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Felicidade e Tomada de Decisão 2

Objetivo do Trabalho
Aristóteles, Platão, Epicuro, Rousseau e Freud são apenas alguns dos pensadores a
identificar que todas as ações humanas buscam, em um sentido lato, a felicidade.
Segundo Freud, o ser humano teria uma tendência natural para buscar o prazer e evitar
a dor. É o "princípio do prazer" o mecanismo que governa o comportamento humano. Já para
o hedonismo, presente nos textos de Epicuro e Aristipo de Cirene, o prazer é o objetivo final
das ações humanas e a felicidade é frequentemente vista como o estado resultante da busca
pelo prazer e do alcance de objetivos significativos. Na filosofia, a felicidade é frequentemente
definida como o bem-estar ou satisfação pessoal, e é considerada uma das principais metas da
vida humana. Contudo, é preciso distinguir alegria de felicidade. A alegria é uma emoção
positiva passageira que pode ou não ser observada em uma pessoa feliz. No presente estudo
assumimos o conceito hedonista de felicidade e partimos da premissa de que as ações humanas
estão sempre em busca desse sentimento de bem-estar e satisfação.
Considerando que a nossa realidade é consequência das nossas ações, com origem nas
decisões tomadas, é curioso constatar que, apesar de aspirarmos sempre à felicidade, é grande
o número de decisões que causam sofrimento a nós mesmos e aos outros.
Foram formuladas as seguintes questões de investigação: Como os jovens adultos
percebem a felicidade? Pensam na própria felicidade de modo consciente na tomada de
decisões? Como avaliam o impacto de suas decisões sobre a própria felicidade?
Nosso objetivo era compreender quais as perceções dos jovens adultos sobre o papel da
felicidade no processo de tomada de decisão e como avaliam o impacto das decisões no estado
atual de felicidade.

Método
Participantes
Os participantes são três mulheres e três homens (n=6), entre 21 e 35 anos de idade.
Considerando que nos primeiros anos da vida adulta tomamos decisões cruciais, cujo impacto
pode ser observado por décadas, nosso critério de seleção foi a idade (adultos até 35 anos).
O recrutamento foi por arrastamento e procuramos obter uma amostra não restrita à
comunidade universitária. Entrevistámos quatro portugueses, um angolano e um romeno.
Apenas um participante tem filhos. Todos se declararam solteiros, menos um que vive em união
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estável. As ocupações declaradas são: enfermeiro, técnico administrativo, psicólogo, estudante


de sociologia, sociólogo e auxiliar de geriatria.

Instrumento
Optámos pela realização de um estudo descritivo, com utilização da entrevista
semiestruturada. Esta permite flexibilidade na formulação e na reordenação das perguntas
durante a entrevista, possibilitando o ajustamento da linguagem ao participante. Apesar da clara
estrutura, visámos maximizar as oportunidades para este revelar suas perceções, assim como a
probabilidade de acedermos aos seus pontos de vista subjetivos. Isto permitiu analisar questões
subjacentes às respostas.
Os princípios da não-direção, especificidade, amplitude e profundidade e contexto
pessoal foram observados na elaboração do guião.
Visando obter respostas mais espontâneas e livres dos efeitos da desejabilidade, que
evidenciassem com clareza se a felicidade era um fator considerado no processo de tomada de
decisão, utilizámos duas estratégias. Uma envolveu o procedimento e outra envolveu a ordem
das perguntas da entrevista (Anexo B).
Nas duas primeiras perguntas, indaga-se sobre o propósito de vida dos participantes e
o processo de tomada de decisão, sem mencionar a felicidade, para percebermos se o tema seria
mencionado espontaneamente. A felicidade é abordada diretamente apenas na terceira pergunta,
quando é solicitado que o participante identifique uma palavra associada à felicidade. Apenas
na quarta questão é que inquirimos sobre a eventual relação entre a felicidade e as decisões do
participante.

