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1º TVC
Semiologia do Sistema Endócrino
Síndromes endócrinas I
Diabetes e obesidade
Diabetes Mellitus
A palavra diabetes vem do grego e significa sifão. A doença recebeu este nome pela poliúria que a
caracteriza. Diabetes refere-se a um grupo de doenças metabólicas, de etiologias diversas, que geram
hiperglicemia, a qual está relacionada ao déficit de secreção de insulina e/ou à resistência periférica à insulina.
O diabetes mais comum é o tipo II (DM2). O paciente que o apresenta, geralmente, tem histórico familiar
e é obeso. Seus sintomas aparecem na fase adulta (45/50 anos de idade). O diabetes tipo I (DM1) é uma doença
autoimune e, portanto, mais comum em crianças e adolescentes, os quais apresentam sintomas agudos
(aparecem após um gatilho que desencadeia reação autoimune). Existe ainda o diabetes mellitus gestacional
(DMG), no qual o diagnóstico ocorre apenas na gestação. A gestante pode ou não continuar com os sintomas
após o término da gestação. Pode-se citar outros tipos de diabetes, relacionados a síndromes monogênicas¹, a
doenças pancreáticas, a outras doenças endócrinas (ex.: síndrome de Cushing, na qual o hipercortisolismo gera
hiperglicemia; produção excessiva de GH no acromegalismo também gera hiperglicemia) e induzido por drogas
(ex.: uso de glicocorticoides).
¹ O diabetes monogênico é uma forma hereditária de diabetes, que tem como causa a mutação de um determinado gene
autossômico e que interfere na produção de insulina.
Manifestações Clínicas
“Doutor, é uma sede, uma vontade de água gelada, que um galão de 20 litros é pouco. E muito, muito xixi. Ah, também estou 1
com muita fome, mas emagreci uns 15 kg nesses últimos dias.”
Doença cardiovascular.
Hipertensão arterial.
Dislipidemia.
Passado de DMG ou macrossomia fetal (criança a termo que nasce com mais de 4 kg).
A partir de quando pesquisar? 45 anos. Se o primeiro exame laboratorial for negativo, pesquisar de 3 em
3 anos, aproximadamente.
Outros sinais clínicos: xantelasma (bolsas de gordura nas pálpebras) e xantomas (bolsas de gordura na
pele, tipicamente sobre articulações). Estes sinais têm como causa a dislipidemia e são mais raros.
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Os pacientes doentes que não são rastreados podem chegar ao consultório já com complicações
crônicas, visto que a doença já pode estar instalada há muitos anos.
Complicações crônicas do DM
Microvasculares (lesão de microvasos devido a estresse oxidativo): nefropatia diabética, retinopatia
diabética e neuropatia diabética.
Macrovasculares: doença arterial periférica (claudicação), doença cardiovascular (IAM) e doenças
cerebrovasculares (AVE).
Esses sintomas não são óbvios. Por exemplo, o início da retinopatia diabética é assintomático, assim como
a nefropatia. Assim, essas complicações devem ser investigadas se o paciente tiver DM2 ao diagnóstico e após 5
anos do diagnóstico de DM1. Na nefropatia, o paciente pode relatar urina espumosa, a qual indica proteinúria.
Entretanto, a nefropatia não é muito sintomática.
Já a neuropatia costuma apresentar sintomas, tais como dor em queimação, em agulhada, que aparece
ao toque, picada “em botas” ou “em luvas”, ou perda de sensibilidade (este último classificado como um sintoma
negativo).
Existe uma outra neuropatia, mais grave, relacionada à alteração na inervação autônoma, a neuropatia
autonômica. O portador pode ter problemas no esvaziamento gástrico (gastroparesia), por exemplo, os quais
podem levar a picos de glicemia no momento de esvaziamento súbito e momentos de hipoglicemia enquanto o
estômago ainda se encontra cheio. Essa neuropatia pode estar relacionada, ainda, a disfunções urinárias,
cardiovasculares e à disfunção sexual.
Retinopatia Diabética
O primeiro achado são os microaneurismas. Os pontos dos vasos que são lesados pela hiperglicemia se
enfraquecem, predispondo o aparecimento de pequenos aneurismas. Nesses pontos, pode ocorrer exsudação
(exsudatos são pontos amarelos na retinografia) e hemorragia. Esses sintomas são encontrados na retinopatia
diabética não proliferativa.
Na retinopatia diabética proliferativa, acontece surgimento de novos vasos de forma compensatória à
isquemia causada pelo adoecimento dos vasos. Entretanto, essa compensação pode predispor descolamento de
retina sendo, portanto, muito grave.
Exame do Pé Diabético
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Refere-se ao paciente que apresenta neuropatia e vasculopatia, além de um fator mecânico que
predisponha lesão.
História do Paciente: ulceração prévia, amputação prévia, DM > 10 anos, HBA1c > 7% (hemoglobina glicada –
média da glicemia durante alguns meses), visão comprometida, claudicação.
Exame dermatológico: pele seca, rarefação de pelos, úlceras, unhas encravadas, maceração interdigital
(intertrigo interdigital – micose entre os dedos).
Rastreio para neuropatia: monofilamento 10 g (teste de sensibilidade).
Avaliação vascular: palpação de pulsos, membro frio, ITB (<0,9).
Avaliação biomecânica: marcha, deformidade dos sapatos.
Diagnóstico Laboratorial
Critérios Diagnósticos:
Glicemia de Jejum (+/- 8 horas): maior ou igual a 126 mg/ dL (o exame deve ser feito mais de uma vez, para
confirmar).
TOTG (teste oral de tolerância à glicose): o paciente tem sua glicose medida em jejum e duas horas após ter
ingerido uma solução adocicada. É um exame indicado para pacientes que apresentam glicemia em jejum de
100 a 126 mg/ dL.
Estágio Glicemia de Jejum TOTG/ Glicemia após 2
horas
Normal Menor ou igual a 99 mg/dL Menor ou igual a 140 mg/dL
Pré-diabético 100-125 mg/dL 140-200 mg/dL
Diabético Maior ou igual a 126 mg/dL Maior ou igual a 200 mg/dL
HbA1C (hemoglobina glicada¹): maior ou igual a 6,5% (representa uma média em torno de 136 mg/dL). É um
exame mais utilizado no acompanhamento do diabético, mas também é considerado um critério diagnóstico.
Tempo de diagnóstico.
Sintomas.
Complicações.
Doenças associadas.
Medicações em uso.
Histórico familiar.
Histórico social.
Obesidade
Quanto maior o IMC, maior o risco de o paciente apresentar outras doenças. Entretanto, a disposição da
gordura fala muito: pacientes com gordura mais concentrada nos quadris (ginoide) apresentam menor risco. A
obesidade androide, típica de homens, com acúmulo de gordura na região abdominal é mais perigosa: essa
gordura, visceral, é ativa na produção de citocinas e substâncias que aumentam o risco cardiovascular e que
predispõe a resistência insulínica. O IMC ainda não retrata a quantidade de massa magra e nem diferencia
gordura visceral de subcutânea (a visceral é a mais perigosa).
DM2.
HAS (leve a moderada em 50-60% dos pacientes).
Dislipidemia.
Apneia do sono.
Esteatose hepática.
Doenças cardiovasculares.
Síndrome Metabólica
Obesidade Infantil
O mais importante é a prevenção, que irá abranger estímulo à mudança de hábitos de toda a família.
Síndrome Endócrinas II
Hipófise e Tireoide
Anamnese em endocrinologia
Os hormônios agem em todos os sistemas, dessa forma os sintomas e sinais se repercutem em todo o
organismo. Se manifestam em decorrência do excesso ou do déficit hormonal e são, geralmente, locais.
Os sintomas são inespecíficos, podendo ser confundidos com muitas outras doenças. Entre eles estão a
fadiga, adinamia (fraqueza muscular), fraqueza, anorexia, depressão e alterações de peso.
Hipófise
Eixo hipotálamo-hipofisário
Apresentação Clínica
Uma porcentagem grande dos pacientes é assintomática. Seus casos são chamados de incidentalomas, 6
na medida em que são tumores hipofisários descobertos por acidente.
Síndromes de hipersecreção hormonal: prolactina, hormônio do crescimento, ACTH e TSH.
Destruição (síndrome de hipossecreção hormonal): hipogonadismo, baixa estatura, hipotireoidismo,
hipocortisolismo.
Compressão local: perda visual (hemianopsia bitemporal, por compressão do quiasma óptico), cefaleia e
compressão de nervos cranianos.
Alterações hipotalâmicas: distúrbios alimentares, sono e comportamento.
Caso Clínico: JMC, 36, masculino, natural e procedente de Cataguases, motorista de ônibus.
QP: “minhas mãos estão crescendo”.
HDA: notou, há cerca de 3 anos, aumento no tamanho das mãos e dos pés, além de ganho de peso e perda do apetite
sexual. Procurou atendimento médico por insistência de alguns familiares, que referiam uma certa mudança na sua
fisionomia.
Achados do exame de físico: aumento da base do nariz e do sulco genolabial, rugas de espessamento, aumento dos
lábios, pavilhão auricular maior. PA: 150x80 mmHg, peso de 96 kg, altura de 1, 74 m, IMC: 31,7 kg/m².
Fáceis: prognatismo, profusão do osso frontal, macroglossia, alargamento da base do nariz.
Hiperprolactinemia
É a alteração endócrina mais comum do eixo hipotálamo-hipofisário e o sinal mais comum é a
galactorreia espontânea.
Causas fisiológicas (gestação e lactação), uso de medicamentos e o adenoma hipofisário devem ser
diferenciados. A etiologia mais comum é a medicamentosa.
Em relação aos sintomas, o hipogonadismo hipogonadotrófico¹ gera redução da libido (nos homens),
irregularidade menstrual, amenorreia, infertilidade e perda de massa óssea (nas mulheres). O paciente ainda
apresenta galactorreia e sintomas de massa (ocorre nos macroprolactinomas, nos quais há compressão de
estruturas cerebrais adjacentes – pode ser uma cefaleia ou uma hemianopsia, por exemplo). A galactorreia é o
sintoma mais característico, mas não é o mais frequente. Os níveis de prolactina são sempre dosados em
mulheres com infertilidade ou em mulheres jovens com osteoporose.
¹ A hiperprolactinemia causa hipogonadismo hipogonadotrófico, principalmente, por inibir a secreção de GnrH, além de inibir
diretamente a estereoidogênese gonadal.
