
te fabuloso o que aconteceu em nossa classe. Essa relação a alguns itens do que se tem realizado,
até agora, dará, talvez,
alguma idéia dos problemas que se vêm enfrentando e do
De um do corpo docente da Universidade: estímulo a que o progra-
ma dá ensejo, ainda em suas fases iniciais.

308
309
(certa professora da escola). No entanto sinto, na realidade, que ela
FEEDBACK tava atuando de modo diferente. Apenas tínhamos mais consciênciadas
es-

suas reações.e respostas.Penso que, socialmente, nós os professoresnos


Apesar de ser ainda cedo demais para se ter uma grande quantidadede
tornamos mais conscientes uns dos outros. Cada um parece tentar um me-
feedback com participantes dos vários grupos, adui se encontram algumas amostras,
lhor conhecimento do outro, não como companheiro de trabalho masco-
provindas dos diferentes membros,
mo ser humano.
Ohl outra reação me está a zunir aos ouvidos. 'Lembro-mede M,
Dos Administradores na manhã de segunda-feira gu devo ter experimentado vinte e cimo Sen-
É surpreendente verificar os vínculos que se tecem entre as pessoas, timentos diferentes, no espaço de uma hora, mas, mais que tudo, eu estava
depois de estarem juntas numa sessão. apavorada — ia à escola pela primeira vez como (nome dela) e
Quanto mais penso riisso unto mais me capacito de quanto incriveV não como sua diretora. Era uma sensação extremamente "livre"l E eu so-
mente felizes somps nós, Irmãs, por termos trabalhado com-o senhor. Se brevivi!
há alguma coisa de que precisamos hoje, é dessa bela abertura e receptivi- • a força que o senhor me deu continua muito vivamente sentida
dade que faz florescer o potencial do jovem (e do velhol). por mim e querodizer, de novo, "muito obrigada"; estou tentando,por
Muito obrigado pelos dias passadosno seu grupo,na Universidade outro lado, saturar-meda idéia de ue• é pessoaamável e digna de
co'lmaculado Coração, Acheindepois das reuniões; que arranquei mais do .afeto,
grupo do que 'imaginara.
De Alunos da Universidade
Dos do Corpo Docente Uma jovem estudante, muito séria, que havia estado numa sessão d? três
Professores de todos os nfveis responderam livremente. Daremos apenas horas e meia com sua classe e sua instrutora, escreveu ao facilitador, alguns meses
mais tarde:
dois. exemplos. O primeiro procede de um membro leigo do corpo docente recente-
mente indicado: Ainda não posso crÇ quanto me senti feliz e tranqüila, aquela noite.
Senti ter conquistado alguma coisa no meu íntimo. Desde então, sinto-me
Pessoalmente, sinto-me inteiramente integrado na comunidade uni-
como se fosse uma nova pesSoa. Tenho tentado ser mais aberta e, embora
versitária; deforma alguma, pois, alienado. Estou certo de que isto é resul- de natureza reservada, estou, muitas vezes, a sorrir. Si to• e mai± à vonta-
tado do encontro de Uma coisa que o grupo permitiulogo foi que de com meus colegas, e percebo que, desde aquela sessão,perpassa em nos-
eu percebesse as freiras como criaturas humanas. Como Eu não tinha tido, so ambiente um ar de cordialidade. Esta será uma sala da qual podereidi-
antes, contato algum com freiras, estava um tanto apreensivo — extrema- zer que verdadeiramente me satisfez,
mente cortês, como é tendência minha de ficar com as pessoasde cuja opie;
nião não participo. Q grupo permitiu que eu superasse a mania de pôr de talvez lhe pareça estranho, mas quero realmente dizer-lhe."muito
obrigada" por me haver feito a pergunta essencial e por me ter feito falar.
parte as Irmãs,
De outro modo, penso que teria saído insatisfeita di nossa reunião e não
Uma diretora de escola primária escreve: gostaria de tentar de novo a experiência.
Tive de deixar passar certo espaço de tempo até que eu. fosse capaz Outra aluna escreve:
de responder, por escrito, à nossa experiência de sensibilidade. Quando vol-
tamos à escola, naquela manhã seguinte, todos parecíamos realmente desti- Penso que foi fantástico contar com o Centro de Estudos Sobrea
Pessoa'no campus. Notei os bons resultados desses de encontro, ha
nados ao fracasso-- no entanto, eu me perguntava a mim mesma se não se-
sala de aulas, no dormitório e em outras áreas. Só esperoé poder participar
ria aquele um dos nossos melhores dias para ensinar tão conscientes esta-
de mais grupos.
vam os professores de aue seus alunos eram pessoas.
Algumas outras observações de caráter subjetivo: do Corpo Nem todos os feedbacks são inteiramente positivos. Um grupo de dezenove
preocupação em relação a alunoS pediu para realizar uma experiência tipo "maratona" na qual estabeleceram
docente mencionaram mais uma vez sua
011
310
contato com dois facilitadores por cerca de Vinte e quatro horas ininterruotas. Foi
exatamente antes da ápoca dos exames e é provável que a experiênciatenha prodiF Está 'fincrfvel" o relacionamento entre o corpo docente e o discente.
zido muita mudança, tentta sido por demais movimentada, bem intensa, de Sinto que um senso de cooperaçãojá está circulando pela escola.Isto
modo a
facilitar a assimilação, por par.te dos alunos; e ainda facilitar-lhes a "virada" se tornou possível em face das atitudes do nosso próprio conselho de es-
para as
provas. Um dos participantes, que escrevera muitas coisas positivas Sobre os tudantes.
efeitos
da maratona, inclui também este parágrafo',
. Senti verdadeira depressãodurante o seminário, mas isto foi de-
. durante certo tempo, pensei que nosso grupo de fim de semana saparecéndo gradualmente poucos dias depois. Sinto que foi coisa eal e •
foi realmente um desastre e prejudicou um boca o de gente, mas acho que te boa para mim.
as coisas estão melhorando. Fora de brincadeira, rante alguns dias o cam- Não observei mudança alguma nos métodos de ensino das minhas au
pus parecia uma área de calamidades —todo mundo estavarealmente ator- Ias, exceto quanto à de religião, 4je é notadamente diferente da dos anos
r mentado. Era como se houvessem sido cortados aos pedaçose já não pua anteriores. Discutimos assuntos de interesse, livremente. Somos encoraja-
dessem voltar atrás, de novo, juntos. (Paraaliviar o leitor, observe-seque dos a perguntar, a desafiar, a dizer exatamente o que sentimos,sem nos
nenhum dano permanenteocorreu a qualquer dos alunos e que muito de preocuparmos com notas.
altamenteconstrutivo se realizou» Tudo que posso realmente dizer é que o senhor me deu oportunida-
Reação muito comum, mas suscintamente expressa, é a-seguinte: de de aprender como ver, ouvir, amar. Digo-lhe: muito obrigada.
Oh gentel Estou cuidando de aprendertanto quantod hurpanamen- Aprendi não apenasa ouvir mas a agir e a falar claramenteo que sirv
te possfvel. Trata-se de um exercício de paciente atenção,Quero tomar to,
parte nisto,
ALGUMAS APRENDIZAGENS
be Alunos do Curso Médio De certo ainda não dispomos de conclusões para o nosso até o porv
Afigurar-se-ia que quanto menos status a proteger tem a pessoa, tanto mais to em que estamos, e pareceria mesmo absutdo anour apressadamente algumas das
consegue ela obter e tanto mais entusiasta se mostra em relação à experiência de e • nossa¿ aprendizagens; Entretanto, elas têmpocorrido, e algumas. pelo menos do nos-
contro de grupo. Poder-se-iam encher páginas com as reações provindas de jovens se, so ponto de vista, bastante profundas.
cundaristas que participaram. Citaremos, umas poucas apenas. Especial atenção se dê 1)- Aprendemos, renovadamentê, a irande importância da qualidade do
à citação. É como se a aluna revela$e, aqui, ter-se libertadode uma aliena- facilitador. Não se trata de seu treinamento. Que é que faz com que um Ifder deixe
séria, assim como de um distúrbio psicológico: de ser um facilitador adequado? Cremos que a lista poderia incluir coisas tais como
estas: ser o facilitador até certo ponto fingido ou inautêntico, apresntando-secomo
Devo afirmar, desde logo, claramente,que o semináriofoi umadas alguém diverso do que realmente é; ter um objetivo não expresso a ser atingido pelo
mais importantes e belas experiênciaS cib minha (relativamentecurta) grupo; estar muito ansiosb PORprogresso no grupo; fazer pressão ou-devassa sobre
da. Acho, pessoalmente, que estou muitfssimo mudada nas minhas atitu- um indivfduo, sém que este manifeste, claramente, querer abrir-se; agir em termos
des para com os professores, os na verdade para com todo mundo. de alguma fórmula e não nos termos da situação imediata do grupo; usar, conscien-
Estou muito mais,aberta, Fra (ou, pelo menos, esforço-meduramente temente, certa "téCnica"; preocupar-se demais com os seus próptios problemas e to•
por estar), do que jamais estive, anteS; mar tempo excessivo do grupo. Por outro lado, um facilitador parece mais eficaz
O seminário deu-me percepção mais profunda da arte de ouwr já quando é capaz de ser, próprio; de aceitar o grupo exatamente no
O valor dessa "arte", porque muitas amizades novas.seabriram pa- ponto em que se acha, mesmo que se
ra mim e as antigas tornaram mais sólidas e mais importantesdo que confiança rio-õiõàessodo grúpo; dg ugo engntanzamanteFdiferentE_ÚEde-aces-
nunca. Durante certo tempo, eu me sentia muito distanciadadas pessoas so, tais como lhe pareçam çonforme
ao ponto de esur realmente aborrecida comigo mesma.Desdeo seminário, de tornar-se pariicípante do quyndp sente que o deseja e de
entretanto, tal sentimento foi abolido, experimentada; de novo, real união ção de facilitador, quando esta se apresenta necessária,
entre mim e as pessoas. 2): Apre"emos que há uma nrtida gradação dê dificuldades iniciar-se

