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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE GAZA

DIVISÃO DE AGRICULTURA

ENGENHARIA DE PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS

Relatório de Estágio em Processamento de Alimentos

Refinaria de óleos (MAËVA PLAST)

Autor:
Kelvin Salomão Ngovene

Tutores:
Interno: Domingos Afonso Domingos
Externo: Mukesh Gwalwanshi

Lionde, Dezembro de 2023


ÍNDICE
Conteúdo Páginas
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................................... i

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................................... i

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .................................................................................... iii

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1

1.1. Objectivos .........................................................................................................................2

1.1.1. Geral......................................................................................................................... 2

1.1.2. Específicos ................................................................................................................2

1.2. Caracterização da Empresa ...............................................................................................3

1.3. Missão da empresa ............................................................................................................4

1.4. Visão da empresa ..............................................................................................................4

1.5. Plantações..........................................................................................................................4

1.6. Southern Refineries Lda. - Maëva Plast Matola ...............................................................5

1.6.1. Pontos de venda ........................................................................................................6

1.6.2. Clientes……..……………………………………………………………………… 6

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................7

2.1. Definição e Origem ...........................................................................................................7

2.2. O que são óleos e gorduras? ..............................................................................................7

2.3. Principal diferença entre óleos e gorduras ........................................................................7

2.4. Classificação e composição dos óleos e gorduras .............................................................7

2.4.1. Ácidos gordos ...........................................................................................................8

2.4.2. Impurezas contaminantes .........................................................................................8

2.5. Aspectos qualitativos do óleo e gordura ...........................................................................9

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...............................................................................................10

i
3.1. Descrição do local de estágio ..........................................................................................10

3.2. Método participativo .......................................................................................................10

3.3. Fluxograma de refinação de óleos ..................................................................................10

3.4. Descrição das etapas .......................................................................................................11

3.4.1. Degomagem ............................................................................................................11

3.4.2. Neutralização ..........................................................................................................11

3.4.3. Lavagem .................................................................................................................11

3.4.4. Branqueamento .......................................................................................................12

3.4.5. Desodorização ........................................................................................................12

3.4.6. Polimento ................................................................................................................12

3.4.7. Enchimento .............................................................................................................13

3.5. Controle de qualidade .....................................................................................................13

3.5.1. Determinação de parâmetros qualitativos no processo de refinação de óleos ........13

4. CONSTATAÇÕES E DISCUSSÃO ..................................................................................15

4.1. Índice de Ácidos Gordos Livres......................................................................................15

4.2. Teste de Coloração ..........................................................................................................18

5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................21

6. RECOMENDAÇÕES .........................................................................................................22

7. REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS .............................................................................23

ANEXOS ......................................................................................................................................... i

ii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Imagem da Maêva Plast Lda. ......................................................................................... 5
Figura 2: Esquema da reacção de síntese e hidrólise dos óleos ou gorduras. ................................ 8
Figura 3: Esquema da acção hidrolítica do óleo. ........................................................................... 9
Figura 4: Imagem da decantação por gravidade das gomas, gordura e água. ............................. 12
Figura 5: Imagem do enchimento do óleo. .................................................................................. 13
Figura 6: Gráfico de IAGL construído com os dados da Tabela 2, do Anexo A, referente ao dia
01/09/2023. ................................................................................................................................... 15
Figura 7: Gráfico de IAGL construído com os dados da Tabela 3, do Anexo A, referente ao dia
08/10/2023. ................................................................................................................................... 16
Figura 8: Gráfico que representa a intensidade das cores amarela e vermelha, presentes no óleo
branqueado, construído com os dados da Tabela 4, do Anexo A, referente ao dia 01/09/2023 ... 18
Figura 9: Gráfico que representa a intensidade das cores amarela e vermelha, presentes no óleo
desodorizado, construído com os dados da Tabela 4, do Anexo A, referente ao dia 01/09/2023. 19
Figura 10: Frasco de erlenmeyer contendo álcool etílico e gotas do indicador. .......................... iii
Figura 11: Aparecimento da cor violeta pálida após a titulação com NaOH. .............................. iii
Figura 12: Pesagem da amostra de óleo a ser analisado. .............................................................. iii
Figura 13: Aquecimento do óleo após a pesagem. ....................................................................... iv
Figura 14: Reaparecimento da cor violeta pálida após a titulação do óleo com NaOH. .............. iv
Figura 15: Células de vidro usadas na análise da coloração do óleo. ........................................... iv
Figura 16: Imagem do aparelho de Lovibond, usado na leitura da coloração do óleo. ................. v

ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Sub-empresas do Grupo Maêva em Moçambique. ........................................................ 3
Tabela 2: Resultados experimentais para determinação do IAGL (Acidez) durante a refinação de
óleos no mês de Setembro................................................................................................................ i
Tabela 3: Resultados experimentais para determinação do IAGL durante a refinação do óleo de
soja no mês de Outubro................................................................................................................... ii
Tabela 4: Resultados experimentais de coloração do óleo branqueado e desodorizado no mês de
Setembro. ......................................................................................................................................... i

i
Tabela 5: Resultados experimentais de coloração do óleo branqueado e desodorizado no mês de
Outubro. .......................................................................................................................................... ii

ii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AC – Agricultura de Conservação

EN4 – Estrada Nacional Nº 4

IAGL – Índice de Ácidos Gordos Livres

MAXI – Maxixe

OPD - Óleo de Palma Desodorizado

PET – Poli Etilenoglicol

PFAD – Palm Fatty Acids Distilled (Destilado dos Ácidos Gordos de Palma)

PPM – Parts Per Million (Partes Por Milhão)

SFAD – Soybean Fatty Acids Distilled (Destilado de Ácidos Gordos de soja)

SFA – Soybean Fatty Acids (Ácidos Gordos de Soja)

VCO – Óleo de Copra Virgem

iii
1. INTRODUÇÃO
O estágio é uma prática de aprendizado por meio do exercício de funções referentes à profissão
que poderá ser exercida no futuro e que adiciona conhecimentos práticos aos teóricos aprendidos
durante o curso. É também uma forma de aperfeiçoar o processo de formação profissional e
humana do estudante (Pianucci et al., 2018). Ao longo do período de estágio, os estagiários têm a
chance de vivenciar a dinâmica de uma organização, adquirir experiência profissional e
desenvolver habilidades essenciais para suas futuras carreiras (Brennam et al., 2012).