O histórico familiar e as características do ciclo menstrual devem ser sempre indagados. Na história
patológica pregressa, é importante questionar os fármacos em uso. Anticoncepcionais podem cursar com
hiperprolactinemia, assim como antidepressivos, ansiolíticos, neurolépticos, anticonvulsivantes, antagonistas do
receptor H2, procinéticos, anti-hipertensivos, narcóticos, inibidores da bomba de prótons e estrogenioterapia.
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Síndrome de excesso de corticoide (Síndrome de Cushing)
Possui causas exógenas (uso excessivo de glicorticoide) e endógenas (doença de Cushing², adenoma
suprarrenal, ACTHectópico³ e carcinoma suprarrenal).
² Doença de Cushing: tumor hipofisário produtor de ACTH.
³ No ACTHectópico, células de tecido não-hipofisário começam a produzir ACTH.
Sinais e sintomas: fáceis típica (fáceis cushingoide), obesidade central, giba (acúmulo de gordura na
região cervical posterior), estrias violáceas, fraqueza muscular, fadiga, acne, hirsutismo, distúrbios menstruais,
facilidade para sangramentos, labilidade emocional, HAS, DM e osteoporose.
É importante distinguir se é uma causa congênita ou adquirida. O quadro clínico depende da idade de
início, da etiologia e da severidade da deficiência.
Síndrome de Sheehan
Refere-se a um hipopituitarismo pós-parto, devido à necrose hipofisária. Durante a gestação, a hipófise
sofre hipertrofia e aumenta sua vascularização, para aumentar a produção de prolactina. Alguma complicação no
parto que leve a uma hemorragia na mãe, ocasionando hipotensão e choque, provocará isquemia hipofisária
importante, base etiológica da síndrome.
O diagnóstico é tardio e a síndrome se apresenta, geralmente, através de agalactia (deficiência de PRL),
ciclos menstruais irregulares ou que não reiniciam (hipogonadismo), além de sinais e sintomas de insuficiência
adrenal (hipocortisolismo). Sintomas inespecíficos, como fadiga e hipotensão, também ocorrem.
Deficiência de corticoides
Pode ser primária ou secundária (central). A
deficiência primária de corticoides ocorre na doença de 8
Addison, a qual tem caráter autoimune e é marcada
pela destruição das glândulas adrenais. Já a secundária
pode se referir ao uso crônico de glicocorticoides,
seguida de supressão abrupta4, e à deficiência de ACTH.
4 O uso crônico de glicocorticoides provoca um feedback negativo na adenohipófise, que deixa de produzir ACTH. Assim, na
supressão abrupta do medicamento, não há estímulo para se produzir corticoides. É uma situação grave, pois pode levar o paciente
ao estado de choque, visto que, na ausência de glicocorticoides, os pacientes não são capazes de responder bem ao estresse.
Os sintomas relacionados à deficiência de glicocorticoides são astenia, mal-estar, anorexia, perda de peso,
distúrbios do TGI, hipotensão (postural) e hipoglicemia.
Por deficiência de mineralocorticoides se tem
avidez por sal, hipovolemia, hipotensão, hiponatremia,
hipercalemia e acidose metabólica leve. Essa
deficiência ocorre apenas na doença de Addison. Nas
doenças secundárias, a adrenal continua produzindo
aldosterona sob o estímulo da angiotensina II.
Já a deficiência de androgênios adrenais
ocasiona, em mulheres, redução de libido e da
pilificação axilar e pubiana e, em homens, rarefação e
enfraquecimento de pelos.
Na insuficiência primária ocorrem sintomas de
deficiência de glicocorticoides, de mineralocorticoides
e de androgênios. Além disso, há hiperpigmentação
cutânea, pois há aumento dos níveis de ACTH, cujos
precursores são comuns à de um hormônio que estimula a produção de melanina. Os efeitos androgênicos são
mais importantes nas mulheres, porque os homens também produzem tais hormônios em seus testículos,
Geram cefaleia por distensão da dura-máter, hemianopsia bitemporal (lesão do quiasma óptico), ptose
palpebral (III) e/ou diplopia (VI).
Geralmente, o primeiro hormônio que sofre deficiência é o GH (gera poucos sintomas no adulto e não
traz risco de morte), seguido pelas gonadotrofinas e, por último, do ACHT (traz grande risco).
Exame físico
É importante pedir para o paciente deglutir, para se visualizar a movimentação da glândula, a qual está
abaixo da cartilagem cricoide.
Na abordagem posterior, o paciente está sentado e o examinador, de pé, posiciona os polegares na nuca
do paciente e os indicadores e médios próximos à linha média. O lobo direito é palpado pelos dedos da mão
esquerda.
Na abordagem anterior, ambos estão sentados ou de pé. Deve-se palpar com o polegar, com os outros
dedos apoiados na fossa supraclavicular. 9
Hipertireoidismo
Doença de Graves
Um anticorpo análogo ao TSH (TRAb) estimula a glândula a produzir
os hormônios. O paciente apresenta bócio difuso, oftalmopatia e dermopatia
(pele enrugada, por acúmulo de glicosaminoglicanos, e mancha violácea). O
paciente também pode ter unhas de Plummer (descolamento das unhas).
Além disso, é importante reter que retração palpebral e protrusão ocular são
específicos da doença de Graves.
Hipotiroidismo
A causa primária mais comum é a tireoidite de Hashimoto, na qual um anticorpo (anti-TPO = anti-
tireoperoxidase) provoca destruição lenta da glândula. Também ocorre por deficiência dietética de iodo.
Sintomas gerais: astenia, sonolência, intolerância ao frio, edema facial, ganho de peso, fala lenta.
Sistema nervoso: hiporreflexia profunda (reflexo aquileu lento), parestesias dos membros, déficit
cognitivo.
Sistema cardiovascular: bradicardia, bulhas hipofonéticas, baixo DC, dislipidemia, cardiomegalia
(derrame pericárdico).
Sistema musculoesquelético: fadiga, mialgia, cãibras.
Sistema renal: elevação da creatinina.
Pele e fâneros: pele seca, descamativa e áspera, cabelos e unhas quebradiças.
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Introdução
O estudo das doenças gastrointestinais é de suma importância, visto que são muito frequentes. No Brasil,
elas representam cerca de 11% das internações.
Esôfago
Os distúrbios esofágicos contemplam sintomas como disfagia, odinofagia, pirose, regurgitação e dor
torácica.
O terço proximal do esôfago é composto por musculatura estriada, enquanto que os dois terços distais
são constituídos de músculo liso. Funcionalmente, o esôfago é dividido em (1) esfíncter esofágico superior, (2)
corpo esofagiano e (3) esfíncter esofágico inferior. O último é muito importante para evitar retorno de conteúdo
gástrico e seu mal funcionamento é a maior causa de Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE).
1- Disfagia
É definida como dificuldade à deglutição, a qual o paciente pode relatar como “o alimento para/ não
desce”.
Sua incidência aumenta de acordo com o envelhecimento. A prevalência é maior que 15% acima de 65
anos de idade.
Pode ser classificada em dois tipos:
a) Disfagia de transferência ou orofaríngea:
- Compromete a fase orofaríngea da deglutição (algo que afete a região faringoesofagiana ou o esfíncter
esofagiano superior). Há dificuldade de transferir o alimento da cavidade oral para a parte proximal do
trato digestivo.
- Sintomas: tosse, engasgo, regurgitação nasal e dificuldade de iniciar a deglutição. Todos esses são
quase que imediatos.
- Causas:
* Neuromuscular (comprometimento da inervação): AVE, doença de Parkinson, esclerose múltipla, ELA.
* Doença da musculatura esquelética: poliomiosite, distrofia muscular, miastenia grave.
* Obstrução mecânica: divertículo de Zenker, osteófito cervical, tireoidomegalia, abscesso retrofaríngeo.
b) Disfagia de condução ou esofagiana:
- A fase afetada é a esofagiana (afecções do corpo esofagiano). Há dificuldade de conduzir o alimento do
esôfago para o estômago, com fase orofaríngea normal.
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- Não apresenta sintomas típicos, logo após a refeição, como ocorre na orofaríngea. A disfagia é o
sintoma mais importante.
- Pode ser obstrutiva (mecânica) ou motora (funcional).
* Obstrução mecânica: estenoses benignas, anéis¹/membranas, neoplasias, divertículos e a. vasculares.
¹ Exemplo: Anel de Schatzki – distúrbio raro, caracterizado por falsa membrana, que dificulta a passagem do bolo alimentar, de
etiologia desconhecida.
* Distúrbio motor: a principal causa é a acalasia esofagiana (megaesôfago), a qual se refere a uma
hipotonia do corpo esofagiano associada ao não relaxamento do esfíncter esofagiano inferior, secundários a
comprometimento da inervação do esôfago.
3- Pirose
É o sintoma gastrointestinal mais comum, caracterizado por uma Sintomas cardinais do
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queimação retroesternal. É desencadeada pela alimentação (cerca de 1 hora após DRGE: pirose e
refeição). regurgitação.
Causa principal: DRGE. Quando presentes em
mais de 2 vezes por
4- Regurgitação semana, por mais de 4
Retorno de conteúdo gástrico ou esofágico sem esforço para a cavidade semanas, são critério
oral. diagnóstico para DRGE.
Causa principal: DRGE.
Obs.: Na regurgitação não há contração do diafragma, o que a difere do vômito.
6- Dor torácica
Pode se dever a várias etiologias. Quando não é cardíaca, o paciente, geralmente, tem distúrbio
esofagiano e DRGE. Tais etiologias podem ser confundidas, na medida em que coração e esôfago possuem
inervação sensitiva comum.
A relacionada a distúrbio esofagiano/DRGE é retroesternal, piora com ingestão alimentar e, assim como
na doença coronariana, irradia para os membros superiores.
Exames Complementares
Ultrassonografia endoscópica: utilizada para o estadiamento dos tumores esofagianos, pois permite um
estudo mais detalhado das camadas do esôfago.
Endoscopia digestiva alta (EDA): é o exame de escolha para distúrbios esofagianos, em geral. Utilizado na
terapêutica (possibilita, por exemplo, ligadura elástica de varizes esofágicas em hemorragias) e na análise
histológica.
(Câncer de esôfago)
pHmetria de 24 horas: cateter é introduzido pelo nariz até o esôfago, no intuito de se medir o pH. É o
teste mais sensível na DRGE e é, geralmente, feito junto com a manometria.