312 313
O dos rupos de encontro. Os administradorestendem a encontrarmaior vor de uma comunicação mais aberta, de mudança mais inovadora e de melhor uti-
dificuldade em revelar os seus sentimentos, suas atitudes, suas pessoas;
o corpo do- liação dos sentimentos no contato entre mestres e alunos e. de outro lado, Os que
cente da universidadeconstitui uma segunda área de reserva. vêem todos esseselementosa influirem de modo perturbadorou mesmodestrutivo,
Professoresdo curso
médicu são mais abertos; professores e diretores de escolas de nível vida dâ escola. Qualquer que seja a extensão do efeito de tal divisão, não há dú-
fundamental,
que estão em contato diário com muitas e muitas espécies
de sentimentos, tendem a vida de que em nada ela ajuda ao administrador, de um estrito ponto de vista.
ser mais abertbs em relação ao que eles próprios sentem;vêm, 6) Acabamospor reformular o do plam, êue foi
em seguida,os estu-
dantes universitários; depois os de curso médio e, por fim,
os alunos de escolas de esbopdo tão claramente,de antemão, no capftulo anterior. Acabamos por reconhe-
nfvel fundamenül (tivemos muito pouca opbrtunidade dé
entrar em contato com cer que não estamos estudando, simplesmente,o impacto dos grupos de encontro
estes últimos, mas o que pudemos realizar foi na verdade
emocionantel). Em geral, sobre um sistemaeducacional. Formulação mais verdadeiraseria a de que:
portanto, haveria base para sustentar-se a hipótese dê que
quanto mais prestígio, Estamos estudando o impacto de um dedicado grupo de indiví-
status e autoridade intelectual tem uma pessoa a defender,
tanto mais difícil lhe
ré estabelecer um verdadeiro encontro básico com outras pessoas. duos que estão interessadosem pessoas,que querem comunicar'
se com e que estão interesEdos em facilitar a comunica-
3) Aprememos a contar uma gradação de mudança. A experiência do ção entre pessoas, num sistema Mucacional.
encontro de grupo parece efetuar sui primeira e mais facilmente verificávelmudarv
ca nas relações pessoais Íntimas do indivíduo -—sua esposa,.seus filhos, seus amigos Viemos a reconhecerque, onde se afigurou havermos facilitado mudança
e, entre as freiraS,o grupo com que vive; o efeito seguinteé sotxe aquelasáreas construtiva, tal se deu por intermédio de sessõesde planejamentoconjunto, através
de sua Vida em que se sente dotado de poder — por exemplo, o professor é dotado de incontáveis contatos individuais após sessões de encontro e em outrasopo u i•
de poder quando fecha a porta da sala e sente que pode se relacionar do modo que dades, por meio de palestras para professores e alunos, através de correspondência
quiser com seus alunos; o diretor é dotado de poder no trito com 'os seusprofesso- com pessoas em nossos grupos, de visitas subseqüentes e de•muitas outras formas de
.res. A mudança é mais 'lenta com relação ao grupo de pessoas iguais: ameaçamum relacionamento —tanto quanto mediante a utilização dos próprios grupos de.encon'
póuco mais umas às outras; é mais fácil manter os velhos hábitos. A mudança pare- •tro. Em resumo, chegamos a considerar que os grupos de encontro como cer-
ce vir por fim na est utu a•e nos processos organizacionais. Temos de esforçar-nos. gênero de "técnica" poderiam ser tão fúteis num sistema educacional,quanto
para tentar determinar como obter mais efeito quanto a essa última faceta do sis- qualquer outra via de acesso.O êxito ou o fracasso dependerãoda dedicaçãd,da au-
tema educacional. tenticidade e do senso de realidade da equipe encarregada de dar execução ao plano.
'Verif!çamos,também, existir certa ' 'sabedoria do grupo" em i i ia • oisaspor si
4) Aprendemos a importância de uma subseqüente ajÚda imediatae dis- mésmo em que ele usa•os facilitadores de modos com que jamais terfamos. a tes,—
Muita gente,que teve uma esplêndida ou uma pobre experiênciade grupo sonhado.
de encontro deseja muit0i nos dias ou nas semanas que se seguem,encontraral-
7) Ficamos satisfeitos com o adiamento dos nossos mais sérios esforps
guém com quem gostaria de tratar de certas coisas que lhe acontecem. Isto, em pars
de pesqui" para o segundo ano, porque isso fez com que fôssemos despfftados Pa:
te; pode ser feito com outros membros do grupo, mas uma pessoa a -quemse cona
ra pmblemas mais profundos. Como medir a variável que introduzimos num siste•
sideraria como um facilitador seria mais útil. Daf por que estamos planejando,enl
ma educacional? Já não podemos mais dizer que ela decorre apenas do grppo de en-
definitivo, O treinamento dê muitos facilitadores a partir de um sistemaque será dg
contro, mas, cpmo ficou .antes indicado, há outras variáveis,muito mais amplas. co.
assistência, De uma forma ou de outra, queremos colocar uma pessoa, capaz.de aju- mo mediremos os resultados?Teria algum significado saber que o moral do corpo
dar, à disposição de cada grupo e de cada membro deste, logo após toda experiência docente de uma escola subiu ou desceu, ou que uma certa percentagem de professos
de encontro. res tentou medidas de renovação nas suas salas de aula. Isso, porém. definitivamen,
te, não é o "bastante.Como poderemos medir o fato de que o professoragora se di.
5) Reaprendemos o fato, que supúnhamos conhecer antes, de que tQdQ
rige aos alunos, como uma pessoa,ou se relaciona com a direção, como uma pes-
aprendizado si nificatim é, de alguma forma, e envolve turbulência de
soa? Por causa de problemas dessa espécie, verificamos estar no 'encalçode uma no-
do indivfduo e de t•odo sistema. Uma das mais evidentesindicações disto é que,
va ciência da pessoaque só obscuramentepodemos entrever. Essa a razb por que .
enquanto algumas das escolas com a; quais trabalhamos foram literalmente trans-
nos apoiamos cada vez mais sobre dados fenomenológicos,quando tentamosentrar
fórmadas, em outras aprendemos que havíamos tido uma influência separatista—
no âmago da experiência do indivíduo, a fim de ¿alcular o impacto que esteou esta
dividindo os membros (da administração e do corpo docente) entre os que são a fa-
315
314
sofreu seBjndo os muitos e diferentes aspectos do projeto. Alguns zombarão desses
que não passariam de "auto-referências". Outros, porém, começarão a reco-
nhecer que tais auto-referências, colhidas no decorrer de extensos períodos de tem-
po, podem vir a ser a melhor das evidências "objetivas". De qualquer maneira, nos-
so projeto suscitou-nos muitos problemas de profundida& em relação ao significa-
do do termo "ciência", quando aplicado à ciência do homem, e quando tentamos
estudar as variáveis complexas que entraram num sistema humano.
Chegamos quase ao ponto de desejar antes o "conhecimento" que a "ciência"'.

