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EDITORA FRUTO PROIBIDO

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma


ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico,
sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é
mera coincidência.

REVISÃO:
Simone Mota

CAPA:
Lucy Grffin
Hórus Design

DIAGRAMAÇÃO:
Larissa Chagas
lchagasdesign
Para as coquinhas,
que chegaram quando tudo era mato.
Eu estava em uma estrada quando ouvi o barulho de várias buzinas
ao mesmo tempo e veio um clarão do farol do carro que quase me
cegou, tinha a certeza de que seria atropelada, porém, não senti
nada, então toquei meu próprio corpo confirmando que estava viva e
inteira.
E agora estava em outro lugar, onde nevava e, ainda que eu usasse
um vestido de alças finas, não sentia frio.
Uma criança de cabelo loiro cortado em tigelinha e olhos azuis veio
correndo em minha direção com um belo sorriso no rosto.
Uma paz enorme me consumiu quando ele pegou em minha mão e
fez sinal com o dedo indicador para que eu o seguisse, e começou a
correr me segurando, acabei rindo enquanto corria junto porque
uma felicidade crescia dentro de mim apenas estando com aquele
garotinho.
A criança abriu a porta de uma cabana velha caindo aos pedaços,
me empurrou para que entrasse, fechou a porta e saiu correndo.
A cabana, por mais que do lado de fora parecesse velha e
horripilante, por dentro era organizada, tinha uma lareira, uma
pequena mesa no centro e duas poltronas de frente para a lareira.
O fogo se acendeu sozinho. Observei as chamas que se modelaram
em duas pessoas e elas pareciam brigar.
Me aproximei mais vendo que a briga estava mudando para uma
dança.
Me sentei no chão observando o fogo que agora parecia um casal
se beijando de forma tão envolvente que era impossível parar de
olhar.
Brigas, danças e beijos. Que loucura!
A porta da cabana foi aberta por uma ventania tão forte que me fez
cair dentro do fogo e tudo se apagou diante de mim.
Mas, quando acordei, estava em uma ponte, na frente de uma
sorveteria, uma que eu sabia que meu tio paterno, Benjamin, me
levava em Los Angeles.
Um garoto, cujos fios de seus cabelos eram pretos e era alto, estava
encostado na proteção da ponte. Ele olhou em minha direção, me
permitindo ver seus olhos verdes que se iluminaram, as sardas em
seu rosto, as tatuagens em seus braços musculosos e... ele era
familiar, estranhamente familiar.
— Você voltou — disse abrindo um enorme sorriso e quando me
impulsionei em sua direção, percebi que outra pessoa estava
presente.
Uma garota de cabelos ruivos correu em sua direção, me dei conta
de que eles não me viam. Ela o abraçou e o beijou, ele a rodou no
ar ficando de costas para mim e deixando a garota de frente me
permitindo vê-la.
Era eu... era eu?
— Eu sempre vou voltar para você, meu amor.
— Não, não, não! — Gritei quando fui puxada para trás.
Cada vez mais longe deles, mais e mais longe, até estar em uma
praia.
Fiquei instantes parada no lugar, sem conseguir me mover. Não era
eu, era minha prima Rylie e aquele garoto provavelmente era
Castiel, seu namorado. Os dois faleceram antes do meu
nascimento, eu não sabia a causa do falecimento de Castiel, apenas
da minha prima.
Comecei a caminhar pela areia quente que entrava nos dedos dos
meus pés e vi um garoto com os pés na água. Em suas costas uma
tatuagem de águia com asas abertas.
Sentia que o conhecia, dentro de mim eu sabia.
O garoto tinha cabelos loiros dourados, era alto, com as costas
largas e braços fortes.
— Cameron? — O chamei.
Cameron... Styles?
Ele começou a andar indo cada vez mais fundo no mar. Tentei gritar
para ele parar, mas minha voz não saia e uma barreira invisível não
me permitia me aproximar.
De repente, eu cheguei em uma ponte, outra ponte, uma que
mesmo me esforçando para me lembrar, eu não a conhecia.
— Você voltou — disse uma voz rouca e grossa que eu nunca ouvi
em toda a minha vida. — Esperei você, Becca — o olhei, sem
reação.
O que Cameron Styles fazia em meu sonho?
Ele se aproximou de mim, colocou as mãos carinhosamente em
minha nuca e selou nossos lábios.
— Espero que as coisas sejam diferentes dessa vez — afirmou
ficando frente a frente comigo.
Seus dedos deslizaram em meu rosto calmamente, como se
admirasse cada detalhe meu, o toque dele era tranquilizador e ao
mesmo tempo me deixava com borboletas no estômago.
Seus dedos passaram pela minha nuca e se afundaram
carinhosamente em meus cabelos. Sua outra mão deslizou em
minha cintura e ele me puxou.
— Não precisa ter medo — disse sorrindo e acariciando meu rosto
com o polegar.
Seus lábios roçaram nos meus.
Me sentia calma, sem medo e me parecia ser tão certo que me
deixou assustada com a naturalidade de tudo aquilo. Abri a boca
lentamente lhe dando passagem.
Para onde foi todo o nosso ódio? Cameron sempre foi um completo
idiota e agora era como se nada daquilo importava.
Sua língua massageou a minha lentamente, senti meu corpo todo
quente e uma felicidade incomum crescendo dentro do meu ser.
Ele me deu três selinhos finalizando o beijo.
— Será diferente dessa vez — eu disse e abri meus olhos.

Quando acordei, uma sensação estranha me dominou quando


toquei meus lábios, mas eu simplesmente não fazia ideia do que
tinha sonhado.
Há meses eu acordava com a estranha sensação de que tive
um sonho repetido ou com a mesma pessoa. Um garoto com uma

tatuagem nas costas. Uma tatuagem que se tornava um borrão

quando eu acordava e não conseguia lembrar de nada além de um

borrão.
Era estranho e, ao mesmo tempo, familiar.
Fiquei minutos encarando o meu quarto, pois, hoje era meu
último dia em São Paulo antes de voltar para Los Angeles, três anos
depois de me mudar.
— Vamos, filha? — minha mãe questionou.
Era só mais uma mudança, um retorno, o que poderia dar de
errado?
— Vamos, meu doce — meu pai chamou.
Concordei balançando a cabeça, peguei a última bolsa que
tinha no quarto e apaguei a luz.
Sempre que ele me chamava de meu doce eu sentia uma
imensa vontade de rir. Desde que tinha descoberto a diabetes, ele
me chamava daquela forma.
Faz um ano e alguns meses que acordei em uma madrugada
jogando para fora tudo o que tinha no estômago. Não conseguia
nem me levantar e quando conseguia, mal ficava de pé. Tinha
perdido dez quilos em um mês e não tinha, até então, uma
explicação. Até aquele dia...
Dez de Outubro, o dia em que descobri ser diabética, o dia em
que tive certeza de que morreria, o dia em que eu achei que minha
vida tinha acabado, mas não acabou.
A vida de diabética não era fácil. Era normal, mas não tão
simples.
A diabetes não era uma limitação na minha vida, precisava
cuidar da minha saúde, principalmente alimentação, como qualquer
pessoa precisa fazer, só que um pouco mais que pessoas não
diabéticas.
Aliás, o nome da minha diabetes era caramelinho e nunca vi
minha mãe rir tanto depois que contei a ela.
Caramelo era feito de açúcar e por mais irônico e engraçado
que seja, esse era o nome da minha diabete.
Entrei no carro e me encostei, deitando minha cabeça no canto
do banco. Meu irmão, Isaac, de dez anos, se deitou no meu colo
sem trocar uma palavra comigo.
— Fofos, nem parece que tentam se matar todo dia — minha
mãe comentou, fazendo-me sorrir.
— Matar é uma palavra muito forte, quero só dar uma paulada
na cabeça dele — eu disse, rindo.
— Eu nem gosto de você, insuportável — meu irmão
resmungou de olhos fechados.
— Ah, não gosta, não, está bom — minha mãe disse, rindo,
acompanhada pelas risadas de papai.
Embarcamos no avião depois de organizar tudo. O dia estava
clareando e o sol estava nascendo.
Depois da turbulência, que eu detestava desde alguns
acontecimentos familiares, tudo ficou bem. Olhei pela janela do
avião, era tão calmo que me trazia uma paz.
Tirei uma foto como uma despedida momentânea de São Paulo
e coloquei meus fones de ouvido.
E novamente fui vencida por um sono arrebatador.

Uma garota ruiva, com os mesmos traços que eu corria com um


vestido branco, solto e cumprido pelo que parecia ser uma
plantação de tulipas. Me aproximei ainda mais e a vi, perfeitamente
bem e quase cai para trás quando me dei conta de que era eu, ruiva
e com sardas no rosto. A sensação era a mesma que olhar no
espelho.
— Olá, Rebecca — ela sorriu.
Por mais assustador que parecesse, eu não estava com medo.
— Aquele é... — disse um nome que não consegui ouvi-lo.
— Desculpe, pode repetir? — Pedi, mas em resposta, ela sorriu
com doçura.
— Você vai ter que descobrir sozinha.
Seus cabelos voaram em seu rosto e ela começou andar na
direção do garoto, passou por ele e então, sumiu... como se fosse
mágica, ela desapareceu.
O garoto estava sentado na beira da praia, parecia distante,
perdido e frio.
Abri a boca para chamá-lo, mas minha voz não saia e a cada
passo que eu dava em sua direção, parecíamos ainda mais
distantes um do outro.
Ele se levantou e tirou a camisa, ainda de costas para mim.
Quando vi aquela tatuagem, soube perfeitamente bem que ele era...

Após o desembarque, a chegada até nossa casa foi rápida.


Entrei e decidi tomar um longo banho. Mesmo dormindo durante
a viagem, eu estava cansada.
Ouvi o barulho de bola batendo contra o chão quando sai do
banheiro do quarto, enrolada na toalha, pelo barulho que fazia,
reconheci que era basquete.
Olhei no relógio e era meia noite e meia.
O barulho ficava cada vez mais alto. Aproximei-me da janela
mesmo enrolada na toalha e abri um pouco da cortina. Dois garotos
altos estavam se divertindo jogando basquete. E era claro que eu os
reconheceria em qualquer momento da minha vida.
O loiro, Cameron Styles, o irmão da minha melhor amiga, filho
dos melhores amigos dos meus pais e, nada mais nada menos que,
meu inimigo de infância.
E com ele, seu maior confidente, Elliot Grier.
Quando Cameron se virou de costas para a minha janela,
possibilitando-me ver sua tatuagem de águia com asas abertas,
uma sensação estranha me dominou, uma sensação familiar, de
Déjà-vu.
— Becca, a mãe me mandou te lembrar de tomar o remédio!
— Isaac gritou do outro lado da porta.
— Ok, Isaac — gritei de volta, fechando a cortina.
Como todo dia e noite, medi minha glicemia, tomei meu
remédio, comi e subi para o quarto.
Fechei a porta e encarei a janela.
Afastei a cortina e vi apenas a pequena quadra de basquete,
que tinha uma cesta e mais ninguém, as luzes que iluminavam a
quadra se apagaram e por algum motivo me senti sendo observada.
Talvez eu estivesse ficando louca.
Ao meio-dia da segunda-feira, cheguei na lanchonete

Goldens, para a entrevista de emprego, e fui chamada meio-dia e

quinze.
— Bem-vinda a Goldens, sou Esme, a senhora Payne está te
aguardando no escritório dela — a garota do caixa informou. — É só
subir as escadas, é a sala do fim do corredor — explicou antes de ir
atender um cliente.
— Ok, obrigada — disse, mesmo depois dela ter saído,
caminhando até às escadas.
Respirei fundo e apertei minhas próprias mãos, com medo de
fazer alguma coisa de errada durante a entrevista.
Meus pais, mesmo que tenhamos uma vida financeira muito
boa, não me impediram de vir trabalhar, a necessidade de começar
a ir atrás do meu dinheiro, ter a minha independência falava mais
alto.
Em São Paulo eu trabalhava com eles algumas vezes na
semana, porém, entramos em um acordo de que eu procuraria o
meu próprio emprego depois da mudança.
Bati na porta, respirei fundo e aguardei algum retorno.
— Pode entrar — ouvi a voz suave da senhora Payne, a dona
da lanchonete.
Entrei na sala e ela estava anotando alguma coisa. Fechei a
porta e me aproximei da cadeira esperando sua permissão para me
sentar.
A senhora de cabelos pretos e olhos escuros me olhou por cima
dos óculos, em seguida levantou totalmente o rosto e sorriu. Era
amiga do meu pai e eu cresci perto dela quando moramos em Los
Angeles antes da mudança, mas, por algum estranho motivo, não
sentia tanta liberdade por estar em uma entrevista de emprego.
— Sente-se, querida — pediu.
Concordei me sentando, ela me olhou de uma forma como se
eu tivesse toda a atenção dela, em seguida encarou um papel a sua
frente.
— Rebecca Malik Nogueira, correto? — questionou, arrumando
os óculos redondos no rosto.
— Sim, senhora Payne.
Ela sorriu.
— Quanto tempo não a vejo, está muito bonita.
Sorri, me sentindo um pouco mais relaxada.
— Muito obrigada, a senhora continua muito bonita também.
Ela sorriu e me olhou, um pouco mais séria.
— Por que você quer essa vaga de emprego?
— Estou há uma semana em Los Angeles e ouvi falar muito
bem daqui, vim duas vezes e me encantei. A organização, harmonia
e o atendimento me fizeram querer trabalhar aqui, pois é um
ambiente assim que eu quero para trabalhar — afirmei, olhando-a
nos olhos.
A senhora Payne também me olhava nos olhos a cada palavra.
— Rebecca, fico feliz em saber que é essa impressão que
causamos, principalmente sabendo que quando construí a Goldens,
você veio duas vezes com os seus pais quando era minuto pequena
e agora, está aqui para um emprego, é um tanto satisfatório.
A mulher a minha frente começou a falar sobre a política quanto
aos funcionários, a forma com que ela gosta de administrar as
coisas na Goldens e eu apenas concordava com tudo.
— Eu nunca fiz testes com ninguém, mas com você quero fazer.
— Certo — concordei.
Seus olhos seguiram para a tela onde mostravam as imagens
das câmeras da lanchonete.
— Pode se vestir com esse uniforme? — questionou, pegando
um uniforme em mãos. — Não vou te colocar para trabalhar hoje,
mas quero um... Um breve teste. Faz parte da entrevista.
— Claro, senhora Payne — disse, pegando o uniforme que ela
estendeu para mim.
Me arrumei no banheiro que em ela indicou. O uniforme era um
pouco mais curto do que eu costumava usar, mas nada impossível
de se vestir.
— Senhora Payne — a chamei, entrando novamente em seu
escritório. Ela se levantou e sorriu caminhando até mim.
— Querida, ficou ótimo em você — afirmou, pegando as roupas
de minhas mãos e as colocando em cima de uma das poltronas. —
Vamos, vou te explicar o que quero que faça.
Concordei, descendo as escadas com ela. Paramos no caixa e
ela pegou um tablet me explicando como funcionava a seleção de
pedidos. Não era nada difícil para falar a verdade.
— Boa tarde, Raquel — ouvi uma voz grossa e rouca.
Pisquei por pelo menos três vezes. Não pode ser. Não. Não.
Não.
Ele estava acompanhado de três meninas e dois meninos. As
meninas com uniforme que parecia ser de líder de torcida e eles
com um moletom que parece ser do time.
Por uma força que ia além de mim, me virei disfarçadamente
enquanto olhava o tablet na mão da senhora Payne, evitando que
ele e seu grupo me vissem.
— Essa é a Raquel, vocês trabalharam poucas horas juntas por
conta da faculdade dela, você trabalhará com o meu filho, quando
ele chegar, o apresentarei — senhora Payne disse e eu abri um
sorriso forçado.
— Então, já estou contratada? — questionei, rindo.
— Vamos ver isso agora — avisou.
— Prazer, Raquel. Sou Rebecca.
— Eu sei quem você é. Boa sorte — disse aos risos.
No mesmo minuto, o sininho que avisava quando alguém entra
na Goldens tocou. Um casal de velhinhos simpáticos entrou sorrindo
e nos cumprimentaram.
A mesa seis estava barulhenta com o grupinho de Cameron.
— Vou atender a mesa seis — Raquel avisou, saindo de trás do
caixa e eu quase a agradeci.
— Não — a senhora Payne colocou a mão na frente da garota,
a impedindo de continuar caminhando. — Rebecca atenderá as
duas mesas. Ordem de chegada e nada de descontos especiais —
avisou em voz baixa. — Cameron Styles, já me fez demitir três
garotas por descontos especiais sem autorização. Espero não ter
esse problema com você.
— Sim, senhora Payne — concordei.
Meu estômago doeu ouvindo o nome de Cameron.
Ele estava diferente, muito diferente, e eu não entendia o motivo
que me deixava tão nervosa.
— Pode ir, querida — a senhora Payne pediu.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e arrumei os óculos
em meu rosto para em seguida pegar o tablet.
Me aproximei da mesa e quando parei, os olhares se
levantaram em minha direção. Exceto o olhar de Cameron que
estava voltado para o cardápio, o braço direto envolto de uma
garota de cabelos loiros e olhos claros. Ela me olhou e olhou
novamente para o cardápio, sem se importar muito com a minha
presença. Os dois meninos me olharam e Elliot abriu um sorriso.
— Olá, Elliot, como vai? — questionei e ele acenou
positivamente, me virei para o outro. — Olá, Peter. Então, qual será
o pedido de vocês?
O olhar de Cameron se levantou no segundo em que comecei a
falar. Seus olhos azuis me encararam surpresos, me olhou de cima
abaixo e sua boca se abriu um pouco.
— Malik? — sua voz rouca questionou.
— Styles — o cumprimentei. — Qual será o pedido de vocês?
— questionei novamente.
Cada um fez seu pedido. Mas Cameron continuou me
encarando e piscando lentamente.
— E o seu? — O olhei, quase rindo dele estar prestes a babar.
Ele se recompôs e ergueu o queixo de forma arrogante, como
sempre fazia quando estávamos perto um do outro.
— Um número cinco, com desconto. — Ele sorriu como um
galanteador.
— Não tem desconto hoje — afirmei, sorrindo sem mostrar os
dentes.
— Para mim, sempre tem — disse com a voz cheia
convencimento e seu ar esnobe.
Eu sabia que minha reação me faria ser mandada embora agora
mesmo, mas era impossível controlar minhas palavras quando o
assunto era Cameron Styles.
— Você conseguiu desconto? — questionei Elliot e ele negou
balançando a cabeça. — E você? Pediu um número cinco também,
conseguiu desconto? — perguntei a Peter e ele também negou. —
Então, Styles, você, assim como todos os outros, não terá desconto.
O pedido de vocês chega em vinte minutos — disse, caminhando
até a mesa do casal de velhinhos.
A senhora Payne sorriu e caminhou até o corredor que dava em
direção as escadas após ouvir os meninos zombando de Cameron.
O casal foi extremamente fofo e simpático comigo.
— Os pedidos da mesa seis estão prontos — Raquel avisou,
indo atender outros clientes que entraram no estabelecimento.
Peguei primeiro as bebidas e as coloquei na mesa. Em seguida
peguei os lanches.
— Três números dois — disse, entregando os lanches naturais
para as meninas —, um número três e dois números cinco... Sem
desconto especial — debochei após entregar o lanche de Cameron,
ele pegou encostando a mão na minha e deu um sorrisinho de lado.
— Oh, droga! Sou muito desastrada — disse a garota loira, que
estava com Cameron, após derrubar o próprio suco de uva na mesa
— Pode limpar aqui... Garçonete? — disse enojada e dando ênfase
na palavra garçonete.
Sorri após respirar fundo.
— Desnecessário, Melissa — a voz de Cameron afirmou.
— Foi sem querer, gatinho — a voz enjoada dela chegou aos
meus ouvidos.
Peguei o esfregão e o passei onde o suco havia caído.
Entreguei outro suco para a garota tentando conter a minha vontade
de simplesmente ir embora.
— Bom apetite! — desejei, afastando-me.
Levei os pedidos da mesa doze, a do casal de velhinhos e eles
sorriram e me agradeceram.
Raquel voltou para o caixa e me olhou.
— A senhora Payne está te chamando na sala dela — avisou.
— Ok, obrigada — agradeci, caminhando até o corredor.
O sininho novamente tocou, mas não me importei, apenas segui
adiante. Bati duas vezes na porta e a abri.
— Com licença, senhora Payne, mandou me chamar?
— Pode entrar. — Aproximei-me. — Sente-se. — Sentei-me e
ela me olhou. — Será seu primeiro emprego?
— Sem meus pais, sim. — Ela sorriu.
— Mas você sabe atender ao público, com seus pais era assim
também?
— Não. — Neguei com a cabeça. — Atendimento ao público eu
aprendi nos trabalhos voluntários, no Brasil.
A senhora Payne arrumou os óculos em seu rosto e me olhou.
— Isso é ótimo, minha esposa e eu fazemos trabalhos
voluntários também. Você vai revê-la em breve, é diretora de Liberty
High School, Helena. Vai estudar lá, não?
— Meu pai contou? — Ela riu.
— Conheço seu pai desde o fundamental, querida, é claro que
contou. Você começa amanhã, às 16h. O uniforme já é seu. Seu
turno será junto com Andrew, meu filho. — A porta se abriu no
mesmo instante em que ela disse o nome de seu filho.
Andrew, era claro que eu me lembrava dele, tinha tentado
roubar um beijo meu quando éramos mais novos e essa tentativa
fez com que Cameron começasse a bater nele.
— Mãe, a Raquel disse que...
Não consegui me virar, me mantive olhando para frente. A
senhora Payne se levantou e eu fiz o mesmo que ela.
— Filho, essa é Rebecca Malik. Rebecca, esse é meu filho
Andrew, acredito que já se conheçam — disse cordialmente.
— Becc…
— Prazer em conhecê-lo, Andrew — disse, estendendo a mão
para ele. Ele a apertou e logo me afastei.
— Vocês nunca se conheceram? Ele era amigo de Cameron e
sempre estava comigo nos eventos que sua família ia — Rosie
disse, desconfiada.
— Não me lembro, evitava ficar muito perto de Cameron e não
conheci muitos amigos dele, era muito nova, acredito — expliquei,
sorrindo.
O olhar de Andrew era de surpresa e ele estava quase sem
piscar.
— Bom, ela trabalhará no mesmo período que você — senhora
Payne explicou, caminhando até sua mesa, me virei de frente para
ela e Andrew parou ao meu lado. — Querida, Andrew te explicará
tudo aqui amanhã. Hoje foi apenas um teste. Bem-vinda a Goldens!
— Obrigada, senhora Payne. — Sorri animada, sentindo o olhar
de Andrew em mim.
— Pode me chamar de Rosie. Andrew, pode ir — pediu e ele
saiu, ela me olhou e eu franzi o cenho. — Vocês já se conheciam?
— Engoli em seco.
— Não exatamente. Só de vista, ele sempre foi da turma mais
velha que a minha e eu nunca ficava muito perto dele.
— E por que agiu como se nunca tivesse o visto? — questionou,
olhando em meus olhos.
— O Andrew que eu ouvia falar e que via na escola não era
exatamente uma pessoa legal — afirmei, olhando-a nos olhos. —
Desculpa a ofensa. Acho que já perdi o emprego — disse,
descontraindo o clima e ela riu, negando.
— Há muitas coisas que não tolero dentro do meu
relacionamento com funcionários — disparou — e a principal delas é
a mentira — concordei, ainda em choque pelas palavras
inesperadas. — Até amanhã, Rebecca.
Entrei no enorme prédio cinza com janelas verdes água. Passei
das portas de vidro e uma mulher alta me aguardava.
— Senhorita Malik? — chamou com sua voz grave. — Seus pais
já chegaram. Por favor, me siga.
Caminhei pelo corredor até às escadas. Subimos até o terceiro
andar e a mulher me trouxe até a diretória. Na porta estava escrito
“Mrs. López Payne”. Bati e entrei após alguns instantes. A diretora
se levantou e sorriu.
— Olá Rebecca, seja bem-vinda a Liberty — a cumprimentei. —
Sente-se, por favor.
A senhora López começou a falar sobre a escola, sobre como
funciona o ensino e os projetos da escola.
Após toda a conversa e instruções, fui direcionada para uma
sala de aula vazia onde seria aplicada uma prova apenas para ver
meu conhecimento nas matérias.
Meus pais bateram na porta antes que eu começasse.
— Já assinamos todos os documentos. Boa sorte na prova,
querida. — Minha mãe me abraçou.
— Depois da prova você vai conhecer a escola. Como foi na
entrevista? — meu pai questionou, um pouco mais ansioso do que
eu.
— Começo amanhã. — Eles sorriram e meu pai me abraçou.
— Ótimo. As aulas também começam amanhã para você.
Estamos orgulhosos, meu bem — minha mãe disse, sorrindo.
— Rebecca Malik? — uma mulher me chamou.
Me despedi e entrei novamente na sala.
Não sabia ao certo qual era o tempo que eles julgavam
necessário para fazer aquela prova, mas em vinte e seis minutos eu
tinha acabado.
Me deixaram sentada na diretoria por aproximadamente dez
minutos aguardando a aluna que iria me apresentar a escola.
— Rebecca — disse a inspetora Lívia, que me atendeu assim
que cheguei. — Essa é Natalie Styles, vai te apresentar a escola.
Olhei nos olhos verdes da garota. Minha ex-melhor amiga.
— E aqui estão os seus horários, seus livros estão no seu
armário, Natalie vai te mostrar qual é o seu armário, a combinação
está anotada no segundo papel. Bem-vinda à Liberty.
— Obrigada, inspetora Lívia — agradeci, olhando-a.
No momento em que ela se retirou, observei Natalie, sentindo
meu coração doer pela falta que sentia dela, mas não daria o braço
a torcer.
— Rebec...
— Só me mostra a escola, por favor — pedi sem olhá-la
diretamente, mas sabia que ela tinha concordado.
Natalie começou mostrando a melhor parte da escola: a
biblioteca. Em seguida os laboratórios, o refeitório, as demais salas,
o pátio de piscinas e por fim as quadras, até pararmos no campo
onde o time estava treinando.
— E esses são os Warriors, o nosso time que não perde nunca
desde que meu irmão se tornou o capitão — disse orgulhosa
olhando os meninos treinando.
Cameron olhou em nossa direção causando uma emoção
estranha dentro de mim que fez meu corpo esquentar. Ele tirou o
capacete e começou a caminhar até nós.
— Ah, não — murmurei, dando um passo para trás e Natalie riu.
— Ainda odeia ele?
— Podemos ir até meu armário? Preciso buscar meu irmão
depois daqui — pedi, com certa urgência em minha voz.
— Rebecca Malik, a garota que não me dá desconto especial —
anunciou rindo. — Sabia que ela trabalha na Goldens? — Ele parou
na minha frente e cruzou os braços. — Bem-vinda de volta.
— Devo ir buscar o esfregão caso sua namorada surte outra
vez? — Sua expressão mudou de esnobe e superior para
impaciente.
— Ela não é minha namorada.
— Isso não me importa — respondi, apenas para irritá-lo. —
Pode me levar até meu armário, Nat… Natalie? — questionei,
olhando-a.
— Claro — Natalie disse e eu a segui.
Porém, Cameron parou em minha frente me impedindo de
passar.
— Te atrapalhei ontem enquanto jogava basquete? —
questionou, aproximando o rosto do meu, me fazendo levantar o
olhar e minha fala simplesmente sumiu quando me recordei de sua
tatuagem.
— Cameron, vai jogar, vai — Natalie pediu. — Vamos? —
concordei ainda atônita e sob o olhar de Cameron. — Para a gente
ir você precisa começar a andar, criatura — Ela riu, puxando-me
pelo braço e quando a olhei, ela me soltou. — Desculpa.
— Tudo bem — disse, seguindo-a.
Natalie e Cameron tinham apenas meses de diferença de idade.
O pai deles engravidou as duas melhores amigas na mesma época.
Infelizmente a mãe de Natalie faleceu no parto e Elizabeth, a mãe
de Cameron, a criou como filha.
Entramos na escola e caminhamos pelo corredor, até meu
armário número setenta e sete. O penúltimo armário da segunda
fileira.
— Ah, droga — Natalie murmurou.
— O quê? — questionei, fazendo a combinação do armário e o
abrindo.
— O armário setenta e oito é do meu irmão — explicou.
A olhei incrédula, em seguida olhei para o teto.
— Sério isso, Deus? — Natalie riu.
— É só ignorar ele. — Dei de ombros arrumando os livros no
armário. — Então, você voltou para a Rua dos Alfeneiros?
— Sim, Natalie. Sou sua vizinha novamente — respondi sem a
olhar.
Por mais que eu tentasse não ser ríspida, não sabia bem como
reagir a aquele reencontro.
— Becca, a gente precisa conversar…
— Sobre?
— Sei que ter zombado de você foi errado, sei que não devia ter
contado a Andrew sobre você nunca ter beijado, pelo menos até
aquela época, mas isso já faz anos. — Ri, olhando-a.
— Natalie, não me importo de saberem que nunca beijei, isso
realmente não é um problema para mim. Mas você vacilou comigo e
me bloqueou em tudo, eu não te conheço mais, já faz dois anos e
você simplesmente fez com que eu não tivesse mais nenhum
acesso a você. — Fechei o armário e a olhei. — Eu não sai da sua
vida, você me tirou dela e não vou brigar por espaço, até que você
me coloque novamente na sua vida não temos o que conversar. Até
amanhã.
Caminhei pelo corredor sem fazer ideia de qual era a direção
correta a ser seguida.
— O estacionamento é pela outra porta, por essa você vai sair
no campo de futebol — Natalie disse, rindo.
— Eu sabia disso, ok? — Ri, passando por ela.
— Pode ir lá em casa hoje de noite? — questionou em voz alta
quando eu estava próxima de chegar na porta do estacionamento.
Respirei fundo.
— Te vejo às sete — avisei, empurrando a porta e saindo.

— Para onde vai? — Meu pai questionou, parando na porta


aberta do meu quarto.
— Na casa da Nat. — O olhei. — Achei que tínhamos um
acordo de você não esconder nada de mim sobre eles.
— E arriscar ter você reclamando durante a viagem toda por ser
vizinha dos Styles novamente? Não mesmo — brincou. — Fico feliz
que você tenha voltado a falar com Natalie.
— Ainda não sei. Vamos ver como vai ser hoje.
— Tudo bem e cuidado — afirmou, beijando o topo de minha
cabeça.
Para variar eu estava atrasada e o mais engraçado era lembrar
que a casa era do lado da minha.
Bati na porta e me virei de costas me espreguiçando até que
fosse atendida. Ouvi a porta se abrindo e quando me virei de frente
para ela, me deparei com os olhos de um babaca em minha bunda,
ele levantou o olhar, simplesmente largou a porta aberta e saiu.
Entrei de mansinho na casa me sentindo uma grande invasora
já que não fui recebida devidamente.
— Rebecca, meu Deus, como você está linda! — Elizabeth
disse animada assim que me viu. Sorri para ela e ela me abraçou.
— Tia Eliza, quanto tempo — disse, abraçando-a de volta.
— Arthur, venha ver a Rebecca — o chamou animadamente,
sem me soltar.
O homem loiro dos olhos azuis, uma versão mais velha de
Cameron, se aproximou de nós vestido com um avental azul
marinho.
O cheiro de doce invadiu o ambiente. Arthur estava com uma
panela, mexendo alguma coisa com uma colher de madeira. Mesmo
sendo o dono da maior indústria e comércio de doces, ele sempre
fazia questão de preparar doces para a família e aquilo parecia não
ter mudado.
— Nossa, nem parece a pequenininha que eu conheci há anos
— ele disse e sorriu, abraçando-me com o braço desocupado.
— Natalie está tomando banho, ela achou que você não iria vir
mais — Eliza explicou, trazendo-me até a cozinha onde Cameron
estava sentado no banco da bancada.
Olhei seus braços com algumas tatuagens que não eram
extravagantes, mas que o deixava estranhamente atraente.
O olhei, seus olhos me encararam de uma forma incomum e ele
olhou a única e pequena tatuagem que tenho no braço escrito que
sou diabética.
Fiz assim que descobri ser diabética e por precaução de passar
mal em algum lugar, sem uma identificação eu poderia correr o risco
de ser medicada incorretamente ou coisa pior.
— Quer experimentar um pouco? — Arthur questionou,
passando a colher na borda da panela.
— Tentador, mas não quero, obrigada.
— Você sempre amou meus doces — Arthur disse como se
estivesse decepcionado.
— Você é diabética — Cameron afirmou, olhando a tatuagem e
eu concordei balançando a cabeça.
Eliza e Arthur me olharam surpresos.
— Talvez eu faça um doce especial para você — tio Arthur
sugeriu calmamente, deixando-me surpresa porque as pessoas
normalmente agiam com piedade ao descobrirem aquilo.
— Um doce para a docinho — tia Eliza brincou, beijando o topo
de minha cabeça.
Me senti aliviada em não ter que fingir que não me incomodava
as lamentações por eu ser diabética.
— Você é muito amarga para uma diabética — Cameron
disparou, olhando-me, e eu precisei reunir todas as minhas forças
para não rir daquilo.
— E você é bem engraçadinho, devia deixar de ser capitão do
time e virar palhaço de circo, combina mais com você — retruquei,
sorrindo com sarcasmo.
Cameron me olhou com um sorrisinho de lado nos lábios.
— Cameron, eu não tenho palavras para descrever a sua
pessoa — Eliza disse aos risos e me olhou. — E parece que
algumas coisas nunca mudam — afirmou animadamente.
— Mãe, acho que ela não vem mesm... — Natalie, que estava
secando seus cabelos com uma toalha, parou de falar quando me
viu. — Você veio.
— Eu vim — repeti, sorrindo sem mostrar os dentes.
— Você chora água com açúcar, Malik? — Cameron
questionou; tio Arthur e tia Eliza tentaram não rir, mas ficaram
vermelhos de tanto segurar e acabaram explodindo.
— O quê? — Natalie questionou, franzindo o cenho.
— Filho, por favor — Eliza disse, tentando voltar a ficar séria.
Subimos para o quarto de Natalie, depois que eu decidi ignorar
Cameron, e ela me olhou.
— Eu tenho tanta coisa para falar, mas nem sei por onde
começar — disse, coçando a cabeça e nos sentamos na cama. —
Eu errei feio, muito feio, não devia ter contado uma coisa que você
confiou a mim. Fui muito otária só porque era apaixonada por
Andrew e nada a ver, ele gostava de você e eu não sabia que ele ia
usar aquilo para te zoar.
— Nat...
— Eu fiquei com tanta vergonha que te tirei da minha vida, te
bloqueei das redes sociais achando que as coisas ficariam
melhores, achei que você queria isso também, que eu sumisse da
sua vida. Fui burra e só quero que me desculpe. Eu, sinceramente,
nunca soube como... Como voltar atrás — disse e ela abaixou o
olhar.
— Você era apaixonada por Andrew? — questionei, franzindo o
cenho.
— Sério que você só escutou isso? — indagou incrédula.
— Sim, se apaixonar por ele era muita burrice, fala sério —
respondi naturalmente e ela riu dando de ombros.
— Infelizmente, eu fui — ela se deitou na cama e olhou para o
teto branco.
— Nossa, que vagabunda. — Seus olhos se arregalaram em
surpresa. — Me largou por causa de macho. — Natalie fez um
barulho como se tivesse engasgado e começou a rir sem parar.
— Me desculpa — pediu disse após se recompor. — Eu fui
muito inconsequente mesmo. Não pensei em nada, só em mim.
— Vou trabalhar com ele, se isso for problema para você, então
o problema é todo seu — disse amarrando meu cabelo em um
coque e ela gargalhou.
— Nossa, continua toda bruta, não é, garota? — Ri para ela,
dando de ombros. — Ninguém vai ficar entre nossa amizade. Foi
paixãozinha e eu queria a atenção dele por ser mais velho.
— Vocês tiveram algo? — Ela negou com a cabeça. — Você
ainda gosta dele?
— Não — disse, olhando desconfiada. — Vai ficar com ele?
— Eu só fico sozinha, querida — afirmei, fazendo-a rir.
— Por que o Cam perguntou se você chorava água com
açúcar?
— Porque eu sou diabética. — Ela me olhou confusa. —
Descobri faz um tempo. Achei que eles ficariam surpresos, sabe?
Mas seus pais e seu irmão agiram normalmente quando souberam
disso.
— Ah, sim, é porque não é incomum para a gente. Meus avós
paternos são, os dois. Meu avô é desde os 40 anos, então meu pai
está bem acostumado e Cam também porque morou com meu avô
durante um ano e cuidou dele e da vó. — Ela passou os dedos na
minha tatuagem. — Agora eu entendi.
— Não me surpreenderia você entender depois de dias comigo,
é tão lerda que me dói.
— Nossa, mas parece que já estamos bem, não é? — Rimos e
ela me olhou. — Senti sua falta. — disse e, finalmente, me abraçou.
— E eu a sua — afirmei, sentindo-me incrivelmente bem.
— Queridas, vamos jantar. Becca, não aceito um não como
resposta — tia Eliza disse me olhando.
— Sim, senhora.
Descemos as escadas e Natalie me trouxe até a sala de jantar
onde algumas coisas estavam postas à na mesa. Me sentei ao lado
dela.
Senti uma pressão que fez minha cadeira ir um pouco para trás.
Olhei na direção de onde vinha e Cameron apoiou a mão na borda
da cadeira enquanto colocava a tigela de salada na mesa. Seu rosto
ficou próximo do meu de uma forma que nunca havia acontecido
antes e eu me mantive imóvel. Ele me olhou, sorriu e se afastou, me
deixando confusa.
— O que foi isso? — Natalie questionou baixinho, olhando-me.
— O quê? — Olhei para frente e ela apenas riu.
— Vamos orar antes — disse tio Arthur.
Fizemos a oração e ao ser finalizada, percebi que eles fizeram
suco natural de limão com menos açúcar para mim.
— Vocês chegaram de viagem quando? — Tio Arthur
questionou.
— Faz uma semana — afirmei.
Cameron estava na minha frente e, por algum motivo, não
parava de me olhar, o que tornava horrível comer com ele me
olhando daquela forma.
— E Owen não me disse nada — Arthur reclamou.
— Meus pais quase não ficaram em casa nessa semana, minha
mãe estava resolvendo algumas coisas das lojas e meu pai estava
organizando as coisas do escritório — expliquei.
Olhei Natalie e ela estava olhando Cameron como se estivesse
falando algo para ele sem palavras.
— É bom que vocês tenham voltado, assim seu pai volta a ser
meu advogado — Arthur disse, fazendo-nos rir.
— E você, Becca, está trabalhando? — Eliza questionou.
— Ela trabalha na Goldens, mãe. Na lanchonete da mulher que
você deixou de ser amiga só porque ela é lésbica — Natalie
disparou.
— Agora não, Natalie — Arthur advertiu.
— Ela fez a escolha dela — Eliza tentou finalizar o assunto.
— Fez a escolha dela? — Natalie questionou e riu com ironia.
— Melhor fazer outra oração, pai — Cameron sugeriu, voltando
a comer.
— Por favor, parem com esse assunto. Não é hora! — Arthur
disse com firmeza.
Decidi voltar a comer. Sabia que Natalie sempre rebatia as
palavras da mãe e tinha acabado por me acostumar.
Meu cabelo, que antes estava preso em um coque, se soltou e o
joguei para trás discretamente. Levantei minha cabeça e Cameron
estava me olhando com os olhos semicerrados, como se
observasse uma escultura que o deixava admirado.
Um sorrisinho se formou em seu rosto, como se ele estivesse
hipnotizado e um frio extremamente desconfortável e incomum
surgiu em meu estômago. Ele passou a língua nos lábios e os
comprimiu em seguida, balançou a cabeça desviando o olhar e
voltou a comer.
Qual era o problema dele?
Depois do jantar, eu e Natalie decidimos voltar ao quarto dela e
aproveitarmos a minha volta. As horas se passaram tão rápidas que
quase não percebemos.
As dez e meia da noite, avisei que iria embora.
— Desculpa ter discutido com a minha mãe na sua frente, mas
ela é tão mente fechada que não dá! — Natalie disse enquanto
caminhávamos até minha casa.
— Sem problemas, no fundo nada mudou — eu disse,
abraçando-a.
— Só o jeito que Cam te olha — sussurrou e eu revirei os olhos.
— Ele ainda me odeia. — Ela me olhou, rindo.
— Sei. Não seja a vizinha pelada, o quarto de Cam é de frente
para o seu e direto os amigos dele vem jogar.
— Por que mudou de quarto? — questionei.
— O dele era o maior e eu precisava colocar minha máquina lá.
— Ah, sim, estilista agora. — Ela sorriu, dando de ombros. —
Até amanhã.
— Até.
A olhei até chegar em sua casa, onde tio Arthur estava a
aguardando. Acenei para eles e entrei em casa.
Dei boa noite para os meus pais e subi para o quarto.
Entrei no quarto, o vento balança a cortina da janela. Me
aproximei da mesma e quando a olhei, vi a imagem de Cameron.
Estava de costas para a janela, deixando amostra sua tatuagem, o
que me deixava assustada era a sensação de já ter visto essa
tatuagem em algum lugar, mas onde?
O primeiro dia de aula nunca era fácil, mas felizmente

encontrei minha sala após falar com a inspetora e não tive que

passar a vergonha de acabar na sala de aula errada. Bati na porta e

todos os alunos olharam pela janela de vidro no meio da porta na

parte de cima, o que me deixou ainda mais apreensiva.


O professor me atendeu, olhou meus horários e sorriu voltando
o olhar para mim. Todos da sala estavam, também, me olhando.
— Então você é a Rebecca Malik. Na reunião dos professores
todos ficaram admirados com as suas respostas na prova de
conhecimentos. Você não errou uma se quer — elogiou, dando-me
passagem. — Sou o professor Tomlinson de literatura inglesa, seja
bem-vinda à Liberty.
— Obrigada, professor Tomlinson.
— Mais uma nerd na sala — Cameron debochou e seus amigos
riram. Olhei para o fundo da sala.
— Mais um babaca que depende de nerd para ter notas boas na
sala — rebati e todas as risadas se transformaram em murmúrios.
O sorriso esnobe de Cameron se esvaiu.
— Esses nerds otários fazem porque querem, não porque eu
preciso! — rebateu Cameron, irritado.
— Então você admite receber lições, trabalhos e outras coisas
dos nerds? — questionei convencida.
O clima ficou pesado e eu me mantive firme o olhando. Seu
rosto ficou avermelhado, o professor, que estava parado ao meu
lado, o olhou com indignação e arrumou os óculos em seu rosto.
— Não foi isso o que eu quis dizer — Cameron tentou concertar
cerrando o punho e seu olhar estava frio.
— Sente-se, Malik. Styles, conversaremos depois — alertou o
professor Tomlinson.
Me sentei ao lado de uma garota, de cabelos pretos amarrados
em uma bandana, que estava no canto da parede, mas antes, vi o
olhar furioso de Cameron. Ele levantou a mão quando o professor
se virou de costas e me mostrou o dedo do meio, em resposta sorri
vitoriosamente.
— Prazer, me chamo Katherine Mendes, sou uma nerd otária.
— Ela me estendeu a mão e eu sorri em cumprimento.
— Sou Rebecca, uma nerd otária também. — Sorrimos e
voltamos nossa atenção para o professor.
Mas não demorou muito para que eu sentisse uma pressão em
cima de mim. Cameron estava com os olhos fixos em mim, quando
o olhei, ele se virou para frente balançando a cabeça
negativamente.
— Acho que alguém ficou bravo — Katherine sussurrou.
— Eu só dei a corda, ele se enforcou sozinho — afirmei, dando
de ombros e olhando para frente.

O refeitório estava lotado e barulhento, o que eu acreditava ser


um costume. A mesa do time era a mais barulhenta.
— Vamos para as arquibancadas? — Katherine questionou.
Natalie estava sentada na mesa das líderes, acenei para ela
com a cabeça e ela forçou um sorriso. Hoje discutimos, pois, ela
queria se sentar comigo no intervalo, mas sendo uma líder de
torcida todas precisavam ficar juntas de acordo com as regras da
capitã, Melissa.
Melissa, a namorada não namorada de Cameron, me olhou no
mesmo tempo que Cameron. Os olhos dele me seguiram enquanto
eu caminhava com Katherine para fora do refeitório.
Assim que passei pela mesa das líderes, Melissa se levantou e
se não tivesse dado um passo para trás, os lanches que estavam
em minha bandeja teriam caído em cima de mim.
— Então, você é a nerd sem noção — afirmou, olhando-me de
cima abaixo — e a garçonete — debochou. — Que tal me servir?
— Bom, que eu me lembre, estamos na escola e eu sou aluna
assim como você.
O refeitório pareceu parar, os olhares estavam em nós e o
silêncio dominou o ambiente.
Voltei a andar rumo ao campo de futebol americano.
Eu e Katherine nos sentamos nas arquibancadas.
Abri minha lata de coca pois tinha certeza de que minha diabete
estava baixa por conta dos remédios e pelo tempo que estava sem
comer.
Algumas pessoas acreditavam que ser diabético significava se
abster de todo o açúcar, lanches e outras coisas. Quando na
verdade o que precisamos mesmo é comer controladamente. Nem
muito, nem pouco. Um limite.
Claro que existem vários tipos de diabetes, mas com a que eu
tenho era basicamente isso, um limite. Visto que a diabete na
verdade era por conta do meu pâncreas não produzir a insulina que
eu preciso.
Mas confesso que era um descuido meu tomar Coca-Cola,
ainda precisava aprender muito com a vida de diabética.
— Melissa zombou de você por trabalhar em uma lanchonete?
— Aparentemente sim.
— Eles zombam por motivos nada ver. Ser classe baixa e
trabalhar em uma lanchonete não é motivo para isso.
— Ah, não sou classe baixa, na verdade — disse, rindo —
Estou trabalhando porque quero meu dinheiro. Meus pais são bem
financeiramente. — Ela me analisou por instantes.
— Malik — murmurou pensativa. — Ah, sei! Seu pai é advogado
da nossa família, eu sabia que conhecia seu sobrenome.
— E então, está aqui na escola há quanto tempo?
— Desde o meio do ano passado — disse, parecendo
desconfortável.
— Fez amizades? — Ela negou e o desconforto ficou ainda
mais nítido — Ok.
— É que...
— Não precisa falar se não quiser — afirmei, olhando para o
campo e vendo que Cameron caminhava em nossa direção.
— Prefiro que você saiba por mim. — A olhei. — Em um país
onde o cristianismo predomina, nem todos querem amizade com
uma macumbeira preta que perdeu a irmã para AIDS. — Ela me
olhou esperando pelo pior.
— Sinto muito pela sua irmã.
Ela me olhou sem acreditar.
— Eu também — murmurou.
— Não vou deixar de falar com você por causa de coisas assim
e quero que saiba que respeito sua religião — afirmei e ela sorriu.
— E eu respeito a sua. — Ela segurou minha mão, sorrimos e
nos soltamos.
— Silêncio, o babaca chegou — eu disse quando Cameron
parou em nossa frente, estava segurando um pote pequeno e
transparente com frutas cortadas dentro.
— Você não está facilitando, Malik — disse, olhando-me, e
subiu dois bancos. — Você não pode chegar achando que manda
em tudo!
Desci as arquibancadas parando no mesmo banco que ele.
— Eu não acho que mando em tudo. Isso aqui é uma escola,
não um ringue ou uma selva — rebati, olhando-o, ele coçou a nuca
e colocou o pote de frutas ao lado da minha coca.
— Você tem noção de que me ferrou? Os professores vão fazer
uma reunião e depois a diretora vai falar comigo — reclamou, mas
não parecia tão irritado quanto queria parecer.
— Eu te dei a corda, Cameron, você se enforcou!
— Vai ter volta — ameaçou, olhando nos meus olhos e deu um
passo para frente. — Se eu me ferrar, vou te levar junto.
— Ah, eu duvido — disse de forma desafiadora.
Ele deu outro passo para a frente, ficando extremamente
próximo de mim e me deixando ver o quanto ele estava forte e
radiante como um anjo.
— Não fica no caminho da Melissa, ela vai fazer um inferno na
sua vida — disse em um sussurro.
— Ela quem veio para cima, por causa de você. — Seus olhos
azuis me olhavam atentamente e ele riu, negando com a cabeça —
e desde quando você se importa?
— Não é com você que eu me importo, nerdzinha, é com a Mel
— afirmou, afastando-se.
Cameron desceu os bancos e foi quando ele virou a lata de
coca na boca que eu percebi que ele tinha trocado a salada de
frutas pela coca.
E eu precisei me conter para não gritar e expressar minha raiva
dele.
— Babaca — afirmei, sentando-me ao lado de Katherine.
— Ou vocês vão se matar ou vocês vão se pegar — ela afirmou.
— Que bonitinho, ele até trouxe uma colher — disse, apontando
para o pote de frutas.
— Pode pegar para você — ofereci, levantando-me novamente
pois o sinal tocou.
— Não, é seu — disse, levantando-se. — Muito bonitinho —
brincou ainda rindo.
— Katherine, me erra. — Ela riu, dando de ombros.
— Você e Cameron já tiveram algo? — questionou enquanto
andávamos.
— Graças a Deus não, e nem vamos. Nossos pais sempre
foram amigos, por isso tive a infelicidade de conhecê-lo.
— E vocês nunca se gostaram?
— Exatamente.
— Ah, sei — disse, rindo. — Qual é sua aula agora? —
questionou, colocando a bandeja junto das outras depois de jogar
fora os lixos e saímos do refeitório.
— Matemática.
— Ah, boa sorte. A senhora Horan é a melhor, vem, vou te levar
para a sala dela.
A professora ainda não havia chegado, observei a sala
entendendo que teria outra aula com Cameron.
Caminhei até a rodinha do time e deixei o pote de frutas em sua
mesa. Os meninos do time me olharam e eu saí andando ainda
sentindo seus olhares, mas Cameron não disse absolutamente
nada.
— Oi, tem alguém sentado aqui? — questionei ao garoto de
olhos puxados que estava desenhando algo no caderno.
— Não, fique à vontade — disse, olhando-me. — Uau. — O
olhei confusa. — Desculpa, mas você é muito linda. — Sorri
envergonhada.
— Obrigada — agradeci, abaixando a cabeça. Ele sorriu e
voltou a desenhar. — Sou Rebecca Malik.
— Sou Neji Mizuki. Prazer.
— Boa tarde, turma, abram o livro página 243 — a professora
disse, entrando na sala. — A famosa Rebecca Malik — anunciou,
aproximando-se da minha mesa. — Não tem um professor que não
esteja falando bem de você depois da prova que você fez. É um
prazer tê-la em Liberty!
— Obrigada, professora Horan. — Ela sorriu para mim e se
aproximou da lousa.
Por instinto, olhei para trás vendo Cameron sentado com o
braço esticado na cadeira ao lado. Ele olhou na minha direção e na
mesma hora olhei para frente.

— Por que você não aceitou minha salada de frutas? — Natalie


questionou, cruzando os braços. — Trate de comer, dona Malik! —
disse, estendendo-me o potinho de frutas.
— Seu irmão quem trouxe, achei que estava envenenada ou era
alguma zoeira dele. — Ela olhou para o nada e riu.
— É compreensível — admitiu.
— Precisa de carona? Aproveita hoje que amanhã eu venho de
moto — alertei aos risos, destravando o carro e entrando no mesmo.
— Está andando de moto agora? — questionou, entrando no
carro.
— Sim, desde o ano passado — afirmei, dando partida.
— Você foi muito corajosa com Melissa. — Dei de ombros. —
Ela vai fazer um inferno na sua vida.
— Tudo bem, sei lidar com pragas, li a parte da bíblia que fala
sobre as pragas do Egito, acho que sei me defender — brinquei,
rindo.
— Idiota! — Rimos. — Ela deve estar te vendo como ameaça.
— Por qual motivo eu seria uma ameaça para ela que mal me
conhece? — Ela me olhou por instantes, procurando as palavras
certas para começar. — Me diga que não é pelo seu irmão — pedi.
— Não, vai além dele. Cameron sempre foi um meio de
conseguir a atenção da diretora, por conta da amizade que ela teve
com os meus pais, e por isso Melissa, Karen e outras o usam como
ponte. Isso porque para Melissa esse é o ano em que ela precisa de
uma carta de recomendação e, bom, Cameron só precisa estralar os
dedos para conseguir uma. O ponto é que sem ele, elas acham que
a diretora vai deixá-las de lado e Helena faz isso mesmo, nossas
famílias têm privilégios e é por isso que as meninas podem reagir
negativamente a sua chegada. A importância em Liberty é medida
pela condição financeira — admitiu.
— Isso é ridículo.
— Eu sei — concordou.
A deixei em casa e depois de um banho fui para a lanchonete.
Raquel ainda estava atendendo e foi o tempo suficiente para entrar
no banheiro e vestir meu uniforme. Assim que sai, esbarrei em
Andrew.
— Estava te procurando — disse Andrew abrindo um sorriso.
— Pois achou. — Rimos.
— Vem, vou te mostrar o seu armário.
Andrew, após mostrar meu armário, me apresentou para o
pessoal da cozinha, o Bob, Joe e a Freya. Em seguida me
apresentou as duas mulheres que cuidam da limpeza do
estabelecimento, mostrou como funcionava o caixa e quais são os
lanches especiais de cada dia.
Amarrei o cabelo enquanto ele me explicava as coisas e ele
parou me olhando assim que terminei de arrumar o cabelo.
— O que foi? — questionei assustada.
— Você está linda — disse com um sorrisinho fofo.
— Obrigada — agradeci, desconfiada.
— Já estou liberada então? — Raquel questionou.
— Sim, Raquel — Andrew disse, um dos meninos da cozinha o
chamou e ele se afastou de nós.
— Bem-vinda ao Goldens, acho que não a recebi direito ontem,
desculpe — Raquel disse e eu a olhei.
— Sem problemas.
— Certo — ela sorriu e começou a caminhar na direção do
corredor, mas voltou o caminho — e... Muito cuidado com Andrew, a
namorada dele é um pouco… ciumenta e ele, bom, eu devo ter sido
o vigésimo chifre que ele deu nela, então ela tem motivos. —
Arregalei os olhos.
— E você já confiou de me contar?
— E você vai contar para quem? — questionou, rindo, e eu
acabei rindo também. — Até amanhã, bom trabalho — disse,
caminhando pelo corredor.
— Até, e obrigada.
A observei se afastar, um pouco confusa com o que tinha
acontecido.
Andrew retornou para próximo de mim e me analisou.
— Algum problema? — indagou, encarando a porta que eu
antes estava olhando.
— Não, nenhum.
Meu dia havia sido cansativo e ótimo para um primeiro dia de
trabalho. Normalmente, eu sairia as oito horas da noite, porém, hoje

sai às dez, pois Andrew e eu estávamos organizando algumas

coisas após o horário de expediente.


Um telefonema afligiu meu coração de uma forma ruim,
principalmente com o desespero na voz de quem me ligava.
— Por favor, Natalie bebeu demais, não sei onde ela mora, só
por favor, vem! — Katherine disse respirando pesado e ofegante.
— Mas onde vocês estão? — questionei me afastando de
Andrew que estava fechando a lanchonete.
— Estamos na... Ah, não Nat, droga! Estamos na Lowenville,
234, na casa do Peter Cole. Vem rápido, ela está mal!
A ligação simplesmente foi desligada.
— Aconteceu alguma coisa? — Andrew questionou se
aproximando de mim e eu o olhei concordando.
— Preciso ir na casa do seu primo, Peter — expliquei —, mas
não sei exatamente onde fica. Se importa em....
— Não me importo, estou sem carro mesmo — ele riu, mas não
consegui sorrir de volta e caminhei a passos rápidos até o carro.
Andrew me olhava apreensivo enquanto eu dirigia, porém não
me questionava de nada. Ele explicou o caminho até Lowenville e
eu dirigi rapidamente de uma forma que meu pai adoraria e minha
mãe faria uma palestra falando sobre os perigos de dirigir assim.
Um jipe com vários adolescentes da minha idade parou na
frente da casa que estava lotada até o quintal.
— Meu Deus — murmurei saindo do carro e Andrew parou ao
meu lado. — Natalie está passando mal em algum lugar dessa casa.
— Conheço bem aqui, posso te ajudar — se voluntariou.
— Seria ótimo — admiti.
— Vem — chamou.
Andrew parou na minha frente, pegou em minha mão, começou
a afastar as pessoas abrindo passagem e até cumprimentando
algumas, essas mesmas pessoas me cumprimentavam ou me
olhavam estranho.
— Malik? — Ouvi a voz de Cameron me gritando.
Soltei a mão de Andrew sem conseguir me lembrar em qual
momento ele pegou em minha mão.
— O que está fazendo aqui? — questionou se aproximando —
E com esse cara — ele olhou Andrew com fúria e enojado.
Olhei os dois garotos que pareciam exalar um cheiro de
confusão, conflito e problemas. E eu definitivamente não precisava
de nada daquilo.
— Onde está Natalie? — questionei em voz alta, mas Cameron
e Andrew estavam com os olhos fixos um no outro.
Me coloquei entre os dois garotos. Andrew deu um passo para
trás e Cameron continuou me olhando, que péssima ideia a minha!
Estávamos próximos, muito próximos.
— Natalie está passando mal! Precisamos achá-la! — Cameron
me olhou no mesmo instante e concordou.
Subimos as escadas e vi Katherine na frente de uma porta
fechada, ela suspirou aliviada me chamando com um aceno de mão.
Caminhamos até ela que abriu a porta. Quando Andrew ia
entrar no quarto, Cameron se colocou em sua frente.
— Minha irmã, minha responsabilidade, pode vazar — disse
ríspido.
— Não vim aqui por você, nem pela sua irmã. Vim ajudar a
Becca — Andrew disse no mesmo tom que Cameron.
— Parem de ser assim, que inferno! A prioridade aqui não é
nenhuma confusão entre vocês — esbravejei entrando novamente
entre os dois, dessa vez os afastei com a mão no abdômen de cada
um e afastei as mãos rapidamente. — Cameron, sua irmã é
prioridade, então por favor — o olhei; ele olhou Andrew, me olhou e
entrou no quarto — Obrigada Andrew, me desculpa pelo...
— Tudo bem. Vou ver se encontro meu primo — afirmou.
— Novamente, obrigada.
— Até amanhã — disse antes de caminhar pelo corredor.
Entrei no quarto vendo que Natalie estava sendo carregada por
um garoto com traços parecidos com o de Katherine enquanto ela
estava tentando organizar o quarto.
— Vocês podem ir levando-a para o carro. Eu termino de
organizar aqui — pedi vendo a bagunça que estava na cama e
Natalie estava apagada. — Acordem ela lá fora e a façam beber
água, por favor.
— Ok — Katherine e o garoto disseram juntos e saíram com
Natalie.
Comecei a pegar as coisas que eram de Natalie enquanto
Cameron estava me olhando. Só então percebi que ele estava sem
camisa e com tinta preta em duas listras horizontais em cada
bochecha.
— Vai ajudar eles — disse pegando os sapatos de Natalie.
— Ela está com as melhores pessoas que poderia estar agora
— o olhei confusa e ele se deitou na cama de solteiro antes que eu
pudesse arrumá-la, revirei os olhos o vendo sorrir. — A família da
Kath é de médicos, os melhores na verdade. Inclusive o irmão dela
vai se formar na área.
— Aquele é o irmão dela? — questionei e ele concordou, o olhei
por segundos, vendo que ele era inegavelmente bonito. — Enfim,
preciso ir ajudar a minha amiga, já que o irmãozinho nojento dela só
pensa em si mesmo.
— Eu não penso só em mim — retrucou se levantando
enquanto eu já estava próxima da porta — Também penso no time
— ele riu abrindo a porta para mim. — Vou com você.
Dei de ombros saindo do quarto. Em segundos Cameron estava
descendo as escadas comigo enquanto colocava uma blusa preta.
Estávamos chegando na porta de saída quando ela foi fechada e
trancada, em seguida tudo ficou escuro e as pessoas começaram a
gritar.
— PUXOU BEIJOU — ouvi um grito de uma voz masculina.
Senti alguém me puxando e minha primeira reação foi golpeá-lo
com um soco no rosto, mas quando fui empurrada para um
almoxarifado com coisas de limpeza e a luz se acendeu mostrando
Cameron com a mão no rosto eu vi que aquela havia sido a minha
melhor reação.
— Caramba, precisa bater? — Ele tirou a mão de cima do olho
e bateu à porta, irritado, a fechando.
— Achei que ia me beijar — expliquei rindo por vê-lo irritado e
me encostei em uma prateleira.
— E qual é o problema, garota? — Ele se encostou na porta.
— Por que vou beijar alguém que não quero beijar? —
questionei.
Ele riu cruzando os braços, pensou um pouco e deu de ombros
fazendo uma careta engraçada.
— É, faz todo o sentido — admitiu.
— Até que horas vai esse apagão? — Ele olhou no relógio em
seu pulso.
— Em dez minutos acaba.
Apenas concordei em um balanço de cabeça e comecei a olhar
o almoxarifado esperando que o tempo passasse. Cameron me
olhava e desviava o olhar.
— Ok, vou sair mesmo assim, minha amiga está lá fora
passando mal — disse farta me aproximando da porta e girando a
maçaneta, mas Cameron se manteve encostado na porta, me
impedindo de abri-la.
— Você continua a mesma chata, teimosa e insuportável que
era antes de ir embora — disse com tom esnobe e cruzou os
braços.
— Você continua babaca, prepotente e egocêntrico que era
antes de eu ir embora — rebati e ele me olhou.
— Nerd insuportável, não vamos sair agora e pronto — disse
me afastando com uma mão em minha cintura.
— Me erra, Styles — o empurrei da frente da porta.
No mesmo instante em que a abri, a música e a luz voltaram.
Não olhei para trás, apenas sai do almoxarifado indo até a porta de
saída da casa.
Me deparei com Katherine e seu irmão sentados na calçada.
Natalie estava com a cabeça no colo do irmão de Katherine e ele
estava tentando fazê-la beber água.
— O que aconteceu com vocês? Por que demoraram? —
Katherine questionou me olhando.
Olhei para trás vendo Cameron a pouca distância de mim.
— Teve o apagão — ela sorriu maliciosamente revezando o
olhar entre mim e Cameron, a olhei incrédula. — Enfim, Nat vai para
a minha casa, Cameron vai avisar os pais de que ela dormiu lá e
esqueceu de avisar. Amanhã vemos o que fazer. Kath e... — Olhei
seu irmão.
— Nathan — disse o garoto.
— E Nathan, obrigada pela ajuda e desculpa a trabalheira.
Cameron, pega a Nat para colocá-la no carro.
— Mandona como sempre — resmungou e eu o olhei.
— Vai ou não? — Ele riu negando com a cabeça e ajudou
Natalie a se levantar.
— Hospital, quero ir para o hospital — Nat disse no idioma
norueguês.
Katherine e Nathan a olharam confusos, apenas eu e Cameron
a entendemos, eu não sabia falar norueguês, mas entendia algumas
coisas graças a minha infância com os Styles.
— Norueguês — Cameron disse a pegando no colo — Ela fala,
principalmente quando está bêbada.
— Vocês vão embora tranquilamente? Ou precisam de carona?
— questionei olhando os irmãos Mendes.
— Estou de moto — Nathan disse.
— Bebeu? — O analisei e ele negou rindo.
— Relaxa meu bem, não bebi.
Me despedi e caminhei até o carro.
Cameron colocou Natalie no banco de trás do carro e se sentou
no banco do passageiro. O olhei, o analisando.
— Você não parece bêbado — ele riu.
— Não bebi — disse e me olhou.
— Natalie quem pediu para vir? — questionei dando partida.
— Pediu, mas a proibi, sei que não é ambiente para ela.
— A proibi — repeti com ironia. — Mas é ambiente para o
machão que você é — debochei e ouvi sua risada.
— Não, não é isso. Nessas festas sempre tem drogas e
bebidas, Natalie não devia ficar nisso.
— Nem você — afirmei.
— Qual é o problema em estar em uma festa? Você não gostar
não significa que os outros não vão.
— Em nenhum momento disse que você não podia gostar, não
tem nada a ver com isso e não vou partir do fato da maioridade para
bebidas alcoólicas porque poucas pessoas seguem isso na nossa
idade. O que quero dizer é que você mesmo quem falou sobre tem
drogas e a gente sabe que é muito fácil cair em um vício. Não
precisa de muito para entender que cocaína, LDS, heroína e
alcoolismo não fazem bem e podem te viciar. Não falo de beber, falo
de não ter controle — ele ficou me observando por instantes.
— Eu não uso nada dessas coisas — rebateu.
Apenas o olhei e dei de ombros.
Sai do carro, ele fez o mesmo e conseguimos tirar Natalie.
Por incrível que pareça, fiquei feliz pelos meus pais terem
viajado justamente hoje, teria que falar a verdade para eles e seria
pior para Natalie pois eles não esconderiam dos Styles, minha mãe
talvez, mas meu pai não esconderia do melhor amigo dele.

Com muita dificuldade, consegui dar um banho em Natalie que


caiu desmaiada em um sono na minha cama depois de me xingar
em norueguês pela água gelada.
Depois de tomar banho e vestir meu pijama, comecei a sentir
tontura pela fome.
Desci as escadas cambaleando me lembrando da última vez em
que comi as seis da tarde e agora já era a madrugada do dia
seguinte, então, a minha glicemia estava baixíssima.
— Ei, você está aqui aind…
Minhas forças se esvaíram, sentia que ia cair, mas Cameron me
segurou.
— Pega minha coca, por favor.
Ele me sentou no sofá e foi até a cozinha. Não era o indicado,
mas Coca-Cola ajudava a subir minha glicemia, mas às vezes subia
demais e minha diabete ficava tão alta que precisava tomar a mais
do remédio.
Cameron voltou com a minha xícara do Naruto e, sem pensar,
bebi do líquido sentindo o gosto de achocolatado.
— Tinha pedido coca — reclamei aos risos —, mas obrigada.
Depois de dez minutos, aos poucos comecei a ficar bem, com a
glicemia voltando ao controle.
— Eu sei o que você pediu — ele riu quando o olhei. —
Mandona.
— Babaca — resmunguei olhando para o teto.
— Nerd insuportável.
— Quarterback egocêntrico.
— Pelo menos os apelidos mudaram — Cameron comentou me
fazendo rir.
— Vai dormir aqui?
— Não quero me explicar para os senhores Styles — me
levantei —, mas vou para a casa — ele se levantou.
— Ok — caminhei até a porta e a abri.
— Até amanhã, nerd mandona — provocou passando por mim,
revirei os olhos rindo e quando ia fechar a porta, ele a segurou —
Aliás, a diretora soube sobre as minhas notas e perguntou se eu
tinha alguém em mente para me ajudar — ele sorriu vitoriosamente.
— Espero que você não se importe.
— Cameron, o que você fez? — O olhei assustada e furiosa.
— Até amanhã, caramelinho — disse descendo as escadas da
frente de casa.

Uma semana depois...


Em uma semana algumas coisas mudaram na minha vida e na
da minha família. Meus pais, por exemplo, contaram para mim e
meu irmão sobre a adoção de um casal de gêmeos que estavam
tentando desde nossa estadia no Brasil e que finalmente saiu,
depois de alguns anos na fila de espera. Duas crianças em nossa
casa mudaram absolutamente tudo em pouquíssimos dias com a
gente.
— Senhorita Malik, a diretora a aguarda na diretoria — disse a
inspetora depois de atrapalhar a aula de história.
Sai da sala ouvindo um "uhhh" dos alunos, como se eu
estivesse encrencada e talvez eu estivesse, Cameron não estava
aula e ficou uma semana me lançando sorrisinhos vitoriosos. O que
era extremamente insuportável.
Bati na porta da diretoria e a abri pedindo licença. Pelo menos
só a diretora estava presente. Nada de Cameron e eu esperava que
aquilo fosse algo bom.
— Olá Rebecca, sente-se. Fique à vontade — disse sorrindo.
Fechei a porta e me sentei de frente para a diretora sentindo um
estranho nervosismo.
— Aconteceu algo?
— Não, minha querida. O professor Tomlinson me informou
sobre você ter feito Cameron confessar que recebe trabalhos de
alunos. Já desconfiávamos, mas não tínhamos nenhuma prova e
não podíamos acusá-lo. Até você fazê-lo admitir e, claro, isso teve
consequências — ela me olhou por instantes.
— Com todo respeito, diretora López, não estou disposta a
ajudá-lo.
— E por que não? — questionou me olhando.
— Eu e ele não nos damos muito bem, não me sinto à vontade
com ele, não tenho interesse em ajudá-lo e depois da escola eu
preciso ir trabalhar.
— Vocês estudariam na biblioteca dás 13 as 15h, não te
atrapalharia pois não são horários de aulas e sim de projetos e
treinos do time. Você só sairia meia hora depois do horário normal
— explicou.
— Ainda prefiro os projetos — disse firme, ela me olhou e sorriu.
— Entendo. Minha querida, Cameron disse que você teria todos
os argumentos para não o ajudar, também me disse sobre a relação
entre vocês e é justamente por isso que você é a mais indicada para
ajudá-lo — franzi o cenho. — Qualquer garota da escola que ir
ajudá-lo nos estudos, ficando só os dois na biblioteca poderá
resultar em atividades... proibidas — soltei a respiração me
encostando na cadeira. — Como já aconteceu.
— E ele continua na escola? Isso não leva a expulsão?
— Esse não é o ponto — rebateu, deixando claro que havia
ocultado as coisas erradas que Cameron fez. — Pense a respeito —
ela pegou alguns documentos. — Seu pai me disse sobre você
querer ir para Stanford, tenho contatos lá, se me ajudar, eu te
ajudarei.
— Meu problema não é ajudar a senhora e sim ele — olhei para
a janela, vendo que ele estava encostado em um muro conversando
com uma garota. — Ele não escuta ninguém, ele faz o que quer, é
egocêntrico, teimoso, arrogante, incrivelmente difícil de lidar e,
muito, muito orgulhoso, ele sempre quer sair por cima.
— Então isso é um não — afirmou rindo. — Você me lembra
muito sua mãe, determinada igual ela, mas é direta como Owen —
sorri dando de ombros. — Pode ao menos pensar sobre o assunto e
falar comigo segunda?
— Sim, claro.
Sai da sala da diretora e era hora do intervalo. Não havia no que
pensar. Eu e Cameron no mesmo ambiente com certeza resultaria
em morte!
Desci as escadas decidida a não ir para o refeitório. Parei no
meu armário para guardar os livros e no mesmo instante ele,
Cameron Styles, entrou pela porta que dava para o estacionamento.
— Vai indo lá, gata — o ouvi falar e senti uma vontade enorme
de sair correndo.
— Não vai comer? — Melissa questionou.
— Depois.
Fechei meu armário e ele estava parado me olhando. Arqueei a
sobrancelha o olhando.
— Pois não?
— Falou com a diretora? — questionou se aproximando.
Olhei na máquina de refrigerante que tinha próximo ao corredor
do refeitório vendo os cabelos loiros de Melissa que estava nos
espionando e aquilo não me deixou nada surpresa.
— Sim — o olhei.
— Vai aceitar? — Olhei nos olhos dele.
— Não — a esperança em seu olhar se apagou. — Você
mesmo disse que eu seria uma das únicas pessoas que não
transaria com você e nisso você está certo, eu posso exigir algo em
troca e já até pensei no que, mas — o puxei até a máquina de
refrigerante o fazendo ver Melissa e ela nos olhou assustada dando
um gritinho de surpresa — não vou me sujeitar a coisas assim. Ex-
namoradas, ficantes ou seja lá o que for em cima de mim por você.
Fora que, dois minutos juntos já vamos saber a péssima ideia que
seria eu te ajudar. Encontre outra pessoa, Cameron.
Caminhei até o estacionamento, subi na moto e quando peguei
o capacete Cameron parou na minha frente.
— O que você pediria em troca?
Suspirei dando de ombros, decidida a falar.
— Meu irmão sempre quis aprender a tocar violão, ele precisa
de alguém para treinar Jiu-jitsu sem ser expulso e tem que fazer
esportes também, enfim, você faz tudo isso e eu chego tarde em
casa, sei nada de Jiu-jitsu e para esportes que ele gosta, bom, para
mim não tem como, mas isso não vai acontecer, vou dar outro jeito.
— Rebecca — ele apoiou as mãos no guidão da moto —, a
gente consegue colocar as diferenças de lado e ambos vão sair
ganhando.
— Você vai parar de ser orgulhoso? — Ele franziu o cenho —
Não percebe? Você não pede ajuda, jogou essa para a diretora, não
consegue falar um Rebecca, eu preciso da sua ajuda, você sempre
quer sair por cima e por isso não dá o braço a torcer. Você é bom
demais para pedir ajuda?
— Eu não pedi ajuda?
— Em que momento? Tudo o que você falou foi a diretora falou
com você? Vai aceitar? Quando, de verdade, você falou que quer ou
precisa da minha ajuda?
— Você quer que eu me humilhe? — Ele ficou com a coluna
reta — Não mesmo, Malik — disse ríspido.
— Você é um arrogante mesmo! Pedir ajuda não é se humilhar
seu completo idiota! Eu admiti que precisava de ajuda por querer o
bem do meu irmão e você não consegue admitir que precisa de
ajuda para o seu próprio bem. Cameron, sai da minha frente —
coloquei o capacete.
— Becc...
Não o deixei terminei, virei a moto desviando dele e acelerei.

— Filha, vem jantar — minha mãe me chamou.


Desci as escadas me deparando com os Styles. Os
cumprimentei e me sentei ao lado de Natalie.
— Você não vai acreditar no que Cam fez — ela riu.
A olhei séria e sem saber o que me esperava. O jantar foi posto
à mesa, a bebê conforto de Louis, meu irmãozinho adotivo, estava
ao meu lado e o de Eloise estava ao lado de minha mãe. Ele estava
sempre acordado, enquanto Elo estava sempre dormindo. Eles
eram lindos e eu me apaixonei assim que meus pais os trouxeram.
A viagem que fizeram na semana em que Natalie passou mal foi
para a adoção dos gêmeos, que chegaram no orfanato há alguns
meses e meus pais conseguiram adotá-los.
Após orarmos, começamos a nos servir, meu pai e tio Arthur
estavam conversando sobre negócios e não nos deu atenção.
— Cameron vai dar aulas de violão para Isaac, querida —
minha mãe me disse e o garfo caiu de minha mão, chamando a
atenção de todos.
Rebecca 0 x 1 Cameron.
— Ahn... desculpa — pedi pegando o garfo.
Olhei Cameron, que me lançou um sorriso.
— Vai me ajudar nos esportes e em Jiu-jitsu também — Isaac,
que estava ao lado de Cameron, disse animado e meu sangue
ferveu. Cameron me olhou vitorioso e com um sorriso sarcástico.
Rebecca 0 x 100 Cameron.
— Que ótimo que encontrou alguém para te ajudar, irmão —
sorri mostrando animação — e você, Cameron — enchi meu copo
com coca cola —, já achou alguém para te ajudar com as notas?
O sorriso de Cameron se esvaiu.
Meus pais me olharam e os de Cameron o olhou.
— Você não dá um tempo, Malik! — Disparou quase que em um
rosnado.
— Não vai ser do seu jeito que as coisas vão funcionar, não
dessa vez, Styles — rebati sem desviar o olhar.
— O que está acontecendo? — Meu pai questionou.
— Nossos filhos vão namorar — tio Arthur disparou me fazendo
engasgar com a coca e tossir.
Natalie gargalhou alto.
— Namorar? — Nossas mães questionaram juntas e riram.
— Ia ser legal — Isaac afirmou.
Revirei os olhos. Quando olhei Louis, ele estava com os olhos
abertos e sorrindo, abriu a boquinha como se quisesse falar.
Louis, seu traidorzinho!
— Nem ferrando — Cameron rebateu.
— Olha a boca — tia Eliza repreendeu.
— Becca não discordou — Natalie disse se fingindo de sonsa
enquanto bebia a Coca-Cola.
— Se eu discordar vocês não vão acreditar, mas sei que eu
jamais teria qualquer coisa com ele.
— Aram — minha mãe debochou.
— Eu acredito em você — meu pai disse fazendo todos rirem.
— Você não vale — Arthur disse.
— Certo, mas que história é essa das notas, Cameron? — Eliza
questionou o olhando.
O olhei com um sorriso vitorioso, ele negou com a cabeça me
olhando e passou a mão no cabelo ficando com as bochechas
coradas, acredito que de raiva.
Rebecca 100000 x 0 Cameron.
Era terça-feira e eu não fazia ideia de como tinha conseguido
enrolar a diretora por não ter uma resposta sobre Cameron.
— Dona Rosie — chamei minha patroa me aproximando dela
depois de limpar as mesas, estávamos prestes a fechar a
lanchonete. Como Andrew não ficou hoje, ela quem iria fechar a loja
comigo.
— Sim — ela me olhou quando me aproximei, estava atrás da
bancada do caixa.
— Quando a senhora disse que não aceitava namoro entre
funcionários, foi pelo seu filho, certo? — Ela concordou com um
balanço de cabeça — Ah...
— Por quê?
— Acho que quem devia receber essa advertência era seu filho,
principalmente por ele namorar — disparei sem pensar.
Ela riu e eu senti que perderia o emprego.
— Sempre direta — afirmou.
— Desculpa, não quis ser... Grossa e inconveniente — fiz uma
careta.
— Meu filho é um tanto difícil, conversar e brigar não resolve.
— Sendo difícil ou não, traição é caráter, não o gênio de alguém
— disse baixinho para que ela não ouvisse enquanto limpava a
bancada.
— Obrigado por dizer que não tenho caráter — a voz de Andrew
ecoou atrás de mim. — Você não pode chegar para minha mãe —
me virei de frente para ele e ele parou próximo de mim — e falar
isso, você nem me conhece — disse ríspido.
O encarei, o olhando nos olhos por instantes até que ele
desviou o olhar. Meus pais me entenderiam por perder o emprego,
considerando que eles nem me queriam trabalhando agora.
— Você tem toda a razão, isso justifica tudo — disse sem conter
a ironia — Estou dispensada, dona Rosie?
Ela concordou e eu tive a sensação de que seria mandada
embora a qualquer momento porque não conseguia calar a boca.

Entrei no refeitório com Katherine e Neji, que discutiam sempre


que estavam juntos por motivos que ninguém entendiam visto que
eles se conheciam há tão pouco tempo e já se implicavam como eu
e Cameron, a diferença era que eles ainda conversavam
tranquilamente.
— Você quer sempre ser a dona da razão, quem te aguenta? —
Neji questionou se sentando ao meu lado e Katherine se sentou em
minha frente.
— Se você estivesse certo, não estaria errado — Katherine
rebateu revirando os olhos, acabei rindo deles.
— Vou pegar os lanches e Neji, desculpa, mas essa discussão
já foi ganha. Larry existiu sim, só não vê quem não quer e você só
discorda porque Kath concorda que existiu — ri para eles.
Ela fez expressão de vitoriosa e eu me levantei batendo de
frente com Cameron Styles que derrubou todo o lanche em mim.
O refeitório ficou barulhento por risadas e os olhares estavam
em nós. Minha blusa azul claro estava cheia de molho.
— Tinha que ser — disse controlando a respiração e tirando o
pão do hambúrguer que estava colada com molho em minha
clavícula.
Coloquei o pão em sua bandeja. Puxei minha bolsa e sai do
refeitório o mais rápido possível indo até o banheiro.
Droga de molho!
Amarrei meu cabelo e comecei a me limpar.
— Amiga, meu Deus — Natalie disse entrando no banheiro com
Katherine.
— Ah, droga, pior que nem tenho uma blusa reserva —
Katherine se queixou.
O molho parecia ter impregnado em minha blusa. E aquele
babaca nem se quer pediu desculpas. Não estava brava, na
verdade, não era algo que ele ou eu podíamos controlar, também
não lhe dei tempo de pedir desculpas, mas era inevitável não ter
algum conflito com Cameron.
— Eu tenho, mas é bem curta, pode ser? — Natalie questionou.
— Se tivesse sujado só a blusa de baixo estava tranquilo, mas
não, sujou a de frio também, eu vou passar frio — reclamei vendo
meu casaco sujo e molhado por estar tentando limpá-lo.
— Malik — Cameron chamou com a voz mansa.
O olhei através do espelho e ele estava com um moletom preto
do Paris Saint-Germain em mãos. Ele olhou Natalie que saiu
puxando Katherine, ela estava quase babando olhando Cameron e
eu me questionei quando foi que isso aconteceu.
— Isso não é um banheiro unissex, Styles — disse ainda o
olhando pelo espelho.
— Rebecca — chamou com firmeza — não foi minha intenção
— me virei o olhando. — Me desculpa, não queria mesmo — o
encarei por instantes vendo que seu olhar era firme em mim e seus
olhos estavam bem azuis.
Soltei a respiração, me rendendo, pois sabia que de fato não
tinha sido intencional.
— Tudo bem.
— Toma — ele me estendeu o moletom preto.
Franzi o cenho.
— Você é insuportável com suas blusas de time, mas obrigada
— me virei para a pia voltando a limpar a blusa que estava em meu
corpo.
Cameron parou atrás de mim e colocou o moletom em cima do
meu casaco na pia.
— Você não tem muita escolha — ele riu e simplesmente saiu
do banheiro.
Eu jamais admitiria em voz alta, mas ele estava certo. Ou eu
passava frio e ficava suja, talvez eu passe frio usando a blusinha
que Nat propôs ou eu fico em paz usando a blusa dele... Não tão em
paz por ser uma blusa de Cameron.
Encarei por segundos o moletom preto, o peguei e o perfume
impregnou em meu nariz. Um cheiro ótimo de perfume de quem não
prestava e que eu devia manter o máximo de distância.
Mas acabei colocando o moletom e o perfume não saia de meu
nariz de forma alguma, o que me fazia espirrar.
Caminhei até o carro, coloquei as blusas sujas no mesmo e
aproveitei para espirrar o remédio no nariz antes que eu o arranque
de tanto coçar. Me olhei sem acreditar que estava usando o
moletom de Cameron.
Olhei para frente o vendo com uma garota que não era Melissa,
estava se agarrando com ela, devia ser a segunda ou terceira
garota da semana. Não que eu tivesse algo a ver com aquilo, mas
não tinha como simplesmente não notar.
Sai do carro tentando não mostrar a minha presença, mas foi
impossível quando assim que travei o carro, o alarme disparou.
Minha mãe deve ter conseguido quebrar o alarme do meu carro
outra vez.
O casal me olhou e eu desviei o olhar. Desliguei o alarme e
quando estava prestes a sair, Cameron se aproximou de mim e a
garota começou a andar de volta para escola. Sua boca estava
marcada e seu cabelo bagunçado.
— Tá gripada? — Perguntou e eu funguei negando com a
cabeça.
— Rinite, seu perfume é muito forte, mas dá para usar.
— Se quiser tem o moletom do time.
— Nunca — disparei quase que desesperada e nós dois rimos,
pela primeira vez, juntos. — E para de fingir que se importa, sei que
você quer alguma coisa — ele riu de lado.
— Ficou bem em você — disse me olhando por inteira.
— Deve ter ficado bem em todas as outras que já usaram esse
moletom — dei de ombros rindo e ele ficou sério, negou com a
cabeça em desaprovação, mas não me contrariou.
— Malik, por que não me ajuda logo com as notas? —
questionou e estendeu a mão para passar no meu rosto.
— Primeiro — segurei sua mão, o impedindo — para de falar
comigo como se quisesse me conquistar — soltei a mão dele e ele
me olhou rindo. — Segundo, cinco palavrinhas, Cameron, apenas
cinco.
Ele revirou os olhos e se afastou virando-se para trás. Colocou
as duas mãos na cabeça como se estivesse se rendendo, abaixou
os braços e virou novamente se aproximando de mim.
— Eu preciso da sua ajuda — admitiu em voz extremamente
baixa, parecia ser difícil para ele, como se nunca tivesse feito aquilo
antes.
— Desculpa, não te ouvi — ironizei e ele bufou.
— Malik, eu preciso da sua ajuda! — Disse alto e indignado.
— Ficou bem em você.
— O quê? — questionou com seu olhar carregado de confusão.
— Pedir ajuda — ele riu mostrando o dedo do meio na minha
cara e eu empurrei sua mão rindo. — Vou falar com a diretora,
começamos amanhã.
— Mas amanhã tenho treino.
— Isso não é problema meu — afirmei passando por ele e
ouvindo sua risada.
— Malik — me virei o olhando, ele deu alguns passos até mim,
parou em minha frente e soltou o coque que eu estava — não estou
dando em cima de você, é só que...
O sinal tocou.
Ele afastou a mão de meu cabelo desviando o olhar do meu e
saiu de perto de mim.
Soltei a respiração que não sabia que estava prendendo, meu
coração estava acelerado e... por que ele não terminou de falar?
Voltei para a escola sentindo alguns olhares em mim. Eles me
olhavam, olhavam o moletom e me olhavam novamente tentando
acreditar no que estavam vendo.
Não os culpava, nem eu acreditava naquilo.
— O quê? — Natalie quase gritou e riu se aproximando.
Katherine me olhou estranho.
— O que o quê? — Rimos.
— Você está com a blusa do meu irmão, ele nunca empresta as
blusas dele, principalmente de time, para ninguém — disse
surpresa.
Arrumei os óculos depois de espirrar.
— Foi porque ele que me sujou, era o mínimo — disse dando de
ombros e Katherine se manteve me analisando.
— Amiga, te vejo depois, te amo — Natalie beijou meu rosto e
correu para a quadra, pois teria treino das líderes agora.
Sorri a olhando correr desengonçadamente, Cameron parou no
armário ao meu lado e Katherine saiu caminhando até o armário
dela.
Organizei meus livros, quando fechei a porta do armário espirrei
novamente e Cameron riu.
— Está rindo do que, idiota? A culpa é toda sua!
— Estou rindo de você — ele riu de lado e me olhou por
instantes.
Ele precisava urgentemente parar de me olhar assim.
— O palhaço aqui é você — disfarcei o fato de que seu olhar em
mim estava diferente.
— Quem está com o nariz vermelho aqui é você — rebateu,
acabei rindo, mas fiquei séria quando me lembrei para quem estava
rindo.
— Babaca! — Disse caminhando até o armário de Katherine.
— Insuportável! — Retrucou fechando a porta de seu armário e
ouvi seus passos saindo do corredor.
— Vamos? — questionei Katherine.
Estávamos em um grupo de estudos chamado Fênix, que eu
estava conhecendo para quem sabe, começar a participar
oficialmente.
— Você gosta dele? — questionou diretamente.
— Claro que não, por que insiste nisso?
— Porque parece — disse séria. — Pelo menos da parte dele,
não parece ser raiva ou ódio — e saiu andando antes de mim em
direção contrária da biblioteca.
Fiquei um tempo parada tentando entender o que estava
acontecendo.
Entrei na biblioteca e me aproximei de Neji.
— Kath não vem? — questionou quando me sentei ao seu lado.
— Não sei, tem algo de errado com ela — Neji me olhou e
forçou um sorriso.
— Ela pediu para não te contar, mas ela e Cameron começaram
a ficar desde... sexta — explicou e eu o olhei com o cenho franzido.
— Eu não fazia ideia, ela parecia achar graça em relação a mim
e Cameron.
— Ela pediu para não te contar — arqueei uma sobrancelha. —
Não explicou o motivo, só não quis falar.
Katherine entrou na biblioteca no mesmo instante e se sentou
ao meu lado, sem me olhar.
— Katherine, se Cameron quiser, ele é todo seu e do resto das
pessoas que ele fica, eu não tenho nada a ver com a vida de vocês.
Não é comigo você precisa se preocupar — ela me olhou — e se
você é do tipo que implica por causa de homem, por favor, não
precisa continuar falando comigo — disparei.
— Então gente, vamos começar — Neji, o capitão do Fênix,
chamou nossa atenção e a dos outros alunos que conversavam
entre si.

Depois das aulas de projetos, sai da sala de pintura e Katherine


estava encostada na porta.
— Eu não brigo por homem, por nenhum, me desculpa — disse
caminhando ao meu lado.
— Sem problemas — sorri relaxando o corpo. — Avisa a Natalie
que eu fui falar com a diretora por favor? — questionei e ela
concordou.
Caminhei até a diretoria pensando que iria realmente ajudar
Cameron Styles.

A diretora explicou que eu ajudaria Cameron durante o primeiro


semestre, a temporada de futebol começaria daqui há três meses e
ele precisava ter o máximo de notas recuperadas. Cameron tem
cinco trabalhos para fazer até o mês que vem, o que esse garoto
estava pensando da vida dele eu não fazia ideia.
Sai da escola vendo que Natalie e Cameron ainda estavam no
estacionamento com Katherine.
— E aí — Cameron desceu do capô do carro e Katherine estava
não parava de encará-lo —, falou com a diretora?
— Sim, começaremos amanhã, depois do intervalo até às 15h.
— Não ia ser a partir das 13h? — Natalie questionou me
entregando um copo lacrado de suco de limão.
— Ia — aceitei o copo —, mas o mocinho tem mais coisas a
fazer do que eu imaginava — ele riu relaxando os ombros —, então
ela estendeu o horário.
— Ah — Natalie pegou em nossas mãos —, vocês prometem
que não vão se matar? Antigamente eram brigas toda hora — ela
revezou os olhares entre nós.
— Se ela for mais legal explicando matéria do que como pessoa
no geral, vai dar certo — Cameron provocou.
— Se ele deixar o ego dele um pouco de lado, ser menos
prepotente, menos babaca e não ser arrogante — o olhei e ele me
olhou — talvez dê certo.
Ele passou a língua nos lábios tentando não sorrir.
— Não conte com isso — afirmou.
Soltei a mão de Natalie e fiquei de frente para ele.
— Você não tem muita escolha — o relembrei e seus lábios
tremeram em um sorrisinho.
— Ah meu Deus — Natalie se queixou e eu acabei rindo a
olhando.
— Vamos meninas? — questionei e Katherine me olhou
apreensiva.
— Ela vai comigo — Cameron disse olhando Katherine e
caminhou até seu carro.
Eu e Natalie nos olhamos e olhamos Katherine que nos olhou e
quando ia dizer algo, Cameron buzinou, ela apenas deu um aceno
com a mão para nós e saiu em direção ao carro de Cameron.
Caminhamos até o meu carro.
Cameron era rude, não esperava ninguém e fazia pouco caso
das meninas e mesmo assim elas corriam para ele, era tão...
estranho.
— Ela vai se decepcionar feio com ele — Natalie disse entrando
no carro.
— Provavelmente — concordei dando partida.
— Eu a avisei na sexta-feira passada, quando ela foi lá em
casa, ele nem a recebeu direito e logo os dois saíram. Ela está se
envolvendo totalmente e Cameron só envolve o que é importante
para ele.
— Ela foi avisada — comentei.
— Ela me falou que ele fala que gosta dela, mas deve estar
fingindo ser recíproco, isso de acordo com o que ela fala —
explicou.
— E você não acredita nela?
— Meu irmão não costuma dizer que gosta das pessoas para
ter o que quer — explicou e eu acabei rindo —, mas ela já deu
vários presentes para ele nesse tempo e ele deixa claro que não se
importa e não faz questão. As meninas sempre saem destruídas por
ele e ele simplesmente não se importa.
— Bom, ao que entendo ele deixa claro que não quer nada com
ninguém, se elas saem destruídas talvez seja pela imagem que
criam dele e não pelo que ele é. Não sei bem, jamais colocaria
minha mão no fogo por aquele garoto.
Ela riu ao meu ouvir.
— Talvez ele encontre alguém que dê um jeito nele — disse
desanimada.
— Pessoas não são centros de reabilitação para dar jeito em
outra pessoa. Ele, com ele mesmo, precisa tomar um jeito — eu
disse e Natalie respirou pesado.
— Cameron está em uma fase horrível desde que Alice o traiu.
— Alice Parker? Ela está na faculdade, não? Eles namoraram?
O que eu perdi?
Parei o carro na frente de casa.
— Sim, Alice terminou ano passado. Eles namoraram durante
dois anos do colegial, depois que você foi embora, há dois anos.
Cameron chegou em Liberty e já conquistou seu lugar na escola por
ser novo e jogar tão bem, conseguiu tirar o time de Andrew, que era
capitão na época, Cam é o primeiro de toda a história da escola a
ser capitão logo no primeiro ano. Chegou no segundo ano, no baile
de formatura do terceiro e Cam viu Andrew com Alice. Eles
namoram até hoje — arregalei os olhos.
— Andrew e Alice? — questionei.
— Sim e foi por agora que Cam começou a decair nas matérias,
beber, às vezes fuma e usa as pessoas constantemente. Disse que
amor é limite e ele não precisa de limite nenhum — ela riu
preocupada e desanimada. — Ele me preocupa tanto, parece estar
mais calmo agora, mas no fim do ano passado depois de descobrir
tudo ele começou a se envolver em confusões e chegava todo
arrebentado em casa.
— Eu sinto muito por tudo isso.
— Eu sou a primeira a discutir com ele quando começa a usar
alguém, quando é amiga minha então... Enfim, nunca tinha falado
sobre isso com ninguém e me sinto até mais leve — a abracei e ela
sorriu. — Me conforta saber que você jamais se envolveria com ele,
seria horrível.
— Fique tranquila — sorri tranquilamente para ela.

