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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
VALORES NA ESCOLA: UM DESAFIO DE INTERAÇÃO DIALÓGICA ENTRE
ESCOLA E VIDA

ZAVADNIAK, Izildine Izabel1


POYER, Carlos Nilton2

RESUMO: Este artigo propõe apresentar os resultados do Projeto de Intervenção Pedagógica do


Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE: “Valores na escola: Um Desafio de Interação
Dialógica entre Escola e Vida”. Aplicou-se a Unidade Didática, que é parte integrante do referido
projeto numa turma de 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Olavo Bilac, em Peabiru, Paraná,
perfazendo o total de 32 horas, tendo como objetivo proporcionar o conhecimento histórico e social
referente à diversidade étnico-racial, para que o professor estabeleça um canal de diálogo com os
educandos sobre a existência de estereótipos e/ou preconceitos existentes na comunidade escolar e
na sociedade. A Unidade Didática foi elaborada com atividades pedagógicas, de forma a estimular o
diálogo com pesquisas realizadas no Laboratório de Informática, buscando informações,
posicionamento, utilizando-se de Leis, Vídeos - Vista a Minha Pele, Xadrez das Cores, o Filme
Adivinhe quem vem para o Jantar e atividades teórico-práticas desenvolvidas dentro e fora da sala de
aula, expandindo dessa forma, o desenvolvimento crítico dos estudantes.

Palavras-chave: Valores. Preconceito. Diversidade.

1 INTRODUÇÃO

Ao ingressar no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE tinha a


convicção clara de como é importante repensar a prática em sala de aula, entrar em
contato com a produção acadêmica, rever conceitos e incorporar ações ativas e
efetivas que possibilitem o diálogo e assim, buscar elementos teóricos como suporte
de um novo olhar com atitude reflexiva diante de ideias preconceituosas e de
culturas diferentes.
Frequentemente, os estudantes adotam atitudes que reforçam a identidade
social, ora positiva, ora negativa de indivíduo, ou de grupo, impedindo relações de
convivência. Um exemplo é a ausência de tolerância quanto à etnia, ocasionando a
falta de respeito entre os colegas. Dessa forma, é importante que na comunidade

1
Graduada em Estudos Sociais(Fecilcam) / História (Unoeste) e Pedagogia (Fecilcam), Pós-
Graduação em Letras e Educação- Leitura e Produção de Texto (Unoeste) e Gestão e Organização
Escolar (Univale), izildine@gmail.com.
2
Orientador; Mestre em Filosofia pela Unioeste PR, Professor do Colegiado de História da Unespar-
Campus de Campo Mourão, cn.poyer@unespar.edu.br
escolar se trabalhe para identificar as barreiras e comportamentos que reforçam o
preconceito.
Deste modo a pergunta que norteará este estudo é: Diante de preconceitos,
como dialogar com a situação que nossos educandos têm com os ditos diferentes
em sua convivência e relacionamentos?
Considerando que o processo educativo é complexo e marcado por variáveis
pedagógicas e sociais, esse processo não pode ser analisado fora da interação
dialógica entre escola e vida, considerando o conhecimento, a cultura, os valores.
Mas porque temos que tratar de valores na escola? Esse questionamento se dá por
parte de pessoas das escolas. Numa visão crítica, linguagem e sociedade são
indissociáveis. É um processo dinâmico, pois não se trata de uma estrutura rígida, e,
portanto, pode ser transformado. Sendo assim, a escola apresenta-se como um dos
espaços em que essa transformação deveria ser não só possível, mas sinequa non.
Não se trata da preocupação ética com a formação do cidadão, mas de resolver
problemas objetivos, concretos (em realidade, talvez muitas vezes fantasiados, mas
que são considerados “objetivos” por parte dos professores). Assim, verificamos que
há um problema de convivência dentro da escola, que isso vale também para o
conjunto da sociedade. É evidente que existe uma crise de confiança nas relações
entre as pessoas: elas consideram as relações humanas cada vez mais violentas,
nas quais predominam insensibilidade e desconfiança. Nas palavras de La Taille
(2005, p. 8): “Então, penso que a preocupação com o “tema dos valores” – referindo-
nos aqui, claro, a alguns valores, porque, a rigor, tudo é valor – revela uma crise, um
mal-estar moral e ético”.

