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Pêndulo de Foucault

Tiago de Carvalho Borella

1. Contextualização e apresentação do problema

Ao se tratar do movimento de corpos, normalmente, algumas simplificações são feitas para


deixar o cálculo mais simples, outras valem em um intervalo previamente determinado. A pergunta
que se aponta como pertinente é: quando esse intervalo é falho, e que se torna necessário fazer
considerações um pouco mais complexas para descrever um fenômeno?

Devido ao fato de um corpo estar acelerando, já começam a aparecer movimentos sem uma
causa aparente. Imagine um passageiro dentro de um ônibus, de repente o ônibus freia e uma pessoa,
observando o ônibus de fora, percebe que a pessoa de dentro é jogada para frente sem nenhuma força
ter sido exercida sobre ela. Outra pergunta pertinente: o que está ocorrendo nessa situação?

Quando um objeto está acelerado, somente por esse fato já aparecerem efeitos que não
parecem obedecer a segunda lei de Newton. Esses fenômenos são trabalhados na Mecânica Clássica
como referenciais não inerciais. Esses referenciais podem ser calculados e serão desenvolvidos mais
detalhadamente na seção de referencial teórico. Neste desenvolvimento é possível observar que, para
certos referenciais aparecem forças fictícias que parecem estar atuando sobre um corpo sem uma
causa aparente. Essas forças fictícias podem ser Força de Euler, Força de Coriolis, Força de
Translação e Força Centrífuga.

Este trabalho tem enfoque na Força de Coriolis, devido aos efeitos que ela tem no pêndulo de
Foucault. Um objeto em movimento na superfície da Terra já está sujeito a uma força de Coriolis
devido à rotação da Terra. O pêndulo de Foucault demonstra exatamente isso, um pêndulo comprido,
com peso suficiente e com liberdade para “girar” em qualquer direção descrevendo uma trajetória
não linear, dependente de um ângulo entre o fio e a “normal, dependente da velocidade angular da
Terra e da latitude em que se encontra o pêndulo.

A partir disso, é possível montar uma simulação de referenciais não inerciais no software
InsightMaker para ilustrar um dos fenômenos que resultam num evento, em que, forças fictícias
atuam sobre o pêndulo de Focault? Esse pêndulo é famoso por “provar” que a Terra é redonda, pois
ele só teria esse comportamento não linear, caso a velocidade de rotação da Terra estivesse
interferindo em seu deslocamento.
2. Referencial Teórico

Nesta seção são apresentadas as equações que serão utilizadas para modelar o pêndulo de
Foucault no InsightMaker. Para ilustrar o que está sendo calculado, serão utilizadas imagens dos
Slides de Aula.
Figura 1 - Sistema de Coordenadas para dois referenciais diferentes

A partir da imagem (Figura 1), é possível chegar na seguinte equação, sendo que a única
mudança que deve ser feita é considerar que, no referencial “O”, o eixo e1 segue similar à como se
comporta o e1’, e ω é a velocidade angular do referencial “O”, chegando-se na seguinte equação:

⃗⃗⃗⃗⃗0 + ⃗⃗⃗
𝑟⃗ = 𝑅 𝑟′ (1)
Derivando essa equação se chega na seguinte equação

𝑣𝑖𝑒𝑖
⃗⃗⃗⃗ = 𝑉𝑖𝑒𝑖 ⃗⃗⃗⃗⃗ + xi ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
⃗⃗⃗⃗ + 𝑣′𝑒𝑖′
𝑑𝑒𝑖′
(2)
𝑑𝑡
O quarto termo da equação acima mostra que esse vetor depende da velocidade angular que é

da forma 𝜔 𝑥 ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑒𝑖′, com isso chegando equação a seguir:

𝑉0 + ⃗⃗⃗⃗
𝑣⃗ = ⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗
𝑣′ + 𝜔 𝑟′ (3)
Para se obter a aceleração se deriva novamente:

𝐴𝑜 + ⃗⃗⃗⃗
𝑎⃗ = ⃗⃗⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗ 𝑥 𝑣𝑖 ′ ⃗⃗⃗⃗⃗
𝑎′ + 𝜔 𝑒𝑖′ + 𝜔̇⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗
𝑟′ + 𝜔 ⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗
⃗⃗ 𝑥 𝜔 𝑟′ (4)
Simplificando a equação se tem o seguinte resultado para a aceleração fictícia:
⃗⃗⃗⃗ 𝐴𝑜 + ⃗⃗⃗⃗
𝑎′ = ⃗⃗⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗ 𝑥 𝑣⃗ + 𝜔̇⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗
𝑎′ + 2𝜔 𝑟′ + 𝜔 ⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗
⃗⃗ 𝑥 𝜔 𝑟′ (5)
Multiplicando tudo pela massa se tem a seguinte expressão:
⃗⃗⃗⃗
𝐹′ = 𝐹⃗ + ⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹0 + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐶𝑜𝑟. + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐸𝑢𝑙. + ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐶𝑒𝑛𝑡𝑟𝑖. (6)
Com base na equação 6 se observa que o termo 𝐹⃗ é igual a -m⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐴𝑜 que é a força fictícia de
translação, a ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗ ⃗⃗ 𝑥 𝑣⃗, a ⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐶𝑜𝑟. que é −𝑚2𝜔 𝜔̇ 𝑥 ⃗⃗⃗⃗
𝐹𝐸𝑢𝑙. que é −𝑚⃗⃗⃗⃗ 𝑟′ e a força centrífuga que é -

m𝜔 ⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗
⃗⃗ 𝑥 𝜔 𝑟′ .
Para o pêndulo de Foucault, assumindo que a velocidade angular permanece e é constante, a
única força que terá um impacto significativo no deslocamento do pêndulo será a força de Coriolis,
levando em conta que a velocidade angular é muito baixa e quando elevada ao quadrado, como no
caso da força centrífuga, faz com que o valor seja desprezível, portanto, na simulação somente serão
utilizadas as contribuições da força de Coriolis.

Figura 2 - Pêndulo de Focault

Levando em conta a Figura 2, é possível perceber que duas forças reais atuam no pêndulo, a
Força peso e a Tensão no fio do pêndulo. Para o caso de pequenos ângulos é razoável fazer a
aproximação de que o módulo da Tensão é igual ao Peso. Fazendo os cálculos e extraindo o termo de
Coriolis obtém-se a seguinte equação:
⃗⃗⃗⃗ = 𝑚𝑔⃗ + 𝑇
𝑚𝑎′ ⃗⃗ 𝑥 ⃗⃗⃗⃗
⃗⃗ − 2𝑚𝜔 𝑣′ (7)
Na aproximação de pequenos ângulos, a contribuição da velocidade em z’ é desprezível frente
à contribuição da velocidade em y’. Essa relação é desenvolvida com bastante cuidado nos slides de
aula. Para mais informações, verificar os slides 68 e 69. Com essas deduções feitas, resta somente as
duas componentes da aceleração no eixo x e y que, levando em consideração todos os cálculos feitos
e, considerando que L é o comprimento do fio, g é a gravidade, 𝜔 𝑇 é a velocidade angular da Terra e
λ é a latitude, chega-se nas seguintes equações acopladas:

𝑔
𝑥̈ = − 𝑥 ′ + 2𝑦̇′ 𝜔 𝑇 𝑠𝑒𝑛(𝜆) (8)
𝐿
𝑔
𝑦̈ = − 𝑦 ′ − 2𝑥 ̇′ 𝜔𝑇 𝑠𝑒𝑛(𝜆) (9)
𝐿

O termo x’ e y’ acontece devido aos deslocamentos de ângulos pequenos e o termo g/L é uma
simplificação da força gravitacional tangencial à trajetória do pêndulo. Com esses resultados e,
principalmente, com as equações 8 e 9, é possível modelar o movimento do pêndulo no InsightMaker.

