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Introdução
Trombose arterial
Embolia arterial
Diagnóstico
Trombose - Paciente exposto aos fatores de risco clássicos para aterosclerose (idade
avançada, diabetes mellitus, hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, dislipidemia,
sedentarismo) com história prévia de claudicação e que passa a apresentar sinais/sintomas de
isquemia no membro (6Pps). Esse quadro pode apresentar alguns dias de evolução, devido à
presença de circulação colateral. O pulso geralmente está ausente no membro contralateral por
se tratar de uma consequência da aterosclerose (doença sistêmica que atinge o sistema arterial
bilateralmente).
Importante salientar que a palpação dos pulsos é uma etapa fundamental dentro do exame
físico para auxiliar no diagnóstico da oclusão arterial aguda, assim como na topografia da
obstrução (o pulso está ausente distal à obstrução). Além disso, pode ajudar a diferenciar
trombose (pulso ausente também no membro contralateral) de embolia arterial (pulso
presente no membro contralateral).
Exames complementares
Índice Tornozelo-Braquial (ITB) - É a razão entre a mais alta pressão sistólica do tornozelo
(dorsal do pé ou tibial posterior) e a mais alta pressão sistólica dos braços (braquial). O índice
normal está entre 0,9 e 1,3. Valores acima de 1,3 indicam a não compressão das artérias do
membro inferior devido a maior rigidez de sua parede (ocorre principalmente em diabéticos).
Entretanto, valores abaixo de 0,9 indicam obstrução arterial no membro inferior. Esse exame
é mais utilizado para doença aterosclerótica periférica (crônica), mas pode ser realizado nas
situações agudas (trombose/embolia).
Eco-Doppler arterial - Confirma o local da oclusão e pode caracterizar a presença e
distribuição das placas ateroscleróticas. Nos casos de trombose (principalmente como
consequência da doença aterosclerótica), pode ser percebido fluxo arterial distal à obstrução
devido à presença de circulação colateral. Quando é embolia, geralmente não há fluxo distal
(ausência de circulação colateral).
Arteriografia - É reservada para os casos de trombose arterial a fim de realizar a
programação cirúrgica (by-pass) ou quando há dúvida em relação à causa da obstrução. Nos
casos de trombose, observa-se: presença de placas ateroscleróticas, circulação colateral
desenvolvida, imagem em “ponta de lápis”. Já na embolia arterial são mais frequentemente
visualizados: artérias livres de irregularidades e estenoses da doença aterosclerótica, ausência
de circulação colateral e formação de uma imagem chamada “taça invertida”. A arteriografia,
entretanto, é um exame invasivo, onde se faz uso de contraste iodado (nefrotóxico) e
relativamente demorado, o que pode piorar o prognóstico do paciente (muitas vezes, é
preferível realizar a arteriografia no transoperatório).
Vale ressaltar que alguns casos podem ser um desafio para se chegar à causa da
oclusão (trombose ou embolia), pois as doenças podem se sobrepor (por exemplo, um
paciente pode ter claudicação e, ao mesmo tempo, doença cardíaca e desenvolver um quadro
de isquemia aguda do membro), mesmo após realização dos exames complementares. Quando
isso ocorre, o ideal seria realizar exploração arterial e arteriografia intra-operatória, e em
seguida optar por um determinado procedimento cirúrgico definitivo.
Quando o tratamento não é realizado da forma adequada, o membro pode evoluir para
uma situação de isquemia irreversível (paralisia/cianose fixa), restando apenas a amputação
como tratamento. Observando a classificação de Rutherford para isquemia aguda, é possível
tentar a revascularização até o grau IIB. A amputação primária pode ser realizada também
mesmo em membros viáveis, quando os pacientes apresentam-se em situações muito graves
(ICC descompensada, DPOC avançada, IRA grave).
