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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO TRÊS RIOS


DEPARTAMENTO DE DIREITO, HUMANIDADES E LETRAS

Karyne Tomé do Carmo

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Três Rios, RJ
2021
KARYNE TOMÉ DO CARMO

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Monografia apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Bacharel
em Direito, em curso de graduação
oferecido pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, Instituto Três Rios.

Orientador: Profa. Dra. Ludmilla Elyseu Rocha

Três Rios, RJ
novembro de 2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UFRRJ – ITR / BIBLIOTECA
Adoção por casais homoafetivos.
Carmo, Karyne Tomé / Karyne Tomé do Carmo – 2021.
55 f.
Orientadora: Ludmilla Elyseu Rocha
1. Direito Civil – Monografia. 2. Direito de Família – Monografia. 3.
Adoção por casais homoafetivos - Monografia.
Monografia (Graduação em Direito). Instituto Três Rios,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial


desta tese, desde que citada a fonte.

_______________________________ ______________________________
Assinatura Data
KARYNE TOMÉ DO CARMO

ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS

Monografia apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Bacharel
em Direito, em curso de graduação
oferecido pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, Instituto Três Rios.

Aprovado em:
Banca Examinadora:

Professora Doutora Ludmilla Elyseu Rocha (Orientadora)


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto Três Rios

Professora Doutora Marcela Siqueira Miguens


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto Três Rios

Mestre Jorge Baptista Canavez Júnior


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto Três Rios
A Deus e aos meus pais, pela compreensão, pelo apoio, sempre
me dando forças e celebrando comigo minhas conquistas.
AGRADECIMENTOS

O que teria sido de mim sem alguém ao meu lado para me apoiar, para me incentivar
e até mesmo me alertar, sem Deus e sem os meus pais, que sempre me amaram,
apoiaram e auxiliaram nos momentos precisos, sem meus familiares, afilhados,
minhas companheiras de república, que fiz no início da graduação, antes da vida
independente.

Diletos amigos de toda a vida e também aqueles que me acolheram durante todos
esses anos de faculdade morando em outra cidade, me fazendo me sentir em casa.
Sem vocês esta conquista teria sido muito mais difícil!

Impossível olvidar as Instituições de Ensino que me capacitaram para ser apta à


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Três Rios/RJ: Escola Nossa
Senhora do Bom Conselho, Miracema/RJ; Centro Educacional São José,
Miracema/RJ e Colégio Estadual Deodato Linhares, Miracema/RJ. Agradeço

Neste momento de tanta emoção em minha jornada acadêmica, sinto júbilo por ter
convivido com todos aqueles que me proporcionaram os primeiros contatos
profissionais com o Direito, no Cartório da Segunda Vara, no Cartório da Dívida Ativa,
no PROGER, no Cartório do 1º Ofício e no Cartório RCPN, todos na cidade de Três
Rios/RJ, que tão bem me acolheu. À Chefia, Coordenação, Doutores, Mestres e
Funcionários que fizeram do seu trabalho um ato de amizade, auxílio e dedicação.

À caríssima colega desta profissão que ora mergulho, que foi incansável no auxílio
para a conclusão deste trabalho: a Pós-graduada Kleusa Ribeiro Barbosa.

Por último, mas não menos importante, a minha Orientadora Professora Doutora
Ludmilla Elyseu Rocha, pela disponibilidade, empenho, sororidade, entre outras
qualidades de excelência que me faltam palavras para mensurar e aos componentes
da Banca Examinadora: Professora Doutora Marcela Siqueira Miguens e Mestre Jorge
Baptista Canavez Junior, por aceitarem o convite. Cheguei até aqui porque tive vocês
que acreditaram nos meus sonhos.

Gratidão.
Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.

Isaac Newton
RESUMO

CARMO, Karyne Tomé. Adoção por casais homoafetivos. 2021. 55 p. Monografia


(Graduação em Direito). Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Três Rios, RJ, 2021.

Esta pesquisa tem como objetivo central analisar a adoção por casal homoafetivo à
luz dos valores constitucionais, em razão das dificuldades encontradas por essas
pessoas para a efetivação do exercício da homoparentalidade por meio da adoção,
bem como tendo em vista que não há proibição no ordenamento jurídico. Desse modo,
examina-se a disciplina vigente a respeito da adoção e da plena proteção de crianças
e adolescente, bem como a vedação constitucional à discriminação em razão da
orientação sexual. Seguindo este parâmetro, o objetivo principal é o aprofundamento
do caso em questão, para que seja reafirmado que a grande questão é que as crianças
e adolescentes a serem adotados pelos casais, tenham suas necessidades supridas,
sejam elas: Emocionais, financeiras, entre tantas, evidenciando que não há prejuízos
no desenvolvimento da personalidade dos envolvidos. Por meio de pesquisa
bibliográfica e documental, a presente monografia tem como mira a concretização do
direito dos casais homoafetivos de adotarem crianças e adolescentes de modo a
exercerem a homo parentalidade de forma plena e sem discriminações.

Palavras-chave: Adoção; casal homoafetivo; Homoparentalidade; princípios


constitucionais.
ABSTRACT

CARMO, Karyne Tomé. Adoption by same-sex couples. 2021. 56 p. Monograph


(Law Degree). Three Rivers Institute, Federal Rural University of Rio de Janeiro, Três
Rios, RJ, 2021.

The main objective of this research is to analyze the adoption by a same-sex couple
in the light of constitutional values, due to the difficulties encountered by these people
in carrying out the exercise of homoparenting through adoption, as well as bearing in
mind that there is no prohibition in the legal system. Thus, the current discipline
regarding the adoption and full protection of children and adolescents is examined, as
well as the constitutional prohibition against discrimination based on sexual orientation.
In this line, we seek to deepen the study of adoption by a homosexual couple in order
to meet the affective, emotional and financial needs of the child or adolescent, without
harming the development of their personality. Through bibliographic and documentary
research, the present monograph aims at realizing the right of same-sex couples to
adopt children and adolescents in order to exercise homoparenting fully and without
discrimination.

Keywords: Adoption; Homoaffective pair; Homoparenting; principles.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09

CAPÍTULO 1. TRANSFORMAÇÕES DO INSTITUTO DA FAMÍLIA ............................ 13

1.1 Da família contemporânea ................................................................... 14


1.1.1 Do princípio da dignidade da pessoa humana ............................................ 15
1.1.2 Do princípio da igualdade ........................................................................... 17
1.1.3 Do princípio da liberdade ............................................................................ 17
1.1.4 Do princípio da afetividade ......................................................................... 19
1.1.5 Do princípio da solidariedade ..................................................................... 20
1.2 Novas configurações familiares .......................................................... 20

CAPÍTULO 2. ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS DA ADOÇÃO .......................... 29

2.1 O instituto jurídico da adoção ............................................................. 33


2.2 Da adoção judicial ............................................................................... 34

CAPÍTULO 3. A QUESTÃO HOMOAFETIVA E A ADOÇÃO POR CASAIS


HOMOAFETIVOS................................................................................................ 40

3.1 A possibilidade de adoção por casais homoafetivos .......................... 41


3.2 Projeto de Lei nº 620/2015 ................................................................... 43
3.3 Dificuldades encontradas para a adoção por casais homoafetivos ..... 46

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 48

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 50
9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva estudar o instituto da adoção por casais formados


por pessoas do mesmo sexo ou gênero que na doutrina e jurisprudência
convencionou-se nomear casais homoafetivos ou homoparental.

A adoção de crianças e adolescente por casais homoafetivos mesmo com todos


os progressos sociais e ausência de vedação legal e coma jurisprudência favorável,
ainda é alvo de preconceito e de diversas discussões, eis que o preconceito
socialmente arraigado ainda é fruto de subterfúgios utilizados para fins de manejo
equivocado do princípio do melhor interesse de crianças e adolescentes. No entanto,
os princípios constitucionais, a rigor, amparam o desejo de pares homoafetivos em
relação à adoção e, por conseguinte, a concretização do exercício da
homoparentalidade.

A Constituição Federal de 1988 traz em seu texto os princípios da igualdade e


da solidariedade, bem como veda discriminação em razão da orientação sexual. O
texto constitucional, ainda, afirma a responsabilidade parental no sentido de cuidar,
educar e socializar, promovendo a harmonia das relações familiares. Destaca-se,
desta maneira, com fulcro no artigo 227, a proteção total da criança e do adolescente.

A partir desse cenário, o problema central que guia o presente trabalho reside
na seguinte indagação: Os casais homoafetivos enfrentam maiores dificuldades para
a adoção de crianças e adolescentes mesmo diante da inexistência de vedação legal?
Diante dessa questão, o presente trabalho objetiva compreender as razões dos
obstáculos enfrentados por pessoas homossexuais para adoção mesmo não havendo
proibição legal no ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, busca-se analisar de
que maneiras são exercidos os papeis parentais pelos adotantes, no sentido de suprir
as necessidades afetivas, emocionais, financeiras da criança, e averiguar os motivos
das dificuldades encontradas por estes casais para adoção.

Ainda não há legislação consistente para o assunto, embora pesquisadores,


ativistas e doutrinadores se debrucem sobre o tema. Atualmente se torna fundamental
apresentar o instituto da adoção para esses pares, tornando o projeto relevante, e
com maior força na área da adoção, da lei e na visão da sociedade em geral.
10

Importante contextualizar que no Brasil cada vez mais grupos conservadores


contrários aos direitos da população LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Transgêneros, Transexuais e Travestis, Queer, Intersexo o + são outras
possibilidades) têm alcançado posições de poder.

Importante salientar que as mais diversas formas de família são reconhecidas


como tal. Apesar das constantes tentativas de minar os direitos das famílias que fogem
ao padrão patriarcal de homem e mulher casados e criando filhos biológicos, o afeto,
a solidariedade e a responsabilidade têm sido os fundamentos basilares para que as
famílias consigam a proteção jurídica.

Com a finalidade de encontrar respostas, certezas, novas perguntas e para


alcançar os objetivos propostos, será realizada uma pesquisa em livros, leis e artigos
científicos, para o desenvolvimento do tema que foi dividido em três capítulos.

Este trabalho de conclusão de curso, coloca em evidência a luta pelo


reconhecimento normalizado de um conceito anteriormente impensável. E hoje com
tantos avanços são vistas as concretizações. Ao decorrer dos anos, crianças até então
abandonadas, já pertencem a uma família. O Ministério Público não só negava casos
como este, mas dizia não ser benéfico para a criança viver num lar formado por
pessoas de mesmo gênero sexual.

Será abordado o conceito de família, fazendo uma análise das mudanças desse
conceito em relação à adoção e seu processo, o que são pessoas LGBTQI e entre
outros fatores. Para isso será feita uma breve análise histórica, bem como faz
entender o que é uma família hétero e homoafetiva. Além disso, aborda os princípios
jurídicos garantidores desse instituto. Assim como os projetos de lei que tramitam
atualmente sobre a adoção dos casais homoafetivos, bem como o que diz o
entendimento doutrinário e o entendimento jurisprudencial do ordenamento brasileiro.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 assegura a adoção homossexual ao


ponto de punir atos de preconceito neste sentido. No entanto, o Direito também está
sujeito aos costumes sociais, não somente a um conjunto de leis e normas. Para além
dos textos legais, a sociedade se estrutura em normas conservadoras. O fator
principal do preconceito e discordância, é a presunção de que gênero sexual
determinará as escolhas futuras do adotado, atribuindo-lhes comportamentos, dentre
eles as atrações românticas, sexuais em relação ao sexo oposto.
11

Os brasileiros vivem uma situação particularmente complicada para as pessoas


LGBT, função da aversão às sexualidades e expressões de gênero dissidentes, que
também demarca a necessidade de esforços do Estados para combater estas
questões.

