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INTRODUÇÃO
PLEXO BRAQUIAL
Anatomia
Exame neurológico nas lesões do plexo braquial
Sumário da anatomia do plexo braquial e referenciais para a semiologia
Plexo lombossacral
Investigação complementar
Lesões traumáticas
Síndrome do desfiladeiro torácico neurogênica adquirida
Síndrome do desfiladeiro torácico neurogênica hereditária
Aprisionamento do plexo lombossacral e alguns de seus ramos
Plexopatias inflamatórias idiopáticas ou síndrome de Parsonage-Turner ou amiotrofia neurálgica e amiotrofia diabética
Lesões tumorais ou relacionadas
INTRODUÇÃO
Os plexos braquial e lombossacral são estruturas nervosas complexas respectivamente relacionadas à formação dos nervos
apendiculares dos membros superiores e inferiores. Deve-se suspeitar de uma plexopatia sempre que observarmos
comprometimento de múltiplos nervos e/ou raízes em um mesmo membro, na ausência de neuropatia difusa. Para o
adequado entendimento e classificação das lesões de plexos, é fundamental uma boa noção anatômica destas estruturas.
Contudo, é importante ter em mente que variações anatômicas são comuns e que as descrições a seguir se referem à
distribuição mais frequente.
PLEXO BRAQUIAL
Anatomia
O plexo braquial é formado pela união dos ramos ventrais dos nervos espinhais oriundos da quinta (C5) à oitava (C8) raiz
nervosa cervical e da primeira raiz torácica (T1). As interconexões que ocorrem no interior do plexo resultam na formação
dos três grandes troncos nervosos para o membro superior e de nervos sensitivos constituídos por menor contingente de
fibras. Os ramos ventrais dos nervos espinhais C5 e sexto cervical (C6) fundem-se para formar o tronco superior; os ramos
ventrais dos nervos espinhais C8 e T1 reúnem-se no tronco inferior, e a continuação do ramo ventral originário de C7
constitui o tronco médio. Rearranjos das fibras provenientes destes troncos em direção distal dão origem aos cordões lateral,
posterior e medial. O cordão posterior é resultante da adição de ramo que tem origem no tronco superior – contendo fibras
das raízes C5 e C6 – e de ramo originário do tronco inferior, contendo fibras provindas das raízes C8 e T1 – ao tronco
posterior (C7). Aquele, portanto, contém componentes significativos dos ramos ventrais das raízes C5 a C8, apresentando
contribuições dos três troncos.
O nervo radial é a continuação direta do cordão posterior. O nervo ulnar é derivado dos ramos ventrais das raízes C8 e
T1 (C8-T1) via tronco inferior e cordão medial. O nervo mediano apresenta dois componentes principais, o lateral e o
medial. O componente lateral, quase exclusivamente sensitivo, deriva do ramo ventral da raiz C6, através do tronco superior
e do cordão lateral do plexo, com algumas contribuições da raiz C7 via tronco médio. O componente medial do nervo
mediano, predominantemente motor, deriva das raízes C8-T1, através do tronco inferior e cordão medial do plexo braquial.
Os músculos supridos pelo nervo mediano se dividem em dois grupos: alguns são inervados por raízes C5-C7 e a maioria
por C8-T1.
Nervos de menor porte que os 3 ramos que contêm o maior contingente de fibras oriundas do plexo braquial emergem
diretamente desse plexo. A maioria supre os músculos da cintura escapular. O nervo dorsal da escápula, que inerva os
músculos romboides, origina-se do ramo ventral da raiz C5 antes da junção desta com a raiz ventral de C6. O nervo torácico
longo origina-se dos ramos ventrais das raízes C5-C7 e inerva o músculo serrátil anterior. O nervo supraescapular (C5-C6)
emerge do tronco superior do plexo braquial e inerva os músculos supraespinhoso e infraespinhoso. O nervo peitoral lateral
(C5-C7) emerge do cordão lateral do plexo, ou do tronco superior no seu limite com o referido cordão, e inerva a parte
superior do músculo peitoral maior. O nervo musculocutâneo (C5-C7) origina-se do cordão lateral e inerva os músculos
flexores do cotovelo – bíceps, coracobraquial e braquial. Estende-se para o antebraço e termina como nervo sensitivo, o
nervo cutâneo lateral do antebraço. O nervo toracodorsal (C6-C8) emerge do cordão posterior do plexo braquial e inerva o
músculo grande dorsal. O nervo axilar (C5-C6) também emerge do cordão posterior e inerva os músculos deltoide e redondo
menor, sendo responsável também pela inervação sensitiva de uma região pequena da pele logo abaixo do acrômio na região
proximal do braço. O nervo peitoral medial emerge do cordão medial do plexo e inerva a parte inferior do músculo peitoral
maior e do peitoral menor. Termina dando origem aos nervos cutâneos medial do braço e do antebraço (raízes C8-T1),
sensitivos.
