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Servidor Público tem direito à anulação do PAD quando

ele durar mais do que o determinado em Lei?

Vida de servidor público que responde a Processo Administrativo Disciplinar


não é fácil. Tudo bem se o servidor realmente cometeu irregularidade que deve
ser punida. O estresse de passar pelo processo, bem como a punição, ao seu
final é mais do que justificadas.

É uma consequência natural (ou deveria ser) para aqueles que cometem
irregularidades no serviço público. Contudo, infelizmente, temos recebido
muitos casos de servidores honestos e dedicados que acabam sendo
vítimas de PAD’s, com a única e exclusiva finalidade de perseguição. E isso
não é correto!

O servidor que responde PAD por perseguição fica ansioso, pelo receio de uma
possível demissão, passa a ser visto com maus olhos por colegas de repartição,
tem que participar de reuniões tensas com a comissão que processa o PAD.
Muitos acabam adoecendo ou desenvolvendo problemas físicos e
psicológicos graves.

Em vista de todo esse contexto, tem outro fator que piora ainda mais a
situação do servidor: o excesso de prazo do PAD. Prolonga-se o PAD como
uma espécie de punição ainda maior para o servidor perseguido. Daí surge
uma questão: se houver excesso de prazo em um PAD, ele pode ser anulado?

Quando ocorre excesso de prazo em um PAD?


Todo PAD tem um prazo para ser finalizado. Ou seja, tem começo, meio e fim
determinados por Lei. A Administração Pública não pode, com a desculpa de
que a investigação é complexa ou não há recursos suficientes para o
processamento do PAD, prorrogar indefinitivamente o processo.

O excesso de prazo ocorre justamente quando o PAD ultrapassa o


limite legalmente estabelecido para o seu processamento.

O prazo legal para conclusão de um PAD, definido no Estatuto do Servidor


Público Federal, é de até 60 dias, prazo que pode ser prorrogável por
igual período, caso haja justificativa. Assim, quando as circunstâncias
exigirem, a critério da autoridade que instaurou o PAD, o PAD poderá ser
prorrogado.

Então é possível que, legalmente, o PAD possa se arrastar por até 120
dias.

Lembrando que esse prazo deve ser contato a partir do ato que constitui a
comissão, e não do primeiro ato da comissão. Por exemplo, se o primeiro ato
da comissão instaurada for uma reunião para analisar documentos e ocorra no
dia 20 do mês, mas a comissão foi instaurada por portaria no primeiro dia do
mês: o prazo começa a ser contado do primeiro dia, não do dia 20. Assim,
mesmo que a comissão constituída por uma portaria demorar para se reunir e
iniciar os trabalhos, o prazo continua correndo normalmente.

Mas cuidado: a justiça não tem anulado PAD em virtude


de excesso de prazo
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem entendimento de que excesso de
prazo não é por si só, motivo para anular um PAD. Ou seja, se o
servidor público responde por um PAD que ultrapassou o prazo de 60 dias
(mais os 60 de prorrogação), ele não pode pedir na justiça a anulação do
mesmo apenas por este motivo.

Mas, além do excesso de prazo, o que mais é preciso para pedir a anulação do
PAD?

Para o STJ, para anular um PAD é preciso que o servidor prove que o excesso
de prazo cause efetivo prejuízo à sua defesa. Há uma decisão desta corte
(MS 16.554, de 2014) que traz um caso insólito.

Um servidor foi afastado do cargo por manter conduta incompatível com a


moralidade administrativa, desrespeitar normas legais, regulamentos e tirar
proveito pessoal da função que ele exercia. Neste caso, o PAD foi prorrogado
por 10 vezes, e ainda assim não foi anulado por excesso de prazo, como queria
o servidor numa ação que ajuizou na Justiça.

Como não houve nenhum prejuízo para sua defesa, mesmo ele estando
afastado do cargo, o STJ entendeu que o excesso de prazo não justificaria a
nulidade do PAD.

Na prática, o que isso significa a posição do STJ?


Que para anular o PAD, o servidor tem que mostrar que houve alguma
situação, além do excesso de prazo, que traga prejuízo à sua defesa no PAD.

Podemos pensar em alguns exemplos comuns que levam à nulidade de


PAD’s na Justiça:

 Prescrição do Direito de punir o servidor (veja mais abaixo o que isso


significa);
 incompetência da autoridade administrativa que instaurou o PAD;
 incompetência da comissão formada para processar o PAD;
 não é dado ao servidor a oportunidade de ser pessoalmente ouvido no
processo;
 quando o servidor não tem acesso aos autos do processo;
 o acusado não tem a oportunidade de apresentar defesa no processo;

A prescrição, neste caso, é uma limitação ao Poder da Administração Pública


de punir servidores que cometam irregularidades. É uma limitação temporal,
ou seja, determina um prazo para que a Administração Pública puna o
servidor.
Segundo o art. 142, da Lei 8.112/1990 (Estatuto do Servidor Público Federal),
a prescrição ocorrerá em:

 5 anos (para punição de demissão, cassação de aposentadoria ou


disponibilidade e destituição de cargo comissionado);
 2 anos (para punição de suspensão); e
 180 dias (para punição de advertência).

Conclusão
Na verdade, existem vários motivos para anular um PAD, e falaremos deles
com maiores detalhes em outra oportunidade. O importante aqui é saber que o
simples excesso de prazo não é motivo para anulação de um PAD.

O que até certo ponto é justificável, pois o objetivo deste tipo de processo é
apurar irregularidades no serviço público e punir os responsáveis. E isso
muitas vezes pode levar tempo. O que não se justifica é a Administração usar o
tempo para prejudicar a defesa do servidor no processo, violando seus direitos
ao contraditório e à ampla defesa.

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