ONDE ESTÀMOS?
Confio em que, dos vaiiados e .ocasionalmenteconflitantes relatórios que BiBLIOGRAFjA
nos vie aá.•às mios, se evidenciará que estamos menóS que a meio caminho do mais
emocionante projeto que envolve centenas de adultos e milhares de jovens estudan- por Alice Elliott
tes. Não temos respostas definitivas. Até mesmo a equipe dirigente do projeto está
no meio 'do mais intenso processo de aprendizagem a We já foi alguma.vez subme-
tida. Po •esSarazão, este capftulo terminará sem uma conclusão pura e simples.
A NECESSIDADE DE UMAREVISÃO ACADEMICA
O COME.ÇO 11 O HOMEME SEUS VALORES
A mim me parece muito apropriado que este livro chegue ao seu final com
um inicio, um começo. Na te tativa•deajudar um sistemaeducacional a transfor: Sua procura de significação e de autoconsciência.
mar-se, no Sentido de tornar-se mais livre, mais comunicativo, com mais autoconfi-
anca e autodir.igidaparticipação tanto de alunos quanto de professores,estamos em- III —VISÕES E REVISES DA CIENCIA
penhados num processo cujo resultado hão podemosclaramente predizer.Teré êxi-
to? Fricassará?. Mesmo estas perguntas são destituídas de significado, a menos que Os crescentes avanços da pesquisa que levam a uma ampla abordagem do
os seus termos se definam e os indivíduos, membros do sistema, terão que provar homem e à compreensão de si mesmo, enquanto ele examina os POIOSdo
suas própriai definições. Assim, o máximo que podemosdizer é que foi inaugurado dilema cientffico em que se encontra.
um processó:significativo.
Não nos iludimos, supondo que o programa elidirá problemas — apenas
substitui os problemas de uma organização estática pelosde uma organização orien-
tada por um processo. Muitos dos eventos iniciais dão-nosmotivo paraesperar.que
estejamos afetando o clima humanq e, os método?de óm sistemaeducacio-
nal que já experimentava certa fermentação. Parecerá razoável esperar, assim, que
essa mudança no clima psicológico haverá de proporcionar a alunos, a esü•-es,a ad-
ministradores, uma maior liberdade para aprender.

