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Três Rios, RJ
2021
KARYNE TOMÉ DO CARMO
Três Rios, RJ
novembro de 2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UFRRJ – ITR / BIBLIOTECA
Adoção por casais homoafetivos.
Carmo, Karyne Tomé / Karyne Tomé do Carmo – 2021.
55 f.
Orientadora: Ludmilla Elyseu Rocha
1. Direito Civil – Monografia. 2. Direito de Família – Monografia. 3.
Adoção por casais homoafetivos - Monografia.
Monografia (Graduação em Direito). Instituto Três Rios,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
_______________________________ ______________________________
Assinatura Data
KARYNE TOMÉ DO CARMO
Aprovado em:
Banca Examinadora:
O que teria sido de mim sem alguém ao meu lado para me apoiar, para me incentivar
e até mesmo me alertar, sem Deus e sem os meus pais, que sempre me amaram,
apoiaram e auxiliaram nos momentos precisos, sem meus familiares, afilhados,
minhas companheiras de república, que fiz no início da graduação, antes da vida
independente.
Diletos amigos de toda a vida e também aqueles que me acolheram durante todos
esses anos de faculdade morando em outra cidade, me fazendo me sentir em casa.
Sem vocês esta conquista teria sido muito mais difícil!
Neste momento de tanta emoção em minha jornada acadêmica, sinto júbilo por ter
convivido com todos aqueles que me proporcionaram os primeiros contatos
profissionais com o Direito, no Cartório da Segunda Vara, no Cartório da Dívida Ativa,
no PROGER, no Cartório do 1º Ofício e no Cartório RCPN, todos na cidade de Três
Rios/RJ, que tão bem me acolheu. À Chefia, Coordenação, Doutores, Mestres e
Funcionários que fizeram do seu trabalho um ato de amizade, auxílio e dedicação.
À caríssima colega desta profissão que ora mergulho, que foi incansável no auxílio
para a conclusão deste trabalho: a Pós-graduada Kleusa Ribeiro Barbosa.
Por último, mas não menos importante, a minha Orientadora Professora Doutora
Ludmilla Elyseu Rocha, pela disponibilidade, empenho, sororidade, entre outras
qualidades de excelência que me faltam palavras para mensurar e aos componentes
da Banca Examinadora: Professora Doutora Marcela Siqueira Miguens e Mestre Jorge
Baptista Canavez Junior, por aceitarem o convite. Cheguei até aqui porque tive vocês
que acreditaram nos meus sonhos.
Gratidão.
Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.
Isaac Newton
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo central analisar a adoção por casal homoafetivo à
luz dos valores constitucionais, em razão das dificuldades encontradas por essas
pessoas para a efetivação do exercício da homoparentalidade por meio da adoção,
bem como tendo em vista que não há proibição no ordenamento jurídico. Desse modo,
examina-se a disciplina vigente a respeito da adoção e da plena proteção de crianças
e adolescente, bem como a vedação constitucional à discriminação em razão da
orientação sexual. Seguindo este parâmetro, o objetivo principal é o aprofundamento
do caso em questão, para que seja reafirmado que a grande questão é que as crianças
e adolescentes a serem adotados pelos casais, tenham suas necessidades supridas,
sejam elas: Emocionais, financeiras, entre tantas, evidenciando que não há prejuízos
no desenvolvimento da personalidade dos envolvidos. Por meio de pesquisa
bibliográfica e documental, a presente monografia tem como mira a concretização do
direito dos casais homoafetivos de adotarem crianças e adolescentes de modo a
exercerem a homo parentalidade de forma plena e sem discriminações.
The main objective of this research is to analyze the adoption by a same-sex couple
in the light of constitutional values, due to the difficulties encountered by these people
in carrying out the exercise of homoparenting through adoption, as well as bearing in
mind that there is no prohibition in the legal system. Thus, the current discipline
regarding the adoption and full protection of children and adolescents is examined, as
well as the constitutional prohibition against discrimination based on sexual orientation.
