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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

JUAN CARLOS DE SOUZA LEITE

LICENÇA PARENTAL, FAMÍLIA E OS IMPACTOS QUE O PROJETO


DE LEI Nº1974/2021 PODE TRAZER ÀS ADOÇÕES POR CASAIS
HOMOSSEXUAIS.

Três Rios
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

LICENÇA PARENTAL, FAMÍLIA E OS IMPACTOS QUE O PROJETODE


LEI Nº1974/2021 PODE TRAZER ÀS ADOÇÕES POR CASAIS
HOMOSSEXUAIS.

JUAN CARLOS DE SOUZA LEITE

Monografia apresentada como requisito


parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Direito, em curso de
graduação oferecido pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro,
campus Instituto Três Rios.

Orientador: Dr. Verlan Valle Gaspar Neto.

Três Rios
2021
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UFRRJ/BIBLIOTECA
Licença parental, família e os impactos que o projeto de lei nº 1.974/2021
pode trazer às adoções por casais homossexuais
LEITE, Juan Carlos de Souza/ Juan Carlos de Souza Leite –
2021.67 f.

Orientador(a): Dr. Verlan Valle Gaspar Neto.

1. Licença adotante- Monografia; 2. Direito Homoafetivo- Monografia; 3.


Adoção por casais homossexuais - Monografia; 4. Licença parental –
Monografia. 5- Direito de família – Monografia; 6- Direito do trabalho –
Monografia;
Monografia (graduação).Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro
Faculdade de Direito

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta tese, desde que citada a fonte.

______________________________ _________________
Assinatura Data
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

LICENÇA PARENTAL, FAMÍLIA E OS IMPACTOS QUE O PROJETO DE


LEI Nº1974/2021 PODE TRAZER ÀS ADOÇÕES POR CASAIS
HOMOSSEXUAIS.

JUAN CARLOS DE SOUZA LEITE

Monografia apresentada como requisito


parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Direito, em curso de
graduação oferecido pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro,
campus Instituto Três Rios.
Aprovado em: _____________________________________________________________________

Banca Examinadora:
_________________________________________________________________________________
Ludmilla Elyseu Rocha, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ (2008)
_______________________________________________________________________
Juliane dos Santos Ramos Souza, Mestre em Direito pela Universidade Federal Fluminense – UFF
(2016)
_______________________________________________________________________
Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio Souza, Doutora em Direito pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ (2012)
____________________________________________________________

Verlan Valle Gaspar Neto, Doutor em antropologia pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2012)
AGRADECIMENTOS

À minha força de vontade e dedicação, pois sem elas nada disso seria
possível.

Aos meus sonhos que me impulsionaram até aqui.

À esta Instituição, assim como seu corpo docente, que me proporcionaram o


conhecimento e ferramentas necessários para que eu me torne um profissional
capaz e bem-sucedido.
Ao meu querido orientador, Verla n Valle G asp ar Net o , por todo zelo,
empenho, profissionalismo e dedicação demonstrados e empregados na orientação
da feitura deste trabalho.

A Jhony Michael da Cruz Miato, por todo o apoio, auxílio, companheirismo e


incentivo, os quais foram fundamentais para que eu conseguisse realizar a tarefa
aqui exposta.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.


Muito obrigado.
Dedicado aоs meus sonhos, que me
sustentaram até aqui e possibilitaram que
este estudo fosse concluído. Um homem
sem sonho não é um homem: é um oco.
RESUMO

LEITE, Juan Carlos de Souza. Licença parental, família e os impactos que o projeto
de lei nº1974/2021 pode trazer às adoções por casais homossexuais. 2021. 67f.
Monografia ( Graduação em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Três Rios, 2021.

Com as transformações das relações sociais, especialmente dos vínculos familiares,


os direitos tiverem que ser repensados, de modo a atender grupos que, fatidicamente,
preenchem os mesmos requisitos que outros para serem considerados estruturas
familiares e gozarem dos efeitos dessa condição. Essa extensão ocorreu, no entanto,
pela via judiciária e de forma esparsa, o que gerou várias lacunas, estando uma delas
relacionada à licença adotante e às suas nuances em relação a casais homossexuais
que adotam no Brasil. Por causa disso, esse trabalho destina-se a entender se o recém
projeto de lei 1974/2021, apresentado à mesa da Câmara dos Deputados, que trata da
licença parental, tem o potêncial de sanar algumas distorções no ordenamento jurídico
e impactar, positivamente, a adoção por casais homossexuais, sanando uma das
brechas existentes sobre os direitos desse grupo.

Palavras-chave: Licença adotante; Direito Homoafetivo; Adoção por casais


homossexuais; Licença parental; PL 1974/202.
ABSTRACT

LEITE, Juan Carlos de Souza. Parental leave, Family and the impacts that bill
nº1.974/2021 can bring to adoptions by homosexual couples. 2021. 67f. Monograph
(Law Degree) – Faculty of Law, Federal Rural University of Rio de Janeiro, Três Rios,
2021.

With the changes of social relations, especially family ties, rights had to be rethought,
in order to meet groups that, fatefully, fulfill the same requirements as others to be
considered family structures and enjoy the effects of this condition. This extension
occurred, however, through the courts and sparsely, which generated several gaps, one
of which is related to the adopting license and its nuances in relation to homosexual
couples who adopt in Brazil. Because of this, this work is intended to understand if the
recent bill 1.974/2021 presented to the table of the Chamber of Deputies, which deals
with parental leave, has the potential to remedy some distortions in the legal system
and positively impact the adoption by homosexual couples, solving one of the existing
gaps in the rights of this group.

Keywords: Adopter license; Homoaffective Law; Adoption by homosexual couples;


Parental leave; Bill 1.974/2021.
LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1 - Gráfico dos discursos parlamentares realizados nos plenários da Câmara


dos Deputados e no Senado Federal ....................................................................... 45

Figura 2 - Tabela de projetos de leis de mesma natureza do PL 1974/2021, já


arquivados ou em tramitação (Continuação) ............................................................ 54

Figura 3 - Infográfico do processo legislativo no Congresso Nacional ....................... 56


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10

2 FAMÍLIAS .................................................................................................. 12

2.1 As mudanças jurídicas da concepção de família no Brasil ao longo dos


Séculos XX e XXI. ......................................................................................... 12

2.2 Pluralismo de arranjos familiares ............................................................... 19

2.2.1 Matrimonial ........................................................................................... 21

2.2.2 Informal ................................................................................................ 21

2.2.3 Homoafetiva ......................................................................................... 22

2.2.4 Poliafetiva ............................................................................................ 23

2.2.5 Monoparental ........................................................................................ 24

2.3 Família homoparental ............................................................................. 26

3 LICENÇAS MATERNIDADE, PATERNIDADE, ADOTANTE E PARENTALIDADE


.................................................................................................................... 33

3.1 Licenças maternidade e paternidade ........................................................ 33

3.2 Licença adotante .................................................................................... 35

3.3 Licença parental ..................................................................................... 37

4. POSIÇÃO HISTÓRICA DO LEGISLADOR FEDERAL EM RELAÇÃO AOS


DIREITOS DE CASAIS HOMOSSEXUAIS E O ATUAR DO JUDICIÁRIO ............. 39

4.1 O que pode explicar isso? ....................................................................... 39

4.2 Já que não há lei, como os casais homoeróticos possuem alguns direitos
reconhecidos? ............................................................................................. 42

5. DIREITO À ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS .................................. 46

6. APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE LEI Nº1974/2021 E SEUS


DESDOBRAMENTOS .................................................................................... 52

7. CONCLUSÃO ........................................................................................... 58

8. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 59
10

INTRODUÇÃO

O objetivo principal do trabalho aqui desenvolvido é compreender, de forma


clara e detalhada, quais sãos os possíveis efeitos que o projeto de lei nº 1974/2021,
que trata sobre a licença parental, pode gerar em relação ao instituto da adoção por
casais homossexuais, especialmente em relação à licença adotante e às problemáticas
que surgem quando solicitada por essas pessoas.
Como um caminho a ser percorrido para que a finalidade acima seja alcançada,
existem outros intentos a serem concretizados, como: 1) Conhecer a dinâmica da
família na história do Direito brasileiro e na estrutura social; 2) Compreender a atuação
legislativa em relação aos casais homoafetivos e ao modo institucional pelo qual essas
pessoas obtêm direitos; 3) Entender o que são as licenças maternidade, paternidade,
adotante e parentalidade; 4) Por fim, de acordo com sistema jurídico pátrio, averiguar
a possibilidade de casais homossexuais adotarem
Ao longo do trabaho, serão mostrados, ainda que de forma esparça, os motivos
que levaram ao estabelecimento das questões acima citadas. Ver-se-á que a atuação
do legislador brasileiro em relação às pessoas homossexuais, em especial aos casais
não héteros, gera problemas jurídicos, cujas respostas muitas vezes são cunhadas
pelo Poder Judiciário. Perceber-se-á que, por causa disso, a aprovação de um projeto
de lei como o analisado ao final desta obra poderia resolver parte desse problema e,
de forma reflexa, atender a vários princípios constitucionais.
Dito isso, passa-se a uma descrição sumária dos capítulos e, por fim, da
metodologia utilizada nesta pesquisa:
O primeiro e maior de todos os capítulos tratará da família e de seus
desdobramentos no Direito brasileiro. Nele serão expostos os pontos mais
interessantes da história desse instituto no ordenamento jurídico pátrio desde o Código
Civil de 1916 até os dias atuais. Também serão citadas algumas organizações
familiares mencionadas pela doutrna especializada no tema. Para terminar, será
abordada mais precisamente a discussão acerca da possibilidade de as pessoas do
mesmo sexo constituírem família.
11

O segundo capítulo, p o r s u a v e z , discorrerá acerca de uma breve síntese


histórica sobre as licenças paternidade e maternidade no Direito brasileiro,
demonstrando as mudanças principais que esses institutos sofreram ao longo dos
anos, principalmente em relação aos prazos. Ao longo desse enxerto será possível
entender para que servem ambas as licenças e também quais sãos algumas distorções
constitucionais criadas por elas. Nessa parte será analisada, ademais, a licença
parental e os principais argumentos favoráveis a ela.
O terceiro capítulo abordará a atuação do legislador no que tange aos casais
homossexuais e também haverá uma tentativa de entender por que há uma atução
negativa do legislativo em relação a esse público, assim como o motivo pelo qual,
mesmo com essa anominia legislativa, eles ainda têm alguns direitos.
O quarto capítulo tratará resumidamente sobre o instituto da adoção, dando
ênfase na possibilidade, com base nos requisitos legais, de casais homoafetivos
adotarem crianças no Brasil. Também serão colocadas em discussão algumas
mudanças que esse instituto sofreu até o presente.
O último capítulo de desenvolvimento, por seu turno, analisará o projeto de lei
1974/2021, apontando sua autoria, suas disposições e também suas fundamentações.
Serão apresentados outros projetos como esse, anteriormente arquivados ou que
estão ainda tramitando, assim como o processo legislativo necessário para sua
aprovação. Por fim, haverá um parágrafo específico para discorrer sobre as possíveis
implicações que a aprovação de tal proposta pode gerar em relação à adoção por
casais homoafetivos.
Para estruturar esses capítulos e elucidar os problemas citados no início, foram
utilizadas obras doutrinárias, jurisprudências do Tribunais Superiores, legislação em
vigor e já revogadas, além de artigos científicos, notícias e textos publicados na internet.
Não obstante, deu-se mais preferência a artigos publicados por autores reconhecidos,
assim como doutrinas especializadas nos temas aqui analisados. A metologia, portanto,
pautou-se na revisão e análise bibliográfica sobre a matéria.
12

2 FAMÍLIAS

2.1 As mudanças jurídicas da concepção de família no Brasil ao longo dos


Séculos XX e XXI.

O instituto do direito de família é extremamente volátil, uma vez que as relações


que ele regula são altamente modificáveis a depender do tempo e do local. Por causa
disso, dificilmente é possível estabelecer limitações claras acerca de sua concepção.
Contudo, é possível afirmar que esse ramo jurídico sofreu fortes alterações desde o
século passado até os dias atuais.
Com a promulgação do Código Civil de 1916, as relações conjugais, de filiação
e sucessórias foram amplamente regulamentadas. Essa normatização refletiu a
dinâmica familiar da época e sua configuração ordinária. Fruto de uma colonização
exploratória e culturalmente impositiva, a família desse período ainda estava muito
ligada à noção de manutenção e fortificação dos bens dos indivíduos que a formavam,
não se preocupando muito com os aspectos subjetivos de seus qcomponentes. Como
afirma Luis Edson Fachin , para ser sujeito de direito, antes era necessário ser “sujeito
de patrimônio”, ter vários bens 1.
Nesse sentido, como a mulher detinha pouco poder aquisitivo, eis que o trabalho
doméstico irremunerado era um dos únicos a ela atribuído, para a legislação da época,
ela sequer detinha capacidade plena de fato para exercer os direitos de que dispunha,
como o direito a exercer uma profissão, litigar em juízo, aceitar ou rejeitar a herança
(art. 242, incisos IV, VI e VII do Código Civil de 1916). 2Caso ela quisesse exercer um
desses direitos, seria necessária a autorização do chefe da família para tanto (art. 242,
caput, do Código Civil de 1916) 3.
Vê-se que a mulher era, então, acessória em relação ao seu cônjuge. O Código
Civil de 1916, em seu art. 233, aliás, deixava isso bem claro quando dizia que a mulher
era apenas colaboradora do marido, sendo ele o chefe da sociedade conjugal. 4

1
FACHIN, Luiz Edson. Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 298.
2
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Rio de
Janeiro, 1 janeiro 1916. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso
em 04 out. 2021.
3
Idem. Ibidem.
4
Idem. Ibidem.
13

Continuando, como a função da família do início do século passado ainda era a


de preservação dos bens dos indivíduos, a filiação tolerada pela legislação derivava
do casamento, o qual nessa época possuía as características da indissolubilidade e da
solenidade. De acordo Maria Berenice Dias, os vínculos extraconjugais eram
sancionados e a prole surgida no seio dessa relação, rejeitada, tanto socialmente
quanto juridicamente. Nem mesmo o direito à identidade familiar, ao nome do pai e à
legitimidade sucessória eram conferidos aos filhos fora do casamento. 5
Pouco a pouco, por meio de pressões perpetradas pelo movimento feminista do
século XX, a rigidez da família existente até então deu espaço a uma frágil flexibilidade,
a qual, como não poderia deixar de ser, também se fez refletir na atividade legislativa
desenvolvida no período. Foi nesse tempo, aliás, que se iniciou uma alteração
substancial acerca da concepção “tradicional” de família, conforme defende Ana Carla
Harmatiuk Matos e Débora Simões da Silva:

[...] A partir das lutas do movimento feminista, foi possível dinamizar essa
construção social, e promover um embrionário rompimento do modelo
patriarcal e tradicional de família. Dessa forma, as responsabilidades familiares
encontram-se em momento de reinvenção, haja vista que dentro da seara
familiar pode-se perceber, gradativamente, a corrosão dessa divisão, e, da
mesma maneira, atesta-se a abertura da esfera pública. 6