316 317
Sou muito grato.a Alice Elliott por haverpreparado esta biblio-
grafia, estímulo ao leitor para ir mais longe em suas investiga•
ções.

A senhorita Elliott leciona no curso secundário e é também pro-


fessora de professores em curso de doutoramento em comunica-
pão. Está, portanto, bem aparelhada para oferecer sugestõesao
nível da educação tanto "popular" quanto magisterial. Ê uma
das pessoas mais amplamente lidas que eu conheço e, na verda-
de, por suas leituras, "'fez amigos" entre os grandes espíritos de
nossa época. Não é apenas uma "letrada" no sentido p"ante da
expressão, mas alguém que considerou, digeriu e pensou, pro-
téria de ensino, de. filosofia da ducação e dos conceitos moder-
nos de ciências.
Por essasrazões, creio que a seleção feita por ela dentre cente-
nas de volumes —de leituras altamente relevantes, dará a
educa-
dores e a leigos a oportunidade de buscarseus interessesalém
dos limites deste livro.

319
Um livro chega â seu fim, não porém, o interesse de uma pessoa pelo tema
tratado. A presente relação de leituras foi- planejada para dar assistênciaaos que
querem ir mais -longeno estudo sobre o modo de criar ambienteseducacionais,so-
bre a análise prática do sistema de ensino norte-americano e a filosofia da.mu:
dança e.das maneiras de mudar nossas próprias atitudes.
Esta bibliografia foi compilada de modo a incluir livros de vários graus de
gonceitual. Tanto os leigos quanto os educadores.de todos os nfveisde
ilustrãçãÓéncontrarão,aqui; algo de interesse.As diversasáreas incluem ciência, fi.
losofia, religião, valores, autoconhecimento, liberdade de ensihar e de aprender,as-
sim como sugestões revolucionárias de futuro planejamento.
A recente proliferação de livros que tratam de problemasde escolasurba-
nas e de grupos minoritários, torna aconselhável que o leitor interessado escolha o
seu.

I —A NECESSIDADE DE UMAREVISÃO ACADEMICA


BENNIS, W. G.; BENNE, K. D.; CHIN, R., ed. TheP1aningofChange. Nova
lorque, Holt, Rinehart e Winston, 1961. Excelente coleção de artigossobre
relacionamentosinterpessoaise processode grupo. Inclufdas preciosassuges-
tões referentes a valores e mudança social.