O relatório de estágio, realizado na indústria de refinaria de óleos alimentares e de produção de


sabonetes Maëva Plast, num período de 16 semanas, do 2º semestre do ano em curso, desde o dia
11 de Agosto à 10 de Novembro, como parte do programa de formação em Engenharia de
Processamento de Alimentos, aborda todo o processo de refinaria de óleos alimentares. Durante
esse período, teve-se a oportunidade de trabalhar em um ambiente desafiador e dinâmico, onde
contribuiu-se para as operações da organização empresarial, sendo estes o controle de qualidade
dos produtos e operacional, gestão de estoque e armazenamento e, ao mesmo tempo, aprimorar
as habilidades profissionais (auto-motivação e disposição para aprender; capacidade de
organização e planificação; capacidade de trabalhar sob pressão; pontualidade em cumprimento
de prazos e dinamismo).

A maior parte dos óleos vegetais contêm larga quantidade de ácidos gordos insaturados, sendo
muitos deles necessários para o organismo humano. Contudo, por causa da elevada quantidade
de componentes insaturados, estes óleos estão susceptíveis a mudanças lipídicas e/ou outros
componentes, tais como esteróis e tocoferóis, diminuindo as suas propriedades nutricionais
porque elas contribuem para a perda da actividade dos precursores biológicos, vitaminas A e E, a
deterioração das suas propriedades sensoriais (coloração, sabor, odor) e, desta forma, causando o
aumento do risco de saúde afectado pelo surgimento de radicais livres, os quais destacam-se as
propriedades cancerígenas. Estas mudanças ocorrem durante o processo de recolha da matéria-
prima, produção do óleo bruto ou durante o transporte e armazenamento. Um dos principais
indicadores de qualidade e frescura de óleos vegetais é a composição de ácidos gordos, porque os
ácidos orgânicos de cadeia longa não são compostos muito voláteis. Para fins analíticos eles são
convertidos em seus derivados mais voláteis, tais como os esteróis e tocoferóis (Soeira, 2012).

1
A qualidade dos óleos é subjectiva, dado ser variável com a sua origem, aplicação e
funcionalidades. Destinando-se à alimentação humana, exige-se-lhes um rigoroso controlo
analítico, para assegurar a originalidade da sua composição química, inocuidade e características
sensoriais do seu próprio género. De matriz lipídica, os óleos apresentam composição química
relactivamente complexa, refletida na sua estrutura interna e estabilidade, com consequências nas
suas propriedades reológicas (viscosidade), ópticas (cor) e organolépticas, correlacionáveis com
o perfil químico (Laranjeira et al., 2012).

O óleo ou gordura obtido a partir de sementes vegetais aparece na indústria em várias formas de
acordo com as suas fases de preparação, e a finalidade pela qual o mesmo é utilizado. O óleo
pode ser encontrado no mercado em algumas das seguintes fases: óleo bruto, óleo refinado, óleo
desodorizado e óleo hidrogenado. Os óleos e gorduras são importantes na dieta e na elaboração
de alimentos, sendo as principais funções: Fonte de energia; Fonte de ácidos gordos essenciais;
Transporte de vitaminas; Transmissão da sensação de saciedade alimentar (Da Fonseca Ribeiro,
2001).

1.1. Objectivos

1.1.1. Geral
 Conciliar os conhecimentos teóricos com os práticos sobre o processo de refinaria de
óleos vegetais durante o estágio supervisionado na empresa MAËVA PLAST;

1.1.2. Específicos
 Descrever o processo de refinação dos óleos;
 Determinar os parâmetros de qualidade;
 Acompanhar as actividades de processamento de óleos vegetais na empresa.

2
1.2. Caracterização da Empresa
O Grupo Maëva é um importante produtor local de óleos vegetais de alta qualidade e sabonetes
naturais, com sede em Maputo, desde 1998 e é composto por unidades de negócio tal como
ilustra o quadro a seguir:

Tabela 1: Sub-empresas do Grupo Maëva em Moçambique.

Sabimo Lda., Maputo


Fabricação de sabão

Refinaria do Sul Lda., Matola


Refinarias de óleos vegetais

Refinaria do Sul Lda. 2 - Maëva Plast, Matola


Embalagens plásticas e Refinaria de óleos vegetais

MAXI Óleos Lda., Maxixe


Coco de Britagem

Maëva Óleos Lda., Inhacoongo


Coco de Britagem

Azania Lda., Maputo


Food

Fonte: Grupo Maëva

O Grupo Maëva produz e comercializa óleos vegetais e sabonetes 100% naturais, à base de
ingredientes vegetais.
I. Óleo de Girassol;
II. Óleo de Soja;
III. Mistura 100% puro de óleo vegetal;
IV. Sabão com óleo 100% vegetal;

3
V. Óleos Vegetais Industriais: a. Óleo Bruto de Copra b. Óleo de Copra Refinado - VCO c.
Óleo de Palma Refinado (desodorizado e branqueado - OPD) d. Oleína de Palma e. Super
Oleína de Palma f. PFAD (Palm Fatty Acid Distilled) g. Estearina de Palma;
VI. Óleo de Soja.

1.3. Missão da empresa


A empresa Maëva está destinada a melhorar a qualidade de vida de seus clientes com seus
produtos saudáveis, e naturais nos domínios de cuidados com o corpo e nutrição e fazer com que
os seus produtos sejam de alta qualidade a preços acessíveis. A empresa Maëva faz a diferença
na promoção do desenvolvimento sustentável em Moçambique com base em uma estratégia de
empreendedorismo que visa aumentar a produção de alimentos e de petróleo local, através de
parcerias com pequenos agricultores, e fornece uma vasta gama de assistência à comunidade
rural. A fábrica promove a Agricultura de Conservação (AC), que está baseada em optimização
de rendimentos e lucros, para alcançar a realização de um balanço de benefícios agrícolas,
económicos e ambientais de perturbação mínima do solo (plantio directo), a cobertura do solo e
rotação de culturas diversificadas. Ainda, trabalha em estreita parceria com os agricultores
moçambicanos, com a intenção de aplicar os princípios da AC proporcionando uma agricultura
sustentável e melhorar os meios de subsistência dos agricultores (Soeira, 2012).

1.4. Visão da empresa


A empresa Maëva se esforça para ser uma grande empresa em Moçambique para contribuir
continuamente para um futuro sustentável dos moçambicanos, principalmente no
desenvolvimento dos jovens, a criação de empregos industriais e agrícolas e unir forças para
alcançar a realização de um elevado nível de profissionalismo e o bem-estar dos agricultores
rurais, desenvolver, criar e comercializar produtos de qualidade a preços acessíveis (Vicari,
2013).

