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Jigoro Kano
Editado sob a supervisão do Comitê Editorial da Kodokan
Ed. Kodansha International, TOKIO, 1994
(O Texto é uma tradução realizada por Mateus Sugizaki, 7º DAN)
TREINANDO A MENTE
Ambos, Kata e randori são formas de treinamento mental mas, dentre, eles, o randori é
mais eficiente.
No randori , o indivíduo deve explorar as fraquezas do oponente e estar pronto para o
ataque, com todos os recursos disponíveis que o momento e a oportunidade se apresentam,
sem violar as regras do Judo. Praticando o randori , o estudante tende a tornar-se mais sério,
determinado, sincero, atento, cauteloso e deliberado na ação e, ao mesmo tempo, ele ou ela
aprende a valorizar e tomar decisões rápidas e agir prontamente, quer para atacar ou
defender. Não há lugar no randori para indecisões.
No randori o indivíduo nunca pode estar seguro de qual a próxima técnica que o
oponente vai empregar, por isso deve estar constantemente em vigília. O estado de alerta
torna-se sua segunda natureza. O indivíduo adquire estabilidade emocional pela autoconfiança
adquirida do conhecimento de que ele está preparado para qualquer eventualidade. O poder
de atenção, observação e imaginação, bem como, de raciocínio e julgamento são,
naturalmente, intensificados pelo treinamento e estes atributos são úteis tanto na vida diária
como no dojo.
Praticar o randori é conhecer as complexas relações físico-mental existentes entre os
companheiros. Centenas de valiosas lições podem ser extraídas deste estudo. No randori
aprendemos a empregar o princípio da máxima eficiência, mesmo quando podemos,
facilmente, sobrepor um oponente. Naturalmente, é muito mais precioso vencer um oponente
com a técnica adequada do que com a força bruta. Essa lição é igualmente aplicável na vida
diária: o praticante deve compreender que a persuasão suportada por argumentos lógicos
(bom senso) é, no final das contas, mais efetivo do que o uso da força.
Uma outra consideração sobre o randori é de aprender a aplicar a quantidade certa de
força, nem muito nem pouco. Nós temos conhecimentos de pessoas que falharam nos seus
objetivos porque não mediram apropriadamente a quantidade de esforço requerido. Num
extremo, eles ficam aquém do alvo e, no outro não sabem quando parar.
Ocasionalmente, enfrentamos um oponente que é obsessivo no seu desejo de vencer.
Para tanto devemos ser treinados a não resistir diretamente pelo uso força mas para disputar
com o oponente, até que sua agressividade e força fiquem exauridos. Aí, então devemos
aproveitar a oportunidade para atacar. Essa lição pode ser empregada, sempre que
encontramos pessoas agressivas, em nossa vida diária e desde que nenhum argumento surtirá
efeito contra elas, tudo que podemos fazer é esperar que se acalmem.
Há diversos exemplos de contribuições que o randori pode dar para o treinamento
intelectual da mente dos jovens.
TREINAMENTO ÉTICO
Vamos ver agora as vias pelas quais podemos obter uma compreensão do princípio da
máxima eficiência que constituí o treinamento ético.
Há pessoas que são de natureza facilmente excitável e se tornam agressivas pela mais
trivial das razões. O Judo pode levar essas pessoas aprender a se controlar, através do
treinamento e, rapidamente, elas entendem que a agressividade é um desperdício de energia
que causa efeitos negativos em si próprio e nos outros.
O treinamento de Judo é, também, extremamente benéfico para aqueles com ausência
de confiança em si próprio, devido a falhas no passado. O Judo nos ensina a escolher o
melhor curso possível de ação, qualquer que sejam as circunstancias individuais e ajuda-nos a
compreender que a ansiedade é uma perda de energia. Paradoxalmente, um indivíduo que
falha e outro que atinge o máximo do sucesso estão exatamente na mesma posição, pois cada
um deve decidir o que fará a seguir: escolher o caminho que o levará ao próximo passo. Numa
primeira instância, os ensinamentos de Judo dão a cada um o mesmo potencial de sucesso,
procurando conduzir o indivíduo e sair da letargia e desapontamento, para estabelecer uma
atividade vigorosa.
Outros tipos que podem se beneficiar da prática do Judo são os cronicamente
descontentes que, prontamente, culpam outras pessoas por aquilo que é realmente devido a
sua própria falha. Essas pessoas devem entender que a constituição negativa de sua mente
vai contra o princípio da máxima eficiência e que viver em conformidade com esse princípio é
a chave para atingir um estado mental de visão avançada.