In this line, we seek to deepen the study of adoption by a homosexual couple in order
to meet the affective, emotional and financial needs of the child or adolescent, without
harming the development of their personality. Through bibliographic and documentary
research, the present monograph aims at realizing the right of same-sex couples to
adopt children and adolescents in order to exercise homoparenting fully and without
discrimination.
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 50
9
INTRODUÇÃO
A partir desse cenário, o problema central que guia o presente trabalho reside
na seguinte indagação: Os casais homoafetivos enfrentam maiores dificuldades para
a adoção de crianças e adolescentes mesmo diante da inexistência de vedação legal?
Diante dessa questão, o presente trabalho objetiva compreender as razões dos
obstáculos enfrentados por pessoas homossexuais para adoção mesmo não havendo
proibição legal no ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, busca-se analisar de
que maneiras são exercidos os papeis parentais pelos adotantes, no sentido de suprir
as necessidades afetivas, emocionais, financeiras da criança, e averiguar os motivos
das dificuldades encontradas por estes casais para adoção.
Será abordado o conceito de família, fazendo uma análise das mudanças desse
conceito em relação à adoção e seu processo, o que são pessoas LGBTQI e entre
outros fatores. Para isso será feita uma breve análise histórica, bem como faz
entender o que é uma família hétero e homoafetiva. Além disso, aborda os princípios
jurídicos garantidores desse instituto. Assim como os projetos de lei que tramitam
atualmente sobre a adoção dos casais homoafetivos, bem como o que diz o
entendimento doutrinário e o entendimento jurisprudencial do ordenamento brasileiro.
Sendo assim, não se deve definir vínculos afetivos baseados na biologia e não
levar em consideração toda a problemática que envolve os sentimentos e a
capacidade humana de interagir no meio social. Levando muitas pessoas a se
questionarem por que sendo seres dotados de amor, educação, entre outras
qualidades essenciais a formação de uma família saudável, não seriam capazes de
tornar filhos os que descendem biologicamente de outras pessoas, apenas pelo fato
12
Fica cada vez mais explícito que apesar das pessoas LGBTQI terem
conquistado muitos direitos, ainda enfrentam obstáculos maiores do que as pessoas
que seguem uma vida heteroafetiva. Apesar de já existir fundamentação favorável,
ainda há uma boa parte da sociedade que é contrária a esta formação familiar por
pessoas LGBTQI.
Logo, este trabalho vem explicar a adoção de crianças por casais homoafetivos,
a partir de uma visão jurídica, histórica e social, bem como seus desdobramentos na
sociedade brasileira.
13
Deste modo a família deve ser considerada o pilas social, tendo o Estado como
protetor especial sendo o afeto a figura externa de sua existência perdendo assim
suas funções tradicionais, assim como: procriação, economia, religião e política. As
1 LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 40.
2 PERROT, Michele. O nó e o ninho, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por
casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 40.
3 PETTERLE, Selma Rodrigues. O direito fundamental à identidade genética da Constituição
Brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012, p. 104.
4 LOBÔ, Paulo Luiz Netto. A família enquanto estrutura de afeto. In: BASTOS, Eliene Ferreira; DIAS,
Maria Berenice. A família além dos mitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2012, p. 17.
14
que antes não se via, as funções destas se resumiam basicamente aos serviços de
casa e cuidados com a família, tomando cada vez mais voz e posicionamento, é o que
vemos na Lei: 11,340 de 07 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha.
A lei Maria da Penha é de suma importância por dar voz processual às mulheres
vítimas de violência doméstica e ainda demonstrou uma contribuição relevante para
um retrato mais realista das famílias brasileiras.6
Vê-se que a família do século XXI passa por mudanças em muitos aspectos,
como nas relações de intimidade, caracterizadas principalmente pelos afetos e buscas
da independência dos seus membros com base na construção subjetiva individual.