Em 1949, surgem, por exemplo, as primeiras garantias legais dos filhos outrora
considerados ilegítimos, desprovidos de qualquer direito em relação aos seus pais
biológicos. A Lei nº 883/49, além de outras inovações, permitiu que esses filhos
pudessem ser, tanto por vontade própria, através de ação específica, quanto por ato
volitivo de seus pais, reconhecidos como descendentes desses, podendo, até mesmo,
cobrar alimentos provisionais em segredo de justiça e ter direitos iguais em relação à
herança. 7
Em que pese essa legislação ter sido, em verdade, vanguardista ao ir na
contramão de boa parte dos preceitos estampados no compêndio civilista do período,

5
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
6
MATOS, A. C. H.; SILVA, D. S. Licença-parental e o enfrentamento da desigualdade de gênero no
mercado de trabalho e âmbito familiar. Revista Brasileira de Direito Civil, Jul/Set 2015. Disponível
em:<https://rbdcivil.ibdcivil.org.br/rbdc/article/view/88/84>. Acesso em: 04 out.2021. P.12.
7
BRASIL. Lei n. 883, de 21 de outubro de 1949. Dispõe sobre o reconhecimento de filhos ilegítimos, Rio
de Janeiro, 21 outubro 1949. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1930-
1949/l0883.htm>. Acesso em 06 out. 2021.
14

ao estabelecer que a ação de alimentos correria sob segredo de justiça, ela ainda
detinha grande preocupação sobre a imagem do homem provedor e sobre a simbologia
que ele carregava: pilar da família rígida e que, por sua vez, representava-a . É isso,
inclusive, o que diz Barreto.8
Foi somente após treze anos da publicação da Lei que findou a disparidade
acentuada entre filhos nascidos dentro do casamento e os geridos fora dele que, em
1962, o legislador trouxe um tratamento diferenciado à mulher. Isso se materializou
através da promulgação da Lei nº4.121, reconhecida como “O Estatuto da Mulher
Casada”, nomenclatura emblemática, mas não só por isso descabida, pois retratava a
quem a lei se dirigia: a mulher que possuía um vínculo conjugal. 9
O Estatuto da Mulher Casada trouxe diversas modificações para o ordenamento
jurídico. A mulher, que antes só podia trabalhar com o consentimento do marido, o que
acabava por retirar dela a possibilidade de obter certa liberdade marital, passou a
independer da anuência dele, podendo, dessa maneira, trabalhar e galgar certa
independência financeira e, por consequência, individual. Ademais, sua capacidade
para praticar os atos da vida civil, que antes era relativa, retornou à plenitude e, pela
primeira vez, o ordenamento reconheceu que ela produzia patrimônio e, por fim, que
10
esse era autônomo ao de seu marido.
Muito embora esse reconhecimento tenha ocorrido tardiamente, vale frisar que
isso não quer dizer, no entanto, que a mulher brasileira, mesmo antes da revolução
industrial, não trabalhava. Ao contrário, a história brasileira demonstra que a produção
no país foi marcada fortemente pelo trabalho feminino, seja na lavoura ou nas casas
grandes.

Prosseguindo, as mudanças paradigmáticas em relação à família não pararam


no Estatuto. Em 1977 foram editadas a Lei ordinária nº 6.515 11 e a Emenda

8
BARRETO, L. S. Evolução histórica e legislativa da família. Série Aperfeiçoamento de Magistrados 13
10 Anos do Código Civil - Aplicação,Acertos, Desacertos e Novos Rumos, jan./dez. [entre2012-
2019].Disponível:em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/1
3/volumel/10anosdocodigocivil_205.pdf>. Acesso em: 06 out. 2021. P. 210.
9
BRASIL. Lei n. 4.121, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada,
Brasília/DF, 27 Agosto 1962. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-
1969/l4121.htm>. Acesso em: 08 out. 2021.
10
Idem. Ibidem.
11
BRASIL. Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade
conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências, Brasília/DF,
26 Dezembro 1977. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm>. Acesso em:
08 out. 2021.
15

Constitucional nº 09 12. A segunda trazia a possibilidade do divórcio, e a primeira a


forma como isso se daria.
Igualmente às leis já suscitadas que a antecederam, a lei do ivórcio (Lei
6.515/1977), ao mesmo tempo em que quebrou noções pré-estabelecidas, manteve-
se resistente a alguns pontos sensíveis. Um exemplo disso é a possibilidade de
mudança de nome. Enquanto essa legislação rompia com a estigma do nome do
marido carregado pela mulher, pois previa que após a dissolução do matrimônio a
mulher poderia optar em manter ou retirar o nome do seu ex-marido obtido com o
casamento (art. 17, §2º da referida lei), no caso de ela perder a ação, ser-lhe-ia
imposto, compulsoriamente, a mudança, retirando, dessa forma, qualquer
possibilidade de escolha (art. 17, caput da lei supracitada). 13
Finalmente, com a promulgação da Constituição brasileira de 1988, devido ao
seu teor extenso, não simplista, previu-se tanto as normas de estrutura do Estado
quanto as de outras áreas jurídicas, adentrando-se, muitas vezes, na seara privada. 14
A família, instituto milenar do Direito, nessa toada, encontrou uma nova
roupagem. Isso, todavia, devido às mudanças na forma como a sociedade já a tratava
na época e, também, em razão do caráter prescritivo da Carta Magna, não causou
tanto espanto, ao revés, segundo Vitor Almeida15:

[...] a promulgação da Constituição da República de 1988 [...] recepcionou as


alterações da realidade social e a evolução jurisprudencial, estabelecendo
novas diretrizes jurídicas, a exemplo da dignidade da pessoa humana e
solidariedade familiar.

Um dos grandes avanços trazidos pela Constituição foi a transposição de vários


princípios caros à seara familiar, os quais cunharam a concepção nova de família,

12
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n. 9, de 28 de junho de 1977. Dá nova redação
ao § 1º do artigo 175 da Constituição Federal, Brasília ,28 Junho 1977. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc09.htm>.Acesso em 11 out. 2021.
13
BRASIL. Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Regula os casos de dissolução da sociedade
conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências, Brasília/DF,
26 Dezembro 1977. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm>. Acesso em:
08 out. 2021.
14
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.Acesso em 11 out. 2021.
15
ALMEIDA, V. O direito ao planejamento familiar e as novas formas de parentalidade. Coletânea do
XV Encontro dos Grupos de Pesquisa -IBDCivil, p. 420, 2018. Coletânea do XV. Encontro dos Grupos
de Pesquisa.
16

menos patrimonialista e mais afetuosa. Igualdade, liberdade e dignidade da pessoa


humana, núcleo de todos os Direitos Fundamentais, foram apenas alguns dos
princípios que passaram a reger a vida familiar.
Um efeito da aplicação da norma otimizadora da igualdade familiar, como
ressalta Gisele Leite, foi que os cônjuges, que antes da Constituição viviam sob um
regime hierarquizado, passaram a experimentar isonomia conjugal, possuindo, dessa
maneira, direitos e deveres mútuos. O pai, que antes detinha o pátrio poder em suas
mãos, nesse momento, começa a ter que dividi-lo. Assim, o marido e a mulher
deixaram de ser vistos como polos contrários e começaram a ser reconhecidos como
16
pessoas que têm o mesmo destino, sendo considerados consortes, companheiros.
Outra mudança importante proporcionada pela Constituição em relação à família
foi a própria forma de sua formação. Conforme já comentado anteriormente, a família
pré-constituição de 1988 tinha um caráter estanque, sendo constituída pela simbologia
do casamento. Isso, contudo, deixou de ser a regra imutável, sendo reconhecida a
união estável no art. 226, §§ 3º e 4º da Carta Maior: “[...] para o efeito da proteção do
Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento” 17.
Como se percebe pela redação do artigo constitucional que trouxe a
possibilidade de a união estável ser reconhecida como uma forma de se constituir
família, o Constituinte se preocupou em regular um fato social, o qual já existia no bojo
da sociedade e já era reconhecida por ela como família por causa de sua publicidade
ser igual à provinda da figura do casamento. Em relação a essa exposição, o Professor
Álvaro Villaça Azevedo comenta que:

[...] a união estável é tão exposta ao público como o casamento, em que os


companheiros são conhecidos, no local em que vivem, nos meios sociais,
principalmente de sua comunidade, junto aos fornecedores de produtos e
serviços, apresentando-se, enfim, como se casados fossem. Diz o povo, em
sua linguagem autêntica, que só falta aos companheiros ‘o papel passado’.
Essa convivência, como no casamento, existe com continuidade; os

16
LEITE, Gisele. “O Novo Direito de Família”. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre, v.
9, n. 49, p. 112, 20 ago-set. 2008.
17
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.Acesso em 11 out. 2021.
17

companheiros não só se visitam, mas vivem juntos, participam um da vida do


outro, sem termo marcado para se separarem. 18

Antes de terminar as ponderações sobre as inovações fomentadas pela


Constituição de 1988 ao Direito Falimentar, é sadio tecer, ainda, comentários acerca
da filiação. Sobre isso, cita-se que a instituição de uma nova ordem jurídica em 1988
colocou um fim na diferença entre os filhos surgidos dentro do casamento e fora dele.
O Professor Vitor Almeida comenta sobre isso:

[...] a Constituição da República de 1988 coroou a desvinculação entre a


filiação e o casamento, ou seja, o estado de filho adquiriu independência frente
à situação conjugal dos genitores, a partir do reconhecimento da plena
igualdade entre os filhos e da superação da discriminatória e odiosa díade
entre prole legítima e ilegítima. O estabelecimento do vínculo paterno-filial
independe da constância de justas núpcias entre seus genitores, ou seja, o
projeto reprodutivo não mais se vincula ao matrimônio. (grifo nosso). 19

Percebe-se, então, que o texto constitucional retirou do campo de discussão o


fato de os genitores serem ou não cônjuges um do outro para que a filiação seja
reconhecida e protegida. Assim, desde então, de forma bastante assertiva, o
ordenamento deixou de lado o vínculo entre os genitores para reconhecer que os filhos
são iguais, tenham surgido na constância do matrimônio ou não.
Dito isso, conquanto seja possível afirmar que a Constituição tenha sido o marco
histórico que alterou consubstancialmente a concepção clássica de família, a criação
de um novo Código Civil, em 2002, abalou, fortemente, vários institutos custosos para
o direito, dentre eles o que aqui está sendo analisado. A estipulação de novas regras
civilistas e a omissão na criação de outras, representaram, em grande parte e,
respectivamente, a qualidade e o defeito desse “novo” texto legal, que rege a maioria
das relações privadas no país.

O Código Civil de 2002, criado com fortes inspirações na Constituição Federal


de 1988 e nos valores emanados por ela, como diz Luciano Silva Barreto, “apesar de

18
AZEVEDO, À. V. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, v. XIX, 2003, p.255.
19
ALMEIDA, V. O direito ao planejamento familiar e as novas formas de parentalidade. Coletânea do
XV Encontro dos Grupos de Pesquisa -IBDCivil, p. 420, 2018. Coletânea do XV. Encontro dos Grupos
de Pesquisa.
18

novo, à época de sua vigência já estava desgastado” 20.


Tal tese é tão verdadeira que, em que pese grandes anseios do Público
LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer,
intersexuais, assexuais e mais), o legislador se omitiu a respeito da família constituída
por essas pessoas e, pior, manteve-se preso à dualidade de gênero, conceituando,
tanto no art. 1.723 do CC/2002, a união estável como a união entre um homem e uma
21
mulher, quanto no art. 1.514, do mesmo diploma legal, o casamento como a
manifestação de vontade externada entre um homem e uma mulher para formarem um
vínculo conjugal. 22
A previsão conservadoríssima mantida pelo Código Civil de 2002 acerca do
casamento e da união estável ser viável somente a pessoas de sexo distintos levou o
Supremo Tribunal Federal (STF), em 2011, através do julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 4277 23 e da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 132 24 a reconhecer a união estável no que tange a casais
homoafetivos, provindo disso o informativo nº 625 da Corte Suprema 25.
Outrossim e para terminar, é importante mencionar que o Supremo Tribunal de
26
Justiça (STJ), por meio do contemporâneo voto do Min. Luís Felipe Salomão
surpreendeu a todos ao ser mais garantista do que o próprio STF, pois reconheceu a
possibilidade, não apenas da união estável, mas do casamento entre pessoas do
mesmo sexo.

20
BARRETO, L. S. Evolução histórica e legislativa da família. Série Aperfeiçoamento de Magistrados 13
10 Anos do Código Civil - Aplicação,Acertos, Desacertos e Novos Rumos, jan./dez. [entre 2012-2019].
P. 2010 Disponível
em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/13/volumel/10anos
docodigocivil_205.pdf>. Acesso em: 06 out. 2021.
21
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília/DF, 10 janeiro 2002.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 13
out. 2021.
22
Idem. Ibidem.
23
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011.Disponível
em:<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em 20 out.
2021.
24
Idem. Ibidem.
25
BRASIL. Superior Tribunal Federal. Informativo 625 de 02 a 06 de maio de 2011. Disponível em: <
https://www.dizerodireito.com.br/2018/08/informativo-comentado-625-stj.html>. Acesso em 20 out.
2021.
26
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.183.378/RS. Recorrentes: K R O e L P.
Recorrido: Ministério Público do Rio Grande do Sul. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, julgado
25/10/2011. Disponível
em:<https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=18810976&tipo=5&nreg=201000366
638&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20120201&formato=PDF&salvar=false>. Acesso em 25
out. 2021.
19

2.2 Pluralidade de arranjos familiares

Como se percebe pela leitura da seção anterior, o direito de família, desde sua
gênese, preocupou-se em estabelecer regras aplicáveis majoritariamente à família
tradicional, a qual é constituída basicamente pelo homem, a mulher e sua prole. Esse,
no entanto, não é o único tipo de configuração familiar existente no bojo da sociedade
brasileira e resguardado pela Constituição da República Federativa de 1988.
Em verdade, vale pontuar que, a família elementar, constituída pela figura do
casamento entre um homem e uma mulher, os quais possuem funções enrijecidas em
razão de seus respectivos gêneros, com direitos e obrigações próprios, que se excluem
entre si, não é e, de acordo com Lévi-Strauss , nunca foi o modelo universal de família
nem o mais predominante:

[...] a maior parte das sociedades não dão muita atenção à família elementar,
tão importante para algumas de entre elas, incluindo a nossa. Regra geral,
como vimos, são os grupos que contam e não as uniões particulares entre
indivíduos. 27

No Brasil, conforme já mencionado, a formatação da família elementar foi


trazida pelos colonos, uma vez que a estrutura familiar dos povos que residiam aqui
era e ainda é, em alguns agrupamentos remanescentes de nativos brasileiros, não
nuclear, o que significa que os elementos familiares não são adstritos ao marido, à
mulher e seus filhos, mas sim compartilhados por todos os componentes do grupo. A
descrição feita por Lévi-Strauss da forma social adotada pelos Tupi-Kawahib,
população nativa do Brasil central, ilustra satisfatoriamente isso:

[...] o chefe desposa, simultaneamente ou em sucessão, várias irmãs ou uma


mulher e as suas filhas que tenham nascido de uma união precedente. Estas
mulheres criam em conjunto os seus respectivos filhos sem se preocuparem

27
LÉVI-STRAUSS, C. O olhar distanciado. Tradução de Carmen Carvalho. Lisboa: Edições 70, LTDA,
2010. P.81.
20

muito, no que parece, com o facto de a criança de que se ocupam ser ou não
a sua. 28

A poligamia retratada acima, prática adotada pelos Tupi-Kawahib, representa o


oposto ao entendimento popular acerca da família elementar. A noção de unidade e
estabilidade, caracteres essenciais dessa família, rompem-se na medida em que os
vínculos familiares formados por relações com mais de um homem ou mulher, todos
convivendo no mesmo espaço – características principais de famílias polígamas-, são
extensos, abrangendo um grande número de pessoas.
Feita essa reflexão, é preciso esclarecer que as experiências sociais
mencionadas a seguir só são consideradas estruturas familiares quando se tem em
mente que nenhum conceiro é capaz de contemplar a pluralidade da vida, conforme
saliente Verlan Valle Gaspar Neto. 29 Caso o leitor entenda que as famílias surgem
apenas através da figura do casamento e da dualidade sexual entre os contraentes,
certamente pouco proveito terá esse capítulo e servirá apenas como marco teórico
para futura crítica.
Assim sendo, antes de mencionar suscintamente algumas estruturas familiares
descritas em obras bibliográficas, é importante salientar que o conceito adotado nessa
obra acerca da família é o mesmo utilizado atualmente por boa parte da doutrina e
também expresso no art. 5º, inciso II da Lei Maria da Penha: “comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa”. 30
Em outras palavras, entende-se que família é um grupo de indivíduos que
possuem afeto, respeito, lealdade e assistência recíproca, podendo ou não se
relacionarem sexualmente. O vínculo sexual não é elemento essencial nessa
concepção, assim como a formalidade, eis que o próprio texto constitucional dispensa
tal exigência quando prevê o instituto da união estável, estabelecendo a partir daí o
31
que alguns denominam de princípio do pluralismo familiar.

