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CAPÍTULO V

1. CONDIÇÕES DA RESPONSABILIDADE MORAL

Um dos indicadores de evolução moral, é quando o indivíduo se responsabiliza por


seu comportamento moral, dessa forma, ele preocupa-se não só com sua ação, mas
também com as consequências. Para que isso seja possível, o sujeito deve admitir
ter certa liberdade, pois só com a liberdade podemos nos responsabilizar por nossas
escolhas. Por isso, ao julgar uma ação, não deve-se fazê-la seguindo apenas uma
norma, mas vendo a condição concreta na qual ela se realizou, sendo assim, a
imposição da moral deve ser vista de forma específica. Ex.: João rouba seu amigo
Pedro, isoladamente, a ação é errada, mas se vermos pelo ponto de que João tem
cleptomania, a moral não deveria ser-lhe importa da mesma forma do que um
indivíduo que não tenha. Sendo assim, quando podemos responsabilizar os
indivíduos por seus atos? Desde a época de Aristóteles, existem duas respostas:
A) O sujeito deve ter um caráter consciente, ou seja, não ignore as
circunstâncias e consequências de sua ação
B) Que a causa de sua ação resida em si mesmo, ou seja, quando ele não é
forçado a realizar a ação, isso chama-se de conduta livre
Ou seja, se um sujeito for ignorante e coagido, isso o exime da sua responsabilidade
moral.

2. A IGNORÂNCIA E A RESPONSABILIDADE MORAL

Se X dá um objeto ao neurótico Y e esse objeto causa-lhe uma reação negativa, X


pode afirmar que não condição de Y ou que desconhecia que tal objeto poderia
desencadear tal reação, mas isso não é o suficiente, X também teria que alegar que
não tinha obrigação de saber de tais informações, somente assim sua ignorância
o isenta da responsabilidade. Se os familiares de Y o permitem ir para casa de X e
não avisam X sobre sua reação com o objeto, a família pode ser responsabilizada.

A ignorância é suficiente para isentar alguém de um crime?

Outro exemplo: Se um caminhão atropela um carro que estava enguiçado na


estrada, mesmo se o motorista alegue ignorância, por não ter visto o carro já que os
faróis estavam fracos, ele ainda deve ser responsabilizado, já que é sua obrigação
checar os faróis antes de uma longa viagem. Ou seja, a ignorância exime do crime
quando a pessoa não tinha a obrigação de saber a informação. Mas as
circunstâncias em que a ação ocorre, o caráter moral da ação (bondade ou
maldade) e as consequências também devem ser levados em conta.

Uma criança que foi criada isolada e, portanto, não tem consciência se suas ações
são boas ou más, não pode ser responsabilizada. Algo parecido acontece com
adultos do ponto de vista histórico-social. As pessoas seguem seus limites
histórico-sociais, por exemplo, na Grécia Antiga, a moral só existia entre homens
livres e não entre homens livre e escravos pois esse era o limite histórico-social,
sendo assim, não podemos responsabilizar moralmente de forma individual aqueles
homens, assim, eles não podem ser considerados moralmente responsáveis pelo
tratamento que davam os escravos.

A ignorância só exime os indivíduos quando eles não são responsáveis por sua
ignorância, seja pela impossibilidade subjetiva (por motivos pessoais) ou objetiva
(por motivos históricos e sociais) de consciência por seu ato moral.

3. COAÇÃO EXTERNA E RESPONSABILIDADE MORAL


● Segunda condição fundamental para responsabilizar uma pessoa por um ato:
a causa desse ato precisa estar dentro dele próprio e não prover de fora (algo
ou alguém que o force); A pessoa seja submetida a uma coação externa.
- Quando o agente da moral está sob pressão de uma coação externa,
ele perde os controles dos seus atos e não pode ser responsabilizado
pelo modo como agiu.

Exemplo: Um motorista de carro que roda na velocidade regular e dirige com


habilidade, depara-se com um pedestre cruzando imprudentemente a rua. Para não
atropelá-lo, faz uma curva brusca e atropela uma pessoa na esquina. O motorista é
responsável?
Ele não fez o que teria desejado fazer, mas o que lhe ditaram e lhe impuseram as
circunstâncias externas. Tudo que aconteceu escapou de seu controle; não escolheu
e não decidiu livremente.