2 DESAFIO: VALORES E INTERAÇÃO DIALÓGICA NA ESCOLA

Parafraseando os professores Mario Sergio Cortella e Yves de La Taille, a


escola é o espaço privilegiado das crianças durante anos; é lá que elas crescem.
Não se pode supor que só se vai ensinar uma parte dos conhecimentos, deixando
de lado os valores, a moral e a ética.
Igualmente, as discussões e ações acerca deste tema constituem um
importante instrumento de fortalecimento da educação no âmbito da formação
pessoal e social, bem como desmistificar as ideias sobre diversidade, aprender a
olhar e contribuir para uma sociedade tolerante às diferenças, pois os valores de
uma pessoa não podem ser vistos e medidos pela sua cor, e sim, pelo caráter. O
desafio é refletir e buscar ações para as mudanças e intervenções necessárias no
contexto escolar, uma vez que a democratização da educação é considerada um
dos caminhos privilegiados para o reconhecimento e a valorização histórica da
população negra.
Desse modo, propõe-se fornecer subsídios que contribuirão para que
professores e educandos construam posturas práticas, pedagógicas e sociais
compreendendo que a escola é um espaço, um meio eficaz de diminuição e
exclusão do preconceito e deve trabalhar sob a perspectiva da diversidade na
educação de forma contextualizada.

3 ASPECTOS TEÓRICOS

Ao longo do processo histórico, a questão relacionada à “diferença” foi


tomando forma e materialidade e, assim, muitos grupos humanos passaram a ser
hostilizados e dominados por outros somente pelo fato de serem vistos como
“diferentes”. Por isso, compreender fenômenos como etnocentrismo, falar sobre
diversidade e diferença implica em posicionar-se com relação aos processos de
colonização, dominação e entender como esses fatos constituíram-se na vida dos
sujeitos sociais e no cotidiano da escola.
As Diretrizes Curriculares de Educação Básica do Estado do Paraná
postulam que:

A contextualização da língua é um elemento constitutivo da


contextualização sócio-histórica e, nessas diretrizes, vem marcada por uma
concepção teórica fundamentada em Mikhail Bakthin. Para ele, o contexto
sócio-histórico estrutura o interior do diálogo da corrente da comunicação
verbal entre os sujeitos históricos e os objetos do conhecimento. Trata-se
de um dialogismo que se articula à construção dos acontecimentos e das
estruturas sociais, construindo a linguagem de uma comunidade
historicamente situada. Nesse sentido, as ações dos sujeitos históricos
produzem linguagem que podem levar à compreensão dos confrontos entre
conceitos e valores de uma sociedade. (DCE 2008, p. 30)

Destarte, o cotidiano escolar possui uma multiplicidade de culturas,


identidades étnico-raciais, embates e conflitos em torno dos conhecimentos, das
habilidades e dos valores que se consideram relevantes de serem ensinados e
apreendidos. O trabalho pedagógico deve abarcar questões que valorizem a riqueza
da nossa diversidade étnico-racial.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), em seu artigo
primeiro, dispõe que: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às
outras com espírito de fraternidade”.
Os princípios presentes nesta declaração são assumidos pelos países
democráticos como referência de ética e de valores desejáveis pela sociedade, em
benefício de categorias historicamente vulneráveis (mulheres), negros (as), crianças,
povos indígenas, idosos (as), pessoas com deficiência, grupos étnicos, gays,
lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, entre outros (PROGRAMA ÉTICA E
CIDADANIA, 2007). Assim, necessário se faz trabalhar a respeito dos valores e
direitos presentes em várias normativas, inclusive nas instituições de ensino.
No Estatuto da Criança e do Adolescente, observam-se algumas diretrizes a
respeito de preconceitos, discriminação, assim como agressividades:

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais. Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente,
pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor. (Lei nº 8.069, De 13 de Julho de 1990- Art.5º
Tít.I; Art. 17-18 Cap.II)

Dessa forma, a violação de quaisquer desses direitos poderá contender


judicialmente, sendo muitas vezes necessário o acionamento de autoridades
competentes para a resolução de casos mais graves. Para tanto, espera-se que a
escola auxilie os alunos a lidar com suas emoções e com suas dificuldades, a
respeitar as diferenças, a aprender a conviver, a socializar, a se relacionar.
Para a seleção do conhecimento que é tratado na escola por meio dos
conteúdos das disciplinas concorrem tanto os fatores ditos externos, como aqueles
determinados pelo regime sócio-político, religião, família, trabalho quanto às
características sociais e culturais do público escolar. Além desses fatores, estão os
saberes acadêmicos, trazidos para os currículos escolares e neles tomando
diferentes formas e abordagens em função de suas permanências e transformações.
(DCE 2008, p. 19-20). Sendo assim, na concepção de Vigotsky, o professor
(educador) é o mediador e estará sempre incentivando os educandos a propor
questões, a defender pontos de vista, a apresentar contrapropostas, a se
posicionarem criticamente, em relação aos problemas sociais relacionados à
humanidade como um todo.
A educação traz os ideais da igualdade postulados em um discurso
pedagógico amparado no desejo democrático. Um documento de referência
preparatório da II Conferência Nacional da Educação (CONAE) traz como uma das
temáticas centrais a diferença e a diversidade como pilares para a educação
nacional.
Para que essa proposta se transforme em uma realidade, é necessário que
o princípio da igualdade ultrapasse a ordem do discurso e constitua-se em prática
dentro do ambiente educacional, no que diz respeito à diversidade que enriquece a
sociedade brasileira. Nesse sentido, é importante salientar que a violação de
qualquer direito poderá provocar ações judiciais.

4 VALORES NA ESCOLA: UM DESAFIO DE INTERAÇÃO DIALÓGICA ENTRE


ESCOLA E VIDA – DA APLICAÇÃO

4.1 Dos Sujeitos e seus Contextos

EDUCANDOS: O Projeto de Intervenção Pedagógica intitulado Valores na


Escola: Um desafio de Interação Dialógica entre Escola e Vida foi aplicado no 2º Ano
B do Ensino Médio, período Matutino do Colégio Estadual “Olavo Bilac” em Peabiru,
Estado do Paraná, no 2º Semestre de 2015. A turma escolhida para a aplicação era
composta de 18 educandos, sendo 10 do sexo masculino e 08 do sexo feminino,
com faixa etária de 16 anos de idade, de classe média baixa.
CONTEXTO: O Colégio Estadual “Olavo Bilac” está situado à Rua Dr. Didio
Boscardin Bello, nº 1255- Centro, em Peabiru-Paraná, sob a Direção das
Professoras Elaine Aparecida Simonelli Janguas e Any Franciely de Sousa Ferreira.
Possui 1113 educandos (Ensino Fundamental, Médio Regular, o Curso
profissionalizante Formação de Docentes e Língua Espanhola (CELEM). O Colégio
também desenvolve Projetos integrados ao Currículo como: Coral, Programa Mais
Educação, Esportes, desenvolvidos com o total apoio da Direção e Equipe
Pedagógica.
Na Semana Pedagógica foi apresentado o Projeto de Implementação
Pedagógica aos Professores, Direção e Equipe Pedagógica para que os mesmos
tomassem conhecimento sobre o nosso trabalho como Professor PDE.

