Você está na página 1de 6

Unidade 9 – A Contabilidade Nacional

9.1 – A Contabilidade Nacional – noção e objetivos


Genericamente, é um sistema de representação e classificação, de forma coerente e quantificável, do
conjunto de relações económicas e financeiras que se estabelecem num determinado período, num
determinado sistema económico e financeiro. Em suma, a Contabilidade Nacional é um conjunto de
operações que se executam no sentido de quantificar certas grandezas económicas e sociais (produto
interno, produto nacional, rendimento, rendimento disponível, despesa, consumo, investimento,
exportações, importações, etc.), e a partir dos valores quantificados, tomar decisões políticas que
permitem uma gestão do país de modo mais eficiente.

Assim são os objetivos da CN:

• descrever quantitativamente a atividade económica;


• constituir uma base informativa que permita definir e redefinir políticas e estratégias de
desenvolvimento de um país;
• medir, através dos seus agregados, o bem-estar da população.

SEC2010 – é o sistema de contas para quantificar grandezas económicas comum a todos os países da União
Europeia.

9.2 – Os conceitos necessários à Contabilidade Nacional


1. Unidade institucional
a. Entidade económica caracterizada por ter autonomia de decisão no exercício da sua
função principal. Dispõe de um registo contabilístico completo ou é capaz de o elaborar.
b. Definição semelhante à definição de agente económico (Unidade 8)

2. Setor institucional
a. Agrupamento de unidades institucionais que têm comportamento económico análogo.
i. Sociedades não Financeiras;
ii. Sociedades Financeiras;
iii. Administrações Públicas;
iv. Famílias;
v. Instituições sem Fim Lucrativo ao Serviço às Famílias (ISFLSF);
vi. Resto do Mundo.
Setores institucionais Atividade principal Recursos principais
Famílias • Consumir • Remunerações
• Rendimentos de
propriedade (Fator
capital – Rendas)
• Transferências sociais
Sociedades não Financeiras • Produzir bens e serviços • Receitas provenientes
mercantis* da produção
Sociedades Financeiras • Prestar serviços de • Receitas provenientes
intermediação da atividade
financeira
Administrações Públicas • Produzir serviços não • Receitas provenientes
mercantis (Satisfação de impostos e outras
das necessidades contribuições
coletivas)
• Redistribuir o
rendimento
Instituições sem Fim Lucrativo • Prestar serviços não • Contribuições
ao Serviço das Famílias – ISFLSF mercantis voluntárias (donativos)

Resto do Mundo Este setor agrupa unidades não residentes que


efetuam operações com unidades institucionais
residentes.

*Mercantil – objeto de compra e venda no mercado

Como distinguir o setor institucional A do B?

• A partir da sua função e origem dos recursos.

3. Território económico:
a. todo o território geográfico de um país (terrestre, aéreo, marítimo e subsolo) e zonas
francas*, jazigos geológicos (situados em águas internacionais, explorados por residentes
de um país), enclaves territoriais no estrangeiro (embaixadas, consulados, bases
militares);
b. não coincide exatamente com o território geográfico;
c. identifica onde a atividade económica é medida.
*Zonas francas: produtos importados com tarifas aduaneiras reduzidas ou nulas (Ex.: Madeira).

4. Unidade institucional residente:


a. unidade que tem fonte de recursos própria e autonomia para decidir a sua função, possui
um centro de interesse económico predominante no território económico desse país, isto
é, quando realiza atividades económicas neste território por um ano ou mais.

5. Unidade de produção homogénea:


a. unidade que efetua uma atividade única, identifica-se pelas suas entradas, processo de
produção e saída de produtos. Os produtos que constituem as entradas (inputs) e as
saídas (outputs) distinguem-se pela sua natureza, grau de transformação e técnica de
produção utilizada;
b. fabricam bens por meio de processos produtivos semelhantes, e inputs e outputs
semelhantes;
c. se uma empresa produzir dois ou mais produtos diferentes, utilizando, para isso,
diferentes processos produtivos, ela constituirá tantas UPH quanto o número de produtos
diferentes que produz.

6. Ramo de atividade:
a. corresponde a conjuntos de unidades de produção homogéneas com características
técnico-económicas semelhantes que exercem, por conseguinte, a mesma atividade sobre
um produto.