ESTÉTICA
A prática do Judo traz muita satisfações: o prazer de sentir o exercício conduzido aos
músculos e nervos, a satisfação de dominar os movimentos e a alegria de vencer sua
competição.
Não menos que isso, tem-se a beleza e o encanto de executar técnicas elegantes e a
opção de obter outras performances significativas. Essa é a essência do lado estético do Judo.
JUDO ALÉM DO DOJO
No Judo temos como análise racional, a concepção de que as lições apreendidas nos
confrontos encontrarão aplicação não somente nos treinamentos futuros mas, também, para
compreensão do mundo, em sentido amplo. Aqui eu gostaria de apontar cinco princípios
básicos e mostrar, sucintamente como eles atuam no domínio social.
Primeiro, o conceito de que o indivíduo deve dar toda atenção ao relacionamento entre
ele e seu oponente, antes de realizar um ataque, deve observar o peso, a constituição física,
os pontos fortes, o temperamento, etc.. Ele pode estar, todavia, consciente de suas próprias
forças e fraquezas e sua visão pode avaliar criteriosamente, o ambiente. Quando o combate
for promovido ao ar livre, ele deve inspecionar a área coisas, tais como pedras, desníveis e
muros. No dojo , ele observar as paredes, as pessoas e outras obstruções potenciais. Se
observar, cuidadosamente, todas essas coisas, então a forma correta para derrotar o
oponente surgirá naturalmente.
O segundo ponto tem a ver com a tomada de iniciativa.
Praticantes de jogos de tabuleiros como xadrez e go estão familiarizados com a
estratégia de promover um movimento em que se deseja conduzir o outro jogador numa certa
direção. Esse conceito é claramente aplicável tanto no Judo como em nossa via diária.
Sucintamente, o terceiro ponto é refletir, integralmente, para agir com determinação. A
primeira frase está estreitamente relacionada com o ponto acima mencionado, isto é, um
indivíduo deve avaliar meticulosamente seu adversário antes de executar uma técnica. Isto
feito, o conselho dado na segunda frase deve ser seguido, automaticamente, Agir com
determinação significa executar sem hesitação e sem segundas intenções.
Tendo mostrado como proceder, eu gostaria agora de aconselhar quando deve parar.
Isso pode ser estabelecido muito simplesmente, pois, quando um ponto predeterminado for
atingido, é tempo de cessar a aplicação de técnicas ou qualquer que seja a ação.
O quinto e último ponto evoca toda a essência do Judo e está contido no seguinte
depoimento: andar por um caminho simples, sem se tornar arrogante com a vitória nem
humilhado com a derrota; sem esquecer a cautela quando tudo é silêncio ou tornar-se
amedrontado quando ameaçado pelo perigo. Está implícito aqui a censura de que, se nos
deixarmos levar pelo sucesso da vitória, inevitavelmente, a derrota virá em seguida.
Também, significa que o indivíduo deve, sempre, estar preparado para o combate,
mesmo no momento seguinte após obter uma vitória.
O praticante de Judo deve manter esses cinco princípios, permanentemente, na sua
mente. Aplicando-os no local de trabalho, na escola, no mundo político ou qualquer outra área
da sociedade, ele verificará que os resultados serão sempre benéficos.
Repetindo, o Judo é uma disciplina física e mental cujas lições são, prontamente,
aplicáveis às condutas de nossos compromissos diários. O princípio fundamental do Judo é
aquele que governa todas as técnicas de ataque e defesa e, qualquer que seja o objetivo,
poderá ser atingido com melhor resultado pelo uso da máxima eficiência do corpo e da mente
para aquele propósito. Esse mesmo princípio aplicado as nossas atividades cotidianas leva a
uma vida racional mais elevada.
O treinamento das técnicas de Judo não é a única via para compreensão desse princípio
universal, mas é a forma como eu cheguei ao entendimento dele e pela qual tento iluminar os
meus discípulos.
O principio da máxima eficiência, ao ser aplicado na arte de ataque e defesa ou para
aprimorar e aperfeiçoar a vida, acima de tudo, demanda ordem e harmonia entre as pessoas.