BERMAN, Louise M. New Priorities in The Curriculum. Colurnu.is, Ohio, Char-


les E. Merril Publishing Company, 1968. É propósito deste livro revitalizaro
currfculo mais através de destrezas do processo humano do que de
métodos
tradicionáis. Excelentes sugestõespara professores. GOULET, Richard R., ed, Educational Change: The Reality and the Promise.
Nova lorque, Citation Press, 1968. Os professoresempenhadosem mudança
COMBS. Arthur-W., ChairmanA. S. C, D. Year Book Committee, Perceiving criativa, na educação, sabem que é necessáriopartilhar idéias. O relatório des•
Behaving Becoming. Washington, D, National Education Association, se Seminário sobre Inovações é um compartilhar das muitas idéias discutidas,
1962. Oportuna focalização nova de um mundo tecnologicamente
orientado. GREENE, Maxine, ed. Existential Encountemfor NovaTorque, Ra •
Leitura útil a todos os educadoresinteressadosem contribuir para o
processo
de com vistas à mais completa atuação de seus alunos. dom' House, inc., 1967. Excelente ajuda a professores interessadosem com-
preender as idéias dos grandes pensadores existenciais. -Apresentam-sevárias
DOLL, Ronald C. & FLEMING, Robert S. ChildrenunderPressure. selações com os comentários de cada uma pelo autor.
Ohio, Charles E. Merril Publishing Company, 1966. Todos Columbus,
os que amam as
crianças encontrarão matéria para pensar, nestelivro. As conseqüências HUTCHINS, Robert M. TheLearningSociety. Nova lorque, Frederick A. P ae•
médi-
-cas e psicológicas da "erudição imposta pela força"
são bem formuladas. ger Ince, 1968. Exprime a esperança de que a educação seja considerada como
FARBER, Seymour M, & WI LSON, R. H. L. , ed. Creativityand um "investimento no homem" e que daf resulte uma sociedade mais humana.
Conflict: Control O autor, amplamente conhecido como um dos campeões das artes liberais,
Of the Mind, Part II. Nova lorque, McCraw-Hill Book
Company, 1963. Dis- sente que as influências culturais, além da educação, terão amplo efeito.nas
interdisciplinar das forças que, no mundo de hoje, atuam sobre
o espí- próximas décadas.
rito. Vinte e oito colaboradores, oriundos dos campos da Medicina,
da Psico-
"logia, da Filosofia, da Religião e das Ciências Sociais, dissertamsobre TheAcademic Revolution. Nova
liberda- JENCKS, Christopher& RIESMAN, David.
de.e expressão criadora —coerção e controle do homem.
lorque, Doubleday Company, lhc., 1968. Lúcida discussão da"crise de infle-
FRIEDENBERG, .Edgard Z The Vanishing Adolescent. Boston; Mass.,Beacon -xibilidade de e*igências, treinamento e atitudes, nos cursos de pós-graduação
Press, 1964. A adblescência e suas pressõespodem ser devastadoras.O autor, dos EE.UU., assim como da neceSsidadede um pensamentorevolucionário
observador arguto, vê essas jovens criaturas como vítimas de pressõe' sociais por parte dos•p i ipais formadores dá cultuia norte-americana
hostis que muitas vezes as incitam a um comportamentotambémhostil. Es-
crito com sagacidade e compreensão. KEATS, John. Schools WithoutScholars. Cambridge, Mass.,The Riverside
Press, 1958. O "relatório" de um leigo sobreensino público, Eficaz e devast&
FRIEDMAN, Maurice. Problematic Rebel. Nova lorque, Random House, Inc., dora critica zcrita com humor. Será.úttt-aos eruditos e aos leigos interessados
1963. Apresenta uma imagemdo homem modernoatravésdo estudo inten- no desenvolvimento da educação.
Sivo de três escritores, Melville,Dostoievsky e Kafka, além das novelasde
Albert Camus. O capítulo "The Problema;ic Rebel and The ModernJob" é KEPPEL, Francis. The NecessaryRevolqtion in American Education. Nova lor-
um excelentesumário, que, Harper & Row, Publishers, 1±6: Educadores interessados especialmente
leigos podem encontrar, aqui, a focalização das preocupações nacionais sobre
1 o ensino norte-americano.Este .livro mostra quanta a nação deve comprome-
GOODMAN, Paul. Compul.wy Mis-Education and the Community of Scholars. ter-se fáce à crucial necessidadede atribuir-se um papel à educação na trans-
Nova lorque, Random House,'Iné. (Vintage Books), 1966. Sensível para com formação da sociedade.
crianças e adolescentes, o autor acha que uma longa aprendizagem é não ape-
LEONARD, George B. Education and Ecstasy. Nova lorque,The Delacort
nas desnecesiária e ineficaz, mas prejudicial, e que as escolas entram em acor-
Press, 1968. Criador, apaixonado e suscitadorde idéias, este livro foi escrito
do com os males sociais atendendo a falsos valores. Nesta crítica à estrutura
do sistemauniversitário dos EE.UU., o autor de Growing Up Absurd advoga para os que vêem a necessidade de um pensamento revolucionário sobre as es-
uma secessãopor parte dos professorese novo estabelecimentodos locais de colas norte-americanase o seu currfculo. Uma visão da escola potencial de
estudo em que eles possam ensinar e aprender como se fazia nas amanhã em que o enleio da aprendizagem séria objeto de prazer.
des medievais, sem controle
NEI LL,Aexander Fredom Not License.u Nova lorque, Hart Publishingco..