O plexo braquial se estende da coluna vertebral cervical até a axila, perfazendo trajeto de cerca de 15 cm na maioria dos
adultos. Inicialmente, no pescoço, ele atravessa o triângulo interescaleno, formado pelos músculos escaleno anterior e médio
e pela primeira costela. A seguir, emerge por trás da borda lateral do músculo esternocleidomastóideo, passa dorsalmente à
clavícula, depois o tendão do músculo peitoral e alcança a axila. A clavícula é o parâmetro ósseo utilizado para demarcar as
divisões funcionais do plexo braquial. Proximalmente à clavícula localizam-se as raízes, os ramos ventrais dos nervos
espinhais e os troncos nervosos do plexo braquial. Imediatamente após o limite caudal (“inferior”) da clavícula, estão
localizadas as divisões dos troncos. Mais caudalmente, formam-se os cordões dos quais se originam os três principais
nervos do membro superior. A clavícula pode ser ponto de referência para classificação de lesões do plexo braquial. Lesões
supraclaviculares comprometem os ramos ventrais dos nervos espinhais e os troncos. Lesões intraclaviculares, os cordões.
Considera-se, todavia, ser mais apropriada a identificação das lesões pelas divisões anatômicas do plexo comprometidas.
O ramo ventral de T1 e a primeira porção do tronco inferior apoiam-se no ápice do pulmão, separados deste pela pleura.
A seguir, a porção distal do ramo ventral e o tronco inferior por sobre a primeira costela. Os vasos subclávios têm estreita
relação anatômica com o plexo braquial. A artéria subclávia passa por sobre a primeira costela, dorsalmente à inserção do
músculo escaleno anterior, caudalmente à clavícula, alcançando, então, a axila e o braço, junto com o plexo. As
veias apresentam trajeto semelhante, mas o seu trajeto situa-se ventralmente ao músculo escaleno anterior. Esse território
anatômico – densamente povoado por estruturas nervosas, vasculares e ósseas e suas relações com o ápice pulmonar – é
denominado desfiladeiro torácico.
TABELA 71.2. Avaliação topográfica da sensibilidade para mapeamento das lesões do plexo braquial
Medial do antebraço
Tronco inferior – –
Polpa do dedo mínimo
Plexo lombossacral
O plexo lombossacral é constituído pelo plexo lombar (L1 a L4), plexo sacral (S1 a S4) e pelo tronco lombossacral (L4 e
L5). Os principais ramos do plexo lombar são o nervo femoral (divisões posteriores) e o nervo obturatório
(divisões anteriores). Além desses, são formados no plexo lombar os nervos inguinais (ílio-hipogástrico, ilioinguinal e
genitofemoral), o nervo cutâneo lateral da coxa e ramos diretos para o músculo psoas. O tronco lombossacral une-se ao
plexo sacral e, juntos, formam o nervo ciático, seu principal ramo. Desde sua formação, esse nervo é constituído pela
divisão fibular (porção posterolateral) e tibial (porção anteromedial), envoltas no mesmo epineuro. Os demais nervos
formados no plexo sacral incluem o nervo pudendo, os nervos glúteos superior e inferior, o nervo cutâneo posterior da coxa
e os ramos diretos para músculos pélvicos.
Investigação complementar
Avaliação eletroneuromiográfica
Após a anamnese e o exame físico, a eletroneuromiografia é a investigação de escolha para confirmação diagnóstica,
detalhamento topográfico, indicação da gravidade e prognóstico das lesões do plexo braquial. A avaliação eletrofisiológica
das plexopatias é exaustiva, pois requer um protocolo amplo de condução nervosa, incluindo o membro contralateral
assintomático. A eletroneuromiografia ajuda no mapeamento topográfico da lesão e fornece informações úteis quanto ao
prognóstico, mas é limitada em relação à pesquisa etiológica.
