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Doce Garota - Parte I (Supremacia Styles) - Stacye Caramelws
Doce Garota - Parte I (Supremacia Styles) - Stacye Caramelws
REVISÃO:
Simone Mota
CAPA:
Lucy Grffin
Hórus Design
DIAGRAMAÇÃO:
Larissa Chagas
lchagasdesign
Para as coquinhas,
que chegaram quando tudo era mato.
Eu estava em uma estrada quando ouvi o barulho de várias buzinas
ao mesmo tempo e veio um clarão do farol do carro que quase me
cegou, tinha a certeza de que seria atropelada, porém, não senti
nada, então toquei meu próprio corpo confirmando que estava viva e
inteira.
E agora estava em outro lugar, onde nevava e, ainda que eu usasse
um vestido de alças finas, não sentia frio.
Uma criança de cabelo loiro cortado em tigelinha e olhos azuis veio
correndo em minha direção com um belo sorriso no rosto.
Uma paz enorme me consumiu quando ele pegou em minha mão e
fez sinal com o dedo indicador para que eu o seguisse, e começou a
correr me segurando, acabei rindo enquanto corria junto porque
uma felicidade crescia dentro de mim apenas estando com aquele
garotinho.
A criança abriu a porta de uma cabana velha caindo aos pedaços,
me empurrou para que entrasse, fechou a porta e saiu correndo.
A cabana, por mais que do lado de fora parecesse velha e
horripilante, por dentro era organizada, tinha uma lareira, uma
pequena mesa no centro e duas poltronas de frente para a lareira.
O fogo se acendeu sozinho. Observei as chamas que se modelaram
em duas pessoas e elas pareciam brigar.
Me aproximei mais vendo que a briga estava mudando para uma
dança.
Me sentei no chão observando o fogo que agora parecia um casal
se beijando de forma tão envolvente que era impossível parar de
olhar.
Brigas, danças e beijos. Que loucura!
A porta da cabana foi aberta por uma ventania tão forte que me fez
cair dentro do fogo e tudo se apagou diante de mim.
Mas, quando acordei, estava em uma ponte, na frente de uma
sorveteria, uma que eu sabia que meu tio paterno, Benjamin, me
levava em Los Angeles.
Um garoto, cujos fios de seus cabelos eram pretos e era alto, estava
encostado na proteção da ponte. Ele olhou em minha direção, me
permitindo ver seus olhos verdes que se iluminaram, as sardas em
seu rosto, as tatuagens em seus braços musculosos e... ele era
familiar, estranhamente familiar.
— Você voltou — disse abrindo um enorme sorriso e quando me
impulsionei em sua direção, percebi que outra pessoa estava
presente.
Uma garota de cabelos ruivos correu em sua direção, me dei conta
de que eles não me viam. Ela o abraçou e o beijou, ele a rodou no
ar ficando de costas para mim e deixando a garota de frente me
permitindo vê-la.
Era eu... era eu?
— Eu sempre vou voltar para você, meu amor.
— Não, não, não! — Gritei quando fui puxada para trás.
Cada vez mais longe deles, mais e mais longe, até estar em uma
praia.
Fiquei instantes parada no lugar, sem conseguir me mover. Não era
eu, era minha prima Rylie e aquele garoto provavelmente era
Castiel, seu namorado. Os dois faleceram antes do meu
nascimento, eu não sabia a causa do falecimento de Castiel, apenas
da minha prima.
Comecei a caminhar pela areia quente que entrava nos dedos dos
meus pés e vi um garoto com os pés na água. Em suas costas uma
tatuagem de águia com asas abertas.
Sentia que o conhecia, dentro de mim eu sabia.
O garoto tinha cabelos loiros dourados, era alto, com as costas
largas e braços fortes.
— Cameron? — O chamei.
Cameron... Styles?
Ele começou a andar indo cada vez mais fundo no mar. Tentei gritar
para ele parar, mas minha voz não saia e uma barreira invisível não
me permitia me aproximar.
De repente, eu cheguei em uma ponte, outra ponte, uma que
mesmo me esforçando para me lembrar, eu não a conhecia.
— Você voltou — disse uma voz rouca e grossa que eu nunca ouvi
em toda a minha vida. — Esperei você, Becca — o olhei, sem
reação.
O que Cameron Styles fazia em meu sonho?
Ele se aproximou de mim, colocou as mãos carinhosamente em
minha nuca e selou nossos lábios.
— Espero que as coisas sejam diferentes dessa vez — afirmou
ficando frente a frente comigo.
Seus dedos deslizaram em meu rosto calmamente, como se
admirasse cada detalhe meu, o toque dele era tranquilizador e ao
mesmo tempo me deixava com borboletas no estômago.
Seus dedos passaram pela minha nuca e se afundaram
carinhosamente em meus cabelos. Sua outra mão deslizou em
minha cintura e ele me puxou.
— Não precisa ter medo — disse sorrindo e acariciando meu rosto
com o polegar.
Seus lábios roçaram nos meus.
Me sentia calma, sem medo e me parecia ser tão certo que me
deixou assustada com a naturalidade de tudo aquilo. Abri a boca
lentamente lhe dando passagem.
Para onde foi todo o nosso ódio? Cameron sempre foi um completo
idiota e agora era como se nada daquilo importava.
Sua língua massageou a minha lentamente, senti meu corpo todo
quente e uma felicidade incomum crescendo dentro do meu ser.
Ele me deu três selinhos finalizando o beijo.
— Será diferente dessa vez — eu disse e abri meus olhos.
borrão.
Era estranho e, ao mesmo tempo, familiar.
Fiquei minutos encarando o meu quarto, pois, hoje era meu
último dia em São Paulo antes de voltar para Los Angeles, três anos
depois de me mudar.
— Vamos, filha? — minha mãe questionou.
Era só mais uma mudança, um retorno, o que poderia dar de
errado?
— Vamos, meu doce — meu pai chamou.
Concordei balançando a cabeça, peguei a última bolsa que
tinha no quarto e apaguei a luz.
Sempre que ele me chamava de meu doce eu sentia uma
imensa vontade de rir. Desde que tinha descoberto a diabetes, ele
me chamava daquela forma.
Faz um ano e alguns meses que acordei em uma madrugada
jogando para fora tudo o que tinha no estômago. Não conseguia
nem me levantar e quando conseguia, mal ficava de pé. Tinha
perdido dez quilos em um mês e não tinha, até então, uma
explicação. Até aquele dia...
Dez de Outubro, o dia em que descobri ser diabética, o dia em
que tive certeza de que morreria, o dia em que eu achei que minha
vida tinha acabado, mas não acabou.
A vida de diabética não era fácil. Era normal, mas não tão
simples.
A diabetes não era uma limitação na minha vida, precisava
cuidar da minha saúde, principalmente alimentação, como qualquer
pessoa precisa fazer, só que um pouco mais que pessoas não
diabéticas.
Aliás, o nome da minha diabetes era caramelinho e nunca vi
minha mãe rir tanto depois que contei a ela.
Caramelo era feito de açúcar e por mais irônico e engraçado
que seja, esse era o nome da minha diabete.
Entrei no carro e me encostei, deitando minha cabeça no canto
do banco. Meu irmão, Isaac, de dez anos, se deitou no meu colo
sem trocar uma palavra comigo.
— Fofos, nem parece que tentam se matar todo dia — minha
mãe comentou, fazendo-me sorrir.
— Matar é uma palavra muito forte, quero só dar uma paulada
na cabeça dele — eu disse, rindo.
— Eu nem gosto de você, insuportável — meu irmão
resmungou de olhos fechados.
— Ah, não gosta, não, está bom — minha mãe disse, rindo,
acompanhada pelas risadas de papai.
Embarcamos no avião depois de organizar tudo. O dia estava
clareando e o sol estava nascendo.
Depois da turbulência, que eu detestava desde alguns
acontecimentos familiares, tudo ficou bem. Olhei pela janela do
avião, era tão calmo que me trazia uma paz.
Tirei uma foto como uma despedida momentânea de São Paulo
e coloquei meus fones de ouvido.
E novamente fui vencida por um sono arrebatador.
quinze.
— Bem-vinda a Goldens, sou Esme, a senhora Payne está te
aguardando no escritório dela — a garota do caixa informou. — É só
subir as escadas, é a sala do fim do corredor — explicou antes de ir
atender um cliente.
— Ok, obrigada — disse, mesmo depois dela ter saído,
caminhando até às escadas.
Respirei fundo e apertei minhas próprias mãos, com medo de
fazer alguma coisa de errada durante a entrevista.
Meus pais, mesmo que tenhamos uma vida financeira muito
boa, não me impediram de vir trabalhar, a necessidade de começar
a ir atrás do meu dinheiro, ter a minha independência falava mais
alto.
Em São Paulo eu trabalhava com eles algumas vezes na
semana, porém, entramos em um acordo de que eu procuraria o
meu próprio emprego depois da mudança.
Bati na porta, respirei fundo e aguardei algum retorno.
— Pode entrar — ouvi a voz suave da senhora Payne, a dona
da lanchonete.
Entrei na sala e ela estava anotando alguma coisa. Fechei a
porta e me aproximei da cadeira esperando sua permissão para me
sentar.
A senhora de cabelos pretos e olhos escuros me olhou por cima
dos óculos, em seguida levantou totalmente o rosto e sorriu. Era
amiga do meu pai e eu cresci perto dela quando moramos em Los
Angeles antes da mudança, mas, por algum estranho motivo, não
sentia tanta liberdade por estar em uma entrevista de emprego.
— Sente-se, querida — pediu.
Concordei me sentando, ela me olhou de uma forma como se
eu tivesse toda a atenção dela, em seguida encarou um papel a sua
frente.
— Rebecca Malik Nogueira, correto? — questionou, arrumando
os óculos redondos no rosto.
— Sim, senhora Payne.
Ela sorriu.
— Quanto tempo não a vejo, está muito bonita.
Sorri, me sentindo um pouco mais relaxada.
— Muito obrigada, a senhora continua muito bonita também.
Ela sorriu e me olhou, um pouco mais séria.
— Por que você quer essa vaga de emprego?
— Estou há uma semana em Los Angeles e ouvi falar muito
bem daqui, vim duas vezes e me encantei. A organização, harmonia
e o atendimento me fizeram querer trabalhar aqui, pois é um
ambiente assim que eu quero para trabalhar — afirmei, olhando-a
nos olhos.
A senhora Payne também me olhava nos olhos a cada palavra.
— Rebecca, fico feliz em saber que é essa impressão que
causamos, principalmente sabendo que quando construí a Goldens,
você veio duas vezes com os seus pais quando era minuto pequena
e agora, está aqui para um emprego, é um tanto satisfatório.
A mulher a minha frente começou a falar sobre a política quanto
aos funcionários, a forma com que ela gosta de administrar as
coisas na Goldens e eu apenas concordava com tudo.
— Eu nunca fiz testes com ninguém, mas com você quero fazer.
— Certo — concordei.
Seus olhos seguiram para a tela onde mostravam as imagens
das câmeras da lanchonete.
— Pode se vestir com esse uniforme? — questionou, pegando
um uniforme em mãos. — Não vou te colocar para trabalhar hoje,
mas quero um... Um breve teste. Faz parte da entrevista.
— Claro, senhora Payne — disse, pegando o uniforme que ela
estendeu para mim.
Me arrumei no banheiro que em ela indicou. O uniforme era um
pouco mais curto do que eu costumava usar, mas nada impossível
de se vestir.
— Senhora Payne — a chamei, entrando novamente em seu
escritório. Ela se levantou e sorriu caminhando até mim.
— Querida, ficou ótimo em você — afirmou, pegando as roupas
de minhas mãos e as colocando em cima de uma das poltronas. —
Vamos, vou te explicar o que quero que faça.
Concordei, descendo as escadas com ela. Paramos no caixa e
ela pegou um tablet me explicando como funcionava a seleção de
pedidos. Não era nada difícil para falar a verdade.
— Boa tarde, Raquel — ouvi uma voz grossa e rouca.
Pisquei por pelo menos três vezes. Não pode ser. Não. Não.
Não.
Ele estava acompanhado de três meninas e dois meninos. As
meninas com uniforme que parecia ser de líder de torcida e eles
com um moletom que parece ser do time.
Por uma força que ia além de mim, me virei disfarçadamente
enquanto olhava o tablet na mão da senhora Payne, evitando que
ele e seu grupo me vissem.
— Essa é a Raquel, vocês trabalharam poucas horas juntas por
conta da faculdade dela, você trabalhará com o meu filho, quando
ele chegar, o apresentarei — senhora Payne disse e eu abri um
sorriso forçado.
— Então, já estou contratada? — questionei, rindo.
— Vamos ver isso agora — avisou.
— Prazer, Raquel. Sou Rebecca.
— Eu sei quem você é. Boa sorte — disse aos risos.
No mesmo minuto, o sininho que avisava quando alguém entra
na Goldens tocou. Um casal de velhinhos simpáticos entrou sorrindo
e nos cumprimentaram.
A mesa seis estava barulhenta com o grupinho de Cameron.
— Vou atender a mesa seis — Raquel avisou, saindo de trás do
caixa e eu quase a agradeci.
— Não — a senhora Payne colocou a mão na frente da garota,
a impedindo de continuar caminhando. — Rebecca atenderá as
duas mesas. Ordem de chegada e nada de descontos especiais —
avisou em voz baixa. — Cameron Styles, já me fez demitir três
garotas por descontos especiais sem autorização. Espero não ter
esse problema com você.
— Sim, senhora Payne — concordei.
Meu estômago doeu ouvindo o nome de Cameron.
Ele estava diferente, muito diferente, e eu não entendia o motivo
que me deixava tão nervosa.
— Pode ir, querida — a senhora Payne pediu.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e arrumei os óculos
em meu rosto para em seguida pegar o tablet.
Me aproximei da mesa e quando parei, os olhares se
levantaram em minha direção. Exceto o olhar de Cameron que
estava voltado para o cardápio, o braço direto envolto de uma
garota de cabelos loiros e olhos claros. Ela me olhou e olhou
novamente para o cardápio, sem se importar muito com a minha
presença. Os dois meninos me olharam e Elliot abriu um sorriso.
— Olá, Elliot, como vai? — questionei e ele acenou
positivamente, me virei para o outro. — Olá, Peter. Então, qual será
o pedido de vocês?
O olhar de Cameron se levantou no segundo em que comecei a
falar. Seus olhos azuis me encararam surpresos, me olhou de cima
abaixo e sua boca se abriu um pouco.
— Malik? — sua voz rouca questionou.
— Styles — o cumprimentei. — Qual será o pedido de vocês?
— questionei novamente.
Cada um fez seu pedido. Mas Cameron continuou me
encarando e piscando lentamente.
— E o seu? — O olhei, quase rindo dele estar prestes a babar.
Ele se recompôs e ergueu o queixo de forma arrogante, como
sempre fazia quando estávamos perto um do outro.
— Um número cinco, com desconto. — Ele sorriu como um
galanteador.
— Não tem desconto hoje — afirmei, sorrindo sem mostrar os
dentes.
— Para mim, sempre tem — disse com a voz cheia
convencimento e seu ar esnobe.
Eu sabia que minha reação me faria ser mandada embora agora
mesmo, mas era impossível controlar minhas palavras quando o
assunto era Cameron Styles.