323
Inc., 1966. Dirigindo-se, principalmente, aos pais, o diretor
inglês da contro-
vertida de Summerhill acentua a necessidadede certo equilíbrio no 1967. Refutação da idéia de que no humanismoexistencialista não há lugar
relacionamento filhos-pais, Dão-se novos significados às palavras para a ética. A -necessidade de comprometer-se eticamente e de evitar o deses-
"amor, apro-
vaç50, liberdade, força", pero completo é acentuada pelo autor, implicando nossa responsabilidadee
nossas atitudes em matéria de educação e de relacionamentos humanos.
NEILL, Alexander S. Summerhill. Nova lorque, Hart Publishing Coe,Inc., 1960.
Com o subtftulo A Radical Approach to Child-Rearing, BARRETT, William. IrrationalMan. GardenCity, N. Y. , Doubleday& Compa-
este livro advoga,
num estilo vivaz e persuasivo, extrema permissividadee ny, Inc. "(AnchorBooks), 1962. Excelente defihição do existencialismo.Des-
#escreveo internato
fundado em 1921. creve suas origens e traça sua história. Kierkegaard, Nietzsche, Heideggere
'A ROSZAK, Theodore, ed. The Dissenting Sartre estudados minuciosamente,
Nova lorque, Random Hoo-
se, Inc., 1967. Eruditos e mestresopinam sobre o que há de BERNE, Eric. GamesPeop/ePlay. Nova lorque, Grove Press, Inc., 964. As pes-
errado no ensino
superior. Menção de excessiva interferência militar no
currículo, por via do soas jogam e brincam por enorme variedade de razões; para aju r-nos a o •
governo da União e do poder económico.
preen&las, o autor analisa 36 jogos. Tornar-se consciente destes esclarece a
"SKINNER. B. F, Walden Two. Nova lorque, The MacmillanCompany, 1948. quem procura entrar na percepção de certos comportamentos seus próprios
Utopia modelo em que os seres humanos são condicionados para e os dos outros.
procederem
de modo pré-estabelecido. O sonho de um' behaviorista.
SUIS, J. Samuel. The Art of Awarenes. Dubuque,Iowa,WilliamC. Brown
TAYLOR, Harold, ed. Company, Publishers, 1966. uma abordagem.humanistado•ho e Excelen-.
The Humanitiesin .the Schools. Nova lorque, Citation
Press, 1968. Investigação de eminentes especialistas em Educação, Teoria tes técnicas sobre autoconsciência, através do exame da Epistemologia e das
de revoluções conceituais do homem. Um exame das nossas reações semânticas
Conhecimento, Música e para.a incorporação das humanidades às nossas percepções e à consciência do mundo em transformação, no qual
ao currfculo,
vivemos.
WHITEHEAD, Alfred North. The Aims of Education. Nova lorque,Mentor
Books, 1964. As idéias desteyande filósofo sobreeducaçãoe a necessidade BONNER, Hubert. On BeingMindfulof Man. Boston, MaSs., Mifflin
Company, 1965. Acusação a muitos aspectosda Psicologia contemporânea.
de compreendera -interdependênciaentre várias disciplinas e sua insistência
Uma visão do homem como um sistemaaberto, capaz de um comportamen-
sobre abertura de espfrito, assim como sua desconfiança quanto aos sistemas
to singular, imprevisfvel, embora responsável pelo que decorre das suas
fechados, num mundo ilimitável, têm grande significação para os nossos dias.
opções„
WIENER, Norbert. The Human Useof Human'Beings. Cyberneticsand Society.
Garden City, N. Y. , Dou leda •& BUBER, Martin. The of Man. Nova lorque,Harper & Row, Pub
(Anchor Bopks), 1954; A lishers, 1965. Traduzido por Maurice Friedman e Ronald Greàor Smith. Com
Cibernética teve profunda repercussão na ciência. Neste livro, um grande cien-
um ensaio introdutório de Maurice Friedman. Para os que querementender
tista, pai do pensamento cibernético; mostra a assinalada influênciadeste so-
bre nossas teoriás do homem
Martin Buber e o diálogo. Em apêndice, um diálogo (de 1957) entrq Martin
organismo de feedback.
Buber e Carl Rogers.

81—O HOMEME SEUS VALORES B UG.ENTAL, Jamps F. TN Search for Auttrnticity. Nova lorque, Holt, Rine-
hart and Winston, 19" Na buó homem de "si mesmo", a autenticida-
ALLPORT, Gordon. Bxaming. Haven, Yale UniversityPress,1955. de se torna'um imperativo.Está liv de um psicoterapeutaliga-se mói-
O autor expõe coerente considerações sobre o estudo do deserwol-
vimento da personalidade. Exarninam-se teorias.em curso, evitando-sepontos
mento, em as e çã0Ñ0M' •si ologia humanística.
de vista polarizados. FINGARETTE, Herbert. The SWfin Transformation. Nova lorgue,Basic Books
úlnc.., Publishers,1963. Todos os que se interessam
11 BARNES. Hazel E, An ExistentialistEthics. Nova lorque,Alfred A. Knopft Jnc., pelo correlacionamento
dos conceitospsicológi$s, espirituais e morais do homem, darb valor a esta
324
32b