A falta de oxigênio no membro, quando ocorre uma oclusão arterial aguda, acaba
desencadeando um processo de metabolismo anaeróbico, com consumo das reservas
energéticas e que invariavelmente provoca a morte das células e acúmulo de substâncias como
o ácido lático, potássio e mioglobina. Quando acontece a revascularização com a consequente
oferta de oxigênio, ocorre uma aceleração desse processo devido à formação dos radicais
livres, promovendo assim maior dano celular. Essa síndrome caracteriza-se por dor (acúmulo
de ácido lático), edema intenso (alteração da bomba sódio-potássio) e parestesia (aumento da
pressão dentro dos compartimentos musculares). A hiperpotassemia, acidose metabólica, o
excesso de radicais livres e todo processo inflamatório envolvido podem provocar depressão
miocárdica (arritimia, parada cardíaca), assim como lesão pulmonar importante. Além disso, o
dano muscular com liberação de mioglobina (avaliado pelo CPK) pode promover graus
variados de insuficiência renal. O tratamento consiste em revascularizar o membro no menor
tempo possível, realizar fasciotomia (figura 4) se houver sinais de síndrome compartimental
(dor, edema e parestesia), hidratação, correção da hiperpotassemia, alcalinizar a urina (ocorre
precipitação da mioglobina nos túbulos renais em meio ácido) e diálise nos casos de
insuficiência renal.
Figura 4. Fasciotomia.
Questões
1. Dentre as drogas abaixo, qual deve ser administrada inicialmente num caso de obstrução
arterial aguda?
A - Vasodilatadores.
B - AAS.
C - Heparina.
D - Trombolítico.
E - Antibiótico.
6. (UFMS 2011) A trombose arterial aguda tem como causa mais frequente:
A - Aterosclerose.
B - Trombofilia.
C - Aneurisma.
D - Prótese arterial infectada.
E - Endoprótese.
9. (UFF-2015) Assinale a alternativa que aponta o local mais comum de oclusão arterial
aguda embólica:
A - Artéria mesentérica superior.
B - Bifurcação aórtica.
C - Bifurcação ilíaca.
D - Bifurcação femoral.
E - Membros superiores.
10. (AEBS- 2015) Considere a situação clínica em que um paciente, que apresentou oclusão
arterial aguda alta em membro inferior esquerdo, foi operado após 5 horas do início dos
sintomas e, no pós-operatório imediato, evoluiu com grande edema duro de perna esquerda.
Sobre esse caso, a hipótese diagnóstica mais provável para o desenvolvimento do edema é:
A - Linfedema pós-infeccioso.
B - Reoclusão arterial.
C - Síndrome Compartimental.
D - Trombose Venosa Profunda.
E - Rotura do enxerto.
11. (UFG - 2010) Um paciente apresenta quadro súbito de edema unilateral de extremidade
inferior que se acentua após 48 horas, acompanhado de dor progressiva, inicialmente com
palidez do membro, evoluindo-se para cianose distal, que também progrediu. Realizado o
exame físico, não se detectou a presença de pulsos arteriais. Qual é a hipótese diagnóstica?
A - Trombose venosa profunda distal.
B - Oclusão arterial aguda.
C - Flegmasia cerulea dolens.
D - Compressão extrínseca dos vasos ilíacos.
12. Dos dados clínicos abaixo, aqueles que devem ser valorizados para diferenciar um quadro
de trombose arterial aguda de uma embolia nos membros inferiores, são:
A - Arritmias cardíacas, ausência de história de claudicação intermitente e presença de pulsos
no membro contralateral.
B - Edema, veias ingurgitadas, cianose fixa.
C - Presença de sopros no membro contralateral, empastamento de panturrilha, diabetes
mellitus.
D - Melhora clínica com elevação dos membros, dor intensa e ausência de pulsos palpáveis.
13. A artéria mais comumente envolvida por oclusão arterial por eventos embólicos nos
membros superiores é:
A - Axilar.
B - Braquial.
C - Radial.
D - Subclávia.
E - Ulnar.
14. Homem de 67 anos chega à sala de emergência com história de quadro de dor e
hipotermia em pé direito há oito horas. Ao exame, apresenta pulsos normais em membro
inferior esquerdo, com apenas pulso femoral fraco à direita e ausência de pulsos distais.
Refere hipoestesia e deterioração da função motora intrínseca do pé. Como antecedente,
refere ter sofrido infarto do miocárdio recentemente. A conduta ideal para o caso é:
A - Admitir o paciente e mantê-lo em observação.