1.5. Plantações
No âmbito de desenvolvimento industrial, a empresa Maëva está operando 4 mil hectares de
plantações de coco no distrito de Inhacoongo, província de Inhambane, com base na agricultura

4
de conservação (plantio directo) e rotação de culturas tais como: Soja, Girassol, Milho / Sorgo
(Roger, 2012).

1.6. Southern Refineries Lda. - Maëva Plast, Matola


A Maëva Plast é uma das unidades de produção do Grupo Maëva que se localiza na Matola, ao
longo da estrada nacional nº 4 (EN4), e se caracteriza pelas seguintes actividades:

 Refinação dos óleos de Soja; Palma; Oleína de Palma e Super Oleína de Palma.
 Produção da Estearina de Palma
 Produção de PFAD (Destilado de Ácidos Gordos de Palma; Oleína e Super Oleína),
 Produção de SFA (Ácidos Gordos de Soja),
 Fabricação do Sabonetes;
 Fabricação de embalagens plásticas (garrafas PET, e latas jerry de 5; 20 e 25 litros) com
capacidade de 360 mil garrafas e galões por dia;
 Enchimento e distribuição do óleo refinado;
 Comercialização do óleo bruto de Soja; Palma e Coco.

A imagem a seguir ilustra as instalações da indústria de refinaria de óleos vegetais.

Indústria de refinaria de óleos vegetais

Figura 1: Imagem da Maëva Plast Lda.

Fonte: Autor.

5
1.6.1. Pontos de venda
O produto é vendido para clientes localizados em:

 Maputo, Matola, Xai-Xai, Maxixe, Beira, Chimoio, Zambézia e Tete.

1.6.2. Clientes
Os produtos da Maëva são comercializados em:

 Consumidores individuais;
 Lojas, restaurantes, cantinas;
 À retalho/à grosso /à granel / distribuidores;
 Exportadores.

6
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Definição e Origem
Óleos vegetais e gorduras vegetais são os produtos constituídos, principalmente, de glicerídeos
de ácidos graxos de espécies vegetais. Podem conter pequenas quantidades de outros lipídeos
como fosfolipídeos, constituintes insaponificáveis e ácidos graxos livres naturalmente presentes
no óleo ou na gordura (Ranken, 2005).

Os óleos e gorduras são importantes na dieta e na elaboração de alimentos, sendo as principais


funções:

 Fonte de energia;
 Fonte de ácidos gordos essenciais;
 Transporte de vitaminas;
 Transmissão da sensação de saciedade alimentar;

2.2. O que são óleos e gorduras?


Segundo (Moretto, 2002), são substâncias insolúveis em água, solúveis em solventes orgânicos
de origem vegetal ou animal, constituídas predominantemente de ésteres de ácidos gordos e
glicerol, também chamados de glicerídeos. São os principiais constituintes do grupo de
substâncias conhecidas como Lípidos, sendo classificados em:

 Simples - para óleos e gorduras;


 Compostos - adicionados de outras substâncias nos glicerídeos tais como os fosfolípidos
e lecitina;
 Derivados - substâncias obtidas pela hidrólise dos lípidos.

2.3. Principal diferença entre óleos e gorduras


O óleo e a gordura diferenciam-se relactivamente pelo estado físico, influenciados pela
temperatura. Os óleos são líquidos e as gorduras são sólidas ou pastosas (Buckenko, 2002)

2.4. Classificação e composição dos óleos e gorduras


Os óleos e gorduras se classificam em saturados e insaturados. Os óleos são triglicerídeos de
gliceróis e de ácidos gordos, conforme a estrutura da reacção seguinte:

7
A imagem a seguir ilustra a cadeia da reação de síntese e hidrólise dos óleos ou gorduras.

Reacção de síntese e hidrólise dos óleos ou gorduras.

Figura 2: Esquema da reacção de síntese e hidrólise dos óleos ou gorduras.

Fonte: (Moretto, 2002).

A hidrólise de triglicerídeos resulta em diversos compostos: mono e triglicerídeos, ácidos gordos


livres (AGL), fosfolípidos, corantes, vitaminas, esteróis, e compostos de enxofre (Moretto,
2002).

2.4.1. Ácidos gordos


Na natureza existem mais de 40 diferentes ácidos gordos, todos podem ser representados pela
forma geral: CH3(CH2)nCOOH, porém, apresentam no mínimo 4 e no máximo 24 átomos de
carbono na cadeia. Isomeria da cadeia dos ácidos gordos insaturados 6. Os isómeros cis e trans
são muito importantes na definição do ponto de fusão dos óleos e gorduras (Moretto, 2002).

Os ácidos gordos representam a maior parte da composição dos óleos e gorduras (seja na forma
livre ou esterificados com o glicerol). Deste modo, os ácidos gordos são os principais
responsáveis pelas propriedades físico-químicas e a reactividade dos óleos e gorduras. São
constituídos geralmente por carbonos e apresentam até 3 ligações duplas em sua estrutura. No
geral, as ligações duplas encontram-se em geometria cis não conjugadas, sendo por sua vez
responsáveis pela reactividade dos óleos e gorduras em diversos processos e também pelas suas
propriedades físico-químicas (Laranjeira & al, 2012).

2.4.2. Impurezas contaminantes


São impurezas provenientes da contaminação dos óleos durante a sua extracção (transformação
da matéria-prima), contaminação durante o transporte e no armazenamento (Buckenko, 2002).

8
2.5. Aspectos qualitativos do óleo e gordura
A qualidade do óleo e gordura é determinada pelo teor de impurezas que influenciam tanto à
refinação quanto ao rendimento do processo. A concentração de impurezas e a dificuldade de
remoção das mesmas dependerá da qualidade da matéria-prima, acção enzimática, temperatura,
tempo de hidrólise e oxidação, que são catalisadas por enzimas como (lipases, fosfolipases,
oxidases), e também por temperatura e humidade (Moretto, 2002).

O sabor, o odor e a estabilidade: alterações químicas, que promovem a degradação da qualidade


do óleo denominada por rancidêz que pode destacar-se em hidrolítica e oxidativa (O'Brien,
2004).

Rancidêz hidrolítica: este tipo de degradação é originado pela presença dos ácidos gordos livres
de baixo peso molecular. A hidrólise pode ser provocada por aquecimento do óleo no meio ácido
ou básico, ou por acção enzimática, resultando na redução do ponto de fumaça e aparecimento de
cheiro e sabor desagradável (Soeira, 2012).

A imagem a seguir ilustra a cadeia da açção hidrolítica do óleo.

