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Informativo Digital - Nº 01 - Janeiro/2011

Aspectos Laboratoriais da Doença Celíaca


Dra. Lilian Mello Soares
Médica Patologista Clínica
Assessoria Científica Lab Rede

A doença celíaca (DC) é uma enteropatia encaminhados para a biópsia duodenal. No entanto,
caracterizada pela intolerância permanente ao deve-se considerar que há indicação de biópsia para
glúten, fração protéica presente no trigo, cevada e indivíduos com sintomas ou sinais de DC, mesmo
centeio. Ela é desencadeada por mecanismo com marcadores sorológicos negativos, principal-
autoimune em indivíduos geneticamente predis- mente se integram grupo de risco.
postos. O caráter hereditário desta doença torna São três os principais marcadores sorológicos
imprescindível que parentes de primeiro grau de da DC: anticorpos antigliadina, antiendomísio e
celíacos sejam investigados. antitransglutaminase. A detecção de anticorpos
A DC pode apresentar-se clinicamente de antigliadina da classe IgA por ELISA apresenta
três formas: clássica ou típica, não clássica ou especificidade superior aos anticorpos da classe IgG,
atípica, e assintomática ou silenciosa. A Forma e a sensibilidade é muito variável em ambas as
Clássica é caracterizada pela presença de diarréia classes. A pesquisa de anticorpos antiendomísio da
crônica, acompanhada de distensão abdominal e classe IgA é baseada na técnica de
perda de peso. A apresentação pode incluir imunofluorescência indireta e apresenta alta
diminuição do tecido subcutâneo, atrofia da sensibilidade em crianças acima de dois anos e
musculatura glútea, falta de apetite, alteração de adultos, e alta especificidade. No entanto, é um teste
humor, vômitos e anemia. A Forma Atípica trabalhoso, examinador-dependente e de menor
caracteriza-se por quadro mono ou oligos- custo/benefício que a técnica de ELISA. Com relação
sintomático. Os pacientes deste grupo podem aos anticorpos antitransglutaminase, a pesquisa por
apresentar manifestações isoladas, como baixa ELISA de anticorpos da classe IgA apresenta
estatura, anemia por deficiência de ferro refratária elevada sensibilidade e especificidade. É importante
à reposição por via oral, anemia por deficiência de destacar que a deficiência de imunoglobulina A é
folato e vitamina B12, osteoporose, hipoplasia do responsável por resultados falso-negativos dos
esmalte dentário, artralgia ou artrite, constipação testes sorológicos antiendomísio e antitransglu-
intestinal refratária ao tratamento, atraso puberal, taminase da classe IgA, sendo indicada a dosagem
irregularidade do ciclo menstrual, esterilidade, sérica simultânea da imunoglobulina A.
abortos de repetição, ataxia, epilepsia, neuropatia Em resumo, há superioridade dos anticorpos
periférica, miopatia, manifestações psiquiátricas, antiendomísio e antitransglutaminase da classe IgA,
úlcera aftosa recorrente, elevação das enzimas principalmente o anticorpo antitransglutaminase
hepáticas sem causa aparente, fraqueza, perda de recombinante humana IgA, em relação aos
peso, entre outras. Já a Forma Silenciosa, é anticorpos antigliadina. Por este motivo, a Portaria Nº
caracterizada por alterações sorológicas e 307, de 17 de Setembro de 2009, do Ministério da
histológicas da mucosa do intestino delgado Saúde, excluiu da Tabela de Procedimentos do SUS
compatíveis com DC, na ausência de a Pesquisa de Anticorpos Antigliadina IgG, IgM e
manifestações clínicas. IgA, e incluiu a Dosagem de Anticorpos
Para o diagnóstico definitivo da DC, deve ser Antitransglutaminase Recombinante Humana IgA. A
realizada endoscopia digestiva alta com biópsia de maior facilidade da dosagem de anticorpos
intestino delgado. Até o momento, os marcadores antitransglutaminase e sua elevada sensibilidade e
sorológicos para DC não substituem o exame especificidade na população pediátrica e adulta
histopatológico do intestino delgado. Eles podem fazem dela o teste sorológico de escolha para
ser utilizados no acompanhamento do paciente avaliação inicial dos indivíduos com suspeita de
celíaco e na identificação dos indivíduos a serem intolerância ao glúten.
.
REFERÊNCIAS
1. Anexo da Portaria Nº 307, de 17 de Setembro de 2009, do Ministério da Saúde - PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS
DA DOENÇA CELÍACA. 2.Bahia M. et al. Determining IgA and IgG Antigliadin, IgA Antitransglutaminase, and Antiendomysial Antibodies in
Monkey Esophagus and in Umbilical Cord for Diagnosis of Celiac Disease in Developing Countries. Journal of Pediatric Gastroenterology and
Nutrition 2007;45:551–558.

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