Depois de atender alguns clientes, Andrew — que deixava claro


que estava com raiva de mim — avisou que dona Rosie estava me
chamando em seu escritório.
Subi as escadas depois de passar pelo corredor, bati na porta
duas vezes e entrei na sala sabendo que seria demitida.
— Sente-se, Becca — pediu após eu fechar a porta.
— Dona Rosie — me sentei —, peço desculpas por ontem, eu
preciso me segurar em muitas coisas, juro que não vai acontecer —
ela riu tirando os óculos.
— Não vou te mandar embora, Becca, e esse negócio de dona
Rosie, guarde a formalidade para quando estivermos na frente de
clientes e fornecedores — sorri concordando. — O que você falou
ontem deixou Andrew pensando a noite toda, ele reclamou de você,
mas foi porque você falou algo que ele nunca havia escutado assim.
Mas gostaria de te dizer para não falar esse tipo de coisa na frente
de outras pessoas.
— Eu espero nunca mais falar nada sobre — rimos.
— Certo. Mas é sobre outro assunto que quero tratar com você.
Você está no último ano e se preparando para as provas da
faculdade, sendo assim, há dias em que a lanchonete fica mais
vazia, você pode estudar nesse meio tempo, desde que fique atenta
quando chegar clientes. Liberei isso para Raquel faz um tempo, nas
quintas e sextas o movimento é muito grande então não terá como.
— Sério? — Ela balançou a cabeça concordando. — Perfeito,
muito obrigada.
— Não é todo lugar que aceita isso, mas entendo que você é
estudiosa, dedicada e responsável, por isso estou te liberando para
isso.
— Muito obrigada, Rosie, de verdade! Não sei como agradecer
— ela sorriu.
— Pode voltar ao trabalho — concordei me levantando e indo
até a porta. — Aliás, boa sorte ajudando Cameron — a olhei.
— Vou precisar — afirmei e rimos.
Eu quase cai da cadeira quando o sinal tocou.
Olhei no relógio, eram três horas da tarde e Cameron não tinha
aparecido sendo assim, de acordo com o que foi conversado e
combinado com a diretora, se Cameron não viesse hoje, eu não
precisaria ajudá-lo.
Sai da biblioteca depois de guardar meu livro na bolsa, bati na
porta da diretoria duas vezes e minha entrada foi permitida.
— Ele não veio? — A diretora López me olhou por cima dos
óculos e eu sorri negando com a cabeça. — Você nem disfarça sua
felicidade — rimos, mas ela logo ficou séria.
— Eu sabia que ele não viria, estava óbvio, conheço o Styles —
afirmei.
Ela concordou com um balançar de cabeça, parecia
desapontada.
Cameron com certeza devia estar com alguma garota ou
bebendo com os amigos, talvez estivesse fazendo qualquer outra
coisa que fosse irresponsável. Responsabilidade nunca foi seu
ponto forte.
— Estou liberada? — questionei e a diretora pareceu acordar.
— Claro, Malik. Até amanhã.
Sai da diretoria e coloquei meus fones.
Senti um baque me empurrando para trás e me deparei com
ele. Cameron me segurou pelos braços, caso contrário eu teria
caído lindamente no chão. Estava suado, com o rosto avermelhado,
ofegante, seus cabelos dourados estavam bagunçados, em cima da
sobrancelha esquerda havia um pequeno machucado, envolto de
seu olho esquerdo tinha um sombreado roxo como o de um
hematoma e o canto de sua boca estava com um pouco de sangue.
Seus punhos estavam roxos e ele estava acompanhado de seu
melhor amigo, Elliot.
— Boa sorte com a diretora — me recompus e me afastei dele
com um sorriso vitorioso.
— Malik...
Antes que ele continuasse, sai andando o mais rápido que pude
em direção ao estacionamento. Tinha vinte minutos para chegar no
trabalho e eu ainda não havia comido nada.
Passei na frente da farmácia da escola e não pude evitar ver
Jace, um garoto que era deficiente visual, sendo examinado pelo
enfermeiro Simon. Jace parecia ter levado uma surra das boas.
Franzi o cenho. Cameron aparentemente parecia ter acabado
de chegar de uma confusão, era provável que tinha sido apenas
uma coincidência.

Cheguei à lanchonete e Andrew estava de péssimo humor.


— Rebecca, vá limpar as mesas — Andrew disse de forma rude
que até mesmo dois clientes que estavam sentados nos bancos das
bancadas nos olharam.
Fiz o que ele pediu. Os clientes, depois de comerem, saíram
deixando apenas eu e Andrew na lanchonete.
— Vai me tratar assim até quando? — questionei me sentando
na cadeira de frente para o caixa e pegando meu livro de francês, já
que Rosie tinha me liberado para tal feito.
Andrew ficou em silêncio apenas encarando o celular em sua
mão.
O sino da lanchonete tocou alertando a entrada de alguém, me
fazendo levantar o olhar.
— O que você estava fazendo com Cameron? — Melissa
indagou com estresse em sua voz e Andrew levantou o olhar.
— Como? — questionei confusa.
— Ele falou que estava com você, mas está todo machucado e
parecia cansado — Andrew riu maliciosamente. — Anda nerd, fala!
— Quem devia saber do seu namorado é você, ele não
apareceu para o estudo de hoje, portanto, não estava comigo —
afirmei calmamente.
Ela respirou fundo e simplesmente saiu como uma patricinha
que não conseguiu o que queria. Essa farsa de Melissa me
estressava, ela não era uma patricinha, muito menos uma Regina
George como tentava mostrar e tentava sustentar uma personagem
de ensino médio, aquilo a tornava patética e ao mesmo tempo era
triste.
— Talvez você não seja tão santinha como finge ser — Andrew
riu e eu o olhei entendendo sua insinuação.
— Andrew — me levantei parando em sua frente, o sino de
aviso tocou e ele me encarou curioso —, não é assim que você vai
conseguir me irritar, você só está provando o grande babaca que
você é — sussurrei e sua expressão vitoriosa mudou
repentinamente.
Caminhei até a mesa onde os clientes se sentaram e os atendi.
— Por que você é assim? — Andrew questionou assim que
voltei para o caixa.
— Você está na defensiva desde o dia em que eu falei aquilo.
Não falei por mal e mesmo assim, não devia ter falado nada, mas foi
o que você mostrou ser e até agora só tem piorado — expliquei
calmamente.
— De caráter questionável? — Ele cruzou os braços e eu soltei
a respiração.
— O que você quer que eu pense de pessoas que traem? —
questionei em voz baixa.
— Você não sabe da história toda.
— Então, isso explica tudo? — Olhei em seus olhos.
— O pedido da mesa dezessete está pronto — Freya, que
trabalhava na cozinha, avisou após bater o sininho.
Passei por Andrew, peguei o pedido e o levei até a mesa
dezessete.
— Bom apetite! — Disse sorrindo e quando olhei para frente,
através do vidro da lanchonete vi Cameron em sua moto me
olhando. — Com licença — pedi me afastando.
Coloquei a bandeja na bancada, Andrew olhou na direção onde
Cameron estava e negou com a cabeça.
— Já venho — avisei saindo da lanchonete.
Cameron estava com seu capacete em mãos, levantou o olhar
para mim e eu senti meu corpo todo estremecer.
— Pode ficar feliz, não precisa mais me ajudar — disse
abaixando seu olhar.
— Se não tivesse se metido em confusão, talvez as coisas
seriam diferentes — afirmei e ele me olhou.
— Você não faz ideia do que aconteceu — disse em voz baixa,
seu olhar demonstrava uma tristeza enorme.
— E o que aconteceu? — questionei com curiosidade e me
perguntando se devia mudar de ideia e ajudá-lo.
— Não importa.
Suspirei.
— Como vai ficar o time? — Ele arrumou sua pose e olhou para
a frente.
— Com um novo capitão — disse colocando o capacete.
— Cameron…
— Acabou, Malik, desculpa ter feito você esperar.
E antes que eu pudesse responder, Cameron acelerou a moto
sem nem olhar para trás.
O olhei até perdê-lo de vista. O carro de Melissa, que estava
parado na outra calçada, o seguiu.
Voltei para a lanchonete sem fazer ideia do que tinha acontecido
com Cameron. Nada tirava da minha cabeça os machucados de
Jace. Amanhã falaria com ele porque Cameron, com certeza, não
iria me explicar o que tinha acontecido.

Depois do jantar e de me despedir dos meus pais, subi as


escadas para o meu quarto.
Olhei algumas anotações que tinha feito em um caderno e
acabei sorrindo:
“...A oração chega até Jesus e Jesus chega até as
dificuldades”.
Meus pensamentos foram interrompidos por gritos e coisas
quebrando vindos da casa ao lado, a casa dos Styles.
—… VOCÊ PERDEU O TIME, CAMERON? — Ouvi Arthur
gritando e em seguida um barulho estrondoso de algo caindo. —
VOCÊ PRECISAVA DISSO PARA PASSAR NA FACULDADE!
Desci as escadas o mais rápido possível. Meu pai estava
colocando os chinelos e se levantou o mais rápido que pode do
sofá.
— Ele vai matar o garoto, eu já venho — papai disse saindo
pela porta.
— Segure Louis e fique com Isaac, vou ver Eliza, Elô está
dormindo no bebê conforto, fique de olho nela também — mamãe
pediu me entregando Louis e saindo, também, de casa.
Fechou a porta e Isaac me olhou assustado.
Encarei Louis que me olhava enquanto chupava o dedo. Me
sentei com Isaac e ele se deitou em mim.
— Irmã, o que aconteceu? — Isaac questionou fazendo carinho
em Louis.
— Não sei, mas acho que foi por Cameron ter sido expulso do
time — comentei olhando a tevê.
— Você não vai ajudar ele? — Neguei com a cabeça, Isaac me
olhou entristecido e se deitou novamente. — Então ele não vai mais
me ajudar — disse baixinho.
Fiquei em silêncio. Por segundos de estresse eu havia me
esquecido do trato que fiz com Cameron.
— Isaac…
— Por favor irmã — ele se sentou no sofá me olhando — ajuda
ele, por favor, Cameron é legal, muito legal.
— Podemos encontrar outra pessoa para te…
— Eu não quero que outra pessoa me ajude — Isaac se
levantou emburrado. — Eu quero meu amigão me ajudando! Você
não entende, ninguém me ajuda com a paciência que ele me ajuda!
— O olhei surpresa, Isaac nunca gritava comigo por nada — E ele
não... — Seus olhos se encheram d'água — Ele não zomba de mim
por ser doente — disse coçando os olhos que estavam
avermelhados.
O puxei para se sentar comigo.
— Ei — acariciei seu cabelo —, você não é doente, seu cérebro
só funciona um pouco diferente igual ao meu pâncreas... A diferença
é que meu pâncreas nem funciona — ele riu.
— Você não está ajudando — disse fungando.
— Eu não sabia que Cameron sabia lidar com seu TDAH, mas,
já que você quer tanto seu amigão te ajudando, eu vou ajudá-lo —
afirmei e Isaac deu um pulo de alegria, em seguida me abraçou.
— Acha que tio Arthur o expulsou de casa? — Neguei com a
cabeça.
A porta se abriu e meus pais entraram, atrás deles estava
Cameron, que não nos olhou, com uma mochila nas costas.
— Amigão! — Isaac se levantou, o abraçou e ele sorriu.
— Tudo bem, garotão? — Cameron bagunçou o cabelo dele,
em seguida me olhou, olhou Louis em meu colo e deu um sorrisinho
bobo, balançou a cabeça e voltou o olhar para Isaac.
— Cameron vai dormir aqui hoje — papai avisou e eu apenas
concordei. — Vem, vou te mostrar o quarto que você vai ficar.
Meu pai, Isaac e Cameron subiram as escadas e minha mãe se
sentou ao meu lado no sofá.
— Arthur deu uma surra em Cameron — minha mãe disse em
voz baixa —, Natalie foi para a casa de uma amiga no meio da
confusão e Eliza estava passando mal quando chegamos.
— Por que ele foi expulso do time? — questionei.
— Por causa das notas e por causa de irresponsabilidade,
Arthur encontrou maconha nas coisas de Cameron e isso foi o fio
que precisava.
— Tio Arthur também não sabe conversar, ele sempre partiu
para a agressividade com Cameron e não é assim que funciona.
Enquanto Cameron só apanha, Natalie faz as mesmas coisas e tio
Arthur só conversa com ela — disparei e revirei os olhos.
— Está do lado de Cameron? — Perguntou com certa surpresa
na voz e eu a olhei.
— Sim, em toda a nossa convivência eu sempre ouvi Cameron
apanhando quando aprontava e parece que nada mudou. Não é
assim que as coisas funcionam, mãe — expliquei.
— Eliza está grávida, espero que Arthur aprenda a ser pai de
menino o mais rápido possível — mamãe disse pegando Louis de
meu colo. — Traz a Elô quando subir, por favor?
— É um menino? Mas como já sabem? Nem sabia que ela
estava grávida — disse confusa e pegando a bebê conforto com a
minha irmãzinha dentro.
— No meu sonho ela segurava um menininho — mamãe deu de
ombros subindo as escadas. — Aliás, Eliza ainda não sabe que está
grávida — completou.
Acabei rindo, os sonhos de minha mãe nunca erravam.
Subi as escadas, ajudei minha mãe com os bebês e em seguida
entrei no meu quarto, me preparei para dormir e me deitei, mas o
sono não vinha.
Rodei e rodei na cama, nada.
Tomei um banho relaxante, coloquei o pijama e desci as
escadas enrolada na coberta fina.
Me sentei em cima da bancada com uma xicara com
achocolatado e olhei pelas janelas vendo o céu estrelado.
— Sem sono? — Ouvi a voz de Cameron.
Ele estava apenas com um short da Nike, desviei o olhar dele,
concordando com a cabeça.
— Preciso falar com você — fechei mais o cobertor em mim e
ele se encostou na pia a minha frente.
Seu corpo estava com alguns hematomas e ele pareceu
entender o meu olhar.
— Não foi meu pai, ouvi sua mãe dizer que ele me bateu, mas
não foi isso — explicou.
— Mas e o barulho que escutamos antes dele começar a gritar
com você? — questionei e ele riu.
— Na hora em que eu falei sobre ter perdido o time, minha mãe
estava com a torradeira na mão e a deixou cair porque ficou em
choque com a notícia.
— Entendi — comentei e soltei a respiração pelo nervosismo
que estava sentindo. — Vou te ajudar a conseguir o time novamente
— ele riu negando com a cabeça.
— Não adianta mais — disse se virando de costas me deixando
ver sua tatuagem.
Senti um soco em meu estômago, meu coração se acelerou e
meu corpo suou frio. Não conseguia tirar os olhos daquela
tatuagem.
Um relâmpago amarelo se passou em minha mente…
Eu estava em uma estrada quando ouvi o barulho de várias
buzinas ao mesmo tempo e veio um clarão do farol do carro que
quase me cegou, tinha a certeza de que seria atropelada, porém,
não senti nada, então toquei meu próprio corpo confirmando que
estava viva e inteira.
— Malik? — Cameron chamou e eu o olhei após balançar a
cabeça.
O encarei por instantes, assustada e confusa se aquilo era uma
lembrança, um sonho ou qualquer outra coisa explicável.
— Adianta sim, Cameron — voltei ao assunto tentando
disfarçar.
— A diretora deixou bem claro que agora é só recuperando
minhas notas sozinho, eu tenho meses até o início da temporada,
não dá Malik — Cameron disse decidido.
Ele estava para sair da cozinha, quando parei em sua frente.
— Ela não precisa saber que eu estou te ajudando — ele me
olhou. — Podemos estudar aqui em casa, meus pais não vão achar
ruim.
— Por que, do nada, você quer isso? Achei que ficaria feliz por
não me ajudar.
— Isaac pediu — ele riu assim que me ouviu.
— Eu não vou parar de ajudá-lo só porque você não vai me
ajudar.
— Tínhamos um acordo — argumentei e olhou em meus olhos.
— Não me importo com esse acordo — disse sério e
calmamente para que eu marcasse suas palavras. — Vou continuar
ajudando o baixinho porque eu gosto dele, me vejo muito nele e
ninguém, até hoje, sabe como agir com uma pessoa hiperativa. Não
se preocupe, Isaac é mais que um acordo — me coloquei outra vez
em seu caminho, nossos corpos quase se bateram e ele não
conseguiu me olhar.
— Me deixa te ajudar, Cameron — pedi seriamente. — Sem
acordos, só… — soltei minha respiração — Só me deixa te ajudar.
Cameron me olhou fixamente e, por algum motivo, não consegui
manter meu olhar. Me afastei dele quase que de imediato.
— Começaremos sábado de manhã.
— Sábado? De manhã? Isso é uma brincadeira, certo? —
questionou, incrédulo.
— Traga todos os seus trabalhos, amanhã você fala com os
professores sobre o que você precisa fazer, fale com a diretora que
você vai tentar sozinho e pede para ela te dar mais uma chance —
peguei a xicara que estava na bancada e a coloquei na pia. — Boa
noite, Styles.

Entrei no laboratório de química e me sentei ao lado de Jace,


sempre ficava um garoto com ele por conta de sua dificuldade.
— Oi, posso ficar com ele nessa aula? — questionei o garoto de
cabelos brancos e ele me olhou.
— Você não sabe cuidar dele e não vou deixar ninguém
maldoso com ele, já bastou ontem — disse ríspido.
— Quem é a pessoa? — Jace questionou passando os dedos
pelo livro de química, que era em braile.
Tirei meus óculos e peguei nas mãos de Jace.
— Sou Rebecca Malik — disse o deixando passar as mãos em
meu rosto.
Seu toque era suave e ele parecia ser curioso, suas mãos foram
até meu cabelo, passaram em minhas orelhas e pararam,
novamente, em meu rosto.
— Você é bonita — ele disse rindo.
— Muito obrigada — coloquei meus óculos.
— Calleb, eu gostei dela — Jace disse e o garoto de cabelos
branco acinzentado sorriu.
— Vou estar na biblioteca, o leve até mim no fim dessa aula,
ok? — questionou me olhando e eu concordei.
— Você quer saber de Cameron Styles — disse passando,
novamente, os dedos no livro.
— Como você sabe? — questionei curiosa e com humor.
— Ele falou de você ontem.
— Ele...
— Bom dia turma — disse a professora de química.
Ela me olhou surpresa por estar com Jace.
— Professora, desculpe o atraso — Katherine disse entrando na
sala.
— Sente-se, Katherine — pediu a professora.
— Ah, que bom que nos sentamos com Jace hoje — Katherine
disse se sentando na mesma bancada que nós. — Jace, sente só o
que eu fiz no cabelo — ela pegou a mão dele e colocou em suas
tranças o fazendo sorrir.

Envolvi meu braço com o de Jace e, com sua bengala, ele


começou a caminhar pelo corredor comigo. Katherine disse que iria
para as arquibancadas e eu a encontraria depois de deixar Jace na
biblioteca.
— Cameron pediu para não contar nada sobre ontem — Jace
iniciou —, ele não quer que as pessoas saibam que ele tem um lado
bom — disse rindo e me fazendo rir. — Mas não foi ele quem me
bateu — afirmou e paramos na frente de Calleb. — Acredite, ele é
mais do que sua visão pode ver.
Calleb nos olhou.
— Obrigado por cuidar dele — Calleb agradeceu.
— Não precisa agradecer — sorri o olhando. — Até a próxima
— me despedi depois de beijar o rosto dos dois.
Cameron estava encostado na porta que levava ao
estacionamento, quando me viu fez um aceno de cabeça para que
eu o seguisse e saiu indo até o estacionamento.
O segui, ele se encostou em meu carro e eu parei em sua
frente. Tirou um cigarro do bolso da jaqueta, o colocou na boca e
quando ia acender, puxei o cigarro de sua boca.
— O que está fazendo? — questionou quando joguei o cigarro
no chão e o esmaguei.
— Você nem gosta disso, para de fingir — ele me encarou sem
acreditar, mas acabou rindo.
— Como sabe que eu não gosto?
— Você estava testando esses dias na janela do seu quarto e
começou a tossir que nem um condenado, depois falou que negócio
ruim — disse imitando sua voz e ele riu de uma forma que eu ainda
não tinha visto desde a minha volta a Los Angeles.
— Então você estava me observando da janela, Malik? — Ele
questionou com convencimento e bagunçou meu cabelo como fazia
quando éramos crianças.
Empurrei sua mão e desviei de sua pergunta, quando
questionei:
— Enfim, o que aconteceu? — Perguntei cruzando os braços.
Ele me olhou por instantes sorrindo e desviou o olhar.
— A diretora me deu dois meses para fazer os trabalhos de
todas as matérias, depois vou fazer uma prova geral e se for bem,
eu volto para o time.
— Isso é ótimo! — Disse animada e sorrindo.
— Ela me deixou continuar treinando, mas disse que tenho que
cumprir tudo sozinho devido a minha irresponsabilidade de ter te
deixado lá plantada me esperando.
— Justo — ele riu dando de ombros. — Te vejo amanhã então,
as nove da manhã.
— Sim, nerd insuportável.
— Quarterback babaca — rebati enquanto caminhava para
longe dele.
E um sorriso se formou em meu rosto.
Caminhei até o campo de futebol e me sentei nas
arquibancadas com Katherine, Natalie e Neji.
— Para onde foi ontem? — questionei Natalie e mordi um
pedaço do meu lanche natural.
— Para a casa de uma amiga — disse sem me olhar nos olhos.
— Por que está mentindo para mim?
Senti o olhar de Neji e Katherine se revezando entre mim e
Natalie.
— Não começa, Rebecca, estava com uma amiga.
A analisei até olhar um roxo em seu pescoço.
— Amiga… entendi — olhei para frente vendo Cameron entrar
no campo com o uniforme do time.
— E você, onde estava?
Por reflexo, sabia que Natalie estava me olhando.
— Com uma amiga — disse vendo Cameron com toda a sua
brutalidade treinando e ela olhou na mesma direção que eu no exato
momento em que Cameron me olhou.
— Você é patética — Natalie se levantou.
— Não mais que você — rebati.
Ela me olhou irritada e saiu andando até a direção do refeitório.
— Com quem você estava, Becca? — Katherine olhou Cameron
e me olhou desconfiada.
— Fui levar Jace na biblioteca — relaxei o corpo e os olhei. —
Acabei parando para conversar com Calleb — expliquei.
— Oxalá, que susto! — Disse rindo — Achei que estava com
Cam — neguei com a cabeça — Vou sair com ele essa noite, ele é
tão… Ele — suspirou.
Eu e Neji nos olhamos e ambos ficamos em silencio.

— Vamos fechar mais cedo hoje — Andrew avisou na cozinha,


não evitei o sorriso, mas ele me olhou, desfiz o sorriso e comecei a
arrumar as coisas. — Ouviu, Rebecca?
— Sim, senhor — disse com formalidade.
— Ótimo.
Revirei os olhos já que estava de costas para ele. Limpei as
mesas e passei pano no chão. Troquei minhas roupas e desci as
escadas voltando para a lanchonete.
Fechamos tudo e me despedi do pessoal da cozinha que
sempre iam embora juntos.
— Até segunda — disse a Andrew, começando a caminhar até
minha moto.
— Até, manda um beijo pra Natalie — o olhei confusa.
— Do que você está falando?
— Achei que fossem amigas — ele riu. — Ela não te contou?
— Andrew, com a Natalie não, por favor — pedi me
aproximando dele.
Senti uma pontada no meu coração e meus olhos se encheram
d'água ao pensar no que ela estava fazendo.
— Nossa, não imaginei que ficaria assim — sua expressão
mudou para preocupação.
Ele estendeu o braço como se fosse me tocar e eu me afastei.
Respirei fundo e o olhei.
— Você é um babaca — neguei com a cabeça. — É egoísta, trai
a namorada, usa as pessoas porque não tá feliz com o
relacionamento e Natalie sabe que você está a usando, mas não
venha querer usá-la para me atingir, ela tem idade pra saber o que
faz da vida — parei na frente dele — mesmo que seja com um
grande... — ri com sarcasmo e decidi não entrar na pilha dele. —
Você não vale a pena — caminhei até minha moto — e se quiser me
mandar embora por tudo o que eu falei e por achar você uma
pessoa de caráter duvidoso — montei na moto e coloquei o
capacete — vai em frente — fechei a parte da frente do capacete e
acelerei dando partida.

Cheguei em casa e me joguei na cama. Cameron tinha voltado


para a casa dele hoje, provavelmente depois de ter se explicado aos
pais, esperava que eles se resolvessem.
Troquei minhas roupas e fui na direção da janela para abri-la um
pouco vendo que a de Cameron estava aberta, o que me
possibilitou ver ele com Raquel, a garota que reveza os horários
comigo na lanchonete.
Olhei meu celular e vi a notificação de mensagem da própria
Katherine dizendo:

Kath: sei que você o odeia


Kath: mas ele tem sido muito bom pra mim

Olhei novamente a janela. Cameron caminhou até ela, o olhei


negando com a cabeça e ele sorriu a fechando.
Meus pais saíram cedo para ir a um parque com os meus tios
e eu prometi a Katherine que iriamos fazer alguma coisa juntas, isso

depois das aulas com Cameron que ela nem sequer sabia.
A campainha tocou. Fiz um coque no cabelo, coloquei meus
óculos e caminhei até a porta, a abri e Cameron me olhou. Estava
com uma bermuda preta, uma blusa salmão e chinelos.
— Bom dia — disse guardando o celular no bolso da bermuda.
— Bom dia — lhe dei passagem.
Nos sentamos na mesa de jantar onde deixei todo o material
que precisaríamos.
— Vamos começar pelos trabalhos maiores que são os de
química, física, matemática e inglês — abri meu notebook e o liguei.
— Tem alguma preferência de qual dessas quatro matérias quer
começar? — O olhei, ele estava sentado todo relaxado na cadeira e
mexendo em seu celular — Cameron! — Exclamei.
— Só um minuto — disse rindo para o celular, revirei os olhos
negando com a cabeça e me levantei caminhando até a cozinha,
peguei uma lata de coca e respirei fundo.
Voltei para a sala de jantar, me sentei sentindo meu cabelo se
soltar e comecei a organizar as coisas para o estudo.
— Se você não se ajudar, ninguém vai poder, Cameron — ele
me olhou quando o olhei. — São suas notas, não as minhas. A
galera que você está conversando não vai te ajudar a fazer o que
você precisa no momento.
Ele me olhou por instantes com seus olhos azuis, bloqueou o
celular e tirou da bolsa o livro.
— Química Ambiental, a professora quer um trabalho sobre isso
— disse colocando o livro em cima da mesa.
— Certo, então vamos começar.
— Podemos colocar música?
Virei o notebook e o deixando colocar a música.
Ficamos horas em pesquisas e explicações.
Reli a proposta que a professora de química passou para ele e
o questionei:
— Trouxe as coisas para fazer a maquete?
— Pode ser depois do almoço? — Olhei no relógio de parede
vendo que tinha se passado do meio-dia.
— Pode sim — disse rindo. — Nem vi a hora passar.
— Vai fazer o que para a gente almoçar? — questionou com um
sorrisinho maroto nos lábios.
— Para você nada, se quiser, você que faça.
— Olha que eu faço — desafiou e eu o olhei com a sobrancelha
arqueada. — Vou fazer uma lasanha — disse se levantando, ri o
vendo caminhar até a cozinha, mas seus passos voltaram — e você
vai me ajudar.
— Quem quer comer lasanha é você.
— Até parece que você não vai comer também, vem Malik —
disse me puxando pelo braço.
Me levantei rindo, ele me trouxe até a cozinha com as mãos em
minha cintura e me soltou assim que entramos.
— Ok, garoto, vou pegar as coisas — me rendi amarrando o
cabelo e pegando as coisas no armário.
Quando me virei para ele, o vi com o avental rosa de minha mãe
que ficou pequeno nele e não contive a risada.
— Coube certinho — brinquei e ele fez uma pose colocando a
mão na cintura.
— Preciso amarrar meus cabelos também — brincou jogando o
cabelo imaginário para trás me fazendo gargalhar.
Ele tirou os anéis que sempre usava, exceto quando ia jogar ou
treinar, e começou a preparar as coisas.
Peguei meu notebook, coloquei nas músicas que, daquela vez,
eu quem tinha escolhido e comecei a fazer o molho ao som de You
& I do One Direction.
—… Cause You and I... — Imitei o solo de Zayn Malik.
Abri os olhos quando ouvi o barulho de talher caindo. Cameron
me olhava com os olhos arregalados e sem reação.
— Becca... — Disse impressionado.
— Eu... — Dei de ombros sentindo minhas bochechas
queimando pela empolgação que não tinha conseguido conter.
— Você canta muito bem! — Me interrompeu sorrindo — Não
sabia que você cantava.
— Às vezes eu tento — disse mexendo o molho na panela.
— Tenta — ouvi sua risada. — Tenta muito bem por sinal.
— Obrigada — agradeci sem o olhar.
Terminamos de preparar as coisas, arrumamos a mesa e nos
sentamos para comer.
— Posso te fazer uma pergunta? — Ele me olhou concordando
— Por que mentiu pra Katherine? — Sua expressão mudou para
confusão.
— Menti para Katherine? Sobre o quê? — questionou cortando
um pedaço da lasanha e o levando até a boca.
— Você falou que gosta dela — enchi meu copo com coca —,
mas fica com Raquel e Melissa — ele riu tossindo.
— Eu nunca falei que gostava dela, ela falou isso para Natalie
também, mas não é verdade — ele relaxou o corpo na cadeira
pegando o copo dele. — Pelo contrário, deixei bem claro que se ela
quiser diversão ok, mas que não tenho nenhum sentimento ou
interesse por ela, a não ser meus próprios interesses.
— E elas aceitam isso?
Ele riu dando de ombros e tomando um gole da sua coca.
Levantei às sobrancelhas e um pouco o nariz em expressão
de “Ah... Entendi...”, arrumei os óculos no rosto e voltei a comer.
— Você devia parar de ouvir o que os outros falam de mim.
— Concordo — o olhei —, mas, considerando que você não me
dá abertura para nada, eu vou ficar sem te conhecer se não ouvir os
outros.
— Prefere me conhecer errado então? — O fitei por instantes.
— Cameron Styles é um tiro no escuro — limpei meus lábios
com o guardanapo. — Não dá para saber o que se esperar, não
sabemos se ele é bonzinho com jeito de malandro badboy ou se ele
é mau escondido em um ótimo jogador de futebol que fica com
geral, quando na verdade quer acabar com todo mundo — ele riu de
forma que seus olhos se fecharam um pouco.
— O que a senhorita Rebecca Malik acha de mim?
Joguei meu cabelo para trás.
— Desde quando minha opinião importa para você? —
questionei e ele ficou em silêncio por segundos, abaixou o olhar e
me olhou novamente. — Bom... Eu acho que você pode ser uma
boa pessoa, mas prefere mostrar que é valentão, briguento,
desapegado e egocêntrico para que as pessoas não esperem nada
de você, que não criem expectativas — ele ficou sério —, mas como
toda pessoa, você tem seus problemas, seus traumas, suas dores e
esconde tudo isso em um personagem que é popular, capitão do
time e pegador.
— Ou talvez eu queira que você pense isso de mim — abaixei o
olhar negando com a cabeça.
— Eu duvido que você, Cameron Styles, daria abertura para
que eu notasse que você tem suas fragilidades — o olhei. —
Principalmente pelo nosso ódio recíproco a longo prazo — afirmei
me levantando e pegando as coisas da mesa —, precisamos voltar
a estudar.
Coloquei as coisas na pia. Cameron começou a lavar e eu a
secar e guardar a louça. Guardei o último prato e ele se encostou na
bancada secando as mãos.
— Eu não te odeio — cruzei os braços me encostando na pia e
ficando de frente para ele. — Só te acho mandona, as vezes chata,
quer sempre ter razão e chega a ser insuportável — ri revirando os
olhos.
— Tem muitos adjetivos que eu poderia associar a você —
afirmei e seu típico sorrisinho maroto de lado apareceu em seu
rosto. — Mas, no momento, coloquei isso de lado. Vem, vamos fazer
a maquete logo.

Depois de horas trabalhando na maquete, finalmente ela estava


pronta.
— Ficou perfeita — afirmei olhando a maquete que fizemos.
— Ficou mesmo — disse analisando cada detalhe da maquete
por conta de seu perfeccionismo. — Perfeita — afirmou me olhando.
Ficamos instantes nos encarando, me deixando na dúvida se
ele estava mesmo falando sobre a maquete, e quebramos o olhar.
— Então, você sabe como vai explicar as coisas de química
ambiental?
— Sim, sim — ele se aproximou de mim, colocou a mão em
minha cintura e se impulsionou para o lado para pegar as anotações
que fez.
Respirei fundo tentando disfarçar que o toque dele me trouxe
borboletas no estômago.
Cameron não notou, começou a explicar as coisas que
tínhamos estudado e quase não precisou ler. Enquanto ele falava,
um sorrisinho se formou em meu rosto, mas logo o desfiz.
— Está explicando mais que a professora — admiti quando ele
terminou a prévia da apresentação que ele vai fazer para a
professora na segunda.
— Uma pessoa me explicou muito bem — disse cordialmente.
— Bom, acho que por hoje é só — ele concordou coçando a
nuca.
— Vai ter uma festa na casa de Elliot, quer vir?
— Você não precisa me convidar só porque eu te ajudo com as
notas — disse rindo, sua expressão parecia desapontada, mas ele
fez o máximo para disfarçar, tentei melhorar as coisas dizendo: —
Eu não gosto muito de festas e tenho algumas coisas para fazer.
Ele balançou a cabeça concordando.
— Então eu não vou mais te atrasar — disse arrumando suas
coisas.
Desliguei meu notebook e ele organizou suas coisas. Me
levantei indo até a porta e a abri. Ele passou por mim e parou em
minha frente.
— Você até que dá para conviver — provocou rindo.
Neguei com a cabeça abaixando o olhar enquanto dava risada,
uma mecha de cabelo caiu em meu rosto e, antes que eu pudesse,
Cameron calmamente colocou a mecha para trás da minha orelha,
me fazendo o olhar.
— Obrigado pela ajuda, mas você ainda não se livrou de mim,
nerd — disse ainda com a mão em meu cabelo.
— É uma pena pra mim, que Deus me ajude — brinquei e ele
afastou a mão rindo — Até, Styles.
— Até, Malik — disse se virando e começando a caminhar.
Soltei a respiração que não tinha percebido que estava
prendendo, quando foi que comecei a ficar tão apreensiva perto de
Cameron?

Katherine passou reto por mim no corredor quando cheguei na


escola. A olhei caminhando até chegar em seu armário, ela me
olhou, negou com a cabeça e fechou o armário saindo andando logo
em seguida.
— Malik — sua voz e sua mão deslizando em minha cintura me
mostraram que era impossível não o reconhecer.
Me questionei em que momento eu tinha começado com essa
familiaridade com ele.
— Pois não? — Virei o rosto o olhando.
Cameron estava radiante, seus olhos mais azuis que o normal
ou eu quem nunca o tinha visto tão de perto e eu acabei rindo por
toda aquela animação.
— Vou ir apresentar o trabalho de química agora — disse ainda
com a mão em minha cintura.
— Boa sorte, sei que você vai ir bem.
Ele sorriu concordando e caminhou pelo corredor, mas voltou o
caminho parando novamente em minha frente.
— Natalie sabe que você está me ajudando? — questionou em
voz baixa e neguei com a cabeça — Acho melhor continuarmos
assim.
— Eu também — admito.
— Até nerd — se despediu se afastando.
Caminhei até a sala de literatura e observei Katherine que
estava sentada com Melissa. O que era estranho, pois, tínhamos
combinado de que seriamos dupla durante esse ano letivo. Coloquei
minha bolsa na primeira carteira da mesa do canto da sala e me
aproximei dela, que estava conversando animadamente com as
líderes de torcida.
— Katherine — ela, Melissa e as líderes me olharam —,
podemos conversar? — Ela revirou os olhos. — A sós.
— Pode falar aqui mesmo, vou contar a elas de qualquer forma
— as líderes e Katherine riram.
— Ok — dei de ombros. — Pode me explicar o motivo de estar
andando com Melissa sendo que deixou bem claro que não gosta
del... — Katherine se levantou me puxando para fora da sala.
Olhei Melissa e as amigas que não tinham mais um sorriso no
rosto.
— Entrem na sala, meninas — a professora pediu.
— Só um minutinho, por favor, será rápido — Katherine
implorou.
A professora deu de ombros e entrou na sala fechando a porta.
— O que aconteceu?
— Me deixou plantada em casa esperando que você fosse para
lá conforme combinamos, mas não, acho que não sou tão
importante assim — disparou.
Eu realmente não tinha visto o tempo passar com Cameron.
— Eu me esqueci totalmente do combinado, me desculpe. Você
podia ter me liga...
— Corta essa, Rebecca — disse ríspida. — Eu já me humilhei o
suficiente por ficar te esperando, acha que me humilharia mais?
Você me esqueceu! — Katherine deu passos para a frente como se
tentasse me intimidar e eu cruzei os braços.
— Quem está falando é você ou a Melissa? — Ela respirou
fundo negando com a cabeça.
— Não importa. Enquanto você estava fazendo sabe se lá o que
com sabe se lá quem, Melissa me chamou para uma festa e, enfim,
entrarei para as líderes. Espero que encontre boas amigas, já que
nem Natalie quer falar com você — acabei rindo sarcasticamente de
sua fala.
— Espero que você e Melissa sejam boas amigas mesmo
ambas querendo Cameron — afirmei passando por ela — aliás — a
olhei —, evite mentir sobre os sentimentos de Cameron — ela deu
um passo rápido para frente e me segurou pelo braço.
— O que você estava fazendo para ter me deixado esperando?
— Estava estudando — respondi pouco antes de entrar
novamente na sala de aula.
Ao lado da cadeira em que deixei minhas coisas estava Elliot e
eu já sabia que viria alguma coisa. Me sentei em meu lugar após
pedir licença para a professora.
— Cameron, por algum motivo, falou para eu me sentar com
você hoje — franzi o cenho o olhando.
— E por que ele te pediria isso? — questionei no mesmo tom
baixo que Elliot falou comigo.
— Cameron ia ficar fora do time porque você não ia dar mais
aulas para ele, os meninos fizeram uma aposta de quem vai
conseguir sua ajuda primeiro só para provar que são melhores que
os outros em alguma coisa.
— Que idiotice — comentei e ele riu — Eu só ajudaria Cameron
porque a própria diretora pediu, caso contrário eu não o aju...
— Você não precisa fingir para mim — Elliot disse rindo em voz
baixa e passamos a prestar atenção na aula.

Sai da sala por último e Elliot estava me esperando.


— Seguinte — comecei caminhando até meu armário e ele me
seguiu —, não quero um segurança e não vai ser Cameron Styles
que vai me fazer ter um, ok?
— Sabe o que é mais engraçado?
— O quê?
— O próprio Cameron quem fez a aposta de que ninguém
conseguiria sua ajuda e mesmo assim quer que eu te “vigie” —
disse fazendo aspas com os dedos.
— Cameron o quê? — Indaguei sentindo meu sangue ferver.
— Ele quem...
Sai andando pelo corredor e entrei no refeitório, que estava
cheio, Katherine e Natalie estavam sentadas na mesa das líderes e
Cameron estava conversando com o time euforicamente.
— Você perdeu a noção, Styles? — Parei em sua frente e todos
do time me olharam. — Me apostar? — Ele sorriu. — Você
enlouqueceu? Qual é o seu problema?
— É só não aceitar ajudar ninguém — respondeu calmamente,
o olhei incrédula e ele se levantou. — Achou mesmo que ficaria tudo
tranquilo por não aceitar me ajudar? Aqui não é assim, Malik —
disse com um sorriso maroto.
— Você não suporta o fato de que nem toda garota está aos
seus pés, não é mesmo? — debochei o vendo ficar sério — As
coisas não vão ficar assim, Styles — afirmei com um sorriso
vitorioso e sai do refeitório.

— Pergunta agora, time: qual é o valor de x considerando que


ele vale um touchdown (6) vezes dois field goal (3) dividido por
dois safety (2)? — questionei anotando tudo na lousa que o time
usava para anotar as estatísticas.
Todos ficaram em silêncio por instantes.
— Nove? O x vale nove? — Peter questionou.
— TOUCHDOWN! — Comemorei animadamente dando um
toque de mão com Peter ouvindo os meninos gritando
animadamente.
— Que merda está acontecendo aqui? — O treinador Sanchez
entrou na sala de estáticas do time onde estávamos.
Cameron veio logo em seguida com expressão franzida.
— Aulas extras — Eric disse e o treinador o olhou surpreso.
— Becca deu aula para todo mundo aqui sobre a aula de
matemática de hoje — Josh explicou e Cameron me olhou
incrédulo.
Arrumei minhas coisas enquanto o treinador analisava as
anotações no quadro.
— Até amanhã, time — me despedi rindo e passando por eles
que se despediram de mim com beijos e abraços e parei na frente
de Cameron. — Melhore suas jogadas, essa foi fraca.
Os meninos começaram a gritar "uhhh" e eu saí com um sorriso
vitorioso.
— Becca — Natalie me chamou quando eu estava no
estacionamento.
Ela parou em minha frente, ofegante, com seu uniforme de líder.
— Pois não?
— Por que não estamos conversando? O que aconteceu? — A
olhei sem entender.
— Eu quem pergunto isso. Primeiro você mente, surta e para de
falar comigo.
Ela bufou relaxando o corpo, fechou os olhos e os abriu.
— Olha, tem coisas que se eu te contar você vai me odiar e...
— Não te odeio por estar dormindo com Andrew, te acho
inconsequente, mas não tenho nada a ver com a sua vida. Agora
mentir por medo de ouvir a verdade, a Natalie que eu conheço não é
assim.
— Eu sei. Eu sei, mas não quero sermões, sei que é errado.
— A única coisa que tenho para te dizer é: se trai ela para ficar
com você, vai te largar a qualquer momento para ficar com outra.
Ele só está te usando, sobre isso, não tenho mais nada para falar,
morre aqui — afirmei pegando meu capacete e montando na moto.
O grupo de líderes estava chegando no estacionamento a gritos
animados, Katherine me olhou e desviou o olhar.
— Vocês não estão mais se falando, não é?
— Errei com ela e queria me desculpar, mas ela veio totalmente
na defensiva, então deixe que ela alimente a raiva dela. Katherine
encontrou companhia melhor — Natalie riu negando com a cabeça.
— Com certeza não, Melissa está desconfiando que ela está
ficando com o meu irmão e acha que sendo amiga dela vai deixar
Kath com peso na consciência.
— Você é uma grande fofoqueira — disse rindo.
— Só com a minha melhor amiga — disse me abraçando. —
Melhores amigas outra vez? — questionou ainda abraçada comigo.
— Nunca deixei de ser — beijei o rosto dela. — Mas se Alice
vier atrás de você, corra — ela riu dando um tapa na minha testa.
— Vai fazer algo hoje à noite?
— Sim, já tinha compromisso marcado — afirmei. —
Tchauzinho, até amanhã — acelerei antes que viessem mais
perguntas.

Depois de trocar minhas roupas e descansar por minutos, fui


diretamente para a lanchonete e toda vez que Andrew se
aproximava eu saia, me afastava e ficava longe.
— Já chega, não acha, Rebecca? — Andrew parou em minha
frente quando estava tentando fugir dele.
— O que foi, Andrew? — questionei dando passos para trás.
— Eu fui um idiota sim, mas não vai se repetir, eu prometo.
— Ok — concordei passando por ele e caminhando até a parte
de trás da bancada do caixa.
— Estou falando sério, não estou brincando com Natalie, só não
consegui terminar com Alice ainda — o olhei.
— Você não deve nada a mim, eu não quero saber seus planos
futuros, nem o que você vai fazer ou deixar de fazer.
— Mas vocês são amigas... — disse em voz baixa.
— E ela sabe muito bem que eu não concordo — expliquei.
— Não concorda em vê-la feliz? Sério?
Apenas o olhei e desviei o olhar, ele negou com a cabeça e
caminhou pelo corredor até às escadas para o andar de cima.

Era quase oito e meia da noite quando Cameron pulou minha


janela com uma facilidade enorme.
— Eu diria que estou surpresa por você pular a janela tão bem e
silenciosamente, mas não estou — disse rindo e agradecendo a
Deus por não dar para ouvir nada daqui de cima nos cômodos de
baixo.
— O que quer dizer com isso, nerd? — Cameron questionou se
jogando na minha cama.
— Que você deve pular muitas janelas — disse rindo.
— Para estudar nunca.
— Para tudo tem uma primeira vez — adverti me sentando na
cadeira da mesa de estudos. — Como foi a apresentação de
química?
— A professora perguntou se alguém estava me ajudando
porque a apresentação estava perfeita e sem falhas — disse se
sentando na cadeira ao meu lado e eu o olhei.
— E o que você disse?
— Que fiz tudo com a ajuda de Deus — ele deu um sorrisinho.
— Colocando Deus nas suas mentiras, Cameron?
— Se não foi Ele quem amoleceu seu coração duro para me
ajudar, foi quem? — Fiquei instantes raciocinando e quase não
acreditei por fazer tanto sentido.
— Faz sentindo — rimos. — Pagou os meninos do time? —
questionei vitoriosamente e ele revirou os olhos.
— Quase, mas consegui me livrar — disse colocando uma
mecha do meu cabelo para trás como tinha feito no sábado e eu
simplesmente perdi o rumo da conversa. — Como a aposta era
ajudar só um e não todos, eu ganhei.
— Que triste — disse fazendo expressão de decepção e ele riu.
— Mas eles ficaram o treino todo falando sobre você.
— Se eu parar de dar aulas para você para dar aulas a eles,
lembre-se que a culpa é toda sua — afirmei rindo e ele ficou sério.
— Vai parar de dar aulas para mim? — questionou.
Seu corpo estava virado de frente para mim e eu de lado para
ele, ele colocou o braço na borda da minha cadeira e começou a
enrolar uma mecha de meu cabelo em seu dedo.
— Sim, vou ser obrigada a parar — olhei sua expressão de
preocupação e me entreguei quando comecei a rir. — Estou
brincando, besta — ele colocou a mão desocupada no peito e
respirou fundo. — Hoje vamos estudar física.
— Eu mandei muito bem em química, física vai ser tranquilo —
disse com seu ar esnobe.
— Menos, Cameron, menos — pedi.
— Você sabe que é verdade — ele disse rindo.
— Você é tão bom em tudo que nem precisa da minha ajuda
com as notas, certo capitão? — Ele mostrou o dedo do meio para
mim e dei de ombros rindo.
— Sem graça.
— Egocêntrico — rebati.
— Insuportável — disse relaxando o corpo na cadeira.
— Vai ter que suportar, Cameron, sinto muito — afirmei
vitoriosa.
— Você é chata pra caramba — disse jogando o caderno em
cima da mesa.
— Ah, me erra garoto! — O empurrei pelos ombros.
Ouvi sua risada e começamos a estudar eletromagnetismo.
Eu me sentia extremamente cansada por ter estudado até

tarde com Cameron, o que me tranquilizava era saber que era

sexta-feira.
— Ah não — ouvi Natalie murmurando.
Abri meus olhos e ela apontou com a cabeça para o carro de
Cameron.
Olhei na direção apontada e acabei rindo ao ver Cameron sem
camisa em cima do carro.
— Não está tão calor — Natalie comentou desapontada.
— Você não tem que ficar assim pelas coisas que seu irmão faz
— afirmei.
— Fácil falar quando não tem nada relacionado a Cameron,
mas é com isso que as meninas vêm para cima de mim querendo
ter algo com ele, fingem amizade comigo. Esse ano está mais
insuportável, eu não tenho paz por culpa dele! — Disse estressada.
— Por que eu nunca vejo ninguém em cima de você quando
estou junto?
— Quando estou com você, ninguém vem mesmo — ela riu. —
Deve ser pela sua cara de brava ou porque Cameron já comentou
que vocês não se gostam, não sei. E você nem fica mais no
refeitório, nem faz parte das líderes e não temos nenhuma das aulas
juntas — ela pensou um pouco. — Por que você não fica mais no
refeitório?
— Não sei. Essa semana eu fiquei com Neji na ala de natação,
Calleb e Jace me chamaram para ficar no refeitório ao ar livre e
ontem eu fui buscar meu irmão na hora do intervalo pra levar ele pro
trabalho da minha mãe.
— E hoje vai ficar comigo — afirmou e eu neguei com a cabeça.
— Vai sim — insistiu.
— Você se senta com as líderes e eu me recuso — Natalie
concordou com a cabeça me fazendo rir.
— Vamos nos sentar em outro lugar então, você voltou para cá
e parece que não voltou. A gente não fez nada juntas ainda.
— Terminou com os machos e lembrou de mim, Natalie? — Ela
deu um tapa em minha testa.
— Não, Rebecca Malik, e eu te chamei para sair três vezes e
você disse que estava ocupada. Acho que quem tem macho aqui é
você — ela me olhou.
— Sim, estou pegando todo mundo — brinquei e ela revirou os
olhos rindo. — Estou pegando o jeito de tudo, o trabalho está me
matando e eu ainda tenho que estudar.
— Mas hoje podemos fazer alguma coisa?
— Claro.
— Perfeito — disse me abraçando. — Eu te amo e a partir de
hoje vamos nos sentar juntas no intervalo — ela beijou meu rosto.
— Eu quero ir embora dessa selva e dormir até a hora do
trabalho — comentei e ela gargalhou.
Fechei meus olhos me deitando no banco, mas Natalie saiu do
carro, abriu a porta, soltou meu cinto e me puxou para fora pegando
minha bolsa como se fosse mãe de criança.
— Hoje não, docinho — ela travou o carro depois que sai.
Parei no meu armário e me sentei no chão para esperar dar o
horário da primeira aula. Neji se aproximou e rindo se sentou ao
meu lado.
— Muito sono, docinho? — questionou rindo, concordei
enlaçando nossos braços e me deitando em seu ombro.
— Dormi nada essa noite, estudei até tarde e meu irmãozinho
chorou a madrugada toda, como minha mãe estava com Louis, eu
fiquei com a Elô — expliquei.
Ouvi o armário ao lado, o de Cameron, sendo aberto, mas não o
olhei.
— Japa — Cameron chamou e senti Neji levantando o olhar —,
vai ter uma festa lá em casa amanhã, preciso de um DJ — olhei Neji
que concordou.
Franzi o cenho sem entender quando eles começaram a se
falar. Ele e Cameron deram um toque de mão.
— Não se esqueça que você tem vizinhos — o relembrei.
— Dane-se. Se te incomodar é só ir para outro lugar, seus pais
não vão estar em casa mesmo — disse ríspido.
— Vou para a delegacia então — rebati me deitando novamente
em Neji.
— Não ferra, Malik — Cameron disse caminhando pelo corredor.
Neji se levantou e me puxou pelas duas mãos me fazendo
levantar, após ouvirmos o sinal tocar.
— Não sabia que vocês eram amigos — comentei olhando Neji.
— Não somos, mas quando precisa eu vou — explicou na
caminhada para a sala de aula.
Nos sentamos no mesmo lugar de sempre. Melissa se sentou
na mesa ao lado e Katherine se sentou atrás dela. Assim que
Cameron chegou, Melissa o beijou fazendo todos gritarem, exceto
Katherine que piscou demoradamente, respirou fundo e sorriu de
forma forçada.
Cameron se afastou de Melissa após o beijo, me olhou e se
sentou ao lado dela sem dizer uma palavra se quer.
— Por que ele te olhou daquele jeito? — Neji questionou em voz
baixa.
— Que jeito? — Franzi o cenho.
— Ele estava checando sua reação, como se esperasse algo de
você e você ficou simplesmente não se importou.
— Acho que você está vendo coisa, não tem motivos para ele
esperar algo de mim ou querer ver minha reação
— Se você diz... — Disse deixando uma interrogação imensa na
minha cabeça.
Na hora do intervalo, entrei no refeitório com Neji, mas nos
separados pois ele foi se sentar com o grupo de estudos, o qual eu
tinha saído no início da semana.
Vasculhei o refeitório com os olhos a procura de Natalie e a
encontrei em uma mesa no fim do refeitório acenando para mim.
— Achei que não viria — Natalie comentou comendo da sua
salada de frutas e eu a olhei.
— Trocou o x-burguer mesmo? — Perguntei me sentando em
sua frente.
— Ordens da capitã das líderes — disse dando de ombros. — E
você só toma Milk-Shake agora? — Neguei com a cabeça.
— Hoje eu vou comer um bolo de chocolate amargo — afirmei
mostrando o bolo de pote para ela e seus olhos brilharam como os
de uma criança vendo seus doces favoritos. — Eu não conto se
você não contar.
— Não posso, amiga — disse desanimada.
— Uma colherada não vai te engordar — ela me olhou
esperançosa, abri o pote de bolo, comi da primeira colherada e dei a
segunda escondido para ela.
Ela provou e fechou os olhos como se fosse o melhor bolo que
já comeu em toda a sua vida.
— Você é um anjo as vezes — disse rindo.
— Eu sei — me gabei e ela negou com a cabeça.
— É tão estranho ver Cam sem ninguém no intervalo — disse
olhando a mesa do time e me olhou — Ele sempre ficava com
alguma garota, esse ano ele está tão... Calmo?
— Isso é calmo? — Ela gargalhou. — Eu saí do grupo de
estudos — mudei de assunto quando ela se recompôs e ela me
olhou surpresa.
— O quê? Por quê?
— As líderes estão tomando conta de tudo ou sempre foi assim
e como eu não estudava aqui eu não sabia. Katherine fez duas
líderes entrarem no grupo de estudos e ela fica o tempo todo
querendo mostrar que é melhor que eu, fica jogando piadinhas com
as meninas, indiretas e, sinceramente, isso não é para mim. Minha
saúde mental antes da vaidade dela — afirmei.
— Eu não acho certo você deixar de fazer uma coisa que você
gosta por causa de outra pessoa, mas entendo e concordo com
isso. Katherine mudou da água para o vinho de uma forma
absurdamente triste. Cada dia que passa ela está mais Melissa.
Soube que Mel beijou meu irmão na frente dela e ela chorou no
banheiro.
— Ela quis isso — comentei.
— Melissa tem um poder de manipulação, sabe? Ela consegue
fazer as pessoas acharem que vão beneficiar elas próprias quando
na verdade, quem é a beneficiada é ela. No fim do ano passado
Melissa afirmou que esse ano seria dela, que ela estabeleceria um
reinado melhor que o da irmã mais velha e derrubaria quem
entrasse no caminho — Natalie disse pegando uma uva e levando
até a boca.
— Querer ser melhor que a irmã deve ser fruto de falta de
aceitação em casa.
— Natalie — ouvi a voz de Cameron, ele se sentou ao lado dela
fazendo-a ir para o lado e Elliot se sentou ao meu lado. — O que
vamos fazer hoje à noite?
— Você eu não sei, mas eu vou ir ao shopping com Becca —
Natalie afirmou. Olhei Elliot, que olhava Nat com os olhos brilhando.
— Vamos junto — Cameron disse abraçando Natalie.
— Ninguém convidou vocês — ele empurrou o irmão.
— O shopping é público, Paola — Elliot provocou.
Natalie odiava ser chamada pelo segundo nome e mostrou o
dedo do meio para ele.
— Por qual motivo vocês querem ir ao shopping? — questionei
confusa. — Não iam fazer uma festa?
— A festa é amanhã r hoje estamos tentando fugir das gêmeas
Crawsford que estão enchendo nossa paciência para sair com elas
— Cameron explicou e eu o olhei.
— Já experimentou dizer não a uma garota alguma vez na vida,
Styles? — Ele me olhou com os olhos semicerrados e com seu
sorrisinho de lado parecendo gostar de ser contrariado.
— Não que eu me lembre, Malik — disse com seu sorriso
safado.
O sinal de fim de intervalo ecoou no refeitório.
— Talvez devesse tentar — afirmei me levantando e o olhando.
Eu e Natalie saímos juntas do refeitório, Melissa parou em
nossa frente no meio do corredor com Katherine e outras três
líderes.
— Todas as líderes precisam se sentar juntas, Natalie —
Melissa impôs.
— Não vou me sentar mais com vocês, a partir de hoje vou me
sentar com Rebecca — Natalie rebateu com firmeza e eu a olhei
surpresa.
— Você pode ser expulsa das líderes por desobedecer às
regras — Melissa disse seriamente, aparentemente não esperava
resistência da parte de Natalie.
— Regras que não servem para você quando meu irmão te
chama para se sentar com ele — Melissa arregalou os olhos. — Vai
em frente, é só me expulsar — desafiou para sair andando e me
puxando.
— Natalie, você não precisa fazer isso por mim.
— Por que você não me deixar ser sua amiga? Não posso
querer ficar perto de você? — questionou me olhando confusa — E
não, eu não quero nada, só quero minha melhor amiga. Sinto sua
falta e você parece estar nem aí.
— Rebecca, a diretora quer falar com você, agora — a inspetora
Sullivan chamou.
Revezei meu olhar entre as duas, parando em Natalie.
— Vai lá, conversaremos depois — Natalie disse com a voz
carregada de compreensão.
Abri a boca para falar, mas acabei optando pelo silêncio e sai
seguindo a inspetora.
— Malik, pode ir para a sala da diretora — disse a inspetora
Sullivan.
Concordei me levantando e caminhei até a sala da diretora, ao
entrar, me deparei com o treinador Sanchez que estava de braços
cruzados e com expressão séria.
— Sente-se, querida — pediu a diretora e assim o fiz. — O
treinador Sanchez me contou sobre as aulas extras com o time —
iniciou como se fosse me dar uma bronca.
— Diretora, eu só estava tentando ajudar os meninos. Eles
estavam bem perdidos em matemática e eu os ajudei. Atrapalhou no
treino?
— Sim, atrapalhou — disse o treinador e a diretora riu.
— Pare de assustar a garota, Sanchez — pediu e ele sorriu.
— Começamos a treinar depois, os meninos falaram o tempo
todo sobre como você explica bem. Hoje, pelo que soube, o time
prestou atenção na aula de matemática como nunca fizeram antes e
ainda conseguiram resolver os exercícios da matéria. A professora
Horan ficou impressionada e comentou que, talvez, não seja
necessário tirar mais ninguém do time — o treinador explicou.
— Porém, eles não estão tão bem em física e química. Você é a
garota mais inteligente da escola e já que recusou continuar
participando do grupo de estudos e não ajuda Cameron com as
notas, penso que poderia ajudar os meninos três vezes na semana
para contar como nota de projeto. O que acha? — A olhei com o
cenho franzido.
— E em que horário seria isso? — questionei.
— Das 13h às 14h30. Na terça, quarta e quinta. Acredito que
você deve se perguntar o motivo de não ter essas aulas com algum
professor, já tentamos, mas os meninos nunca prestam atenção e...
— Ok, eu aceito — anunciei.
A diretora me olhou surpresa e o treinador sorriu.
— Sem resistências? Para ajudar um garoto eu quase não
consegui te convencer, mas com o time todo...
— O time foi bem tranquilo comigo ontem, agora Styles é uma
missão extremamente difícil e insuportável que eu não estou
disposta a cumprir — disse rindo, o treinador e a diretora
gargalharam.
— Ele não participará das aulas. Como expliquei a ele, agora
terá de se virar sozinho e acho que ele está conseguindo. A
professora de química falou que ele foi muito bem na apresentação
— a diretora disse me analisando.
— Eu duvido — rimos.
— As aulas com o time começam semana que vem — concordei
me levantando e logo fui autorizada de sair da sala.
O time todo, exceto Cameron, estava no corredor. Eles me
olharam esperançosos, me deixando confusa.
— E aí, aceitou? — Josh questionou.
— Vocês já sabiam?
— Obvio, nós demos a ideia para o treinador — Peter disse.
— Eu aceitei — disse ainda sem reação e eles fizeram uma
barulheira bem animada.
— Ei, bando de marmanjos e Rebecca, para a sala, agora! — A
inspetora disse em alto e bom tom; rimos descendo as escadas.
— Cameron vai poder participar? — Outro garoto me
questionou, neguei com a cabeça e eles de imediato mostraram
desanimação.
— Não tem jeito, capitã? Se você falar com a diretora ela não
deixa? — questionou Peter.
— Capitã? — questionei rindo e eles concordaram balançando a
cabeça euforicamente. — Certo. A diretora deixou claro que ele vai
ter que se virar sozinho. Talvez se voltar a ser capitão ele possa
participar.
— Ele tem um mês para isso — Elliot disse. — Ele vai
conseguir, time — afirmou me olhando e eu segurei o riso.
— Bom, vou para a sala, acho bom vocês irem também —
alertei me despedindo.

— Soube que agora é a capitã dos estudos do time — Andrew


comentou.
— Quem te contou? — O olhei rindo.
— Peter.
— Ah sim. Não sei se já aconteceu isso na escola, mas é uma
boa oportunidade de eu afiar meus conhecimentos. Afinal, para
ensinar precisa aprender e se eu aprender o suficiente para ensiná-
los...
— Eu entendi, Becca — disse rindo e eu acabei rindo junto. — É
legal isso que você está fazendo. Peter falou muito sobre, onde
aprendeu tanto de esportes?
— Meus pais e meus tios amam esportes. Meu pai era jogador
de futebol americano e minha mãe ginasta, então qualquer
oportunidade eles falam sobre esportes, acabei pegando gosto por
alguns — expliquei enquanto limpava as mesas, ele pegou um pano
e começou a me ajudar. Coisa que nunca tinha feito.
— Tinha me esquecido que Owen já foi jogador e dos bons —
concordei rindo.
— Ele quem me ensinou a associar matemática e física com
esportes — expliquei e Andrew se aproximou de mim.
— Fiquei pensando essa semana nas coisas que você me disse
— iniciou e pensou um pouco. — Eu fui um grande idiota sem você
merecer, não quero continuar assim principalmente por
trabalharmos juntos.
— Promete nunca mais citar Natalie? Não quero saber se estão
juntos ou separados, só não fica colocando-a em provocações que
são comigo — ele sorriu de lado concordando — Perfeito, então —
estendi minha mão, ele a segurou e me puxou para um abraço.
O abracei mesmo sem entender e o barulho do sino de entrada
tocou. Olhei Andrew e ele estava olhando para a porta, meu olhar
seguiu na mesma direção vendo Cameron e por algum motivo me
afastei rapidamente de Andrew.
— O babaca do seu chefe pode te liberar mais cedo, Malik? —
Cameron questionou se aproximando de nós.
— Não vou liberar só porque o babacão quer — Andrew disse
encarando Cameron e novamente eu estava entre eles dois.
— Vocês não conseguem ficar no mesmo ambiente sem
discutir? — questionei revezando o olhar entre eles.
— Seu irmão sofreu um acidente no treino dele, minha mãe está
com ele e a sua mãe está presa no trânsito do outro lado da cidade.
Seu pai está assinando os documentos da cirurgia, mas Isaac quer
voc…
Não o esperei terminar, olhei Andrew que de imediato entendeu
e sai puxando Cameron. Entramos no carro e ele dirigiu o mais
rápido que pôde.
— Onde ele está? — questionei meu pai.
— Em cirurgia. Queríamos te esperar, mas ele estava com muita
dor. Era urgente, mas ele vai ficar bem — papai explicou depois de
beijar minha testa. — Ainda temos 1h e 40 minutos de espera. Vou
buscar sua mãe, ela foi deixar as crianças na sua tia — concordei o
abraçando.
— Ele vai ficar bem?
— Com repouso e cuidados, sim — sorri para ele, me sentei ao
lado de tia Eliza e observei meu pai sair, só então me dando conta
de que Cameron tinha sumido.
Senti um frio tomando conta do meu corpo, na pressa sai da
lanchonete com o uniforme me esquecendo do fato de que no
hospital tinha ar-condicionado.
— Querida, você acabou de chegar do trabalho, vamos comprar
algo para você comer — tia Eliza disse e eu neguei com a cabeça.
— Só depois de meu irmão estar bem.
— Nada disso, já venho, vou comprar algo para você — disse
se levantando e saindo antes que eu retrucasse.
Cameron colocou o moletom salmão em meus ombros, seu
cheiro dominou meu olfato e meu corpo ficou quente, mas não era
exatamente por conta do moletom.
— Não precisa — afirmei e ele riu se sentando ao meu lado,
pegou em minhas mãos e me olhou.
— Suas mãos estão geladas — ele subiu os dedos em meus
braços me fazendo arrepiar — e você está toda fria, então está com
frio. Para de ser orgulhosa — ri dando de ombros e me rendendo.
— Sabe, se eu fosse uma garota iludida eu já teria caído nesse
seu jeitinho — ele me olhou confuso e eu coloquei meus braços nas
mangas do moletom. — Empresta moletom, as vezes é cavalheiro
— me encostei no sofá — e quem vê até acha que se importa
comigo.
Cameron franziu o cenho, sua expressão ficou difícil de decifrar,
ele parecia triste e ao mesmo tempo frio.
— Eu achava que era egocêntrico, mas nessa você me venceu.
— Como? — questionei confusa.
— Você acha mesmo que eu falo com você como se te
desejasse? — Ele riu de forma irônica. — Não mesmo, eu te olho e
vejo uma garota insuportável que eu jamais teria algo.
— E quem disse que eu teria algo com você garoto? Nem se
fosse o último homem da terra!
— E nem se você fosse a última terra, prefiro encerrar a
humanidade a te ajudar na procriação — Cameron rebateu.
— Procriação? Eu com certeza não ajudaria você nisso, imagina
nascer pessoas iguais a você? O mundo seria melhor se
encerrássemos mesmo — ele mostrou o dedo do meio para mim e
um casal ao lado começou a rir de nós.
Cameron se levantou e saiu pela porta em direção ao
estacionamento.
— Este homem está a fim de você — o homem loiro de olhos
azuis falou rindo.
— O quê? Não, a gente é assim desde sempre — expliquei.
— O jeito que ele te olha diz outra coisa — o homem preto de
olhos castanhos, que estava com o braço envolto dos ombros do
homem loiro, afirmou.
— Não faz sentido.
— E por que não? — O loiro questionou.
Eu nunca mais os veria, então não via problemas em falar sobre
a minha vida.
— Somos opostos. Ele ama festas, bebidas, drogas e eu prefiro
minha casa, livros e, assim, eu gosto de sair com pessoas da minha
idade, mas não para ir aos lugares que ele vai. Nunca daria certo.
— Isso baseado no fato de ele gostar de algumas coisas que
você não gosta e vice-versa?
Soltei a respiração e levantei meu olhar para eles.
— Nunca daria certo. As prioridades dele são outras e eu não
vou abrir mão da minha vida por ele.
— Se ele gosta de você, ele não vai querer que você abra mão
da sua vida. O amor não pede isso — o homem de olhos castanhos
disse.
Senti um tapa na minha cara e minha fala sumiu.
— Senhores Campbell, me sigam por favor — a doutora os
chamou.
Olhei o relógio vendo que ainda tinham uma hora e quinze
minutos de cirurgia. Sai do hospital indo até o estacionamento e
vendo Cameron encostado no capô do seu carro.
— Viu tia Eliza? Deixei minhas coisas na lanchonete, inclusive
meu celular — Cameron olhou atrás de mim de forma estranha.
— Ah, merda.
— O quê? — Olhei na mesma direção, mas ele me virou de
frente antes que eu visse o que ele observava.
— As gêmeas me acharam. Vou matar Elliot. Merda, elas estão
vindo para cá com o carro.
Uma luz veio na minha mente, era uma péssima ideia... vou
fazer.
— Vem — o puxei para perto da porta do motorista.
Coloquei o capuz de seu moletom enfiando os fios de meus
cabelos dentro, me encostei no carro e o puxei pela cintura
abaixando a cabeça no ombro dele para que as meninas não me
vissem.
Ele hesitou por segundos, até seus braços envolverem meus
ombros. Ficamos naquele abraço por um tempo que não fazia ideia
de quanto, mas foi o suficiente para eu entender que nunca mais
esqueceria o cheiro dele. Me sentia estranhamente confortável.
Cameron me olhou e passou a mão nos fios de meus cabelos
os tirando de dentro do capuz quando soltei sua cintura, mas nossos
corpos continuavam próximos.
— Elas pararam no fim do estacionamento. Posso? —
questionou e eu balancei a cabeça em concordância, mesmo sem
saber o que ele pretendia fazer.
Ele passou a mão em uma mecha de meu cabelo e, sem tirar
meu capuz, encaixou a mão em minha nuca e beijou minha testa,
para me olhar sorrindo e acariciar meu rosto com o polegar. Em
seguida me abraçou outra vez e só então me lembrei de respirar.
Meu corpo todo estava em euforia e formigando, mesmo
sabendo que era apenas para despistar as gêmeas.
Era estanho sentir toques assim, ninguém nunca chegou tão
perto, não com a minha permissão.
Minhas mãos suavam frio e meu coração estava disparado.
— Elas já foram — disse em voz baixa olhando além de mim e
me olhou. — Por que fez isso? — O soltei, ele tirou meu capuz e
afastou meu cabelo da nuca.
Prendi a respiração e tentei ser discreta ao respirar novamente.
— Porque, infelizmente, eu preciso de você — afirmei e ele riu.
— Então você está me usando? — questionou cruzando os
braços, me encostei no carro e ele se manteve próximo.
— E o que você acabou de fazer comigo?
Ele sorriu negando e eu desci meu olhar em seus lábios, mas
apressadamente voltei a olhar em seus olhos.
— Você quem deu a ideia.
— Sim, porque eu preciso de um favor e duas meninas em cima
de você não me ajudaria — expliquei e ele afastou uma mecha do
meu cabelo que estava caindo em meu rosto. — Você pode parar de
mexer no meu cabelo?
— Por quê? — Indagou com um sorrisinho maroto e desceu a
mão pela mecha inteira.
O olhei por instantes querendo rir, revirei os olhos e me afastei
dele.
— Enfim, me empresta seu celular para eu falar com Andrew?
— Para quê? — O olhei.
— Eu perguntei para que você queria despistar as gêmeas?
— Grossa.
— Anda Cameron — estendi a mão e ele me entregou o celular.
— Melhor ligar para Natalie — o olhei de imediato e confusa —
É… Eu sei — disse transparecendo decepção.
— Cameron…
— Não tem o que fazer, Malik — disse se encostando no carro
—, ligue para ela.
Soltei minha respiração e liguei para Natalie. Cameron estava
certo, eles estavam juntos e ela iria trazer minhas coisas até o
hospital.
Desliguei e entreguei o celular a Cameron.
— Errei? — Neguei com a cabeça, ele concordou pegando o
celular, o olhou e riu — Olha isso.
Cameron me mostrou seu celular, Melissa mandou uma foto que
foi tirada minha e dele. Não mostrava meu rosto por conta do capuz,
nem o uniforme pois eu estava bem próxima de Cameron e ele me
cobriu. Em baixo tinha a mensagem: Quem é essa, Cameron?
— Mais uma na lista — respondi o olhando. — Fala que é só
mais uma — insisti e ele riu negando.
— Não mesmo — o olhei digitar um: não é da sua conta e o
observei sem entender.
— O que você está fazendo, Styles? Perdeu a noção? — Tentei
puxar o celular de sua mão, mas ele me impediu.
— Talvez assim ela me deixe em paz, eu preciso de paz para
esse ano — explicou, o encarei incrédula.
— Apaga isso seu babaca.
Ele levantou o celular no alto quando tentei pegá-lo novamente
e me segurou pela cintura, a apertando levemente, quando me
pressionou no carro eu senti meu corpo esquentar.
— Fala direito comigo, agora você é meu casinho oculto —
debochou com o rosto próximo do meu.
— Prefiro a morte — afirmei sem me afastar.
Ficamos nos olhando por instantes, seus olhos desceram em
meus lábios e eu desviei o olhar. Comecei a caminhar de volta para
o hospital, mas ele me puxou.
— Ela não vai te caçar, não tem como saber que é você —
disse calmamente.
— É bom você estar certo — avisei retornando para o hospital.
Tia Eliza estava sentada, me sentei ao lado dela e ela me
entregou o lanche natural que havia comprado. Sorri após
agradecê-la.
— Amiga — ouvi Natalie me chamar assim que entrou, me
levantei e ela me abraçou com força —, você está bem? —
questionou ainda abraçada comigo.
— Sim, estou, meu irmão está em cirurgia — nos soltamos, ela
me olhou de cima abaixo e arregalou os olhos — Eu posso explicar
— disse rindo.
Meus pais chegaram, mamãe me abraçou e correu para falar
com o médico. Tia Eliza a acompanhou e meu pai foi para a
lanchonete com tio Arthur. Eu e Natalie nos sentamos em um canto
da sala, ela me entregou minha mochila e meu celular.
— Estava com Andrew? — questionei.
— Estava com Cameron? — rebateu em tom sério e eu a olhei
incrédula.
— Prometemos ser sem máscaras, então, sim, estava com
Cameron. Eu precisava falar com Andrew e pegar minhas coisas
porque deixei tudo para vir para cá. Só tinha Cameron pra me
ajudar, as gêmeas o acharam e eu fiz o que veio na mente pra ele
poder me ajudar.
— Vocês pareciam tão próximos, tão… — Neguei com a
cabeça.
— Só foi para despistar as meninas, elas já tinham o visto —
expliquei.
Cameron entrou no hospital, o olhei e desviei o olhar para
Natalie.
— Tenho medo de você se apaixonar por ele — franzi o cenho.
— Eu o ajudei para o meu próprio bem, não para o dele. Fica
em paz, não vou me apaixonar logo por ele.
Ela riu entrelaçando nossos dedos. Cameron se sentou ao meu
lado e olhou Natalie.
— Estava com Andrew? — questionou e ela revirou os olhos.
— Becca, Cam já tinha me avisado que ia te buscar na
lanchonete para trazer você aqui, porém, eu estava na aula de
francês e só vi a mensagem depois. Fui ver sim Andrew, mas foi
antes. Estava a caminho daqui quando Andrew me ligou falando que
suas coisas estavam lá, quando você me ligou eu estava com ele
porque fui pegar suas coisas.
— Ok — dei de ombros e me encostei na parede.
Cameron estava, também, encostado na parede de olhos
fechados e sentado relaxadamente no banco.
— Sei que você não gosta dele e nem da nossa relação, mas...
— Isso não tem nada a ver comigo, Natalie, não quero discutir
nem entrar nesse assunto, mas me dói ver você aceitando ser
segunda opção, ser mais uma, ficar no oculto. Quem gosta te trata
como prioridade e no mínimo tem que te assumir, você não nasceu
para ser a segunda opção dele — disparei a olhando nos olhos e os
vendo marejados. — Me desculpa...
— Não — ela fungou se arrumando na cadeira — eu prefiro
você assim, sem filtros — a puxei a abraçando.
— Você merece mais — sussurrei.
— Filha — mamãe se aproximou — deu tudo certo na cirurgia
— disse animada e o alívio dominou meu corpo totalmente.
— Quem é a garota misteriosa? — A voz de Cameron ecoou
em meu ouvido em um sussurro que me fez arrepiar.
— Eu falei que elas me caçariam, Styles — me virei o olhando e
ele sorriu.
— Elas não fazem ideia de que é você — disse se encostando
em seu armário. Peguei o livro de história, fechei meu armário e o
encarei.
— Já basta o time, não quero elas em cima de mim — expliquei
passando em sua frente e ele me parou com seu corpo.
— O time? — Concordei.
— Até tinha estranhado os meninos me seguindo no Instagram
e me chamando para conversar, mas hoje eu ganhei uma coca e
eles trouxeram os meus livros — comentei rindo e ele permaneceu
sério.
— Eles querem te conquistar — disse dando de ombros —, boa
sorte — desejou caminhando até a sala.
O segui, afinal, minha aula era a mesma que a dele.
Paramos na frente da sala, Cameron bateu na porta e a abriu
me deixando entrar primeiro.
Pedi licença ao professor e só então percebi o quão péssimo foi
ter entrado com Cameron na sala. Todos estavam nos olhando e
cochichando, ele não parecia se importar, devia estar mais do que
acostumado. Calleb, que sempre acompanhava Jace na escola,
guardou um lugar para mim e Elliot para Cameron.
— Não acredito — Calleb sussurrou em voz baixa. — Você e…
— Não, nunca — afirmei seriamente. — Onde está Jace?
— Ele tem um cuidador especial agora, próprio para ajudar
pessoas com a dificuldade que ele tem — explicou —, mas no
intervalo eu o buscarei — concordei balançando a cabeça.
Franzi o cenho por ver algumas meninas me olhando.
Olhei Cameron e ele olhou as meninas seriamente, elas
abaixaram o olhar e pararam de me encarar, balancei a cabeça
negativamente pensando em como era horrível aquilo, abaixavam a
cabeça pela popularidade de Cameron.
O professor passou atividades e os meninos do time estavam
falando extremamente alto.
— Rebecca, sente-se no fundo com os meninos durante a
atividade, por gentileza? — O professor pediu, eu e Calleb nos
olhamos e ele riu. — Eles vão escutar a capitã deles.
— Vem capitã — Josh chamou e os meninos me olharam, assim
como o resto da sala.
Dei de ombros e antes que pudesse organizar minhas coisas,
Peter e Josh se aproximaram para pegar meu material.
— Vocês não precisam carregar minhas coisas toda vez —
comentei rindo e me aproximando dos meninos do time.
— Por que não? — Josh questionou.
— Porque eu posso levar — disse rindo.
— E por que a gente não pode levar para você, capitã? — Peter
questionou e Cameron me olhou rindo.
— Vocês venceram — afirmei.
Elliot se levantou me dando espaço para me sentar ao lado de
Cameron e se sentou ao lado de Josh.
Viramos a mesa para que eu ficasse de frente para os meninos
e a aula passou mais rápido do que o costume.
O sinal de troca de aula tocou, guardei minhas coisas e antes
que pudesse sair da sala Melissa e duas amigas me pararam na
porta.
— Era você? — Melissa questionou.
— Do que estamos falando? — Perguntei.
— A foto com Cameron — explicou.
Abri a boca para começar a negar quando Calleb enlaçou o
braço no meu.
— Com licença, garotas — ele disse em tom engraçado e me
puxou para um canto. — Fale para mim que não é você — pediu me
mostrando a minha foto com Cameron no jornal — não, Becca, não
— disse rindo.
— Está bem, capitã? — Victor, o garoto que estava me
observando enquanto as líderes falavam comigo, questionou.
— Estou sim, Victor, obrigada — ele sorriu concordando e saiu
com dois garotos que não são do time. — Por que as pessoas são
assim com Cameron? — questionei Calleb.
— Porque ele vai ser o rei do baile, como foi ano passado com
uma garota do terceiro. O comitê gestor do baile está só esperando
ele voltar a ser o capitão oficial para anunciar que a porcentagem
dele ser o rei novamente é de 99,9% de chance. Em seguida, todas
as meninas vão para cima por quererem a coroa e quando eu falo
todas estou me referindo a presidente do grêmio, a capitã das
líderes e todas essas meninas egocêntricas. Você vai ver, é um
verdadeiro inferno, mas isso é por ele ser rico e seus pais
influenciam em Stanford, assim como os seus — observou e eu
suspirei.
— Rebecca — Noah, do time, me chamou, o olhei e ele parou
em minha frente —, está livre hoje à noite? Pensei em darmos uma
volta.
— Pode ser outro dia, Noah? Tenho compromisso marcado —
ele concordou e saiu parecendo desapontado. — Bom, sobre o baile
eu só fico me perguntando o motivo de uma coroa ser tão impor…
— Capitã — Josh parou em minha frente, ele e Calleb se
olharam, e depois Josh me olhou —, está a fim de um cinema hoje à
noite?
— Pode ser outro dia? Hoje já tenho compromisso — expliquei
calmamente. Ele deu um sorrisinho fofo e me abraçou.
— Sem problemas, até mais tarde capitã — disse se afastando,
depois de olhar novamente Calleb.
— Rebecca is the new Cameron — Calleb ironizou.
— Por que Josh te olhou daquela forma?
— Que forma? — Ele indagou com as bochechas ficando
avermelhadas.
O observei por instantes e dei de ombros segurando o riso.
— Deixa para lá.
Olhei o celular em minha mão vendo uma notificação de
mensagem.

Styles: Me encontra na sala de estatísticas do time


Styles: Agora
Styles: Por favor?

Acabei rindo do jeito que ele foi mandão e tentou contornar a


situação com um por favor.
— Te vejo depois.
— Ok, new Cameron — revirei os olhos rindo e caminhei em
direção ao vestiário do time, no fundo do vestiário estava a sala de
estatística, entrei no vestiário com máximo de cuidado para ninguém
me ver e felizmente estava vazio por ser horário de aula.
Caminhei até a sala de estatísticas e Cameron estava parado
olhando a lousa, mas se virou assim que abri a porta. Ele me olhou
fixamente e balançou a cabeça.
— Soube que Melissa te questionou hoje— disse cruzando os
braços.
— Vai brigar comigo quando eu enfrentar a sua amada? —
Debochei e ele se forçou a não rir.
— Malik, eu…
— Não tenho medo delas, Cameron, e pretendo ignorar
qualquer briga por homens — afirmei vendo um sorriso escapar em
seu rosto.
— Você podia me ajudar mais nisso, já que não tem problema
para você.
— De jeito nenhum, fiz mais do que devia — rebati e ele
alongou o corpo levantando os braços e esticando o peitoral para
frente.
— Ah, pare com isso, você também gostou — fiquei o olhando
com expressão incrédula e ele sorriu. — Enfim, tudo bem continuar
as aulas?
— Sim — dei de ombros e ele me olhou por instantes. — Como
você aguenta toda essa atenção como se você fosse uma…
celebridade?
— Vai por mim, nos outros anos não foram assim, havia alguns
comentários, mas nada assim.
— Ouvi comentários de que é porque você está solteiro — rimos
e ele deu de ombros.
— Ano passado eu também estava, mas Gabbe quis minha
ajuda para ser rainha do baile e por um tempo eu tive paz —
explicou.
— Entendi, melhor irmos — afirmei.
Assim que abri a porta da sala de estatísticas, a porta do
vestiário foi aberta e em um movimento rápido Cameron me puxou
pela cintura me tirando da frente da abertura da porta colocando sua
mão em minha boca abafando o som do grito de susto que dei e me
encostando na parede. Ele me olhou fazendo sinal de silêncio e
deslizou a mão a afastando de minha boca, me encarando
atentamente como se milhões de pensamentos passassem por sua
mente.
— Noah já tá atacando a Rebecca, ele tá louco se acha que eu
vou deixá-lo com ela — ouvi Josh afirmar e Cameron me olhou com
olhar de eu avisei.
— Ela é incrível mesmo, é simpática, bonita e inteligente —
Peter disse suspirando. — Andrew disse que espera só uma brecha
dela, mas ela nunca dá.
— Andrew a quer? — Jack questionou.
— Quem não quer? — Josh rebateu.
Me contive em não fazer expressão de nojo ao notar que eles
ignoravam o fato de que Andrew namorava.
— O capitão? — Peter supôs e todos começaram a rir. — Ele
finge — olhei Cameron, ele revirou os olhos negando e se afastou.
— Só finge porque ela não quer, se ela quisesse ele já teria ido
para cima — Josh afirmou e Cameron franziu o cenho como se
aquela fala fosse a coisa mais louca que ele já ouviu em sua vida.
— Bom, pelo menos não temos ele no caminho — Jack
disparou.
— Tirem o cavalo da chuva, se depender de mim, a princesa vai
ser minha — Peter disse se gabando me fazendo segurar a
gargalhada.
— Não mesmo — Josh disse e eu me encolhi para não rir.
— Boa sorte garotos, porque se depender de mim, ninguém
encosta nela — Jack afirmou determinado.
— O Victor falou alguma coisa dela, não foi? — Peter
questionou.
— Melissa foi questioná-la, estão achando que ela é a garota da
foto com Cameron — Jack explicou.
— Mas não dá para ver nada, só que a garota é alta — ouvi
Josh falar.
— Cameron fica com tanta menina e essas garotas ainda ficam
de briguinhas — Jack riu.
Concordei em um balançar de cabeça mesmo que eles não
estivessem me vendo. Cameron me olhou incrédulo e mostrou o
dedo do meio me fazendo rir em silêncio.
— Enfim, só lembrem que Becca não é objeto, se alguém
apostar qualquer coisa relacionado ela, vocês já sabem — Peter
alertou.
— O capitão avisou — Josh explicou, olhei Cameron confusa e
ele estava olhando para o chão. — Quando eu falo que ele gosta
dela, ele ainda fica bravo, mas aquele discurso de se apostar
qualquer coisa relacionado a ela, vão se ver comigo deixou na cara.
— Apostar uma garota é muita burrice até para o Jack — ouvi
Peter dizer.
— Ei, o que você quis dizer com isso? — Jack questionou em
tom engraçado.
Os passos ficaram mais longes e a porta foi aberta e fechada.
Cameron olhou pela abertura da porta da sala em que estávamos e
me olhou.
— Já sabe com quem vai sair? — Debochou rindo.
— Babaca — ri me desencostando na parede e pegando minha
mochila. — Já sabe quando vai assumir que gosta de mim? —
Brinquei de volta.
— Gostar de você? — questionou com expressão de nojo —
Nem de brincadeira — rimos.
— É recíproco — afirmei rindo e saindo da sala de estatística e
do vestiário com, novamente, o máximo de cuidado.
A última coisa que queria era prolongar aquele assunto com
Cameron.
Caminhei até a biblioteca, afinal, tinha perdido metade da aula
de economia, e me sentei no fundo da biblioteca onde Neji estava
matando aula.
— Kath está enlouquecendo — Neji sussurrou e eu balancei a
cabeça para que ele continuasse —, ela está fazendo de tudo para
descobrir quem é a garota misteriosa com Cameron ontem e está
determinada a saber quem é ela antes de Melissa.
— Melissa me questionou hoje.
— Eu sei, Kath contou que desconfia de você. Pediu para eu te
questionar onde você estava ontem — ele riu.
— E o que disse?
— O que Natalie disse — fiz sinal para ele continuar. — Ah,
então, ela disse que estava com você no hospital porque seu irmão
se machucou. Cameron foi visto naquele mesmo hospital, mas você
ainda estava na lanchonete quando a foto foi tirada, então não tinha
como ser você porque você estava com Natalie e sabemos que ela
jamais concordaria com esse tipo de coisa por não apoiar vocês
juntos.
— Não precisava dessa explicação toda — brinquei e rimos. —
Teve festa no sábado? Não ouvi barulho nenhum de música.
— Não, os pais de Cameron estavam em casa.
— Graças a Deus — afirmei.
— Eu não acredito em Deus — Neji provocou.
— E quem disse que isso é problema meu? — questionei e ele
gargalhou fazendo as poucas pessoas da biblioteca nos olharem
fazendo barulho para ficarmos em silêncio.

Finalmente o dia tinha acabado e não teria aulas com o time.


Sai do laboratório, deixei meus livros no armário e caminhei até
o estacionamento para esperar Calleb e Natalie.
— Rebecca — ouvi a voz de Victor e o olhei. — Você é demais!
Ele me abraçou, acabei retribuindo mesmo sem entender, ele
me soltou e, ainda sorrindo, me mostrou uma atividade de física
com um 98 de vermelho. Arregalei os olhos surpresa.
— Não acredito! Parabéns! — Comemorei batendo palminhas
de animação.
— Se continuar assim poderei ser o novo capitão do time —
disse animado e meu sorriso se esvaiu. — O correto é um aluno do
segundo ser o capitão, só deixaram Cameron porque ele é muito
bom para o time, mas isso vai mudar com a sua ajuda — explicou e
minha voz simplesmente sumiu. — Enfim, muito obrigado mesmo!
— Sorriu se despedindo.
O encarei até vê-lo se juntar com outros meninos do time.
— Então foi você, seu desgraçado! — Cameron acusou indo
para cima de Victor assim que chegou no estacionamento.
Cameron socou certeiramente o rosto de Victor que foi jogado
contra seu próprio carro. Natalie correu enquanto Cameron gritava
com Victor sobre ele tê-lo dedurado para a diretora sobre os
trabalhos que ele recebia.
— EU VOU ACABAR COM A SUA RAÇA! — Cameron
esbravejou vorazmente.
Os meninos do time tentaram conte-lo, mas parecia ser
impossível.
— Victor fez a maior burrice da vida dele — Natalie disse
ofegante e parando ao meu lado.
— O que acont…
— Vem, me ajuda com Cameron — Natalie me puxou.
Quando nos aproximamos, Cameron estava novamente em
cima de Victor o socando sem parar.
— ELLIOT, TIRA O CAMERON DE CIMA DELE — Natalie gritou
desesperadamente.
— Eu quero é que ele apanhe mesmo — Elliot disse
calmamente.
Os policiais da escola estavam se aproximando e Cameron iria
se ferrar ainda mais. Tentei me aproximar, mas Peter me segurou.
— Você não está ficando nem loca — disse, o olhei seriamente
e ele me soltou.
Me aproximei dos garotos, desviei de um soco de Cameron que
foi acertado em Victor, que estava com o rosto machucado, e como
mãe de criança puxei Cameron pela orelha.
Ele se levantou na medida em que eu puxava sua orelha. Victor
ainda levantou o rosto, mas se deitou novamente. Cameron gemeu
de dor tentando se soltar de mim e parei de puxá-lo apenas quando
estávamos entre o carro dele e o meu. Os policiais olharam por um
tempo, Elliot falou com eles e eles se retiraram.
— Você ficou louc…
Dei um tapa em sua testa o deixando sem reação.
— Você perdeu a noção garoto? Agora vou ter que ser sua
mãe? Quantos anos você tem para ficar batendo em outro garoto?
Enlouqueceu? — Repreendi e ele abriu a boca para falar. — Entra
no carro.
— Rebecc…
— Agora Cameron! — Exigi.
Ele levantou os braços se rendendo. Abriu a porta do carro e
estendi a mão esperando que ele me entregasse a chave, Cameron
bufou e me entregou.
— Leva ele embora — pedi a Natalie e Elliot.
— O quê? — Elliot questionou olhando Cameron dentro do
carro e rindo dele.
— Leva ele embora, por favor — entreguei a chave a Natalie e
sai andando até onde estava Victor e o time o ajudando a ficar em
pé. — Vocês são uns idiotas, sabia? Ficam se batendo como se
tudo se resolvesse assim — afirmei me aproximando.
— Becca, quem começou foi o Victor, ninguém mandou ele
contar para a diretora sobre o Cameron receber os trabalhos dos
alunos — Peter defendeu Cameron.
— Vocês são um time, mas ficam se provocando e querendo
tomar o lugar um do outro. Victor, cresce. Não é passando por cima
de alguém que você vai ter o seu lugar! — Adverti enquanto todos
estavam em silêncio, apenas me ouvindo. — Parem de brigar por
coisas assim, isso só vai separar vocês e agradeçam por ter um
líder que, por mais difícil que ele seja, desde que cheguei aqui tenho
ouvido que Styles fez a diferença para o time. Mas se vocês
quiserem perder todas as temporadas, estão indo pelo caminho
certo!
— A maçã podre aqui é o Victor — Jack disse.
— Você não vai ser melhor falando assim dele, Jack — Jack
abaixou o olhar —, mas se vocês querem continuar ganhando as
temporadas, tratem de se unirem e pararem de querer passar por
cima de alguém — afirmei olhando Victor que me olhou e abaixou o
olhar; os olhei por instantes e acabei rindo porque estavam
parecendo crianças que acabaram de levar uma bronca da mãe. —
Preciso ir, Victor, você está péssimo — descontrai.
Eles riram enquanto eu caminhava até meu carro onde Calleb
estava encostado.
— Mandou bem — disse rindo.
— Eu tento — me gabei entrando no carro e ele fez o mesmo,
pois o deixaria em casa.
— E você defendeu Cameron — observou e eu o olhei por
instantes.
— Josh não prestou muita atenção em mim, acho que foi por
você estar perto — comentei e ele revirou os olhos.
— Idiota!
Dei de ombros com expressão de convencimento e logo
comecei a dirigir rumo as nossas casas.

— Além de capitã é conselheira do time? — Andrew brincou se


aproximando de mim e no mesmo momento me lembrei de Peter
falando que Andrew esperava uma brecha minha.
— Os garotos estão querendo me conquistar — comentei
apoiando meus cotovelos no balcão. — É exaustivo saber que
alguns dos meninos do time querem isso, só me deixa com mais
vontade de me afastar.
— Becca, com todo o respeito, é meio difícil não te querer —
franzi o cenho o olhando. —Não querer chamar atenção, chama a
atenção de alguns.
— Incluindo a sua atenção? — questionei diretamente.
Andrew primeiro parou me olhando sem reação, em seguida
sorriu.
— Você tem o meu silêncio — disse contraindo a mandíbula.
— É, talvez seja melhor — afirmei e ele se aproximou.
— Mas não posso mentir que você tem algo que me atrai —
disse se aproximando um pouco mais e eu o encarei.
— Estou disposta a perder meu emprego por justa causa se
você pensar em começar a me assediar, não preciso te informar que
isso é crime, certo?
— Becca, não é isso que você está pensando. Eu…
— Confundiu as coisas? — Cruzei os braços — Ou só está
esperando uma brecha minha?
— Não, é claro que não, não quero que pense isso de mim.
Balancei a cabeça negativamente sabendo que não tinha
disfarçado a minha decepção, peguei as coisas para limpar as
mesas e sai de perto dele rapidamente.

Esme, a pedido de Andrew, me dispensou mais cedo. Desde o


ocorrido mais cedo ele não desceu para trabalhar, o que tinha sido
bom, porque eu nunca, nunca, me senti tão desconfortável com ele
por perto.