4.2 Da Prática: Projeto de Intervenção Pedagógica com os Estudantes

1ª Atividade (1 Aula) Data: 06/07/2015


No início com os educandos foram lançadas (3) três questões para
levantamento do diagnóstico sobre preconceito (questionário inicial), seguido de
uma discussão sobre a temática do Projeto.
a) Em seu entendimento preconceito é ...? Você percebe algum tipo de
preconceito à sua volta?
b) O debate é considerado motivador das aulas?
c) Quando você vê um vídeo/filme, o que lhe chama a atenção? O
conteúdo, o social, o cultural? Quais aspectos você observa?
Os educandos responderam às questões de acordo com seu conhecimento
e vivência e que o debate é motivador, pois há uma interação ativa com o tema. E o
que mais lhes chamam a atenção é o conteúdo (assunto) seguido dos personagens,
lugares, cenas. Primeiramente podemos confirmar com as seguintes respostas
relacionadas à temática do Projeto:
Educando A: (Sic) a- “Preconceito é não aceitar homem como homem e
mulher com mulher. Acho que isso para as pessoas é o maior preconceito que
existe, mas eu não acho preconceito”. B- “Sim, motiva bastante, isso é bom para as
pessoas saber bem o que é isso”. C- “O assunto do filme, conteúdo”.
Educando B: (Sic) a- “Desnecessário. Sim, percebo preconceito à minha
volta. Pessoas que tem preconceito contra gays, lésbicas, ou pessoas que tem
preconceito contra negro, asiático”. B - Sim, é considerado motivador, pois o debate
é importante numa sala”. C - “Me chama atenção o conteúdo. Observo a história, o
tema, etc.”.
2ª Atividade (2 Aulas) Data: 20/07/2015
Apresentou-se o projeto e os seus objetivos para os estudantes, e estes,
interessaram-se muito pela temática. Expôs-se para eles sobre a importância na
participação das atividades propostas, sobre a metodologia, como serão avaliados e
os resultados. Em seguida, entregou-se algumas questões impressas sobre valores
e preconceitos para verificar a posição axiológica de cada um, bem como iniciar o
debate sobre o tema em questão.
Ainda nessa perspectiva, os alunos comentaram a respeito de estarem
estudando estes conceitos na disciplina de Filosofia, aproveitaram o ensejo para
dizer que os mesmos eram “polêmicos”. O início desse trabalho foi bom e, por meio
do diálogo os educandos mostraram-se interessados pela temática. A correlação da
Filosofia com as outras disciplinas do currículo pode ser compreendida como uma
prática de cidadania, uma vez que essa faz a reflexão da realidade histórica de
efetivação da liberdade e do pensamento, pois faz pensar sobre os problemas
éticos, estéticos, políticos, epistemológicos, em meio a tantos outros.
Em sua necessidade de pôr tudo à prova, inclusive a si mesma, a filosofia
questionará a linguagem, a lógica e a ciência, entre outras elaborações, construindo
posições em que busca melhor compreender os fenômenos humanos e naturais.