— Você conseguiu desconto? — questionei Elliot e ele negou
balançando a cabeça. — E você? Pediu um número cinco também,
conseguiu desconto? — perguntei a Peter e ele também negou. —
Então, Styles, você, assim como todos os outros, não terá desconto.
O pedido de vocês chega em vinte minutos — disse, caminhando
até a mesa do casal de velhinhos.
A senhora Payne sorriu e caminhou até o corredor que dava em
direção as escadas após ouvir os meninos zombando de Cameron.
O casal foi extremamente fofo e simpático comigo.
— Os pedidos da mesa seis estão prontos — Raquel avisou,
indo atender outros clientes que entraram no estabelecimento.
Peguei primeiro as bebidas e as coloquei na mesa. Em seguida
peguei os lanches.
— Três números dois — disse, entregando os lanches naturais
para as meninas —, um número três e dois números cinco... Sem
desconto especial — debochei após entregar o lanche de Cameron,
ele pegou encostando a mão na minha e deu um sorrisinho de lado.
— Oh, droga! Sou muito desastrada — disse a garota loira, que
estava com Cameron, após derrubar o próprio suco de uva na mesa
— Pode limpar aqui... Garçonete? — disse enojada e dando ênfase
na palavra garçonete.
Sorri após respirar fundo.
— Desnecessário, Melissa — a voz de Cameron afirmou.
— Foi sem querer, gatinho — a voz enjoada dela chegou aos
meus ouvidos.
Peguei o esfregão e o passei onde o suco havia caído.
Entreguei outro suco para a garota tentando conter a minha vontade
de simplesmente ir embora.
— Bom apetite! — desejei, afastando-me.
Levei os pedidos da mesa doze, a do casal de velhinhos e eles
sorriram e me agradeceram.
Raquel voltou para o caixa e me olhou.
— A senhora Payne está te chamando na sala dela — avisou.
— Ok, obrigada — agradeci, caminhando até o corredor.
O sininho novamente tocou, mas não me importei, apenas segui
adiante. Bati duas vezes na porta e a abri.
— Com licença, senhora Payne, mandou me chamar?
— Pode entrar. — Aproximei-me. — Sente-se. — Sentei-me e
ela me olhou. — Será seu primeiro emprego?
— Sem meus pais, sim. — Ela sorriu.
— Mas você sabe atender ao público, com seus pais era assim
também?
— Não. — Neguei com a cabeça. — Atendimento ao público eu
aprendi nos trabalhos voluntários, no Brasil.
A senhora Payne arrumou os óculos em seu rosto e me olhou.
— Isso é ótimo, minha esposa e eu fazemos trabalhos
voluntários também. Você vai revê-la em breve, é diretora de Liberty
High School, Helena. Vai estudar lá, não?
— Meu pai contou? — Ela riu.
— Conheço seu pai desde o fundamental, querida, é claro que
contou. Você começa amanhã, às 16h. O uniforme já é seu. Seu
turno será junto com Andrew, meu filho. — A porta se abriu no
mesmo instante em que ela disse o nome de seu filho.
Andrew, era claro que eu me lembrava dele, tinha tentado
roubar um beijo meu quando éramos mais novos e essa tentativa
fez com que Cameron começasse a bater nele.
— Mãe, a Raquel disse que...
Não consegui me virar, me mantive olhando para frente. A
senhora Payne se levantou e eu fiz o mesmo que ela.
— Filho, essa é Rebecca Malik. Rebecca, esse é meu filho
Andrew, acredito que já se conheçam — disse cordialmente.
— Becc…
— Prazer em conhecê-lo, Andrew — disse, estendendo a mão
para ele. Ele a apertou e logo me afastei.
— Vocês nunca se conheceram? Ele era amigo de Cameron e
sempre estava comigo nos eventos que sua família ia — Rosie
disse, desconfiada.
— Não me lembro, evitava ficar muito perto de Cameron e não
conheci muitos amigos dele, era muito nova, acredito — expliquei,
sorrindo.
O olhar de Andrew era de surpresa e ele estava quase sem
piscar.
— Bom, ela trabalhará no mesmo período que você — senhora
Payne explicou, caminhando até sua mesa, me virei de frente para
ela e Andrew parou ao meu lado. — Querida, Andrew te explicará
tudo aqui amanhã. Hoje foi apenas um teste. Bem-vinda a Goldens!
— Obrigada, senhora Payne. — Sorri animada, sentindo o olhar
de Andrew em mim.
— Pode me chamar de Rosie. Andrew, pode ir — pediu e ele
saiu, ela me olhou e eu franzi o cenho. — Vocês já se conheciam?
— Engoli em seco.
— Não exatamente. Só de vista, ele sempre foi da turma mais
velha que a minha e eu nunca ficava muito perto dele.
— E por que agiu como se nunca tivesse o visto? — questionou,
olhando em meus olhos.
— O Andrew que eu ouvia falar e que via na escola não era
exatamente uma pessoa legal — afirmei, olhando-a nos olhos. —
Desculpa a ofensa. Acho que já perdi o emprego — disse,
descontraindo o clima e ela riu, negando.
— Há muitas coisas que não tolero dentro do meu
relacionamento com funcionários — disparou — e a principal delas é
a mentira — concordei, ainda em choque pelas palavras
inesperadas. — Até amanhã, Rebecca.
Entrei no enorme prédio cinza com janelas verdes água. Passei
das portas de vidro e uma mulher alta me aguardava.
— Senhorita Malik? — chamou com sua voz grave. — Seus pais
já chegaram. Por favor, me siga.
Caminhei pelo corredor até às escadas. Subimos até o terceiro
andar e a mulher me trouxe até a diretória. Na porta estava escrito
“Mrs. López Payne”. Bati e entrei após alguns instantes. A diretora
se levantou e sorriu.
— Olá Rebecca, seja bem-vinda a Liberty — a cumprimentei. —
Sente-se, por favor.
A senhora López começou a falar sobre a escola, sobre como
funciona o ensino e os projetos da escola.
Após toda a conversa e instruções, fui direcionada para uma
sala de aula vazia onde seria aplicada uma prova apenas para ver
meu conhecimento nas matérias.
Meus pais bateram na porta antes que eu começasse.
— Já assinamos todos os documentos. Boa sorte na prova,
querida. — Minha mãe me abraçou.
— Depois da prova você vai conhecer a escola. Como foi na
entrevista? — meu pai questionou, um pouco mais ansioso do que
eu.
— Começo amanhã. — Eles sorriram e meu pai me abraçou.
— Ótimo. As aulas também começam amanhã para você.
Estamos orgulhosos, meu bem — minha mãe disse, sorrindo.
— Rebecca Malik? — uma mulher me chamou.
Me despedi e entrei novamente na sala.
Não sabia ao certo qual era o tempo que eles julgavam
necessário para fazer aquela prova, mas em vinte e seis minutos eu
tinha acabado.
Me deixaram sentada na diretoria por aproximadamente dez
minutos aguardando a aluna que iria me apresentar a escola.
— Rebecca — disse a inspetora Lívia, que me atendeu assim
que cheguei. — Essa é Natalie Styles, vai te apresentar a escola.
Olhei nos olhos verdes da garota. Minha ex-melhor amiga.
— E aqui estão os seus horários, seus livros estão no seu
armário, Natalie vai te mostrar qual é o seu armário, a combinação
está anotada no segundo papel. Bem-vinda à Liberty.
— Obrigada, inspetora Lívia — agradeci, olhando-a.
No momento em que ela se retirou, observei Natalie, sentindo
meu coração doer pela falta que sentia dela, mas não daria o braço
a torcer.
— Rebec...
— Só me mostra a escola, por favor — pedi sem olhá-la
diretamente, mas sabia que ela tinha concordado.
Natalie começou mostrando a melhor parte da escola: a
biblioteca. Em seguida os laboratórios, o refeitório, as demais salas,
o pátio de piscinas e por fim as quadras, até pararmos no campo
onde o time estava treinando.
— E esses são os Warriors, o nosso time que não perde nunca
desde que meu irmão se tornou o capitão — disse orgulhosa
olhando os meninos treinando.
Cameron olhou em nossa direção causando uma emoção
estranha dentro de mim que fez meu corpo esquentar. Ele tirou o
capacete e começou a caminhar até nós.
— Ah, não — murmurei, dando um passo para trás e Natalie riu.
— Ainda odeia ele?
— Podemos ir até meu armário? Preciso buscar meu irmão
depois daqui — pedi, com certa urgência em minha voz.
— Rebecca Malik, a garota que não me dá desconto especial —
anunciou rindo. — Sabia que ela trabalha na Goldens? — Ele parou
na minha frente e cruzou os braços. — Bem-vinda de volta.
— Devo ir buscar o esfregão caso sua namorada surte outra
vez? — Sua expressão mudou de esnobe e superior para
impaciente.
— Ela não é minha namorada.
— Isso não me importa — respondi, apenas para irritá-lo. —
Pode me levar até meu armário, Nat… Natalie? — questionei,
olhando-a.
— Claro — Natalie disse e eu a segui.
Porém, Cameron parou em minha frente me impedindo de
passar.
— Te atrapalhei ontem enquanto jogava basquete? —
questionou, aproximando o rosto do meu, me fazendo levantar o
olhar e minha fala simplesmente sumiu quando me recordei de sua
tatuagem.
— Cameron, vai jogar, vai — Natalie pediu. — Vamos? —
concordei ainda atônita e sob o olhar de Cameron. — Para a gente
ir você precisa começar a andar, criatura — Ela riu, puxando-me
pelo braço e quando a olhei, ela me soltou. — Desculpa.
— Tudo bem — disse, seguindo-a.
Natalie e Cameron tinham apenas meses de diferença de idade.
O pai deles engravidou as duas melhores amigas na mesma época.
Infelizmente a mãe de Natalie faleceu no parto e Elizabeth, a mãe
de Cameron, a criou como filha.
Entramos na escola e caminhamos pelo corredor, até meu
armário número setenta e sete. O penúltimo armário da segunda
fileira.
— Ah, droga — Natalie murmurou.
— O quê? — questionei, fazendo a combinação do armário e o
abrindo.
— O armário setenta e oito é do meu irmão — explicou.
A olhei incrédula, em seguida olhei para o teto.
— Sério isso, Deus? — Natalie riu.
— É só ignorar ele. — Dei de ombros arrumando os livros no
armário. — Então, você voltou para a Rua dos Alfeneiros?
— Sim, Natalie. Sou sua vizinha novamente — respondi sem a
olhar.
Por mais que eu tentasse não ser ríspida, não sabia bem como
reagir a aquele reencontro.
— Becca, a gente precisa conversar…
— Sobre?
— Sei que ter zombado de você foi errado, sei que não devia ter
contado a Andrew sobre você nunca ter beijado, pelo menos até
aquela época, mas isso já faz anos. — Ri, olhando-a.
— Natalie, não me importo de saberem que nunca beijei, isso
realmente não é um problema para mim. Mas você vacilou comigo e
me bloqueou em tudo, eu não te conheço mais, já faz dois anos e
você simplesmente fez com que eu não tivesse mais nenhum
acesso a você. — Fechei o armário e a olhei. — Eu não sai da sua
vida, você me tirou dela e não vou brigar por espaço, até que você
me coloque novamente na sua vida não temos o que conversar. Até
amanhã.
Caminhei pelo corredor sem fazer ideia de qual era a direção
correta a ser seguida.
— O estacionamento é pela outra porta, por essa você vai sair
no campo de futebol — Natalie disse, rindo.
— Eu sabia disso, ok? — Ri, passando por ela.
— Pode ir lá em casa hoje de noite? — questionou em voz alta
quando eu estava próxima de chegar na porta do estacionamento.
Respirei fundo.
— Te vejo às sete — avisei, empurrando a porta e saindo.
encontrei minha sala após falar com a inspetora e não tive que
depois das aulas com Cameron que ela nem sequer sabia.
A campainha tocou. Fiz um coque no cabelo, coloquei meus
óculos e caminhei até a porta, a abri e Cameron me olhou. Estava
com uma bermuda preta, uma blusa salmão e chinelos.
— Bom dia — disse guardando o celular no bolso da bermuda.
— Bom dia — lhe dei passagem.
Nos sentamos na mesa de jantar onde deixei todo o material
que precisaríamos.
— Vamos começar pelos trabalhos maiores que são os de
química, física, matemática e inglês — abri meu notebook e o liguei.
— Tem alguma preferência de qual dessas quatro matérias quer
começar? — O olhei, ele estava sentado todo relaxado na cadeira e
mexendo em seu celular — Cameron! — Exclamei.
— Só um minuto — disse rindo para o celular, revirei os olhos
negando com a cabeça e me levantei caminhando até a cozinha,
peguei uma lata de coca e respirei fundo.
Voltei para a sala de jantar, me sentei sentindo meu cabelo se
soltar e comecei a organizar as coisas para o estudo.
— Se você não se ajudar, ninguém vai poder, Cameron — ele
me olhou quando o olhei. — São suas notas, não as minhas. A
galera que você está conversando não vai te ajudar a fazer o que
você precisa no momento.
Ele me olhou por instantes com seus olhos azuis, bloqueou o
celular e tirou da bolsa o livro.
— Química Ambiental, a professora quer um trabalho sobre isso
— disse colocando o livro em cima da mesa.
— Certo, então vamos começar.
— Podemos colocar música?
Virei o notebook e o deixando colocar a música.
Ficamos horas em pesquisas e explicações.
Reli a proposta que a professora de química passou para ele e
o questionei:
— Trouxe as coisas para fazer a maquete?
— Pode ser depois do almoço? — Olhei no relógio de parede
vendo que tinha se passado do meio-dia.
— Pode sim — disse rindo. — Nem vi a hora passar.
— Vai fazer o que para a gente almoçar? — questionou com um
sorrisinho maroto nos lábios.
— Para você nada, se quiser, você que faça.
— Olha que eu faço — desafiou e eu o olhei com a sobrancelha
arqueada. — Vou fazer uma lasanha — disse se levantando, ri o
vendo caminhar até a cozinha, mas seus passos voltaram — e você
vai me ajudar.
— Quem quer comer lasanha é você.
— Até parece que você não vai comer também, vem Malik —
disse me puxando pelo braço.
Me levantei rindo, ele me trouxe até a cozinha com as mãos em
minha cintura e me soltou assim que entramos.
— Ok, garoto, vou pegar as coisas — me rendi amarrando o
cabelo e pegando as coisas no armário.
Quando me virei para ele, o vi com o avental rosa de minha mãe
que ficou pequeno nele e não contive a risada.
— Coube certinho — brinquei e ele fez uma pose colocando a
mão na cintura.
— Preciso amarrar meus cabelos também — brincou jogando o
cabelo imaginário para trás me fazendo gargalhar.
Ele tirou os anéis que sempre usava, exceto quando ia jogar ou
treinar, e começou a preparar as coisas.
Peguei meu notebook, coloquei nas músicas que, daquela vez,
eu quem tinha escolhido e comecei a fazer o molho ao som de You
& I do One Direction.
—… Cause You and I... — Imitei o solo de Zayn Malik.
Abri os olhos quando ouvi o barulho de talher caindo. Cameron
me olhava com os olhos arregalados e sem reação.