Exames de imagem
Na avaliação de pacientes com suspeita de plexopatia, é importante solicitar exames de imagem, em particular as de
ressonância magnética. Estudos de imagem são de particular importância na detecção de avulsão de raízes e de outras
alterações estruturais, tais como tumores ou anomalias ósseas e musculares. A avulsão de raízes, em particular, é muito bem
documentada pela mielotomografia computadorizada (MTC) ou pela ressonância magnética (RM). Quando há avulsão de
uma raiz, as meninges são separadas da medula espinhal e tracionadas para o interior do forame espinhal, formando-se uma
pequena pseudomeningocele. A MTC e a RM são muito informativas nas lesões infiltrativas e na síndrome do desfiladeiro
torácico neurogênico.
A orientação oblíqua dos plexos braquial e lombossacral dificulta sua visualização. A maioria das ressonâncias
magnéticas requer séries contrastadas. Idealmente, devem ser empregadas reconstruções em diferentes planos e incluir
sequências especiais, como o FIESTA. A avaliação da coluna cervical ou lombossacral deve ser incluída na investigação por
imagem das plexopatias. Os raios X simples podem ser úteis em lesões traumáticas ou na síndrome do desfiladeiro torácico.
Lesões traumáticas
As lesões traumáticas constituem 70% das plexopatias braquiais. Dessas, 70% são causadas por acidentes de trânsito, dos
quais 70% são causados por motocicletas. As lesões supraclaviculares geralmente estão relacionadas a traumas fechados
com estiramento das estruturas nervosas, enquanto as lesões infraclaviculares costumam ocorrer em ferimentos penetrantes.
O mecanismo mais comum é a depressão do ombro e o desvio contralateral da cabeça, levando ao estiramento predominante
do nível superior. A natureza e o tipo das lesões nos traumatismos são diversos: por tração, como nos acidentes
motociclísticos, ciclísticos e automobilísticos, que incidem mais nos adultos jovens; ou ortopédicas do ombro. Podem ainda
estar relacionadas: ao posicionamento cirúrgico dos pacientes durante anestesia geral; à esternotomia mediana, quando
podem apresentar comprometimento do nervo espinal de C8 pela rotação da primeira costela, predominando nos nervos
ulnar e radial; a procedimentos cirúrgicos na região do ombro (incluindo artroscopia), a bloqueios anestésicos locais, a
arteriografias e angiogramas, a hematomas e a falsos aneurismas. Há tendência a recuperação espontânea nesses casos, mas
por vezes a recuperação é incompleta.
O plexo braquial pode ser ainda comprimido secundariamente a lesões traumáticas, como em pseudoaneurismas de
artéria axilar, outros hematomas ou consolidações viciosas de fraturas de clavícula ou da primeira costela. Nesse casos,
tratamento é direcionado à correção da causa de base.
Lesões graves podem apresentar avulsão das raízes da medula espinhal, as quais geralmente ocorrem no nível inferior
em razão da menor fixação dos nervos na fáscia pré-vertebral. A identificação de raízes avulsionadas é importante, pois, em
geral, não podem ou não são corrigidas cirurgicamente e são associadas com frequência à dor neuropática incapacitante.
Pacientes com avulsão geralmente exibem síndrome de Horner ipsilateral, além de paralisia dos músculos romboides e
serrátil anterior. Por sua vez, a presença de sinal de Tinel supraclavicular indica uma lesão pós-ganglionar. Os exames
complementares são importantes na diferenciação de lesões pré ou pós-ganglionares. A mielotomografia computadorizada ou
ressonância magnética podem identificar pseudomeningoceles (Fig. 71.1) ou, idealmente, a ruptura das radículas
intrarraquidianas dos níveis avulsionados. A eletroneuromiografia mostra dissociação sensitivo-motora, com grave
comprometimento axonal motor, mas sem degeneração sensitiva, uma vez que o gânglio dorsal segue em continuidade com o
coto distal. Por vezes, o diagnóstico de avulsão radicular só é obtido pela exploração intraoperatória com monitorização
neurofisiológica ou análise histológica dos cotos.
FIGURA 71.1. Ressonância magnética de um paciente com lesão traumática do plexo braquial demonstrando a presença de pseudomeningoceles
(indicadas pelas setas), que constituem evidência indireta de avulsão radicular.