4.3 Discussão sobre os Valores

A sequência das atividades gerou discussão, reflexão e implicações sobre a


temática, estimulando assim, o pensamento crítico dos educandos. Além disso,
buscou-se o estímulo à pesquisa, à informação, a conhecimentos, a
posicionamentos e a troca de experiências, utilizando textos, atividades orais e
escritas e a Internet com atividades teórico-práticas, conforme as que seguem
abaixo:
3ª Atividade (3 Aulas) Data: 23/07/2015
Apresentação e leitura dos Artigos 5, 17 e 18 do Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA.
“Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais. Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade
física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e
objetos pessoais. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (Lei nº 8.069, De 13 de Julho de 1990-
Art.5º Tít.I; Art. 17-18 Cap.II)”.
Desenvolveu-se discussão e questionamento quanto ao vocabulário para o
entendimento da Lei. Em seguida, o momento foi de pesquisa sobre a temática (no
Laboratório de Informática) sobre a Lei. Após, os educandos elaboraram um texto
escrito:
As alunas A, B e C: Para crescer em um ambiente seguro, a criança
necessita de cuidados e orientações de forma sadia e equilibrada. Uma conquista
relevante para proteção que assegura o cumprimento dos direitos das crianças e
dos adolescentes.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, preconiza que tanto a criança
quanto o adolescente são as prioridades. Tanto o Estado quanto a família são os
responsáveis em proteger e fazer com que a lei se cumpra. No mesmo sentido, o
ECA diz que as experiências vivenciadas durante a infância e adolescência, sejam
elas positivas ou não, serão refletidas na personalidade do adulto.
A Constituição Federal de 1988 reconhece as crianças e os adolescentes
como indivíduos de direitos e que devem ser respeitados pela sociedade.
Quem descumprir o Artigo 249 poderá cumprir multa de três a vinte salários
de referência aplicando-se o dobro em caso de reincidências. Já o Artigo 243, diz
que “Quem vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar bebida alcoólica para
menores de 18 anos, pode pegar pena de 2 a 4 anos, e multa se o fato não constituir
crimes mais graves”.
Apesar das dificuldades de interpretação e não conhecimento das Leis, os
educandos mostraram-se surpresos com os conteúdos das mesmas. Sendo assim,
os objetivos propostos foram atingidos plenamente.
4ª Atividade – 4 Aulas - 2 aulas em horário normal e 2 em contra turno,
no mesmo dia). Data: 27/07/2015
No dia 27/07/2015, a aula teve início com a abordagem da Lei nº 10.639 de
9 de Janeiro de 2003 e a Lei nº 11.645, de 10 de Março de 2008 no Data Show para
a leitura e, posteriormente, realizou-se as discussões sobre as mesmas. Após as
discussões, os educandos foram reunidos em grupo de 04 e novamente fizeram os
debates a respeito das leis em questão. Em seguida, registraram por escrito os
resultados nos respectivos cadernos, conforme transcrição abaixo:
Grasiele, Letícia, Valéria: “Nós entendemos que essa Lei foi feita para incluir
nas Escolas Públicas e privadas do Ensino Médio e Fundamental o estudo da
História e Cultura Afro-Brasileiro, esse estudo serve para tentar diminuir também a
prática do racismo”.
Algumas sugestões foram explicitadas pelos educandos referentes a colocar
cartazes no Colégio, a exibir filmes e diálogos com todas as turmas sobre o tema em
questão. Sugeriram também, que todas as turmas participassem da elaboração de
peças teatrais que abordassem o referido tema, com a participação dos professores.
Estes ficariam responsáveis em promover palestras, elaborar projetos, confeccionar
cartazes, fazer dramatizações, incentivar atividades com diversas ações etc.,
abordando a cultura afro-brasileira, por exemplo.
A maioria dos educandos disse que deveriam ter estudado mais sobre o