Algumas Anomalias
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Divertículo de Zenker
Saculação da parede posterior do esôfago superior, que gera disfagia orofaríngea de causa mecânica.
Acalásia
Disfagia esofagiana caracterizada por hipotonia do corpo esofagiano, que causa dilatação progressiva do
mesmo, com perda da capacidade motora.
Na imagem, o esôfago fica em bico de papagaio, pela não abertura do esfíncter esofágico inferior.
Esofagite erosiva
Descamação distal da mucosa esofágica. É comum a ocorrência de pirose e regurgitação, mas não
odinofagia.
Neoplasia de esôfago
Causa diminuição da luz esofágica, resultando em disfagia obstrutiva. Na biopsia, é comum visualização
de fibrina.
Caso Clínico: Homem, 53 anos. Iniciou, há 10 anos, quadro de pirose, quase diária, associado a episódios eventuais de
regurgitação, sobretudo ao deitar e após refeições copiosas. Nos últimos 3 meses, iniciou com disfagia para sólidos. Esta
progrediu de modo rápido e, no momento, o paciente só é capaz de ingerir alimentos líquidos pastosos. Houve perda de
6 kg desde o início dos sintomas. Nega odinofagia e dor torácica.
Resolução: Pirose e regurgitação indicam DRGE. Há 3 meses, iniciou com disfagia esofagiana mecânica. O quadro
progressivo e rápido sugere neoplasia de esôfago, a qual pode ser confirmada por uma EDA. O que pode ter ocorrido? A
DRGE gerou metaplasia da mucosa esofágica (esôfago de Barrett), a qual, provavelmente, evolui para um
adenocarcinoma esofagiano (neoplasia mais comum na DRGE).
Estômago e Duodeno
Dispepsia
a) Primária (funcional)
À investigação do paciente, não há condição clínica e nem achado endoscópico que justifique a
dispepsia. É a mais comum. Geralmente, é de natureza crônica (sintomas podem sumir por um tempo e
recidivarem) e benigna.
b) Secundária (orgânica)
É possível identificar alguma causa que justifique os sintomas. Exemplo clássico: úlcera duodenal.
A história clínica (anamnese e exame físico) é o principal instrumento para a diferenciação entre esses dois
tipos.
Sinais e sintomas de alarme se referem a questionamentos e achados do exame físico que sugerem dispepsia
secundária. São eles:
Idade > 45 anos;
Sintomas de início recente;
Histórico familiar de câncer gástrico ou úlcera;
Massa abdominal;
Linfonodomegalia;
Sangramento nas fezes ou ematêmese;
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Emagrecimento;
Despertar noturno;
Exame físico alterado.
Para o diagnóstico, não é imprescindível fazer endoscopia. No entanto, se o paciente apresentar sinais e
sintomas de alarme, sempre que possível, deve-se fazê-la.
Caso Clínico: GF, sexo masculino, 52 anos, relata que há cerca de 2 meses iniciou com dor epigástrica do tipo queimação,
que melhora com alimentação e piora com jejum. Nega irradiação. Relata, ainda, a presença de plenitude pós-prandial,
mas sem vômitos. Nega emagrecimento, disfagia, melena ou hematoquezia. Relata que o sono está prejudicado, visto
que acorda, às vezes, pelo surgimento de dor durante a madrugada, tendo que comer algo para obter alívio.
Resolução: Síndrome dispéptica orgânica, provavelmente uma úlcera duodenal, a qual deve ser investigada por
endoscopia.
Introdução
A hemorragia digestiva é uma das urgências médicas mais comuns na prática clínica, sendo causa
frequente de admissão hospitalar em caráter de urgência. É responsável por cerca de 300.000 internações/ano
nos EUA. A mortalidade é relativamente estável, nas últimas décadas (7-10%).
Pode ser definida como qualquer sangramento que ocorra ao longo do trato gastrointestinal (TGI), mas a
origem da lesão deve, necessariamente, ter origem no TGI. É dividida, classicamente, quanto à localização em:
a) Hemorragia digestiva alta (HDA): sangramento oriundo de lesões proximais ao ligamento de Treitz, o
qual marca a junção entre o duodeno e jejuno. É assim, localizada no esôfago, estômago ou
duodeno.
b) Hemorragia digestiva baixa (HDB): sangramento oriundo de lesões distais ao ligamento de Treitz:
jejuno, íleo, colón, reto e ânus.
A HDA representa 80% das hemorragias digestivas (sendo os outros 20% representados pela HDB). O
choque e a necessidade de hemotransfusões são mais frequentes na HDA.
Manifestações Clínicas
As principais são:
1- Hematêmese
Sangue “vivo” rutilante.
Em “borra de café”.
2- Melena
3- Hematoquezia ou enterorragia
4- Sangue oculto nas fezes (é, na verdade, uma manifestação subclínica)
Hematêmese
Refere-se à presença de sangue no vômito. Pode ser um “sangue vivo” ou “em borra de café” (vômitos
escurecidos).
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Possui um grande valor topográfico, porque é sempre indicativa de sangramento acima do ligamento de
Treitz (HDA).
Diagnóstico Diferencial:
1. Pseudo-hemorragias: condições em que o indivíduo não está sangrando, mas que podem simular uma
hemorragia digestiva.
Um exemplo são os vômitos de estase gastrointestinal. Nesta, há uma obstrução intestinal ou gástrica, na qual o
vômito é de coloração escura e se assemelha muito à hematêmese “em borra de café”.
2. Pseudo-hemorragia digestiva: o paciente está, de fato, sangrando, mas a hemorragia não se origina no
TGI.
Exemplos: epistaxe (o sangue de origem nasal é deglutido, provoca irritação gástrica e desencadeia o reflexo do
vômito com conteúdo que simula uma hematêmese), sangramento da cavidade oral (decorrente de uma cirurgia,
por exemplo, na qual o sague é deglutido e ocorre o mesmo mecanismo explicado na epistaxe) e hemoptise (o
médico deve prestar atenção em relação a esse quadro; para diferenciar, pergunte ao paciente se há tosse; além
disso, o volume de sangue na hemoptise é, geralmente, menor que nos vômitos).
Melena
Definida como fezes enegrecidas (piche) de odor fétido, em decorrência da exteriorização de sangue
digerido (perda de pelo menos 100 ml, teoricamente¹). Habitualmente, decorre de lesões acima do ligamento de
Treitz (90% dos casos). Para que ocorra melena por lesões abaixo do ligamento de Treitz, o sangramento deve
ocorrer lentamente e o trânsito intestinal do paciente deve ser lento.
¹ Entretanto, na maioria dos casos, o paciente que exterioriza sangue nas fezes tem perda de sague do TGI muito mais volumosa, em
torno de 400 ml de sangue.
Diagnóstico Diferencial:
Ingestão de sais de ferro e alimentos contendo sangue animal.
Hematoquezia/ Enterorragia
Refere-se à eliminação de sangue vivo pelo reto e, habitualmente, decorre de lesões abaixo do ligamento
de Treitz (90% dos casos). Para que a hematoquezia ocorra por lesão acima do ligamento, deve haver um grande
volume de sangue na luz intestinal e este sangue deve exercer uma grande ação catártica, laxativa, estimulando o
peristaltismo.
Os termos hematoquezia e enterorragia podem ser entendidos como sinônimos. Entretanto, alguns
autores definem hematoquezia como eliminação de pequena quantidade de sangue logo após a evacuação
(gotejamento), com fezes normais, representando lesões mais distais. Já a enterorragia seria a eliminação de
maior quantidade de sangue nas fezes e com coágulos.
Diagnóstico Diferencial:
Ingestão excessiva de beterraba, por exemplo.
Sangramento Oculto
Identificado, apenas, em exame complementar (pesquisa de sangue oculto nas fezes), na ausência de
sangramento clinicamente detectável.
Etiologias
* HD Alta:
1- Úlcera Péptica – causa isolada mais comum.
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2- Lesão Aguda de Mucosa Gástrica e Duodenal (LAMGD) – por drogas e “úlceras” de estresse.
3- Varizes esofagogástricas – representam hemorragias decorrentes de hipertensão portal.
4- Outras:
Esofagite (no contexto de uma DRGE);
Neoplasias (de esôfago e estômago, mas com sangue pouco volumoso);
Síndrome de Mallory-Weiss.
Em algumas publicações a síndrome de Mallory-Weiss é considerada uma das principais causas de HD
alta. É caracterizada por hematêmese de grande volume, de sangue vivo, provocada por uma laceração,
geralmente, superficial da mucosa na transição esofagogástrica, provocada por esforço repetitivo de vômito. Tal
síndrome é característica de alcoolistas crônicos² e da hiperêmese gravídica³.
² São pacientes que estão constantemente irritando a mucosa gástrica, se tornando mais sensíveis ao reflexo do vômito.
³ Condição patológica que ocorre no primeiro trimestre de gestação, sem etiologia bem definida (provavelmente, decorrente das
alterações hormonais).
* HD Baixa:
a) Cólon
Globalmente, as duas causas mais comuns, incluindo o intestino delgado, são:
1- Doença Diverticular dos Cólons
Outras causas:
Doença hemorroidária (causa pouco significativa);
Carcinoma (HD baixa é um sinal de alarme para este);
Doença inflamatória intestinal (ex.: doença de Crohn);
Colite isquêmica;
Lesões actínicas (“retite” actínica, que acontece em decorrência de tratamento de tumores do
sistema reprodutor – ex.: radioterapia de câncer de colo de útero)
Amebíase;
Coagulopatias;
Drogas (ex.: AINES).
b) Intestino Delgado
1- Divertículo de Meckel (causa mais comum em jovens);
18
2- Tumores (Ex.: leiomiomas)
3- Ectasias vasculares (acometem mais os idosos);
4- Outras: Doença de Crohn; tumores mais raros (carcinoides).
É a causa mais comum de HD alta (40-50% dos casos). A hemorragia pode ser a primeira manifestação
clínica em até 20% dos casos e a melena isolada é a principal forma de exteriorização hemorrágica.
As úlceras duodenais sangram, mais frequentemente, que as úlceras gástricas.
A principal causa de HD baixa é mais frequente nos idosos, visto que é uma anormalidade adquirida com
o tempo, por enfraquecimento da parede intestinal. Os constipados crônicos também têm tendência a apresenta-
la.