Lesões obstétricas são um tipo particular de lesão traumática em recém-nascidos e ocorrem em cerca de 1 para cada 500
partos. A plexopatia braquial do recém-nascido ou paralisia obstétrica é a causa mais comum de plexopatia de origem
traumática na infância e apresenta uma incidência média de 0,12% dos nascimentos. Apesar de todos os cuidados obstétricos
atuais, a sua incidência não está diminuindo. São mais comuns em fetos macrossômicos nascidos em partos distócicos.
Diferentemente dos adultos, a dor não é comum e sempre ocorre alguma recuperação espontânea. Lesões superiores
geralmente têm evolução favorável, enquanto lesões totais têm prognóstico reservado. Como estas crianças estão em
crescimento ósseo acelerado, há grande frequência de deformidades musculoesqueléticas secundárias, particularmente do
ombro. A reabilitação precoce é fundamental para minimizar estas deformidades. A apresentação clínica mais comum (50%
dos casos) resulta do comprometimento das raízes C5 e C6 e/ou do tronco superior do plexo braquial, resultando em
fraqueza muscular da abdução do ombro e flexão do braço. É também conhecida como paralisia de Erb. O envolvimento das
raízes C8 e T1 e/ou do tronco inferior do plexo braquial é muito raro. Nesse caso, a fraqueza muscular ocorre
predominantemente na mão. É também conhecida como paralisia de Klumpke. Variações clínicas, permeando os extremos
dos casos citados, podem ser encontradas. Podem ocorrer: (a) comprometimento dos troncos superior e médio (30% dos
casos); (b) comprometimento difuso do plexo, com preservação de alguma função de C8 e T1 e (c) comprometimento difuso
do plexo braquial (15% dos casos). A causa mais comum de paralisia obstétrica é o estiramento do membro durante o parto,
que ocorre por distocia de ombro, sobrepeso do bebê, trabalho de parto prolongado, parto a fórceps ou asfixia intraparto. A
eventual ocorrência de paralisia obstétrica na ausência dessas condições citadas levanta a possibilidade de uma plexopatia in
utero. O tratamento cirúrgico pode trazer melhora funcional significativa para essas crianças. O diagnóstico e a definição
terapêutica consistem em grande desafio. A realização de uma eletroneuromiografia com qualidade nem sempre é possível
nesta faixa etária: o exame geralmente fica comprometido pelas dificuldades técnicas. O tempo excessivo de observação
clínica pode comprometer o momento ideal de indicação cirúrgica, mas ao mesmo tempo é necessário estar bem definido se
a criança apresentará ou não melhora espontânea. Não há dados epidemiológicos suficientes para se conhecer exatamente a
história natural desses pacientes, bem como os fatores prognósticos favoráveis ou desfavoráveis, o que dificulta
enormemente o estabelecimento de um consenso para seleção dos pacientes e o tempo cirúrgico ideal de tratamento.
Outra situação que pode cursar com lesões traumáticas envolvendo o plexo braquial e as raízes motoras cervicais é a
“paralisia da mochila”, causada, como o próprio nome diz, pela compressão por bolsas ou mochilas pesadas carregadas no
ombro por um período prolongado de tempo. Provocam lesão do plexo braquial pelo deslocamento da clavícula para baixo.
O nervo axilar é o mais frequentemente afetado neste tipo de paralisia, seguido pelo torácico longo e supraclavicular.
Lesões do plexo e das raízes motoras cervicais são descritas em alguns esportes como o futebol americano e o rúgbi, em
que os jogadores chocam-se corpo a corpo e acabam causando estiramentos de intensidade variável da região cervical, do
ombro e dos braços. Essa situação mais comumente apresenta-se clinicamente com muitas queixas sensitivas de
formigamento e dormência, que podem durar períodos variáveis de tempo. O envolvimento sensitivo é o predominante, e
raramente há sinais de comprometimento motor. Lesões agudas do plexo braquial são descritas em pacientes comatosos que
permaneceram por período prolongado de tempo na mesma posição, provocando o estiramento ou compressão do plexo
braquial.
Existem três fatores essenciais preditivos da evolução das plexopatias traumáticas para recuperação espontânea ou
necessidade de intervenção cirúrgica: (a) topografia da lesão; (b) tipo de lesão (neuropraxia, axonotmese ou neurotmese); e
(c) presença ou ausência de avulsão de raízes.