Tem-se entendido que não apenas o modelo tradicional familiar é o que deve
ser seguido, mas fatores como o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, Princípio
da Liberdade, Princípio da Igualdade, Princípio da Solidariedade e da Afetividade.
6
LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 20.
7 BRASIL. Planalto. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em: 24 fev.
2021.
16
8 MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.
9 DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e os direitos LGBT. 1ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 2014, p. 57.
10
LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 20.
11 Id. Ibidem.
12 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p. 57.
17
O que mais uma vez afirma o poder que a liberdade que o indivíduo obtém
através deste princípio relacionado ao campo afeito.
O indivíduo tem o direito que suas ações ou omissões não sejam impedidas
pelo Estado. Qualquer restrição a liberdade deve ser prevista em lei e deve apresentar
razões relevantes e constitucionais, tendo o objetivo de proteger direitos coletivos e
de terceiro.16
15 TARTUCE, Flávio, SIMÃO, José Fernando. Direito civil – direito de família. V. 5. 10ª ed. São Paulo:
Forense, 2015, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos.
1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 30.
16 DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e os direitos LGBT. 1 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 29.
19
Existem campanhas com fulcro na conscientização, mas não pode ser usado nenhum
fator que obrigue ou oprima.
Segundo o Ministro Luis Roberto Barroso: “o que vale a vida são os nossos
afetos. A vida boa é feita dos nossos afetos, dos prazeres e da busca pela felicidade.
Qualquer maneira de amor vale a pena e ninguém, nessa vida, deve ser diminuído em
razão dos afetos”.17
Segundo Barroso,
O que deixa compreendido que, uma vez que o poder familiar é formado, só a
morte ou perda deste poder, pode- se perder a afetividade, pois esta não está baseada
no amor e suas definições, mas firmado nas garantias legais e jurisprudenciais.
17 BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas. Rio de Janeiro:
Renovar, 2001, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos.
1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 35.
18 Id. Ibidem, p. 71.
20
Para Paulo Lôbo, o direito brasileiro não utiliza apenas um modelo de família,
no que concerne aos que a integram e o grau de parentesco. Neste sentido o autor
destaca a nuclear que é formada por pai, mãe e filhos, modelo predominante na
atualidade.20
[...] as (i) famílias reconstituídas, que são aquelas que são formadas por
casais que trazem filhos do primeiro casamento; (ii) famílias monoparentais,
que são famílias decorrentes de divórcio ou separações, onde um dos pais
assume o cuidado dos filhos e o outro não é ativo na parentalidade, ou ainda,
são famílias onde um dos pais é viúvo ou solteiro; (iii) famílias de uniões
consensuais, onde casais que optam em morar juntos, sem formalizar a união
ou ainda, casais que preferem morar em casas separadas, estes são
principalmente os divorciados, separados ou viúvos, que desta forma
procuram evitar conflitos existentes nas famílias reconstituídas; (iv) famílias
formada por casais sem filhos por opção, são os indivíduos que priorizam sua
vontade de satisfação pessoal, ex. desenvolvimento na carreira profissional;
(v) famílias unipessoais, denominação atual para aquelas pessoas que optam
por ter um espaço físico individual, onde não precisam necessariamente fazer
trocas emocionais vindas de um convívio compartilhado; (iv) família por
associação, que são compostas por amigos que forma uma rede de
parentesco baseada na amizade.21
20 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: família. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 112.
21 PORTES, Lorena; PORTES, Melissa; ROCHA, Marco Antonio da. A família contemporânea, p. 21-
24. In: DEPEN – Departamento Penitenciário da Secretaria da Segurança e Administração
Penitenciária. Disponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/A_familia_contemporanea.
pdf>. Acesso em: 25 fev. 2021.
22 LÔBO, Paulo Luiz Netto. A família enquanto estrutura de afeto. In: BASTOS, Eliene Ferreira; DIAS,
Maria Berenice. A família além dos mitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2012, p. 97.