A hemorragia diverticular se caracteriza por sangramento indolor (diferencial clínico importante),
volumoso e com coágulos. O sangramento é, frequentemente, precipitado pelo uso de antiagregantes
plaquetários e anticoagulantes.
As angiodisplasias são causa importante de HDB. São distúrbios degenerativos, também mais frequentes
nos idosos. As localizações mais comuns são ceco e cólon ascendente.
Podem se manifestar, eventualmente, por sangramento discreto ou enterroragia de vulto (de sangue vivo
e em grande volume).
Doença Anorretal
Referem-se a sangramentos discretos com sangue vivo rutilante, misturado com fezes de aspecto normal.
Causas:
Doença hemorroidária, cujo sangramento é indolor.
Fissura, na qual há sangramento e dor intensa à evacuação.
É HD alta ou baixa?
Basta avaliar o tipo de exteriorização hemorrágica:
Hematêmese: HDA.
Melena: HDA.
Hematoquezia: HDB.
Dados da anamnese
Idade e procedência (área endêmica para esquistossomose, a qual causa HD por hipertensão portal)
Dor epigástrica, em queimação, “dor de fome”: úlcera péptica?
Ritmicidade: relação com a alimentação: úlcera péptica?
“Clocking” (despertar noturno): especificidade para úlcera péptica.
Uso de AINE, AAS: LAMGD ou úlcera?
Vômitos claros, repetitivos, antecedendo a HD: S. de Mallory-Weiss?
Histórico de doença hepática ou alcoolismo crônico: varizes esofágicas, secundárias à hipertensão portal.
Pode ser uma HD baixa? Indicativos: enterorragia volumosa, pouco dolorosa ou indolor e com coágulos.
É uma doença diverticular?
a) Exames laboratoriais
Hemograma completo (há anemia? 4)
4 Obs.: nas primeiras 24 horas de sangramento, o hemograma não é muito revelador, pois na fase aguda o paciente perde
a mesma quantidade de componentes sólidos e líquidos do sangue.
20
Coagulograma
Ureia, creatinina, eletrólitos (os pacientes podem estar com função renal comprometida devido ao baixo
fluxo renal; além disso, na fase aguda de sangramento, podem haver taxas de ureia muito mais altas que
as de creatinina, visto que a metabolização do sangue, que fora absorvido no intestino, pelo fígado
produz ureia).
Provas de função hepática (são muito importantes nos casos de HDA)
Outros: ECG, radiografia de tórax, gasometria arterial.
b) Investigação etiológica
Endoscopia digestiva alta: HDA
Colonoscopia: HDB
Outros:
* Avaliação proctológica / retossigmoidoscopia: suspeita de doença anorretal.
* Em casos de HD de origem obscura (pacientes com enterorragias, cuja investigação inicial não fechou
diagnóstico): enteroscopias (tradicional, duplo-balão, cápsula endoscópica5), cintilografia e arteriografia
mesentéricas. HD de origem obscura, geralmente, tem como causa afecções do intestino delgado, que é
melhor estudado pelos exames supracitados.
5 É considerada padrão ouro no diagnóstico de doenças do intestino delgado.
Caso Clínico: JSN, 39 anos, sexo masculino, branco, casado, comerciante, natural de JF. “Estou vomitando sangue”. Há 4 horas
apresentou um episódio de hematêmese volumosa se sangue vivo. O quadro se repetiu há uma hora. Nega dor abdominal, diarreia ou
emagrecimento. Refere dispneia, que se instalou após os vômitos. Tabagista 25 anos/maço. Etilista há 20 anos. Sonolento, emagrecido,
dentes malconservados. Há esplenomegalia. Hipocorado, ictérico, acianótico.
Qual é a hipótese diagnóstica mais provável? Varizes gastroesofágicas, na medida em que é etilista crônico, apresenta esplenomegalia e
estigmas periféricos de comprometimento hepático.
Introdução
A diarreia é uma experiência humana universal. A diarreia aguda ainda é responsável por um grande
número de internações em países de primeiro mundo (cerca de 250.000 hospitalizações/ano nos EUA). Em países
subdesenvolvidos, é a principal causa de mortalidade entre crianças menores de 5 anos.
Definição
Diarreia refere-se à alteração do hábito intestinal, caracterizada pelo aumento da frequência evacuatória
(3 ou mais por dia) e redução da consistência fecal. A definição de base científica refere-se a um aumento do
peso fecal diário (> 200 g/dia), mas não é utilizada na prática clínica.
Fisiopatologia
Os intestinos têm duas funções básicas: (1) secretar substâncias que auxiliam na digestão e (2) absorver
líquidos, eletrólitos e nutrientes. Fisiologicamente, a absorção excede a secreção (cerca de 10 litros líquidos
chegam no jejuno proximal em 24 horas; destes 70-80% são absorvidos no jejuno e no íleo; aproximadamente, 2
litros chegam ao cólon, mas apenas 5-10% do que chega ao cólon é eliminado nas fezes).
21
Qualquer fator que aumente a secreção ou reduza a absorção pode causar diarreia. A fisiopatologia de
uma diarreia pode estar associada a 4 mecanismos principais: diarreia osmótica, secretora, motora e inflamatória.
Diarreia osmótica
Depende da presença de um soluto hiperosmolar mal absorvido na luz intestinal, promovendo um
deslocamento de água para essa região.
Tem duas características principais:
1. Melhora com o jejum ou com a parada de ingestão do agente causador.
2. Cursa com o chamado “gap” osmótico (hiato osmótico).
As fezes devem ser isosmóticas em relação ao plasma. Em uma diarreia secretora, a osmolaridade é dada
pela soma dos eletrólitos fecais usais (apenas pequena quantidade de substâncias osmoticamente ativas
contribui). No entanto, na diarreia osmótica são as substâncias osmoticamente ativas que determinam a
osmolaridade fecal. Para que este conteúdo fique isosmótico, há uma redução dos eletrólitos, os quais
são reabsorvidos. Assim, a osmolaridade efetivamente calculada seria a subtração do valor estimado da
osmolaridade fecal (+/- 290 mOsm) da exercida pelos eletrólitos. Esse grande hiato, caracteriza a diarreia
osmótica.
Ex.: deficiência de dissacaridases (lactase); ingestão de substâncias omoticamente ativas, como lactulose (laxante).
Diarreia motora
Resulta de uma alteração primária da motilidade intestinal e é o mecanismo mais frequentemente
causador de diarreia crônica. Ex.: síndrome do intestino irritável (SII)¹, hipertireoidismo (o aumento do
metabolismo basal interfere no trânsito intestinal), supercrescimento bacteriano/estase (esclerodermia)².
¹ Síndrome funcional (não existem alterações estruturais no TGI que justifiquem os sintomas do paciente), crônica e benigna.
Acomete, principalmente, pacientes jovens. É caracterizada por dor e distensão abdominais, além de alteração do hábito intestinal,
seja por diarreia, constipação ou alternância entre os dois. Acontece uma hiperatividade elétrica do TGI, que gera o distúrbio motor.
Essa hiperatividade elétrica pode se relacionar com fatores emocionais, embora não seja causada por eles.
² A esclerodermia é uma doença autoimune cutânea, que pode ter comprometimento visceral. Nela, há uma fibrose progressiva do
intestino e a perda de tecido muscular leva à estase intestinal, a qual predispõe supercrescimento bacteriano, que, por sua vez, causa
diarreia.
Diarreia inflamatória
É a mais grave e ocorre por dano à mucosa intestinal com liberação de mediadores inflamatórios,
provocando exsudação de sangue, muco, leucócitos e proteína. Não melhora com o jejum. Cursa com presença
de hemácias e leucócitos nas fezes. Ex.: Shigella, Salmonela, E. coli enteroinvasiva, Retocolite Ulcerativa Inespecífica
(RCUI)³.
³ Doença inflamatória crônica, sem causa específica.
Classificação
22
A de maior relevância clínica é a que distingue a diarreia de acordo com o seu tempo de evolução:
diarreia aguda x diarreia crônica.
A diarreia aguda é definida pela presença de três ou mais evacuações líquidas ou amolecidas ao dia por
um período máximo de 30 dias, entretanto, permanecendo habitualmente restrita a 15 dias.
Fala-se em diarreia crônica quando esta tem duração superior a 30 dias ou quatro semanas.
Diarreia Aguda
São processos benignos, autolimitados. Sua principal etiologia é a infecciosa. E, neste contexto, o
diagnóstico é eminentemente clínico. A conduta terapêutica é de suporte clínico e ajuste hidroeletrolítico. É uma
urgência médica, devido ao risco de desidratação (maior em idosos e em crianças pequenas).
Diarreia Crônica
Associada à ampla gama de fatores causais distintos e mais complexos. Raramente, necessita de
abordagem emergencial e permite investigação planejada.
Anamnese
A anamnese pode sugerir:
Localização do processo patológico
Localização
a) Diarreia de delgado (“alta”)
Caracterizada por fezes volumosas, claras e aquosas. Além disso, há menor número de exonerações. Não
há sangue, muco ou pus nas fezes. Às vezes, com restos alimentares nos casos de má absorção4. A dor
abdominal, quando existe, é periumbilical.
4 Ex.: carboidratos e proteínas. Alimentos de origem vegetal não são considerados, na medida em que, fisiologicamente, não são
digeríveis.
b) Diarreia de Cólon (“baixa”)
Caracterizada por fezes pouco volumosas, escuras e com maior número de exonerações. Acompanhadas
de sangue, muco ou pus. A dor abdominal, quando existe, é hipogástrica ou localizada no quadrante inferior
esquerdo, com irradiação para a região sacral. Às vezes, com sensação de urgência evacuatória e tenesmo
(sensação de evacuação incompleta, com necessidade de voltar ao banheiro).
Natureza da doença
Eliminação de sangue: indica doença inflamatória, infecciosa ou neoplásica. Praticamente, exclui a
possibilidade de diarreia funcional.
Eliminação de pus: indica processo infeccioso.
Eliminação de muco sem sangue: sugere colopatia funcional – SII.
Presença de fezes gordurosas, brilhantes, espumosas e volumosas: sugere esteatorreia, característica de
síndrome de má-absorção.
Alternância de hábito intestinal (paciente que intercala momentos de diarreia e constipação): câncer
colorretal5, colopatia funcional6.
5 Paciente acima de 50 anos e alteração recente do hábito intestinal são sinais de alarme para o câncer colorretal.
23
6Se acontece em um jovem, sem sinais de consumo orgânico (emagrecimento, por exemplo), com exames laboratoriais normais, a
alternância sugere SII.
