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DOENÇA CELÍACA E INTOLERÂNCIA À LACTOSE

DOENÇA CELÍACA histocompatibilidade desenvolvem a doença,


mas todos os que tem a síndrome, tem os
Também chamada de “espru não tropical”,
alelos. Assim, a busca genética é essencial
“espru celíaco” ou “enteropatia induzida pela
para o diagnóstico.
gluten”, trata-se de uma doença autoimune de
caráter permanente, que só aparece em MANIFESTAÇÃO CLÍNICA
indivíduos geneticamente predispostos, sendo
A maioria dos casos é oligossintomático, por
desencadeada pela exposição ao glúten na
isso, o atraso no diagnóstico é comum.
dieta.
Quando se inicia na infância, sobretudo, antes
EPIDEMIOLOGIA dos dois anos – durante a introdução
alimentar, a criança apresenta a síndrome de
Acomete predominantemente:
má absorção intestinal completa:
 Brancos de origem caucasiana
 Distensão abdominal
 Proporção de 1:100 indivíduos
 Diarreia crônica com esteatorreia
No entanto, apenas 10% recebem o  Deficit ponderoestatural
diagnóstico, pois, na maioria das vezes, o  Carência de múltiplos nutrientes
paciente é oligo ou assintomático, o que não o Ferro, acido fólico e vitamina B12
motiva a busca médica. Os que se apresentam – anemia
sintomáticos, possuem clínica óbvia: o Vitamina D – Doença óssea
 Síndrome de má absorção intestinal o Vitamina K – coagulopatia
 Desnutrição o Vitamina A – hiperceratose
cutânea
FISIOPATOLOGIA o Vitamina E – neuropatia
O glúten é digerido parcialmente na luz do Por outro lado, ao iniciar-se na criança mais
tubo digestivo e o produto desse processo é a velha ou em adulto, NÃO ocorre uma síndrome
gliadina, que é um peptídeo rico em glutamina. de má absorção completa. Nesses indivíduos,
Essa gliadina liga-se à transglutaminase há manifestações:
tecidual – tTG (presente no enterócito), o que
forma um complexo macromolecular. Os 1. Típicas (podendo aparecer de forma
portadores do complexo principal de muito ou pouco intensa)
histocompatibilidade HLA-DQ2 (corresponde a a. Diarreia crônica
95% das pessoas que têm celíaca) e HLA- b. Dispepsia
DQ8 (5% restantes) apresentam esse c. Flatulência e/ou
complexo como antígeno, gerando resposta d. Perda ponderal
celular e humoral da imunidade, o que resulta 2. Atípicas (Extraintestinais)
em infiltração linfocítica e produção de a. Fadiga
autoanticorpos contra o glúten, gliadina e tTG. b. Depressão
Porém, sabe-se que 40% da população em c. Anemia ferropriva refratária à
geral é portadora desses alelos que reposição oral de ferro
determinam a formação da doença celíaca, e (deficiência de ferro é mais
mesmo assim, não apresentam a doença – comum que a deficiência de
uma minoria desenvolve. Portanto, nem todos acido fólico, pois lesões na
que tem esses complexos de mucosa próxima do TGI estão
mais relacionadas à disabsorção
de ferro. E mais distais, próximas 4. Alguns autores consideram a realização
ao íleo, estão relacionadas à má de densitometria óssea
absorção de B12. 5. Hipoalbuminemia – indica má absorção
d. Osteopenia/Osteoporese de proteínas
e. Atraso na puberdade 6. Na vigência de diarreia importante –
f. Amenorreia acidose metabólica hiperclorêmica e
g. Infertilidade hipocalêmica
h. Dermatite Herpetiforme – menos a. Perda de HCO3-
de 10% dos pacientes b. Perda de K+
desenvolvem. Porém, todos os 7. 40% dos celíacos apresentam discreta
que desenvolvem têm a doença. elevação das aminostransferases;
Consiste em Rash
SOROLOGIA
papulovesicular, pruriginoso, que
se distribui sobre regiões Todo paciente sob suspeita de doença celíaca
extensoras, pescoço, couro deve realizar a pesquisa de autoanticorpos
cabeludo e tronco. característicos:
i. Nefropatia por IgA
 Teste de escolha é o IgA
antitransglutaminase tecidual (IgA anti-
tTG)
 Caso negativo e permaneça a suspeita
clínica, solicitar dosagem sérica de IgA
total no sangue do paciente
 3% dos celíacos possui deficiência
seletiva de IgA, e, neste caso, solicitar
IgG antigliadina deaminada (IgG anti-
DGP)
Espera-se que o título dos anticorpos
supracitados volte ao normal após 3-12 meses
de dieta sem glúten.
DIAGNÓSTICO
EXAMES LABORATORIAIS E SOROLOGIAS O algoritmo diagnóstico atualmente
preconizado está abaixo:
Pode encontrar:
1. Hemograma – anemia ferropriva
(microcítica e hipocrômica) que pode
ser ou não acompanhada de anemia
megaloblástica – por deficiência de B12 A endoscopia digestiva alta deve sempre ser
e folato. realizada na suspeita de doença celíaca em
2. Alargamento de TAP/INR – pela má pacientes com sorologia positiva. Nos casos
absorção de vitamina K; em que a pesquisa de autoanticorpos é
3. Má absorção de Ca+2 e Vitamina D negativa, mas a suspeita clinica permanece
justifica a hipocalcemia e elevada, também indica EDA. A mucosa
hipovitaminose D, o que pode duodenal deve ser biopsiada em suas porções
acompanhar aumento da fosfatase proximal (bulbo) e distal (após papila de Vater).
alcalina, indicando a existência de Importante ter em mente que as alterações
doença óssea. histopatológicas e endoscópicas característica
da doença não são patognomônicas (outras
condições como alergia à proteína do leite de
vaca, espru tropical, supercrescimento
bacteriano, enterite eosinofílica, entre outras
também podem dar os mesmos achados. O
diagnóstico definitivo dá-se com a reversão do
quadro após o início de uma dieta sem gluten.
Os achados são:
 Macroscopia – atrofia e aplainamento
das dobras mucosas e vilosidades
 Microscopia – infiltração linfocítica no
epitélio e na lâmina própria com atrofia
das vilosidades e hiperplasia das
criptas.