Acção hidrolítica do óleo

Figura 3: Esquema da acção hidrolítica do óleo.

Fonte: (Moretto, 2002).

Rancidêz oxidativa: As duplas ligações dos ácidos gordos insaturados são facilmente oxidados
por vários agentes (O2, O3, metais, auto-oxidação, foto-oxidação) produzindo peróxidos e
hidroperóxidos que sofrem reacções gerando compostos voláteis como aldeídos e cetonas,
responsáveis pelo cheiro e gosto de ranço (Soeira, 2012).

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3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Descrição do local de estágio
O estágio foi conduzido na indústria de refinaria de óleos vegetais Maëva Plast, localizada na
província de Maputo, cidade da Matola, ao longo da estrada nacional nº 4 (EN4). Matola
localiza-se na parte Sul de Moçambique, dentro da província de Maputo ocupa área de 368,4.
Situa-se aproximadamente os paralelos 25º 41’ 36 e 25º 50’ 36ʺ de latitude Sul entre os
meridianos 32º 24ʹ 0,2ʺe 32º 35ʹ 12ʺde longitude Leste (Cmcm, 2010).

3.2. Método participativo


Para o alcance dos objectivos e competências foi usado o método participativo, onde o estudante
tornou-se agente de construção de seu próprio conhecimento. Participou-se em actividades como
o processo de refinação de óleos vegetais, em todas as etapas, e determinação do controle de
qualidade. Participou também em actividades do sector de produção de sabonetes (tratamento de
resíduos) e produção de embalagens plásticas, durante um período de 16 semanas. Durante as
actividades do estágio, para a compilação dos conhecimentos e aprimoramento das habilidades
foram usadas a observação, a colecta de dados e anotações.

A imagem a seguir ilustra o fluxograma do processo de refinação de óleos.

3.3. Fluxograma de refinação de óleos

Degomagem Neutralização Lavagem Branqueamento

Enchimento Armazenamento Polimento Desodorização

Expedição

Fonte: Autor.

10
3.4. Descrição das etapas

3.4.1. Degomagem
Para a etapa de degomagem usou-se o método de indução de ácido fosfórico, com a finalidade de
reduzir a quantidade de soda cáustica que foi usada durante a etapa da neutralização. O agente
floculante, com cerca de 0,7% a 1%, equivalendo a 1 tonelada do óleo bruto, a quantidade das
gomas foi cerca de 5% a 7%. O óleo bruto foi colocado em quatro reactores, sendo três com
capacidade de 40 toneladas de óleo para cada; que são constituídos por agitador mecânico,
serpentinas para vapor, um sistema de chuveiros para a solução de soda cáustica e água. O ácido
foi misturado com o óleo bruto à uma temperatura de 55 ºC à 65 ºC, o tratamento com este
composto permitiu a remoção de 90% das gomas e actuou como um agente floculante.

3.4.2. Neutralização
Para a refinaria da Maëva Plast, aplicou-se o método de adição da solução de soda cáustica de
acordo com o conteúdo de ácidos gordos livres no óleo bruto. No caso do óleo com baixa acidez,
iniciou-se com agitação do óleo a uma rotação baixa, aquecendo-se até a temperatura de 75ºC a
85ºC, adicionando-se novamente 0.5% (que corresponde a 200Kg) do ácido fosfórico e
posteriormente efectuou-se a adição da soda cáustica. Deixou-se a mistura em repouso durante 3
horas e, posteriormente por gravidade fez-se a drenagem da gordura por baixo. Para óleos com
elevada acidez, adicionou-se a solução de soda cáustica mais concentrada, sob intensa agitação,
facilitando o contacto entre as duas fases. Em seguida, adicionou-se o ácido cítrico para a
eliminação de traços de sabões, e a mistura foi deixada em repouso por 2 horas até a separação
do sabão formado.

3.4.3. Lavagem
Após a remoção da gordura no óleo, adicionou-se a água de lavagem sem agitação, deixando-se
a mistura em repouso durante 2 horas, voltando-se a agitar e aquecer até 90°C. Seguidamente
deixou-se a mistura em repouso por 2 horas e posterior drenagem da água. Seguiu-se a segunda
lavagem aquecendo-se o óleo e a água até 95°C, durante 30 minutos. A mistura foi deixada
repousar por mais 2 horas e seguidamente a drenagem da água. Após a lavagem uma pequena
amostra do óleo neutro foi colhida e levada para o laboratório para testar a quantidade de
resíduos de soda cáustica existentes no óleo (ppm) e a quantidade dos ácidos gordos existentes,
de acordo com os padrões aceitáveis.

11
A imagem a seguir ilustra o processo de decantação por gravidade das gomas, gordura e água.

Lavagem do óleo

Figura 4: Imagem da decantação por gravidade das gomas, gordura e água.

Fonte: Autor.

3.4.4. Branqueamento
Na primeira panela, o óleo neutro ou bruto sofreu um pré-aquecimento à seco a uma temperatura
de 75°C, sendo o fluído quente, o vapor de água super aquecido e foi enviado continuamente
para um misturador com agitador mecânico misturando o óleo com ácido fosfórico, passando
para o segundo misturador de maior capacidade (40ton), adicionando areia (TONSIL) de
branqueamento. A mistura do óleo com a areia de branqueamento foi bombeada de seguida para
um tanque de cozimento denominado branqueador, onde foi reaquecida durante 1h até a
temperatura de 110˚C a 115˚C, bombeando-se aos filtros da prensa de placas, obtendo-se
resíduos de grande espessura.

3.4.5. Desodorização
Esta etapa visou a remoção dos sabores e odores indesejáveis num processo denominado
destilação fraccional, que consistiu em aquecer o óleo branqueado até que os seus constituintes
mais voláteis passassem para a fase de vapor e, então, arrefeceu-se de seguida o vapor formado
para se recuperar os constituintes na forma líquida e pura por condensação. O equipamento
usado na indústria Maëva foi uma torre semi-contínua do tipo Girdler.

3.4.6. Polimento
O óleo após sair do desodorizador, passou por dois filtros de polimento, e depois foi arrefecido
num permutador de calor de casco e tubos (P.C.C.T) que usou água como fluído frio seguido de
mais dois permutadores de placas, sendo que o primeiro de óleo/óleo bruto e o último de

12
óleo/água fria. Por fim, o óleo já resfriado (até cerca de 26ºC), passou em paralelo por mais dois
filtros de polimento. Nos filtros, o óleo desodorizado tornou-se quase isento de todas impurezas
que afectam na qualidade final do óleo.