Isso só se consegue através do auxílio e da concessão mútua, tendo como resultado o mútuo
bem-estar e benefícios comuns. O propósito final da prática de Judo é para introduzir o
respeito aos princípios da máxima eficiência e do bem-estar e benefícios mútuos. Através do
Judo as pessoas podem, individualmente ou coletivamente, atingir seu mais elevado estado
espiritual e, ao mesmo tempo, desenvolver fisicamente seus corpos e aprender a arte de
ataque e defesa.
O JUDOGUI
O conjunto de jaqueta, calça e faixa usadas na prática do Judo são chamados de judogui.
A jaqueta e a calça são brancas e a faixa varia de cor conforme a graduação do usuário.
Iniciantes, sem qualquer graduação, usam faixa branca.
Quando atingir a graduação de kiyu usam faixas coloridas, sendo o mais avançado nessa
classe o primeiro kyu, que usa a faixa marrom. Aqueles que são graduados de primeiro a
quinto dan usam faixa preta. A partir do sexto dan a faixa é do tipo coral, com bandas branca
e vermelha alternadas. Nono e décimo dan usam faixa vermelha. Os possuidores de sexto dan
e acima podem, contudo, usar faixa preta, se preferir. As faixas para mulheres tem uma lista
branca na porção mediana do sentido longitudinal.
ETIQUETA NO DOJO
Antes e após praticar o Judo ou engajar-se num combate, os oponentes se reverenciam
entre si. A saudação é uma expressão de gratidão e respeito. De fato, pode-se agradecer seu
oponente por lhe dar a oportunidade de melhorar sua técnica. A saudação é executada tanto
na posição sentado (za-rei) como na posição ereta (ritsu-rei).
Para realizar a saudação na posição sentado, os contendores ficam distantes um do
outro, a cerca de 1,5 metro, ajoelhados com o dorso do pé faceando o tatami. Os joelhos
devem ficar ligeiramente afastados, quadril descansado sobre o calcanhar, mãos sobre a coxa.
As mãos se deslocam sobre a esteira, de 10 a 12 centímetros a frente dos joelhos, com as
pontas dos dedos voltados levemente para o interior. Curva-se a partir da cintura com a
cabeça e pescoço formando uma linha reta em relação a costa.
Para a saudação na posição ereta, os contendores devem se colocar, a cerca, de dois
metros distantes um do outro. Então eles se flexionam para a frente, a partir da cintura
deixando as mãos deslizar da lateral para a frente de suas pernas, até que seu corpo forme
um ângulo de aproximadamente, 30 graus.
A saudação sentada é mais formal, sempre executada antes e após a prática de Kata.
Também deve ser dirigida aos professores e instrutores quando entrar e sair do dojo. Antes e
após o randori deve-se fazer a saudação na posição ereta.
Dependendo das circunstâncias, os contendores podem saudar de distâncias maiores,
mas devem sempre mostrar sinceridade.
Por outro lado, é esperado dos praticantes de Judo exibir decoro apropriado no dojo. O
dojo não é local para conversa leviana ou comportamento frívolo. Os praticantes podem não
estar praticando da prática ou de um combate, mas, enquanto descansam, eles devem
observar as outras práticas, pois fazendo aprendem alguma coisa. Comer, beber e fumar não
é tolerado no dojo, pois os praticantes são compelidos a mantê-lo asseado e limpo.
A higiene pessoal, também, é importante. Os praticantes devem estar limpos e manter
suas unhas das mãos e dos pés aparadas para evitar que provoque ferimentos nos outros. O
judogui deve ser lavado regularmente e qualquer rasura remendar imediatamente. Para atingir
o melhor rendimento do treinamento deve-se ter , sempre, moderação na alimentação, bebida
e sono.
Noções da História
O JUDÔ teve sua origem quando o Professor Jigoro Kano procurou sistematizar as técnicas
de uma arte marcial japonesa, conhecida como "Jujitsu" e fundamentar sua prática em princípios
filosóficos bem definidos, a fim de torná-la um meio eficaz para o aprimoramento do físico, do
intelecto e do caráter , num processo de aperfeiçoamento do ser humano.
Nesse contexto, invariavelmente surge a questão: Porque chamar de judô ao invés de
Jujitsu como já era conhecida a arte marcial?
Para poder entender a razão e a dimensão pretendida por essa mudança, deve-se buscar e
interpretação no processo histórico que envolve o cultivo do "Budo " nas antigas formas de artes
marciais do Japão. Segundo T.Watariabe (1967): "Budo é uma palavra característica do povo
japonês e sua origem se encontra nas formas de autoproteção que permitiram a sobrevivência dos
indivíduos e a perpetuação da espécie humana através do tempo".