28
LÉVI-STRAUSS, C. O olhar distanciado. Tradução de Carmen Carvalho. Lisboa: Edições 70, LTDA,
2010. P.81.
29
NETO, Verlan Valle Gaspar. Sobre o estatuto das famílias e sobre as famílias. Tribunal de Minas. Juiz
de Fora. 23 de outubro de 2016.
30
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher... Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 25 out. 2021.
31
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p.80.
21

Feita essa observação, passa-se a mencionar algumas dinâmicas familiares e


suas características primordiais:

2.2.1 Matrimonial:

A palavra matrimônio pode ser entendida como casamento. A família, nessa


perspectiva, nasce através de um ato formal e atualmente dissolúvel, o qual é regido
principalmente pelas regras dispostas no Código Civil de 2002, especificadamente em
seu livro IV, Título I, subtítulo I.
Nos dias atuais, os contraentes ou contratantes (o casamento é um contrato)
não precisam mais serem do sexo aposto. Isso decorre do posicionamento do STF,
consubstanciado no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e
a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, que, conforme
já citados, reconheceram a possibilidade de pessoas do mesmo sexo conviverem em
união estável. 32
Essa interpretação possibilitou e continua a possibilitar que casais
homossexuais se casem, uma vez que, conforme Maria Berenice Dias comenta, a
união estável funciona como se fosse o requisito prescritivo da usucapião. Transcorrido
um determinado tempo de convivência amorosa divulgada, adquirem os conviventes o
33
direito de converterem a sua união em casamento.

2.2.2 Informal:

No primeiro capítulo deste trabalho, é citado o tratamento que era conferido à


prole e às relações amorosas não acobertadas pelo manto do casamento no princípio
do século passado. Vê-se que esse tipo de estrutura era tida como ilegítima, não tendo

32
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011. Disponível em:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em 20 out.
2021.
33
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.P.237.
22

sido tolerada pelo direito, muito embora citada e reconhecida por suas normas punitivas
à época. Com o transcorrer do tempo, no entanto, a sociedade e o legislador, como
reflexo desse mesmo tecido social, passaram a não só tolerar a existência dessa
prática, como também proteger tal união.
Dessa forma, a atual Constituição brasileira passou a prever em seu texto (art.
226,§3º) que, além do casamento, a convivência duradoura entre pessoas de sexos
distintos, homem e mulher, gozaria do status de família, devendo a lei convertê-la em
casamento. 34 Essa parte final é amplamente criticada por Maria Berenice Dias, porque,
segundo ela, é algo inútil e sem sentido, uma vez que a união estável confere aos
indivíduos praticamente os mesmo direitos e deveres que o casamento, sendo apenas
35
menos morosa e burocrática.
A parte inicial do dispositivo constitucional também não foi bem aceita pela
doutrina, muito menos pela jurisprudência. Como guardiã e interprete oficial da
Constituição, a Suprema Corte brasileira foi instada a se manifestar acerca da distinção
feita pelo próprio texto constitucional acerca dos casais homossexuais e
heterossexuais e acabou firmando a tese de que, de acordo com os demais preceitos
e valores constitucionais, a interpretação que deve prevalecer é a de que aqueles
casais têm os mesmos direitos e obrigações conferidas a esses. 36
Em linhas gerais e de forma resumida, pode-se afirmar que a família informal,
como já é possível denotar pelo nome , é aquela que advém de uma falta de
formalidade, ou seja, não passa por um rito previamente estabelecido para ser
constituída. Apesar disso, essa estrutura familiar não é desconsiderada pelas regras
jurídicas. Atualmente, o ordenamento a reconhece.

2.2.3 Homoafetiva:

Mais à frente, essa espécie familiar será melhor aprofundada. Por ora, basta

34
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
35
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.P.237.
36
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011. Disponível em:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635>. Acesso em 20 out.
2021.
23

entender que essa família é formada por pessoas do mesmo sexo, as quais podem ou
não estarem casadas, sendo o afeto o seu principal formador.

2.2.4 Poliafetiva:

Machado de Assis há muito tempo afirmava em seus escritos que o amor está
37
intimamente ligado à eleição da criatura que lhe preenche a alma. Agora, e se mais
de uma pessoa lhe completa? O nome disso é poliamor, o que forma a família
poliafetiva. No direito brasileiro, tal prática ainda hoje não é amparada.

Em 2020, por meio do julgamento do RE 1.045.273, O Supremo Tribunal Federal


decidiu que a concomitância de uniões estáveis não é permitida pelo ordenamento
jurídico, não gerando efeitos sucessórios a todos os envolvidos, tendo que definir-se
apenas um dos parceiros, o qual passará a ter, então, os direitos inerentes à união. 38

Essa posição da corte se pautou, principalmente, na letra estanque do art. 1.723


do Código Civil de 2002, que estabelece a possibilidade de outras uniões estáveis
39Entendeu-se
serem formadas desde que haja uma separação de fato ou jurídica. que
o dispositivo e, de forma reflexa, o ordenamento jurídico não sustenta uniões
simultâneas, apenas sucessivas.

Nesse julgamento, alguns Ministros, mesmo que vencidos, suscitaram ponto


importante, que é o caso da existência de uniões estáveis simultâneas putativas, as
quais tornaria, segundo Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio Souza40:

37
ASSIS, Machado. Helena. Livreiro editor do instituto histórico brasileiro. Rio de Janeiro. 1876. P. 187.
Disponível em:<file:///C:/Users/Windows/Downloads/000181841.pdf>. Acesso em: 04 out. 2021.
38
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 1.045.273/SE. Reclamante C.L.S.
Reclamados: M.J.O.S e E.S.S. Relator: Ministro Alexandre de Moraes, julgado 21/12/2020. Disponível
em: < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755543251>. Acesso em:
26 out. 2021.
39
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília/DF, 10 janeiro 2002.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 13
out. 2021.
40
SOUZA, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio. Relações patrimoniais de família: alguns apontamentos.
IBDFAM. Data de publicação: 06/04/2009. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/499/Rela%C3%A7%C3%B5es+patrimoniais+de+Fam%C3%ADlia%3A+al
guns+questionamentos+>. Acesso em: 04 out. 2021.
24

[...] exigível a proteção da boa-fé daquele que não conhecia o impedimento


para a constituição legítima de união estável. Não cabe, neste caso, nem
mesmo a denominação como união simultânea, porquanto não conhecida pelo
consorte a existência de outra união. Dessa forma, a proteção de sua boa-fé
impõe a partilha patrimonial por meio de meação, ou através das regras
estipuladas em sede de pacto de convivência.

A autora citada acima, em breve resumo explicativo, defende que as pessoas


que não sabem que estão se relacionando com alguém que já possui uma relação
matrimonial constituída, não podem ser prejudicadas pelo ordemanento, pois isso
desprestigiaria a boa-fé, um dos principais pilares que norteiam a sistemática civilista
atual.41

42
Infelizmente, conforme mencionado, o Supremo Tribunal Federal não
entendeu como a doutrinadora supracitada e, com isso, o tema da família poliafetiva
perdeu espaço nas discussões jurídicas, continuando à margem das normas legais.
Muito embora isso seja uma verdade, como o conceito adotado aqui acerca da família
está atrelado ao afeto, pode-se afirmar que o arranjo familiar analisado neste tópico
pode ser incorporado ao leque de possibilidades daquilo que chamamos família,
principalmente quando todas as pessoas vivem como e se reconhecem como tal.

2.2.5 Monoparental:

De acordo com Velasco, o Brasil ganhou em 10 anos mais de 1 milhão de


famílias constituídas por mães solteiras. 43 Esse fato retrata justamente o que é a
família monoparental, formada por um sujeito e seus filhos. Trata-se de espécie
amparada pela própria Constituição e que é estruturada a partir de várias situações.

41
SOUZA, Vanessa Ribeiro Corrêa Sampaio. Relações patrimoniais de família: alguns apontamentos.
IBDFAM. Data de publicação: 06/04/2009. Disponível em:
<https://ibdfam.org.br/artigos/499/Rela%C3%A7%C3%B5es+patrimoniais+de+Fam%C3%ADlia%3A+al
guns+questionamentos+>. Acesso em: 04 out. 2021.
42
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 1.045.273/SE. Reclamante C.L.S.
Reclamados: M.J.O.S e E.S.S. Relator: Ministro Alexandre de Moraes, julgado 21/12/2020. Disponível
em: < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755543251>. Acesso em:
26 out. 2021.
43
VELASCO, C. Em 10 anos, Brasil ganha mais de 1 milhão de famílias formadas por mães solteiras –
Conteúdo G1, 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/em-10-anos-brasil-ganha-
mais-de-1-milhao-de-familias-formadas-por-maes-solteiras.ghtml>. Acesso em: 26 out. 2021.
25

A Constituição brasileira de 1988 reconhece expressamente esse tipo de arranjo


familiar. Em seu art. 226, §4º, a Carta Maior preleciona que: “Entende-se, também,
como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes”. 44

Embora haja essa previsão, diferentemente do matrimônio e da união estável,


esse tipo de família ainda hoje não possui uma regulamentação específica, sujeitando-
se, assim, às regras gerais relativas aos parentescos, as quais estão dispostas no
Código Civil de 2002 .

Muito mais importante do que conhecer tais regras, é saber quais os principais
elementos geradores dessa figura constitucionalmente prevista. A adoção, a viuvez e
o divórcio são os principais criadores dessa espécie familiar, a qual, muitas vezes,
surge de modo inesperado, como sustenta Maria Helena Diniz.45 A propósito, conforme
defende Leite, dependendo do seu início, mostra-se bastante fragilizada, tanto
financeira quanto socialmente. 46

Nessa perspectiva, as restrições legais ao seu reconhecimento seria somente


um dos desafios diários a serem enfrentados pelos indivíduos que a formam.
Felizmente, como visto acima, tal dispêndio não é preciso, uma vez que ela é
reconhecida e amparada pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Não obstante, conforme aponta Maria Berenice Dias:

[...] as famílias monoparentais apresentam uma estrutura endógena mais


frágil, em face dos encargos mais pesados que são impostos ao ascendente
que cuidará, sozinho, do seu descendente. É de se observar que a
monoparentalidade decorre da dissolução de uma relação afetiva ou da
formação de um núcleo familiar sem a presença constante de um dos
genitores, como na hipótese da mãe solteira. Com isso, há uma tendência
natural à diminuição da renda econômica ou da permanência do baixo nível de
renda, levando ao reconhecimento de uma certa fragilidade no seio destas
famílias. Exatamente por isso, no que atine à implementação de políticas
públicas (como concessão de benefícios previdenciários, reconhecimento de
proteção ao bem de família, deferimento de vantagens para aquisição de casa
própria...), entendemos necessário que seja dispensada proteção especial e

44
BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n. 9, de 28 de junho de 1977. Dá nova redação
ao § 1º do artigo 175 da Constituição Federal, Brasília , 28 Junho 1977. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc09.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
45
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 5: Direito de Família. 20 ed. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 11.
46
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003,
p. 330
26

diferenciada às famílias monoparentais, garantindo a própria igualdade


substancial. 47

Logo, não basta que haja um reconhecimento legal sem que o Estado observe
mais atentamente as especificidades da família monoparental, que, embora possa ser
programada e sadia, muitas vezes surge abruptamente e sujeita os seus membros a
uma situação de desigualdade de gênero e econômica. É preciso que o Estado
intervenha nessa situação e garanta subterfúgios para que os indivíduos possam se
desenvolver de forma adequada e equitativa, tentando, ao máximo, especificar as
sitações de vulnerabilidade aptas a ativarem essa atuação positiva estatal .

2.3 Família homoparental

Seguindo as mudanças estruturais sobre a família, a parentalidade, ou seja, a


forma pela qual se desenvolve a relação entre pais e seus filhos, sofreu intensas
transformações. Uma delas foi a desnecessidade de a criança ser educada e sujeita
aos valores e vivências de pais de sexo distintos.
Em um passado nem tão distante, quando autores, principalmente da área da
psiquiatria e do direito, referiam-se à parentalidade, faziam questão de frisar a figura
do pai e da mãe. Isso resta nítido pela definição de parentalidade, cunhada por
Lebovici : “defino a parentalidade como o produto do parentesco biológico e da
parentalização do pai e da mãe”. 48Atualmente, felizmente essa tese perdeu espaço,
ganhando a parentalidade novos contornos e sendo definida de forma diferente.
Em primeiro lugar, é sadio apontar que a parentalidade não se confunde com
filiação, parentesco e vínculo biológico. Conforme explica Zambrano, ela é o exercício
fático da função parental, que se materializa nas ações de cuidado e proteção, como
alimentação, educação e segurança. O parentesco, por sua vez, é um vínculo
genealógico que fornece ao indivíduo um grupo de pertencimento, estando a filiação
intimamente atrelada às regras sociais criadas para regular essa situação. Por fim, o
vínculo biológico está ligado ao elo genético entre ascendentes e descentes, em que o

47
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p.145.
48
Lebovici, S. (2004). Diálogo Leticia Solis-Ponton e Serge Leibovici. In L.Solis-Ponton (Org.), Ser pai,
ser mãe – Parentalidade: Um desafio para o terceiro milênio (p.22). São Paulo: Casa do Psicólogo.
27

primeiro precisa existir para que o outro também exista (dependência consequencial).
49

Nessa linha de raciocínio, é possível dizer que as figuras parentais são produtos
da sociedade. Ser pai ou mãe é uma construção social e, como tal, não permanece
imutável e livre de mudanças. Ninguém nasce pai ou mãe: torna-se. Nesse processo é
difícil sustentar que um casal homossexual que adota ou que cuida do filho de um ou
do outro não podem assumir, ambos, os papéis de protetores e cuidadores de seus
filhos.