Neste sentido, os defensores dos direitos humanos e de todos os movimentos


sociais, estão se organizando para conquistar cada vez mais seus direitos e assim,
fortalecer suas causas pessoais, que não deixam de ser dever do Estado. Buscando
proteger o que já foi conquistado com tanto esforço e aprimorar cada vez mais seus
direitos. Baseados na proteção da família contra o que é chamado de ideologia de
gênero e contra a ameaça que as pessoas LGBT recebem por diversas causas, mas
no caso em questão, pelo genuíno desejo de formar uma família com o parceiro
escolhido e uma criança que virá por meio da adoção.

No primeiro capítulo será abordado o conceito de família e as transformações


do entendimento de família a partir do conceito contemporâneo, abordando as novas
configurações familiares.

O segundo capítulo apresenta os aspectos históricos e sociais da adoção no


Brasil. Será abordado como a legislação e o judiciário tem tratado o tema assim como
outros aspectos levantados por outras áreas do conhecimento.

Abordaremos o debate acerca dos casais homoafetivo e a adoção pleiteadas


por eles, em seguida a conclusão. Por questões pedagógicas esse capítulo será
dividido em tópicos onde será abordado com maior ênfase a possibilidade da adoção
por casais homoafetivos. Falaremos também sobre o projeto de lei nº 620/2015 que
tem como objetivo modificar o Estatuto da Criança e do Adolescente, para não permitir
que casais homoafetivos ingressem com uma adoção conjunta. No último tópico deste
capítulo, serão abordadas as dificuldades encontradas para que as famílias formadas
por casais que são do mesmo sexo/gênero.

Sendo assim, não se deve definir vínculos afetivos baseados na biologia e não
levar em consideração toda a problemática que envolve os sentimentos e a
capacidade humana de interagir no meio social. Levando muitas pessoas a se
questionarem por que sendo seres dotados de amor, educação, entre outras
qualidades essenciais a formação de uma família saudável, não seriam capazes de
tornar filhos os que descendem biologicamente de outras pessoas, apenas pelo fato
12

de seu parceiro ser do mesmo gênero sexual que o seu.

Fica cada vez mais explícito que apesar das pessoas LGBTQI terem
conquistado muitos direitos, ainda enfrentam obstáculos maiores do que as pessoas
que seguem uma vida heteroafetiva. Apesar de já existir fundamentação favorável,
ainda há uma boa parte da sociedade que é contrária a esta formação familiar por
pessoas LGBTQI.

Atualmente uma das principais exigências para a Adoção de Crianças por


Casais Homoafetivos, é derrubar o conceito de veracidade de família aos casamentos
e às uniões estáveis entre casais de mesmo gênero e seus filhos.

Logo, este trabalho vem explicar a adoção de crianças por casais homoafetivos,
a partir de uma visão jurídica, histórica e social, bem como seus desdobramentos na
sociedade brasileira.
13

CAPÍTULO 1. TRANSFORMAÇÕES DO INSTITUTO DA FAMÍLIA

É importantíssimo salientar, que o Direito de Família, como os demais, tem


evoluído historicamente perante a sociedade, uma série de estudos tem sido fator
principal para que esta mutação aconteça de fato.

A evolução histórica na sociedade é um fator de suma importância neste


estudo, como em qualquer outro, do Direito de Família.1

No Direito de Família, as normas advêm das mudanças sociais. Michele Perrot


diz, “a história da família é longa, não linear, feita de rupturas sucessivas”. 2

A Constituição Federal de 1988, veio para desmistificar a aflição da sociedade


que considerava a legislação vigente, inadequada a realidade vivente. E o Código Civil
de 1916, foi pontual ao buscar transformar o que a sociedade necessitava de fato.

É de extrema importância mencionar que, a legislação brasileira desde os


tempos coloniais entende a família patriarcal como modelo entre valores familiares
introduzidos, com relação à sua função, natureza e importante concepção para a
sociedade e para a unidade familiar.3

Contudo, Selma Rodrigues Petterle salienta a importância que, pelo motivo da


evolução da humanidade, suas características, há sempre modificações em suas
concepções em relação aos laços formados, a significação social e a integração
destes grupos, o que nos leva ao tema em questão.4

Deste modo a família deve ser considerada o pilas social, tendo o Estado como
protetor especial sendo o afeto a figura externa de sua existência perdendo assim
suas funções tradicionais, assim como: procriação, economia, religião e política. As

1 LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 40.
2 PERROT, Michele. O nó e o ninho, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por
casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 40.
3 PETTERLE, Selma Rodrigues. O direito fundamental à identidade genética da Constituição
Brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012, p. 104.
4 LOBÔ, Paulo Luiz Netto. A família enquanto estrutura de afeto. In: BASTOS, Eliene Ferreira; DIAS,
Maria Berenice. A família além dos mitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2012, p. 17.
14

dicotomias anteriormente vistas pelo Direito de Família, não mais se sustentam


apenas por leis, mas sim pela conduta, ou seja, a forma afetiva da relação.

1.1 Da família contemporânea

A família como instituto social reconhecido pelo ordenamento jurídico sofreu


várias transformações Apesar da rigidez com que grande parte da sociedade trate o
tema, a diversidade e as diversas mudanças sociais não permitiram que continuasse
o direito a não proteger a maioria dos lares desse país.

Muitos fatores contribuíram para que essas mudanças: a promulgação da lei


do divórcio, as mudanças das relações de trabalho, as lutas dos movimentos de
mulheres e de pessoas LGBTQI+.

A Lei nº 4,121 de 27 de agosto de 1962, que representa a situação jurídica da


mulher casada e independente e igualdade legal, política financeira, entre outras,
foram de suma importância para a igualdade destas em meio a família, em que
durante muito tempo via como provedor em todos os aspectos mencionados, entre
outros os homens. O que causou alterações significativas no papel da mulher dentro
da família contemporânea.

As funções afetivas passaram a ganhar voz nas relações familiares, o que


dificultou nitidamente toda a tradição patriarcal que não dava voz a nenhum
posicionamento que não viesse liderado por si,

A partir da leitura de Vanessa F. Lima, compreende-se que o padrão familiar


patriarcal, tradicional por muito tempo, similar à cultura de uma unidade de produção
industrial, onde se requer direção e liderança, sem dar voz às individualidades, acaba
perecendo ao longo do tempo no ambiente familiar que passa a desempenhar a
função da afetividade na sociedade.5

O Conceito de família hoje em dia é tontamente diferente dos séculos


passados, vários padrões foram mudados, vozes foram tomadas, como a das
mulheres, que passaram a ser mais ativas no mercado de trabalho, por exemplo, atos

5 BRASIL. Planalto. Lei nº 4.121, de 27 de agosto de 1962. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/1950-1969/L4121.htm>. Acesso em: 25 fev. 2021.
15

que antes não se via, as funções destas se resumiam basicamente aos serviços de
casa e cuidados com a família, tomando cada vez mais voz e posicionamento, é o que
vemos na Lei: 11,340 de 07 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha.

A lei Maria da Penha é de suma importância por dar voz processual às mulheres
vítimas de violência doméstica e ainda demonstrou uma contribuição relevante para
um retrato mais realista das famílias brasileiras.6

No texto da referida lei promulgada anos antes do reconhecimento da união por


casais homoafetivos família é descrita como “a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
por vontade expressa”.7

O Código de 2002 apresenta algumas mudanças importantes perante o Código


de 1916, em relação à família, ao casamento, aos filhos e a igualdade dos sexos.

Vê-se que a família do século XXI passa por mudanças em muitos aspectos,
como nas relações de intimidade, caracterizadas principalmente pelos afetos e buscas
da independência dos seus membros com base na construção subjetiva individual.

Tem-se entendido que não apenas o modelo tradicional familiar é o que deve
ser seguido, mas fatores como o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, Princípio
da Liberdade, Princípio da Igualdade, Princípio da Solidariedade e da Afetividade.

1.1.1 Do princípio da dignidade da pessoa humana

A Dignidade da Pessoa Humana aparece expressamente como um dos


fundamentos da República Brasileira.

Tamanha a importância desse princípio, que é o norteador de vários


documentos, como a Carta das Nações Unidas:

6
LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 20.
7 BRASIL. Planalto. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. Acesso em: 24 fev.
2021.
16

Na Carta das Nações Unidas, de 26-6-1945; na programática Declaração


Universal dos Direitos Humanos, de 10-12-1948; no Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, de 19-12-1966; e no Estatuto da Unesco, de 16-11-
1945, textos nos quais a invocação desse valor, ao mesmo tempo que
traduz uma “reação” aos horrores e violações perpetrados na Segunda
Guerra Mundial, contém uma dimensão prospectiva que aponta pata a
configuração de um futuro compatível com a dignidade da pessoa12. O
mesmo ocorre, acrescente-se, na cambaleante Constituição da Europa, em
cujo art. I, 2°, está mencionado — como o primeiro valor em que se funda a
União Europeia — precisamente o do respeito pela dignidade humana,
seguido da liberdade, da democracia, da igualdade e do respeito aos direitos
individuais, inclusive dos das pessoas pertencentes a minorias. 8

Dignidade da pessoa humana “é qualidade intrínseca e distintiva de cada ser


humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado
e da comunidade”.9

As pessoas são asseguradas pelos direitos fundamentais, contra atos


desumanos, lhes fornecendo o mínimo para uma vida digna. E neste quesito há que
se considerar garantias para a identidade do indivíduo. “A proteção da dignidade
humana e a proteção da infância estão intimamente ligadas”.10

Também está ligada à Dignidade Humana o direito de cada um exercer


livremente sua sexualidade e sua identidade de gênero: “pois diz respeito aos traços
constitutivos de cada um, sem depender do fato de estar ou não prevista, de modo
expresso, na Constituição”.11

Negar direitos baseados na orientação sexual e/ou na identidade de gênero é


flagrante desrespeito a esse princípio da Dignidade da Pessoa Humana,
principalmente direitos ligados à personalidade e a felicidade, como o direito de casar,
de ter filhos, de adotar. “A defesa da dignidade da pessoa humana confere o direito
fundamental implícito ao respeito, o que igualmente supõe não discriminação arbitrária
em relação a direitos”.12

8 MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.
9 DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e os direitos LGBT. 1ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 2014, p. 57.
10
LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 20.
11 Id. Ibidem.
12 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p. 57.
17

Pelos argumentos expostos, entende-se a Dignidade da Pessoa Humana como


Princípio Constitucional ímpar, que jamais poderia ser desconsiderado. Estigmas
sociais, preconceitos, discriminações e quaisquer violências implícitas ou explícitas
não podem interferir na sua aplicabilidade, tão pouco ter qualquer tipo de norma que
os legitime.

1.1.2 Do princípio da igualdade

Falando em caráter legal e constitucional, igualdade social não é o fato de todos


serem tratados da mesma forma, mas sim de acordos com as necessidades oriundas
das características individuais de cada um.