Cheguei em casa me deparando com Cameron sentado em


meu sofá conversando com a minha mãe enquanto tomava uma
xícara de chá como dois fofoqueiros.
— Olá querida — mamãe disse quando a beijei no rosto.
— Oi mãe, oi Cameron — desviei meu olhar dele e acariciei
Louis e Eloise. — Oi meu amor — beijei a cabeça de Isaac, o
abracei com cuidado e olhei Cameron. — Já te chamo para
estudarmos — avisei subindo as escadas.
Tomei meu banho, coloquei uma roupa confortável e quando
abri a porta, Cameron estava no quarto de frente para o meu com
Isaac e Jeff, meu primo dois anos mais velho que meu irmão.
— Eu só não acabo com vocês no FIFA porque tenho que
estudar — Cameron disse convencido, entrou em meu quarto e
encostou a porta. — Só tem os trabalhos de matemática, literatura e
economia.
— Ok, qual primeiro? — questionei sem o olhar.
Não conseguia parar de me questionar o que levava alguns
meninos a se aproximarem de mim com intenções ruins e que me
deixassem desconfortável, não eram todos, mas as minhas
experiencias eram péssimas, algumas até mesmo levou a
processos por serem crimes. Achava que isso tinha parado desde o
ano passado, mas não. Não estava protegida em lugar nenhum. No
trabalho, na escola, na rua, nos jantares de negócios... eu não me
sentia segura.
— Becca? Tá aí ainda?
Olhei Cameron que me trouxe de volta a realidade.
— Desculpe, vamos começar por…
— Por você falando o que tem de errado contigo — completou.
— Literatura? — Cameron cruzou os braços.
— Nada disso — rebateu.
Suspirei colocando o livro de inglês em cima da mesa de
estudos.
— É só que… — Soltei a respiração — Desde sempre alguns
meninos se aproximam de mim só para ter algo a mais. Me olham
como se eu fosse um pedaço de carne — fiz um coque no cabelo.
— Isso me deixa insegura e se eu pudesse não trabalhava mais
na… — Cameron franziu o cenho e eu percebi que tinha dito algo
errado. — Enfim, é chato demais.
— Por que citou o trabalho?
— Não, isso não tem nada a ver — desviei o olhar.
— Rebecca — disse firme e eu respirei fundo.
— O que os meninos falaram sobre Andrew esperar uma brecha
minha. Não resisti e acabei jogando para fora — fiz expressão
enojada, o celular de Cameron não parava de acender mostrando
que alguém estava ligando. — Precisava confirmar e ele veio para
perto de mim de forma que me deixou muito desconfortável —
Cameron olhou para o nada pensativo. — Desculpe, sei que não se
importa e nem sei por que estou falando isso.
— Andrew sempre me incomodou — Cameron disse ignorando
minhas últimas palavras. — Avisei Natalie assim que peguei os dois
aos beijos.
— Eu queria que eles se afastassem, mas não tem como
obrigar ninguém a nada — disse e dei de ombros.
O celular de Cameron novamente tocou. Ele bufou, estressado,
e pegou o celular o atendendo.
— O que foi Melissa? — questionou ríspido — Não, não vou
para a festa hoje… porque eu... — Cameron me olhou com um
sorriso maroto me fazendo entender o que se passava em sua
mente.
— Não! — Falei sem som e negando com a cabeça.
Ele ficou me olhando por segundos e Melissa o chamou tão alto
que eu pude ouvir.
— Estou com uma garota hoje — explicou fazendo meu coração
parar. — Não te interessa quem é a garota e você está me
atrapalhando. Sai do meu pé, Melissa! — Cameron desligou.
— Seu idiota! — Lhe dei um tapa no ombro. — Não! — Afirmei
me levantando da cadeira e me encostando na janela. — Não!
— Por favor — pediu sorrindo de lado.
— Não, já falei que não, é não — repeti e ele se levantou se
aproximando de mim.
— Só uma foto, por favor — pediu afastando meu cabelo do
rosto.
Suspirei pesadamente e ficamos nos encarando.
— Faço o que você quiser — prometeu.
— Arruma o meu cabelo depois — sugeri e ele fez expressão de
entediado. — Você arruma o da Natalie. Sabe quanto tempo demora
para arrumar esse cabelo? — questionei me afastando dele e me
sentando na cama. — Essa é a minha condição — ele me olhou.
— Combinado — ele disse e eu sorri concordando.
— Como será a foto? — Ele me olhou por instantes pensando e
a resposta foi o silêncio. — Por que você está fazendo tudo isso?
Por que não simplesmente admite que não quer nada com ela e as
outras? — Ele se sentou na cama — Você não vai deixar de ser o
popular que todas querem.
— Tem uma que me odeia — afirmou rindo de lado.
— Esse não é o ponto — rimos.
— Você acha que eu não já tentei? — questionou desfazendo o
sorriso de seu rosto. — Já falei que não quero ninguém, mas elas
não param. Estão tão sedentas por popularidade, por ajuda para
entrar na faculdade, pela minha família rica ou por ter alguém que
não percebem que são irritantes e assediadoras.
— Ah... — suspirei em frustação. — Isso é horrível — comentei.
— O pior é que elas só param se eu estou com alguém, como
se eu falando que não quero não fosse importante — explicou
passando a mão no cabelo e o jogando para trás, o cabelo voltou
para a frente ficando bagunçado.
— Com Andrew e os meninos do time é a mesma coisa, só vão
parar se eu estiver com alguém — ele me olhou como se tivesse
pensado em algo.
— Tive uma ideia.
O olhei assustada pela possível ideia que ele teve.
— É, mas eu odeio suas ideias, então não — afirmei rindo na
tentativa de não demonstrar meu nervosismo.
O celular de Cameron acendeu novamente, ele virou o celular
para mim mostrando a ligação de Katherine e eu comecei a rir
quando ele revirou os olhos em sinal de irritação.
— Já sei como podemos tirar a foto.
— Como? — questionou.
— Se você quer uma foto para mostrar que realmente tem
alguém e sem mostrar meu rosto — deslizei a mão em seu braço
até pegar em sua mão e entrelacei nossos dedos, Cameron arfou,
mas logo disfarçou —, a melhor forma é assim — levantei nossas
mãos.
— Ok — ele disse quando soltei nossas mãos.
Me levantei indo até o interruptor abaixando a luz do quarto
enquanto Cameron me olhava atentamente. Ele se levantou, pegou
em minha mão e tirou a foto. Me virei para ele e ficamos nos
olhando.
Abaixei o olhar pelo frio na barriga que sentia e soltei sua mão.
— Deixa eu ver — ele me mostrou a foto — ficou muito boa.
O olhei e ele estava me encarando de forma que seus olhos
ficaram ainda mais azuis e com um brilho que nunca havia visto
antes. Cameron passou a língua nos lábios e afastou a mecha de
cabelo molhada que saiu em meu rosto.
Me senti hipnotizada e não conseguia sair de perto dele. Seus
olhos, que antes estavam olhando os meus, desceram até minha
boca e eu balancei a cabeça me afastando.
— Então, essa foto serve? — questionei tentando aliviar a
tensão.
Minhas mãos suavam frio, o meu corpo, por outro lado estava
quente.
— Serve sim, com certeza — afirmou.
— Ótimo — peguei o secador —, porque agora é a sua vez —
ele riu.
Arrumei as coisas enquanto ele postava a foto. Me sentei na
cadeira de estudos e assim que peguei o celular, vi a ligação de
Natalie.
— Pois não, querida — a atendi.
— É você? — Natalie questionou em um sussurro. — Na foto, é
você?
— Sim, foi para despistar Melissa — Cameron me olhou através
do espelho com o cenho franzido.
— Imaginei, as meninas do jornal estão desconfiando e
provavelmente vão comentar com Melissa — Natalie alertou. —
Vocês estão sendo descuidados.
— Mas por que desconfiariam de mim? Todo mundo sabe que
eu e ele não nos damos bem — relembrei vendo Cameron rir
começando a pentear meu cabelo.
— Não se dão bem ou só fingiam? — questionou e eu senti um
soco no meu estômago. — Vocês se implicam, mas estão de dando
muito bem — houve um silencio de ambas as partes — e o seu
silêncio só confirma — disse a si mesma. — Enfim, Melissa e Kath
colocaram na cabeça que você tem algum envolvimento, mas
preciso ir agora.
— Ok, depois a gente se fala. Te amo.
— Te amo — disse e desligou.
— Estão desconfiadas que sou eu de novo — avisei.
Cameron deu de ombros ligando o secador. Três batidas na
minha porta fizeram com que Cameron a abrisse.
— Mamãe disse para eu ficar aqui de olho em vocês — Isaac
disse entrando no quarto e se jogando em minha cama.
— O quê? Por quê? — questionei.
— Ela falou que acha que vocês estão namorando — Isaac
disse sem tirar os olhos do celular.
— Jamais, ela nem faz meu tipo — Cameron afirmou.
— E você tem tipo, Styles? — Ele me olhou cruzando os braços.
— Se é mulher e respira você fica, quem não quer sou eu.
— Está se achando demais, nerd — Cameron disparou.
Isaac colocou os fones e se deitou na minha cama.
— Arruma meu cabelo, anda — me virei de frente para o
espelho.
— Mandona.
— Irritante — ele me mostrou o dedo e rindo voltou a arrumar
meu cabelo.
Peguei meu celular vendo mensagens de Calleb.

Calleb: Onde você está? E com quem?


Calleb: Está todo mundo falando da foto e as únicas pessoas
relevantes que não vieram foram você e o Cam
Becca: Estou cuidando dos meus irmãos
Becca: E eu nunca vou para festas
Calleb: É, isso é mesmo
Calleb: Vou ir beber, beijos
Becca: Não morre, beijão

Podíamos considerar Isaac um péssimo vigia. As 22h15,


quando começamos a assistir Naruto Shippuden, ele dormiu
deixando eu e Cameron acordados.
Minha mãe veio nos checar três vezes, o que me fez rir, e
deixou Elô e Louis sob nossa responsabilidade para poder dormir
um pouco, mas os nenéns acabaram adormecendo antes do
esperado. Cameron mostrou que no grupo do time estavam todos
falando sobre a foto. Postei uma foto com Elô para tirar o foco do
time e pelo que entendi Calleb espalhou que não era eu.
— Styles? — O chamei, ele estava cochilando e se mexeu um
pouco segurando Louis que estava deitado de bruços em cima de
sua barriga. — Me ajuda a colocar as crianças nos quartos? — Pedi
quando ele abriu um pouco os olhos.
Cameron se levantou com cuidado. Me seguiu até o quarto dos
gêmeos e os colocamos em seus berços. Em seguida voltou ao meu
quarto, pegou Isaac e o colocou em seu quarto.
— Obrigada — agradeci arrumando os materiais na mesinha.
Ele pegou suas coisas e descemos as escadas.
— Obrigado pela ajuda — disse assim que abri a porta.
Concordei balançando a cabeça
— Até segunda — me despedi.
Cameron me puxou e me abraçou, deu um beijo em minha testa
como se fosse algo normal entre nós e saiu andando até sua casa.
Fiquei olhando para a rua vazia por instantes.
E se Natalie estiver certa? Só fingimos?
Cheguei em casa abrindo a porta com cuidado e me deparei
com Natalie sentada encolhida no sofá enrolada em um cobertor.

Estava chorando e limpando as lagrimas que escorriam em seu

rosto.
— O que aconteceu? — questionei largando minha bolsa no
outro sofá e me sentando ao lado dela, a abracei e ela chorou ainda
mais.
Acariciei seus cabelos enquanto ela molhava minha blusa com
suas lágrimas, entendendo que o causador era, sem dúvidas,
Andrew.
— Foi Andrew? — Ela negou.
— Eu quem acabei com o que tínhamos — explicou passando
os dedos nos cantos dos olhos. — Becca estava certa, não mereço
ser segunda opção, mas sabe, eu me deixei levar por tão pouco
que… — sua voz falhou e ela novamente me abraçou — que valor
eu tenho depois de ter ficado com alguém que me fazia de segunda
opção?
— Irmã, isso não tem nada a ver. Você vale muito sim, mais do
que ele jamais conseguiria ter. O fato de você ter ficado com ele não
diminui o valor que você tem. Olhe para mim — pedi e ela me olhou
com os olhos inchados e lacrimejantes — Não deixe Andrew e nem
ninguém diminuir o valor que você tem, combinado? — Fechei o
punho e ela entendeu me dando um toque de mão. — E você é uma
Styles, não pode ficar sofrendo assim não — ela riu.
— Besta — rimos —, mas obrigada — beijei o topo de sua
cabeça e ela me abraçou se deitando em meu ombro. — Você está
com o cheiro da Becca — ela me olhou desconfiada — porque
vocês estavam juntos hoje — relembrou.
— Fui tirar a foto.
— Não estavam juntos antes? — Neguei com a cabeça.
Se ela perguntasse demais eu acabaria entregando as aulas
extras em que Rebecca estava me ajudando.
— Vocês vão ficar assim agora? Se ajudando para afastar as
garotas de você?
— Não sei, talvez.
— Você está gostando de tudo isso, não? — Natalie se sentou
no sofá e me olhou como uma criança animada. — Anda, Cam, fala.
— Claro que não, só quero que essas meninas assediadoras
me deixem em paz — afirmei olhando a tevê.
— Você ainda sonha com ela? — questionou e eu dei de
ombros.
Já fazia mais de um ano que Rebecca não saia dos meus
sonhos.
— Não importa, isso vai passar. Eu sei que você abomina a
ideia de eu ter algo com ela, isso não vai acontecer.
— Cameron, você nunca me deu espaço para falar sobre,
sempre desvia o assunto. Pode parar de ser cabeça dura uma vez
em relação a ela e me ouvir?
— Não — rebati.
— Problema é seu, vou falar mesmo assim — cocei a cabeça.
— Eu não quero fazer a sua cabeça e Becca não é ingênua e nem
burra, mas ela sempre escolhe esconder os sentimentos e sofrer em
silêncio e vai ser isso que vai acontecer se ela começar a gostar de
você, assim como você, ela jamais vai admitir. A questão é, eu não
sei como é Becca apaixonada porque ela nunca se apaixonou. Eu a
amo demais e odiaria ter que ficar entre vocês dois.
— Natalie, você está sofrendo por uma coisa que nem vai
acontecer. Eu e a Malik? Nunca mesmo!
— Você não consegue nem me olhar falando dela — Natalie riu
com ar vitorioso. — Por favor, caso aconteça só não seja egoísta e
babaca com ela — revirei os olhos.
— Eu e a Malik não teremos nada, nunca.
— Você é um cabeça dura — disse dando um tapa em meu
braço. — Enfim, amei o jeito que ela te tirou da confusão hoje,
mamãe teria amado.
— Cala a boca, Paola — a empurrei e ela riu.
— Josh comentou sobre você ter falado para não fazerem
apostas com ela envolvida. Isso foi por que ela nunca beijou? — A
olhei, complemente impressionado.
— Ela nunca foi beijada? — questionei, sem disfarçar minha
curiosidade, e Natalie travou ficando em silêncio.
— Quem nunca beijou? — questionou se fazendo de
desentendida e desviou o olhar, ela com certeza achou que eu
sabia.
Rebecca Malik era uma surpresa constante e agora a
segurança dela com esses garotos do time com hormônios a flor da
pele seria dobrada.
— Mamãe e papai foram para o jantar de negócios? — Mudei
de assunto.
— Sim, mas em outra cidade.
— Beleza, vou ir dormir — me levantei pegando a bolsa.
— Boa noite apaixonadinho — provocou.
— Vai se ferrar — resmunguei subindo as escadas aos risos.
Eu apaixonado? Cameron Styles não se apaixona, só faz
pessoas se apaixonarem.

Cheguei na escola atrasado e levei sermão da diretora López,


coisa com que eu estava acostumado, e fui liberado para entrar na
segunda aula.
Caminhei até o campo de futebol observando o lugar totalmente
vazio exceto pelas arquibancadas, onde Rebecca estava. A olhei
por instantes, como ela podia ser tão linda?
A brisa fria bate em seus cabelos os fazendo voar, parecia uma
obra de arte que eu poderia ficar horas admirando.
Ela me olhou e eu permaneci imóvel a olhando, até meu cérebro
finalmente obedecer aos meus comandos e me permitir caminhar na
direção de Rebecca.
Subi pelos bancos das arquibancadas e me sentei um pouco
distante vendo que seu rosto estava avermelhado e seus lábios
rosados, ela parecia irritada.
— Não sabia que nerds matavam aula — provoquei a vendo rir
e ela limpou os olhos.
— Não sabia que quarterbacks tiravam notas altas em química
sem colar na prova — ela me olhou e eu franzi o cenho. —
Parabéns, Styles, parece que você está se recuperando — ela me
entregou o jornal da escola.
Encarei o jornal onde dizia sobre eu voltar para o time visto que
me recuperei em oitenta por cento das matérias e que agora
faltavam apenas matemática e literatura. O treinador e a diretora me
convocaram na escola em pleno sábado para passar a notícia.
— Não vai precisar mais da minha ajuda — disse sorrindo e eu
a olhei.
— Ainda faltam matemática e literatura — expliquei e ela olhou
para a frente. — Faço as provas na semana que vem — coloquei o
jornal de lado.
Me inclinei para a frente apoiando os cotovelos em minhas
pernas e passei as mãos em meu cabelo o jogando para trás.
— O que tem de ruim nisso? Achei que ficaria feliz. Foi mais
rápido e fácil do que imaginei — Rebecca disse se aproximando.
Ainda não sabia como conseguia ficar perto dela
tranquilamente, às vezes sentia borboletas no estômago, coisa que
nunca senti com ninguém e a sensação era horrível.
— Depois que oficializar eu como capitão novamente, o comitê
gestor do baile vai falar sobre eu ser o mais provável de ser o rei do
baile e…
— As meninas vão ir para cima — completou e eu apenas
concordei balançando a cabeça. — Já viu a principal notícia de
hoje? — Ela pegou o jornal novamente e passou para mim.
Na capa estava uma foto dela dando aulas para o time.
O título da notícia era:

Rebecca, a Nova
Capitã
E o texto era basicamente sobre ela ser desejada por alguns
meninos do time e a questão final da matéria era mais ridícula do
que eu conseguiria imaginar, finalizada com um:
Quem vai conseguir a mão da nerd?
— Que merda é essa? — questionei levantando meu olhar para
ela que deu de ombros.
— O pior é que não sabemos quem foi o autor. Calleb é do
jornal e disse que a dona do jornal, Lana, não deixou ninguém saber
quem fez a notícia — ela passou a mão na testa, suspirou e se
levantou depois que o sinal tocou. — Que Deus nos ajude! — Ela riu
forçadamente e desceu um banco.
— Becca — a chamei.
— Pois não?
Ela me olhou e de imediato me veio a voz de Natalie me
relembrando que Rebecca nunca tinha beijado… e com certeza eu
não era a melhor pessoa para ela.
— Por que matou aula? — Mudei o assunto e ela franziu o
cenho desconfiada.
— Nada importante — disse, com um tom de cansaço,
descendo as arquibancadas.
Ela passou a mão nos olhos fungando e não parou de andar.
Para tinha ido a minha coragem? Desde quando me importava
se alguém tinha beijado ou não?
Entrei novamente na escola e fui puxado para dentro do
laboratório vazio de biologia por Calleb. Ele me soltou após eu já
estar dentro da sala e fechou a porta.
— Estava na casa de Josh ontem e a irmã dele, Karen a
presidente do grêmio, estava com Melissa e Katherine em seu
quarto, elas não sabiam que eu estava no quarto ao lado e estavam
falando bem alto. Eu e Josh começamos a ouvi-las. Planejaram de
abordar da Rebecca hoje no intervalo, se não der certo no intervalo
será na saída ou antes dela chegar no trabalho. Becca não quer me
ouvir, disse que sabe se cuidar, mas sabe quão maldosa elas
podem ser.
— Cadê Natalie? — questionei cruzando braços.
— Foi falar com Andrew, acho que é sobre isso. Enfim, por
algum motivo ela disse que eu podia confiar em você, Josh também
confia em você, então acho que você é a única pessoa que pode
ajudar. Becca não quer saber, a avisamos e ela simplesmente
ignorou. Você pode tentar?
— Ela nunca me escuta, duvido que vá me ouvir agora —
passei as mãos em meu cabelo pensando no que deveria fazer.
— Cameron, você lembra do quanto Melissa ficou em cima da
garota que te ajudou ano passado? — Assenti. — Esse ano elas
estão péssimas, Cameron, você precisa proteger ela porque é por
você que elas estão assim.
Soquei uma das mesas ao ouvi-lo.
— Por causa disso que ela estava chorando? — Calleb
comprimiu os lábios apreensivo.
— Alguns assediadores do time tiveram parte nisso — disparou.
— O time? — O olhei sentindo meu corpo ferver de raiva.
— Você deve ter uma noção dos pensamentos sujos que os
garotos têm, principalmente como o novo prêmio do time, a atração
do ano em Liberty, com toda garota nova é assim, mas ela tem dado
aula para todos, então tem mais atenção. Josh e Peter fingem que a
quer para ficar inteirado no assunto dos meninos, mas Cameron —
Calleb parou na frente minha frente — eu mesmo tenho medo dos
pensamentos dos garotos e quando Becca fica lá com eles para dar
aulas, mesmo com câmeras e a inspetora lá, eu tenho medo. Um
medo do cacete só de lembrar o que Josh me fala. Eles não vão
fazer apostas, mas o primeiro conseguir vai explanar.
Meu sangue subiu, sentia minhas bochechas queimando e
minhas mãos suando. Chutei um dos bancos da bancada e sai
laboratório. Caminhei até o laboratório de química, bati na porta e
assim que aberta, entrei.
— Atrasado, sr. Styles — a professora disse. — Sente-se por
favor.
Caminhei até Rebecca, Noah estava ao lado dela, a forma com
que ele falava estava a incomodando e aquilo ficava nítido visto que
quanto mais ele se aproximava, mais ela se afastava.
— Noah, vaza — ordenei parando atrás dele e ele se virou
ainda no banco me olhando.
A sala parou com todos me observando.
— Capit…
— Não vou repetir, Noah. Agora — repeti e ele saiu pegando
suas coisas.
— O que aconteceu? — Rebecca questionou em um sussurro.
— Esses idiotas não vão ficar em cima de você — afirmei quase
que em um rosnado enquanto olhava os meninos da sala olhando
em nossa direção.
Comecei a tremer a perna, não conseguia prestar atenção no
que a professora dizia e fechei o punho o forçando, só de pensar em
tudo o que esses garotos provavelmente falavam me queimava por
dentro. Observei Oliver e Noah sussurrando e olhando Rebecca,
seus sorrisos carregados de maldade era torturante.
— Cameron — ouvi de longe, mas o que me despertou foi seu
toque em minha perna, e a olhei. — Qual é o seu problema? —
questionou.
— Não importa — ela revirou os olhos afastando a mão de
minha coxa.
— Ok, pode me ajudar na atividade que a professora acabou de
pedir? Eu duvido que você tenha prestado atenção — sorri a
olhando.
Era inexplicável a paz que ela me transmitia.
Concordei colocando os óculos próprios para fazer
experiências.
— Estava chorando hoje? — questionei em voz baixa.
A sala estava barulhenta pois estávamos fazendo a atividade.
— Você não devia ficar próximo de mim e nem se sentar ao meu
lado, evite falar comigo, há pessoas nos olhando — disse sem me
olhar e colocando um líquido verde dentro de um frasco grande.
— Não me importo com o que os outros pensam — a olhei
quase suplicando que ela me olhasse de volta.
— Você não, mas eu preciso chegar inteira em casa, ir para o
trabalho inteira, comer em paz e… — Ela parou de falar quando me
olhou. — Enfim, só, fique longe e acho que as coisas vão ficar
melhores para mim.
— Inclusive com os meninos? — questionei e ela me olhou de
imediato. — Calleb me contou.
— Professora, terminamos nossa atividade — Rebecca
anunciou tirando os óculos e o avental.
A professora se aproximou e analisou nosso experimento.
— Muito bem, Rebecca e Cameron. Estão liberados para
ficarem na biblioteca.
Rebecca fechou os olhos desapontada como se não quisesse
isso.
Ela arrumou suas coisas e saiu da sala sem olhar para trás.
Melissa e Katherine a olharam, me olharam e se entreolharam.
Antes de sair de sala, parei na bancada delas.
— Deixem-na em paz — avisei revezando o olhar entre elas.
— Ela é a garota da foto, Cam? — Melissa questionou
colocando um dos elementos no frasco grande.
— Claro que não, Mel. Eu tenho repulsa dessa garota, jamais
ficaria assim com ela — menti mostrando expressão enojada.
— Então tudo bem um dos meninos do time passar uma
noitezinha com ela? — Melissa me olhou e meu sangue parecia
ferver dentro de mim.
— Ela é amiga da minha família Mel, não posso permitir isso —
Melissa riu se levantando.
— Bom, eu não acredito em você — ela tirou os óculos — e não
a quero no meu caminho, vamos ver se a resposta dela em relação
a foto é a mesma que a sua — Melissa disse me olhando.
Neguei com a cabeça e sai da sala o quanto antes.
Passei pelo corredor vendo Rebecca com Josh conversando,
parecia confortável com ele. Josh me olhou balançando a cabeça
mostrando que estava tudo bem, fiz o mesmo sinal e caminhei até a
diretoria.
— Cameron, pode entrar na sala da sra. López — a
recepcionista avisou depois de minutos a esperando.
— Obrigado — agradeci indo até a sala, após duas batidas na
porta, entrei na sala.
— Aprontou de novo, Cameron? — questionou tirando os
óculos.
— Vim fazer um pedido — fechei a porta e me sentei em sua
frente.
— Não vou liberar o banheiro, nem o vestiário e muito menos a
biblioteca para sexo — disparou me fazendo rir por lembrar do
pedido que fiz ano passado apenas para irritá-la.
— Não é isso — afirmei sorrindo. — Minha volta para o time
será anunciada no treino de hoje e, como estou de volta, quero
participar das aulas do time com a Bec… Rebecca — me corrigi e
ela franziu o cenho.
— Você? Quer estudar? Mesmo depois de já estar recuperado?
— questionou desconfiada.
— Sim, para não decair — expliquei relaxando os ombros.
— Entendo..., tudo bem então — disse se encostando na
cadeira.
— Obrigado, diretora.

Na hora do intervalo, vasculhei o refeitório até achar Rebecca, a


vendo acompanhada por Natalie, Calleb e Neji.
Parei na mesa do time e olhei os meninos.
— Josh, vem comigo — o chamei e caminhei saindo do
refeitório ouvindo os meninos murmurando como se ele estivesse
encrencado.
Entramos no mesmo laboratório em que Calleb me trouxe de
manhã.
— Agora que eu parei para pensar, você e Calleb… — Josh
bateu à porta xingando em voz baixa.
— Cameron, mano… Cacete, não era para ninguém saber — o
olhei rindo.
— Tudo bem cara, Calleb é legal — ri dando de ombros. — O
que os meninos estão falando sobre Rebecca?
Cruzei os braços e ele passou a mão no cabelo. O sorriso em
seu rosto se desfez.
— Os meninos começaram a ligar os pontos sobre ela nunca ter
namorado ou ficado com alguém. Ela fica nervosa quando alguém
chega muito perto dela e… — Josh estava nervoso nível extremo
—, cara, eles estão falando muita merda mesmo. Principalmente
depois dela ter sido toda mandona quando você e Victor brigaram.
Eu e Peter ficamos nesse meio para saber de tudo, ninguém fala
quando Elliot está por perto, metade do time sai porque odeiam
esses assuntos, é um grupo específico que faz isso, mas é uma
coisa de louco...
Josh continuou falando tudo o que alguns meninos do time
falavam fazendo meu sangue subir à cabeça. Eu nunca tinha
sentido tanta raiva tendo uma garota envolvida assim.
— Mano, você está ficando vermelho — Josh comentou tocando
meu ombro e eu o olhei.
— Vou precisar que você fique ligado nos meninos como já vem
sendo feito — o olhei tentando controlar todos os meus instintos
para não sair pela porta e socar a cara de qualquer um envolvido
naquilo.
— Sim, claro.
Entrei novamente no refeitório onde Rebecca ainda estava, pelo
menos Melissa não a abordou dessa vez. Me sentei depois de pegar
o lanche vendo que Melissa e Katherine estavam me olhando
fixamente, me analisando na verdade.
Estava entre me afastar de Rebecca para não criar sentimentos
ou fazer a proposta que estava pensando e afastar os garotos e
garotas que estavam em cima de nós. Porém, era arriscado demais,
ficar perto dela me deixa nervoso de uma forma incomum. Nas
aulas particulares eu ainda conseguia me controlar, mas essa garota
fazia com que eu me sentisse um virgem nível hard.
— Está quieto hoje, capitão — Jack comentou.
— Soubemos que você voltou a ser capitão oficial — Peter
disse.
— Vão anunciar hoje no treino — expliquei e os meninos
comemoraram, mas meus olhos seguiram Rebecca saindo do
refeitório com Natalie e Calleb.
— Podemos dar uma festa na sexta — Elliot comentou se
sentando em minha frente. — Minha casa está livre.
— Por mim tudo bem — afirmei dando de ombros.
Chegamos ao fim do intervalo.
Sai do refeitório indo até o corredor de armários com Elliot
falando sobre todos estarem animados e surpresos com o meu
retorno.
Elliot parou em seu armário e eu segui para o meu, ao lado do
de Rebecca que estava conversando com Victor e Noah. Ela
segurava firme seus livros e estava com o corpo encostado no
armário, seu nervosismo e medo perto deles era perceptível. Ela me
olhou e abaixou o olhar quase pedindo socorro.
— Becca — me aproximei, os garotos me olharam, me
cumprimentaram e saíram —, vou te levar para a casa hoje.
— Não, não vai — disse abrindo seu armário.
— Você fala assim com os outros meninos? — Ela fechou o
armário e eu a olhei.
— Não vou ir com você — disse dando as costas. Fechei meu
armário e parei em sua frente antes que a perdesse de vista.
— Você, para o seu bem, vai embora comigo hoje — afirmei
novamente.
O corredor começou a se esvaziar.
— Cameron, você não manda em mim.
— Não estou mandando, mas é para o seu bem — ela negou
revirando os olhos, como eu odiava quando ela fazia aquilo!
Rebecca deu passos para sair pela minha esquerda.
— Eu não vo…
Antes que ela terminasse, a puxei pela cintura a colocando
contra o armário tentando ser delicado. Ela me olhou surpresa, mas
não havia vestígios de medo.
E por Deus, medo era uma coisa que eu não queria dela.
— Você vai embora comigo, Becca — falei mais firme.
Ela arfou e só então notei que estava apertando levemente sua
cintura. A olhei e me afastei saindo andando apressadamente.
Eu nunca tinha me sentido assim antes.

Comecei a rabiscar um desenho do Pain de Naruto em meu


caderno e ouvi a porta da sala de estatísticas do time se abrindo.
— Você só pode estar brincando comigo — a voz indignada
dela me fez rir.
— É assim que se dá boas-vindas para o novo aluno? —
questionei e ela parou em minha frente, incrédula, após fechar a
porta.
Levantei meu olhar, a observando.
— Eu te aturo em horário normal de aula, te aturo na minha
casa e agora até nas aulas extras do time? Não cansa não?
Me levantei sem tirar meus olhos da deusa a minha frente.
— Malik, Calleb e Josh me contaram tudo. Você não faz ideia do
que eles são capazes, é perigoso você ficar com eles e…
— Desde quando você se importa? Você fica agindo como se
ligasse realmente para isso, mas você só não aguenta o fato de que
não tem uma pessoa da escola em suas mãos — disse colocando a
bolsa em uma das mesas.
— Por que você tem que ser tão teimosa?
Ela suspirou soltando a respiração, pensou um pouco e me
olhou.
— É só que… o problema nem é com você na verdade, me
desculpe, parece que está tudo desmoronando — admitiu. — É
horrível você falar para os garotos que certas brincadeiras
incomodam e ninguém te ouvir. Eu os ouvi me chamando de
virgenzinha, falando que a forma com que falo com eles só dá mais
vontade deles me darem um jeit… — A voz dela falhou e ela fechou
os olhos. — Eles sabem que eu ouvi e agiram naturalmente, mas
isso não é normal, não é natural. Eu ainda falei com Oliver sobre
não ter gostado dessas brincadeiras, mas os outros riram, exceto
Peter e Josh.
— Elliot estava junto? — Ela negou. — Eu posso dar um jeito,
Becca, você sabe disso — afirmei a olhando.
— Vai sair batendo em todo mundo que fizer isso comigo? —
questionou como se fosse uma má ideia.
— Sim.
— Não — ela riu se aproximando. — Quando falei que não tinha
gostado, Oliver disse que era frescura minha e que ele adoraria
acabar com esse apelido — ela abaixou o olhar — e todos riram.
— Becca, precisamos falar com a diretora.
— Infelizmente ela já sabe, disse que daria um jeito, mas você
sabe, quem se importa? São os hormônios — ironizou.
— Boa tarde, capitã — ouvi Josh dizer ao entrar na sala.
Ela sorriu para ele sem mostrar os dentes e se afastou de mim.
Antes de sair da sala, fui puxado após quando ela estava
totalmente vazia. Rebecca se despediu de todos e me olhou.
— Você não vai bater em Oliver — disse séria.
— Só quebrar o braço que ele usa para se mastur…
— Cameron! — Brigou tentando conter a risada — Não. Está
me ouvindo? — questionou parando em minha frente — Não! —
disse passando por mim e saindo da sala.
A segui e caminhamos até o estacionamento vendo Melissa
junto com algumas líderes estavam encostadas em seu carro.
Natalie convenceu Rebecca de entregar a chave de seu carro e
ir embora comigo. Entreguei um capacete para ela que negou com a
cabeça, mas aceitou.
— Isso vai dar mais encrenca — disse em voz baixa com o tom
carregado de preocupação.
— Vamos ver — montei na moto e ela logo em seguida.
Seus braços envolvendo minha cintura deixou meu corpo
quente me fazendo respirar fundo e soltar a respiração.
— Podemos? — questionei disfarçando o efeito que ela causou
em mim.
— Não tenho escolhas — relembrou.
Ri acelerando a moto em direção à Rua dos Alfeneiros.

— Uma coisa que eu não entendo — começou descendo da


moto e tirando o capacete após eu parar na frente de sua casa —,
por que você está me protegendo? — questionou me entregando o
capacete. — Você nunca foi assim comigo.
Ela parecia de fato querer que eu falasse algo que a deixasse
convencida, a curiosidade era nítida em seu rosto.
— Porque é minha culpa as meninas estarem em cima de você
— expliquei tirando o capacete.
— E com os meninos? — Passei a língua nos lábios e cocei a
cabeça. — É por eu ser o prêmio deles, não? E você não suporta o
fato de alguém ter alguém que você não teve.
A olhei incrédulo vendo que sua voz carregava algo, como um
desafio de que eu confessasse tudo o que estava pensando.
— Você só pode estar brincando! Acha mesmo que eu te vejo
como um prêmio? — questionei a vendo franzir o cenho.
— Não vejo outra explicação para alguém que sempre me odiou
fingir que gosta de mim de uma hora para outra — rebati.
— Rebecca, não preciso te ver como um prêmio para te
proteger de coisas assim. Você me ajudou muito, é amiga da
família, eu só estou fazendo o certo — consegui dizer.
"Amiga da família", "Fazer o certo", até parecia que eu ligava
para aquele tipo de coisa. Eu só queria protegê-la.
— Amiga da família — ironizou —, agora sim as meninas vão
me matar, praticamente confirmamos para elas que sou eu nas fotos
— ela andou de um lado para o outro.
— Eu vou dar um jeito, Malik, te levo para o trabalho hoje.
— Cameron, você não pode me proteger o tempo todo! —
Disparou. — Que horrível! As pessoas nos entendem e nos escutam
quando um garoto com status intervir? Vai ser assim agora? Vou
ficar debaixo das asas do capitão?
— Rebecca — desci da moto —, isso não tem nada a ver. Com
os meninos talvez sim porque eles são uns idiotas, mas com as
meninas você não entendeu que quem tem o controle é você! Elas
estão com tanto medo de você que estão agindo impulsivamente e
correndo em círculos. Você percebeu que só foi eu mostrar que
tenho alguém que elas não me pressionam mais querendo ficar
comigo? Só assim elas entenderam que eu não quero.
— Essas pessoas são estranhas e ignorantes demais — ela se
sentou na escada da porta de sua casa e me sentei ao lado dela. —
Então minha palavra só significa algo para os meninos se eu tiver
você e a sua só vale algo para as meninas se estiver comigo ou
melhor, com a garota da foto?
Rimos olhando para frente e percebendo o quão bizarro era
aquela situação.
— Aparentemente sim.
— Qual é o problema desse pessoal?
— Para as meninas, status, facilidade em entrar em Stanford e
a fortuna da minha família. Para os meninos…
Parei de falar quando a olhei, ela jamais seria um mísero
prêmio.
— Um prêmio — ela deu um sorriso triste. — Faz dois meses
que estou nessa escola e está assim, imagine até a formatura —
juntei minha coragem e a olhei.
— Devíamos admitir que você é a garota — ela me olhou
surpresa e ao mesmo tempo parecia não acreditar no que eu estava
falando. — As meninas não vão te caçar e os meninos com certeza
não vão dar em cima de alguém que está comigo, não são nem
loucos de fazer isso — ela abriu a boca para falar, mas desistiu.
Olhou para frente pensando e me olhou.
— E aí vamos fingir que estamos namorando? — Ela
questionou, ri em resposta e ela se levantou como se aquilo tivesse
a desestabilizado totalmente. — Preciso me arrumar para o
trabalho, a ideia é boa, mas não vai rolar — me levantei a olhando.
— Becca, a gente consegue se suportar e você sabe disso,
resolveria os nossos problemas e teríamos um ano melhor do que
vamos ter se não fizermos algo.
— Cameron, não, definitivamente não. Deve ter outro jeito! —
rebateu.
— Isso é medo das meninas? Namorar comigo não vai ameaçar
sua segurança como elas estão fazendo querendo te abordar e
fazer sabe-se lá o que.
— Medo das meninas? — questionou parando em minha frente.
— Definitivamente não! Mas um namoro? Isso jamais vai dar certo.
— É só fingir, nem é tão difícil assim — ela negou apreensiva e
se afastou indo até a porta de sua casa.
— Eu nunca nem beijei, Cameron, quem dirá namorar —
explicou sem me olhar e entrou em sua casa.

Rebecca me olhou incrédula quando me viu parado na calçada


da lanchonete em que ela trabalhava. Melissa e as meninas estava
na esquina, confirmando tudo o que Calleb me falou na escola.
— Você está me irritando — Rebecca disse saindo de seu carro,
mas ao contrário de irritação, ela sorriu.
— Grande novidade — a olhei rindo e tirando o capacete —,
você não quis vir comigo e eu te avisei que elas viriam.
— Eu não vou aceitar sua proposta — disparou com incerteza
em sua voz.
— Tem ideia melhor? — Ela engoliu em seco — Quando você
for lá em casa, a gente conversa sobre isso.
— Tenho mesmo que ir? — questionou, concordei afastando o
cabelo de seu rosto e ela empurrou minha mão. — Não piora, Styles
— disse se afastando e entrando na lanchonete.
A expressão dela me fez rir.
Desci da moto quando vi Melissa caminhando sozinha até mim.
— Eu vou acabar com ela por ter mentido para mim, eu não
acredito que você está com ela, seu…
— Melissa, eu estou cansado dessa sua loucura e fixação. Por
que você decidiu implicar com Rebecca?
— Porque você mudou, Cameron! E ela vai continuar fazendo
isso. Você não vai mais na minha casa e pelo que entendi nem vai
mais nas outras meninas. Ela pegou você todo para ela, não tem
nem como divi...
— Você enlouqueceu, caralho? — questionei, irritado. —
Melissa, você acha que está falando de um objeto? — Neguei com a
cabeça. — Fica longe dela — avisei virando de costas para
caminhar até minha moto.
— Camer…
— Eu não estou pedindo, Melissa — a olhei. — Eu estou
mandando — seu olhar mudou para vulnerável, ela engoliu em seco
e voltou para seu carro.

Elliot, Peter e Josh tinham combinado de irmos comer em uma


hamburgueria e segui o mais rápido para lá, pronto para me pedir
algo a Elliot.
— E aí — os cumprimentei.
— E aí — disseram de volta.
— Levou a capitã em segurança? — Josh questionou.
— Sempre — confirmei e eles balançaram a cabeça
concordando.
Fizemos nossos pedidos e Josh quis se sentar em um lugar
mais reservado, tinha algo estranho com ele, parecia nervoso.
Comemos conversando sobre futebol americano e depois
entramos no assunto da NBA.
— O que aconteceu, cara? — Peter questionou Josh e o
olhamos. — Está estranho — observou.
— Tenho uma coisa para falar a vocês — começou e me olhou
—, o capitão já sabe.
De imediato entendi ao que se referia e, admito, estava
surpreso.
Peter e Elliot se entreolharam e me olharam, confusos.
— Vocês são os meus melhores amigos, mais do que os outros
meninos do time, somos amigos a vida inteira — ele disse rindo e
rimos com ele —, não sei bem como contar isso, é difícil... demorei
para entender.
Peter pensou um pouco e me olhou, em seguida olhou Josh.
— Fala caralho, estou passando mal de nervoso — ele disse de
forma tão engraçada que não conseguimos segurar a risada.
— De uns tempos para cá eu... bom, comecei a entender
algumas coisas que estavam acontecendo comigo e eu sou... — ele
deu uma pausa e coçou a nuca — eu sou bissexual — admitiu.
Peter explodiu em risadas olhando Josh.
— Você percebeu isso agora? Cara, você estava babando em
Calleb desde o ano passado, achou mesmo que eu, amigo desde
sempre, não perceberia?
Elliot também sorriu.
— É de uns tempos para cá, você estava péssimo no disfarce,
Calleb chegava perto da capitã com a gente por perto e você já
ficava todo desconcertado — ele afirmou.
— Eu pensei em te avisar que você estava a fim de Calleb, mas
estava ótimo te ver descobrindo — Peter disse apertando o ombro
de Josh.
— Porra, é sério que eu fiquei desse jeito e ninguém me avisou?
— Josh questionou, ainda incrédulo pela reação dos meninos e nós
rimos.
— Estava cara e para mim não é problema nenhum o que você
é, vai ser sempre meu melhor amigo — Peter afirmou.
— E o nosso também, qualquer homofobia que você sofrer, nós
resolveremos e se Calleb está com você, terá a mesma proteção —
alertei vendo Josh ficar boquiaberto. — Família defende família —
completei.
— Família defende família — Peter e Elliot repetiram juntos e
Josh concordou, logo repetindo a frase.
— Falando nisso — olhei Elliot —, preciso que busque Rebecca
na lanchonete, ela vai me bater se eu aparecer lá — disse aos risos.
— Sem problemas irmão, mas ela vai me deixar buscá-la? —
Ele questionou.
— Você vai apanhar no lugar do capitão — Peter ironizou nos
fazendo rir.
— Não, não acho que ela vai deixar — afirmei —, mas se ela
não quiser ir com você, só confira se ela fez o caminho dela sem
problemas inesperados.
— Pode deixar — Elliot concordou.
— Agora, preciso ir ver minha mãe, a conta fica para vocês —
brinquei me levantando e seguindo para a saída enquanto ouvia
eles reclamando de eu ser folgado.
Mas antes de ir embora, passei no caixa e paguei tudo o que
gastamos.

Ajudei tia Olívia a trazer Elo e Louis para minha casa junto com
Isaac, minha mãe e ela colocariam a fofoca em dia. Rebecca
chegou pouco depois e em sua face estava uma expressão
incrédula e ao mesmo tempo irritada.
Deixei as crianças na sala e subi as escadas com Rebecca até
meu quarto. Abri a porta, ela entrou, colocou os livros na minha
mesa de estudos e quando me virei para olhá-la, vi que estava em
pé de braços cruzados. Encostei a porta e me aproximei da fera.
— Qual foi?
— Qual foi, Cameron? Eu saí do trabalho hoje e me deparei
com Elliot, ele me seguiu até a minha casa — disse irritada.
— Você reclamou de eu estar indo, então…
— Qual é a sua dificuldade, Cameron? — Ela me deu um tapa
que me fez rir.
— Nunca vi alguém reclamar tanto — me sentei na cadeira
relaxando o corpo. — Eu te envolvi nisso, só estou fazendo a minha
parte.
— As meninas nem estavam lá quando eu saí — ela voltou a
falar em seu tom normal.
— Ótimo — eu disse e ela bufou negando com a cabeça.
— É melhor começarmos logo com os estudos — concordei
pegando meu livro.
Durante todo o tempo de estudo ela mal conseguia me olhar e
eu não conseguia deixar de olhar sua boca rosada e carnuda a cada
palavra que ela falava.
— Por hoje acho que é só — ela disse fechando o livro.
— Finalmente — afirmei pegando meu celular e vendo mil
ligações de Katherine e mensagens das líderes, meninas do grêmio
e do jornal.
— O que foi? — questionou me fazendo a olhar, mostrei o
celular para ela e ela riu.
Pegou seu celular e mostrou para mim me deixando ver as
mensagens e ligações de alguns meninos do time.
— É por isso que você quer fingir que tem alguém, não?
— Sem dúvidas — coloquei meu celular na mesa —, já estou de
saco cheio disso.
— Natalie vai saber sobre as aulas que estou te dando e sobre
o… — ela respirou fundo — namoro.
Primeiro, eu congelei. Depois, ouvi fogos de artifício em minha
mente e uma euforia crescendo como um balão dentro de mim, mas
ao mesmo tempo minhas mãos estavam suando.
— Meus pais sabem. Minha mãe achou graça e meu pai odiou,
mas eles não palpitam na minha vida, principalmente nessa parte.
Não contei a eles sobre os meninos do time, contei só sobre te
ajudar — explicou e eu ainda não acreditava que ela tinha aceitado.
— Você está falando sério? — Ela me olhou e se virou na
cadeira ficando de frente para mim.
— Eu não faço ideia de como isso funciona, mas não deve ser
difícil baseado em tudo o que já vi — ela riu. — Fora que você já
namorou, sabe mais do que eu e isso é um ponto.
— Becca, isso é sério, tipo, sério mesmo? — questionei apenas
para ter certeza.
— Sim e espero do fundo do meu coração que dê certo.
— Vai dar certo — afastei o cabelo de seu rosto e ela me olhou
por instantes, em seguida balançou a cabeça como se acabasse de
sair de uma hipnose.
— Podemos fazer algumas coisas juntos depois só para
confirmar o namoro, eu vou a uma ou duas festas com você, desde
que você aceite ir para o cinema, lugares mais tranquilos e essas
coisas — explicou enquanto eu enrolava uma mecha de seu cabelo
em meu dedo.
— Para a sua informação, eu gosto de lugares tranquilos — ela
riu me olhando.
— Ok — deu de ombros.
— Eu vou poder te tocar sem você me empurrar ou me xingar?
— questionei sentindo calafrios em meu corpo.
Ela respirou pesado e sorriu nervosa.
— Vai ser como no estacionamento — ela fechou os olhos,
inspirou na medida em que meus dedos deslizavam em sua nuca
entrando em seus cabelos e passou a mão no rosto comprimindo os
lábios enquanto expirava pesado.
Sorri vendo o efeito que causava nela e precisando conter a
enorme vontade que estava de me inclinar para frente e beijá-la.
— Certo — disse me olhando e deslizando as unhas em meu
braço —, acho que consigo.
Passei a língua nos lábios.
— A foto, vamos tirar a foto — tirei a mão de sua nuca e me
afastei.
Ela concordou se levantando, me levantei afastando a blusa de
meu corpo sem saber quando foi que comecei a transpirar.
Tiramos a foto e ela postou. Parecia corajosa e determinada,
totalmente diferente do que estava mais cedo.
— Cameron, a mãe disse que… — Natalie parou de falar
quando abriu a porta e nos olhou.
Olhou o material em nossa mesa e nos olhou novamente.
— Irmã, não é isso que você está pensando — disparei me
preparando para o seu surto.
— Eu sei que vocês estão estudando, Becca é péssima com
mentiras — ela riu — e sobre o namoro sabia que ela iria acabar
fazendo o que quer, porque ela é assim. Enfim, a mãe disse para
você acompanhar a Becca na hora de ir embora e — Natalie fez
som de ânsia de vômito — que Deus me ajude com vocês. Becca,
não vai embora sem falar comigo — ela saiu fechando a porta.
— Natalie não ficou brava pela gente?
— Sim, ela surtou, ficou com raiva, falou que eu era falsa,
mentirosa e depois começou a chorar falando que me amava e que
não queria que eu me apaixonasse por você — ri me sentando
novamente — o que é compreensível visto que você é você — franzi
o cenho e ela não me deu espaço para defesa. — Como você vai
fazer para ficar com quem você quiser sem parecer que está me
traindo?
— Quanto a isso você não precisa se preocupar — prometi.
Ela se levantou pegando a bolsa.
— Ótimo, vou falar com Natalie e já venho para você me levar
em casa.
— Ok, te espero lá embaixo — avisei e ela concordou saindo do
quarto.
Me joguei na cama pensando que finalmente poderei parar de
fingir que a odeio e ficar perto dela. Passei a mão no rosto, se ela
soubesse que eu não consigo olhar para nenhuma garota além dela,
não se preocuparia em ver as pessoas achando que a traí. Eu mal
conseguia evitar o sorriso quando pensava nela.
Desci as escadas até a cozinha e encontrei minha mãe. Peguei
um copo e o enchi d'água, ela me olhou.
— Um namoro falso — ela disse me fazendo a olhar e sorriu. —
Não acredito que Becca aceitou.
— Nem eu — ri tomando um gole d'água.
— Filho — ela se encostou na bancada a minha frente —, você
tem noção de que ficar muito próximo, toques, criar um
relacionamento mesmo que seja de mentira pode fazer vocês se
apaixonarem de verdade? — Abaixei o olhar e ela fez um barulho de
surpresa — Oh! Você já está apaixonado… — Afirmou.
— Claro que não, mãe — neguei colocando o copo na pia.
Minha mãe ia falar algo, mas Rebecca apareceu na entrada da
cozinha.
— Licença — pediu nos olhando antes de entrar. — Preciso ir —
disse calmamente.
Minha mãe me olhou me fazendo parar de encarar Rebecca e
sorriu.
— Seu namorado vai te levar, querida — disse sorrindo e a
beijou no rosto. — Boa noite.
A casa dela era ao lado da minha e mesmo assim meu pai
sempre exigiu que eu buscasse Natalie quando estava tarde e que
trouxesse Rebecca pelo mesmo motivo, o que acabou virando
costume.
— Obrigada por me trazer — disse parando na frente de sua
casa, concordei e ela se virou para abrir a porta.
— Becca — coloquei a mão em sua cintura e ela se virou. —
Obrigado… Por aceitar me ajudar.
— Na verdade é para me ajudar — ela riu tirando a tensão do
clima.
— Se você diz — ri esperando que ela abrisse a porta de sua
casa.
Outra regra do meu pai era esperar até que ela estivesse dentro
de casa.
— Até amanhã, Styles.
— Até amanhã, Malik.
Mas antes de deixá-la fechar a porta, a puxei e beijei sua testa.
Entrei em casa sem acreditar que tinha aceitado a proposta
de Cameron e minha mãe me olhou assim que entrei na cozinha

enquanto meu pai ainda estava com aquela cara de pai ciumento

como se eu realmente estivesse namorando.


— Só estava esperando você chegar para ir dormir. Boa noite,
caramelinho — papai deu um beijo em minha testa.
— Boa noite, pai — sorri o observando sair.
— Ele estava chorando, falando que você ia se apaixonar de
verdade, casar e abandonar a gente — mamãe disse rindo.
— Até parece — balancei a cabeça aos risos e meu corpo.
— Você realmente fica confortável com ele, não é? —
Concordei e ela me olhou por instantes. — É ótimo saber disso
depois de tudo o que aconteceu.
— É estranho, achava que ele seria o que mais me deixaria
desconfortável, mas não — comentei.
— Bom, espero que dê certo o que vocês estão tentando fazer
— ela sorriu me abraçando — qualquer coisa, estou aqui.
— Obrigada — a agradeci sorrindo e ela subiu para o quarto.
Tentei dormir, mas não conseguia parar de pensar na
possibilidade de beijar Cameron... por obrigação do namoro falso.

Havia se passado dois dias desde que postei aquela foto e


ninguém questionava diretamente a mim, mas comentavam sem ao
menos disfarçar. Calleb insistiu para que eu o contasse quem era,
mas mantive o mistério. Cameron tentou se sentar ao meu lado
ontem e hoje, porém, das duas vezes, fui insegura o suficiente para
arrumar uma desculpa e me sentar com outra pessoa e adiei as
aulas extras de ontem.
Era como se eu estivesse desistido sem nem mesmo tentar.
Sentimentos de fracasso e insegurança estavam dominando
meu pensamento. Era corajosa em diversas coisas e nunca deixei
de cumprir com uma promessa séria e agora…
Eu prometi ajudá-lo. Parecia ser certo.
Minha decisão não foi tomada de qualquer jeito, nem as
pressas, nem sob pressão. Pensei muito, foi complicado entender,
pensei em todos os prós e contras.
E, por algum motivo, sabia que o correto era ajudá-lo, sabia que
não seria fácil. Cameron precisava de ajuda sim com isso e ele
admitiu, estava perdido era nítido, o que foi surpresa até para
Natalie.
Ela de imediato concordou ser uma ótima ideia para as
aparências e péssimo para os sentimentos, deixou claro que estaria
ao meu lado caso ele me magoasse, mas que não poderia ficar ao
meu lado caso eu magoasse seu irmão. Natalie era honesta e
transpareceu que seu único medo era esse: um quebrar o outro e
deixou explícito que ficaria ao lado de quem precisasse mais, para
juntar os cacos.
O problema real não era nada daquilo. Eu tinha medos,
inseguranças, nunca tinha namorado e achava que isso demoraria
mais; e, sem dúvidas, nunca se passou pela minha cabeça um
namoro falso.
Ficava nervosa ao lado dele, nunca sabia o que fazer, sentia
minhas mãos suarem frio sempre que estava ao seu lado em
público. Era uma péssima namorada de mentira e precisava
urgentemente mudar aquilo.
Dispensei todos os meus pensamentos ao ver Andrew se
aproximando com uma expressão tímida.
Desde o dia em que eu e ele nos desentendemos, Andrew não
desceu para a lanchonete e se manteve no escritório. Nunca mais
tinha o visto, nem ao chegar ou ao sair da lanchonete. Até
contrataram uma garota chamada Esme, que tinha cabelos cor de
rosa e era superanimada. Amava música e ficava a maior parte do
tempo com seus fones.
— Esme, tudo bem ficar um tempo sozinha aqui na lanchonete?
— Andrew a questionou, ela concordou e ele me olhou — Podemos
conversar? — Concordei balançando a cabeça. — Me espere no
corredor, já estou indo.
Assenti novamente. Olhei Esme e seu olhar era interrogativo.
Como se perguntasse se eu estava bem.
— Tudo bem — sorri para ela tirando o avental branco de minha
cintura.
Subimos as escadas assim que ele chegou, caminhamos até
seu escritório, que agora era mais seu do que de sua mãe, Rosie.
Ele abriu a porta e me deixou entrar antes. Observei que
algumas coisas estavam diferentes, as janelas estavam maiores do
que da última vez que tinha vindo. Acredito que houve uma pequena
reforma no fim de semana e a luz aqui deixava o escritório com um
ar mais confortável.
— Sente-se, por favor — pediu cordialmente.
Andrew estava diferente, como se tivesse amadurecido do dia
para a noite. Fiz o que ele pediu e ele se sentou na cadeira a minha
frente.
— Fim de jogo? — O questionei e ele riu negando.
— Não, não. Minha mãe me mataria se eu fizesse isso —
suspirei aliviada —, não devia usar seu horário de trabalho para
tratar de coisas pessoais, mas só hoje tomei coragem para te olhar
e falar com você.
Ele me tratava com formalidade. Franzi o cenho e ele continuou:
— Rebecca, eu sei que fui um completo idiota com você — ele
se levantou olhando pela janela e em seguida se apoiou na mesa,
ao meu lado. — Terminei com Alice e Natalie terminou comigo — ele
riu de sua situação — e foi como se um peso fosse tirado de mim.
Eu realmente estava empurrando tudo e usando Natalie como
escape da minha vida amorosa fracassada — ele parecia sofrer
enquanto falava —, mas isso não justifica eu ser um babaca com
você. Não espero que me dê abertura para nada e quando falei isso
foi apenas para estar no assunto dos meninos. O que foi idiota da
minha parte, eu sei. Mas quero te pedir perdão.
Me levantei analisando seu olhar e sua voz era carregada de
sinceridade.
— E quais são seus objetivos tendo o meu perdão? Se
aproximar para ter o que quer? — questionei, pois, precisava de
certeza.
Ele me olhou incrédulo, com fúria e tristeza em seu olhar, mas
ele se conteve e respirou fundo.
— Não estou pedindo seu perdão por interesse. Estou
arrependido. Ter visto seu olhar amedrontado e enojado acabou
comigo por culpa minha, eu quem causei isso. Não consigo dormir
desde então porque sempre fecho os olhos, vejo aquele olhar. Não
quero isso. E seu perdão pode amenizar. Não precisa ser agora,
quando você quiser, estarei aqui — explicou com os olhos fixos nos
meus.
A sinceridade em seu olhar era nítida, mas ainda estava
desconfiada, de qualquer forma.
— Tudo bem, Andrew — me rendi finalmente, após uma breve
análise se podia confiar em suas palavras.
Cheguei a nenhuma conclusão, mas não descobriria nada se
ignorasse seu pedido que parecia ser sincero.
Andrew respirou aliviado, como se uma dor cessasse.
— Posso te dar um abraço? — questionou.
O Andrew que eu esperava um dia ver acabara de aparecer,
estava leve, isso em questão de instantes e eu sorri concordando.
Ele se levantou e eu me aproximei o abraçando pela cintura,
mas logo nos soltamos.
Descemos as escadas e caminhamos pelo corredor até o centro
da lanchonete conversando sobre Rosie estar na lanchonete que
abriu recentemente no centro da cidade, onde ela passava maior
parte de seu tempo enquanto Andrew cuidava daqui.
— Você podia voltar a me ajudar com a parte contábil da
lanchonete, estou ficando louco com tantos números — Andrew
sugeriu — se não for problemas ficar uma hora lá no escritório
comigo.
— Sem problema por enquanto — sorri para ele disfarçando
que meus pensamentos estavam em nunca contar isso a Natalie e
Cameron.
— Olha só se não é a virgenzinha — ouvi a voz de Oliver.
Ele estava acompanhado com um garoto do jornal e mais duas
outras garotas da escola que riram ao ouvi-lo.
— E qual é o problema, Oliver? — Andrew se pôs a minha
frente.
— Nenhum, Andrew, nenhum.
Oliver levantou os braços em rendição e se sentou na mesa do
fundo da lanchonete, após me lançar um olhar maldoso.
Estremeci enojada com o olhar dele ao sentir sentimentos ruins
e lembranças do passado.
— Por que ele te chamou assim? — Andrew questionou.
Sua expressão mostrava o quanto ele estava confuso.
— Porque é a verdade — afirmei —, surgiu um boato na escola
semana passada entre o time, eu soube e não neguei nada, porque
é a verdade, imagina se eles soubesse que nunca beijei — ri
mexendo os ombros aliviando a tensão de meu corpo.
Andrew me olhava tão surpreso que me fez rir.
— Você…, mas você agora não está namorando?
— É complicado — admiti —, mas não me importo deles
tentarem me deixar mal por uma coisa assim. Qual é o problema em
querer me apaixonar e amar a uma só pessoa? Não que seja um
problema você querer várias pessoas, todos vivemos de escolhas e
essa foi a minha. Sim, sou bem clichê, mas não vou deixá-los me
inferiorizar por algo que não tenho vergonha. Agora — peguei a
bandeja de lanches da mesa número cinco — preciso ir, se não,
meu chefe me mandará embora — lhe lancei uma piscadela e
caminhei até a mesa.

Senti sua mão tocando levemente a minha. O olhei sorrindo e


ele também sorriu, um sorriso lindo e encantador.
— Eu te esperei por muito tempo, muito tempo — disse
envolvendo o braço esquerdo em minha cintura enquanto sua mão
direita acariciava calmamente meu rosto com seus dedos.
O olhei confusa.
Seu toque era intenso e eu não sentia vontade nenhuma de me
afastar.
— Me esperando? — questionei.
Toquei seus cabelos vendo se ele era real ou fruto da minha
imaginação e desci as mãos em seus braços musculosos.
— Não sei explicar — ele apertou mais minha cintura me
fazendo respirar pesado —, mas eu não consegui parar de pensar
um só minuto em você durante muito tempo. Como se eu estivesse
preso a você — sussurrou roçando os lábios nos meus.

Novamente Natalie quem dirigiu meu carro, enquanto ela dirigia


e as músicas no rádio tocavam, meu pensamento parava
diretamente no sonho que tive... com Cameron.
O toque dele era tão real, seus lábios macios, suas mãos
tocando delicadamente meu rosto, seus braços envoltos de minha
cintura, tudo, era tudo real e o sentimento ao acordar foi como nos
sonhos que tive durante meses o que me fez questionar se todos os
sonhos anteriores tinham sido com ele.?
— Amiga — chamou me fazendo a olhar após parar o carro no
estacionamento da escola.
— Eu sei, eu sei — respirei fundo —, eu não devia ter aceitado.
Não sei como fazer isso.
— É, está bem ruim mesmo — a olhei e revirei os olhos —, mas
sei que vocês conseguem. Você e Cameron nunca precisaram ser
carinhosos um com o outro, para ele é um pouco mais difícil com
você por ele não saber o que pode, o que não pode, o que te deixa
confortável ou não e meu irmão, o garoto que conheço mais que a
mim mesma, não quer te deixar mal — explicou.
Suas palavras me fizeram pensar demais, estávamos falando
apenas pelo namoro falso? Desde quando Natalie passou a
defender Cameron e por quê?
Ela continuou:
— Tente. Finja que está realmente apaixonada, que gosta do
toque dele, que quer o toque dele — ela falava de forma
motivacional e quando me olhou vendo meu olhar surpreso, tentou
disfarçar a animação. — Ele sabe que é tudo mentira e que faz
parte do combinado. Enfim, sei que não é fácil para você, mas tente.
— Como é o sentimento? — questionei e ela me olhou com
grande confusão expressa em seu rosto. — Estar apaixonada, como
é?
Ela suspirou sorrindo e olhando para o teto. Voltou o olhar para
mim e disse:
— Não conseguimos parar de pensar na pessoa um só
segundo. Queremos ficar perto dela, ela perturba seus
pensamentos, sonhos e tudo mais.
Senti um frio na barriga.
Ele não saia dos meus pensamentos… e nem dos meus
sonhos, mas não estava apaixonada, não tinha como e não podia
estar.
Perturbam seus pensamentos, sonhos…, senti as palavras me
marcando de forma inexplicável e confusa.
— Vocês conseguem, amiga. Não concordei com essa ideia de
início, mas ele parece tão perdido que não poderia querer outra
pessoa ajudando aquele cabeça dura. Não alguém que fosse
concordar com isso só para ter status e usá-lo com objeto —
admitiu.
Soltei a respiração sem me lembrar de que momento a prendi.
Ela estava certa, precisávamos fingir melhor.
— Acho que consigo.
— Claro que consegue — motivou. — Devo te chamar de
cunhada ou irmã? — Brincou e eu a empurrei pelos ombros.
— Devo chamar Elliot de cunhado? — questionei e ela ficou
séria. — Estou brincando, amiga — ri descontraindo.
— Enfim, se posso dar mais um conselho é, se for para parecer
que vocês estão apaixonados se olhem como se realmente
tivessem, o siga com os olhos e quando ele se aproximar, o toque
como se esperasse por isso o dia todo — disse mudando de
assunto.
Senti um nó em meu estômago.
— Olhares e toques, anotado — a abracei e saímos do carro.
— Hoje vamos no cinema, eu, você, ele e Elliot. Nas sextas
quase todos da escola estão no shopping quando não tem festas,
vamos expandir para novos ares e mostrar que é real — disse como
se finalizasse um discurso motivacional.
— Elliot — repeti confirmando o que desconfiava —, desde
quando? — Natalie travou o carro e riu mexendo os ombros
deixando claro que não me explicaria nada naquele momento.
Me encostei no carro enquanto ela se olhava no espelho
retrovisor lateral arrumando seus cabelos e encarei Cameron com
os meninos do time.
Olhares e toques. Não devia ser tão difícil assim fingir. Porque,
enfim, era tudo uma mentira.
— Vamos? — Natalie me acordou. — Preciso ir ao banheiro.
— Claro, vamos.
Lavei minhas mãos após sair da cabine do banheiro e Natalie
estava falando sobre o jornal, estava as secando quando ouvi a voz
de Melissa e outra líder. Eu e Natalie nos olhamos rapidamente e
entramos nas cabines as impedindo nos ver.
— Eles não estão juntos — disse a líder Kristen — por mais que
tenha fotos, não dá para saber se é ele com ela. Fora que, eles nem
ficam perto. Não tem aquele negócio de te quero perto, mas não
podemos assumir, sabe?
— Direto ao ponto, Kristen.
— Eu tenho todas as aulas com eles. Eles nem sequer se falam
ou se tocam mesmo lado a lado, Rebecca sempre sai de perto
quando ele se aproxima. Não tem nem tensão entre eles, tenho
certeza de que ela nem o quer — Kristen afirmou.
Senti uma dor desconfortável em meu estômago.
— E já faz duas semanas desde a foto — Kristen continuou —
duas semanas e eles nem ficam perto. Eles com certeza não têm
nada. Você precisa ir para cima, já estão comentando sobre você
estar no mesmo patamar que a Karen e Lana, do jornal. Fora que —
a garota riu de forma provocativa — você não pode ficar abaixo de
uma nerd, o que sua irmã diria?
— Jamais estarei abaixo de uma nerd! — Esbravejou Melissa.
— Capitã das líderes — ouvi a voz de Lana em tom sarcástico
— duas semanas e você não conseguiu seu namoradinho de volta?
— Ouvi sua risada. — Acho que agora é minha vez de provar que
ele está nem aí para você. O título de rainha do baile que sua
família carrega por anos vai se acabar agora sem Cameron para te
ajudar!
— Nem tente, Lana! Aquele rei já tem uma rainha e você está
olhando para ela — Melissa afirmou determinada.
Me contive em não rir daquilo.
— Eu não teria tanta certeza — Lana rebateu. — A presidente
do grêmio vai para cima hoje também, admite, até suas líderes não
te respeitam mais e estão indo para cima do nosso reizinho — ouvi
sua risada e passos saindo do banheiro.
Desde quando Cameron era um qualquer para ser disputado
assim?
— Eu vou dar um jeito ainda hoje! Ninguém vai tocar em
Cameron — Melissa afirmou. — A coroa será minha e ninguém vai
tirar isso da minha família! — Disse firme e seus passos foram se
afastando do banheiro.
A coroa, era impossível não lembrar do príncipe Maxon que
para muitas selecionadas ele não passava de uma coroa e um título
de rainha. A diferença era que ali não era uma mísera coroa de baile
escolar, facilidade para entrar em uma faculdade e a herança de
Cameron.
— Isso não vai acabar bem — Kristen disse como se gostasse
da situação e seus passos também ficaram longes.
Era ridículo ver tudo aquilo.
Estávamos em época de pensar na faculdade e não de ficar
pensando em bailes que não influenciam em nada nas nossas
vidas. A forma com que tratavam Cameron, como o envolveram
naquilo, como o colocaram em um pódio ridículo era detestável.
Sentia um nó em meu estômago como se a qualquer momento
meus nervos ficariam atacados e eu começaria a agir
irracionalmente.
— Barra limpa — Natalie avisou.
Abri a cabine saindo da mesma e ela me olhou.
— Você viu? Elas são loucas. União feminina é coisa de internet
porque na prática, brigam pelo primeiro pedaço de coroa falsa que
veem e usam pessoas para seus próprios interesses como se
fossem um qualquer, vou acabar com isso agora — segurei
Natalie.
— Não, deixe comigo — pedi e ela me olhou, a soltei. — Vou
ajudá-lo para valer, mas vou deixar claro que não quero essa coroa,
nem poder temporário e idiota.
— Está pronta para isso? — Indagou tentando conter sua
animação e eu sorri para ela.
Todas as informações me motivaram ainda mais. Imaginava que
devia ser insuportável para ele.
— Sim — ela me abraçou animada, retribui o abraço e nos
soltamos. — Pode me deixar sozinha só um pouquinho?
— Claro — ela beijou meu rosto pegando sua bolsa —, confio
em você. — Concordei e logo ela saiu.
Me olhei no espelho. Minha mãe sempre dizia que eu era
corajosa, mas, no momento, não sabia para onde a minha tinha ido.
Deixar Cameron me tocar e não surtar sempre que lembrar do
sonho seria mais difícil do que eu achava ter capacidade de
imaginar.
Era impossível relaxar diante daquilo. Precisava tocá-lo, parecer
envolvida e apaixonada… esperava ao menos conseguir.
Era loucura deixar as meninas em cima dele sendo que aceitei
ajudá-lo. Passei uma água no rosto, o sequei e coloquei meus
óculos.
Não seria difícil, era só agir como se realmente tivesse algo com
ele.
Me olhei novamente no espelho sabendo que ficar parada me
olhando não ajudaria em nada.
Sai do banheiro e caminhei até o estacionamento onde os mais
populares ficavam. Observei enquanto caminhava.
Líderes de torcida, pessoas do jornal, do grêmio e do time
enchiam o lugar. Caminhei até Cameron que estava rodeado por
Lana e duas outras meninas, deslizei a mão em seu braço até sua
mão, rapidamente ele a abriu, a segurei o puxando e ele de imediato
me olhou um pouco confuso.
— Vem comigo? — questionei o vendo passar a língua nos
lábios e sorrir.
Grande parte do time começou a gritar animadamente como se
estivesse em um jogo, exceto Noah, Victor e o babaca do Oliver, o
olhar de Oliver era repugnante e me deixava enjoada.
Na terça-feira ele chegou antes de todos na aula extra do time,
começou dizendo que queria me levar para passear e terminou
dizendo que adoraria ser o meu primeiro. Aquilo me deu vontade de
vomitar.
Cameron colocou seu braço envolto dos meus ombros
começando a caminhar comigo. Olhei Melissa e seu rosto estava
ficando avermelhado. O queixo de Kristen caiu. Natalie sorriu de
forma contagiante e eu lhe lancei uma piscadela. Ela começou a
bater palminhas com Elliot ao seu lado. Katherine me olhou de
forma triste.
Foi como em um filme americano, o estacionamento parou e
tudo pareceu ficar em câmera lenta. Paramos no refeitório ao ar livre
que era atrás da escola e quase ninguém ficava. Os professores
estavam em uma reunião que foi avisada de última hora, então
tínhamos alguns minutos a mais de intervalo.
— O que foi isso? — Cameron questionou se sentando na mesa
de concreto.
O sorriso alegre iluminava seu rosto. Andei de um lado para o
outro, respirei fundo e parei em sua frente.
— As meninas estão mais loucas do que eu imaginava, isso
passou a ser um problema meu, não é mais só por causa do time,
mas imagino que seja horrível para você — soltei minha respiração
e ele deu de ombros. — Precisamos ser mais convincentes.
— Eu tentei te falar isso, mas você não me deu espaço e
simplesmente ignorou — relembrou.
— Não espero que você me entenda, mas… eu nunca me
relacionei com ninguém — tentei explicar e ele riu.
— E eu entendo, mas se eu fizer algo que te incomode você
pode falar para mim.
O olhei. O problema não era me incomodar, era eu gostar,
querer mais e acabar como várias outras com o coração partido.
Respirei fundo.
Algumas pessoas do jornal que nunca ficavam naquele refeitório
estavam aqui fingindo estar conversando, mas só queriam ver a
nova atração da escola. Ainda bem que estávamos longe e falando
baixo o suficiente para só eu e ele nos ouvirmos.
— A partir de agora eu sou sua namorada — ele jogou os
cabelos para trás e os mesmos voltaram para frente ficando um
pouco bagunçados. — Podemos ser convincentes do jeito certo e se
me incomodar, eu te falo.
Ele sorriu colocando a mão em minha cintura, me puxando para
si de forma calma, suave e ao mesmo tempo firme, nos deixando
próximos ao ponto de eu sentir sua respiração.
— Isso te incomoda? — questionou e eu tentei controlar minha
respiração negando com a cabeça.
Meu coração disparou, mas o único desconforto que sentia
eram as borboletas em meu estômago.
— Ótimo — ele acariciou meu rosto com a mão desocupada —
Agora me fala, como soube que as meninas estão loucas e
obcecadas pela coroa? — O observei por instantes.
— Estava na cabine do banheiro quando Melissa e Kristen
entraram…
Comecei afastando a mecha de cabelo loiro que caia em seu
rosto, expliquei sobre o ocorrido enquanto desci os dedos em seu
rosto e ele envolveu os dois braços em minha cintura. Eu nunca
tinha me sentido tão eufórica. O ar parecia que sumiria a qualquer
momento.
Finalizei o assunto depositando minhas mãos sobre seus
ombros.
— É uma idiotice isso! Pedi que me tirassem desse negócio do
baile por precisar focar no time, mas não tem como porque quem
decide são os alunos — explicou depois de suspirar.
Me sentia hipnotizada olhando seus olhos iluminados. Estavam
bem azuis comparado ao que eu via quando criança.
Sempre ficavam assim desde que começamos com tudo isso e
a cada dia parecia que ficava mais. O abracei sem explicação
alguma, se continuasse o olhando, não sabia o que seria de mim.
Não sabia se existiam palavras para explicar o que estava
acontecendo, era confuso, diferente, parecia real mesmo não sendo.
Ele me abraçou forte colocando a mão direta em minhas costas
me empurrando mais contra seu peito. Sorri corando sem que ele
pudesse ver, era tudo tão incrivelmente bom, confortável e familiar
quando se tratava dele.
— E Melissa ainda disse que ninguém encostaria em você — ri
o olhando após imaginar que eu não estava avermelhada — que
pena, nem ela vai — o tom de vitória em minha voz saiu
inesperadamente.
Ele apertou minha cintura, rindo da minha reação animada.
— É, teatralmente falando, só você vai — riu me fazendo olhar
seus lábios avermelhados, levantei os olhos e ficamos nos olhando
por instantes.
Balancei a cabeça negativamente tentando disfarçar.
— Natalie disse que vamos ao cinema com ela e Elliot hoje —
mudei de assunto.
Comecei a passar as unhas em seus braços como em meu
sonho, Deus, como ele era forte.
Ele me apertou um pouco mais e eu mantive minha visão em
um colar de Akatsuki que estava em seu pescoço, caso contrário,
surtaria.
— Eu vou matar o Elliot se ele estiver ficando com a minha irmã
— disse começando a mexer em meu cabelo e soltando minha
cintura.
— Por quê? — Me sentei ao lado dele.
— Meu melhor amigo com a minha irmã? Não mesmo!
— Teatralmente falando — peguei em sua mão — você também
está ficando com a melhor amiga da sua irmã — entrelacei nossos
dedos e ele sorriu tentando não sorrir.
— Isso é golpe baixo, amor — disse dando ênfase no amor,
acariciando minha mão com o polegar.
Me faltou ar e se ele reparou isso, preferiu não comentar.
Amor… soltei a respiração. Isso sim era um golpe baixo.
O sinal tocou e o olhei novamente. Provavelmente, estava
corada, mas não tinha como simplesmente sair correndo.
— Se acostume, amor — afirmei dando ênfase, como ele fez, e
me levantei parando em sua frente.
Ele sorriu e mordeu os lábios tentando conter o sorriso que
ficaria mais largo se ele permitisse.
— Vai disso para pior — me virei para sair, mas ele me puxou
pela mão.
— Eu aguento seus golpes baixos — desafiou.
— Vamos ver — afirmei com o mesmo tom desafiador.
— Capitão namorando — Josh anunciou se aproximou com
Peter.
— Vejo vocês depois — avisei.
Cameron foi soltando minha mão na medida em que eu me
afastava, como se fossemos um casal tão apaixonado que não
podíamos ficar longe um do outro. Sorri para ele finalmente soltando
sua mão por completo, os meninos estavam sorrindo de forma fofa e
engraçada.
Por incrível que pareça e por mais que eu queira negar as
aparências, era inevitável. O sentimento que tudo isso estava me
causando era aterrorizante e gostoso ao mesmo tempo.
Entrei na escola e parei em meu armário procurando meu livro
de física.
— Menina, quê? — Calleb disse parando ao meu lado de forma
tão engraçada que me fez rir.
— Amigo, preciso te contar uma coisa que acho que você vai
me matar porque você ficou falando duas semanas que eu não
devia e eu fiz — falei com medo dele socar minha cara mesmo ele
sendo uma das pessoas mais tranquilas desse mundo.
— Bom dia Calleb — Cameron disse deslizando a mão em
minha cintura até parar em minha barriga e eu simplesmente perdi o
rumo, fechei os olhos suspirando e me virei de frente para ele após
fechar o armário. — Guarda meu lugar, bê? O treinador quer falar
comigo — explicou.
— Guardo sim — ele concordou, deu um beijo em minha testa e
saiu. O olhei até perdê-lo de vista.
Minha alma voltou quando ouvi Calleb dar um gritinho. As
poucas pessoas no corredor me olhavam incrédulas e surpresas,
mas não tanto quanto o garoto a minha frente.
— Minha gloriosa Ariana Grande, como assim? — Calleb
questionou ainda em choque.
— Eu posso explicar.
— E com certeza você vai — rimos — eu já sabia que você não
me ouviria. Minha entidade me avisou que eu não deveria me meter,
que o que eu pensava sobre Cameron não estava certo.
— E você não ouviu sua entidade? — questionei incrédula.
— Nem sempre eu escuto, mas ela sempre me pega no final —
ele riu.
— Vamos para a aula. Prometo te explicar tudo depois.
— Mas eu quero agora — disse como uma criança mimada.
— Problema é seu — entrelacei nossos braços começando a
caminhar com ele.
— Bruta — rimos.
Calleb não tinha a primeira aula comigo, então entrou na sala ao
lado e eu na sala de aula de física. Me sentei, fiz um coque no
cabelo e abri meu livro A Escolha de Kiera Cass.
Ainda não havia me concentrado em meu livro, percebia que
algumas pessoas me olhavam, Melissa me olhava com sangue nos
olhos ou Katherine que parecia ter chorado a noite toda.
Coloquei meus fones e finalmente mergulhei em meu mundo ou
melhor, no mundo de Maxon e América. Porém, foi impossível não o
olhar quando entrou na sala. Ao contrário de mim, Cameron não se
importava com olhares. Ele se sentou ao meu lado e eu senti um
balão crescendo dentro de mim abrindo espaço para um frio no
estômago, como se fosse me consumir. Elliot e Josh se sentaram
nas mesas atrás.
Não sabia se os sentimentos eram por estarem comentando
sobre mim e Cameron ou se era pelo que sonhei. Não conseguia
parar de pensar naquele sonho, conseguia por minutos, mas
sempre voltava.
Retornei meu olhar para o livro, estava lendo, mas sem prestar
atenção. Senti meu cabelo soltar, Cameron o afastou de meus
ombros e eu evitei o olhar, mas com seu toque carinhoso meu corpo
começou a se aquecer.
Ele me puxou cuidadosamente pela nuca beijando meu rosto,
sorri o olhando e me deitei em seu ombro. Sua mão encontrou a
minha desocupada e entrelaçou nossos dedos, permaneci olhando
o livro até que ele se inclinou para frente depositando o braço por
cima de sua bolsa que estava na mesa e em seguida deitou a
cabeça em cima de seu braço sem soltar nossas mãos.
Era estranho. Estávamos fazendo aquilo com tanta facilidade,
como se já tivéssemos feito antes e era… bom.
Soltei nossas mãos e ele virou o rosto me olhando. Aproximei
minha cadeira e comecei a acariciar seu cabelo o vendo sorrir. Voltei
meu olhar para o livro sentindo seu olhar sobre mim.
Estava nervosa, acariciar o cabelo de alguém enquanto lia era
totalmente mais fácil quando fazia com meu irmão, Isaac, que
sempre ia ao meu quarto quando não conseguia dormir.
Olhei novamente Cameron que, agora, estava de olhos
fechados com expressão serena e um leve sorriso nos lábios.
— Ele está muito apaixonado — Elliot comentou me deixando
entre acreditar que ele estava falando só como apoio ao namoro
falso ou por ser verdade.
— Nunca o vi tão tranquilo sabendo que a temporada começa
semana que vem — Josh disse. — Ele está caidinho por ela —
completou e ambos riram, inclusive eu.
— Estou ouvindo, idiotas — Cameron comentou sem se mover.
Rimos ainda mais.
— Então, vocês estão juntos? — Ouvi Neji questionar.
Levantei meu olhar o vendo parado em nossa frente.
— Quem quer saber? — questionou Cameron com seu jeito
despojado e esnobe ainda deitado e com olhos fechados.
Como eu odiava quando ele transparecia arrogância. O olhei e
minha mão parou sem me afastar, ele era sempre tão folgado que
me irritava.
— Todo mundo — Neji riu me fazendo rir.
O jeito fofo dele era tão incrível. Cameron levantou a cabeça e
endireitou sua postura fazendo-me afastar a mão.
— Não é da conta de ninguém — disparou de forma brusca
deixando Neji totalmente sem graça.
Passei a entender o que estava acontecendo.
A escola estava em suas mãos mais do que nunca. Ele
namorando, os jogos começariam e ele sem dúvidas estava
preparado e, para completar, todas ainda o queriam e brigavam por
ele.
— Indefinível ainda — expliquei calmamente colocando minhas
coisas novamente na bolsa —, aliás, posso me sentar com você
hoje? — questionei e Cameron me olhou sem entender.
— Certeza? — Concordei. — Vou guardar seu lugar — Neji
disse receoso e saiu.
Eu e Cameron mantivemos nossos olhares travados um no
outro.
— O que você está fazendo? — questionou arrastando a
cadeira para trás me impossibilitando de sair.
— Acha mesmo que vai ser estúpido com os meus amigos e eu
vou apoiar só por estar namorando com você? — Ele riu parecendo
surpreso, Josh e Elliot riram baixo. — Depois a gente se fala — me
levantei pegando meu livro e ele arrastou a cadeira para frente me
deixando passar.
Elliot e Josh gargalharam enquanto Cameron tentava se manter
sério.
— Cara, boa sorte — Josh disse dando tapinhas no ombro de
Cameron.
— Katherine quem pediu para você me perguntar? — questionei
Neji em voz baixa.
— Parei de falar com Kath a partir do momento em que ela
achou normal Melissa assediar Cameron e seguiu o mesmo
caminho.
— É horrível isso, como ela se tornou tão…
— Podre — Neji completou —, ela mudou mesmo, totalmente. A
necessidade de sair da escola com status é grande.
— Que seja.
— Mas, sério, vocês estão namorando? — questionou em voz
baixa e eu acabei rindo.
— Seu curioso — acusei e ele deu de ombros. — Mas sim,
estamos.
— Cameron Styles? Namorando?
— Ainda não assumimos oficialmente, mas amigos e família já
sabem. É inevitável a bagunça por Cameron estar namorando,
então só deixamos as pessoas com a ideia de que temos algo — ele
me olhou como se acabasse de tomar um choque de realidade.
— Becca, você não é Jesus, mas acabou de fazer o impossível
aos olhos do homem acontecer — disse me fazendo rir e paramos
de conversar assim que a professora entrou na sala. Cameron me
olhou negando com a cabeça e olhou para frente.
A primeira semana de namoro falso com Cameron não tinha
sido fácil e parecia que a cada dia que passava ficava mais difícil.

As pessoas do jornal ficavam em cima querendo saber do nosso

namoro com perguntas inconvenientes e ridículas.


E a segunda semana não estava sendo melhor que a primeira.
Alguns meninos se afastaram, outros me olhavam como se
esperassem algo e eu definitivamente não sabia e nem queria saber
o que era.
Mas era chato e desconfortável ter olhares em cima de mim
esperando que eu fizesse algo, que eu o beijasse ou algo assim.
O sinal tocou indicando a hora do intervalo.
Por mais despreparada e incomodada que eu me sentia em
relação aos olhares e cochichos sobre o namoro, eu não tinha mais
aquilo que me impedia de ajudar Cameron: a insegurança. Não
estava insegura.
Insegura de fazer algo errado, de parecer jogada demais ou de
Cameron achar algo ruim em mim.
Nessas duas semanas eu e Cameron nos entendemos bem. Ele
passou em todas as matérias depois do provão e mesmo assim
mantivemos os estudos. A gente se irritava e implicava mais do que
nunca, mas não como antes, algo certamente tinha mudado.
Toda minha insegurança passou depois que entendi que mudar
meu jeito e criar um personagem não era o melhor meio. Criar um
namoro falso já era o suficiente e foi a única coisa que Cameron
pediu. Não precisava deixar de ser a nerd e nem precisava apoiá-lo
em toda idiotice que fizesse, não precisava concordar com ele
falando com as pessoas de forma arrogante, pelo contrário, sendo
sua namorada podia confrontá-lo em alguns casos, era isso
acontecia em namoros.
Fingir não era mais problemas, mas sim ouvir os comentários de
que eu não o seguraria por muito tempo. Era drasticamente ridículo
a forma que viam Cameron como uma pessoa que só pensava em
sexo ou como se ele não passasse de um objeto.
—... é óbvio que para a santinha segurar o capitão ela não pode
ser mais virgem, porque se for, não dou duas semanas para ele ir
caçar outra — ouvi uma líder de cabelos cacheados conversando
com uma garota do jornal.
Elas me olharam rindo com maldade e caminharam em direção
ao refeitório.
Guardei minhas coisas no armário pensando um pouco na
situação. Não queria ir ao refeitório hoje, nas aulas que tivemos no
laboratório fiquei com Cameron, trocamos carícias e rimos de alguns
comentários bobos. Era o suficiente por hoje, acredito.
— Poxa gata, logo o capitão? — Ouvi Oliver dizer com voz
triste. Me virei o olhando após fechar o armário. — Era para ser eu
— ele se aproximou quase me deixando presa contra o armário.
— Oliver, me deixa em paz! — Exigi.
Sai de perto dele e do armário antes que ele me encurralasse,
sentia repulsa sempre que esse garoto se aproximava.
Oliver me puxou pelo braço e bateu minhas costas no armário.
O empurrei com o máximo de força possível, um pouco assustada e
ao mesmo tempo com ódio da situação.
— Qual é o seu problema? — questionei em voz alta.
Algumas pessoas no corredor me encararam e logo uma garota
se aproximou de nós.
— Tudo bem, Becca? — Indagou encarando friamente Oliver.
— Tudo bem, obrigada — a respondi quando Oliver saiu com
um sorriso sarcástico.
A garota apenas balançou a cabeça concordando e se juntou
aos seus amigos. Os dois garotos com ela me olharam e se
afastaram.
Caminhei na intenção de ir para a biblioteca. Me recusava a
ficar no refeitório hoje, um dia de folga apenas, e esperava que
Cameron entendesse.
— Becca — me virei na direção de onde meu nome foi
chamado.
Ele tinha acabado de sair do vestiário masculino e seus cabelos
estavam molhados, os treinos estavam bem pesados em dias de
sexta, pois a temporada começaria na próxima semana.
— Vamos?
— Para o refeitório? — questionei e ele concordou. — Preciso
mesmo?
Tentei pensar em uma desculpa, mas acho que ele não queria
saber disso e se eu falasse sobre Oliver não sabia qual seria a sua
reação.
— E por que não? — forcei um sorriso e arrumei meus óculos
no rosto.
— Não sei — dei de ombros e olhei para frente.
— Becca, qual é o problema? Eu já falei para o time que você
está comigo — o olhei novamente. — Não vou deixar as pessoas
debochando sobre você ser a santinha que agora sai ficando com o
capitão, para todos, estamos namorando sério, já falei que você —
ele parou em minha frente e desceu as costas dos dedos em meu
braço — é minha — disse com convicção.
Ele não parecia falar com possessividade, mas sim com desejo,
e eu abri um sorriso. Suspirei aceitando, ele franziu o cenho ainda
desconfiado, mas não me questionou.
Caminhamos pelo corredor até nosso destino, mas havia algo
que eu precisava falar:
— Ouvi muita coisa hoje — admiti pegando em sua mão e
entrelaçando nossos dedos, ele ainda ficava surpreso e sorria
quando fazia isso. — Sobre eu só conseguir segurar você porque
já…
— Eu sei. Sinto muito.
— Não — parei em sua frente antes de entrarmos no refeitório
—, eu não me importo com o que dizem — percebi que algumas
pessoas que vieram para o corredor estavam prestando atenção em
nós. — Você já falou com os meus pais — afirmei — quem tinha que
saber já sabe.
Ele sorriu concordando quando percebeu o que eu estava
fazendo. Entramos no refeitório e eu senti sua mão em minhas
costas enquanto andávamos. Pela primeira vez em duas semanas
de namoro falso assumido Cameron tinha me feito sentar ao lado
dele, felizmente Natalie estava sentada na minha frente.
Duas meninas em uma mesa repleta de meninos, era
engraçado. Cameron fez com que eu me sentasse na ponta para
não ficar ao lado de nenhum outro garoto.
Olhei Natalie que estava ao lado de Elliot, que a deixou na
ponta pelo mesmo motivo que, acredito eu, Cameron fez comigo.
Não tinha pensado que agora nem mesmo meus intervalos
seriam como antes. Adeus biblioteca, adeus arquibancadas vazias e
adeus estacionamento, bom, as vezes Cameron poderia ir comigo.
Em mim nada mudaria, mas algumas atitudes precisavam ser
revistas agora que definitivamente todos me consideram a
namorada do capitão e era assim que me olham. Como por
exemplo, ver o Cameron treinando as vezes ao invés de me enfiar
na biblioteca...
De nerd a namorada do capitão do time. Para mim isso parecia
uma decadência, como se antes eu fosse inteligente e agora só a
companheira de um homem.
Pensar nisso me deixa enjoada, mas, pelo menos, eu poderia
estudar sem algum garoto me chamar para sair. Era isso o que me
importa: estudar para a faculdade.
— Cameron, mano, foi mal ter dado em cima da Becca, antes
eu não sabia que ela era sua namorada — Jack disse e alguns
outros garotos concordaram.
Revirei os olhos por estarem pedindo desculpas a ele.
— Não é para mim que vocês devem pedir desculpas e sim para
ela — Cameron ressaltou os fazendo ficar tensos.
— Vão fazer alguma coisa hoje? — Peter questionou.
— Vamos assistir um filme lá em casa, certo Elliot? — Natalie
disparou para Elliot como se fosse a namorada dele.
Todos a olhamos e ela se encolheu depois de notar nossos
olhares.
— Hoje vamos fazer uma fogueira na praia — Peter disse.
Elliot olhou Natalie em busca de resposta e Cameron me olhou
da mesma forma.
Eu e Natalie nos olhamos, sabendo que a decisão era nossa.
Apenas balancei a cabeça concordando, porque estava claro que
ela queria ir.
— Então vamos para a fogueira — Natalie, por fim, respondeu.
Olhei na direção do primeiro olhar que senti, Oliver. O olhar dele
era carregado de maldade, me olhava com um desejo incomum
como se fosse me devorar. Victor e Noah estavam me olhando
também, mas nada se comparava a Oliver.
O olhar ficava cada vez mais carregado de maldade e eu não
conseguia mais comer. Fechei meus olhos tentando me manter
calma. Olha-lo parecendo que ia me devorar, mesmo vendo que eu
estava incomodada, me deixava mal.
— Amor — ouvi Cameron chamar suavemente me fazendo abrir
os olhos e sua mão estava na minha perna.
O olhei e então percebi que estava apertando seu braço.
Ele me olhou confuso.
— Desculpa — pedi, mas ele não parecia incomodado comigo
segurando seu braço.
— Tudo bem — Cameron beijou minha mão.
Um dos garotos que estava no corredor quando Oliver veio para
cima de mim chamou Cameron de longe, com um aceno de mão.
Me senti tensa e sabia que aquilo era problema. Observei o estilo do
garoto e então me recordei de onde tinha o visto. Ele era do lado
sul, nunca estava em confusão, mas sabia de tudo o que acontecia
na escola. Sempre o via conversando com Cameron, mas agora era
diferente como se fossem aliados.
Cameron voltou o olhar para a mesa, mas seus olhos eram
como faíscas que se transformaram em chamas quando olhou
Oliver.
O garoto que estava com Cameron saiu em direção ao campo
de futebol, Cameron se aproximou de Oliver e o puxou pelo
colarinho com tanta força que Oliver ficou sem fôlego.
— Elliot, vem comigo. Peter e Josh, fiquem com as meninas —
Cameron deu as coordenadas e saiu puxando Oliver que estava
pálido como se tivesse acabado de ver um fantasma.
O sorriso malicioso tinha sumido de seu rosto dando lugar ao
desespero.
O refeitório observou e os cochichos se estenderam por todo o
local, mas ninguém foi louco o suficiente de se levantar e ir atrás,
ninguém queria encrencar Cameron mesmo tendo a noção de que
ele estava indo fazer algo errado.
— Coitadinho — Peter debochou.
Eu e Natalie nos olhamos entendendo perfeitamente o que uma
queria dizer a outra. Nos levantamos rapidamente e saímos na
mesma direção que os meninos haviam saído.
Peter e Josh nos alcançaram extremamente rápidos. Josh se
colocou em minha frente e Peter na frente de Natalie.
— Peter, o que de fato está acontecendo? — questionei o
olhando.
— Não podemos contar da mesma forma que vocês não podem
ir até lá — Josh quem respondeu.
Ambos estavam tranquilos, sem nenhum vestígio de
preocupação, deixando claro que concordavam com aquilo.
— Lá onde? — Natalie questionou.
— Eu quero que vocês me expliquem agora o que aconteceu —
exigi.
— De jeito nenhum, Cameron vai achar ruim — Peter me
contrariou.
O encarei furiosa.
— Peter, agora! — Falei mais firme.
Josh suspirou.
— Oliver não parou de fazer piadinha sobre você, só quando
Cameron ou Elliot chegavam que ele parava. Ficava cada vez pior,
ninguém aguentava mais — Josh iniciou.
Peter passou a mão no rosto preocupado.
— Vamos sair daqui — pediu.
Chegamos rapidamente no campo de futebol, sentia que nosso
tempo passava e as coisas pioravam para Oliver. Não que ele não
merecesse, mas dentro da escola era perigoso para Cameron.
— Não te contamos porque não queríamos você mal, falamos
pra ele parar, nos afastamos e evitamos ao máximo você com ele
mesmo sem você notar — Josh explicou me olhando.
— Mas, ontem, Cameron chamou os meninos do lado sul para
jogar basquete com a gente na aula de educação física e foi bem
tranquilo. Jasper, o garoto que conversou com Cameron no
refeitório, pegou amizade rápido com o capitão. Muito rápido mesmo
porque enfim, o capitão faz amizade rápido — Peter deu uma
pausa, eu e Natalie nos olhamos impacientes.
— Parem de prolongar a história — pedi.
— Jasper entrou no vestiário masculino e ouviu tudo o que
Oliver falava sobre você — Josh fez uma cara enjoada e aquilo fez
uma corrente elétrica de repugnância passar pelo meu corpo — e
contou ao Cameron.
— Oh não! — Natalie ficou pálida — Se é por ela que ele está
fazendo isso, Cameron vai acabar com Oliver — disse se
levantando e eu me levantei junto.
— Onde eles estão? — questionei e os meninos apenas se
olharam. — Respondam! — Minha voz soou mais alto do que eu
queria.
— Peter, Josh — a garota que estava com Jasper no corredor
chamou —, os seguranças estão à procura dos meninos, anda,
Cameron não pode bater muito no Oliver se não vai para a diretoria.
Os meninos se levantaram e a garota continuou:
— Andem, eu e Samuel vamos distrai-los.
Depois do campo de futebol, bem depois do campo, tinha um
jardim malcuidado, onde eles estavam. Era um pouco tarde,
Cameron havia dado socos em Oliver enquanto Jasper e Elliot
estavam apenas olhando com naturalidade. Não parecia ser os
primeiros socos e Cameron falou algo a Oliver que estava no chão.
— Becca, só você vai conseguir acalmá-lo — Natalie disse.
Foi então que eu corri e me aproximei enquanto Cameron
esbravejava para Oliver nunca mais chegar perto de mim.
— Nem pensar — Elliot me segurou.
— Os seguranças estão vindo. Luce avisou. Alguém nos
dedurou — Peter disse ofegante por ter corrido.
— Inferno! — Jasper xingou e Elliot me soltou.
— Acalme ele e o tire daqui. Cameron nunca se importou com
os seguranças — Elliot avisou.
Concordei e corri para me aproximar ainda mais. Fazia tempo
que não via Cameron em confusões.
Oliver gemeu de dor ao receber um chute na costela.
— Cameron, para — implorei tentando agarrá-lo pela blusa.
— Fique fora disso, Rebecca — pediu furioso e sem me olhar.
Antes que Cameron agarrasse Oliver para levantá-lo do chão,
segurei firme em sua cintura, com as duas mãos, a apertando e o
empurrando com o meu corpo. Foi a deixa para os meninos
correrem até Oliver para ajudá-lo a se levantar.
— Vão, eu resolvo daqui em diante — avisei e eles apenas
concordaram.
Cameron ainda tentou avançar para cima de Oliver outra vez,
mas consegui impedir.
— Você não devia fazer isso! — Disse firme e se afastando de
mim. — Você não tem noção das merdas que ele falou, sobre o que
ele queria fazer com você, as intenções dele… Argh! — Cameron se
contorceu de raiva.
Sua respiração estava descontrolada, os cabelos bagunçados, a
raiva, fúria e ira juntos. Ele cerrou o punho e socou o ar.
— Você devia me deixar acabar com ele. Você devia, Rebecca.
Você não tem noção do tamanho da raiva que tenho só de pensar
em…
— Ei — o puxei pela cintura e beijei seu rosto — chega, vamos
sair daqui — pedi deslizando as unhas por suas costas cobertas
pela blusa.
Isso fez com que todos os músculos tensos de seu corpo
relaxassem. Ele suspirou e seu corpo estremeceu.
— Nossa, que maldade — disse em meio a suspiros.
— Precisamos sair daqui, os seguranças estão vindo — afirmei
rapidamente e ele concordou.