preconceito, mesmo tendo visto o conteúdo na disciplina de Filosofia, pois
perceberam que há uma íntima relação entre a filosofia e a história. Para entender
uma dessas disciplinas, necessariamente é preciso conhecer a outra. Isso é
apontado nas Diretrizes Curriculares de Filosofia:
A partir das disciplinas, as relações interdisciplinares se estabelecem
quando:
̶ conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são chamados à
discussão e auxiliam a compreensão de um recorte de conteúdo qualquer
de outra disciplina;
̶ ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se nos quadros
conceituais de outras disciplinas referenciais teóricos que possibilitem
uma abordagem mais abrangente desse objeto.
No ensino dos conteúdos escolares, as relações interdisciplinares
evidenciam, por um lado, as limitações e as insuficiências das disciplinas em suas
abordagens isoladas e individuais e, por outro, as especificidades próprias de cada
disciplina para a compreensão de um objeto qualquer. Desse modo, explicita-se que
as disciplinas escolares não são herméticas, fechadas em si, mas, a partir de suas
especialidades chamam umas às outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos
conteúdos de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática
pedagógica que leve em conta as dimensões científica, filosófica e artística do
conhecimento. (Diretrizes Curriculares de Filosofia – SEED).
5ª Atividade – (3 Aulas) Data: 03/08/2015
Na sequência das aulas, expôs-se para eles a respeito da Lei nº 10.639 e na
sequência a assistência de 2 vídeos, a seguir:
̶ Vídeo: “Formação de Pais e Alunos- Lei 10.639/03” com a Professora
Maria Auxiliadora, disponível no Portal da Educação. Após, novas
discussões sobre a Lei.
̶ Vídeo-Mesa Redonda: “Dez anos da Lei nº 10.639/03 disponível no Portal
da Educação- Educadores. Dialogamos sobre a não aplicação da Lei em
sala de aula por outras disciplinas do Currículo, e da importância de se
trabalhar os conteúdos de Diversidade: Étnico-racial e Sexual etc. Essa
atividade teve a duração de 2 aulas e assim, o painel proposto como
atividade final foi feito em contra turno.
Por meio dessa atividade, percebeu-se que a apresentação do tema, seja
em documentários ou vídeos, a atenção e o interesse do aluno ficam mais
aguçados. Isto ficou bem claro no relatório do aluno (representando a classe), como
mostra o trecho seguir:
Educando A: “Na aula de hoje assistimos os 2 Vídeos sobre a Lei 10.639/03.
Foi muito interessante e os educandos participaram com bastante atenção na
conversa (mesa redonda). No debate conhecemos claramente sobre a Lei e sua
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas
públicas e particulares, desde o ensino fundamental até o ensino médio”.
6ª Atividade- (3 Aulas) Data: 10/08/2015
Nesta data propiciou-se o momento de pesquisa no Laboratório de
Informática a respeito de Preconceito e Diversidade Étnico-racial, seguida de
atividades, as quais tiveram duração de aproximadamente uma aula e meia. Alguns
educandos pesquisaram sobre diferentes tipos de preconceito: sexual, religioso,
linguístico, além do racial. Em seguida retornou-se à sala de aula e os educandos
foram organizados em grupo de 2. Como atividade final, a escritura de um texto a
respeito da temática. A partir daí, desencadeou-se diversas discussões sobre os
temas, como se vê a seguir:
Educanda A: “Nunca ouvi falar a respeito de preconceito religioso”. Sugeri
(como tarefa de casa) que, poderiam pesquisar mais a respeito dessa temática e
apresentar os comentários na próxima aula.
Educanda B: “Vi uma chamada na televisão que dizia que uma moça fez
uma festa de aniversário e seria comemorado numa casa (de balada). Uma amiga
da aniversariante foi impedida de entrar, mesmo apresentando o convite da festa.
Mais tarde, descobriram o motivo: a moça era gorda. Falando com o segurança que
disse ter ordem para deixar somente gente magra, bonita e bem vestida”. Esse fato