— Becca... — Disse impressionado.
— Eu... — Dei de ombros sentindo minhas bochechas
queimando pela empolgação que não tinha conseguido conter.
— Você canta muito bem! — Me interrompeu sorrindo — Não
sabia que você cantava.
— Às vezes eu tento — disse mexendo o molho na panela.
— Tenta — ouvi sua risada. — Tenta muito bem por sinal.
— Obrigada — agradeci sem o olhar.
Terminamos de preparar as coisas, arrumamos a mesa e nos
sentamos para comer.
— Posso te fazer uma pergunta? — Ele me olhou concordando
— Por que mentiu pra Katherine? — Sua expressão mudou para
confusão.
— Menti para Katherine? Sobre o quê? — questionou cortando
um pedaço da lasanha e o levando até a boca.
— Você falou que gosta dela — enchi meu copo com coca —,
mas fica com Raquel e Melissa — ele riu tossindo.
— Eu nunca falei que gostava dela, ela falou isso para Natalie
também, mas não é verdade — ele relaxou o corpo na cadeira
pegando o copo dele. — Pelo contrário, deixei bem claro que se ela
quiser diversão ok, mas que não tenho nenhum sentimento ou
interesse por ela, a não ser meus próprios interesses.
— E elas aceitam isso?
Ele riu dando de ombros e tomando um gole da sua coca.
Levantei às sobrancelhas e um pouco o nariz em expressão
de “Ah... Entendi...”, arrumei os óculos no rosto e voltei a comer.
— Você devia parar de ouvir o que os outros falam de mim.
— Concordo — o olhei —, mas, considerando que você não me
dá abertura para nada, eu vou ficar sem te conhecer se não ouvir os
outros.
— Prefere me conhecer errado então? — O fitei por instantes.
— Cameron Styles é um tiro no escuro — limpei meus lábios
com o guardanapo. — Não dá para saber o que se esperar, não
sabemos se ele é bonzinho com jeito de malandro badboy ou se ele
é mau escondido em um ótimo jogador de futebol que fica com
geral, quando na verdade quer acabar com todo mundo — ele riu de
forma que seus olhos se fecharam um pouco.
— O que a senhorita Rebecca Malik acha de mim?
Joguei meu cabelo para trás.
— Desde quando minha opinião importa para você? —
questionei e ele ficou em silêncio por segundos, abaixou o olhar e
me olhou novamente. — Bom... Eu acho que você pode ser uma
boa pessoa, mas prefere mostrar que é valentão, briguento,
desapegado e egocêntrico para que as pessoas não esperem nada
de você, que não criem expectativas — ele ficou sério —, mas como
toda pessoa, você tem seus problemas, seus traumas, suas dores e
esconde tudo isso em um personagem que é popular, capitão do
time e pegador.
— Ou talvez eu queira que você pense isso de mim — abaixei o
olhar negando com a cabeça.
— Eu duvido que você, Cameron Styles, daria abertura para
que eu notasse que você tem suas fragilidades — o olhei. —
Principalmente pelo nosso ódio recíproco a longo prazo — afirmei
me levantando e pegando as coisas da mesa —, precisamos voltar
a estudar.
Coloquei as coisas na pia. Cameron começou a lavar e eu a
secar e guardar a louça. Guardei o último prato e ele se encostou na
bancada secando as mãos.
— Eu não te odeio — cruzei os braços me encostando na pia e
ficando de frente para ele. — Só te acho mandona, as vezes chata,
quer sempre ter razão e chega a ser insuportável — ri revirando os
olhos.
— Tem muitos adjetivos que eu poderia associar a você —
afirmei e seu típico sorrisinho maroto de lado apareceu em seu
rosto. — Mas, no momento, coloquei isso de lado. Vem, vamos fazer
a maquete logo.
sexta-feira.
— Ah não — ouvi Natalie murmurando.
Abri meus olhos e ela apontou com a cabeça para o carro de
Cameron.
Olhei na direção apontada e acabei rindo ao ver Cameron sem
camisa em cima do carro.
— Não está tão calor — Natalie comentou desapontada.
— Você não tem que ficar assim pelas coisas que seu irmão faz
— afirmei.
— Fácil falar quando não tem nada relacionado a Cameron,
mas é com isso que as meninas vêm para cima de mim querendo
ter algo com ele, fingem amizade comigo. Esse ano está mais
insuportável, eu não tenho paz por culpa dele! — Disse estressada.
— Por que eu nunca vejo ninguém em cima de você quando
estou junto?
— Quando estou com você, ninguém vem mesmo — ela riu. —
Deve ser pela sua cara de brava ou porque Cameron já comentou
que vocês não se gostam, não sei. E você nem fica mais no
refeitório, nem faz parte das líderes e não temos nenhuma das aulas
juntas — ela pensou um pouco. — Por que você não fica mais no
refeitório?
— Não sei. Essa semana eu fiquei com Neji na ala de natação,
Calleb e Jace me chamaram para ficar no refeitório ao ar livre e
ontem eu fui buscar meu irmão na hora do intervalo pra levar ele pro
trabalho da minha mãe.
— E hoje vai ficar comigo — afirmou e eu neguei com a cabeça.
— Vai sim — insistiu.
— Você se senta com as líderes e eu me recuso — Natalie
concordou com a cabeça me fazendo rir.
— Vamos nos sentar em outro lugar então, você voltou para cá
e parece que não voltou. A gente não fez nada juntas ainda.
— Terminou com os machos e lembrou de mim, Natalie? — Ela
deu um tapa em minha testa.
— Não, Rebecca Malik, e eu te chamei para sair três vezes e
você disse que estava ocupada. Acho que quem tem macho aqui é
você — ela me olhou.
— Sim, estou pegando todo mundo — brinquei e ela revirou os
olhos rindo. — Estou pegando o jeito de tudo, o trabalho está me
matando e eu ainda tenho que estudar.
— Mas hoje podemos fazer alguma coisa?
— Claro.
— Perfeito — disse me abraçando. — Eu te amo e a partir de
hoje vamos nos sentar juntas no intervalo — ela beijou meu rosto.
— Eu quero ir embora dessa selva e dormir até a hora do
trabalho — comentei e ela gargalhou.
Fechei meus olhos me deitando no banco, mas Natalie saiu do
carro, abriu a porta, soltou meu cinto e me puxou para fora pegando
minha bolsa como se fosse mãe de criança.
— Hoje não, docinho — ela travou o carro depois que sai.
Parei no meu armário e me sentei no chão para esperar dar o
horário da primeira aula. Neji se aproximou e rindo se sentou ao
meu lado.
— Muito sono, docinho? — questionou rindo, concordei
enlaçando nossos braços e me deitando em seu ombro.
— Dormi nada essa noite, estudei até tarde e meu irmãozinho
chorou a madrugada toda, como minha mãe estava com Louis, eu
fiquei com a Elô — expliquei.
Ouvi o armário ao lado, o de Cameron, sendo aberto, mas não o
olhei.
— Japa — Cameron chamou e senti Neji levantando o olhar —,
vai ter uma festa lá em casa amanhã, preciso de um DJ — olhei Neji
que concordou.
Franzi o cenho sem entender quando eles começaram a se
falar. Ele e Cameron deram um toque de mão.
— Não se esqueça que você tem vizinhos — o relembrei.
— Dane-se. Se te incomodar é só ir para outro lugar, seus pais
não vão estar em casa mesmo — disse ríspido.
— Vou para a delegacia então — rebati me deitando novamente
em Neji.
— Não ferra, Malik — Cameron disse caminhando pelo corredor.
Neji se levantou e me puxou pelas duas mãos me fazendo
levantar, após ouvirmos o sinal tocar.
— Não sabia que vocês eram amigos — comentei olhando Neji.
— Não somos, mas quando precisa eu vou — explicou na
caminhada para a sala de aula.
Nos sentamos no mesmo lugar de sempre. Melissa se sentou
na mesa ao lado e Katherine se sentou atrás dela. Assim que
Cameron chegou, Melissa o beijou fazendo todos gritarem, exceto
Katherine que piscou demoradamente, respirou fundo e sorriu de
forma forçada.
Cameron se afastou de Melissa após o beijo, me olhou e se
sentou ao lado dela sem dizer uma palavra se quer.
— Por que ele te olhou daquele jeito? — Neji questionou em voz
baixa.
— Que jeito? — Franzi o cenho.
— Ele estava checando sua reação, como se esperasse algo de
você e você ficou simplesmente não se importou.
— Acho que você está vendo coisa, não tem motivos para ele
esperar algo de mim ou querer ver minha reação
— Se você diz... — Disse deixando uma interrogação imensa na
minha cabeça.
Na hora do intervalo, entrei no refeitório com Neji, mas nos
separados pois ele foi se sentar com o grupo de estudos, o qual eu
tinha saído no início da semana.
Vasculhei o refeitório com os olhos a procura de Natalie e a
encontrei em uma mesa no fim do refeitório acenando para mim.
— Achei que não viria — Natalie comentou comendo da sua
salada de frutas e eu a olhei.
— Trocou o x-burguer mesmo? — Perguntei me sentando em
sua frente.
— Ordens da capitã das líderes — disse dando de ombros. — E
você só toma Milk-Shake agora? — Neguei com a cabeça.
— Hoje eu vou comer um bolo de chocolate amargo — afirmei
mostrando o bolo de pote para ela e seus olhos brilharam como os
de uma criança vendo seus doces favoritos. — Eu não conto se
você não contar.
— Não posso, amiga — disse desanimada.
— Uma colherada não vai te engordar — ela me olhou
esperançosa, abri o pote de bolo, comi da primeira colherada e dei a
segunda escondido para ela.
Ela provou e fechou os olhos como se fosse o melhor bolo que
já comeu em toda a sua vida.
— Você é um anjo as vezes — disse rindo.
— Eu sei — me gabei e ela negou com a cabeça.
— É tão estranho ver Cam sem ninguém no intervalo — disse
olhando a mesa do time e me olhou — Ele sempre ficava com
alguma garota, esse ano ele está tão... Calmo?
— Isso é calmo? — Ela gargalhou. — Eu saí do grupo de
estudos — mudei de assunto quando ela se recompôs e ela me
olhou surpresa.
— O quê? Por quê?
— As líderes estão tomando conta de tudo ou sempre foi assim
e como eu não estudava aqui eu não sabia. Katherine fez duas
líderes entrarem no grupo de estudos e ela fica o tempo todo
querendo mostrar que é melhor que eu, fica jogando piadinhas com
as meninas, indiretas e, sinceramente, isso não é para mim. Minha
saúde mental antes da vaidade dela — afirmei.
— Eu não acho certo você deixar de fazer uma coisa que você
gosta por causa de outra pessoa, mas entendo e concordo com
isso. Katherine mudou da água para o vinho de uma forma
absurdamente triste. Cada dia que passa ela está mais Melissa.
Soube que Mel beijou meu irmão na frente dela e ela chorou no
banheiro.
— Ela quis isso — comentei.
— Melissa tem um poder de manipulação, sabe? Ela consegue
fazer as pessoas acharem que vão beneficiar elas próprias quando
na verdade, quem é a beneficiada é ela. No fim do ano passado
Melissa afirmou que esse ano seria dela, que ela estabeleceria um
reinado melhor que o da irmã mais velha e derrubaria quem
entrasse no caminho — Natalie disse pegando uma uva e levando
até a boca.
— Querer ser melhor que a irmã deve ser fruto de falta de
aceitação em casa.
— Natalie — ouvi a voz de Cameron, ele se sentou ao lado dela
fazendo-a ir para o lado e Elliot se sentou ao meu lado. — O que
vamos fazer hoje à noite?
— Você eu não sei, mas eu vou ir ao shopping com Becca —
Natalie afirmou. Olhei Elliot, que olhava Nat com os olhos brilhando.
— Vamos junto — Cameron disse abraçando Natalie.
— Ninguém convidou vocês — ele empurrou o irmão.
— O shopping é público, Paola — Elliot provocou.
Natalie odiava ser chamada pelo segundo nome e mostrou o
dedo do meio para ele.
— Por qual motivo vocês querem ir ao shopping? — questionei
confusa. — Não iam fazer uma festa?
— A festa é amanhã r hoje estamos tentando fugir das gêmeas
Crawsford que estão enchendo nossa paciência para sair com elas
— Cameron explicou e eu o olhei.
— Já experimentou dizer não a uma garota alguma vez na vida,
Styles? — Ele me olhou com os olhos semicerrados e com seu
sorrisinho de lado parecendo gostar de ser contrariado.
— Não que eu me lembre, Malik — disse com seu sorriso
safado.
O sinal de fim de intervalo ecoou no refeitório.
— Talvez devesse tentar — afirmei me levantando e o olhando.
Eu e Natalie saímos juntas do refeitório, Melissa parou em
nossa frente no meio do corredor com Katherine e outras três
líderes.
— Todas as líderes precisam se sentar juntas, Natalie —
Melissa impôs.
— Não vou me sentar mais com vocês, a partir de hoje vou me
sentar com Rebecca — Natalie rebateu com firmeza e eu a olhei
surpresa.
— Você pode ser expulsa das líderes por desobedecer às
regras — Melissa disse seriamente, aparentemente não esperava
resistência da parte de Natalie.
— Regras que não servem para você quando meu irmão te
chama para se sentar com ele — Melissa arregalou os olhos. — Vai
em frente, é só me expulsar — desafiou para sair andando e me
puxando.
— Natalie, você não precisa fazer isso por mim.
— Por que você não me deixar ser sua amiga? Não posso
querer ficar perto de você? — questionou me olhando confusa — E
não, eu não quero nada, só quero minha melhor amiga. Sinto sua
falta e você parece estar nem aí.
— Rebecca, a diretora quer falar com você, agora — a inspetora
Sullivan chamou.
Revezei meu olhar entre as duas, parando em Natalie.
— Vai lá, conversaremos depois — Natalie disse com a voz
carregada de compreensão.
Abri a boca para falar, mas acabei optando pelo silêncio e sai
seguindo a inspetora.
— Malik, pode ir para a sala da diretora — disse a inspetora
Sullivan.
Concordei me levantando e caminhei até a sala da diretora, ao
entrar, me deparei com o treinador Sanchez que estava de braços
cruzados e com expressão séria.
— Sente-se, querida — pediu a diretora e assim o fiz. — O
treinador Sanchez me contou sobre as aulas extras com o time —
iniciou como se fosse me dar uma bronca.
— Diretora, eu só estava tentando ajudar os meninos. Eles
estavam bem perdidos em matemática e eu os ajudei. Atrapalhou no
treino?
— Sim, atrapalhou — disse o treinador e a diretora riu.
— Pare de assustar a garota, Sanchez — pediu e ele sorriu.
— Começamos a treinar depois, os meninos falaram o tempo
todo sobre como você explica bem. Hoje, pelo que soube, o time
prestou atenção na aula de matemática como nunca fizeram antes e
ainda conseguiram resolver os exercícios da matéria. A professora
Horan ficou impressionada e comentou que, talvez, não seja
necessário tirar mais ninguém do time — o treinador explicou.