Mesmo assim, muitas pessoas ainda insistem na defesa de um modelo


único de família alegando a impossibilidade de pessoas do mesmo sexo serem pais.
Esses defensores até certo ponto estão corretos. Biologicamente ainda não é possível
que pessoas do mesmo sexo procriem juntas, gerando um novo ser. Contudo,
esquece-se que a parentalidade não significa vínculo biológico. Muitos indivíduos são
capazes de cuidar e educar os filhos de outros, não importando se pertencentes ou
não à mesma árvore genealógica. Cuidado e afeto, embora possuam alguns aspectos
naturais, envolvendo determinação genética e neurológica, necessitam de uma
vontade humana, como quase tudo que envolve o conceito atual de família.

Aliás, como bem esclarece Zambrano além de as pessoas do mesmo sexo


poderem exercer a parentalidade, várias são as formas pelas quais isso acontece. A
autora cita apenas quatro principais. A primeira ocorre quando uma pessoa
homossexual já possui um filho por causa de uma relação heterossexual anterior. A
segunda, no momento em que essa pessoa adota. A terceira, quando opta pelos
métodos de reprodução artificial, como a barriga de aluguel e a inseminação artificial.
A quarta, por fim, representa a utilização das anteriores, principalmente a adoção e as
técnicas reprodutivas, por um casal homossexual, sendo considerada uma
coparentalidade. 50,

Assim sendo, independentemente da opinião daqueles que defendem um único


modelo de família, conclui-se que socialmente pessoas do mesmo sexo não só podem
exercer a parentalidade, como, de fato, exercem-na.

Dito isso, tendo em vista os argumentos de algumas pessoas neste sentido,

49
ZAMBRANO, Elizabeth. O Direito à Homoparentalidade: Cartilha sobre as famílias constituídas por
pais homossexuais. Porto Alegre: Instituto de Acesso à Justiça, 2006, p.26.
50
ZAMBRANO, Elizabeth. O Direito à Homoparentalidade: Cartilha sobre as famílias constituídas por
pais homossexuais. Porto Alegre: Instituto de Acesso à Justiça, 2006, p.16.
28

resta saber se esse exercício é prejudicial ou não à criança. De uma forma geral,
conforme descrito minunciosamente por Dubreuil, citado por Rodriguez e Paiva, a
criação de crianças por pais homossexuais não se distingue em grande medida da
criação conferida pelos pais heterossexuais aos seus filhos. Assim como ocorre com
esses últimos, os pais homossexuais podem ou não serem ótimos pais. O sexo e o
gênero não são pontos fulcrais que determinam essa operação, e sim a vontade e o
51
preparo para tanto.

Nesse ponto, é pertinente também que seja feita a seguinte reflexão: o que é
ser um bom pai? A resposta a essa pergunta é altamente subjetiva e não raro extrapola
as linhas equidistantes das leis. Até mesmo no Brasil, caso seja feito esse
questionamento a qualquer brasileiro, várias serão as respostas. Fato é que, para a
legislação ( art.22 do ECA), é possível dizer, com relativa segurança, que um bom pai
é aquele que protege, educa e fornece o suficiente material e imaterial para que a
52
criança ou o adolescente possa se desenvolver.

Justamente por isso, não é possível dizer se determinado casal homossexual


será ou não saudável para a criança só por sua relação homoerótica. Fatores como
condição financeira, psicológica e existencial é que devem ser levados em
consideração, uma vez que esses sim podem impactar severamente na qualidade de
vidas das crianças.

Acentua-se que a condição existencial, nessa discussão, é fundamental. Aliás,


em toda o debate sobre casais homossexuais poderem exercer a parentalidade, talvez
a reflexão sobre esse tema seja a mais importante. Isso porque, a depender das
condições de existência dessas pessoas ( respeito e proteção à integridade física e
moral por parte da sociedade), o exercicício da função parental poderá ser melhor ou
pior.

Nesse sentindo, vale pontuar que, como já ocorre, a criação de filhos de casais
homoafetivos passa por situações que, sabidamente, são desafiadoras e
umbilicalmente relacionadas às condições de existências dessas pessoas. O
estranhamento por parte dos colegas de escola, o bullyng e a segregação social são

51
RODRIGUEZ, Brunella Carla; PAIVA, Maria Lucia de Souza Campos. Um estudo sobre o exercício da
parentalidade em contexto homoparental. Disponível em: <
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v6n1/v6n1a03.pdf>. Acesso em: 07 de novembro de 2021. P.25.]
52
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
29

apenas alguns exemplos desses dilemas experimentados por essas pessoas.

Com isso, embora seja fundamental o reconhecimento e o fortalecimento da


noção de que pessoas do mesmo sexo podem exercer a parentalidade, é igualmente
necessário que a sociedade garanta melhores condições de existência a essas
pessoas, empregando a elas o igual tratamento que é conferido aos casais
heterossexuais.

Feito todo esse exercício argumentativo, resta saber se a legislação brasileira


admite que pessoas homossexuais tenham laços de filiação com seus filhos.
Inicialmente, a resposta é um forte e contundente sim! De acordo com o art. 1.603 do
Código Civil de 2002, caso uma pessoa homossexual tenha tido um filho durante uma
relação anterior e o tenha registrado, provada estará a filiação. 53 De igual forma, se
qualquer pessoa maior de dezoito anos quiser adotar, sendo ela homossexual ou
heterossexual, de acordo com o art. 42 c/c o art.47, §1º do ECA, poderá fazê-lo,
independente do seu estado civil. 54

O grande problema não está, portanto, na filiação unilateral, e sim no


reconhecimento da cofiliação homoafetiva. A legislação não é clara sobre esse tema.
Surge, dessa forma, a questão: é possível que dois homens ou mulheres constem no
registro de uma criança como pais e mães dela? Esse foi basicamente o
questionamento que chegou ao STF em 2016. A Corte, a partir de então, alinhada aos
seus anteriores posicionamentos, principalmente a sua jurisprudência sobre a
possibilidade de as famílias homoeróticas serem reconhecidas pelo ordenamento
jurídico, posicionou-se, estabelecendo ,com repercussão geral e eficácia erga omnes,
que no registro da criança é admissível a anotação dos nomes dos seus pais ou mães
homossexuais. 55

Por sua argumentação exímia, vale a transcrição de parte da decisão do


Recurso Extraordinário mencionado no parágrafo anterior:

53
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil, Brasília/DF, 10 janeiro 2002.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 13
out. 2021.
54
Idem. Ibidem.
55
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 898.060/SC. Reclamante AN.
Reclamado: F G. Relator: Min. Luiz Fux, julgado 29/09/2016. Disponível em: <
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13431919>.Acesso em: 26 out.
2021.
30

Não cabe à lei agir como o Rei Salomão, na conhecida história em que propôs
dividir a criança ao meio pela impossibilidade de reconhecer a parentalidade
entre ela e duas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma forma, nos tempos
atuais, descabe pretender decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando
o melhor interesse do descendente é o reconhecimento jurídico de ambos os
vínculos. Do contrário, estar-se-ia transformando o ser humano em mero
instrumento de aplicação dos esquadros determinados pelos legisladores. É o
direito que deve servir à pessoa, não o contrário.56

Após esse pronunciamento, o Conselho Nacional da Justiça (CNJ), órgão


integrante do Poder Judiciário, decidiu regulamentar a matéria, o que deu origem ao
Provimento nº 63 de 14/11/2017, o que possibilitou o reconhecimento da filiação
socioafetiva, a qual é baseada principalmente no afeto. 57 Assim como quase toda a
normatização existente no Brasil, ao mesmo tempo em que a resolução do Conselho
foi necessária, pois atendeu a uma demanda já existente há muito tempo, mostrou-se
bastante confusa em relação à dupla paternidade e à dupla maternidade.

A principal norma a tratar sobre esse assunto foi o art. 14 da Resolução acima
referenciada, que previa e continua a prever o seguinte: “O reconhecimento da
paternidade ou maternidade socioafetiva somente poderá ser realizado de forma
unilateral e não implicará o registro de mais de dois pais e de duas mães no campo
FILIAÇÃO no assento de nascimento”. 58

Pela simples leitura do artigo supracitado, percebe-se que o entendimento do


CNJ foi uma resposta negativa ao posicionamento do STF acerca da dupla
paternidade. Ao dizer que “(...) não implicará o registro de mais de dois pais e de duas
mães no campo FILIAÇÃO”59, não resta dúvida que esse dispositivo proibia a alocação
de mais de um pai ou mãe no registro do infante.

Acontece que, como alguns doutrinadores, Tartuce menciona que inicialmente


existiam duas correntes hermenêuticas a respeito desse texto: a primeira compreendia

56
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 898.060/SC. Reclamante AN.
Reclamado: F G. Relator: Min. Luiz Fux, julgado 29/09/2016. Disponível em: <
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13431919>.Acesso em: 26 out.
2021.
57
BRASIL. Provimento nº63, de 14 de novembro de 2017. Institui modelos únicos de certidão de
nascimento, de casamento e de óbito, a serem adotadas pelos ofícios de registro civil das
pessoas naturais, e dispõe sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e
maternidade socioafetiva no Livro “A” e sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva
certidão dos filhos havidos por reprodução assistida. Diário da Justiça Eletrônico -Portal CNJ. Brasília,
DF, n. 191, p. 8-12, 17 nov., 2017. Disponível em:<http://www.cnj.jus.br/dje/djeletronico>.
Acesso em: 26 out. 2021.
58
Idem. Ibidem.
59
Idem. Ibidem.
31

60
que seria possível a dupla paternidade; a outra, que isso não seria viável.

Fato é que, desde o início, como já mencionado, a primeira corrente não fazia
muito sentido quando lido apenas o artigo 14 do Provimento acima citado, sem
referência ao estabelecido anteriormente pelo STF. Isso é tão verdadeiro que, de
acordo com o pedido de providências, instaurado pela Corregedoria Geral da Justiça do
Estado do Ceará-CE sobre a acertada interpretação desse dispositivo, o Ministro João
Otávio de Noronha, em 18/07/2018 , decidiu que: “o termo unilateral presente no art. 14
do Provimento 63/2017- CNJ limita o oficial de registro civil das pessoas naturais a anotar
apenas pai ou mãe socioafetivos, não possibilitando o registro de ambos ao mesmo
tempo”. 61 Dessa forma, consagrou, por mais equivocada que seja, a real intenção do
dispositivo.

Atualmente, esse provimento do CNJ possui feição nova, porém continua servindo
como empecilho para o reconhecimento da dupla paternidade do registro. Em 2019, por
meio do Provimento Nº 83 de 14/08/2019, estabeleceu-se, ao arrepio do princípio da
eficiência e da vinculação de todos os órgãos do judiciário aos precedentes
jurisprudenciais com eficácia contra todos que: 1) Só um pai ou mãe pode constar no
registro pela via extrajudicial (art.14, §1º do provimento referenciado) ; 2) Caso
queiram, podem solicitar, por meio judicial, a inclusão de dois pais e duas mães (art.14,
§2º do provimento referenciado). 62

Essa alteração serviu para um único propósito: esclarecer o que já estava


bastante claro aos olhos de boa parte dos operadores do direito. O CNJ ainda age com
bastante cautela e resistência em relação à dupla paternidade. Esse posicionamento,
até certa medida, tem motivos idôneos, sendo o principal a segurança jurídica, pois
desvios poderiam advir da autorização irrestrita.

Abaixo, segue um exemplo emblemático acerca de possíveis abusos nos

60
TARTUCE, Flávio. Anotações ao Provimento 63 do Conselho Nacional de Justiça. Segunda
parte.Jusbrasil, [s.l.], maio 2018. Disponível em: <
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/584420957/anotacoes-ao-provimento-63-do-conselho-
nacional-de-justica-segunda-parte-parentalidade-socioafetivo> . Acesso em: 26 out. 2021.
61
BRASIL. Conselho Nacional de Justiçal. Pedido de providências 0003325-80.2018.2.00.0000.
Requerente: CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ-CE.Requerido:
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA . Min. João Otávio de Noronha. Julgado 18/07/2018. Disponível
em: < file:///C:/Users/Windows/Downloads/SEI_0054255_02.2018.8.16.6000%20(1).pd>.Acesso em: 26
out. 2021.
62
TARTUCE, Flávio. O provimento 83/2019 do Conselho Nacional de Justiça e o novo tratamento do
reconhecimento extrajudicial da parentalidade socioafetiva. Disponível em:
<https://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI309727,81042-
O+provimento+832019+do+Conselho+Nacional+de+Justica+e+o+novo>. Acesso em: 26 out. 2021.
32

pedidos de dupla paternidade do registro, que foi julgado pelo Ministro Marco Aurélio
Belizze:

A possibilidade de se estabelecer a concomitância das parentalidades


sociafetiva e biológica não é uma regra, pelo contrário, a multiparentalidade é
uma casuística, passível de conhecimento nas hipóteses em que as
circunstâncias fáticas a justifiquem, não sendo admissível que o Poder
Judiciário compactue com uma pretensão contrária aos princípios da
afetividade, da solidariedade e da parentalidade responsável. […], assim,
reconhecer a multiparentalidade no caso em apreço seria homenagear a
utilização da criança para uma finalidade totalmente avessa ao ordenamento
jurídico, sobrepondo o interesse da genitora ao interesse da menor.63

No recurso acima, questionava-se a possibilidade de a dupla paternidade ser


reconhecida no registro de uma criança. No caso, verificou-se um nítido abuso no pleito.

A mãe pretendia incluir no registro do menor o nome de seu pai biológico, com o
qual ela estava se relacionando novamente. No entanto, já constava no assentamento
registral do infante o nome do antigo companheiro da mulher, o qual reconheceu e
registrou a criança como se sua fosse. Nesse caso, o STJ, acertadamente, afastou tal
possibilidade, pois reconheceu que a multiparentalidade não pode servir para afastar
vários princípios caros ao direito, dentre eles a afetividade.

Não obstante essa possível desvirtualizaçao do instituto, é temerário punir todos


pelos erros de alguns. O CNJ poderia ter encontrado uma melhor forma de evitar tais
aberrações jurídicas sem impedir que todos que queiram incluir uma dupla paternidade no
registro do menor tenham que recorrer ao Poder Judiciário. Na verdade, o movimento
poderia ser diferente. Somente os casos que demonstrassem inconsistências, como o
apresentado acima, deveriam ser direcionados à apreciação do Poder Judiciário. Para
tanto, o estabelecimento de requisitos e procedimentos seria mais do que suficiente.

Inobstante a esse apontamento, pode-se concluir que, em que pese o CNJ trazer
dificuldades para o reconhecimento da dupla paternidade e a legislação civilista não prever
expressamente regras atinentes à família parental, deixando um grande vazio acerca até
mesmo da recepção dessa estrutura como família, há posicionamento vinculante do STF

63
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. REsp: 1674849/RS. Recorrente: A C V D (Menor). Recorrido:
E A C D. 3ª T, Min. Rel. Marco Aurélio Bellizze, DJE 23/04/2018. Disponível em:
<https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1698834&
num_registro=201602213860&data=20180423&formato=PD>. Acesso em: 28 out. 2021.
33

favorável a essa espécie familiar, o que põe um ponto final em boa parte das discussões
acerca do instituto.