Cameron me trouxe a um lago, onde tinha uma ponte e arvores


ao redor. Achei que me levaria para casa, mas não, e por mais
chata que eu fosse, não achei ruim. Era lindo e tranquilo aqui,
porém estava mais frio do que na escola e eu definitivamente não
estava preparada para o vento gelado que batia em meus braços
pois deixei o casaco na escola. Me sentei no fim da ponte
observando o lugar e sentindo a brisa fria tentando não tremer.
— Rebecca não passa frio porque está sempre coberta de
chatice — Cameron disse colocando o moletom do time em meus
ombros.
Ri o vestindo e vendo Cam se sentar ao meu lado.
— Cameron não passa frio porque está sempre coberto pelo
seu ego inabalável — rebati empurrando seu ombro com o meu.
Rimos nos olhamos por instantes até nossos olhares se
tornarem desconcertantes, pelo menos para mim.
— Becca, eu não quero que você pense que sou possessivo,
que você não pode falar com ninguém. Jamais. Mas as coisas que
Oliver disse ultrapassaram qualquer limite — explicou.
Apenas concordei balançando a cabeça.
— Quer me contar o que aconteceu antes do refeitório? —
questionou e eu neguei. Olhei para a frente respirando fundo.
— Não quero contar algo que te deixe mais estressado.
— Pelo menos você sabe acalmar o estresse — meus lábios
formaram um sorriso envergonhado, mas meus olhos continuaram
voltados a longa extensão do lago. — Vamos, conte-me sua versão.
— Cameron — peguei em sua mão —, não quero que você
fique mais nervoso.
Ele entrelaçou nossos dedos, beijou minha mão e disse:
— Não posso prometer isso, mas quero te ouvir — pediu.
Pela primeira vez, longe de todos, não nos tocamos por precisar
que alguém visse e comentasse ou sem ser porque ele estava
estressado. Era bom não precisar fingir e ao mesmo tempo tão…
estanho. Não devia gostar disso.
— Começou com ele indo na lanchonete há semanas, foi
quando eu entendi que ele não me deixaria em paz. Isso já faz um
tempo. Depois na escola, sempre que eu passava por ele, ele ficava
de piadinha com os garotos e nem eram garotos do time —
Cameron bufou e eu acariciei sua mão com o polegar —, mas ele
ficou ainda mais irritante depois de terça retrasada.
Cameron franziu o cenho quando parei de falar.
— O que aconteceu na terça? — Suspirei. — O que aconteceu
na terça? — questionou novamente.
— Cameron, você já está tão nervoso com ele, não quero piorar,
não devia nem era começado a falar — senti uma pressão em mim.
— Não, não está piorando. Não se culpe — ele colocou uma
perna atrás de mim e cruzou a outra me deixando entre elas. — Ele
quem fez isso, não se culpe por ele ser um idiota — disse
acariciando meu cabelo após soltar minha mão.
Cameron estava próximo, se inclinando um pouco para frente
sua respiração bateria em meu pescoço.
— Ele chegou mais cedo nas aulas extras do time, começamos
a conversar e, mesmo não querendo conversar com ele,
conversamos — o olhei, me arrependi de imediato por conta da
proximidade e olhei para o lago outra vez —, enfim, ele estava
falando que queria me chamar para sair, que queria me levar em um
lugar legal onde… onde…
Suspirei, só então percebendo o quão horrível seria falar que
ele sugeriu ser meu primeiro.
— Becca — Cameron subiu a mão em minha nunca me fazendo
o olhar. — Eu sei do resto — meu olhar era surpreso, assim como
minha expressão —, Oliver se gabou no vestiário e Josh me falou —
ele não parecia tão nervoso agora.
— Sabe Cam, infelizmente isso acontece sempre com as
mulheres. Há sempre alguém para te assediar, te amedrontar de
uma certa forma, como se gostassem disso. Tenho medo, confesso.
Principalmente sabendo que não é só um garoto. Não é só Oliver,
não é só na escola. E os garotos, muitos deles não querem nem
saber. Não vou me calar, mesmo que ter falado com Oliver que isso
me incomodou não adiantou de nada. Algumas vezes sou grossa
com alguns que ficam dando em cima de mim, isso é uma tentativa
de dizer que são inconvenientes e nojentos. Alguns mudaram como
— Andrew, pensei — Jack, Noah e Victor, conversei muito com eles
pois eles perceberam que ter rido do apelido que Oliver me deu não
foi legal. Outros não querem mudar, insistem em ser nojentos.
— Eu vou bater nele — o olhei rindo.
Esse garoto era impossível.
— Cameron e seu belo jeito de resolver as coisas — ele riu me
olhando.
— E resolve.
— Só na sua frente — provoquei vendo sua expressão um tanto
engraçada — Na sua frente eles pedem desculpas por eu ser a
“sua” — gesticulei — garota, mas continuam falando de mim.
— Quem falou da minha garota? — Ri da forma engraçada que
ele questionou — Agora sim, nem que você me segure eu vou
deixar de bater neles — ele ameaçou levantar e eu o puxei pelo
braço.
— Estou brincando — afirmei. — Como sua namorada eu digo,
por favor, não — ele fez expressão de entediado — sem isso de
bater em todo mundo. Pelo menos eles já pararam de dar em cima
de mim diretamente.
— Pelo menos — debochou —, Oliver foi para cima de você
sozinha.
— Para de querer resolver tudo na violência, homem — me
levantei após sentir minhas costas doerem.
Ele se levantou também e me olhou enquanto eu me esticava.
— Não. É o meu jeito Becca e isso eu não vou mudar. Como
minha namorada — ele deu um passo para frente me fazendo dar
um passo para trás e sentir a proteção da ponte em minhas costas
— eu vou te proteger. Mesmo que seja só de mentira todo o namoro
— disse olhando em meus olhos e colocou as mãos apoiadas na
proteção da ponte me deixando encurralada.
Fiquei hipnotizada com seu olhar. Ele parecia buscar algo em
meus olhos, o que me fez virar o rosto desviando o olhar.
— Cameron… não fica tão próximo assim — pedi com a
respiração cortada.
Outra vez, meu corpo estava em chamas e aconteceu de uma
forma assustadoramente rápida.
— Isso te incomoda? — questionou e com o meu silêncio eu me
entreguei. Ele se aproximou mais e eu senti que meu coração sairia
pela boca. — Você agora é minha namorada — tentei o empurrar
com as mãos em sua cintura, mas falhei.
— Aqui não somos namorados — expliquei sem o olhar.
Minhas mãos estavam suando, mas não queria me afastar.
Senti seu olhar em mim por instantes e ele sorriu se afastando um
pouco.
— Não somos, mas precisamos discutir a relação — afirmou
cruzando os braços e seus músculos saltaram.
— Discutir a relação? — questionei me apoiando na borda da
ponte.
— Não gostei da forma que você falou comigo quando estava
falando com Micael — disse lembrando-me dele sendo grosso com
um garoto e eu debati com ele. — Foi a mesma coisa com Neji —
explicou calmamente.
Mas não era esse o ponto, ele queria apenas me irritar.
— Então não fale com eles daquele jeito outra vez — sugeri e
ele deu um passo para frente.
Abaixei a cabeça passando a mão no rosto na intenção de
disfarçar o sorriso.
Eu pedia para ele se afastar e ele não colaborava.
— Sempre falei assim — disse naturalmente.
Cameron mexeu na correntinha em seu pescoço e levou até a
boca a mordendo. Observei seus movimentos e por instantes quase
me esqueci do assunto.
— Você devia rever a forma que fala com as pessoas, não
precisa ser arrogante de graça e nem em nenhum caso — expliquei
tentando manter a calma, mas minha respiração estava
descompassada e eu não fazia de como controlar aquilo com ele tão
perto.
— Não vai acontecer — afirmou apoiando novamente as mãos
na borda na ponte me deixando sem saída.
A proximidade não era tanta e mesmo assim me aproximei
ainda mais. Nunca conseguia ficar quieta vendo Cameron tentar me
tirar do sério e isso me dava forças para contrariá-lo sem parecer
desesperada pela nossa proximidade.
— Então se acostume com a forma que lidarei com a sua
babaquice — disse passando os dedos em seu rosto até sua nuca
— se você quer ser um babaca, seja, mas não espere que eu
concorde por ser sua namorada — aproximei meus lábios de seu
ouvido e ele estava imóvel — e eu não vou pegar leve, já que sei
que você faz isso de propósito.
Ele me empurrou com seu corpo contra a borda da ponte e seus
olhos buscaram os meus. Nossos olhares estavam travados um no
outro e a proximidade era mínima. Seus olhos desceram até meus
lábios e não sentia medo. Sentia meu coração bater depressa e
mesmo assim, não tinha outro lugar em que eu gostaria de estar
agora.
— Vamos, você precisa comer antes de ir trabalhar — ele se
afastou e eu soltei a respiração sem nem saber desde quando
estava prendendo.

— Sobre irmos à praia… — Comentei quando Cameron parou o


carro na frente do meu trabalho abrindo a janela toda.
Disse que fazia questão de mostrar a Andrew que estava
definitivamente comigo, para ele nunca mais chegar perto de mim.
Expliquei a ele que desde o dia em que Andrew me deixou
desconfortável ele não descia mais para trabalhar comigo, só ficava
no escritório, mas isso não adiantou nada, Cameron insistia em me
trazer. Sabia do ódio entre eles então, por necessidade, não contei
nada a ele sobre eu fechar o caixa com Andrew.
— Você precisa ir comigo, nada de ir com a minha irmã.
— Não quero — me fiz de mimada e cruzei os braços.
Ele me olhou e revirou os olhos rindo.
— Mas precisa — disse rude e eu o olhei com a sobrancelha
arqueada. — Por favor? — Tentou contornar a situação o que me
fez rir e relaxar o corpo.
— Tudo bem — dei de ombros. — Eu vou, mas eu quero dirigir
esse carro.
— Colocar as mãos nessa belezinha? — questionou rindo com
sarcasmo até ver que eu estava falando sério. — Está falando
sério?
— Pareço estar brincando? — questionei e ele passou a mão no
rosto.
— Tudo bem — resmungou.
— Obrigada, amor — brinquei beijando seu rosto e ele não
conseguiu evitar o sorriso.
Cameron observou a lanchonete.
— Não disse? Olhe Andrew na janela nos observando — ele
apontou com a cabeça e eu dei de ombros.
— Preciso ir.
Cameron saiu rapidamente do carro e abriu a porta para mim.
Ele me abraçou, certamente provocando Andrew.
— O objetivo não é provocar Andrew — sussurrei em seu
ouvido enquanto o abraçava.
— Não estou provocando ninguém — disse com tom sarcástico.
Me virei o fazendo ficar contra o carro e eu de frente para a
lanchonete. Confirmei minhas dúvidas, Andrew ainda estava
olhando. Meus olhos encontraram os seus, mesmo de longe, e ele
se afastou da janela a fechando rapidamente.
— Tchau, Cameron — me soltei dele.
Ele ia me responder, mas uma voz aguda o interrompeu.
— Cameron! — Raquel disse animada — Quanto tempo. Nossa,
você sumiu! — Ela praticamente me empurrou para abraçá-lo.
Os olhei querendo rir da forma com que Raquel estava sendo
inconveniente de propósito para me afetar. Era cômico a cena.
Cameron me olhou pedindo socorro e eu não acreditei no que ia
fazer. Cruzei meus braços e mudei a expressão rapidamente para
séria.
— Vou te dar três segundos para tirar as mãos
do meu namorado — afirmei mais rude do que achei que
conseguiria e Raquel se afastou.
Mantive o olhar devorador e ela me olhou apavorada. Ainda
estava de braços cruzados como se fosse fazer pedaços dela,
porém, por dentro estava chorando de rir.
— Becca… me desculpe… eu... — Raquel pareceu perder a
fala. — Eu não sabia que vocês estavam juntos — disse como se
estivesse arrependida, mas seus olhos mostravam outra coisa.
Melissa e Katherine pararam na entrada da Goldens.
— Ok, Raquel — mantive minha frieza e me aproximei de
Cameron que parecia tão surpreso quanto eu com a reação que
tive.
Ele estava imóvel, mas quando a distância era pouca, Cameron
me puxou pela cintura com firmeza e roçou nossos lábios e por
algum motivo eu deixei. Fechei meus olhos deixando que ele me
segurasse firme pela nuca e me desse um selinho demorado, ele
sorriu apertando ainda mais minha cintura como se fosse continuar
se eu não o afastasse levemente. Nos afastamos e, como se
estivesse hipnotizado e em êxtase, ele ficou me olhando e sorrindo
passando os dedos em meus cabelos. Meus lábios tremeram e tudo
pareceu sumir. Passei a língua nos lábios tentando não abrir um
sorriso.
— Tchau… amor — tentei agir como se aquilo fosse comum
entre nós.
Ele me soltou deslizando as mãos lentamente em minha nuca e
minha cintura até me soltar por completo.
Cameron… selou nossos lábios…
Meu coração estava acelerado.
Entrei cumprimentando Esme e olhei para trás, Raquel havia
saído, porém, Cameron permaneceu imóvel.
Minhas mãos gelaram, mas meu corpo estava suando. Estava
para ir ao banheiro quando fui impedida de tal ato. Andrew me olhou
e subiu para o segundo andar deixando a entender que queria falar
comigo.
Deixei minha bolsa em meu armário e subi até o escritório de
Andrew. Dei duas batidas e entrei mesmo sem resposta, sabia que
podia pois Andrew me deu essa liberdade.
Quando entrei, o vi olhando pela janela. Impossível não
perceber que ele sempre olhava pela janela quando estava
pensativo.
— Andrew? — O chamei e ele pareceu acordar.
Se virou com lentidão e me encarou. Fechei a porta e me
aproximei.
— Aconteceu algo?
— Vamos fechar o caixa de ontem — disse firme, mas notei que
escondia algo e me questionei se tinha liberdade para perguntar o
motivo disso. — Preciso sair mais cedo — e se sentou em sua
cadeira evitando qualquer contato visual comigo.
— Andrew? Aconteceu algo? — questionei me sentando na
cadeira a sua frente.
— Aconteceu, mas você não pode ajudar — foram suas
palavras e eu entendi que ele não queria conversar.
— Como quiser.
Olhei o notebook que estava a sua frente. Ele costumava
sempre me entregar, mas pelos seus olhos, mesmo que fixos na
mesa, não estava aqui. Ele estava longe, como se tentasse
organizar diversos pensamentos em sua mente.
— Licença — quebrei o silêncio, me levantei e peguei o
notebook.
Ele nem sequer se mexeu.
Me sentei, abri as planilhas e me senti tensa. Tensa como
nunca.
— Então é ele — disse em confirmação.
Gelei. Me mantive em silêncio fingindo concentração e sem
saber o que esperar.
— É ele quem você escolheu. Alguém que ficou com tanta
gente…
— Grande moral, Andrew — interrompi ainda olhando a tela a
minha frente.
Senti seu olhar acima do notebook, mas, por algum motivo, não
queria olhá-lo. Desde o dia em que conversamos, comecei a ajudar
a fechar o caixa diário, o semanal e no fim do mês fechávamos o
mensal. Mas uma hora era muito para isso e acabávamos ficando
conversando. O movimento era menor pela noite e deixávamos
Esme com Joe na lanchonete. Pelo que Andrew me disse, eles
estavam tendo algo e, diferente de sua mãe, ele não via problema
nisso.
E uma hora em todos os dias foi necessário para rirmos
bastante juntos e contarmos algumas coisas sobre nós mesmos. Eu
sobre como descobri ser diabética e ele sobre sua reação com
casamento de sua mãe com outra mulher. Os assuntos surgiam com
naturalidade, mas hoje, estava tudo cinzento entre nós.
Andrew passou os dedos nos lábios, coçou a nuca e me olhou.
— Você gosta dele? — questionou.
O olhei e hesitei. Como namorada de mentira eu devia
responder que sim, mas hesitei.
— Está namorando alguém que não gosta? — Seu tom parecia
vitorioso.
— Só porque você teve um namoro superficial, não significa que
o meu seja — afirmei voltando o meu olhar para a tela.
Não precisei o olhar para saber que sua expressão era de
surpresa, uma surpresa ruim.
— Por hoje é só — disse pegando o notebook de minhas mãos.
— Mas eu não termi…
— Por favor, Rebecca, por hoje é só — disse soando como uma
súplica. — Segunda veremos isso, mas por favor, volte a trabalhar
— pediu sem me olhar.
— Licença — pedi cordialmente e me retirei de sua presença.
Desci as escadas indo até a lanchonete. Minha cabeça estava
uma confusão.
A lanchonete estava vazia, estávamos apenas eu e Esme.
Queria Natalie, mas Esme com certeza me responderia melhor,
talvez pela idade. Acredito que com vinte e seis anos ela saiba bem
mais que eu e Natalie. A observei por instantes observando que seu
cabelo agora estava preto, antes era rosa.
— Esme — a chamei.
Ela tirou os fones, parou de limpar a mesa e se aproximou de
mim com os olhos cheios de curiosidade.
— Sei que não conversamos muito, só sobre o Joe às vezes —
ela sorriu —, mas eu queria te fazer uma pergunta.
— Sobre Andrew, meu doce? — disse me chamando pelo
apelido que me deu quando a contei ser diabética.
— Andrew? — questionei.
— Ele mudou, não? As responsabilidades o ajudaram a
amadurecer um pouco, mas seus sentimentos amorosos continuam
como o de um garoto.
— O que quer dizer?
— Ele não sabe lidar com o gostar de alguém e não ser
correspondido. Diferentemente de seu namorado que está nas
nuvens.
— Esme, me ajude — implorei. — Andrew e Cameron, como
cada um me olha?
— Você nunca se apaixonou de verdade, não é? Ou nunca
percebeu alguém apaixonado por você — concordei. — Meu doce,
Andrew está encantado por você, muito encantado. Ele te observa
como se quisesse desvendar seus mistérios, como se quisesse te
entender, te deseja muito, acredito eu. Já Cameron, o conheço há
anos, seus olhos brilham intensamente, não só brilham, se acendem
como chamas. Nunca o vi desejar alguém como ele te deseja. O
olhar dele é assim — meu corpo se esquentou, eu não sabia se
queria continuar ouvindo e meu coração estava disparado —
carregado de desejo intenso e ardente, mas ao mesmo tempo ele
quer te proteger, cuidar de você, ao contrário de Andrew, não é só
desejo. E…
— E eu, Esme, transpareço algo? — Decidi mudar o foco antes
de começar a discordar dela.
— Você é fria — disparou sem quaisquer rodeios e um nó se fez
em meu estômago. — Desapegada, seu coração está fechado ou
você disfarça muito bem. Você é uma garota forte, não me
impressionaria se escondesse algum sentimento — a olhei sem
saber se aquilo era algo bom ou ruim — e se quer saber, isso não é
tão ruim — respondeu meus pensamentos —, mas não se feche
totalmente se você tiver confiança de que gosta de alguém e ele
também gosta de você. Quer saber? Não preciso te dar conselhos,
você é cautelosa. Preciso dar conselhos a Cameron, ele sim pode
sair machucado.
— Definitivamente não — contrariei — Cameron não está
apaixonado por mim.
E fica com outras garotas, completei mentalmente. Ele vai para
festas onde ninguém nos conhece, certamente ficava com outras e
não podia culpá-lo.
Afinal, comigo ele não vai beijar e muito menos ter algo mais.
— Prefere acreditar nisso? — questionou.
Não, mas precisava, não podia acreditar que tudo o que ela
disse era verdade.
Concordei, finalmente, balançando a cabeça.
— Bom, olhe nos olhos dele. A boca mente, mas os olhos não,
eles nunca mentem.
Ela colocou os fones e voltou ao trabalho.
Só então percebi que eu entreguei que não sou apaixonada
pelo meu, teatralmente, namorado e Esme questionou
absolutamente nada. Não havia nem se quer um vestígio de
confusão em seu rosto por eu falar de Cameron como falei.
Andrew passou por mim, foi até Esme que apenas concordou
com algo que ele disse em voz baixa e sem olhar para trás, saiu da
lanchonete.

Não sabia se as horas tinham se passado rapidamente hoje ou


se eu havia ficado tempo demais assimilando tudo o que Esme tinha
dito.
Conseguia acreditar mais na perspectiva dela sobre Andrew,
aquilo justificaria o jeito estranho dele comigo após eu chegar com
Cameron. Era uma pena caso ela estivesse certa, não tinha a menor
intenção de ter algo com Andrew.
Já Cameron era impossível ter qualquer sentimento por mim.
Afinal, ele era o Cameron e não se apaixonaria justamente por
quem nunca teve nada a não ser troca de farpas e ofensas. E,
sinceramente, imaginá-lo apaixonado por mim me deixava
apavorada pelo simples fato de que... eu não fazia ideia do que
tinha que fazer diante disso.
— Por favor, tia, ela tem que dormir lá em casa. Não posso
ficar sozinha com Elliot, ele vai me achar uma jogada. Por favor.

Meu irmão não vai nem chegar perto dela, eles nem se gostam de

verdade, por favorzinho — Natalie implorou sendo que nem tinha

deixado minha mãe responder ao seu primeiro pedido.


— Natalie, por mim tudo bem, querida. Você não me deixou
responder quando perguntou pela primeira vez — eu e mamãe
rimos da expressão de Natalie quando percebeu que não tinha
deixado minha mãe falar —, sabemos que é tudo uma farsa — ela
me olhou como se nem ela acreditasse em suas próprias palavras
—, mas, por favor, tomem cuidado.
— A senhora deixou? Assim? De boa? Meu Deus! A mãe da
minha antiga amiga nem a deixava respirar com Cameron perto —
admitiu e minha mãe achou graça.
— Sei que por Cameron eu também não deixaria — me senti
corando sabendo exatamente do que se tratava —, mas conheço
meu docinho ela não dá brechas e, mesmo que desse, não posso
fazer as escolhas por ela, já tem dezessete anos. A criei para viver
nesse mundão e ela se sai muito bem, não tenho motivos para
prende-la quando já sabe o que quer — ela me olhou.
Me senti emocionada, sempre amei esse espaço, essa
confiança.
Eu e minha mãe tínhamos diversas diferenças. Discutíamos por
várias coisas, como ela sempre interromper meu pai quando ele
estava falando, às vezes ser preocupada demais com Isaac e seu
TDAH ou pela pressão que as vezes ela colocava em mim, mas
sempre tivemos esse espaço, principalmente na vida amorosa,
profissional e em religião, ela sempre deixava aberto a minha
escolha.
Natalie bateu palminhas de alegria. A olhamos rindo e ela pulou
em minha mãe a abraçando.
— Maravilha. Vamos, Becca, eles estão nos esperando.
Me despedi de minha mãe, caminhei até a sala, me despedi de
minha prima Angel de quatorze anos que dormiria em casa, ela era
a maior fã da minha mãe, e passei os dedos na mãozinha de Elo.
Meu pai levou Isaac e Louis para outra cidade, disse que seria o fim
de semana dos meninos e eu não poderia ter um pai melhor, ele
tinha jeito com crianças, cuidar de Louis, que era o mais calmo dos
gêmeos, seria fácil para ele.
Sai de casa com Natalie. Minhas roupas estavam em sua casa
pois ela tinha certeza de que convenceria minha mãe.
Assim que passamos pela porta, a segurei pelo braço. Vi os
meninos do outro lado da rua, distantes o suficiente para não ouvir
nossa conversa.
— Ok, qual é o real problema? Por que está com medo de
Elliot? — questionei em voz baixa e ela respirou pesado.
— Não sei o que fazer, nem como agir, nem como fazer. Tenho
medo de não ser bom para ele — as palavras dela não faziam o
menor sentido —, ele é virgem amiga — explicou me deixando
surpresa.
— Ele? — questionei ainda impressionada. Não deveria estar
surpresa, mas foi impossível. — Ele não é como seu irmão?
— Ah, francamente — pareceu decepcionada —, acha que
Cameron sai transando com todo mundo? Que horror! Já ficou com
várias, admito, mas ir além com todas? Credo.
Me sentia ainda mais confusa. Não fazia sentido.
— Meu irmão não é virgem, se é isso o que você está se
perguntando.
— Aí que horror, Natalie! Claro que não — afirmei mostrando
espanto — só estou tentando entender. Na escola falam muita
coisa, é confuso para mim.
— Cameron foi em algumas garotas e acertou em cheio, ou
melhor errou, ele não queria, mas sua popularidade simplesmente
cresceu e ele nem sabe quem foi a infeliz que espalhou que ele…
— Para mim está ótimo por aqui — a interrompi sentindo um
desconforto imenso ao ouvir tudo aquilo, não sabia explicar o
motivo, mas estava incomodada.
Aquilo não me dizia respeito. Não queria saber qual tinha sido o
boato e nem quem o espalhou. Parecia invasivo demais.
— Elliot? — questionei, ouvimos a buzina do carro de Cameron
e o ignoramos.
— Sinceramente? Nem eu sei.
— Certo. Que horrível falarmos disso. Não deveria saber de
algo tão particular — comentei um pouco decepcionada comigo
mesma.
— Mas Becca, você é minha amiga. Sei que jamais caçoaria
dele por algo assim — ela segurou minha mão — e nem espalharia
— concordei de imediato —, vamos.
A cada passo que dava na direção dos meninos, meu estômago
parecia se fechar. Passei a tarde toda pensando no que Esme me
disse. Se Cameron ao menos falasse algo indicando que gostava de
mim, talvez ficaria mais fácil entender, porque ele sempre pareceu
gostar apenas de implicar comigo. Mas ele não falava nada. Sabia
que não queria Andrew, isso eu tinha certeza, mas Cameron…
parecia ser muito mais complicado.
Cumprimentei Elliot com um aceno, Cameron abriu a porta do
carro na parte do banco do passageiro, o olhei incrédula e estendi a
mão esperando a chave. Elliot gargalhou sem disfarce algum e
Cameron o xingou.
— Você me paga! — Cameron disse com os dentes cerrados.
Vê-lo assim me deixava com mais vontade de desafiá-lo.
— Claro, amor — debochei beijando seu rosto e pegando as
chaves de sua mão.
Ele revirou os olhos e, mesmo bufando, deu a volta no carro e
abriu a porta para mim, não consegui evitar sentir seu cheiro que me
deixou desorientada por instantes.
Elliot e Natalie, que estavam no carro da frente, já haviam
partido.
Entrei no carro, que era igual ao do meu tio Dave então não
seria tão dificultoso.
Cameron não fechou a porta, achei que me daria instruções
sobre o carro, mas apenas me olhou e questionou:
— Consegue conversar e dirigir ao mesmo tempo?
Concordei disfarçando o quanto aquilo tinha me deixava
nervosa, muito nervosa.
Falaríamos sobre o selinho, sabia disso, e estava no impasse
de querer e não querer que aquilo continuasse porque não sabia se
era algo sem finalidade nenhuma que só me faria criar expectativas,
mas queria continuar para saber até onde iria.
Era complicado, mesmo que seus lábios fossem, incrivelmente,
deliciosos, não queria um desejo passageiro que no dia seguinte
acabaria. Não queria ser incerteza e não sabia como dizer aquilo a
ele.
Ainda não sabia ao certo o que Cameron sentia por mim, muito
menos o que eu sentia por ele, e acreditava que teria respostas se
continuasse com o namoro falso.
Ele entrou no carro e eu não consegui olhar em seus olhos.
— Precisamos buscar Calleb e Josh então vamos ter que fingir
aqui no carro também — Cameron disse assim que dei partida. —
Podemos? — O olhei me rendendo.
— Melhor você dirigir depois de buscarmos Calleb.
— Por quê? — Mantive meu olhar fixo na estrada.
— Porque estou tensa — parei o carro no sinal vermelho —,
você me deixa assim — expliquei e ouvi sua risada.
Em instantes parei na casa de Calleb, que avisou que se
atrasaria minutos. Trocamos de lugar e eu me sentia um pouco
menos tensa por não ter o carro em minhas mãos, mesmo querendo
muito dirigi-lo, não era o melhor dia. Acabamos nem conversando
no pequeno percurso pois a casa era perto das nossas casas.
— Ok, não aguento essa tensão. O que tiver de falar, fale.
Calleb se atrasa mais do que você pode imaginar — disparei
sentindo meu coração saltitar.
Ele se virou para mim, calmo e sereno. Olhei seus olhos, mas
não conseguia ver se brilhavam por conta da pouca luz. Não o
queria com toda aquela tranquilidade, o queria tão eufórico quanto
meu coração estava.
— Eu sinto muito, não devia ter feito o que fiz. Por instantes
esqueci que você nunca tinha beijado e eu não devia ter feito
independente disso. Foi no impulso, a culpa é toda minha e vou
entender se não quiser mais, passei dos seus limites e…
Tentei conter meu suspiro e fiquei surpresa ao perceber que não
era aquilo que queria ouvir.
— Aí, Cameron, está bem — fiz voz de cansada e ele me olhou
confuso. — Isso nunca tinha me acontecido, mas não é o fim do
mundo. Foi inesperado e estranho, mas tudo bem. Vamos seguir o
combinado e não faremos isso mais.
— Nunca mais? — questionou em tom brincalhão e eu relaxei o
corpo no banco. — Porque assim, eu acho que devia se repetir —
passei a mão na testa rindo da forma que ele falou.
— Não. Eu te acho um saco, nem de você eu gosto. Para que
vou te beijar? — questionei em tom provocativo.
— Eu te acho insuportável e mesmo assim quero te beijar —
disparou e eu comecei a rir, com certeza era de desespero.
— Para de dar em cima de mim, Styles — o empurrei pelo
ombro aos risos —, não quero beijos sem significado nenhum —
repliquei olhando pela janela.
Esperei que ele falasse algo, que me contrariasse, que me
fizesse acreditar no que Esme disse, mas nada disso aconteceu.
Apenas o silêncio e com ele um sentimento de leve angústia. Não
devia criar expectativas, não devia criar expectativas, não iria criar
expectativas.
— Pronto para voltar a fingir? — O questionei vendo Calleb
vindo em direção ao carro.
— Sim, bê — disse pegando em minha mão e a acariciando.
Josh e Calleb entraram no carro discutindo. Josh estava
reclamando que Calleb demorava demais, mas perdeu a postura
quando Calleb disse que estava ficando lindo para Josh e aquilo me
fez sorrir.
— Oi casal — Calleb disse animado.
— Oi casal — falei na mesma animação.
Cameron riu dando partida.
— Amiga, liga o Bluetooth do carro — Calleb pediu e assim o fiz
após soltar a mão de Cameron.
Calleb colocou uma música e tanto Cameron quanto Josh
bufaram. Eu e Cameron até então não tínhamos nos tocado depois
que soltei sua mão. O olhei em busca de respostas, mas ele, de
forma tão natural, colocou a mão em minha coxa e eu suspirei sem
conter o sorriso.
Vê-lo dirigindo, sua mão rodando no volante me deixava
desconsertada e não sabia explicar o motivo.
Uma euforia enorme cresceu em mim e eu senti que explodiria
de animação. Cantarolei a música com Calleb e atingi a nota mais
alta de Ariana Grande em Bang Bang.
O carro parou no sinal vermelho.
— Uau — ouvi Josh surpreso.
— AH VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO — Calleb gritou
eufórico e bateu levemente em meu ombro, Cameron me olhava
surpreso e sorrindo. — Eu te odeio, como você nunca me contou
que canta? — questionou ainda animado.
— Porque eu não canto, só arrisco — dei de ombros.
Cameron apertou minha coxa, fechei os olhos tapando a boca
com a mão para não mostrar o sorriso.
— Arrisca? Garota, sua voz é perfeita! Trouxeram o violão? —
Calleb questionou.
— Está no carro de Elliot — Cameron respondeu.
— Ótimo — disse Calleb.
— Minha vez de escolher a música — Josh disse arrancando o
celular da mão de Calleb.

Chegamos na praia, mas nem todos tinham chegado, apenas


nós na verdade. Calleb e Josh saíram do carro e Cameron estava
prestes a sair quando o segurei pelo braço.
— Calleb é do tipo muito observador — avisei e ele concordou
entendendo o que queria dizer.
Ele abriu a porta do carro para mim como sempre fazia.
Achava graça naquilo e não conseguia evitar o sorriso.
— Peter já está chegando — Josh disse assim nos
aproximamos e Cameron se encostou na traseira de seu carro.
— Então… — Calleb começou e Cameron me puxou pela
cintura me abraçando por trás, me envolvendo em seus braços
fortes —, desde quando vocês são casais? — Ele revezou o olhar
entre mim e Cameron, Natalie e Elliot.
— Não somos um casal — Elliot e Natalie responderam juntos.
Eu já não estava prestando atenção em nada, apenas no cheiro
do perfume amadeirado de Cameron. Ele apertou forte minha
cintura com seus braços fortes ao meu redor, ficou apenas com um
braço envolto de meu corpo e com a mão desocupada afastou o
cabelo de minha nuca, o jogando para o lado. Ele permaneceu com
a mão segurando meus cabelos, os dedos afundados nos mesmos
como se tentasse impedi-los de atrapalhar seus próximos atos e ao
mesmo tempo me fazendo inclinar a cabeça levemente para o lado.
Meu corpo todo se arrepiou quando ele roçou o nariz em minha
nuca e deu suaves beijinhos. Apertei seu braço fechando os olhos,
prendendo a respiração e inclinando a cabeça para trás em busca
de apoio. Minhas pernas tremeram, eu sentia que cairia a qualquer
momento.
Me dei conta de que ainda estávamos com os nossos amigos
quando Calleb e Natalie deram um gritinho de desespero interno.
Calleb parecia animadíssimo, enquanto Natalie parecia embargada.
Soltei a respiração.
— Oxalá! Essa até eu senti — Calleb disse se abanando.
— É… do que estávamos falando? — questionei tentando voltar
para a terra.
Eles riram, inclusive ouvi a risadinha vitoriosa de Cameron.
— Vamos até o mar, nos chame quando Peter chegar — Josh
pediu saindo com Calleb.
Cameron me virou de frente para ele em um movimento rápido e
eu não o olhei, não sabia nem se conseguia olhá-lo sem ficar
nervosa e tensa.
— Me perdi, isso ainda é farsa? — Elliot questionou.
Cameron insistia em me apertar. Coloquei um de meus braços
envolta de seu pescoço e ele beijou meu rosto.
— Acho que não quero saber — Natalie disse com os dentes
serrados de tensão.
— Por que dá pergunta? Está com ciúmes? — Descontrai e
Elliot tentou conter o riso enquanto Natalie ria um pouco alto.
— Se eu piscar para ele, você perde o namorado — Elliot
desafiou.
Arranhei levemente os bíceps de Cameron e ele me apertou um
pouco mais quase me deixando sem fôlego.
— Se ele gostar, pode levar.
— Ei — Cameron protestou.
Peter parou o carro atrás de nós jogando a luz do farol em
nossa direção como aviso de que tinha chegado. Melissa saiu com
Karen e Katherine, mas não se aproximaram.
— Estou brincando, amor — aproveitei minha deixa e beijei seu
rosto quase no canto de sua boca.
Não queria parecer jogada ou desesperada, mas precisava de
mais respostas da parte dele sobre seus sentimentos. Ouvir os
outros falando era uma coisa, mas na prática essa situação se
tornava um desafio, e eu amava um desafio.
Ele perdeu o rumo enquanto me encarava. Natalie soltou um
gritinho de desespero interno novamente e disse:
— Meu coração não está preparado para isso — admitiu com a
mão em cima do peito.
— Podem nos dar um minutinho? — Pedi e eles concordaram.
Puxei Cameron até a frente do carro.
— Fiz papel de namorada ciumenta com Raquel hoje cedo, mas
odiei. Melissa está aqui, Karen e Katherine também. Todas te
querem, sabemos — ele me olhava com expressão neutra e calma
de dar raiva —, não quero repetir a cena de hoje cedo.
— Becca, não estamos aqui para fazer ciúmes a ninguém. Não
se preocupe — disse afastando os cabelos do meu rosto.
Olhei em seus olhos e então vi o brilho. Estavam iluminados de
uma forma que nunca tinha visto ou reparado antes. Talvez
estivesse vendo coisa já que estávamos a luz do luar, mas meu
coração insistia em disparar. Não devia criar expectativas, não até
ele falar, mas não sabia se conseguiria isso.
— Você está me olhando estranho — Cameron observou.
Seus olhos buscavam respostas nos meus e eu balancei a
cabeça negativamente.
— Desculpe. Vamos? — questionei.
Ele assentiu, entrelaçou nossos dedos e caminhamos até o
pessoal.
— Vamos até às pedras, lá tem lugar para nos sentarmos —
ouvi Melissa dizer.
Começamos a segui-los e só então percebi que quase todo o
time estava aqui, grande parte das líderes também. Os meninos
estavam brincando e fazendo palhaçadas um pouco mais a frente
enquanto Cameron, Elliot e Josh estavam atrás comigo, Natalie e
Calleb.
Os meninos olhavam para trás o tempo todo sem saber se
podiam chamar Cameron e os outros para se juntarem.
— Vai lá com eles — disse e ele me olhou surpreso.
— Sério? — questionou animado.
— Sim, vai lá — confirmei rindo.
Cameron olhou Josh e Elliot que sorriram e os três se juntaram
ao resto do time.
— Achei que a capitã não ia te liberar — Peter brincou.
Fiz cara de tédio e sorri para ele.
A barulheira do time ficou ainda maior. Isso porque diziam que
as meninas que eram as mais escandalosas.
Desviei meu olhar para o mar e parei um pouco de andar.
Natalie e Calleb que estavam conversando pararam ao meu lado.
— Olhem o mar — pedi e eles não disseram nada, apenas
observaram. Senti meu corpo queimar e meu coração se encher de
felicidade. — O tamanho do amor de Deus por vocês é maior que
isso.
Calleb e Natalie sorriram satisfeitos.
Voltamos a caminhar um pouco distante dos demais.
Chegamos até às pedras que Melissa citou e os meninos
começaram a arrumar as coisas para a fogueira, Natalie e Calleb
começaram a conversar sobre algo que não prestei atenção, me
afastei deles indo até a beira do mar e o observei novamente.
A brisa fria e leve batia em meu rosto. Me sentia bem olhando o
mar, o céu e o luar.
— Então vocês estão namorando — Katherine se aproximou.
A olhei, em seguida olhei Cameron que nos observava e ao
mesmo tempo conversava com os meninos do time.
— Isso — voltei meu olhar para a extensão escura do mar ou
reviraria os olhos na frente de Katherine.
— Não faz sentido — suspirei —, vocês começaram assim, do
nada?
— Primeiro que eu e ele nos conhecemos desde a infância,
segundo que eu não devo explicações para alguém que me
abandonou por causa de macho e por garotas que nem gostam dela
de verdade — disparei —, o que você de fato quer falar, Katherine?
— Você sabia que eu gostava dele — disse em voz baixa. —
Você sabia! Não é justo o que você fez! — Disse com o tom mais
elevado.
— Você e outras garotas — dei de ombros.
— Isso não vai ficar assim. Está muito estranho esse namoro!
Cameron não ter te beijado na frente de ninguém ainda? Até parece!
Seja o que for, vou descobrir — a olhei fingindo uma expressão de
pena.
— Boa sorte com isso.
Seus olhos me devoraram e ela parecia prestes a atacar
quando senti meus cabelos sendo juntados cuidadosamente para
trás.
— Algum problema, amor? — Cameron questionou e levou meu
cabelo até seu nariz o cheirando.
— Nenhum — disse olhando Katherine que bufou e saiu
andando.
— O que aconteceu? — Cameron questionou quando me virei
de frente para ele e joguei meus braços por cima de seus ombros.
— Katherine e seu surto por eu namorar o garoto que ela gosta.
Achou estranho Cameron Styles não ter beijado a namorada na
frente de todos ainda — expliquei rindo.
Ele abraçou minha cintura sorrindo.
— Os meninos do time comentaram sobre também, mas já
cortei isso — ele disse.
Uma de suas mãos estava em minhas costas me empurrando
contra seu peitoral, enquanto a outra afastava os cabelos dos meus
ombros e nuca. Prendi a respiração por instantes tentando controlar
todas as reações de meu corpo.
— Às vezes eu queria saber no que você está pensando para
me olhar assim — Cameron disse olhando nos meus olhos como se
tentasse me entender.
Estou pensando se você é apaixonado por mim ou se eu estou
enlouquecendo e isso é um delírio da minha parte.
— Só em como chegamos até aqui — disse rindo e acariciando
seus cabelos.
Por reflexo, atrás dele, vi que alguns do time e das líderes nos
olhavam esperando algo, mas desviei o olhar.
— Isso nem eu sei — ele me abraçou forte com os dois braços
quando deslizei as unhas por sua nuca e balançou a cabeça
estremecendo.
— BECCA, VEM CANTAR AGORA — Calleb gritou de forma
que me fez rir e eu definitivamente o agradeci a pôr me tirar dali.
Me soltei de Cameron, peguei em sua mão e nos aproximamos
de todos. Me sentei em uma das pedras grandes daqui e Cameron
se sentou ao meu lado pegando o violão.

Depois de cantarmos, conversarmos e assarmos marshmallow,


os meninos decidiram comprar bebidas e as coisas para fumar, e eu
estava esperando o momento para irmos embora pelo horário
avançado e o cansaço que estava sentindo.
A maioria se juntou a Peter e Katherine para ir até a adega que
tinha por perto. Natalie, Elliot e Calleb estavam na beira do mar.
— Cameron, quero falar com você — Melissa disse parando em
nossa frente, ele me olhou e eu a olhei franzindo o cenho. — Por
favor, é rápido, mas eu preciso conversar com ele — ela pareceu
odiar ter que se dirigir a mim.
A olhei por instantes, a analisando. Seu corpo se contraiu
quando me levantei.
— Sem problemas — beijei o rosto dele e aproximei meus lábios
de seu ouvido — não se esqueça que você namora — sussurrei
ouvindo os passos de Melissa se afastando e o olhei.
— Eu vou te beijar se você ficar próxima desse jeito de novo —
admitiu e se levantou. — Já venho — e saiu, me deixando
totalmente sem reação.
Soltei a respiração, olhei ao meu redor vendo Natalie e Calleb
molhando os pés enquanto Elliot estava sentado na areia distante
deles e me aproximei.
— Posso? — questionei antes de me sentar, Elliot concordou e
eu me sentei ao seu lado.
— Como você consegue? — Indagou depois de alguns
segundos em silêncio e eu o olhei sem entender. — Está claro que
você e Cameron tem uma química que qualquer um que estiver
perto repara. Bom, pelo menos agora que vocês estão realmente
fingindo — ele me olhou rindo, achei graça.
— O que você está querendo dizer? — questionei.
Ele soltou a respiração e olhou para Natalie que estava distante
com Calleb.
— Natalie deve ter falado, as meninas sempre falam sobre isso,
não? — Ele me olhou e olhou novamente para frente. — Não acho
que Natalie vai ficar comigo por muito tempo, não acho que vou
segurá-la.
Suas palavras esclareceram tudo na minha mente.
— Acha que ela não vai aceitar que você quer esperar seu
tempo? — Ele me olhou, pensou um pouco e concordou. — Você
não é um passatempo ou um objeto sexual, não se sinta um — sua
expressão se franziu para confuso.
— O que isso significa?
— Não nos conhecemos muito bem, mas não tenho problemas
em falar com você sobre — respirei fundo. — Eu me guardo porque
tudo o que quero para minha vida amorosa é uma só pessoa, que
me entenda, que me ame, que me respeite… eu realmente quero
isso para minha vida. Não quero me entregar a qualquer um e para
mim o casamento, a junção de objetivos, você amar tanto uma
pessoa que tem certeza de que é ela, é por isso que eu me guardo
— suspirei olhando para frente —, não quero várias pessoas, quero
a pessoa que vai fazer dar certo comigo — o olhei — sexo para mim
não é uma coisa banal. Na verdade, o relacionamento afetivo para
mim não é só isso. Por isso até no beijo me guardo, mesmo que
muitos achem idiotice da minha parte. Não vou me entregar a
qualquer um porque não sou um simples objeto sexual. Cada
pessoa se entrega para quem quiser, mas para mim eu não quero
isso — dei de ombros rindo.
— Isso é lindo — disse com a fala carregada de pensamentos.
Ele me olhou como se entendesse cada palavra que eu tinha
dito, isso de fato me deixou totalmente surpresa. Olhei Natalie que
ria com Calleb, voltei meu olhar a Elliot e disse:
— Ela entenderia — ele a olhou — seja qual for seus motivos,
ela entenderia. Não tenha medo, Elliot, ela é minha melhor amiga,
mas se não te entender, seus desejos e algo que seja importante
para você, então não é ela.
Ele suspirou e passou a mão na nuca.
— Você está certa — sorri concordando — Cameron acertou
dessa vez — disse em voz baixa e, por algum motivo, acabei
sorrindo.
— Preciso ser sincera, eu jamais imaginaria algo assim de você
— nos olhamos e rimos.
— Meus pais me criaram a moda antiga nessa parte. Depois de
um tempo fomos a igreja e tudo só se confirmou, entende? —
Assenti.
— Ainda vai à igreja?
— Raramente. Meus pais não me julgam, mas os demais estão
sempre falando algo por eu não estar na igreja sempre, então estou
meio afastado, mas isso em mim não mudou — explicou
gesticulando.
— É estranho — ele me olhou confuso — lembro de uma festa
que fui buscar Natalie e vi você ficando com três meninas diferentes,
fora que, você sempre anda com Cameron e para mim vocês eram
iguais nessa parte.
Elliot riu alto fazendo Natalie e Calleb nos olharem, mas logo
voltaram a conversar e caminhar pela beira do mar se afastando
ainda mais de nós.
— Sempre com uma opinião criada sobre as pessoas, não é,
Malik? — Alfinetou e eu perdi a fala. — Natalie me disse que você
tinha um pensamento errôneo quanto a Cameron — me virei o
olhando melhor —, permita-me apresentar o meu amigo, porque sei
que ele não quer se apresentar de verdade a você por não querer
que crie boas expectativas nele.
— Hummm — murmurei —, continue — pedi cordialmente.
— Não sei se vai dar tempo, mas tentarei resumir. Primeira
coisa, sabe quem é Alice? — Concordei, a garota que traiu
Cameron com Andrew. — E sabia que Alice é irmã por parte de mãe
de Melissa? — Arregalei os olhos.
Então Alice era a irmã de Melissa que Kristen estava falando no
banheiro. Neguei com um balançar de cabeça e ele continuou:
— Cameron chegou na escola já conquistando todo mundo. Era
o primeiro ano e ele sempre teve o porte de jogador dele e sempre
quis ser atleta. Pelo que sei, Alice sempre gostou de estar no auge,
acho que por causa da mãe, aquela mulher é o inferno na terra.
“Alice se interessou por Cameron logo de cara, ele foi o único
do primeiro que entrou para o time e aquilo chamou a atenção de
geral. Em meses eles começaram a namorar. Ela foi a primeira
namorada dele, primeiro beijo, primeiro tudo".
Senti um nó em meu estômago e um desconforto terrível
crescendo em mim ao saber daquilo, mas me mantive firme.
— Andrew era o capitão do time na época e ele apoiou muito o
Cameron, em absolutamente tudo. Tudo mesmo. Eles viraram
melhores amigos quase que de imediato e era muito forte a amizade
deles. Tipo, Andrew era o Scott e Cameron o Liam de Teen Wolf —
concordei rindo —, dois meses antes de acabar o primeiro ano,
Andrew simplesmente passou o título de capitão para Cameron, era
o que Andrew queria e o que o time precisava. Foi um fato histórico
porque nunca tinha acontecido antes, até hoje é na verdade.
Cameron é o primeiro capitão a ser do terceiro ano, sendo que o
capitão tem que ser do segundo ano por regra. Era o segundo ano
de Andrew e o primeiro de Cameron, mas eles não ligaram para
isso.
“A amizade deles continuou muito forte, Andrew sempre
aconselhando, defendendo-o e em toda confusão de Andrew,
Cameron estava e em toda confusão de Cameron, Andrew estava
para defender".
— Calma — o interrompi —, então Cameron não tomou o lugar
de Andrew? Andrew que fez tudo por que quis? — Elliot concordou
e continuou:
— Chegamos no segundo ano e Cameron continuou de capitão,
mas como regra, ele não poderia ser rei do baile porque só quem é
do terceiro ano pode. Já estava mais que certo de que seria Andrew
porque ele é um cara legal, foi quando Alice mudou totalmente
depois das férias de verão. Andrew me contou que ela ficava muito
em cima dele e que ele não queria, mas não contamos para o
Cameron porque ele estava muito apaixonado. Mas Alice insistiu em
Andrew e bom, ele não resistiu pelo que fiquei sabendo. Sei que foi
muito desgraçado, porém, dias antes disso acontecer, Andrew
tentou conversar sobre o assunto e Cameron ignorou, não que isso
justifique.
Elliot deu uma pausa e meus pensamentos começaram a se
organizar.
— Andrew e Cameron, isso até que justifica o jeito que
Cameron o olha com raiva — comentei.
— Pois é. Depois que Alice fez o que fez, Cameron se perdeu,
começou a beber e ficar com algumas meninas.
— Ficar? — questionei com a sobrancelha arqueada.
— Bom, Felicity, a presidente do grêmio e ele tiveram algo mais,
mas ela terminou o colegial no ano passado, a questão é que ela
tinha muita influência e bom, tenho para mim que ela quem
espalhou boatos sobre dormir com Cameron porque as meninas
começaram a ir para cima depois dela e como se não pudesse
piorar, o povo escolheu o Cameron para ser rei do baile ano
passado mesmo sendo fora das regras do comitê. Andrew nem
apareceu no baile, disse que não tinha mais nada a perder e essa
coroa para ele não valia de nada. Enfim, Alice conseguiu a preciosa
coroa, mas nunca amou Cameron de verdade, já ele… — Elliot
suspirou — realmente gostava dela.
Concordei pensativa e Elliot novamente me olhou.
— E aqui estamos nós no terceiro ano. Melissa está
desesperada agora que sua mãe está a pressionando, ela quer
superar a irmã. No fim do ano passado Cameron estava péssimo e
ainda colocaram a fama de ser pegador depois de Felicity e ele
terem ficado. Alice também fingia que ainda o queria. Então, não
estou justificando nada, mas Cameron aproveitou toda a fama e
começou a ficar com ele queria, já estava todo mundo falando
mesmo, mas ele não era assim. O cara que eu conheço nem
gostava de beber e fumar. Fico feliz se ele esteja voltando. Continua
briguento e marrento porque ele é assim, mas não finge mais ser
algo que não é.
Meu queixo caiu e fiz sinal para que Elliot parasse.
Minha cabeça explodiria.
— Isso não faz sentindo — falei a mim mesma e olhei Elliot —
desculpe, continue.
Eu jamais imaginaria toda aquela história.
— Bom, agora a parte final. Por incrível que pareça, ainda tem
esse negócio das meninas acreditarem que precisam dele para ser
a rainha do baile ou conseguir entrar em Stanford sem muito esforço
— ele forçou um sorriso triste — e ainda ficam indo para cima para
ver quem dorme com ele primeiro — o olhei ainda mais confusa.
— Mas Melissa e Katherine já… — não consegui evitar uma
faísca de esperança para que ele não estivesse indo além com elas.
— Eu avisei para ele que as duas eram problemas — Elliot deu
de ombros.
A faísca de esperança se apagou com a mesma rapidez em que
apareceu. Eu não devia me sentir assim, um nó no estômago, um
desconforto em saber que elas já o tiveram a esse nível de
intimidade. Não devia me sentir assim! Entrei nessa sabendo quem
ele era.
— Pelo menos agora que está com você, mesmo que de
mentira, ele sossegou — disse se levantando.
Bateu a mão nas calças tirando todo a areia e estendeu a mão
para mim.
— Sossegou? — questionei me levantando e vendo Cameron e
Melissa próximos de uma pedra enorme parecendo estar discutindo.
Ela tentou tocar o rosto dele e ele a afastou.
Voltei meu olhar a Elliot.
— Que tipo de sossego é esse que ele vai a festas no fim de
semana? — questionei rindo, mas ele não riu, não mostrou nem se
quer um vestígio de humor. Sua expressão estava franzida.
— Festas? Sábado passado a gente foi jogar hóquei, na
verdade, nos últimos finais de semana a gente anda jogando vários
esportes, inclusive, seu pai e tio Arthur vão com a gente.
Aquilo explicava meu pai essa semana falando muito sobre
Cameron saber jogar vários esportes, parecia até um fã, mas não
explica Cameron ter me falado que continuaria saindo nos fins de
semana.
— O q… — Parei de falar quando vi Melissa indo para cima de
Cameron como se fosse beijá-lo.
Todos os meus sentidos afloraram e minha primeira reação foi
querer ir até lá, mas Cameron a impediu, disse algo a ela e se
afastou vindo em nossa direção.
— Se posso te falar uma coisa é, aproveite esse namoro e se
permita conhecer Cameron, apenas conhecer. É claro que ele vai
dar em cima de você — rimos —, mas ele é mais do que você acha
que conhece. Ele só tenta mostrar o contrário, é muito cabeça dura
também, não gosta de admitir os sentimentos…
Olhei Elliot surpresa e sorri de forma que ele sorriu. Ele
conseguiu me passar a resposta que precisava, não a resposta
completa, mas amenizou um pouco a minha dúvida.
Cameron estava com o rosto avermelhado, era nítido sua
impaciência, ele passou direto pela gente e parou perto do mar, o
observando.
— Vou deixar vocês a sós — Elliot disse, mas antes de sair ele
abaixou o tom de voz — todos estão de olho em vocês — avisou.
Concordei e ele saiu.
Me aproximei de Cameron ouvindo sua respiração pesada e
deslizei a mão em sua cintura o abraçando por trás. Ele suspirou
quando beijei seu ombro e passou as mãos em meus braços.
— O que aconteceu? — Ele passou a mão na nuca.
Parei ao seu lado, peguei em seu braço o colocando envolto
dos meus ombros e o abracei pela cintura. Cameron beijou o topo
de minha cabeça acariciando meus cabelos e meus lábios formaram
um sorrisinho.
— Nada de importante — disse naturalmente.
Os meninos estavam se divertindo a base de álcool correndo
envolta da fogueira, não fazia ideia de quando foi que surgiu uma
caixinha de som.
— Por que não vai com eles? — questionei me virando para
olhar o pessoal e ele se virou também, sem tirar o braço de meus
ombros — Se distrair um pouco?
— Por que eu iria?
— Se quiser eu volto dirigindo — sugeri e ele riu.
— Mas eu não bebo — disse rindo da minha cara.
— Eu achei que…
— Você acha muitas coisas às vezes — riu beijando o topo de
minha cabeça.
— Gente, estou a fim de ir embora — Calleb resmungou se
aproximando de nós —, toda essa energia, estou sentindo tudo,
odeio ser uma esponja.
— Devíamos ir para a minha casa e a gente assiste um filme,
Becca já vai dormir lá mesmo — Natalie sugeriu e eu concordei
balançando a cabeça.
Cameron avisou Peter que iríamos embora. Estava tudo certo
até Kristen e uma outra garota questionar para onde íamos e se
ofereceram para ir também.
Eu teria dito não tranquilamente, mas Natalie não conseguiu.
— Meu nome é Paloma, sou do grêmio — a garota entendeu a
mão para mim com um sorriso falso no rosto.
— E está buscando informações para repassar para Karen —
completei apertando sua mão e sorrindo da mesma forma que ela.
Seu sorriso se desfez e Cameron riu me empurrando contra o
carro dele.
— Não começa, marrentinha — brincou beijando meu rosto.
— Nem comecei, estressadinho — abracei sua cintura.
— Levou seu remédio lá para a casa? — questionou me
abraçando pelos ombros enquanto me olhava nos olhos.
Mas seu olhar logo desceu aos meus lábios e eu me lembrei de
suas palavras "Eu vou te beijar se você ficar próxima desse jeito".
Meu corpo todo se esquentou.
— Levei sim — franzi o cenho. — Como você sabe?
— Meus sogros me contaram — disse se gabando.
Nos olhamos e rimos.
— Vamos? — Calleb questionou — Não acredito que essas
meninas vão junto — disse bufando.
— Nem eu… — Disse entrando no carro após Cameron abrir a
porta para mim.

Os pais de Cameron estavam em casa e tia Eliza parecia nos


esperar há horas pois assim que chegamos, ela chamou eu e
Cameron para o escritório de Arthur.
— Eu e Arthur decidimos colaborar com o relacionamento falso
de vocês — iniciou após nos sentarmos de frente para ela —, antes
de acharem brega, Natalie me contou que vocês não estavam
convencendo ninguém…
— Mãe… — Cameron tentou interromper, mas ela não o deixou
continuar.
— Então, decidi ajudar e vou explicar meu ponto de vista. Em
nenhum namoro Cameron fez o que eu quero que vocês façam
então isso com certeza vai deixar todo mundo chocado.
— Meu Deus — Cameron murmurou quando Eliza colocou uma
caixinha preta em cima da mesa.
Eu e Cameron nos olhamos e começamos a rir. Tia Eliza nos
olhou confusa.
— Tia, já resolvemos o problema de não acreditarem em nós.
— Sim, não precisamos de… — Vi a expressão decepcionada e
constrangida de tia Eliza, e decidi levar essa conversa para outro
rumo.
— É uma ótima ideia — peguei a caixinha — e o ponto de vista
da senhora foi incrível — admiti e ela abriu um lindo sorriso.
— Está falando sério? — Cameron questionou.
Parando para pensar, a ideia era ótima. Olhei tia Eliza e ela
apenas concordou, se levantou e saiu do escritório pedindo licença.
— Fala sério, Cameron, todo mundo quer um beijo como prova,
mas isso… Isso eles com certeza não estão esperando — expliquei.
Ele olhou para a caixinha, a pegou e a abriu pensando um
pouco.
— Ah não — disse a olhando e virou a caixinha para mim.
— Meu Deus, que coisa mais linda — sorri olhando as alianças
finas.
Uma com um pequeno símbolo de lua e a outra com um
símbolo de sol.
— Isso é coisa de Natalie, certeza — Cameron disse rindo.
— Você vai ser minha lua? — Brinquei e ele me olhou com um
sorrisinho.
— Eu não acredito que vou fazer isso — ele riu pegando a
aliança de sol, seus olhos brilharam quando me olhou e suas
bochechas ficaram avermelhadas —, me dê honra senhorita Malik?
— Disse cordialmente estendo sua mão para mim.
— Claro, senhor Styles — sorri colocando minha mão em cima
da sua.
Ele colocou a aliança em meu dedo com um sorriso de uma
criança inocente que acabou de conseguir algo que queria muito e
eu sorri junto.
Peguei a aliança de lua, estendi a mão e ele colocou sua mão
em cima da minha após tirar o anel preto que estava em seu dedo.
Ele amava usar anéis em seus dedos.
— Cameron William Styles, aceita namorar comigo? —
questionei rindo e ele gargalhou.
— Engraçadinha — disse rindo e arrumando a aliança no dedo.
— Gente, pelo amor de Deus, vocês… — Natalie parou de falar
assim que abriu a porta — MEU DEUS NÃO! ELLIOT, CALLEB E
JOSH VENHAM AQUI — disse dando pulinhos enquanto balançava
as mãos animadamente.
— MEU DEUS A COLEIRA — Calleb começou a pular com
Natalie.
— Soldado abatido, JOSH PERDEMOS O GENERAL — Elliot
gritou.
Josh se aproximou rindo, Kristen e Paloma se juntaram a nós e
seus queixos caíram.
— Então é oficial mesmo? — Josh questionou — Parabéns,
cara — disse tocando na mão de Cameron e dando um meio
abraço.
Ele apenas balançou a cabeça para mim me parabenizando.
— AAAAAA PARABÉNS! — Calleb me abraçou.
— Obrigada — disse rindo.
Kristen e Paloma começaram a digitar rapidamente no celular e
saíram sem falar nada.
— Calleb, faz uma pipoquinha para a gente? — Natalie pediu,
Calleb concordou e saiu com Josh. — Isso foi a minha mãe, não foi?
— Acho que eles esquecem da finalidade desse namoro — falei
em voz baixa.
— Ou talvez eles queiram que torne verdadeiro — eu e
Cameron a olhamos, Natalie e Elliot riram. — Qual é? Nossos pais
te adoram, Becca. Enquanto estávamos longe e sem nos falar,
minha mãe vivia falando de você porque tia Olívia e ela sempre
mantiveram contato. Mamãe está nas nuvens e meu pai? Nossa!
Ele está superfeliz com o relacionamento mesmo que falso.
— Isso ninguém me falou — olhei Cameron e ele deu de
ombros abaixando o olhar.
— Enfim, não vim aqui para falar disso, nem deveria estar
apoiando, mas acho que até eu estou gostando — Natalie disse
rindo. — Kristen e Paloma me lotaram de perguntas, sejam
cuidadosos.
Saímos do escritório de tio Arthur e, antes que descêssemos as
escadas, tia Eliza chamou Cameron para o quarto dela. A observei
vendo que sua barriguinha já estava crescendo.
— Já desço — ele avisou e eu apenas concordei.
Desci as escadas me deparando com as meninas e Calleb
escolhendo um filme enquanto Josh e Elliot reclamavam.
Me sentei no sofá ao lado de Natalie e puxei a coberta que
estava atrás dela, logo me cobri e relaxei no sofá enquanto eles
discutiam sobre o filme.
Não demorou muito para que Cameron descesse. Paloma e
Kristen o olharam como se estivessem encantadas e fizeram
questão de lançar um olhar safado para ele.
Uma faísca se formou dentro de mim e, por segundos, senti
vontade de questionar se elas perderam algo nele. Mas meus
ânimos se acalmaram quando senti seus braços envolvendo minha
cintura. Cameron se cobriu e se deitou em meu peito.
— Vamos assistir um de terror — Josh sugeriu e todas as
meninas o olharam.
Não me importei com o assunto. Cameron riu pegando em
minha mão brincando com os meus dedos. Comecei a acariciar
seus cabelos e arranhar levemente sua nuca. Seu corpo
estremeceu, acabei sorrindo e beijando o topo de sua cabeça.
Eu nunca imaginei trocar carícias tão intensas com Cameron.
Por mais carinhosa que eu fosse com Isaac e os gêmeos, com
Cameron sempre fui bruta e retrucava suas implicâncias.
Lembro-me de quando tinha dez anos e ele onze, eu ia
completar onze em duas semanas. Estava com Natalie brincando de
futebol, até que ele chegou e pegou à bola só para nos provocar,
começou a me chamar de quatro olhos, mas o que irritou foi ele ter
falado que mulheres não jogavam bola. Eu fui para cima dele e
Natalie começou a gritar desesperada, ela sempre foi uma
princesinha em relação a brigas e eu só sai de cima de Cameron
porque tio Arthur conseguiu me tirar.
Acabei sorrindo discretamente com essa lembrança.
Sempre fomos assim, ele implicava comigo e eu rebatia. E
agora…
Não vou mentir que o namoro falso estava me mostrando outros
lados de Cameron e aquilo só piorava as coisas, me sentia cada vez
mais envolvida, mas não tinha pressa para resolver tudo, não
precisávamos correr.
— E vocês, casal? — Paloma questionou.
— Tanto faz — Cameron deu de ombros me abraçando
totalmente e fechando os olhos após enterrar seu rosto na curva de
meu pescoço.
Senti sua respiração quente e foi impossível não lembrar de
seus leves beijinhos quando estávamos na praia.
— Tenho medo de terror — suspirei e ele riu abrindo seus olhos.
— Só me abraçar — sussurrou e quando virei meu rosto para
ele, a distância entre nossas bocas se tornou ainda menor, quase
nenhuma.
— Engraçadinho — comentei aos risos.
Mas ele pareceu longe, como se não entendesse uma palavra
se quer que eu havia dito. Seus olhos desceram até minha boca,
mordi o lábio inferior e ele passou a língua em seus lábios. Ele
sorriu e eu sorri junto. Expirei olhando para o teto e arrumando os
óculos em meu rosto.
— Você não comeu nada desde que fomos a praia. Nem
experimentou o marshmallow que assamos na fogueira — falou em
voz baixa enquanto os demais discutiam ainda sobre o filme e eu
dei de ombros —, vem, vou fazer algo para você comer — se
levantou e antes que eu retrucasse ele me puxou me levantando e
trazendo até a cozinha.
Depois de prepararmos um lanche natural, nos sentamos na
bancada.
— Você gosta de cozinhar, não? — questionei o olhando.
— Sim, cresci vendo meu pai sempre cozinhando e às vezes
cozinho com ele — explicou, o olhei atentamente enquanto comia.
— Pretende seguir algo nessa área? — Ele balançou a cabeça
discordando.
— Cozinhar para mim é só distração. Quero me formar em
direito, e você? — questionou me olhando.
— Esse lanche estava incrível! — Disse lambendo os beiços.
— Eu sou demais mesmo — o empurrei pelo ombro aos risos.
— Só faltou uma coquinha geladinha — reclamei.
— Tem na geladeira, mas tomou seu remédio? — questionou.
O jeito que ele se preocupava todo era engraçado e incomum.
— Vou tomar quando escapar da noite de filmes — avisei, ele
riu se levantando e pegando a coca, a colocou na mesa junto de
dois copos — Então, eu quero me formar em Ciências Contábeis e
fazer pós em Comércio Exterior.
— Isso é legal — disse animado enchendo nossos copos.
— Não vejo a hora do ano acabar e eu ir pra Stanford — sorri
ao terminar a fala —, eu vou ir me medicar, obrigada pelo lanche —
agradeci beijando seu rosto.
Entrei na sala e Natalie não estava lá. Subi para o corredor e
quando estava prestes a entrar no quarto dela, a vi aos beijos com
Elliot. Era uma péssima hora, mas precisava me medicar. Ela disse
que estava no frigobar de Cameron.
Entrei no banheiro do corredor pensando em como me medicar
após pedir para Cameron pegar a insulina. Não queria injetar em
sua frente, não mesmo e odiava só de pensar nisso, mas ao mesmo
tempo não podia ficar esperando porque tinha tomado coca e acabei
de comer, só a insulina podia me ajudar.
Sai do banheiro e trombei exatamente com quem eu estava
pensando. Ele me segurou pelos braços como se achasse que eu
fosse cair.
— Eu já ia falar com você — sorri nervosa. — Natalie disse que
meu medicamento está no seu frigobar.
— Sim, vem, vou te mostrar — disse me trazendo até seu
quarto.
— Por que você tem um frigobar no seu quarto? — questionei
vendo o pequeno frigobar preto no canto de sua mesa de estudos.
— Por que não teria? — O olhei ainda incrédula, mas dei de
ombros. — Aqui está — disse me entregando cuidadosamente a
pequena caixa retangular de isopor que deixei minha insulina.
A peguei e me senti leve em não precisar pedir para ele sair, ele
mesmo pareceu notar meu desconforto.
— Vou ir tomar um banho enquanto você procura um filme para
a gente, pode ser? — Concordei e ele entrou em seu banheiro
tirando a blusa me deixando ver apenas suas costas e aquela
tatuagem.
Apliquei o medicamento em meu braço e o guardei no frigobar
novamente.
Me sentei na beira da cama de Cameron, liguei sua tv e
comecei a procurar algo para vermos. Cameron amava Naruto e por
isso quem me ajudou a escolher seu presente de aniversário foi
Isaac. Uma luminária do Naruto Modo Kyuubi.
Decidi colocar o filme Correr ou Morrer, mas antes de
assistirmos, estava curiosa para saber o que Melissa disse a ele
para que ficasse irritado daquela forma.
Cameron saiu do banheiro apenas com um short preto e sem
camisa, seu corpo ainda está escorrendo água. Senti que ia babar
quando o olhei, mas desviei o olhar antes que pudesse passar
vergonha. Suspirei fingindo estar procurando um filme.
— O que Melissa disse para você ficar tão bravo? — questionei
sem o olhar.
— Não importa — o olhei e me tranquilizou vê-lo de camisa.
Ele se sentou na cama e bateu com a palma da mão no lugar
vazio ao seu lado. Me aproximei e ele jogou uma coberta em mim.
— Importa sim — o olhei, seus cabelos estavam molhados e
bagunçados, isso lhe dava um charme ainda melhor. — Tem algo a
ver comigo? — Ele abaixou o olhar — Cameron — levantei seu
rosto pelo queixo.
— Não quero te deixar mal, bê — disse afastando o cabelo do
meu rosto.
— Não vai, me conte.
Ele suspirou.
— Ela primeiro disse que não acreditava no namoro e que se
fosse real, eu só estava com você pra… — Ele parou de falar e eu
concordei entendendo — E disse que poderia ser muito melhor que
você por não ser… — De imediato o senti desconfortável, mas
precisava saber tudo — Por não ser limitada em nada.
Arqueei a sobrancelha.
— Disse que você jamais poderia me dar uma vida normal —
ele deu de ombros —, mal sabe ela que eu convivo com diabéticos
e é normal, você vive normalmente — sua voz era tranquila.
— Ela apelou para a minha saúde? — questionei apenas para
confirmar.
— Sim, fiquei nervoso por ela falar assim de você — explicou se
aconchegando na cama —, mas já passou, ok? O que vamos
assistir?

05 de maio.
Me sentei na cama em um forte impulso, como se algo me
puxasse para cima. Meu corpo estava gelado, trêmulo e uma fome
parecia me consumir por inteiro. Minha visão estava turva e não
conseguia ver onde deixei meu aparelho que media a glicemia, mas
tinha certeza de que estava baixa. Passei a mão na mesa de
cabeceira tentando achar o abajur, eu não estava em casa. Droga!
Eu não estava em casa.
Ainda assim, consegui me levantar. Minhas pernas tremiam e eu
não sabia até quando me sustentariam. Me sentia fraca de tanta
fome. Estava lenta, com muito sono e desesperada. Um barulho
longo de pi dentro da minha cabeça me deixava zonza. Meu corpo
estava suando frio e eu sentia um vazio, como se fosse a morte se
aproximando.
— Becca — o ouvi longe e suas mãos me tocaram —, droga,
você está gelada — disse me sentando na cama.
Não conseguia reagir, não conseguia fazer nada a não ser
estremecer. Cameron foi ágil pegando o medidor de glicose,
aparelho que informa se a diabete estava estável ou instável, furou
meu dedo mindinho com a caneta do medidor e o pouco de sangue
que saiu ele colocou na fita.
— Meu Deus — o ouvi falar e o barulho de pi em minha cabeça
estava mais constante e ensurdecedor.
Cameron não esperou. Levantou-se rapidamente e foi até o
frigobar. Me inclinei vendo o que estava no medidor de glicose e
estava o número 47. Uma crise de hipoglicemia, ou seja, o remédio
que tomei abaixou a taxa de açúcar do meu sangue de forma
violenta.
Cameron trouxe um pedaço de bolo de chocolate recheado e
deu em minha boca. Eu me sentia confusa e desnorteada. Quando
parei de temer, peguei o prato e comecei a comer sozinha depois
que ele me deu dois pedaços.
— Beba isso, é mais rápido — disse me entregando um
achocolatado que aceitei o tomando.
Meus sentidos estavam voltando ao normal, me fazendo
lembrar que odiava aquelas crises.
Diabetes era uma doença que eu tentava a todo custo entender.
Às vezes eu e ela estávamos de acordo, mas às vezes ela
conseguia me vencer.
— Obrigada — disse após terminar de comer —, mesmo,
obrigada.
— Não precisa agradecer — ele sorriu sincero, mas ainda me
olhava com preocupação, senti meu corpo tenso e suado. — Está
melhor? — Concordei.
— Posso tomar um banho? — questionei apreensiva.
— Claro, sem problemas — ele se levantou e eu me levantei
também —, tem toalha limpa no armário — concordei, mas antes de
entrar no banheiro, voltei o caminho e o olhei nervosa e
envergonhada.
— Pode me emprestar uma blusa? Não tenho uma boa para
dormir agora que essa já foi — pedi em voz baixa.
Cameron se levantou e me entregou uma blusa preta, eu, por
outro lado, queria me enfiar em um buraco e não sair mais.
Tomei um banho rápido e coloquei novas roupas. Me sentei no
chão do banheiro e não consegui deixar de chorar, odiando dar
trabalho para as pessoas por causa da diabete, e não conseguia
deixar de me sentir mal por preocupar Cameron, por fazer ele
acordar no meio da madrugada.
Não devia ter vindo dormir aqui, eu realmente não podia dar
uma vida normal a Cameron. Eram crises raras, mas nunca
paravam.
Sai do banheiro tentando ao máximo disfarçar que estava
chorando. Cameron estava mexendo no celular sentado na cama,
mas ao lado da mesma estava montada uma cama improvisada no
chão com cobertas bagunçadas em cima.
Estava frio e ele dormindo no chão por minha causa, não era
certo.
Ele largou o celular assim que me viu.
Não o olhei, sabia que voltaria a chorar.
— Becca, tudo bem? — questionou se levantando.
Balancei a cabeça concordando e tentando desviar, mas ele me
puxou pela cintura. Ainda sim tentei não o olhar e senti meus olhos
lacrimejando.
— Ei — ele passou os dedos em meu cabelo. — O que foi? —
Funguei limpando os olhos — Becca…
— Me desculpa — pedi o olhando e ele riu me abraçando —, é
sério, não queria te preocupar — sussurrei sentindo meu coração
apertar e as lágrimas saírem sem controle —, já estraguei seu
aniversário.
— Becca, meu amorzinho — ele me fez o olhar — não foi sua
culpa. Você aplicou a quantidade que sempre aplica de insulina? —
questionou limpando meu rosto e eu concordei balançando a
cabeça. — Então, infelizmente isso acontece e tudo bem.
As lágrimas ainda insistiam em descer pelo meu rosto.
Cameron se sentou na cama, me puxou e deitou comigo. Me
abraçou e começou a acariciar meus cabelos. Ele ficou em silêncio
e eu me senti confortável em me permitir estar ali com ele. A
vergonha de ter passado mal em sua frente se amenizou na medida
em que sentia suas carícias em meus cabelos, mas eu sabia que
nunca mais iria querer dormir aqui, mesmo que essas crises
acontecessem raramente, não o queria se preocupando com isso.
Estava deitada em seu peitoral quando ele se mexeu como se
fosse levantar, só então percebi que estava sem camisa.
— Becca, vou me deitar na outra cama — disse quando o olhei,
apenas a luz de seu abajur iluminava o quarto e seu rosto estava
sereno —, quero que você durma confortável.
— Então dorme aqui, não é justo você dormir no chão com esse
frio todo. A cama é grande — falei com voz sonolenta.
— Não me importo de dormir no chão desde que você durma
confortável — voltei meu olhar a ele.
Sorri beijando seu rosto e o abraçando mais forte. Ele prendeu a
respiração como se aquilo fosse surpresa.
— E eu não me importo de dividirmos a mesma cama porque
estou confortável com você aqui — sussurrei e vi um sorriso se
formar em seus lábios.
— Tem certeza? — questionou. — Eu só durmo assim — disse
se referindo a estar se camisa.
Desliguei o abajur e me aconcheguei em seu peitoral
novamente.
Era claro que eu tinha certeza.
— Boa noite, amor — falei me entregando ao sono.
Senti o peso de ser observada e abri meus olhos lentamente.
Acredito que no meio da noite eu e Cameron trocamos nossas
posições, pois agora ele estava deitado em meu peito me
abraçando pela cintura enquanto eu estava com os braços envoltos
de seus ombros.
Natalie e Calleb pulavam em silêncio animados nos olhando
como se fossem duas crianças prestes a irem a um parque de
diversões, sorri abrindo totalmente os meus olhos e fazendo sinal de
silêncio para eles.
— Vamos fazer um churrasco hoje — Calleb disse quase que
sem som e eu concordei piscando para ele.
— Vou deixar aqui — Natalie disse sem som nenhum, apenas
movimentando a boca, e colocou a caixa do meu presente para
Cameron em cima da mesa de cabeceira.
— Obrigada — sussurrei e ambos mandaram beijos para mim.
Calleb saiu primeiro e Natalie se virou para mim, colocou a mão
no peito e a outra na cabeça como se fosse desmaiar de emoção e
saiu aos risos.
Observei Cameron dormindo tranquilamente, parecia um anjo
de tão sereno que estava. Passei levemente os dedos em sua
sobrancelha, em seguida acariciei seus cabelos sentindo uma
alegria crescer dentro mim e, metaforicamente falando, percorrer
minhas veias junto com a minha corrente sanguínea.
Estava certa de que gostava dele. Suspirei com esse
pensamento.
Quando terminarmos o colegial, quando irmos para a faculdade
ou melhor, quando ele decidir que está na hora de terminar essa
farsa e enjoar de mim… vai doer. Isso tudo vai doer. E por mais que
eu soubesse disso, da encrenca em que estava entrando, eu não
me importava.
Um coração quebrado não me mataria e eu não estava com
medo de arriscar. Sabia dos meus objetivos e metas, mas me
permitiria uma nova experiência. Não admitiria meus sentimentos,
não estava pronta para tomar o primeiro passo, mas não recuaria.
Me soltei cuidadosamente dele e ele se mexeu um pouco.
Caminhei até o banheiro, troquei minhas roupas e escovei os
dentes, peguei a blusa dele e a cheirei deixando um sorriso se
formar em meu rosto.
Olhei-me no espelho rindo de mim mesma.
Sai do banheiro e vi Cameron se espreguiçando.
Seu corpo era lindo, forte, musculoso e definido e eu
provavelmente começaria a babar se prolongasse meu olhar nele.
— Bom dia flor do dia — disse pegando minha bolsa e
arrumando as coisas.
Ele olhou a caixa em sua escrivaninha, me olhou e se levantou.
— Bom dia bê — beijou o topo de minha cabeça e entrou no
banheiro.
Me olhei no espelho por instantes depois de colocar minha
bolsa novamente na cadeira. Andei de um lado para o outro
sentindo o nervosismo tomar conta de mim, não sabia se ele
gostaria do presente, se era precipitado demais ou exagerado.
Me sentei na cama pegando meu celular na tentativa de me
distrair.
— Vai ficar para o churrasco? — questionou saindo do banheiro.
Estava com uma bermuda preta e uma blusa azul claro que
combinava com os seus olhos.
— Vou a igreja primeiro, mais tarde eu volto — me levantei
pegando seu presente —, para você — estendi a caixa e ele sorriu
se aproximando. — Feliz aniversário!
— Você me dando presente? Deus fez uma obra na sua vida —
ele brincou pegando a caixa e me fazendo rir —, não precisava,
sério.
Nos sentamos enquanto ele desembrulhava o presente e ele
inclinou as costas as apoiando na borda da cama, parecendo
relaxar.
— Isaac me disse que namorados dão presentes, não tive
argumento contra ele — expliquei me lembrando que Isaac era o
maior apoiador do meu namoro com Cameron e disse que para ele
não era nada falso.
Ele abriu a caixa e seu rosto se iluminou com um sorriso largo.
— NÃO ACREDITO! — Disse eufórico — Becca, não acredito,
muito obrigado! — ele olhava o presente com um sorriso lindo.
— Fico feliz que você tenha gostado — disse o vendo guardar a
luminária com cuidado e ele me puxou me abraçando.
— Gostei mesmo — disse e seus olhos buscaram os meus.
— Preciso ir, volto depois — me levantei e selei nossos lábios
rapidamente.
Me dei conta do que havia feito quando estava próxima da porta
e senti um frio gigantesco no estômago.
Virei-me lentamente em sua direção sentindo meu rosto queimar
e minhas mãos suarem, ele parecia desnorteado e passou os dedos
nos lábios.
— Meu Deus — disse ainda em choque e me aproximando dele
com passos pesados e o coração disparado por ter agido totalmente
no impulso —, me desculpe.
Seu sorriso maroto ficou ainda mais largo e ele disse:
— Eu amei esse presente — passou a língua nos lábios —,
devia se estender dia todo, pelo menos hoje — o olhei confusa e
tensa.
— Como? — questionei curiosa.
— Como presente de aniversário você podia liberar… — ele
sorriu — pelo menos o selinho, hoje o dia todo, sempre que eu
quiser — gargalhei com a sua proposta.
— Até parece — balancei a cabeça negando e consegui sentir
meus músculos relaxando.
— Qual foi? Está com medinho, Malik? — questionou em tom
desafiador.
Passei a língua nos lábios sabendo que não resistiria.
— Ok, válido — me rendi sentindo meu coração disparar.
O medo de partirmos para um beijo real e eu fazer algo errado
era enorme, mas eu já estava aqui, não fugiria agora.
— Sempre que eu quiser? — Ele estendeu a mão como se
estivéssemos fazendo um acordo.
— Sempre que você quiser — apertei sua mão em
concordância.
E foi o necessário para Cameron me puxar.
Cai sentada na cama, ele me deitou encaixando a mão em
minha nuca e selou nossos lábios como se esperasse por aquilo há
tempos. Deu outro selinho e passou a língua contornando meus
lábios, abri um pouco a boca sem lhe dar o espaço suficiente para
um beijo e ele agarrou meu lábio inferior com os dentes o puxando
levemente.
Meu coração disparou ainda mais, apertei sua cintura e ele
puxou levemente meu cabelo, dei um último selinho nele... eu
desmaiaria, tinha certeza.
— Não sabia que isso fazia parte do seu combinado de
aniversário — comentei sem me afastar dele enquanto sentia minha
nuca suando.
— Isso te incomoda? — questionou beijando minha bochecha
até roçar o nariz em minha nuca.
Respirei pesado o empurrando.
— Não nos deixeis cair em tentação — murmurei um trecho do
'Pai nosso' rindo e ele riu quando me levantei —, até mais tarde
Styles.
— Até Malik — disse sem esconder o sorriso.
Peguei minha bolsa e sai de seu quarto após pegar a caixinha
de isopor de seu frigobar.
— Bom dia gente — disse sorridente.
Elliot e Natalie se entreolharam e então percebi que estava mais
empolgada do que deveria.
— Bom dia querida — tia Eliza beijou meu rosto —, vai tomar
café com a gente? — Neguei com a cabeça.
— Obrigada, mas hoje não — agradeci.
Abracei tia Eliza e Natalie, cumprimentei Elliot e sai.