Valor Acrescentado Bruto (VAB) – somatório das contribuições de cada setor de atividade.

• é imprescindível para a análise da economia de um país e para a tomada de


decisões sobre as melhores políticas para promover o seu desenvolvimento
económico e social.
9.3 – Óticas do cálculo do Produto
1. Ótica da produção
a. Informa a natureza e origem do produto realmente efetuado;
b. Forma de cálculo do Produto a partir do valor acrescentado pelas unidades de produção,
agrupadas em ramos e setores de atividade.

➢ Valor acrescentado: contributo de cada unidade de produção para o Produto. Obtém-se, a


partir da diferença entre o valor do bem final e os custos dos bens intermédios utilizados na
sua produção.
o VA = Valor da produção – Consumos intermédios

2. Ótica da despesa
a. Informa como o produto foi gasto;
b. Forma de cálculo do Produto que corresponde à utilização dada ao produto: consumo
final, investimento e exportações.

➢ Capital fixo: bens duradouros da empresa.


➢ Capital circulante: bens não duradouros da empresa.

3. Ótica do rendimento
a. Informa como o rendimento é repartido durante o processo produtivo;
b. Forma de cálculo do Produto a partir dos rendimentos obtidos com a venda dos produtos
e distribuídos pelos fatores de produção (trabalho e capital).

Primeira repartição Fator capital - rendas,


Processo produtivo
(Fator trabalho e capital) juros e lucros

• Rendas: famílias;
• Juros: sociedades
financeiras;
• Lucros: remuneração pelo
risco tomado pelo
empresário.

• Excedente bruto de exploração: rendas, juros e lucros.


O problema da múltipla contagem

O problema da múltipla contagem representa o erro que é cometido, no cálculo do produto de um


determinado país, quando se adicionam valores de produção de todos os bens, independentemente de
os mesmos serem utilizados para consumo final ou intermédio. Este problema consiste na contabilização
dos consumos intermédios mais que uma vez.

• Método dos produtos finais: no cálculo do valor da produção consideram-se os bens que não
irão sofrer mais transformações no processo de produção – bens finais e que serão vendidos
ao consumidor final.
• Método dos valores acrescentados: no cálculo da produção considera-se o valor
acrescentado por cada unidade de produção.

Produto bruto e Produto líquido

O Produto de um país é um Produto bruto se não lhe for deduzido o valor das amortizações (ou consumo
de capital fixo – desgaste do capital fixo com o tempo). Pelo contrário, se ao Produto de um país for
deduzido o valor das amortizações, estamos em presença de um Produto líquido.

• Produto bruto: o Produto é avaliado sem deduzir o valor do desgaste do capital fixo ocorrido no
processo produtivo.
• Produto líquido: ao Produto bruto subtrai-se o valor das amortizações.

Produto interno e Produto nacional

Se considerarmos o território económico, teremos o conceito de Produto interno (PI), obtido pelas
unidades produtivas residentes nacionais e estrangeiras, em atividade neste território. Pelo contrário, se
considerarmos apenas o Produto que foi criado com base em unidades produtivas residentes nacionais,
quer esse contributo tenha ocorrido no território económico ou fora dele, teremos o conceito de Produto
nacional (PN).

• Produto interno: resultado final da atividade de produção das unidades produtivas residentes no
território económico.
• Produto nacional: Produto obtido dentro e fora do território económico, mas apenas por fatores
produtivos nacionais. Obtém-se adicionando ao Produto interno o Saldos dos Rendimentos
Recebidos com o Resto do Mundo (SRRM).
o SRRM = Rendimentos recebidos do Resto do Mundo – Rendimentos pagos ao Resto do
Mundo
De registar, ainda, que o Produto de um país pode ser determinado a preços correntes ou a preços
constantes.

Produto a preços correntes

O Produto é contabilizado com base nos preços verificados no ano em causa. É o valor nominal. Inclui a
ilusão da inflação.

Produto a preços constantes

O Produto é contabilizado de acordo com o nível de preços do ano base. É o valor real. É necessário
deflacionar, ou seja, retirar o efeito inflacionário de valores nominais de modo a obter valores em termos
reais. Para deflacionar divide-se o valor nominal pelo deflator do PIB (Índice de Preços no Consumidor –
IPC), de forma a exprimi-la em termos reais.

Você também pode gostar