3.4.7. Enchimento
Nesta etapa, o óleo armazenado proveniente dos processos anteriores foi bombeado para dois
tanques de enchimento com capacidade de 18 toneladas cada, onde decorreu a adição da
vitamina A e o posterior enchimento para a expedição. O enchimento foi efectuado por
enchedores automáticos, seguido da rotulagem e do embalamento. A distribuição à granel ou à
grosso foi feita com base no abastecimento directo por camiões cisternas, sem a adição da
vitamina A.

A imagem a seguir ilustra o processo de enchimento do óleo nas embalagens.


Enchimento do óleo

Figura 5: Imagem do enchimento do óleo.

Fonte: Autor.

3.5. Controle de qualidade


O controle de qualidade incidiu sobre o (i) teor de humidade, (ii) teor de acidez, (iii) coloração,
(iv) índice de peróxido e (v) vitaminas.

3.5.1. Determinação de parâmetros qualitativos no processo de refinação de óleos


Foram determinados os seguintes parâmetros: índice de acidez, a coloração, a percentagem do
sabão (denominado PPM), ponto de fusão (teste de frio) e a humidade.

13
3.5.1.1. Índice dos Ácidos Gordos Livres contidos no óleo
Para a determinação dos ácidos gordos livres, encheu-se a bureta com a solução alcalina de
NaOH a 0.1N; mediu-se 50ml de álcool spirit, com base numa proveta, num frasco cónico e
colocou-se 1-2 gotas do indicador Fenolftaleína. Agitou-se a mistura de forma a obter a sua
homogeneização e titulou-se a solução obtida com o NaOH até aparecer uma cor rosa pálida. De
seguida, pesou-se 3,5; 10; e 20g de amostras para os óleos (bruto, branqueado e desodorizado),
respectivamente; 5g, 25g de amostras branqueado, e desodorizado respectivamente, para a
análise; aqueceu-se a mistura numa placa de aquecimento até o aparecimento de bolhas e
adicionou-se 1-2 gotas do indicador seguido de uma agitação contínua. Voltou-se a titular com a
solução alcalina “NaOH a 0.1N” até o reaparecimento da cor rosa pálida. Registou-se o volume
de NaOH gasto durante a titulação. À posterior, com os resultados obtidos, fez-se os cálculos
para saber o nível de acidez do óleo.

3.5.1.2. Determinação da Coloração


A determinação da coloração foi realizada pelo método espectrofotométrico. Onde higienizou-se
a placa com tetracloreto de carbono ou acetona, e depois com o óleo que se pretendeu analisar,
de modo a retirar todas as impurezas e traços de humidade; colocou-se o óleo que se pretendeu
analisar na placa e ligou-se o aparelho de leitura (Lovibond) da cor vermelha e amarela
respectivamente. Repetiu-se este procedimento por mais três ensaios e escolheu-se o ensaio que
teve menores valores de vermelho e amarelo.

3.5.1.3. Determinação da Humidade


Para a determinação de humidade, colocou-se cuidadosamente gotas de óleo (1g) no aparelho de
leitura (Chroma 3) numa placa metálica com o papel filtro; À posterior fez-se a leitura para a
determinação de humidade, obtendo um valor compreendido de 0,018%.

14
4. CONSTATAÇÕES E DISCUSSÃO
As constatações que serão apresentadas neste capítulo dizem respeito a: (i) Índice de ácidos
gordos livres e (ii) Teste de Coloração.

O gráfico/figura a seguir representa os resultados do índice de ácidos gordos livres no óleo.

4.1. Índice de Ácidos Gordos Livres

0,1
Índice de Ácidos Gordos Livres (%)

0,09
0,08
0,07
0,06
0,05
0,04 Branqueado (%)
0,03 Desodorizado (%)
0,02
0,01
0
09:30 11:30 14:30
Tempo de retenção (h)

Figura 6: Gráfico de IAGL construído com os dados da Tabela 2, do Anexo A, referente ao dia
01/09/2023.

Fonte: Autor.

A figura apresenta os resultados do índice de ácidos gordos livres em diferentes tempos para
branqueado e desodorizado, sendo que os níveis variaram entre 0,05% a 0,10% para branqueado
e 0,01% a 0,02% para desodorizado. Estas diferenças estiveram associadas ao controlo adequado
dos parâmetros temperatura e pressão do óleo durante o processamento, apresentando variações
insignificantes que não influenciaram no aumento do IAGL durante o processo, pois
encontraram-se dentro dos limites definidos.

Segundo (Buckenko, 2002) estudando sobre óleos, obteve resultados de IAGL dos óleos
branqueado e desodorizados (das 9:30 às 16:00H). O IAGL para o óleo branqueado manteve-se
inalterado, mas após a desodorização reduziu até 0.01%, embora com algumas oscilações devido
a mistura com outro óleo proveniente da etapa de branqueamento.

15
Segundo (O'Brien, 2004), a percentagem do IAGL é utilizada como indicador de qualidade
durante o processamento de óleos. Durante os seus estudos, o óleo apresentou elevada
percentagem de IAGL, variando entre 0,05% a 0,08% para desodorizado, devido aos danos
qualitativos ocorridos no campo de produção ou durante o armazenamento. Entretanto, no
decurso do processo de refinação até a etapa final, a percentagem de IAGL reduziu até abaixo de
0,03%. É importante controlar o nível de acidez durante todo o processamento de óleos,
principalmente na fase final, pois elevados IAGL revelam problemas relacionados com o
controlo não adequado da temperatura e pressão e problemas potenciais para os quais podem ser
iniciadas acções correctivas.

Segundo (Reda, 2007), quando o óleo durante o processo de refinação é submetido a diferentes
temperaturas, o processo de oxidação é acelerado, verificando-se a ocorrência de reacções de
oxipolimerização e decomposição termo-oxidativa. No âmbito dos seus estudos, verificou que
apesar de estar dentro dos padrões estabelecidos pela norma, verificou-se uma ligeira variação do
índice de acidez para ambos óleos (branqueado e desodorizado) após um intervalo de 4h a 6h de
conservação no escuro. Esta variação deveu-se principalmente ao efeito da degradação
hidrolítica pela presença da humidade nos óleos e da permeabilidade da luz sobre as embalagens
plásticas não pigmentadas.

O gráfico/figura a seguir representa os resultados do índice de ácidos gordos livres no óleo.