● Coação externa: pode provir de algo – circunstâncias imprevistas – e de


alguém que consciente e voluntariamente força o agente moral a realizar um
ato.
● A coação externa pode anular a vontade do agente moral e eximi-lo da sua
responsabilidade pessoal, mas há casos que existem uma margem de opção
e por consequência responsabilidade moral.
● Aristóteles: a falta de coerção externa é uma condição necessária da
responsabilidade moral.
- Isso não significa que o agente não possa resistir em nenhum caso e
que não possa ser responsável pelo que faz.
● A coação exterior pode em determinadas situações eximir o agente de
responsabilidade moral de atos que, ainda que sejam seus, não são porque
tem causa fora dela.

4. COAÇÃO INTERNA E RESPONSABILIDADE MORAL


● O homem só pode ser responsável pelos atos que conhece e pelas
consequências que pode prever, assim como aqueles atos que se realizam
na ausência de uma coação extrema e estão sob seu domínio e controle.

Exemplo: O assassinato é reprovavel moralmente e quem o comete contrai uma


responsabilidade moral. Mas poderíamos considerar moralmente responsável o
neurótico que mata num momento de crise aguda?

O sujeito não tem consciência pelo menos no momento em que realiza o ato, dos
motivos verdadeiros, da sua natureza moral e das suas consequências. Talvez a
seguir quando o sujeito tomar consciência daquilo tudo, mas neste caso, não poderá
garantir que não tornará a fazer o mesmo sob impulso irresistível ou uma motivação
inconsciente.
● Casos de indivíduos que realizam atos que tem a sua causa dentro deles e
que apesar disso não podem ser moralmente responsáveis.
● Coação interna: não podem resistir, ainda que os seus atos possuam a sua
causa no seu íntimo, não são propriamente seus, porque não puderam
exercer um controle sobre eles.
● Os seres humanos que consideramos normais não agem sob uma coação
irresistível, eles sempre se encontram sob uma coação interna relativa. Mas
normalmente essa coação interna não é tão forte que anule a vontade do
agente e o impeça de uma opção e de contrair uma responsabilidade moral.

5. RESPONSABILIDADE MORAL E LIBERDADE


● A responsabilidade moral exige a ausência de coação externa e interna ou a
possibilidade de resistir em maior ou menor grau.
● Responsabilidade moral: possibilidade de decidir e agir vencendo a coação
externa ou interna.
● Apesar do homem poder agir livremente na falta de uma coação externa e
interna, ele encontra-se sempre sujeito a causas que determinam a sua ação.
● Somente há responsabilidade moral se existe liberdade;
● Para solução do problema da responsabilidade moral das relações entre a
determinação causal do comportamento humano e a liberdade da vontade.

6. TRÊS POSIÇÕES FUNDAMENTAIS NO PROBLEMA DA MORAL


● A responsabilidade moral está relacionada com o ato de decidir e agir
livremente sem coação interna ou externa, mas diante de uma determinação
do próprio comportamento, em um mundo humano determinado, essa
liberdade pode-se mostrar afetada. Há três posições filosóficas fundamentais
que buscam responder o problema dessa liberdade e as três coincidem
quando reconhecem que o comportamento humano é determinado, mas
interpretam de forma distinta a sua natureza e o alcance dessa determinação
e com isso cada uma chega a conclusões distintas:
● Determinismo em sentido absoluto:
○ Se o comportamento do homem é determinado, não há liberdade, nem
responsabilidade moral. Determinismo é incompatível com a
liberdade.
● Libertarismo concebido também de maneira absoluta:
○ Se o comportamento do homem é determinado, se a sua liberdade
trata-se somente de uma autodeterminação do eu, a liberdade é
incompatível com qualquer determinação externa ao sujeito (da
natureza ou da sociedade).
● Determinismo que admite ou é compatível com certa liberdade:
○ Se a determinação está longe de impedir a sua liberdade, é a condição
necessária da liberdade. Liberdade e necessidade se conciliam.

