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Doença celíaca Aline Esteves

Descrição geral
A doença celíaca é uma enteropatia autoimune, que pode se iniciar na infância, cujas
manifestações são geradas pela ingestão de alimentos com glúten em indivíduos
geneticamente predispostos.
Nessa patologia, ocorre uma hipertrofia das vilosidades intestinais, que resulta em
diminuição da superfície absortiva e consequente má absorção intestinal e síndrome
dissabsortiva.
A retirada do glúten da alimentação promove o desaparecimento das manifestações
clínicas e das lesões morfológicas na mucosa intestinal.
- É necessário haver uma predisposição hereditária, DQ2 e DQ8, causando a reação
inflamatória, uma deficiência imunológica e alimentação artificial que refere ao
componente ambiental.
O glúten é uma proteína que está presente no trigo e cereais similares, como centeio,
cevada e aveia. Normalmente, essa proteína é digerida por enzimas luminais e da
borda em escova, sendo quebrado em peptídeos e aminoácidos, como a gliadina. A
gliadina é resistente à degradação por proteases gástricas, pancreáticas e intestinais,
e o reconhecimento de seus antígenos gera estimulação da resposta imunitária, que é
uma das bases da doença celíaca.
Inicialmente, as moléculas de gliadina são incorporadas pelas células intestinais, pela
lâmina própria, onde essas moléculas passam por um processo de desaminação pela
transglutaminase. Depois disso, as moléculas de gliadina interagem com moléculas
HLA, DQ2 e DQ8 (células apresentadoras de antígenos) e são apresentadas a linfócitos
TCD4, induzindo a produção de IL-15 pelos enterócitos.
Após a apresentação, ocorre a uma ativação e proliferação de linfócitos TCD8 (linfócitos intraepiteliais), além da produção de citocinas e anticorpos. Esses anticorpos são importantes
para o diagnóstico da doença celíaca, como o anti-gliadina, o anti-endomísio e anti-tTG – acredita-se que a produção de anti-endomísio ocorra por uma reação cruzada.
A ativação dos linfócitos intraepiteliais provoca a morte de enterócitos e todo esse ambiente estressor leva à expressão da proteína MIC-A em enterócitos e reconhecimento por
NKG2D dos linfócitos T, o que promove a perpetuação do ciclo da doença, ou seja, ocorre a lesão epitelial, incorporação da gliadina, que sofre a ação da anti-glutaminase e ativação
dos linfócitos.
Clinicamente, a doença celíaca cursa com uma síndrome disabsortiva, com má absorção de carboidratos, lipídios e proteínas, associado à diarreia, perda de peso, distensão e dor
abdominal, náuseas, vômitos, constipação, irritabilidade, anorexia e até mesmo hipertrofia muscular nas crianças. Em adultos, essa desarbsorção gera sinais e sintomas um pouco
diferentes, como diarreia, dor ou desconforto abdominal, anemia, osteoporose e emagrecimento. Vale pontuar que a maioria dos indivíduos com doença celíaca são diagnosticados
com mais de 20 anos.
Diagnóstico
- Doença leva em consideração as manifestações clínicas, que caracteristicamente desaparecem com a retirada do glúten da dieta, associadas com a detecção de anticorpos, que
deve ser feita antes da restrição ao glúten. Os anticorpos pesquisados são o anti-transglutaminase, anti-gliadina e anti-endomísio, além da pesquisa de HLA DQ2/8, que são as células
apresentadoras de antígenos que realizam a apresentação da gliadina para a produção dos anticorpos pelos linfócitos.
- Outro exame que pode ser realizado no diagnóstico da doença celíaca é a biópsia endoscópica. Macroscopicamente, a mucosa intestinal apresenta atrofia (apagamento das
vilosidades), fissuras, pode apresentar serrilhamento das pregas, aspecto nodular e vasos submucosos visíveis.
- Na microscopia, há um espectro de alterações que podem ocorrer na doença celíaca, desde poucas alterações até atrofia e desaparecimento das vilosidades, tornando o epitélio
irreconhecível enquanto mucosa entérica. Esse espectro inclui hipertrofia e achatamento das vilosidades intestinais, alongamento/hiperplasia das criptas, enterócitos cubóides e
sem borda em escova, e aumento das mitoses nas criptas. Também são visualizados aumento do número de linfócitos intra-epiteliais, que são os linfócitos T citotóxicos CD8, e
infiltrado rico em plasmócitos e linfócitos TCD4 na lâmina própria.
- Essas alterações microscópicas da mucosa na doença celíaca são classificadas pela Classificação Marsh, que vai de 0 a 3.
• No Marsh 0, a mucosa se apresenta normal, ou seja, com a presença dos vilos, revestidos pelos enterócitos com a borda em escova característica, com relação vilo/cripta 3-
5:1 e poucos linfócitos intraepiteliais (< 20 linfócitos/100 enterócitos).
• No Marsh 1, a atrofia está ausente, com a mucosa preservada, com relação vilo/cripta 3-5:1, mas há linfocitose intraepitelial (> 30 linfócitos/100 enterócitos).
• No Marsh 2, há uma linfocitose epitelial com hiperplasia das criptas, cuja extensão está associada à atividade mitótica. O Marsh 2 é um diagnóstico incomum e aqui, a relação
também é de > 30 linfócitos/100 enterócitos.
• Por fim, no Marsh 3a, existe atrofia leve dos vilos, associada à linfocitose intraepitelial (> 30 linfócitos/100 enterócitos). No Marsh 3b, a atrofia é moderada, com relação
vilo/cripta 2:1. Por fim, no Marsh 3c, a atrofia dos vilos é acentuada, com a mucosa totalmente aplanada.
A doença celíaca se associa a algumas condições, especialmente a dermatite herpertiforme. Essa é uma desordem bolhosa auto imune, que, normalmente, sofre remissão com dieta
com restrição ao glúten. A dermatite herpertiforme é caracterizada por pápulas e vesículas pruriginosas, e bolha subepidérmica com agregados e microabscessos neutrofílicos, e
depósitos granulares de IgA na junção dermoepidérmica microscopicamente. Além disso, a doença celíaca gera um risco maior para neoplasias malignas, como linfoma de células T
enteropático e adenocarcinoma de intestino delgado.

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