O churrasco começou às sete da noite e eu estava enrolando


até agora, tinha feito de tudo para não ficar muito tempo com
Cameron hoje por medo, insegurança e confusão.
Levei minha mãe para almoçar hoje em um restaurante longe
daqui e isso serviu de desculpa. Mamãe mostrou uma foto de
Cameron a Angel, minha prima de quatorze anos que foi com a
gente, e ela ficou o tempo todo falando o quanto ele era lindo e
parecia um príncipe, mas meu pensamento estava longe.
Quando fui para a reunião com dependentes químicos e depois
conversei com o pastor, não precisei explicar a situação, comecei a
chorar e como um pai ele me abraçou e disse: “Deus é Deus de
certeza. Mas pessoas machucadas podem ser confusas com seus
sentimentos e isso pode atrapalhar relacionamentos, mas tenha
paciência e fé, o amor é paciente e pode curar doenças do coração”.
E mesmo não querendo, no fundo do meu coração eu entendia
que teria que ser forte mesmo sabendo que a situação tendia a
doer.
Passei a entender um pouco da insegurança de Cameron.
Pelo que Elliot me contou, ele sofreu por Alice. Talvez seja essa
a insegurança dele. A sua doença coração era devida a uma garota
que não o amou como ele merecia. Eu não sabia se podia amá-lo
como ele merecia, mas não podia descartar a possibilidade, ainda
não entendia meus sentimentos e não queria dar algo incerto a ele.
— Querida… — Minha mãe chamou, só então percebi que
estava com o rosto molhado por algumas lágrimas, e a olhei.
— Eu acho que gosto dele — ela sorriu me abraçando enquanto
eu limpava o rosto com a manga da blusa.
— E você já está sofrendo por isso? — questionou com voz
suave.
— Mãe, eu não quero viver um vamos ver no que vai dar —
disse fungando.
— Becca, você já viu como ele te olha? Não acho que ele queira
qualquer coisa com você, ele parece gostar de você de verdade —
disse com sinceridade.
A olhei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Não sei o que fazer e ser a primeira a falar sobre os
sentimentos está fora de cogitação! — Afirmei e minha mãe riu.
— Vocês são dois cabeças duras — ela afastou meus cabelos
dos ombros — e orgulhosos! Vão ficar esperando um admitir para o
outro os sentimentos. Já está em vocês, não é? Essa implicância
toda — ela se levantou, concordei rindo e me sentindo mais calma
— e eu não vou me envolver nisso, mas se precisar estarei aqui —
disse beijando o topo de minha cabeça —, aliás, ele está lá embaixo
te esperando.
— Ele o quê? — questionei assustada e sentindo meu corpo
estremecer de euforia.
— Não demore, vou ir para a sua avó — disse saindo do quarto.
Me olhei no espelho com nervosismo.
Analisei minhas roupas. Meu conforto sempre vinha primeiro,
mas as vezes me sentia um tanto sem graça diante de todas as
meninas. Cameron não me olhará por muito tempo, mas eu estava
me preparando para isso e não mudaria meu estilo. Meu rosto
estava levemente avermelhado pelo choro.
— Todo mundo na festa e minha namorada se olhando no
espelho — ouvir sua voz me fez dar um gritinho de susto e ele riu
me olhando.
Estava com uma calça jeans preta, uma blusa cinza, um casaco
preto e um Jordan preto, branco e vermelho. Ele mexeu no cabelo o
jogando para trás.
— Estava chorando? — questionou, neguei e ele me olhou
desconfiado — Vamos?
— Vamos — disse colocando meus óculos.
Me despedi de minha mãe, que não iria para a festa porque Elo
não estava muito bem, e sai com Cameron. Era possível ouvir a
música alta ainda que estivéssemos na rua.
— Tem muita gente? — questionei assim que paramos na porta
de sua casa.
Cameron simplesmente ignorou minha pergunta e selou nossos
lábios com ternura.
Ele sorriu colocando as duas mãos em minha nuca e selando
nossos lábios outra vez. Gelei e meu coração bateu forte e rápido.
Apertei sua cintura e ele acariciou minhas bochechas com seus
polegares.
O segurei pela mandíbula o afastando.
— Vamos entrar, seu atentado — ele riu concordando.
Entramos e eu me senti um tanto perdida vendo sua casa
lotada.
A música alta, fumaça de narguilé invadindo o espaço, jovens
com bebidas nas mãos, gente se beijando e todos dançavam
animadamente.
Passamos da sala. Cameron estava atrás de mim e afastava as
pessoas que estavam dançando. Ele cumprimentava várias pessoas
com um sorriso no rosto.
Suspirei quando chegamos na área da piscina e churrascaria de
sua casa. Exalei o ar e senti a brisa fria batendo em meu corpo. O
tempo estava frio, bem frio.
Perto das piscinas estava mais tranquilo. Calleb, Natalie e Luce
— a amiga de Jasper — estavam sentados em um sofá.
— Cameron, filhão, traz sua namorada aqui — tio Arthur
chamou, Cameron e eu nos olhamos e seguimos em direção a
Arthur — essa é a namorada de Cameron — me apresentou a um
homem de cabelos grisalhos que não parecia ter mais de cinquenta
anos — esse é meu irmão, Thomas, trabalhou em Stanford, acho
que você não chegou a conhecê-lo — estendi minha mão o
cumprimentando.
Arthur me apresentou a alguns outros familiares que eu não
tinha conhecido no meu tempo em Los Angeles e Cameron não tirou
a mão de minha cintura em nenhum instante, principalmente quando
um de seus primos tentou me abraçar, ele simplesmente me apertou
e me puxou com cuidado impedindo que o abraço acontecesse.
— Acho melhor você ir com Natalie — Cameron sussurrou
calmamente em meu ouvido me deixando arrepiada, me virei o
olhando e ele ainda assim não me soltou.
— Por que você está tão estranho? Está agindo como um
namorado ciumento — brinquei, mas ele se manteve sério.
Seus olhos seguiram para trás de mim. Olhei na mesma direção
e vi que seu primo, o que tentou me abraçar, ergueu o copo em
cumprimento e voltou a fumar seu cigarro.
— Depois te explicarei, prometo — disse beijando minha testa.
Concordei selando nossos lábios. Ele sorriu, mas ainda parecia
tão tenso que me dava agonia. Me soltei dele e o vi se aproximar de
seus parentes brincando com o mesmo primo que o deixava
incomodado.
— Oi gente — disse me aproximando e beijei o rosto de Natalie,
Calleb e Luce.
Eles sorriam para mim e continuaram a conversa, estavam
analisando cada pessoa enquanto Luce e Calleb compartilhavam do
mesmo narguilé. Observei Luce, ela era linda e transmitia uma luz
incrível, seu rosto não me era estranho e eu sentia uma certa
familiaridade estando perto dela. Olhei na mesma direção que ela
estava olhando e admirando, e vi que era Melissa dançando. Voltei
meu olhar para ela, ela sorriu, ergueu o copo em minha direção e
em um gole só secou o copo, apenas sorri para ela.
— Amiga, tem coca na geladeira se você quiser — Natalie
avisou e suas palavras foram como uma luz de escape para mim.
— A casa na árvore ainda está em uso? — questionei em voz
baixa e ela concordou — qualquer coisa, estarei lá.
Ela se preparou para rebater ou talvez se ofereceria para ir
comigo, mas Elliot se aproximou de nós.
— Não se preocupe — sorri beijando o rosto dela.
Caminhei até a cozinha vendo que tia Eliza conversava com
algumas mulheres e me apresentou a seus parentes. Amberly e
Hilda, que são tias de Cameron e Natalie, e Kiara, filha de Amberly,
que me deu um abraço caloroso e disse que estava feliz por
Cameron ter sossegado.
As mulheres se retiraram quando alguns adolescentes
invadiram a cozinha para pegar mais bebida. Peguei uma lata de
coca e me senti frustrada por não ter coragem de ir buscar carne,
considerando que tinha inúmeras pessoas desconhecidas ou que eu
não tinha intimidade alguma.
— Eu desisto — ouvi a voz aguda de Melissa, fechei a geladeira
e a olhei, estava com o rímel borrado, o cabelo colando na testa
molhada de suor e o nariz vermelho —, eu não te odeio — disse de
forma enrolada, o suficiente para notar que ela estava bêbada —,
mas eu o amo e ele gosta de você, isso acabou comigo e com o
meu futuro com ele — ela começou a chorar e quando pensei em
fazer algo, ela se afastou sem me olhar e saiu da cozinha.
Parei um tempo refletindo sobre suas palavras, eu nunca quis
tirá-lo de ninguém.
Sai da cozinha e caminhei até a parte de trás da churrasqueira,
desci os degraus de concreto com alguns matos envolto e
finalmente cheguei na velha casa da árvore.
Parecia intacta como na minha infância.
Subi os degraus de madeira e senti uma felicidade tomar conta
de mim. Tantas lembranças boas de minha infância com Natalie e
até mesmo com Cameron. Antes eu conseguia ficar em pé
normalmente, mas agora, só conseguia andar com as costas
encurvadas para não bater a cabeça.
Algumas coisas pareciam iguais, um pouco mais velhas, porém,
iguais. Os desenhos que eu e Natalie fazíamos na parede
continuaram aqui, a marca de bola que quase quebrou a parede que
Cameron fez e a nossa coleção de botons da Barbie permaneciam
pregados na parede.
Caminhei até a parte de fora da casa e me sentei onde a cerca
estava quebrada, até hoje não fizeram uma cerca nova. Balancei
meus pés olhando para o céu; quando ficava triste com a minha
mãe, pulava o muro que separa minha casa da de Natalie e vinha
para cá, ela sempre vinha ao meu socorro ou eu no dela. Tínhamos
um pequeno rádio transmissor e nos comunicávamos por ele.
Lembrar disso me fez sorrir.
Abri minha coca, bebi um gole e em seguida fechei meus olhos
me deixando ouvir o silêncio. A barulheira da festa estava longe,
aqui ninguém me incomodava, não precisava fingir nada, nem ouvir
os surtos de ninguém.
— Então… sobre o que estávamos conversando hoje cedo —
olhei para o céu — eu sinto algo por ele que cresce cada vez mais,
não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas espero que o
aprove, aprove a minha decisão de querer fazer dar certo.
Calei minha voz quando a silhueta distante de Cameron. Ele se
aproximou até chegar na casa da árvore, subiu com mais rapidez
que eu e se sentou ao meu lado.
— Já comeu? — Cameron questionou se sentando ao meu
lado.
— Ainda não — ele acariciou meu cabelo e selou nossos lábios.
— Você precisa comer — disse analisando cada traço do meu
rosto, como se quisesse fixar minha imagem em sua mente.
— Eu vou.
— Por que está aqui sozinha? — Me virei um pouco de frente
para ele e ficamos ainda mais próximos.
— Eu conheço poucas pessoas, até mesmo da sua família, não
sei, é um pouco estranho — expliquei e ele sorriu ainda acariciando
meu cabelo.
— Tudo bem, na verdade, nem eu sabia que viria tanta gente,
até então era só a família e alguns amigos — olhei a lua me
deitando no ombro de Cameron e entrelaçando nossos dedos.
— Vai me contar por que mudou totalmente na frente do seu
primo? — questionei acariciando sua mão com o polegar e ele
beijou o topo de minha cabeça.
— Não confio nele desde que tentou ficar com uma empregada
a força — disparou e uma agonia passou pelo meu corpo inteiro e
apertei sua mão, acho que ele sentiu pois me abraçou firme — e se
alguma coisa te acontecesse eu…
— Não pense nisso — pedi o olhando —, por favor.
— Eu penso sempre, Rebecca — disse colocando uma perna
atrás de mim e a outra pendurada me deixando entre elas — na
escola, no trabalho, em qualquer lugar. Penso em você, na Natalie,
na minha mãe — suspirou afundando os dedos em meu cabelo —,
sei que existem vários Oliver e pessoas como o meu primo —
explicou acariciando meus cabelos próximos da nuca — e eu
sempre percebo como te olham.
Olhei para frente novamente e suspirei.
— Te incomoda, não? Precisar de um homem para afastar
outros homens.
Suspirei.
— Demais. Porém, pelo menos funcionou. Não gosto de como
aconteceu, mas funcionou, na faculdade não vai ter isso — dei de
ombros.
Ele sorriu beijando meu ombro.
— Só isso te importa, não é? A faculdade.
— E com o que mais eu deveria me importar? — questionei e
pelo seu silêncio entendi que ele gostaria de outra resposta.
Busquei seus olhos, mas eles não me deram resposta alguma.
— A temporada começa semana que vem, se importa de ir a
alguns treinos e jogos? — questionou afastando a mão de meu
cabelo.
— Não para — choraminguei pegando sua mão e colocando
novamente em meu cabelo e ele me olhou com um sorrisinho no
rosto — aliás, treinos, tudo bem. Consigo um horário na minha
agenda — brinquei tirando um pouco da tensão —, agora nos
jogos? Conhece meu pai? Ele com certeza vai me fazer ir a jogos
até debaixo de chuva — rimos, ele puxou levemente meu cabelo me
fazendo prender a respiração e olhar para frente.
— Sogrão me apoia, porque a filha — ele me puxou nos
deixando mais próximos — não quer nem saber.
— Eu não disse isso — rebati o olhando.
— Só vai me ver jogar porque Owen gosta de futebol — disse
me dando um selinho e me envolvendo em seus braços quase que
me deitando.
— Vou te ver jogando porque sou sua namorada — expliquei o
puxando para outro selinho.
— Minha namorada — ele deu um sorrisinho bobo.
Seus lábios roçaram nos meus com calma e ele os selou
suavemente enquanto apertava minha cintura.
— Ah gente — sua voz soou desapontada — odeio atrapalhar,
se beijem logo — disse Natalie impaciente —, vamos cantar os
parabéns.
Cameron e eu nos arrumamos aos risos. Natalie me olhou
entediada como se nos reprovasse, em seguida abriu um sorriso
sincero e animado. Ela saiu andando e o clima ficou um tanto
desconcertante.
Ele me ajudou a descer da casa da árvore e seguimos até a
área de piscinas abraçados. Natalie nos olhou como se ainda não
acreditasse no que via, apenas riu e foi até Elliot.
— Vem comigo, querido — tia Eliza chamou Cameron.
Me soltei dele e me aproximei de Luce que estava na beira da
piscina.
— Eu não tinha te visto na escola até ontem — comentei me
aproximando dela.
— Pois eu já tinha te visto — ela sorriu —, sou Lucinda Martín.
— Sou… — Parei de falar quando ela me olhou incrédula e
rimos juntas.
— Ele gosta mesmo de você — disse bebendo o líquido de seu
copo e olhou Cameron. — Tinha que ver como ele ficou puto com
Oliver.
Abri minha boca para falar, mas parei quando começaram a
cantar os parabéns. Os meninos fizeram a maior bagunça na hora
de cantar.
— COM QUEM SERÁ… — Peter começou e eu senti meu rosto
queimando quando todos o acompanharam.
— VAI DEPENDER SE A BECCA VAI QUERER — o time todo
gritou.
Senti vontade de me enfiar em um buraco e Cameron não se
aguentava de rir da minha cara.
— ELA QUER — Natalie gritou fazendo todos rirem.
— Faz um pedido — Josh disse em voz alta.
— CASAR COM A CAPITÃ — Peter gritou me fazendo colocar a
mão no rosto de vergonha, tio Arthur e tia Eliza riram.
Cameron riu me olhando e apagou as velas. Ele me olhou
novamente enquanto todos batiam palmas.
— Vamos cortar o bolo, vem querido — tia Eliza o chamou.
A música voltou assim que os dois saíram da área da piscina
entrando na casa.
— Acho que o pedido dele foi o que Peter falou — Luce disse
me lembrando que ainda estava ao meu lado.
Antes que eu pudesse responder, fui jogada para dentro da
piscina após alguém trombar em mim com força. O frio dominou
meu corpo e eu me impulsionei subindo para a superfície. Melissa
me olhava com culpa e desespero. Todos tinham parado enquanto
eu conseguia sair da piscina. Melissa estava em choque, mas seu
choque se acabou quando Luce lhe deu um tapa tão forte que a fez
cair no chão.
— Estou cansada de você! — Luce exclamou.
Melissa tocou em sua bochecha avermelhada pelo tapa, os
olhos cheios de água e carregados de culpa.
— Me desculpa — ela disse baixinho — eu não…
Não consegui ouvir tudo.
Quase não conseguia me mexer.
Frio, eu nunca tinha sentido tanto frio.
Meu corpo estava congelando quando Natalie correu até mim.
— Amiga, meu Deus — disse me carregando para dentro de
casa.
Cada músculo do meu corpo tremia em um frio que parecia
rasgar a minha pele.
— Amor! — Cameron exclamou preocupado.
Meus passos estavam lentos, já estava um frio cortante,
juntando com a água gelada da piscina me dava dor até no
estômago. Meus dedos paralisaram e eu senti minhas pernas
fraquejarem.
Ele me pegou no colo, meu cérebro pareceu entrar em curto-
circuito e não estava me obedecendo.
Eu tremia tanto que sentia que a qualquer momento começaria
a me debater, até que meus músculos relaxaram quando Natalie me
colocou debaixo da água quente do chuveiro e me ajudou a tirar as
peças molhadas e frias.
Suspirei voltando ao normal aos poucos, mas ainda sentia frio,
muito frio.
— Não acredito que Melissa fez isso! — Natalie resmungou
torcendo a blusa na pia. Fechei a porta do box.
Nem eu acreditava que ela tinha feito aquilo, pela primeira vez
ela parecia não querer ter feito o que fez.
Enquanto eu comia, ainda fungando pelo frio, Natalie passava
o secador em meus cabelos. Tia Eliza entrou no quarto e se

aproximou.
— Tudo bem, meu amor? — questionou pegando em minha
mão — Você ainda está muito gelada!
— Daqui a pouco passa — afirmei na intenção de não a
preocupar.
Ela pegou uma coberta de Natalie, me cobriu e se sentou em
minha frente.
— Não sei qual é o problema dessa menina, é igualzinha a mãe!
— Tia Eliza disse impaciente.
Dei de ombros e apertei sua mão.
— Não se estresse com isso — pedi e ela suspirou.
— Lembra que você veio aqui em casa assim que voltou de
viagem, eu e minha mãe discutimos por causa de Rosie? — Natalie
questionou.
Recordei-me daquele dia e concordei balançando a cabeça.
— Por que não explica a história para ela, mãe? — Natalie
pediu.
— Essa tonta parou um dia para me ouvir — tia Eliza disse se
referindo a Natalie e as duas riram — Rosie e a diretora López eram
apaixonadas por mim na época da escola, nós três íamos a mesma
igreja e eu simplesmente me apaixonei por Arthur.
“Eu e Arthur começamos a namorar depois que acabamos a
escola e Rosie surtou, assumiu que era lésbica e que me amava. A
diretora López e Rosie brigaram feio porque a López já tinha falado
a Rosie sobre gostar de mim”.
“Não tinha culpa alguma por amar Arthur, mas as duas pararam
de falar comigo por não aguentar me ver com ele. Era sofrido para
elas e eu as entendi. Tínhamos dezoito anos quando isso
aconteceu. Aos vinte eu e Arthur nos separamos, eu já estava
grávida e ele engravidou outra enquanto estávamos separados,
aquele safado”.
Natalie gargalhou por ela ser a filha da outra. Eliza acabou rindo
pela risada engraçada de Natalie e eu também, considerando que
essa história não era engraçada.
Terminei de comer e deixei o prato em cima da escrivaninha.
Tia Eliza continuou:
— Depois que Cameron e Natalie nasceram, eu me casei e
comecei a cuidar de Natalie também — a mãe de Natalie tinha
falecido no parto — Rosie e López me visitaram, as duas se
reencontraram e começaram a namorar. Porém, quando eu disse
que voltaria a igreja, elas não gostaram.
— Como a igreja às machucou? — questionei.
Se elas eram da igreja, lésbicas assumidas e agora odiavam a
igreja, certamente foram machucadas.
— A igreja que frequentamos na adolescência as machucou
demais quando elas se assumiram, Rosie foi chutada de casa e
morou no meu porão por meses até encontrar alguém que a ajudou
a sair dessa, o pai de Andrew. López precisou fingir que não
gostava de garotas para não ser expulsa de casa. A religião acabou
com elas e elas passaram a não gostar de crentes, me admira Rosie
ter você lá — disse surpresa.
— Não sou religiosa.
— Eu sei — ela sorriu; Natalie terminou de secar meu cabelo —,
as duas não aceitaram bem a minha volta a igreja — ela suspirou —
enfim, Rosie, López e eu discutimos feio e elas se afastaram, até
hoje não nos falamos. Me desculpe ter passado a impressão de ser
homofóbica e intolerante, não sabia como explicar tudo no meio do
jantar, Natalie nunca me ouvia quanto a isso e eu falei a primeira
coisa que veio na mente para acabar com o assunto, mas foi
escolhas delas pararem de falar comigo.
Ela finalizou e eu a abracei forte, ela parecia ter saudade de
Rosie e López.
— Fico feliz que ela tenha te ouvido, Natalie é cabeça dura —
brinquei.
— Olha quem fala, já falou para o meu irmão que gosta dele? —
disparou provocando e nós três rimos.
— Caladinha, Natalie — pedi.
— Meu coração de mãe não aguenta, vou amar ter você como
filha sem toda essa frescura de namoro falso — tia Eliza me
abraçou.
Acabei rindo de sua euforia e não consegui negar. Natalie se
acabou na gargalhada vendo o desespero nítido em meu rosto.
Paramos de rir quando vi Cameron através do espelho,
encostado na abertura da porta. Não deixei que seus olhos
encontrassem o meu.
— Vamos deixar vocês a sós, vou fazer um chocolate bem
quente para você — tia Eliza disse se levantando e puxando Natalie
para fora do quarto.
Ela parou na frente de Cameron, disse algo em voz baixa e
saiu.
Puxei as mangas da blusa cobrindo minhas mãos na tentativa
de esquentá-las, me sentei na cama de Natalie e reclinei minhas
costas, dobrei minhas pernas na altura de meu peito e me cobri com
a coberta.
Cameron fechou a porta e se sentou próximo de mim.
— Você está bem? — questionou me olhando e colocando a
palma da mão em meu rosto.
Acabei inclinando minha cabeça deitando meu rosto em sua
mão como uma criança e ele sorriu me acariciando com o polegar,
espirrei em resposta a sua pergunta o vendo rir.
— Ainda com frio — comentei.
Cameron se aproximou ainda mais e me abraçou. Afastou meu
cabelo da nuca e aproximou seus lábios de meu ouvido. Foi o
suficiente para fazer meu corpo se esquentar de dentro para fora,
mas minhas mãos ainda estavam geladas.
— Está menos cinco graus hoje — sussurrou lentamente em
meu ouvido.
Me senti atordoada e sorri. Não era nada romântico o que ele
estava falando e mesmo assim o efeito era assustador.
— Você e ela discutiram? — O olhei confusa, ele dobrou as
pernas na altura de seu peitoral — Para ela ter te jogado na piscina
— completou.
— Ela não me jogou — disse me deitando em suas pernas e o
olhando, seus dedos acariciavam minha nuca —, ela literalmente
esbarrou em mim e eu estava próxima da piscina, não acho que foi
proposital.
Ele concordou pensativo.
— Cortamos o bolo — disse após segundos de silêncio e eu
funguei novamente.
— Ainda está rolando a festa?
— Não, mandei todos embora, só ficaram meus parentes agora
e alguns amigos — explicou —, podemos descer um pouco?
— Claro — me levantei.
Antes de sairmos do quarto ele me puxou cuidadosamente e
selou nossos lábios.
Descemos as escadas e Cameron colocou outro casaco em
mim antes de entrarmos na cozinha.
— Eu estou bem, Cam — disse o olhando, mas aceitando seu
casaco.
— A ponta do seu nariz está vermelha e gelada, suas mãos
parecem a parte de dentro do meu frigobar e você aceitou o casaco
sem nem retrucar como você sempre faz — disse risonho.
Fiz cara de tédio para ele e ele riu beijando a ponta de meu
nariz.
Entramos na enorme cozinha e todos nos receberam muito
bem. As tias de Cameron me perguntaram se eu estava bem ou se
precisava de algo. Kiara e Luce conversavam animadamente e
então percebi que Jasper e Samuel também estavam, só que
conversando com Elliot e Josh.
— Tudo bem mesmo? — Calleb questionou e eu concordei
balançando a cabeça.
— Quer bolo, meu doce? — Tia Eliza questionou.
Neguei balançando a cabeça.
Cameron afastou meus cabelos da nuca com as duas mãos
após eu me sentar em um dos bancos, os segurou e aproximou os
lábios de minha orelha me deixando sentir sua respiração.
— E um beijinho, você quer? — questionou.
— Não, acho que minha diabetes vai ficar muito alta, mas
obrigada — disse naturalmente e ele riu ainda próximo de meu
ouvido.
— Não falei desse beijinho, o que eu quero te dar não prejudica
sua diabete — sussurrou com calma em suas palavras e envolveu o
braço em meus ombros.
Senti um calor que não tinha nada a ver com o sol ou o verão e
respirei pesado o olhando.
— Esse eu quero — afirmei.
Ele abriu um sorriso largo, passou a língua nos dentes e tentou
conter a felicidade, mas seus olhos brilharam como nunca.
— Vocês sumiram na festa — o primo de Cameron disse nos
fazendo o olhar —, mal posso imaginar o que estavam fazendo —
disse com a fala carregada de malícia.
— Pense bem antes de insinuar qualquer coisa sobre ela,
Jeremy — Cameron disse ríspido e parou na frente de seu primo.
O clima não ficou tenso como eu fiquei. A família de Cameron
apenas os olhou como se aquilo fosse normal.
— Ou o quê? — Jeremy questionou provocativo e endireitou
suas costas.
Elliot e Jasper ficaram atrás de Cameron assim dois garotos
ficaram atrás de Jeremy.
— Sente falta do braço quebrado, Jeremy? — Cameron
provocou vitorioso, eu engoli em seco e soltei a respiração que nem
sabia que estava prendendo.
— Senhores — tio Arthur disse cordialmente e de forma calma
se aproximando deles —, acredito que não precisamos chegar a
isso, outra vez — ele me olhou dando um aceno de cabeça e
Natalie se aproximou de mim.
— Tira ele daqui — pediu em voz baixa, concordei me
levantando e pegando na mão de Cameron.
Mesmo de mãos dadas comigo, ele se aproximou mais de seu
primo.
— Nunca mais dirija a palavra a ela e nem pense em falar
qualquer sobre ela — avisou friamente.
O rosto de Jeremy ficou pálido, mas ele permaneceu encarando
Cameron.
— Amor… — Cameron ainda ficou olhando Jeremy, apertei sua
mão e ele finalmente colocou os braços envoltos de mim me
puxando para fora da cozinha.
— Vamos para a parte da churrasqueira? Ainda tem coisa para
comer — Kiara sugeriu.
Concordamos e Cameron ainda me abraçava pelos ombros.
Antes de sairmos ele pegou uma coberta do sofá e me puxou pela
cintura, me sentei em um sofá que tinha distante da churrasqueira,
eles pegaram alguns banquinhos e cadeiras e colocaram próximas
do sofá. Josh começou a organizar as coisas para o narguilé
enquanto conversava com Calleb.
Cameron se sentou ao meu lado, na verdade praticamente se
jogou em cima de mim e nos cobriu com a coberta que trouxe, me
abraçou pela cintura e eu senti meus olhos pesarem de cansaço.
— Você bebe? — Kiara questionou estendendo um copo para
mim.
— Não — afirmei rindo.
— Nem eu — ela deu de ombros e entregou o copo a Luce que
aceitou —, você é muito mais legal que a outra.
— Lá vem — Cameron disse roçando o nariz em minha
bochecha até descer em meu pescoço.
Ele apertou um pouco mais minha cintura. O abracei pelos
ombros e ele encaixou o rosto em minha nuca me deixando sentir
sua respiração quente.
— Aquela menina era podre! — Kiara disse ainda com
expressão de nojo. Eu e Luce, por algum motivo, nos entreolhamos.
— E a garota que te empurrou, a irmã dela, é a mesma coisa.
— Ela não me empurrou — comentei em voz baixa.
Cameron parou de beijar meu pescoço e me olhou confuso.
— Eu duvido. Você tinha que ter visto o tapa que Luce deu nela
e a cara dela depois — sorri um pouco desconfortável e Cameron
ainda me encarava em busca de respostas.
Natalie e Elliot se aproximaram e Kiara começou a conversar
com eles animadamente. Luce ainda me olhava de relance, como se
tivesse notado algo estranho em mim e talvez estivesse certa, mas
seu olhar se voltou para Kiara.
— O que foi? — Cameron questionou passando os lábios em
minha orelha e a mordiscou levemente.
— Nada — ri sentindo meu corpo estremecer, mas não era pelo
frio —, não acho que Melissa queria mesmo me jogar na piscina —
comentei baixo observando o pessoal ao nosso redor.
Cameron apertou minha cintura me abraçando ainda mais forte
como se precisasse cada vez mais de mim.
— Ainda não temos certeza — foi a única coisa que disse antes
de me puxar pela nuca e selar nossos lábios.
Ele passou a língua contornando meus lábios e os agarrou com
os dentes puxando cuidadosamente.
— A gente sente a tensão de longe com eles, né? — Ouvi Kiara
questionar, mas não consegui desviar meus olhos de Cameron.
Deslizei os dedos em seu rosto e ele sorriu fechando os olhos. —
Gente, para está me machucando — ela disse nos fazendo rir e a
olhar.
Olhei o relógio de parede que marcavam 02:03.
Peguei meu celular e me impressionei por não ter nenhuma
chamada perdida, nem se quer uma mensagem de minha mãe.
— Eu gostaria muito de ficar, mas preciso ir — disse tentando
me soltar de Cameron.
— Falamos com tia Olívia para você dormir aqui caso ficasse
muito tarde — Cameron explicou em voz baixa e eu o olhei.
— Não vou dormir aqui — disse em voz baixa e calma.
Ele me soltou e eu me despedi de todos, Natalie me olhou sem
entender enquanto eu mandava mensagem para a minha mãe
avisando que ia para a casa.
Andei até a entrada da casa de Cameron, mas ele me alcançou
parando em minha frente.
— Não adianta, Cameron, vou dormir na minha casa — insisti
fungando pelo frio.
Sair da coberta me deu um choque pelo frio e minhas mãos
gelaram com rapidez.
— Você dormiu aqui ontem, qual é o problema? — Suspirei
sentindo meu coração apertar.
— Te deixar preocupado de novo, e se eu tiver mais uma crise?
Não quero te preocupar, nem somos namorados de verdade para
termos essa conversa — expliquei entrando na cozinha que estava
vazia.
— Que se dane o namoro falso! — Ele me puxou pela cintura.
— Eu me importo de verdade com você — olhei em seus olhos,
mesmo com a luz baixa, conseguia ver que cada palavra sua era
sincera.
— Cameron — eu sentia as lágrimas vindo —, ter meus pais
preocupados comigo o tempo todo já é o suficiente. Eu posso viver
normal, mas quando alguém sabe dessas crises tudo muda, não
quero isso de você — confessei sentindo seus braços me apertarem
mais.
— Isso não vai mudar para mim — Cameron deu passos para
frente me fazendo dar passos para trás com seus braços envoltos
de mim —, você vai continuar sendo a Rebecca chata — ele deu
outro passo —, insuportável — deu outro passo me fazendo sentir a
bancada em minhas costas —, incrivelmente mandona, que eu
simplesmente não consigo evitar querer proteger, cuidar — ele
olhou em meus olhos — e ter em meus braços — admitiu.
Tudo ao meu redor pareceu sumir e meu coração disparou. Não
queria fugir, não queria ir a lugar nenhum, queria apenas ele. Não
existia crises, nem confusões ou medos, era apenas ele.
Ele olhou meus lábios e foi o suficiente para que eu me
entregasse selando nossos lábios. Mesmo sem jeito, abri um pouco
a boca indicando o que queria. Cameron me afastou e olhou em
meus olhos. A luz do luar entrava dentro da cozinha e, juntando com
a baixa luz da cozinha, eu via seus olhos brilharem. Seu rosto
estava radiante e iluminado, mas ao mesmo tempo ele carregava
preocupação.
— Você quer mesmo isso? — questionou.
Concordei, nunca tive tanta certeza.
— Sim, Cameron, eu quero... eu quero — repeti em um
sussurro.
Ele sorriu me segurando com firmeza e precisão em seus
braços. Nossos lábios foram selados com ternura. Seu coração
estava acelerado, assim como o meu.
Segui o mesmo ritmo que Cameron, de início um pouco errado
e sem jeito, mas nada impossível. Antes era um beijo rápido, mas se
tornou lento e carregado de desejo. Sua mão subiu pelas minhas
costas enquanto a outra apertava cada vez mais minha cintura me
puxando para si. Envolvi meus braços por cima de seus ombros e
arranhei sua nuca sentindo seu sorriso.
— Você mentiu — disse de forma calma afastando meu cabelo
do pescoço — achei que não sabia beijar.
— E eu não sabia — sorri envergonhada.
Levada pelo desejo, o beijei descendo as mãos por seus braços
e apertando sua cintura. Cameron estremeceu quando arranhei
suas costas por dentro da blusa de frio, não toquei sua pele devido
a blusa fina que ele estava por baixo da de frio.
Ele sorriu mordendo meu lábio inferior envolvendo a mão em
minha nuca, subindo em meu cabelo. Seus olhos encontraram os
meus e eu o enchi de beijinhos o vendo sorrir. Ele segurou
cuidadosamente em meu pescoço me fazendo parar com os leves
beijinhos, me fez arfar quando apertou um pouco e selou nossos
lábios outra vez. Me beijando com calma, eu estava sentindo coisas
que não sabia que poderia sentir e era incrível.
Afastamos nossas bocas com a respiração ofegante.
Suspirei quando ele me abraçou, me sentindo realizada.
Cameron me apertou ainda mais e me deu dois selinhos, ficou
com os olhos fechados e sorrindo. Afastei a mecha de cabelo de
seu rosto e ele pegou em minha mão levando até seu peito, seu
coração ainda batia descompassado.
— Meu coração implora para que eu faça o certo com você —
disse olhando em meus olhos —, mas não posso te pedir em
namoro agora, não até o meio da temporada dos jogos.
— O que está querendo dizer? — questionei sentindo minha
felicidade se tornar confusão.
— Que eu quero você — assumiu tocando em meu rosto — e
quero fazer da forma certa, eu não posso te perder, mas preciso que
confie em mim, pelo menos agora.
Tentei afastá-lo, mas ele se manteve imóvel e sem me deixar
sair. Apoiou as duas mãos na bancada e aproximou os lábios de
minha orelha. Era injusto, ele sabia que aquilo me deixaria
desestruturada.
— Preciso que confie em mim, Becca — disse sussurrando e
roçando o nariz em meu pescoço. — Eu preciso de você e preciso
que espere só um pouco, mesmo não sabendo o motivo — ele me
olhou.
Suspirei por nunca ter dado aquele tipo de voto de confiança em
ninguém, mas com ele… não fazia ideia do que ele estava querendo
dizer e mesmo assim meu coração insistia em querer arriscar.
— Não posso oficializar o namoro agora, pelo menos não até o
meio da temporada — disse envolvendo os braços em minha
cintura.
— Ou seja, sem beijos até você resolver seja lá o que for —
disse entendendo e ele pareceu não ter pensado nisso.
— Não, calma, não foi isso o que…
— Porque assim, se você quiser fazer tudo certo vai ter que me
pedir em namoro antes de querer ficar me beijando — disse
adorando sua expressão de incrédulo.
— Becca…
— Já entendi, amorzinho — dei um selinho nele —, isso é o
máximo que você vai ter, ok? — Disse me afastando dele para ir até
o quarto de Natalie pegar minhas coisas, mas Cameron me puxou e
me encostou novamente na bancada.
— Você não vai fazer isso comigo — choramingou.
Seria mais torturante para mim, sem dúvidas.
— Cam, eu vou esperar sim, não é fácil, não tenho garantia
nenhuma sobre nós dois, mas vou confiar em você. Porém, não vou
ficar de beijos e beijos com quem não tem nada sério comigo —
expliquei olhando em seus olhos e abaixei o olhar.
— Eu quero algo sério, só não pode ser agora — tentou
justificar e eu sorri o olhando.
— Tudo bem — disse lhe dando outro selinho.
Ele me olhou por instantes e me beijou calmamente outra vez,
aproveitando cada instante explorando minha boca com sua língua,
mas, quando me soltou, entendi que esperar até o meio da
temporada seria extremamente importante para nosso futuro, ou
não, relacionamento.
— Só selinhos? — questionou desanimado.
— Continua como estava antes do beijo — dei de ombros me
sentando na bancada.
Ele se colocou em minha frente e se aproximou ficando entre
minhas pernas.
— Você sabe que não vai dar certo — disse passando as mãos
nas curvas de minha cintura.
— Resisti a você até agora, consigo muito mais — falei firme,
mas sua proximidade me fez estremecer e ele me abraçou forte.
— O namoro continua — sussurrou mexendo no meu cabelo.
O abracei pelos ombros sentindo sua respiração em meu
pescoço.
— Continua — fechei meus olhos o sentindo dar beijinhos em
meu pescoço —, preciso ir — disse tentando empurrá-lo.
— Não vai mesmo dormir aqui? — questionou subindo a mão
em minha nuca e puxando meus cabelos.
Eu e ele nos olhamos, minhas bochechas estavam queimando.
Rimos quando eu apertei sua cintura tentando mantê-lo longe
de mim e abaixei a cabeça respirando fundo.
— Preciso ficar longe de você. Não quero te ver amanhã,
apenas segunda.
— Mas…
— Se afasta em nome de Jesus! — Disse firme o vendo
gargalhar. — Sem mais, Cameron, só me leva em casa — ele riu
beijando minha testa e concordando.
Desci da bancada, peguei minhas coisas no quarto de Natalie e
desci a passos silenciosos. A casa estava toda em silêncio,
acreditava que os parentes de Cameron foram embora e seus pais
foram descansar.
Caminhei até a cozinha vendo que todos tinham entrado, mas
Cameron não estava.
— Dorme aqui, amiga — Natalie pediu.
Ela não fazia ideia da preocupação que eu tinha feito seu irmão
passar na noite passada.
— Não amiga, hoje eu só quero minha cama — disse me
apoiando na bancada esperando Cameron.
— Eu durmo com você — Kiara disse abraçando Natalie pelos
ombros.
— Não te convidei — Natalie provocou.
Kiara rebateu, mas não a ouvi. Não quando Cameron envolveu
os braços em minha cintura me puxando de forma calma e suave.
Senti seus lábios se aproximando de meu ouvido e ele
sussurrou:
— Vamos? — Concordei um pouco atordoada.
— É o tempo todo assim esses desgraçados — Calleb disse
apontando para nós — o tempo todo me deixando boiola.
— Boiola você já é — Natalie o provocou e Calleb mostrou seus
dois dedos do meio para ela, mas nem ele se aguentou de rir.
— Gente, beijos e boa noite — mandei um beijo coletivo e
saímos da cozinha.
Cameron me abraçou pelos ombros enquanto andávamos pela
rua, mas os passos dele estavam lentos como se ele não quisesse
chegar até minha casa.
— Posso te ver amanhã? — questionou me apertando um
pouco mais.
O olhei rindo e paramos em minha casa.
— Não, senhor Styles, não pode — respondi decidida.
— Mas Becca… — Ele se aproximou de mim me puxando pela
cintura e seus olhos buscaram os meus e eu abaixei a cabeça
suspirando.
Cameron levantou meu rosto com seus dedos em meu queixo.
— É por causa disso que não quero te ver — admiti e ele riu
aproximando os lábios de minha orelha.
— Não consegue resistir?
Prendi minha respiração o afastando de mim.
— Você nem é tudo isso, me erra — rebati encaixando a chave
na fechadura da porta me tremendo por inteiro.
— Não respondeu minha pergunta — sussurrou juntando meu
cabelo para trás e o enrolando levemente em seu pulso.
— Cameron — disse em voz baixa sem conseguir deixar de rir
— boa noite.
Abri a porta e ele me deu um selinho rápido.
— Boa noite amor — se despediu descendo os dois degraus da
frente da minha porta e seguindo até sua casa.
Tranquei a porta e suspirei.
Ri de mim mesma pensando na provável expressão de boba
que eu estava agora. Observei a sala que estava com uma luz baixa
e me aproximei vendo meu pai com Elo em seu colo, a balançando
para dormir, mas ela não parecia querer dormir, estava observando
tudo ao redor.
— Boa noite pai — disse entrando na sala —, achei que
chegaria amanhã.
— Boa noite querida, íamos mesmo voltar amanhã, mas tive
que resolver algumas coisas no trabalho. Como foi a festa? —
questionou ainda balançando Elo.
Sorri me lembrando da melhor parte da festa.
— Foi legal.
— Soube que foi jogada na piscina — disse arrumando os
óculos redondos em seu rosto e eu dei de ombros me sentando em
sua frente enquanto Elo me olhava rindo —, como estão as coisas
com o menino Cameron? Ele parece muito feliz.
Olhei meu pai, seus olhos transmitiam sinceridade. Forcei um
sorriso e ele pareceu confuso.
— O que aconteceu, docinho? — questionou sem tirar os olhos
de mim e eu suspirei.
— Talvez ele goste mesmo de mim, parece que sim, mas… Ele
disse para esperá-lo até o meio da temporada do time — expliquei.
— E qual é o problema? Não é você que sempre disse sobre
esperar?
— Mas… esperar o quê? Tem alguma ideia? Alguma luz? Estou
confiando nele sem saber o que isso quer dizer — papai se sentou
ao meu lado com os olhos cheios de confusão.
— Eu não devia falar sobre isso, mas Arthur ficou muito
animado quando soube que Cameron finalmente decidiu que quer ir
para Stanford — o olhei surpresa —, ele já estava falando sobre
Stanford há algum tempo, mas agora está decidido. Arthur está bem
animado pois se formou lá e foi quarterback de lá também — papai
deu um sorriso carregado de lembranças boas —, talvez essa seja a
resposta que ele queira antes de te pedir em namoro.
— Stanford — murmurei relembrando a conversa que tive com
Cameron em sua casa quando falei sobre ir para Stanford e ele
pareceu animado.
— Você com certeza vai entrar, os olheiros de lá vão vir e se
Cameron se dedicar como já vem feito, pode ter boas
recomendações e uma chance enorme de estudar lá — papai
explicou.
— Não tenho certeza se vou entrar mesmo — comentei
desanimada —, mas o melhor será esperar mesmo, tanto ele quanto
eu precisamos focar nos estudos, as provas não serão fáceis —
disse me levantando — boa noite, pai.
Estava prestes a subir a escada, pela primeira vez meu pai não
se despediu de mim.
— Caramelinho — chamou com voz calma, me virei o olhando e
voltando o caminho —, você gosta dele? — Suspirei, mas acabei
deixando um sorriso transparecer, ele sorriu junto e apenas
balançou a cabeça concordando — Boa noite, filha.
— Boa noite, pai.

Cheguei da confraternização da praça, com o pessoal da igreja,


me péssima fisicamente. Estava exausta, me sentindo mal e
enjoada, talvez seja pelo bolo extremamente doce que eu comi.
Fizeram uma pequena confraternização pois a mulher do pastor
Joseph estava fazendo aniversário hoje.
Entrei no banheiro de meu quarto praticamente correndo e
deixando tudo em meu estômago ser jogado para fora na privada.
Isaac juntou meu cabelo para trás e o amarrou enquanto eu
dava descarga. Sem forças, fiquei sentada no chão. Minha mãe veio
logo em seguida, mediu minha glicose e sua expressão de
preocupação me fez entender que eu não estava nada bem.
— Pegue a insulina dela, as duas, e traga aqui rápido! Diga ao
seu pai que não é para deixar Cameron subir — mamãe disse
rapidamente.
Abaixei a tampa da privada e apoiei minha cabeça me sentindo
fraca.
Tirei meus óculos e passei a mão na nuca suada. Olhei o
aparelho de medir a glicose vendo que marcava as letras HI, o que
significava que a taxa de açúcar em meu sangue extrapolou a um
nível que nem o aparelho era capaz de identificar.
Com a ajuda de minha mãe, consegui me sentar no vaso. Isaac
trouxe o que minha mãe pediu e uma garrafinha de água. Após
aplicar a insulina em meu braço, ela me fez beber água e me fez
levantar a cabeça.
— Você precisa de um banho, consegue? — Concordei ainda
sentindo meu corpo mole.
Não sabia em que momento Isaac trouxe um sachê de sal, mas
aquilo melhorou as coisas para mim. Consegui me levantar e tomar
um banho após minha mãe sair do banheiro.
Suspirei me olhando no espelho. Uma hora a diabete resolvia
descer uma montanha russa e me paralisar, outra hora subia como
um foguete descontrolado e me fazia jogar tudo para fora.
Coloquei um pijama confortável, mesmo que estando frio, ficar
com um short e blusa regata de linho fino debaixo das cobertas era
tudo o que eu queria. Soltei meus cabelos e sai do banheiro ainda
me sentindo enjoada e cansada.
— Como se sente? — questionou Isaac me olhando.
— Melhor, obrigada por me ajudar — beijei o topo de sua
cabeça e ele riu.
— Mamãe disse não, mas eu e papai não concordamos e
deixamos ele subir — Isaac riu da minha cara e saiu correndo do
quarto antes que eu o estapeasse.
— Obrigado, amigão — ouvi a voz de Cameron.
E eu simplesmente travei. Não sabia se virava para trás e o
olhava, se me escondia embaixo das cobertas por conta das roupas
ou se simplesmente saia correndo. Não que eu não aceitasse meu
corpo, mas roupas curtas eu costumava usar em casa apenas por
conforto e sair na rua com roupas assim para mim nunca foi
confortável. Não era problema em outras pessoas, mas eu
simplesmente não gostava.
Decidi me virar e Cameron parecia atordoado me olhando por
inteiro, seus olhos passearam pelo meu corpo e eu senti minhas
bochechas queimando.
— Oi — disse e seus olhos encontraram os meus.
Eu teria me sentido incomodada e o expulsaria do meu quarto,
mas ele não apenas me olhava, na verdade, parecia me admirar e
eu gostava daquela sensação.
— Está melhor? — Ele ainda estava imóvel na porta e perdido,
como se não soubesse se entrar seria uma boa ideia.
Me sentei na cama, me cobri com a coberta e me encostei.
— Cameron? — Ele tinha desviado o olhar de mim e seu rosto
estava levemente rosado — Pode entrar, fique à vontade.
Ele sorriu tentando relaxar a postura tensa, porém, nem se
sentando em minha cama ele pareceu relaxar. Sua tensão estava
quase passando para mim.
— Estou melhor sim, só foi uma… — suspirei desanimada —
Uma crise.
— Vou ficar aqui com vo…
— Filha — papai apareceu na porta aberta —, como está?
— Bem — sorri e ele concordou.
Papai estava acostumado com essas crises e sabia que no final
eu ficava bem.
— Precisa de algo? — Neguei com a cabeça — Ok, qualquer
coisa me ligue, estou indo jogar hóquei. Estamos te esperando,
Cam — papai beijou minha testa e saiu do quarto.
Olhei Cameron que esperou meu pai sair para me olhar
novamente.
— Vai lá — acariciei o rosto dele, ele sorriu tocando minha mão
e a apertando com cuidado.
— Você está bem mesmo? Venho te ver mais tarde — prometeu
beijando as costas de minha mão.
— Só quero te ver amanhã — retruquei.
Ele se levantou sorrindo e selou nossos lábios com suavidade.
— Até mais tarde, Malik — disse acariciando minha nuca e me
dando outro selinho.
— Até, Styles.

Ouvi a sirene do carro de polícia. As luzes vermelhas e azuis se


infiltravam em meu quarto através da janela, mas não me importei
em sair da cama para ver o que estava acontecendo. Estava quente
e confortável debaixo das cobertas agora que finalmente não estava
passando mal.
Me virei na direção contrária à da janela e voltei a dormir, o
aconteceu provavelmente não me dizia respeito.

Desci as escadas até a cozinha e preparei algo para comer.


Ouvi risadas vindas da sala. Pensei em ir até lá, mas meu pai
provavelmente estava com visitas e eu ainda estava vestida com o
pijama.
Terminei de comer e retornei ao meu quarto.
Me sentei na cama, coloquei meus fones e me concentrei no
livro Crepúsculo que estava lendo pela segunda vez.
Cameron apareceu na porta de meu quarto e sorriu me olhando
por instantes. Levantei meu olhar quando ele entrou e fechou a
porta.
— Como se sente? — questionou se sentando ao meu lado.
— Bem, muito bem na verdade — admiti fechando o livro e
ligando a tv.
Isaac sempre vinha assistir no meu quarto porque disse que a
televisão era maior. Sempre que ligava a tv estava passando
Naruto.
Foi quase que automático abraçá-lo quando ele se aconchegou
ao meu lado. Ficamos olhando a tv por instantes, Cameron amava
Naruto e tinha até tatuagens em homenagem, ele quem fez Isaac
começar a assistir.
— Ei — me sentei na cama me afastando dele —, tinham
policiais na sua casa hoje ou foi em outra casa?
Seu silêncio e os olhos fixos na televisão me fizeram entender
que havia sido em sua casa.
— Cameron? — Chamei, mas em resposta ouvimos a batida na
porta.
— Cam, eles chegaram — Elliot disse abrindo a porta com
cuidado.
Olhei Cameron que se levantou.
— Eles chegaram? — questionei apreensiva e pegando na mão
dele.
— Estamos te esperando no escritório de Owen — Elliot avisou
fechando a porta e eu me levantei.
— Quem está no escritório do meu pai? — questionei sem nem
esperar sua resposta.
Quando fui na direção da maçaneta para gira-la e ver o que
estava acontecendo, Cameron me puxou pela cintura me apertando
com cuidado e firmeza.
— Bê, não desce agora — pediu com voz calma quando me
pressionou contra a parede, seu olhar era sereno e me deixava
ainda mais nervosa. — Oliver está aqui e eu prometi para o seu pai
que dentro da sua casa eu não bateria nele… de novo — disse
tranquilamente.
— Você bateu nele?
— Quebrei o braço dele como disse que faria — disse
deslizando as mãos em minha cintura e eu o empurrei.
— Você o quê?
— Prometo te explicar depois, amor — prometeu colocando as
duas mãos em minha nuca, com uma delicadeza de me
desestruturar, e selou nossos lábios. — Eu já venho, só preciso
resolver esse problema — disse me dando outro selinho.
— Mas…
Já era tarde.
Cameron havia saído do quarto deixando o gosto de seus lábios
nos meus. Natalie entrou logo em seguida com Luce, minha mãe
segurando Elo e tia Eliza segurando Lou. Elas pareciam calmas e
leves, estavam aos risos e mamãe fechou a porta assim que todas
entraram.
— Ok, o que está acontecendo? — questionei — Por que está
todo mundo tranquilo?
— Cameron deu um jeito em Oliver, ele vai pensar quinhentas
vezes antes de querer falar qualquer coisa — Luce disse.
— Pela primeira vez eu concordo com Cameron batendo em
alguém — Natalie disse orgulhosa.
— Eu não falo mais nada. Ele é igualzinho o Arthur nessa parte
— tia Eliza admitiu.
— Ele vai te explicar tudo querida — mamãe me abraçou pelos
ombros —, tenho certeza de que vai.
— Conto com isso — suspirei.
Natalie começou a mexer no meu cabelo depois que deitei
minha cabeça em seu colo.
As mulheres estavam falando tão alto que minha cabeça
começou a doer. Tia Eliza e minha mãe eram as mais empolgadas.
Duas batidas na porta me fizeram levantar mais rápido do que
eu deveria. Sabia que era Cameron, só podia ser.
— É a nossa deixa — mamãe disse abrindo a porta e Cameron
sorriu.
Ele parece um príncipe com uma beleza angelical, nem parecia
o mesmo garoto bruto que batia nos outros.
Meu quarto se esvaziou voltando a ter sua aparência vazia e
confortável. Cameron fechou a porta e eu me sentei na cama.
— O que aconteceu?
— Pode ficar com raiva. Mesmo você dizendo que não, planejei
de Oliver ir até o jogo de hóquei — ele se sentou ao meu lado e
observei suas mãos com pequenos machucados nos punhos que
ainda estavam avermelhados —, Josh o chamou para ir até o
hóquei, ele caiu certinho e foi. No estacionamento eu o peguei e não
tinha ninguém que pudesse me parar.
— Cameron…
— Eu sei, Rebecca, eu sei. Você não aprova essas atitudes,
mas ele tentou se justificar falando que suas roupas… — Seu tom
estava elevado e ele respirou fundo fechando os olhos, eram nítidas
sua raiva e repulsa. — Eu o fiz entender que você e qualquer outra
garota pode usar a roupa que quiser e ele tem que controlar os
instintos dele, esse tarado dos infernos!
— Cameron…
— E meu pai e Owen estranharam minha ausência e nos
encontraram, mas não me pararam — eu queria fazê-lo se acalmar
de toda essa ansiedade em se explicar, mas ele não deixava —,
eles entenderam perfeitamente bem a raiva o que eu estava
sentindo. É loucura a forma com que ele te olhava!
— Cam…
— Então eu dei meu jeito. Oliver serviu de exemplo para os
outros garotos! Se conversar não resolve, o medo vai resolver! —
Afirmou determinado. — O pai de Oliver veio atrás, mas Owen e
meu pai deram um jeito, tudo resolvido — me levantei andando de
um lado para o outro e assimilando todas as informações —, eu sei
que você está brava comigo — disse se levantando.
— Claro que estou — bufei pegando em suas mãos —, você
fica machucando as mãos com essas coisas, como vai me pegar
depois? — Descontrai e seu rosto se iluminou com um sorriso. Ele
abriu a boca para falar, mas só conseguiu sorrir. — O que deu no
final?
— Oliver vai mudar de escola — ele disse suspirando e se
sentando na minha cama —, mas isso nem me incomoda mais —
observei sua expressão, ele mudou para preocupado de uma hora
para outra.
— E o que te incomoda?
— Não importa — ele se levantou, ainda inquieto —, te vejo
amanhã — disse selando os nossos lábios.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele saiu do quarto
me deixando confusa. Andei de um lado para o outro pensando e
Natalie entrou em meu quarto.
De imediato uma luz veio na minha mente.
— Como Cameron fica durante a temporada dos jogos? —
questionei e ela fechou a porta, se sentou na cama e respirou fundo.
— Conseguiu perceber que ele está incomodado, não? —
Concordei e ela pareceu triste. — A verdade é que ele não tem
dormido direito, eu amo meu pai, mas ele está cobrando muito
Cameron por causa da faculdade. Cameron mostra que está tudo
bem, mas não está. Fiquei feliz por você ter passado a noite com ele
no aniversário dele porque ele finalmente dormiu.
Balancei a cabeça concordando.
— Vim me despedir, estamos indo pra casa — a beijei no rosto
e ela me abraçou, estava para solta-la, mas ela me segurou —, eu
não concordava de início, mas você faz muito bem pra ele, mesmo
com essas provocações idiotas — disse rindo e olhando em meus
olhos.
Eles se iluminaram e eu percebi então, o quanto ela se
preocupa com Cameron, nunca havia a visto assim.
Estávamos na ponte em que Cameron me levou no dia em

que brigou com Oliver. Cameron me pegou no colo e pulou no lago

me fazendo gargalhar quando voltamos a superfície.


— Você é perfeita, Rebecca Malik — sussurrou selando nossos
lábios e me puxando para si.
Seus braços se envolveram em minha cintura e em questão de
segundos seus dedos passeavam em minhas coxas, com facilidade
ele as apertou e me fez envolver as pernas em sua cintura,
E no minuto seguinte, eu estava sentada sob a ponte de
madeira.
— Devíamos nos casar — Cameron sugeriu se aproximando de
mim, vindo da direção do carro, e me entregou uma garrafinha
d’agua, para em seguida se sentar ao meu lado.
— Sim, devíamos — concordei, pegando a garrafinha e a
deixando de lado.
— Poderia ser em...
Não o deixei terminar e o beijei, o desejo era maior do que eu,
maior do que qualquer coisa existente, e com a mesma vontade, ele
aceitou o beijo.
Nossas línguas se movimentavam devagar e em movimento
rápido ele me puxou para o seu colo, sem quebrar o beijo.
Seus lábios desceram lentamente em meu pescoço e, mesmo
que minhas roupas estivessem molhadas, meu corpo pegava fogo.
— Quero que se mexa para mim — sussurrou apertando minha
cintura.

Dei um pulo da cama e me sentei, passando as mãos nos olhos


e sentindo meu corpo suar. Passei os dedos em meus lábios e senti
meu corpo se contrair pela excitação que me percorria. Beijar
Cameron certamente acordou um desejo em mim, um que eu nunca
havia sentido antes.
Tinha faltado na escola ontem, me deu um tempo para ficar
afastada de Cameron, mas hoje não era possível.
Não queria vê-lo, era difícil não o beijar antes, mas agora,
depois de ter sentido seus lábios era quase impossível.
Cheguei atrasada por ter levado meu irmão para a escola, a
pedido da minha mãe que estava ocupadíssima trabalhando em
outra cidade e voltaria a tarde.
Entrei na biblioteca para esperar a segunda aula começar, pois,
a diretora me liberou e avisou que alguém me esperava na
biblioteca.
Me deparei com Neji e ele acenou animadamente para mim.
— Bom dia — beijei o rosto dele e me sentei ao seu lado.
— Bom dia, como vai?
— Desculpem o atraso — Luce disse se aproximando com
Samuel —, oi Becca — ela beijou meu rosto e o garoto me
cumprimentou com um aceno.
— E aí, o que aconteceu? — Samuel se sentou na frente de
Neji e Luce na minha frente.
Todos olhamos Neji.
— Kath se tornou a nova capitã das líderes — Neji começou e
eu franzi o cenho ao me dar conta de que desde segunda não a via.
— Então ela saiu do Fênix, assim como as outras líderes. Os irmãos
Halder se mudaram, ou seja, acabou o grupo, só sobrou eu — disse
aflito como se estivesse prestes a entrar em desespero — e eu não
quero ter que desistir das competições desse ano, mas eu não
tenho ninguém.
— Estou dentro — tomei a frente.
— Ah, era isso — ela riu. — Como tinha te dito antes, estou
dentro também — Luce disse logo em seguida.
Olhamos Samuel e ele deu de ombros.
— Eu também — disse com seu jeito despojado.
— Ótimo! A primeira competição é amanhã uma hora da tarde
— Neji disse e o olhamos, todos, assustados, Luce soltou um
gritinho de susto. — Física Quântica será o assunto — Samuel
relaxou o corpo suspirando.
— Tranquilo — disse naturalmente.
A paz dele acabou contagiando positivamente eu, Luce e Neji.
— A diretora liberou as duas últimas aulas para a gente se
reunir hoje e podemos estudar amanhã cedo, tudo bem para vocês?
— Neji questionou sem disfarçar a euforia.
Concordamos, essa semana as aulas com o time foram
suspensas por conta do jogo de amanhã, então eu estava livre.
— Obrigado mesmo gente, não sei o que faria.
Luce e Samuel apenas concordaram e se despediram.
Eu e Neji saímos da biblioteca.
— O que aconteceu com Melissa? — questionei e ele franziu o
cenho.
— Ela não veio ontem também, ninguém sabe — disse
normalmente e o sinal tocou —, nos vemos mais tarde.
— Bom dia — Natalie disse e forçou um sorriso.
Peguei meus livros e a abracei.
— Tudo bem? — questionei percebendo que algo estava
errado.
— Sim — disse com os dentes serrados.
— O que aconteceu e onde está Cameron? — Ela respirou
pesado.
— Lana, Karen e Katherine estão insuportáveis agora que
Melissa parece estar fora de jogo, elas estão muito em cima!
Katherine estava enchendo a paciência dele desde ontem e ele
acabou cedendo para conversar com ela agora na ala de piscinas,
ele tentou de tudo para evitar e…
Não a deixei terminar. Fechei a porta do meu armário e me dirigi
até a ala de piscinas mais rápido do que deveria. Se fosse Cameron
conversando com qualquer outra pessoa, tudo bem, mas sabia que
Katherine faria de tudo para tê-lo. Kristen e Paloma estavam na
porta, de vigias, conversando disfarçadamente quando cheguei.
— Licença — disse colocando a mão na trava da porta para
abri-la.
— Mas… — Paloma começou e eu lancei um olhar furiosa para
ela.
Ela e Kristen abriram espaço e quando entrei na ala de piscinas,
vi Katherine fazendo Cameron dar passos para trás em direção a
parede como se quisesse deixá-lo sem saída, mas não iria
conseguir pois ele estava mantendo uma grande distância dela e
desviando toda vez que ela ia para cima.
Katherine me viu, mas Cameron não.
Ela voltou o olhar para ele rapidamente.
— Ela não vai te dar o que eu posso te dar — disse na intenção
de me afetar.
Sexo, sexo, sexo. Era só isso o que elas ofereciam.
Cameron estava de costas para mim, me aproximei a passos
silenciosos e abracei sua cintura. Ele virou a cabeça me olhando no
mesmo segundo, beijei seu ombro e vi Katherine bufar como um
touro com raiva.
— Estou atrapalhando, amor? — questionei e ele se virou para
mim me abraçando pelos ombros.
— Meu Deus, obrigado — sussurrou em meu ouvido soltando a
respiração.
Lhe dei um selinho e caminhei até Katherine.
— Ele não te quer! Supere isso, Katherine. Ele namora e você
precisa respeitar isso urgentemente! Ele não vai ser seu príncipe,
muito menos seu rei e nem é uma ponte para você ter a atenção do
pessoal de Stanford. Então respeita! E pare de achar que precisa
oferecer sexo a alguém para te notarem — o olhar de Katherine
mudou de raiva para dor e surpresa. — Você deve ser melhor que
isso e não preciso te avisar de que assédio é crime.
Cameron me segurou pela cintura, com a alça da bolsa no
ombro, e saímos da ala de piscinas.
— De todo o nosso namoro falso, hoje foi a vez em que você
mais me ajudou — disse em tom provocativo quando nos sentamos
em nossos lugares na aula de literatura.
O olhei incrédula.
— Ah e eu não fiz nada não, Styles? — questionei. — Se não
fosse por mim — aproximei meus lábios de seu ouvido —, você teria
enlouquecido com essas garotas — ele virou o rosto deixando
nossos lábios próximos e sorriu.
Me afastei e ele se deitou em cima de sua bolsa na mesa.
— Talvez — murmurou em resposta me fazendo rir.
— Não vai admitir mesmo que estou te dando uma grande
ajuda? — Nossos tons eram baixos para ninguém nos ouvir.
— Só depois do baile — disse fechando os olhos.
— Babaca.
— Mandona — rebateu, eu acabei rindo e pegando meu livro.
Cameron arrumou sua pose assim que a professora entrou na
sala. Consegui ver seu rosto e ele parecia estar exausto.
— Você dormiu? — Sussurrei.
Ele me olhou e deu de ombros.
— Depois que comer me encontre nas arquibancadas? Não
quero ficar no refeitório hoje — avisei Cameron que concordou e
beijou minha testa antes de sair caminhando até o refeitório.
Me aproximei de Natalie que estava organizando as coisas em
seu armário.
— Amiga, me desculpa ter te deixado falando sozinha, fui
correndo para ala de piscinas — me desculpei, mas ela riu negando.
— Acha que estou brava com isso? — Ela fechou seu armário e
colocou o braço em meus ombros. — Não mesmo, na verdade eu
até te segui e amei o jeito que você agiu. Vamos comprar algo para
comer?
— Não vai para o refeitório?
— Elliot vai me encontrar nas arquibancadas com a minha
melhor amiga, agora vamos comer — ela pegou em minha mão e
saímos da escola.
Compramos uma salada de frutas para Natalie e um lanche
natural para mim. Eu e Natalie não gostamos de comer frituras logo
de manhã, então descobrimos uma lanchonete fitness há minutos
da escola. Os lanches eram maravilhosos.
Nos sentamos nas arquibancadas do campo de futebol.
— O que aconteceu com Melissa? — questionei pegando o
suco de limão que Natalie me forçou a comprar quando disse que
queria uma coca.
— Primeiro que todo mundo a julgou por ter te jogado na
piscina. Domingo só se falava disso nos grupos da escola —
explicou —, mas você não deve ter visto porque não vê nada dos
grupos que está — relembrou me fazendo rir. — Melissa não saiu
dos grupos, mas também não falou nada, agora inventou que está
com uma virose.
— Inventou?
— Sim, a vi no mercado ontem — rimos —, Katherine
aproveitou a deixa, fingiu estar ao seu lado e virou a cabeça de
todas as líderes contra Melissa, ela não é oficialmente capitã das
líderes, mas está se intitulando como, assim que vi tudo isso, sai
dessa palhaçada toda após dar na cara daquela falsa — a olhei
surpresa.
— Você bateu em Katherine?
— Sim, ontem. Estávamos ensaiando e quando ela veio para
cima de mim dizendo que contaria para a diretora que eu não estava
a respeitando, a desafiei. Aproveitei e sai das líderes, ninguém falou
nada para diretora.
— E ninguém vai falar — pontuei. — Sobre os Styles só se fala
bem agora.
— Ela é muito falsa! Odeio violência e sempre deixei isso para o
Cam, mas quando ela partiu para cima, não aguentei. Espero que
esteja certa sobre Melissa não ter feito de propósito, não gosto
muito dela, mas vou adorar vê-la baixando a bola de Katherine
quando voltar — Natalie disse determinada.
— Enfim, Cameron dormiu? — questionei e ela negou.
O vi com Elliot rindo e se aproximando.
— Olhe as mãos dele, passou a madrugada batendo no saco de
pancadas e antes das cinco da manhã ele saiu, deve ter tirado só
um cochilo, a semana toda foi assim — disse em voz baixa.
— Eu entrei para o Fênix — mudei de assunto quando eles
estavam próximos o suficiente para nos ouvir e Natalie abriu um
sorriso largo.
Cameron se sentou ao meu lado e Elliot ao lado de Natalie.
— A primeira competição será amanhã, uma da tarde.
— Becca, isso é incrível — Cameron disse apertando levemente
minha mão, vi suas mãos com machucados leves e avermelhados.
— Estou um pouco nervosa, a matéria não é difícil, mas…
— Você consegue amiga! Tenho certeza. É a garota mais
inteligente da escola — disse Natalie com a voz carregada de
orgulho.
— Consegue mesmo — Cameron se encostou nas
arquibancadas mais altas e esticou o braço atrás de mim, mas sem
me abraçar.
O observei. Estava olhando para o campo.
Coçou os olhos, bocejou e piscou lentamente.
Olhei Natalie e ela apenas concordou.
— Ell, vem comigo — disse puxando Elliot pela mão, os dois
foram para as arquibancadas mais altas e se afastaram para a
direita.
— Trouxe uma coisa para você — disse acariciando meu
cabelo, o olhei animada.
— Uma coquinha geladinha?
— Becca — disse aos risos e tirou do bolso uma caixinha
branca —, não é a garantia sobre nós dois — me entregou a
caixinha, a abri vendo um colar rose com um pequeno pingente de
chave e pedrinhas ao redor, abri um sorriso —, mas simboliza a
chave — meu coração disparou.
— A chave? — Disse com voz trêmula de emoção.
Ele balançou a cabeça positivamente, pegou em minha mão e
colocou em cima de seu peito me deixando sentir seu coração que
batia rapidamente.
— É seu.
Prendi a respiração e, de início, fiquei totalmente sem reação.
Atônita, emocionada e assustada.
Sorri soltando minha respiração e, com os ânimos aflorados,
selei nossos lábios com um sorriso no rosto. O enchi de beijinhos e
ele sorriu agarrando minha cintura e me aproximando de si.
— Você… Meu Deus Cameron — foi tudo o que consegui dizer
antes de atacá-lo com mais beijinhos em seu rosto.
Cameron sorria comigo e recebia todos os beijinhos que eu lhe
dava me segurando firme pela cintura.
— Quero usar agora — disse me virando de costas para ele
após lhe entregar o colar. Coloquei meu cabelo de lado.
Ele colocou o colar e beijou meu pescoço calmamente.
Suspirei sorrindo.
Nunca me senti tão feliz, tão animada e tão realizada.
Ele realmente me esperaria.
— Gostou? — Me virei de frente tocando o pingente.
— Eu amei! — Disse soando mais animada do que eu
esperava.
— Fico feliz por isso — ele selou nossos lábios com a mão em
minha nuca —, vai estar no jogo amanhã? — questionou descendo
os lábios pelo meu pescoço quase me deitando em seu colo.
Arrumei minha postura passando a mão na nuca que estava
suando e ele riu.
— Sim, com certeza — comentei me recompondo e guardando
a caixinha do colar na bolsa —, acho que podemos estudar na
semana que vem, não? Teremos um teste de biologia — me virei
para ele e peguei em suas mãos com pequenas feridas —, o que foi
isso? — questionei fingindo não saber de nada.
— Treinando boxe — disse beijando minhas mãos.
Arqueei a sobrancelha.
O sinal de fim do intervalo ecoou pelo campo.
— Boxe — comentei em voz baixa quando ele se levantou.
Descemos as arquibancadas e ele me segurou pela cintura
após descermos o último degrau da escada.
— Não quero você se importando com isso, ok? Meu sono, eu
me viro, não se preocupe.
— Ok, dorme lá em casa hoje? — Disse o contrariando.
— Você não ouviu uma palavra que eu disse? — questionou em
tom engraçado e envolvendo os braços calmamente em minha
cintura.
Tudo que ele fazia era com tanta calma e graciosidade que meu
coração disparava rapidamente.
— Ouvi — joguei meus braços por cima de seus ombros —, isso
não significa que eu concorde com você — beijei seu rosto e ele fez
expressão de tédio, mas logo sorriu me olhando. — Enfim, pense
nisso.
Me desprendi dele e entrelacei nossos dedos começando a
caminhar para dentro da escola.
— Preciso encontrar o treinador — avisou e beijou minha testa.
— Cam — chamei o segurando pelo braço.
Ele me olhou e eu selei nossos lábios ficando na ponta dos pés
para ficar em sua altura. Um sorrisinho bobo se formou em seus
lábios e ele me beijou outra vez, antes de sair.
Fiquei o observando ir até o vestiário masculino.
— Rebecca — ouvi a diretora López me chamar cordialmente
—, por favor, me acompanhe — a segui após deixar minhas coisas
no armário e fechá-lo.
Caminhamos pelo corredor e eu me sentia cada vez mais
confusa. Ela parou em uma parede com fotos dos times, medalhas e
troféus que a escola ganhou desde a sua fundação. Um pouco a
esquerda estava a foto de Karen intitulada a aluna com a nota mais
alta em uma prova com todas as matérias, ela tirou 97 quando se
transferiu para Liberty, essa informação estava bem ao lado de sua
foto, junto com a prova. Abaixo de sua foto, estava a lista com
alunos que tiraram as maiores notas no provão.
Uma garota de cabelos encaracolados loiros apareceu ao lado
da diretora com uma foto minha em um quadro e a olhei sem
entender.
— Me siga, por favor — disse a diretora López caminhando até
a diretoria.
Não entramos em sua sala, entramos na sala de reunião, onde
se reunia o comitê gestor do baile, os professores responsáveis pelo
Fênix, o grêmio escolar, os diretores das escolas próximas, os
organizadores do time que no caso era Cameron, Elliot, o treinador,
a diretora e alguns patrocinadores; e o conselho escolar que era
composto por cada representante de um projeto escolar.
Entrei na sala deduzindo o porquê de cada um estar presente,
só não entendia o motivo de eu estar também.
Vi Neji que estava aqui por ser capitão do Fênix; Katherine por
ser a nova capitã — provisória — das líderes; Lana e Calleb que
cuidavam do jornal; Jasper que era o novo capitão da equipe de
natação; estavam presentes, também, o organizador das aulas de
pintura, os que eram do teatro, os que davam aulas de dança, a que
cuidava do coral, Karen que era presidente do grêmio e me olhava
com sangue nos olhos; e por fim, Cameron que era o capitão do
time.
Os professores de matemática e literatura estavam presentes,
junto com dois inspetores e duas outras pessoas com vestimentas
elegantes, um homem e uma mulher, os vi em uma reunião das
escolas estaduais, mas não sabia seus nomes.
A postura de Cameron era de uma verdadeira realeza, sabia
que ele estava exausto, mas conseguia disfarçar tão bem que me
deixava impressionada e preocupada.
Meus olhos encontraram os dele em busca de respostas e ele
me lançou um sorriso orgulhoso.
Me senti em um julgamento vendo todos me olharem, mas suas
expressões não eram de julgamento.
A diretora me fez parar diante de todos e minhas pernas
tremeram, olhei para Cameron, apavorada, que me disse um fique
tranquila, amor sem som.
Respirei fundo tentando relaxar, porém, era inevitável.
— A última vez que um fato tão histórico ocorreu, foi há mais de
trinta anos. Hoje, ano de dois mil e vinte, quero apresentar a vocês a
aluna mais inteligente que Liberty já teve. Ultrapassando a nota 99
de Geórgia Lacerda em 1989, Rebecca Malik é a primeira aluna a
tirar 100 na prova geral, a primeira e maior nota que Liberty já
presenciou — olhei a diretora López sentindo meu coração disparar
e ela me olhou orgulhosa.
Todos aplaudiram e eu permaneci totalmente sem reação.
— Queremos que você, juntamente com Neji que já é do
conselho, represente a escola nas reuniões estaduais — a diretora
disse com ternura.
— Será um prazer — foi tudo o que consegue dizer.
— Minha garota é demais — Cameron disse um pouco alto,
mas sem escândalo, fazendo todos rirem.
— Neji — a diretora o chamou —, sra. Geórgia, sr. Anthony, por
gentileza — disse no mesmo tom que chamou Neji —, Rebecca,
esses são os diretores das escolas do estado de Los Angeles.
Geórgia fez questão de ver pessoalmente a garota que a
ultrapassou — explicou.
Meu queixo caiu.
— Estou impressionada, fico feliz em ter alguém tão inteligente
para representar essa escola — ela apertou minha mão com um
sorriso no rosto.
A alegria dela era contagiante, e ela era linda e tão elegante que
eu estava quase babando.
— Me desculpe tirar o título da senhora — disse envergonhada
e ela gargalhou.
Os alunos conversavam entre si em voz baixa, mas Cameron
não parava de me olhar.
— Esse é Anthony, foi quarterback na época de Geórgia —
disse a diretora —, sabe com quem ela namora, Anthony?
— Tenho uma leve suspeita — Anthony riu olhando Cameron e
quando me olhou, deu uma piscadela —, seja bem-vinda, sei que
será uma ótima representante de Liberty. Marcaremos uma reunião
nas próximas semanas com vocês dois — disse revezando o olhar
entre mim e Neji. — Desejamos boa sorte no campeonato do Fênix,
sei que vocês irão muito bem. Diretora López?
O homem era agradável e elegante em cada palavra que falava,
assim como Geórgia.
— Precisamos ir, temos muito a fazer. Entraremos em contato
para as reuniões — Geórgia disse e seu olhar se voltou para mim.
— Boa sorte, representantes — ela me abraçou de surpresa e
cumprimentou Neji.
A garota de cabelos encaracolados loiros os acompanhou até a
porta.
— Quem é ela? — Sussurrei para Neji.
— Paty, a nova secretária da diretora.
— Sentem-se, vamos começar a reunião — a diretora pediu
com voz suave.
Me sentei entre Cameron e Neji.
— Fique tranquila e apenas preste atenção em tudo, cada um
vai apresentar seu projeto. Vou falar sobre o Fênix e você só precisa
anotar coisas importantes — Neji me entregou uma prancheta — e
depois vamos juntar nossas anotações, daremos um feedback
sobretudo para a diretora, o que concordamos e o que não
concordamos. Dependendo do que falarem, até mesmo no grêmio,
nem Karen poderá passar por cima de você. Como tenho o Fênix,
você será a principal representante e eu o seu segundo. Não se
preocupe agora, prometo explicar tudo depois — Neji disse
apressadamente.
Mesmo com toda a pressa, entendi cada palavra que ele disse
tomando consciência da grande responsabilidade que tinha em
minhas mãos.
— Você consegue, amor — Cameron deslizou a mão em minha
coxa e eu a empurrei.
— Preciso me concentrar, capitão. Não fala comigo agora, você
tira meu foco — e ele riu beijando meu rosto.
E a reunião começou.

Neji disse pelo menos cinco vezes que estava feliz por eu ser a
nova representante porque Karen sempre implicava com tudo o que
ele falava e tentava beneficiar apenas o grêmio.
Eu e ele separamos os projetos, o que cada um ficaria
responsável.
Ele não gostava de esportes e quanto a isso, tinha meu pai e
Cameron para me ajudar. Ele também se recusou a falar com
Katherine sobre as líderes e com Karen sobre o grêmio, sabia que
nisso Natalie estaria comigo. Sendo assim, a separação ficou:
Neji: aulas de pintura, de dança, teatro, coral e o Fênix;
E eu: os esportes — futebol americano, futebol das meninas e
natação —, as líderes, o grêmio e o jornal.
— Agora sim eu vou treinar — Cameron disse beijando meu
pescoço quando parei em frente ao meu armário, suspirei com seu
toque e suas mãos deslizaram em minha cintura —, te vejo mais
tarde?
— Sim — lhe dei um selinho rápido e ele me virou de frente.
Seus lábios encontraram os meus com desejo, ele os roçou nos
meus e agarrou meu lábio inferior com os dentes.
— Cameron… — apertei sua cintura tentando controlar minha
respiração.
— Tchau, representante — sussurrou em meu ouvido.
— Tchau, capitão — arranhei seu braço.
Ele me apertou pela última vez e me soltou saindo de perto, me
dando fôlego.
— Melissa foi burra, devia tê-la empurrado mais forte e as duas
teriam caído na piscina! Mas não, ela é fraca demais — Karen disse
impaciente. — Eu estou cansada de você, Malik.
Olhei Karen extremamente surpresa e, por algum motivo,
decepcionada. Sempre a achei linda, seus traços delicados davam
um charme a sua aparência e ela definitivamente não precisava ser
mais uma a brigar por status.
Fechei meu armário e a olhei.
— Você também vai começar com isso por causa de Cameron
ou o quê? — questionei cruzando os braços.
Ela deu passos para frente como se quisesse me intimidar, mas
me mantive imóvel e olhando em seus olhos.
— Você acha que eu sou idiota? Que brigo por garotos? Isso eu
deixo para Melissa que quer superar a irmãzinha! Você, Rebecca,
você chegou aqui tomando tudo. Rebecca, a nerd que todos
gostam, que vai entrar facilmente em Stanford, que salvou
Cameron, que vai ser rainha do baile, que é a mais inteligente, a
nova representante, a capitã… Rebecca, Rebecca e Rebecca —
disse enojada. — Vou colocar essa escola em ordem e todos vão
me agradecer. Você tirou tudo da gente, tirou Cameron que era o
melhor meio de entrar em Stanford e...
— Mais alguma coisa, Karen? — questionei depois de suspirar.
— Eu devia saber que aquelas burras não serviam para nada!
Mas estou ansiosa para ver sua reação — ela deu outro passo para
frente ficando ainda mais próxima de mim — quero ver se vai
aguentar sozinha ou se vai ir correndo para o seu namoradinho, já
que precisa dele para tudo.
Balancei a cabeça negativamente.
— Boa sorte com isso, Karen — foi tudo o que disse antes de
sair de sua presença.

Pelo que Neji me disse, ser representante requer ficar na escola


depois do horário, acompanhar tudo, ouvir os alunos e seus
projetos, ainda tinha os meus estudos… estava decidida a falar com
os meus pais e parar de trabalhar, sabia que não aguentaria tudo.
— Andrew está te esperando no escritório — Esme avisou.
Concordei tirando o avental de minha cintura.
Bati na porta de seu escritório e entrei logo em seguida.
— Licença — ele estava tão focado nos papéis que não
levantou os olhos.
— Fique à vontade — disse ainda sem me olhar, fechei a porta
e me sentei em sua frente —, tudo bem? — Ele me olhou
rapidamente, apenas concordei balançando a cabeça e ele voltou os
olhos para os papéis. — Precisamos fechar o caixa de ontem e o de
hoje. Tudo bem pra você? — Seus olhos voltaram para mim.
— Sim, sem problemas.
Ele me entregou o notebook.
Ficamos uma hora apenas trabalhando, não trocamos uma
palavra se quer sobre nenhum outro assunto, apenas sobre o
trabalho.
— Terminei — disse salvando as planilhas.
— Obrigado — agradeceu pegando o notebook e olhando as
planilhas —, está dispensada, peça para Esme fechar a lanchonete
com Joe, por gentileza? — Pediu profissionalmente.
— Peço sim — me levantei e caminhei até a porta, mas não sai,
me virei o olhando —, vai ser assim agora? Eu e você?
— Sou seu chefe e você uma funcionária muito competente, se
é sobre isso que se refere, sim, será assim — disse mantendo o tom
profissional, mas não me olhou.
— Andrew…
— Está dispensada, Rebecca — disse firme e finalmente me
olhou.
Busquei seus olhos, mas não consegui entendê-los.
— Chefe — o chamei com profissionalismo e vi seu incomodo,
ele odiava quando o chamava de chefe, mesmo tendo acabado de
falar que era —, amanhã eu…
— Eu sei, tudo bem — disse em tom calmo e monótono —, vou
estar aqui de manhã — ele me olhou.
— Vai para a competição? — questionei me lembrando que em
uma de nossas conversas ele tinha prometido que iria.
— Te espero amanhã de manhã com a declaração — disse e
voltou a olhar os papéis.
Abri a boca para falar, mas desisti, não tinha motivos para
perguntar mais nada.
Sai de sua presença, organizei minhas coisas, troquei minhas
roupas e me despedi de Esme e Joe.
Dirigi um pouco sem rumo e avisei minha mãe de que chegaria
um pouco mais tarde. Cheguei na ponte que Cameron me trouxe há
dias, olhei o lago ao meu redor e me deixei pensar sobre tudo o que
estava acontecendo desde a minha chegada em Los Angeles.
Mas agora, não era simples como antes, tinha a faculdade para
pensar, Cameron, minha família, o Fênix, Cameron, diabetes,
Liberty e de novo ele…
Era provável ele ter mais chance de entrar em Stanford do que
eu, não estava estudando como antes e talvez isso me impediria de
entrar na universidade.
Tinha Yale, Cambridge e Oxford como opções, mas Stanford,
onde meus pais se formaram, era para lá que eu queria ir.
Mas e se não for? Se ele for e eu não? Seria o nosso fim?
Sabia que um namoro a distância estava fora de cogitação para
nós dois. Isso doeria… a despedida, vai doer.
Chorei com esse pensamento e decidi dispensá-lo por hora.
E tinha Andrew… eu devia odiá-lo, mas ele mudou tanto. Me
ouvia e me aconselhava sobre meu futuro, dizia para nunca desistir.
Talvez ele tivesse sentimentos por mim como Esme disse e ainda
assim era um ótimo amigo.
— Ei gostosa — ouvi alguém gritando e aquilo me deixou com
medo.
Olhei para trás e vi dois garotos.
Meu coração disparou de medo e a única coisa que consegui
fazer, foi entrar no carro e sair o mais rápido dali me certificando o
tempo todo de que ninguém estava me seguindo.
Eu odiava isso.
Ter medo de homem o tempo todo, não poder ficar em paz
sozinha, ter medo quando começava a anoitecer.
Odiava ter que passar por esse tipo de coisa.

Cheguei em casa e ouvi o barulho da bola de basquete batendo


contra o chão.
Beijei minha mãe e peguei Louis no colo para que ela pudesse
dar mamadeira para Elo.
— Tudo bem, docinho? — Ela passou a mão em meu rosto que
provavelmente estava avermelhado pelo choro.
— Tudo sim, só precisava ficar sozinha — expliquei e ela
entendeu que eu não queria falar sobre. — Mãe? — A chamei
quebrando o silêncio.
— Sim, meu bem — disse voltando a atenção para mim.
— Sou a nova representante de Liberty — ela abriu um sorriso
de orelha a orelha e colocou Elo no carrinho.
— Não poderia ficar mais orgulhosa — ela me abraçou com
cuidado por eu estar com Louis no colo —, López me contou sobre
a aluna nota 100 — ela bateu palminhas animadas e sorriu —, você
é incrível, querida, seu pai até chorou de felicidade.
— Obrigada — disse com um sorriso largo no rosto, mas ele se
desfez. — Mas… não acho que vou conseguir conciliar com o
trabalho — suspirei desanimada. — Gosto de ter o meu dinheiro,
mas meus estudos são mais importantes.
— Docinho, te apoiamos a começar a trabalhar porque
sabíamos que queria seu próprio dinheiro, mas avisamos que os
estudos viriam estão em primeiro lugar e isso não vai mudar. Seu
pai fica com a mão coçando para voltar a transferir o dinheiro para a
sua conta como fazíamos antes, ele com certeza não vai se
importar.
— Não queria deixar o trabalho — admiti.
— Queremos o melhor para você, sabe que tem nosso apoio e
na faculdade você consegue trabalhar lá dentro mesmo — ela beijou
minha cabeça e eu sorri.
— Vou ver como vai ficar essa semana — suspirei e ela
concordou.
Ouvi gargalhadas vindas da pequena quadra de basquete que
temos depois do estacionamento. Era composta por apenas uma
cesta.
A risada dele, eu a reconheceria em qualquer lugar.
Me aproximei da quadra e vi Isaac, Cameron e meu pai
jogando. Estavam rindo à toa, Isaac ficava tão bem quando estava
distraído, papai parecia leve e contente e Cameron… estava de tirar
o folego com a regata preta mostrando seus bíceps, seu corpo
avermelhado e suado.
O olhei entendendo um pouco do seu significado para mim.
Cameron era estressado com muita gente, se irritava fácil, era o
mais novo motivo da minha preocupação, mas ele era a ausência do
caos.
Ficava irracional com ele, não precisava pensar tanto, podia ser
eu mesma e parecia não existir problemas quando estava em seus
braços, e eu não precisava ter medo dele ultrapassando os meus
limites, as coisas pareciam melhores com ele.
Louis sorriu me olhando e tentou falar alguma coisa, ri o
olhando.
— É, talvez eu esteja muito apaixonada — passei a ponta de
meu nariz em sua bochecha.
Entrei novamente em casa sem ser vista. Coloquei Louis no
bebê conforto onde minha mãe conseguia vê-lo e subi para o
quarto.

Estava no mundo de A Elite, chorando toda vez que Maxon


ficava com alguém que não fosse a América, quando alguém bateu
na porta.
— Está aberta — avisei ainda com os olhos focados no livro.
A porta se abriu e eu olhei, perdendo o foco.
Não estava mais com as roupas de quando jogava basquete,
seu rosto não estava molhado de suor e nem avermelhado, mas
seus cabelos pareciam úmidos e pouco escuros.
Ele fechou a porta e se sentou ao meu lado.
— Soube que Karen surtou com você — comentou tocando
minhas pernas cobertas pelo edredom.
— Nada importante — dei de ombros fechando o livro.
— Querida? — Mamãe disse após dar dois toques na porta e
abri-la. — Sua avó não está se sentindo bem, vou deixar as crianças
na sua tia e ir vê-la. Fica bem?
— Me dê notícias? — Ela concordou se aproximando e beijando
minha cabeça — Isaac vai para onde?
— Para a casa de Jeff — concordei —, pode vir aqui fora só um
minutinho?
Concordei me levantando e saindo do quarto, paramos no
corredor, ao lado da porta.
— Ele vai dormir aqui? — questionou apreensiva.
— Na verdade, nem eu sei — ela suspirou.
— Confio em você, mas tome cuidado, por favor, não faça nada
que se arrependa depois — avisou e notei sua preocupação.
A abracei rindo.
— Não vamos fazer nada, mas quer que Jeff durma aqui?
Ela riu.
— Vou pedir para Amora trazê-lo.
Concordei e ela se despediu beijando meu rosto.
Jeff tinha treze anos e amava ficar aqui em casa.
Entrei no quarto me sentindo um tanto constrangida, mas não
falaria o ocorrido a Cameron.
— Sua mãe está preocupada? — questionou olhando minha
estante de livros. — Não se preocupe, não vou dormir aqui — cruzei
meus braços.
— E nem vai dormir, não é?
Ele me olhou, riu se aproximando de mim e me puxou pela
cintura.
— Não se preocupe comigo.
— Não é só sobre você — menti acariciando seus braços
sabendo que daria certo —, eu caí de paraquedas no Fênix,
descobri que sou representante da escola, estou extremamente
preocupada e você — suspirei — as vezes me tira do sério, mas as
vezes me acalma, tenho competição amanhã, acha que não estou
com medo e apreensiva?
Ele olhava em meus olhos.
Era verdade, por mais que eu quisesse que ele descansasse,
era inevitável não sentir medo por participar de uma competição
televisionada e manter as medalhas da escola que não eram
perdidas há anos.
— Fica aqui… comigo? — Pedi acariciando seu rosto.
Ele tinha se rendido quando apertou minha cintura.
— Vai me dar um beijinho? — questionou descontraído e com
um sorrisinho maroto.
— Não senhor — ri quando ele me apertou ainda mais.
— Não custa nada tentar — disse com a mão em minhas costas
me empurrando contra si e aproximou os lábios do meu ouvido — e
eu não vou parar de tentar.
— E eu não vou parar de resistir — o provoquei.
— Você — ele deu um passo para frente e eu para trás — está
me desafiando? — questionou me pressionando contra a estante de
livros.
Me faltou ar, mas me recompus, não sabia com que força, mas
tinha conseguido.
— Esse desafio eu já ganhei — disse vitoriosa.
Não sairia por baixo mesmo me sentindo fraca.
Ele sorriu afundando os dedos em meus cabelos próximos da
nuca e roçou os lábios em meu pescoço.
— Eu não teria tanta certeza.
Seus lábios começaram a distribuir leves beijinhos em meu
pescoço até minha orelha. Apertei seus braços fechando os olhos e
me deixando levar pelas emoções, mas o empurrei antes que me
deixasse levar demais.
— É, acho melhor você não dormir aqui — comentei retomando
o fôlego e me afastando dele ainda sentindo meu corpo todo
arrepiado.
— Agora eu faço questão — disse rindo.
— Eu te odeio — afirmei saindo do quarto.
— Ah, eu bem acredito nisso — ele saiu do quarto.
Descemos as escadas e ficamos com Isaac assistindo um filme
enquanto esperávamos Jeff chegar.
— E aí Cameron — Jeff o cumprimentou como se fossem
amigos de anos —, prima! — Ele me abraçou forte.
Jeff era um amor de criança. Era o primo favorito de Isaac e a
minha prima favorita era a irmã dele, Nicolly.
— Desde quando vocês se conhecem? — questionei confusa.
— Já levei ele para jogar basquete — Cameron disse e eu o
olhei surpresa.
— Ah sim. Vocês estão com fome?
— Sempre — Isaac resmungou.
— Um bolinho de chuva seria ótimo, né Becca? — Jeff se jogou
no sofá tirando o tênis.
— Vou fazer — disse indo até a cozinha.
Cameron entrou logo após mim e talvez eu não o quisesse por
perto por motivos de estar desconfiando da minha própria
capacidade de resistência.
— Eu te ajudo — se ofereceu.
Suspirei pesadamente.
— Não precisa — disse amarrando o avental em minha cintura.
— Mas eu quero ajudar — rebateu se aproximando de mim e eu
desviei dele. — O que que foi? Fiz algo de errado? — O olhei e ele
parecia totalmente perdido.
Amarrei meu cabelo pensando em uma forma de afastá-lo e ele
riu.
— Becca — ele levantou meu queixo com os dedos —, por mais
que eu quero muito você, eu te respeito. Não vou forçar, não vou
ficar o tempo todo em cima. Quero te beijar? Quero te beijar! Gosto
de te provocar? Demais! — Disse com expressão de apaixonado. —
Mas não ao ponto de você ficar incomodada com uma simples ajuda
ou eu te deixar desconfortável e apreensiva! — Explicou acariciando
meu rosto com o polegar.
— Eu sei, desculpa, é só que…
— Não precisa pedir desculpas, está tudo bem — ele beijou
minha testa —, como que faz esse bolinho? — questionou se
encostando na bancada.
— Hora de dormir gente — avisei entrando na sala, depois que
os três estavam há uma hora e meia jogando. — Jeff e Isaac, vão
escovar os dentes e depois arrumar a cama.
— Mas… — Jeff começou.
— Não vou repetir — o cortei e Cameron riu.
Isaac desligou o videogame bufando, ele e Jeff arrumaram as
coisas e subiram para o quarto. Cameron quem ajudou os meninos
a arrumarem suas camas e os colocou para dormir.
— Eu vou para a casa — anunciou entrando no meu quarto.
— Teimoso — bufei o olhando.
Estava sentada na cama com as costas encostadas e a coberta
em cima de mim.
— Aprendi com a melhor — ele riu se aproximando e me dando
um selinho, revirei os olhos e ele se sentou abraçando minhas
pernas —, é sério, bê, não estou com sono e não vou atrapalhar o
seu, achei que cansaria jogando com os meninos, mas não.
— Te faço dormir em dois minutos — desafiei e ele riu.
— Não vai adiantar, caramelinho — ri do jeito que ele falou.
— Tudo bem — me rendi a desistência —, pode ficar só um
pouquinho? — Entrelacei meus dedos nos dele, observando seus
olhos cansados e avermelhados.
Ele riu convencido pela minha insistência, tirou o tênis e se
deitou ao meu lado. Liguei a tv e o abracei pelos ombros, Cameron
deitou a cabeça em meu peito e nem estava prestando atenção no
filme aleatório que coloquei.
Comecei a acariciar seu cabelo, deslizei as unhas em sua nuca
levemente o vendo sorrir e desci a mão por suas costas, as
arranhando cuidadosamente.
— Talvez eu durma um pouco — ele murmurou.
Sorri voltando a acariciar seus cabelos enquanto cantava
baixinho a música Kiss Me do Ed Sheeran e seu corpo se arrepiou
quando deslizei novamente as unhas em suas costas.
Cameron se arrumou um pouco para cima, o suficiente para
roçar o nariz em minha bochecha enquanto eu cantava e passou a
ponta do nariz trilhando um caminho da minha bochecha até meu
pescoço.
Estava quase em cima de mim quando começou a beijar meu
pescoço com leveza, entretanto, suas mãos apertavam minha
cintura com força.
Prendi a respiração, me faltou fôlego quando sua mão subiu até
o meu cabelo. Apertei sua cintura sentindo meu ar se esvair. Sua
respiração quente batia em minha nuca.
— Parou de cantar por quê? — Disse em um sussurro.
Eu estava em êxtase. Ele me olhou e selou graciosamente os
nossos lábios com um sorriso vitorioso. Cameron se deitou ao meu
lado e eu sabia que seus olhos estavam presos em mim, mas
estava totalmente desnorteada e perdida em meus próprios
pensamentos. Me virei ficando de costas para ele finalmente
soltando a respiração. Minha vontade era de gritar de euforia.
— Boa noite, amor — sussurrou me abraçando e me
aproximando dele.
— Boa noite — disse quase sem som.
Acordei e passei a mão na cama a sentindo vazia. De

imediato abri os olhos e não vi Cameron ao meu lado.


Me levantei e caminhei até o banheiro deixando a água quente
descer pelo meu corpo.
Tentei pensar em mil coisas, ocupar minha mente com os
projetos que aconteceriam na escola hoje, mas só me vinha o último
sonho que tive com Cameron.
Estávamos em um salão de festas, dentro de um enorme e
elegante palácio. De início, havia várias pessoas nos olhando
sentadas em mesas redondas com toalhas brancas e azuis. Mas,
quando toquei a mão de Cameron, todos sumiram. O salão era
nosso. Uma melodia romântica ecoava pelo salão, mas não havia
banda, apenas eu e ele.
Meu vestido era branco rendado e longo, como o de uma noiva
e meus cabelos amarrados em um penteado perfeito.
Cameron estava com um terno azul escuro, o rosto sereno e
alegre.
Nossos sorrisos tinham a mesma intensidade. Nossos rostos
cobertos pela mais pura felicidade. Ele me girou e me tomou em
seus braços fortes.
— Eu te amo — sussurrou selando nossos lábios com
suavidade e, quando eu estava prestes a respondê-lo, fui puxada
para longe.
De repente eu estava no campus de Yale, o qual só vi por foto,
Cameron havia sumido e eu, agora, estava sozinha.
Nem pessoas, nem palácio, nem vestido de noiva. Apenas eu
com uma calça jeans rasgada, um casaco preto e tênis cinza.
O procurei pelo campus, perguntei a pessoas desconhecidas
onde estava o meu amor, mas ele havia desaparecido.
Gritei seu nome, o busquei com os olhos, mas ele não veio.
Ele não viria mais… eu sabia, por algum motivo, eu sabia.
Estremeci ao repensar em todo o sonho.
Parecia real, eu sentia a dor de perdê-lo, ali, diante dos meus
olhos.
As lágrimas descerem junto com a água do chuveiro, pensar em
nunca mais vê-lo, eu sentia como se esse sentimento fosse me
sufocar. Desliguei o chuveiro dispersando todas as lembranças
desse sonho… ou devo chamá-lo de pesadelo?
Desci as escadas com um vestido gasto que amava usar em
casa, minha avó quem havia feito, e vi minha mãe com Elo e Louis
em seus bebês conforto.
— Bom dia — cantarolei beijando o rosto dela.
Ouvi risadas vindas da cozinha e foi inevitável não as
reconhecer.
Papai, Isaac, Jeff e Cameron. As risadas eram altas e gostosas
de serem ouvidas.
— Bom dia querida — ela sorriu pegando Elo e me entregando
a garotinha risonha —, tudo bem ontem?
Ela me olhava como se tentasse me ler, sorri concordando.
— Como está a vovó? — questionei brincando e dançando com
Elo enquanto cantarolava, ela sorria sem parar.
— Está ótima. Passou mal por causa da diabetes, mas disse
que precisava tomar uma coca cola e comer um x-burguer
extragrande — mamãe disse negando com a cabeça, mas não
deixou rir da situação. — Está com sua tia Ada agora, vai passar um
tempo na Suíça.
— Vão levar a diabética para a cidade do chocolate? — Ela me
olhou rindo.
— Há-ha-ha, engraçadinha — disse se levantando com Louis.
— Mulheres e garotinho — disse olhando Louis — da minha
vida, vamos tomar café, hoje o dia será cheio — papai replicou
entrando na sala com Cameron.
— Bom dia — Cameron beijou o topo de minha cabeça com a
mão em minha cintura me puxando discretamente.
Me sentia feliz e leve por vê-lo aqui, sentir seu braço em minha
cintura e sua mão me apertando com firmeza... era real, ele estava
aqui e isso me fez suspirar de alívio.
Papai nos olhou e Cameron de imediato levantou as mãos como
se estivesse diante da polícia.
— Dormir no mesmo quarto já não foi o suficiente? —
questionou meu pai como se aquilo ferisse profundamente o seu
coração e Cameron continuou com as mãos levantadas. — Na
minha época…
— Acho melhor nem começar a falar o que fazíamos, Owen —
mamãe alertou lançando-me uma piscadela, fiz expressão de nojo e
ela riu dando um beijinho em meu pai.
— Bons tempos — papai disse abraçando minha mãe pelos
ombros, o ar carregado de insinuações que fizeram eu e Cameron
rirmos de vergonha.
— Gente, pelo amor de Deus, são nem nove horas da manhã —
reclamei e eles riram.
Meu estômago estava gritando de fome e eles caminharam até
a cozinha.
— Cameron, abaixa os braços — ri tocando em seus braços.
Ele riu concordando e pegou Elo no colo.
Com o braço desocupado, me puxou pela cintura selando
nossos lábios e Elo deu um gritinho como se estivesse reclamando,
a olhamos e ela sorriu.
— Você fica linda de vestido, minha princesa — disse
calmamente sorrindo.
Sempre achei brega ser chamada de princesa, mas vindo dele
era perfeito.
— Obrigada, amor — agradeci e lhe dei um selinho.
Caminhamos até a sala de jantar, a mesa estava pronta com as
coisas para comermos. Elo estava elétrica porque Cameron não
parava de brincar com ela.
Me sentei ao lado dele após colocar Elo no carrinho e papai
falava animadamente sobre sua época com Arthur no time de
Liberty.
Mamãe me contou essa história uma vez e aproveitou para me
falar que com a minha idade ela era bem diferente de mim. Disse
que ela e tia Ada — sua irmã mais velha — deram muito trabalho
aos meus avós.
Meus pais começaram a ficar na época rebelde da minha mãe,
ela não queria saber de nada e ele muito menos. Se encontravam
nas madrugadas até serem descobertos, as famílias se odiavam na
época, minha mãe ficou de castigo e meu pai invadia o quarto dela
no meio da noite para vê-la.
Meus pais eram o casal que todos acharam que seria apenas
uma paixão adolescente, mas aqui estão eles, a hippie e o jogador
de futebol americano, casados e com quatro filhos.
Uma das maiores verdades da minha vida era que quando os
pais eram liberais, os filhos eram mais tranquilos. Meus pais eram
liberais, porém, bem cuidadosos e minha mãe sempre conversou
sobre tudo, desde um beijinho até o sexo, ela nunca teve vergonha
de falar sobre, mas sempre teve muita cautela comigo.
Isaac, Jeff, Cameron e até mesmo o pequeno Louis, que não
entendia nada, estavam prestando atenção em meu pai. Cameron
colocou a mão em minha perna coberta pelo vestido longo e foi tão
natural que o olhei notando que ele nem se quer percebeu seu ato.
Toquei delicadamente em sua mão, ele a olhou, afastou de imediato
como se tivesse feito algo errado e voltou o olhar disfarçadamente
para meu pai.
— Vocês precisam se arrumar! — Mamãe disse me tirando de
meus pensamentos.
— Sim — me levantei com calma —, vocês vão para a
competição? — questionei encaixando a cadeira no vão da mesa.
Cameron me olhou de cima abaixo e voltou o olhar para os
meus olhos.
— Claro que sim — papai disse rindo.
— Eu já vou indo também — Cameron disse se levantando —,
vejo vocês mais tarde.
Saímos da cozinha com todos os olhares em nós, paramos na
porta, sozinhos, e ele me olhou.
— Deixei minhas coisas no seu quarto — comentou com um
peso incomum em sua voz.
— Sim, claro — concordei subindo as escadas até meu quarto.
Assim que entramos, ele encostou a porta com cuidado e me
puxou pela cintura antes mesmo de eu pegar suas coisas para lhe
entregar.
— Eu não percebi o que eu fiz, sério — disse olhando meus
olhos —, virou costume e eu me esqueci totalmente que você
estava de vestido, não queria e nem quero ultrapassar seus limites,
não quero te incomodar e… — ele estava envergonhado, suas
bochechas estavam coradas e seu olhar carregado de sinceridade.
— Cameron — acabei rindo, peguei em suas mãos e entrelacei
os nossos dedos —, não me incomodou, tudo bem, se acontecer
algo que me deixe desconfortável, te falarei — ele ainda me olhava
com culpa —, isso não me deixou incomodada, amor, sério — selei
nossos lábios.
Um sorriso se formou em seu rosto, ele tentou disfarçá-lo, mas
não conseguiu e logo deu espaço a um sorriso largo e iluminado.
Ele suspirou e me puxou para um abraço.
Meu coração disparou e eu me aconcheguei mais em seu
abraço. Ficaria ali o dia todo se pudesse, mas havia outras coisas a
serem feitas.
— Cameron — o olhei —, ainda preciso passar na lanchonete
para levar a declaração da minha falta de hoje — me afastei. —
Daqui a pouco estarei pronta! — Me soltei dele.
— Para dizer sim no altar?
Não consegui deixar de sorrir quando ele segurou em minha
mão.
— Para ir à escola, engraçadinho.
Ele me puxou selando nossos lábios.
Pensei no sonho, pensei em tudo e o abracei com firmeza e
precisão.
— Ei, tudo bem? — questionou acariciando meu rosto com
máximo cuidado, como se eu fosse tão frágil que quebraria se ele
não fosse cuidadoso.
Sorri selando nossos lábios.
— Tudo, vou me arrumar — o avisei beijando sua bochecha.
Ele me segurou pela nuca e selou nossos lábios outra vez com
calma enquanto apertava minha cintura com firmeza.
— Queria ficar assim o resto do dia com você — sussurrou
quando me abraçou pelos ombros.
O senti afastando meus cabelos da nuca e beijando o topo de
minha cabeça.
— Eu também — afirmei arriscando roçar meus lábios em seu
pescoço como ele sempre fazia comigo.
Ele me segurou com os dedos em minhas bochechas e um
sorrisinho no rosto.
— Esteja pronta em vinte minutos.
Avisou e saiu do quarto mais rápido que o normal.

