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Atividades Lúdicas e Experimentação -

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CONHECENDO A QUÍMICA: HISTÓRIA, EXPERIMENTOS E


MOTIVAÇÃO
Beatriz Derisso Faitanini1* (FM); Paulo Sergio Bretones2 (PQ).
1UniversidadeFederal de São Carlos (UFSCAR); Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH)
São Carlos, SP, Brasil; *biaderisso@hotmail.com

2Universidade
Federal de São Carlos (UFSCAR); Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH)
Departamento de Metodologia da Educação (DME); São Carlos, SP, Brasil; bretones@ufscar.br

Palavras-Chave: motivação, ensino de química, experimentos de química.

RESUMO: Esse trabalho teve como objetivo entender como a realização de experimentos
demonstrativos, em atividades pontuais de divulgação científica, pode influenciar na motivação
dos alunos para o estudo da Química. A pesquisa foi realizada apresentando um panorama das
áreas de estudo da Química por meio da evolução histórica da área e respectiva demonstração de
experimentos para alunos de escolas públicas de São Carlos-SP, visando despertar o interesse
dos alunos e motivá-los para o estudo da Química. Os dados evidenciam que o projeto foi efetivo
tanto na aprendizagem de conceitos quanto no aumento da motivação dos alunos, porém ainda é
importante a continuidade de pesquisas sobre a motivação para o estudo da Química,
principalmente para compreender como a realização de experimentos demonstrativos pode
influenciar na mudança de perfil motivacional.

INTRODUÇÂO
Podemos ver, atualmente, que as Ciências Básicas (Física, Química, Biologia e
Matemática) são carreiras que não despertam muito interesse nos alunos, e, para
confirmar esse fato, podemos apresentar algumas possíveis razões: a educação muitas
vezes não é prioridade para o Estado, bem como a valorização do professor, o
desenvolvimento científico não é um tema recorrente no cotidiano da população e
principalmente, a maneira como essas Ciências são abordadas nas escolas contribui
para a perpetuação de concepções distorcidas destas, pois os conteúdos são
abordados de forma totalmente teórica – entediante para a maioria dos alunos – como
algo que devemos apenas memorizar, e sem aplicações na vida cotidiana.
Uma maneira de transformar a imagem dessas Ciências, e principalmente da
Química, é a utilização de formas alternativas de ensino, com o intuito de despertar o
interesse pela importância do desenvolvimento de uma visão crítica do mundo que nos
cerca.

Cabe assinalar que o entendimento das razões e objetivos que justificam e


motivam o ensino desta disciplina, poderá ser alcançado abandonando-se as
aulas baseadas na simples memorização de nomes e fórmulas, tornando-as
vinculadas aos conhecimentos e conceitos do dia-a-dia do alunado.
(CARDOSO; COLINVAUX, 2000, p.402)

A motivação é ponto fundamental na aprendizagem escolar, e está ligada


diretamente a fatores contextuais e as características dos próprios estudantes.
Descrevendo a aprendizagem como uma mudança de comportamento que acontece de
maneira intencional, devemos considerar que sua ocorrência depende de uma
“situação estimuladora”, que leva o indivíduo a emitir um comportamento em relação
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àquela situação. Assim, a motivação é essencial para a manifestação de um


comportamento e, como a mudança sistemática de um comportamento é condição
fundamental para o aprendizado, a motivação é considerada fundamental para a
aprendizagem (CORRÊA, 2009).
Analisando a complexidade do contexto escolar, não é possível apontar apenas
um fator como responsável pelos problemas de aprendizagem, mas se pensarmos no
ensino de Química, podemos apontar a falta de motivação como principal fator. A
realização de atividades práticas, mesmo que demonstrativas, é um importante fator na
motivação do aprendizado de Química, pois pode se tornar uma ferramenta bastante
eficaz no processo de compreensão dos fenômenos e na sua relação com os conceitos
científicos envolvidos.