0,1
Índice de Ácidos Gordos Livres (%)

0,09
0,08
0,07
0,06
0,05
0,04 Branqueado (%)
0,03 Desodorizado (%)
0,02
0,01
0
08:00 10:00 14:00 16:00
Tempo de retenção (h)

Figura 7: Gráfico de IAGL construído com os dados da Tabela 3, do Anexo A, referente ao dia
08/10/2023.

Fonte: Autor.

16
A figura apresenta os resultados do índice de ácidos gordos livres em diferentes tempos para
branqueado e desodorizado sendo que os níveis variaram entre 0,05% a 0,10% para branqueado e
0,01% a 0,04% para desodorizado. Observou-se que as amostras de óleo branqueado
apresentaram valores de IAGL aceitáveis, dentro dos limites. Entretanto, as amostras de óleo
desodorizado quando analisadas às 8h, o IAGL apresentou um valor acima do limite definido.
Isto deveu-se à elevação da temperatura causada pela manutenção de uma pressão negativa no
interior da torre de destilação (desodorizador) provocando um aumento nas temperaturas
recomendadas. Com o decorrer do processamento, a temperatura foi ajustada e os IAGL
reduziram significativamente até 0,01%.

Segundo (Soeira, 2012), é comum quando o óleo é submetido a temperaturas elevadas o aumento
excessivo do teor de ácidos gordos livres no óleo, isto porque altas temperaturas podem gerar
uma série de reacções de degradação dos triacilglicerídeos por transformações das ligações
duplas, ou dos grupos éster. Nos seus estudos sobre óleos, verificou valores de IAGL acima dos
padrões aceitáveis devido a elevação da temperatura e pressão na torre de destilação.

Segundo (Buckenko, 2002) nos seus estudos sobre óleos, refere que o índice de ácidos gordos
livres está intimamente relacionado com a qualidade da matéria-prima, o grau de pureza do óleo
e com o controlo adequado dos parâmetros temperatura, pressão e tempo de retenção do óleo
durante todas as etapas do processamento de refinação. Obteve resultados de IAGL dos óleos
branqueado e desodorizados (das 9:30 às 16:00H). O IAGL para o óleo branqueado manteve-se
inalterado, mas após a desodorização reduziu até 0.01%, embora com algumas oscilações devido
a mistura com outro óleo proveniente da etapa de branqueamento.

Segundo (Roger, 2012), estudando sobre óleos, verificou que a percentagem de IAGL para o
óleo branqueado de palma e de soja variou negativamente, no intervalo de 0,10% a 0,17%, mas
após a desodorização reduziu até 0.03%. embora com algumas oscilações devido a mistura com
outro óleo proveniente da etapa de branqueamento.

17
O gráfico/figura a seguir representa os resultados obtidos no teste de coloração no óleo
branqueado.

4.2. Teste de Coloração

Óleo Branqueado
80
70
Intensidade da Cor

60
50
40
Amarelo
30
Vermelho
20
10
0
09:30 11:30 14:30
Tempo de retenção (h)

Figura 8: Gráfico que representa a intensidade das cores amarela e vermelha, presentes no óleo
branqueado, construído com os dados da Tabela 4, do Anexo A, referente ao dia 01/09/2023

Fonte: Autor.

A figura apresenta os resultados da coloração e, observou-se a variação da coloração do óleo na


etapa de branqueamento. Verificou-se um valor constante na cor amarela (70,0), acima dos
limites aceitáveis. O factor principal por detrás deste valor elevado foi a adição irregular de areia
activada (TONSIL e FILTRAFLO) no misturador. Entretanto, os valores da cor vermelha
variaram de 1,2-1,4, encontrando-se, deste modo, dentro dos padrões aceitáveis.

Segundo (O'Brien, 2004), estudando sobre óleos, refere que a cor e aparência de óleos não
devem ser controlados somente devido ao carácter visual, mas também porque estão
directamente relacionados com o custo de processamento e qualidade do produto final. Tanto os
valores de coloração obtidos em amostras de óleo branqueado, como os de óleo desodorizado
variaram entre si, sendo o pico mais alto do óleo branqueado de 77,5 e 2,5 para o óleo
desodorizado. Tanto o óleo branqueado, como o óleo desodorizado apresentaram maior redução
da coloração quando o tempo de retenção foi de 2h (09h30min-11h30min).

18
Segundo (Oliveira, 2001), durante o processamento do óleo, a coloração e aparência são
indicativos de possíveis problemas, como oxidação, controlo incorrecto da temperatura e
pressão, adição irregular de terra activada, falhas ocorridas nas etapas anteriores à desodorização
e retenção do óleo no desodorizador por períodos prolongados. Nos seus estudos, obteve valores
de coloração acima dos limites aceitáveis, no intervalo de 75,0 a 85.0, para as amostras de óleo
desodorizado, no intervalo das 10h00min às 14h00min apresentaram uma variação de 1,0 à 1,5
correspondente a cor amarela. Isto deveu-se à elevada temperatura e pressão do vapor de
aquecimento no desodorizador.

Segundo (Soeira, 2012), no âmbito dos seus estudos sobre óleos, observou que tempos de
retenção do óleo no desodorizador por 2h ou 3h em temperaturas adequadas ajudam a melhorar a
cor pela destruição de certos pigmentos termosensíveis (sensíveis a temperaturas elevadas) como
os caratenóides (amarelo e vermelho) e o limite estabelecido para a coloração do óleo
branqueado é de 50A e desodorizado é de 15A.

O gráfico/figura a seguir representa os resultados obtidos no teste de coloração no óleo


desodorizado.

Óleo Desodorizado
2,5

2
Intensidade da Cor

1,5

1 Amarelo
Vermelho
0,5

0
09:30 11:30 14:30
Tempo de retenção (h)

Figura 9: Gráfico que representa a intensidade das cores amarela e vermelha, presentes no óleo
desodorizado, construído com os dados da Tabela 4, do Anexo A, referente ao dia 01/09/2023.

Fonte: Autor.

A figura apresenta os resultados da coloração, o tempo de retenção do óleo no desodorizador


variou de 2 à 3h, entretanto o processo ocorreu de uma forma contínua. Tanto os valores de

19
coloração obtidos em amostras de óleo branqueado, como os de óleo desodorizado variaram
ligeiramente entre si, sendo o pico mais alto do óleo branqueado de 77,5 e 2,5 para o óleo
desodorizado. Tanto o óleo branqueado, como o óleo desodorizado apresentaram maior redução
da coloração quando o tempo de retenção foi de 2h.