22
23 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 22ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 21.
23
24 MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Homoparentalidade e superação de preconceitos. In: Rev. Jurídica
Consulex, n. 123, 01 jul. 2010, p. 30, apud CRISTO, Isabela. Adoção por casais homoafetivos e
o melhor interesse da criança. Publicado em: 10 jun. 2015. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melh
or+interesse+da+crian%C3%A7a>. Acesso em: 20 abr. 2021.
25 VARELLA, Drauzio apud CRISTO, Isabela. Adoção por casais homoafetivos e o melhor
interesse da criança. Publicado em: 10 jun. 2015. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/
1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melhor+interesse+da+crian%C3%
A7a>. Acesso em: 20 abr. 2021.
24
A legislação não deve visar diferença afetiva ao julgar casos como estes, pois
não estaria sendo justo com o poder que está em suas mãos. Como já exposto, deve-
perspectiva psicanalítica. In: Adoção: um direito de todos e todas. Cartilha do Conselho Federal de
Psicologia (CFP). Brasília: CFP, 2008, p. 33. Disponível em:
<https://www.crpsp.org/impresso/view/214>. Acesso em: 10 abr. 2021.
29 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 5ª ed. São Paulo: RT, 2011,
p. 100.
26
Ao ser avaliado, um lar adotivo formado por casal homossexual, deve ser
realizada visando os mesmos princípios que seriam usados em caso de casais
heterossexuais. O principal objetivo são as condições que os futuros pais irão
oferecer, visando sempre o bem estar do adotando.
Sendo assim, os direitos e deveres são os mesmos, para quem pleiteia uma
adoção, não devendo haver negatória baseada em orientação sexual, e sim no bem
estar de quem ganhará uma nova família.
A Lei 6.015/73 dos Registros Públicos, formaliza exigências, que não impedem
registro de duas pessoas de sexo idêntico. O ECA, em sua letra diz:
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será
inscrita no registro civil, mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o
nome de seus ascendentes.30
O preconceito sexual não pode ser usado de forma alguma pelo estado
Democrático e o Notariado em relação as uniões homossexuais. Deve haver o mesmo
tratamento designado a pessoas heterossexuais, bom trato, eficiência, clareza, uso
fiel da legislação e vontade das partes.
Enézio de Deus usa como exemplo, a adoção de Theodora, adotada por Vasco
e Dorival:
filiação real, de modo a garantir não somente o direito dos adotantes de serem
pais/mães, mas, especialmente, dos adotados de serem filhos de duas
pessoas que os acolheram através do amor.31
31 DEUS, Enézio de. A certidão de nascimento na adoção por casal homossexual. Publicado em:
21 jan. 2010. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/577/A+certid%C3%A3o++de+
nascimento+na+ado%C3%A7%C3%A3o+por+casal+homossexual+>. Acesso em: 19 abr. 2021.
29
Segundo Gagliciano,
Hoje, a Adoção é guiada à luz de sua própria lei, esta qual é resultado dos
vários anos de profunda evolução experimentada pela junção do conjunto
filiação adotiva, justiça e dignidade constitucional, mesclados à evolução do
próprio direito de família brasileiro.32
32 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. As famílias em perspectiva constitucional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 663.
33 DARÓS, Lindomar Expedito Silva. Adoção judicial de filh@s por casais homossexuais: a
heteronormatividade em questão. Tese de Doutorado em Educação. Rio de Janeiro: UERJ, 2016.
Disponível em: <http://ppfh.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Tese-NORMALIZADA-1.pdf>.
Acesso em: 20 abr. 2021.
30
A adoção, não garante sozinha que haverá amor entre pais e filhos, o que nem
mesmo a paternidade biológica garante.
34 SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. Biblioteca Básica do Serviço Social. 3ª ed.
São Paulo: Cortez, 2009, p. 230.