[...] a experimentação deve assegurar, em particular, a formação de cidadãos


capazes de participar plenamente nas decisões inerentes a uma sociedade
tecnologicamente avançada, criar futuros especialistas e estimular o
desenvolvimento intelectual e moral de todos os cidadãos. (THOMAZ, 2000,
p.365)

De acordo com Appel-Silva, Wendt e Argimon (2010), são chamadas de


atividades experimentais demonstrativas aquelas onde o professor apresenta
fenômenos simples, a partir dos quais ele poderá introduzir os aspectos teóricos
relacionados ao que foi observado. A introdução de atividades demonstrativas nas
palestras de divulgação científica pode proporcionar uma maior interação dos alunos
com o palestrante e facilitar a compreensão dos fenômenos. Esse tipo de atividade
também permite ao apresentador levantar questões que gerem conflitos, levando à
formulação de hipóteses por parte dos alunos, o que garante um processo de
aprendizagem mais significativo.
Essa aproximação da Química com a realidade do aluno através da
experimentação pode proporcionar um ensino contextualizado tornando a
aprendizagem mais eficaz e prazerosa, pois a torna presente no cotidiano do aluno,
dando uma real importância para o estudo do mesmo. Para que o processo de
divulgação científica seja significativo para o aluno é essencial que haja interação entre
o divulgador e o aluno, por isso essas atividades devem se aproximar de uma interação
dialógico-problematizadora, havendo assim, uma aproximação entre os interlocutores
envolvidos.

QUESTÃO DE PESQUISA E OBJETIVOS

A partir da discussão apresentada podemos perceber a influência da motivação


na aprendizagem de conceitos. Quando analisamos o ensino de Química, que é o foco
de interesse desse trabalho, a influência da motivação também deve ser considerada,
já que os problemas referentes à aprendizagem de conceitos são notórios também
nessa disciplina (CORRÊA, 2009). Assim, com base nesse contexto, foi realizada uma
pesquisa no âmbito do ensino de Química, buscando compreender a influência da
realização de atividades experimentais demonstrativas na motivação dos alunos do
Ensino Médio; para isso tornou-se necessária a elaboração de uma questão de
pesquisa:
A experimentação demonstrativa pode contribuir para o aumento da motivação
dos alunos para o estudo da Química?

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Para responder essa questão foi realizado um estudo com o objetivo de


entender como a realização de experimentos demonstrativos, em atividades pontuais
de divulgação científica, pode influenciar na motivação dos alunos para o estudo da
Química.

METODOLOGIA

A investigação desse trabalho consistiu em uma pesquisa experimental


predominantemente qualitativa, pois o interesse da pesquisadora ao estudar o
problema era verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas
interações cotidianas (LÜDKE; ANDRÉ, 2012). Segundo Soares e Fazenda (1992) a
pesquisa experimental classifica-se como uma pesquisa de intervenção, pois o
pesquisador busca modificar a realidade estudada, para isto constrói previamente um
plano de pesquisa e o aplica aos grupos de estudo, coletando dados a respeito das
possíveis mudanças obtidas. Uma característica importante da pesquisa experimental é
a utilização de pré-teste e pós-teste como instrumento de obtenção de dados, esses
testes podem ser através de questionários, sondagens coletivas ou individuais, diário
de campo, registros visuais ou audiovisuais ou produções dos sujeitos investigados
(textos, registros orais, maquetes ou painéis).
O trabalho foi realizado com alunos de escolas públicas do município de São
Carlos, sendo apenas alunos matriculados no 1º ano do Ensino Médio. Das cinco
escolas selecionadas, uma está localizada na região central da cidade, duas em bairros
mais antigos e tradicionais e as outras duas em regiões periféricas e mais pobres da
cidade. Uma das escolas localizada nos bairros tem ensino de período integral, todas
as outras possuem ensino médio regular. A escolha pelo 1º ano do Ensino do Médio
deveu-se ao fato de os alunos dessa série não terem tido nenhum contato com a
experimentação durante os anos anteriores.
O método de coleta de dados utilizado foi o questionário que, segundo Gil
(2014) pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número
mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por
objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas,
situações vivenciadas etc”.
Para desenvolvimento da pesquisa foram aplicados dois questionários, cada
um deles composto por duas questões abertas; o primeiro questionário (Q1) foi
aplicado antes da apresentação, e o segundo questionário (Q2) logo após o término.
As questões abertas permitem que o aluno responda livremente, usando linguagem
própria para emitir suas opiniões, sendo muito úteis, porque deixam os alunos mais à
vontade para responder, têm menos influência nos participantes do que as perguntas
com alternativas previamente estabelecidas, apresentam comentários, esclarecimentos
e explicações significativas (LAKATOS; MARCONI, 1991). Os questionários pré e pós-
testes apresentam a mesma estrutura, diferenciando-se apenas na abordagem das
questões.
Inicialmente foi feito um contato com a Diretoria de Ensino de São Carlos, para
saber quais escolas poderiam participar do projeto; a responsável pela área de Ensino
de Química ficou encarregada de enviar uma circular para todas as escolas de Ensino
Médio da cidade informando sobre a oportunidade de realização do projeto, bem como
as informações necessárias para que cada escola entrasse em contato com a
pesquisadora. Das 15 escolas de Ensino Médio que receberam a circular apenas 5