3 LICENÇAS MATERNIDADE, PATERNIDADE, ADOTANTE E PARENTALIDADE;

3.1 Licenças maternidade e paternidade

O início do século XX foi marcado pela criação de institutos importantes ainda


hoje, como o direito do trabalho, ramo jurídico que visa regular as relações de labor,
especialmente a firmada entre empregado e empregador, a qual, desde o início da
revolução industrial, mostrou-se bastante desigual. Alguns direitos trabalhistas criados
nesse período foram as licenças maternidade e paternidade, que foram amplamente
modificadas com o transcorrer do tempo por causa das transformações sociais.
Somente após vários anos é que o legislador decidiu contemplar os pais que adotam.
Em sua gênese, a licença estava ligada ao laço biológico e, por isso, foi dividida pelo
sexo dos genitores.
Em 1932, por meio do Decreto n.º 21.417-A, aos pais e mães trabalhadoras foi
concedido pela primeira vez no Brasil a possibilidade de ficarem em casa com os seus
filhos sem prejuízo dos salários. Concedeu-se à gestante quatro semanas de descanso
depois e quatro semanas antes do parto. Ao pai trabalhador, por sua vez, o corpo legal
apenas atribuiu um dia para ficar com o seu filho e um dia, no decorrer da semana de
nascimento, para efetuar o registro. 64
A promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943, também
contemplou o direito à licença gestante e paternidade, contudo, com algumas
extensões de prazos em relação à primeira. Inicialmente, a legislação trabalhista, em
seu art. 392, redação original, previa que a trabalhadora brasileira teria o direito a gozar
de seis semanas de descanso antes do parto e seis depois. Através de uma
modificação legislativa dessa norma, deu-se mais preferência ao descanso posterior

64
BRASIL. Decreto n.º 21.417-A, de 17 de maio de 1932. Regula as condições do trabalho das mulheres
nos estabelecimentos industriais e comerciais., Rio de Janeiro, 1932. Disponível em: <
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-21417-a-17-maio-1932-526754-
publicacaooriginal-1-pe.html> . Acesso em: 28 out. 2021.
34

ao parto do que antes, na medida em que o legislador previu que as trabalhadoras


iriam usufruir de quatro semanas de descanso antes e oito semanas depois do parto.65
Com a promulgação da Constituição de 1988, os direitos trabalhistas foram
tratados como direitos sociais e tanto a licença paternidade quanto a maternidade
foram alçadas ao patamar de direitos constitucionalmente garantidos. Inclusive, o
STFreconheceu que os direitos sociais também podem ser considerados limitadores
materiais explícitos (cláusulas pétreas) à uma reforma que tenda a lhes abolir. 66 Dessa
forma, entende-se que tais licenças não podem ser extintas.
Dito isso, cabe asseverar que o legislador constituinte, ao tratar sobre a licença
maternidade e a licença paternidade, embora tenha sido favorável à gestante,
aumentando o seu prazo de descanso de oitenta e quatro para cento e vinte dias,
manteve-se preso aos papeis sociais aceitos à época, pois apenas preveu a
possibilidade de licença paternidade sem estabelecer prazo definitivo, deixando, assim,
ao legislador infraconstitucional a tarefa de estabelecê-lo.
Acontece que, até o presente momento, os responsáveis por definir o prazo de
gozo da licença paternidade se limitaram a legislar sobre o assunto criando leis
direcionados para dois grupos: servidores militares e empregados de empresas
“cidadãs”. Ademais, mantiveram as disparidades de período de gozo do benefício entre
a licença maternidade e a licença paternidade.
Os militares, através da Lei 13.109/1567, obtiveram o prazo de vinte dias para
ficarem com seus filhos, sendo que esse prazo não pode ser prorrogado. Já as
militares, além dos cento e vinte dias concedidos pela Constituição, obtiveram, através
da legislação em comento, uma prorrogação de sessenta dias. Assim, enquanto os
pais gozam de apenas vinte dias, as mães militares podem usufruir de cento e oitenta
dias com seus filhos (uma diferença de cento e sessenta dias).

65
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
66
STF. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ADIN Nº 939-7. Relator: Ministro Sydney
Sanches. Dj: 18/03/1994. RedirSTF, 1997. Disponivel em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=266590>. Acesso em: 28 out.
2021.
67
BRASIL. LEI Nº 13.109, DE 25 DE MARÇO DE 2015. Dispõe sobre a licença à gestante e à adotante,
as medidas de proteção à maternidade das militares grávidas e a licença-paternidade, no âmbito das
forças armadas , Brasília/DF, 25 Março 2015.Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13109.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
35

Terminando, em 2016, a lei 13.257/2016 68 , inspirada na legislação militar,


alterou a lei 11.770/200869, que criou o Programa Empresa Cidadã, responsável pela
prorrogação da licença-maternidade mediante concessão de incentivo fiscal às
empresas, passando a prever um prazo de vinte dias para licença paternidade aos
empregados, já computado o prazo de cinco dias previstos pelo art. 10, §1 da ADCT
da CRFB/8870 e, no que tange à licença maternidade, a legislação ordinária previu uma
possibilidade de prorrogação de sessenta dias.

3.2 Licença adotante

A exegese da norma Constitucional que confere o direito à licença maternidade


e à licença paternidade, em um primeiro momento, não contemplava a adoção, pois
considerava, conforme explicam JÚNIOR e SEVERINO: “o direito à licença-
maternidade apenas à mãe biológica, tendo como finalidade precípua proteger a saúde
da mãe do recém-nascido” 71.
Essa compreensão, no entanto, foi gradualmente sendo deixada de lado, pois a
preocupação deixou de estar centrada somente na saúde da mãe e do recém-nascido
para considerar, também, a relação entre o filho e a família, e, paralelamente, o tempo
necessário para uma interação satisfativa, seja através de cuidados biológicos ou seja
em relação ao desenvolvimento psicológico, apropriação cultural etc.
Com isso, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que antes era silente
acerca da adoção, em 2002, através de uma alteração em seu texto, começou a prever

68
BRASIL. LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira
infância e altera a Lei nº 8.069/90, o Decreto-Lei nº 3.689/41, a CLT, aprovada pelo DECRETO-LEI Nº
5.452/43, A LEI Nº 11.770/2008, E A LEI Nº 12.662/2012, Brasília/DF, 8 Março 2016. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
69
BRASIL. LEI Nº 11.770, DE 09 DE SETEMBRO DE 2008. Cria o Programa Empresa Cidadã, destinado
à prorrogação da licença-maternidade mediante concessão de incentivo fiscal, e altera a Lei n o 8.212,
de 24 de julho de 1991, Brasília/Df, 09 de setembro de 2008. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11770.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
70
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
71
JÚNIOR , A. M. S.; SEVERINO , L. F. Licença-maternidade e estabilidade da Gestante
para homens. Revista de Direito e Garantias Fundamentais, Vitória, jul./dez. 2013. Disponivel em:
<http://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/365/187>. Acesso em:
22 Junho 2019.
36

a possibilidade de haver licença para a mãe adotante. O prazo da licença adotante era
originalmente calibrado pelo critério etário. Esse parâmetro, felizmente, não vigorou,
72
tendo sido adotado, em 2013, um único prazo, igual ao concedido à mãe biológica.
Insta salientar que essa licença não se estendia, como regra, a ambos os
adotantes, mas somente à mulher que adotava, sendo alvo de severas críticas.
Vejamos o que comenta DIAS:

[...] Embora os direitos sejam reconhecidos somente à adotante mulher, nada


justifica não serem concedidos licença-maternidade e benefícios
previdenciários ao adotante. Mais uma vez coube ao Judiciário decidir,
conferindo a licença de seis meses a um homem que havia adotado uma
criança. 73

Felizmente, atualmente isso não é mais dessa forma. Com a edição da lei 12.873
de 201374, o ordenamento passou a permitir que a mulher ou o homem que adota
possam usufruir da licença maternidade de cento e vinte dias. É isso o que diz a atual
redação do art. 71-A, caput da lei 8.213 de 199175.
Prosseguindo, a legislação militar, especificadamente a lei 13.109/201576, ao
dispor sobre a licença à gestante, também considerou a licença à adotante e ao
adotante. O prazo em relação à primeira foi estipulado tendo como base a idade do
adotando: caso ele tenha menos de um ano, o prazo de licença será de noventa dias,
já na hipótese de ele ter mais de um ano, o prazo diminui, chegando a trinta dias. No
que toca ao militar adotante, o prazo é o mesmo conferido aos pais biológicos: 20 dias.
Findando essa parte, cita-se que os empregados de empresas consideradas
“cidadãs” que queiram adotar, sequer possuem o direito de dilatação do prazo, visto

72
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
73
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
74
BRASIL. LEI Nº 12.873, DE 24 DE OUTUBRO DE 2013. Brasília, 24 de outubro de 2013. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12873.htm>. Acesso em: 07 de
novembro de 2021.
75
BRASIL. Lei n. 8.213/91. Lei de Benefícios e Serviços Previdenciários. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em 11 out. 2021.
76
BRASIL. LEI Nº 13.109, DE 25 DE MARÇO DE 2015. Dispõe sobre a licença à gestante e à adotante,
as medidas de proteção à maternidade das militares grávidas e a licença-paternidade, no âmbito das
forças armadas , Brasília/DF, 25 Março 2015.Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13109.htm>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
37

que a lei 11.770/2008restou silente acerca da adoção. 77 Assim, eles estarão sujeitos
ao pálio da legislação trabalhista e a todas as suas limitações, como, por exemplo, a
impossibilidade de ambos os adotantes utilizarem a licença.

3.3 Licença parental;

Sabe-se que as licenças para cuidar dos filhos existentes atualmente no Brasil,
de uma forma ou de outra, refletem um pensamento de segregação de funções
familiares em razão do gênero. Em vários países do mundo, contudo, tal atitude não é
seguida. Nesses países, utiliza-se uma licença denominada parental, a qual possui
vários significados a depender da localidade, mas pode ser compreendida, como diz
Barros, basicamente como: “[...] um reflexo da transição entre o conceito de ‘pátrio
poder’ e o de ‘autoridade parental’; e objetiva tornar o pai cada vez mais participante
das responsabilidades familiares” 78.
De acordo com Addati et al, uma pesquisa publicada pela OIT (Organização
Internacional do Trabalho) apontou três aspectos importantes sobre a licença parental:
1) Aproximadamente um terço dos 169 países analisados possuem algum tipo de
licença parental, sendo que uns concedem a licença a ambos os pais pelo mesmo
prazo, ao passo que outros oferecem a oportunidade de os pais escolherem quem irá
gozar do prazo para cuidar da criança; 2) Em muitos dos países analisados, a licença
parental é utilizada após as demais licenças, como um complemento; 3) Os países que
79
concedem a licença parental são os mais desenvolvidos.
A União Europeia, bloco político e econômico composto por diversos países, por
exemplo, possui diretrizes específicas sobre a licença parental. A Diretiva do Conselho
da UE 96/34/CE80, de 03 de junho de 1996, traz, dentre outras determinações, que o

77
BRASIL. LEI Nº 11.770, DE 09 DE SETEMBRO DE 2008. Cria o Programa Empresa Cidadã, destinado
à prorrogação da licença-maternidade mediante concessão de incentivo fiscal, e altera a Lei n o 8.212,
de 24 de julho de 1991, Brasília/Df, 09 de setembro de 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11770.htm. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
78
BARROS, Alice Monteiro de. A Mulher e o Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p.91.
79
ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine. Maternity and paternity at work: law and
practice across the world. Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2014, p.64.
80
UNIÃO EUROPEIA. Directiva 96/34/CE do Conselho de 3 de Junho de 1996 relativa ao Acordo-quadro
sobre a licença parental celebrado pela UNICE, pelo CEEP e pela CES. Jornal Oficial nº L 145 de
19/06/1996 p. 0004 – 0009. Disponível em: <https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/PT/TXT/?uri=CELEX:31996L0034>. Acesso em: 07 de novembro de 2021.
38

seu objetivo é fornecer regras acerca da conciliação entre o trabalho e as relações


familiares dos trabalhadores de ambos os sexos com seus filhos.
Essa finalidade fornecida pela diretriz talvez retrate satisfatoriamente uma
motivação que levou os países a criarem licenças parentais. Entendeu-se que o
homem, como menor destinatário do gozo de licença para cuidar dos filhos, muitas
vezes estava em uma relação extremamente desigual em relação à mulher, seja
porque conseguia se desenvolver mais no trabalho, seja porque não podia criar laços
mais fortes com seus filhos.
Com isso, a adoção de uma licença que conceda prazos iguais aos pais, seja
do sexo masculino ou feminino, objetiva, então, uma divisão mais igualitária possível
no que tange às responsabilidades dos pais com os filhos e às oportunidades de
desenvolvimento profissional, o que retoma o conceito de licença parental outrora
apresentado.
Deixando um pouco de lado as experiências internacionais e voltando-se os
olhares para o Brasil, de acordo com Scheffer, existiam, em 2017, 52 (cinquenta e dois)
projetos de lei a respeito de algumas das licenças presentes neste capítulo. Dentre
todas essas propostas legislativas, apenas 8 (oito) previam algum tipo de licença
parental. Até o presente momento, nenhum projeto que trata sobre essa temática foi
convertido em lei, fazendo com o que o país continue sem uma legislação sobre a
81
temática aqui abordada.
A respeito disso, no final desse trabalho será apresentado o projeto de lei nº
1.974/2021, que trata sobre a licença parentalidade. O leitor também poderá encontrar
apontamentos sobre os possíveis impactos desse projeto, caso aprovado, na adoção
por casais homoafetivos, o quais, conforme também será demonstrado adiante, há
muito tempo estão à margem das leis, pois nelas estão pouco ou nada contemplados.
Por ora, restam satisfeitos os objetivos outrara definidos para essa parte da obra.

81
SCHEFFER, Juliana de Alano. A INSERÇÃO DO INSTITUTO DA LICENÇA PARENTAL NO DIREITO
BRASILEIRO. Repositório institucional da UFSC. Disponível em: <
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/182147/_TCC%20Juliana%20de%20Alano%20
Scheffer.%20A%20inser%C3%A7%C3%A3o%20do%20instituto%20da%20licen%C3%A7a%20parent
al%20no%20direito%20brasileiro..pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 de novembro de
2021.P. 72.
39

4 POSIÇÃO HISTÓRICA DO LEGISLADOR FEDERAL EM RELAÇÃO AOS DIREITOS


DE CASAIS HOMOSSEXUAIS

De acordo com uma notícia divulgada pelo jornal da USP,a representatividade


82
de parlamentares eleitos assumidamente LGBTQIA+ continua extremamente baixa.
É nesse cenário que se insere o principal questionamento desta parte do trabalho: qual
tem sido a posição histórica do legislador federal brasileiro acerca dos direitos de
casais homossexuais no Brasil?
A resposta a essa pergunta é relativamente simples, uma vez que na esfera
federal não há sequer uma lei direcionada a esse público até o momento. Todos os
projetos de lei visando amparar esse grupo de pessoas até então não foram aprovados,
sendo essa a atuação do legislador em relação aos casais homoafetivos.
Inerente a essa infeliz facilidade de encontrar uma resposta ao questionamento
inicial desta parte da pesquisa, surgem outros três questionamentos, sendo que dois
estão umbilicalmente relacionados: 1) O que pode explicar essa omissão e há solução
para isso? 2) Já que não há lei, como os casais homoeróticos têm alguns direitos
reconhecidos?