31
Aponta Arnoldo Wald que “a adoção é um ato que judicialmente, cria relações
de filiação entre duas pessoas, ou seja, uma pessoa passa a gozar do estado de filho
de outras pessoas, independentemente do vínculo biológico”.37
35 PACHECO, A. P.; MAIA, C. R.; SILVA, L.E. Práticas sexuais: do saudável ao patológico. In: LOPES,
D.; BENTO, B.; ABOUD, S.; GARCIA, W. Imagem & diversidade sexual: estudos da homocultura.
São Paulo: Nojosa Edições, p. 391-397, apud DARÓS, Lindomar Expedito Silva. Adoção judicial
de filh@s por casais homossexuais: a heteronormatividade em questão. Tese de Doutorado em
Educação. Rio de Janeiro: UERJ, 2016. Disponível em: <http://ppfh.com.br/wp-
content/uploads/2018/05/Tese-NORMALIZADA-1.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2021.
36 BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
37 WALD, Arnoldo. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 10ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009, p. 31.
32
o adotado, que podia ser pessoa maior ou menor entre 18 e 21 anos, mas tal
posicionamento de filho não era definitivo ou irrevogável.38
38 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 22ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 97.
39 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Coleção Direito Civil, V. 5. São Paulo:
Atlas, 2015, p. 106.
40 SANTOS, Cibele Carneiro da Cunha Macedo. A licença maternidade no caso de adoção após o
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.277. In: Revista Síntese, n. 76, fev./mar.
2013, p. 42.
33
conforme dispõe o art. 1621, do Código Civil, que veio a reformular a previsão do
Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo 45.41
A adoção no Brasil era rara antes do Código Civil de 1916, sendo disciplinado
este instituto apenas nos artigos 368 a 378. Com o objetivo de demonstrar a
intenção de incentivar a prática da adoção, em 08 de maio de 1957, a Lei
3.133 modifica-se os artigos 368, 369, 372, 374 e 377 do Código Civil. No
artigo 368 ficou estabelecido que somente os maiores de 30 anos poderiam
adotar, e que ninguém poderia adotar sendo casado senão decorridos 5 anos
após o casamento. O artigo 369 determina que o adotante deveria ser pelo
menos 16 anos mais velho que o adotado, e não mais 18 anos como
determinava no Código Civil de 1916 em sua redação primitiva. No artigo 372
a mudança se deu no sentido que não poderia adotante sem o consentimento
do adotado ou do seu representante legal quando incapaz ou nascituro. No
Código Civil de 1916 o artigo 374 apresentava duas hipóteses em que
dissolvia o vínculo da adoção. Com a nova Lei de 1957, não mais era
dissolvido o vínculo da adoção quando o adotado cometesse ingratidão ao
adotado e sim na hipótese de quando era admitida a deserdação. E, por fim,
a alteração no artigo 377 estabelecia que quando o adotante tiver filhos
legítimos, legitimados ou reconhecidos, a relação de adoção não envolve a
de sucessão hereditária. Tais modificações representaram um passo para
atualização do instituto, mesmo sendo consideradas pequenas.42
A adoção é mantida com as disposições que alteram o código civil (Lei 3.133)
para facilitá-la. Introduziram-se não obstante pequenas alterações. Exigiu-se,
por exemplo, para sua validade, a homologação judicial, com vistas a maior
segurança e para lhe dar cunho mais solene. Por exigência técnica,
distinguiu-se, da renovação, a dissolução do vínculo. Determinou- se que seja
41 ESPÍNDOLA, Maria Lucia de Paula. Entrevista concedida pela Juíza da 2ª Vara da Infância e da
Juventude à Renata do Rocio Alves Zanetti. Curitiba, 29 mar. 2012, p. 67.
42 WEBER, Lidia. Pais e filhos por adoção no Brasil: características, expectativas e sentimentos.
Curitiba: Juruá, 2001, p. 88.