— Porém, eles não estão tão bem em física e química. Você é a
garota mais inteligente da escola e já que recusou continuar
participando do grupo de estudos e não ajuda Cameron com as
notas, penso que poderia ajudar os meninos três vezes na semana
para contar como nota de projeto. O que acha? — A olhei com o
cenho franzido.
— E em que horário seria isso? — questionei.
— Das 13h às 14h30. Na terça, quarta e quinta. Acredito que
você deve se perguntar o motivo de não ter essas aulas com algum
professor, já tentamos, mas os meninos nunca prestam atenção e...
— Ok, eu aceito — anunciei.
A diretora me olhou surpresa e o treinador sorriu.
— Sem resistências? Para ajudar um garoto eu quase não
consegui te convencer, mas com o time todo...
— O time foi bem tranquilo comigo ontem, agora Styles é uma
missão extremamente difícil e insuportável que eu não estou
disposta a cumprir — disse rindo, o treinador e a diretora
gargalharam.
— Ele não participará das aulas. Como expliquei a ele, agora
terá de se virar sozinho e acho que ele está conseguindo. A
professora de química falou que ele foi muito bem na apresentação
— a diretora disse me analisando.
— Eu duvido — rimos.
— As aulas com o time começam semana que vem — concordei
me levantando e logo fui autorizada de sair da sala.
O time todo, exceto Cameron, estava no corredor. Eles me
olharam esperançosos, me deixando confusa.
— E aí, aceitou? — Josh questionou.
— Vocês já sabiam?
— Obvio, nós demos a ideia para o treinador — Peter disse.
— Eu aceitei — disse ainda sem reação e eles fizeram uma
barulheira bem animada.
— Ei, bando de marmanjos e Rebecca, para a sala, agora! — A
inspetora disse em alto e bom tom; rimos descendo as escadas.
— Cameron vai poder participar? — Outro garoto me
questionou, neguei com a cabeça e eles de imediato mostraram
desanimação.
— Não tem jeito, capitã? Se você falar com a diretora ela não
deixa? — questionou Peter.
— Capitã? — questionei rindo e eles concordaram balançando a
cabeça euforicamente. — Certo. A diretora deixou claro que ele vai
ter que se virar sozinho. Talvez se voltar a ser capitão ele possa
participar.
— Ele tem um mês para isso — Elliot disse. — Ele vai
conseguir, time — afirmou me olhando e eu segurei o riso.
— Bom, vou para a sala, acho bom vocês irem também —
alertei me despedindo.
rosto.
— O que aconteceu? — questionei largando minha bolsa no
outro sofá e me sentando ao lado dela, a abracei e ela chorou ainda
mais.
Acariciei seus cabelos enquanto ela molhava minha blusa com
suas lágrimas, entendendo que o causador era, sem dúvidas,
Andrew.
— Foi Andrew? — Ela negou.
— Eu quem acabei com o que tínhamos — explicou passando
os dedos nos cantos dos olhos. — Becca estava certa, não mereço
ser segunda opção, mas sabe, eu me deixei levar por tão pouco
que… — sua voz falhou e ela novamente me abraçou — que valor
eu tenho depois de ter ficado com alguém que me fazia de segunda
opção?
— Irmã, isso não tem nada a ver. Você vale muito sim, mais do
que ele jamais conseguiria ter. O fato de você ter ficado com ele não
diminui o valor que você tem. Olhe para mim — pedi e ela me olhou
com os olhos inchados e lacrimejantes — Não deixe Andrew e nem
ninguém diminuir o valor que você tem, combinado? — Fechei o
punho e ela entendeu me dando um toque de mão. — E você é uma
Styles, não pode ficar sofrendo assim não — ela riu.
— Besta — rimos —, mas obrigada — beijei o topo de sua
cabeça e ela me abraçou se deitando em meu ombro. — Você está
com o cheiro da Becca — ela me olhou desconfiada — porque
vocês estavam juntos hoje — relembrou.
— Fui tirar a foto.
— Não estavam juntos antes? — Neguei com a cabeça.
Se ela perguntasse demais eu acabaria entregando as aulas
extras em que Rebecca estava me ajudando.
— Vocês vão ficar assim agora? Se ajudando para afastar as
garotas de você?
— Não sei, talvez.
— Você está gostando de tudo isso, não? — Natalie se sentou
no sofá e me olhou como uma criança animada. — Anda, Cam, fala.
— Claro que não, só quero que essas meninas assediadoras
me deixem em paz — afirmei olhando a tevê.
— Você ainda sonha com ela? — questionou e eu dei de
ombros.
Já fazia mais de um ano que Rebecca não saia dos meus
sonhos.
— Não importa, isso vai passar. Eu sei que você abomina a
ideia de eu ter algo com ela, isso não vai acontecer.
— Cameron, você nunca me deu espaço para falar sobre,
sempre desvia o assunto. Pode parar de ser cabeça dura uma vez
em relação a ela e me ouvir?
— Não — rebati.
— Problema é seu, vou falar mesmo assim — cocei a cabeça.
— Eu não quero fazer a sua cabeça e Becca não é ingênua e nem
burra, mas ela sempre escolhe esconder os sentimentos e sofrer em
silêncio e vai ser isso que vai acontecer se ela começar a gostar de
você, assim como você, ela jamais vai admitir. A questão é, eu não
sei como é Becca apaixonada porque ela nunca se apaixonou. Eu a
amo demais e odiaria ter que ficar entre vocês dois.
— Natalie, você está sofrendo por uma coisa que nem vai
acontecer. Eu e a Malik? Nunca mesmo!
— Você não consegue nem me olhar falando dela — Natalie riu
com ar vitorioso. — Por favor, caso aconteça só não seja egoísta e
babaca com ela — revirei os olhos.
— Eu e a Malik não teremos nada, nunca.
— Você é um cabeça dura — disse dando um tapa em meu
braço. — Enfim, amei o jeito que ela te tirou da confusão hoje,
mamãe teria amado.
— Cala a boca, Paola — a empurrei e ela riu.
— Josh comentou sobre você ter falado para não fazerem
apostas com ela envolvida. Isso foi por que ela nunca beijou? — A
olhei, complemente impressionado.
— Ela nunca foi beijada? — questionei, sem disfarçar minha
curiosidade, e Natalie travou ficando em silêncio.
— Quem nunca beijou? — questionou se fazendo de
desentendida e desviou o olhar, ela com certeza achou que eu
sabia.
Rebecca Malik era uma surpresa constante e agora a
segurança dela com esses garotos do time com hormônios a flor da
pele seria dobrada.
— Mamãe e papai foram para o jantar de negócios? — Mudei
de assunto.
— Sim, mas em outra cidade.
— Beleza, vou ir dormir — me levantei pegando a bolsa.
— Boa noite apaixonadinho — provocou.
— Vai se ferrar — resmunguei subindo as escadas aos risos.
Eu apaixonado? Cameron Styles não se apaixona, só faz
pessoas se apaixonarem.
Rebecca, a Nova
Capitã
E o texto era basicamente sobre ela ser desejada por alguns
meninos do time e a questão final da matéria era mais ridícula do
que eu conseguiria imaginar, finalizada com um:
Quem vai conseguir a mão da nerd?
— Que merda é essa? — questionei levantando meu olhar para
ela que deu de ombros.
— O pior é que não sabemos quem foi o autor. Calleb é do
jornal e disse que a dona do jornal, Lana, não deixou ninguém saber
quem fez a notícia — ela passou a mão na testa, suspirou e se
levantou depois que o sinal tocou. — Que Deus nos ajude! — Ela riu
forçadamente e desceu um banco.
— Becca — a chamei.
— Pois não?
Ela me olhou e de imediato me veio a voz de Natalie me
relembrando que Rebecca nunca tinha beijado… e com certeza eu
não era a melhor pessoa para ela.
— Por que matou aula? — Mudei o assunto e ela franziu o
cenho desconfiada.
— Nada importante — disse, com um tom de cansaço,
descendo as arquibancadas.
Ela passou a mão nos olhos fungando e não parou de andar.
Para tinha ido a minha coragem? Desde quando me importava
se alguém tinha beijado ou não?
Entrei novamente na escola e fui puxado para dentro do
laboratório vazio de biologia por Calleb. Ele me soltou após eu já
estar dentro da sala e fechou a porta.
— Estava na casa de Josh ontem e a irmã dele, Karen a
presidente do grêmio, estava com Melissa e Katherine em seu
quarto, elas não sabiam que eu estava no quarto ao lado e estavam
falando bem alto. Eu e Josh começamos a ouvi-las. Planejaram de
abordar da Rebecca hoje no intervalo, se não der certo no intervalo
será na saída ou antes dela chegar no trabalho. Becca não quer me
ouvir, disse que sabe se cuidar, mas sabe quão maldosa elas
podem ser.
— Cadê Natalie? — questionei cruzando braços.
— Foi falar com Andrew, acho que é sobre isso. Enfim, por
algum motivo ela disse que eu podia confiar em você, Josh também
confia em você, então acho que você é a única pessoa que pode
ajudar. Becca não quer saber, a avisamos e ela simplesmente
ignorou. Você pode tentar?
— Ela nunca me escuta, duvido que vá me ouvir agora —
passei as mãos em meu cabelo pensando no que deveria fazer.
— Cameron, você lembra do quanto Melissa ficou em cima da
garota que te ajudou ano passado? — Assenti. — Esse ano elas
estão péssimas, Cameron, você precisa proteger ela porque é por
você que elas estão assim.
Soquei uma das mesas ao ouvi-lo.
— Por causa disso que ela estava chorando? — Calleb
comprimiu os lábios apreensivo.
— Alguns assediadores do time tiveram parte nisso — disparou.
— O time? — O olhei sentindo meu corpo ferver de raiva.
— Você deve ter uma noção dos pensamentos sujos que os
garotos têm, principalmente como o novo prêmio do time, a atração
do ano em Liberty, com toda garota nova é assim, mas ela tem dado
aula para todos, então tem mais atenção. Josh e Peter fingem que a
quer para ficar inteirado no assunto dos meninos, mas Cameron —
Calleb parou na frente minha frente — eu mesmo tenho medo dos
pensamentos dos garotos e quando Becca fica lá com eles para dar
aulas, mesmo com câmeras e a inspetora lá, eu tenho medo. Um
medo do cacete só de lembrar o que Josh me fala. Eles não vão
fazer apostas, mas o primeiro conseguir vai explanar.
Meu sangue subiu, sentia minhas bochechas queimando e
minhas mãos suando. Chutei um dos bancos da bancada e sai
laboratório. Caminhei até o laboratório de química, bati na porta e
assim que aberta, entrei.
— Atrasado, sr. Styles — a professora disse. — Sente-se por
favor.
Caminhei até Rebecca, Noah estava ao lado dela, a forma com
que ele falava estava a incomodando e aquilo ficava nítido visto que
quanto mais ele se aproximava, mais ela se afastava.
— Noah, vaza — ordenei parando atrás dele e ele se virou
ainda no banco me olhando.
A sala parou com todos me observando.
— Capit…
— Não vou repetir, Noah. Agora — repeti e ele saiu pegando
suas coisas.
— O que aconteceu? — Rebecca questionou em um sussurro.
— Esses idiotas não vão ficar em cima de você — afirmei quase
que em um rosnado enquanto olhava os meninos da sala olhando
em nossa direção.
Comecei a tremer a perna, não conseguia prestar atenção no
que a professora dizia e fechei o punho o forçando, só de pensar em
tudo o que esses garotos provavelmente falavam me queimava por
dentro. Observei Oliver e Noah sussurrando e olhando Rebecca,
seus sorrisos carregados de maldade era torturante.
— Cameron — ouvi de longe, mas o que me despertou foi seu
toque em minha perna, e a olhei. — Qual é o seu problema? —
questionou.
— Não importa — ela revirou os olhos afastando a mão de
minha coxa.
— Ok, pode me ajudar na atividade que a professora acabou de
pedir? Eu duvido que você tenha prestado atenção — sorri a
olhando.
Era inexplicável a paz que ela me transmitia.
Concordei colocando os óculos próprios para fazer
experiências.
— Estava chorando hoje? — questionei em voz baixa.
A sala estava barulhenta pois estávamos fazendo a atividade.
— Você não devia ficar próximo de mim e nem se sentar ao meu
lado, evite falar comigo, há pessoas nos olhando — disse sem me
olhar e colocando um líquido verde dentro de um frasco grande.
— Não me importo com o que os outros pensam — a olhei
quase suplicando que ela me olhasse de volta.
— Você não, mas eu preciso chegar inteira em casa, ir para o
trabalho inteira, comer em paz e… — Ela parou de falar quando me
olhou. — Enfim, só, fique longe e acho que as coisas vão ficar
melhores para mim.
— Inclusive com os meninos? — questionei e ela me olhou de
imediato. — Calleb me contou.
— Professora, terminamos nossa atividade — Rebecca
anunciou tirando os óculos e o avental.
A professora se aproximou e analisou nosso experimento.
— Muito bem, Rebecca e Cameron. Estão liberados para
ficarem na biblioteca.
Rebecca fechou os olhos desapontada como se não quisesse
isso.
Ela arrumou suas coisas e saiu da sala sem olhar para trás.
Melissa e Katherine a olharam, me olharam e se entreolharam.
Antes de sair de sala, parei na bancada delas.
— Deixem-na em paz — avisei revezando o olhar entre elas.
— Ela é a garota da foto, Cam? — Melissa questionou
colocando um dos elementos no frasco grande.
— Claro que não, Mel. Eu tenho repulsa dessa garota, jamais
ficaria assim com ela — menti mostrando expressão enojada.
— Então tudo bem um dos meninos do time passar uma
noitezinha com ela? — Melissa me olhou e meu sangue parecia
ferver dentro de mim.
— Ela é amiga da minha família Mel, não posso permitir isso —
Melissa riu se levantando.
— Bom, eu não acredito em você — ela tirou os óculos — e não
a quero no meu caminho, vamos ver se a resposta dela em relação
a foto é a mesma que a sua — Melissa disse me olhando.
Neguei com a cabeça e sai da sala o quanto antes.
Passei pelo corredor vendo Rebecca com Josh conversando,
parecia confortável com ele. Josh me olhou balançando a cabeça
mostrando que estava tudo bem, fiz o mesmo sinal e caminhei até a
diretoria.
— Cameron, pode entrar na sala da sra. López — a
recepcionista avisou depois de minutos a esperando.
— Obrigado — agradeci indo até a sala, após duas batidas na
porta, entrei na sala.
— Aprontou de novo, Cameron? — questionou tirando os
óculos.
— Vim fazer um pedido — fechei a porta e me sentei em sua
frente.
— Não vou liberar o banheiro, nem o vestiário e muito menos a
biblioteca para sexo — disparou me fazendo rir por lembrar do
pedido que fiz ano passado apenas para irritá-la.
— Não é isso — afirmei sorrindo. — Minha volta para o time
será anunciada no treino de hoje e, como estou de volta, quero
participar das aulas do time com a Bec… Rebecca — me corrigi e
ela franziu o cenho.
— Você? Quer estudar? Mesmo depois de já estar recuperado?
— questionou desconfiada.
— Sim, para não decair — expliquei relaxando os ombros.
— Entendo..., tudo bem então — disse se encostando na
cadeira.
— Obrigado, diretora.