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º é explicita ao consagrar o


princípio da igualdade “todos são iguais perante a lei”.13

Ou seja, a isonomia deve ser fator minuciosamente respeitado, no sentido de


que as diferenças devem ser respeitadas, nem todos são iguais, sendo assim, não
devem receber o mesmo tratamento.

Em nome do princípio da igualdade é necessário que assegure direitos a


quem a lei ignora. Preconceitos e posturas discriminatórias, que tornam
silenciosos os legisladores, não podem levar também o juiz a se calar.
Imperioso que, em nome da isonomia, atribua direitos a todas as situações
merecedoras de tutela. O grande exemplo são as uniões homoafetivas, que,
ignoradas pela lei, foram reconhecidas pelos tribunais.14

Tem-se, portanto, que o princípio constitucional da igualdade tem como objetivo


garantir tratamento igual a todos sem desconsiderar as diferenças.

13 BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
14 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. V. I. 10ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2015, p. 48.
18

1.1.3 Do princípio da liberdade

O Estado deve garantir a liberdade para a formação de uma família, sem


interferir em seu formato, tampouco o tempo de duração, ou formação de outros seios
familiares.

Em conformidade com o entendimento de Flávio Tartuce, a liberdade no


âmbito familiar tem relação direta o princípio da autonomia privada do Direito
Civil. Assim, quando se escolhe com quem namorar, casar e as escolhas
feitas no âmbito do afeto, se está exercendo a liberdade e o princípio da
autonomia privada.15

O que mais uma vez afirma o poder que a liberdade que o indivíduo obtém
através deste princípio relacionado ao campo afeito.

O indivíduo tem o direito que suas ações ou omissões não sejam impedidas
pelo Estado. Qualquer restrição a liberdade deve ser prevista em lei e deve apresentar
razões relevantes e constitucionais, tendo o objetivo de proteger direitos coletivos e
de terceiro.16

Ou seja, se não estiver fundamentada a negação ao direito à liberdade do


indivíduo é dever do Estado, assegura-lhe.

Nos artigos 226 e 227 da Constituição Federal de 1988, o estado é responsável


pelo controle da natalidade, mas sem represálias, mas proporcionando meios e
métodos para que a formação familiar seja feita de forma consciente, equilibrada e
legal. Com isso, nota-se com a obra de Tartuce, que tal princípio, juntamente com o
da intervenção, antes de mais nada deve ser direcionado principalmente à proteção
das crianças e dos adolescentes, visando sua melhor qualidade de vida, sem
desrespeitar os demais princípios.

Neste sentido vemos que mesmo o Estado sendo o garantidor do princípio em


questão, de forma alguma deve controlar a forma com que os indivíduos usam deste.

15 TARTUCE, Flávio, SIMÃO, José Fernando. Direito civil – direito de família. V. 5. 10ª ed. São Paulo:
Forense, 2015, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos.
1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 30.
16 DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e os direitos LGBT. 1 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 29.
19

Existem campanhas com fulcro na conscientização, mas não pode ser usado nenhum
fator que obrigue ou oprima.

Mesmo que sendo garantidor, o Estado não tem poder de interferência na


intimidade e privacidade que este princípio favorece. O indivíduo não tem por
obrigação sua exposição pessoal.

1.1.4 Do princípio da afetividade

Segundo o Ministro Luis Roberto Barroso: “o que vale a vida são os nossos
afetos. A vida boa é feita dos nossos afetos, dos prazeres e da busca pela felicidade.
Qualquer maneira de amor vale a pena e ninguém, nessa vida, deve ser diminuído em
razão dos afetos”.17

A maneira com que a família cuida cada um de si, é o que determina o


fundamento desse princípio.

Segundo Barroso,

Encontra-se na Constituição fundamentos essenciais do princípio da


afetividade, constitutivos dessa aguda evolução social da família brasileira,
além dos já referidos: a) todos os filhos são iguais, independentemente de
sua origem (art. 227, § 6º); b) a adoção, como escolha afetiva, alçou-se
integralmente ao plano da igualdade de direitos (art. 227, §§ 5º e 6º); c) a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, incluindo-
se os adotivos, tem a mesma dignidade de família constitucionalmente
protegida (art. 226, § 4º); d) a convivência familiar (e não a origem biológica)
é prioridade absoluta assegurada à criança e ao adolescente (art. 227).18

O que deixa compreendido que, uma vez que o poder familiar é formado, só a
morte ou perda deste poder, pode- se perder a afetividade, pois esta não está baseada
no amor e suas definições, mas firmado nas garantias legais e jurisprudenciais.

17 BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas. Rio de Janeiro:
Renovar, 2001, apud LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos.
1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 35.
18 Id. Ibidem, p. 71.
20

São os direitos fundamentais acima citados, entre outros fatores que


assegurem a pessoa, no caso em questão os casais homoafetivos contra atos
desumanos, de forma que todos tenham minimamente os mesmos direitos para uma
vida digna e saudável ao decorrer de sua existência.

1.1.5 Do princípio da solidariedade

Este princípio trata de uma espécie de junção de todos os mencionados


anteriormente, pois como analisado, é garantidor do cumprimento das obrigações
estatais, sejam elas com os parentes com vínculos de sangue ou não, sem distinção
alguma destes.

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE


ALIMENTOS. DEVER FAMILIAR DE SUSTENTO QUE DECORRE DO
PODER FAMILIAR E CESSA QUANDO ATINGIDA A MAIORIDADE CIVIL OU
EMANCIPAÇÃO, CASO EM QUE 41 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito
das famílias. V. I. 10. ed. rev., atual. eampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 48. 42 BRASIL. Planalto. Constituição Federal. Disponível em: .
Acesso em: 26 abr. 2016. 27 Adoção de Crianças por Casais Homoafetivos
PODERÁ SURGIR A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR FUNDADA NA RELAÇÃO
DE PARENTESCO, EM OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA
SOLIDARIEDADE FAMILIAR. GARANTIA DO NECESSÁRIO PARA SE
VIVER DE MODO COMPATÍVEL COM A SUA CONDIÇÃO SOCIAL,
INCLUSIVE PARA ATENDER ÀS NECESSIDADES DE SUA EDUCAÇÃO.
ALIMENTANDA QUE ATINGIU A MAIORIDADE E CURSA SUA PRIMEIRA
GRADUAÇÃO, NÃO SE TRATANDO DE “PROFISSIONAL DO ESTUDO
UNIVERSITÁRIO” OU REPETENTE CONTUMAZ. ALIMENTANTE QUE
NÃO COMPROVA NOS AUTOS A IMPOSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO
DO PENSIONAMENTO. OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO NECESSIDADE-
POSSIBILIDADE, BEM COMO A PROPORCIONALIDADE ENTRE O VALOR
FIXADO E A CONDIÇÃO FINANCEIRA DOS COOBRIGADOS. RECURSO A
QUE SE NEGA SEGUIMENTO, COM FUNDAMENTO NO ARTIGO 557,
CAPUT, DO C.P.C.19

19 RIO DE JANEIRO. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. APL: 00052684120138190045


RJ 0005268-41.2013.8.19.0045. Relator: Des. Jose Acir Lessa Giordani, Data de Julgamento:
28/05/2015, Décima Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 02/06/2015. Disponível em:
<https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/195182873/apelacao-apl-52684120138190045-rj-
0005268-4120138190045>. Acesso em: 22 abril. 2021.
21

1.2 Novas configurações familiares

Para Paulo Lôbo, o direito brasileiro não utiliza apenas um modelo de família,
no que concerne aos que a integram e o grau de parentesco. Neste sentido o autor
destaca a nuclear que é formada por pai, mãe e filhos, modelo predominante na
atualidade.20

Segundo Lorena Portes, existem também:

[...] as (i) famílias reconstituídas, que são aquelas que são formadas por
casais que trazem filhos do primeiro casamento; (ii) famílias monoparentais,
que são famílias decorrentes de divórcio ou separações, onde um dos pais
assume o cuidado dos filhos e o outro não é ativo na parentalidade, ou ainda,
são famílias onde um dos pais é viúvo ou solteiro; (iii) famílias de uniões
consensuais, onde casais que optam em morar juntos, sem formalizar a união
ou ainda, casais que preferem morar em casas separadas, estes são
principalmente os divorciados, separados ou viúvos, que desta forma
procuram evitar conflitos existentes nas famílias reconstituídas; (iv) famílias
formada por casais sem filhos por opção, são os indivíduos que priorizam sua
vontade de satisfação pessoal, ex. desenvolvimento na carreira profissional;
(v) famílias unipessoais, denominação atual para aquelas pessoas que optam
por ter um espaço físico individual, onde não precisam necessariamente fazer
trocas emocionais vindas de um convívio compartilhado; (iv) família por
associação, que são compostas por amigos que forma uma rede de
parentesco baseada na amizade.21

Todavia, o Estado tem como dever proteger as famílias independente de sua


constituição, todos os direitos devem ser delegados a seus membros, sem nenhuma
descriminação.

Segundo Paulo Lôbo, a responsabilidade da família é “pluridimensional e não


se esgota nas consequências dos atos do passado, de natureza negativa, que é o
campo da responsabilidade civil”.22

20 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: família. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 112.
21 PORTES, Lorena; PORTES, Melissa; ROCHA, Marco Antonio da. A família contemporânea, p. 21-
24. In: DEPEN – Departamento Penitenciário da Secretaria da Segurança e Administração
Penitenciária. Disponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/A_familia_contemporanea.
pdf>. Acesso em: 25 fev. 2021.
22 LÔBO, Paulo Luiz Netto. A família enquanto estrutura de afeto. In: BASTOS, Eliene Ferreira; DIAS,
Maria Berenice. A família além dos mitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2012, p. 97.
22

O mais importante e desafiador é a responsabilidade pela promoção dos outros


integrantes das relações familiares e pela realização de atos que asseguram as
condições de vida digna das atuais e futuras gerações, de natureza positiva. A família,
mais que qualquer outro organismo social, carrega consigo o compromisso com o
futuro, por ser o mais importante espaço dinâmico de realização existencial da pessoa
humana e da integração das gerações.

A legislação brasileira passou por diversas mudanças, em especial, no direito


de família. O Código Civil de 2002 regulamenta os aspectos primordiais do Direito de
Família à luz dos princípios e normas constitucionais. Maria Helena Diniz ensina que
o Código por mais amplo que seja, não comporta todas as mudanças que acontecem,
tendo em vista que o ser humano em sua complexidade está sempre requerendo
regulações legislativas, ante os novos conflitos que se suscitam.23

Deve-se observar com atenção a desigualdade da pessoa humana e os


benefícios ao direito brasileiro. Dificultando a adoção, em todos os sentidos, é permitir,
cada vez mais, o crescimento do número de crianças em abrigos e instituições,
privadas do direito à convivência em meio a uma família.

Quando a pergunta é a adoção por casais homoafetivos, o que mais é


questionado é a interferência na orientação sexual dos pais em seus filhos, como se
a familiaridade pudesse interferir. Posteriormente, indagam-se possibilidades de
detrimentos por conta de referências básicas paterno e materno na criação do
adotando. Entre várias outras questões, envolvendo o preconceito sobre a índole e
mentalidade da criança ou do adolescente.

