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2023
Introdução
E, por sua vez, a criação da cultura do diálogo reflexivo entre professores cria uma
liderança compartilhada, conceito também apontado pelo relatório da European Commission
(2018, pp. 46-48), que permite a toda a equipa docente não apenas colocar-se disposta a tentar
os projetos educativos propostos como também sugerir novos projetos a partir de diagnósticos
feitos no cotidiano escolar pela equipa. Ao chegar no nível em que toda a equipa, para além da
liderança, observe, reflita, diagnostique, e proponha projetos educativos autonomamente, o
ambiente educativo pode, enfim, considerar-se permeado pela cultura da inovação. Uma vez
alcançado esse estágio, quais seriam os passos seguintes? Obviamente os próximos passos
tratam da experiência de projetar e implementar os projetos educativos coerentes e necessários
com o ambiente educativo em questão e, retomando o conceito sintetizado do que é um projeto
educativo, como explanado no início desta reflexão crítica, partir sempre do pressuposto de que
todo e qualquer projeto visa a mudança e a inovação.
No ano de 2018 chega à público a versão final da primeira Base Nacional Comum
Curricular do Brasil, comumente chamada por BNCC. O documento passou por anos de
negociação e tratativas acerca de sua formulação, foi vítima de diferentes grupos organizados
com diferentes interesses sobre o documento e os conteúdos e, após perdas e ganhos de cada
lado envolvido, chegou a uma versão que, hoje, segue a servir como um framework para a
elaboração dos currículos e projetos pedagógicos das escolas, sejam elas do setor público ou do
setor privado (Castro, 2019). A BNCC, diferente do que ainda persiste como senso comum
entre uma parcela significativa de profissionais da educação no Brasil, não se trata de um
projeto de leis educacionais (tais leis encontram-se em outros documento chamado LDB – Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), tampouco de um currículo padronizado para todas
as escolas do país, mas sim de um documento normativo, cuja função é a de promover diretrizes
de funcionamento para um determinado setor produtivo do país, neste caso, diretrizes para as
práticas das escolas de educação básica do Brasil. Esse documento, portanto, serve de
referência, mas não deve ser utilizado como fim último para a elaboração de projetos
educativos, por exemplo, ainda que, em essência, carregue aspectos de inovação presentes em
todos os elementos que lhe envolve.
Conclusão
Falta de clareza das inovações almejadas: se a escola não tiver muito bem
delimitados quais são os objetivos de determinados projetos e suas respectivas
mudanças, a tendência é de que os projetos não gerem os resultados esperados. Para
isso, é possível avaliar previamente se os objetivos propostos atendem aos critérios
de pertinência, mobilização, exequibilidade, aceitação e coerência
(Azevedo, 2011: 50);
Falta de rigor na elaboração dos projetos: todo e qualquer projeto educacional,
seja um projeto de intenções, operatório, ou projeto pedagógico, deve ater-se
minuciosamente às particularidades requeridas por cada etapa da elaboração, desde
o desenho inicial da ideia até a divulgação do projeto entre os envolvidos e a
avaliação final do processo. A falta de rigor em todas ou quaisquer etapas da
elaboração de um projeto pode restringir ou impossibilitar as mudanças e inovações
almejadas, ou torna-las difícil de avaliar;
Ausência prévia de fomento à cultura da inovação: não há projeto educacional
de cunho inovativo sem um ambiente preparado e disposto para experimentar tais
projetos. O fomento da cultura da inovação, que promova o perfil do docente
inovativo, é essencial para que os projetos sejam, de fato, concretizados;
Dificuldades de negociação com os sistemas educativos: os sistemas educativos
definem o cenário maior nos quais as escolas estão inseridas e, portanto, sob quais
regimentos podem exercer as atividades. Deste modo, há limites políticos para a
experimentação de determinadas inovações, o que ocasiona a necessidade de
negociação das escolas junto à comunidade para reavaliar e concretizar projetos
educativos verdadeiramente viáveis, evitando frustrações ou interrupções súbitas
nos processos.
É, assim, após superar barreiras de variadas instâncias e uma vez implementado um alto
nível de disposição à mudança, que as escolas podem realmente experimentar as
potencialidades de um projeto educativo, e trabalhar com vistas a inovação, sempre no intuito
de melhorar a aprendizagem dos estudantes e as potências que lhe são naturais, bastando-lhes
o ambiente propício para a estimulação e desenvolvimento destas potências.
Referências Bibliográficas:
Azevedo, R. (coord.), Fernandes, E., Lourenço, H., Barbosa, J., Silva, J.M., Costas, L., &
Nunes, P.S. Projetos educativos: Elaboração, monitorização e avaliação – Guião de Apoio.
Recursos e Dinâmicas (n. 6), 2011.
European Commission. Study on supporting school innovation across Europe – Final report to
DG Education and Culture of the European Commission. Education and Training. 2018.