7. O DETERMINISMO ABSOLUTO
● O determinismo absoluto parte do princípio de que neste mundo tudo tem
uma causa.
● A atividade do homem- modo de pensar, agir…- está sujeito a causas.
● Falando em determinismo causal, não se refere a uma coação externa ou
interna que obriga a agir de tal maneira, mas ao conjunto de circunstâncias
que determinam o comportamento do agente, de maneira que o ato não
é senão um efeito de uma causa ou de uma série causal. Insiste o
determinismo absoluto que, o fato que minha decisão é causada significa que
a minha escolha não é livre, a escolha livre se revela como uma ilusão, pois
não existe tal liberdade de vontade.
● No determinismo absoluto, e sua recusa da existência de liberdade,
encontra-se na história do pensamento filosófico, nas doutrinas éticas, pelos
materialistas franceses do séc.. XVIII, encabeçados pelo barão d'Holbach,
segundo eles os atos humanos são elos de uma cadeia causal universal, nela
o passado determina o presente e se conhecesse todas as
circunstâncias que atuam num dado momento poderia se predizer com
exatidão o futuro. Físico Laplace fez uma constatação semelhante.
● Dessa forma, o determinismo absoluto afirma que: tudo é causado, não
existe liberdade humana e portanto responsabilidade moral, assim se há
uma determinação causal absoluta e rigorosa que nos torna meros
efeitos de causas que escapam do nosso controle não há
responsabilidade, pois não teria como agir de forma diferente.
● Ainda que o determinismo absoluto seja verdadeiro- já que o homem está
sujeito a causas-, no entanto o homem não é mero efeito das circunstâncias
que determinam o seu comportamento. O determinismo não capta que dentro
do contexto universal, ocupada pelo homem, como ser consciente e prático,
que compreende a si e o mundo que o cerca ao mesmo tempo que o
transforma de um modo consciente. Assim ele pode conhecer a causalidade
que o determina e atuar conscientemente. Assim o homem deixa de ser um
mero efeito e passa a ser uma causa consciente de si mesmo e inserir-se
conscientemente na trama causal universal.

8. O LIBERALISMO
● Ser livre significa decidir e operar como se quer.
● Se algo aconteceu que poderia não ter acontecido, isso contradiz o princípio
de que tudo está determinado casualmente.
● Os adeptos desta posição acreditam na liberdade de decisão e de ação que
foge à determinação causal. Refuta-se que o agente esteja pré determinado,
independentemente, se por fatores de fora como ambiente social, ou também
por fatores de dentro como por seus desejos, motivos e caráter.
● De acordo com esse pensamento, ser livre seria uma ruptura da continuidade
casual universal. A ação para que seja verdadeiramente livre, não pode ser
levado em consideração a determinação interna do caráter.
→ Liberdade da vontade x Determinismo causal: O homem, muitas vezes
não consegue ter o controle sobre algumas coisas como os fenômenos físico,
causas externa( Ex: a movimentação da terra ao redor do seu eixo),pode ter
um certo controle sobre os atos morais, como as causas internas(desejos,
crenças e os valore).
● Exemplo, um operário que tem a escolha de aderir ou não a um
protesto contra o desemprego, por consequência do fechamento da
empresa em que trabalhava.
A sua escolha mostra que ele tem liberdade de decisão, apesar de algumas coisas
que escapam do seu controle. Então a partir disso dá para tirar que existe o
determinismo causal, mas ele não é tão restrito para não permitir a escolha do
indivíduo. O indivíduo tem o poder de escolha, mas esse poder não é absoluto, já
que as pessoas obedecem em seu comportamento às causas internas e externas.
→ No ato moral o sujeito não decide arbitrariamente, no seu comportamento o seu
caráter se revela como fator importante. Segundo Campbell, ser livre seria agir
apesar do caráter, ou contra ele. Se o caráter não é levado em consideração na hora
da decisão tudo pode ocorrer, tudo é possível. Nesse momento surge um problema,
se tudo é possível, com qual critério pode se julgar a moralidade de um ato? O autor
aborda então que a liberdade da vontade não pode excluir a causalidade no sentido
de ruptura já que isso levaria ao indeterminismo.