Ajudei tia Olívia a trazer Elo e Louis para minha casa junto com
Isaac, minha mãe e ela colocariam a fofoca em dia. Rebecca
chegou pouco depois e em sua face estava uma expressão
incrédula e ao mesmo tempo irritada.
Deixei as crianças na sala e subi as escadas com Rebecca até
meu quarto. Abri a porta, ela entrou, colocou os livros na minha
mesa de estudos e quando me virei para olhá-la, vi que estava em
pé de braços cruzados. Encostei a porta e me aproximei da fera.
— Qual foi?
— Qual foi, Cameron? Eu saí do trabalho hoje e me deparei
com Elliot, ele me seguiu até a minha casa — disse irritada.
— Você reclamou de eu estar indo, então…
— Qual é a sua dificuldade, Cameron? — Ela me deu um tapa
que me fez rir.
— Nunca vi alguém reclamar tanto — me sentei na cadeira
relaxando o corpo. — Eu te envolvi nisso, só estou fazendo a minha
parte.
— As meninas nem estavam lá quando eu saí — ela voltou a
falar em seu tom normal.
— Ótimo — eu disse e ela bufou negando com a cabeça.
— É melhor começarmos logo com os estudos — concordei
pegando meu livro.
Durante todo o tempo de estudo ela mal conseguia me olhar e
eu não conseguia deixar de olhar sua boca rosada e carnuda a cada
palavra que ela falava.
— Por hoje acho que é só — ela disse fechando o livro.
— Finalmente — afirmei pegando meu celular e vendo mil
ligações de Katherine e mensagens das líderes, meninas do grêmio
e do jornal.
— O que foi? — questionou me fazendo a olhar, mostrei o
celular para ela e ela riu.
Pegou seu celular e mostrou para mim me deixando ver as
mensagens e ligações de alguns meninos do time.
— É por isso que você quer fingir que tem alguém, não?
— Sem dúvidas — coloquei meu celular na mesa —, já estou de
saco cheio disso.
— Natalie vai saber sobre as aulas que estou te dando e sobre
o… — ela respirou fundo — namoro.
Primeiro, eu congelei. Depois, ouvi fogos de artifício em minha
mente e uma euforia crescendo como um balão dentro de mim, mas
ao mesmo tempo minhas mãos estavam suando.
— Meus pais sabem. Minha mãe achou graça e meu pai odiou,
mas eles não palpitam na minha vida, principalmente nessa parte.
Não contei a eles sobre os meninos do time, contei só sobre te
ajudar — explicou e eu ainda não acreditava que ela tinha aceitado.
— Você está falando sério? — Ela me olhou e se virou na
cadeira ficando de frente para mim.
— Eu não faço ideia de como isso funciona, mas não deve ser
difícil baseado em tudo o que já vi — ela riu. — Fora que você já
namorou, sabe mais do que eu e isso é um ponto.
— Becca, isso é sério, tipo, sério mesmo? — questionei apenas
para ter certeza.
— Sim e espero do fundo do meu coração que dê certo.
— Vai dar certo — afastei o cabelo de seu rosto e ela me olhou
por instantes, em seguida balançou a cabeça como se acabasse de
sair de uma hipnose.
— Podemos fazer algumas coisas juntos depois só para
confirmar o namoro, eu vou a uma ou duas festas com você, desde
que você aceite ir para o cinema, lugares mais tranquilos e essas
coisas — explicou enquanto eu enrolava uma mecha de seu cabelo
em meu dedo.
— Para a sua informação, eu gosto de lugares tranquilos — ela
riu me olhando.
— Ok — deu de ombros.
— Eu vou poder te tocar sem você me empurrar ou me xingar?
— questionei sentindo calafrios em meu corpo.
Ela respirou pesado e sorriu nervosa.
— Vai ser como no estacionamento — ela fechou os olhos,
inspirou na medida em que meus dedos deslizavam em sua nuca
entrando em seus cabelos e passou a mão no rosto comprimindo os
lábios enquanto expirava pesado.
Sorri vendo o efeito que causava nela e precisando conter a
enorme vontade que estava de me inclinar para frente e beijá-la.
— Certo — disse me olhando e deslizando as unhas em meu
braço —, acho que consigo.
Passei a língua nos lábios.
— A foto, vamos tirar a foto — tirei a mão de sua nuca e me
afastei.
Ela concordou se levantando, me levantei afastando a blusa de
meu corpo sem saber quando foi que comecei a transpirar.
Tiramos a foto e ela postou. Parecia corajosa e determinada,
totalmente diferente do que estava mais cedo.
— Cameron, a mãe disse que… — Natalie parou de falar
quando abriu a porta e nos olhou.
Olhou o material em nossa mesa e nos olhou novamente.
— Irmã, não é isso que você está pensando — disparei me
preparando para o seu surto.
— Eu sei que vocês estão estudando, Becca é péssima com
mentiras — ela riu — e sobre o namoro sabia que ela iria acabar
fazendo o que quer, porque ela é assim. Enfim, a mãe disse para
você acompanhar a Becca na hora de ir embora e — Natalie fez
som de ânsia de vômito — que Deus me ajude com vocês. Becca,
não vai embora sem falar comigo — ela saiu fechando a porta.
— Natalie não ficou brava pela gente?
— Sim, ela surtou, ficou com raiva, falou que eu era falsa,
mentirosa e depois começou a chorar falando que me amava e que
não queria que eu me apaixonasse por você — ri me sentando
novamente — o que é compreensível visto que você é você — franzi
o cenho e ela não me deu espaço para defesa. — Como você vai
fazer para ficar com quem você quiser sem parecer que está me
traindo?
— Quanto a isso você não precisa se preocupar — prometi.
Ela se levantou pegando a bolsa.
— Ótimo, vou falar com Natalie e já venho para você me levar
em casa.
— Ok, te espero lá embaixo — avisei e ela concordou saindo do
quarto.
Me joguei na cama pensando que finalmente poderei parar de
fingir que a odeio e ficar perto dela. Passei a mão no rosto, se ela
soubesse que eu não consigo olhar para nenhuma garota além dela,
não se preocuparia em ver as pessoas achando que a traí. Eu mal
conseguia evitar o sorriso quando pensava nela.
Desci as escadas até a cozinha e encontrei minha mãe. Peguei
um copo e o enchi d'água, ela me olhou.
— Um namoro falso — ela disse me fazendo a olhar e sorriu. —
Não acredito que Becca aceitou.
— Nem eu — ri tomando um gole d'água.
— Filho — ela se encostou na bancada a minha frente —, você
tem noção de que ficar muito próximo, toques, criar um
relacionamento mesmo que seja de mentira pode fazer vocês se
apaixonarem de verdade? — Abaixei o olhar e ela fez um barulho de
surpresa — Oh! Você já está apaixonado… — Afirmou.
— Claro que não, mãe — neguei colocando o copo na pia.
Minha mãe ia falar algo, mas Rebecca apareceu na entrada da
cozinha.
— Licença — pediu nos olhando antes de entrar. — Preciso ir —
disse calmamente.
Minha mãe me olhou me fazendo parar de encarar Rebecca e
sorriu.
— Seu namorado vai te levar, querida — disse sorrindo e a
beijou no rosto. — Boa noite.
A casa dela era ao lado da minha e mesmo assim meu pai
sempre exigiu que eu buscasse Natalie quando estava tarde e que
trouxesse Rebecca pelo mesmo motivo, o que acabou virando
costume.
— Obrigada por me trazer — disse parando na frente de sua
casa, concordei e ela se virou para abrir a porta.
— Becca — coloquei a mão em sua cintura e ela se virou. —
Obrigado… Por aceitar me ajudar.
— Na verdade é para me ajudar — ela riu tirando a tensão do
clima.
— Se você diz — ri esperando que ela abrisse a porta de sua
casa.
Outra regra do meu pai era esperar até que ela estivesse dentro
de casa.
— Até amanhã, Styles.
— Até amanhã, Malik.
Mas antes de deixá-la fechar a porta, a puxei e beijei sua testa.
Entrei em casa sem acreditar que tinha aceitado a proposta
de Cameron e minha mãe me olhou assim que entrei na cozinha
enquanto meu pai ainda estava com aquela cara de pai ciumento
Meu irmão não vai nem chegar perto dela, eles nem se gostam de
05 de maio.
Me sentei na cama em um forte impulso, como se algo me
puxasse para cima. Meu corpo estava gelado, trêmulo e uma fome
parecia me consumir por inteiro. Minha visão estava turva e não
conseguia ver onde deixei meu aparelho que media a glicemia, mas
tinha certeza de que estava baixa. Passei a mão na mesa de
cabeceira tentando achar o abajur, eu não estava em casa. Droga!
Eu não estava em casa.
Ainda assim, consegui me levantar. Minhas pernas tremiam e eu
não sabia até quando me sustentariam. Me sentia fraca de tanta
fome. Estava lenta, com muito sono e desesperada. Um barulho
longo de pi dentro da minha cabeça me deixava zonza. Meu corpo
estava suando frio e eu sentia um vazio, como se fosse a morte se
aproximando.
— Becca — o ouvi longe e suas mãos me tocaram —, droga,
você está gelada — disse me sentando na cama.
Não conseguia reagir, não conseguia fazer nada a não ser
estremecer. Cameron foi ágil pegando o medidor de glicose,
aparelho que informa se a diabete estava estável ou instável, furou
meu dedo mindinho com a caneta do medidor e o pouco de sangue
que saiu ele colocou na fita.
— Meu Deus — o ouvi falar e o barulho de pi em minha cabeça
estava mais constante e ensurdecedor.
Cameron não esperou. Levantou-se rapidamente e foi até o
frigobar. Me inclinei vendo o que estava no medidor de glicose e
estava o número 47. Uma crise de hipoglicemia, ou seja, o remédio
que tomei abaixou a taxa de açúcar do meu sangue de forma
violenta.
Cameron trouxe um pedaço de bolo de chocolate recheado e
deu em minha boca. Eu me sentia confusa e desnorteada. Quando
parei de temer, peguei o prato e comecei a comer sozinha depois
que ele me deu dois pedaços.
— Beba isso, é mais rápido — disse me entregando um
achocolatado que aceitei o tomando.
Meus sentidos estavam voltando ao normal, me fazendo
lembrar que odiava aquelas crises.
Diabetes era uma doença que eu tentava a todo custo entender.
Às vezes eu e ela estávamos de acordo, mas às vezes ela
conseguia me vencer.
— Obrigada — disse após terminar de comer —, mesmo,
obrigada.
— Não precisa agradecer — ele sorriu sincero, mas ainda me
olhava com preocupação, senti meu corpo tenso e suado. — Está
melhor? — Concordei.
— Posso tomar um banho? — questionei apreensiva.
— Claro, sem problemas — ele se levantou e eu me levantei
também —, tem toalha limpa no armário — concordei, mas antes de
entrar no banheiro, voltei o caminho e o olhei nervosa e
envergonhada.
— Pode me emprestar uma blusa? Não tenho uma boa para
dormir agora que essa já foi — pedi em voz baixa.
Cameron se levantou e me entregou uma blusa preta, eu, por
outro lado, queria me enfiar em um buraco e não sair mais.
Tomei um banho rápido e coloquei novas roupas. Me sentei no
chão do banheiro e não consegui deixar de chorar, odiando dar
trabalho para as pessoas por causa da diabete, e não conseguia
deixar de me sentir mal por preocupar Cameron, por fazer ele
acordar no meio da madrugada.
Não devia ter vindo dormir aqui, eu realmente não podia dar
uma vida normal a Cameron. Eram crises raras, mas nunca
paravam.
Sai do banheiro tentando ao máximo disfarçar que estava
chorando. Cameron estava mexendo no celular sentado na cama,
mas ao lado da mesma estava montada uma cama improvisada no
chão com cobertas bagunçadas em cima.
Estava frio e ele dormindo no chão por minha causa, não era
certo.
Ele largou o celular assim que me viu.
Não o olhei, sabia que voltaria a chorar.
— Becca, tudo bem? — questionou se levantando.
Balancei a cabeça concordando e tentando desviar, mas ele me
puxou pela cintura. Ainda sim tentei não o olhar e senti meus olhos
lacrimejando.
— Ei — ele passou os dedos em meu cabelo. — O que foi? —
Funguei limpando os olhos — Becca…
— Me desculpa — pedi o olhando e ele riu me abraçando —, é
sério, não queria te preocupar — sussurrei sentindo meu coração
apertar e as lágrimas saírem sem controle —, já estraguei seu
aniversário.
— Becca, meu amorzinho — ele me fez o olhar — não foi sua
culpa. Você aplicou a quantidade que sempre aplica de insulina? —
questionou limpando meu rosto e eu concordei balançando a
cabeça. — Então, infelizmente isso acontece e tudo bem.
As lágrimas ainda insistiam em descer pelo meu rosto.
Cameron se sentou na cama, me puxou e deitou comigo. Me
abraçou e começou a acariciar meus cabelos. Ele ficou em silêncio
e eu me senti confortável em me permitir estar ali com ele. A
vergonha de ter passado mal em sua frente se amenizou na medida
em que sentia suas carícias em meus cabelos, mas eu sabia que
nunca mais iria querer dormir aqui, mesmo que essas crises
acontecessem raramente, não o queria se preocupando com isso.
Estava deitada em seu peitoral quando ele se mexeu como se
fosse levantar, só então percebi que estava sem camisa.
— Becca, vou me deitar na outra cama — disse quando o olhei,
apenas a luz de seu abajur iluminava o quarto e seu rosto estava
sereno —, quero que você durma confortável.
— Então dorme aqui, não é justo você dormir no chão com esse
frio todo. A cama é grande — falei com voz sonolenta.
— Não me importo de dormir no chão desde que você durma
confortável — voltei meu olhar a ele.
Sorri beijando seu rosto e o abraçando mais forte. Ele prendeu a
respiração como se aquilo fosse surpresa.
— E eu não me importo de dividirmos a mesma cama porque
estou confortável com você aqui — sussurrei e vi um sorriso se
formar em seus lábios.
— Tem certeza? — questionou. — Eu só durmo assim — disse
se referindo a estar se camisa.
Desliguei o abajur e me aconcheguei em seu peitoral
novamente.
Era claro que eu tinha certeza.
— Boa noite, amor — falei me entregando ao sono.
Senti o peso de ser observada e abri meus olhos lentamente.
Acredito que no meio da noite eu e Cameron trocamos nossas
posições, pois agora ele estava deitado em meu peito me
abraçando pela cintura enquanto eu estava com os braços envoltos
de seus ombros.
Natalie e Calleb pulavam em silêncio animados nos olhando
como se fossem duas crianças prestes a irem a um parque de
diversões, sorri abrindo totalmente os meus olhos e fazendo sinal de
silêncio para eles.
— Vamos fazer um churrasco hoje — Calleb disse quase que
sem som e eu concordei piscando para ele.
— Vou deixar aqui — Natalie disse sem som nenhum, apenas
movimentando a boca, e colocou a caixa do meu presente para
Cameron em cima da mesa de cabeceira.
— Obrigada — sussurrei e ambos mandaram beijos para mim.
Calleb saiu primeiro e Natalie se virou para mim, colocou a mão
no peito e a outra na cabeça como se fosse desmaiar de emoção e
saiu aos risos.