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entraram em contato para o agendamento das apresentações. Iniciou-se a coleta de


dados a partir do contato com a direção das escolas interessadas, apresentando-se o
tema e os objetivos do estudo, procedimento necessário para que a direção
autorizasse a realização da pesquisa. Assim que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética iniciou-se a coleta de dados, que foi realizada no período de 16 de agosto a 16
de novembro de 2015 com 675 alunos do 1º ano do Ensino Médio.
O projeto constou de uma apresentação com duração de aproximadamente
1h30min, utilizando recursos como data show e experimentos demonstrativos. A
apresentação utilizou a História da Química como eixo cronológico, juntamente com a
apresentação dos experimentos demonstrativos, suas explicações e relações com o
cotidiano dos alunos.
Foram realizados cinco experimentos demonstrativos:
• destilação,
• precipitação,
• condutividade elétrica,
• teste de chama
• verificação de pH.
O primeiro experimento foi uma destilação simples do vinho, com o objetivo de
mostrar a separação do álcool presente no vinho e como funciona um aparelho
destilador; o segundo experimento foi a reação entre iodeto de potássio e nitrato de
chumbo, produzindo um precipitado amarelo de iodeto de chumbo, com o objetivo de
mostrar aos alunos como é ocorrência de uma reação química e quais os indícios
dessa ocorrência; o terceiro experimento foi o teste de condutividade elétrica de
soluções aquosas, testou-se a condutividade do sal de cozinha e do açúcar sólidos
inicialmente, depois testou-se a condutividade deles em solução aquosa, e por fim
testou-se a condutividade do suco de limão e do vinagre, o objetivo era mostrar a
relação entre a presença de íons livres em uma solução e sua condutividade elétrica; o
quarto experimento foi o teste de chama, utilizou-se sulfato de cobre, sal de cozinha,
sulfato de bário, nitrato de potássio, carbonato de cálcio e sulfato de cádmio, o objetivo
deste experimento era mostrar a relação entre as diferentes cores presentes nos fogos
de artifício e o modelo atômico de Bohr; o quinto e último experimento foi a verificação
de pH, utilizou-se uma solução de fenolftaleína para testar o pH de diferentes
substâncias, como shampoo, sabão em pó, limão e vinagre, com o objetivo de mostrar
o comportamento de indicadores frente à soluções ácidas e básicas, a classificação
das substâncias e a presença de informações relacionadas ao pH em frascos de
shampoo e produtos de limpeza.
No início da apresentação o questionário (Q1) foi entregue aos alunos havendo
uma breve explicação do objetivo da pesquisa, a finalidade da aplicação do
questionário e as características de cada questão, houve também a orientação para
que as respostas fossem pessoais e que era necessário o preenchimento do nome e
da série de cada aluno, ressaltando que a identidade de cada um seria preservada. Os
alunos tiveram um tempo médio de 5 minutos para responder as duas questões, assim
que terminaram os questionários foram recolhidos e a apresentação foi iniciada.
Após a apresentação foi entregue o segundo questionário (Q2), onde
novamente os alunos tiveram 5 minutos para responder as duas questões; a finalidade
da aplicação de dois questionários é a comparação das respostas antes e depois da
apresentação.