Durante os primeiros 3-4 meses após a lesão, é possível que ocorra recuperação completa de uma neuropraxia. Nesse
período, é recomendada fisioterapia para prevenção de contraturas e anquilose das articulações. Se não há evidência de
recuperação após 4 meses e quando a eletroneuromiografia revela degeneração axonal grave, o plexo deve ser explorado
cirurgicamente para reparo dos segmentos interrompidos com suturas, transposições neurais ou ambos. O principal objetivo
é restaurar a inervação para os músculos proximais como bíceps, tríceps e deltoide. Regeneração neural efetiva para os
músculos distais, particularmente para os músculos que inervam a mão, raramente ocorre nos adultos. Todos os esforços do
reparo cirúrgico se concentram nos troncos superior e médio e nos cordões lateral e posterior. O tratamento cirúrgico inclui
neurólises (limpeza cirúrgica), enxertos e/ou transferências nervosas, de acordo com o tipo de lesão observada no
intraoperatório. A recuperação pós-operatória é lenta e depende do crescimento axonal longitudial (cerca de 1 mm por dia).
Lesões do nível inferior têm mau prognóstico, pois a distância até os músculos é muito grande e não há tempo hábil para
reinervação (exceto no caso de lesões obstétricas). Pacientes encaminhados tardiamente para cirurgia têm resultados piores e
geralmente não se beneficiam se o tempo de lesão for superior a 12 meses. Os melhores resultados têm sido obtidos com
diversas transferências nervosas, resultando em melhora funcional de todo o membro. Recentemente, a demonstração de que
raízes avulsionadas podem ser reimplantadas na medula espinhal com algum grau de crescimento axonal e melhora funcional
trouxe grande esperança. Como alternativa, transferências musculares também podem melhorar a função do braço. O
tratamento das lesões traumáticas do plexo braquial envolve reabilitação e controle da dor.
Para prevenir a paralisia da mochila é recomendável que não se usem mochilas com peso acima de 40 kg e que
profissionais obrigados a usar mochilas por longos períodos de tempo (p. ex., militares) sejam submetidos a teste molecular
para neuropatia hereditária com suscetibilidade à compressão. O paciente com teste molecular positivo não deve usar
mochilas. O tratamento é conservador.
Lesões traumáticas do plexo lombossacral são bem menos comuns. Podem ser observadas em fraturas duplas com
deslocamento da pelve, principalmente quando envolvem a porção posterior, ou ferimentos por arma de fogo. O tratamento
cirúrgico de lesões do plexo lombossacral não apresenta bons resultados em razão da dificuldade de acesso e grande
distância entre o sítio lesional e os órgãos-alvo.
Injeções glúteas podem lesar o nervo ciático ou outros ramos do plexo sacral. Em geral, há dor intensa imediata, mas
raramente a lesão pode ocorrer após alguns dias. O comprometimento predomina na divisão fibular, e o nervo tibial pode
estar completamente preservado. O prognóstico destas lesões geralmente não é favorável. Alguns autores recomendam
descompressão imediata com epineurotomia, mas raramente estes casos são encaminhados na fase aguda. Crianças pequenas
que não apresentam recuperação espontânea podem se beneficiar de abordagem cirúrgica.
Tumores primários
Os tumores primários benignos da bainha neural respondem por mais da metade dos casos e incluem os schwannomas e
neurofibromas. Esses podem ocorrer no plexo na forma de lesões solitárias ou no contexto sistêmico de neurofibromatose
do tipo 1. No caso do plexo braquial, o quadro típico é de uma tumoração supraclavicular que irradia choques quando
manipulada. A dor é o sintoma mais comum, e déficits neurológicos são inicialmente sutis ou ausentes. Ocorrem mais
frequentemente no tronco superior ou cordão lateral, manifestando-se com dor, presença de massa supraclavicular e déficits
neurológicos geralmente discretos. Biópsias por agulha devem ser evitadas, pois podem determinar déficits neurológicos.
Schwanomas, perineurioma intraneural e tumores malignos do plexo ocorrem em ordem inversa de frequência e são
confirmados pelos exames de imagem (TC, RM ou PET). A indicação cirúrgica deve levar em conta a benignidade do
quadro e os sintomas do paciente. Com técnica cirúrgica adequada, é possível ressecar estes tumores preservando a função
dos nervos envolvidos.
