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Apesar de grande parte da nossa massa social tratar a arte do grafite como
uma ação transgressora, sem valor e, consequentemente, não considerar a/o
profissional do grafite um(a) artista, mas sim um fora da lei que “suja” os muros das
cidades com seus “rabiscos”, os autores deste trabalho consideram estes
transgressores(as) como artistas que procuram exercer suas habilidades para o
desenho, pesquisam e trocam informações de saberes com seus colegas de
grafitagem a respeito de técnicas, estilos, materiais, locais para exercerem a
transgressão. Os(as) grafiteiros(as) são artistas, estudam a arte formal ou
informalmente e agem cientes “do que é” e “para quem” estão produzindo seus
recados. No geral, esse se tornou um instrumento de protesto ou transgressão aos
valores estabelecidos, transformando lugares desocupados e esquecidos em espaços
de discussões, debates e reflexões (RAMOS, 2007).
Diante de tanta injustiça vivida nas periferias urbanas, surge nesses grupos a
necessidade de expressão política, social e emocional, neste caso, liberada por meio
do grafite. O prazer em se manifestar nas paredes pela arte da pintura pode ser
analisado como um jogo social de valores contrários aos impostos pela convenção
econômica-social da classe dominante. A ludicidade nesta prática permite que o
indivíduo faça parte de um determinado grupo rejeitado e subalternizado pela
comunidade social, liberando em seu raciocínio cognitivo o prazer em “quebrar” as
regras deste jogo social que criminaliza sua arte e o exclui. Desde seu nascimento, a
criança é mergulhada no contexto social e seus comportamentos ficam impregnados
por essa imersão inevitável. O jogo é o resultado de relações interindividuais, portanto
de cultura (BROUGÈRE, 2010).
1 De acordo com Tosi (2004) apesar de uma difícil e divergente definição, os Direitos Humanos podem ser
considerados uma história social escrita pelos acontecimentos de lutas, revoluções e movimentos socioculturais, é
um sistema humano forjado nas dimensões: éticas, políticas, jurídicas, econômicas, sociais, históricas, culturais e
educativas que compõem as relações humanas. Candau e Sacavino (2013) evidência a complexidade e a polissemia
da Educação em Direitos Humanos na atualidade, assumindo a perspectiva de formar sujeitos de direito, empoderar
os grupos socialmente mais vulneráveis e resgatar a memória histórica da luta pelos Direitos Humanos.
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DESENHANDO A METODOLOGIA
A Educação no cenário atual, como relata Adams (2015) é sustentada por uma
visão supra-cultural (monocultural) dos conteúdos, métodos, organização acadêmica e
padrões científicos. É difícil conceber saberes científicos que não foram instalados
pelos princípios ocidentais, nesta perspectiva o empoderamento e a luta vem com
forma de “atacar as condições ontológicas-existenciais e de classificação racial e de
gênero; incidir e intervir em, interromper, transgredir, desencaixar e transformá-las de
maneira que superem ou desfaçam as categorias identitárias” (WALSH apud ADAMS,
2015, p. 587).
G.1: “O grafite é a voz dos excluídos, nada mais é que isso... a voz dos
excluídos, o grafite muda a vida das pessoas, às vezes é um menino qualquer de rua,
quando ele tem contato com o grafite ele aprende a se valorizar mais, a se preservar
mais porque a gente cria um amor tão grande pelo grafite que a gente quer fazer aquilo
para sempre, então a gente tem que se cuidar para poder nos ver lá na frente”.
A.11: “O grafite me mostrou que eu não estava sozinho, que tinha mais gente
comigo, mais gente que gosta de rap de hip hop e me incentivou bastante, mostrou
também que o hip hop está ali, está no nosso cotidiano, no nosso dia a dia”.
REFERÊNCIAS
RAMOS, Celia M. A. Grafite & pichação: por uma nova epistemologia da cidade e da
arte. 16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes
Plásticas, ANPAP, Florianópolis, set. de 2007.
TOSI, Giuseppe (Org.). Direitos humanos: história, teoria e prática. João Pessoa:
Editora Universitária/UFPB, 2004.