Segundo (Roger, 2012), nos seus estudos sobre a coloração do óleo, verificou a variação da
coloração de amostras de óleo de soja e palma, no intervalo de 45,0 a 50,0 para branqueado e 10
a 12 para desodorizado, durante o processo de refinação. O óleo branqueado oscilou com
tendência a aumentar a sua coloração no intervalo das 11h30min às 16h30min, devido à mistura
do óleo já em processo de branqueamento com óleo proveniente da fase anterior ao processo de
branqueamento, porém o aumento não foi muito elevado pois o valor se encontrava dentro dos
padrões aceitáveis.

Segundo (Oliveira, 2001), durante o processamento do óleo, a coloração e aparência são


indicativos de possíveis problemas, como oxidação, controlo incorrecto da temperatura e
pressão, adição irregular de terra activada, falhas ocorridas nas etapas anteriores à desodorização
e retenção do óleo no desodorizador por períodos prolongados. Nos seus estudos, obteve valores
de coloração acima dos limites aceitáveis, no intervalo de 75,0 a 85.0, para as amostras de óleo
desodorizado, no intervalo das 10h00min às 14h00min apresentaram uma variação de 1,0 à 1,5
correspondente a cor amarela. Isto deveu-se à elevada temperatura e pressão do vapor de
aquecimento no desodorizador.

Segundo (Reda, 2007), nos seus estudos observou que, tanto amostras de óleo branqueado
quanto amostras de óleo desodorizado apresentaram redução de coloração quando o tempo de
retenção foi de 2h (09:30- 11:30min), quando se aumentou o tempo de retenção para 3h,
observou-se aumento da coloração para 50,0 em ambas amostras de óleo branqueado e
desodorizado.

20
5. CONCLUSÃO
Chegado ao término deste trabalho conclui-se que as actividades traçadas para o estágio foram
alcançadas com satisfação e êxito, foram adquiridas competências nos processos de refinaria de
óleos vegetais e no controle de qualidade. Todavia, a empresa Maëva Plast segue à risca os
padrões aceitáveis do processo de produção e dos parâmetros de qualidade de óleos vegetais.
Entretanto, analisando os parâmetros de qualidade dos óleos vegetais, verificou-se que as
temperaturas e pressões aplicadas durante a desodorização interferiram na variação do IAGL do
óleo final, obtendo resultados satisfatórios. A variação do tempo de retenção do óleo no processo
de desodorização influencia na eliminação completa das substâncias voláteis, assim como na
redução da cor do óleo. De acordo com a análise da variação da coloração, os resultados obtidos
estiveram de acordo com os padrões aceitáveis, porém verificou-se elevado aumento da cor
amarela em amostras de óleo branqueado. Comparando os tipos de óleos produzidos na empresa,
verificou-se que o óleo de soja apresentou melhor qualidade por possuir baixo teor de ácidos
gordos livres e menor coloração. De uma forma geral, pode se dizer que os óleos apresentam
índice de ácidos gordos livres e coloração dentro dos padrões estabelecidos pela fábrica, de
acordo com as normas internacionais.

21
6. RECOMENDAÇÕES

a) Controle de temperatura

Recomenda-se à empresa que se coloque nos rótulos das embalagens contendo o óleo, a
informação detalhada da temperatura de conservação do óleo, evitando-se desta forma a
solidificação (baixas temperaturas) ou deterioração dos óleos (elevadas temperaturas).

b) Controlo de luz
Como é de salientar, nos óleos vegetais ocorre uma maior passagem da luz U.V, e a foto-
oxidação é maior devido à movimentação interna, que ocorre com os radicais livres produzidos
pela luz emitida. Então, recomenda-se uma embalagem mais espessa ou não transparente, pois, a
energia luminosa que o óleo vegetal absorve é directamente proporcional à capacidade de
transmissão da embalagem.

c) Tempo de armazenamento
Os tanques de armazenamento do óleo devem ser projetados para que o óleo permaneça por, no
máximo, três semanas para evitar que o óleo seja misturado com o recém refinado. Os óleos
recéns refinados não devem ser misturados com óleos que tenham sido produzidos
anteriormente, porque o produto mais velho poderá estar em estado de degradação, o que
afectaria a qualidade do óleo novo.

d) Embalagens
Como é frequente actualmente, o uso de embalagens plásticas do tipo PET, e sendo que estas por
sua vez, apresentem alta permeabilidade ao oxigénio, fraco isolamento e não oferecem proteção
contra a incidência de luz, principalmente a luz ultravioleta, parâmetros que afectam a oxidação
do óleo, recomenda-se que as mesmas sejam sempre colocadas dentro de embalagens
secundárias (celulósicas) em locais secos e escuros.

22
7. REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS

Brennam, J., Butters, J., & Coweell, N. (2012). Food Engineering Operations, Elsevier Applied
Science. London and New York.: 3th ed., Elsevier Applied Science.

Buckenko, G. M. (2002). Caracterização Físico- Química do Subproduto Obtido Durante a


Desodorização do Óleo de Soja. Brasil - Curitiba: B. CEPPA. V20.
Cmcm. (2010). Relatório da República de Moçambique. Moçambique - Maputo: 1ª ed.

Da Fonseca Ribeiro, C. F. (2001). Sector dos Óleos Vegetais Derivados e Equiparados, - em


“Plano Nacional de Prevenção dos Resíduos Industriais. Portugal - Lisboa.
Laranjeira, C., & al, e. (2012). Caracterização físico-química de óleos alimentares novos e
usados para identificação de indicadores de degradação da qualidade. UIIPS
Congresso: Investigação e desenvolvimento no IPS. (2 ed. ed.). Santarém, ESAS.: Livro
de Resumos. Comunicação por poster.

Moretto, e. F. (2002). Sector dos Óleos Vegetais Derivados e Equiparados, - em “Plano


Nacional de Prevenção dos Resíduos Industriais. Lisboa - Portugal.

O'Brien, R. (2004). Fats and Oils Formulating and Processing for Applications. Fat an Oils.
Inglaterra: (Ed.). Boca Raton. p. 175-232.

Pianucci, M. S.-C. (2018). ESTÁGIO SUPERVISIONADO NAS ENGENHARIAS NO ENSINO À


DISTÂNCIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA. . São Paulo:
https://doi.org/10.17143/ciaed/XXIVCIAED.2018.7732.
Ranken, M. D. (2005). Manual de Industrias de los Alimentos, 2ª ed. Espanha: 2ª ed.

Reda, S. Y. (2007). Óleos e Gorduras: Aplicações e Implicações. . São Paulo: Revista Analytica.
Nº 27.

Roger, P. (2012). Produção de Óleo de Soja Clarificado, em Trabalho de Conclusão de Curso.