TRATAMENTO
Suspensão do glúten;

COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO
Alguns pacientes são refratários ao tratamento
por 2 motivos:
1. Má adesão
2. 5% dos pacientes, mesmo fazendo o
tratamento adequado, ainda
apresentam recidivas. Isso pois
depende do fenótipo dos linfócitos que
infiltram a mucosa intestinal. Existem 2:
a. Doença refratária tipo 1 ou com 3. Flatulência, borborigmo e distensão
linfócitos POLICLONAIS – abdominal podem estar presentes e
possuem indicação ao serem as únicas queixas do paciente
tratamento imunossupressor. 4. Deficiência de vitaminas e minerais
Incialmente, com glicocorticoide,
ETIOLOGIA
podendo ser necessária a
manutenção com drogas
poupadoras de corticoide em
longo prazo (ex azatioprina)
b. Doença refratária tipo 2 ou com
linfócitos MONOCLONAIS – os
linfócitos expressam marcadores
CD3 e CD8, e apresentam o
mesmo rearranjo no gene do
receptor de célula T. Indica
corticoterapia, mas resposta
costuma ser ruim com 50%
degenerando para um linfoma T
intestinal nos próximos cinco
anos.
SÍNDROME DISABSORTIVA
Via de regra, é uma dificuldade na absorção
de um ou mais nutriente/substância, sendo o
intestino delgado a principal porção absortiva
do TGI. Portanto, quando pensamos em
distúrbios disabsortivos, nos remetemos a
doenças que afetam o intestino delgado.
Vários processos como problemas na
digestão, defeito na superfície de absorção,
anormalidades no transporte para a circulação INTOLERÂNCIA À LACTOSE
sanguínea/linfática ou uma combinação Ocorre devido à perda total ou parcial da
desses fatores podem desencadear essa enzima chamada lactase. Lactase é
síndrome. responsável por hidrolisar a lactose em glicose
MANIFESTAÇÃO CLÍNICA e galactose, que são passíveis de absorção
intestinal. Estima-se que 75% dos adultos
Os sintomas abaixo são universais e nos apresentem algum grau de intolerância.
obrigam a pensar nesse diagnóstico:
ETIOLOGIA
1. Diarreia crônica - > 4 semanas pode
estar presente e as fezes apresentam- Pode ser:
se pálidas, esteatorreicas, volumosas e  Congenita (rara) – doença de herança
com odor fétido. autossômica recessiva; acomete RN e é
2. Perda de peso – perda ponderal ocorre grave
a despeito de uma alimentação  Primária – há redução gradativa da
adequada, de forma não intencional. produção dessa enzima pelas células
Desnutrição proteico calórica mais intestinais. Mais comum no adulto
grave pode levar à hipoalbuminemia
 Secundária – temos uma lesão de
enterócitos, que leva a uma deficiência
temporária de lactase. Ocorre por
exemplo em gastroenterites virais
(rotavírus), em infecções por
protozoários – giardíase e amebíase.
Após quimio e radioterapia. Portanto, a
secundrária é reversível
FISIOPATOLOGIA DIAGNÓSTICO

Acúmulo de lactose faz as bactérias Pode ser sugerido por meio da melhora da
consumirem esse carboidrato, o que gerará sintomatologia com adequação da dieta,
gases e distensão abdominal. Ainda, a lactose evitando consumo de leite e derivados. Outra
no lúmen também funcionará como soluto com opção é realização do teste respiratório de
capacidade osmótica, atraindo água e hidrogênio com a ingestão de lactose. Por fim,
promovendo diarreia osmótica. existe também o chamado teste da curva
glicêmica. Após jejum de 8 horas verifica-se a
glicemia. Ele ingere liquido com lactose pura.
Amostras são coletadas após 30, 60 e 90
minutos. Paciente é considerado intolerante se
o incremento da glicemia sérica for inferior a
20 mg/dL.

CLÍNICA
Variam de leve desconforto do TGI ao
consumir leite e derivados até quadro clássico:
 Diarreia volumosa por vezes aquosa
 Fezes pastosas e fétidas
 Dor
 Distensão abdominal
 Flatulência
 Perda ponderal é incomum

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