comentado pela educanda acima citada chocou os educandos e percebi que o
posicionamento deles a respeito de qualquer tipo de preconceito é sempre pela
justiça dos fatos. Isso se comprova na fala a seguir:
Grupo de Educandos: “O dono da casa e o segurança deveriam ser presos
por preconceito”.
7ª Atividade – (3 aulas) DATA: 17/08/2015
Nesta data, foram três (03) aulas, sendo que uma delas em contra turno.
Logo no início da primeira aula, os educandos já estavam distribuídos em grupos, o
que facilitou o início das atividades. Em seguida, ressaltou-se a importância para
que todos participassem com muito interesse na continuidade das atividades do
projeto.
Após rápida explanação sobre o documentário “Vista Minha Pele”, que
aborda uma reflexão muito importante a respeito do preconceito da cor da pele.
Trata-se de uma paródia brasileira. Nessa história invertida, na qual os negros são a
classe dominante e os brancos foram escravizados. Assistiram ao vídeo com
interesse e atenção. Em alguns trechos do vídeo, alguns educandos comentaram:
“Nossa” “Eu não faria assim”. Em contrapartida um educando (não consegui
identificar) disse: “Bem feito para ela, quem mandou querer ser rainha” (em relação
ao personagem Maria). Nesse momento percebi que temos educandos bem
preconceituosos, mesmo não querendo admitir. Após o vídeo, entreguei a eles uma
folha com 3 perguntas impressas:
1 – Porque o nome do documentário?
2 – Qual o problema identificado no documentário?
3 – Em sua opinião, o que pode ser feito para mudar esta realidade?
Em contra turno os educandos retornaram com as questões respondidas e
novamente debatemos sobre o tema. Percebi que alguns ainda tem receio de
colocar o que realmente pensam a respeito da temática, como vemos na seguinte
resposta:
Educando 1:
1. “Porque ele mostra uma troca de papeis entre as pessoas negras e
brancas”.
2. “O problema é a discriminação pela cor da pele”.
8ª Atividade (2 aulas) DATA: 20/08/2015
Nesta aula iniciou-se a atividade com o vídeo “Xadrez das Cores” (audacioso
e provocante, este filme narra a história da convivência entre uma mulher branca e
outra negra). Procedeu-se o relato sobre o vídeo e em seguida iniciou-se
apresentação. Após a assistência ao vídeo, solicitou-se que respondessem por
escrito as questões:
a) Qual o contexto social e histórico específico apresentado?
b) É uma das responsabilidades da escola levar os alunos a assumirem
uma postura ética e responsável diante da diversidade cultural e étnica.
Após a sessão do filme, debateu-se os pontos mais relevantes.
c) Para estimular ainda mais a exposição de ideias, os educandos
posicionaram-se frente aos pontos mais polêmicos, relacionando-os com
situações já vivenciadas e/ou que conhecem sobre discriminação. Eis o
relato:
Educanda A:
a) “A classe que mostra é a média e a baixa, o documentário mostra críticas
contra o racismo.
b) “É dever da escola ensinar uma postura ética e ser uma pessoa
responsável aos alunos.
Alguns educandos comentaram que já ouviram muitos falarem que há
preconceito na escola, mais que não tinham visto preconceito na escola ou em
outros lugares, que só viram na TV em filmes e ouviram falar. Nesse momento,
ocorreu-se a lembrança do educando que disse “Bem feito para ela, quem mandou
querer ser rainha” – quando estávamos assistindo o vídeo” Vista minha pele”.
Após comentário sobre o vídeo, os educandos fizeram auto avaliação (para
registrar o avanço da turma em relação à temática). Observou-se que nos excertos a
discussão em relação ao preconceito étnico-racial teve um avanço significativo,
como mostra a seguir:
Educando B: “Eu nunca tive preconceito racial, mesmo antes do projeto e
sempre achei ignorância, mas depois do projeto e até o momento eu estou achando
o racismo um absurdo. Acho que o projeto me ajudou a conhecer um pouco mais o
racismo e a aprender a combatê-lo”.