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Após a coleta de dados, as respostas foram analisadas e separadas conforme


sua frequência. Para a análise dos questionários optou-se por utilizar a Análise de
Conteúdo (AC), que consiste em um conjunto de informações e orientações por meio
de descrições sistemáticas e objetivas (qualitativas e quantitativas) que ajudam a
interpretar o conteúdo das mensagens e atingir a compreensão dos seus significados:
a abordagem quantitativa baseia-se na aparição de determinados elementos da
mensagem e a qualitativa recorre a elementos não frequentes, suscetíveis de permitir
inferências (BARDIN, 2009). Os dados obtidos a partir dos questionários foram
analisados utilizando o Microsoft Excel para a construção de tabelas para a
apresentação dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na seção anterior apresentamos a questão de pesquisa e a metodologia


utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, nesta seção os dados coletados serão
apresentados e analisados. Para a análise, foram consideradas as informações obtidas
através das respostas dos alunos aos questionários aplicados.
A primeira tabela mostra a quantidade total de alunos presentes em cada
escola no dia da apresentação e a quantidade de alunos, por escola, que respondeu
cada uma das questões dos dois questionários.

Tabela 1: Número de alunos e quantidade de questionários respondidos


Número Respostas Respostas Respostas Respostas
Escolas (1º ano) total (Q1) (Q1) (Q2) (Q2)
de alunos 1ª questão 2ª questão 1ª questão 2ª questão
Marivaldo Degan 56 45 48 41 40
Maria Ramos 76 74 71 47 47
Conde do Pinhal 60 57 56 55 55
Juliano Neto 263 231 218 205 198
Orlando Perez 220 200 194 186 180
TOTAL 675 607 587 534 520

Inicialmente podemos ver uma boa participação dos alunos em responder os


questionários - mesmo havendo uma diminuição do número de alunos que
responderam o segundo questionário - isso se deve ao fato de alguns alunos se
retirarem da sala assim que a apresentação terminava. Os alunos possuíam essa
liberdade, já que não houve imposição para que respondessem os questionários. Essa
participação nos mostra que os alunos se interessaram pela atividade, principalmente
por ser um momento diferente do vivido cotidianamente em sala de aula. Atividades
diferenciadas, que fogem do modelo cotidiano, normalmente motivam os estudantes,
pois aproximam o aluno do conteúdo que está sendo aprendido.

No âmbito da educação escolar existe uma diversidade de proposições


pedagógicas e atividades que poderiam contribuir, por exemplo, para o
estabelecimento de vínculos entre os estudantes e o objeto de estudo: projetos
de investigação, excursões exploratórias, trabalhos em grupo, jogos didático-
pedagógicos, pesquisas na internet e em bibliotecas, dentre outras atividades,
nas quais os estudantes possam sentir-se estimulados a escolher temáticas,

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apresentar e debater opiniões divergentes e a propor possíveis caminhos para


a resolução de problemas de investigação. (PESSOA; ALVES, 2011, p.3)

Na segunda tabela podemos ver as respostas que aparecem com mais


frequência para a primeira questão do primeiro questionário (Q1). A primeira questão
pedia para os alunos explicarem com suas palavras o que é Química, e a resposta que
mais apareceu diz que Química é o estudo das substâncias. As tabelas 2 e 3 mostram
uma comparação entre a frequência de aparecimento de cada resposta, pois foi
observada a presença de mais uma resposta para uma mesma questão; por exemplo,
em um dos questionários um aluno explica que a química estuda as experiências e
estuda a Tabela Periódica.

Tabela 2: Respostas mais frequentes para a primeira questão do primeiro questionário (Q1)
1ª Questão: Explique com suas palavras o que é Química.
Respostas Frequência Frequência (%)
Estudo das substâncias 214 35,26
Estuda as experiências 211 34,76
Transformações físicas e químicas 210 34,60
Estudo das reações químicas 90 14,83
Estuda os elementos químicos 57 9,39
Estudo dos materiais 41 6,75
Química é química! 33 5,44
Estudo da matéria 27 4,45
Tabela Periódica 25 4,12
Não sei 23 3,79
Explicação de fenômenos 19 3,13
Estuda a densidade 16 2,64

Na terceira tabela podemos observar a frequência das respostas para a


segunda questão do primeiro questionário (Q1). A questão pedia para citar alguns
fatores que evidenciassem a ocorrência de uma reação química, e a resposta mais
frequente foi a mudança de cor.
Tabela 3: Respostas mais frequentes para a segunda questão do primeiro questionário (Q1)
2º Questão: Cite alguns fatores que indicam a ocorrência de reação química.
Respostas Frequência Frequência (%)
Mudança de cor 227 38,67
Maçã podre/papel queimado 225 38,33
Formação de gases 111 18,91
Formação de precipitado 110 18,74
Mudança de cheiro/textura 110 18,74
Mudança de estado físico da água 55 9,37
Dissolução do suco em pó na água 53 9,03
Efervescência do sal de frutas na água 50 8,52
Mistura de substâncias 49 8,35
Mudança de gosto 45 7,67
Reação química 27 4,60
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Ovo cozido 22 3,75