— Eu falei que não precisava me trazer, podia muito bem ir


sozinha até a escola depois daqui — reclamei o olhando após ele
abrir a porta do carro para mim.
— Temos dez minutos para chegarmos na escola, amor, estou
esperando — disse me olhando.
Revirei os olhos e ele riu.
— Você é impossível mesmo.
— Penso a mesma coisa sobre você — replicou quando sai do
carro.
Entrei na lanchonete e quem estava atendendo era Raquel.
— Bom dia Ra…
— Andrew está te esperando no escritório dele — avisou fria e
sem me olhar.
Subi as escadas sem me importar muito, Raquel nem sempre
estava de bom humor para recepções.
Dei duas batidas na porta e ele a abriu.
— Bom dia — disse me dando espaço para entrar.
— Bom dia, Andrew — disse sorrindo.
— Está tudo bem? — questionou caminhando até sua mesa.
— Um pouco nervosa, confesso — respondi tirando a
declaração de minha bolsa e a entreguei.
— Boa sorte, Becca — disse me olhando com sinceridade —,
sei que você vai ir bem.
— Você não vai? — questionei o olhando.
Antes dele ver eu com Cameron, conversávamos bastante.
Durou duas semanas, mas passar dias conversando com ele me
deu espaço para conhecê-lo, mesmo que pouco. Ele se desculpou
infinitas vezes pela forma que foi um babaca comigo.
Conversamos sobre a faculdade, sobre o futuro, sobre eu ter
medo de toda a pressão e ele soube dizer as coisas na hora certa,
mas depois do namoro assumido, ele optou por se afastar e se
fechar totalmente, me lembro perfeitamente do que Esme me disse
e doía perceber que ela estava certa.
— Não.
Abri a boca para me despedir, vendo que não adiantava insistir,
mas parei quando ele se levantou e se aproximou.
— Tenho certeza de que Cameron é melhor do que eu com
você — afirmou e eu me levantei o olhando.
— Não é sobre isso, Andrew. Éramos amigos e agora…
— Acha que está pronta para essa conversa? — questionou
com mansidão.
Engoli em seco e abaixei o olhar, suspirando.
— Te desejo boa sorte, conversaremos outro dia.
Ele abriu a porta.
Não, eu não estava pronta para aquela conversa, sabia que
tudo mudaria entre nós principalmente quando eu dissesse que não
sentia o mesmo por ele, independente do que ele sentia por mim,
não era recíproco. Meu coração era totalmente — e
assustadoramente — de Cameron, eu jamais escolheria outra
pessoa além dele.
Sai da sala.
Era melhor assim, se Andrew sentia algo por mim e eu não o
queria, não tinha motivo para prendê-lo a mim, nem mesmo na
amizade, eu estaria prolongando seu sofrimento e isso não era
justo.
— Vamos? — questionei me aproximando de Cameron que
estava fora do carro.
Ele encarava a janela do escritório da lanchonete fixamente.
Olhei na mesma direção e Andrew estava com os olhos
fincados em mim acompanhando cada ação minha.
— Vamos — disse colocando a mão em minhas costas, abriu a
porta do carro e quando a fechou, me olhou pela janela aberta —,
eu jamais vou confiar nele com você — afirmou com os dentes
serrados, deu a volta e entrou no carro.
— Não vamos nos preocupar com isso — entrelacei nossos
dedos —, temos coisas mais importantes a serem feitas.
— Não tem como ignorar isso, Rebecca — disse com os olhos
fixos na estrada após dar partida e soltar minha mão —, não tem
como não reparar o jeito que ele te olha, o jeito que ele te quer —
Cameron tentava controlar sua raiva a cada palavra que saia de sua
boca.
Ficamos em um silêncio desconfortável por instantes.
— Se você quiser começar com isso, a gente começa — o olhei
quando ele parou o carro no estacionamento da escola —, mas não
agora — disse tentando manter meu tom calmo.
— E vai ser quando? Porque sempre que começo a entrar
nesse assunto, você desvia — disse mantendo um tom calmo, mas
havia indícios de irritação.
Cameron estava certo, eu nunca entrava naquele assunto.
Nunca foi de fato necessário, não via necessidade de perdermos
tempo falando de alguém que eu claramente não tinha afeto
amoroso, apenas amizade e agora nem tinha mais isso.
— Cameron, você sabe muito bem que eu não dou liberdade a
ele em nenhum momento, somos amigos — disse sabendo que
esse assunto me irritaria —, apenas isso.
— Ele sabe disso? — questionou parando o carro no
estacionamento da escola.
O olhei sentindo minhas bochechas e meu corpo todo queimar.
— O que está querendo dizer? — questionei respirando fundo.
— Você não dar liberdade não significa que ele não tente algo
— disparou.
Seu rosto, geralmente sereno, se contorceu de raiva.
— Já deixei claro para ele que não quero nada amoroso e ele
respeita isso. Gosto da amizade dele e não vou me afastar de
ninguém por não ter motivos, eu nunca te pedi isso com ninguém.
— Nunca foi necessário — rebateu.
— Cameron, você fala com todas as garotas que dão em cima
de você, Katherine, Lana e Karen insistem mesmo que você não dê
liberdade a elas, é o mesmo caso e eu não fico implicando com
ninguém mesmo sabendo da situação! — Afirmei conseguindo
controlar meu nervosismo. — Andrew não fica em cima de mim
como as garotas ficam em cima de você e…
— Está defendendo ele? — O olhei incrédula e ele desviou os
olhos de mim. — Não sei por que estamos discutindo sobre isso,
é só um namoro falso mesmo — disse calmamente tentando
assumir o controle da situação.
Senti uma dor como a de uma facada com suas palavras e, ao
mesmo tempo, senti raiva, mas não perderia minha compostura.
— Aí que bonitinho — debochei.
— O quê? — Ele pareceu confuso e ofendido.
— Você sendo super infantil — ironizei. — Viu que estava
perdendo o controle e apelou para isso? Ah, Cameron, não seja
baixo — afirmei saindo do carro.
Ia sair andando até a escola, mas retornei até sua janela
abaixada, seu rosto estava avermelhado. Aproximei meu rosto do
seu e ele fincou os olhos nos meus.
— Namoro falso? — Ri o contrariando e o vendo ficar ainda
mais irritado — De todas as suas tentativas de provocações, essa
foi a mais idiota — disparei e me afastei indo até a entrada da
escola.

— Atrasada — Luce disse assim que entrei no laboratório de


física.
— Desculpe, eu estava em uma leve discussão com o capitão
do time — rebati com uma superioridade fingida.
— Tanta hora para discutir e o casal do ano resolve fazer isso
agora? — questionou em tom provocativo, me segurei para não rir.
— Lucinda, me erra. Toma conta da sua vida, menina chata —
disse fingindo impaciência e ela mostrou o dedo do meio
começando a rir.
— Ridícula.
— Maravilhosa — debochei.
— Física Quântica, né gente? — Samuel interrompeu fazendo
todos rirmos.
Me sentei ao lado de Neji.
Gostava de como Luce tinha demonstrado querer minha
amizade, parecíamos até família. Nunca gostei de amizades que
tinha que pisar em ovos e ela claramente não era assim.
— Está tudo bem? — Neji questionou segurando em minha
mão, demonstrando preocupação.
— Está sim — respondi com firmeza para não dar abertura a
outros questionamentos.
Mas no fundo eu não me sentia tão bem.
Cameron tentaria me deixar mal sempre que perdesse o
controle de alguma discussão? Ele jogou na minha cara que o
namoro era falso, vai ser assim quando não concordarmos em algo?
E começar uma discussão horas antes de algo extremamente
importante para mim acontecer? Isso não me deixava nada bem.

Em dez minutos a competição começaria.


O apresentador Gerald estava lendo suas fichas com calma, ele
era um homem alto, de cabelos castanhos escuros e aparentava ter
em torno de trinta a quarenta anos. Os traços de seu rosto eram
firmes, mas, por trás daquela sua imagem, havia um homem
simpático que desejou boa sorte a nós e aos competidores da
escola Baltimore de um jeito adorável. A forma com que ele
conversou com Neji e Samuel deram indícios de que nós éramos os
favoritos de uma competição que mal se iniciou.
Eu imaginava um ambiente totalmente diferente com a plateia
vazia e poucas câmeras, mas me enganei, eles levavam aquilo bem
a sério. A competição seria gravada e passada no sábado, as oito
da noite, no canal 97, um canal carregado pelo conteúdo que
chamam de matéria nerd. Era como um canal de curiosidades sobre
várias coisas e cada dia da semana tem uma categoria separando
os assuntos.
Os jogos do Warriors seriam televisionados e passados ao vivo
no canal 385.
Por algum motivo as pessoas daqui gostavam de assistir os
jogos dos times escolares, vinham como entretenimento e alguns
diziam que adolescentes jogavam com tanta paixão e determinação
que era impossível não gostar de assistir. Papai mesmo disse que
os jogos de hoje em dia eram superficiais e não transmitiam tanta
emoção.
Conseguia entender perfeitamente o que ele queria dizer, os
treinos desde que Cameron voltou para o time eram puxados e ele
treinava como se estivesse no jogo, nunca o vi jogar em uma
competição, mas, pelo treino, quem fosse seu oponente que orasse
no mínimo sete vezes para não se quebrar todo.
Olhei o relógio em meu pulso e faltavam apenas cinco minutos.
O palco do teatro estava com cortinas pesadas na cor vinho com
detalhes dourados e estavam fechadas como se esperassem uma
apresentação de uma peça teatral.
Me sentia ainda mais nervosa quando vi que os bancos do
extenso lugar se ocupavam cada vez mais. Vi os alunos de Liberty,
os de Baltimore, a diretora bem na frente conversando com um
homem de postura firme que a olhava e concordava dando algumas
risadas discretas. Passei meus olhos pela plateia e vi meus pais,
mamãe mandou um beijo para mim e os lábios de meu pai disseram
um "você consegue" sem som; Calleb sorriu acenando com a
cabeça me dando um certo apoio, ao seu lado estava Lana, pela
primeira vez ela não me olhou com superioridade, parecia querer
me desejar boa sorte, mas não sabia como; Karen e Katherine
conversavam algo e Katherine parecia estressada.
Todas as líderes estavam presentes, algumas com olhares
críticos quanto ao evento e outras impacientes. O time também
estava presente, o treinador estava na segunda porta a direita
conversando com a professora de literatura.
Procurei mais uma vez na plateia e ele não estava lá.
— Vamos, já vai começar — Neji avisou.
Concordei sentindo minhas mãos suarem e meu coração
disparar.
No alto do palanque havia uma tribuna no centro com dois
microfones grudados, ao lado direito estava uma bancada com uma
toalha na cor vinho, na frente estava escrito Liberty High School.
Havia plaquinhas com os nossos nomes em cima da bancada e nos
sentamos. Neji, eu, Luce e Samuel. Atrás de cada nome tinha um
botão vermelho e na frente um microfone grudado na mesa, para
cada competidor responder as perguntas.
Ao lado esquerdo estava outra bancada, com as mesmas coisas
que a nossa, porém, com a toalha verde e o nome Baltimore High
School.
O grupo, que era nosso rival, passou pela nossa mesa e nos
encarou com superioridade.
— Boa sorte, japa — um garoto de olhos firmes disse com ar
falso olhando Neji, que preferiu ignorá-lo.
— Bom — Gerald parou no meio, de forma que ambos os
grupos puderam vê-lo —, aos calouros, as regras continuam as
mesmas; aos novatos, os botões na frente de seus microfones
acenderam a cada pergunta feita, o primeiro a ser apertado fará os
demais se apagarem e o aluno poderá responder à pergunta feita,
não se pode responder uma pergunta se não tiver apertado o botão,
o microfone ficará sem som e a resposta será desconsiderada,
mesmo que certa. Desejo a vocês boa sorte e que vença o melhor
— disse empolgado e caminhou para trás da tribuna.
Natalie subiu no palco que ainda estava coberto pelas cortinas.
Ela segurava uma câmera em mãos, sorri para ela, sempre
amou fotografia e vê-la fazendo algo que realmente gostava me
deixava feliz.
Tiramos fotos dos grupos separados e de todos juntos com
Gerald. O professor Tomlinson e um professor de Baltimore também
tiraram fotos com a gente.
Nos sentamos em nossos lugares novamente, mesmo com
todos esses rodeios, não conseguia ficar tranquila, estava cada vez
mais perto de iniciar e acreditava estarmos atrasados. Só queria que
isso acabasse logo. Os olhares do grupo ao lado estavam fincados
em mim como duas facas. Não conseguia entender o motivo disso,
mas me deixava com um nó no estômago.
— Ela é a aluna nota cem? — Uma garota das garotas disse um
pouco alto.
Os olhei e desviei o olhar assim que perceberam meu ato
repentino.
— Sim, Becca, todos sabem sobre você. Geórgia contou a
todos os diretores das escolas estaduais em uma reunião ontem,
todos que vierem competir sabem disso — Neji parecia orgulhoso
em cada palavra que dizia, mas isso me deixava ainda mais
nervosa.
— Escutem, sei que tiveram pouquíssimo tempo para estudar,
mas vocês conseguem. Hoje está cheio, mas por ser a estreia, nas
próximas serão mais tranquilas. Sei que vocês vão conseguir, esse
é o melhor grupo que já tivemos. Becca, você é a aluna nota cem,
esse grupo está tranquilo, mas os próximos tentaram te intimidar,
acredito que não seja problema para você — disse sorrindo, suspirei
sorrindo e concordei. — Confio em vocês. Boa sorte a todos!
Natalie me lançou uma piscadela e um sorriso animado antes
de descer as escadas e sair. Segurei a mão de Luce e ela sorriu
aceitando o meu gesto, me deixando um pouco mais relaxada.
Ouvimos um barulho agudo como aviso de que começaria. As
cortinas se abriram e o teatro parecia ainda mais cheio, meus olhos
correram rápido pelo vasto lugar.
Andrew estava na segunda porta a esquerda, Rosie se
aproximou dele e o puxou para se sentar na primeira fileira com a
diretora López. Rosie sorriu animada para mim enquanto Gerald
começava o programa.
O amplo teatro tinha cinco portas, duas menores nas laterais e
uma maior de centro que era a entrada principal.
Ao lado de Elliot estava um lugar vazio e eu me senti frustrada
por aquilo. Olhei Natalie em busca de respostas e ela apontou com
o queixo para a segunda porta a direita.
E lá estava ele, me olhando com firmeza, admiração e algo que
não conseguia distinguir. Estava com os braços cruzados e usava o
moletom do time. Ele me encarava com seriedade, mas sabia que
no fundo queria que eu fosse bem.
Andrew me olhava sério também, mas seu olhar parecia um
pouco sofrido. Quando o olhei, ele desviou olhando na direção de
Gerald.
Afastei todos os pensamentos quando o apresentador disse que
começaria com as perguntas. Não tinha para onde correr, era
vencer ou vencer.
As perguntas começaram e o grupo de Baltimore se irritava toda
vez que conseguíamos responder uma pergunta e estava certa.
Estava 6 a 6 quando o grupo ao lado errou uma questão que
valia três pontos por ser a última e que seria repassada para nós.
— Gente, essa eu não sei — Samuel se queixou preocupado.
Luce e Neji se juntaram a ele com preocupação enquanto eu
pensava na questão.
— Becca? — Ouvi de longe Neji chamar.
Puxei o bloco de notas que ele trouxe e fiz sinal para que ele
esperasse um minuto.
— Vocês terão trinta segundos para responder à pergunta —
Gerald avisou.
— Pode repetir por favor? — Pedi alto o suficiente para que ele
ouvisse.
O salão todo estava tenso.
Gerald limpou a garganta e com muita calma repetiu a pergunta:
— Quais são: (a) a frequência; (b) o comprimento de onda e (c)
o momento de um fóton, cuja energia é igual à energia de repouso
do elétron?
Enquanto ele fazia a pergunta com muita calma, foquei minha
visão na última porta do teatro escrevendo o cálculo sem o olhar.
Papai me ensinou esse truque, rabiscar as anotações de qualquer
jeito, mas não me concentrar demais ao ponto de travar.
Assim que Gerald terminou a pergunta, apertei o botão
vermelho. Não tinha nem chagado a começar a contagem dos trinta
segundos. Não olhei ninguém, nem mesmo minhas anotações, as
respostas estavam em minha cabeça.
— (a) 1,24 x 1020 Hz; (b) 2,43 pm; (c) 0,511 MeV/c.
— A resposta está…
Gerald fez suspense, todos, a plateia e os grupos, o olhavam
apreensivos e ansiosos, assim como eu.
— Correta! — Disse eufórico a apontando para mim.
Sorri relaxando o corpo, não tinha me ligado no quão tensa eu
estava.
— Parabéns, Fênix, vocês estão na próxima fase da
competição.
O Fênix se levantou e me abraçou com uma animação fora do
normal; a plateia se levantou nos aplaudindo, a escola Baltimore nos
aplaudiu desanimados; o garoto do grupo ao lado que tinha falado
com Neji deu um soco leve na mesa e chamou uma garota de burra.
— QUAL É O GRUPO VENDEDOR? — Ouvi Peter gritar e
todos, absolutamente todos, o olharam ficando em silêncio.
Os garotos do time bateram em seu próprio antebraço fazendo
um barulho alto e em conjunto, como um grito de guerra,
gritaram FÊNIX.
As pessoas começaram a aplaudir na medida em que riam e
comentavam o ato. Não me aguentei de rir, papai se sentou na
cadeira rindo sem parar e Gerald os olhou surpreso. Olhei Cameron
sabendo que isso era coisa dele, ele apenas balançou a cabeça em
confirmação. Ele não participou do grito de guerra para o Fênix,
mesmo assim, eu sabia que ele quem tinha organizado isso.
Cameron saiu e o time todo o acompanhou. As líderes saíram
com Katherine pela primeira porta a direita e o teatro começou a se
esvaziar. Andrew saiu antes do grito do time, simplesmente sumiu.
— Nunca havia presenciado o time fazendo algo por um grupo
de estudos — Gerald disse se aproximando de nós após se
despedir do outro grupo.
O grupo rival nem se quer nos parabenizou, saíram sem olhar
para trás.
— Nunca tivemos uma capitã do time no grupo — Neji gracejou.
— Capitã do time? — Gerald questionou demonstrando
interesse em saber mais.
— Ela dá aulas extras ao time, eles a amam — Neji explicou
sorrindo.
— Principalmente o capitão do time — a diretora López disse e
Gerald a abraçou como se fossem amigos de anos. — Parabéns,
Fênix, fico feliz que tenham conseguido passar da primeira fase —
disse sorrindo.
A agradecemos e quando estava para sair com o resto do
grupo, ela pediu que eu ficasse. Colocou o braço envolto de meu
ombro e olhou Gerald.
— Geórgia falou muito sobre você ontem — Gerald disse me
olhando —, seu potencial é enorme, será um prazer tê-la em
Stanford — ele estendeu a mão e eu a apertei ainda confusa.
— Gerald é um dos patrocinadores de Stanford e busca alunas
como você para indicar a universidade — a diretora disse
praticamente respondendo todas as minhas dúvidas.
— Mas, confesso — Gerald iniciou tendo minha atenção — que
nunca conheci alguém tão inteligente. Nota cem na prova mais difícil
que já fizemos? Isso é surpreendente — disse maravilhado.
— Ah, foi por sorte — balbuciei envergonhada.
A diretora havia nos deixado para conversar com o diretor de
Baltimore.
— Nada disso, você que é muito inteligente — replicou. —
Owen! — Olhei para trás e meu pai se aproximava segurando Louis
com um braço só — Quanto tempo, meu amigo — os dois se
cumprimentaram.
— Então você já conheceu minha filha — papai disse com a voz
carregada de orgulho e Gerald ficou atônito.
— Sua filha com Olívia? Que maravilha! — Disse animado. —
Estava para oferecer a ela uma visita a Stanford, o que acha? —
questionou voltando os olhos para mim.
— Seria incrível! — Disse animada.
— O que acha de ir também, Owen? Matar a saudade?
— Cavalheiros, Rebecca tem muito o que fazer ainda hoje —
disse a diretora.
— Foi um prazer te conhecer. Entrarei em contato para falar
sobre sua visita a Stanford — Gerald disse me cumprimentando
com um aperto de mão.
— Mal posso esperar — admiti. — O prazer foi todo meu, até
logo, tchau pai — beijei o rosto de meu pai e me afastei com a
diretora.
— Paty — a diretora chamou a garota de cabelos loiros
encaracolados, ela sorriu para mim.
Estava segurando uma sacola preta.
— Parabéns pela vitória — ela disse animada e me abraçou de
surpresa.
— Obrigada — retribui o rápido abraço.
— Rebecca, aqui está a blusa e o casaco da escola para você
que é a representante. Fizemos o casaco para os dias frios de
competição. A do Fênix você pode usar apenas nas competições do
grupo, mas durante o dia de hoje nos outros projetos, precisa usar a
blusa da representante. Como você já sabe, hoje terão as
competições de natação, futebol feminino e o futebol americano.
Natalie acompanhará você e Neji em horários diferentes por conta
das fotos, preciso que você veja os treinamentos também. Hoje o
dia será cheio. Neji está te aguardando para a separação entre
vocês. Boa sorte. Paty, entregue a ela por favor.
A garota me entregou a sacola e a diretora se aproximou de
mim como se quisesse falar algo que ninguém podia escutar.
— O time adversário da escola Baltimore treinará também,
qualquer confusão envolvendo os times, preciso que me conte —
olhei nos olhos da diretora.
— Com todo o respeito, diretora López, não sou dedo-duro e se
é necessário ser assim para ser representante, precisarei rever se
realmente quero isso — disse respeitosamente.
Ela me olhou, lendo todos os meus pensamentos.
Não concordava com Cameron brigando com meio mundo e
sim, estava fazendo isso para não o prejudicar. Me impressionei
comigo mesma por colocar em risco o cargo de representante para
proteger Cameron de uma coisa que eu discordava. Não podia ter
parte em fazê-lo perder o time.
— Você é igualzinha à Geórgia. Na época ela protegia Anthony
como você está fazendo agora — o olhar intimidador se esvaiu —,
hoje são casados — meu corpo se esquentou ouvindo aquilo e
milhares de coisas vieram em minha mente —, mas sua opinião
forte e seu jeito sábio de falar é totalmente herança de seus pais.
— Vou levar isso como um elogio — balbuciei em voz baixa.
Seus lábios se contraíram em um sorriso que logo se desfez.
— E eu vou fingir que essa conversa nunca existiu — avisou e
eu concordei abaixando a cabeça —, mas sabe que tudo o que
acontece nessa escola está sob meus conhecimentos. Se tiver
qualquer briga dentro da propriedade escolar, eu saberei. A menos
que seja do portão para fora — a olhei e ela sorriu como se aquilo
fosse uma dica —, espero os relatórios das competições na quarta.
— Diretora — a chamei quando ela me deu as costas e seus
olhos se voltaram para mim —, Cameron não precisa saber que...
— Eu sei — ela sorriu como se já tivesse visto aquela história
antes.
Sorri em agradecimento e ela se afastou.
Me sentia perdida e queria ver minha mãe, mas ela tinha
sumido.
Sai do teatro e me deparei com Neji, que estava com a blusa de
representante.
— Becca — chamou caminhando até uma sala vazia e me
entregou uma prancheta assim que entramos na sala —, você foi
demais — disse me abraçando.
— E você também — afirmei e quando nos soltamos, olhei
rapidamente a prancheta. — Tudo iniciará as 14h30… — comentei
comigo mesma.
— Como ficará as separações? Para onde quer que eu vá?
— Prefere ver a natação ou as meninas jogando? — Neji me
lançou um sorrisinho malicioso e fofo ao mesmo tempo.
— As meninas — ri dando de ombros.
— O futebol feminino começa às 15h e a natação as 16h. Você
fica com o coral e com o futebol feminino, vou conseguir assisti-las
por trinta minutos e vou para a natação. Assim que o futebol
terminar, você me encontra na natação e assiste o finalzinho que vai
até às 17h se tudo correr como está planejado. Assim que acabar a
natação vou ir ver o treino do time e as líderes, ambos estarão no
campo, se quiser ir para lá depois, fique à vontade. Pode ser?
— Nossa — disse impressionado. — Para mim está ótimo!
— Perfeito, vai estar no jogo de hoje às 18h45?
— Óbvio — rimos.
Eu e Neji fizemos os últimos ajustes no nosso dia. Entrei no
banheiro feminino e coloquei a blusa de representante que era azul
escuro, atrás tinha meu nome escrito de vinho e o símbolo da escola
embaixo do meu nome, na frente tinha apenas o nome da escola a
direita e embaixo, na cor vinho, estava escrito representante em
letras pequenas. A blusa era um pouco justa e deixava meus seios
bem definidos, mas não de forma extravagante.
Sai da cabine e vi Melissa com o uniforme das líderes passando
gloss nos lábios. Ela me olhou, se olhou no espelho e depois de um
silêncio, que para mim era comum, ela disse:
— Parabéns — a olhei e vi uma leve sinceridade em seu olhar
—, pelo Fênix, pela nota cem e por hoje. Sério, parabéns — sorri
para ela.
— Obrigada.
— Não queria ter te derrubado na piscina — disse quase que de
imediato —, eu…
— Tudo bem — disse calmamente e soltando meus cabelos —,
voltou para as líderes? — questionei olhando seu uniforme.
— Hoje Katherine será chutada das líderes — afirmou
determinada e olhando para frente.
— Bom — a olhei rindo —, boa sorte — desejei pegando minha
bolsa e o casaco.
— Rebecca — chamou antes que eu pudesse sair e eu a olhei
—, me arrependo por todas as maldades que já fiz e já falei sobre
você, aguardo um dia o seu perdão — não consegui disfarçar o
quanto aquilo me impressionou, mas ainda não sabia se estava
fazendo aquilo por eu ter um status em Liberty —, mas… não posso
me desculpar por amar Cameron — disparou sem rodeios.
— Não devemos nada uma à outra, Melissa, apenas o respeito
— afirmei — e por mim, ele jamais será motivo de uma briga entre
nós — ela me olhou com dúvida —, nem mesmo se ele ficasse com
você ao invés de mim.
Sai do banheiro repensando nas minhas palavras. Era verdade,
eu jamais brigaria por alguém que escolheu ou que gosta de outra
garota, mesmo que aquilo me destruísse.
— Bora almoçar, representante? — Ouvi Natalie dizer.
A olhei sorrindo e concordei.
Deixei minhas coisas no armário e fiquei apenas com a bolsa.
Natalie guardou a câmera e me puxou até o refeitório onde tinha
alguns poucos alunos. No fundo estavam Luce e Calleb
conversando. Em cima da mesa estavam quatro pacotes do
McDonald's e quatro copos grandes de bebidas. Nos sentamos de
frente para eles. O time chegou fazendo barulho, como sempre, e se
sentaram em sua mesa. Meu olhar encontrou o de Cameron e
ambos desviamos.
— Vocês brigaram? — Natalie questionou me entregando meu
pacote e o meu copo de coca, dei de ombros em reposta e ela sorriu
forçado. — Espero que se resolvam.
— Para mim nem foi briga — comentei —, aquilo não chega
nem aos pés das brigas que já tive com a minha mãe ou com você,
então não foi briga — brinquei relaxando o corpo, não tinha sido
uma briga, mas a forma com que aconteceu não foi a melhor.
— Vocês são orgulhosos — Natalie disse com um tom de
repreensão.
Escolhi responder com o silêncio, não discutiria com outro
Styles.
Voltei a comer e meu celular acendeu notificando uma
mensagem.
Andrew: Pode me encontrar no estacionamento, por favor? É
rapidinho.
Caminhei até o estacionamento e Andrew estava encostado
em seu carro esportivo cinza. Ele enfiou a mão dentro do buraco da

janela aberta e tirou de lá um pacote com lanches da Goldens

enquanto me aproximava.
— Viu Peter? Ele não comeu nada até agora — disse com a voz
carregada de preocupação.
Vasculhei em minha mente, me lembrando de que ele não
estava com o time no refeitório.
— Na verdade não.
— Se vê-lo, pode entregar a ele? — questionou levantando o
pacote em mãos. — Se eu entrar na escola agora, a López vai
querer me apresentar para todo mundo — ele riu de si mesmo.
— Claro, pode deixar — peguei o pacote e ele me olhou por
instantes. — Achei que não viria — ele deu de ombros.
— Uma amiga ficou decepcionada quando disse que não viria,
não queria deixá-la triste, sabe? — Rimos quando o empurrei pelo
ombro — E meus parabéns representante, capitã e futura rainha do
baile — revirei os olhos com o último título e fiz uma careta o vendo
rir.
— Obrigada, chefe — o provoquei e nos abraçamos
brevemente.
Nos soltamos e ele soltou a respiração.
— Preciso ir, minha mãe está me esperando — avisou sem me
olhar nos olhos.
Concordei balançando a cabeça e vendo que suas bochechas
estavam coradas. Me afastei o observando partir com o carro.
Era complicado perceber que ele gostava de mim porque o via
apenas como um amigo. Queria que o sentimento da parte dele
fosse um surto, mas toda vez que me olhava percebia algo diferente
nele. Algo que não teria parado para notar se ele não fosse motivo
do meu desentendimento com Cameron hoje cedo.
Quando me virei para voltar para escola, Cameron e Natalie
estavam parados me encarando. Ele estava com os braços
cruzados e os olhos pareciam queimar como chamas ardentes.
Natalie me olhava com uma careta de que eu estava encrencada.
Cameron não disse e nem demonstrou nada, apenas entrou na
escola empurrando a porta com força. Pensei em ir atrás, mas
Natalie negou com a cabeça respondendo meu pensamento.
E assim era melhor. Ele me estressou antes de começar a
competição do Fênix e eu precisava ao máximo me concentrar, faria
o mesmo com ele. Não queria isso. Sabia que depois resolveríamos
tudo.
— Por que ele está tão ciumento? — Reclamei e ela riu.
Ele nunca tinha ficado assim mesmo que tínhamos pouco tempo
juntos e ele nunca conseguia falar sobre sem ficar com raiva.
— Ele conhece Andrew como a palma de sua mão e sabe
perfeitamente ler seu olhar em você — disparou sem rodeios — e
Cameron não sabe lidar, não quer impor nada, mas não gosta de
você conversando com Andrew. Deve ser a primeira vez que ele
sente ciúmes assim — ela riu da situação.
Suspirei me sentando na escada e assimilando tudo.
— Ele é imaturo na questão de não parar para conversar sobre,
assim como você também não tem colaborado muito de acordo com
a sua versão e a dele — afirmou e eu fiz uma careta. — E não
concordo em estar agindo assim, mas está tentando não estragar
tudo, ou mais do que já estragou, com você. Deixe-o descontar tudo
no jogo e que Deus ajude quem atravessar o caminho dele hoje.
— Vontade de socar a cara dele e falar garoto, é de você que eu
gosto! — admiti com firmeza na voz e Natalie abriu um sorriso de
orelha a orelha — O quê? — questionei confusa.
— Você disse pela primeira vez em voz alta que gosta dele —
seu sorriso ficou ainda mais lindo e aberto.
Olhei para frente repassando o que tinha dito e acabei sorrindo
também.
— É… eu falei — admiti.
Analisei a situação.
Era sobre isso. Eu não admiti gostar de Cameron, demonstrei,
mas não admiti. Não como ele no nosso primeiro — e único — beijo
quando disse que me queria. Ele me deu um colar, me deu
a chave de seu coração e eu não fiz nada. Mesmo que ele não
tenha dito exatamente com essas palavras, ele demonstrou mais do
que eu.
— Soque a cara dele e depois fale para ele — incentivou e
rimos juntas, mas seu sorriso se desfez. — Você e Andrew…?
— Não, não mesmo — ela pareceu aliviada —, você ainda
gosta dele, não é? — Ela parou um pouco refletindo sobre isso.
— É, mas hoje tenho perfeita noção de que só eu gostava —
explicou, franzi o cenho.
— Como descobriu isso? — Ela me olhou por instantes como se
a resposta estivesse diante de seus olhos e balançou a cabeça após
parecer repensar no que ia dizer.
— Não importa. Esse lanche é para quem? — questionou e
então me lembrei o real motivo de Andrew ter me chamado no
estacionamento.
— Peter, preciso encontrá-lo. Te vejo no futebol feminino —
beijei seu rosto me despedindo.
Observei o refeitório e não encontrei Peter, em seguida, fui até o
campo de futebol, mas ele também não estava lá.
Decidi ir ao jardim atrás das arquibancadas do campo, onde
Cameron quase foi pego batendo em Oliver.
Suspirei ao ver que Samuel parecia estar de vigia, me aproximei
dele e ele nem sequer se moveu.
— Viu Peter? — questionei calmamente e ele concordou.
— Está fazendo comprinhas com Jasper — disse rindo, mas
não vi graça, sabia exatamente do que se tratava.
Meu coração apertou em saber que Peter estava comprando
drogas e tudo piorou quando comecei a pensar demais no que faria
com essa informação.
Jasper e Peter saíram de trás dos arbustos. Jasper me olhou e
caminhou até mim como olhar frio, enquanto Peter me olhava como
uma criança encrencada.
Me impressionei quando Jasper parou em minha frente
parecendo querer me intimidar ou me amedrontar. Sabia que sete
pessoas já contaram sobre isso a diretora e ele sempre se safava.
Samuel nos olhou cheio de confusão e Peter achou graça.
Olhei Jasper nos olhos, tentando decifrá-los.
— Está tentando me intimidar? — questionei tranquilamente.
— Não, estou esperando seu julgamento — respondeu com
naturalidade.
— Jasper, já conversamos sobre isso, precisamos ir — Samuel
parou de falar quando Jasper fez sinal para que ele ficasse em
silêncio, mas os olhos ainda estavam em mim.
— E desde quando minha opinião importa para você? — Seus
olhos cravados em mim não me assustavam, mas uma onda de
confusão se formava em minha mente.
O observei mais de perto tentando ignorar que sua aparência
lembrava meu tio Benjamin.
— Jasper! — Samuel o chamou com preocupação e irritação.
Jasper saiu sem dizer uma palavra.
Relaxei o corpo decidindo ignorar o que tinha acontecido.
— Contagem de pessoas a fim da capitã: Neji, Victor, Noah,
Jack, meu primo… — Olhei Peter. — Eu ia falar Jasper, mas ele não
fica assim quando está a fim de alguém — comentou.
— O que quer dizer com isso? — questionei olhando os garotos
que caminhavam de volta ao campo de futebol, Jasper olhou para
trás e Samuel deu um soco no braço dele o fazendo virar para
frente. — Calma você disse Neji?
Minha confusão cresceu ainda mais porque eu jurava que Neji
era a fim de Katherine.
— Acho que quanto mais você não quer chamar a atenção de
ninguém, mais você chama e que Deus ajude o capitão e te ajude
— comentou rindo.
— Isso não importa. Andrew trouxe para você — entreguei o
pacote com seu lanche que provavelmente estava frio.
— Bem que Calleb disse que você é o novo Cameron, todo
mundo te quer também — o empurrei pelos ombros bufando e ele
riu.
Caminhamos até às arquibancadas.
— Cameron sabe? Sobre… — O olhei assim que nos sentamos
no primeiro banco.
— Sabe. Não concorda, sempre briga comigo, diz que se eu
usar algo muito pesado vai me cortar do time sem pensar duas
vezes, mas ele entende.
— Entende que você usa drogas? — questionei em voz baixa.
— Entende que cada um tem um jeito de lidar com seus
problemas, sei que o meu não é o jeito certo — disse desanimado.
Queria fazer um discurso, falar sobre como ele podia se
prejudicar, quis socar sua cara, mas tudo o que fiz foi lhe dar um
puxão de orelha.
— Aí, sua louca! — exclamou colocando a mão na orelha.
— Estou com vontade de te socar até perceber que isso pode
acabar com você — admiti e ele riu mordendo o lanche.
— Agressiva que nem o namorado.
— A diferença é que ele literalmente bate quando quer —
repliquei.
— E você bate com as palavras — rimos —, eu consigo ficar
sem às vezes. Principalmente quando é semana de exames do
time. Alguns dias são bons, outros nem tanto — o abracei pelos
ombros e ele sorriu com o meu ato, mas seus olhos ficaram
marejados —, só uso coisas para relaxar.
Senti que invadiria sua privacidade se perguntasse a quais
problemas se referia e quando são os dias ruins, então decidi não
questionar nada, quando ele quisesse, ele falaria.
— Talvez eu não seja a melhor pessoa para isso, mas se quiser
conversar, estou aqui — ele me olhou.
— Gosto de conversar com você, me traz paz — sorri o ouvindo.
— Você e o capitão estão bem? — questionou e eu suspirei. —
Vocês estão distantes hoje.
— É complicado — admiti e o vi do outro lado do campo —,
nunca imaginei que Andrew ficaria no meio do meu relacionamento
— ri da situação —, sendo que nem tem motivos.
— Andrew? Meu primo? — Peter questionou e só então me
recordei daquela informação.
Abri minha boca para falar, mas desisti quando Cameron, Josh
e Elliot se aproximaram. Queria pedir a Peter para que não contasse
a ninguém sobre o que eu falei, mas não seria possível na frente
dos meninos.
Cameron me olhava sério e eu o olhei com a mesma
intensidade.
— Vocês precisam se resolver logo — Elliot advertiu.
Sabia que precisava contornar a situação com Peter e mostrar
que não estávamos tão ruins como parecia.
— Sim mano, ninguém aguenta mais, tem gente passando mal
aqui — Josh dramatizou.
A cada dia que passava ele falava mais parecido com Calleb e
esse pensamento me fez sorrir. Cameron se manteve sério e eu me
levantei decidida a acabar com aquela marra.
— Vejo vocês mais tarde, time — me despedi.
Parei na frente de Cameron, ri passando os dedos em sua nuca
e em seu pescoço até suas bochechas e selei nossos lábios.
Ele tentou ficar sério, mas virou o rosto mostrando um
sorrisinho. Passei a mão em sua cintura na medida que ia me
afastando e fiquei feliz pelos meninos estarem conversando ao
ponto de não se importarem com a gente.
Exceto por Peter que, disfarçadamente, nos olhou.

Natalie capturava cada momento da competição de natação.


Acredito que as fotos ficariam incríveis e seria material suficiente
para o jornal, ela chegou com Neji fazia em torno de trinta minutos.
Jasper evitou me olhar durante a competição. Ele estava
auxiliando cada competidor da nossa escola e parecia saber
exatamente o que fazer.
— Precisamos prestar nossas felicitações a eles também — Neji
relembrou estendendo a mão para mim em prol de me ajudar a
levantar e eu aceitei.
Como representantes, tínhamos que demonstrar apoio em todos
os projetos. Era cansativo, porém, eu estava gostando.
Karen e o grêmio estavam passeando em todas as
competições, até porque isso também era parte de seus deveres e
precisaríamos de um relatório deles.
Lana e Calleb monitoravam tudo, mas, diferente do grêmio, eles
estavam atrás de fofocas e novidades para o jornal. Calleb estava
tirando algumas fotos também para ajudar Natalie, afinal, ela era
uma só para vários projetos.
— Meus parabéns a equipe de natação — disse sem muitos
rodeios quando me aproximei —, capitão — estendi minha mão para
Jasper, que a apertou com calma.
— O pessoal da academia de artes de Stanford está na pintura.
Vou acompanhá-los, não vou conseguir ficar no treino do time e das
líderes, você fica bem sozinha? — Neji questionou parando ao meu
lado.
— Sim, claro — sorri sem mostrar os dentes.
— Natalie? — Ele a olhou como se questionasse algo.
— Certo, já te encontro no campo — ela me avisou e saiu com
Neji.
Cheguei ao campo junto com Melissa, só que em direções
diferentes. Ela me olhou fazendo um sinal com a cabeça para que
eu me aproximasse. Melissa chegou com postura firme e
intimidante.
— Katherine, pode ir para trás fofa, temos uma coreografia para
ensaiar — as líderes se entreolharam sorrindo.
Estava claro que Melissa era A capitã delas.
Quatro garotos com uniforme de líderes se aproximaram.
— Esses são os novos integrantes dos líderes — Katherine
ainda estava na frente enquanto a garota loira falava —, para trás,
Katherine — Melissa se aproximou dela. — Obrigada por ter me
substituído durante a minha falta, não precisa mais.
Katherine foi para trás como se tivesse desaprendido a falar,
mas seus olhos carregavam fúria. Precisei virar meu rosto e cobri-lo
com a mão para não mostrar que estava rindo. Depois de Karen
surtando por eu ser representante, aquela foi a cena mais ridícula
que já vi, apesar de que ainda perdia para as garotas disputando a
atenção de Cameron mesmo com nosso namoro falso.
Melissa se aproximou de mim sorridente, porém, sabia que não
era um sorriso para mim e sim por ela ter seu lugar de volta. Olhei
minha prancheta na folha das líderes, rabisquei o nome de
Katherine como capitã e coloquei o de Melissa.
— Bem-vinda de volta, capitã — disse cordialmente e com
sinceridade.
— Obrigada, representante — disse com a mesma cordialidade.
Sua atenção foi voltada para o centro do campo.
Os Warriors e o Baltimore Ravens entraram em campo. Ambos
com olhares frios e intimidantes o suficiente para deixarem o vasto
local tenso. As líderes do time de Baltimore estavam do outro lado
do campo.
O amplo local ficou pequeno com tantas pessoas, os
treinadores conversavam sem um fio de rivalidade, ao contrário dos
jogadores e o campo foi separado em dois.
Me aproximei das líderes de Baltimore. Uma garota um pouco
maior que eu, de pele negra, cabelos enrolados e olhos de gato me
encarou com frieza.
— Bem-vindos a Liberty — disse esbanjando cordialidade —,
precisam de algo? — questionei.
A garota se aproximou de mim com os demais líderes atrás
dela.
Não sabia se seria atacada a qualquer momento, por ser da
escola rival, até Melissa se aproximar com a nossa equipe.
— Melissa, não precisa, obrigada — agradeci antes que uma
confusão começasse sem necessidade.
Melissa me olhou uma última vez conferindo se tudo estava
realmente em ordem e saiu com a equipe. Voltei o olhar para os
líderes de Baltimore que encaravam as líderes enquanto se
afastavam.
— Bom, meu nome é Re…
— Todo mundo te conhece, Malik — a garota disse mostrando
um sorriso amigável —, literalmente, todo mundo das escolas da
região — afirmou e os demais líderes riram.
O clima tenso se esvaiu com rapidez e isso me trouxe um alívio
inexplicável.
— Ah, não deve ser tudo isso — gesticulei com a mão
desocupada e ela riu negando.
— Não precisamos de nada até agora, mas se precisarmos,
falarei com você, obrigada. É um prazer conhecer a princesa de
Liberty — ela fez um gesto de realeza e aquilo me fez rir alto —,
aliás, acho que o príncipe está a sua espera.
— Por favor — fechei os olhos —, por favor — a olhei — não faz
mais isso — implorei rindo e ela gargalhou.
— Sim, majestade — provocou —, sou Arya.
— Prazer, Arya. Preciso ir. Qualquer coisa, estou à disposição.
Ela agradeceu e eu precisei tomar coragem a cada passo que
dava me aproximando do time de Baltimore. O capitão Kevin, cujo
nome Neji repetiu três vezes para que eu decorasse — mesmo
sendo um nome comum e fácil — me encarou fazendo com que
sentisse calafrios.
— Você deve ser o capitão Kevin — disse mostrando simpatia e
fazendo ao máximo para não deixar minha voz falhar.
— E você deve ser a garota mais inteligente e linda das escolas
do estado — ele disse estendendo a mão.
Fiz o mesmo gesto.
Kevin tocou minha mão, se curvou um pouco e a beijou.
— Bom — puxei minha mão e ele arrumou sua postura, ouvi
passos atrás de mim se aproximando, não precisei me virar para
saber quem era e pelo aproximar do time de Baltimore, deduzi que
estava certa. — Sejam bem-vindos a Liberty, precisam de algo? —
questionei com tom monótono.
Kevin olhou além e voltou os olhos para mim.
— Preciso de uma garota como você na minha vida — disparou
e senti a mão firme de Cameron envolvendo minha cintura e me
apertando, ele não me deixava mover um músculo se quer.
Me senti no fogo cruzado.
— Sugiro que procure em outro lugar, Kevin — Cameron disse
firme, a voz dele pareceu engrossar um pouco mais.
Nunca havia o escutado falar dessa forma, mas, foi inevitável
não gostar de ouvi-lo daquela forma.
— Ou o quê? — Kevin desafiou.
Estavam todos tensos e os treinadores pareciam adorar o show
pois não moveram um dedo para intervir.
— Desejo boa sorte a vocês — disse sorrindo e tentando afastar
a tensão do lugar.
Me virei para Cameron o empurrando calmamente pelo
abdômen enquanto ele encarava os meninos do outro time.
— Não mostre suas fraquezas a ele — disparei longe o
suficiente do time rival, os meninos do time pareciam querer atacá-
los a todo custo —, não demonstrem as fraquezas de vocês — disse
no coletivo fazendo Cameron se juntar ao time.
Fiquei de frente para um bando de garotos, como se estivesse
dando aulas extras a eles e continuei:
— Parem de olhar eles, parem de demonstrar o que irritam
vocês ou os lugares que eles podem atacar para tirar vocês do foco!
Parem com isso! Vocês precisam ser rivais durante o jogo — disse
firme.
Os meninos me olhavam com atenção, depois olharam uns aos
outros e Cameron tomou a frente, parando ao meu lado.
— Ela está certa — o treinador Sanchez disse se aproximando.
— Rebecca, o que sugere?
O treinador era conhecido por ser machista e estúpido, então
seu incentivo em me fazer continuar me deixou surpresa. Meus
olhos encontraram o rosto sereno de Cameron e ele balançou a
cabeça positivamente me incentivando a falar.
Olhei o time rival e ouvi em meu pensamento tudo o que meu
pai já me falou sobre jogos e o que comentávamos quando
assistimos. Aprendi muito mesmo sem querer, adorava vê-lo falando
sobre algo que era apaixonado.
— Baltimore vai observar cada movimento do Warriors para
entender as estratégias, o plano de jogo para hoje. Sugiro que
mostrem um plano aleatório e totalmente diferente do que será de
fato — Cameron sorriu concordando e o treinador também.
— Ouviram a capitã? — Cameron questionou com voz firme e
os meninos gritaram sim em coro. — Então vamos começar.
Mostraremos o plano de jogo que fizemos na primeira semana de
treino — ele anunciou e os meninos concordaram se arrumando em
suas posições. — Quando você vai parar de me surpreender? —
questionou me puxando pela cintura e me tirando do meio do
campo.
— Quando você não tiver mais nada com o que se impressionar
— avisei e ele selou os nossos lábios com ternura.
— Seu conselho foi ótimo — forcei um sorriso e ele afastou uma
mecha de cabelo do meu rosto —, precisamos conversar sobre hoje
cedo, sei que fui um…
— Cameron, não vamos perder tempo falando de algo que pode
ser resolvido depois. Assim como a competição do Fênix foi
importante para mim, sei que o jogo é para você e precisa do
máximo de concentração, isso resolveremos depois — disse
calmamente e arrumando seu cabelo bagunçado.
Cameron pareceu cair em si sobre o que tinha feito mais cedo.
Sua fala sumiu e ele ficou me olhando atordoado. Aprendi com meu
pai a dizer com sutileza que uma pessoa fez errado, sem dizer que
ela fez errado.
— Vai treinar, amor — pedi; ele apertou minha cintura e, após
beijar minha testa, se juntou ao treino do time passando a mão no
cabelo.
Kevin estava nos encarando e riu como se tivesse acabado de
pensar em algo, e não parecia ser bom.
— Deixe-me adivinhar — o treinador se aproximou parando ao
meu lado e me acompanhando na observação dos treinos. — Owen
quem te fez aprender sobre jogos? Porque você fala igual a ele —
sorri concordando.
— Papai me fez gostar de esportes e praticar alguns e minha
mãe me levou para o lado artístico — expliquei.
Minha mãe, com sete anos me colocou no bale que fiz até os
dez anos, junto com idiomas. Meu pai quem me chamava para jogar
futebol em casa, nada profissional, e aprender dois tipos de luta,
karatê e boxe, mesmo que pouco, quando completei onze anos e
fiquei nisso até os quinze.
— Sua mãe — o treinador riu com nostalgia e eu franzi o cenho
—, você é a cara dela mais nova. Ela arrancava suspiros dos
meninos do time assim como você — explicou, mas sua fala não
carregava maldade —, seu pai já contou sobre a briga entre ele e
Arthur pela Olívia? — O olhei surpresa e ele riu. — É, achei que
Cameron seria igual ao pai que ficaria com todas as meninas da
escola até se apaixonar pela única que não o queria e teria o
coração quebrado, mas não. E fico feliz por isso, por ele ter
encontrado você. Cameron é um garoto especial.
As palavras do treinador eram boas de se ouvir, mas meu
pensamento ficou preso na história de tio Arthur e meu pai. Tio
Arthur era o cara que minha mãe me contou sobre a família querer
que ela se casasse?
— Acha que seu pai aceitaria ser conselheiro do time? — O
olhei sorrindo.
— Ele adoraria — o treinador concordou com um aceno.
— Falarei com ele. Até mais tarde, Rebecca.
Observei o campo quando me sentei no banco da arquibancada
vendo o treino do time e o ensaio das líderes. Provocações de todas
as partes entre eles e não tinha um só que se livrava.
Meus olhos encontraram Luce se aproximando das líderes de
Baltimore. Ela falou com Arya de forma íntima, as duas sorriram e
Luce se despediu vindo em minha direção.
— Para você, senhorita — ela me entregou uma barrinha de
cereal com cobertura de chocolate e uma garrafinha de água.
— Ah, não precisava, mas obrigada — agradeci aceitando.
Precisava sim, minha última refeição tinha sido a do almoço.
— Já sabe como o pessoal de Baltimore está te chamando? —
Ela riu se sentando ao meu lado.
— Não — disse curiosa.
— Princesinha de Liberty — disse sorrindo — e não é na
maldade que te chamam assim. Você cativa as pessoas de um jeito
impressionante — afirmou com admiração.
Estava prestes a dizer algo quando ouvi gritos animados das
líderes de ambas torcidas. Segui o olhar de todos vendo que
Cameron tinha acabado de tirar a camiseta molhada de suor.
Não tive tempo de ficar com ciúmes, meu olhar ficou preso ao
corpo dele. Ele era tão bem definido e tinha mais tatuagens do que
eu me lembrava. Quase sempre evitava ficar o olhando por muito
tempo, mas nesse exato momento era impossível.
Me sentia hipnotizada ao olhar ele, parecia um deus grego.
— Minha gloriosa Ariana Grande — Calleb passou por mim e
começou a fotografar Cameron que pareceu não se importar em
estar sendo fotografado.
As meninas começaram a falar alto sobre ele querendo chamar
sua atenção. Revirei os olhos enquanto terminava de comer a
barrinha.
Deixei a prancheta e a garrafinha de água ao meu lado no
banco.
— MEU DEUS! — Calleb gritou chamando a atenção de
algumas pessoas, inclusive Josh que parecia não gostar de sua
euforia por Cameron. — Preciso de uma foto do príncipe e da
princesa de Liberty! Agora mesmo, quero minha realeza para já! —
Disse determinado e me puxando pelo pulso.
Tentei me soltar de Calleb, mas ele não se importou. Eu sentia
meu corpo fraco só de imaginar estar nos braços de Cameron com
ele sem camisa.
Os olhares estavam em nós, não podia fazer birra como uma
criança, não podia ser grossa ou estúpida, mas também não queria
tirar foto alguma naquele momento.
— Amigo, não — pedi calmamente quando ele invadiu o campo
me trazendo até Cameron que nos olhou exibindo tranquilidade —,
por favor, eu não quero — repliquei.
— Amiga, sim. A escola, os alunos, até quem é de fora está
pedindo por isso — Calleb explicou.
— Mas…
— Becca, o jornal está sem notícias — Calleb admitiu
desanimado.
— Gente, estamos treinando — Cameron disse apertando
minha cintura enquanto todos nos olhavam.
— Cameron, vem com a gente só um minutinho por favor? —
Calleb pediu e Cameron concordou caminhando para um canto sem
soltar minha cintura.
Meu ar ia sumir a qualquer momento, principalmente se o
olhasse.
Ele tinha que estar sem camisa me segurando desse jeito?
— Becca — Calleb chamou me trazendo de volta para a terra
—, a diretora está querendo tirar o jornal por falta de conteúdo.
Vamos ter o que falar essa semana pelos projetos, mas com vocês,
o casal do ano... isso seria incrível — disse animado.
Suspirei. Sabia que ele amava estar no jornal e Natalie
encontrou algo que realmente gostava através do jornal. Cameron
apertou minha cintura colando meu corpo no dele. Prendi a
respiração sentindo meu corpo todo formigar, era incrível estar nos
braços dele.
— Você não precisa fazer isso se não quiser — sussurrou em
meu ouvido e eu o olhei soltando a respiração.
Eram sinceras suas palavras, ele parecia me querer confortável,
mas quando olhei Calleb esperançoso, decidi que valia o risco.
— É só uma notícia, não significa que serei a rainha —
comentei tentando relaxar.
Calleb e Cameron se entreolharam incertos do que eu havia
acabado de dizer.
— Não, amiga… não — Calleb suspirou abaixando a câmera. —
Tem razão, vai ser pior pra vo…
— Anda, Calleb — pedi.
— Ei — Cameron chamou calmamente. — Olhe para mim —
pediu colocando a mão em minha nuca enquanto Calleb já tirava
fotos — e esqueça tudo isso, não tem baile, não precisa ser a
princesa de Liberty — olhei em seus olhos, eles emitiam adoração e
intensidade. — Você já é a minha princesa — sussurrou sorrindo e
envolvendo o braço em minha cintura.
Poderia admirá-lo pelo resto dos meus dias sem problema
algum.
Nossos olhares estavam fincados, o mundo pareceu congelar e
meu coração começou a bater forte.
— Diabete passa? Porque com esse doce todo de vocês, acho
que estou ficando diabético — Calleb murmurou com a mão na
barriga fingindo enjoo.
Voltamos a realidade aos risos.
— CAMERON! — o treinador Sanchez chamou. — DEIXE
PARA NAMORAR DEPOIS! — Exclamou sem conseguir disfarçar
as risadas.
— Preciso ir, amorzinho — ele disse selando nossos lábios.
Quando ele se aprontou para sair, o puxei para outro selinho,
ele sorriu e em seguida correu até o campo.
Calleb passou a mão em meu queixo como se estivesse
limpando.
— Está babando, amiga — brincou e eu empurrei sua mão.
— Me esquece, Calleb! — Reclamei rindo e voltando ao lugar
que deixei minha prancheta.

Atravessei o vestiário masculino, o lugar que sempre pareceu


espaçoso agora estava pequeno diante de dois times. Felizmente,
quando entrei estavam todos vestidos.
Natalie estava quase surtando por poder entrar também. Viemos
com a diretora, Neji e o treinador. Teríamos que desejar boa sorte
para ambos os times, e por algum motivo estava sentindo um nó na
barriga como se fosse ter um ataque de nervos a qualquer
momento.
— Liberty deseja boa sorte a vocês — disse estendendo a mão
para Kevin.
— Obrigado, representante — Kevin agradeceu com voz
carregada de convicção.
Era quase como se ele falasse não preciso das suas sortes.
Natalie capturou o momento exato em que nos cumprimentamos.
Neji o cumprimentou e antes que eu me direcionasse a
separação onde Cameron estava, ouvi perfeitamente Kevin dizer ela
é linda, não acha?
Eu e Natalie nos entreolhamos, dizendo coisas sem precisar
abrir a boca. A diretora não resistiu em dar uma risadinha.
Enquanto caminhávamos até o capitão do time Warriors ela
sussurrou em meu ouvido:
— Se você quiser, pode ter qualquer um em suas mãos —
alegou e eu a olhei escolhendo bem as palavras que diria.
— Já sei quem eu quero — ela sorriu concordando.
Olhei Cameron e senti que meu coração ia pular para fora do
peito de tão acelerado que ficou. Ele estava lindo, usava uniformes
novos na mesma cor que minha blusa de representante — azul
escuro e vinho — com o número 13 na frente contornado de branco,
seus cabelos estavam em uma bagunça charmosa; seus olhos, que
antes eram frios, se iluminaram quando me encontraram. Ele não
sorriu, mas seu rosto ficou relaxado. Seu olhar era fascinante.
— Boa sorte, capitão — desejei estendendo minha mão.
— Obrigado, representante — disse no mesmo tom sério que
eu.
Mas ao nos olharmos, a vontade de rir nos dominou. Ele
segurou minha mão a acariciando. Seguramos ao máximo as
risadas até Natalie fazer as fotos. Cameron deu um passo à frente
como se fosse falar algo, mas o treinador o chamou.
— Tudo bem, conversaremos depois — afirmei.
Ele me analisou rapidamente, beijou minha mão e se juntou ao
resto do time.
— Eu odeio vocês assim — Natalie reclamou me puxando para
fora do vestiário masculino. — Elliot disse que vocês fizeram
uma ceninha no campo quando você estava falando com Peter e
depois deixou Calleb tirar fotos, achei que no meio de toda a
correria vocês tinham conseguido conversar.
— Não — dei de ombros —, ainda não conversamos, mas não
queria ninguém comentando que estávamos brigados, por isso
disfarcei na frente dos meninos.
— Vamos nos sentar, se não ficaremos com os piores lugares
das arquibancadas! — Neji avisou aparecendo ao meu lado e
concordamos.
Encontramos lugares perfeitos.
Papai chegou cedo e se sentou ao meu lado com Isaac.
— Sua mãe não veio, vai assistir na casa de sua tia, Elô está
um pouco enjoadinha e aqui é muito bagunçado para os bebês —
papai explicou.
Concordei balançando a cabeça.
Não demorou muito para que o treinador convocasse meu pai a
ficar próximo do campo com ele e Isaac, animado e radiante, foi
junto. Nunca havia visto meu pai tão feliz conversando com o
treinador e tio Arthur que pelo que Natalie me disse, era um dos
patrocinadores do time então sempre ficava por aqui.
Tia Eliza, que estava nos primeiros bancos na parte baixa das
arquibancadas conversando com a professora de química, acenou
animadamente para mim a retribuí com um sorriso no rosto.
Os primeiros a entrar foram os Baltimore Ravens seguido por
uma gritaria animada de sua torcida. As líderes fizeram uma dança
de entrada, a qual Melissa analisava os passos e me olhou como se
precisasse de um incentivo.
Sorri para ela fazendo um sinal positivo e ela sorriu mandando
um beijo no ar para mim. Foi estranho, Natalie estava distraída
capturando cada momento proveitoso, mas tenho certeza de que
estranharia a situação tanto quanto eu.
— Viraram amiguinhas? — Luce questionou se sentando ao
meu lado.
Samuel se sentou ao lado dela e acenou com a cabeça.
Havia uma grande distância que separava eu e Melissa de
sermos amigas. E, parando para analisar, não tinha a ver apenas
com Cameron.
Ela disse sobre a minha virgindade tentando me diminuir por
uma coisa tão importante para mim e quis me atacar mais de uma
vez por não ter tudo o que quer — como Cameron por exemplo.
Meu problema jamais seria os sentimentos dela por alguém que eu
também gosto, mas sim, a sua forma de lidar com isso.
— Não, eu acho — respondi Luce que fez uma careta.
— Ótimo! — disse tentando demonstrar nojo, mas sua voz
vacilou quando ela olhou Melissa. Olhei Neji para verificar se ele
estava vendo o mesmo que eu e sua risada me confirmou tudo.
Achava nada a ver essas pessoas que ficavam fingido que se
odiavam quando na verdade se queriam.
Ri de mim mesma com esse pensamento, quem eu queria
enganar? Aposto que os anjos estavam rindo de mim também.
A torcida vibrou quando os Warriors entraram em campo. Todos
ao meu redor se levantaram e eu me senti na obrigação de levantar
e bater palmas como os demais. As líderes fizeram uma entrada
espetacular e mal conseguia pensar no que elas preparariam caso o
time chegasse na final.
Havia câmeras por toda a parte e até jornalistas.
Os olheiros de Stanford e Yale estavam presentes e eu não
conseguia explicar minha felicidade.
Isso podia ser a solução de muita coisa.
Cameron, com certeza, jogaria perfeitamente bem e com os
olheiros aqui, ele teria muita chance de entrar na universidade,
assim como os outros jogadores.
Olhei para trás vendo Andrew nas arquibancadas acima, ele
acenou com a cabeça e eu sorri, mas logo voltei o olhar para o
campo.
A partida começou e mesmo que tentasse, não conseguia ficar
calma. Estava ansiosa e a todo tempo me levantava e me sentava,
assim como Luce e Samuel que a cada jogada que poderia levar a
pontuação dos Warriors mostravam animação. Neji anotava tudo e
eu o agradeci por aquilo, não conseguia ficar parada e gritei para o
time como se estivesse em casa com o meu pai assistindo.
Percebi que minhas reações e as de Isaac eram muito
parecidas com as de meu pai, acabei rindo ao ver aquilo.
Amarrei o cabelo em um coque quando, violentamente,
o cornerback do time rival abordou Noah com tanta força que o fez
cair no chão e ali mesmo Noah ficou, sem conseguir se mexer.
Ele foi substituído com rapidez por Phillipe. Não precisei olhar
Cameron para saber o quão irritado aquilo o deixou.
O segundo tempo se finalizou após um safety do time de
Baltimore.
Olhei o placar: Warriors 7 x 10 Baltimore Ravens.
Observei Cameron sair do campo, a distância em que
estávamos não impossibilita dele me olhar e mesmo assim, seus
olhos não acharam os meus.
Queria falar com ele, motivá-lo ou apenas verificar como estava,
mas não tinha como, não agora.
Neji e Luce avisaram que iriam comprar algo para comer e eu
concordei em guardar nossos lugares com Samuel.
— Ok, abre o jogo — pedi olhando Samuel —, o que foi aquilo
com Jasper?
— Existem coisas que são melhores você ignorar e fingir que
nunca aconteceu — Samuel disse olhando para frente, ele se
levantou quando Jasper apareceu nas escadas das arquibancadas.
— Avise a Luce que a encontrarei na festa da vitória? — Pediu.
Eu sabia que não adiantava prolongar o assunto com Samuel,
apenas concordei o vendo partir.
Andrew se sentou ao meu lado e, sem dizer uma só palavra, me
entregou uma lata pequena de coca.
— Não precisava — disse mais em um agradecimento.
Ele abriu a lata para mim, já que minhas unhas não permitiam.
— Você parece nervosa — disse aos risos.
— Sempre fico. Se quando é apenas um jogo na televisão que
eu nem torço fico ansiosa, imagina sendo um ao vivo e da minha
escola — comentei rindo e bebendo um gole de coca.
— E que seu namorado é capitão — completou e eu acabei
rindo.
— Exato, fico ainda mais apreensiva.
Natalie virou em nossa direção animada com a câmera, mas
seu sorriso se desfez e ela abaixou a câmera quando olhou Andrew.
Mesmo longe, seu olhar carregava uma certa tristeza.
— Andrew…
— Não queria ficar no meio do relacionamento de vocês —
disse tocando minha mão com delicadeza — Não mesmo. Sei que
você gosta dele e que ele te faz feliz. Reconheço uma luta perdida,
Becca — seu olhar era carregado de sinceridade e sofrimento —,
sei que terei apenas sua amizade.
— Eu sou sua amiga — disse com um sorriso nos lábios e ele
também sorriu, mas ainda assim era um sorriso triste.
Olhei para frente vendo que os Warriors estavam de volta ao
campo.
Os olhos de Cameron estavam fincados em mim e Andrew,
pegavam fogo e estavam em alerta como olhos de um falcão. Ele
olhou minhas mãos e então percebi que as mãos de Andrew
estavam em cima das minhas. O próprio Andrew notou e se afastou
de imediato, saindo até mesmo de perto de mim e voltando ao seu
lugar.
Um pouco distante estava Kevin, que parecia ter encontrado
algo que estava procurando o dia todo. Aquilo me deu calafrios.
Tentei relaxar e encontrar os olhos azuis de Cameron
novamente, mas ele estava focado no que meu pai e o treinador
diziam.
Os times foram para suas posições após o aviso do juiz.
Pude jurar que vi Kevin dizendo algo a Cameron que o olhou
como se recebesse aquela provocação de braços abertos.
O terceiro tempo iniciou-se e não tinha quem parasse Cameron.
Ele estava três vezes mais agressivo e aquilo pareceu motivar o
resto do time.
Os olheiros conversavam entre si com uma certa euforia.
As investidas do capitão dos Warriors nos jogadores rivais eram
fortes e doíam até mesmo em quem estava assistindo.
No quarto e último tempo, houve uma confusão entre os dois
capitães em que os juízes e treinadores precisaram intervir, o que
me deixava um tanto cismada era a forma que meu pai e tio Arthur
não moviam um dedo se quer para afastar a briga. Aposto que eles
se vinham em todas essas confusões adolescentes, sabia que
ambos eram iguais na questão de sempre se meterem em confusão.
O jogo acabou com uma virada enorme no placar.
Warriors 38 x 10 Baltimore Ravens.
A torcida vibrou, as líderes comemoraram dançando, todo o
time correu para cima de Cameron e Luce me abraçou dando
pulinhos animados.
Me sentia feliz em saber que Liberty conquistou absolutamente
tudo hoje. A competição de física, a natação, o futebol feminino e
agora, o americano.
A diretora cumprimentou Cameron e o treinador, em seguida
olhou eu e Neji. Caminhamos até ela e Neji foi o primeiro a
parabenizar o capitão.
Cameron estava suado, os cabelos molhados e bagunçados.
Em sua mão ele segurava o capacete e sua roupa era a que menos
estava suja comparado a dos outros meninos.
— Parabéns, capitão — estendi a mão e ele a apertou com
firmeza.
Essas formalidades fingidas acabam comigo.
E, como se ele tivesse lido o meu pensamento, Cameron me
puxou e selou nossos lábios fazendo com que o time gritasse
euforicamente.
O time se aproximou para que Natalie tirasse uma foto e eu e
Neji nos afastamos para não atrapalhar.
Kevin e o time de Baltimore saíram antes mesmo de eu falar
com eles.Melissa correu para cima de Cameron o abraçando
animadamente, mas ele a afastou após um abraço rápido.
Ele primeiro conversou com os olheiros de Stanford, em seguida
com os de Yale e foi na direção do time.
O campo começou a ficar vazio e nas arquibancadas não
tinham quase ninguém. Meu pai também não estava aqui. Luce se
aproximou de mim e, antes que eu pudesse falar com Cameron, ele
já não estava mais.
De repente tudo ficou vazio e me senti assustada.
Havia poucas pessoas nas arquibancadas, as líderes de Liberty
conversavam entre si mostrando alguns passos que poderiam ser
feitos nas próximas coreografias, mas isso não me importava.
— Não surta — Luce pediu e Natalie se aproximou tocando
minha mão e deixando a câmera pendurada no pescoço.
Estava perdida, confusa, aflita e cansada.
Os meninos de ambos os times haviam sumido. Jasper com
Samuel também sumiu. Olhei para trás, na bancada onde Andrew
antes estava, mas ele também desapareceu. Me senti ainda mais
agoniada sem saber para onde eles foram.
Kevin não fazia ideia de onde tinha se metido ao me provocar
durante o início do terceiro tempo. Não sabia de onde ele tinha

tirado a ideia de que eu resolveria tudo em campo, com os olheiros

e toda escola nos assistindo. Isso, de fato, quase aconteceu, mas

não faria nada que me prejudicasse em campo.


Durante a discussão no quarto tempo ele citou o quanto minha
namorada era linda e que eu a perderia, acrescentou dizendo que a
prova disso foi a cena que, infelizmente, presenciamos: Andrew com
a mão sobre as mãos de Rebecca.
Eu estava com raiva. Não dela, mas de mim e com a situação.
Simplesmente não sabia como agir diante daquilo e sabia que
Andrew tinha sentimentos por ela, mas não podia culpá-la por isso,
discutir sem explicar o motivo de estar discutindo.
Kevin atingiu o ponto máximo quando disse que saber que ela
era virgem só o deixou mais desejoso de tê-la e isso seria resolvido
agora.
Caminhamos além do jardim atrás da escola, passamos do ferro
velho onde tinha uma quadra de basquete abandonada e lá estava
Kevin com seu time. Havia o avisado de que resolveríamos tudo
entre nós, mas a notícia de que Kevin ousou falar de Rebecca
atingiu o time.
Era inevitável não gostar dela. A garota cativava a todos com
uma facilidade impressionante. Talvez fosse o seu jeito de lidar,
suas opiniões fortes, a forma de tratar as pessoas e a paz que ela
transmitia. Por mais que isso me tirasse do sério, não me
impressionava por ver outras pessoas apaixonadas por ela, eu
entendia, afinal, ela tinha todo o meu coração.
— Quando quiser, capitão — Peter disse e com ele estava
Andrew.
— O que ele está fazendo aqui?
— Não vim por você e você sabe disso — Andrew tomou a
frente.
A confusão se iniciou quando Kevin jogou uma pedra na minha
direção. A qual não me atingiu pois desviei. Foi o necessário para
que eu fosse para cima dele. Minha fúria havia subido até a cabeça
enquanto ele enchia a boca para disparar coisas horríveis sobre a
garota que eu mais queria proteger.
Descontei a raiva que ainda me sobrava, senti um ferro
rasgando minha pele e minha blusa, era um dos jogadores de
Baltimore que tinha acabado de me atingir. O garoto foi tirado de
perto antes que eu pudesse revidar.
Estava cego, via Oliver e Kevin ao mesmo tempo falando coisas
horríveis sobre Rebecca. Não sentia a dor dos ferimentos em meu
lombar, o calor da raiva não me permitia isso. O soquei até Andrew
e Elliot precisarem me tirar de cima dele. Estava furioso, me
provocar tudo bem, mas envolvendo Rebecca era algo inaceitável.
E não durou muito. Os meninos de Baltimore saíram carregando
Kevin, que estava com o braço quebrado. Alguns estavam
machucados também, principalmente o jogador que atingiu Noah
durante o jogo e o que me machucou com a ponta de uma barra de
ferro.
Aquela briga era por Rebecca, por Noah e, principalmente,
pelas babaquices que ouvi de Kevin.
Me soltei dos garotos enquanto tentava colocar meus
pensamentos em ordem. Minhas mãos estavam ensanguentadas
pelo sangue que arranquei do rosto de Kevin, mas ele não havia
acertado um soco se quer em mim e meu corpo ainda tremia em
uma raiva incontrolável.
— Sai todo mundo! — Ouvi Andrew dizer com firmeza.
Balancei a cabeça negativamente me contorcendo e sentindo
meu sangue ferver. Ele era uma das últimas pessoas que queria
conversar.
Me virei e ele me empurrou antes que eu pudesse sair de perto.
— Então agora você fica descontando seu ciúme de merda na
Rebecca? — Disparou me empurrando outra vez. — Se você está
com raiva, desconta em mim seu otário — tentei ignorar, mas ele
novamente me empurrou. — ANDA SEU MERDA! FAZ O QUE
VOCÊ QUISER! MAS NÃO A MACHUQUE! — Gritou acertando um
soco na ferida causada pelo garoto de Baltimore.
Senti meu lombar arder. O chutei e soquei o fazendo cair no
chão. Brigar com Andrew me deixava consciente de que eu bateria,
mas levaria algumas também. Sempre foi assim com ele quando
estudávamos juntos.
Poderíamos fazer isso a noite toda se não tivéssemos ouvido a
sirene da polícia que sempre fazia ronda por aqui.
Nos afastamos; me sentei no chão limpando o sangue de meu
nariz enquanto via Andrew se aproximar mancando e com a mão na
costela parecendo sentir dor. Ele se sentou ao meu lado, um pouco
distante.
— Você perdeu totalmente a noção, brigar com Rebecca por
ciúmes de mim? Otário — disse mostrando a ironia em sua voz.
Era como conversar com ele quando eu me envolvia em
confusões no primeiro ano e ao mesmo tempo era totalmente
diferente.
— Te conheço, Andrew, é quase como se eu conseguisse ler
seus pensamentos quando você a olha — disparei olhando para o
céu estrelado.
— A culpa não é dela — disse sério e se levantou —, quer
saber, Cameron? Eu gosto sim dela, pra cacete. Ela é incrível,
encantadora, me faz bem e eu sou uma pessoa melhor só de ter
amizade com ela. Mas ela, infelizmente, escolheu você e eu não
sabia o que era gostar de alguém, até gostar dela. E acredito que
você seja o único que entenda isso. Porque gostar de alguém ao
ponto de ficar feliz por ver ela com outra pessoa que não seja você,
isso eu achava que estava além da minha capacidade e toda vez,
sempre que você a deixa na lanchonete ela trabalha sorridente,
cantarolando o dia todo ao ponto de deixar os clientes cheios de
admiração... é você, que para mim é um idiota, é você quem ela
quer.
Abaixei a cabeça assimilando tudo o que foi dito.
Suspirei e ele continuou:
— Vou te mandar a real — disse com olhar frio —, eu devia ser
a pessoa que mais torce pelo seu fracasso, porque é disso que eu
preciso. Se ela me quisesse só um pouquinho do que ela te quer, eu
faria de tudo para fazer dela a garota mais feliz desse mundo. Se
fosse só por você, estaria tudo bem para mim. Mas não, não
consigo desejar o seu fracasso porque isso a destruiria e eu jamais
iria querer isso para ela. Então — Andrew estendeu a mão e a
aceitei me levantando —, não ferra com o que vocês têm, Cameron!
Pode ter certeza de que não vou fazer nada a ela, tem minha
palavra.
O olhei nos olhos buscando um fio, um pequeno vestígio de que
tudo o que ele acabou de falar era mentira, mas não era. Conhecia
Andrew o suficiente para saber que ele estava falando a verdade.
— Não confio em você, mas fico feliz por ver que sabe perder
uma guerra.
— Não tem como perder alguém que nunca tive — admitiu com
sofrimento —, não costumo desistir, mas se não desistir significa
deixar ela desconfortável, então..., mas não quero perder a amizade
dela.
— Saber totalmente das suas intenções só me prova que estou
certo, mas sabemos que a decisão de vocês serem amigos não
cabe a você e nem muito menos a mim, é totalmente dela — ele riu
concordando, mas logo ficou sério.
— Espero que você não seja o motivo das lágrimas e nem
quebre o coração dela — advertiu.
— Está me ameaçando? — Ele me lançou um olhar como o de
uma águia.
— Você sabe que sim — afirmou e, antes que eu respondesse,
ele subiu as escadas saindo da velha quadra de basquete.
E então entendi perfeitamente a nossa situação. Enquanto a
felicidade de Rebecca estivesse parcialmente em minhas mãos,
poderíamos considerar que estávamos do mesmo lado, mas se eu
vacilasse, acabaria.
Uma relação estranha que jamais considerei ter com Andrew.
Hoje brigamos pelo mesmo motivo, batemos em alguém que
estava contra nós e depois brigamos entre nós mesmos.
Caminhei até o campo de futebol.
A energia de todos que antes ocupavam as arquibancadas
havia acabado, mas o time estava aqui, eles sempre me esperavam
independente do que acontecia e mesmo que os mandasse para a
casa.
Tirei a camisa rasgada e suja e a passei no machucado em meu
lombar que expelia sangue.
Já estavam todos arrumados para a festa da vitória. Pedi que
fossem para a festa que seria na casa de Peter e ninguém me
questionou.
Cheguei em minha casa com Elliot, precisei colocar uma blusa
escura dele para que ninguém visse o machucado e o carro de
Rebecca estava estacionado em sua casa, isso me faz entender
que ela não tinha ido à festa.
— O que aconteceu? — Mamãe interrogou preocupada assim
que me viu passar pela porta.
— Não sabia que o capitão do time rival brigava tão bem — meu
pai disse rindo de mim.
O olhei vitorioso.
— Não foi Kevin, briguei com Andrew — afirmei e ele riu.
Minha mãe e Elliot se entreolharam, mas Elliot demonstrou que
preferia nem entrar no assunto.
— Ele saiu pior que você? — questionou sem conter a
curiosidade.
— Bem pior — afirmei e ele concordou me puxando para um
abraço.
Precisei me conter para não gemer e nem mostrar expressão de
dor.
— Meu garoto!
— Arthur, eu não sei mais o que fazer com você — mamãe
disse passando a mão na testa e a outra mão na barriga.
— Qual é? O garoto foi demais no jogo de hoje — disse me
soltando e bagunçando meu cabelo.
— Nisso concordamos — ela sorriu passando a mão em meus
cabelos bagunçados e me abraçou com delicadeza, mesmo eu
estando todo suado e sujo.
— Elliot, venha cá por favor — papai o chamou e ambos saíram.
— Estou orgulhosa de você — mamãe disse, sorri balançando a
cabeça positivamente e passei a mão na barriga dela —, mas fale
com Rebecca o quanto antes, ela desabou de chorar quando Luce e
Natalie explicaram o motivo da briga. Elas estão com ela até agora,
Becca sente muita culpa pelas confusões que você anda se
metendo quando aparentemente é por ela.
Concordei, subi para o quarto e me arrumei mais rápido do que
eu achava ter capacidade de fazer.
Olhei minhas costas vendo que estava com uma ferida no
lombar. Limpei a ferida de qualquer jeito e torci para que não saísse
sangue.
Queria ver Rebecca o mais rápido, me desculpar, tocá-la, tê-la
em meus braços onde sentia que podia protegê-la de todo o mal.
Principalmente depois de hoje. Estava ansioso para isso, mesmo
que tenha que quebrar todo o meu orgulho e pedir desculpas.
Desde que isso me fizesse estar com ela, não importava o antes ou
o depois.
Desci as escadas com rapidez.
Elliot me encarou assim que me viu entrando na sala.
— Natalie e Luce convenceram Rebecca de ir à festa, disse que
encontraríamos elas lá.
Concordei, me despedi de meus pais e saímos.

Chegamos na festa e uma comemoração enorme aconteceu


quando passei da porta. As pessoas me parabenizaram e
cumprimentaram.
Respondi a todos, mas só pensava nela.
— Cam! — Ouvi Melissa chamar animadamente — Meus
parabéns, você foi incrível — disse me abraçando.
Retribuí o abraço com rapidez e a soltei.
Cada toque em minhas costas era uma sensação árdua
diferente.
— Desculpe Mel, conversaremos depois — disse calmamente
me afastando dela.
Seu olhar era triste e eu entendia o motivo. Ela sabia quem eu
estava procurando. Minha relação com Melissa era um tanto
estranha.
Quando Alice fez o que fez, foi Melissa quem colou cada caco
meu. O que sobrou de mim foi ela quem reconstruiu, com base em
uma amizade que era boa no início, até ela começar a gostar de
mim de outra forma. Nunca alimentei sentimentos amorosos com
ela, não era justo considerando que eu não sentia o mesmo, mas
isso não impediu que acontecesse o contrário.
Fiz de tudo para que ela entendesse os meus sentimentos e
não criasse expectativas em mim. O pior foi o que ela fez consigo
mesma ao me escolher para ser seu primeiro. Foi um tapa na minha
cara porque eu não sabia e quando soube, não deixei que tal ato se
repetisse e mesmo assim ela manteve a aparência de que eu e ela
tínhamos algo além de beijos. Desisti de desmenti-la no terceiro
boato na escola, era perca de tempo. Tentei de tudo para que ela
entendesse e parasse com essa obsessão. Ela se autodestruía
alimentando um sentimento nada recíproco.
Minha mãe sendo a incrível psicóloga que era, disse que minha
parte eu estava fazendo ao falar dos meus sentimentos e por não
criar nada amoroso com ela, mas que Melissa cairia em si sozinha e
precisaria de muita ajuda quando isso acontecesse pois ela era
dependente emocional.
Não a achava uma garota ruim, mas precisava de ajuda. Seus
problemas pessoais e traumas não resolvidos com a irmã mais
velha afetavam a vida até mesmo de quem estava apenas próximo
dela.
Encontrei Calleb e Luce.
— Onde ela está? — questionei com pressa e eles se olharam.
— Onde ela está?
— No quarto de Peter, com Natalie. Não estava se sentindo
bem e queria ir embora, insistimos que ela esperasse você chegar
— Luce explicou.
Conhecia a casa de Peter. A área dos quartos era proibida
durante as festas, abri a porta que ficava trancada sempre que tinha
eventos assim, isso impedia a passagem de qualquer pessoa.
Quem me atendeu foi o próprio Peter que estava conversando
com Andrew, quando cheguei no topo da escada.
Eu e ele nos olhamos e Peter riu.
— Vocês estão péssimos — afirmou.
Fiquei feliz em ver que Andrew estava pior que eu. O deixei com
os olhos roxos e, pela cara de dor quando ele tocava sua costela,
acredito que esteja com hematomas pelo corpo. Também estava
mancando. Enquanto eu estava com algumas feridas no canto da
sobrancelha esquerda, os punhos machucados — não só pelas
brigas, mas também pelo boxe — e dois hematomas no braço
direito.
— Ela está no quarto, perguntou o que tinha acontecido comigo
— Andrew começou.
— E o que você disse? — questionei começando a andar pelo
corredor.
— Que me envolvi na confusão com os Baltimore Ravens, ela
sabe dessa briga, mas não sabe da outra. Ande logo.
Corri para entrar no quarto e quando o fiz, me deparei com
Rebecca chorando no colo de Natalie. Meu coração se despedaçou
ao vê-la assim. Quando me viu, toda a preocupação pareceu sumir
junto com as lágrimas, dando espaço a raiva e ela veio para cima de
mim.
— Você — me empurrou —, precisa parar de se meter em
confusão — as lágrimas rolaram por seu rosto e mesmo assim ela
começou a me dar tapas — por mim…
Natalie saiu antes que eu pedisse e fechou a porta enquanto
Rebecca perdia as forças. A segurei pelos pulsos olhando seu rosto
molhado e a abracei. Sabia que ela estava furiosa comigo por tudo o
que aconteceu hoje. Não nos falamos direito, eu ainda fui um
babaca com ela e briguei com o time rival. Se os olheiros de
Stanford souberem disso, poderiam não me querer na universidade.
Isso era uma das milhares de coisas que eu me impressionava
com ela. Ela odiava brigas, tentava evitá-las a todo o custo e ainda
se culpava por eu bater em alguém que falou dela. Por que ela se
sentia tão culpada por uma coisa que claramente não era sua
culpa?
— Amor — chamei calmamente quando senti que ela estava
mais calma.
Estava com a cabeça em meu peitoral, mas não se moveu.
Com cuidado, a trouxe até a cama, me sentei e a puxei com
cautela para não a machucar. Ela deitou a cabeça em meu peitoral e
eu fiquei ali, apenas ouvindo sua respiração.
— Você não pode continuar brigando por mim — ela se inclinou
um pouco me olhando, dobrei as pernas e ela se encostou nas
mesmas —, por favor, não quero você se machucando assim — sua
voz falhou e eu a abracei novamente.
Tirei os óculos de seu rosto e afastei o cabelo de sua nuca.
— Não posso prometer isso — sussurrei em seu ouvido —, mas
não se culpe pelo que as pessoas falam e nem pela forma com que
eu reajo a essas coisas.
— Cameron — ela se afastou se sentando na cama com as
pernas dobradas, tentou recuperar a força enquanto fungava e
limpava o rosto —, não vou aguentar mais alguém se machucando
por minha causa.
— Mais alguém? — Acariciei seu rosto me arrumando na cama,
entrelacei nossos dedos e ela suspirou. — Quanta culpa você
carrega dentro de você, minha princesa? — Beijei suas mãos.
— Uma maior do que eu aguento — admitiu abaixando o olhar.
— Então não carregue sozinha — pedi e ela me olhou —, me
deixe te entender.
Ela pareceu pensar um pouco no que falar.
Respirou fundo e começou:
— Com sete anos vi meu pai apanhando de três bandidos por
mim, ele apanhou muito. Estávamos saindo do mercado e eles iam
levar o carro comigo dentro, meu pai o travou e quando os bandidos
viram o que ele fez, começaram a bater nele sem parar, até deixá-lo
inconsciente — as lágrimas silenciosas desceram em seu rosto, as
limpei, mas outras apareciam — e eu vi tudo, Cam, comecei a bater
desesperadamente nas janelas do carro, mas não conseguia sair.
Fiquei ali, impotente, vendo meu pai ensanguentado por minutos até
alguém encontra-lo.
— Becca…
— Essa foi uma das coisas que são minha culpa, mas eu
destruí minha mãe — as lágrimas vieram com mais força, pensei em
pedir para ela parar, mas ela continuou. — Quando descobri a
diabetes, minha mãe começou a ter crises de ansiedade. Achava a
todo tempo que eu iria morrer, não dormia, não comia direto, vivia
em minha função — ela apertou os olhos e limpou o rosto, o que
não adiantou nada, ela não parava de chorar. — E isso fez com que
ela deixasse Isaac um pouco de lado, o TDAH dele piorou com isso.
Isaac todo dia vai no meu quarto antes de dormir para ver se eu
estou bem. Cam — ela me olhou nos olhos —, eu sou um gatilho
para a minha família — a voz dela falhou e ela desabou em
lágrimas.
A abracei com força, queria tirar toda essa culpa dela, toda essa
dor. Preferia morrer sentindo dores por ela, do que vê-la assim. A
deixei chorar até que se acalmasse outra vez.
— Amor, sei que nada do que eu falar vai mudar o que você
sente — disse calmamente em seu ouvido, ela se mexeu tentando
levantar o rosto, mas a mantive em meus braços — apenas me
escute, minha princesa — pedi acariciando seus cabelos. — Os pais
sempre se preocupam com os filhos, não é sua culpa ter diabetes e
isso leva tempo para a adaptação, mas não é sua culpa e isso não é
gatilho, é apenas um se acostumar com a situação. Isaac ainda é
criança e é normal ele ter medo de te perder, porque ele te ama.
Seus pais te amam. Se Owen te defendeu no estacionamento do
mercado, foi por amor e você não deve se culpar por alguém te
amar.
Ela levantou o rosto e me olhou com seus olhos verdes.
Continuei:
— E você não pode se culpar por eu querer te proteger — ela
deu um leve sorrisinho. — Não é sua culpa, amor, jamais vai ser.
— Mas fico tão aflita quando você se envolve em alguma
confusão, quando é por mim então, nem se fale.
Encarei seu rosto com as bochechas rosadas e o nariz e olhos
avermelhados pelo choro. Ela era linda de qualquer forma, até
depois de uma crise de choro. Poderia ficar apenas a admirando,
mas sabia que tinha de falar algo.
— Como assim? Acha mesmo que não sei me cuidar? —
questionei como se fosse a maior ofensa de minha vida.
— Claro que não — ela finalmente abriu seu sorriso e isso me
deixou feliz de uma forma inexplicável —, mas preferia que não
fossem necessárias essas confusões.
— Rebecca, olha bem para quem você não quer que se meta
em confusões — ela me olhou incrédula e eu a puxei para os meus
braços quase a deitando em meu colo —, tenho um histórico familiar
de homens que brigam muito, quando conhecer meus parentes vai
ouvir as histórias — ela sorriu.
— Vai me apresentar para os seus parentes? — questionou
animada.
— Sim, com certeza. O que acha de ser nas férias de verão?
— Eu adoraria — disse me puxando pela nuca e selando
nossos lábios com graciosidade.
— Becca, sobre hoje cedo... — ela se arrumou na cama — me
desculpe, eu fui um completo idiota, não devia ter falado o que eu
falei. Não é só um namoro falso, reconheço que fui um otário e nem
sei como fazer para você me desculpar. Fico louco quando você
está com ele, mas não é sua culpa, eu sei — as palavras se
embaralharam em minha mente.
— Não gostei do que você fez, não por reclamar de algo que te
incomoda, mas sim porque começou a falar na hora errada, sim
você devia ter entendido que a competição era minha prioridade
naquele momento e não, não vou me afastar de ninguém —
disparou e a garota que antes chorava em meus braços parecia ter
desaparecido. — Não é minha culpa outras pessoas gostarem de
mim…
— Eu sei, Rebecca, eu sei — disse desanimado.
— Posso continuar? — questionou deixando nítido o incomodo
em ser interrompida e eu concordei. — Da mesma forma que eu
convivo com as meninas loucas te querendo, gritando sempre que
você tira a camisa, se insinuando o tempo todo, você vai precisar
conviver comigo falando normalmente com outras pessoas. Não
tenho medo, Cam, ciúmes? Sim, claro. Mas medo não, porque sei
que você está me esperando — ela suspirou recuperando o fôlego
—, a verdade é que eu estou completamente apaixonada por você,
não tem espaço para gostar de outra pessoa — disse olhando em
meus olhos e eu senti um balão de felicidade crescendo dentro de
mim. — Gosto, de verdade e apenas de você, Cameron — admitiu e
um brilho apareceu em seu olhar, a puxei selando nossos lábios.
Ela tinha acabado de admitir.
Eu queria mais. Queria sentir de verdade seus lábios, mas sabia
que ela queria esperar, por mais difícil que fosse estar com ela e
não a beijar, respeitar seu espaço era meu dever.
Rocei a ponta de meu nariz em sua pele, sentindo seu cheiro
maravilhoso que me deixava nas nuvens e a abracei com mais força
a ouvindo prender a respiração quando beijei seu pescoço.
A olhei acariciando seu rosto e ela parecia frágil, mas sabia que
não era, nenhum pouco.
Em meus braços eu sabia que poderia protegê-la de qualquer
coisa, mesmo que não precisasse, na verdade ela não precisava.
Rebecca era forte, sabia muito bem se defender, mas daria a minha
vida por ela se fosse necessário.
— Você me desculpa? — questionei acariciando seu rosto e ela
me olhou sorrindo.
— Só se você deixar eu cuidar da sua pele amanhã à noite —
pediu com os olhos com os de uma criança.
Segurei a risada com o seu pedido.
— Sem chance.
— Por favor, amorzinho? — Pediu com manha e eu não resisti.
A olhei e selei nossos lábios.
— Tudo bem — disse entediado e ela sorriu me abraçando.
— Mas não fale mais comigo daquele jeito e não é legal você
usar uma coisa que você sabe que me afeta contra mim, na próxima
vez, vou colocar fogo em você — gargalhei com a sua ameaça.
— E não jogue na minha cara o fato de que as meninas ficam
em cima de mim, não é minha culpa — rebati e ela concordou.
— Me desculpe por isso, falei na hora da raiva e... não justifica,
me desculpe — pediu olhando em meus olhos..
— Tudo bem amor — beijei suas bochechas e ela sorriu.
Saímos do quarto abraçados. Eu não podia me sentir mais
tranquilo e aliviado agora que estávamos bem.
— Credo, está em relacionamento saudável — Calleb disse
assim que nos viu no corredor.
Rimos o olhando e eu balancei a cabeça negativamente.
— Resolveram? — Natalie questionou esperançosa.
— Sim — Rebecca respondeu naturalmente.
Descemos para a festa e era nítido o desconforto dela no meio
de toda aquela gente. Ela saiu indo até a parte de piscinas e ficou
sentada com Luce e os meninos enquanto eu fui cumprimentar o
time.
Depois de um tempo deixei a brincadeira que os meninos
estavam fazendo com bebidas e me aproximei dela, me sentei ao
seu lado tentando não encostar meu lombar no sofá, mas era
impossível, tomei cuidado para minha blusa não colar na ferida após
encontrar uma posição confortável no sofá.
A abracei enquanto ela e Luce conversavam animadamente.
— Luce, estamos indo embora — Jasper disse se levantando,
jogou o toco de cigarro no chão e o pisoteou.
— Algum problema, cara? — questionei e Rebecca se deitou
em meu peitoral me deixando abraçá-la.
— Nenhum, mano, preciso resolver algumas coisas — explicou.
Concordei quando ele me deu um toque de mão e saiu com
Samuel.
— Ele está estranho ultimamente — Luce disse o observando
sumir na multidão.
— Deve ser o estresse das competições — Rebecca rebateu
ainda deitada em mim.
— Acho que tem alguma coisa a ver com sua família biológica,
ele sempre quis descobrir sobre — Luce comentou.
Rebecca ficou em silêncio. A olhei e ela olhava na mesma
direção de Luce: Melissa. Luce estava boquiaberta prestes a babar
quando Rebecca estralou os dedos a acordando.
— Se você é a fim dela, não espere que ela vá adivinhar —
alertou arrumando os óculos no rosto.
— Eu? A fim de Melissa? Essa loirinha nojenta? — Ri da forma
que Luce disse e me impressionei por nunca ter percebido o olhar
dela em Melissa.
— Vai logo atrás da garota, Lucinda — reclamei.
Eu e Rebecca nos olhamos rindo quando Luce se levantou
fingindo estar ofendida.
A olhamos caminhando até Melissa, mas ela escolheu desviar o
caminho e seguir até um grupo de alunos e Rebecca me olhou.
— Nem todos tem coragem de falar sobre seus sentimentos —
disparei acariciando sua nuca e envolvendo meu braço em sua
cintura a puxando para mim.
— Inclusive você — disse com tom desafiador, franzi o cenho e
ela continuou —, eu já falei que gosto de você e você…?
— Meu coração está com você e eu prometi te esperar —
expliquei como se fosse óbvio.
— E… — Disse esperançosa.
Abri minha boca para falar e as palavras entalaram em minha
garganta. A esperança em seu olhar se desfez e ela tentou não
mostrar que aquilo a chateou.
Eu demonstrei, sem problema ou dificuldade alguma, e por que
simplesmente não conseguia falar o que estava em meu coração?
— Tudo bem, amor — ela selou nossos lábios —, eu te espero
— seus lábios formaram um sorrisinho.
— Josh e Calleb brigaram e Josh está passando mal porque
bebeu além da conta. Cameron, pode ajudá-lo? — Karen, a irmã de
Josh e presidente do grêmio, pediu demostrando preocupação.
Rebecca me olhou concordando e eu saí o mais rápido que
pude. Assim que me dirigi até a cozinha, ouvi uma gritaria vindo do
lugar que estava e antes que eu pudesse ver o que estava
acontecendo, Elliot me puxou para ajudar a levantar Josh.
Não tinha moral nenhuma, mas esses meninos precisavam
parar de afogar as mágoas nas bebidas ou acabariam se matando.