Nessa vertente, nota-se que casais homoafetivos estão aptos a exercer a


paternidade. Todavia cada caso tem suas exceções, mas estas não são consideradas
pelo gênero dos adotantes, e sim na adequação às atitudes e comportamentos, que
possam causar qualquer tipo de malefício ao filho.

não são conhecidos fatores psicológicos vinculando o exercício da


parentalidade à orientação sexual da pessoa. Ao contrário, estudos
realizados nas culturas anglo-saxã e latino-europeia, apontam que indivíduos
ou casais homossexuais estão aptos a exercer tanto a paternidade quanto a

23 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 22ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 21.
23

maternidade. (...) Cada caso tem a sua particularidade, porém, perversão e


perversidade, inadequação e patologia não são prerrogativa das pessoas
com orientação homossexual, podendo ser encontradas nos indivíduos
heterossexuais que carreguem em si inadequações atitudinais e
comportamentais, capazes de se refletir na criação dos filhos, quando não se
voltam contra eles.24

Mesmo assim, a sociedade demonstra grande receio com o progresso dos


adotados por famílias homoafetivas, podendo induzir decisões judiciais negativas,
evidenciando o preconceito existente no caso em questão.

Drauzio Varella dá o seu parecer a respeito desses questionamentos que de


certa forma cabe dúvidas que precisam ser esclarecidas:

sempre existiram maiorias de homens e mulheres heterossexuais e uma


minoria de homossexuais. O espectro da sexualidade humana é amplo e de
alta complexidade, no entanto, vai dos heterossexuais empedernidos, aos
que não têm o mínimo interesse pelo sexo oposto. Como o presente não nos
faz crer que essa ordem natural vá se modificar, por que é tão difícil
aceitarmos a biodiversidade sexual da nossa espécie? Por que insistirmos no
preconceito contra um fato biológico, inerente à condição humana? Em
contraposição ao comportamento adotado em sociedade, a sexualidade
humana não é questão de opção individual, como muitos gostariam que
fosse. Ela simplesmente se impõe a cada um de nós. Simplesmente é! 25

Maria Antonieta Pisano Motta salienta pesquisas feitas atualmente sobre a


hipótese de influência na orientação sexual dos adotantes para o adotado. Para a
Psicanálise, é de suma importância:

as funções ‘materna’ e ‘paterna’ não correspondem, necessária e


biunivocamente, a uma mulher e a um homem. Na realidade, a criança
necessita de pais que de algum modo lhes proporcione o contato com a
função libidizante (materna) e a limitadora ou castradora (paterna). Daí,

24 MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Homoparentalidade e superação de preconceitos. In: Rev. Jurídica
Consulex, n. 123, 01 jul. 2010, p. 30, apud CRISTO, Isabela. Adoção por casais homoafetivos e
o melhor interesse da criança. Publicado em: 10 jun. 2015. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melh
or+interesse+da+crian%C3%A7a>. Acesso em: 20 abr. 2021.
25 VARELLA, Drauzio apud CRISTO, Isabela. Adoção por casais homoafetivos e o melhor
interesse da criança. Publicado em: 10 jun. 2015. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/
1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melhor+interesse+da+crian%C3%
A7a>. Acesso em: 20 abr. 2021.
24

podermos dizer que a função parental corresponde à forma como os adultos


que estão no lugar de cuidadores lidam com as questões de poder e
hierarquia no relacionamento com os filhos e aquelas relativas ao controle do
comportamento e à tomada de decisão. Em outras palavras, as atitudes
compreendidas na função parental são aquelas que favorecem a
individualidade e a autoafirmação por meio de apoio e continência. 26

Neste mesmo sentido, Fiuza diz:

com base nessa tese de que masculino e feminino, ativo e passivo,


respectivamente, são, na verdade, papéis exercidos por homens e mulheres
de modo alternado, a concepção da família vem mudando. Devemos ter em
mente que, se por um lado, o sexo genital é o mesmo, por outro lado, os
papéis desempenhados pelo casal são diferentes, ou seja, masculino e
feminino, alternadamente, ora por um, ora por outro.27

Entende-se que a orientação sexual da criança e do adolescente, não sofre


imissões vindas da de seus pais, observando que tal perspectiva será desenvolvida
de acordo com a construção da personalidade, ou seja, fundamental é a forma com
que se dá a relação parental da prática das funções paterna e materna, de forma
favorável as partes envolvidas.

Sérgio Laia argumenta que:

quando alguém decide se tornar pai ou mãe, um desejo de adoção coloca-se


em ato. Este ato é uma declaração pública que diz sim à responsabilidade de
sustentar um processo particular de filiação/adoção. Devemos, portanto,
averiguar, em cada situação, se a declaração “quero essa criança como
filho(a)” comporta efetivamente o consentimento com uma responsabilidade,
se há mesmo quem responda por este desejo e se, por isso, ao ser o desejo
de alguém, não é anônimo, mas um desejo particular de sustentar, na lida
com a criança, as funções paterna e materna.28

26 MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Homoparentalidade e superação de preconceitos. In: Revista


Jurídica Consulex, n. 123, 01 jul. 2010, p. 30 apud CRISTO, Isabela. Adoção por casais
homoafetivos e o melhor interesse da criança. Publicado em: 10 jun. 2015. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melh
or+interesse+da+crian%C3%A7a>. Acesso em: 20 abr. 2021.
27 FIUZA, César; SÁ, Maria de Fátima Freire de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira. Direito civil:
atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, apud CRISTO, Isabela. Adoção por casais
homoafetivos e o melhor interesse da criança. Publicado em: 10 jun. 2015. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/1043/Ado%C3%A7%C3%A3o+por+casais+homoafetivos+e+o+melh
or+interesse+da+crian%C3%A7a>. Acesso em: 20 abr. 2021.
28 LAIA, Sergio. A adoção por pessoas homossexuais e em casamentos homoafetivos: uma
25

Não há formalizado um modelo de “criação certa”, falhas e êxitos acontecem


em todos os modelos de família. Sejam elas tradicionais, constituídas por seus pais
biológicos quanto em famílias constituídas por meio de adoção, no caso em questão
“adoção homoafetiva”.

Laços paternos, assim como a forma correta da criação, não dependem da


sexualidade paterna. No sistema jurídico e seus progressos na área da psicologia e
ciências a respeito do caso se torna cada vez mais claro este fato.

Muitos estudos foram realizados, em especial nos Estados Unidos, e chegaram


a conclusão que não há malefícios neste tipo de adoção homoafetiva. Maria Berenice
Dias alega seu entendimento de tal forma:

diante de tais resultados, não há como prevalecer o mito de que a


homossexualidade dos genitores é geradora de patologias, eis não ter sido
constatado qualquer efeito danoso para o desenvolvimento moral ou a
estabilidade emocional da criança conviver com pais do mesmo sexo. Muito
menos se sustenta o temor de que o pai irá praticar sua sexualidade na frente
ou com os filhos. Assim, nada justifica a visão estereotipada de que o menor
que vive em um lar homossexual será socialmente estigmatizado e terá
prejudicado seu desenvolvimento, ou que a falta de modelo heterossexual
acarretará perda de referenciais ou tornará confusa a identidade de gênero. 29

Também é muito discutido o preconceito que a criança ou adolescente sofreria


na escola por ter pais homoafetivos. É sugerido por especialistas que a orientação
sexual dos pais deve ser exposta a seu filho o mais cedo possível para que este possa
tomar ciência da situação (Idade estimada, seis anos).

Entende-se que o êxito futuro da criança ou adolescente vai depender da


educação oferecida, priorizando sempre os direitos fundamentais do adotando.

A legislação não deve visar diferença afetiva ao julgar casos como estes, pois
não estaria sendo justo com o poder que está em suas mãos. Como já exposto, deve-

perspectiva psicanalítica. In: Adoção: um direito de todos e todas. Cartilha do Conselho Federal de
Psicologia (CFP). Brasília: CFP, 2008, p. 33. Disponível em:
<https://www.crpsp.org/impresso/view/214>. Acesso em: 10 abr. 2021.
29 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 5ª ed. São Paulo: RT, 2011,
p. 100.
26

se observar se os filhos estão de fato sendo beneficiados mediante as funções


paternas recebidas

A homologação para a adoção de casais homoafetivos é claramente


fundamentada na legislação, não havendo assim argumentos para os juízes; qualquer
atitude contrária deve ser considerada de cunho discriminatório. Existem inúmeras
crianças aguardando ansiosamente por uma família, para elas o que importa será o
amor recebido, e não a orientação sexual de seus genitores.

Muitos magistrados não consideram a convivência corrente com casais do


mesmo sexo, como união afetiva estável, impedindo assim o deferimento ou guarda
a um dos pais. Todavia a jurisprudência pátria favorável leva ao deferimento de tais
adoções.

Ao ser avaliado, um lar adotivo formado por casal homossexual, deve ser
realizada visando os mesmos princípios que seriam usados em caso de casais
heterossexuais. O principal objetivo são as condições que os futuros pais irão
oferecer, visando sempre o bem estar do adotando.

Sendo assim, os direitos e deveres são os mesmos, para quem pleiteia uma
adoção, não devendo haver negatória baseada em orientação sexual, e sim no bem
estar de quem ganhará uma nova família.

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a garantia do direito à


convivência familiar a todas as crianças e adolescentes, sobretudo, quando apresenta
reais vantagens para o adotando e baseia-se em motivo legítimo, qual seja, a
imprescindibilidade do melhor interesse do adotando;

É de suma Importância que seja feito um acompanhamento, elaborado por


assistente social ao pedido dos adotantes, a constatação da estabilidade da família,
para que seja observado se de fato a família em análise está apta a cumprir com tal
responsabilidade que é a adoção.

O atual ordenamento jurídico vai ao contrário das práticas antigas, podendo ao


lavrar o registro de nascimento, fazer constar nomes de duas mulheres ou dois
homens. A certidão de nascimento terá os nomes dos pais do mesmo sexo.
27

Tal questão sempre é questionada quando se trata de adoção por casais


homoafetivos, muito é discutido e várias polêmicas criadas acerca da viabilidade de
deferimento dessas adoções.

A Lei 6.015/73 dos Registros Públicos, formaliza exigências, que não impedem
registro de duas pessoas de sexo idêntico. O ECA, em sua letra diz:

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será
inscrita no registro civil, mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o
nome de seus ascendentes.30

Ou seja, não há nenhum impedimento ao magistrado, para que faça constar na


certidão de nascimento após o fim do processo de adoção, os nomes dos pais e avós,
sem que haja nenhuma especificação que remeta ao trâmite sentenciado.

Deve haver uma sensibilidade maior na análise do juiz e servidores notariais,


para que no ato da lavratura do registro que originará a certidão, não saia do padrão
Estatal e Constitucional, baseando-se nos princípios da igualdade e dignidade da
pessoa humana, em relação a paternidade/maternidade heterossexual.

O preconceito sexual não pode ser usado de forma alguma pelo estado
Democrático e o Notariado em relação as uniões homossexuais. Deve haver o mesmo
tratamento designado a pessoas heterossexuais, bom trato, eficiência, clareza, uso
fiel da legislação e vontade das partes.