Não sei 16 2,73

A quarta tabela mostra a frequência de respostas para a primeira questão do


segundo questionário (Q2). O questionário (Q2) foi distribuído aos alunos após a
apresentação. Nessa questão foi solicitado aos alunos que citassem pelo menos um
objetivo do estudo da Química, os alunos citaram com mais frequência o estudo da
transformação da matéria.

Tabela 4: Respostas mais frequentes para a primeira questão do segundo questionário (Q2)
1ª Questão: Qual o objetivo do estudo da Química enquanto área do
conhecimento?
Respostas Frequência Frequência (%)
Estudo da transformação da matéria 222 41,57
Conhecer novos elementos 151 28,28
Descobrir mais experimentos 96 17,98
Estudo da ciência 79 14,79
Estudo das reações químicas 46 8,61
Estudo dos experimentos 39 7,30
Estudar a mistura das substâncias 36 6,74
Separar as substâncias 25 4,68
Melhorar o futuro 19 3,56
Aprender sobre os átomos 16 3,00
Formação da matéria 11 2,06

A partir desses dados podemos destacar o conhecimento adquirido durante a


apresentação, apesar das questões estarem formuladas de maneira diferentes, as
respostas deveriam convergir para o mesmo ponto, dizendo qual a essência da
Química, possibilitando a comparação entre as respostas antes e depois da
apresentação.
Questão 1:
Questionário (Q1): Explique com suas palavras o que é Química.
Questionário (Q2): Qual o objetivo de estudo da Química enquanto área do
conhecimento?
Aluno 3
Questionário (Q1): “O estudo de componentes que geram reações químicas”
Questionário (Q2): “Estudar a matéria e suas transformações”
Aluno 4
Questionário (Q1): “Química é uma ciência que fazem experimentos que acaba
mudando o mundo”
Questionário (Q2): “A química estuda a matéria e as transformações dos materiais”
Aluno 5
Questionário (Q1): “Não sei”
Questionário (Q2): “A química tem como objetivo estudar a matéria e suas
transformações”
Aluno 6

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Questionário (Q1): “Que faz várias coisas, como fazer vários experimentos e
pesquisas”
Questionário (Q2): “A química estuda a matéria e as transformações dos materiais”
Aluno 7
Questionário (Q1): “Química é uma matéria da escola”
Questionário (Q2): “A química é uma ciência que vai estudar as massas e ver se na
matéria ocorre transformação química ou se permanece igual”
Pode-se perceber nessas falas que a apresentação e os experimentos, mesmo
que demonstrativos, têm um papel muito importante no processo de ensino-
aprendizagem, visto que os alunos conseguiram extrair e assimilar algumas
características importantes da fala da pesquisadora durante a apresentação,
principalmente a respeito do experimento de precipitação, onde a pesquisadora falou
diversas vezes sobre a transformação química ocorrida ao se misturar as substâncias.
Na maioria das respostas onde é possível observar uma evolução no conceito que os
alunos têm da Química, eles saem praticamente “do zero” e conseguem formular uma
resposta simples, mas com clareza e objetividade sobre o que é a Química, como
podemos observar principalmente na fala do Aluno 6.
Observando as Tabelas 2 e 4 podemos perceber essa evolução no conceito,
pois a resposta mais frequente para a questão “Explique com suas palavras o que é
Química” é “Estudo das substâncias”, com uma frequência de praticamente 35%, e a
resposta que mais apareceu para a questão “Qual o objetivo do estudo da Química
enquanto área do conhecimento” foi “Estudo da transformação da matéria”, com uma
frequência de quase 42%. Podemos identificar aqui que a divulgação científica possui
também função educativa, pois contribui para a compreensão não somente das
atividades científicas e suas aplicações no cotidiano, mas também da aprendizagem
sobre conhecimentos gerais. Sabemos que o aprendizado é um processo gradual que
acontece ao longo do tempo, mediante o acúmulo de conceitos, habilidades e
experiências, por isso, ainda que o que um aluno observa ou vivencia em uma
atividade de divulgação científica o fascine, isto pode não ser imediatamente
compreensível para ele; posteriormente, no entanto, quando ele recebe, na escola,
uma explicação sobre aquele fenômeno, o seu aprendizado torna-se mais fácil e
menos abstrato (ALBAGLI, 1996).

