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Niterói
2023
Juliana Marques Pacheco
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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo analisar a cultura no período do pós-1964, com
base no texto da Angelina Müller, “Não se nasce viril, torna-se: juventude e virilidade nos
anos ‘1968’”, e no documentário “Dzi Croquettes”. Sendo que, o texto base contribui com a
temática discursando sobre a virilidade e o comportamento dos jovens nessa época, além de
discutir novos paradigmas no contexto cultural brasileiro. Enquanto isso, o documentário
colabora com o texto a partir do momento em que ele demonstra uma tentativa da quebra
dessa virilidade esperada dos homens com o grupo Dzi Croquettes, além de discutir também
as mudanças culturais no Brasil.
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DESENVOLVIMENTO
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O Dzi Croquettes, assim, era um grupo composto por cidadãos brasileiros
que assimilavam as concepções de libertação do corpo advindas das discussões
europeias e norte- -americanas da contracultura, transmutando-as e adaptando-as para
a realidade brasileira, mas que, ao mesmo tempo, era censurado pelo regime
ditatorial local. Como resultado, os Croquettes passaram a fazer parte do que foi
chamado de o desbunde, terceira via para aqueles que não se identificavam nem com
as ideologias de direita e nem com as de esquerda, que estavam em conflito com o
cenário político nacional, mas que, por outro lado, pretendiam trazer à tona e discutir
questões identitárias, sobre os direitos individuais e a busca por liberdades que vão
além da política. (Silva, 2017, p. 11)
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Praticamente todos os Dzi rompem e/ou ressignificam práticas de uma educação
conservadora, sexista e heterocentrada, que ambicionava forjar homens másculos, viris, aptos
para atuarem no espaço público - lugar historicamente atribuído aos homens brancos e
heterossexuais -, ao invés de atuarem no campo das artes como a dança, considerada, até
então, uma atividade predominantemente feminina e/ou de homossexuais. (Silva, 2017, p.19)
Além do mais, o aspecto citado por Müller da adoção da virilidade por parte das
mulheres também pode encontrar respaldo no documentário, quando é mencionada a Elke
Maravilha como um símbolo dos valores viris de independência e autoconfiança, e casual
frequentadora das apresentações do Dzi Croquettes.
Elke Maravilha despontou, ainda nos anos 60, como um símbolo de transgressão e
liberação. Protagonizou oito casamentos e fez três abortos, anarquista, foi presa e
torturada durante a ditadura por questionar a arbitrariedade da repressão. Vestida com
roupas, chapéus e adereços considerados exagerados, era irreverente para os padrões
de feminilidade da época, se constituindo ao longo da sua trajetória em rainha dos
gays, dos presidiários e das putas. (Silva, 2017, p.8)
Vale mencionar também a Nega Vilma, citada no documentário como a governanta do grupo,
que de acordo com um dos membros, era uma mulher independente e forte, que sempre sendo
necessário demonstrava um forte comando e autoridade, valores esses tradicionalmente
atribuídos ao homem.
Outro aspecto relevante no movimento da cultura pós-1964 no Brasil foi a forma
como a sociedade passou a se vestir, e as mudanças no âmbito da moda nesse período.
Müller, em seu texto, discorre sobre a maior atenção dada às vestimentas, que deixava de ser
uma preocupação exclusivamente das mulheres para virar também uma preocupação dos
homens. Nesse período, as roupas da época propunham uma quebra da barreira entre o que é
roupa feminina e o que é masculina, surgindo assim, a moda unisex e andrógena.
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No documentário, é evidente esta quebra de paradigmas entre as roupas designadas
para um determinado gênero, já que, em suas apresentações, era padrão dos Dzi Croquettes
usarem roupas consideradas femininas. Os membros do grupo usavam maquiagens
extravagantes, glitter, lantejoulas, vestidos, minissaias, e cuecas cavadas.
O contraste provocado pelo uso de maquiagem e roupas cheias de plumas e paetês por homens
que mantinham as características dos seus corpos questionava quem era considerado gente pelas
normas sociais, morais e políticas no período da ditadura cívico-militar brasileira. (Bortolon, 2021, p.