Josh levou mais de uma hora para se acalmar e então percebi


que ele não tinha apenas bebido, mas tinha se drogado também.
Não precisava explicar o tanto que eu e Elliot brigamos com Peter
por aquilo, o alertei milhares de vezes sobre usar essas merdas e o
avisei pela última vez que a próxima não passaria, teria que tirá-lo
do time mesmo que isso nos fizesse perder um ótimo jogador.
A festa tinha acabado e a casa de Peter estava uma bagunça.
Desci as escadas e vasculhei o lugar a procura de Rebecca.
— CAMERON! — Ouvi uma voz aguda me gritar da sala.
— Agora não, Katherine — disse firme.
— Você não fala mais comigo direito, bebe algo comigo por
favor — implorou.
Me virei em sua direção.
— Eu nunca, nunca mais vou beber nada com você. Já chega,
Katherine, tentei ficar numa boa, mas chega. Se continuar no meu
caminho, todo mundo vai saber que você precisou me embebedar
para dormir comigo — esbravejei, sem paciência.
Katherine me olhava amedrontada e se encolheu com os olhos
marejados.
Demorou para que eu entendesse o que Katherine tinha e era o
tipo de coisa que iria comigo para o túmulo, mas como ela pôde ser
tão podre e por que demorei tanto para perceber o que tinha
acontecido? Ela literalmente se aproveitou de mim bêbado. Mas
quem acreditaria que eu, logo eu, fui vítima de uma coisa assim?
Sai da casa indo até às piscinas e finalmente a encontrei.
Estava de mãos dadas com Natalie, limpando o rosto e a roupa
estava suja de bebida. Corri em sua direção.
— O que aconteceu? — Perguntei me agachando e tocando
sua perna.
Bastava estar perto dela para me sentir mais calmo.
— Karen derrubou bebida em mim — disse limpando o nariz
com a manga da blusa. — Estou exausta, pode me levar para a
casa? — Pediu se levantando e caminhando até a saída.
— Cam — Natalie chamou antes que eu seguisse Rebecca e eu
voltei minha atenção para ela —, Becca chora de exaustão e fica
sensível, muito sensível. Ela está de cabeça cheia, passou o dia
todo na escola trabalhando, participou de uma competição e não
gosta de descontar em ninguém. Se precisar de mim, me chame
que eu vou até ela.
Concordei balançando a cabeça.
Ela me ajudou quando não conseguia dormir direito, o mínimo
que podia fazer era estar com ela agora. E eu queria estar.
Abri a porta do carro para ela e dirigi o mais rápido que pude.
Sua casa estava toda apagada e ela chorou por aquilo, tentando
disfarçar para que eu não me preocupasse.
— Ei, amor, podemos pegar umas roupas de Natalie e você
dorme lá em casa.
— Não, Cam, não posso dormir na sua casa — afirmou.
Segurei seu rosto com cuidado.
— Não estou pedindo, você vai dormir lá em casa, quando for
de manhã, você toma seu remédio, mas agora precisa descansar —
disse calmamente.
Ela abriu a boca para falar, mas acabou concordando.
Tomei um banho e senti meu lombar arder novamente. Coloquei
uma blusa preta, um short qualquer e sai do banheiro vendo minha
mãe entregar uma xícara para Rebecca.
— Obrigada, sogrinha — ela brincou e mamãe riu.
— De nada, filha — mamãe se encheu de orgulho ao chamá-la
de filha.
Ela e Rebecca se olharam com sinceridade e isso me trouxe
uma alegria inexplicável.
Mamãe me olhou enquanto eu as olhava e Rebecca seguiu seu
olhar, seus olhos continuavam avermelhados, assim como a ponta
de seu nariz.
— Querido, posso falar com você um minutinho? — Concordei e
saímos do quarto.
— Ela nem comeu direito hoje — disse em voz baixa e ela
concordou.
— Preciso te contar uma coisa, filho — mamãe começou
também em voz baixa —, sabe que amo os pais dela, eles são
ótimos, mas com a faculdade estão pressionando muito ela — a
olhei e comecei a entender um pouco do porquê Rebecca estava
chorando com tanta facilidade. — Ela só tem dezessete anos,
carrega o peso de irmã mais velha, de representante, de estudante
que precisa ir para faculdade e tem as pessoas que ficam em cima
dela. Seu pai também ficava te pressionando com a faculdade —
relembrou e eu concordei dando de ombros —, mas vocês se
resolveram nisso ou estão se revolvendo. Só que Olívia nessa parte
é muito difícil de lidar, ela quer tanto o bem da filha que não percebe
que está fazendo mal. É errado, mas os pais fazem isso sem
perceber. Owen desabafou sobre isso com seu pai, eles andam se
desentendendo por isso — mamãe suspirou. — Quando Rebecca
tinha menos idade, fazia milhares de coisas ao mesmo tempo: luta,
esportes, idiomas… e a alimentação não era das melhores, então...
— Ela não nasceu diabética, ela adquiriu?
— Isso mesmo — respondeu desanimada —, comia besteiras
nos intervalos que tinha entre tudo o que fazia, não há corpo que
aguente.
Meu queixo caiu.
— O que devo fazer? — questionei preocupado e ela sorriu.
— Você já está fazendo o suficiente só de respeitá-la e estar
presente — concordei pensativo, mas ainda não era suficiente —,
mas a deixe chorar quando ela precisar — disse se levantando. —
Estou exausta, boa noite filho — beijei a testa dela como de
costume.
— Boa noite.
A observei indo até seu quarto, entrei no meu e lá estava ela,
com os olhos cansados na tv e resistindo ao sono.
— Hora de dormir, minha princesa — disse fechando a porta.
Ela colocou a xícara na escrivaninha e estendeu os braços
como uma criança pedindo colo. Sorri a abraçando e selando
nossos lábios.
Ficamos assim por segundos até eu sentir minha pele
queimando e logo minha blusa estava colando nas feridas.
— Amor — Rebecca disse em voz baixa e olhando a própria
mão.
Olhei na mesma direção e estava com um pouco, bem pouco,
de sangue. O corte não tinha sido tão fundo, mas ainda sangrava.
Me levantei rapidamente caminhando até o banheiro e antes
que eu pudesse fechar a porta, Rebecca a segurou. Precisei ter
cuidado para não bater à porta em sua mão.
— Não — disse firme e com os olhos marejados —, você vai me
deixar te ajudar e ponto!
— Não precisa — afirmei tentando fechar novamente a porta.
Ela entrou no banheiro sem dizer nada, pegou a caixa de
primeiros socorros e me puxou pelo braço.
— Deita — ordenou com seu típico tom mandão e o pior de tudo
era que eu gostava de vê-la daquela forma.
Sorri tirando a blusa e me deitando de costas para ela.
Rebecca começou a limpar a ferida, que pelo jeito não era tão
grande, e sua mão era cuidadosa enquanto fazia o curativo.
Senti seus dedos delicados contornando minha tatuagem.
A olhei e ela estava um pouco pálida olhando os dedos como se
milhares de coisas se passassem em sua cabeça. Parecia perdida e
balançou a cabeça me olhando e limpando o canto dos olhos.
— Kevin fez isso com você? — questionou fungando e
arrumando as coisas sem me olhar.
Ela estava exausta, era notório, e mesmo assim começou a
limpar meus punhos pelos socos que tinha dado.
— Não, foi outro jogador que tentou me tirar de cima de Kevin
— expliquei.
Ela balançou a cabeça e começou a limpar um pequeno
machucado no canto de minha sobrancelha.
— Andrew foi te ajudar? — questionou assim que terminou.
Ela guardou as coisas no banheiro e voltou ainda com olhar
interrogativo.
— Foi por Noah, eles são amigos — expliquei.
A puxei para se deitar e ela aceitou de bom grado.
— Sua tatuagem tem algum significado ou só fez por que quis
mesmo? — Perguntou sonolenta.
Apaguei o abajur e a abracei forte.
— Um dia te contarei, prometo — selei nossos lábios e ela se
aconchegou em meu peitoral.
Puxei a coberta para cima de nós. Fechei meus olhos e foi
inevitável não lembrar do motivo de ter feito uma tatuagem tão
grande.
Foi minha primeira e foi depois da filha do antigo pastor dos
meus pais ter inventado que eu tentei pegá-la a força quando na
verdade eu não quis sexo com ela.
Quando ela falou isso, meu pai me bateu demais porque achava
que eu estava mentindo e exigia a verdade. A fivela do cinto pegou
bem nas minhas costas, a rasgando.
Lembro que quase desmaiei e vi mais sangue do que achava ter
em meu corpo. Meu pai só parou quando viu o que tinha feito e isso
foi por minha mãe ter corrido para fazê-lo parar.
Quando a garota contou a verdade, meu pai ficou quase um ano
sem conseguir olhar em meus olhos de tanta vergonha que sentia.
Aproveitei a situação e fui morar com meu avô, algumas coisas
mudaram entre nós, mas eu ainda não tinha me esquecido do que
aconteceu. Meu coração disparou ao lembrar de tudo aquilo, ainda
sentia as dores nas costas.
Foi fundo e precisei levar pontos na época. Meu pai se
desculpou e agora fazia muito por mim, mesmo quando encontrou
maconha nas minhas coisas e eu perdi o time, ele não tentou me
bater. A maconha na verdade era de Natalie, mas ninguém
precisava saber disso, felizmente ela não usava mais essas coisas.
Minhas mãos começaram a suar e a dor em meu lombar
apareceu do nada por ter lembrado do que aconteceu.
Droga, eu estava todo destruído, o que tinha a oferecer a…
— Amor? — Ouvi sua voz mansa e todos os meus pensamentos
ruins sumiram. — Não me solta não — pediu em um sussurro se
aconchegando mais em mim e então percebi que estava quase a
soltando.
Senti seus doces lábios tocando os meus e a calma dominou
meu corpo. Ela me abraçou forte sem tocar meu lombar e a dor foi
sumindo dando espaço a calmaria. Foi como se eu estivesse em
uma enorme tempestade que me consumiria e me destruiria a
qualquer momento e ela, apenas ela, me acalmou totalmente.
A abracei forte e ao olhá-la dormindo serena, percebi que tinha
o mundo, mais do que isso, em meus braços.

Abri meus olhos e a vi desmaiada no chão de meu quarto.


Gritei seu nome, mas minha voz não saia. Tentei tocá-la, mas fui
empurrado para longe.
Eu estava cada vez mais longe e não podia ajudá-la, não podia
protegê-la, não podia nada. Tentei correr até ela e quando
finalmente consegui, ela havia sumido. E como em um passe de
mágica estávamos em um hospital. Corri pelos corredores a
procurando e ninguém sabia dela. Entrei em um corredor e a vi. Os
médicos conversavam com seus pais e Isaac abraçava a mãe com
força. Comecei a bater no vidro, mas ninguém me ouvia. Bati com
mais força, mas não tinha portas que me deixassem entrar.
— BECCA, NÃO! NÃO! — Gritei batendo no vidro quando os
médicos começaram a desligar os aparelhos.
Não. Eu não podia perdê-la. Não podia! NÃO PODIA!
— BECC…
— Amorzinho? — Pulei da cama em um susto.
Outro sonho com ela, mas esse tinha sido o pior de todos, sem
dúvidas.
Me faltaram palavras, a puxei a abraçando, a sentindo.
— Você está bem? — questionei tocando seu rosto tentando
mostrar calma, mas estava desesperado, nunca tinha me sentido
tão agoniado.
— Amor, você está queimando — ela retribuiu meu abraço e
meu corpo estava todo suado; — Cam? — A abracei mais forte,
mas com cuidado.
— Pensei que tinha te perdido — sussurrei e ela ficou em
silêncio por instantes.
— Não perdeu — ela levantou o olhar —, eu estou aqui —
afirmou selando nossos lábios.
Quis questioná-la, mas não tinha forças.
Sai da casa de Cameron antes que ele acordasse.
Natalie quem abriu a porta para mim e fiquei feliz em vê-la bem,
normalmente sempre voltava das festas podre de ressaca e agora,
ela quem cuidava dos meninos que ficavam bêbados.
Depois que Cameron acordou no meio da madrugada gritando
meu nome, demorou um pouco para dormir. Estava morta de
cansaço, mas consegui forças para cantar até que ele
adormecesse.
Não contei que o ouvi gritando que não podia me perder.
Parecia desesperador e não queria atormentá-lo com aquilo, ele
tentaria me fazer acreditar que estava tudo bem, mas confesso que
nunca o vi tão vulnerável e desesperado. Assim como eu, Cameron
com certeza carregava pesos que não deviam ser dele e fingia estar
tudo bem.
Estava tocando o piano que temos em casa, próximo da lareira,
enquanto minha mãe andava da cozinha para a sala de estar a todo
vapor.
Ela se aproximou de mim outra vez, ainda eram nove da manhã
e já tinha me questionado, pelas minhas contas, dezessete vezes se
eu realmente estava conseguindo lidar com tudo: as
responsabilidades da escola, o trabalho, o estudo e Cameron.
Pela primeira vez precisei mentir e disse que estava tudo sob
controle, mesmo que eu tenha desabado de chorar com Cameron
ontem e me sentia mais leve, sem dúvidas.
Mamãe estava uma pilha de nervos e acabava sobrando até
para as funcionárias da família. Papai estava trabalhando, tinha dois
casos para resolver, com ele aqui as coisas eram mais fáceis.
— Querida, pode parar de tocar um pouco? — Pediu irritada,
mas tentou manter a calma ao falar comigo.
Parei de tocar no mesmo instante e ela atendeu uma ligação,
seu rosto ficou iluminado e ela desligou a chamada.
— Vou sair com Eliza e as crianças, quer ir junto?
Quase suspirei aliviada em ouvir aquilo.
— Não, não, Isaac pediu minha ajuda em matemática —
relembrei.
— Ah, claro. Você quer que eu fi...
— Não, por favor — pedi e ela acabou rindo. — Você está um
poço de nervos, é melhor sair um pouquinho.
— Já entendi
Subi as escadas até o quarto dos bebês começando a preparar
as coisas para dar banho neles enquanto minha mãe pegava as
roupinhas deles que estavam em outro cômodo, Nádia, uma das
funcionárias mais novas da família, estava me ajudando. Ela
trabalhava com a gente fazia uns anos e sempre viajava quando nos
mudamos.
— O QUE FOI ISSO? — Isaac gritou correndo até mim e
levantando a barra de minha blusa vendo uma leve equimose roxa
esverdeada.
Pensei em milhares de coisas para dizer e abaixei a blusa de
imediato percebendo que quando levantei os braços a blusa subiu
um pouco.
— Cai ontem no meio do corredor, você precisava ver que
tombo horrível foi aquele — fingi uma gargalhada e ele riu.
— Desastrada.
— Às vezes — brinquei.
Nádia me olhou desconfiada e em nenhum momento riu da
minha mentira. Desviei o olhar dela voltando a cuidar das crianças.
Cameron durante o, provável, pesadelo me apertou com muita
força. Foi por isso que acabei despertando e acordando ele, mas
não era sua culpa, ele nem estava acordado. Ficou uma marca leve
que provavelmente sairia entre hoje e amanhã. Isaac acreditou
porque sempre aparecia algum roxo em minha pele, às vezes
parecia que alguém me tinha me socado de verdade sendo que isso
era causado por eu esbarrar em tudo que era canto de casa.
— Isaac pegar um shampoo para as crianças, por favor? —
Nádia pediu com seu tom doce.
Ele saiu correndo como o Naruto com os braços para trás, ele
sempre fazia isso.
Nádia pegou meu pulso com delicadeza e o virou com cuidado
mostrando uma marca minúscula em meu braço.
— Senhorita, desculpe a indiscrição, mas o que aconteceu?
Devo me preocupar? — questionou preocupada.
— Promete não contar a ninguém?
— Sabe que nesse caso depende — rebateu sem medo
nenhum na voz.
Suspirei e comecei a explicar o que tinha acontecido.
— Não sei o que ele sonhou, mas não achei que era momento
pra perguntar — finalizei.
— Ele precisa saber — neguei com a cabeça.
— Cameron perde o sono com facilidade, comigo ele ainda
dorme e relaxa. Se ver isso… — suspirei — Não, não vou contar
nada.
— Querida…
— Está decidido, Nádia — disse com firmeza e ela apenas
concordou.
Minha mãe entrou no quarto e avisou que terminaria de cuidar
das crianças com Nádia.

Eleonor, a funcionária mais antiga da família, foi atender a porta


enquanto eu continuava explicando expressões numéricas a Isaac.
— Está pronto meu Shinobi? — questionei e ele sorriu.
— Sim, com certeza — respondeu animado.
Ele amava minhas explicações pois sempre envolvia Naruto.
Olhei as expressões numéricas e formulei a pergunta em minha
mente, de uma forma que ele entenderia.
— Essa é a pergunta — mostrei a questão: X=9 +(8x5÷4)-17. —
O que precisamos fazer primeiro para encontrar o valor da aliança
Shinobi?
Aliança Shinobi para Isaac era o X, ou seja, precisávamos achar
o valor de X.
— Resolver as contas dos parênteses.
— Isso mesmo. Como vai fazer isso? — Ele pensou um pouco.
Usaria a explicação das Bijuus do Naruto.
— Hachibi, oito caudas. Gobi, cinco caudas. Hachibi vezes
Gobi, 40 — disse a si mesmo anotando no caderno —, dividido por
Yonbi, quatro caudas, fica 10 — ele anotou o número dez — Kyuubi,
nove caudas. Com dez, fica dezenove. Dezenove menos dezessete,
sobra Matatabi, duas caudas. Sobra dois.
Todo esse raciocínio de Isaac foi falado em menos de um
minuto e eu sorri por ele ter entendido tudo. Para alguns, esse
caminho era mais difícil, mas era o melhor para Isaac.
— ACERTOU, VOCÊ ESTÁ A UM PASSO DE SE TORNAR UM
CHUNNIN — comemorei o abraçando e ele sorriu animado.
— Acha que vou conseguir? Mamãe não está confiante — disse
desanimado.
— Claro que vai conseguir! — Ele me olhou sem acreditar muito
em minhas palavras. — Quer desistir? O que Naruto faria? — Ele
gargalhou.
— Quero que minhas aulas extras sejam assim também — ouvi
a voz dele e meu coração disparou.
Gelei. Puxei as mangas finas da blusa que estava usando para
cobrir o pequeno roxo em meu braço, mas eu estava morrendo de
calor.
— Prima, quero estudar assim também — Jeff me abraçou e
Isaac correu para abraçar Cameron.
Me levantei ainda confusa.
— Oi Jeff, quando precisar eu te ajudo — beijei o topo de sua
cabeça dele e ele sorriu.
— Cameron vai levar a gente no parque aquático — me virei o
olhando confusa.
Cameron estava com roupas folgadas, bermuda vinho e blusa
preta. Fiquei um tanto perdida e o olhando em busca de respostas.
— Vamos Isaac — Jeff e ele começaram a arrumar a mesa com
os materiais e eu caminhei até a sala com Cameron.
Ele me deu um selinho e afastou meu cabelo dos ombros.
— Está com frio? — Indagou desconfiado e eu neguei com a
cabeça.
— O que aconteceu? — questionei deslizando as unhas nos
músculos de seus braços e ele me apertou um pouco mais forte. —
Não sabia que os meninos iam sair com você — tentei me esquivar
de seus apertos, mas era impossível.
— Os meninos do time tinham marcado de irmos no parque,
Isaac estava junto quando eu e Elliot falamos sobre, então o chamei
para ir — explicou.
— O time e meus dois nenéns? — Ele concordou. — Cam, não
deixe os meninos do time fazerem maldade com os pequenos —
pedi e ele riu selando nossos lábios.
— Não vou deixar — nos sentamos e eu coloquei minhas
pernas em cima das suas. — Vai fazer o que hoje?
— Bom — entrelacei nossos dedos o fazendo parar de acariciar
minhas pernas, isso me causava arrepios —, já que Isaac vai sair,
vou passar na Goldens — ele me olhou com o cenho franzido.
— Por quê? Vai trabalhar hoje? — Neguei balançando a cabeça.
— Vou ir pedir as contas — suspirei o vendo tentar não deixar
aparecer um sorriso nos lábios. — Você nem disfarça — o empurrei
pelo ombro.
Ele se deixou rir e selou nossos lábios com calma.
— Amor, vou sempre te apoiar quanto a estudar, trabalhar ou
fazer o que você quer fazer, para mim não é problema nenhum.
Bom, respeito sua amizade com seu chefe — disse contendo a
expressão franzida.
— Mas?
— Sem mais, não quero voltar nesse assunto — disse olhando
minha mão e a acariciando.
Sabia que tinha mais, que queria falar que ficava feliz por me
ver longe de Andrew, mas depois de tudo ele preferiu ignorar.
Sorri dando dois selinhos em seus lábios.
— Estou pronto — Isaac apareceu na sala todo animado.
— Então vamos — Cameron disse e eu tirei as pernas de cima
dele.
Os levei até a porta, Isaac e Jeff correram para fora até Josh e
Eric que acenaram para mim, retribui sorrindo. Peter não estava
junto, então me lembrei do ocorrido na festa, pelo menos Josh
parecia estar bem.
— Cuida deles, por favor — pedi olhando Cameron.
— Como se fossem nossos filhos — disse selando nossos
lábios e por algum motivo senti confiança nele, não só em cuidar
dos meninos, mas suas palavras soaram como uma promessa para
o nosso futuro.
— Ei — segurei sua blusa antes que ele se afastasse —, você
está bem? — Indaguei e ele forçou um sorriso me abraçando.
— Sim, estou, me descul…
— Não — o olhei nos olhos —, não vou aceitar desculpas pelo
que aconteceu porque você não teve culpa — beijei seus lábios. —
Anda, vai se divertir — o soltei.
Ele beijou minha testa e se aproximou dos meninos após soltar
minha mão. Observei o carro até o perder de vista.
Andei pelo meu quarto, encarei minha bíblia e a peguei tocando
a capa. Me olhei no espelho sabendo exatamente para onde devia
ir.

A praia era há trinta minutos de carro da minha casa e tinham


várias rochas grandes. Meu pai, o maior fã de Vikings, batizou essa
praia como Ragnarok e sua explicação era de que o nome era
bonito e só a opinião dele importava.
Sorri o ouvindo falar essas palavras como se estivesse ao meu
lado.
Subi em uma rocha enorme, a praia não tinha muita gente
mesmo estando calor, se fosse no Brasil estaria lotada. Me sentei na
rocha e encarei o vasto e belíssimo oceano.
Águas cristalinas e uma brisa suave me trouxeram uma paz
enorme e abundante. Sabia que Deus estava comigo e a paz
repentina que estava sentindo com certeza vinha DEle.
Não precisei fechar os olhos. Uma energia muito forte de
tranquilidade e amor estava presente. Meu coração se encheu de
alegria, meu estômago queimava intensamente e até o vento
parecia soar uma melodia calma.
Me deixei chorar, sem explicação alguma. Mas era bom em meu
coração. Minhas preocupações, o medo de perder Cameron, as
cobranças que eu fazia a mim mesma, o não ser boa para minha
família, não orgulhar meus pais, não cuidar dos meus irmãos, não
entrar em Stanford, não ser uma boa amiga pra Natalie e Andrew,
meus sentimentos, meus medos...
Repentinamente começou a garoar e o tempo foi se fechando.
O céu trovejou com flashs fortes de trovão dentro das nuvens, mas
não me davam medo, o dia ainda estava lindo. Tirei meus óculos,
me levantei com cuidado na rocha e encarei o céu.
— Obrigada por me ouvir — disse sorrindo e novamente
trovejou.
Desci da rocha com cuidado, sabendo que quem tivesse me
visto aqui com certeza me acharia uma louca.
Entrei no carro e batuquei os dedos no volante.
Hora de começar a colocar as coisas em ordem.
Decidi ir falar com Andrew, não tinha mais como adiar.
Meus pais sabiam da minha decisão, no fundo eles também
tinham a noção de que não aguentaria se continuasse com tudo
aquilo, além de que eu precisava refazer meu cronograma de
estudos.
Esme quem me atendeu quando cheguei, a abracei e ela
entendeu o que tinha vindo fazer, havia comentado com ela antes.
— Promete não me esquecer?
— Jamais, irmã mais velha — a abracei novamente e caminhei
até o escritório de Andrew.
Bati na porta duas vezes e ninguém me atendeu, a abri um
pouco receosa do que veria e quando vi, a preocupação tomou
conta de mim.
Fiquei aliviada por saber como reagir diante dessa situação pois
Jeff tinha asma. Fechei a porta rapidamente vendo Andrew buscar
ar para os seus pulmões. Ele estava desesperado e vermelho, cada
vez mais vermelho. A bombinha estava em cima da mesa, mas ele
não a viu.
A peguei e levei até sua boca cuidadosamente apertando o
botão que saia a medicação. Ele segurou minhas mãos com
precisão e puxou o máximo de ar possível. Nunca tinha o visto
daquela forma, sabia que tinha asma, mas foi a primeira vez que o
vi tendo crise.
— Tudo bem? — questionei e suas mãos ainda seguravam as
minhas.
Ele passou um tempo em silêncio, apenas inspirando e
expirando.
— Sim — disse me soltando e passando a mão no cabelo —,
obrigado, de verdade — ele olhou em meus olhos.
Suspirei ao ver que estava bem e sorri concordando.
— Sem problemas — nos olhamos e eu desviei mordendo o
lábio inferior pensando em como começar a falar.
Andrew me analisava com doçura e curiosidade ao mesmo
tempo. Ele pegou em minha mão e virou meu pulso com cuidado,
como Nádia fez. Antes que pudesse ver, puxei minha mão. Tinha me
esquecido totalmente de que coloquei uma blusa de manga curta
antes de ir para a praia.
— Eu queria falar com você sobre…
— Quem fez isso? — questionou com firmeza.
— Bati em algum lugar, isso sempre acontece — expliquei
dando de ombros.
— Mentira — se levantou, deu a volta na mesa e parou ao meu
lado —, ele levantou a mão para você?
A irritação em sua voz e a fúria em seus olhos estavam nítidas,
mesmo assim ele tentava disfarçar.
— Claro que não — me levantei me afastando dele. — É claro
que não! De onde tirou isso?
— Vai por mim, eu me odeio por pensar em uma coisa dessas.
O que aconteceu?
— Nada, Andrew. Nada — repliquei e ele inspirou com força.
— Becca, o que...
— Vai me contar o motivo dos hematomas em seu rosto e
braços?
— Becca, ele levantou a mão para você? — questionou olhando
no fundo dos meus olhos e em nenhum momento deixou de
demonstrar sua imensa preocupação.
— Você e eu sabemos que ele jamais faria isso! — afirmei.
Pensei um pouco, era arriscado esse pedido, mas não tinha
escolhas.
— Não conte a ele.
— Mas…
— Por favor, Andrew — implorei e, mesmo contrariado, ele
apenas concordou.
Ficamos em silêncio olhando para o chão, então, juntei coragem
e o olhei.
— Vim pedir as contas — disparei.
Ele andou de um lado para o outro e se sentou no sofá que
tinha no escritório colocando os cotovelos em cima dos joelhos e a
cabeça apoiada nas mãos.
— Eu já sabia — murmurou em voz baixa e eu me sentei ao seu
lado —, é por causa das atividades na escola? — Concordei.
— Sim, eu...
— Eu preciso de você — admitiu levantando a cabeça e me
olhando —, quer dizer — ele se endireitou — para fazer os
fechamentos — se corrigiu rapidamente, mas ainda assim não
parecia falar sobre a lanchonete. — Podemos fazer um acordo, não
acha?
— Andrew, você acha que seja bom continuarmos...
— Você vem uma vez por semana.
Ele levantou e se virou me encarando, caminhou até sua
cadeira e me convidou a sentar na cadeira da frente. Seu olhar e
tom de voz voltaram a ser profissionais tão rapidamente que me
sentia surpresa. Antes ele parecia desolado, mas em uma fração de
segundos voltou a ter tudo sob controle, parecia saber que eu viria
falar sobre isso. Então continuou:
— Esme pode fechar o caixa diário, mas o semanal e o mensal
precisarei de você. Se aceitar, combinaremos dias e valores, você
não vai ficar sem um emprego, sei que quer seu próprio dinheiro e
não vai trabalhar todos os dias — sugeriu e por mais profissional
que tentasse parecer, a esperança pairou em sua voz. — Pode vir
aos sábados se for melhor. O que acha?
Era uma ótima proposta na verdade, qualquer outro lugar jamais
faria algo assim e eu precisava de experiencia na minha área.
— Bom — sorri —, ótimo para mim, resta saber qual será o meu
valor trabalhando assim — o olhei interrogativa.
Ele se recostou na cadeira relaxando o corpo e soltou a
respiração que nem percebi que estava prendendo.
Para alguns, o último ano no colegial era bailes, festas e
despedidas, para outros, era melhorar o currículo para a faculdade,
conseguir um emprego, mas ainda assim era despedida da vida
adolescente para uma jovem adulta. Por incrível que pareça,
trabalhar melhoraria ainda mais meu currículo devido a área que
escolhi.
— Você vale mais do que qualquer pessoa pode pagar —
disparou me olhando.
Sorri concordando.
— Meu preço foi pago com amor — o vi sorrir mesmo depois de
cortar sua cantada.
— Você está certa — admitiu e pensou um pouco. — Sabe, eu
nunca te pedi desculpas por ter tentado te beijar quando éramos
crianças — o olhei confusa —, sei que errei e peço que me
desculpe, não vou me justificar pela idade que eu tinha pois
independente disso, eu errei com você e não quero que fique
desconfortável comigo ou pense que vou repetir o que fiz.
Abri um sorriso.
— Fico feliz que tenha reconhecido isso mesmo depois de anos
desse acontecimento e aceito suas desculpas — ele me olhou por
instantes e eu não resisti em dizer: — Para melhorar, só falta você
parar de tentar flertar comigo, assim, vou me sentir, de fato,
confortável sem precisar te cortar o tempo todo.
Ele riu, como se aquilo fosse uma piada e eu me mantive séria.
— Ah, certo... — disse sem jeito — você está certa, não irá se
repetir.
— Andrew — ele levantou os olhos, me encarando —,
passamos boas horas conversando sobre nossas vidas aqui,
acredito ter liberdade para falar sobre isso — ele concordou —, não
trabalho aqui para provocar Cameron ou algo do tipo, é para o meu
currículo para Stanford, quando cheguei aqui era a Rosie minha
chefe, mas, por favor, nunca pense em ficar entre mim e ele.
— Vai sempre ser ele — completou me olhando, na espera de
minha reação.
Balancei a cabeça concordando e o vi respirar fundo,
balançando positivamente a cabeça.
— Eu sei, só precisava te ouvir falar isso — concordou.

Os valores que Andrew e eu combinamos eram bem menores


do que recebia, mesmo assim, valia a pena e não era algo
cansativo.
Perdi as horas conversando, falamos sobre a faculdade e ele
pretendia voltar. López estava o ajudando a entrar em uma
universidade e ele se recusou a me falar o nome, disse que seria
surpresa.
Senti meu corpo tremer e um frio repentino começar a passar
pelo meu corpo. O açúcar em meu sangue estava abaixando, talvez
porque minha última refeição foi ao meio-dia.
— Andrew, preciso ir — comentei me levantando, minhas
pernas fraquejaram e precisei me sentar novamente.
— Becca — ele deu a volta na mesa parando em minha frente
—, o que está acontecendo?
Ao contrário de Cameron, Andrew não fazia ideia de como eu
ficava quando isso acontecia.
— Eu… eu preciso comer — murmurei fraca sentindo a fome
começar a doer.
— Ah, merda! A diabetes! — Ele disse e tudo pareceu se
encaixar em sua mente.
Ele apenas saiu da sala correndo e deixando a porta aberta.
Comecei a sentir desespero, meu corpo parecia ficar ainda mais frio.
Tentei me levantar, queria gritar de agonia, mas minha voz parecia
sumir; minha visão estava turva e eu me senti desfalecendo na
cadeira, até sentir uma mão segurando minha cabeça.
— Rebecca, fica comigo, não dorme — chamou Andrew
levantando minha cabeça.
Abri os olhos com dificuldade e consegui vê-lo com uma coca
na mão que ele me ajudou a tomar. Em um prato tinha um misto
quente que parecia ter sido feito agora. Consegui me arrumar na
cadeira e comer.
— Você está bem? — Andrew questionou segurando em minha
mão me olhando preocupado depois que dei algumas mordidas no
lanche e tomei alguns bons goles de coca.
— Sim, me desculpe por isso — ele riu negando e se levantou.
— Já passou do horário e Esme ainda está lá embaixo com
Freya e Joe, preciso dispensá-los — avisou afastando o cabelo de
meu rosto.
O olhei concordando após terminar de comer.
— Está bem mesmo? — questionou me analisando.
— Sim, estou. Obrigada mesmo — ele balançou a cabeça
concordando.
Descemos as escadas e eu beijei o rosto de Esme a abraçando
animadamente.
— Ainda vou te ver uma vez na semana — sussurrei em seu
ouvido e ela me olhou com confusão em seu rosto —, te explico
depois.
Me despedi de Freya e Joe e Andrew pediu que eles fechassem
a lanchonete.
— Obrigado por aceitar minha proposta — disse me olhando,
seus olhos desceram até meu braço e eu sabia que ele queria ver
novamente o pequeno roxo.
— E obrigada por me ajudar na crise de diabete — agradeci e
ele negou com a cabeça.
— Ambos nos ajudamos em nossas crises, não precisa
agradecer — sorri concordando e sentindo uma tensão dominar o
clima entre nós.
— Bom, preciso ir — comentei me virando para abrir o carro e
ele tocou meu braço justamente onde estava a equimose.
— Becca, não vai mesmo me contar o que aconteceu? — O
olhei afastando meu braço de seu toque.
— Bati em algum lugar, apenas isso, não se preocupe — ele me
analisou procurando algo em meu olhar.
— Impossível não me preocupar, você é minha amiga e amigos
se preocupam, mas se eu desconfiar que foi ele, nem você vai
poder me impedir — avisou com voz mansa, beijou minha mão e
abriu a porta do carro para mim.
— Andrew…
— Acho melhor você ir, o tempo já está esfriando — disse firme.
Qualquer possibilidade de contar a ele o que tinha acontecido
se acabou ali. Entrei no carro dando partida e comecei a pensar em
milhares de coisas. Andrew jamais entenderia o que aconteceu para
que meu braço ficasse assim. Para ele seria Cameron me
machucando e ponto final.
E Cameron pensaria da mesma forma e escolheria se afastar
por achar que estava me machucando. Voltaria a não dormir e isso
seria péssimo. Nunca havia acontecido nada parecido, caso de
repetisse, falaria com ele.
Coloquei minha blusa de mangas compridas e entrei em casa
após estacionar o carro na garagem. Minha mãe estava em casa e
fiquei feliz por ver seu rosto calmo e tranquilo. Tia Eliza estava ao
seu lado cuidando das crianças e conversando. Cumprimentei as
duas e subi para o meu quarto. Tomei um banho, coloquei meu
pijama, mesmo não sendo nem oito horas da noite, e me sentei na
cama.
Peguei os livros de Crepúsculo tentando me distrair, mas não
consegui. Os de Harry Potter e falhei novamente. Os de Divergente,
Jogos Vorazes, Bridgertons e nada de conseguir manter o foco.
Respirei fundo; meu pensamento estava tão longe..., mas não
longe o suficiente para que não consiga me distrair com Maxon
Schreave.
Peguei o livro A Escolha e quando estava para abri-lo, ouvi
batidas em minha porta. Me olhei no espelho, meu pijama era
composto por uma blusa fina de mangas compridas e um short,
ambos na cor rosa salmão. Abri a porta ansiosa para que fosse
Cameron, mas quase tomei um susto ao ver Peter.
— Peter? — questionei sem entender.
— Sua mãe disse que podia subir — concordei o deixando
entrar mesmo confusa. Encostei a porta e me sentei na cama o
vendo andar de um lado para o outro.
— Pê, o que aconteceu? — Interroguei confusa e ele parou me
olhando.
— Não dei drogas a ele. Juro, jamais faria isso, principalmente
com o meu melhor amigo, eu juro Becca, não foi eu.
— Peter, calma — pedi o puxando pela mão e ele se sentou ao
meu lado. — Do que estamos falando?
— Josh, ontem — começou me olhando e se levantou, não
parava quieto. — Sabe que ele e Calleb brigaram?
— Sim — ele me olhou e suspirou.
Puxou a cadeira da mesa de estudos e se sentou em minha
frente.
Com o frio, acabei me cobrindo com uma coberta fina.
— Josh começou a beber muito, pedi para ele parar, mas não
me escutava de jeito nenhum — Peter coçou a nuca —, mas alguém
vendeu drogas para ele, Becca, não foi eu. Cameron não quer me
escutar, Elliot está com raiva achando que foi eu e Josh não estava
bem para explicar o acontecido quando os meninos vieram falar
comigo, mas não foi eu, jamais faria isso! Ele é meu irmão, porra!
Ele parecia uma criança se justificando para a mãe,
desesperado, mas acho que uma criança não falaria um palavrão
para a mãe.
— Pê, acredito em você — segurei sua mão e ele sorriu
soltando a respiração, mas ficou sério de repente.
— Eles não acreditam em mim — soltamos as mãos —, só
Andrew — seu olhar era triste —, Jasper nem vende heroína para
gente do time, Cameron o proibiu de vender esse tipo de coisa,
proibiu várias drogas na verdade.
Então Cameron sempre soube das vendas que Jasper faz na
escola, na verdade todo mundo sabia. Não sabia o que pensar
quando os imaginava selando um acordo de vendas assim.
— Becca — Peter chamou —, Jasper só vende maconha —
explicou — tipo, continua sendo errado para a nossa idade, mas ele
não vende nada além. Entende?
— Sim, entendo — pensei um pouco —, então quem poderia ter
vendido a Josh? — questionei.
Peter me olhou de uma forma fofa, como se nunca tivesse visto
alguém acreditando nele de verdade.
— É… — ele coçou a cabeça — Oliver — admitiu, meu queixo
caiu e um incômodo dominou meu corpo apenas por ter ouvido
aquele nome. — Sei que você acha que a confusão entre ele e
Cameron começou por ele ter falado de você, mas esse problema
estava desde o ano passado, falar de você foi a bomba que
precisava para fazer o capitão explodir.
— Mas ele não saiu da escola?
— Sim, da escola, mas ainda é vizinho de Josh — explicou e eu
me joguei na cama juntando todas as informações em minha mente.
Ouvi duas batidas leves na porta e me sentei. Cameron abriu a
mesma com calma e Peter se levantou como se fosse um soldado.
Acabei rindo da situação e eles se olharam.
— E aí, cara — Cameron e ele deram um toque de mão —,
segunda tem reunião do time na primeira aula — avisou se
aproximando de mim e beijou minha testa.
— Cameron… — Peter deu um passo à frente quando Cameron
se sentou ao meu lado.
— Relaxa, conversaremos segunda — disse enquanto dava
beijinhos em meu ombro. — Os meninos vão assistir um filme aqui
hoje, estão lá embaixo se quiser ficar — o olhei com o cenho
franzido.
— Como assim vão assistir um filme aqui? — questionei quase
que o interrompendo.
Peter saiu sem dizer nada, acredito que tenha aceitado o
convite.
— Isaac estava falando sobre seus filmes favoritos, Josh disse
para chamar ele para assistir, Isaac convidou, Elliot disse que
também viria e outros meninos disseram o mesmo, seus pais
apoiaram a ideia — ele riu —, se quiser assistir também, está
convidada — brincou mexendo em meu cabelo.
— Assistir um filme na minha casa? Vou pensar no caso —
rebati selando nossos lábios e uma vontade enorme de começar um
beijo cresceu dentro de mim, mas Cameron nos afastou.
E tenho certeza de que era por ele ter concordado em esperar
meu tempo.
— Vou começar a levar Isaac para a escola, combinei com seus
pais.
— Mas eu posso levá-lo sem problemas — retruquei
entrelaçando nossos dedos.
— Você já está fazendo muita coisa, Becca — disse afastando
meu cabelo da nuca.
— Você também, amorzinho — deitei o rosto na palma de sua
mão.
— Menos que você. Não se preocupe, para mim não será
problema — afirmou.
Estava acordando um pouco mais cedo todos os dias para
deixar Isaac em sua escola, não era problema para mim, mas sabia
que ele adoraria a ideia de Cameron o levar.
— Ele vai amar chegar com você na escola — comentei e ele
concordou sorrindo.
— Vamos descer, devem estar nos esperando — disse se
levantando e estendendo a mão para que eu levantasse.
Assim o fiz, abri a coberta fina para arrumá-la em mim e ele me
olhou.
— Ei — o olhei percebendo que ele estava me observando por
inteira, fascinado —, deixa eu ver seu machucado.
— Está tudo bem, princesa.
— Anda garoto — o empurrei fazendo-o se virar, deixei que o
cobertor caísse de meus ombros, ele se virou de costas e eu
levantei sua blusa na parte do lombar. — Cameron, isso vai
infeccionar — reclamei vendo que não estava limpo e nem tinha
sido feito um curativo. — Tenho uma pomada ótima para isso, mas
você vai ter que ficar sem camisa — expliquei indo até meu
banheiro e pegando a caixa de primeiros socorros.
Por ser diabética, qualquer ferida em mim demorava um pouco
mais que o normal para cicatrizar, então sempre tinha coisas assim
por precaução.
Voltei para o quarto e Cameron estava sentado.
— Vou fazer um curativo e antes de dormir a gente passa a
pomada, para você não ter que ficar sem camisa agora — disse
naturalmente, mas ele parecia não entender nada do que eu estava
falando.
Seu olhar estava intenso enquanto me encarava carregado de
admiração. Senti meu corpo esquentar e minhas bochechas
queimarem.
— Para de me olhar assim — pedi envergonhada.
Seu olhar voltou para meu rosto e suas bochechas estavam
rosadas, mas ele não parecia nada envergonhado.
— Impossível, você é perfeita — admitiu passando a mão no
rosto me fazendo rir.
Peguei a caixa de primeiros socorros e a coberta que estava no
chão.
— Deixa eu limpar seu machucado — pedi me sentando na
cama.
Ele se virou de costas para mim.
Comecei a limpar e fazer um curativo. Na madrugada de hoje
enquanto limpava a ferida de seu lombar, observei sua tatuagem e
quando a toquei todos os sonhos que não conseguia me lembrar
vieram em minha mente como uma avalanche.
Sonhei com Cameron esse tempo todo. Sempre foi ele.
— Te falei que meu cachorro vem para a casa amanhã? —
questionou quebrando o silêncio.
— Para começar, nem sabia que tinha um cachorro — comentei
e rimos.
— Tenho três na verdade. Estão na fazenda do meu avô
materno, nasceu um filhote e vai vir para a casa amanhã —
explicou.
— E qual é o nome dele? — questionei.
— Floki — gargalhei sem acreditar, sabendo que o nome era da
série Vikings.
— Bem a sua cara — dei um beijinho em seu ombro o vendo
sorrir.
Terminei de fazer o curativo no pequeno machucado, guardei a
caixa no banheiro e sai do mesmo vendo Cameron arrumar sua
blusa.
— Como foi com seu chefe? — questionou me olhando.
— É… fizemos um acordo — admiti.
E voltamos ao silêncio. Ele pensou um pouco.
— Que acordo? — Se levantou ficando próximo de mim.
— Vou trabalhar uma vez na semana para fechar os caixas
mensais e semanais, irei nos sábados, então não vai ficar pesado —
expliquei deslizando os dedos em seus braços e puxei sua mão a
colocando em minha cintura.
Seu rosto se contorceu e suas bochechas ficaram coradas.
Cameron apertou minha cintura me puxando para si, sabia que ele
não tinha gostado da ideia.
— Pelo menos vai continuar ganhando seu dinheiro — disse
envolvendo os braços em minha cintura.
O olhei impressionada, jurava que suas palavras seriam outras,
mas não. Ele beijou minha testa e eu o abracei.
— Quem é você e o que fez com o Styles? — questionei e ele
riu me fazendo o olhar.
— Só quero ficar bem com você. Confio nele? Com certeza não.
Gosto da ideia de você sozinha com ele? — Ele inspirou pesado e
soltou a respiração — Definitivamente não, mas confio em você —
explicou selando nossos lábios — e se ele fizer algo, eu o mato —
gargalhei negando com a cabeça.
Sorri o abraçando mais forte.
— Eu falei para ele — Cameron me olhou — não me fazer
escolher entre ele ou você, mesmo que eu o veja apenas como
amigo... — pensei um pouco — não tenho espaço para opções, é
você, Cameron — ele sorriu passando os dedos em meus cabelos e
selou nossos lábios devagar.
A vontade quase que incontrolável de beijá-lo cresceu em mim
outra vez.
— Irmã, vem assistir — Isaac disse manhoso do outro lado da
porta.
Eu e Cameron nos olhamos rindo.
— Vamos — disse pegando minha coberta e colocando em
meus ombros.
Pensei em trocar minhas roupas, me olhei no espelho antes de
sair do quarto e percebi que não tinha motivo nenhum para trocar,
eu iria facilmente na padaria com essa roupa.
Sai de mãos dadas com Cameron. Descemos a escada e ao
invés de entrarmos na sala fui puxada para a cozinha. Josh, Peter,
Elliot, Cole, Eric, Adam, Brian e Richard estavam conversando
animadamente com meu pai, Jeff e Isaac enquanto Natalie e minha
mãe faziam pipoca. Sorri vendo Peter com Lou no colo brincando
com ele e Josh com Elô. Quando entramos, os meninos ficaram na
frente da bancada escondendo uma caixa média que estava em
cima.
— Meu Deus, vocês não sabem nem disfarçar — Natalie
reclamou rindo alto.
— Ah, gente, a capitã já viu — Eric disse desanimado.
— Vi o quê? A caixa? — questionei confusa e os meninos
abriram espaço.
A caixa média de papelão tinha furos. Me aproximei depois que
Cameron me soltou e ouvi barulhos vindo da caixa.
— Se isso for uma pegadinha, vou fazer vocês estudarem o
dobro do que já estão estudando — alertei os vendo rir.
Abri a caixa e quase gritei de felicidade vendo que era uma
gatinha.
A peguei com cuidado.
— Meu Deus! — Sorri animada a acariciando, ela tentou passar
a pata no meu rosto e começou a brincar com a minha coberta. —
Gente, não acredito, meu Deus, como assim?
Mamãe e papai sorriam. Desde quando estávamos em São
Paulo eu falava sobre ter um gatinho. Achávamos que a rinite não
permitiria, mas como nossa casa era bem arejada e extremamente
limpa não teríamos problemas.
— Ah gente… — Meus olhos ficaram marejados.
— Mas já está chorando — Isaac reclamou e os meninos me
olharam rindo.
— A encontramos ontem antes do jogo — Cameron começou, o
olhei me aproximando e me encostando nele —, comentamos com
Owen e ele disse que você queria.
— Ah, meu Deus, eu amei — disse passando a ponta do nariz
em sua pequena cabeça e ela tentou me arranhar. — Qual vai ser o
nome, Isaac?
Isaac tomou a frente pensando um pouco e passou a mão na
gatinha que o arranhou incomodada, rimos com a cena. Ele sempre
escolhia o nome dos nossos bichinhos. Temos a Romanoff, o Stark
e o Spider Men com a minha avó, são os cachorros dela. Os
peixinhos Aquaman, Batman e Ariel com a minha tia. E uma
tartaruga que meu tio tem e Isaac literalmente a batizou de Ninja.
— Kurama — Isaac disse finalmente.
Olhei Cameron que riu alto, assim como os outros meninos do
time.
— Eu gostei — admiti mesmo sabendo que a origem do nome
era de Naruto.
— Que bom que gostou, capitã — Cole disse e os meninos
concordaram.
Eles começaram a conversar alto, mas estava distraída com a
gatinha. Peter entregou Lou a meu pai e foi escolher o filme com
Isaac, Jeff, Brian e Elliot.
— Deixa eu ver minha netinha — mamãe pediu a pegando
cuidadosamente.
Sorri a olhando sair de perto de mim brincando com Kurama.
— Espero que o Floki e a Kurama se gostem — Cameron disse
deslizando o braço em minha cintura e me puxando para si.
— Eu amei — fiquei em sua frente enquanto ele arrumava a
coberta que estava quase caindo de meus ombros.
A cozinha ficou silenciosa rapidamente e eu nem percebi
quando foi que todos saíram.
— E isso me deixa bem feliz — ele sorriu passando os dedos
em meus cabelos.
Meu coração disparou e um frio invadiu meu estômago quando
notei que estávamos sozinhos. Ele me aproximou de si com as
mãos por cima da coberta, abaixei a cabeça mordendo o lábio
inferior de nervosismo e Cameron levantou meu rosto pelo queixo.
— O que foi princesa? — questionou subindo a mão pela minha
nuca.
Fechei os olhos passando a língua nos lábios enquanto tentava
controlar minha respiração e sua mão desocupada entrou por dentro
da coberta apertando minha cintura.
— Algo te incomoda? — Abri os olhos vendo um sorrisinho em
seu rosto.
Era óbvio, deixei claro que estava quase surtando e ele devia
estar amando isso. Me afastei quase que de imediato.
— Vamos assistir — pedi saindo da cozinha às pressas.
Meus pais e os nenéns não estavam na sala e Kurama estava
com Isaac. Escolheram um filme de terror e sabia que Isaac aceitou
porque não dormiria sozinho hoje.
Havia vários colchões no chão, o sofá cama estava aberto, Elliot
e Natalie estavam deitados no canto e acho que o outro espaço era
para mim e Cameron.
Me sentei e ele veio logo em seguida me abraçando. Arrumei o
cobertor para cobri-lo também e ele sorriu. Era impossível focar no
filme com os meninos fazendo palhaçada.
— Aí que burra, não entra nessa porta caralho — Richard disse
para o filme.
— O filho da puta, não fala palavrão que tem criança na sala —
Brian reclamou me fazendo rir.
— Respeita a capitã, cuzão — Adam deu um tapa em Richard e
Brian.
— Oh capitã, me desculpa falar palavrão — Brian pediu
colocando a mão no peito e eu não me aguentei de rir.
— Relaxa — disse me arrumando no sofá.
Cameron me abraçou pela cintura e afundou o rosto na curva de
meu pescoço. Sua mão desceu até minha coxa e a apertou. Apertei
seu ombro respirando fundo e mordendo o lábio inferior, acabei
soltando um suspiro pesado.
— O que aconteceu? Está estranha — sussurrou roçando o
nariz em meu pescoço me fazendo estremecer.
O falatório dos meninos cobria nossas vozes e as luzes
estavam apagadas, mas conseguia ver seu rosto pela iluminação da
tv.
Dei de ombros e me arrumei no sofá trocando as posições. Ele
se deitou com as costas encostadas no sofá e eu me deitei em seu
peitoral.
— Amor? Fiz algo? — questionou preocupado e acariciando
meu cabelo.
Virei o rosto para ele indicando que queria falar em seu ouvido,
ele inclinou um pouco a cabeça e eu aproximei meus lábios de sua
orelha.
— Não posso te olhar demais — expliquei e ele rapidamente
virou o rosto me olhando.
— Por quê? — questionou parecendo totalmente confuso.
Estávamos tão próximos…
Meu olhar desceu até seus lábios.
— Porque senão eu vou te beijar — disparei e ele sorriu
mordendo o lábio inferior enquanto subia a mão em minha nuca.
Nossos olhares se separaram quando Jeff colocou Kurama em
meu colo. Suspirei quase que o agradecendo por tirar minha
atenção de Cameron.
Era domingo de madrugada, em torno das quatro da

madrugada quando me levantei. Os meninos do time iam dormir

aqui, mas minha avó Abigail ligou dizendo que queria ver os netos

antes de oficialmente viajar para a Suíça e exigiu que eu levasse

Cameron pois queria ver seu mais novo neto.


Me levantei animada, estava ansiosa para ver meus avós. A
casa de campo deles ficava em São Francisco, cinco horas de
viagem, e para chegarmos a tempo do café da manhã sairíamos às
cinco da madrugada.
Ajudei minha mãe a arrumar as crianças, voltei para o meu
quarto terminando de me arrumar e desci as escadas com Kurama
em meu colo. Nunca conseguiria explicar em palavras o quanto
fiquei feliz ao ver Cameron com Louis no colo.
O bebê quase sumiu em seus braços e ele o segurava com o
máximo cuidado, o olhei e seus olhos pareciam cansados, mas tinha
um sorrisinho em seus lábios.
Me aproximei colocando minha bolsa no sofá e selei nossos
lábios sem soltar Kurama. Achei estranho ele parecer tão exausto.
— Dormiu amor? — questionei selando nossos lábios
novamente e ele negou.
— Minha mãe passou mal a madrugada inteira e só conseguiu
dormir quase agora — explicou.
— Quer ficar e descansar? Sei que vovó vai entender — afirmei
afastando uma mecha de cabelo que insistia em cair em seu rosto.
Ele colocou cuidadosamente Louis no bebê conforto com
praticidade e me puxou pela cintura. Kurama miou reclamando que
queria sair do meu colo e saiu desengonçada para a cozinha.
— Princesa — ele riu quando o olhei —, já fiquei sem dormir por
muito mais tempo, não se preocupe.
— Eu dirijo — disparei.
— Não — rebateu.
— Sim — afirmei.
— Não — ri o puxando pela nuca e ficando com os nossos
rostos próximos.
— Sim — selei nossos lábios o vendo abrir um sorrisinho e
apertar minha cintura.
— Eutocomsono — Isaac disse aparecendo enrolado em uma
manta azul, se sentou no sofá e eu o olhei —, o que foi? Perdeu o
quê? — Disparou para mim.
Cameron o olhou estranho, mas não disse nada. Papai entrou
na sala logo em seguida segurando Elô com um braço só.
— Fale direito com a sua irmã, você me vê falando assim com
ela? — questionou o olhando sério.
Isaac negou abaixando a cabeça e eu senti as mãos de
Cameron me soltar um pouco.
— Desculpa irmã — Isaac disse.
— Tudo bem.
— Sua filha estava tentando entrar debaixo da geladeira —
mamãe disse me entregando Kurama e eu ri a pegando —, bom dia
— beijou meu rosto em seguida o de Cameron.
— Bom dia — respondemos juntos.
Kurama me arranhou como um aviso. A coloquei no bebê
conforto com Louis e ela se aconchegou com ele.
— Vamos orar antes de sairmos — papai pediu.
Meu pai sempre orava sozinho, depois com a minha mãe e por
mim e Isaac antes de sair para trabalhar ou para qualquer outra
coisa. Quando viajamos, seja uma viagem de quarenta minutos ou
cinco horas, tínhamos que orar. Gostava disso, papai dizia que pedir
proteção nunca era demais.
Orei em silêncio para que tudo ficasse bem. Alguns parentes da
minha mãe não são bem o que chamamos de pessoas boas. Meus
avós tiveram dois filhos e quatro filhas contando com a minha mãe.
Meus dois tios, Paulo e Silas, eram gêmeos. Tio Paulo era pai
de Jeff e Nicolly, enquanto tio Silas não tinha filhos —
desconfiávamos que sim, mas ele dizia que não. Eles eram muito
amigos do meu pai e o ajudou a ficar com a minha mãe, papai os
ajuda com os negócios, mas não podia ser advogado por ser da
família, ele achava ser antiético.
Minhas tias Ada, que estava na Suíça aguardando meus avós,
era casada e não tinha filhos. Tia Mical e tia Merabe, as duas eram
casadas, se casaram com homens que tinham filhos e eles… bom,
nunca foram pessoas muito legais comigo.
Tia Mical se casou com um homem chamado Hayato, que tinha
dois filhos e os dois sempre foram maldosos comigo. Assim como
os filhos do marido de tia Merabe. Os pais deles sempre soltavam
comentários sexualizando a mim e Nicolly dizendo
que daríamos trabalho quando ficássemos mais velhas, que já
tínhamos corpo de adolescente e outros comentários. Papai e meus
tios já até avançaram para cima deles e a família se dividiu por um
tempo, eu era muito nova para entender o quão problemático aquilo
era, mas sempre ficava desconfortável com a proximidade deles.
Os filhos deles eram mais velhos que eu e Nicolly, enquanto
eles tinham dezoito, eu e ela tínhamos quinze. Agora estavam entre
dezenove ou vinte anos. Eram cinco garotos e eu e minha prima
sempre tivemos medo deles quando mais novas, não podíamos
subir as escadas de vestidos ou saias que eles sempre estavam
tentando ver algo, ficavam se esfregando na gente quando
passavam perto e era muito desconfortável, isso foi o motivo maior
da briga entre meu pai, meus tios e os maridos das minhas tias.
Além do meu pai, a única que se dava bem com meus tios era a
esposa de tia Ada.
— E que o Senhor nos dê um domingo de paz — papai
finalizou.
Em coro concordamos com um amém.
Ouvimos uma batida na porta e meu pai a abriu como se já
soubesse quem era.
Nicolly entrou e eu pulei em seu colo quase a derrubando.
— BECCA MINHA DELÍCIA CREMOSA — ela disse me
abraçando forte e me empurrando para a sala.
— Meu Deus que saudade! — Exclamei e ela começou a dar
pulinhos enquanto me abraçava.
Papai entrou com tio Paulo, tia Amora e Jeff entrou brincando
com Carter, o namorado de Nicolly. Meu pai quem apresentou
Cameron aos meus tios, chegou a vez de Carter e eles se
cumprimentaram como se já se conhecessem.
Eu e Nicolly nos olhamos.
— Onde eles se conheceram? — questionou em voz baixa.
Jeff, após me abraçar, se jogou no sofá ao lado de Isaac para
mostrar um jogo no celular; mamãe e tia Amora conversavam;
Kurama dormia feito um anjinho com Louis, ela amava ficar com ele;
e Cameron estava conversando com Carter.
— Não faço ideia — comentei.
— Cameron e Carter, precisamos falar com vocês — papai
avisou se preparando para ir à cozinha.
— Pai — eu e Nicolly falamos ao mesmo tempo chamando
nossos pais.
— Eles precisam saber, docinho — tio Paulo avisou dando um
beijo na minha cabeça, em seguida em Nicolly e acompanhou meu
pai e os meninos até a cozinha.
Me sentei abraçando Nicolly e esperando a conversa dos
homens acabar.
— Se Pollo estivesse aqui adoraria participar dessa conversa —
ela comentou em voz baixa para que tia Amora não a ouvisse.
— Sem dúvidas — ri sentindo meus olhos encherem d'água.
Pollo. Meu primo e irmão mais velho de Nicolly e Jeff.
O perdemos em dezembro do ano passado para as drogas. Era
como meu irmão mais velho enquanto morávamos no Brasil. Ele era
incrível e uma das melhores pessoas que já conheci em minha vida.
Sentia falta dele, com ele não precisávamos ter medo dos enteados
das minhas tias, ele sempre nos defendia.
Pollo me lembrava Shikamaru, preguiçoso, inteligente, defendia
quem amava, mas entre dormir e viver ele optava por dormir.
— Teve notícias de Killian? — questionei me referindo ao ex-
namorado de Pollo.
— Está em Londres, tentando… recomeçar — explicou forçando
um sorriso.
— Vamos? — Papai questionou voltando para a sala.
Concordamos nos arrumando. Cameron e Carter estavam
colocando algumas coisas no porta-malas quando eu e Nicolly nos
aproximamos.
— De onde vocês se conhecem? — Ela questionou ainda com
os dedos entrelaçados nos meus. Os olhei, também estava curiosa.
Eles se olharam rindo e eu franzi o cenho olhando Nicolly que
estava com a mesma expressão que eu.
— De uma festa aí — Carter disse com naturalidade.
Me questionei se ainda queria saber sobre o assunto.
— Vamos, garotada — tio Paulo disse entrando em seu carro.
Acabou que não precisei dirigir, viemos no carro de Carter e foi
bom pois Cameron dormiu um pouco durante a viagem após contar
que a festa que eles se conheceram foi da faculdade de Carter e ele
foi mesmo sendo proibido.
O dia se passou rapidamente, meus avós amaram Cameron,
toda a família na verdade, meus avós o conheciam pela família dele
ser amiga da minha há anos, mas o viram duas ou três vezes.
Descobri que ele e Carter faziam uma dupla incrível e engraçada.
— Vocês vão entrar juntos no meu casamento — Nicolly avisou
e eu concordei rindo.
— E vocês no meu.
Ela me olhou surpresa.
— Então, definitivamente é ele? — questionou com um sorriso
de orelha a orelha.
Balancei a cabeça tentando conter a emoção de saber que era
ele.
Estávamos felizes e em paz até tia Mical e tia Merabe
chegarem. Meu pai, tio Paulo, tio Silas e meu avô John se olharam e
a casa se encheu com os maridos das minhas tias e seus filhos.
Cameron, que antes estava brincando com Jeff e Isaac, se
aproximou de mim sutilmente.
— Rebecca — Ricardo, marido de tia Merabe que meu pai
odiava, se aproximou de mim —, como você está grande — ele
sorriu me deixando nauseada — e bonita.
Ele se inclinou para me abraçar, mas Cameron não me soltou e
Ricardo recuou.
— Calma garoto, não vou levá-la embora — brincou.
Cameron se manteve sério e não fez questão de demonstrar
senso de humor.
Enquanto Carter parecia nervoso como se nunca tivesse
entrado em uma briga, Cameron esbanjava calmaria e ao mesmo
tempo firmeza diante de tal situação.
Os enteados das minhas tias apenas acenaram para mim e
Nicolly. As filhas, minhas primas, entraram e eu segurei na mão de
Nicolly.
— Se essas otárias se insinuarem como sempre fazem, juro que
vou afogá-las — disse com os dentes semicerrados.
— Elas não virão falar com a gente, você estapeou a Jackeline
na última reunião de família — relembrei e Carter riu.
Não demorou muito para que minha mãe, com o apoio dos
irmãos, começasse a discutir com Mical, Merabe e seus maridos.
Meus avós, mesmo tendo em torno de sessenta anos de idade, não
aguentavam mais essas brigas. Eu e Nicolly os tiramos da sala de
estar e levamos para os banquinhos perto do lago, onde víamos os
peixes.
Cameron e Carter estavam conversando um pouco distante de
nós e meu avô se uniu a eles. Minhas três primas estavam na
piscina, quase nuas, se insinuando para Cameron e Carter que nem
as olhava. Eles começaram a caminhar para o campo de golfe.
— Vou ir ver seus irmãos — Nicolly avisou e eu apenas
concordei.
Vovó pegou Kurama de meu colo e começou a acariciá-la.
Minha gatinha basicamente não gostava de ninguém e vivia
arranhando Isaac e minha mãe. Mordeu Jeff e Nicolly, nunca ficava
perto de Elô, porém amava dormir com Louis, com minha avó ela
ficou tranquilamente. Com Cameron e meu pai, Kurama vivia uma
relação de amor e ódio, e comigo, era só amor, e arranhava quem
se aproxima de mim.
— Caramelinho, estou te sentindo tão longe hoje — vovó disse
me olhando e eu suspirei colocando minhas pernas em cima do
banco —, seu avô gostou muito de seu namorado, até Silas gostou
dele e olha que aquele ali não gosta de ninguém.
Sorri a ouvindo.
— Mamãe já deve ter contato que isso não é um namoro de
verdade, certo? — A olhei, ela sorriu calmamente e concordou.
— Mas também não parece ser de mentira — disse voltando o
olhar para o lago —, de longe é possível ver que esse
relacionamento é real, muito real.
— Ele ainda não me pediu em namoro… não de verdade — ela
me olhou.
— Conta para a vó, qual é o verdadeiro problema? — Pediu.
Olhei para o lago pensando um pouco.
— Não quero beijar alguém que não tenha compromisso sério
comigo — disparei.
— Mas dormir juntos pode?
Acabei rindo e dei de ombros.
— Ele não dorme muito bem durante as fases eliminatórias dos
jogos e... é complicado — afirmei e ela riu balançando a cabeça
negativamente.
— E você acha que ele não tem compromisso sério com você
por ele não ter te pedido em namoro?
Concordei balançando a cabeça, ela pegou em minha mão e
acariciou minha aliança.
— Isso pode ser algo simbolizando o namoro falso de vocês,
mas isso não — disse passando o dedo indicador no colar de chave.
— Filha, vocês firmaram um compromisso e nem perceberam isso.
Vi o jeito que ele te olha, você ainda não se soltou, mas ele já
estava totalmente com você.
Ela se virou um pouco me olhando e continuou:
— Sei de toda história, seu pai contou. Ele parece conversar
bastante com Cameron — ela respirou fundo —, você está cobrando
um relacionamento perfeito e sei que isso é por ser da igreja, não
adianta me falar que não, as igrejas que você frequentava no Brasil
te cobravam violentamente de ser perfeita, sei disso, já briguei com
sua mãe por frequentar aquele lugar. Mas não existe relacionamento
perfeito, não existe a pessoa certa, mas existe a pessoa que se
apaixona por você e faz de tudo para dar certo. Você e ele estão
envolvidos e compromissados, ainda não entendo do que mais você
precisa sendo que ele é o garoto que está sempre nos seus sonhos.
Arregalei meus olhos sentindo calafrios.
— Como a senhora sabe dos meus sonhos? — questionei
incrédula.
Em resposta ela sorriu e eu entendi.
— Meu doce, falei milhares de vezes a sua mãe que ela te
cobra demais e sei que tenho culpa nisso pela criação que dei, mas
isso está te afetando. Você não tem medo de beijá-lo, não tem medo
de entender que já está compromissada ou não, não está
esperando um pedido de namoro, você está assustada porque se
cobra tanto que não consegue acreditar que alguém pode gostar de
você de verdade.
Foi o necessário para que eu começasse a chorar como
criança. Ela riu tranquilamente me abraçando e me deixando deitar
em seu peito. Quando consegui parar de chorar, me arrumei a
olhando.
— Ele me viu em uma crise de diabetes, vó, e se acontecer de
novo? Vai ficar se preocupando sempre? Vai ficar como minha mãe
toda hora querendo saber como estou? Agindo como se eu não
fosse uma pessoa normal?
— Rebecca, ele não é seus pais — disse um pouco mais rude.
— Ele te viu em uma crise, provavelmente te ajudou e aí, gostou
menos de você? Ficou toda hora querendo saber se você está bem?
Está te tratando com dó? — Neguei com a cabeça. — Então, meu
doce, você tem diabetes, não há como tirar, precisa saber lidar com
isso e aceitar. Olha só para mim — pediu e eu a olhei —, seu avô já
me viu em mais crises do que consigo me lembrar, sou diabética e
isso não me impede de ser cuidada por alguém que me ama.
Mais lágrimas desceram em meu rosto. Me sentia aliviada, vovó
sabia o momento exato para ser dura comigo, mas também me
dava colo.
— Obrigada vó — a abracei.
Cameron veio correndo em nossa direção. Estava com os
cabelos bagunçados, expressão preocupada e assim que me viu, se
aproximou com rapidez e se abaixou tocando minha perna.
— Isaac disse que você estava chorando, o que aconteceu? —
questionou me analisando e tocando meu rosto.
— Vou deixar vocês a sós — vovó avisou se levantando.
Beijou minha testa e a de Cameron como se fosse seu neto.
— Estava conversando com vovó sobre a gente — expliquei e o
vi relaxar um pouco quando se sentou no banco — e ela me disse
algumas verdades que precisava ouvir — expliquei o abraçando
pela cintura.
Senti seus dedos acariciando meu cabelo.
— E o que ela disse?
O olhei e quando abri a boca para falar, Isaac estava
gargalhando com Jeff enquanto corria até nós.
— Irmã, a mãe bateu na tia Mical e na tia Merabe de novo —
avisou e correu para a casa.
Passei a mão no rosto sem conseguir segurar a risada. Eu e
Cameron entramos na casa no momento exato em que meu avô
chegou.
— JA CHEGA! Quero os cinco no meu escritório, agora — vô
John disse com firmeza olhando meus tios e minha mãe.
— Mas pai… — tia Merabe tentou intervir.
— EU DISSE AGORA! — Meu avô disse ainda mais firme.
Os cinco subiram para o escritório como se fossem crianças
encrencadas. Meu avô pegou na mão da minha avó em um gesto
cuidadoso, pediu licença e saiu.
Os maridos, enteados e filhas de tia Mical e tia Merabe saíram
da casa com os olhares atravessados em quem ficou na sala. Era
como se a parentela fosse totalmente dividida.
— Eu amo a sua mãe — papai disse se sentando no sofá.
Acabei rindo. Eu e Cameron nos sentamos de frente para ele.
Nicolly estava ensinando Carter a segurar Louis enquanto o
garotinho gargalhava em seu colo. Tia Amora estava dando
mamadeira para Elô. Isaac e Jeff estavam comendo sobremesa,
pela quinta vez.
— Qual foi o motivo da briga? — questionei sentindo o braço de
Cameron envolver minha cintura com sutileza.
— O marido de Mical foi falar sobre como você estava bonita,
mas daquele jeito dele — disse demonstrando incômodo e entendi
que foi com maldade —, nem deu tempo de eu abrir a boca, sua
mãe já tinha começado a falar.
— Mical foi mandar sua mãe falar baixo com o marido dela e
sobrou para ela também. Quando Olívia disse que Mical se casou
com um tarado por interesse, sua tia explodiu e começou a querer
falar mais alto — tia Amora explicou.
— Aí mamãe deu logo um tapão nela — Isaac disse rindo
levando a colher de pudim até a boca.
— Tia Merabe foi defender e levou na cara também — Jeff
gargalhava.

Depois da conversa entre meus avós e meus tios, nos


despedimos pois não queríamos chegar em casa tarde. Vovó disse
alguma coisa a Cameron, ele riu em sua primeira fala, depois ela
disse outra coisa e ele ficou sério, em seguida a abraçou
concordando.
— O que achou da minha família? — questionei Cameron
quando sai do meu quarto vestida com meu pijama. Ele me olhou
por inteira e voltou a olhar meu rosto.
— Tranquila — comentou —, seus avós são bem legais — me
deitei ao seu lado enquanto Kurama brincava com uma bolinha de
barbante no chão.
— Não sei nem o que dizer sobre a confusão da minha família,
sempre acontece então nem vou me desculpar, vai ter que se
acostumar — ele riu me abraçando pelos ombros e eu o olhei.
— Tudo bem, minha família não é muito diferente — o abracei
pela cintura —, a diferença é que normalmente algumas mobílias se
quebram, sabe? — Ri alto. — Acho que é por ser família com mais
homens, minha mãe é a única mulher da família e minha tia
Adelaine na família do meu pai também, minhas tias, esposas dos
meus tios, e minha mãe nem se metem nisso — rimos juntos e ele
ficou sério. — Princesa, vou ir para a casa.
— Ah, claro — me sentei na cama com dificuldade, não queria
deixá-lo ir. — Sua mãe está melhor?
— Sim, meu pai avisou que sim, mas vou ir vê-la agora — disse
calmamente se sentando na cama.
Nos olhamos e eu o abracei. Queria que dormisse aqui, mas
não podia exigir isso. Queria questionar sobre o que minha avó
disse, mas sabia que ele não contaria.
Cameron me puxou um pouco mais me fazendo sentar em suas
pernas. Ficamos ali, abraçados até ele apertar minha cintura
indicando que queria que eu o olhasse.
— Te vejo amanhã — disse selando nossos lábios.
— Me beija antes — pedi e ele me olhou surpreso.
— Mas...
— Não fala nada — interrompi —, não quero me explicar agora.
Ele sorriu e não demorou para subir a mão em minhas costas e
me aproximar de si.
Os dedos da mão desocupada se afundaram em meus cabelos
e ele me puxou para selar nossos lábios. Lhe dei passagem e senti
sua língua invadir minha boca com calma, massageando a minha
com tanta lentidão que meu corpo começou a se contrair.
O abracei pelos ombros e nossos corpos ficaram ainda mais
colados. Ele fechou um dos braços em minha cintura enquanto a
outra mão não puxava os meus cabelos, me impedindo de até
mesmo cogitar afastar nossos lábios.
Me arrumei em seu colo e ele sorriu durante o beijo.
— Você não devia fazer isso — sussurrou afastando os lábios
dos meus para beijar o meu pescoço.
— Eu...
Mas ele não me deixou terminar e me beijou outra vez. Em
segundos eu estava deitada na cama pelo impulso que ele deu e
parou em cima de mim.
— Eu preciso ir — alertou enchendo meu rosto de leves
beijinhos e eu sorri o abraçando, quase o fazendo ficar.
— Se você não for agora, não vou te deixar ir mais — ameacei
selando nossos lábios.
Ele apenas riu dando um beijo em minha testa. O levei até a
porta e o observei ir até sua casa, sentindo meu coração palpitar de
tanta felicidade.
Ouvi a buzina do carro de Cameron e me aproximei da janela,
Isaac correu até ele e o abraçou. Eles brincaram de uma lutinha
rápida e Isaac entrou no carro todo contente. Sorri vendo a cena.
Papai o cumprimentou e se despediu depois de agradecê-lo pela
ajuda.
Observei meus pais entrando em seu carro após arrumar os
nenéns. Mamãe vai deixá-los com minha tia Amora para ir trabalhar,
combinaram tudo ontem e minha mãe quis deixar o mínimo de
coisas nas minhas mãos para que eu me dedique totalmente aos
estudos.
Estava encarregada apenas de estudar e trabalhar uma vez por
semana. Como vou passar quase meu dia todo na escola me rendi
facilmente ao que minha mãe impôs.
Me sentei na cama e Kurama veio para cima de mim em um
pulo que me fez rir. Queria colocá-la dentro da bolsa e levá-la para a
escola.
Kurama era um pouco esquentadinha, no sábado arranhou
Cameron em todas as vezes em que ele começava a provocá-la. O
pior era que ele não parava, ela podia morder, arranhar e miar em
reclamação e ele não parava, parecia uma criança.
Sorri a acariciando e lembrando dele irritando-a, mas na hora de
dormir eu me aconcheguei no peitoral dele e ela do outro lado.
Me olhei no espelho e a gatinha me seguiu, ontem ela aprendeu
a me seguir para todo o canto, nem no banheiro eu tinha paz. Minha
avó se apaixonou assim que a viu e até contou uma historinha para
ela enquanto eu estava com Cameron perto do lago, Nicolly riu
contanto isso no carro.
As marcas em meu corpo felizmente sumiram.
Estava pronta para ir à escola, desci as escadas com a bolsa
nas costas e Kurama no colo. Pregaria uma peça em Nádia agora
mesmo. Na terceira série minha avó deixou uma filhotinha de cadela
em casa, a escondi na bolsa e a levei para escola, minha mãe foi
chamada para buscar a filhote. Nádia se acabou de rir quando
contamos a ela.
Segui a passos silenciosos até a porta de saída, mas Nádia, a
funcionária da família, me barrou antes que eu saísse. Dei um
gritinho de susto quando ela me olhou séria em seguida olhou
Kurama em meu colo.
— Mulher que susto — disse colocando a mão no peito —,
cuide dela — disfarcei lhe entregando a gatinha.
— Bem que sua mãe disse que você faria isso — ela gargalhou.
— Deu certo na terceira série — relembrei.
Beijei a cabeça de Kurama e caminhei até a garagem.
Natalie entrou no carro assim que me viu, a deixei dirigir já que
estava com preguiça e ela sentia muita falta de seu carro — pois
estava de castigo até hoje por ter batido quando estava bêbada.
Natalie questionou sobre meu domingo e consegui apenas
responder que foi bom. Ela estava falando sobre tia Eliza ter
vomitado muito ontem, mas que ficou bem após dormir
— Mas minha mãe ficou bem o resto do dia, um pouco enjoada,
mas bem — Natalie finalizou o assunto.
Apenas concordei, minha mente estava longe. Hoje era o dia de
os representantes dos projetos entregarem os relatórios sobre
sexta-feira e eu sentia que ninguém colaboraria comigo e Neji, o que
me deixava frustrada.
— Amiga — Natalie pegou em minha mão após estacionar o
carro —, eles vão entregar os relatórios — a olhei.
— Está tão aparente meu incômodo?
— Para quem te conhece como eu, sim — ela riu saindo do
carro.
— É — sai também e me encostei no mesmo ao lado dela, ela
me entregou a chave. — Aliás, fico feliz por tia Eliza estar bem, está
de quantos meses já?
— Três, Cameron chegou ontem e cuidou tanto dela que ela até
chorou — ri contente pela informação.
Mas aquilo significava que ele não tinha dormido muito de novo,
considerando que chegamos tarde da casa de minha avó.
Falando nele, ele estava junto do time com a atenção de todos
voltado para ele enquanto falava. Ele me olhou, se desencostou do
carro e se despediu dos meninos que me olharam e acenaram,
retribui e voltei meu olhar a Cameron e Elliot.
— Bom dia minha princesa — disse colocando uma mecha de
meu cabelo atrás da orelha e eu selei levemente nossos lábios o
sentindo sorrir.
— Capitã — ouvi a voz de Melissa me chamar.
Cameron abriu espaço parando atrás de mim e me abraçando
após se encostar no carro.
— A capitã me chamando de capitã? — Brinquei a vendo sorrir.
Seu sorriso era lindo, mas seu olhar estava carregado de
tristeza. Ela olhou Cameron e abaixou a cabeça, sabia que se fosse
ao contrário eu estaria destruída em vê-lo com ela. Tentei me soltar,
mas ele estava entretido falando com Elliot e nem se quer notou o
olhar de Melissa.
— Aqui o relatório de sexta — ela me entregou uma pasta azul
pastel.
Sorri surpresa.
— Qualquer coisa que precisar, pode falar comigo — completou
e abriu novamente o sorriso.
— Obrigada Melissa — sorri pegando a pasta.
— Até logo — se despediu dando uma última olhada em
Cameron e saiu.
Estava prestes a me virar quando Jasper se aproximou. Senti as
mãos de Cameron subindo e descendo em minha cintura, ele me
abraçou um pouco mais forte e beijou meu ombro me arrancando
suspiros baixos.
— E aí — Jasper nos cumprimentou e deu um toque de mão
com Cameron —, o relatório, qualquer erro foi o Brad — justificou
rindo e eu concordei rindo com ele enquanto Brad o olhava como se
estivesse ofendido.
— Jasper, precisamos conversar depois — Cameron disse com
sua voz rouca e eu me senti atordoada com a firmeza de suas
palavras tão próximas de minha orelha.
— Eu sei — Jasper também tinha um jeito firme de falar —,
Josh não comprou nada comigo na festa e o que eu vendi para
Peter não causaria o que causou em Josh — alertou.
Olhei Cameron pois já tinha ciência do assunto. Ele apenas
concordou e Jasper deu um aceno com a cabeça antes de se
afastar.
Ouvi o sinal tocar.
Cameron quem pegou minha bolsa e entregou para Josh levar.
Nos primeiros dias eu reclamava daquilo, mas eles sempre levavam
minhas coisas. Peter se aproximou, me entregou uma salada de
frutas no pote e sorriu se juntando a Eric, que estava levando a
pasta com os relatórios dos representantes.
— Não acha que está na hora de falar para os meninos pararem
de me tratar como uma rainha? — questionei Cameron enquanto
caminhávamos atrás de todos de mãos dadas e ele riu.
— Quem disse que eu pedi? — Indagou me puxando pela
cintura. — Você tem literalmente o time aos seus pés, ajuda todos
com as notas e eles só querem te agradecer e te mimar por isso,
fazem porque gostam de você — explicou e eu me senti explodindo
de felicidade.
— Jamais imaginei estar assim, sabia? — Disse sorrindo
quando entramos na escola. Cameron me olhou.
— Nem eu — disse como se milhares de coisas passassem em
sua cabeça.
Os meninos me ajudaram a guardar as coisas no armário,
mesmo que eu não precisasse de ajuda e eu os agradeci.
— Capitã, o relatório do time está junto com os outros relatórios
— Eric avisou me entregando as pastas.
— Obrigada, Eric — sorri.
— Hora de ir, time, reunião na quadra de basquete agora —
Cameron avisou soando mais como uma ordem.
Os meninos se moveram rapidamente após se despedir de mim
e Natalie.
— Amorzinho — seu tom mudou de autoritário para manso e ele
acariciou meu rosto —, te vejo depois — disse selando nossos
lábios.
Concordei sorrindo e ele saiu com Elliot, antes ouvi seu amigo
dizer ela acaba com a sua postura, bro. Ri os observando e quando
olhei Natalie, ela parecia desanimada.
— Preciso conversar com a minha amiga — disse me olhando e
senti uma dor no estômago de preocupação —, pode ser hoje
depois da escola?
— Claro amiga, sem problemas.
— As sete na minha casa então? — questionou caminhando
comigo até nossas salas.
— Posso levar Kurama? — Ela riu.
— Claro — beijei seu rosto e entrei na minha sala após sua
resposta.
Me sentei ao lado de Calleb e ele me abraçou.
— Ei, como está? Esqueceu sua amiga esse fim de semana —
reclamei e bastou isso para seus olhos ficarem marejados.
— Eu e Josh… acho que acabou — disse abaixando a cabeça.
Abri minha boca para falar, mas fui interrompida.
— Capitã — Lana chamou, a olhei em seguida eu e Calleb nos
olhamos surpresos.
Ela parecia tão animada e leve, o que me fez acreditar que era
uma garota legal, principalmente sem estar com Karen e Katherine.
— Aqui está o relatório do jornal, aliás, a matéria sobre sexta sai
na quarta-feira — avisou e eu apenas concordei.
Como representante, me senti frustrada. Tinha permissão para
fazer milhares de coisas na escola, intervir em projetos, opinar e
outras coisas, mas não abusava desses privilégios, não via
necessidade. Mas não tinha o prazer de ver o jornal antes dele ser
publicado e isso me deixava triste. A única que via o jornal antes de
todos, além de Lana e Calleb, era a diretora. E convenhamos, ela
amava uma fofoca e só não tolerava uma coisa: discurso de ódio.
De resto, se for sobre os casais da escola, sobre o baile, sobre
o garoto mais gostoso — que felizmente é meu namorado — ou
motivos para deixar a escola mais animada, ela apoiava.
— Posso dar uma olhadinha? — Tentei convencê-la e ela negou
rindo.
— Não senhorita — alegou indo até sua mesa.
Ela se sentou e a aula iniciou.
— Quer conversar no intervalo? — questionei Calleb em voz
baixa e ele apenas concordou.

Peguei minha salada de frutas que havia deixado na geladeira


do refeitório, Dorotéia, uma funcionária da escola, sempre guardava
para mim depois que a escola foi informada da minha doença.
Avisei Cameron que almoçaria com Calleb. Na verdade, pedi a
Luce para avisá-lo, ele e o time não participaram de nenhuma aula
hoje e pelo que Neji me contou, eles estavam acertando as coisas
para os próximos jogos.
Entrei no campo e percebi que os meninos do time estavam
sentados nos bancos da arquibancada conversando alto e fazendo
palhaçadas. Calleb disse que viria para cá em breve. Josh me olhou
esperando que eu estivesse acompanhada e abaixou a cabeça
coçando a nuca.
— Capitã — Adam pulou em minha frente me dando um susto.
— Aí, garoto! — Reclamei tirando o pirulito da boca. — Quer me
matar do coração? — Ele riu.
— Você precisa ver nossas notas, tipo, agora — Brian surgiu ao
meu lado e eu praticamente fui empurrada para perto do resto do
time.
Me aproximei e por algum motivo todos começaram a bater
palmas gritando animadamente. Parei ao lado de Cameron que era
o único que estava em pé.
Ele me puxou pela cintura assim que me aproximei e tirou o
pirulito de minha boca colocando na sua, o olhei fingindo estar brava
e ele riu.
— Você já é doce demais para ficar comendo mais doce,
caramelinho — brincou e eu o empurrei com o ombro.
— Babaca.
— Mandona — retrucou apertando minha cintura e rimos de
nossas palavras.
— Capitã — Jack pulou de um banco e veio até mim como uma
criança animada —, olha — e me mostrou sua prova de física.
Entreguei minha garrafinha d'água e meu potinho com salada de
frutas a Cameron que precisou me soltar para segurar as coisas.
Os demais meninos também mostraram suas provas, a nota
menor foi de 85,4 de Noah que ainda estava com o braço enfaixado
pelo jogo de sexta passada e não participaria da próxima partida.
Percebi que alguns garotos se inclinavam para me abraçar, mas
quando olharam Cameron, recuavam. Ri com isso, pois Cameron
estava totalmente envolvido em uma conversa com Peter e Josh
que nem estava prestando atenção em mim.
— Estou orgulhosa de vocês, meninos — disse pegando minha
garrafinha e a salada de frutas. Josh olhou para trás e eu também,
vi Calleb bem distante de nós, porém, me olhava e Cameron seguiu
meu olhar. — Espero que nas outras matérias vocês se saíam bem
também — afirmei os olhando, eles sorriram animados e
concordando.
— Ironside, vamos ir comprar algo para comer, vai também? —
Eric questionou e Cameron concordou. O olhei confusa.
— Ironside? — questionei e ele me puxou pela cintura quando
os meninos começaram a se afastar indo até o estacionamento.
— Seu pai me chamou assim três vezes durante o jogo —
explicou me olhando e a cada palavra ele fechava mais o braço em
minha cintura, me apertando e me puxando para si —, disse que
significa braço de ferro — ele riu — e você sabe, em Vikings o cara
foi um líder que vários seguiam e gostavam dele, que era agressivo
nas batalhas e…
— E teve várias mulheres — completei e ele me olhou rindo
sem vergonha nenhuma.
— Mas que era um guerreiro dos bons — disse como se uma
coisa anulasse a outra.
— Cheio das graças — ironizei tentando me soltar —, Cameron
os meninos estão te esperando e preciso ir falar com Calleb.
— Mas eu nem fiquei com você hoje — resmungou.
— Não me lembro de o Bjorn Ironside ser assim com as
mulheres — impliquei.
— Para mulher ele era fácil — rebateu me empurrando contra si
pelas costas.
— Para todas? — Parei de tentar me soltar e o olhei.
— Ah, sabe como é — provocou me soltando.
— Cameron, não me testa — ameacei me afastando dele com
pressa e o vendo rir alto.
Achei que ele não falaria nada, que não iria me contrariar até
ele me gritar quando já estava com os meninos.
— BECCA — me virei o olhando — VOCÊ É O AMOR DA
MINHA VIDA — disse abrindo os braços — E NADA VAI
DESFAZER ISSO!
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele saiu com os
meninos que estavam animados e saíram gritando. Meu coração
estava acelerado após Cameron chamar a atenção de todas as
poucas pessoas que estavam no campo, estava queimando de
vergonha, mas suas palavras me deixaram extremamente contente.
— Vocês são insuportáveis, sério, não aguento — Calleb
resmungou. — Ah, eu amo vocês — rimos nos sentando.
— Viemos falar de você, amigo — o olhei abrindo meu pote de
salada —, o que aconteceu?
Calleb foi rápido em explicar que brigou com Josh por ele ter
comprado drogas, sendo com Oliver ou outra pessoa, ele não
aceitava que Josh se acabasse assim. O aconselhei dizendo que
eles precisavam conversar, Calleb disse que Josh não era viciado,
nem nada, que fazia aquilo isso para se sentir descolado e esquecer
os problemas com a mãe e a irmã, Karen.
— Karen é insuportável, sabe? Mimada, egocêntrica e pior, é a
queridinha. Os pais tratam ele e ela diferente e sei que isso o deixa
triste, mas usar drogas? Becca, ele comprou LSD, ah, fala sério —
disse desanimado. — Não quero que ele entre nessa vida, inferno,
já perdi meu irmão para isso — Calleb abaixou a cabeça e começou
a chorar.
O abracei forte. Senti meu coração doer pensando em Josh e
Peter, e com Calleb contando aquilo, a dor parecia ainda maior
principalmente por ter perdido Pollo para essas coisas.
— Calleb, vocês também estavam bêbados — relembrei e ele
levantou a cabeça — e você bêbado xinga até a quarta geração da
pessoa, fica descontrolado. Sobre isso, vocês precisam conversar,
sem bebidas, sem pessoas para interferir, sem drogas e sem
infantilidade.
— Nossa, eu venho aqui achando que você vai ficar no meu
lado e só levo paulada — ele riu da situação.
— Vocês são meus amigos, quero o bem de ambos — expliquei
e ele me abraçou.
— Você é uma ótima amiga — sussurrou ainda abraçado
comigo e logo me soltou pois o sinal de fim do intervalo tocou.
Entramos na escola de mãos dadas.
Olhei Calleb antes que ele fosse para o seu armário.
— Suas entidades não o avisam sobre você beber
descontroladamente e em local com muita gente? — questionei me
lembrando do que minha avó paterna, que era espírita, me contou
sobre ter parado de beber quando soube de sua mediunidade. Ela
também disse que isso variava de pessoa para pessoa.
— Exu me deu um sermão ontem na gira — ele riu de si
mesmo, mas me olhou buscando algo. — Como você sabe dessas
coisas?
— Aí meu Deus, esqueci que vim de família evangélica, calma,
me perdi no personagem — respirei fundo fingindo estar realmente
treinando para atriz, abri os olhos e o olhei com superioridade. —
Exu é do demônio — me fiz de intolerante e ele caiu na gargalhada
chamando a atenção de algumas pessoas —, minha avó paterna é
umbandista e eu sou curiosa — joguei o cabelo para o lado e beijei
meu próprio ombro.
— Você não tem noção do quanto eu te amo, você é incrível
amiga — nos abraçamos e a calmaria dele passou para mim —
preciso ir, beijos.
— Beijos — me despedi e segui para a sala de aula.
Fiquei desanimada por não ter Cameron para ser minha dupla,
mas fiquei contente por Neji guardar meu lugar.
Entrei na sala e me sentei ao lado de Neji.
— Pedi a Luce que fizesse o relatório do Fênix, mas acho
melhor você revisar — ele riu me entregando um documento.
A pasta que Melissa trouxe era muito eficaz, coloquei todos os
relatórios.
— Todos te entregaram os relatórios? — questionei e ele
concordou.
— E para você? — Fiz uma careta.
— Falta o do grêmio, que é um dos principais — expliquei
tentando não demonstrar minha frustração.
Karen tentaria fazer do jeito dela e eu só tinha amanhã para
revisar.
— Boa tarde, turma — disse o professor Tomlinson.
Eric e Adam entraram em meu quarto com um frigobar pequeno
preto, igual ao de Cameron.
Deixei meu livro de história na página marcada e os encarei.
— Que invasão é essa? O que é isso? — questionei ainda
confusa.
— Um frigobar — Cameron apareceu na porta de meu quarto
com o braço envolto dos ombros de minha mãe, quando era mais
novo ele parecia pequeno perto dela e agora mamãe quase sumia
ao seu lado.
— Mas…
— Achei a ideia do meu genro incrível — mamãe encheu a boca
de orgulho o chamando de genro.
Ele sorriu me olhando como uma criança e com o olhar
disse viu, ela me chamou de genro e disse que minha ideia foi
incrível. Ri negando com a cabeça.
— Meninos, obrigada por trazer — mamãe agradeceu e saiu
com eles.
O frigobar estava na tomada quando me aproximei o
observando.
— Falei com seus pais, é bom para deixar sua medicação —
suas mãos deslizaram em minha cintura — e o que você quiser.
— Minhas coquinhas.
— E a sua medicação — repetiu me puxando fazendo meu
corpo colidir contra o seu.
— Você que comprou?
— Não reclama, sei que você não gosta de ficar ganhando
presentes, mas eu quis te dar.
— Não gosto de você gastando dinheiro comigo — disse me
virando de frente para ele, ele bufou ainda com as mãos em minha
cintura.
— E eu não gosto de ouvir você reclamando — rebateu me
olhando.
— Reclamar já faz parte de mim — ele abriu um sorrisinho
maroto.
— Ser mandona também faz parte de você — o empurrei
fingindo estar ofendida.
— E ser teimoso e egocêntrico faz parte de você — ele riu se
sentando na minha cama começando a irritar Kurama que o
arranhou.
Me aproximei, ele me segurou pela cintura e quando ia abrir a
boca para falar, fomos interrompidos.
— Cameron, vem comer a torta que fiz — mamãe chamou.
Ele se levantou na mesma hora e saiu do meu quarto após
passar a mão em minha cintura.
Suspirei, hoje quase nem ficamos juntos, nem ontem na
verdade.
— Oi gostosa — Natalie disse aparecendo na porta.
— Oi delícia — a olhei e ela beijou meu rosto, em seguida se
sentou na cama.
— Dorme lá em casa — pediu, quase que implorando —, mas
comigo, nada de fugir para o meu irmão — gargalhei concordando.
— Vou sim amiga — peguei minha bolsa própria de colocar
minha medicação. — Não estava indo dormir com você porque Elliot
sempre estava lá.
— É, ele sempre está lá — disse como se aquilo a
incomodasse.
Kurama arranhou meu pé chamando minha atenção.
— Vem neném — a peguei no colo.
Entendia um pouco o problema de Natalie, mas esperaria o
momento certo para conversarmos, depois de arrumarmos minhas
coisas, descemos as escadas vendo que os meninos tinham ido
embora. Avisei minha mãe de que dormiria fora e caminhamos até a
casa de Natalie e ela pegou Kurama de meus braços assim que
entramos.
Passamos pela sala e o cachorrinho que estava no colo de

Cameron no sofá correu até mim começando a me cheirar. Em

seguida, começou a fazer voltas ao meu redor e pulou em mim. Me

abaixei rindo e me sentando no chão.