III
Humanas do Futuro"interessarão aos que se preocupam com a realizú das
abordagem existencial.
potencialidades humanas.
FLETCHERt J. H. Situation Ethics. Filadélfia, Pa., The WestminsterPress,
1966, Modernae controvertida visão de uma moralidaderelativfstica baseada ROGERS, Carl On Becominga Person(l ). Boston, MaSs.,Houghton Mifflin
noeppe. Company, 1961. Um grande humanista faz-nos partilhar da sua experiência
pessoal como homem, pai, marido e como um psicoterapeuta, nos termosdo
FRANKL, Victor E. MantSearch for Meaning. Nova lorque, Washington Squa- que ele considera de relevância para uma vida pessoal, num mundo cheio
re Press, 1963. Traduzido por Ilse 1-asche.Publicado originariamentesob o tf- perpbcidade.
-tulo de From Camp to Existencialism, O Dri Frankl descrevea vida
num campo de concentração e o efeito sobre ele, e seu subseqüentedesenvol- SOROKIM, Pitirim A, Ways and Powerof Love. Boston, Mass., Beacon Press,
vimento da Logoterapia. 1954. Uma análise da transformação moral, uma investigaçãodos problemas
da humanidade,com a conclusão de que o altruismo criador é a resposta
GARDNER, John W. Self-Renewal, Nova lorque, Harper & Row, Publishers, obra do sociólogo fundador do Centro de Pesquisa de Harvard sobre o Altruis-
Mostra a premente necessidade de nos renovarmos e à sociedade através mo Criador.
de uma visão participada de existir algo digno de salvar-se.Isto pode ser feito
por uma sociedade inovadora. STOOPS, John. Religious Va/uesin Educatfon. Danville,III', The Interstate
Printers& Publishers,Inc., 1967. Única no estilo e na estrutura, estaanálise
MASLOW, Abraham. H. Toward a Psychalogy of Being. Nova.lorque, D. Van dos valores religiosos na educação, embora um tantocontrovertfvel, é rica de
Nostrand CO.. InC., 1962. Um psicólogo humanista considera as ciências do idéias. Livro par&educadores interessadosnos valores morais e espirituaise
comportamento. em sua coloração em matéria de ensino.

MATSON, Floyd W.j ed. Being, Becoming and Behavior. Nova lorque, George TEILHARD DE CHARDIN, Pierre. ThePhenomenonofMan. Trad. de Bernard
Braziller, Inc., 1967. Os principais temase problemasda Psicologia,desdeSó- Wall. Nova lorque, Harper & Row; Publishers, 19591-Idéias sobre a eVolução
crates, os quais criaram para o homema dicotomia cultural da ciência e das e o desenvolvimentoda conscientização, escritas pelo arqueólogo jesuíta de
mnentalidadefilosófica. Publicaçãopost-mortem.
humanidades.Excelente visão de conjunto da finalidadeda Psicologiae das
debatidas questõesde noSsos dias. TIL LICH, Paul„ The Courage to Be. New Haven, Conn., Yale Universit}•press,
MAY, Roup, ed. Existence. Nova lorque, Basic Books, 'Ince,Publishers,1958. 1952. Um teólogo e filósofo apresenta,com lucidez, conceitosdiffcbiSsobre
Excelente exposição do existencialismo. Discutem-se, também, a análise exis- a coragem e a libertação da ansiedade.
teñcial e a fenomenologia psiquiátrica. Incluídos vários estudosde caso
TOURNIER, Paul. The Meaningof Persons. Nova lorque. Harper & Row, Pu-
MORRISI Charles. University of Chica-
Varietiesof Human Value. Chicago, 111., blishers, 1957. O *utor parte da sua longa'experiência como médico e psicó-
go Press, 1956. Investigação- cultural minuciosa sobre a avaliação de uma vida logo para acentuar o valor dos relacionamdntos interpessoais, tratando de te-
humana Os valores humanos considerados num perfodo de 10 anos. mas como estes: Quem sou eu? O Ser Cbntraditório, Psicologia e Espfrito
A descoberta, pelo autor, de cinco dimensõesde valor comum, em seis.cultu- Diálogo e Comprometimento.
ras diferentes, é reveladora. Metódica abordagem anal (tica.
WATTS, Alan W. The Book. Nova lorque, The MacmillanCompany (Collier
—MOUSTAKAS, Clark. Individuality and Encounter. Cambridge,Mass.Howard Books), 1967. O autor sugere que existe um tabu contra o nosso
A. Doyle Publishing co.. 1968, Investigaçãosúe a vida individual, os pro- to do que somos. Um combate à alienação, com sugestões para resolver nossos
blemas de identidade, solidão, espontaneidade, abertura e amor. Participação problemas sobre a identidade própria.
pessoal, sensfvel do autor.

MURPHYt Gardner. Human Poteñtialitíes. Nova lorque, Basic BQ0ks, Inc.,


Publistvs, 1958. Excelente exposição do que o autor chama os três tipos de Lióoa, 1970.
(1) N. do Versão portuguesade Morais Ed.: Tornar-sa
iatureza humana. "Eras Criativas", a "ÃnsTa da Descoberta" e as "Naturezas
327
326
WEINBERG, Harry L. Levels of Knowing and Existence. Nova lorque, Harper &
Row, Publishers, 1959. Tentativa de mostrar que mal-entendidos ocorrem por FARSON, Richard _E4 (ed.h Science and Human Affairs. Palo Alto, Catif.
causa de•certos padrões de má avaliação. Diálogo e encontro implicam comu- Science & Behavior Books, Inc„ 1966. Conferênciaspromovidaspelo Westert
nicação. A avaliaçãode nós mesmoscomo comunicadorese os processosde Behavioral Sciences Institute cobrem grande parte do livro we trata
comunicação são bem expostos, aqui. dos valores humanfsticos.