3. Delineamento computacional

Nesta seção será discutida a montagem da modelagem no software Insight Maker. A simulação
é encontrada no link a seguir: Pêndulo de Foucault. Primeiramente, foram criadas as variáveis que
são constantes, como no caso da simulação o “wt”, o “g”, e o “L”. Depois disso, foram criados os
dois stocks que iriam ter uma variação.
Primeiramente, foi criado o stock “x” e logo em seguida foi criado o stock “Vx”, depois disso,
foram criados os stocks “y” e “Vy”. Nesses stocks foram acoplados flows que têm uma equação
vinculada a cada um desses stocks. No caso de “x” e “y” os flows tem simplesmente o valor de “Vx”
e “Vy” para fazer a sua variação. Já, as velocidades têm como o seu flow, as acelerações ligadas a
cada coordenada, portanto, o “Vx “terá um flow com a equação 8 vinculada a ele e, o “Vy” terá a
equação 9 vinculada a ele. É interessante perceber que as acelerações de “x” e “y” dependem das
velocidades do outro. Analisando a equação 8, é possível perceber que a aceleração de “x” varia como
g/L como parte real e a outra parte depende da velocidade em “y” e, o mesmo acontece com a
aceleração em “y”, portanto, dentro do software, um dos valores ou de “x” ou de “y” devem iniciar
com 0 e o outro com um valor maior que 0. Nesse meio tempo, os links ente os stocks e as variáveis
foram feitos.
Para os valores das variáveis, foram usados valores arbitrários para o comprimento e, para a
latitude são utilizados os valores reais da velocidade angular da terra e da gravidade. Importante
lembrar que a unidade angular padrão do site é em radianos.

4. Resultados

Nesta seção são apresentados os resultados obtidos no software e discutidos brevemente.


Primeiramente é apresentada uma imagem do corpo da modelagem (Figura 3).
Figura 3 – Modelagem no InsightMaker

É possível observar, na Figura 3, os links entre as variáveis. Esses links devem ser feitos de
forma cautelosa, pois um erro nos links pode causar um erro grande no fim da modelagem e, que é
difícil de se identificar, uma vez feito. No entanto, tendo uma certa cautela, esse erro é simples de se
prevenir.
É apresentado, nas Figura 4, 5 e 6, o resultado da simulação do Pêndulo em função de X x Y,
X x tempo e, Y x tempo:
Figura 4 – x vesus tempo
Figura 5 – y versus tempo

Figura 6 – x versus y
O resultado mais importante é o de x versus y, pois mostra como o pêndulo se comportaria,
caso o observador estivesse observando-o de cima. O tempo, que decorreu a simulação, foi escolhido
de forma arbitrária e, o método utilizado para fornecer a resolução foi por Runge-Kutta.

5. Conclusões

Respondendo à questão levantada no primeiro tópico, afirma-se que sim, é possível montar
uma simulação no InsightMaker do pêndulo de Focault. Para tal, é necessário ter um bom
conhecimento de forças fictícias e seus equacionamentos.
Com base na Figura 6, é possível verificar que o pêndulo tende a se deslocar para os lados e
para cima, levando em conta um observador que está olhando de cima para o caminho que o pêndulo
traça abaixo. Essa mudança e “giro”, são as contribuições da força de Coriolis no pêndulo.
Na simulação, foram acoplados sliders para que a pessoa que esteja interagindo com a
simulação, possa observar como muda o desenho do pêndulo com um comprimento de fio maior ou
menor, ou, em latitudes diferentes.
Foi muito interessante montar a simulação, pois é possível se visualizar uma solução numérica
para um problema que parece difícil de se resolver somente com um papel e lápis. Isso demonstra a
utilidade do software para o aprendizado e, também para descrever fenômenos complexos que são os
de referenciais não inerciais e de forças fictícias.

6. Referências Bibliográficas

HEIDEMANN, Leonardo Albuquerque. Mecânica Clássica para a Licenciatura. Porto Alegre. 29 jul.
2023. Apresentação de Slides. 75 slides. Disponível em:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/6194844/mod_resource/content/1/Referenciais_n%C3%A3o_
Inerciais_v2023_1.pdf
PEREIRA, Rodrigo Weber. Mecânica Clássica para a Licenciatura. Porto Alegre. 29
jul. 2023. Apresentação de Slides. 75 slides. Disponível em:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/6194844/mod_resource/content/1/Referenciais_n%C3%A3o_
Inerciais_v2023_1.pdf
ZURITA, Marcelo. Pêndulo de Foucault: o experimento que comprovou a rotação da
Terra há quase 2 séculos. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2023/05/02/ciencia-e-
espaco/pendulo-de-foucault-o-experimento-que-comprovou-a-rotacao-da-terra-ha-quase-
2-seculos/. Acesso em: 03 ago. 2023.

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