Esses resultados corroboram com os estudos de Ribeiro e Kawamura (2006),


sobre a importância da divulgação científica em espaços formais, dessa forma,
acredita-se que trabalhar com divulgação cientifica no Ensino de Química
facilita o contato, a aquisição de conhecimentos e de práticas científicas,
divulga a ciência sem repetir as fórmulas utilizadas na escola e motiva a
apropriação do conhecimento. Além disso, permite a contextualização do
conhecimento, procurando desenvolver conceitos relacionados à
transformação química e suas implicações sociais. (GOMES et al., 2011, p.11)

A quinta e última tabela mostra as respostas para a segunda questão do


segundo questionário (Q2). Pediu-se aos alunos que escolhessem, dentre os
experimentos apresentados, o que mais haviam gostado e fizessem uma breve
explicação de como ele ocorreu. O experimento que mais chamou a atenção dos
alunos foi o teste de chama.

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Tabela 5: Respostas mais frequentes para a segunda questão do segundo questionário (Q2)
2ª Questão: Dos experimentos observados hoje, escolha um deles e explique
como ocorreu.
Respostas Frequência Frequência (%)
Teste de chama 125 24,04
Condutividade elétrica 113 21,73
Precipitação 112 21,54
pH 103 19,81
Destilação 75 14,42

Um ponto que chamou muito a atenção foi a clareza da resposta de uma


questão; já havia sido perguntado aos alunos (escola Maria Ramos, 1ºB) se eles
haviam aprendido os modelos atômicos, todos responderam que não, e após a
apresentação um aluno respondeu a seguinte questão:
Questão: Dos experimentos observados hoje escolha um deles e explique como
ocorreu.
Aluno 8: “Fogos de artifício, quando é fornecido calor para os elétrons eles absorvem e
muda de camada mas logo volta para a original e devolve o calor que lhe foi dado em
forma de luz de diferentes cores”
Durante a apresentação do experimento do Salto de Bohr, a pesquisadora
explicou o que acontece com os elétrons e relacionou esse experimento com as
diferentes cores presentes nos fogos de artifício; o aluno respondeu essa questão após
a apresentação, o que mostra que esse conceito foi aprendido naquele momento. O
que se espera ao final da apresentação não é somente a quantidade do que foi
aprendido sobre a atividade, mas sim a qualidade das interações humanas
estabelecidas; essas interações se dão por meio das falas dos sujeitos envolvidos e
podem indicar como o aprendizado ocorreu durante a atividade (MARANDINO, 2008).
Um dos objetivos do projeto era aumentar a motivação dos alunos em relação
à Química, apresentando uma maneira alternativa de ensinar, de modo a despertar o
interesse e a importância dessa ciência presente no currículo escolar. Podemos ver
algumas falas que mostram que, mesmo de maneira superficial, esse interesse se fez
presente após a apresentação.
Aluno 1: “Vi as cores mudando, e eu amei”.
Aluno 2: “Gostei do experimento de mudança de cor, me deu vontade de entender a
química, pesquisar e aprender mais um pouco sobre a mudança de cor”.
Como mencionado acima, há diversas atividades que podem contribuir na
motivação dos alunos, vimos aqui que os experimentos demonstrativos e a saída da
sala de aula, contribuíram para o aumento dessa motivação. O modelo de ensino que
estamos habituados não contribui muito para despertar a vontade de aprender nos
alunos, para isso acontecer devemos sempre que possível lançar mão de metodologias
e atividades diferenciadas, para que o aprendizado não caia na mesmice.

A existência de uma “prática comprovando a teoria” e a facilidade de


assimilação dos conteúdos também os motiva. Em contrapartida, alguns alunos
consideram a disciplina desinteressante ou sem utilidade em sua vida
cotidiana. A forma como a matéria é apresentada e a dificuldade em sua

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assimilação desestimulam e contribuem para a falta de motivação.