KAPLAN, Abraham. Conduct of Inquiry. San Francisco, Calif., ChadlerPub


lishing co., 1964. Livro indispensável•para cientistas do comportamento. O
111
-VISÕES E REVISÕES DA CIENCIA principais problemas e as preocupações comuns de todo' os cientistas sociai
são acentuados clara, simples e concisamente.
BACHELARD, Gaston. The of No: A Philosophyof theNewScien.
tific Mindi tradi de G. C. Waterston. Nova lorque, GrosmanPublishers,inc. KOESTLER, Arthur. The Ghost in the Machine.e Nova Iorque, The Macmillar
(Orion Press), 1968. Originalmente publicado na França, 1940. Revisão das Company, 1968. Embora a maior parte do livro trate da evolução do homerr
principais filosofias da ciência. Exposição sobre os polos da atividade cientffl. e do seu ímpeto de autodestruiçãorKoestler se mostra bem conscientedE
ca: empirismo e racionalismo, O autor elabora uma filosofia da ciência que criatividade do homem. Sente que a via de acesso científica ao homem, atra
a ambos. vés behavioristae do que ele chama de "Ratomorfismo" só po
agravar a embaraçosa situação do. homem moderno. Erudita condenação dc
BARZUN, Jacques. Science: The Glorious Entertainrnent. escolas de pensamento behaviorista.
Nova lorque, Harper
& Row., Publishers, 1964. Examina a influência amplamente
difusa da ciência
e seu ideário imperialista. As implicações disso para a MEDAWAR, Peter Brian. The Future ofMan. Nova Iorque, Basic Books, Inc.,
condição alienada do
homem com uma justificativa do ceticismo para com a ciência e do Publishers, 1259. Conferências do vencedor do Prêmio Nobel, na BBC, que
otimismo
em relação à capacidade do espfrito humano. sintetizam, com perícia, a Genética, a Demografia e a Sociologia, acentuandc
a urgente necessidadede uma abordagem ético-biológico ao homem qup não
BOULDING, Kenneth E. Thelmage: Knovldge in Life and Society. Ann Ar- se precipite em irrefletidas conclusões "científicas",
Mich., University of Michigan Press, 1961. Descreve as imagens subjacen-
tes às ações de todos nós. O autor relaciona isso à.elevação de POLANYI, Michael- Perxnal Knowl"ge. Novalorque, Harper& Row Plb
certas causas: lishers, 1964. Uma nova visão humanística da ciência apresentada de um modo
cruzadas cientfficas, sociais, psicológicas, etc. ConScienfe delas, em todbS
os erudito. Exposição da arte de conhecer, de ser e de comprometer-se para atin-
campos, propõe uma nova ciência "eicônica' , que reestruturaria nosso atuai gir um conhecimento pessoal; rejeição do ideal de neutralidade cientffica,
conhecimento do homem.
STANDEN, Anthony, Science IS Sacrd Cow. Nova lorque, E. P. Dutton 8
Jacob, Scienqe and Human Values. Ed. rev. Nova lorque, Har-
Cc., Inc., 1950. O desmascaramentoda ciência por um cientista.Obra infor-
per & Row, Publishers, 1 5. Os três deliciosos ensaioS"O Espfrito Criador",
mativa altamente divertida e espirituosa.
'"O Hábito da Verdade" "O Senso da Dignidade Humana" aparecemjuntos
sob um tftulo adequado. WHITE, Lynn R. Frontiersof Knowl"F in the StudyofMan. Nova Ior-
que, Harper & Row, Publishers, 1966. Em *linguagemnão-técnica,o editor
CONANT, James. Modern Science and Modem Man, Garden City, N. Y. , Dou- reune yandes escritores para discutir os novos métodos de pesquisa e as novas
& Company, Incoe(Anchor Bdoks), 1952. As idéias expostas neste livro visões, dedicando o livro aos que estão interessadosna natureza humana e na
têm sérias implicações. O papel da ciência e suaelevadaposiçãoem nossaso- autocompreensão.Exposição de uma nova espéciede humanismo.
exigem um sadio ceticismo. Um livro quefaz pensar,
WHITEHEAD, Afred North. Sciencêand the Modem World. Nova lorque, The
COULSON. WilliamR. e ROGERS, Carl R.OHomemea CienciadoHomemInter- Macmillan Company, 1948. Uma história da cultura ocidental, nos três últi-
de Minas Gerais, Belo Horizonte, M. G., 1973. O primeiro de uma série mos séculos, e as maneiras pelas quais foi influenciada pela ciência. O
de livros fundamentais sobre ciências humanas. Relata conferência realizada último
capftulo menciona alguns requisitos do progresso social,
no Western Behavioral Sciences Institute para determinar a direção a que nos
lwaram e nos estão levando nossas ciências. WHYTE, Lancelot Law. The Next Deve/opmentin Man. Novalorque, Mentor

329
Books, 1962. A permanência evidencia-se existir. A mudança não é arbitrária.
Uma continuidade na seqüênciade mu&nça é evidente.Charha-se"processo"
e implica em transformar-se.O homem participa do processo e torna-seo pró-
*imo desenvolvimento.
YOUNG, J. Z. Doubtand CertaintyinScience, Nova lorque,Oxford University
i
Press, Inc., 1950. Um estudo da sociedade humana vista pelos olhos de um
biólogo. Um homem instrufdo apresenta ao leigo seus pontos de vista, acen-
tuando as dificuldades.de comunicação envolvidas no trabalho que visa à uni-
ficação da ciência e seus efeitos no futuro do homem e da sociedade.

composição e impressão por gráfica editora andrade Ltda,


av. do contorno, 2037 — fone: 222-2568 belo horizonte, minas gerais

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