4.1 O que pode explicar isso?

Vários são os fatores que contribuem para que certos grupos sejam
marginalizados por força da falta de direitos. Em relação ao público LGBTQIA+, embora
o exercício precário da cidadania seja ainda um grande problema, a falta de
representativade e representação são um dos principais motivos possíveis que geram
o silêncio legiferante no que tange a esse grupo.
Muitos autores definiram a cidadania ao longo dos anos. No Brasil, ela está

82
RIBEIRO, Renato Janine. Apesar de renovação. Congresso tem poucos gays, negros e mulheres.
Jornal da USP. São Paulo, 17/10/2018. Disponível em: < https://jornal.usp.br/atualidades/apesar-da-
renovacao-congresso-tem-poucos-gays-negros-e-mulheres/>. Acesso em: 05 out. 2021.
40

intimamente atrelada à noção dos direitos políticos, ou seja, quem pode votar e ser
votado é, então, cidadão.

Isso decorre da ideia, defendida por Hanna Arendet e citada por Lafer, de o voto
83Por
ser o direito a ter direitos, o que, na visão dela, seria, de fato, a cidadania. certo,
essa abordagem é a melhor para o termo, faltando, talvez, somente uma profundidade
epistemológica. Para contornar tal necessidade, a teses de Marshal abaixo são
suficientes:
O autor supracitado tinha vários trabalhos acerca da noção de cidadania. O mais
importante dizia respeito ao seu significado. Ele acreditava que ela tinha a ver com o
status que detinham aqueles que eram considerados “membros completos da
sociedade” 84 e que, por sua vez, possuíam direitos e obrigações iguais. Essa
designação, vale frisar, só se aplicaria às sociedades em que houvesse um sistema de
igualdade.
Com relação a isso, o próprio estudioso reconhecia que, quando diante do
cenário capitalista, essa noção não se aplicaria muito bem, porque o que vigora é “um
conflito de princípios opostos” 85, os quais estão ligados à ordem econômica ou aos
modelos de comportamentos tolerados.
Além disso, é interessante mencionar que ele defendia que dentro da cidadania
estariam englobados três direitos: políticos, sociais e civis. Em que pese todos
comporem o termo, o próprio propositor dessa ideia reconhecia que os direitos
políticos, de votar e ser votado, seriam os mais importantes, uma vez que viabilizariam
a existência dos demais86. Volta-se, dessa forma, novamente, à tese aceita no Brasil
sobre o conceito de cidadania.
Não obstante, toda essa reflexão entorno do conceito de cidadania não seria tão
relevante sem se considerar as noções de representatividade e representação. Isso
decorre do fato de as lutas engendradas no final do século passado terem sido muito
mais sobre identidade do que sobre a noção de certos grupos poderem votar ou não.
A cidadania não conseguiria, ainda que com certa ampliação, por si só, resolver essa
questão. A partir daí surgem, então, as formas de justiça social cunhadas pela filósofa

83
LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um diálogo com o pensamento de
Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras 1988.
84
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967, p. 62.
85
Idem.Ibidem.
86
Idem.Ibidem.
41

Nancy Fraser87: reconhecimento e representação.


Ao lado da necessidade de redistribuição econômica, o reconhecimento social
mostra-se como uma forma de justiça contemporânea, a qual objetiva combater:

[...] a injustiça se radica nos padrões sociais de representação, interpretação


e comunicação. Seus exemplos incluem a dominação cultural (ser submetido
a padrões de interpretação e comunicação associados a uma cultura alheios
e/ou hostis à sua própria); o ocultamento (torna-se invisível por efeito das
práticas comunicativas, interpretativas e representacionais autorizadas da
própria cultura); e o desrespeito (ser difamado ou desqualificado
rotineiramentenas representações culturais públicas estereotipadas e/ou nas
interações da vida cotidiana). 88

Atualmente, verifica-se que o público LGBTQIA+ está sujeito principalmente às


injustiças elencadas no trecho citado. Embora possam votar e serem votadas, por
sofrerem injustiças simbólicas, principalmente a do não reconhecimento, essas
pessoas não conseguem grande representatividade e, quando conseguem, essa é
deficiente.
A trajetória exposta em rede nacional de Fabiano Cantarato, único parlamentar
autodeclarado gay do senado, exemplifica isso. Durante a sua participação na CPI da
Covid-19, ocorrida no ano de 2021, vários foram os episódios de desrespeito e não
reconhecimento. Embora ele estivesse atuando para concretizar o objeto da comissão,
o qual em nada tinha a ver com a sua sexualidade, ela sempre estava em pauta,
principalmente para diminuí-lo e submetê-lo ao escárnio de muitos. O prestígio da
carreira de delegado e a alta importância do cargo de senador da República cederam
às injustiças simbólicas. 89
Esses episódios divulgados em redes nacionais de mídia e de conhecimento
geral, demonstraram que, conquanto haja alguma representação de alguns signatários
da sigla supracitada no Congresso Nacional, falta ainda um reconhecimento da

87
FRASER, N. (2006). Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça numa era “pós-
socialista”. Traduçao: Julio Assis Simões. Cadernos de Campo. São Paulo, número 14/15, pp. 231-
239. Disponível em:< https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109/54229> . Acesso
em: 07 de novembro de 2021.
88
FRASER, N. (2006). Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça numa era “pós-
socialista”. Traduçao: Julio Assis Simões. Cadernos de Campo. São Paulo, número 14/15, pp. 231-239.
Disponível em:< https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109/54229> . Acesso em:
07 de novembro de 2021.
89
SAKAMOTO, Leonardo. Contarato dá lição de civilidade diante de preconceito nojento. Uol notícias.
30/09/2021. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/09/30/contarato-
cpi-covid-sakamoto-uol-news.htm>. Acesso em: 06 out. 2021.
42

sociedade brasileira. Representação e reconhecimento devem estar presentes, porque


um é dependente do outro.
Com isso, pode-se concluir que essa falta de reconhecimento atrelada à falta de
representação é, muito provavelmente, um dos motivos que provocam uma atuação
negativa em relação a essas pessoas. Corroborando com essa tese e para entender
melhor como isso impacta o projeto legislativo brasileiro e, por consequência, o
ordenamento jurídico pátrio, segue o depoimento o ex-deputado Jeans Wyllys:

Além de usar a estrutura partidária para, por exemplo, provocar o STF com
ADIN [ação direta de inconstitucionalidade], ADPF, que só o partido pode fazer
- e o partido só faz se houver a representação lá dentro - o próprio lugar de
representação me permite a fala, portanto, instalar o debate. (...) Só o
mandato, só a representação permite isso, a instalação do debate, a voz. Eu
me levantei e me levanto sempre na tribuna do plenário da Câmara, nas
comissões, contra os inimigos dos direitos LGBT e dos direitos humanos em
geral.90

Nessa fala, o ativista enfatiza a representação das pessoas homossexuais como


fundamental para que suas necessidades sejam ouvidas. De forma suscinta, ele
aponta que só isso permite que os direitos LGBTQIA+ sejam protegidos e alcançados.
Vê-se, assim, que esse grupo de pessoas tem pouco reconhecimento, pouca
representação, logo, poucos direitos.

4.2 Já que não há lei, como os casais homoeróticos possuem alguns direitos
reconhecidos?

Para começar a responder a essa pergunta, antes é preciso compreender o


papel que o Poder Judiciário, em especial o STF, exerce no sistema jurídico atual.
O STF, desde a primeira constituição da República, é responsável por analisar
a constitucionalidade das leis.
No início, existia apenas o controle difuso de constitucionalidade, que era

90
FERNANDES, Marcella. Representatividade LGBT é mais que aprovar projetos de lei, diz Jean Wyllys.
Disponível em: < https://www.huffpostbrasil.com/2018/06/01/r epresentatividade-lgbt-e-mais-que-
aprovarprojetos-de-lei-diz-jeanwyllys_a_23447238/>. Acesso em: 07 de novembro de 2021
43

realizado em sede recursal pela Corte através de um recurso especial. 91 Como


característico desse tipo de controle, os efeitos, como regra, eram adstritos às partes,
não causando, assim, grande repercussão nacional, principalmente no legislativo
brasileiro.
Com o transcorrer do tempo, viu-se que essa competência não supria a
necessidade da sociedade brasileira. Por causa disso, por meio da Emenda
Constitucional 16, de 1965, a Corte também passou a ser responsável por analisar a
constitucionalidade das leis e atos normativos em tese, sem a necessidade de existir o
caso concreto. Essa emenda trouxe ao sistema jurídico brasileiro o controle que é
92
conhecido como concentrado.
Atualmente, vive-se no Brasil um sistema híbrido de controle de
constitucionalidade: existe tanto o controle difuso quanto o concentrado. Dentre eles,
o STF é o principal ator a desempenhar o segundo no Brasil, o que torna a sua atuação
altamente complexa. Isso porque, conforme aponta Buzolin, ao declarar determinada
lei inconstitucional, o Supremo contraria a vontade majoritária, pois as leis são feitas
por uma maioria. 93 Assim, Incumbir a ele tal tarefa é dizer que o seu papel é ser uma
instituição contramajoritária, que não se submete ao arbítrio de uma maioria formada.
Prosseguindo, no que tange a essa atuação complexa, é importante lembrar ao
leitor que o Supremo, assim como qualquer órgão julgador do Poder Judiciário, uma
vez instado a se manifestar, por causa do princípio da inafastabilidade da jurisdição-
cláusula pétrea e direito fundamental assegurado pela CF de 1988- não pode eximir-
se do encargo, sob pena de contrariar o texto que lhe foi incumbido a tarefa de zelar. 94
Por certo, a cumulação destes dois fatores, ter a competência para julgar a
inconstitucionalidade das leis, atos normativos e ser obrigado a exercer esse encargo
quando provocado, pode gerar nos indivíduos muitas vezes a sensação de que ele
está usurpando a função legiferante.
Isso é tão verdade que, logo após o STF, em sede de controle abstrato de

91
DUTRA, Carlos Alberto de Alckmin. A Evolução histórica do Controle de Constitucionalidade de Leis
e Seu Papel no Século XXI. Disponível
em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/470_arquivo.pdf . Acesso em 14 de novembro
de 2021.
92 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n. 16, de 1965. Altera dispositivos
constitucionais referentes ao Poder Judiciário., Brasília , 26 de novembro de 1965. Disponível em: <
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/1960-1969/emendaconstitucional-16-26-novembro-1965-
363609-publicacaooriginal-1-pl.html> .Acesso em 11 out. 2021.
93
BUZOLIN, Lívia Gonçalves. Direito homoafetivo [livro eletrônico] : criação e discussão nos poderes
judiciário e legislativo. São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019,p.41.
94
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
44

constitucionalidade, ter estabelecido que os casais homossexuais teriam o mesmo


direito de constituir família que os casais heterossexuais dispunham, o Congresso
Nacional assim se manifestou:

Quase todos os 40 parlamentares que utilizaram o plenário da Câmara dos


Deputados e do Senado Federal para realizar um discurso sobre o
reconhecimento da família homoafetiva se referiram a algum tipo de
movimentação do Poder Judiciário. Desse total, mais de 67% dos
parlamentares revelaram sua reprovação a tais movimentações do Judiciário,
enquanto pouco mais de 27% dos parlamentares avaliaram positivamente a
atuação desse Poder. Explicada essa missão constitucional do Supremo, fica
mais fácil entender o porquê casais homossexuais possuem direitos
reconhecidos no Brasil mesmo sem leis voltadas para eles. Os argumentos
mais presentes nos discursos contrários são de duas ordens: a afirmação de
que o Poder Judiciário errou, ou seja, não podia ter atuado da forma que fez
em razão de ter contrariado a família “tradicional” brasileira; e alegação de que
o Judiciário afrontou o Poder Legislativo ao usurpar sua competência, sendo
necessária a aprovação de propostas legislativas que, de certa forma,
revertam as decisões judiciais ou controlem o Poder Judiciário.(grifo nosso)95

Como se percebe pela leitura do enxerto acima, boa parte dos parlamentares
que se manifestaram logo após a decisão da Corte Suprema tinham a sensação de
que os seus poderes estavam sendo usurpados por ela. Isso, no entanto, não passava
de um sentimento desprovido de coerência com a realidade. No caso, o STF exerceu
o seu direito enquanto órgão dotado de competência para tanto e, portanto, cumpriu a
sua missão constitucional, ainda que os fundamentos de sua decisão possam ser alvo
de críticas.
Ante todo o exposto, é fácil entender o porquê de os casais homossexuais
possuírem alguns direitos reconhecidos mesmo sem lei que os contemplem.
Os direitos dessas pessoas têm sido reconhecidos pelo Poder Judiciário,
principalmente pelo STF, o qual vem atuando de forma contramajoritária e não raras
vezes de forma contrária ao Congresso Nacional para proteger os princípios e a
unidade do texto constitucional.

95
BUZOLIN, Lívia Gonçalves. Direito homoafetivo [livro eletrônico] : criação e discussão nos poderes
judiciário e legislativo. São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019, p.54.
45

O primeiro grande passo dado pela justiça nesse sentido foi ter conferido, por
meio do julgamento da ADI4.277/DF e ADPF 132/RJ, aos casais homossexuais o
mesmo direito à união estável que era empregado aos casais heterossexuais. 96
A partir daí, outros órgãos do judiciário e até mesmo o Congresso passaram a
discutir mais o assunto.
No judiciário, o CNJ foi um dos órgãos que regulamentou a matéria por meio da
resolução 175, que traz uma vedação aos cartórios nacionais em se recusarem a
97
celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No Congresso, a decisão do STF causou um aumento no debate a respeito do
tema, como se aufere pela tabela a seguir:

Figura 1 - Gráfico dos discursos parlamentares realizados nos plenários da Câmara


dos
Deputados e no Senado Federal

Fonte: Buzolin (2019).98

96
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.277 e ADPF n. 132. Requerente: Procuradora-Geral da
República. Requeridos: Presidente da República e outros. Relator: Ministro Ayres Britto. Acórdão em
05.05.2011.Disponívelem:<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=6286
35>. Acesso em 20 out. 2021.
97
BRASIL. Resolução 175, de 14 de maio de 2013. Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento
civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Brasília, DF:
Conselho Nacional de Justiça, 2013. Disponível em: <
https://atos.cnj.jus.br/files/resolucao_175_14052013_16052013105518.pdf>. Acesso em: 14 de
novembro de 2021
98
BUZOLIN, Lívia Gonçalves. Direito homoafetivo [livro eletrônico] : criação e discussão nos poderes
judiciário e legislativo. São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019, entre página 20 e 30.
46

Infelizmente, como se percebe pelo gráfico acima, houveram mais votos


desfavoráveis do que favoráveis naquele momento, o que não deixa de evidenciar o
carácter contramajoritário importante atribuído pela CF de 1988 ao STF. Caso
dependesse do Poder Legislativo, provavelmente, até o momento os casais do mesmo
sexo estariam sujeitos a um grande limbo normativo. É possível concluir, com isso, que
o judiciário tem sido um arrimo salutar às minorias, que há muito tempo têm sido
negligenciadas pelo ordenamento posto, muito embora a sua presença seja garantida
pelo texto constitucional99, em seu art. 5º, caput, quando trata da igualdade material.