Observei Cameron dormindo tranquilamente, parecia um anjo
de tão sereno que estava. Passei levemente os dedos em sua
sobrancelha, em seguida acariciei seus cabelos sentindo uma
alegria crescer dentro mim e, metaforicamente falando, percorrer
minhas veias junto com a minha corrente sanguínea.
Estava certa de que gostava dele. Suspirei com esse
pensamento.
Quando terminarmos o colegial, quando irmos para a faculdade
ou melhor, quando ele decidir que está na hora de terminar essa
farsa e enjoar de mim… vai doer. Isso tudo vai doer. E por mais que
eu soubesse disso, da encrenca em que estava entrando, eu não
me importava.
Um coração quebrado não me mataria e eu não estava com
medo de arriscar. Sabia dos meus objetivos e metas, mas me
permitiria uma nova experiência. Não admitiria meus sentimentos,
não estava pronta para tomar o primeiro passo, mas não recuaria.
Me soltei cuidadosamente dele e ele se mexeu um pouco.
Caminhei até o banheiro, troquei minhas roupas e escovei os
dentes, peguei a blusa dele e a cheirei deixando um sorriso se
formar em meu rosto.
Olhei-me no espelho rindo de mim mesma.
Sai do banheiro e vi Cameron se espreguiçando.
Seu corpo era lindo, forte, musculoso e definido e eu
provavelmente começaria a babar se prolongasse meu olhar nele.
— Bom dia flor do dia — disse pegando minha bolsa e
arrumando as coisas.
Ele olhou a caixa em sua escrivaninha, me olhou e se levantou.
— Bom dia bê — beijou o topo de minha cabeça e entrou no
banheiro.
Me olhei no espelho por instantes depois de colocar minha
bolsa novamente na cadeira. Andei de um lado para o outro
sentindo o nervosismo tomar conta de mim, não sabia se ele
gostaria do presente, se era precipitado demais ou exagerado.
Me sentei na cama pegando meu celular na tentativa de me
distrair.
— Vai ficar para o churrasco? — questionou saindo do banheiro.
Estava com uma bermuda preta e uma blusa azul claro que
combinava com os seus olhos.
— Vou a igreja primeiro, mais tarde eu volto — me levantei
pegando seu presente —, para você — estendi a caixa e ele sorriu
se aproximando. — Feliz aniversário!
— Você me dando presente? Deus fez uma obra na sua vida —
ele brincou pegando a caixa e me fazendo rir —, não precisava,
sério.
Nos sentamos enquanto ele desembrulhava o presente e ele
inclinou as costas as apoiando na borda da cama, parecendo
relaxar.
— Isaac me disse que namorados dão presentes, não tive
argumento contra ele — expliquei me lembrando que Isaac era o
maior apoiador do meu namoro com Cameron e disse que para ele
não era nada falso.
Ele abriu a caixa e seu rosto se iluminou com um sorriso largo.
— NÃO ACREDITO! — Disse eufórico — Becca, não acredito,
muito obrigado! — ele olhava o presente com um sorriso lindo.
— Fico feliz que você tenha gostado — disse o vendo guardar a
luminária com cuidado e ele me puxou me abraçando.
— Gostei mesmo — disse e seus olhos buscaram os meus.
— Preciso ir, volto depois — me levantei e selei nossos lábios
rapidamente.
Me dei conta do que havia feito quando estava próxima da porta
e senti um frio gigantesco no estômago.
Virei-me lentamente em sua direção sentindo meu rosto queimar
e minhas mãos suarem, ele parecia desnorteado e passou os dedos
nos lábios.
— Meu Deus — disse ainda em choque e me aproximando dele
com passos pesados e o coração disparado por ter agido totalmente
no impulso —, me desculpe.
Seu sorriso maroto ficou ainda mais largo e ele disse:
— Eu amei esse presente — passou a língua nos lábios —,
devia se estender dia todo, pelo menos hoje — o olhei confusa e
tensa.
— Como? — questionei curiosa.
— Como presente de aniversário você podia liberar… — ele
sorriu — pelo menos o selinho, hoje o dia todo, sempre que eu
quiser — gargalhei com a sua proposta.
— Até parece — balancei a cabeça negando e consegui sentir
meus músculos relaxando.
— Qual foi? Está com medinho, Malik? — questionou em tom
desafiador.
Passei a língua nos lábios sabendo que não resistiria.
— Ok, válido — me rendi sentindo meu coração disparar.
O medo de partirmos para um beijo real e eu fazer algo errado
era enorme, mas eu já estava aqui, não fugiria agora.
— Sempre que eu quiser? — Ele estendeu a mão como se
estivéssemos fazendo um acordo.
— Sempre que você quiser — apertei sua mão em
concordância.
E foi o necessário para Cameron me puxar.
Cai sentada na cama, ele me deitou encaixando a mão em
minha nuca e selou nossos lábios como se esperasse por aquilo há
tempos. Deu outro selinho e passou a língua contornando meus
lábios, abri um pouco a boca sem lhe dar o espaço suficiente para
um beijo e ele agarrou meu lábio inferior com os dentes o puxando
levemente.
Meu coração disparou ainda mais, apertei sua cintura e ele
puxou levemente meu cabelo, dei um último selinho nele... eu
desmaiaria, tinha certeza.
— Não sabia que isso fazia parte do seu combinado de
aniversário — comentei sem me afastar dele enquanto sentia minha
nuca suando.
— Isso te incomoda? — questionou beijando minha bochecha
até roçar o nariz em minha nuca.
Respirei pesado o empurrando.
— Não nos deixeis cair em tentação — murmurei um trecho do
'Pai nosso' rindo e ele riu quando me levantei —, até mais tarde
Styles.
— Até Malik — disse sem esconder o sorriso.
Peguei minha bolsa e sai de seu quarto após pegar a caixinha
de isopor de seu frigobar.
— Bom dia gente — disse sorridente.
Elliot e Natalie se entreolharam e então percebi que estava mais
empolgada do que deveria.
— Bom dia querida — tia Eliza beijou meu rosto —, vai tomar
café com a gente? — Neguei com a cabeça.
— Obrigada, mas hoje não — agradeci.
Abracei tia Eliza e Natalie, cumprimentei Elliot e sai.
aproximou.
— Tudo bem, meu amor? — questionou pegando em minha
mão — Você ainda está muito gelada!
— Daqui a pouco passa — afirmei na intenção de não a
preocupar.
Ela pegou uma coberta de Natalie, me cobriu e se sentou em
minha frente.
— Não sei qual é o problema dessa menina, é igualzinha a mãe!
— Tia Eliza disse impaciente.
Dei de ombros e apertei sua mão.
— Não se estresse com isso — pedi e ela suspirou.
— Lembra que você veio aqui em casa assim que voltou de
viagem, eu e minha mãe discutimos por causa de Rosie? — Natalie
questionou.
Recordei-me daquele dia e concordei balançando a cabeça.
— Por que não explica a história para ela, mãe? — Natalie
pediu.
— Essa tonta parou um dia para me ouvir — tia Eliza disse se
referindo a Natalie e as duas riram — Rosie e a diretora López eram
apaixonadas por mim na época da escola, nós três íamos a mesma
igreja e eu simplesmente me apaixonei por Arthur.
“Eu e Arthur começamos a namorar depois que acabamos a
escola e Rosie surtou, assumiu que era lésbica e que me amava. A
diretora López e Rosie brigaram feio porque a López já tinha falado
a Rosie sobre gostar de mim”.
“Não tinha culpa alguma por amar Arthur, mas as duas pararam
de falar comigo por não aguentar me ver com ele. Era sofrido para
elas e eu as entendi. Tínhamos dezoito anos quando isso
aconteceu. Aos vinte eu e Arthur nos separamos, eu já estava
grávida e ele engravidou outra enquanto estávamos separados,
aquele safado”.
Natalie gargalhou por ela ser a filha da outra. Eliza acabou rindo
pela risada engraçada de Natalie e eu também, considerando que
essa história não era engraçada.
Terminei de comer e deixei o prato em cima da escrivaninha.
Tia Eliza continuou:
— Depois que Cameron e Natalie nasceram, eu me casei e
comecei a cuidar de Natalie também — a mãe de Natalie tinha
falecido no parto — Rosie e López me visitaram, as duas se
reencontraram e começaram a namorar. Porém, quando eu disse
que voltaria a igreja, elas não gostaram.
— Como a igreja às machucou? — questionei.
Se elas eram da igreja, lésbicas assumidas e agora odiavam a
igreja, certamente foram machucadas.
— A igreja que frequentamos na adolescência as machucou
demais quando elas se assumiram, Rosie foi chutada de casa e
morou no meu porão por meses até encontrar alguém que a ajudou
a sair dessa, o pai de Andrew. López precisou fingir que não
gostava de garotas para não ser expulsa de casa. A religião acabou
com elas e elas passaram a não gostar de crentes, me admira Rosie
ter você lá — disse surpresa.
— Não sou religiosa.
— Eu sei — ela sorriu; Natalie terminou de secar meu cabelo —,
as duas não aceitaram bem a minha volta a igreja — ela suspirou —
enfim, Rosie, López e eu discutimos feio e elas se afastaram, até
hoje não nos falamos. Me desculpe ter passado a impressão de ser
homofóbica e intolerante, não sabia como explicar tudo no meio do
jantar, Natalie nunca me ouvia quanto a isso e eu falei a primeira
coisa que veio na mente para acabar com o assunto, mas foi
escolhas delas pararem de falar comigo.
Ela finalizou e eu a abracei forte, ela parecia ter saudade de
Rosie e López.
— Fico feliz que ela tenha te ouvido, Natalie é cabeça dura —
brinquei.
— Olha quem fala, já falou para o meu irmão que gosta dele? —
disparou provocando e nós três rimos.
— Caladinha, Natalie — pedi.
— Meu coração de mãe não aguenta, vou amar ter você como
filha sem toda essa frescura de namoro falso — tia Eliza me
abraçou.
Acabei rindo de sua euforia e não consegui negar. Natalie se
acabou na gargalhada vendo o desespero nítido em meu rosto.
Paramos de rir quando vi Cameron através do espelho,
encostado na abertura da porta. Não deixei que seus olhos
encontrassem o meu.
— Vamos deixar vocês a sós, vou fazer um chocolate bem
quente para você — tia Eliza disse se levantando e puxando Natalie
para fora do quarto.
Ela parou na frente de Cameron, disse algo em voz baixa e
saiu.
Puxei as mangas da blusa cobrindo minhas mãos na tentativa
de esquentá-las, me sentei na cama de Natalie e reclinei minhas
costas, dobrei minhas pernas na altura de meu peito e me cobri com
a coberta.
Cameron fechou a porta e se sentou próximo de mim.
— Você está bem? — questionou me olhando e colocando a
palma da mão em meu rosto.
Acabei inclinando minha cabeça deitando meu rosto em sua
mão como uma criança e ele sorriu me acariciando com o polegar,
espirrei em resposta a sua pergunta o vendo rir.
— Ainda com frio — comentei.
Cameron se aproximou ainda mais e me abraçou. Afastou meu
cabelo da nuca e aproximou seus lábios de meu ouvido. Foi o
suficiente para fazer meu corpo se esquentar de dentro para fora,
mas minhas mãos ainda estavam geladas.
— Está menos cinco graus hoje — sussurrou lentamente em
meu ouvido.
Me senti atordoada e sorri. Não era nada romântico o que ele
estava falando e mesmo assim o efeito era assustador.
— Você e ela discutiram? — O olhei confusa, ele dobrou as
pernas na altura de seu peitoral — Para ela ter te jogado na piscina
— completou.
— Ela não me jogou — disse me deitando em suas pernas e o
olhando, seus dedos acariciavam minha nuca —, ela literalmente
esbarrou em mim e eu estava próxima da piscina, não acho que foi
proposital.
Ele concordou pensativo.
— Cortamos o bolo — disse após segundos de silêncio e eu
funguei novamente.
— Ainda está rolando a festa?
— Não, mandei todos embora, só ficaram meus parentes agora
e alguns amigos — explicou —, podemos descer um pouco?
— Claro — me levantei.
Antes de sairmos do quarto ele me puxou cuidadosamente e
selou nossos lábios.
Descemos as escadas e Cameron colocou outro casaco em
mim antes de entrarmos na cozinha.
— Eu estou bem, Cam — disse o olhando, mas aceitando seu
casaco.
— A ponta do seu nariz está vermelha e gelada, suas mãos
parecem a parte de dentro do meu frigobar e você aceitou o casaco
sem nem retrucar como você sempre faz — disse risonho.
Fiz cara de tédio para ele e ele riu beijando a ponta de meu
nariz.
Entramos na enorme cozinha e todos nos receberam muito
bem. As tias de Cameron me perguntaram se eu estava bem ou se
precisava de algo. Kiara e Luce conversavam animadamente e
então percebi que Jasper e Samuel também estavam, só que
conversando com Elliot e Josh.
— Tudo bem mesmo? — Calleb questionou e eu concordei
balançando a cabeça.
— Quer bolo, meu doce? — Tia Eliza questionou.
Neguei balançando a cabeça.
Cameron afastou meus cabelos da nuca com as duas mãos
após eu me sentar em um dos bancos, os segurou e aproximou os
lábios de minha orelha me deixando sentir sua respiração.
— E um beijinho, você quer? — questionou.
— Não, acho que minha diabetes vai ficar muito alta, mas
obrigada — disse naturalmente e ele riu ainda próximo de meu
ouvido.
— Não falei desse beijinho, o que eu quero te dar não prejudica
sua diabete — sussurrou com calma em suas palavras e envolveu o
braço em meus ombros.
Senti um calor que não tinha nada a ver com o sol ou o verão e
respirei pesado o olhando.
— Esse eu quero — afirmei.
Ele abriu um sorriso largo, passou a língua nos dentes e tentou
conter a felicidade, mas seus olhos brilharam como nunca.
— Vocês sumiram na festa — o primo de Cameron disse nos
fazendo o olhar —, mal posso imaginar o que estavam fazendo —
disse com a fala carregada de malícia.
— Pense bem antes de insinuar qualquer coisa sobre ela,
Jeremy — Cameron disse ríspido e parou na frente de seu primo.
O clima não ficou tenso como eu fiquei. A família de Cameron
apenas os olhou como se aquilo fosse normal.
— Ou o quê? — Jeremy questionou provocativo e endireitou
suas costas.
Elliot e Jasper ficaram atrás de Cameron assim dois garotos
ficaram atrás de Jeremy.
— Sente falta do braço quebrado, Jeremy? — Cameron
provocou vitorioso, eu engoli em seco e soltei a respiração que nem
sabia que estava prendendo.
— Senhores — tio Arthur disse cordialmente e de forma calma
se aproximando deles —, acredito que não precisamos chegar a
isso, outra vez — ele me olhou dando um aceno de cabeça e
Natalie se aproximou de mim.
— Tira ele daqui — pediu em voz baixa, concordei me
levantando e pegando na mão de Cameron.
Mesmo de mãos dadas comigo, ele se aproximou mais de seu
primo.
— Nunca mais dirija a palavra a ela e nem pense em falar
qualquer sobre ela — avisou friamente.
O rosto de Jeremy ficou pálido, mas ele permaneceu encarando
Cameron.