151)
Embora as peças pudessem parecer uma bagunça aleatória, eram na verdade pensadas para
transmitir ao público a ideia principal da peça: a mistura dos gêneros masculino e feminino e
o rompimento com a binaridade de gênero. Para os artistas andróginos do Dzi Croquettes não
importava ser homem ou mulher, mas gente, gente que pensava em meio a um regime
repressivo. (Rodrigues, 2017, p. 238). Apesar disso, nenhum deles se consideravam mulheres,
como comenta um dos membros no documentário: “a gente não é homem, e nem mulher, a
gente é pessoa”. A ideia do entrelaçamento de determinada roupa com um gênero foi
contestada.
Além desse fator, destaca-se o papel da música nesse cenário, que era usada como
referencial para os padrões de comportamento da juventude na época, permitindo que eles
pudessem se identificar com um estilo que representasse o seu próprio estilo de vida (Müller,
2013, p. 311). Foi nesse período em que surgiu uma nova onda artística, com o surgimento da
Bossa Nova, Jovem Guarda, MPB e outros estilos que colaboraram com o desenvolvimento
da indústria cultural brasileira. Nesse contexto, o referenciado documentário comenta sobre o
papel de Lennie na contribuição com essa nova onda artística, já que ele era o principal
responsável por compor músicas para as apresentações do grupo Dzi Croquettes.
Essencialmente as canções eram baseadas no estilo do carnaval carioca, evidenciando o
surgimento de uma cultura brasileira alicerçada na Bossa Nova.
Outro aspecto crucial é o surgimento da Revolução sexual no contexto da
contracultura, principalmente com a invenção da pílula anticoncepcional, trazendo novos
significados aos corpos e ao prazer.
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perspectiva social frente à essa questão – bem como nas variadas destinações que os
sujeitos empregam o seu desejo. (Sant Ana, 2016, p. 23).
A autora Müller comenta que esse início da revolução sexual estava inserido numa época em
que qualquer assunto envolvendo sexo ou sexualidade ainda era tabu, o que foi corroborado
por uma pesquisa em 1966, em que 50% da população jovem admitia que seus principais
conhecimentos sobre o assunto vinham de livros ou revistas. (Müller, 2013, p. 316).
Enquanto isso, o documentário destaca que o grupo Dzi foi um dos responsáveis por
encaminhar essa revolução em curso, não porque estavam necessariamente engajados com a
política, mas porque havia uma revolução de comportamento e liberação sexual de valores
morais em relação à masculinidade e feminilidade, e eles foram um grande grito nesse
sentido, adquirindo uma posição de abertura e liberdade no meio de uma sociedade
extremamente conservadora.
A revolução em curso também suscitou o debate sobre a questão da sexualidade, o
que era um tópico ainda menos discutido na época. segundo Müller, a caracterização do
homossexual atingia direto o estereótipo do “macho” e o preconceito era o preço mais alto a
ser pago. Ou seja, por conta do papel tradicional esperado dos homens no quesito virilidade,
uma quebra nesse padrão de comportamento já causava um estranhamento. Foi com Dzi
Croquettes, como discutido no documentário, que esse padrão masculino esperado foi
quebrado por um momento, já que,
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Assim, os Dzi Croquettes vivenciaram e protagonizaram a chamada revolução sexual.
Alguns, rompendo com uma educação ortodoxa, ousaram se vestir como mulheres, como
Benedicto Lacerda. Outros, namorando homens e mulheres, além de alguns namoros dentro
do próprio grupo. (Silva, 2017, p. 47).
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MULLER, Angélica. Não se nasce viril, torna-se: juventude e virilidade nos "anos 1968". In:
DEL PRIORE, Mary ; AMANTINO, Márcia. (Org.). História dos Homens no Brasil.
1ed.São Paulo: Unesp, 2013, v. 1, p. 299-333.
SANT ANA, Anderson Luís. As consequências da revolução sexual: uma reflexão sobre as
transformações da vida intima em tempos de modernidade liquída. Juiz de Fora, Universidade
Estadual de Juiz de Fora, 2016
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