Essas formas de autoproteção, que constituíram as artes marciais, nasceram da qualidade
de vida que o povo japonês impôs a si próprio, diante da necessidade que tinham de se defender.
Daí, então, surgiram os indivíduos com grande habilidade e treinamento nas artes marciais,
formando uma casta de guerreiros conhecidos como "samurais", a serviço dos senhores feudais.
Durante o período medieval japonês, do século XIV ao XVIII, aproximadamente, as artes
marciais tiveram grande; importância por seu uso militarista, apresentando evidente progresso
técnico, destacando-se os grandes talentos em todas as formas de luta pela preservação da vida,
utilizando-se de armas como sabres, lanças e outros instrumentos, bem com métodos de
combates com as mãos nuas. Ao mesmo tempo em que aprimorava o físico para adquirir destreza
na arte marcial, o "samurai" desenvolvia formas de dominar seus próprios impulsos e controlar sua
vontade, em alto grau, para poder enfrentar as adversidades corajosamente "até a morte". Essa
filosofia de vida era a alma das artes marciais e entendiam, os samurais, que ela só poderia ser
atingida através de árduo treinamento para desenvolver o espírito de luta - "Budo" - através da
busca da serenidade, da simplicidade e do fortalecimento do caráter, qualidades próprias da
doutrina ZEN. Um código de honra, ética e moral, o "Bushido", conhecido como via do guerreiro,
foi elaborado com forte influência do Budismo, alicerçando-se na preservação do caráter máximo,
tal como honra, determinação, integridade, espírito de fé, imparcialidade, lealdade e obediência;
preconizando uma forma de viver pela conduta de cavalheirismo, respeito, bondade, desprezo pela
dor e sofrimento.
Como uma das formas de arte marcial surgiu o Jujitsu, luta corporal sem uso de armas, não
tendo porém, registro preciso de sua origem. Algumas citações encontradas no "Nihon Shoki", que
é uma crônica antiga do Japão, fazem referência ao início do Sumô que teria alguma relação com
o Jujitsu naqueles tempos. Houve, então, evolução desses dois tipos de lutas corporais, em que o
Sumô estabeleceu-se à base do uso da força e do peso, sendo orientado no sentido do espetáculo
e o Jujitsu na base da habilidade, da astúcia e da ética, foi consagrado como combate real.
A prática do Jujitsu levou à criação de inúmeras escolas, cujas características eram a
especialização dos professores em determinadas técnicas, adotando estilos próprios e secretos,
cujos princípios de ensinamento se apoiavam no conhecimento axioma empregado pelos
"samurais". "Na suavidade está a força"( Ju = suavidade; Jitsu = arte ou prática). Dentre essas
escolas, duas delas foram especialmente estudadas pelo Professor Jigoro Kano, "Kito-Ruy"e
"Tenshinshinyo-Ryu".
A abertura dos portos japoneses em 1865, provocou intensas transformações do ponto de
vista político-social, marcando a era "Meiji", quando foi abolido o sistema feudal, com rejeição da
cultura e das instituições antiquadas, introduzindo-se os conhecimentos dos países ocidentais,
ocorrendo acentuado declínio das artes marciais, em completo desuso no país. O Jujitsu não foi
exceção, pois as escolas ficaram privadas das subvenções dos clãs e, ainda a modernização das
forças armadas levaram essa arte marcial a ser considerada parte do passado e em total
decadência.
Jigoro Kano, um jovem de físico franzino, graduado em filosofia pela Universidade Imperial
de Tóquio, tendo conhecimento do Jujitsu, observou que suas técnicas poderiam ter valor
educativo na preparação dos jovens, no sentido de oferecer ao indivíduo oportunidade de
aprimoramento do seu autodomínio para superar a própria limitação. Assim, passou a ter como
meta transformar, aquela tradicional arte marcial num esporte que pudesse trazer benefícios para
o homem, ao invés de utilizá-la como arma de defesa pessoal simplesmente.
Aprofundou seus estudos, pesquisando e analisando as técnicas conhecidas; o Professor
Kano organizou-as de forma a constituir um sistema adequado aos métodos educacionais, como
uma disciplina de educação Física, evitando as ações que pudessem ser lesivas ou prejudiciais à
sua prática por qualquer leigo. Com esse intuito, em 1882 fundou sua própria escola e, para
distinguir, de maneira evidente, das formas que identificavam o antigo Jujitsu, denominou de
JUDÔ KODOKAN, destinada à formação e preparação integral do homem através das atividades
físicas de luta corporal e do aperfeiçoamento moral, sustentada pelos princípios filosóficos e
exaltação do caráter, que era a essência do espírito marcial dos samurais, o "Budo".