9.DIALÉTICA DA LIBERDADE E DA NECESSIDADE


A verdade é que a liberdade da vontade não pode excluir o determinismo e o
determinismo não consegue eliminar a liberdade. Essa antítese, teve falsas
tentativas de conciliação das duas, como a de Kant onde ele situa em dois mundos
distintos: onde o homem é livre e o outro mundo não, assim dividindo o homem em
moral e empírico, também temos a tentativa de Nicolai Hartmann que fala sobre o
determinismo teológico, onde não seria causada por causas anteriores, mas como
a de kant também falha em separar.
As três mais importantes tentativas para superar a antítese entre liberdade e
necessidade casual seriam as de Spinoza, Hegel e Marx-Engels.
Para Spinoza, o homem que é sujeito às causas externas e se comporta
como um ser passivo, não é livre, mas sim escravo. O homem, para que não seja
escravo, deve compreender a necessidade universal, e assim se libertar.
A solução de Spinoza, tem limites porque o homem só se liberta no plano do
conhecimento, mas continua escravo na sua relação afetiva, prática, com a natureza
e a sociedade.

21-24
→ Segundo Spinoza, “ser livre é ter consciência da necessidade ou
compreender que tudo o que sucede é necessário”, mas não basta conhecer
para ser livre;
→ Hegel se move no mesmo plano de Spinoza, com exceção de que o primeiro
estudioso relaciona a liberdade com a história, ou seja, “a liberdade depende do
nível em que o espírito se encontra em seu desenvolvimento na história da
humanidade “;
Nesse sentido…
→ A liberdade é histórica: há graus de liberdade;
→ Desse modo, tanto para Hegel quanto para Spinoza, a liberdade é um assunto
teórico, ou da consciência, ainda que a sua teoria da liberdade se enriqueça ao
ser posta na história, visualizando a sua conquista como um progresso
ascensional histórico;
→ Marx e Engels aceitam as duas concepções de liberdade: a de Spinoza
(liberdade como consciência da necessidade) e a de Hegel (historicidade);
→ Assim, a LIBERDADE se configura como a consciência histórica da
necessidade, contudo, para esses estudiosos, a liberdade não se reduz a isso;
LOGO…
● A liberdade do homem com relação à necessidade não se reduz em
transformar a escravidão “cega”, numa escravidão consciente;
● A liberdade não é só um assunto teórico, porque o conhecimento não impede
que o homem esteja sujeito passivamente a necessidade natural e social;
● A liberdade acarreta um poder, um domínio do homem sobre a natureza
e sobre a sua própria natureza.
→ A liberdade não pode ser considerada apenas como um assunto teórico, porque a
compreensão da necessidade não basta para que o homem seja livre. Entretanto,
sem o conhecimento da necessidade, não há liberdade.
→ Desse modo, o conhecimento e a atividade prática não têm como sujeito
indivíduos isolados, mas indivíduos que vivem em sociedade e que estão
inseridos em relações socias que variam historicamente.
→ Por esse motivo, a liberdade também apresenta caráter histórico-social e os
níveis de desenvolvimento do homem se constituem como: prático, histórico e
social;

10. CONCLUSÃO
→ Indivíduos = seres sociais;
→ A liberdade da vontade se apresenta com os traços fundamentais da liberdade
em geral;
→ Como liberdade de escolha, decisão e ação, a livre vontade acarreta uma
consciência das possibilidades de agir em mais de uma direção, bem como
apresenta consciência dos fins/consequências do ato que se pretende realizar e dos
motivos que o impedem de agir;
→ No terreno moral, a liberdade traz consigo uma autodeterminação do sujeito
quando enfrenta as várias formas de comportamentos possíveis;
→ Liberdade da vontade não significa algo incausado ou um tipo de causa que
influiria na conexão causal sem ser causada;
→ LIVRE é incompatível com COAÇÃO, quando esta última se apresenta como uma
força externa ou interna que anula a vontade;
→ O HOMEM é LIVRE para decidir e agir, sem que a sua decisão/ação deixem de
ser causadas, mas o grau de liberdade está determinado histórica e socialmente;
→ A responsabilidade moral pressupõe certo grau de liberdade, mas esta
implica a necessidade causal;
ASSIM…
→ Responsabilidade moral, liberdade e necessidade estão entrelaçadas no ato
moral.

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