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Álvaro de Campos

Fernando Pessoa criou várias personagens, a quem nós chamamos heterónimos. Todas
estas personagens têm a sua própria personalidade, características físicas e até têm
biografia.
O heterónimo que vou falar hoje é o Álvaro Campos.

Era um homem alto, de cabelo preto e liso, risca ao lado, monóculo.

Álvaro de Campos nasceu em Tavira a 15 de outubro de 1890, à uma e meia da tarde.


Frequentou o liceu em Portugal e teve um tio padre que lhe ensinou latim. Foi
mandado para Glasgow, na Escócia, para estudar Engenharia, primeiro Mecânica e
depois Naval. Foi aí que se formou. Viajou muito pela Europa e numa viagem ao
Oriente colheu inspiração para «Opiário», um poema irónico.
Viveu em Lisboa sem exercer nenhuma profissão, por não poder suportar viver
confinado em escritórios.
Dedicou-se completamente à literatura e às polémicas modernistas, intervindo
também nos jornais a propósito de atualidades da vida política portuguesa, o que lhe
atraiu algumas antipatias.

É um homem de espírito inconformado com o tempo, é completamente inadaptado ao


mundo que o rodeia, vive marginalizado, sendo uma personalidade do não

Álvaro de Campos procura incessantemente sentir tudo de todas as maneiras, seja a


força explosiva dos mecanismos, a velocidade, seja o próprio desejo de partir. Sincero
e despojado, é a figura de quem o autor mais se aproxima, que reúne todos os aspetos
das demais, e através da qual profere “Fingir é conhecer-te”.

Expressa o desencanto do quotidiano citadino, adotando sempre o ponto de vista do


homem da cidade. É uma personalidade do não.

Pessoa afirmava que entrava na personalidade dele quando sentia um “súbito impulso
para escrever” e não sabia o quê , exprimindo através do seu heterónimo “ toda a
emoção” que não era capaz de dar nem a si nem à vida.

Tabacaria é o poema mais conhecido do heterónimo.

Entre todos os heterónimos, é o único que apresenta três fases poéticas distintas

Fase decadentista: A principal característica dessa fase na poesia de Álvaro de


Campos é a visão pessimista do mundo, com versos que evidenciam, por meio de
símbolos e imagens — recurso comum no Romantismo e no Simbolismo —, certo
tédio e grande necessidade de fuga da monotonia:
Predominam os sentimentos de tédio, cansaço e necessidade de novas sensações
Expressão da falta de um sentido para a vida e desejo de fuga à monotonia.

Fase futurista: Nessa fase é possível perceber o fascínio pelas máquinas e pelo
progresso, temática abordada também na obra de outros escritores, entre eles Walt
Whitman e Marinetti, esse último responsável pelo Manifesto Futurista:
Exaltação da violência e da força
Sensacionalismo , saindo assim da fase decadentista
Valorização da máquina , da velocidade e da força invés da beleza
Influência do modernismo
Transgressão da moral estabelecida
Predomínio da emoção espontânea
Sadismo/masoquismo

Fase intimista: Nessa última fase encontramos um poeta em profundo desalento,


angustiado e incompreendido. Os principais temas são a solidão, a nostalgia da
infância, a frustração e a incapacidade de amar. Assemelha-se muito, sobretudo nas
temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortónimo: a desilusão com o Mundo em que
vive, a tristeza, o cansaço (o que há em mim é sobretudo cansaço, assim começa um
dos seus mais famosos poemas) leva-o a refletir, de modo assaz saudosista, sobre a
sua infância, passada na velha casa: infância, de uma felicidade plena, é o contraponto
ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota
bastante no pessimista poema.
Dor de pensar
Nostalgia de infância
Solidão
Desejo de distanciamento dos outros
Fragmentação e dissolução do eu
Cansaço, tédio, angústia e melancolia
Conflito entre a realidade e o poeta
Desejo de morte
Reflete sobre o seu mundo interior, revisita a infância e sente de forma
amargurada a passagem do tempo

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