Tumores malignos da bainha neural felizmente são raros. Também são mais comuns em pacientes com neurofibromatose
tipo 1. O quadro é de dor importante e déficit neurológico progressivo. Sempre que possível, deve-se fazer a ressecção em
bloco com inevitável perda da função nervosa. Estes tumores respondem mal a quimioterapia e radioterapia, e o prognóstico
não é favorável.
Invasão tumoral
Os tumores que mais comumente comprometem o plexo braquial são provenientes do pulmão, da mama, de linfomas e de
metástases envolvendo linfonodos ou ossos. O sítio primário mais comum é a mama, podendo o envolvimento plexual
ocorrer muitos anos depois do tratamento de sucesso do tumor primário.
O sintoma predominante é dor no ombro com irradiação para o braço, usualmente na face medial do antebraço e
ocasionalmente para os dedos da inervação ulnar. A dor pode ser excruciante. Parestesias e fraqueza muscular instalam-se na
sequência e ocorre evolução lentamente progressiva. O tronco inferior ou o cordão medial são os mais frequentemente
comprometidos.
A síndrome de Pancoast é causada por tumor do lobo superior do pulmão, quase sempre um carcinoma do ápice
pulmonar, invadindo o tronco inferior/cordão medial do plexo braquial. Dor com irradiação para a face interna do braço é
geralmente o primeiro sintoma. Dois terços dos pacientes desenvolvem síndrome de Claude-Bernard-Horner. Fraqueza
muscular e alterações da sensibilidade na distribuição do tronco inferior do plexo estão presentes em um terço dos pacientes.
Invasão neoplásica é uma das causas mais comuns de plexopatia lombossacral, incluindo a extensão de tumores
colorretais, geniturinários, linfomas, sarcomas ou tumores metastáticos diversos. O quadro clínico é de dor e déficit
neurológico progressivo. O prognóstico destas lesões é desfavorável.
Radiografias simples regionais podem mostrar evidências do tumor e estudos com radioisótopos podem demonstrar
metástases ósseas. A eletroneuromiografia define o envolvimento plexual e caracteriza se há envolvimento radicular ou de
outros nervos individuais do plexo. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética são muito úteis para identificar
a infiltração plexual. O PET scan é recomendado se quaisquer dos estudos anteriores se mostrarem inconclusivos.
O tratamento deve ser conduzido por oncologistas e cirurgiões oncológicos, e o seu detalhamento foge ao escopo do
presente capítulo.
Mulheres em idade fértil raramente podem apresentar quadro de ciatalgia catamenial relacionada com implantes de
endometriose sobre o plexo lombossacral. O tratamento clínico é dirigido à endometriose.
FIGURA 71.2. Eletromiografia de um paciente com plexopatia actínica demonstrando a presença de descargas mioquímicas.
Outro diagnóstico diferencial importante em um paciente com história prévia de radioterapia e instalação tardia de uma
plexopatia é tumor da bainha neural dos ramos do plexo braquial, a qual é induzida por radiação. Esse pode desenvolver-se
de 4 a 40 anos após a radioterapia e é ainda mais raro que a plexopatia actínica. No mais das vezes, são malignos e se
apresentam como massa supraclavicular dolorosa associada a sinais de uma plexopatia braquial. Os exames radiológicos
(TC e RM) localizam a massa, mas uma biópsia é necessária para a diferenciação entre o tumor citado e uma infiltração
metastática. O mesmo dilema pode ocorrer após o tratamento de neoplasias pélvicas no plexo lombossacral.
O tratamento para a plexopatia induzida por radiação é constituído por cuidados fisioterápicos, terapia ocupacional e
sintomáticos para a dor. Não há tratamento específico e as medidas citadas visam à prevenção de contraturas musculares e
retração tendínea. O prognóstico geralmente não é bom, com evolução progressiva para incapacidade funcional do membro.
A Tabela 71.3 relaciona as etiologias mais frequentes das lesões fechadas (sem lesão da pele) e abertas (com lesão da pele)
do plexo braquial. O Quadro 71.1 associa, na medida do possível, etiologias das lesões e respectivas topografias no plexo
braquial.
Cordões/Ramos
Tronco inferior
Tumores metastáticos
Tumor de Pancoast
Pós-esternectomia
Síndrome do desfiladeiro torácico neurogênica
Cirurgia para desfiladeiro torácico
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