— Oi neném — brinquei afinando a voz.
Sorri brincando com ele e ele não parava de pular em mim
latindo animadamente.
— Chega Floki — Cameron disse firme e o cachorro correu até
ele.
Nos olhamos por instantes e Natalie suspirou indo até Cameron.
— Ok, vou liberar ela por alguns minutos, mas depois ela é
minha — disse séria e Cameron sorriu. Me levantei do chão.
— Estou aqui ainda — murmurei me aproximando de Cameron
e ele pegou em minha mão entrelaçando nossos dedos.
— Depois você sobe, sabe o caminho do meu quarto ou só
sabe o do Cameron? — questionou séria, mas começamos a rir.
— Otária — fiz uma careta sentindo as mãos dele deslizando
em minha cintura.
— Vem Floki, vamos amigar — Natalie o pegou com a outra
mão.
Floki estendeu a patinha para tocar em Kurama, ela bateu em
sua pata como se não quisesse contato e ameaçou arranhá-lo.
— Meu Deus, já tem as personalidades dos donos — Natalie
brincou subindo as escadas.
Cameron me puxou antes que eu pudesse o olhar. Cai sentada
no sofá e ele me puxou pela nuca selando nossos lábios. O desejo
veio como uma onda furiosa, eu precisava beijá-lo.
— Percebi uma coisa — ele disse sem quebrar nossa
proximidade e beijou minha bochecha até meu pescoço.
— O quê? — Arranhei levemente seu braço que apertava minha
cintura.
Senti meu corpo todo se arrepiar quando ele aproximou os
lábios de minha orelha. Fechei os olhos sentindo seu cheiro invadir
meu olfato, senti um frio no estômago enquanto sua mão me
apertava mais e deslizava em minha cintura.
— Que eu sou péssimo em ficar longe de você — sussurrou em
meu ouvido e cada músculo de meu corpo se contraiu com suas
palavras.
— Eu também descobri uma coisa — disse e ele ficou me
olhando, esperando que eu continuasse — minha vontade de te
beijar é maior do que eu imaginava — disparei.
Ele me olhou surpreso, meus olhos emitiam um pedido, tinha
certeza, porque ele, sem aviso, selou nossos lábios com
graciosidade.
Tirou os óculos de meu rosto com calma e novamente colou os
lábios nos meus.
Abri a boca deixando que sua língua massageasse a minha com
calma. Subi a mão em sua nuca o puxando mais para mim e seus
braços me envolveram por completo em um abraço forte.
Milhares de sentimentos envolvidos em um beijo, era impossível
explicar. A mão de Cameron entrou em minha blusa de frio, mas não
por dentro da camiseta fina que estava por baixo. Ele me apertou
um pouco mais sem quebrar o beijo.
Não sabia quanto tempo tinha durado, mas foi o suficiente para
nos deixar ofegantes e com um desejo dele surreal.
Seus lábios desceram até meu pescoço fazendo meu coração
disparar, senti sua respiração quente seguida por seus beijinhos e
puxadas de cabelo que me faziam inclinar a cabeça para trás.
Respirei fundo e me arrumei no sofá me afastando dele. Ele me
olhou confuso e eu tentava controlar minha respiração enquanto
arrumava meu cabelo. Coloquei meus óculos e o olhei abanando
meu corpo com as mãos.
— Ok, talvez eu tenha me perdido aqui, mas já voltei. Lembrei
que vim para ficar com a minha amiga — relembrei, ele bufou
encostando as costas no sofá e passando a mão no rosto, porém,
logo sorriu.
— Você não recuou, nem pensou duas vezes em me deixar te
beijar e foi a mesma coisa no dia que voltamos da casa dos seus
avós — comentou com os olhos brilhando, mas ficou sério —, estou
te pressionando? Por isso deixou?
— Claro que não — me aproximei novamente e abracei suas
pernas dobradas. — Sei que há coisas a serem resolvidas e que
concordamos em esperar, mas — peguei em sua mão entrelaçando
nossos dedos — não tenho dúvidas de que você quer que isso dê
certo, assim como eu. Não acho que estamos vivendo um vamos
ver no que vai dar, e essa era a única coisa que não queria, você
acha que estamos vivendo um talvez?
— Tenho plena certeza de que é com você que vou me casar,
minha princesa — ele acariciou meu rosto com a mão desocupada,
me puxando para outro beijo.
Quando afastamos nossas bocas, ele disse:
— Vou ficar alguns dias longe — o olhei confusa — não vai ser
agora, mas hoje passamos o dia todo conversando com os
patrocinadores do time, a diretora e o treinador. Teremos um jogo
agora em maio e dois em junho. O último jogo de junho que fechará
a primeira temporada será na escola do time rival.
Comecei a deslizar minhas unhas em seu braço o vendo
estremecer e sorrir, ele continuou:
— O último jogo vai ser na quinta-feira, depois disso nós e o
outro time vamos conhecer a liga de futebol americano de Nova
Iorque, vamos ficar por lá sexta, sábado e domingo, voltaremos na
madrugada de segunda para as férias de verão — explicou.
Senti vontade de chorar ao pensar em ficar longe dele por tanto
tempo e isso me fez entender o quão apegada estava.
— Entendo — disse o abraçando e ficando ali, aconchegada em
seu peitoral.
Ele beijou minha cabeça enquanto acariciava meu cabelo.
— Vai ser rápido, minha pequena — disse em meu ouvido me
abraçando forte.
— Você precisa aproveitar o máximo essa viagem — o olhei e
selei nossos lábios. — Vai ser ótimo para vocês.
— Sim — ele se animou —, os patrocinadores de Stanford
sempre estão por lá.
Sorri passando os dedos em seu rosto e o beijei, outra vez,
como se fosse impossível estar perto dele e não o beijar.
— Você não faz ideia de como eu gosto quando me beija —
disse acariciando minha cintura e mordeu o meu lábio.
— Preciso ir falar com a Nat — avisei tentando me levantar, mas
ele não me soltou.
— Pode falar uma coisa a ela quando vocês entrarem no
assunto? — Pediu olhando em meus olhos e eu balancei a cabeça
positivamente. — Para ela ser ao menos cuidadosa com Elliot
quando for terminar com ele, vai ser horrível porque ele está muito
apaixonado — sua fala era carregada de tristeza.
De imediato entendi tudo. Natalie terminaria com Elliot, Elliot era
o melhor amigo de Cameron, isso o faria ficar dividido, mas ele
entenderia a irmã por não querer algo. Devia ser horrível essa
sensação.
— Ah, amor — acariciei seu rosto — sinto muito por você estar
nessa situação, mas falarei com ela.
— Não devia te pedir algo assim, mas acho que ela vai te
escutar e não quero que ela saiba que Elliot conta essas coisas pra
mim.
— Bê — levantei seu rosto pelo queixo —, Natalie vai saber
falar com ele porque é isso o que ela desejaria se fosse eu falando
com você ou você falando comigo — ele me olhou tentando
disfarçar que a situação o deixava mal.
Cameron achava mesmo que sempre conseguiria esconder
seus sentimentos?
— Se está nos seus planos se livrar de mim, esqueça, não
estou a fim — ele disse gesticulando. Sorri o olhando.
— Conversaremos depois, pode tentar, mas não vai conseguir
fingir que está tudo bem estando em uma situação que claramente
te incomoda — afirmei me levantando, mas me inclinei apoiando
minhas mãos em suas coxas e ficando próxima de seu rosto — não
precisa fingir, Cam, não comigo — selei nossos lábios e ele pareceu
pensativo.
— Se conseguir escapar, a porta do meu quarto estará aberta
para você, amor — avisou quando eu estava para subir as escadas.
Sorri em resposta. Eu e ele sabemos que não trocaria amizade
e estaria com Natalie até quando dissesse que não me queria com
ela.
— Finalmente, né bonita — ri me jogando em sua cama e
Kurama se aconchegou em mim. — Olha, comprei uma caixinha de
areia para a neném — ela apontou para o canto do quarto onde
tinha uma caixinha rosa de areia.
— Ah, que lindo — a abracei.
Natalie se deitou e apoiou a cabeça em minha barriga e
assistimos um filme por um tempo. Nossa atenção se voltou para a
porta quando Cameron apareceu abrindo a mesma.
— Vem Floki — chamou e o cachorrinho correu até ele —, vou
levá-lo para passear.
— Agora de noite? — Natalie disse se sentando na cama.
— Não, agora de manhã — rebateu com sarcasmo.
— Achei que você era esperto o suficiente para diferenciar o dia
da noite — rebati brincando com Kurama e Natalie soltou uma
risadinha.
Levantei meu olhar, Cameron me encarava com um sorrisinho
nos lábios e os olhos semicerrados.
— Não comecem — Natalie pediu antes que ele rebatesse e
provavelmente iríamos começar com uma provocação sem fim —,
por favor — ela riu.
— Beleza, estou indo — Cameron disse entrando no quarto,
deu um beijinho na testa de Natalie e selou nossos lábios antes de
sair do quarto.
Suspirei o observando partir.
— Você está muito apaixonada — Natalie disse me tirando de
meus pensamentos.
— Ah — suspirei —, eu estou.
A olhei. Devia estar com cara de boba agora.
Balancei a cabeça na tentativa de afastar todos os meus
pensamentos.
— O que aconteceu amiga? — questionei enquanto Kurama
brincava com os meus dedos.
Achei graça ela tentando morder minhas unhas e minha aliança.
Natalie pareceu pensar em diversas maneiras de começar essa
conversa. Parou, pensou, me olhou, olhou para o nada e quando
novamente me olhou começou:
— Elliot é muito, muito, muito grudento — ela suspirou
desanimada e se encostou no travesseiro —, chega a ser
insuportável, ele fica querendo me agradar o tempo todo, sempre
concorda com tudo até quando não é para concordar, se esforça
tanto que acaba sendo chato. Parece que é dependente de mim,
não gosto disso. E quando começo a entrar no assunto ele começa
a fazer drama, se vitimiza e ainda quer colocar outra pessoa no
meio.
— Outra pessoa?
— Andrew — disse seu nome como se fosse um peso —, fica
achando que eu vou largá-lo para ficar com Andrew — peguei em
suas mãos entrelaçando nossos dedos — eu… — meu cérebro
pareceu congelar quando ela parou de falar.
— Você…
— Ainda gosto de Andrew — assumiu.
— Então o problema não é Elliot, é você — disparei e ela me
olhou — quer dizer, ele pode ser de fato grudento e isso é bem
chato mesmo. Mas quando você gosta de alguém também é
grudenta, amiga. A questão é que você queria que Andrew fosse
grudado em você, sinto muito, mas acho que isso é uma coisa que
não deveria esperar dele.
Ela me analisou por instantes.
— Não vou fazer trocas, amiga, mas não é certo usar Elliot para
tentar esquecer Andrew.
— Ah… — suspirei aliviada — odiei pensar nessa ideia de
descartar Elliot como se fosse nada — disparei e ela negou de
imediato.
— Quero meu espaço. Gosto de Andrew, mas sei que ele não é
para mim, não vou me sujeitar a ser apenas sua diversão, mas
preciso saber — ela pensou um pouco — ele… ele já falou de mim?
— questionou com o olhar carregado de esperança.
Escolhi bem minhas palavras e a olhei.
— Não vou ficar no meio disso, por favor, não me coloque nisso
— ela murchou como uma flor e suspirou.
— Sabia que você não ia falar nada sobre ele — rendeu-se —,
mas eu precisava tentar — e forçou um sorriso.
— Quando vai falar com Elliot?
— Dói bastante isso, sabe? — Ela pensou um pouco — Vou
falar com ele amanhã! — Afirmou determinada e triste. — Vamos
fazer um bolo de cenoura, esse assunto me deixa deprimida —
pediu se levantando rapidamente.

Me soltei de Natalie com cuidado e sai de seu quarto, estava


morrendo de sede. Kurama continuou dormindo em cima da cabeça
de Natalie, uma cena extremamente fofa.
Desci as escadas a passos silenciosos, mesmo sabendo que tia
Eliza e tio Arthur não estavam em casa, não sabia se Cameron
estava dormindo.
Cheguei na sala e veio a minha resposta, ele estava assistindo
Vikings. Me dirigi até a cozinha, peguei um copo d'água e me sentei
na bancada. Não queria atrapalhar, ele parecia confortável e quase
dormindo com Floki no colo.
Meu pensamento foi até minha conversa com Natalie. Não
acreditava muito que ela ficaria sozinha, mas se ela voltasse com
Andrew, não sabia como seria. Ela parecia saber dos sentimentos
de Andrew, mais do que eu sem dúvidas. O problema não era eles
terem um relacionamento, mas ele ficar com ela por diversão, como
foi da última vez e ela se sujeitar a isso porque gosta dele.
Não era justo. Ela ficar com ele por sentimento e ele por
diversão. Mas sabia que Natalie podia ser bem insistente em algo e
Andrew cairia facilmente nos encantos dela. E ainda tinha Elliot,
meu Deus, ele vai ficar tão mal.
Natalie chorou por quatro horas em meu colo, disse que era por
causa dos filmes, mas sabia que ela não estava bem. Tudo o que
pude fazer foi ficar ao seu lado, a deixando chorar.
— Sem sono, minha princesa? — A voz de Cameron invadiu
meus ouvidos e tudo pareceu sumir. Sorri sentindo a calmaria me
dominar.
— Não, só estava com sede — me virei para ele.
A luz baixa da cozinha me permitiu ver seu rosto e seu corpo,
ele estava apenas com um short fino azul Royal, simplesmente
lindo.
— Natalie já te derrubou da cama? — questionou quando me
levantei e ele não me deixou sair; rimos, Natalie realmente se mexia
demais.
— Não, mas estou toda dolorida — fiz uma careta colocando o
copo na bancada —, ela chutou minhas costas três vezes e nem me
pergunte como — ele conteve a risada colocando a mão na boca.
— Posso te ajudar — afirmou e, com as mãos na minha cintura,
ele me virou de costas.
— Não precis… — parei de falar quando ele começou a apertar
levemente minhas costas bem onde estava dolorido.
Ele continuou até subir as mãos em meus ombros os apertando
e eu suspirei aliviada e fechando os olhos. Depois de mais alguns
apertos, Cameron desceu os dedos carinhosamente pelos meus
braços me fazendo arrepiar. Em seguida, suas mãos apertaram
minha cintura e ele me puxou para si, afastando meu cabelo dos
ombros e da nuca e começou a dar leves beijinhos em meu
pescoço.
Me virei de frente o fazendo parar, o vendo sorrir e colocar as
mãos na borda da bancada, me deixando sem saída.
— Melhorou? — questionou olhando meus lábios.
— Sim, obrigada — sorri beijando sua bochecha —, está na
hora de dormir — resmunguei e ele concordou sem se mexer.
E sorriu, desceu os olhos admirando meu corpo e me olhou nos
olhos novamente. Tentei controlar minha respiração, como podia ele
ser tão respeitoso, cauteloso, um príncipe e ao mesmo tempo me
olhar com esse jeito safado?
— Seja lá o que você está pensando — levantei seu rosto pelo
queixo antes que ele descesse novamente os olhos —, para!
Ele gargalhou me abraçando pelos ombros.
— Foi tudo bem com Natalie? — questionou me puxando para a
sala.
— Sim, mas preciso voltar para o quarto, conversaremos depois
— avisei e ele me olhou concordando.
Lhe dei um selinho e subi as escadas. Quando fui para abrir a
porta do quarto de Natalie, ela estava trancada. Percebi que Floki
me seguiu.
— Amiga? — Bati na porta e Floki latiu.
A porta se abriu.
— Anda neném da tia, vem dormir comigo e deixa seus pais —
Natalie disse e foi o tempo de Floki entrar para ela quase fechar a
porta e ficar com a cabeça para fora —, amiga, vai dormir com ele,
sei que você prefere os abraços dele do que os meus empurrões —
ela riu alto.
— Não precisa fazer isso, Natalie, deixa eu… — ela bateu à
porta na minha cara — sua mal-educada! — Exclamei ouvindo sua
risada e a fechadura se trancando.
— Te amo, mas sei que você vai querer insistir e eu prefiro ficar
com os animais — disse do outro lado da porta me fazendo rir.
— Para de fingir, não precisa fazer isso Natalie.
— Não vou repetir dona Rebecca, não venha de escândalo
agora de madrugada — ela debochou.
Acabei rindo e ficando em silêncio ainda encostada na porta
esperando que isso a fizesse abrir e me deixar entrar.
— Vai dormir, Becca — pediu.
— Vai ficar bem? — questionei vendo Cameron aparecer no
corredor com olhar interrogativo.
— Sim amiga, boa noite — respondeu e Cameron caminhou até
seu quarto.
— Te amo.
— Te amo, AGORA ME DEIXA DORMIR — gritou do outro lado.
Achei graça e me dirigi para o quarto de Cameron, parei na
porta o vendo se arrumar na cama.
— Acabei de ser expulsa — fingi que ia chorar e ele riu me
convidando para me deitar ao seu lado.
— Queria dizer que estou triste, mas não estou — disse quando
me deitei.
Ri o abraçando.
A tv de seu quarto estava ligada passando um filme aleatório.
— Cam? — Chamei após minutos olhando a televisão.
— Oi — ele disse brincando com os meus dedos e eu o olhei.
— Acha que Elliot vai ficar muito mal? — Ele me olhou e apenas
balançou a cabeça positivamente.
— Principalmente porque ele sabe que ela gosta de Andrew e,
bom, Andrew não tem nada a perder — explicou, mas sua voz
continha uma certa irritação.
— O que você pensa disso?
— Muitas coisas, mas não posso interferir em nada, Elliot vai
ficar bem — deu de ombros, quando abri minha boca para falar ele
começou a coçar os olhos. — Amor, acho que tem algo de errado
com os meus olhos.
— O quê? — Me sentei na cama ligando o abajur para ajudá-lo.
— Tem algo de errado com os meus olhos — ele passou os
dedos nos olhos e fechou os forçando enquanto se deitava na
cama, joguei meu cabelo para o lado para que não me atrapalhasse.
— Não consigo tirar eles de você — disse me olhando.
Passei a mão no rosto rindo envergonhada e Cameron me
puxou selando nossos lábios com um sorrisinho no rosto.
— Besta — reclamei dando outro selinho nele, meu cabelo veio
para frente e novamente o joguei para o lado.
Cameron engoliu em seco me olhando como se um fio tivesse
se soltado em sua mente. Suas bochechas coraram de imediato, ele
pareceu perdido, como se tivesse dado curto-circuito e piscou
algumas vezes com lentidão.
— Puta merda — reclamou virando de costas —, boa noite
Rebecca — disse com a cara enfiada no travesseiro e puxando a
coberta.
— Mas am…
— Boa noite Rebecca — repetiu.
Pensei um pouco e acabei rindo. Me levantei pegando o
controle e desligando a tv, peguei Cameron me espionando e
novamente ele afundou o rosto no travesseiro.
Eu estava gargalhando por dentro.
Me deitei novamente em sua enorme cama, desliguei o abajur e
o abracei sendo a conchinha maior. Nem parecia o capitão que saia
batendo em todo mundo.
— Boa noite, amor — beijei seu ombro e me deixei dormir após
sentir seu braço envolvendo o meu.

Era quarta-feira e para variar Karen não tinha me entregado o


relatório de sexta. O que me confortava era que a diretora precisou
resolver algumas coisas e a reunião comigo e Neji ficou para
amanhã.
Perdida em meus pensamentos, ainda olhava meu guarda-
roupa em busca de uma roupa confortável. Era primavera, mas
estava bem abafado e quente.
Coloquei uma regata preta de alças bem finas que, felizmente,
não precisava usar sutiã e mostrava um pouco da barriga. Vesti uma
calça jeans azul claro rasgada, um tênis preto e soltei o cabelo.
Desci as escadas sendo seguida por Kurama após aplicar
minha medicação, peguei uma pera da fruteira e me despedi da
gatinha.
— Não vai tomar café? — Mamãe questionou quando coloquei
Kurama dentro do bebê conforto de Louis.
— Tomo no caminho — avisei.
Beijei seu rosto em despedida, beijei os nenéns e sai.
Entrei no carro de Natalie e fiquei extremamente feliz por seu
castigo finalmente ter acabado.
— Você está linda! — Disse assim que entrei. — Uma grande
gostosa! — E beijou meu rosto.
— E você é uma grande gostosa — retribui o sorriso —,
podemos passar na Coffee Village?
— Claro — disse dando partida.
Paramos na cafeteira, pegamos nossos pedidos no drive-thru e
partimos para a escola.
— Então, vai falar com Elliot hoje mesmo? — questionei
abaixando o volume do rádio e mordendo meu croissant.
— Não sei. Ia falar ontem, mas não consegui parar para nada,
precisei cobrir o ensaio do coral e do teatro, não sei como vai ser
hoje — explicou com tranquilidade.
Ela não parecia tão mal como estava na segunda. A olhei
quando estacionou o carro.
— Quando dormi na sua casa na segunda — ela me olhou —,
você realmente queria ficar sozinha? Ou só fez aquilo por causa de
mim e seu irmão? — Ela riu.
— Amiga, eu te amo muito, mas precisava chorar sozinha —
disse entrelaçando nossos dedos — e você ficou ali comigo, o
tempo todo secando minhas lágrimas, deu seus conselhos, mas não
me julgou. Sabia que era hora de você descansar e só com
Cameron isso seria possível — sorri a ouvindo. — Obrigada,
mesmo.
Apenas concordei balançando a cabeça e nos abraçamos.
Saímos do carro juntas e eu quis me esconder quando senti alguns
olhares em mim. Olhei meu próprio corpo.
— O que tem de errado comigo? — questionei quase voltando
para dentro do carro.
— Você é uma grande gostosa — ela riu — e só usa roupas
folgadas, ninguém imaginava que seu corpo era assim. Fica
tranquila. Preciso ir falar com Lana, ela quer que eu faça algumas
fotos hoje — explicou, beijou meu rosto e nos despedimos.
Ignorei todos os olhares, mas ouvi um garoto dizer "nunca vi
uma nerd tão gostosa", e outro dizendo "se eu pegasse uma dessa
ia deixar de cadeira de rodas", senti vontade de vomitar com esses
comentários. Algumas garotas disseram que estava explicado o
motivo de Cameron estar comigo e eu acabei rindo.
Estava ansiosa para ver o jornal de hoje, mas só sairia na hora
do intervalo.
Peguei meus livros de dentro do carro e antes que pudesse
fechar a porta, os meninos do time se aproximaram como soldados.
— Gente — ri quando Eric pegou meus livros —, não precisa —
comentei e antes que pudesse argumentar, já estava sem segurar
nada, apenas o celular e minha garrafinha d'água.
Neguei com a cabeça os olhando aos risos e Calleb se
aproximou de mim.
— Meu sonho é isso — ele apontou para os meninos que
seguravam minhas coisas.
Nos olhamos rindo. Observei o estacionamento a procura de
Cameron, mas não o encontrei. Ao invés disso, percebi como
Katherine e Karen, me olhavam com raiva, nojo e outras coisas
ruins. Melissa me olhou como se quisessem se aproximar, mas não
sabiam como.
— Amiga — Calleb pegou em minha mão e me fez dar
uma rodadinha —, se eu gostasse da sua fruta te pegava, meu
Deus, você é linda!
— Obrigada — beijei sua bochecha o abraçando —, também te
pegaria se você gostasse da minha fruta — ele riu alto.
— Estou super ansioso para o jornal de hoje — comentou
quando começamos a caminhar para a escola —, está incrível! Quer
dizer… algumas coisas estão incríveis — disse em um suspiro.
— Me conta o conteúdo do jornal e eu digo se esperava ou não
— o olhei esperançosa enquanto ele negava com a cabeça.
— Não adianta tentar, monamur — riu com graciosidade quando
paramos em meu armário.
Fiz biquinho rindo logo em seguida.
— Capitã — Adam chamou se aproximando e me entregando
os livros.
Os coloquei no armário e Eric me entregou minha bolsa.
— Obrigada meninos — disse sorrindo.
Eles também sorriram e se despediram, voltei meu olhar a
Calleb.
— Becca — Neji chamou e, também, me olhou por inteira —,
uau, você está linda — afirmou, Calleb estava boquiaberto e riu.
— Obrigada — o agradeci e ele sorriu acenando com a cabeça.
— Está tudo bem? — questionei e ele concordou após me abraçar.
— A reunião com Georgia e Anthony será na sexta, não vamos
ficar com falta e a diretora vai junto.
— Tudo bem — concordei o olhando.
— Vejo você mais tarde — se despediu e acenou para Calleb
enquanto se afastavam.
— Você e Josh já conversaram? — questionei pegando meu
livro de história.
— Estou evitando ele por enquanto.
— Quer conversar sobre isso? — Ele negou com a cabeça.
— Acho que se eu te roubar mais uma vez no intervalo o
capitão não vai gostar — disse rindo e eu franzi o cenho.
— Pelo menos hoje ela pode ficar comigo? — A voz rouca dele
fez meu coração disparar.
Senti suas mãos deslizando em minha cintura até minha
barriga, ele me puxou para si e beijou o topo de minha cabeça. Virei
o rosto sorrindo, fechei meu armário e me virei totalmente para ele.
Calleb saiu discretamente.
— Bom dia minha princesa — disse selando nossos lábios.
— Bom dia meu príncipe — sorri envolvendo meus braços por
cima de seus ombros.
Ele me afastou com as mãos em minha cintura me fazendo
soltá-lo e seus olhos desceram e subiram me observando por
inteira.
— Meu Deus — ele murmurou boquiaberto e me puxou para si
novamente —, eu tenho a garota mais linda desse mundo em meus
braços — abri um sorriso selando nossos lábios e ele parecia
atordoado.
— Tá comendo bem, hein capitão — um garoto enorme com
uniforme do time de outra escola disse com um sorriso maldoso.
Os meninos do time que ainda estavam no corredor olharam o
garoto, Cameron mudou seu olhar e se virou o encarando.
— O que disse? — questionou desacreditado das palavras que
ouviu e eu apertei seu braço.
O garoto não teve tempo para responder, Cameron com apenas
um olhar deu uma ordem aos garotos do time Warriors, eles riram e
Peter colocou a mão no ombro do garoto.
— Vem com a gente — disse calmamente.
— Mas… — O garoto foi interrompido por um aperto forte em
seu ombro logo cedendo ao pedido de Peter e saiu caminhando
com Adam, Eric e Josh.
— Gente… — me impulsionei para frente, mas Cameron me
segurou —, Cameron?
— Fique tranquila, não vão bater nele, vão só… — ele sorriu —
dar um aviso.
— Mas…
— É sério minha princesa — ele colocou as mãos em minha
nuca —, eles só vão dar um aviso — repetiu.
— E você quer que eu acredite que eles não vão bater no
menino? — Cameron riu em resposta. — Aviso do quê?
— As pessoas não podem falar da capitã do time e ficar numa
boa — disse colocando a mão em minha cintura, abri a boca para
falar, mas ele selou nossos lábios me calando. — Olha, amorzinho,
os próprios meninos quem decidiram isso e eu apenas concordei —
explicou afastando meu cabelo dos ombros.
— É claro que concordou, mas não quero eles se envolvendo
em confusões por mim.
— Pode parar um pouco de se culpar por coisas que claramente
não dependem só de você e simplesmente ficar feliz por ter gente
que gosta de você e quer te defender a todo custo? — questionou
com tom sereno e minha fala simplesmente sumiu. — Eles gostam
de você, gostam de te defender e qual é o problema? Eu não passei
nenhum dever, então os deixe fazer o que querem.
Soltei a respiração calmamente e ele beijou minha testa.
— Eu nunca tive um time todo me defendendo e nem um
namorado que fica brigando por mim — ele sorriu maravilhado ao
me ouvir.
— Pois se acostume — disse selando nossos lábios. — O time
está marcando de ir para a casa de campo dos meus avós, o que
acha?
— Por mim tudo bem — beijei seu rosto e ele sorriu como uma
criança.
— Vai ficar comigo no intervalo ou preciso marcar horário na sua
agenda? — questionou pegando minha bolsa e colocando a alça em
seu ombro.
Senti uma pequena alfinetada e acabei rindo, o intervalo do dia
anterior eu tinha passado com Luce e o de segunda com Calleb.
— Acho que tem horário para você — fingi olhar minha agenda
imaginaria e ele fez cara de tédio.
Ele estava a coisa mais linda com a minha bolsa rosa claro.
Entrelacei nossos dedos enquanto caminhávamos.
— Não vamos ficar no refeitório — avisou me puxando pela
cintura.
— Biblioteca?
Entramos na sala e Cameron cumprimentou algumas pessoas,
a todo tempo com a mão em minha cintura.
Me sentei na cadeira do canto, ele ao meu lado e colocou minha
bolsa em cima da mesa.
— Biblioteca — iniciou puxando minha cadeira me aproximando
dele e envolveu os dois braços em minha cintura —, última fileira
onde ninguém vai, para mim está ótimo — disse beijando meus
ombros e afastando meus cabelos.
— Primeira fileira, onde podemos conversar com a bibliotecária
— o corrigi estremecendo um pouco quando senti seus dedos
brincando com a alça de minha blusa, como se fosse abaixá-la a
qualquer instante.
— Prefiro minha ideia — disparou.
O olhei e aproximei meus lábios de seu ouvido.
— Não vou te beijar aqui na escola — avisei em voz baixa.
— Nenhuma vez? — questionou beijando a curva de meu
pescoço.
— Nenhu… — minha voz falhou, precisei respirar fundo mais de
uma vez e mesmo assim não adiantou.
Ele começou a passar os dedos em minha nuca enquanto eu
inclinava a cabeça para o lado.
Cameron parou suas carícias com um sorriso malicioso e
contente por ver o que causava em mim. E eu ainda caía nos
joguinhos dele.
— Bom dia turma — o professor cumprimentou entrando na sala
—, página 373 — disparou apagando as coisas escritas na lousa.
Tirei meu caderno da bolsa, meu estojo e Cameron abriu
o meu livro de história.
— Cadê o seu livro? — questionei em voz baixa.
— Não trouxe — disse dando de ombros com seu jeito
despojado e procurando a página 373.
— Você é um folgado! — Reclamei pegando meu livro.
— E você o amor da minha vida — o olhei e ele sorriu olhando
meus lábios. Tentei não rir, mas foi impossível.
— E você o meu amor, mas não vou aturar suas folgas. Quer
ser assim? Pois folgue com outra pessoa! — Alertei observando o
livro.
Eu dividiria meu livro sem problemas, assim como ele pega meu
as coisas do meu estojo e a única coisa que usa que é de fato dele
é o caderno, mas antes precisava provocá-lo um pouco.
Ele me olhou com seu sorrisinho maroto nos lábios.
— Beleza — e se virou para Aaron e Lucca, dois garotos nerds
da sala, gostava deles, sempre tirávamos nossas dúvidas juntos nas
aulas. — Aaron, me empresta seu livro — pediu.
Meu queixo caiu quando o garoto entregou o livro a ele quase
que de imediato. Cameron olhou Lucca e ele tirou um caderno fino
da bolsa e o entregou.
— Aí, eu não acredito! — Resmunguei me recostando na
cadeira.
— Valeu aí — Cameron abriu o livro e me olhou —, que foi?
— Você é um folgado — reclamei.
Ele abriu a boca para retrucar, mas o professor foi mais rápido
em começar a aula. Senti sua mão deslizando em minha coxa, a
apertou e ficou ali parada.
A aula foi interrompida pela entrada de Peter, Josh, Eric e
Adam.
— Desculpe o atraso professor, estávamos resolvendo um
problema — Peter disse com um sorrisinho cínico no rosto.
— Sentem-se logo — o professor disse sem se importar muito.
— Tudo resolvido — Peter disse baixo a Cameron e se sentou
atrás de mim e Josh ao lado dele.
Adam e Eric se sentaram atrás de Aaron e Lucca.
— O garoto quase se mijou — Josh murmurou baixo e os
meninos começaram a rir.
Olhei séria para eles, Peter comprimiu os lábios segurando o
riso e Josh puxou a respiração ficando sério quando o encarei,
assim como Adam e Eric. Cameron passou a língua nos lábios logo
os mordendo e deu um sorrisinho sem vergonha.
Ele veio me dar um selinho e eu desviei voltando minha atenção
para o professor. Sua mão apertou minha coxa novamente e ele
beijou meu ombro ainda com expressão atrevida me fazendo
inspirar e expirar.
— Vocês farão um seminário — o professor iniciou —, já separei
os temas e os grupos.
O professor começou a falar os nomes de cada integrante e
seus grupos. Segurei a risada quando o professor falou que Melissa,
Katherine e Lana ficariam no mesmo grupo que Calleb, ele revirou
os olhos, bufou alto e Katherine o olhou.
— O que foi caralho? Perdeu o quê? — Disparou e Lana o
acalmou depois de rir.
— Meu namorado ele — Josh disparou, começamos a rir e
Calleb mostrou o dedo do meio a Josh.
Ele colocou a mão no peito e fingiu ter sido atingido por uma
flecha em seu coração.
Calleb tentou não demonstrar, mas ficou nítido que ele amou a
reação de Josh e ficou com as bochechas avermelhadas.
— Desculpe professor, pode continuar — Lana pediu.
— E por fim, seu grupo Malik será com Peter, Josh — os dois
deram um toque de mãos animados — Eric, Adam, Brian — os três
comemoraram animados e me fazendo rir — e Cameron —
completou como se não fosse óbvio.
Do time só tinha eles seis na sala, eu basicamente fiquei com o
pessoal do time.
— Rebecca e os cuecas — Eric disse rindo e todos começamos
a rir.
— Tem uma pessoa a mais no grupo dela — Katherine
observou e o professor a olhou com expressão entediada.
— Sim, Katherine, eu sei, eu quem separei os grupos —
relembrou e todos riram; ele voltou o olhar para nós. — O tema de
vocês será sobre Absolutismo.
— Quê? — Ouvi Adam questionar baixo.
Balancei a cabeça positivamente.
O professor passou uma atividade para fazermos em dupla
após explicar o conteúdo. Cameron conseguiu responder as
perguntas sozinho sobre a revolução francesa depois que expliquei
mais sobre o assunto e fomos os primeiros a terminar.
Ele se deitou sobre a mesa me dando liberdade para acariciar
seus cabelos e seus lábios se contraíram em um sorrisinho quando
comecei. Senti olhares em nós, levantei a cabeça vendo Melissa me
olhar com os olhos marejados, ela olhou para o teto, respirou fundo
e voltou o olhar para a atividade. Isabel, uma garota das líderes que
estava próxima de Melissa, apertou seu ombro tentando confortá-la.
O sinal tocou e eu comecei a arrumar minhas coisas.
Cameron novamente pegou minha bolsa e meu livro.
— Rebecca e Cameron, venham aqui por favor — o professor
pediu antes de sairmos.
Eu e ele nos olhamos e nos aproximamos do professor.
Esperamos até o último aluno sair da sala e o professor Smith
começou:
— Como Katherine observou — Cameron por algum motivo
apertou minha cintura quando o professor citou o nome dela —, seu
grupo tem uma pessoa a mais — ele me olhou — isso porque você
não vai apresentar o seminário, vai apenas organizá-lo, coordená-lo
e os meninos que vão apresentar.
— Certo — pensei um pouco — e como vai ficar minhas notas?
— Ele achou graça.
— Rebecca — ele se levantou e parou em nossa frente se
apoiando na mesa —, começamos o bimestre tem duas semanas e
você já está com 67 pontos pelos testes que passei, somando com
as atividades que vou passar até o fim do mês, você provavelmente
nem precisará fazer o seminário.
— O bimestre começou tem duas semanas — disse a mim
mesma.
— Sim, os projetos também contam. O seminário valerá 20
pontos, 10 de apresentação e 10 da escrita, suponho que 10 pontos
você já tem garantido.
— Mas eu preciso fechar com 100 pontos — comentei mais
para mim do que para eles e Cameron me olhou rindo.
— Não existe pessoa mais chata do que ela quando o assunto é
notas escolares — Cameron disse e nós três rimos.
— Ainda temos um mês e meio para acabar o bimestre, não
acha que até lá chega a 90 pontos na média? — O professor
questionou como se a resposta fosse clara e eu sorri concordando.
— Então só precisará de mais 10 pontos. Conseguiu entender o que
quero de seu grupo?
— Sim, professor.
— Ótimo, conto com isso — disse e olhou Cameron — e você
precisa urgentemente tirar no mínimo 90 pontos nesse bimestre. Te
coloquei no grupo do time porque soube que Rebecca está
ajudando muito vocês, por favor, não me decepcionem — o
professor se sentou —, estão dispensados.
— Por que não me disse nada sobre suas notas em história? —
questionei parando em meu armário e guardando o livro.
— Porque eu descobri agora — ele riu. — Aaron, seu livro —
disse ao garoto que estava passando pela gente, entregou livro a
Aaron e o caderno a Lucca depois de arrancar as folhas de suas
anotações —, valeu — agradeceu e os meninos saíram andando
após um breve aceno de concordância.
— A escola está toda nas suas mãos mesmo, né? — Ele fechou
seu armário e me puxou pela cintura.
— Uma garota hoje não quis dividir o livro de história comigo,
acho que não tenho toda a escola em minhas mãos — disse
apertando minha cintura e subindo a mão em minhas costas, me
puxando para si.
— Talvez você esteja nas mãos dela — sussurrei roçando a
ponta de meu nariz no dele.
— Cada dia tenho mais certeza de que não é só um talvez —
admitiu olhando em meus olhos e eu, por algum motivo, fiquei
hipnotizada.
— Vou precisar ajudá-los a encontrar o caminho da sala de
aula? — A inspetora Sullivan questionou e só então notei que o
corredor estava vazio.
— Sul, meu amor — Cameron me soltou e riu abraçando a
inspetora —, estava falando para minha namorada a incrível
inspetora que temos — ela deu um leve soco em sua barriga me
fazendo gargalhar.
— Ah, seu garanhão, não caio nessa — ela se recompôs — os
dois, para a aula agora.
— Sim, general — Cameron fez um gesto de soldado.
Eu e Cameron nos separamos e eu fui para o vestiário feminino
trocar minhas roupas. A diretora disse que precisava ter pelo menos
duas aulas de esportes, então decidi fazer duas aulas de futebol
feminino, considerando que eu jogava com o meu pai, meus tios e
Nicolly. Nada profissional, mas valeu de alguma coisa.
Entrei no vestiário feminino e caminhei até onde ficava meu
armário. Senti um alívio enorme quando vi que Luce, Melissa e
Lana, que dividiam a ala comigo, estavam presentes e jogaríamos
juntas.
— Graças a Deus! — Luce suspirou. — Achei que estaria
sozinha com um bando de patricinhas.
Melissa revirou os olhos com seu comentário.
Acabei rindo e me lembrando de uma coisa: o relatório que
Melissa me entregou das líderes estava com a escrita de Luce.
Pensei em comentar algo, mas com Lana aqui, achei melhor não.
— Só tem patricinha? — questionei começando a trocar minhas
roupas e Luce riu dando de ombros.
— É só olhar aqui na ala — Luce tinha um tom provocativo.
— Vai se foder, Lucinda — Melissa disparou e Luce mostrou o
dedo para ela.
Eu e Lana nos entreolhamos segurando a risada e começamos
a nos arrumar fingindo que nada tinha acontecido.

Coloquei o short fino e curto, a blusa do time, tênis e meia,


quando terminei, vi que Lana, Melissa, Luce e garotas de outras
alas me olhavam.
Amarrei meu cabelo sem entender, todas vinham os corpos
umas das outras, mesmo sendo a primeira vez que me troquei no
vestiário da escola, ainda assim era estranho.
— Nunca viram alguém com o corpo bonito não, cacete? Eu
hein — Luce reclamou.
As meninas voltaram a conversar, mas ainda me olhavam.
Melissa abaixou o olhar, mas vi seus lábios dizerem ela é
perfeita, claro que ele vai se apaixonar por ela a si mesma e sem
som. Ela percebeu meu olhar e o abaixou novamente.
— Nossa senhora, você é toda perfeita! — Lana disse animada.
— Por trás das roupas folgadas tem uma grande gostosa!
— Lana, pelo amor de Deus — disse sorrindo e sentindo minhas
bochechas corarem.
— Você é linda mesmo, não vou mentir — Luce disse entrando
na conversa.
— Todas somos — corrigi dando de ombros.
A treinadora Pattinson nos chamou dizendo que o treino
começaria.
Guardei meus óculos e me olhei no espelho antes de sair do
vestiário.
Entrei no campo de futebol e quando percebi que algumas
pessoas iriam assistir ao treino, me senti apreensiva. Tudo piorou
quando os meninos do time se sentaram nas arquibancadas.
Melissa me olhou e eu só queria me esconder.
— Você viu o corpo dela, é claro que é por isso que o Ironside
se interessou — uma garota disse com a voz carregada de maldade
enquanto passava por mim.
— Vem, não ligue para isso! — Melissa pediu me puxando pela
mão.
— Na verdade, não ligo — disse rindo —, já ouvi coisas piores.
— Eu sei, até porque eu também já falei de você — comentou
desanimada.
— Sabe, Mel — entrelacei meu braço no dela enquanto
caminhávamos pelo campo até a treinadora — quando você não
está fingindo ser um personagem ou um clone de Regina George
você é muito mais legal — comentei e ela pareceu levar um choque,
quando comecei a rir ela me acompanhou com uma risada
engraçada.
— Por que você espera algo bom de mim? Tipo, eu já falei
coisas horríveis sobre você — ela admitiu e seu olhar era carregado
de confusão.
— Na verdade eu espero que você me decepcione, assim como
espero isso de qualquer pessoa. Mas não posso deixar de esperar o
bem também, ninguém é feito apenas de atitudes ruins. Confesso
que se você me decepcionar, não vou ficar impressionada, porém,
vou ficar feliz em me surpreender caso isso não aconteça — afirmei
a vendo ficar pensativa.
— Ótimo, estão todas aqui — a treinadora começou — Melissa
e Karen, vocês serão as capitãs dos times.
A treinadora disse algo mais, porém não prestei atenção. Olhei
as arquibancadas encontrando Cameron e ele parecia estar em
estado de alerta. Me olhava, verificava os olhares dos garotos e me
olhava novamente. Ele comentou algo com Elliot e Elliot deu um
tapa na cabeça de Victor que estava me encarando. Cameron
passou a mão no rosto e sorriu para mim colocando a mão no peito
fazendo expressão de apaixonado.
— Rebecca — Melissa chamou.
Rapidamente entendi que se tratava da escolha do time.
Me aproximei dela e de Lana, que tinha sido escolhida.
— Katherine — Karen disse e a garota se aproximou dela.
— Escolhe a Luce — pedi e Melissa sorriu de uma forma que
nunca havia visto antes.
— Lucinda — Melissa escolheu e Luce a olhou como se
tentasse questionar algo.
Como um o que você está fazendo?
Eu e Lana nos olhamos novamente e rimos disfarçadamente.
Luce me abraçou sem nenhum aviso prévio.
— Sinto muito pelas meninas estarem falando de você — disse
olhando Kristen e Paloma que foram escolhidas para o time de
Karen.
As duas estavam conversando com alguns meninos da escola
que me encaravam e sorriam.
— Luce, me ajuda a escolher — Melissa pediu e Luce se
aproximou com um sorriso enorme, mas se conteve.
— Não temos paz em um lugar se quer — Lana disse se
aproximando de mim —, estamos com você, principalmente
sabendo que as meninas querem tanto a atenção que ficam falando
de você para os meninos — olhamos os meninos quando Kristen e
Paloma voltaram rindo —, eles são nojentos.
Quando olhei Cameron outra vez, seus olhos estavam grudados
nos meninos que antes conversavam com as meninas. Os três
meninos eram da natação e estavam comentando algo, um deles foi
o que disse que se me pegasse me deixaria de cadeira de rodas e
lembrar disso me deixou enjoada. Cameron desceu das
arquibancadas em que estava sentado e começou a se aproximar
dos meninos, sozinho. Nenhum outro garoto o seguiu. Olhei Elliot
em busca de respostas e ele apenas sorria satisfeito enquanto via o
amigo se aproximando dos garotos.
— Meu Deus, o que ele está fazendo? — questionei a mim
mesma.
O time de Melissa estava completo, mas não conseguia me
concentrar em ver quem eram as jogadoras.
Karen falava alguma coisa com a treinadora e Melissa e Luce
pararam ao meu lado observando Cameron caminhar até os três
meninos. Eles arrumaram suas posturas assim que o capitão se
aproximou. Não sei o que ele falou, mas os três meninos abaixaram
a cabeça concordando.
Cameron deu dois tapinhas na cara de um deles como se
aprovasse alguma coisa. Os três se sentaram nas arquibancadas e
Cameron ficou em pé, seu olhar se voltou para mim e percebi que
os três meninos faziam de tudo para não me olhar, os do time os
olhavam procurando uma forma de começar uma confusão,
começaram a caçoar deles até que eles se levantaram, se
despediram e saíram.
Não precisava estar tão perto para perceber a irritação dos três
nadadores.
Melissa suspirou aliviada e se virou para mim.
— Você joga na posição de atacante, né? — questionou
colocando o braço envolto de meus ombros. Concordei e ouvimos o
apito da treinadora.
Organizamos as posições de cada jogadora de acordo com o
que Luce, que era expert nisso, falava e então, começamos o jogo
após outro barulho de apito.
Poucas meninas do time de Karen sabiam o que fazer.
Enquanto a mesma só ficava gritando o tempo todo, Katherine
estava super perdida na posição de zagueira, Kristen caia a todo
tempo reclamando de falta e Paloma parecia no mundo da lua no
gol, o resto do time que parecia saber jogar estava sendo
prejudicado por isso.
O placar estava: Time Melissa 5 x 0 Time Karen. Nos dois
primeiros gols comemoramos, mas depois não tinha graça.
Apenas encostei em Kristen próximo das arquibancadas onde
os meninos estavam e ela se jogou no chão fazendo um drama
desnecessário.
— Neymar tá diferente — debochei e Kristen, quando os
meninos gargalharam alto, parou de fazer seu show.
Ouvimos o apito e o jogo finalmente acabou.
Suspirei me sentando no banco e observando outra turma
começar jogar. Cameron se aproximou enquanto os meninos saíam
das arquibancadas.
— Não sabia que você jogava tão bem — comentou me
entregando uma garrafinha d'água.
— Obrigada, amor, jogava com meu pai e meus tios as vezes —
peguei a garrafinha e quando ele se inclinou para me dar um
selinho, me afastei — estou toda suada, minha roupa está até me
pegando.
— Também queria estar te pegando — disse naturalmente e eu
o empurrei pelo ombro aos risos.
— Engraçadinho — dei um selinho nele e percebi que Melissa e
Luce estavam me esperando para ir ao vestiário.
— Te espero na biblioteca na hora do intervalo — avisou.
Concordei, em seguida corri até às meninas.
Caminhei pelo corredor indo em direção a biblioteca depois

de tomar um banho rápido e trocar minhas roupas. Odiava ter que

lavar o cabelo correndo e ainda ficar com ele molhado na escola,

felizmente Luce passou o secador de Melissa em meus cabelos o

deixando apenas úmido. Fingi que não percebi tal intimidade entre

as duas, mas estava amando.


Antes de entrar na biblioteca, vi o garoto do time rival que falou
de mim no corredor e Cameron pediu para os meninos darem um
jeito nele. Não parecia machucado, mas seu olhar era indecifrável.
Ele me encarou por instantes enquanto conversava com Bárbara,
uma garota do jornal, ela sussurrou algo no ouvido dele.
Decidi que nada ali era da minha conta e entrei na biblioteca.
Havia poucas pessoas conversando em voz baixa.
— Cameron veio para cá? — questionei uma garota de cabelos
azuis, Anna, que tinha aulas de francês comigo.
— Está na última fileira de livros — avisou.
— Obrigada — sorri e ela retribuiu.
Minhas mãos suaram frio e senti borboletas no estômago.
Minhas pernas tremeram um pouco, mas me mantive firme. Lucca e
Aaron estavam conversando em uma das mesas e me aproximei
deles. Uma dúvida imensa me rondava.
— Oi meninos — disse em voz baixa, os dois me olharam
atentos e sorrindo de forma simpática.
— Pois não, capitã — Lucca disse em tom brincalhão
arrumando os óculos no rosto.
— Queria fazer uma pergunta a vocês — comecei, me sentei e
os olhei, eles pareciam curiosos — Cameron… é, vocês deram o
livro de história e o caderno na mesma hora em que ele pediu —
pensei um pouco, observei a biblioteca quase vazia e felizmente
ninguém nos olhava — por quê?
Lucca e Aaron riram.
— Ele fez e faz algo pela gente — Lucca respondeu.
— Ele quem não deixa os meninos da natação, do time e os
valentões do lado sul baterem em nós ou roubar nossos lanches,
implicar com a gente, nos prender no armário, enfiar nossas
cabeças na privada e essas coisas — Aaron explicou.
— Então para a gente não é problema nenhum fazer uma coisa
mínima para ele, se ele quisesse continuaríamos fazendo os
trabalhos e lições dele — Lucca disse relaxando na cadeira.
— Nem pense em dizer isso a ele — brinquei os vendo rirem. —
Obrigada e até logo meninos — me despedi.
Cameron conseguia me surpreender e me deixar ainda mais
apaixonada a cada dia que passava.
Cheguei na última fileira o vendo com o livro Orgulho e
Preconceito em mãos. Vê-lo lendo o deixou mais atraente do que já
era. Me aproximei até o fim da fileira, ele fechou o livro, o colocou de
volta na prateleira e me olhou.
— A atacante mais linda que eu já vi — disse me puxando pela
cintura.
— O quarterback mais lindo que eu já vi — rebati selando
nossos lábios.
— Me diga, atacante, o que quer comer? — questionou
descendo e subindo as mãos em minha cintura.
— Estou com uma vontade imensa de comer um lanche do
Subway, mas preciso medir minha glicose antes — comentei
arranhando levemente seus braços.
Ele concordou e quando ia me soltar, senti seu aperto mais
forte.
— Só um minutinho aqui? — Pediu.
— Cameron… — ele acariciou meu rosto e eu sorri quando
começou a dar vários beijinhos em meu rosto.
Ele beijou a ponta do meu nariz, em seguida minhas bochechas
e desceu lentamente até meu pescoço. Apertei seus ombros e puxei
a respiração. Suas mãos apertaram ainda mais minha cintura e seus
lábios voltaram aos meus os selando com calma. Fechei meus olhos
suspirando e ele afastou nossas bocas.
— Só um beijinho? — Pediu com um sorrisinho nos lábios e me
puxando com a mão em meu pescoço.
Sorri me rendendo com facilidade, já que era uma coisa que
também desejava. Selei nossos lábios com dois selinhos e lhe dei
passagem para um beijo calmo. Cameron envolveu os braços em
minha cintura e subiu uma de suas mãos em minhas costas.
Senti sua mão quente em contato com a minha pele e afastei
nossas bocas. O olhei sorrindo por instantes o admirando, me sentia
no céu; e voltei a beijá-lo.
Sua mão continuava a subir na medida em que o beijo se
tornava ainda mais lento. Deslizei as unhas em sua nuca e seus
dedos brincaram com a alça de minha regata novamente me
fazendo arrepiar. Mordi seu lábio o puxando e o senti suspirar
apertando forte minha cintura. Beijei seu queixo e ele sorriu.
— Você acaba comigo, sabia?
Me afastei o olhando e rindo de sua expressão abobada.
— Sabia — disse convencida. — Eu acabo com o reizinho de
Liberty, vou contar a Calleb para ele colocar no jornal — ele me
olhou fazendo pouco caso.
— Vai contar nada não — rebateu na mesma intensidade de
minha provocação.
— Vou sim — ele tentou me puxar para perto, mas não deixei.
— Não vai.
— Vou sim, você não manda em mim — provoquei e ele riu
maliciosamente.
No segundo seguinte sua mão subiu em minha nuca, afundando
os dedos em meus cabelos e me puxou com firmeza, inclinando um
pouco minha cabeça para que olhasse em seus olhos e deixou
nossos lábios próximos. Seu toque era selvagem, intenso e
cuidadoso ao mesmo tempo, era indefinível.
— Não me provoca — sussurrou e passou a língua nos lábios.
Minha fala sumiu.
Perdi totalmente o rumo.
Não sabia o que falar, nem o que fazer para que minha alma
voltasse para o meu corpo. Seus olhos azuis me encaravam
fixamente e sua expressão deixava nítido que ele gostava da
situação.
Ele me soltou com calma, deslizando a mão em minha nuca, e
eu soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo.
— Vamos amor? — questionou se desencostando da prateleira
e eu engoli em seco apenas concordando. — Você está pálida —
disse afastando meu cabelo do rosto delicadamente com os dedos
—, tudo bem?
Um sorriso cínico apareceu em seu rosto.
— Idiota — dei um tapa em sua mão —, fica longe de mim —
disse dando um passo me afastando ainda mais dele.
— Não quero — deu de ombros rindo, se aproximou e selou
nossos lábios com suavidade. — Me conte algo que você gostaria
muito que eu fizesse — começou se inclinando e pegando minha
bolsa do chão, jogou a alça nos ombros e me puxou pela cintura
caminhando até a saída da biblioteca —, mas que você acha que eu
jamais faria.
— Bom — ri do meu próprio pensamento quando saímos da
biblioteca e começamos a caminhar pelo corredor da escola —, já
imaginei essa cena mais de uma vez na verdade — chegamos no
estacionamento, ele abriu a porta do carro para mim, deu a volta e
entrou logo dando partida.
— O quê? — questionou de imediato e entrelaçou nossos dedos
com a mão desocupada.
— São duas coisas. O time sempre faz uma dancinha de
comemoração quando faz uma jogada impressionante ou ganha
pontos, então a primeira coisa seria a comemoração desses pontos
serem uma dancinha da Beyoncé — ele me olhou rindo como se
aquilo jamais fosse acontecer e sua risada logo se tornou em uma
gargalhada.
Soltei sua mão, tirei o pequeno medidor de glicose da bolsa,
furei o dedo mindinho e coloquei o pouco de sangue na fitinha que
encaixava no aparelho. Cameron pareceu nem se importar com
isso, acredito que por costume, pelo que me disse, ele fazia os
testes de glicose do avô dele. Fiquei feliz por isso, normalmente
ficava desconfortável porque as pessoas ficavam olhando e
questionando, então nunca tinha feito na frente de ninguém.
O teste deu 84, a taxa de açúcar estava baixa, então podia
comer um lanche sem muito exagero, claro.
— Sério que você imaginou isso? — questionou ainda rindo e
estacionou o carro, saímos do mesmo após eu limpar meu dedo
com algodão.
Ele envolveu o braço em meus ombros ainda rindo sobre a
minha ideia.
— Imagina os garotos todos marrentos e intimidantes,
principalmente o capitão Ironside — comecei, o olhei e ele parecia
ainda não acreditar no que estava ouvindo — e então do nada
começam a dançar Singles Ladies — ele riu alto quando entramos
no Subway.
— Não senhorita, no campo não podemos ser assim.
— Discordo — retruquei negando com a cabeça.
— Grande novidade você discordando de mim — comentou
rindo e beijou meu rosto.
Fizemos nossos pedidos e pela primeira vez não me senti
envergonhada comendo um lanche na frente dele.
— Parei — disse deixando quase metade do lanche na bandeja.
Ele deu de ombros puxando a bandeja para si.
— Então — limpei meus lábios —, não acho que o time tenha
que chegar intimidando geral, pelo contrário, imagina o time rival
jurando de pé junto que vocês são fracos e na hora do jogo vem
aquela surpresa, sabe? — Ele me olhou com o cenho franzido
enquanto limpava a boca — Ok, esquece — dei de ombros.
— E qual é a outra coisa que você acha que eu não faria?
— Uma noite das garotas comigo e sua irmã — comentei e ele
riu passando a mão no rosto —, até porque o time atrapalhou a
nossa noite das garotas — reclamei.
— Mas minha irmã precisa ir? — Ele fez uma careta.
— Luce também e Calleb adoraria, sem dúvidas — disse
animada.
Ele abriu a boca para falar, mas uma voz fina e irritante chamou
nossa atenção.
— Olha só se não é a realeza — Karen disse alto e me
empurrando para se sentar ao meu lado, acabei lhe dando espaço.
Katherine se inclinou para se sentar ao lado de Cameron, mas
ele não se moveu e isso evitou que ela tivesse espaço para se
sentar. Ele a olhou de uma forma que nunca havia visto, com uma
certa raiva e rancor.
— Já soube da maior? — Karen questionou colocando o jornal
sob a mesa. Perto de Cameron ela parecia outra pessoa, quem via
até achava que me tratava bem.
Vi parte da primeira matéria: uma foto minha com Cameron no
campo, a que foi tirada por Calleb na sexta-feira do jogo.
Cameron olhou Karen com frieza e ela se levantou saindo de
perto de mim entendendo o olhar dele.
Nos levantamos saindo da mesa e ele me puxou pela cintura.
— Esse ano não vou tolerar metade do que tolerei no ano
passado — disse de forma rude e firme.
Saímos após ele pagar os lanches e eu quase o soquei por não
me deixar ajudá-lo. O puxei pela cintura assim que me encostei no
carro.
— O que aconteceu no ano passado? — questionei o vendo
suspirar e coçar a nuca.
— Elas em cima de mim o tempo todo depois que saiu no jornal
que eu tinha maior probabilidade de ser o rei, até comecei a ficar
com uma garota legal por um tempo, mas foi tanta coisa em cima
dela que ela preferiu se afastar — ele me olhou por instantes como
se buscasse algo em mim.
— A única coisa que faria eu me afastar de você, é você se
apaixonar por outra pessoa, porque com sentimentos não há como
competir — admiti e ele passou os dedos em meu rosto.
— Então nunca vai precisar se preocupar em se afastar de mim
— afirmou passando os dedos no colar de chave que me deu —,
mas se as meninas ficarem muito em cima de você, mais do que já
ficavam então…
— Isso está fora de cogitação, Cameron, só me afasto de você
se for uma decisão sua ou minha. Respeito seu espaço, mas me
afastar por terceiros? Não mesmo! — Ele sorriu orgulhoso.
— Você é incrível, sabia?
— Ah, eu faço o que posso — me gabei e beijei seus lábios. —
Ei, por que você olhou Katherine daquele jeito? Parecia… não sei —
pensei um pouco e vi que seu olhar mudou — com raiva.
Ele deu de ombros abrindo a porta do carro para mim e entrou
logo em seguida.
— Nada de novo — foi tudo o que disse e eu entendi que ele
não queria conversar sobre.
Entrelacei nossos dedos assim que ele deu partida.
Voltamos a escola e o campus próximo do estacionamento
estava lotado. Cameron abriu a porta do carro para mim e Natalie
me recebeu com o jornal de Liberty, mas não me deixou prestar
atenção nas notícias pois começou a mostrar as fotos que fez hoje.
Enquanto observava as fotos e ela me explicava animadamente
a origem de cada uma, Cameron parou ao meu lado, começou a
mexer em meus cabelos e afundou os dedos nos mesmos os
colocando para trás.
Com o carinho que ele estava fazendo eu me perdi por
completo e a última coisa que entendi Natalie dizendo foi que tirou
fotos do ensaio das líderes e que isso tinha tirado toda a paciência
dela.
Fiquei feliz quando Lana e Luce se juntaram a Natalie após
cumprimentar eu e Cameron.
Cameron juntou todo meu cabelo para trás e o enrolou na mão,
tentei manter minha atenção em Natalie, mas foi impossível quando
ele puxou meu cabelo e apertou minha cintura tão discretamente
que apenas eu e ele entendíamos nitidamente o que estava
acontecendo. Cambaleei para trás sentindo o calor de seu corpo.
Me virei o empurrando e ele estava com um sorriso aberto.
— Vai com os meninos, vai? — Pedi me afastando dele e o
vendo gargalhar.
— Já viu o jornal, capitã? — Lana questionou fazendo nossa
atenção se voltar a ela.
— Vou ir falar com os meninos mesmo — Cameron avisou.
Ele parecia não se importar com o jornal, devia estar
acostumado.
Concordei e ele beijou minha testa para em seguida sair
caminhando até os meninos.
Me encostei no capô do carro dele com Natalie ao meu lado.
Olhei a primeira página encarando a matéria de uma garota do
segundo ano:
Procurei algo mais na matéria, algum outro nome dos demais
alunos citados no último parágrafo e nada, a matéria foi totalmente
focada em mim e Cameron.
— Achei tranquilo — admiti olhando as matérias sobre sexta —,
aliás, as fotos ficaram incríveis.
— Olha a próxima página — Natalie pediu e seu olhar dizia
tanta coisa que fui o mais rápido possível.
Uma foto de Melissa me olhando desanimada enquanto eu
estava sorridente conversando com o time rival de sexta-feira
passada, a matéria foi escrita por um garoto chamado Yuna. Calleb
não o suportava, pelo que sabia era o mais novo melhor amigo de
Karen, mas antes era de Melissa.
Desci meus olhos para a matéria que dizia:
Meu estômago revirou.
Cameron se aproximou de mim e eu me senti sendo filmada
pelos olhares do estacionamento. Me senti frustrada e com raiva.
Com raiva de quererem criar uma rivalidade idiota, com raiva dessa
mentira e com raiva de deixarem sair uma matéria dessa.
— Eu sinto muito — Lana disparou —, mas para o jornal ser
aprovado passa por algumas pessoas e… — Ela pareceu
desanimada — era isso ou nada.
— Pode nos deixar um instante? — Cameron pediu a Lana com
calma, ela apenas concordou e se retirou com Luce — Respira
fundo — pediu parando em minha frente —, talvez você não
entenda, mas Lana fez de tudo para que não fosse pior — disse
colocando as mãos em meu pescoço e afundando os dedos em
meus cabelos.
— Pior? Deixaram criar rivalidades idiotas e não falaram nada,
como seria pior? — questionei tentando manter o tom baixo, quando
na verdade queria gritar, não com Cameron, mas com todos que
aceitavam e apoiavam esse tipo de coisa.
— Amiga — Natalie pegou em minha mão —, só vai ter
rivalidade se você descer no nível deles e é isso que eles querem
para deixar tudo mais animado, querem tirar você do sério, ou
provocar Melissa até ela surtar. Lana disse que Yuna queria fazer
uma matéria pior dizendo que você roubou tudo de Melissa, Lana
tentou, de verdade, mesmo tendo muito a perder.
Suspirei, ainda com raiva. Era só um jornal e se Melissa disse
isso mesmo, não estava surpresa. O pensamento dela devia ser o
de muitos e eu não podia culpar Lana, se ela de fato tentou
amenizar a situação, só me restava reconhecer aquilo.
— Vou ir ao banheiro — avisei pegando minha bolsa que ainda
estava com Cameron.
Não dei espaço para eles, apenas sai andando firmemente com
todos me olhando.
Yuna, Katherine e Karen me olhavam buscando minha reação.
Os olhei e sorri me curvando e levantando meu vestido imaginário
como se realmente fosse da realeza.
Os meninos do time riram, assobiaram e bateram palma como
se estivessem comemorando. Sentindo o olhar furioso de Karen,
continuei meu caminho até o banheiro da escola.
Sai da cabine do banheiro exatamente no momento em que
Melissa saiu de outra cabine limpando os olhos avermelhados. Me
olhei no espelho, ela parou me olhando por instantes e abaixou a
cabeça puxando a respiração. Não sabia exatamente o que dizer ou
fazer, então optei pelo silêncio fingindo não ter percebido que ela
estava chorando.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e ela se aproximou
do granito da pia enquanto eu lavava as mãos.
Mas eu não aguentava um clima assim.
— Não vou cair nas provocações de Karen ou do resto da
escola…
— Nem todo mundo é forte como você — disse me
interrompendo — eu falei de você sim, Rebecca, no meio do
desespero, falei e sinto muito por isso — seus olhos marejaram, ela
os fechou e abriu rapidamente —, mas você já sabia que eu te
decepcionaria — olhei no fundo de seus olhos — e eu não podia ter
perdido uma coisa tão simples — foram suas últimas palavras antes
de sair rapidamente do banheiro.
Pensei no significado de sua fala, assim como eu sofria
pressões da minha mãe quanto aos estudos, Melissa devia passar
pela mesma coisa.
Mas uma coroa falsa? Minha mãe me pressionava por causa do
meu futuro e eu sabia que não era bom, agora por uma simples
coroa ou status em escola... imagina o que isso causava nela. Se os
pais fizessem terapia antes de terem filhos certamente muita coisa
não aconteceria e, em alguns casos, não seria os filhos a irem para
a terapia.
O sinal de fim do intervalo tocou.
Sai do banheiro pensando no que Melissa disse.
— Representante — Yuna chamou —, o relatório de sexta do
grêmio — ele sorriu com falsidade.
— Obrigada Yuna — agradeci com sutileza pegando a pasta
transparente de sua mão e seu sorriso pareceu ainda mais falso de
perto —, com licença — pedi dando as costas.
Cameron estava em seu armário conversando com Natalie,
Calleb, Luce e Samuel.
— Representante — Yuna chamou outra vez me fazendo parar
de andar —, o que achou da minha matéria? — questionou.
Não precisei o olhar para entender sua provação.
Olhei para o chão e respirei fundo. Meus olhos encontraram
Cameron que xingou baixinho um puta merda, Calleb arregalou os
olhos e Natalie riu por me conhecer bem.
Me virei calmamente para ele e vi Lana em seu armário,
esperando uma resposta minha.
— Sem conteúdo algum — disparei e seu olhar mudou
drasticamente, Yuna estava com fogo nos olhos e Lana riu baixo,
mas o time não conteve as risadas extravagantes, começou uma
murmuração alta, percebi que Melissa se aproximou de Lana.
— Achou o mesmo de Elise? — questionou.
Elise estava à direita em seu armário, nos olhando.
— Não — respondi com calma. — Elise não precisou criar uma
rivalidade entre duas garotas com grandes potenciais, nem precisou
fazer comparações, ou muito menos rebaixar alguém para ter algo a
dizer. Entendo que assim como você todo mundo erra, mas se
quiser meu conselho, sugiro que em sua próxima matéria você
escreva algo sem precisar se rebaixar a rivalidades que claramente
não existem — olhei Melissa e o olhei novamente.
Ele parecia inconformado com a situação e prestes a me atacar
a qualquer momento.
— Rivalidades que claramente não existem, representante? —
Ele olhou Melissa e sorriu me olhando novamente. — Da sua parte
talvez não, mas isso não significa que não exista — disse passando
por mim antes que eu pudesse respondê-lo.
Optei por não olhar Melissa porque talvez Yuna estivesse certo
e eu preferia não me importar com isso, por mim, poderiam fazer o
que quisessem, mas eu não ficaria quieta se caso meu nome fosse
citado.
— O showzinho acabou — ouvi Calleb dizer em voz alta e os
alunos pareceram cair em si de que as aulas iriam começar em
poucos segundos.
— Quer sair daqui? — Cameron questionou com os lábios
próximos de meu ouvido.
— Não, temos aula de biologia agora, conteúdo importante — o
olhei e selei nossos lábios rapidamente.
Peguei meu livro e caminhamos até o laboratório.
A professora estava conversando com a inspetora quando
entramos na sala. Todos nos olharam, alguns sorriram e outros
começaram a cochichar.
— Ei — ele passou os dedos em minhas costas e desceu a mão
em minha cintura, puxou minha cadeira me aproximando de si e
beijou meu ombro —, você está bem?
Encarei seus olhos azuis. O toque dele era tudo o que eu
precisava. As coisas que aconteceram hoje já não tinham mais
significado algum, porque eu o tinha comigo.
— Sim, amor. — Selei nossos lábios e ele sorriu.
— Boa tarde, turma — a professora disse, entrando na sala.
CAPITULO VINTE E QUATRO*

Nos liberaram cedo dos projetos pois os professores teriam

uma reunião entre si e eu estava combinando com os meninos de

irmos para minha casa começar o seminário.


— Mas capitã, ainda temos um mês e meio pela frente — Eric
reclamou.
— Em quantos seminários você tirou nota máxima, Eric? —
Cameron questionou e o garoto abaixou a cabeça. — E em quantos
Rebecca já tirou nota máxima?
— Então vamos — Peter quebrou o clima tenso que ficou e os
meninos entraram em seus carros. A expressão de Eric partiu meu
coração, ele ficou totalmente sem graça.
— Não precisa falar assim com os meninos, Eric iria de qualquer
jeito — disse baixo e olhando Cameron.
— Eu sei o que estou fazendo — rebateu vindo me beijar e eu
virei o rosto.
— Não precisava diminuir ele para que concordasse em ir
começar o seminário, ele iria de qualquer forma.
— Rebecca…
— Não — discordei calmamente —, não é assim que as coisas
funcionam, Cameron, não comigo — ele tentou me puxar pela
cintura — não vou cair nos seus joguinhos. Fale com Eric e depois a
gente conversa — afirmei dando a volta em seu carro e entrando no
de Peter.
— Isso vai me deixar encrencado? — Peter questionou me
olhando quando Josh entrou no carro de Cameron com Brian.
— Não — disse balançando a cabeça negativamente e ele deu
partida.
Durante o tempo separando, organizando e abordando um
pouco sobre o assunto do seminário, Cameron me encarava quase
sem piscar. Se eu estivesse em pé, provavelmente teria caído com
seu olhar fixado em mim.
— Capitã, depois daqui você podia liberar sua tv para jogarmos
um game, né? — Josh questionou e os meninos concordaram.
— Já terminamos na verdade, podem jogar sim, mas se
começarem a brigar vou colocar vocês de castigo — brinquei os
vendo rir alto e dizer em conjunto um sim senhora.
Eles se organizaram, arrumaram as coisas e foram para a sala.
As coisas estavam tensas, acredito que por eu e Cameron não
termos trocado quase nenhuma palavra durante a organização e
pesquisas para o seminário.
Peguei minha bolsa, o notebook e subi as escadas até meu
quarto. Cameron entrou logo em seguida e fechou a porta, brincou
com Kurama e a colocou na cama enquanto eu tirava meu tênis.
— Não vou pedir desculpas a ele — Cameron disse cruzando
os braços.
— Para mim tanto faz — rebati.
Ele tentou me tocar e eu desviei.
— Rebecca, me escuta — o olhei e cruzei os braços. — Eles
são folgados e…
— E você não?
Cameron tentou se defender, mas não dei ouvidos.
Não até ele me prender contra a parede.
Estava fazendo um coque em meu cabelo, mas parei quando
ele, com uma mão só, segurou meus pulsos cruzados no alto, acima
de minha cabeça.
— Assim consigo sua atenção? — questionou com os lábios
próximos dos meus e apertando minha cintura me fazendo prender
a respiração. — Os meninos são folgados, você sendo a mais
inteligente e mais responsável eles vão folgar ainda mais. Sei do
que estou falando, com eles não pode pegar leve com coisas assim
não, Becca.
Passei a língua nos lábios os mordendo.
Sabia que tinha ouvido o que ele disse, mas meu cérebro não
entendia nada. Soltei a respiração com muita dificuldade e ele me
apertou um pouco mais.
— Se toda vez que você ficar brava comigo por coisa
desnecessária terminarmos assim, exatamente como estamos aqui
— ele aproximou os lábios de meu ouvido — eu juro que vou te
irritar todo dia — disse soltando meus pulsos e envolvendo os
braços em minha cintura com firmeza.
A forma com que ele me puxou causou uma colisão entre
nossos corpos. E, movida pelo estresse ou pelo desejo, o puxei pela
nuca selando nossos lábios.
Meu estresse pareceu sumir dando espaço a uma euforia e eu o
beijei com calma sentindo suas mãos me apertarem cada vez mais.
O olhei após ele finalizar o beijo com vários selinhos e um sorriso
nos lábios.
— Você explica tudo para o time e deixa que com eles eu me
resolvo pode ser? Sempre deu certo.
— Pode fazer isso sem humilhações? Eric ficou totalmente sem
graça com o que você falou, não precisa ser tão bruto também —
pedi deslizando os dedos em seu cabelo e ele riu concordando.
— Já que minha donzela insiste, quem sou eu para discordar?
— Quem é você? — Beijei seu queixo e me virei o deixando
contra a parede — Meu príncipe — beijei sua bochecha —, o amor
da minha vida — beijei seu pescoço o vendo estremecer e rocei o
nariz pelo mesmo sentindo seu cheiro —, meu briguento —
aproximei meus lábios de sua orelha — e o garoto que eu vou me
casar — ele apertou minha cintura fechando os olhos e sorrindo.
As palavras pareciam ter sumido de sua boca, ele puxou e
soltou a respiração duas vezes quando me abraçou me sentindo
senti-lo, mesmo que fosse pouco. Ficamos abraçados por tempo o
suficiente para ele se acalmar.
— Às vezes me pergunto se o que estamos vivendo é real —
disse se afastando de mim e pegando Kurama, em seguida me
puxou pela cintura depois que coloquei meu chinelo.
O olhei confusa enquanto caminhávamos pelo corredor em
direção a sala onde os meninos estavam.
— Nunca me apaixonei por ninguém de verdade, o sentimento é
tão bom que não parece ser real — explicou.
— Esse seu nunca se apaixonou por ninguém ainda é válido?
— Ele me olhou e sorriu antes de entrarmos na sala.
— Não — disse soltando Kurama e ela foi para a sala onde era
possível ouvir a gritaria dos meninos — Rebecca Malik, eu sou
completamente apaixonado por você — admitiu.
Selei nossos lábios sentindo meu corpo todo se agitar de
alegria. Um balão de felicidade crescia dentro de mim, minhas mãos
suaram e meu coração disparou.
Ele disse, ele finalmente disse!
O enchi de beijinhos e ficamos abraçados por instantes, eu não
parava de sorrir. Entramos na sala e eu me sentei no sofá puxando
uma coberta fina para nos cobrir.
Os meninos começaram a jogar, questionaram se Cameron
queria, mas ele negou envolvendo o braço em minha cintura e me
puxando para si. Senti suas carícias em minha cintura revezando
com alguns apertos. Entretida observando os meninos jogar
comecei a arranhar sua cintura. Quando deslizei em seu abdômen
ouvi sua respiração começar a ficar pesada, ele beijou o topo de
minha cabeça e segurou minha mão na altura de seu peitoral me
fazendo parar. Seu corpo estremeceu. Estava pronta para perguntar
se estava tudo bem por conta de sua respiração, mas quando
entendi o que tinha feito, fiquei em silêncio e abaixei a cabeça
tentando não rir.
— Isso não tem graça, Malik — afirmou baixo e eu não consegui
conter a risada.
Em resposta, Cameron subiu a mão em meu pescoço e o
apertou disfarçadamente me fazendo engolir em seco e parar de rir.
Meu celular tocou e eu empurrei sua mão com urgência. Josh o
pegou e me entregou, na tela vi que era Calleb me ligando.
— Oi Ca — disse saindo da sala vendo que Josh me encarava.
— Posso ir para sua casa? — Ele fungou. — Minhas mães
estão brigando demais, não aguento mais isso, por favor — pediu.
— Claro, quer que eu vá te buscar? — questionei e Josh me
encarou preocupado quando entrou na cozinha com Cameron.
— Tentei ligar para o Josh, mas ele não atendeu, ele está aí?
Pede para ele vir me buscar?
— Calleb está pedindo para você buscá-lo na casa dele e trazê-
lo pra cá — disse a Josh que quase nem esperou eu terminar de
falar e saiu apressadamente. — Ele já está indo.
— Obrigado amiga, de verdade, te vejo já, beijos — e desligou.
Deixei meu celular na bancada e olhei Cameron.
— Eles não vão vir para cá — Cameron disse se encostando na
bancada.
— Não mesmo, mas eles ficarão muito bem — sorri
concordando. — Vou fazer uma vitamina de abacate.
Enquanto colocava as coisas no liquidificador, Cameron parou
atrás de mim me abraçando pela cintura e deitando a cabeça em
meu ombro, afastou meu cabelo e roçou o nariz em meu pescoço
me fazendo arfar.
— Amo seu cheiro — disse apertando mais minha cintura.
Liguei o liquidificador e passei os dedos nas veias pulsantes de
seu braço. Com a mão desocupada, ele desceu um pouco a alça de
minha regata e beijou meu ombro até minha nuca, meu corpo se
arrepiou por inteiro e eu precisei puxei ar para os meus pulmões.
Desliguei o liquidificador, olhei Cameron e o empurrei me virando de
frente para ele.
— Menino, que perigo você está hoje — brinquei o vendo rir
tentando mantê-lo afastado.
Me virei novamente para experimentar a vitamina e o senti se
aproximar outra vez.
— Fica longe de mim, benção — pedi mesmo sabendo que ele
iria ignorar.
Suas mãos juntaram meu cabelo para trás, o enrolou no pulso e
o puxou me fazendo dar um passo para trás.
— Cameron! — Me virei dando um tapa em seu braço.
— Eu quero um beijo — reclamou.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Provoquei o olhando.
— Tudo, ou devo beijar outra? — rebateu no mesmo tom
provocativo.
— Se você quiser ir beijar outra é só ir, Styles — retruquei.
Ele passou a língua nos dentes e em questão de segundos sua
mão estava envolta de meu pescoço, ele me puxou com firmeza e
cuidado ao mesmo tempo. Nossos lábios ficaram próximos e eu
senti meu corpo inteiro ficar tenso de desejo.
— Está muito engraçadinha, Malik — sussurrou e passou a
língua em meus lábios.
Engoli em seco escorregando a mão em seu braço que estava
em meu pescoço, me enforcando levemente.
— Se toda vez que eu te provocar você me pegar desse jeito,
juro que vou te provocar todo dia — disse o vendo sorrir.
Nádia entrou na cozinha fazendo com que ele soltasse meu
pescoço e me abraçasse pela cintura às pressas. Ela olhou
Cameron de forma estranha, depois me olhou.
— Está tudo bem? — questionou receosa e Cameron a olhou
confuso.
— Sim Nad, já vai? — Indaguei e ela concordou — até amanhã
— me despedi.
Ela olhou Cameron novamente, apenas acenou com a cabeça e
saiu sem dizer nada.
— Por que ela me olhou daquele jeito?
— Que jeito? — Perguntei fingindo não entender.
— Você viu — afirmou e eu o olhei franzindo o cenho.
— Ela te olhou normal, amor — selei nossos lábios encerrando
o assunto, mas pelo seu olhar ele não estava convencido com a
minha resposta.
Apesar de tudo, sabia, que se falasse a verdade a ele, Cameron
se afastaria de imediato e eu não estava preparada para vê-lo se
afastando de mim.

Depois que todos foram embora, descemos as escadas até a


sala. Minha mãe estava com tia Eliza que se levantou sorrindo, me
abraçou e abraçou Cameron.
— Seu pai está te esperando no escritório de Owen — avisou
depois que ele beijou a testa dela.
— Ok — disse, me deu um beijo na testa e caminhou até o
escritório de meu pai.
— O que aconteceu? — questionei e tia Eliza sorriu se
sentando no sofá.
Peguei Louis e me sentei.
— Cameron finalmente está criando responsabilidade —
iniciou —, ele e Arthur sempre discutiam porque Cameron não
queria saber de nada dos negócios de família, queria só curtir a
vida. Mas pedi a Arthur que tentasse mais uma vez, pelo menos
uma vez e Cameron aceitou. Amanhã terá uma reunião importante e
ele vai participar. Estou tão feliz e orgulhosa por ele finalmente
entender que dinheiro não caí do céu — ela disse sem disfarçar sua
felicidade.
— A maturidade chega para todos — disse sentindo Louis
apertar meu dedo mindinho, ele me olhava como se entendesse o
que eu falava. Tia Eliza e minha mãe riram.
— Conte a ela o que ele disse — mamãe pediu enquanto fazia
Elô dormir.
Olhei Eliza com curiosidade, ela se ajeitou no sofá ficando um
pouco mais confortável e começou:
— Sei que é errado, mas quando Arthur foi conversar com
Cameron sobre os negócios acabei ouvindo um pouquinho atrás da
porta — sua voz estava em tom baixo — quando Cam aceitou logo
de cara o pedido de Arthur foi muito estranho para meu marido, ele
de fato não esperava e então questionou Cameron se algo tinha
mudado desde a última conversa deles sobre negócios. Cameron
disse que antes ele só queria aproveitar mesmo, mas que sempre
entendeu que quando quisesse construir uma família precisaria ter
responsabilidade e acordar pra vida — senti uma felicidade enorme
tomando conta de mim, mas me controlei para não parecer
emocionada demais —, quem conheceu meu filho nos anos
passados jamais acreditaria que ele se apaixonaria tanto por alguém
a ponto de pensar em casamento. Mas aconteceu, ele de fato quer
que dê tudo certo com você, filha — tia Eliza finalizou e eu já estava
chorando.
A tentativa de me segurar foi totalmente falha e sorriu limpando
meu rosto com cuidado.
— Estou feliz por vocês. De verdade, Rebecca, muito
obrigada. Esse ano eu tinha plena certeza de que passaria o mesmo
ou pior que o ano passado com ele — admitiu.
— O que aconteceu ano passado?
— Cameron sumiu de casa três vezes — iniciou — Arthur
queria colocá-lo em um colégio militar, mas parte das vezes que
nosso filho fugiu foi culpa do pai, então não deixei que isso
acontecesse. A relação de pai e filho nem sempre foi boa,
principalmente porque Cameron sempre segurava todas as coisas
que Natalie fazia de errado só para não ver o pai brigando com ela.
Eu tentava intervir de todas as formas, mas nem sempre era ouvida.
As coisas melhoraram depois que eu surtei com Arthur no fim do
ano passado e o fiz passar o Natal sem os filhos e a esposa.
Independentemente de como Cameron estava rebelde, nunca
concordei com violência — tia Eliza disse como se quisesse mandar
uma pista, acabei entendendo, Arthur era agressivo com Cameron e
não precisava de muito para notas aquilo.
— Ele fugiu três vezes? Algum motivo exato? — Mamãe
questionou.
— A primeira vez foi quando ele tinha acabado de voltar da
casa dos avós no começo do ano, ele e o pai discutiram por causa
dos negócios e ele ficou três dias fora; a segunda foi um dia antes
do aniversário dele, quando Arthur foi brigar com Natalie por ter
batido o carro, Cameron não achou necessário os xingamentos do
pai e se envolveu, não acabou bem e Cameron nos deixou
procurando ele durante dois dias e a terceira — ela parou e retomou
o fôlego para continuar — foi por um desentendimento meu com ele.
Ficou a madrugada fora de casa depois de eu tentar falar com ele
sobre a escola, as várias meninas que ele ficava e a falta de
responsabilidade. Não brigamos de fato, só nos desentendemos, ele
sumiu e disse que só queria colocar a cabeça no lugar, mas ficamos
preocupados do mesmo jeito. Colocamos seguranças atrás dele
depois da primeira vez que ele sumiu, mas ele sempre dava um
jeito.
Cameron aprendeu a esconder os sentimentos dele por conta
do que passou e aposto que eu não tinha conhecimento de metade
de suas feridas, mas ele procurava esconder os sentimentos para
não preocupar ninguém.
— Ele já levou muita garota para a casa de vocês? —
questionei e assim que as palavras saíram de minha boca, quis
pegá-las de volta.
— Meu Deus Rebecca — mamãe disse e acabou rindo.
Tia Eliza riu também, então considerei que não foi uma
pergunta tão inesperada.
— Na verdade nenhuma foi lá em casa. Quer dizer, ele levou
uma garota uma vez, mas disse que foi tudo armação — ela disse
como se nem ela entendesse a situação. — Aliás, foi uma garota
que trabalha na Goldens, Raissa?
— Raquel — corrigi.
— Ela mesma — tia Eliza pegou Louis de meu colo — é
liberado muita coisa lá em casa, mas leva e traz de garotas ou
garotos não, isso por Natalie e por ele.
Balancei a cabeça apenas concordando, ainda estava presa
na palavra armação que saiu no meio da conversa, estava ansiosa
para entender o que aconteceu.
— ...então amanhã sairemos bem cedo — ouvi papai dizer
entrando na sala. — Oi docinho, não te vi o dia todo — disse me
olhando.
— Bença pai — me levantei e o abracei mesmo segurando
Kurama com um braço só e cumprimentei tio Arthur.
Em seguida, eu e Cameron fomos para a cozinha.
EPILOGO*
“Eu estou aqui, e eu te amo. Eu sempre amei você, e eu sempre
amarei.”
Edward Cullen – Crepusculos.

Arrumamos as coisas para comer e nos sentamos nos

bancos da bancada, um ao lado do outro.


— Então você e Raquel ficaram por armação? — O olhei e ele
riu.
— Minha mãe é muito fofoqueira às vezes, meu Deus do céu
— disse tomando um gole de suco de laranja — ela falou que sem
querer deixou escapar que foi amante de Andrew, ficou com medo
de você contar alguma coisa para alguém e pediu para fingir que
estava com outra pessoa. Foi meio confuso, mas ajudei mesmo
assim.
— Aposto que não foi problema ajudar nisso — murmurei e
mordi um pedaço do lanche natural.
— Alguém aqui está com ciúmes — brincou dando um beijo
em meu rosto.
— Jamais — disparei dando de ombros —, só acho você
tóxico por ter ficado com outras pessoas antes de mim.
— Se você tivesse chegado antes eu não teria ficado com
ninguém — rebateu e eu o olhei incrédula, com uma enorme
vontade de socar sua cara.
— Se me amasse de verdade teria sonhado comigo e saberia
que era pra me esperar — rebati e ele riu.
— No começo, não sabia que você era a garota do sonho, se
não teria esperado mesmo — disparou e minha fala sumiu.
Deixei o lanche no prato e tomei um gole de suco tentando
assimilar suas palavras.
— O que foi?
— Você sonhou comigo? Antes de eu voltar para Los Angeles?
Ele terminou o lanche dele, limpou os lábios, me olhou e
balançou a cabeça confirmando.
— Mas…
— Nos sonhos eu via você de costas olhando o mar, na
verdade não sabia que era você, mas soube por causa do cabelo.
Via seu rosto, mas quando acordava só lembrava do cabelo longo.
Quando te vi veio tudo de uma vez, todos os sonhos e eu achei que
iria enlouquecer, principalmente quando chegou na minha casa e
jantou com a gente.
— Cameron, por que nunca me contou isso?
— Nunca entramos no assunto, pensei que você me acharia
louco — ri o olhando e passei a mão em seus cabelos.
— Não acharia você louco porque também sonhei com você.
Várias e várias vezes.
— Está brincando? — questionou animado e eu neguei
balançando a cabeça — E você sonhava o quê?
— Era um pouco confuso, ainda é na verdade. Às vezes
parecia que estávamos nos separando, as vezes era a gente se
cansado, a gente se desencontrando ou se reencontrando, alguns
tem uma criança que eu nunca vi — expliquei o vendo limpar as
mãos. — E você?
— Quase a mesma coisa — disse me ajudando a limpar a
bancada.
— Você ainda sonha comigo? — questionei quando
terminamos de limpar tudo, o olhei e ele sorriu colocando as mãos
em minha cintura.
— Às vezes sim — ele pareceu incomodado, mas tentou
disfarçar — e você?
— Quando você dorme aqui em casa não, na verdade não
lembro dos meus sonhos quando durmo com você de tão bem que
eu durmo — ri selando nossos lábios. — Preciso te mostrar uma
coisa — disse o puxando para as escadas que dava para o corredor.
Entramos no meu quarto com ele perguntando pela terceira
vez o que era.
— Calma garoto — reclamei rindo.
Soltei a mão dele, peguei uma caixinha preta que estava em
cima da minha mesa de estudos e a entreguei. Ele me olhou
desconfiado e quando abriu a caixinha sorriu.
Cameron tirou de dentro da caixinha a corrente prata com o
pingente de Konoha e um risco no meio do símbolo como na
bandana de Itachi e um anel que, também, era do Itachi.
— Ahhhh, você é perfeita — disse colocando a corrente e o
anel, em seguida me puxou pela cintura e selou nossos lábios.
— Gostou? — questionei esperançosa.
— Claro amor, mas por que disso? Nem é meu aniversário —
disse confuso.
— Mas você está de parabéns todo dia — brinquei o olhando
de cima abaixo.
Ele ficou totalmente sem reação e suas bochechas coraram.
— Meu Deus você ficou com vergonha — sorri selando nossos
lábios.
E ele riu apertando minha cintura.
— Princesa — chamou acariciando meus cabelos —, amanhã
vou ir a reunião e provavelmente vou te ver só de noite pois será em
outra cidade, e como vamos sair muito cedo, não vou dormir aqui.
Suspirei desanimada, mas sorri por ele estar de empenhando
para a reunião.
— Promete que vai ao menos dormir? — questionei
acariciando seu rosto com meu polegar.
— Prometo — disse selando nossos lábios com calma.
Queria beijá-lo, mas fomos interrompidos pelas batidas na
porta.
Me soltei dele e abri a porta me deparando com Isaac
segurando Kurama.
— Que tipo de mãe abandona a filha? — questionou entrando
no meu quarto, ele olhou Cameron e me entregou Kurama — E que
tipo de pai deixa a mãe abandonar a filha?
— Ih, cheio de marra baixinho, vem no soco — Cameron disse
como se preparasse para uma luta e quando Isaac fez o mesmo
entrei no meio dos dois.
— Dentro do meu quarto não — disse séria e Isaac fez uma
careta.
O dois quando começavam não paravam.
— Deu sorte senão eu acabaria com você — Isaac disse
debochado e saiu do quarto andando como os homens musculosos.
— Ah, mas ele está muito engraçadinho — Cameron se
impulsionou para ir atras dele.
— Amor — disse rindo e o parando com a mão em seu peitoral
—, já está tarde e amanhã você vai sair cedo — beijei seus lábios
com a mão desocupada em sua cintura.
— Cameron, seus pais já foram — mamãe disse parando na
porta do quarto que estava aberta pois Isaac a deixou assim.
— Está me expulsando sogrinha? — Brincou me abraçando
por trás. Mamãe adorava o jeito de Cameron e sempre entrava nas
brincadeiras dele.
— Sim — disparou séria, mas logo rimos. — Boa noite
crianças — disse saindo do quarto.
— Amor — ele me olhou e se sentou na cama, Kurama tinha
saído atrás da minha mãe, como fazia as vezes —, acha que tem
alguma explicação nossos sonhos conectados?
— Como o quê? — questionou me puxando pela cintura, me
deixando entre suas pernas, comigo ainda em pé e ele sentado na
cama.
— Não sei... acredita em vidas passadas?
— Não e achei que você também não acreditava — comentou
com o cenho franzido.
Pensei um pouco e ele passeou os dedos em minha cintura.
— Bom, não acho que exista uma explicação certa para isso.
— Talvez nunca saberemos — ele disse me puxando, me
fazendo sentar em seu colo, com uma perna de cada lado — e eu
não me importo com isso, desde que eu tenha você comigo,
explicações não são importantes.
O olhei sorrindo e selei nossos lábios sem me importar em
demostrar o quanto queria, ele correspondeu na mesma
intensidade, me beijando com um desejo que fazia meu corpo entrar
em chamas.
Ele beijou minha clavícula e me olhou sorrindo, com as pupilas
dilatadas.
— Melhor eu ir embora ou vou acabar dormindo aqui —
comentou me impulsionando a sair de seu colo.
— Não acharia ruim — afirmei e ele riu me olhando.
— Até amanhã, meu amor — disse e me beijou outra vez.
Mas quando ele partiu, não pude deixar de me sentir
incomodada com a estranha sensação de nossos sonhos serem
conectados durante todo esse tempo e, o pior de tudo, era que
talvez de fato não teríamos uma explicação exata a não ser a nossa
conexão.
Se você chegou até aqui, mesmo passando raiva, tendo surtos ou
colapsos nervosos durante a leitura e ainda assim não desistiu,
saiba que eu te amo.
Primeiramente, eu agradeço a Deus. Ouvi de muitos que
através do livro vocês sentiram uma conexão de acordo com a
crença de vocês e se essa conexão aconteceu, é porque eu tive
uma e através do que eu senti pude mostrar um pouquinho a vocês.
Não poderia deixar de agradecer aos que chegaram enquanto
eu começava a escrever Doce Garota, não poderia me esquecer
jamais de quem esteve comigo quando eu pensava em desistir e
sempre sabiam o que falar ou me mostravam acreditar no meu
potencial.
Vocês, as coquinhas primatas, que chegaram quando eu não
tinha expectativa de estar onde estou agora, com meu livro físico,
obrigada por tudo! Nunca vou conseguir colocar em palavras o
quanto o apoio de vocês mudou tudo para mim e até hoje continua
mudando. Vocês são a minha força no mundo literário, de coração,
muito obrigada.
Ao meu amigo em quem tive base para escrever o
personagem Calleb: obrigada pelo apoio, a sua animação em saber
que meu livro se tornaria físico e seu orgulho de mim fizeram toda a
diferença.
A minha amiga que conheci em uma rede social em dois mil e
vinte: espero que você veja isso e se orgulhe, se não fosse por
você, eu provavelmente teria desistido anos atras, obrigada jujuba.
Agradeço aos meus outros amigos, que me mostraram estar
ao meu lado e orgulhosos de mim, que confiam no meu potencial
ainda mais do que eu mesma.
Todo o meu amor e agradecimento aos meus pais que nunca
me desmotivaram nesse mundo literário, pelo contrário, me
incentivaram a amar os livros, e ao meu irmão que adorou a ideia de
ter uma irmã escritora.
Bianca e Simone, se não fosse por vocês nada disso estaria
acontecendo, agradeço muito, muito, muito por confiar e acreditar
que investir em mim e em Doce Garota seria uma boa ideia, espero
todo o crescimento a vocês.
A Thay, Manu, Mel e Ju, sempre me refiro a vocês como a
minha equipe, não, a melhor equipe que existe nesse universo.
Obrigada por todo o apoio, toda a confiança, todo o carinho, por não
soltarem a minha mão, me defenderem e serem pessoas tão
incríveis.
E para você que leu todo o livro e vai esperar os próximos,
muito obrigada!
Não importa quando você me encontrou, se foi quando tudo
era mato ou anos depois, muito obrigada por ter lido Doce Garota e
nos vemos em breve.

Stacye C.

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