Diarreia noturna: em geral, indica doença orgânica. Ex.: diarreia por disautonomia diabética.
Ainda na anamnese:
Verificar a presença de outros sintomas, tais como febre, perda de peso, artralgia (quadro diarreico crônico
com artralgia pode indicar doença inflamatória crônica, como Doença de Crohn e retocolite ulcerativa).
Checar outros dados:
* Uso de antibióticos ou alimentos “suspeitos”.
* História pregressa (ex.: cirurgias – Síndrome da Alça Cega: pacientes gastrectomizados que ficam com uma
área do estômago exclusa, por onde não há trânsito estomacal, a qual predispõe a colonização de bactérias
e, consequente, diarreia).
* História familiar (presença de doença inflamatória intestinal).
* História social (ex.: etilismo) e atividade sexual (ex.: infecções oportunistas que cursam com quadro diarreico
em imunodeprimidos, como aidéticos).
Exame físico
Três alterações ganham destaque:
1- Sinais de desidratação (mucosas e pele ressecadas, turgor cutâneo diminuído, olhos encovados, por
exemplo).
2- Sinais de desnutrição (alopecia, baqueteamento digital, por exemplo).
3- Presença de dor abdominal.
A localização da dor pode indicar diarreia “alta” ou “baixa”. Além disso, é um fator de diagnóstico
diferencial com abdome agudo cirúrgico/apendicite aguda (dor à palpação importante, que simula irritação).
Princípios Importantes
Deve-se empregar o menor número possível de exames, evitando gastos e desconfortos desnecessários
ao paciente.
É recomendável iniciar com exames mais simples. Tenha cuidado com exames sofisticados sem valor de
discriminação.
Uma investigação explosiva, diante de uma diarreia pode refletir ausência de uma anamnese cautelosa e
a falta de conhecimento sobre a provável causa da diarreia.
Diarreia aguda
Diarreia Crônica
A constipação intestinal, inicialmente, deve ser entendida como um sintoma associado a diferentes
situações de doença. Representa uma das principais causas de consulta a clínicos e gastroenterologistas.
Constipação crônica é diferente de constipação transitória. A última refere-se a um paciente que sofre
alguma alteração de dieta e mobilidade física, que quando eliminada retorna o trânsito intestinal ao normal.
Epidemiologicamente, é responsável por cerca de 2,5 milhões de atendimentos/ ano nos EUA.
Aproximadamente, 10% da população mundial considera-se constipada.
Definição
A definição epidemiológica, no mundo ocidental, é baseada na frequência evacuatória, a qual deve ser
menor que 3 evacuações por semana.
A definição clínica, elaborada pela Associação Americana de Gastroenterologia (AGA, 2000) é a seguinte:
“Evacuação insatisfatória e caracterizada por hábito intestinal pouco frequente, dificuldade na eliminação das
fezes ou ambos. Essa dificuldade inclui esforço evacuatório prolongado, fezes endurecidas ou necessidade de
manobras para auxiliar o esvaziamento do reto”.
Em 2006 surgiu uma definição de consenso, os critérios de Roma III, que se segue:
O diagnóstico de constipação crônica requer a presença de 2 ou mais dos sintomas abaixo, por pelo menos 3
meses consecutivos, com início dos sintomas no mínimo 6 meses antes do diagnóstico:
1. Esforço excessivo em mais de 25% das evacuações;
2. Fezes endurecidas em mais de 25% das evacuações;
3. Sensação de evacuação incompleta em mais de 25% das evacuações;
4. Sensação de bloqueio anorretal em pelo menos 25% das evacuações;
Classificação e Etiologias
1. Constipação Primária
Se subdivide em três categorias: constipação de trânsito normal, constipação de trânsito lento e disfunção
do assoalho pélvico (obstrução da “via de saída”).
2. Constipação Secundária
Pode ser relacionada a causas:
a) Sistêmicas
Distúrbios metabólicos e endócrinos: hipotireoidismo (pode ser um fator agravante da constipação
primária), uremia, hipocalemia.
b) Neurogênicas (centrais e periféricas)
Centrais: Parkinsonismo, AVE, esclerose múltipla, lesões medulares, tumores. (Paciente que se movimenta
menos, especialmente com imobilidade da região pélvica, tende a ter constipação)
Periféricas: doença de Hirshsprung¹, doença de Chagas², neuropatias raras do TGI.
¹ É o megacólon congênito, caracterizado pela destruição congênita dos plexos mioentérico e submucoso.
² Também há destruição dos plexos nervosos.
c) Gastrointestinais (TGI superior e inferior)
TGI superior: câncer gástrico, lesões ulcerosas estenosantes (raras).
TGI inferior: câncer de cólon, estenoses colônicas espontâneas (o que pode acontecer na doença de
Crohn) e pós cirúrgicas, miopatias congênitas ou adquiridas.
Avaliação Clínica
Baseia-se em uma boa anamnese, exame físico cuidadoso e investigação complementar mais específica
possível. A última pode incluir: exames laboratoriais, exames endoscópicos, avaliação radiológica e avaliação
funcional (reservada para constipação intestinal crônica refratária).
Anamnese
Exame físico
É frequente que seja normal. No entanto, é importante pesquisar sinais de doença orgânica. No exame
geral, por exemplo, pode-se encontrar evidências de anemia, perda de peso, doença metabólica ou neurológica.
No exame do abdome, atenta-se a massas palpáveis.
No exame do períneo e toque retal se pode encontrar a presença de fissuras e tumores.
Investigação Complementar
Depende da avaliação detalhada de cada caso. É útil para excluir um distúrbio orgânico tratável (causas
Exames laboratoriais
Hemograma completo, testes da função tireoidiana (TSH, T4), bioquímica (glicemia, função renal, eletrólitos),
sorologia para doença de Chagas (apenas quando houver um componente clínico ou epidemiológico que justifique o
teste). Esses exames, atualmente, não são mais obrigatórios na ausência de sinais e sintomas clínicos sugestivos. Nesses
casos, o médico pode fazer o diagnóstico de constipação funcional primária e fazer o acompanhamento do paciente.
Investigação funcional
É realizada apenas nos casos refratários e sem uma causa orgânica secundária claramente identificável. É
representada, principalmente, por: (1) manometria anorretal, (2) proctografia/ defecografia, (3) tempo de trânsito
colônico. Esses exames são feitos na sequência apresentada.
Constipação intestinal crônica refratária se refere a pacientes que não respondem ao tratamento inicial
(aumento de aporte de fibras e hídrico e uso de laxantes leves).
Essa investigação deve se iniciar pelos exames anorretais, na medida em que os distúrbios do assoalho
pélvico são os que mais frequentemente adquirem caráter refratário.
Manometria anorretal: 28
* Teste de expulsão do balão: revela obstrução da via de saída por força retal propulsiva inadequada ou
resistência aumentada à evacuação.
* Pesquisa do reflexo inibitório retoanal: útil no diagnóstico diferencial entre constipação funcional e
doença de Hischprung (no último, este reflexo está ausente).
Proctografia:
* Avalia a dinâmica da evacuação por bário ou RNM. É utilizada, apenas, quando a manometria for
inconclusiva para distúrbio defecatório.
* Detecta distúrbios do assoalho pélvico. (Anatômicos: retocele, prolapso de reto; funcionais: reação
paradoxal do esfíncter/ “anismo”²).
² Incoordenação motora do esfíncter, que provoca movimentação retrógrada do bolo fecal. Pode ser causado por abuso sexual na
infância.
Tempo de trânsito colônico (TTC)
Deve ser realizado numa fase tardia, para
pacientes em que um distúrbio defecatório foi
descartado. Utiliza marcadores radiopacos ingeridos,
que são avaliados 120 horas após, através de uma
radiografia simples de abdome.
Pode revelar: (1) trânsito normal (menos de
20% de marcadores no cólon no quinto dia); (2)
trânsito lento/ “inércia colônica” (mais de 20% de
marcadores retidos, dispersos ao longo do cólon do
paciente).
Icterícia
É um sinal clínico, que pode representar um número alto de diagnósticos diferenciais. Para conseguir
entender seu significado, são necessários boa história clínica, exame físico estruturado e uso racional de exames
complementares.
Metabolismo da bilirrubina
Produzimos cerca de 200-300 mg/dia de bilirrubina. 80% desta quantidade é o produto final da
degradação do grupo heme, da hemoglobina, responsável pelo transporte de O2.
São duas etapas de produção de bilirrubina. A heme oxigenase transforma o grupo heme em biliverdina
e esta é transformada em bilirrubina indireta (não conjugada) pela biliverdina redutase.
A bilirrubina não conjugada é insolúvel no plasma e só pode transitar no meio aquoso quando ligada à
albumina. A bilirrubina indireta é tóxica, especialmente para o SNC¹. O processo de conjugação, feito no fígado, é
uma forma de detoxificação.
No fígado, a bilirrubina não conjugada é desprendida da albumina. Por transporte ativo, é colocada
dentro do hepatócito. No interior da célula, sofre ação do complexo enzimático UDP-glucuronil transferase, o
qual é responsável pela sua conjugação. Forma-se, então, a bilirrubina direta (conjugada). Por transporte ativo, a
bilirrubina conjugada é colocada dentro do canalículo biliar. Através das vias biliares, ela chega ao duodeno. Após
passar pelo íleo e pelo cólon formam-se o urobilinogênio, o estercobilinogênio e bilirrubina não conjugada, por
Hiperbilirrubinemias 30
O indivíduo normal possui os níveis de bilirrubina em torno de 1 – 1,2 mg/dl. A icterícia ocorre quando o
nível das bilirrubinas é superior a 3 mg/dl.
A icterícia é pesquisada através da observação da esclera e do frênulo lingual. Pacientes negros possuem,
constitucionalmente, a esclera mais amarelada. Para a pesquisa de icterícia nestes, olha-se a base da língua.
Pacientes vegetarianos podem ter hipercarotenemia, que torna a coloração da pele amarelada. No
entanto, tais pacientes não possuem alteração de cor na esclera e no frênulo.