Enézio de Deus usa como exemplo, a adoção de Theodora, adotada por Vasco
e Dorival:

em 2006, foi lavrado, na comarca de Catanduva-SP, o assento de nascimento


de Theodora Rafaela Carvalho da Gama, filha de Vasco Pedro da Gama Filho
e de Dorival Pereira de Carvalho Júnior, sendo avós: Vasco Pedro da Gama
e Aparecida de Souza Gama; Dorival Pereira de Carvalho e Maria Helena
Fernandes de Carvalho. Os magistrados e servidores da seara cartorária,
acertadamente, a partir de 2006, começaram a possibilitar a formalização do
vínculo de paternidade/maternidade entre pais/mães homossexuais e seus
filhos adotivos, evitando discriminações e oportunizando que as certidões de
nascimento, no caso das adoções por casais homossexuais, espelham a

30 BRASIL. Planalto. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 20 abr. 2021.
28

filiação real, de modo a garantir não somente o direito dos adotantes de serem
pais/mães, mas, especialmente, dos adotados de serem filhos de duas
pessoas que os acolheram através do amor.31

31 DEUS, Enézio de. A certidão de nascimento na adoção por casal homossexual. Publicado em:
21 jan. 2010. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/577/A+certid%C3%A3o++de+
nascimento+na+ado%C3%A7%C3%A3o+por+casal+homossexual+>. Acesso em: 19 abr. 2021.
29

CAPÍTULO 2. ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS DA ADOÇÃO

A filiação por adoção é uma realidade na sociedade brasileira mesmo antes


da regulamentação jurídica. O processo para adoção de crianças e adolescentes
sofreu inúmeras mutações com o tempo.

Segundo Gagliciano,

Hoje, a Adoção é guiada à luz de sua própria lei, esta qual é resultado dos
vários anos de profunda evolução experimentada pela junção do conjunto
filiação adotiva, justiça e dignidade constitucional, mesclados à evolução do
próprio direito de família brasileiro.32

Na legislação vigente os filhos sejam eles concebidos fora do casamento, por


adoção, por inseminação artificial possuem os mesmos direitos. No Código Civil de
1916 os trâmites não eram feitos de forma igualitária, o que fazia diferença entre filhos,
sendo estes em maioria considerados ilegítimos.

O vínculo afetivo entre pais e filhos, no entanto ultrapassa o vínculo jurídico.


Antes mesmo da possibilidade jurídica de adoção garantindo todos os direitos ao filho
por adoção o ato de educar, amar e criar crianças que não eram filhos biológicos já
acontecia em diversos lares brasileiros.

É importante retomar que a organização familiar sofre influências culturais e


temporais. Nas palavras de Darós:

Os modos como ocorrem às organizações familiares, a vida sexual, o


parentesco e a parentalidade não apenas são diversos no tempo, mas há,
concomitantemente, singulares modos de se ser família, em seus
desdobramentos, dependendo do contexto cultural. Necessário para nossa
análise, apontarmos diferentes modos de se ser família.33

32 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: direito de
família. As famílias em perspectiva constitucional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 663.
33 DARÓS, Lindomar Expedito Silva. Adoção judicial de filh@s por casais homossexuais: a
heteronormatividade em questão. Tese de Doutorado em Educação. Rio de Janeiro: UERJ, 2016.
Disponível em: <http://ppfh.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Tese-NORMALIZADA-1.pdf>.
Acesso em: 20 abr. 2021.
30

A adoção, não garante sozinha que haverá amor entre pais e filhos, o que nem
mesmo a paternidade biológica garante.

Carlos Simões menciona em sua obra:

O procedimento de adoção depende de uma verificação prévia dos requisitos


formais e materiais do pretendente a adoção. Atualmente exigisse que
previamente haja a habilitação, na Vara de Infância e Juventude competente.
Atualmente além da documentação, exigisse que os pretendentes façam
curso preparatório para adoção. Em algumas Varas de Infância e Juventude
exige-se que os pretendentes à adoção estejam também vinculados à Grupos
de Apoio à Adoção. A fase de habilitação consiste em entrevistas com
psicólogos e o assistente social e visitas domiciliares, os quais emitem um
laudo sobre habilidade e o perfil do adotando desejado, seguindo de um
parecer do Ministério Público. Segue- se a decisão do juiz, concedendo ou
não a habilitação, cuja formalização é a entrega do Certificado de Habilitação.
A partir da habilitação os pretendentes são inseridos no Cadastro Nacional
de Adoção. É possível que o adotante escolha faixa etária, raça, gênero e se
aceitar adotar crianças com doenças tratáveis ou com deficiência. 34

Em um processo emblemático (Recurso Extraordinário nº 846.102 – Paraná),


anterior à decisão que atualmente garante o direito de casais formados por duas
pessoas do mesmo sexo a adotarem, o Ministério Público emitiu parecer. Assim
exposto por Darós:

Trata-se da história, amplamente divulgada na mídia, de um casal de homens


que, após ter sua habilitação deferida pelo Juízo da Infância e Juventude de
Curitiba, teve de resistir a várias investidas contrárias do Ministério Público
do Paraná. Os recursos impetrados pelo Ministério Público foram tantos que
o casal acabou por realizar três adoções tardias, através de busca ativa, no
percurso da peregrinação judicial pelo direito à adoção.
Para o Ministério Público do Paraná, o casal de homens, até poderia adotar,
desde que fosse uma menina, a partir dos doze anos de idade. O argumento
fora que na idade referida, a adolescente poderia decidir se desejava ou não
ter por pais dois homens. Porém, considerando o condicionante de ser uma
menina, podemos derivar que haveria no posicionamento do representante
do Ministério Público a suspeita de que caso se inserisse um menino naquele
núcleo familiar, esse tenderia a sofrer violência sexual devido à orientação
sexual dos habilitandos? Há de se ponderar que homossexualidades e
pedofilia não são, necessariamente, coincidentes. Para além dos

34 SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. Biblioteca Básica do Serviço Social. 3ª ed.
São Paulo: Cortez, 2009, p. 230.
31

enfrentamentos ético-políticos, resta-nos lamentar a rasa […]. Na vigência


dos recursos, mesmo não estando no Cadastro Nacional de Adoção, através
de busca ativa, conseguiram adotar os filhos, posto que os dois pais são
militantes e transitam nos espaços LGBTTIQ e também nos grupos de apoio
à adoção e foram acionados por uma VIJI da Comarca da Capital. Em
contexto próprio há a conceituação de busca ativa. A formação de um tão
bem pago fiscal da lei. Oportuno situar que no II Congresso da ABEH, em
Brasília, em 2004, apresentei uma pesquisa referente às denúncias de
violência sexual perpetrada contra crianças/adolescentes na VIJI de São
Gonçalo. Naquela amostra fora demonstrado que 1,67% das denúncias tivera
por autor uma única pessoa da população LGBTTIQ. No mais, todos os atos
de violência foram praticados por homens heterossexuais, pertencentes a
parentela nuclear, extensa ou ampliada dos infantes violentados.35

Acolher o outro com plena disponibilidade emocional e psicológica é o


verdadeiro sentido da adoção. Por tal motivo, após o advento da Lei nº 12.010 de
2009, no seu artigo 197-C, passou a ser obrigatória a preparação dos pretendentes:

Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe interprofissional a


serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que deverá elaborar estudo
psicossocial, que conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o
preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou maternidade
responsável, à luz dos requisitos e princípios desta Lei.36

Aponta Arnoldo Wald que “a adoção é um ato que judicialmente, cria relações
de filiação entre duas pessoas, ou seja, uma pessoa passa a gozar do estado de filho
de outras pessoas, independentemente do vínculo biológico”.37

E a partir da leitura de Maria Helena Dinis, se entende que a adoção simples,


ou restrita, está conceitualmente vinculada à filiação estabelecida entre o adotando e

35 PACHECO, A. P.; MAIA, C. R.; SILVA, L.E. Práticas sexuais: do saudável ao patológico. In: LOPES,
D.; BENTO, B.; ABOUD, S.; GARCIA, W. Imagem & diversidade sexual: estudos da homocultura.
São Paulo: Nojosa Edições, p. 391-397, apud DARÓS, Lindomar Expedito Silva. Adoção judicial
de filh@s por casais homossexuais: a heteronormatividade em questão. Tese de Doutorado em
Educação. Rio de Janeiro: UERJ, 2016. Disponível em: <http://ppfh.com.br/wp-
content/uploads/2018/05/Tese-NORMALIZADA-1.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2021.
36 BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
37 WALD, Arnoldo. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 10ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009, p. 31.
32

o adotado, que podia ser pessoa maior ou menor entre 18 e 21 anos, mas tal
posicionamento de filho não era definitivo ou irrevogável.38

O artigo 1628 do Código Civil determina que a adoção é efetiva a partir do


trânsito em julgado da sentença que a decretar, exceto se o adotante vier a falecer no
curso do processo, caso em que a adoção produzirá efeitos retroativos à data do óbito
(adoção post mortem), e o vínculo por sua vez, será inscrito no Cartório de Registro
Civil mediante mandado judicial, quando o registro original do adotado será cancelado.

Sílvio de Salvo Venosa menciona os Códigos elaborados a partir do século


XIX que dedicaram normas sobre a família. Naquela época, a sociedade era
eminentemente rural e patriarcal, guardando traços profundos da família da
Antiguidade.39

As mulheres e os filhos eram submetidos a autoridade dos pais, nesta fase,


os quais tinham sobre seu comando toda a administração do lar, e representava na
sociedade a imagem familiar.

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe em seu artigo 40, “que o


adotado deve contar com no máximo de 18 anos à data do pedido, salvo se já estiver
sob a guarda ou tutela dos adotantes”, ou seja, para ser requerido o pedido de adoção,
onde o adotando possuir a idade de 18 anos o adotante deverá ter no mínimo 34 anos
a data do pedido. Observa-se que isso não significa que pessoas maiores de idade
não possam ser adotadas. Podem, com fundamento do Código Civil e não no Estatuto
da Criança e do Adolescente, conforme apresenta Cibele Santos.40

Outro requisito para a adoção, diz respeito ao consentimento por parte do


adotando, de seus pais e representantes legais, sendo necessário se o adotando
contar com mais de 12 anos de idade. Por sua vez, o consentimento dos pais será
sempre reclamado, salvo se eles tenham sido destituídos do poder de familiar,

38 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 22ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 97.
39 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. Coleção Direito Civil, V. 5. São Paulo:
Atlas, 2015, p. 106.
40 SANTOS, Cibele Carneiro da Cunha Macedo. A licença maternidade no caso de adoção após o
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.277. In: Revista Síntese, n. 76, fev./mar.
2013, p. 42.
33

conforme dispõe o art. 1621, do Código Civil, que veio a reformular a previsão do
Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo 45.41

2.1 O instituto jurídico da adoção

Maria Lúcia Espíndola ensina que:

A adoção no Brasil era rara antes do Código Civil de 1916, sendo disciplinado
este instituto apenas nos artigos 368 a 378. Com o objetivo de demonstrar a
intenção de incentivar a prática da adoção, em 08 de maio de 1957, a Lei
3.133 modifica-se os artigos 368, 369, 372, 374 e 377 do Código Civil. No
artigo 368 ficou estabelecido que somente os maiores de 30 anos poderiam
adotar, e que ninguém poderia adotar sendo casado senão decorridos 5 anos
após o casamento. O artigo 369 determina que o adotante deveria ser pelo
menos 16 anos mais velho que o adotado, e não mais 18 anos como
determinava no Código Civil de 1916 em sua redação primitiva. No artigo 372
a mudança se deu no sentido que não poderia adotante sem o consentimento
do adotado ou do seu representante legal quando incapaz ou nascituro. No
Código Civil de 1916 o artigo 374 apresentava duas hipóteses em que
dissolvia o vínculo da adoção. Com a nova Lei de 1957, não mais era
dissolvido o vínculo da adoção quando o adotado cometesse ingratidão ao
adotado e sim na hipótese de quando era admitida a deserdação. E, por fim,
a alteração no artigo 377 estabelecia que quando o adotante tiver filhos
legítimos, legitimados ou reconhecidos, a relação de adoção não envolve a
de sucessão hereditária. Tais modificações representaram um passo para
atualização do instituto, mesmo sendo consideradas pequenas.42