B - Heparinizar o paciente, seguindo-se com terapia fibrinolítica.
C - Heparinizar o paciente, preparar para arteriografia e possível terapia fibrinolítica.
D - Heparinizar o paciente e preparar para exploração cirúrgica.
E - Realizar amputação primária do membro inferior direito.
15. Paciente com quadro de oclusão arterial aguda grave de membro inferior foi submetido à
revascularização cirúrgica com sucesso. Após 4 horas, evoluiu com edema tenso e dor em
perna, hipoperfusão e parestesia do pé. A conduta a ser tomada é:
A - Reexploração cirúrgica.
B - Arteriografia no centro cirúrgico.
C - Iniciar anticoagulação e manitol.
D - Elevar e aquecer o membro.
E - Fasciotomia dos compartimentos da perna.
17. (UNICAMP – 2012) Uma mulher de com 43 anos, com antecedentes de febre reumática,
deu entrada no pronto-socorro com queixa de dor abrupta e formigamento no pé esquerdo há
4 horas. Exame físico: membro inferior esquerdo frio, pálido, ausência de pulsos poplíteo,
tibial anterior e posterior, com perda da sensibilidade e motricidade. A conduta indicada é:
A - Ecodoppler arterial.
B - Arteriografia digital.
C - Embolectomia.
D - Arteriografia e enxerto femoropoplíteo.
18. (SANTA CASA/SP - 2012) Em relação à insuficiência arterial aguda dos membros, o
termo embolia paradoxal significa:
A - Cometimento simultâneo bilateral na bifurcação da artéria femoral comum.
B - Progressão de embolo venoso que, através de shunts intracardíacos, atinge o leito vascular
arterial.
C - Manifestação clínica de dor e parestesia, porém sem palidez e sem paralisia do membro.
D - Manifestação clínica de dor e parestesia, porém sem paralisia e com manutenção do pulso
do membro.
E - Manifestação clínica de dor e ausência de pulso, porém com sensibilidade e motricidade
presentes no membro.
19. (UFF - 2012) Estudos sugerem que o único dado clínico confiável para distinguir
trombose arterial aguda de embolia arterial aguda periférica encontra-se numa das alternativas
seguintes:
A - História de dor em repouso.
B - Início repentino.
C - Fibrilação atrial.
D - Pulsos contralaterais ausentes.
E - Achados físicos de isquemia do membro acometido.
24. Um cirurgião vascular está dando plantão em um pequeno posto de atendimento que não
tem condições de tratar um paciente com obstrução arterial aguda do membro inferior. Ao
encaminhar o paciente para um centro de referência, as providências mais adequadas são:
A - Colocar bolsas de gelo na perna para minimizar o efeito da isquemia, aplicar analgésicos
para diminuir a dor e dar dois comprimidos de varfarina para iniciar a anticoagulação.
B - Proteger a perna com algodão para diminuir a perda de calor, medicar com antiagregante
plaquetário e aplicar analgésico para minimizar a dor.
C - Colocar bolsa de água quente ou compressas quentes para aquecer a perna, heparinizar o
paciente para evitar trombose secundária e aplicar analgésico para minimizar a dor.
D - Proteger a perna com algodão para diminuir a perda de calor, heparinizar o paciente para
evitar trombose secundária e aplicar analgésico para minimizar a dor.
25. Assinale a afirmativa incorreta em relação à embolia arterial periférica dos membros
inferiores:
A - A oclusão súbita de uma artéria troncular origina uma síndrome isquêmica aguda.
B - A ausência de pulso periférico orienta na topografia da oclusão.
C - A palidez é o sintoma dominante no quadro clínico.
D - As manifestações neurológicas são indícios da gravidade do fenômeno isquêmico.
26. Com relação à embolia arterial qual das afirmativas abaixo é falsa?
A - As embolias de pequenas artérias como as digito-palmares são de tratamento clínico.
B - Bons resultados podem ser obtidos mesmo com embolectomia tardia, desde que o
membro seja viável.
C - Em doentes com mau estado geral a embolectomia pode ser realizada com uso de
anestesia local.