5 DIREITO À ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS

É bem possível que a prática da adoção entre os humanos seja bastante antiga
e difundida em diferentes sociedades, ainda que de forma diferenciada. Não é incomum
termos notícias de sociedades do passado (e do presente), de indivíduos que são
acolhidos por pessoas que não são seus genitores. O abandono, o conflito familiar,
desastres ambientais e mesmo a morte dos pais biológicos são alguns dos fatores que
podem responder por essa prática a qual, no Brasil, começou a ser regulamentada no
início do século passado, como se verá adiante.
Muito distante de pormenorizar o tema, porque não é o foco deste trabalho, é
importante expor, em breve síntese, o trajeto histórico que a adoção percorreu no
Direito nacional.
No início, um dos primeiros diplomas normativos a tratar da adoção no Brasil foi
o Código Civil de 1916100 (o mesmo código que, conforme apontado anteriormente,
preocupava-se muito mais com o patrimônio do que com a pessoa). Nele, previam-se
vários pontos reprováveis do ponto de vista contemporâneo que não mais existem,
sendo os mais lamentáveis os seguintes: 1) Só podiam adotar aqueles que não
tivessem filhos; 2) O parentesco gerado com a adoção não se estendia aos demais
componentes da família, de modo que o adotado não tinha direito a participar da

99
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF, 05
Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
100
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, Rio de
Janeiro, 1 janeiro 1916. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm>. Acesso
em 04 out. 2021.
47

sucessão da avó, por exemplo ; 3) O adotado era tido como uma classe inferior dentro
da classe dos ascendentes, recebendo ele menos do que os filhos biológicos na
herança .
Com o transcorrer do tempo, vários outros diplomas legislativos surgiram, o que
pôs fim a praticamente todas as disposições descritas no parágrafo anterior. A
promulgação da Constituição de 1988, nesse ponto, representou um grande abalo no
instituto -como em quase todos os ramos do Direito-, fornecendo a ele uma nova
dimensão.
O art. 227, §§5º e 6º da Carta Maior estabeleceram, respectivamente, que a
adoção seria assistida pelo Poder Público, na forma da lei, e que nenhuma distinção
seria estabelecida entre os filhos biológicos e adotivos, o que colocou um ponto bem
101
acertado na disparidade outrora implantada.
A partir daí e com o objetivo de atender à reserva legal, como ensina Dias, o
Estatuto da Criança e do Adolescente passou a regulamentar a matéria em parte, uma
vez que tratava apenas da adoção de menores, ficando a cargo do Código Civil do
período regulamentar a adoção de pessoas maiores. Essa abrangência normativa
serena durou até a promulgação do atual Código Civil, em 2002. Com a vigência do
compêndio civilista atual, surgiu a necessidade de resolver um conflito de normas, uma
que tanto o código contemporâneo quanto o ECA estavam dispondo acerca da Adoção.
A promulgação da conhecida Lei Nacional da Adoção pôs um basta no conflito e
102,
atribuiu ao ECA a função de tratar sobre o assunto, o que até hoje persiste.
Feito esse recorte importante, é necessário entender o que é, afinal, a adoção.
Na prática, muitos não têm dificuldade em identificar esse processo. O grande
problema está, então, em conceituá-la. Vale acentuar que, como já dito, o problema da
conceituação não se refere apenas à adoção. De uma forma geral, os conceitos
carregam forte teor de subjetivismo próprio de sua essência. Deixando essa reflexão
de lado, seguindo a doutrina contemporânea e o minimalismo conceitual, pode-se dizer
que a adoção é um ato jurídico estrito senso, o qual depende de atuação judicial. É
nesse sentido que se posiciona Dias. 103
Diferente dos negócios jurídicos, os quais comportam a manifestação de

101
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília/DF,
05 Outubro 1988. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 11 out. 2021.
102
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016,
p.814.
103
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016,
p.818.
48

vontade humana na determinação dos efeitos, os atos jurídicos estrito senso são só
sujeitos à vontade em sua gênese: uma vez acabados, seus efeitos são submetidos à
vontade legislativa, a qual em sua maior dimensão se manifesta através da lei. Assim
se desenvolve a adoção. Ninguém é obrigado a adotar. No entanto, uma vez que opta
por tal instituto, sujeita-se às consequências já determinadas pelos ditames da lei.
Ninguém adota com condição, termo, encargo. Uma vez perfeito e acabado por decisão
judicial, o ato é irrevogável. Como dito, a vontade termina na feitura do ato.
Inerente a essa responsabilidade, não é qualquer pessoa que pode adotar. O
ECA trouxe vários requisitos para que o indivíduo seja titular desse direito, sendo os
principais os seguintes: 1) Ser maior de 18 anos ( art. 42, caput do ECA); 2) Ser
dezesseis anos mais velho do que o adotado (art. 42, §3º do ECA); 3) Não ser
ascendente nem irmão do adotado (art.42, §1º do ECA); 4) Apresentar reais vantagens
para o adotado ( art.43, caput, do ECA). 104
Pela simples leitura dos requisitos acima, vê-se que a condição sexual do sujeito
não é um elemento a ser ponderado para deferir o pleito à adoção. Aliás, mesmo que
tal entrave viesse a existir, cabalmente seria inconstitucional e totalmente contrário à
jurisprudência atual, a qual, desde 2010, com a célebre decisão do Ministro Luis Felipe
Salomão que reconheceu o princípio do melhor interesse do menor como principal fator
a ser considerado, trouxe para discussão a necessidade imperiosa de o direito não
fechar os olhos aos fenômenos que estão colocados no mundo das coisas,
estabelecendo um tratamento isonômico em relação aos casais homossexuais. 105,
Dessa forma e em sintonia com o entendimento doutrinário e a jurisprudência
atual, pode-se dizer que os casais homossexuais podem adotar no Brasil. Resta saber,
então, quais sãos os tipos de adoção admitidas para essa configuração familiar e quais
são os principais efeitos provenientes desse ato.
São várias as formas pelas quais a adoção pode se manifestar. Em relação às
pessoas homossexuais, consideradas através de um prisma individual, a adoção é
admitida em vários moldes, até mesmo de forma unilateral – quando se adota sem um
companheiro ou companheira-. No que tange aos casais compostos por pessoas do
mesmo sexo, as adoções possíveis são as mesmas disponíveis para os casais héteros.

104
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
105
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Recurso Especial Nº 1.183.378/RS. Recorrentes: K R O e L
P. Recorrido: Ministério Público do Rio Grande do Sul. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, julgado
25/10/2011.Disponívelem:<https://www.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=18810976&tip
o=5&nreg=201000366638&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20120201&formato=PDF&salvar
=false>. Acesso em 25 out. 2021.
49

Assim, de acordo com o art. 42, §§2º e 4º do ECA, é possível que um casal adote
conjuntamente na constância do casamento ou união estável ou, ainda, mesmo que
separados é possível adotar. Nesse último caso, é apenas exigido que haja uma boa
relação entre os adotantes e que haja vínculos afetivos com o não detentor da
guarda.106
Prosseguindo, completo e apto a produzir os seus efeitos previamente dispostos
na lei, o ato da adoção, que é concretizado pela decisão constitutiva judicial, tem
eficácia imediata e começa a produzir todos os seus efeitos.107
Inclusive, eventual recurso que objetive desconstituir essa decisão, como regra,
não possuirá efeito suspensivo (art. 199-A do ECA). 108
Ora, nada mais do que justo. Sabe-se que o procedimento de adoção no Brasil
é uma verdadeira prova da paciência dos adotantes e do adotado, sujeitando-os a anos
de espera e inúmeros trâmites burocráticos. Obstar os efeitos do ato por mera
interposição recursal seria uma verdadeira atrocidade legal e totalmente distante dos
postulados da duração razoável do processo e da proteção integral das famílias e do
menor.
Dando continuidade, dentre os principais efeitos gerados pelo ato da adoção
está a condição de parentesco. Adotantes e adotados passam a ser parentes uns dos
outros, o que acaba por trazer vários direitos para ambos, como o nome e a sucessão
legítima. Para o direito, serão considerados pais e filhos (art. 41, caput, do ECA). 109
Automaticamente, diferentemente do que ocorria no início da regulamentação
da matéria, o adotado também terá vínculos de parentesco com os demais
componentes de sua nova família substituta. Na sucessão, herdará em igualdade de
condições com os demais filhos do casal. Terá, além disso, todos os direitos que os
demais filhos, inclusive ao nome.

Deixando esses efeitos civis de lado e adentrando no objeto deste trabalho, cabe
mencionar que a adoção tem como implicação também na constituição o direito à
licença maternidade, seguindo as regras dispostas na Lei 8.213/91 110,subseção VII e

106
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
107
DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11º ed. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
108
BRASIL. Lei Federal n. 8069, de 13 de julho de 1990. ECA _ Estatuto da Criança e do Adolescente.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
109
Idem. Ibidem.
110
BRASIL. Lei n. 8.213/91. Lei de Benefícios e Serviços Previdenciários. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em 11 out. 2021.
50

na CLT111, em seus artigos 392-A, 392-B e 392-C.


Em relação a esses dispositivos normativos, é nesse momento que a
simplicidade dá lugar a uma problemática, porque eles distinguem a família formada
pela adoção da família biológica. Em relação à primeira família, somente um dos
adotantes, seja homem ou mulher (antes de redação dada pela Lei 12.873/2013 112, só
a adotante tinha direito à licença e o prazo era balizado pela idade do adotado) pode
obter o salário-maternidade e a licença adotante por 120 dias. De forma diferente,
casais que gerem filhos biológicos usufruem conjuntamente de um tempo para ficarem
com os seus filhos. Mesmo que os prazos para cada um sejam extremamente díspares
uns dos outros, 120 dias para licença maternidade e cinco dias para licença adotante,
fato é que ambos podem gozar de um tempo. Na adoção, isso é bastante confuso.
Inobstante a jurisprudência já estar bastante consolidada no sentido de inadmitir
distinções jurídicas entre a família adotiva e a família biológica, sendo o julgado abaixo
um marco referencial importante a esse respeito, a lei acima como está redigida causa
muitas dúvidas e questionamentos importantes, os quais ainda é muito cedo para
responder, mas que, no final deste trabalho serão feitos, e os leitores poderão perceber
que, mesmo sem respostas, as perguntas corroboram os argumentos aqui produzidos,
principalmente o de que existe atualmente no Brasil uma necessidade urgente de
análise e mudança nas licenças em decorrência da introdução de um filho na família.
Antes de citar esses questionamentos, segue a ementa do julgado que, em
2016, estendeu os prazos da licença maternidade à licença adotante e também os
comentários referentes a ele:

EMENTA DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


REPERCUSSÃO GERAL. EQUIPARAÇÃO DO PRAZO DA LICENÇA-
ADOTANTE AO PRAZO DE LICENÇA-GESTANTE. 1. A licença maternidade
prevista no artigo 7º, XVIII, da Constituição abrange tanto a licença gestante
quanto a licença adotante, ambas asseguradas pelo prazo mínimo de 120 dias.
Interpretação sistemática da Constituição à luz da dignidade da pessoa
humana, da igualdade entre filhos biológicos e adotados, da doutrina da
proteção integral, do princípio da prioridade e do interesse superior do menor.
2. As crianças adotadas constituem grupo vulnerável e fragilizado. Demandam
esforço adicional da família para sua adaptação, para a criação de laços de
afeto e para a superação de traumas. Impossibilidade de se lhes conferir
proteção inferior àquela dispensada aos filhos biológicos, que se encontram

111
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
112
BRASIL. LEI Nº 12.873, DE 24 DE OUTUBRO DE 2013. Brasília, 24 de outubro de 2013. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12873.htm>. Acesso em: 07 de
novembro de 2021.
51

em condição menos gravosa. Violação do princípio da proporcionalidade como


vedação à proteção deficiente. 3. Quanto mais velha a criança e quanto maior
o tempo de internação compulsória em instituições, maior tende a ser a
dificuldade de adaptação à família adotiva. Maior é, ainda, a dificuldade de
viabilizar sua adoção, já que predomina no imaginário das famílias adotantes
o desejo de reproduzir a paternidade biológica e adotar bebês. Impossibilidade
de conferir proteção inferior às crianças mais velhas. Violação do princípio da
proporcionalidade como vedação à proteção deficiente. 4. Tutela da dignidade
e da autonomia da mulher para eleger seus projetos de vida. Dever reforçado
do Estado de assegurar-lhe condições para compatibilizar maternidade e
profissão, em especial quando a realização da maternidade ocorre pela via da
adoção, possibilitando o resgate da convivência familiar em favor de menor
carente. Dívida moral do Estado para com menores vítimas da inepta política
estatal de institucionalização precoce. Ônus assumido pelas famílias
adotantes, que devem ser encorajadas. 5. Mutação constitucional. Alteração
da realidade social e nova compreensão do alcance dos direitos do menor
adotado. Avanço do significado atribuído à licença parental e à igualdade entre
filhos, previstas na Constituição. Superação de antigo entendimento do STF.
6. Declaração da inconstitucionalidade do art. 210 da Lei nº 8.112/1990 e dos
parágrafos 1º e 2º do artigo 3º da Resolução CJF nº 30/2008. 7. Provimento
do recurso extraordinário, de forma a deferir à recorrente prazo remanescente
de licença parental, a fim de que o tempo total de fruição do benefício,
computado o período já gozado, corresponda a 180 dias de afastamento
remunerado, correspondentes aos 120 dias de licença previstos no art. 7º,
XVIII,CF, acrescidos de 60 dias de prorrogação, tal como estabelecido pela
legislação em favor da mãe gestante. 8. Tese da repercussão geral: “Os
prazos da licença adotante não podem ser inferiores aos prazos da licença
gestante, o mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à
licença adotante, não é possível fixar prazos diversos em função da idade da
criança adotada”.113

No julgamento acima, estabeleceu-se, com repercussão geral, em apertada


síntese, que o prazo da licença adotante não poderia ser diferente daquele conferido
pela Constituição de 1988 à licença gestante. Os principais fundamentos da decisão
foram: 1) O incentivo à adoção; 2) A igualdade conferida pelo texto constitucional aos
filhos biológicos e adotivos; 3) Proteção integral e melhor interesse do menor.
Dentre essas argumentações, chama a atenção a primeira. O Ministro foi
completamente feliz ao utilizar como argumento o incentivo à adoção. Isso porque,
segundo uma notícia divulgada pelo site G1 114 , a adoção no Brasil tem diminuído.
Aponta a notícia que, de acordo com os dados coletados pelo Conselho Nacional de

113
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 778889, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 10/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159
DIVULG 29-07-2016 PUBLIC 01-08-2016. Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/862919746/recurso-extraordinario-re-778889-pe-
pernambuco/inteiro-teor-862919754>. Acesso em: 07 de novembro de 2021.
114
MANGIAPELO, Bruna. Número de adoções cai 46% na pandemia; são mais de 650 crianças e
adolescentes na espera por um lar em MG. G1 Sul de Minas. Alfenas-MG, 06/09/2021. Disponível em:
< https://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2021/09/06/numero-de-adocoes-cai-46percent-na-
pandemia-sao-mais-de-650-criancas-e-adolescentes-na-espera-por-um-lar-em-mg.ghtml>. Acesso em
10 out. 2021.
52

Justiça, em 2019, foram 3.143 adoções no país. Um ano após, esse número foi para
2.184. No ano corrente, esse número desceu para 1.517.
A distinção entre as diversas famílias apenas agrava essa tendência atual. A
vida corrida e intensa do trabalho e a morosidade e deficiência da justiça brasileira
também não contribui. Todos esses vetores, infelizmente, apenas servem para
aumentar a falta de interesse ou melhor dizendo: disposição das pessoas que um dia
pensaram em adotar uma criança.
Feita essa parada necessária para analisar a situação dirimida pelo julgado
acima, com o fito de pôr um fim a esse capítulo, o qual já se estendeu mais do que o
planejado inicialmente, passa-se a expor os principais questionamentos que surgem
ao analisar a licença adotante em relação aos casais homossexuais. Antes, é
importante deixar bem cristalino que se trata de questões abertas, passíveis até mesmo
de futuros desdobramentos e aprofundamentos. Por ora, basta citá-las.
A primeira questão que surge é a seguinte: é possível que um componente de
um casal masculino goze da licença paternidade de cinco dias e o outro utilize a licença
maternidade de cento e vinte dias? A lei veda que a licença maternidade seja estendida
a mais de um adotante. No entanto, é silente em relação à concessão simultânea a
respeito de outras licenças. Ademais, a jurisprudência, como citado outrora, já se
manifestou sobre a possibilidade de extensão da licença gestante aos adotantes.
Para terminar, o mesmo poderia ocorrer em relação a um casal de mulheres?
Nesse caso, ambas poderiam gozar de uma licença de 120 dias; uma usufruiria da
licença gestante; a outra, da licença adotante.