Simone Bochina diz que Orlando Gomes, em 31 de março de 1963,


apresentou o anteprojeto de reforma ao Código Civil, tratando também do instituto da
adoção e da legitimidade adotiva:

A adoção é mantida com as disposições que alteram o código civil (Lei 3.133)
para facilitá-la. Introduziram-se não obstante pequenas alterações. Exigiu-se,
por exemplo, para sua validade, a homologação judicial, com vistas a maior
segurança e para lhe dar cunho mais solene. Por exigência técnica,
distinguiu-se, da renovação, a dissolução do vínculo. Determinou- se que seja

41 ESPÍNDOLA, Maria Lucia de Paula. Entrevista concedida pela Juíza da 2ª Vara da Infância e da
Juventude à Renata do Rocio Alves Zanetti. Curitiba, 29 mar. 2012, p. 67.
42 WEBER, Lidia. Pais e filhos por adoção no Brasil: características, expectativas e sentimentos.
Curitiba: Juruá, 2001, p. 88.
34

pessoalmente ouvido o adotando menor que tenha mais de doze anos de


idade (art. 238, parágrafo único); e Legitimidade Adotiva [...] com o objeto de
favorecer o amparo familiar das crianças e pais desconhecidos; aos
legitimados por adoção conferir-se-ão os mesmos direitos do filho legítimo.
Entre os sistemas de legitimação, preferiu-se o que cerca o ato de sigilo. Só
os menores de sete anos poderão ser legitimados por adoção, pois sem esse
limite de idade o instituto não alcançaria sua finalidade. Sua finalidade não
pode ser atingida com a simples adoção. A legitimação adotiva é irrevogável
e os direitos do legitimado não se modificam se sobreviverem filhos ao casal
que praticou o ato. A adoção pode ser feita por um só dos cônjuges, enquanto
a legitimação adotiva só se permite a um casal sem filhos. Em suma os dois
institutos distinguem-se por traços inconfundíveis, diversificados pelos
propósitos a quem visam.43

Após dois anos de promulgada a Constituição Federal, houve a positivação


dos direitos das crianças e dos adolescentes através da edição da Lei n 8.069, de 13
de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, com o objetivo de
modificar o instituto da adoção e ainda de ressaltar vários aspectos importantes que
esse tema requer. Mas o seu objetivo principal é a proteção integral da criança e do
adolescente, conforme estabelece no seu artigo 1º: “Esta Lei dispõe sobre proteção
integral à criança e ao adolescente”.44

O legislador teve a intenção de promover a integração da criança ou


adolescente na família do adotante, em tudo igualando o filho adotivo ao filho natural.
Como vemos na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 227, § 6º: “Os filhos,
havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.45

2.2 Da adoção judicial

Interpretando as palavras de Sílvio Manoug, a adoção é um ato jurídico no


qual um indivíduo é assumido como filho por uma pessoa ou por um casal que não

43 GOMES, Orlando. Memória justificativa do anteprojeto de reforma do código civil, 1963, apud
BOCHINA, Simone Franzoni. Da adoção: categorias, paradigmas e práticas do direito de família.
Curitiba: Juruá, 2010, p. 38.
44 BRASIL. Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
45 Idem.
35

sejam os pais biológicos, com o objetivo de proporcionar filiação a quem não tem seu
próprio sangue. Porém, por se tratar de um ato jurídico em sentido estrito, se faz
necessário uma decisão judicial para produzir efeitos, e ainda, não pode ser feito
através de procuração. Portanto, a adoção é um meio legal de possibilitar a criança
sua inserção a uma família previamente selecionada, que possui a intenção o desejo
e a condição necessária para adoção.46

Na mesma toada, esclarece Vanessa Lima que “atualmente os requisitos para


adoção são idade mínima para os adotantes de 18 anos (artigo 42 do ECA). Sem
limite máximo para a idade do adotante. Há a exigência da diferença mínima de 16
anos com relação a idade do adotando ao adotado”.47

Ilustre-se com o Recurso Especial abaixo:

RECURSO ESPECIAL ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


(ARTS 29 E 50, PARÁGRAFOS 1º E 2º). HABILITAÇÃO PARA FINS DE
ADOÇÃO DE MENOR. FASE DE NATUREZA JURISDICIONAL.
CABIMENTO DO ESPECIAL. INSCRIÇÃO DE PESSOA HOMOAFETIVA NO
CADASTRO. POSSIBILIDADE, LIMITE MÍNIMO DE IDADE DO ADOTANDO,
IMPOSIÇÃO DESCABIDA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL, RECURSO
DESPROVIDO. 1. É viável a inscrição da pessoa homoafetiva no cadastro de
interessados em adoção de menor, cabendo a verificação do preenchimento
dos requisitos estabelecidos nos arts. 29 e 50, parágrafos 1º e 2º, da Lei
8,069/90 (Estatuto da Criala e do Adolescente). 2. Ante a ausência de
restrição legal, descabe a imposição de limite de idade para o menor adotado
por pessoas homoafetivas. 3. Recurso especial desprovido. 48

Para Paulo Luiz Netto Lôbo, “um dos efeitos da adoção é o corte total em
relação à família de origem, ao contrário do modelo anterior de adoção simples, que
estabelecia duplicidade de vínculo, sem qualquer relação com os demais membros da
família do adotante”.49

46 KALOUSTIAN, Sílvio Manoug. Família brasileira: a base de tudo. São Paulo: Cortez, Brasília:
UNICEF, 2011, p. 26.
47 LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 73.
48 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. REsp: 1525714 PR 2012/0019893-3, Relator: Ministro RAUL
ARAÚJO, Data de Julgamento: 16/03/2017, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe
04/05/2017. Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/465738969/recurso-
especial-resp-1525714-pr-2012-0019893-3/inteiro-teor-465738979>. Acesso em: 25 abr. 2021.
49 LOBÔ, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 91.
36

Essa regra também se harmoniza com os compromissos internacionais


assumidos pelo Brasil nessa matéria. O Estatuto da Criança e do Adolescente no seu
artigo 41 acrescenta que a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os
mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios.50

Quando se é desligada a relação de família anterior a adoção, ficam apenas


resquícios do parentesco de antes, impedindo matrimônios. O rompimento do vínculo
consanguíneo, levou o direito brasileiro para a família socioafetiva, sem nenhuma
relevância a sua origem.

Observando a importância da adoção, com fulcro no artigo 49 do Estatuto da


Criança e do Adolescente que a decisão é irrevogável, inclusive se o adotante vier a
óbito, este fato não reestabelece o vínculo biológico do adotado.

A nova Lei nº 12.010, sancionada em 03 de agosto de 2009, tem como


diferencial a fixação de prazo para que o juiz julgue e decida o que é melhor para
criança. O grande desafio é que o abrigo seja apenas temporário, com menor tempo
de permanência, tendo no máximo dois anos.51

Vecchiatti descreve sobre os requisitos para adoção por casais heteros e


homoafetivos:

A homossexualidade do casal que pretende adotar uma criança ou


adolescente, jamais deverá ser utilizada como fundamento para dar
preferência à adoção a um casal que seja constituído por um homem e uma
mulher, configurando puro preconceito entendimento em sentido diverso. 52

Segue um trecho do voto do Ministro Carlos Ayres Brito, relator no julgamento


da ADI 4.277 e da ADPF 132 pelo STF, a respeito da omissão legislativa a favor da
possibilidade jurídica de união estável entre pessoas do mesmo sexo independente
de preferência sexual:

50 BRASIL. Planalto. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
51 ______. Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção […]. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12010.htm>. Acesso em: 21 mar.
2021.
52 VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti. Manual da homoafetividade: da possibilidade jurídica do
casamento civil, da união estável e da adoção por casais homoafetivos. 2ª ed. São Paulo: Método,
2012, p. 501.
37

III – cuida-se, em rigor, de um salto normativo da proibição de preconceito


para a proclamação do próprio direito a uma concreta liberdade do mais largo
espectro, decorrendo tal liberdade de um intencional mutismo da Constituição
em tema de empírico emprego da sexualidade humana. É que a total
ausência de previsão normativo constitucional sobre esse concreto desfrute
da preferência sexual das pessoas faz entrar em ignição, primeiramente, a
regra universalmente válida de que “tudo aquilo que não estiver juridicamente
proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido” (esse o conteúdo do
inciso II do art. 5º da nossa Constituição.53

O Estado Democrático de Direito tem o dever de abrigar todas as entidades


familiares, em que seja como base o amor entre duas pessoas, independente do sexo.
Automaticamente é gerada uma nova família e esta deve ser legalmente reconhecida
na pluralidade dos arranjos familiares

O Supremo Tribunal de Justiça, tem sido cada vez mais favorável nas
decisões relacionadas a adoção homoafetiva, mas nem sempre foi assim, houveram
várias solicitações. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, foi o
primeiro a conceder o pedido, de lá em diante vem sido mais fácil, principalmente o
reconhecimento da união estável homoafetiva pelo Supremo Tribunal Federal. O
preconceito vem cada vez mais sendo deixado de lado e os casais homoafetivos a
homoparentalidade através da adoção.

Conforme o artigo 42, parágrafos 2º e 3º da Lei n. 8.069/90, que dispõe sobre


os requisitos necessários para a adoção, o adotante deve ser maior de 18 anos e
comprovar estabilidade familiar. O Supremo Tribunal Federal reconhece a adoção por
casal homoafetivo sem limitação de idade do adotado, conforme se vê na decisão da
Ministra Carmen Lúcia, no RE nº 846.102, que argumentou o conceito de família e a
importância do afeto na adoção, afastando limitações da idade ou sexo da criança:

APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO POR CASAL HOMOAFETIVO. SENTENÇA


TERMINATIVA. QUESTÃO DE MÉRITO E NÃO DE CONDIÇÃO DA AÇÃO.
HABILITAÇÃO DEFERIDA. LIMITAÇÃO QUANTO AO SEXO E À IDADE
DOS ADOTANDOS EM RAZÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL DOS
ADOTANTES. INADMISSÍVEL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. APELO

53 GOMES, Orlando. Memória justificativa do anteprojeto de reforma do código civil, 1963, apud
BOCHINA, Simone Franzoni. Da adoção: categorias, paradigmas e práticas do direito de família.
Curitiba: Juruá, 2010, p. 38.
38

CONHECIDO E PROVIDO. 1. Se as uniões homoafetivas já são


reconhecidas como entidade familiar, com origem em um vínculo afetivo, a
merecer tutela legal, não há razão para limitar a adoção, criando obstáculos
onde a lei não prevê. 2. Delimitar o sexo e a idade da criança a ser adotada
por casal homoafetivo é transformar a sublime relação de filiação, sem
vínculos biológicos, em ato de caridade provido de obrigações sociais e
totalmente desprovido de amor e comprometimento.54

São necessários para a adoção por casais homoafetivos o cumprimento do


artigo 42 da Lei 8.069, onde em sua letra fica expresso as condições que o adotante
precisa ter para a concretização do ato, tais como: condições de dar uma família
saudável para a criança ou adolescente que estiver adotando, a conduta do
requerente em meio a sociedade, comportamento inadequado, entre outros fatores,
salvo sua orientação sexual

Vemos que os que estão contra a mencionada adoção, não tem fundamento
legal e concreto para tal posicionamento, o que torna uma tentativa invalidada e
ressaltando mais uma vez, de cunho preconceituoso.

