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Tema: a inocência rompe as barreiras do preconceito?

Inocência ou alienação
Na música “Negro drama”, o grupo musical Racionais MC’s constrói uma relação de causa e consequência entre a
existência de preconceitos e o contexto histórico–cultural presente no imaginário coletivo das nações, no qual os
indivíduos influenciados pelos meios em que estão inseridos assumem papel de principal ratificador dessas
ideologias e permitem a manutenção de tratamentos assimétricos para com diferentes grupos étnicos, sociais e
identitários. Nesse sentido, depreende-se que a inocência, quando equilibrada, torna-se um importante mediador
das relações entre indivíduos, pois essa ao valorizar a essência una dos seres em detrimento das convenções
impostas a eles pelos órgãos de dominação, permite, assim, o rompimento das barreiras que tornam iguais em
desiguais.
A partir dos primeiros momentos de vida de um homem até seu último suspiro, a constante imposição de padrões
comportamentais idealizados pelas classes dominantes hegemônicas perpetua a modificar permanentemente a
forma como enxergamos as pessoas ao nosso redor, privando a população do direito de perceber e ser percebido
através das experiências partilhadas entre dois ou mais interlocutores. Sob essa ótica, destaca-se a filosofia de que
as crianças ,dotadas naturalmente de uma inocência própria, por serem como uma tábula rasa, em razão da falta de
contato com esses contratos sociais segregacionistas,são mais suscetíveis a adotarem posturas e pensamentos mais
inclusivos e tolerantes frente as disparidades, baseando-se em interpretações individuais que fogem as concepções
estereotipadas já existentes. Dessa forma, essa pureza apropria-se da função de principal ferramenta limitante da
presença dessas ideologias na base estrutural pensante dos futuros cidadãos nacionais, dificultando o levante
futuro de movimentos que vulnerabilizem ideologicamente e fisicamente os grupos minoritários do corpo social.
Entretanto, atenta-se que a inocência, quando desmedida, pode assumir um caráter destrutivo frente a cenários de
disputa ideológica, uma vez que condiciona historicamente uma massa populacional não dotada de conhecimento
prévio sobre a realidade à manipulação pelas instituições dotadas de poder, facilitando a aceitação de situações
desmoralizantes e a insurreição de governos e facções paramilitares autoritárias. Esse paradigma pode ser
observado, por exemplo, na obra literária “O menino do pijama listrado” de John Boyne, a partir da falta de
conhecimento dos irmãos Bruno e Gretel frente os verdadeiros projetos políticos e às simbologias da Alemanha
nazista de Hitler apoiados por eles em razão do controle informacional fornecido às crianças pelo seu pai. Por
conseguinte, percebe-se que a instituição familiar, nesse caso, abandona seus deveres de instituição educacional e
promotora da cidadania a fim de funcionar como meio comunicativo dos agentes de dominação, instaurando na
mentalidade dos seus subordinados, por intermédio da sua ingenuidade, a existência de verdades absolutas
incontestáveis.
Evidencia-se, portanto, que a inocência pode assumir diferentes funções dependendo do contexto de ambientação
no qual está presente, podendo romper ou potencializar as barreiras do preconceito vigentes na atual conjuntura
social do globo. Logo, resta sabermos utilizar de forma balanceada esse sentimento, favorecendo sua manifestação
benéfica sobre a maléfica, para que, dessa maneira, o preconceito retratado pelos Racionais MC’s seja restrito
unicamente à realidade artística.

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