D - Devido a sua fisiopatologia, o aparecimento da síndrome compartimental após
embolectomia não tem relação com o tempo de duração nem com a intensidade da isquemia.
27. Diante de um paciente com oclusão arterial aguda, na avaliação do grau de isquemia, o
que caracteriza o prognóstico de inviabilidade do membro?
A - Perda da sensibilidade.
B - Contratura muscular intensa (rigor).
C - Dor em repouso persistente.
D - Cianose não-fixa.
28. Síndrome do artelho (dedo) azul, qual é a fonte mais frequente?
A - Aneurisma da artéria poplítea.
B - Ateromatose de ilíaca.
C - Aneurisma da aorta abdominal.
D - Ateromatose de artéria femoral superficial.
29. No que se refere à classificação revisada de Rutherford (Society for Vascular Surgery,
1997) para isquemia aguda dos membros, qual das seguintes é verdadeira?
A - As classes agora são as mesmas para a isquemia crônica dos membros.
B - A isquemia classe 1 inclui os pacientes com membros viáveis em que nenhuma
intervenção é necessária, independentemente dos sintomas.
C - A isquemia classe 2A inclui os pacientes com membros que não estão sendo ameaçados
imediatamente e nos quais a observação é suficiente.
D - A isquemia classe 2B inclui os pacientes com isquemia suficientemente grave a ponto de
tornar necessária uma revascularização, porém a ordem temporal para a intervenção não é
crítica e não desempenha qualquer papel na técnica selecionada.
E - A isquemia classe 3 consiste em membros com isquemia irreversível cuja salvação não é
possível e algum nível de amputação será necessário.
30. (UFRN – Res Méd – ACESSO DIRETO – 2015) Paciente de 77 anos, diabética, dá
entrada no pronto-socorro com quadro de dor, diminuição de temperatura e cianose no
membro inferior direito há cerca de 1 hora. Ao exame: pulso femoral direito palpável, e
demais no membro acometido, ausentes. No membro contralateral, todos os pulsos
encontram-se palpáveis. O diagnóstico mais provável para essae paciente é:
A - Trombose arterial.
B - Embolia arterial.
C - Dissecção de aorta abdominal.
D - Trombose venosa profunda.
Respostas
4 - A. Os dois sinais que indicam isquemia irreversível são cianose fixa e paralisia. Se o
paciente já se apresenta nessas situações, o tratamento a ser realizado é a amputação.
8 - D. Quadro típico de oclusão arterial aguda de provável origem embólica (pulso irregular,
indicando fibrilação com todos os pulsos palpáveis no membro contralateral).
9 - D. O local mais frequente de oclusão arterial por êmbolos é a bifurcação da artéria femoral
comum.
11 - C. O quadro começou com edema o que sugere trombose venosa profunda, evoluindo
para um quadro de isquemia do membro após 48 horas (palidez, cianose distal e ausência de
pulsos arteriais). O que provavelmente provou essa situação foi uma trombose venosa
profunda maciça (Flegmasia cerulea dolens). Quando é uma oclusão arterial, primeiro surgem
os sintomas isquêmicos para depois se formar o edema (síndrome compartimental).
13 - B. O membro inferior é cerca de cinco vezes mais acometido de embolia arterial que o
membro superior, mas, quando acontece neste último, a artéria mais atingida é a braquial.
14 - D. Como a provável causa da oclusão arterial aguda é uma embolia (doença cardíaca e
pulsos normais no membro contra-lateral), o paciente deve ser tratado de forma definitiva
com embolectomia (cirurgia). Independente de ser embolia ou trombose arterial, os pacientes
devem receber os cuidados iniciais: aquecer o membro com algodão ortopédico, analgesia e
heparinização. Portanto, a melhor resposta é a letra D.
18 - B. Embolia paradoxal é quando o paciente apresenta uma trombose venosa profunda que
evolui para embolia no coração direito e deste passa para o coração esquerdo através de
shunts intracardíacos, passando a comprometer o sistema arterial.
19 - D. O sinal que mais ajuda a diferenciar trombose de embolia é a avaliação dos pulsos no
membro contra-lateral. Nos casos de trombose geralmente estsão ausentes (doença sistêmica).
Nos casos de embolia geralmente estsão presentes.
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