Hoje o instituto da adoção é regido pela Lei nº 12.010 de 2009, pelo Código
Civil, e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, visando em primeiro lugar sempre
o interesse do menor, que está a espera de uma acolhida familiar, po. A adoção pode
ser feita por pessoas casadas ou em união estável, como também individualmente, o
importante é ter condições para manter o bem estar do adotado.

É totalmente inaceitável o pensamento de que LGBTQIA+ sobretudo em


relações homoafetivas não possam constituir uma família.

Preenchidos os requisitos do artigo 42 da Lei 8.069, que são indispensáveis


para a adoção homoafetiva, legalmente não há motivos para a negação da formação
desta família. Sendo um requisito fundamental para a análise do juiz para o
deferimento da adoção não será a orientação sexual, mas o comportamento
desajustado ou inadequado que os futuros pais possam demonstrar.

Nesse sentido Lima leciona que:

54 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Extraordinário nº 846.102 – Paraná. Relator:


Ministra Cármen Lúcia. Julgamento: 05/03/2015. Publicação: 18/03/2015. Disponível em:
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4657667>. Acesso em 15 abr. 2021.
39

(...)muito importante que o direito e o Estado estejam em conformidade no


sentido de garantir direitos e não de retirar. Os direitos das pessoas LGBTQI
foram conquistados por muita luta e mesmo assim ainda são alvos de
discriminação e violência.
As crianças, principalmente as crianças pobres e negras, que vivem em
instituições de acolhimento também precisam ser protegidas pelo Estado e
pela Sociedade que não devem, de forma alguma, impedir que essas tenham
acesso a uma família que esteja disposta a suprir todas suas necessidades
materiais e emocionais.
Se o casal cumprir todos os requisitos, tendo sempre como requisito principal
o maior interesse da criança, não seria razoável negar a habilitação da
adoção para essas pessoas e negar a essas crianças uma família.
A orientação sexual e/ou identidade de gênero não devem ser fatores a
influenciar no processo de adoção. Devem ser analisados os requisitos
objetivos para a adoção, além de condições psicológicas e financeiras de ter
filhos e a disponibilidade para amar, cuidar e educa. 55

Portanto, o judiciário deve ser eficaz e se empenhar, para os avanços que


vêm ao encontro de necessidades de mudanças para uma realidade mais justa e
menos sofrida para aqueles que já não se cercam do amor paternal. Contudo, Dalva
Azevedo Gueiros, afirma que, apesar dos avanços em alguns setores sociais e nos
planos teóricos e legal, “a noção de criança e de adolescente como sujeitos de direito
ainda carece de maior sedimentação no plano da realidade cotidiana”.56

Insta salientar que mesmo que atualmente os direitos das famílias diversas
das formadas por homens e mulheres cisgêneros em um casamento são garantidos
na esfera judicial, existem setores que lutam para que haja flagrante retrocesso nesse
cenário.

55 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Extraordinário nº 846.102 – Paraná. Relator:


Ministra Cármen Lúcia. Julgamento: 05/03/2015. Publicação: 18/03/2015. Disponível em:
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4657667>. Acesso em 15 abr. 2021.
56 WEBER, Lidia. Pais e filhos por adoção no Brasil: características, expectativas e sentimentos.
Curitiba: Juruá. 2010, p. 210.
40

CAPÍTULO 3. A QUESTÃO HOMOAFETIVA E A ADOÇÃO POR CASAIS

HOMOAFETIVOS

A Constituição Federal de 1988, que logo em seu artigo 1º consagra o


princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), estabelece como objetivo
fundamental da República Federativa do Brasil a promoção do bem de todos sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (art. 3º, IV); estabelece a igualdade de direitos e obrigações e proíbe
quaisquer atos discriminatórios contra as liberdades fundamentais (art. 5º, I e XLI).57

O Projeto de Lei nº 1.904/99 do então Deputado Nilmário Miranda buscou


alterar a redação do artigo 1º da Lei nº 7.716/89 que define os crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor, para incluir a etnia, religião, procedência nacional ou
orientação sexual. O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e
Redação em 2001, porém desde 2004 encontra-se arquivado.58

[...] objetiva a superação das desigualdades entre as pessoas, por intermédio


da aplicação da mesma lei a todos, vale dizer, mediante a universalização
das normas jurídicas em face de todos os sujeitos de direito. Na esfera da
sexualidade, âmbito onde a homossexualidade se insere, isto significa, em
princípio, a extensão do mesmo tratamento jurídico a todas as pessoas, sem
distinção de orientação sexual homossexual ou heterossexual.59

A Carta Magna elenca uma série de critérios que acarretam proibições de


diferenciação jurídica que serve para reforçar a característica mencionada no princípio
citado. Assim como, o princípio da igualdade sem diferenciação sexual discriminatória.

57 JENCZAK, Dionísio. ANDRADE, Paulo Henrique Horn de (Org.). Aspectos das relações
homoafetivas à luz dos princípios constitucionais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008, p. 41.
58 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. União entre pessoas do mesmo sexo: aspectos jurídicos e sociais.
Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 74.
59 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24ª ed. São Paulo: Malheiros,
2005, p. 226.
41

3.1 A possibilidade de adoção por casais homoafetivos

A adoção em si já é um caso complexo, quanto mais a adoção por casais


homoafetivos.

O grupo familiar exerce uma profunda e decisiva importância na construção


da identidade e estruturação da personalidade da criança e do adolescente. Sem
dúvida, quando se fala em relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, a questão
mais polêmica se dará sobre o instituto da adoção, o que merece profundas análises
por vários ramos do saber, principalmente pela psicologia, muito mais do que pela
ciência jurídica, em consonância com a opinião de Álvaro Vilaça Azevedo.60

Maria Berenice Dias leciona que:

a mais tormentosa questão que se coloca e que mais tem dividido as opiniões,
mesmo os que vêem as relações homossexuais como uma expressão da
afetividade, é a que diz com o direito à adoção por parceiros do mesmo sexo.
Como as relações sociais são marcadas predominantemente pela
heterossexualidade, é enorme a resistência face à crença de haver um dano
potencial futuro por ausência de referências comportamentais e, por
consequência, a possibilidade de ocorrerem sequelas de ordem psicológica. 61

No instituto da adoção, fazer uma análise da concepção da


homossexualidade, informando desde logo que o citado termo foi retirado da relação
de doenças pelo Conselho Federal de Medicina em 1985, anos antes de a OMS
(Organização Mundial de Saúde) fazer o mesmo e o Conselho Federal de Psicologia,
por sua vez, determinou, em 1999, que nenhum profissional pode exercer “ação que
favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas”. 62

Família homossexual é aquela formada por duas pessoas do mesmo sexo


vivendo relação homoafetiva duradoura, com compromisso de fidelidade, mútua

60 AZEVEDO, Álvaro Vilaça. Bem de família: com comentários à Lei 8.009/90. 5. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2009, p. 55.
61 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2012, p. 64.
62 IBIAS, Delma Silveira. Aspectos jurídicos acerca da homossexualidade. In: Instituto Interdisciplinar
de Direito de Família - IDEF. Homossexualidade. Discussões jurídicas e psicológicas. Curitiba:
Juruá, 2013, p. 68.
42

assistência financeira, psicológica e emocional, residindo no mesmo lar,


apresentando-se à sociedade local como se casados fossem. Desse modo, não há
qualquer impedimento, nem na Constituição Federal, nem no Estatuto da Criança e
do Adolescente (Lei nº 8.069/90), que proíba a adoção de crianças por casal formado
por pessoas do mesmo sexo, pois a capacidade para a adoção nada tem a ver com a
sexualidade do adotante, como defende Paulo Martins Carvalho Filho.63

Maria Berenice Dias afirma em relação ao direito de adoção por


homossexuais que a “única objeção que poderia ser suscitada seria face aos termos
do artigo 29 do Estatuto da Criança e do Adolescente”, quando estabelece que: "não
se dará a colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo,
incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar
adequado".64

Porém, o princípio que deve prevalecer é o do artigo 43 do mesmo diploma


legal, quando afirma: "A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para
o adotando e fundar-se em motivo legítimo".65 Ao depois, é de se atentar na nossa
realidade social, com um enorme contingente de menores abandonados em situação
irregular, que poderiam vir a ter uma vida com mais dignidade.

A adoção por homossexuais ainda é vista com muito preconceito pela maioria
das pessoas. No presente capítulo, diante da Lei de Adoção (nº 12.010 de
03/08/2009), que alterou o artigo 42 do ECA (Lei nº 8.069/90), estabelecendo que
“para a adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente
ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família” 66, possibilitando
a adoção por casais homoafetivos, será objeto de estudo, o reconhecimento social e
jurídico dos casais homoafetivos como entidade familiar tendo os mesmos direitos de
qualquer outra entidade familiar.

63 CARVALHO FILHO, Paulo Martins. A união estável. In: Revista dos Tribunais, São Paulo, n. 734,
2009, p. 69.
64 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, 8ª ed. revista, atualizada e ampliada.
São Paulo: RT, 2011, p. 77.
65 BRASIL. Planalto. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
66 BRASIL. Planalto. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 21 mar. 2021.
43

Significa que para os casais homoafetivos poderem adotar, eles serão


submetidos pelo mesmo processo imposto aos casais heteros (estágio de
convivência, lista de adotantes, visitas de equipe interprofissional que auxilia o juiz,
etc.), sendo assim deve ser seguida a letra do artigo 42 do ECA que é garantidor das
vantagens do adotando, extinguindo o preconceito e focando numa família legítima e
focada vantajosa a criança ou adolescente junto ao princípio do melhor interesse.