É importante separar a hiperbilirrubinemia às custas da fração conjugada da às custas da fração não
conjugada. Tal divisão se refere a qual fração é predominante no exame laboratorial e é muito importante, visto
que os mecanismos e as causas para cada um desses grupos são diferentes. A colúria é um sinal de icterícia às
custas da fração conjugada, visto que a bilirrubina não conjugada só transita quando associada à albumina, a qual
é uma proteína de alto peso molecular e que, portanto, não sofre excreção renal. A acolia fecal aparece na
ausência de bilirrubina conjugada no intestino para formar estercobilinogênio, situação presente nas obstruções
das vias biliares (hiperbilirrubinemia conjugada).
Não Conjugada
O único sinal é a icterícia, a qual ocorre por dois mecanismos principais: (1) superprodução de bilirrubina e
(2) distúrbio na conjugação da bilirrubina.
A superprodução de bilirrubina indireta ocorre em estados hemolíticos, com ultrapassagem da
capacidade de conjugação pelo fígado.
A conjugação da bilirrubina está deficiente quando há uma redução do complexo UDP-GT. O gene UGT-1
é responsável pela codificação desse complexo e mutações neste reduzem a atividade do complexo. As
síndromes de Gilbert (reduz a 30%) e de Crigler-Najjar (tipo 1 – reduz a 0% e tipo 2 – reduz a 10%) são exemplos
de mutação do gene UGT-1. A síndrome de Gilbert é a mais frequente na prática clínica. O paciente desta possui
icterícia intermitente, a qual é intensificada em momentos de estresse, infecção e jejum, por exemplo.
É muito mais comum na prática clínica que a icterícia às custas da fração não conjugada.
Existem duas síndromes genéticas, não muito bem esclarecidas e pouco frequentes, que cursam com
aumento da bilirrubina conjugada, provavelmente, por comprometimento da etapa de excreção canalicular
(comprometimento dos transportadores). São as síndromes de Dubin-Johnson (MOAT) e de Rotor.
A icterícia às custas de bilirrubina conjugada pode ser caracterizada em dois padrões principais: (1)
icterícia obstrutiva e (2) icterícia não obstrutiva. Na obstrutiva há algum processo mecânico impedindo o trânsito
de bile, como na coledocolitíase e em tumores de cabeça de pâncreas (a porção distal do colédoco é
retropancreática). Icterícia de padrão colestático extra-hepático² se refere a qualquer processo que interrompa ou
dificulte o fluxo biliar, de maneira obstrutiva.
² Extra-hepático é um termo que não se refere à localização da obstrução, mas apenas à existência de obstrução.
Obs.: A coledocolitíase pode ser secundária a uma colelitíase, na qual o cálculo se desloca da vesícula biliar para o ducto colédoco.
Causas principais: (1) cálculos biliares, (2) lesões periampulares (como o tumor de cabeça de pâncreas e o
tumor de papila duodenal), (3) obstrução por ascaris, (4) estenose pós-operatória.
Abordagem
Inicia-se através da história clínica e do exame físico. Sequencialmente, em todo paciente ictérico, mesmo
com hipótese diagnóstica muito provável, se realiza uma avaliação laboratorial padrão. De acordo com os
resultados iniciais, realizam-se exames de imagem, sendo que o ultrassom é o mais revelador.
32
Caso Clínico: Sexo masculino, 17 anos, estudante. Episódios de icterícia de resolução espontânea. Nega colúria, acolia
fecal e prurido. Nega uso de medicamentos, etilismo, antecedentes cirúrgicos, história familiar de hepatopatia. Nega
transfusão sanguínea, UDIV, comportamento sexual de risco. Exame físico normal, exceto pela icterícia.
Insuficiência Hepática
Função Hepática
Classificação
As principais são uso abusivo de álcool, hepatites virais (predominantemente os vírus das hepatites A e B)
e doença hepática gordurosa não alcoólica (secundária à síndrome metabólica). Existem ainda outras etiologias
menos frequentes, tais como as doenças colestáticas (CBP), hepatite autoimune e doenças metabólicas.
Apresentação Clínica
No exame físico de rotina se pode encontrar estigmas de insuficiência hepática crônica. Além disso,
podem ser encontrados sinais de hepatopatia nos exames complementares e o paciente pode procurar
33
atendimento com sinais de descompensação hepática, como uma ascite.
Histórica Clínica
Destaque para: sexo, idade, transfusão sanguínea (pacientes que receberam transfusão antes de 1992 têm
maiores chances de possuírem hepatite C), promiscuidade sexual, consanguinidade, etilismos, transtornos
metabólicos, história familiar de doença hepática, icterícia, aumento do volume abdominal, hemorragia digestiva e
alterações neuropsiquiátricas.
Exame Físico
Quando a suspeita de comprometimento hepático for levantada pela história clínica, deve-se procurar no
exame físico os estigmas de insuficiência hepática. São eles:
Telangiectasias: são encontradas principalmente no dorso, tronco e membros superiores.
Eritema palmar: é a acentuação da hiperemia nas eminências tenar e hipotenar.
Clubbing ou baqueteamento digital: não é específico do comprometimento hepático (acontece em
acometimento pulmonar e cardiovascular, por exemplo). É caracterizado por ângulo entre a placa e a prega
ungueal proximal maior que 180º.
Ginecomastia: é uma proliferação benigna do tecido glandular masculino, por aumento da circulação de
estradiol, na medida em que este não é metabolizado no fígado adequadamente.
Hipogonadismo: caracterizado por atrofia testicular, impotência e infertilidade. Sua etiologia
é multifatorial, pelo aumento da circulação de hormônios sexuais e por efeitos tóxicos.
Contratura de Dupuytren: refere-se ao espessamento e encurtamento da fáscia palmar, por
mecanismo fibrótico. É encontrado, especialmente, em cirróticos alcoólicos.
Exames complementares
Métodos de Imagem
Ultrassonografia: textura, tamanho, borda hepática; sinais de hipertensão porta; detecção de
complicações (ascite e nódulos).
TC e RNM.
Hipertensão Portal
Definição
Fisiopatologia
A pressão no sistema porta é proporcional ao fluxo sanguíneo portal e à resistência vascular (PP = F x RV).
Os sinusoides hepáticos são capilares de baixa pressão e de alta complacência, sendo capazes de se
Classificação
Consequências
Manifestações clínicas associadas à hipertensão portal se seguem: ascite, circulações colaterais porto-
sistêmicas (tentativas de diminuir a pressão no sistema porta), peritonite bacteriana espontânea, encefalopatia
hepática e síndrome hepatorrenal.
Abordagem
Caso Clínico: Indivíduo de 42 anos, previamente hígido, é encaminhado ao ambulatório de especialidade devido a episódios
prévios de hemorragia digestiva alta (VE). Nega etilismo, UDIV, promiscuidade sexual, história familiar de doença hepática. Nega
antecedentes cirúrgicos e uso de medicamentos. Nasceu no Norte de Minas Gerais onde, na infância, costumava tomar banho
de lagoa. Ao exame: anictérico, ausência de estigmas de doença hepática, Traube maciço e sinal de macicez móvel negativo.
Hepatomegalia (LD: 14 cm) e esplenomegalia (baço na cicatriz umbilical).
Introdução e Conceito
A palavra dor significa “algo penoso”, que vem do latim poena (castigo). Traduz-se em uma sensação
subjetiva, que resulta da transmissão central de estímulos nocivos recebidos perifericamente.
É um fenômeno psíquico complexo, influenciado por múltiplos fatores (étnicos, culturais e da
As vísceras abdominais são insensíveis a estímulos que provocam dor quando aplicados à pele (ex.: corte
ou laceração). No entanto, a dor abdominal visceral pode ser provocada por (1) estímulos mecânicos e (2)
estímulos químicos.
Estímulos Mecânicos
O principal estímulo é o estiramento ou a tensão aumentada na parede do órgão. Pode resultar da
distensão serosa ou da cápsula por edema do parênquima, como em uma congestão hepática. No caso das
vísceras ocas, ocorre por distensão rápida ou por contrações vigorosas, como na obstrução intestinal.
Estímulos Químicos
Podem se originar de inflamação, isquemia tecidual e lesão actínica (lesão causada por radioterapia), por
exemplo. Há a liberação de mediadores (como prostaglandinas, bradicinina e radicais livres), que alteram o
microambiente do tecido lesado e reduzem o limiar para a dor.
A dor abdominal é classicamente dividida em 3 categorias: (1) visceral, (2) somática (parietal) e (3) referida.
Dor visceral
Surge quando estímulos nocivos afetam primariamente uma víscera abdominal. Em geral, é transmitida
por fibras não mielínicas, produzindo uma dor vaga e mal definida (“dor surda”). Sua localização é imprecisa, na
36
região médio-abdominal, porque as vísceras têm inervação multissegmentar e os órgãos abdominais têm
representação bilateral no SNC. Além disso, pode ter um caráter variável (cólica, em queimação, etc.) e pode estar
associada a sintomas autonômicos¹ (palidez, sudorese, náuseas e agitação).
¹ Fibras aferentes da dor visceral são comuns às vias autonômicas.
Conduta clínica
A avaliação clínica da dor abdominal se dá através de anamnese, exame físico e utilização racional de
exames complementares.
A principal causa de erro diagnóstico em pacientes com dor abdominal é a ausência de uma histórica
clínica detalhada.
Depende, primariamente, da duração da dor. Em casos de dor crônica, a investigação pode ser mais lenta
e organizada. Já na dor aguda, é necessário determinar uma conduta terapêutica, clínica ou cirúrgica, antes do
diagnóstico.
Anamnese
A análise da dor abdominal deve ser minuciosa e avaliar os seguintes aspectos: (1) localização, (2)
intensidade, (3) caráter, (4) cronologia/ evolução, (5) fatores agravantes e atenuantes, (6) sinais e sintomas
associados.
Localização: é importante detectar a região mais dolorosa, além de avaliar possível irradiação ou dor
37
referida (ex.: patologias duodenais e pancreáticas referem dor na região dorsal).
Caráter: dor em queimação sugere patologia péptica ou DRGE, enquanto que dor em cólica uma
obstrução intestinal ou etiologias biliares e ureterais.
Intensidade: geralmente, dor intensa e excruciante acontece em úlceras perfuradas e no infarto
mesentérico.
Cronologia: dor súbita, aguda e persistente, com duração de mais de 6 horas, sugere abdome agudo
cirúrgico em evolução. Já a dor crônica recorrente não sugere patologia urgente, como uma síndrome dispéptica
funcional.
Evolução: a dor pode ser de evolução autolimitada (gastroenterite) A, intermitente (cólica nefrética) B ou
progressiva (abdome agudo cirúrgico) C. Na isquemia mesentérica o início é abrupto D.