34
43 GOMES, Orlando. Memória justificativa do anteprojeto de reforma do código civil, 1963, apud
BOCHINA, Simone Franzoni. Da adoção: categorias, paradigmas e práticas do direito de família.
Curitiba: Juruá, 2010, p. 38.
44 BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
45 Idem.
35
sejam os pais biológicos, com o objetivo de proporcionar filiação a quem não tem seu
próprio sangue. Porém, por se tratar de um ato jurídico em sentido estrito, se faz
necessário uma decisão judicial para produzir efeitos, e ainda, não pode ser feito
através de procuração. Portanto, a adoção é um meio legal de possibilitar a criança
sua inserção a uma família previamente selecionada, que possui a intenção o desejo
e a condição necessária para adoção.46
Para Paulo Luiz Netto Lôbo, “um dos efeitos da adoção é o corte total em
relação à família de origem, ao contrário do modelo anterior de adoção simples, que
estabelecia duplicidade de vínculo, sem qualquer relação com os demais membros da
família do adotante”.49
46 KALOUSTIAN, Sílvio Manoug. Família brasileira: a base de tudo. São Paulo: Cortez, Brasília:
UNICEF, 2011, p. 26.
47 LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 73.
48 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. REsp: 1525714 PR 2012/0019893-3, Relator: Ministro RAUL
ARAÚJO, Data de Julgamento: 16/03/2017, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
04/05/2017. Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/465738969/recurso-
especial-resp-1525714-pr-2012-0019893-3/inteiro-teor-465738979>. Acesso em: 25 abr. 2021.
49 LOBÔ, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 91.
36
O Supremo Tribunal de Justiça, tem sido cada vez mais favorável nas
decisões relacionadas a adoção homoafetiva, mas nem sempre foi assim, houveram
várias solicitações. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, foi o
primeiro a conceder o pedido, de lá em diante vem sido mais fácil, principalmente o
reconhecimento da união estável homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal. O
preconceito vem cada vez mais sendo deixado de lado e os casais homoafetivos a
homoparentalidade através da adoção.
53 GOMES, Orlando. Memória justificativa do anteprojeto de reforma do código civil, 1963, apud
BOCHINA, Simone Franzoni. Da adoção: categorias, paradigmas e práticas do direito de família.
Curitiba: Juruá, 2010, p. 38.
38
Vemos que os que estão contra a mencionada adoção, não tem fundamento
legal e concreto para tal posicionamento, o que torna uma tentativa invalidada e
ressaltando mais uma vez, de cunho preconceituoso.
Hoje o instituto da adoção é regido pela Lei nº 12.010 de 2009, pelo Código
Civil, e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, visando em primeiro lugar sempre
o interesse do menor, que está a espera de uma acolhida familiar, po. A adoção pode
ser feita por pessoas casadas ou em união estável, como também individualmente, o
importante é ter condições para manter o bem estar do adotado.
Insta salientar que mesmo que atualmente os direitos das famílias diversas
das formadas por homens e mulheres cisgêneros em um casamento são garantidos
na esfera judicial, existem setores que lutam para que haja flagrante retrocesso nesse
cenário.
HOMOAFETIVOS
57 JENCZAK, Dionísio. ANDRADE, Paulo Henrique Horn de (Org.). Aspectos das relações
homoafetivas à luz dos princípios constitucionais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008, p. 41.
58 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. União entre pessoas do mesmo sexo: aspectos jurídicos e sociais.
Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 74.
59 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24ª ed. São Paulo: Malheiros,
2005, p. 226.
41
a mais tormentosa questão que se coloca e que mais tem dividido as opiniões,
mesmo os que vêem as relações homossexuais como uma expressão da
afetividade, é a que diz com o direito à adoção por parceiros do mesmo sexo.