Pode apenas ser constituída por um homem e uma mulher unidos pelo
matrimônio ou pela estabilidade de sua união. A adoção por casais
homossexuais exporá a criança a sérios constrangimentos. Uma criança,
cujos pais adotivos mantenham relacionamento homoafetivo, terá grandes
dificuldades em explicar aos seus amigos e colegas de escola porque tem
dois pais, sem nenhuma mãe, ou duas mães, sem nenhum pai. É dever do
Estado colocar a salvo a criança e o adolescente de situações que possam
causar-lhes embaraços, vexames e constrangimentos. A educação e a
formação de crianças e adolescentes deve ser processada em ambiente
adequado e favorável ao seu bom desenvolvimento intelectual, psicológico,
moral e espiritual. Por essa razão, a lei, adequando-se aos preceitos
constitucionais, deve resguardar os jovens de qualquer exposição que possa
comprometer-lhes a formação e o desenvolvimento. Note-se que o
ordenamento jurídico brasileiro não permite a adoção por “casais”
homossexuais. Ao mesmo tempo, não torna explícita a proibição. Essa
ambiguidade tem levado certos juízes de primeira instância a conceder tais
adoções – que são, posteriormente, tornadas nulas pelos tribunais
superiores. Creio, portanto, que devemos seguir o exemplo de países como
a Ucrânia, que recentemente tornou explícita a proibição de que estamos a
tratar. Assim, conto com o apoio dos membros desta Casa, no sentido da
aprovação desta proposição. (...) 67

3.2 Projeto de Lei nº 620/201568

Segundo Lima, os opositores à adoção homoafetiva se baseiam em uma


suposta omissão das leis para proporem legislação que ataquem direitos de pessoas
LGBTQI+ e principalmente na questão da adoção de crianças e adolescentes por
casais homoafetivos:

67 ______. Câmara. Projeto de Lei nº 620/2015. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/


proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=969166>. Acesso em: 25 fev. 2021.
68 BRASIL. Câmara. Projeto de Lei nº 7.018/2010. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=747302&filename=PL+701 8/2010>. Acesso em: 25
fev. 2021.
44

Com argumentos baseados na opinião pessoal, nas convicções religiosas e


na tradição familiar muitos se opõem a adoção de crianças e adolescentes
por casais homoafetivos.
Os opositores a adoção homoafetiva usam a omissão da lei para justificar a
sua improcedência.69

A Deputada Júlia Marinho, do PSC do Pará, propôs em seu Projeto de Lei a


alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente, no sentido de vedar a adoção
conjunta por casal homoafetivo. Segue a justificativa do seu projeto abaixo:

[...] Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do


Adolescente, para vedar a adoção conjunta por casal homoafetivo. O
Congresso Nacional decreta: (...) Art. 1º Esta lei acrescenta parágrafo ao art.
42 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do
Adolescente, para vedar a adoção conjunta por casal homoafetivo. Art. 2º O
art. 42 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do
Adolescente, passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º: “Art. 42. § 7º É
vedada a adoção conjunta por casal homoafetivo. (NR)” Art. 3º Esta lei entra
em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICAÇÃO A proposição
apresentada visa a explicitar a proibição da adoção conjunta por casal
homoafetivo no ordenamento jurídico brasileiro. A adoção conjunta está
disciplinada no § 2º do art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA,
sendo autorizada a pessoas casadas ou que mantenham união estável,
desde que comprovada a estabilidade familiar. O texto não autoriza a adoção
por casais homoafetivos. Em 2011, por ocasião do julgamento conjunto da
ADI nº 4277/DF e da ADPF nº 132/RJ, o Supremo Tribunal Federal concedeu
à união homoafetiva o mesmo tratamento jurídico conferido às uniões
estáveis. A partir de então, algumas varas de infância e juventude e tribunais
estaduais houveram por bem autorizar também a adoção conjunta por casais
homossexuais, malgrado a inexistência de autorização legal. Ocorre que
tema tão sensível e de tamanha relevância social requer deliberação do
Congresso Nacional, arena adequada à discussão e imposição de
significativa alteração do ordenamento jurídico. O reconhecimento jurídico de
união homoafetiva não implica automaticamente a possibilidade de adoção
por estes casais, matéria que, a toda evidência, dependeria de lei. O
regramento legal da adoção não se sujeita ao das uniões civis ou ao do
casamento. Cuida-se de instituto especial, que visa ao atendimento dos
interesses do adotando, não se podendo alegar que sua vedação a casais
homossexuais seja discriminação no acesso a um direito. A adoção é instituto
funcionalizado para alcançar o superior interesse do adotando e não para
garantir filhos a quem não os pode gerar. Em outras palavras, não há direito
a adotar por candidatos a pais, mas direito à adoção pelos menores. A

69 LIMA, Vanessa Figueiredo. Adoção de crianças por casais homoafetivos. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2019, p. 136.
45

diferença entre os institutos foi bem delineada pelo parlamento português


que, ao aprovar a Lei nº 9, de 31 de maio de 2010, autorizou o casamento
civil entre pessoas do mesmo sexo, com a ressalva de que a alteração relativa
ao matrimônio não implicaria a admissibilidade legal de adoção por cônjuges
do mesmo sexo (art. 3º). No Brasil, apesar da redação clara do § 2º do art.
42 do ECA, os intérpretes vêm conferindo interpretação ampliativa e indevida
à decisão proferida pelo STF, alterando o regramento de instituto contra o
texto da lei. É imperioso salientar que a adoção implica a inserção da criança
ou adolescente no seio de uma família, sistema de vital importância para o
seu adequado e saudável desenvolvimento físico, psíquico e social. É na
família que as primeiras interações são estabelecidas, trazendo implicações
significativas na forma pela qual a criança se relacionará em sociedade. O
convívio familiar é o espaço de socialização infantil por excelência,
constituindo a família verdadeira mediadora entre a criança e a sociedade. O
novo modelo de família, contrário ao tradicional, consagrado na referida
decisão judicial, encontra ainda resistência da população brasileira. Em
pesquisa recente, o IBOPE constatou que 53% da população é contra o
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dessa forma, a presente
proposição tem a finalidade de evitar que crianças e adolescentes adotados
sejam inseridos em situação delicada e de provável desgaste social. A
colocação ambiente familiar que não logra ampla aceitação social pode gerar
desgaste psicológico e emocional em fase crítica de desenvolvimento
humano, sendo, portanto, necessário assegurar que a adoção conjunta seja
deferida nos moldes do que inicialmente intencionava o art. 42, § 2º, do ECA.
Assim, até que estudos científicos melhor avaliem os possíveis impactos
sobre o desenvolvimento de crianças em tal ambiente e que a questão seja
devidamente amadurecida, por meio de discussão no âmbito
constitucionalmente previsto para tanto – o Parlamento, deve ser vedada a
adoção homoparental, uma vez que, na prática, observa-se a deliberada
distorção do sentido original do dispositivo acima colacionado por órgãos do
Poder Judiciário. Por todo o exposto, conto com a colaboração dos nobres
pares para a aprovação do projeto que ora submeto à apreciação. (...) 70

Este projeto diz que a família composta por casais homoafetivos “não tem uma
boa aceitação social” e “pode gerar desgaste psicológico e emocional” na criança
adotada. É possível notar que o seu discurso é extremamente preconceituoso e
homofóbico.

Enxerga-se o Projeto de Lei n.º 6.583/2013, como um retrocesso para o


judiciário, muito embora nossos órgãos de superposição judiciária, Supremo Tribunal
Federal e Superior Tribunal de Justiça, já venham apresentando parecer favorável. A
decisão do STF na ADPF 132 e na ADI 4277, em maio de 2011, proporcionou a

70 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 620/2015. Disponível em:


<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=969166>. Acesso
em: 25 fev. 2021.
46

concessão do direito à adoção para casais homoafetivos, ao conferir a eles a mesma


categoria de família antes atribuída somente a casais heteroafetivos.

3.3 Dificuldades encontradas para a adoção por casais homoafetivos

Mesmo com o Supremo Tribunal Federal demonstrando avanço jurídico na


história do Direito, existem algumas lacunas na validação da declaração da união
estável homoafetiva. Para suprir tais lacunas em 2013 o CNJ (Conselho Nacional de
Justiça) equiparou a união estável homoafetiva ao casamento, obrigando todos os
cartórios a aceitarem a realização deste matrimônio.71

No entanto, os casais homoafetivos contam com os direitos dados aos casais


heteroafetivos, tal como, a escolha do regime de bens que melhor aprovem e a
realização de um projeto parental.72

Ademais, a senadora Lídice da Mata apresentou o PLS 470/13, no qual


objetivou expandir o conceito de família de forma contemplar todas as estruturas
familiares. Assim, reuniu em um só documento jurídico todas as disposições protetivas
à família. A referida iniciativa tem o condão de proteger as normas que atestam a
pluralidade de famílias, facilitando aos profissionais de direito a aplicação das novas
regulamentações, bem como tem o intuito de consolidar de forma efetiva e flexível a
família homoafetiva.73

O referido projeto não possui argumentos plausíveis, pois está em desacordo


com os princípios fundadores tanto do direito de família como da própria Constituição,
uma vez que as garantias aos casais homoafetivos são as mesmas dos casais
heteroafetivos.

Sendo assim, não é possível restringir quaisquer direitos aos casais


homoafetivos, mesmo diante de tabus e preconceitos da sociedade, justo porque

71 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: família. Coleção direito civil, V. 5, 17. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 47.
72 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. V. 6. 14ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017, p. 11.
73 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 114.
47

principalmente a resolução n. 175 do CNJ assegura e equipara essa relação as


demais, sendo, portanto, cabível a adoção como direito de constituir família.

O conceito e o reconhecimento de uma família estão pautados na ideia de


afetividade e não apenas em uma estrutura hierárquica ou entendimento neste
sentido.
48

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este estudo conclui-se através dos princípios constitucionais, doutrinas


e projeto a respeito da adoção por casais homoafetivos, que com tantos avanços ainda
há muita dificuldade, mesmo pautados nos princípios constitucionais determinados
pelo Direito de Família em sua doutrina moderna.

Adoção é um tema de suma importância e relevância social, embora haja uma


notável necessidade de consolidação deste modelo de acolhimento das crianças e
adolescentes abandonados ou carentes de pai e mãe.

O objetivo principal das instituições é que os filhos sem lar sejam acolhidos,
conquistando seus anseios e necessidades, viabilizando sua inserção na sociedade e
convivência familiar como cidadãos com a garantia de seus direitos, como é visto na
Constituição Federal de 1988 incluindo os casais homoafetivos.

Essa nova cultura de adoção é uma nova construção, e um de seus desafios


e caminhos para que diminua o número de crianças e adolescentes sem família no
Brasil, pois este é um direito inalienável e dever ético de todos, sem maiores
dificuldades ou preconceitos, como muitos casais homoafetivos enfrentam ainda no
momento da adoção.

Sendo assim, a adoção pode ser relacionada a um ato de amor, união e


respeito com o adotado que merece um lar e pais. Importante ressaltar que, na
atualidade, a adoção ocorre não apenas por homem e mulher, casados ou não, mas
como também por pessoas do mesmo sexo que apresentem condições psicológicas
e sociais para amparar e adotar a criança ou adolescente.

São criados assim novos modelos familiares, dispostos pelo Estatuto da


Criança e do Adolescente, abandonando modelos sistematicamente compostos por
pais (gênero masculino e feminino) e filhos, passando a compor uma estrutura
monoparental, ou até mesmo com a ausência de uma figura centralizadora familiar.

É de suma importância que o cuidado seja de excelência para com as crianças


e adolescentes que estão se desenvolvendo. Negar o direito de adoção aos casais
homoafetivos é aumentar o número de abandonados, uma vez que as doutrinas e
jurisprudências demonstram que não há impedimento na Constituição e nem na
49

legislação para que os casais homoafetivos formem famílias e possam adotar seus
filhos.

Sempre baseados nos Direitos Fundamentais como já dito, entre outros


fatores que assegurem a pessoa, no caso em questão os casais homoafetivos contra
atos desumanos, de forma que todos tenham minimamente os mesmos direitos para
uma vida digna e saudável ao decorrer de sua existência.

Mesmo que atualmente os direitos das famílias sejam formados por homens
e mulheres cisgêneros em um casamento são garantidos na esfera judicial, existem
setores que lutam para que haja flagrante retrocesso nesse cenário.

Ou seja, o reconhecimento de uma família está pautado na ideia de


afetividade e não apenas em uma estrutura hierárquica ou entendimento neste
sentido.
50

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51

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