Jigoro kano transformou a arte marcial do antigo Jujitsu no "caminho da suavidade" em
que através do treinamento dos métodos de ataque e defesa pode–se adquirir qualidades mais
favoráveis à vida do homem, sob três aspectos: condicionamento físico, espírito de luta e atitude
moral autêntica.
A primeira qualidade, condições física, é obtida pela prática do esporte que exige esforço
físico extenuante, de forma ordenada e metódica para proporcionar um corpo forte e saudável.
Pois todas as funções corporais tornam-se melhor adaptada pela atividade que promove aumento
de força muscular geral, da resistência, da coordenação, da agilidade e do equilíbrio. Devido ao
treinamento rigoroso, também, o indivíduo tende a tomar mais cuidado com a sua saúde,
prevenindo doenças e condicionando a reagir reflexivamente para evitar acidentes.
A segunda qualidade, espírito de luta, significa que pela prática das técnicas do Judô e pela
incorporação dos princípios filosóficos durante os treinamentos, o indivíduo se torna mentalmente,
condicionado a proteger seu próprio corpo em circunstâncias difíceis, defendendo-se quando
ameaçado perigosamente. Com o treinamento, adquire autoconfiança e autocontrole, não para
fugir do perigo, mas para adotar medidas e iniciativas em qualquer situação. Em outras palavras, o
Judô é uma arte para a autoproteção total.
Por último, a atitude moral autêntica é concebida através do rigor do treinamento, que
induz a humildade social, a perseverança, a tolerância, a cooperação, a generosidade, o respeito,
a coragem, a compostura e a cortesia. As experiências obtidas durante o treinamento, por
tentativa e erro e pela aplicação das regras de luta, impõem mudanças de atitudes, elevando o
poder mental da imaginação, redobrando a atenção e a observação e firmando a determinação.
Quanto falhas do conhecimento social e de moralidade constituem-se em problemas, um método
de ensinar a cortesia entre as pessoas e melhorar a atitude social torna-se importante e, por isso,
o Judô, desempenha papel relevante nesse contexto, como instrumento de formar e lapidar os
verdadeiros caracteres morais do ser humano.
Princípios Filosóficos
A aquisição daquelas qualidades citadas anteriormente, tem como alicerce os três
princípios filosóficos definidos por Jigoro kano que, como ditado por ele mesmo evidenciam a
principal diferença entre o JUDÔ KODOKAN e o antigo Jujitsu : " o Judô pode ser resumido
como a elevação de urna simples técnica a um principio de viver" (Jitsu = técnica; Do =
princípio). Esses princípios, mesmo não sendo conscientemente esclarecidos e compreendidos,
estão presentes em todos os atos e atividades do praticante de judô. Por outro lado, quando o
praticante tiver fixado e tomar consciência dos princípios que norteiam o judô, pode-se
verificar que não são restritos ao Dojô, mas são igualmente válidos em qualquer atividade da
vida diária, quando se pretende atingir um determinado objetivo.
Os três princípios do judô são :
JU = suavidade
SEIRYOKU-ZEN-YO = máxima eficiência com mínimo esforço
JITA-KYOEI = bem estar e benefícios mútuos
O princípio da máxima eficiência é aplicado à elevação ou à perfeição do espírito e do
corpo na ciência do ataque e da defesa, exige primeiramente ordem e harmonia de todos os
membros de uma coletividade e isto pode ser atingido com o auxílio e as concessões entre si
para atingir a prosperidade e os benefícios mútuos.
O espírito final do judô, por conseguinte, é de incutir no íntimo do homem o respeito
pelos princípios da máxima eficiência, da prosperidade e benefícios mútuos e da suavidade,
para poder atingir, individualmente e coletivamente seus estados mais elevados e ao mesmo
tempo mais desenvolvidos na arte de ataque e defesa.
O professor Kano afirma o seguinte: "Ainda que eu considere o Judô
dualisticamente, a prosperidade e benefícios mútuos pode ser vista como sua finalidade última
e a máxima eficiência como meio para atingir esse fim. Essas doutrinas são aplicáveis a todas
as condutas do ser humano".