Como as relações sociais são marcadas predominantemente pela
heterossexualidade, é enorme a resistência face à crença de haver um dano
potencial futuro por ausência de referências comportamentais e, por
consequência, a possibilidade de ocorrerem sequelas de ordem psicológica. 61
60 AZEVEDO, Álvaro Vilaça. Bem de família: com comentários à Lei 8.009/90. 5. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2009, p. 55.
61 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2012, p. 64.
62 IBIAS, Delma Silveira. Aspectos jurídicos acerca da homossexualidade. In: Instituto Interdisciplinar
de Direito de Família - IDEF. Homossexualidade. Discussões jurídicas e psicológicas. Curitiba:
Juruá, 2013, p. 68.
42
A adoção por homossexuais ainda é vista com muito preconceito pela maioria
das pessoas. No presente capítulo, diante da Lei de Adoção (nº 12.010 de
03/08/2009), que alterou o artigo 42 do ECA (Lei nº 8.069/90), estabelecendo que
“para a adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente
ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família” 66, possibilitando
a adoção por casais homoafetivos, será objeto de estudo, o reconhecimento social e
jurídico dos casais homoafetivos como entidade familiar tendo os mesmos direitos de
qualquer outra entidade familiar.
63 CARVALHO FILHO, Paulo Martins. A união estável. In: Revista dos Tribunais, São Paulo, n. 734,
2009, p. 69.
64 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, 8ª ed. revista, atualizada e ampliada.
São Paulo: RT, 2011, p. 77.
65 BRASIL. Planalto. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
66 BRASIL. Planalto. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
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Pode apenas ser constituída por um homem e uma mulher unidos pelo
matrimônio ou pela estabilidade de sua união. A adoção por casais
homossexuais exporá a criança a sérios constrangimentos. Uma criança,
cujos pais adotivos mantenham relacionamento homoafetivo, terá grandes
dificuldades em explicar aos seus amigos e colegas de escola porque tem
dois pais, sem nenhuma mãe, ou duas mães, sem nenhum pai. É dever do
Estado colocar a salvo a criança e o adolescente de situações que possam
causar-lhes embaraços, vexames e constrangimentos. A educação e a
formação de crianças e adolescentes deve ser processada em ambiente
adequado e favorável ao seu bom desenvolvimento intelectual, psicológico,
moral e espiritual. Por essa razão, a lei, adequando-se aos preceitos
constitucionais, deve resguardar os jovens de qualquer exposição que possa
comprometer-lhes a formação e o desenvolvimento. Note-se que o
ordenamento jurídico brasileiro não permite a adoção por “casais”
homossexuais. Ao mesmo tempo, não torna explícita a proibição. Essa
ambiguidade tem levado certos juízes de primeira instância a conceder tais
adoções – que são, posteriormente, tornadas nulas pelos tribunais
superiores. Creio, portanto, que devemos seguir o exemplo de países como
a Ucrânia, que recentemente tornou explícita a proibição de que estamos a
tratar. Assim, conto com o apoio dos membros desta Casa, no sentido da
aprovação desta proposição. (...) 67
69 LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 136.
45
Este projeto diz que a família composta por casais homoafetivos “não tem uma
boa aceitação social” e “pode gerar desgaste psicológico e emocional” na criança
adotada. É possível notar que o seu discurso é extremamente preconceituoso e
homofóbico.
71 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: família. Coleção direito civil, V. 5, 17. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 47.
72 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. V. 6. 14ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 11.
73 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 114.
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal das instituições é que os filhos sem lar sejam acolhidos,
conquistando seus anseios e necessidades, viabilizando sua inserção na sociedade e
convivência familiar como cidadãos com a garantia de seus direitos, como é visto na
Constituição Federal de 1988 incluindo os casais homoafetivos.
legislação para que os casais homoafetivos formem famílias e possam adotar seus
filhos.
Mesmo que atualmente os direitos das famílias sejam formados por homens
e mulheres cisgêneros em um casamento são garantidos na esfera judicial, existem
setores que lutam para que haja flagrante retrocesso nesse cenário.
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