4.4 Resultados

No decorrer de toda a implementação houve compromisso e assiduidade


com relação às atividades propostas, obtendo resultados positivos. A seguir, relata-
se a última atividade do Projeto de Intervenção Pedagógica.
Filme- Adivinhe quem vem para o Jantar. Atividade 9 (06 Aulas) Data:
24/08/2015 (02 Aulas)
Antes de assistir o filme, os educandos foram encaminhados ao Laboratório
de Informática da escola para: a) Fazer uma contextualização histórica de 1968
objetivando que os alunos identificassem o gênero para poder analisar as ideias
contidas no filme. b) Após, pesquisaram sobre os acontecimentos (fatos históricos)
relativos à data acima citada. c) Na sequência, debate sobre a pesquisa, exposição
pelos alunos no grande grupo e d) A produção de um texto no qual constatou-se a
importância desta data, com um trecho do texto de pesquisa da aluna, a seguir:
Educanda A: O ano de 1968 é lembrado como um conjunto complexo de
movimentos de mobilização e contestação social, época de rebeliões estudantis na
França, da luta armada na América Latina, da Guerra de Libertação do Vietnã, da
Contracultura na Europa, questionando os valores instituídos e pregando a
expressão libertária. Organização e radicalização da luta pelos direitos civis, por
importantes setores da comunidade negra e estadunidense, que desvelaram diante
dos olhos do mundo a hipocrisia da pretensa democracia social e política
estadunidense, sob a exigência plena do capitalismo.
Ao assistirem o filme, os educandos mostraram-se interessados e muito
comprometidos com as atividades propostas. Dessa forma, acredita-se que
conseguiram perceber a revelação de valores e crenças das pessoas daquela
época. Assim, o filme propiciou a oportunidade de entenderem sobre a cidadania.
Para melhor entendimento segue um trecho de um texto:
Educando A:” O filme Adivinha quem vem para o Jantar apresenta vários
preconceitos. Um dos primeiros é quando John chega na casa de sua namorada e a
empregada conhece ele, mesmo ela sendo da mesma cor da pele dele, ele sentiu
muito preconceito ao conhecê-lo. Outro preconceito muito evidente também é
quando John conhece os pais de Joana e também quando os pais de John
conhecem Joana. Além do preconceito étnico racial, o filme trata sobre a proibição
do casamento, que antigamente era muito evidente. Devemos conscientizar as
pessoas que ainda tem preconceito, mostrar que não existe diferença entre as
pessoas, que devemos tratar todos iguais”.
31/08/2015 (2 aulas)
Estas aulas foram destinadas à leitura dos textos no grande grupo, bem
como os educandos colocaram a sua opinião a respeito do Projeto, da sua
contribuição para a uma aprendizagem ativa e participativa e da construção da
cidadania, como vemos no comentário do aluno, a seguir:
Educando A: “Eu achei que foi muito importante, pois conhecemos mais
sobre o racismo e nos conscientizou mais, porque isso é uma coisa muito séria. Eu
achei muito interessante pois o preconceito é muito frequente também na escola,
mesmo que as pessoas achem que é brincadeira. O projeto foi muito bom porque
aprendemos a tratar as pessoas com mais dignidade e respeito”.
Na sequência, fizeram pequenas dramatizações relacionadas à temática do
filme. Atividade final do Projeto: Nesta data, durante o período matutino (5 aulas)
foi feito um Mural no pátio do Colégio, para que os educandos apresentassem as
atividades desenvolvidas durante o Projeto (produções textuais, pesquisas, painel,
fotos.

5 CONCLUSÃO

Dado o exposto sobre O Projeto de Intervenção Pedagógica e sua


implementação, conclui-se que os resultados foram positivos (professor como
mediador do conhecimento e aluno autônomo), pois no seu decorrer houve interação
e motivação entre os educandos e entre professor e educandos na realização das
atividades propostas relativas ao tema. Portanto, na interação, os alunos
demonstraram interesse na pesquisa e nas discussões relativas à temática com
autonomia na busca do conhecimento, do conteúdo. Isso trouxe uma relevante
reflexão sobre a discriminação e o preconceito existente, promovendo educandos
atualizados, expandindo assim a capacidade de compreensão do tema, bem como a
capacidade crítica, interpretativa e cognitiva. Os educandos buscaram o estudo
sobre os valores culturais, sobre a história e compreenderam que a sala de aula é o
espaço para a reflexão e o desenvolvimento crítico, enquanto cidadãos em busca de
um mundo mais justo, igualitário, respeitando os direitos civis, políticos e sociais de
todos.

6 REFERÊNCIAS

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. Disponível em:


<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 25 abr. 2014.

BRASIL. Lei 10.639/2003 - Presidência da República. Disponível em:


<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 25 abr. 2014.

CONAE: II Conferência Nacional da Educação: Disponível em:


<http://goo.gl/zop4>. Acesso em: 08 abr. 2014.

CORTELLA, M.S.; LA TAILLE, Y. de. Nos labirintos da moral. Campinas: Papirus,


2005.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada


pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de
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PARANÁ. SEED. História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as


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VYGOTSKY, L. S. e LÚRIA, A. R. Estudos sobre a história do comportamento: O


macaco, o primitivo e a criança. Porto Alegre: Artmed, 1996.

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