Fatores agravantes e de alívio: podem fornecer pistas importantes. Por exemplo, dor que piora com
estresse emocional sugere uma natureza funcional do quadro, como a síndrome do intestino irritável. Dor que
melhora com antiácidos (IBP) sugere origem péptica.
Sinais e sintomas associados: deve-se questionar o paciente sobre sintomas constitucionais (febre e
emagrecimento), digestivos (vômitos, alteração do hábito intestinal), urinários (disúria, polaciúria) e ginecológicos
4 Pode causar obstrução dos vasos mesentéricos, causando dor semelhante à apendicite ou à colecistite.
5 Na cetoacidose acontece liberação de prostaglandinas, que estimulam a peristalse intestinal e causam dor.
6 É rara e mais presente em crianças, as quais apresentam dor abdominal e, logo em seguida, crise epilética.
Exame físico, exames complementares (ECG, radiografia de tórax e avaliação laboratorial), além de outros
sintomas associados e, no caso de doenças hereditárias como a anemia falciforme, histórico familiar são
importantes para identificar, corretamente, uma dessas causas.
Exame físico
Gera dados mais restritos, mas pode testar hipóteses levantadas na anamnese. É composto de exame
geral, exame específico do abdome e exame genital e retal.
1- Exame Geral
É importante observar a aparência e a atitude do paciente. Fáceis de dor ou sofrimento agudo, posição
antálgica (fetal) e sem movimentação são indicativos de dor parietal, ou seja, de peritonite. Paciente agitado, se
contorcendo, com alterações frequentes de posição, no entanto, indicam dor visceral pura, levantando suspeita
de cólica ureteral ou intestinal, por exemplo.
2- Exame específico do abdome
Na inspeção, deve-se observar se há distensão, cicatrizes, equimoses e peristalse visível.
Na ausculta, hiperperistalse (indicativo de gastroenterite ou obstrução intestinal) ou peristalse reduzida
(presente na peritonite generalizada) podem ser reveladas. 38
Na percussão, o hipertimpanismo indica excesso de gás intraluminal, que ocorre na obstrução intestinal,
ou extraluminal, presente na perfuração de uma víscera oca. No último, há sinal de Jobert positivo – timpanismo
na área hepática.
À palpação, deve-se atentar a sinais de irritação peritoneal e a massas palpáveis. Esta é a etapa mais
importante do exame físico do abdome.
3- Exame genital
Pode revelar hérnias inguinoescrotais, no homem. Na mulher, pode evidenciar alguma patologia
ginecológica.
4- Exame retal
Tumores palpáveis podem ser detectados.
Exames complementares
Devem ser solicitados de acordo com a suspeita clínica específica de cada caso. Na dor abdominal aguda,
a avaliação é, primariamente, laboratorial. Os principais exames são: hemograma, exame de elementos e
sedimentos (EAS) da urina, bioquímica, β-HCG (em mulher jovem, com dor baixa – gravidez tubária rota?), provas
hepáticas e amilase (em casos de dor abdominal alta).
A avaliação radiológica é, frequentemente, necessária. Inicia-se com uma radiografia simples de abdome.
A “rotina” radiológica de abdome agudo é RX de tórax em PA, RX de abdome em AP em pé e deitado. Esta pode
revelar desde um pneumoperitônio a uma obstrução intestinal.
A ultrassonografia é um método disponível, não invasivo e de baixo custo, muito utilizado, sobretudo em
suspeita de causas biliares, como colecistite aguda.
A tomografia computadorizada (TC – helicoidal, com reconstrução tridimensional) é o método mais
versátil na avaliação da dor abdominal aguda. Pode detectar pneumoperitônio com alto nível de sensibilidade,
sinais de obstrução intestinal, lesões inflamatórias7 (apendicite, diverticulite e pancreatite), lesões vasculares e
neoplásicas (embolia e trombose mesentéricas8; tumor de pâncreas e de outros órgãos).
Pancreatite Aguda
Tomografia computadorizada mostrando
áreas de hipodensidade pancreática,
revelando necrose.
Outros métodos são utilizados de acordo com a necessidade do caso. Endoscopia (EDA e colonoscopia) é
utilizada na avaliação da mucosa do TGI alto e baixo. A laparoscopia tem como principal utilização fazer o
diagnóstico diferencial entre doença anexial (salpingite) e apendicite aguda. Além disso, tem acurácia de 93-97%
em caso de dor abdominal aguda não traumática.
Diagnóstico
Em casos duvidosos e indefinidos, com dor abdominal crônica recorrente, deve-se lembrar de causas
mais raras de dor abdominal. Cabe a realização de exames especiais e considerar origem não orgânica da dor, ou
39
seja, que é um caso funcional (ex.: SII).
Algumas causas de dor abdominal: víscera perfurada (causa peritonite generalizada), apendicite,
diverticulite colônica aguda, pancreatite, obstrução intestinal, infarto intestinal, IAM, pneumonia, uremia e DM,
envenenamento por chumbo, febre familial do Mediterrâneo9, entre outros.
9Condição hereditária rara, frequente em pacientes de origem mediterrânea, na qual há síntese de proteína inflamatória fibrogênica
no peritônio, com simulação de sinais de irritação peritoneal. O diagnóstico é raro e o paciente pode ser submetido a vários
procedimentos cirúrgicos até que a doença seja identificada. O tratamento é simples, com droga antifibrogênica (colchicina).
O primeiro passo é a preparação do ambiente. Nesta objetiva-se uma iluminação adequada, que o
paciente esteja tranquilo e relaxado (conversar com o paciente a fim de descontraí-lo) e é importante uma
exposição total do abdômen.
É importante ter em mente que patologias que acometem sistemas diferentes do gastrointestinal podem
se manifestar através de sintomas clássicos distúrbios do TGI. Por exemplo, a pneumonia de lobo inferior refere
dor no hipocôndrio, cetoacidose causa náusea e vômito e infarto de parede inferior leva à dor abdominal, náusea
e vômito.
Dicas para melhorar o exame: esvaziar a bexiga, conforto do paciente (pequena inclinação da cabeça e
flexura dos joelhos, com auxílio de travesseiro, podem diminuir a tensão abdominal), braços ao longo do corpo,
iniciar sempre pelo lado contralateral à queixa (pedir para o paciente indicar o local doloroso), mãos e
estetoscópio aquecidos, unhas cortadas, evitar movimentos bruscos, distrair o paciente, imaginar o órgão que
está sendo palpado.
Sequência do exame: (1) inspeção, (2) ausculta, (3) percussão e (4) palpação.
a) Divisão em quadrantes
É a forma mais simples. Trace uma linha, no eixo vertical, do apêndice xifoide à sínfise púbica e outra, no
eixo horizontal, tendo como referência a cicatriz umbilical.
b) Divisão em 9 seções
É a mais utilizada. Tome como referência o gradil costal e
as cristas ilíacas, horizontalmente, e as linhas hemiclaviculares,
verticalmente.
É importante saber a correspondência anatômica:
1- Hipocôndrio direito: lobo hepático direito, vesícula biliar e
flexura hepática do cólon.
2- Epigástrio: extremidade pilórica do estômago, duodeno,
pâncreas e porção do fígado.
3- Hipocôndrio esquerdo: estômago, cauda do pâncreas e flexura
esplênica do cólon.
4- Flanco direito: cólon ascendente e porções do duodeno e do
jejuno. 40
5- Mesogástrio: parte inferior do duodeno, jejuno e íleo.
6- Flanco esquerdo: cólon descendente, porções do jejuno e do
íleo.
7- Fossa ilíaca direita: ceco, apêndice, extremidade inferior do íleo.
8- Hipogástrio: íleo, bexiga e útero.
9- Fossa ilíaca esquerda: cólon sigmoide.
Inspeção
Cicatrizes
Podem revelar algo que não foi abordado na entrevista.
Circulação Colateral
Circulações colaterais surgem após obstrução da via principal.
a) Tipo cava: a obstrução é no sistema cava. O fluxo nas metades superior e inferior sobem na manobra do
esvaziamento vascular (dois dedos comprimem a veia e, quando um é retirado, é possível ver a direção do
fluxo sanguíneo).
b) Tipo porta: a obstrução é no sistema porta. O fluxo da metade superior sobe, enquanto que o da metade
inferior desce, indo em direção ao plexo retal inferior.
A “cabeça de medusa” é um
tipo de circulação colateral por
distensão e ingurgitamento
das veias paraumbilicais, na
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hipertensão porta.
Umbigo
Deve-se observar o contorno, localização (tumores podem desviar a cicatriz umbilical), se há inflamação
ou hérnia.
Hérnias não se restringem à região umbilical. Também podem ser epigástricas, femorais ou inguinais.
Muitas vezes, elas só são visualizadas com o auxílio da manobra de Valsalva.
Peristalse
Geralmente, não é observável em pacientes hígidos, exceto quando ocorrem na região mesogástrica de
pacientes magros. Quando há peristaltismo visível, configura-se o que se denomina de “ondas de Kussmaul”, as
quais são sugestivas de obstrução intestinal. Podem ser chamadas de “peristaltismo de luta”, na medida em que
ocorrem na tentativa de vencer a obstrução. Quando a obstrução se torna muito grave, o peristaltismo cessa e os
ruídos hidroaéreos são substituídos por um silêncio.
Obs.: Uma das causas de obstrução intestinal é a doença de Crohn, sendo secundária a um processo inflamatório.
Esta pode evoluir para perfuração.
Tipos de Abdômen
Plano: formato normal.
Globoso: aumento do diâmetro ântero-posterior (indicativo de pneumoperitônio, tumor de ovário, gravidez,
hepatomegalia).
Batráquio: aumento do diâmetro transversal (ascite).
Pendular: porção inferior do abdômen cai por aumento de tecido (gravidez).
Avental: visto em obesidade mórbida. Parede abdominal cai sobre a coxa do paciente.
Escavado: observado em pessoas emagrecidas (comum, portanto, em pacientes com neoplasia). A parede
abdominal fica retraída.
Ausculta
Em pacientes vasculopatas e hipertensos se deve pesquisar os sopros de grandes artérias: aorta, renal²,
ilíaca e femoral. O sopro tem como significado o estreitamento da luz do vaso ou a ocorrência de uma fístula
42
arteriovenosa (raro).
² Sua estenose é causa comum de HAS em jovens.