(CARDOSO; COLINVAUX, 2000, p.403)

Descrevendo a aprendizagem como uma mudança de comportamento que


acontece de maneira intencional, devemos considerar que sua ocorrência depende de
uma “situação estimuladora”, que leva o indivíduo a emitir um comportamento em
relação àquela situação. Assim, a motivação é essencial para a manifestação de um
comportamento e, como a mudança sistemática de um comportamento é condição
fundamental para o aprendizado, a motivação é considerada fundamental para a
aprendizagem (CORRÊA, 2009).
Ao analisar o papel da experimentação na construção do conhecimento
científico e sua relevância no processo de ensino-aprendizagem, Giordan (1999)
observou que a experimentação desperta um forte interesse entre os alunos, que
atribuem a esta um caráter motivador, lúdico e essencialmente vinculado aos sentidos,
contribuindo assim para uma melhora na motivação pela aprendizagem dos
conhecimentos das aulas de Química.

CONCLUSÕES

Podemos afirmar que os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante a


apresentação podem ser utilizados no processo de ensino-aprendizagem para que eles
mesmos possam estruturar novos conceitos. A aplicação dos questionários pré e pós-
apresentação pode nos auxiliar na investigação de conceitos desenvolvidos durante a
atividade; verificou-se, no questionário (Q1), que as respostas dos alunos foram pouco
elaboradas e apresentavam respostas inadequadas, porém, no questionário (Q2), foi
observado uma maior clareza de conceitos científicos e abordados de forma
cientificamente correta.
Observamos também que muitos questionários não apresentaram a explicação
do experimento solicitado, sobre essa ausência de explicação podemos dizer que é
devida ao fato de os alunos não estarem acostumados a argumentarem suas respostas
ou pensamentos manifestados, o desenvolvimento da argumentação válida não surge
naturalmente, ao contrário, é adquirida pela prática, apontando assim a necessidade de
se desenvolver a argumentação nas salas de aula (GOUVÊA et al., 2012).
Concluímos que a realização desse projeto foi efetiva tanto na aprendizagem
de conceitos quanto no aumento da motivação dos alunos. Os resultados obtidos
também mostram que as palestras têm contribuído significativamente para a
popularização da ciência e que a metodologia de condução das palestras aponta para
um caminho de possibilidades de melhoria do ensino de Ciências.
Atividades experimentais demonstrativas-investigativas introduzidas nas
palestras de divulgação científica podem colaborar para uma maior participação e
interação dos alunos entre si e com os palestrantes, bem como para melhorar a
compreensão sobre a relação teoria-fenômeno por parte dos alunos. Além disso, este
tipo de atividade permite ao apresentador o levantamento de concepções prévias dos
alunos, a formulação de questões que gerem conflitos cognitivos, a formulação de
hipóteses etc.
Como podemos observar em todo processo educativo, é muito difícil uma
atividade atingir todos os participantes, todavia, foi possível verificar a partir dos
resultados que o alcance desse projeto foi significativo. Levando em consideração as
dificuldades e o pouco tempo para o desenvolvimento e estudo da proposta, fica aqui a
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sugestão de utilizá-la em pesquisas futuras e o convite para que outros, a partir da


leitura desse material, tenham novas ideias e sensibilizem-se em pensar uma
educação mais motivadora para os alunos.

CONSIDERAÇÕES

Fazendo uma análise geral de todos os resultados obtidos, pode-se dizer que
foram satisfatórios, os questionários mostraram que muitos alunos aprenderam alguns
conceitos discutidos durante a apresentação e mostraram um interesse, mesmo que
ainda pequeno, por saber mais sobre a Química.
Levando em conta aquilo que observamos atualmente dentro das escolas de
educação básica, onde pouco ou nada é feito para motivar o interesse e a curiosidade
dos alunos, acreditamos que tal trabalho pode contribuir de maneira eficaz para a
contextualização dos conteúdos, e essa contextualização possibilitará aos alunos
estabelecerem uma relação lógica com o cotidiano, desconstruindo conceitos
enraizados por práticas pedagógicas não tão adequadas, aumentando a motivação
necessária para o aprendizado.
Além disso, essas iniciativas poderiam contribuir para um contato mais estreito
e significativo entre as comunidades científica e escolar, como o ocorrido por iniciativa
desta pesquisa que foi certamente produtivo para ambas as partes. Outros
desdobramentos são difíceis de prever, mas possíveis de se criar.

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