— Amor… — Cameron ainda ficou olhando Jeremy, apertei sua
mão e ele finalmente colocou os braços envoltos de mim me
puxando para fora da cozinha.
— Vamos para a parte da churrasqueira? Ainda tem coisa para
comer — Kiara sugeriu.
Concordamos e Cameron ainda me abraçava pelos ombros.
Antes de sairmos ele pegou uma coberta do sofá e me puxou pela
cintura, me sentei em um sofá que tinha distante da churrasqueira,
eles pegaram alguns banquinhos e cadeiras e colocaram próximas
do sofá. Josh começou a organizar as coisas para o narguilé
enquanto conversava com Calleb.
Cameron se sentou ao meu lado, na verdade praticamente se
jogou em cima de mim e nos cobriu com a coberta que trouxe, me
abraçou pela cintura e eu senti meus olhos pesarem de cansaço.
— Você bebe? — Kiara questionou estendendo um copo para
mim.
— Não — afirmei rindo.
— Nem eu — ela deu de ombros e entregou o copo a Luce que
aceitou —, você é muito mais legal que a outra.
— Lá vem — Cameron disse roçando o nariz em minha
bochecha até descer em meu pescoço.
Ele apertou um pouco mais minha cintura. O abracei pelos
ombros e ele encaixou o rosto em minha nuca me deixando sentir
sua respiração quente.
— Aquela menina era podre! — Kiara disse ainda com
expressão de nojo. Eu e Luce, por algum motivo, nos entreolhamos.
— E a garota que te empurrou, a irmã dela, é a mesma coisa.
— Ela não me empurrou — comentei em voz baixa.
Cameron parou de beijar meu pescoço e me olhou confuso.
— Eu duvido. Você tinha que ter visto o tapa que Luce deu nela
e a cara dela depois — sorri um pouco desconfortável e Cameron
ainda me encarava em busca de respostas.
Natalie e Elliot se aproximaram e Kiara começou a conversar
com eles animadamente. Luce ainda me olhava de relance, como se
tivesse notado algo estranho em mim e talvez estivesse certa, mas
seu olhar se voltou para Kiara.
— O que foi? — Cameron questionou passando os lábios em
minha orelha e a mordiscou levemente.
— Nada — ri sentindo meu corpo estremecer, mas não era pelo
frio —, não acho que Melissa queria mesmo me jogar na piscina —
comentei baixo observando o pessoal ao nosso redor.
Cameron apertou minha cintura me abraçando ainda mais forte
como se precisasse cada vez mais de mim.
— Ainda não temos certeza — foi a única coisa que disse antes
de me puxar pela nuca e selar nossos lábios.
Ele passou a língua contornando meus lábios e os agarrou com
os dentes puxando cuidadosamente.
— A gente sente a tensão de longe com eles, né? — Ouvi Kiara
questionar, mas não consegui desviar meus olhos de Cameron.
Deslizei os dedos em seu rosto e ele sorriu fechando os olhos. —
Gente, para está me machucando — ela disse nos fazendo rir e a
olhar.
Olhei o relógio de parede que marcavam 02:03.
Peguei meu celular e me impressionei por não ter nenhuma
chamada perdida, nem se quer uma mensagem de minha mãe.
— Eu gostaria muito de ficar, mas preciso ir — disse tentando
me soltar de Cameron.
— Falamos com tia Olívia para você dormir aqui caso ficasse
muito tarde — Cameron explicou em voz baixa e eu o olhei.
— Não vou dormir aqui — disse em voz baixa e calma.
Ele me soltou e eu me despedi de todos, Natalie me olhou sem
entender enquanto eu mandava mensagem para a minha mãe
avisando que ia para a casa.
Andei até a entrada da casa de Cameron, mas ele me alcançou
parando em minha frente.
— Não adianta, Cameron, vou dormir na minha casa — insisti
fungando pelo frio.
Sair da coberta me deu um choque pelo frio e minhas mãos
gelaram com rapidez.
— Você dormiu aqui ontem, qual é o problema? — Suspirei
sentindo meu coração apertar.
— Te deixar preocupado de novo, e se eu tiver mais uma crise?
Não quero te preocupar, nem somos namorados de verdade para
termos essa conversa — expliquei entrando na cozinha que estava
vazia.
— Que se dane o namoro falso! — Ele me puxou pela cintura.
— Eu me importo de verdade com você — olhei em seus olhos,
mesmo com a luz baixa, conseguia ver que cada palavra sua era
sincera.
— Cameron — eu sentia as lágrimas vindo —, ter meus pais
preocupados comigo o tempo todo já é o suficiente. Eu posso viver
normal, mas quando alguém sabe dessas crises tudo muda, não
quero isso de você — confessei sentindo seus braços me apertarem
mais.
— Isso não vai mudar para mim — Cameron deu passos para
frente me fazendo dar passos para trás com seus braços envoltos
de mim —, você vai continuar sendo a Rebecca chata — ele deu
outro passo —, insuportável — deu outro passo me fazendo sentir a
bancada em minhas costas —, incrivelmente mandona, que eu
simplesmente não consigo evitar querer proteger, cuidar — ele
olhou em meus olhos — e ter em meus braços — admitiu.
Tudo ao meu redor pareceu sumir e meu coração disparou. Não
queria fugir, não queria ir a lugar nenhum, queria apenas ele. Não
existia crises, nem confusões ou medos, era apenas ele.
Ele olhou meus lábios e foi o suficiente para que eu me
entregasse selando nossos lábios. Mesmo sem jeito, abri um pouco
a boca indicando o que queria. Cameron me afastou e olhou em
meus olhos. A luz do luar entrava dentro da cozinha e, juntando com
a baixa luz da cozinha, eu via seus olhos brilharem. Seu rosto
estava radiante e iluminado, mas ao mesmo tempo ele carregava
preocupação.
— Você quer mesmo isso? — questionou.
Concordei, nunca tive tanta certeza.
— Sim, Cameron, eu quero... eu quero — repeti em um
sussurro.
Ele sorriu me segurando com firmeza e precisão em seus
braços. Nossos lábios foram selados com ternura. Seu coração
estava acelerado, assim como o meu.
Segui o mesmo ritmo que Cameron, de início um pouco errado
e sem jeito, mas nada impossível. Antes era um beijo rápido, mas se
tornou lento e carregado de desejo. Sua mão subiu pelas minhas
costas enquanto a outra apertava cada vez mais minha cintura me
puxando para si. Envolvi meus braços por cima de seus ombros e
arranhei sua nuca sentindo seu sorriso.
— Você mentiu — disse de forma calma afastando meu cabelo
do pescoço — achei que não sabia beijar.
— E eu não sabia — sorri envergonhada.
Levada pelo desejo, o beijei descendo as mãos por seus braços
e apertando sua cintura. Cameron estremeceu quando arranhei
suas costas por dentro da blusa de frio, não toquei sua pele devido
a blusa fina que ele estava por baixo da de frio.
Ele sorriu mordendo meu lábio inferior envolvendo a mão em
minha nuca, subindo em meu cabelo. Seus olhos encontraram os
meus e eu o enchi de beijinhos o vendo sorrir. Ele segurou
cuidadosamente em meu pescoço me fazendo parar com os leves
beijinhos, me fez arfar quando apertou um pouco e selou nossos
lábios outra vez. Me beijando com calma, eu estava sentindo coisas
que não sabia que poderia sentir e era incrível.
Afastamos nossas bocas com a respiração ofegante.
Suspirei quando ele me abraçou, me sentindo realizada.
Cameron me apertou ainda mais e me deu dois selinhos, ficou
com os olhos fechados e sorrindo. Afastei a mecha de cabelo de
seu rosto e ele pegou em minha mão levando até seu peito, seu
coração ainda batia descompassado.
— Meu coração implora para que eu faça o certo com você —
disse olhando em meus olhos —, mas não posso te pedir em
namoro agora, não até o meio da temporada dos jogos.
— O que está querendo dizer? — questionei sentindo minha
felicidade se tornar confusão.
— Que eu quero você — assumiu tocando em meu rosto — e
quero fazer da forma certa, eu não posso te perder, mas preciso que
confie em mim, pelo menos agora.
Tentei afastá-lo, mas ele se manteve imóvel e sem me deixar
sair. Apoiou as duas mãos na bancada e aproximou os lábios de
minha orelha. Era injusto, ele sabia que aquilo me deixaria
desestruturada.
— Preciso que confie em mim, Becca — disse sussurrando e
roçando o nariz em meu pescoço. — Eu preciso de você e preciso
que espere só um pouco, mesmo não sabendo o motivo — ele me
olhou.
Suspirei por nunca ter dado aquele tipo de voto de confiança em
ninguém, mas com ele… não fazia ideia do que ele estava querendo
dizer e mesmo assim meu coração insistia em querer arriscar.
— Não posso oficializar o namoro agora, pelo menos não até o
meio da temporada — disse envolvendo os braços em minha
cintura.
— Ou seja, sem beijos até você resolver seja lá o que for —
disse entendendo e ele pareceu não ter pensado nisso.
— Não, calma, não foi isso o que…
— Porque assim, se você quiser fazer tudo certo vai ter que me
pedir em namoro antes de querer ficar me beijando — disse
adorando sua expressão de incrédulo.
— Becca…
— Já entendi, amorzinho — dei um selinho nele —, isso é o
máximo que você vai ter, ok? — Disse me afastando dele para ir até
o quarto de Natalie pegar minhas coisas, mas Cameron me puxou e
me encostou novamente na bancada.
— Você não vai fazer isso comigo — choramingou.
Seria mais torturante para mim, sem dúvidas.
— Cam, eu vou esperar sim, não é fácil, não tenho garantia
nenhuma sobre nós dois, mas vou confiar em você. Porém, não vou
ficar de beijos e beijos com quem não tem nada sério comigo —
expliquei olhando em seus olhos e abaixei o olhar.
— Eu quero algo sério, só não pode ser agora — tentou
justificar e eu sorri o olhando.
— Tudo bem — disse lhe dando outro selinho.
Ele me olhou por instantes e me beijou calmamente outra vez,
aproveitando cada instante explorando minha boca com sua língua,
mas, quando me soltou, entendi que esperar até o meio da
temporada seria extremamente importante para nosso futuro, ou
não, relacionamento.
— Só selinhos? — questionou desanimado.
— Continua como estava antes do beijo — dei de ombros me
sentando na bancada.
Ele se colocou em minha frente e se aproximou ficando entre
minhas pernas.
— Você sabe que não vai dar certo — disse passando as mãos
nas curvas de minha cintura.
— Resisti a você até agora, consigo muito mais — falei firme,
mas sua proximidade me fez estremecer e ele me abraçou forte.
— O namoro continua — sussurrou mexendo no meu cabelo.
O abracei pelos ombros sentindo sua respiração em meu
pescoço.
— Continua — fechei meus olhos o sentindo dar beijinhos em
meu pescoço —, preciso ir — disse tentando empurrá-lo.
— Não vai mesmo dormir aqui? — questionou subindo a mão
em minha nuca e puxando meus cabelos.
Eu e ele nos olhamos, minhas bochechas estavam queimando.
Rimos quando eu apertei sua cintura tentando mantê-lo longe
de mim e abaixei a cabeça respirando fundo.
— Preciso ficar longe de você. Não quero te ver amanhã,
apenas segunda.
— Mas…
— Se afasta em nome de Jesus! — Disse firme o vendo
gargalhar. — Sem mais, Cameron, só me leva em casa — ele riu
beijando minha testa e concordando.
Desci da bancada, peguei minhas coisas no quarto de Natalie e
desci a passos silenciosos. A casa estava toda em silêncio,
acreditava que os parentes de Cameron foram embora e seus pais
foram descansar.
Caminhei até a cozinha vendo que todos tinham entrado, mas
Cameron não estava.
— Dorme aqui, amiga — Natalie pediu.
Ela não fazia ideia da preocupação que eu tinha feito seu irmão
passar na noite passada.
— Não amiga, hoje eu só quero minha cama — disse me
apoiando na bancada esperando Cameron.
— Eu durmo com você — Kiara disse abraçando Natalie pelos
ombros.
— Não te convidei — Natalie provocou.
Kiara rebateu, mas não a ouvi. Não quando Cameron envolveu
os braços em minha cintura me puxando de forma calma e suave.
Senti seus lábios se aproximando de meu ouvido e ele
sussurrou:
— Vamos? — Concordei um pouco atordoada.
— É o tempo todo assim esses desgraçados — Calleb disse
apontando para nós — o tempo todo me deixando boiola.
— Boiola você já é — Natalie o provocou e Calleb mostrou seus
dois dedos do meio para ela, mas nem ele se aguentou de rir.
— Gente, beijos e boa noite — mandei um beijo coletivo e
saímos da cozinha.
Cameron me abraçou pelos ombros enquanto andávamos pela
rua, mas os passos dele estavam lentos como se ele não quisesse
chegar até minha casa.
— Posso te ver amanhã? — questionou me apertando um
pouco mais.
O olhei rindo e paramos em minha casa.
— Não, senhor Styles, não pode — respondi decidida.
— Mas Becca… — Ele se aproximou de mim me puxando pela
cintura e seus olhos buscaram os meus e eu abaixei a cabeça
suspirando.
Cameron levantou meu rosto com seus dedos em meu queixo.
— É por causa disso que não quero te ver — admiti e ele riu
aproximando os lábios de minha orelha.
— Não consegue resistir?
Prendi minha respiração o afastando de mim.
— Você nem é tudo isso, me erra — rebati encaixando a chave
na fechadura da porta me tremendo por inteiro.
— Não respondeu minha pergunta — sussurrou juntando meu
cabelo para trás e o enrolando levemente em seu pulso.
— Cameron — disse em voz baixa sem conseguir deixar de rir
— boa noite.
Abri a porta e ele me deu um selinho rápido.
— Boa noite amor — se despediu descendo os dois degraus da
frente da minha porta e seguindo até sua casa.
Tranquei a porta e suspirei.
Ri de mim mesma pensando na provável expressão de boba
que eu estava agora. Observei a sala que estava com uma luz baixa
e me aproximei vendo meu pai com Elo em seu colo, a balançando
para dormir, mas ela não parecia querer dormir, estava observando
tudo ao redor.
— Boa noite pai — disse entrando na sala —, achei que
chegaria amanhã.
— Boa noite querida, íamos mesmo voltar amanhã, mas tive
que resolver algumas coisas no trabalho. Como foi a festa? —
questionou ainda balançando Elo.
Sorri me lembrando da melhor parte da festa.
— Foi legal.
— Soube que foi jogada na piscina — disse arrumando os
óculos redondos em seu rosto e eu dei de ombros me sentando em
sua frente enquanto Elo me olhava rindo —, como estão as coisas
com o menino Cameron? Ele parece muito feliz.
Olhei meu pai, seus olhos transmitiam sinceridade. Forcei um
sorriso e ele pareceu confuso.
— O que aconteceu, docinho? — questionou sem tirar os olhos
de mim e eu suspirei.
— Talvez ele goste mesmo de mim, parece que sim, mas… Ele
disse para esperá-lo até o meio da temporada do time — expliquei.
— E qual é o problema? Não é você que sempre disse sobre
esperar?
— Mas… esperar o quê? Tem alguma ideia? Alguma luz? Estou
confiando nele sem saber o que isso quer dizer — papai se sentou
ao meu lado com os olhos cheios de confusão.