Percussão
A percussão objetiva avaliar a distribuição de gases e a presença de massa ou de líquidos. Além disso,
permite a pesquisa de visceromegalias. Deve ser feita nos 4 quadrantes.
O normal é se encontrar som timpânico globalmente, com exceção do hipocôndrio direito, onde há
macicez do fígado.
Ocorre hipertimpanismo em situações de aumento do meteorismo (formação de gases no estômago), na
obstrução intestinal e no pneumoperitônio. Já a macicez é encontrada na ascite, na existência de massas e na
esplenomegalia.
Percussão na ascite
1- Manobra de Piparote
Solicite ao paciente que comprima a linha média de seu abdome usando a borda da
mão. Essa compressão ajuda a interromper a transmissão de onda através da gordura. Dê um
“peteleco” em um dos flancos com uma mão e com a outra tente sentir no flanco oposto um
impulso transmitido pelo líquido. O sinal de Piparote só é aparece em
volumes acima de 3 litros e pode ser positivo em paciente sem ascite.
Portanto, não é o mais indicado.
Sinal de Jobert
Refere-se à presença de timpanismo na região da linha hemiclavicular direita (área hepática). É sugestivo
de pneumoperitônio, o qual é decorrente de rompimento de uma víscera oca (perfuração de um divertículo, por
exemplo).
Percussão do Fígado
A percussão deve ser feita na linha hemiclavicular e o objetivo é se fazer a hepatimetria. Para encontrar a
borda superior, inicie a percussão em uma área atimpânica e vá descendo até encontrar macicez. Para a borda
inferior, comece em uma área timpânica e vá subindo até achar macicez. Faça marcações e depois meça. O
43
tamanho normal do fígado está entre 6 e 12 cm.
Uma forma fácil de encontrar a borda inferior do fígado se dá através da manobra do arranhão. Coloque
o estetoscópio na área hepática. Faça arranhões no abdome do paciente, de baixo para cima. Em área timpânica,
o barulho é quase inaudível ao estetoscópio. No entanto, ao se alcançar a borda hepática, será possível ouvir o
arranhão, visto que o som se propaga melhor em meios sólidos.
Palpação Abdominal
Inicia-se pela palpação superficial, seguida da profunda, em todas as nove regiões do abdome. Depois
vêm as palpações do fígado, do baço e do rim.
A palpação superficial é útil para identificar hipersensibilidade abdominal, resistência muscular e alguns
órgãos ou massas superficiais. A rigidez involuntária (espasmo muscular) indica inflamação peritoneal.
Na palpação profunda, pesquise a presença de massas e registre localização, tamanho, formato,
consistência, hipersensibilidade, pulsações e mobilidade com a respiração ou com a mão que faz o exame. As
massas abdominais podem ser classificadas de várias maneiras: fisiológicas (útero gravídico), inflamatórias
(diverticulite de cólon), vasculares (aneurismas da aorta abdominal), neoplásicas (carcinoma de cólon) ou
obstrutivas (bexiga distendida ou alça intestinal dilatada).
Existem duas manobras para palpação profunda do fígado:
Lemos-Torres: o examinador posiciona a mão esquerda na região lombar direita do paciente e faz uma
tração anterior do fígado. Com as falanges distais dos dedos ou com a borda radial do dedo indicador da
mão direita, tentar palpar a borda hepática inferior. Durante a expiração, o examinador aprofunda a mão
e durante a inspiração a movimenta, cranialmente, para palpar a borda.
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Mathieu: o examinador posiciona-se à direita e com o dorso voltado para o paciente. Em seguida, coloca
suas mãos sobre o hipocôndrio direito e flete os dedos, formando uma garra, um pouco abaixo do nível
da borda hepática inferior (delimitado pela percussão). Deve-se fazer o mesmo sincronismo com a
respiração explicado para Lemos-Torres.
O baço cresce em sentido anterior e para a direita. Dessa forma, sua palpação deve ser feita
obliquamente. A técnica é, praticamente, a mesma da manobra de Lemos-Torres. A palpação é facilitada
colocando o paciente em decúbito lateral direito e com as pernas ligeiramente fletidas na altura dos quadris
(posição de Schuster).
Hipersensibilidade Renal
Na pesquisa de hipersensibilidade renal, o examinador coloca a mão
espalmada sobre o ângulo costovertebral e o percute com a superfície ulnar do
punho. Dor sugere pielonefrite, mas também pode ser uma causa
musculoesquelética.
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Irritação do músculo obturador também indica apendicite aguda. Dor em fossa ilíaca direita, à manobra
de Patrick-Fabere (flexão do joelho, abdução da coxa e rotação externa, do lado direito, seguida de força para
baixo com estabilização do quadril) é seu indicador.
A radiografia é o método inicial básico de estudo do abdome. Suas principais incidências são decúbito
dorsal AP e ortostatismo AP.
É um método baseado na densidade das estruturas, sendo
as estruturas mais densas hipotransparentes e as menos densas
hipertransparentes. São quatro densidades básicas, em ordem
crescente: ar, gordura, água (partes moles) e cálcio. Há ainda a
densidade metálica.
O ar no TGI é importantíssimo para que haja diferença entre densidades, que permite a análise
do exame. Sem ele, todos os órgãos se fundem como uma sombra cinza confluente.
A: Abdome sem ar em
uma menina de 4 dias
de vida, que esteve
vomitando desde o
nascimento.
B: A mesma paciente,
com o estômago
insuflado de ar. 46
Distribuição Gasosa Normal
O intestino delgado, geralmente, possui pouquíssimo gás em seu interior e, portanto, não é visível. O
cólon ascendente possui menor quantidade de ar que os demais segmentos do intestino grosso e possui
conteúdo mais pastoso, o que dificulta sua identificação. As porções mais distais são bem visíveis em razão da
produção de gases pelas bactérias.
Quando não se vê a bolha gástrica e o ar se concentra no antro pilórico, pode-se dizer que o RX é em
decúbito dorsal, pois o ar se move para a região anterior. Em ortostatismo, o ar sobe, formando a bolha gástrica.
Planos de Gordura
A diferença de densidade entre as estruturas e a gordura adjacente forma sombras que as delimitam.
Podemos visualizar, por exemplo, as linhas do psoas, do fígado e dos rins. Quando há algum sangramento, essas
linhas desaparecem.
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O que analisar?
Distribuição gasosa
Presença de gás extra-luminal
Ossos e calcificações
Órgãos intraluminais
Hepatomegalia: grande
área de opacidade de
partes moles
empurrando para baixo
todas as estruturas.
Em uma obstrução, consequente de uma hérnia umbilical por exemplo, tudo o que está proximal à
obstrução de dilata. No entanto, a distensão das alças intestinais não ocorre apenas em uma obstrução. Em pós-
operatórios, por exemplo, a peristalse pode diminuir a ponto de causa-la.
Atenção: quando todas as alças estão cheias de líquido, o raio X pode estar normal. A clínica é imprescindível.
Pneumoperitônio: é melhor
visualizado na radiografia de
tórax PA. O ar sobe e separa
os órgãos abdominais do
diafragma.
Calcificações
A densidade é semelhante à óssea. São identificadas de acordo com a topografia. Mais comuns: 49
pancreáticas, vasculares, biliares, urinárias, hepáticas e esplênicas. Também é possível observar calcificações na
aorta, indicando doença aterosclerótica.
Cálculos Calcificações
biliares. pancreáticas,
características
da
pancreatite
crônica.
Obs.: Na radiografia, os cálculos biliares só são observados quando são calcificados. Na grande maioria, os
cálculos biliares são feitos de colesterol e apresentam a mesma densidade da bile.
Flebólitos:
calcificações em veias
pélvicas, que não
possuem significado
patológico.
Exames Contrastados
Ascaris lumbricoides
50
Estenose intestinal,
secundária a
tumor de cólon,
evidenciada pelo
“sinal da maçã
mordida”.
Divertículos colônicos
Obstrução intestinal, pneumoperitônio (perfuração de alça intestinal), corpos estranhos e calcificações são
os principais achados do raio X de abdome.
Caso 1
Caso 2 51
Paciente em ortostatismo.
Obstrução de intestino
delgado.
Caso 3
A radiografia é um método de sobreposição, que pode não permitir a localização de um achado e muitas
vezes negligencia outros. A tomografia, no entanto, é um método seccional, que permite a delimitação anatômica
das achados.
Métodos seccionais
Ultrassom, TC, RNM.
Ultrassonografia
Possui um campo de visão menor. Quanto mais profunda a estrutura, menor a qualidade de imagem.
Uma esteatose hepática, por exemplo, pode limitar o exame. É muito mais útil para estruturas superficiais.
Tomografia Computadorizada
É adquirida em plano transversal. No entanto, a imagem pode ser reconstruída, em programas de
computador, no plano coronal.
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Legenda: (1) fígado, (2) estômago com meio de contraste oral hidrossolúvel, (3) baço, (4) aorta, (5) rins, (6) duodeno, (7) cabeça do pâncreas,
(8) corpo e cauda do pâncreas, (9) adrenal esquerda, (10) adrenal direita, (11) artéria mesentérica superior, (12) veia cava inferior, (13) cruz
diafragmática, (14) colón transverso, (15) colón ascendente, (16) colón descendente, (17) artéria e veia esplênicas, (18) veia porta, (19) vesícula
biliar, (20) intestino delgado.
TC mostrando uma
hepatoesplenomegalia.
Ultrassonografia
Utiliza ondas de alta frequência (1 a 20 MHz), acima do que o homem consegue ouvir.
As estruturas têm impedâncias acústicas distintas. Vantagens: custo, disponibilidade, fácil realização, sem
radiação. Desvantagens: examinador dependente, equipamento dependente, paciente dependente.
Tomografia Computadorizada
É muito útil para estudos vasculares, através do uso de contrastes.
Contraindicação: gravidez (radiação ionizante)
Densidade radiológica
Água: 0 unidades Hounsfield.
+ : estruturas mais densas que a água (ex.: fígado)
- : estruturas menos densas que a água (ex.: gordura)
Ressonância Magnética
Permite maior diferenciação tecidual. No entanto, os exames são mais demorados. Maior custo e menor
disponibilidade.
Contra-indicações: marca-passo cardíaco, clipes de aneurismas cerebrais, implantes cocleares, resíduos
metálicos (ex.: P.A.F), próteses metálicos. Normalmente, não é um exame de emergência.
TC – Contraste iodado
TC – Contraste iodado
TC
Apendicite
aguda.
TC
Colecistolitíase