6 APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE LEI E SEUS FUNDAMENTOS

O tema norteador deste trabalho se desenvolve entorno do Projeto de Lei


1974/202115 e das suas possíveis implicações para a adoção por casais homossexuais.
Nada é mais importante, então, do que saber sobre o que trata essa propositura

115
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o instituto da
Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da
Seguridade Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa Cidadã).
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=201914>.
Acesso em: 07 de novembro de 2021.
53

legislativa, quando ela foi proposta, quais os seus fundamentos e se já houve projetos
semelhantes. É imprescindível também discorrer sobre o processo legislativo para que
ele seja aprovado e quais as possíveis implicações para a adoção por casais
homossexuais no Brasil caso efetivamente venha a ser convertido em lei.
O Projeto de Lei n. 1974/2021, de autoria da Deputada Federal Sâmia Bomfim,
foi apresentado à mesa diretora da câmara dos deputados em 26/05/2011. Desde
então, aguarda apreciação pela comissão de trabalho, de administração e serviço
público da Câmara dos Deputados. Esse projeto, conforme sua própria ementa
descreve, dispõe sobre:

[...] o instituto da Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis


5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), 8112/1990
(Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da Seguridade
Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008
(Empresa Cidadã).116

Percebe-se, assim, que o instituto da parentalidade é o objeto do projeto aqui


discutido. Tendo em vista que o conceito, como já visto, é demasiado amplo e
complexo, o próprio art. 1º, §1º da proposta acima define os seus contornos dizendo
que a parentalidade é um vínculo, gerado por várias formas, como por adoção, em que
há a assunção legal do papel parental em relação à uma criança ou um adolescente.
O critério adotado para tanto é mais a situação fática do que a origem do vínculo. Uma
vez desempenhadas as funções parentais, estão presentes, então, a parentalidade e,
por consequência, os seus desdobramentos jurídicos. 117

Entre os mais variados produtos jurídicos que podem advir dessa condição, a
proposição se preocupa em garantir ao sujeito que exerce a função parental um tempo
junto à criança e ao adolescente. Por causa disso, há previsão de que: 1) À uma ou
duas pessoas que exerçam as funções parentais em relação à criança recém nascida
ou que acabou de ser adotada serão garantidos uma licença parentalidade, que durará
180 dias, independentemente da idade do adotado, e um salário, a ser custeado pela

116
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o instituto da
Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da
Seguridade Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa Cidadã).
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=201914>.
Acesso em: 07 de novembro de 2021.
117
Idem. Ibidem.
54

previdência social, de igual período, referente à parentalidade. 118


Essa previsão alteraria várias leis, sendo a principal a Consolidação das Leis
Trabalhistas. O art. 131, II da CLT, que atualmente dispõe sobre a hipótese legal de
afastamento da emprega por motivo de maternidade ou aborto, passaria, por exemplo,
a dispor sobre o afastamento em razão da licença parental ou de perda gestacional. 119
E o art. 392, caput, desse mesmo diploma normativo, que no presente atribui apenas
à gestante uma licença maternidade de 120 dias, passaria, então, a estender o prazo
para 180 dias e atribuir às pessoas, independente do sexo, uma licença parental a
partir do nascimento do filho, da adoção ou do fato gerador do direito à licença, limitado
o recebimento a duas pessoas.
Dando seguimento, no final do projeto, como de praxe, constam as justificativas.
Percebe-se que os fundamentos muito se amoldam às criticas feitas até aqui sobre a
atual situação do sistema jurídico brasileiro. A isonomia entre as formas familiares
existentes e o atraso em relação à legislação de outros países desenvolvidos, como o
Canadá, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Islândia, Noruega, Nova Zelândia e Suécia,
são os dois pontos fulcrais trazidos como elementos de convencimento.
Feita essa apresentação sumária, cabe lembrar ao leitor que, até agora, o que
foi apresentado até aqui não está em vigor e sequer foi discutido pelo plenário da
câmara, necessitando de um longo processo, o qual será exposto adiante, para que
seja colocado no mundo jurídico. Ademais, cabe asseverar que esse não é o primeiro
projeto dessa natureza. Abaixo, por exemplo, são citados alguns similares a ele e que
estão ainda em tramitação ou já foram arquivados:
Figura 2 – Tabela de projetos de leis de mesma natureza do PL 1974/2021, já
arquivados ou em tramitação. (Continua)
Local Propostas Ano Situação Ementa: Objetivo

Câmara PL3076/1997 1997 Arquivado Dispõe sobre Estabelecer uma licença para
120
a licença o empregado que cuidasse de
parental alguém enfermo, sem vínculo.

118
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o instituto da
Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de 1º de Maio de 1943 (Consolidação
das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da
Seguridade Social), 8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa Cidadã).
Disponível em: < https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=201914>.
Acesso em: 07 de novembro de 2021.
119
BRASIL. DECRETO-LEI N.º 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho., Rio de Janeiro, 1 Maio 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del5452.htm>. Acesso em: 28 out. 2021.
120
BRASIL.Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 3076/1997. Dispõe sobre a licença parental.
Disponível em: <http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD15MAI1997.pdf#page=78>.Acesso
em: 07 de novembro de 2021.
55

Figura 2 – Tabela de projetos de leis de mesma natureza do PL 1974/2021, já


arquivados ou em tramitação.
(Conclusão)

Local Propostas Ano Situação Síntese da Objetivo


Ementa:

Senado PEC nº 2019 Em trâmite Altera o inciso Trocar as licenças


229/2019121 XVIII e revoga maternidades e paternidades
o inciso XIX, pela licença parental no texto
ambos do art. constitucional.
7º da
Constituição.
Estabelece
uma licença
parental de
180 dias.

Senado PL 2006 Em trâmite Acrescenta Estabelecer uma licença


165/2006122 dispositivos à parental de, no máximo seis
CLT para meses. Infelizmente, ainda
dispor sobre a mantém a odiosa baliza de
licença concessão em relação à idade
parental. do adotado. Se aprovado, só
teriam direito à licença os
adotantes que adotarem
crianças de até seis anos.

Câmara PEC 2017 Arquivada Dá nova Assimcomo a PEC citada


355/2017123 redação ao acima, alterar o artigo 7º da
art. 7º para Constituição para que ele
dispor sobre a previsse o direito à licença
Licença parental de 180 dias. Contudo,
Parental. diferente da PEC
anteriormente, não previa a
extinção das licenças
maternidades nem
paternidade, mas sim a
previsão concomitante das
demais licenças com a licença
parental

Fonte: elaborada pelo próprio autor.

121
BRASIL.Senado Federal. Projeto de lei nº PEC nº 229/2019. Altera o inciso XVIII do art. 7º da
Constituição Federal e revoga o inciso XIX da Constituição Federal e o § 1º do art. 10 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias para dispor sobre a licença parental compartilhada.. Disponível
em: < https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8057661&ts=1630408100269&disposition=inline>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
122
BRASIL.Senado Federal. PL 165/2006. Acrescenta dispositivos à Consolidação das Leis do Trabalho,
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, para dispor sobre a licença-parental.
Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=4711808&ts=1630411442387&disposition=inline>. Acesso em: 07 de novembro
de 2021.
123
BRASIL.Senado Federal. PEC 355/2017. Dá nova redação ao art. 7º para dispor sobre a Licença
Parental.. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1590295&filename=PEC+35
5/2017>. Acesso em: 07 de novembro de 2021.
56

Como outros que o antecederam, muito provavelmente esse projeto também


não será aprovado pelo Congresso e será arquivado. Isso decorre de vários fatores,
sendo o principal o seguinte: “a Câmara tem dificuldades para ver concluída a
tramitação de seus próprios projetos”. 124 Geralmente, os projetos que são aprovados
são enviados pelo executivo, servindo o legislativo apenas como uma chancela
institucional. Fato é que, para ser aprovado, necessariamente terá que seguir o
processo legislativo descrito na CF de 1988 e nos regimentos da Câmara e do Senado,
cujo organograma segue abaixo:

Figura 3 – Infográfico do processo legislativo no congresso nacional.

Fonte: Câmara dos Deputados.125

124
FIGUEIREDO, Argelina Cheibub; LIMONGI, Fernando. MUDANÇA CONSTITUCIONAL,
DESEMPENHO DO LEGISLATIVO E CONSOLIDAÇÃO INSTITUCIONAL. Disponível em:<
http://anpocs.com/images/stories/RBCS/rbcs29_10.pdf>. Acesso em: 07 de novembro de 2021, p.15.
125
BRASIL. Câmara dos Deputados. Entenda o processo legislativo. Infográfico lei ordinária. Disponível
em: < https://www.camara.leg.br/tema/assets/images/infografico-lei-ordinaria.png>. Acesso em: 01 nov.
2021
57

Para terminar este capítulo, pontua-se que, uma vez aprovado, muito embora
não disposto expressamente em sua justificativa inicial, esse PL impactará
positivamente a adoção por casais homoafetivos. Isso porque garantirá isonomia entre
a adoção e a gestação biológica ao estabelecer um mesmo período para ambas as
licenças. Ademais, proporcionará aos adotantes o mesmo direito que os pais biológicos
têm de estar com o seu filho, concretizando, assim, o princípio do melhor interesse do
menor, o qual poderá usufruir da presença de ambos os pais ou mães por um período
de tempo, podendo se apropriar de seus hábitos e familiarizar-se com o novo ambiente
familiar, o que, em seu último estágio, contribuirá igualmente para a solidificação do
conceito de família pautado no afeto.
58

CONCLUSÃO

Esta monografia serviu para expor a problemática envolvendo o limbo legislativo


que existe em relação aos casais homossexuais e a sua contrariedade ao
entendimento dominante atual sobre o instituto da família. Além disso, se prestou
também a ilustrar a necessária atuação do Poder Judiciário e o atraso do Brasil em
relação a outros países desenvolvidos.
Ao analisar o caminho histórico do Direito de Família no Brasil, assim como das
licenças maternidade e paternidade, foi possível perceber que as regras sobre esses
institutos estão em constante alteração, sendo essas mudanças, em uma linha geral,
favoráveis ao fenônomenos sociais do período.
Continuando, expor a esdrúxula atuação do legislativo brasileiro em relação aos
casais homossexuais, seus possíveis motivos e os mecanismos atualmente utilizados
para suprí-la evidenciou que o Poder de criar as regras está bastante desatualizado
ainda no Brasil em relação às mudanças sociais, estando o Poder Judiciário em outro
ponto dessa discussão: à frente.
Seguindo, ao demonstrar que casais homossexuais podem adotar e que as
licenças adotante e maternidade são estebelecidas pensando no melhor interesse do
menor, restou muito claro a necessidade de uma lei que elimine as diferenças,
deixando de olhar o gênero e passando a analisar a situação de cuidado que é
demonstrada na prática, na vida. O Direito é, sobretudo, a regulamentação da vida das
pessoas. Logo, legislar sem atentar-se para as especificidades que tal função exige
não serve, assim como deixar de atuar quando a situação exige, também não
Por tudo isso, restou evidente que aprovar o projeto de lei de 1974/2021 pode
ajudar o legislativo a se aproximar mais da realidade posta e, assim, também
concretizar o princípio da isonomia, dentre outros.
59

REFERÊNCIAS

ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine. Maternity and


paternity at work: law and practice across the world. Genebra: Organização
Internacional do Trabalho, 2014

ALMEIDA, V. O direito ao planejamento familiar e as novas formas de


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420, 2018. Coletânea do XV. Encontro dos Grupos de Pesquisa.

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Janeiro. 1876. Disponível
em:<file:///C:/Users/Windows/Downloads/000181841.pdf>. Acesso em: 04 out.
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AZEVEDO, À. V. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, v. XIX, 2003.

BARRETO, L. S. Evolução histórica e legislativa da família. Série


Aperfeiçoamento de Magistrados 13 10 Anos do Código Civil - Aplicação,
Acertos, Desacertos e Novos Rumos, jan./dez. [entre 2012-2019]. Disponível
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BARROS, Alice Monteiro de. A Mulher e o Direito do Trabalho. São Paulo: LTr,
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BRASIL. Câmara dos Deputados. Entenda o processo legislativo. Infográfico lei


ordinária. Disponível em: <
https://www.camara.leg.br/tema/assets/images/infografico-lei-ordinaria.png>.
Acesso em: 01 nov. 2021.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 3076/1997. Dispõe sobre a


licença parental. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD15MAI1997.pdf#page=78>.
Acesso em: 07 nov.2021.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 16/2003. Dispõe sobre a


licença parental. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=11
3730&filename=PL+16/200>. Acesso em: 07 nov. 2021.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de lei nº 1974/2021. Dispõe sobre o


instituto da Parentalidade em todo Território Nacional e altera as Leis 5.452, de
1º de Maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), 8112/1990 (Regime
Jurídico dos Servidores), 8212/1991 (Lei Orgânica da Seguridade Social),
8213/1991 (Regime Geral da Previdência Social) e 11770/2008 (Empresa
Cidadã). Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=20
1914>. Acesso em: 07 nov. 2021.
60

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pedido de providências 0003325-


80.2018.2.00.0000. Requerente: CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA DO
ESTADO DO CEARÁ-CE.Requerido: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA .
Min. João Otávio de Noronha. Julgado 18/07/2018. Disponível em: <
https://portal.tjpr.jus.br/pesquisa_athos/publico/ajax_concursos.do;jsessionid=c
e7badc67f27bfcf5110cfc5396a?tjpr.url.crypto=8a6c53f8698c7ff7d88bd1d17bac
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