Brasil, São Paulo.: BLUMENAU.

Soeira, L. (2012). Extracção do Óleo de Palma, em Trabalho de conclusão do curso de


Engenharia Química. Soeira, L., 2012 – Extracção do Óleo de Palma, em Trabalho de
conclusão do curso de Engenharia Química, Blumenau, São Paulo. .

Vicari, J. (2013). Dissertação de Mestrado em Biotecnologia. Campo Grande, Mato Grosso do


Sul, Brasil. .

23
ANEXOS
ANEXO A
I. Resultados experimentais no teste Índice de Ácidos Gordos Livres (IAGL)
Tabela 2: Resultados experimentais para determinação do IAGL (Acidez) durante a refinação de óleos no
mês de Setembro.

Óleo de Soja, Palma e Girassol


Data: 01/09/2023
Amostras de óleo
Tempo Branqueado (%) Desodorizado (%)
9:30 0,10 0,02
11:30 0,07 0,01
14:30 0,05 0,02
Data: 02/09/2023
9:30 0,07 0,02
11:30 0,10 0,02
14:30 0,12 0,03
Data: 03/09/2023
9:20 0,10 0,02
11:20 0,10 0,01
14:20 0,05 0,01
Data: 04/09/2023
9:00 0,10 0,02
11:00 0,10 0,02
14:00 0,10 0,02
Data: 05/09/2023
10:00 0,19 0,02
12:00 0,15 0,02
15:00 0,12 0,02

Fonte: Maëva Plast Matola, 2023.

i
Tabela 3: Resultados experimentais para determinação do IAGL durante a refinação do óleo de soja no
mês de Outubro.

Óleo de soja, Palma e Girassol


Data: 08/10/2023
Amostras de óleo
Tempo Branqueado (%) Desodorizado (%)
8:00 0,10 0,04
10:00 0,10 0,01
14:00 0,10 0,02
16:00 0,05 0,04
Data: 09/10/2023
8:00 0,05 0,02
10:00 0,05 0,02
14:00 0,05 0,02
16:00 0,05 0,02
Data: 10/10/2023
9:00 0,05 0,01
11:00 0,05 0,01
15:00 0,01 0,02
17:00 0,01 0,01
Data: 11/10/2023
9:00 0,05 0,02
11:00 0,05 0,02
14:00 0,05 0,02
16:00 0,05 0,02
16:00 0,05 0,01

Fonte: Maëva Plast Matola, 2023.

Os valores de IAGL que se encontram a vermelho estão fora dos padrões aceitáveis.

ii
II. Resultados experimentais do teste de Coloração

Tabela 4: Resultados experimentais de coloração do óleo branqueado e desodorizado no mês de


Setembro.

Data: Óleo de Soja, Palma e


Girassol
01/09/2023 Amostras de óleo

Tempo Branqueado- (1’’)* Desodorizado- (1’’)*


A V C A V C
9:30 70,0 1,4 77,0 2,1 0,3 3,6
11:30 51,0 1,2 57,0 1,4 0,3 2,9
14:30 57,0 1,3 63,5 1,4 0,3 2,4
Data: 02/09/2023
9:30 70,0 1,5 77,5 1,0 0,3 2,5
11:30 70,0 1,2 76,0 0,4 0,2 1,9
14:30 70,0 1,3 76,5 0,8 0,1 1,3
Data: 03/09/2023
9:20 20,0 1,3 35,5 1,4 0,4 3,4
11:20 30,0 1,2 36,0 1,3 0,3 2,8
14:20 51,0 1,1 56,5 1,4 0,4 3,4
Data: 04/09/2023
9:00 51,0 1,4 58,0 1,0 0,1 1,5
11:00 52,0 1,3 58,5 1,1 0,2 2,1
14:00 52,0 1,2 58,0 1,4 0,2 2,4
Data: 05/09/2023
10:00 70.0 3,2 86,0 1,5 0,4 2,5
12:00 70,0 3,5 87,5 1,9 0,3 3,1
16:00 70,0 2,5 85,5 1,9 0,3 1,9
Fonte: Maëva Plast Matola, 2023.

A - Amarelo;
V- Vermelho;
C - Coloração.
* - Tipo de célula usadas no teste.

Os valores de Coloração que se encontram à vermelho estão fora dos padrões aceitáveis.

i
Tabela 5: Resultados experimentais de coloração do óleo branqueado e desodorizado no mês de Outubro.

Data: Óleo de Soja, Palma


01/11/23 e Girassol.
Amostras de óleo
Branqueado (1’’)* Desodorizado (1’’)*

Tempo A V C A V C
10:00 70,0 1,5 77,0 1,0 0,3 2,5
12:00 70,0 1,2 76,0 0,9 0,2 1,9
14:00 70,0 1,3 76,5 0,8 0,1 1,3
Data: 02/11/2023
9:30 29,0 1,3 35,5 1,4 0,4 2,8
11:30 30,0 1,3 36,5 1,3 0,3 2,8
16:30 51,0 1,1 58 1,4 0,4 2,9
Data: 03/11/2023
10:00 8,3 0,9 12,8 1,0 0,1 1,5
12:00 11,0 0,9 15,5 0,9 0,1 1,4
15:00 9,2 0,9 13,7 1,1 0,1 1,6
04/11/2023
9:30 28,0 1,0 33,0 1,0 0,1 1,4
11:30 18,0 1,1 23,5 1,0 0,1 1,5
14:30 18,0 1,1 23,5 1,1 0,1 1,6
05/11/2023
10:00 12,0 0,9 16,5 0,9 0,2 1,9
12:00 12,0 0,8 16,0 1,0 0,1 1,5
15:00 11,0 0,9 15,5 0,9 0,1 1,4

Fonte: Maëva Plast Matola, 2023.

ii
ANEXO B
I. Procedimentos experimentais

Figura 10: Frasco de erlenmeyer contendo álcool etílico e gotas do indicador.

Fonte: Autor.

Figura 11: Aparecimento da cor violeta pálida após a titulação com NaOH.

Fonte: Autor.

Figura 12: Pesagem da amostra de óleo a ser analisado.

Fonte: Autor.

iii
Figura 13: Aquecimento do óleo após a pesagem.

Fonte: Autor.

Figura 14: Reaparecimento da cor violeta pálida após a titulação do óleo com NaOH.

Fonte: Autor.

Figura 15: Células de vidro usadas na análise da coloração do óleo.

Fonte: Autor.

iv
Figura 16: Imagem do aparelho de Lovibond, usado na leitura da coloração do óleo.

Fonte: Autor.

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