— Eu não devia falar sobre isso, mas Arthur ficou muito
animado quando soube que Cameron finalmente decidiu que quer ir
para Stanford — o olhei surpresa —, ele já estava falando sobre
Stanford há algum tempo, mas agora está decidido. Arthur está bem
animado pois se formou lá e foi quarterback de lá também — papai
deu um sorriso carregado de lembranças boas —, talvez essa seja a
resposta que ele queira antes de te pedir em namoro.
— Stanford — murmurei relembrando a conversa que tive com
Cameron em sua casa quando falei sobre ir para Stanford e ele
pareceu animado.
— Você com certeza vai entrar, os olheiros de lá vão vir e se
Cameron se dedicar como já vem feito, pode ter boas
recomendações e uma chance enorme de estudar lá — papai
explicou.
— Não tenho certeza se vou entrar mesmo — comentei
desanimada —, mas o melhor será esperar mesmo, tanto ele quanto
eu precisamos focar nos estudos, as provas não serão fáceis —
disse me levantando — boa noite, pai.
Estava prestes a subir a escada, pela primeira vez meu pai não
se despediu de mim.
— Caramelinho — chamou com voz calma, me virei o olhando e
voltando o caminho —, você gosta dele? — Suspirei, mas acabei
deixando um sorriso transparecer, ele sorriu junto e apenas
balançou a cabeça concordando — Boa noite, filha.
— Boa noite, pai.
Neji disse pelo menos cinco vezes que estava feliz por eu ser a
nova representante porque Karen sempre implicava com tudo o que
ele falava e tentava beneficiar apenas o grêmio.
Eu e ele separamos os projetos, o que cada um ficaria
responsável.
Ele não gostava de esportes e quanto a isso, tinha meu pai e
Cameron para me ajudar. Ele também se recusou a falar com
Katherine sobre as líderes e com Karen sobre o grêmio, sabia que
nisso Natalie estaria comigo. Sendo assim, a separação ficou:
Neji: aulas de pintura, de dança, teatro, coral e o Fênix;
E eu: os esportes — futebol americano, futebol das meninas e
natação —, as líderes, o grêmio e o jornal.
— Agora sim eu vou treinar — Cameron disse beijando meu
pescoço quando parei em frente ao meu armário, suspirei com seu
toque e suas mãos deslizaram em minha cintura —, te vejo mais
tarde?
— Sim — lhe dei um selinho rápido e ele me virou de frente.
Seus lábios encontraram os meus com desejo, ele os roçou nos
meus e agarrou meu lábio inferior com os dentes.
— Cameron… — apertei sua cintura tentando controlar minha
respiração.
— Tchau, representante — sussurrou em meu ouvido.
— Tchau, capitão — arranhei seu braço.
Ele me apertou pela última vez e me soltou saindo de perto, me
dando fôlego.
— Melissa foi burra, devia tê-la empurrado mais forte e as duas
teriam caído na piscina! Mas não, ela é fraca demais — Karen disse
impaciente. — Eu estou cansada de você, Malik.
Olhei Karen extremamente surpresa e, por algum motivo,
decepcionada. Sempre a achei linda, seus traços delicados davam
um charme a sua aparência e ela definitivamente não precisava ser
mais uma a brigar por status.
Fechei meu armário e a olhei.
— Você também vai começar com isso por causa de Cameron
ou o quê? — questionei cruzando os braços.
Ela deu passos para frente como se quisesse me intimidar, mas
me mantive imóvel e olhando em seus olhos.
— Você acha que eu sou idiota? Que brigo por garotos? Isso eu
deixo para Melissa que quer superar a irmãzinha! Você, Rebecca,
você chegou aqui tomando tudo. Rebecca, a nerd que todos
gostam, que vai entrar facilmente em Stanford, que salvou
Cameron, que vai ser rainha do baile, que é a mais inteligente, a
nova representante, a capitã… Rebecca, Rebecca e Rebecca —
disse enojada. — Vou colocar essa escola em ordem e todos vão
me agradecer. Você tirou tudo da gente, tirou Cameron que era o
melhor meio de entrar em Stanford e...
— Mais alguma coisa, Karen? — questionei depois de suspirar.
— Eu devia saber que aquelas burras não serviam para nada!
Mas estou ansiosa para ver sua reação — ela deu outro passo para
frente ficando ainda mais próxima de mim — quero ver se vai
aguentar sozinha ou se vai ir correndo para o seu namoradinho, já
que precisa dele para tudo.
Balancei a cabeça negativamente.
— Boa sorte com isso, Karen — foi tudo o que disse antes de
sair de sua presença.
enquanto me aproximava.
— Viu Peter? Ele não comeu nada até agora — disse com a voz
carregada de preocupação.
Vasculhei em minha mente, me lembrando de que ele não
estava com o time no refeitório.
— Na verdade não.
— Se vê-lo, pode entregar a ele? — questionou levantando o
pacote em mãos. — Se eu entrar na escola agora, a López vai
querer me apresentar para todo mundo — ele riu de si mesmo.
— Claro, pode deixar — peguei o pacote e ele me olhou por
instantes. — Achei que não viria — ele deu de ombros.
— Uma amiga ficou decepcionada quando disse que não viria,
não queria deixá-la triste, sabe? — Rimos quando o empurrei pelo
ombro — E meus parabéns representante, capitã e futura rainha do
baile — revirei os olhos com o último título e fiz uma careta o vendo
rir.
— Obrigada, chefe — o provoquei e nos abraçamos
brevemente.
Nos soltamos e ele soltou a respiração.
— Preciso ir, minha mãe está me esperando — avisou sem me
olhar nos olhos.
Concordei balançando a cabeça e vendo que suas bochechas
estavam coradas. Me afastei o observando partir com o carro.
Era complicado perceber que ele gostava de mim porque o via
apenas como um amigo. Queria que o sentimento da parte dele
fosse um surto, mas toda vez que me olhava percebia algo diferente
nele. Algo que não teria parado para notar se ele não fosse motivo
do meu desentendimento com Cameron hoje cedo.
Quando me virei para voltar para escola, Cameron e Natalie
estavam parados me encarando. Ele estava com os braços
cruzados e os olhos pareciam queimar como chamas ardentes.
Natalie me olhava com uma careta de que eu estava encrencada.
Cameron não disse e nem demonstrou nada, apenas entrou na
escola empurrando a porta com força. Pensei em ir atrás, mas
Natalie negou com a cabeça respondendo meu pensamento.
E assim era melhor. Ele me estressou antes de começar a
competição do Fênix e eu precisava ao máximo me concentrar, faria
o mesmo com ele. Não queria isso. Sabia que depois resolveríamos
tudo.
— Por que ele está tão ciumento? — Reclamei e ela riu.
Ele nunca tinha ficado assim mesmo que tínhamos pouco tempo
juntos e ele nunca conseguia falar sobre sem ficar com raiva.
— Ele conhece Andrew como a palma de sua mão e sabe
perfeitamente ler seu olhar em você — disparou sem rodeios — e
Cameron não sabe lidar, não quer impor nada, mas não gosta de
você conversando com Andrew. Deve ser a primeira vez que ele
sente ciúmes assim — ela riu da situação.
Suspirei me sentando na escada e assimilando tudo.
— Ele é imaturo na questão de não parar para conversar sobre,
assim como você também não tem colaborado muito de acordo com
a sua versão e a dele — afirmou e eu fiz uma careta. — E não
concordo em estar agindo assim, mas está tentando não estragar
tudo, ou mais do que já estragou, com você. Deixe-o descontar tudo
no jogo e que Deus ajude quem atravessar o caminho dele hoje.
— Vontade de socar a cara dele e falar garoto, é de você que eu
gosto! — admiti com firmeza na voz e Natalie abriu um sorriso de
orelha a orelha — O quê? — questionei confusa.
— Você disse pela primeira vez em voz alta que gosta dele —
seu sorriso ficou ainda mais lindo e aberto.
Olhei para frente repassando o que tinha dito e acabei sorrindo
também.
— É… eu falei — admiti.
Analisei a situação.
Era sobre isso. Eu não admiti gostar de Cameron, demonstrei,
mas não admiti. Não como ele no nosso primeiro — e único — beijo
quando disse que me queria. Ele me deu um colar, me deu
a chave de seu coração e eu não fiz nada. Mesmo que ele não
tenha dito exatamente com essas palavras, ele demonstrou mais do
que eu.
— Soque a cara dele e depois fale para ele — incentivou e
rimos juntas, mas seu sorriso se desfez. — Você e Andrew…?
— Não, não mesmo — ela pareceu aliviada —, você ainda
gosta dele, não é? — Ela parou um pouco refletindo sobre isso.
— É, mas hoje tenho perfeita noção de que só eu gostava —
explicou, franzi o cenho.
— Como descobriu isso? — Ela me olhou por instantes como se
a resposta estivesse diante de seus olhos e balançou a cabeça após
parecer repensar no que ia dizer.
— Não importa. Esse lanche é para quem? — questionou e
então me lembrei o real motivo de Andrew ter me chamado no
estacionamento.
— Peter, preciso encontrá-lo. Te vejo no futebol feminino —
beijei seu rosto me despedindo.
Observei o refeitório e não encontrei Peter, em seguida, fui até o
campo de futebol, mas ele também não estava lá.
Decidi ir ao jardim atrás das arquibancadas do campo, onde
Cameron quase foi pego batendo em Oliver.
Suspirei ao ver que Samuel parecia estar de vigia, me aproximei
dele e ele nem sequer se moveu.
— Viu Peter? — questionei calmamente e ele concordou.
— Está fazendo comprinhas com Jasper — disse rindo, mas
não vi graça, sabia exatamente do que se tratava.
Meu coração apertou em saber que Peter estava comprando
drogas e tudo piorou quando comecei a pensar demais no que faria
com essa informação.
Jasper e Peter saíram de trás dos arbustos. Jasper me olhou e
caminhou até mim como olhar frio, enquanto Peter me olhava como
uma criança encrencada.
Me impressionei quando Jasper parou em minha frente
parecendo querer me intimidar ou me amedrontar. Sabia que sete
pessoas já contaram sobre isso a diretora e ele sempre se safava.
Samuel nos olhou cheio de confusão e Peter achou graça.
Olhei Jasper nos olhos, tentando decifrá-los.
— Está tentando me intimidar? — questionei tranquilamente.
— Não, estou esperando seu julgamento — respondeu com
naturalidade.
— Jasper, já conversamos sobre isso, precisamos ir — Samuel
parou de falar quando Jasper fez sinal para que ele ficasse em
silêncio, mas os olhos ainda estavam em mim.
— E desde quando minha opinião importa para você? — Seus
olhos cravados em mim não me assustavam, mas uma onda de
confusão se formava em minha mente.
O observei mais de perto tentando ignorar que sua aparência
lembrava meu tio Benjamin.
— Jasper! — Samuel o chamou com preocupação e irritação.
Jasper saiu sem dizer uma palavra.
Relaxei o corpo decidindo ignorar o que tinha acontecido.
— Contagem de pessoas a fim da capitã: Neji, Victor, Noah,
Jack, meu primo… — Olhei Peter. — Eu ia falar Jasper, mas ele não
fica assim quando está a fim de alguém — comentou.
— O que quer dizer com isso? — questionei olhando os garotos
que caminhavam de volta ao campo de futebol, Jasper olhou para
trás e Samuel deu um soco no braço dele o fazendo virar para
frente. — Calma você disse Neji?
Minha confusão cresceu ainda mais porque eu jurava que Neji
era a fim de Katherine.
— Acho que quanto mais você não quer chamar a atenção de
ninguém, mais você chama e que Deus ajude o capitão e te ajude
— comentou rindo.
— Isso não importa. Andrew trouxe para você — entreguei o
pacote com seu lanche que provavelmente estava frio.
— Bem que Calleb disse que você é o novo Cameron, todo
mundo te quer também — o empurrei pelos ombros bufando e ele
riu.
Caminhamos até às arquibancadas.
— Cameron sabe? Sobre… — O olhei assim que nos sentamos
no primeiro banco.
— Sabe. Não concorda, sempre briga comigo, diz que se eu
usar algo muito pesado vai me cortar do time sem pensar duas
vezes, mas ele entende.
— Entende que você usa drogas? — questionei em voz baixa.
— Entende que cada um tem um jeito de lidar com seus
problemas, sei que o meu não é o jeito certo — disse desanimado.
Queria fazer um discurso, falar sobre como ele podia se
prejudicar, quis socar sua cara, mas tudo o que fiz foi lhe dar um
puxão de orelha.
— Aí, sua louca! — exclamou colocando a mão na orelha.
— Estou com vontade de te socar até perceber que isso pode
acabar com você — admiti e ele riu mordendo o lanche.
— Agressiva que nem o namorado.
— A diferença é que ele literalmente bate quando quer —
repliquei.
— E você bate com as palavras — rimos —, eu consigo ficar
sem às vezes. Principalmente quando é semana de exames do
time. Alguns dias são bons, outros nem tanto — o abracei pelos
ombros e ele sorriu com o meu ato, mas seus olhos ficaram
marejados —, só uso coisas para relaxar.
Senti que invadiria sua privacidade se perguntasse a quais
problemas se referia e quando são os dias ruins, então decidi não
questionar nada, quando ele quisesse, ele falaria.
— Talvez eu não seja a melhor pessoa para isso, mas se quiser
conversar, estou aqui — ele me olhou.
— Gosto de conversar com você, me traz paz — sorri o ouvindo.
— Você e o capitão estão bem? — questionou e eu suspirei. —
Vocês estão distantes hoje.
— É complicado — admiti e o vi do outro lado do campo —,
nunca imaginei que Andrew ficaria no meio do meu relacionamento
— ri da situação —, sendo que nem tem motivos.
— Andrew? Meu primo? — Peter questionou e só então me
recordei daquela informação.
Abri minha boca para falar, mas desisti quando Cameron, Josh
e Elliot se aproximaram. Queria pedir a Peter para que não contasse
a ninguém sobre o que eu falei, mas não seria possível na frente
dos meninos.
Cameron me olhava sério e eu o olhei com a mesma
intensidade.
— Vocês precisam se resolver logo — Elliot advertiu.
Sabia que precisava contornar a situação com Peter e mostrar
que não estávamos tão ruins como parecia.
— Sim mano, ninguém aguenta mais, tem gente passando mal
aqui — Josh dramatizou.
A cada dia que passava ele falava mais parecido com Calleb e
esse pensamento me fez sorrir. Cameron se manteve sério e eu me
levantei decidida a acabar com aquela marra.
— Vejo vocês mais tarde, time — me despedi.
Parei na frente de Cameron, ri passando os dedos em sua nuca
e em seu pescoço até suas bochechas e selei nossos lábios.
Ele tentou ficar sério, mas virou o rosto mostrando um
sorrisinho. Passei a mão em sua cintura na medida que ia me
afastando e fiquei feliz pelos meninos estarem conversando ao
ponto de não se importarem com a gente.
Exceto por Peter que, disfarçadamente, nos olhou.
aqui, mas minha avó Abigail ligou dizendo que queria ver os netos
deixando apenas úmido. Fingi que não percebi tal intimidade entre
Stacye C.