Procedimento
Quanto ao procedimento, a nossa estratégia foi não informar inicialmente os
participantes de que estudávamos a influência da felicidade. Antes das entrevistas, foram
informados de que nosso objetivo era perceber o processo de tomada de decisão. A seguir,
assinaram o consentimento informado e responderam ao questionário sociodemográfico.
As entrevistas foram realizadas em locais públicos definidos pelos próprios
participantes, uma em casa do próprio, uma entrevista foi por vídeo chamada, uma outra por
telemóvel. A duração das entrevistas variou entre 8 e 43 minutos (M=20, DP=14).
O debriefing foi feito logo após a entrevista, explicitando-se o real objetivo do estudo
e o motivo dessa informação não ter sido apresentada inicialmente.
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Análise
As entrevistas foram transcritas e segmentadas. Utilizámos a análise de conteúdo como
técnica de tratamento de informações por ser não obstrutiva e possibilitar a descrição objetiva
e sistemática dos dados observados, permitindo fazer inferências interpretativas do discurso
com relação aos contextos.
O sistema de categorias foi construído pelo método indutivo, após a análise dos dados,
como uma estratégia de não enviesamento da análise. Primeiramente, cada entrevista foi lida
pelos codificadores várias vezes até absorverem a ideia geral. Depois, os textos foram divididos
em unidades de significado reconhecidas como peças-chave no texto. Foram identificados
vários temas recorrentes e elaborado um primeiro sistema de categorias. Contudo, as categorias
foram revistas e ampliadas, considerando unidades de registo relevantes que não se referiam
diretamente às questões de investigação, mas que forneciam dados importantes para o objetivo
do estudo. As categorias são constructos sociológicos (construídos pelos codificadores).
O sistema de categorias não é mutuamente exclusivo e não é exaustivo dada a
subjetividade das respostas. Os participantes socorreram-se de vários exemplos para explicar
suas ideias, demonstrando no processo não saber como responder algumas questões. Em
ocasiões começavam a responder, interrompiam o raciocínio e reiniciavam posteriormente.
Ainda assim, consideramos que o nosso sistema de categorias possui bons níveis de validade e
fidelidade porquanto decorreu do consenso entre os codificadores e as interpretações foram
feitas observando as unidades de contexto (resposta à mesma pergunta). Os dados foram
analisados com a utilização do NVIVO.
Destaque-se que um dos integrantes do grupo tem particular interesse científico e
pessoal no tema, o que pode influenciar algumas conclusões do estudo. Contudo, operámos
para que, tanto a recolha quanto a análise dos dados, refletissem ao máximo os pensamentos e
sentimentos dos participantes, permitindo alcançar resultados e conclusões úteis e não
enviesados.

Resultados
Através da análise de ocorrências foi possível observar a relevância das categorias
presentes no sistema ilustrado na Tabela 1:
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Tabela 1
Sistema de categorias e frequências
Categoria Subcategoria PP Referências
Conceito de felicidade
Relações 6 36
Individualidade 6 30
Papel no Mundo 6 15
Valores 4 11
Tomada de decisão
Relações 2 3
Individualidade 3 7
Papel no Mundo 4 12
Valores 4 9
Felicidade 6 12
Instrumento 5 15
Saúde 2 5
Relações Sociais 2 2
Motivação 4 8
Meta de vida
Referência Explícita 5 17
Referência Implícita: Orientação para o futuro 4 5
Autorresponsabilidade 6 13
Dificuldade em conceituar
Expressa 4 7
Específica: Alegria x Felicidade 4 14

Conceito de Felicidade e Tomada de Decisão


Observamos que os participantes abordaram de forma recorrente quatro temas em
ambas as categorias, evidenciando haver certa simetria entre o que os participantes entendem
por felicidade e os fatores que influenciam a tomada de decisão. Assim, foram construídas
quatro subcategorias (relações sociais, individualidade, papel no mundo e valores) para cada
uma delas, as quais serão analisadas em conjunto considerando, também, o objetivo do trabalho.

Relações Sociais
Todos os participantes referiram que as relações sociais são importantes para a
felicidade. O sociólogo menciona que "tem muito impacto quase, mas se calhar até me arrisco
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a dizer 99% no impacto". Dois participantes referiram que tomam decisões considerando as
relações sociais.

perto da família" (Técnico Administrativo).

Individualidade
Cuidar de si, estar bem consigo mesmo e atividades individuais foram referidas por
todos os participantes como sendo fundamentais para a felicidade. O Psicólogo mencionou
que me traz mais felicidade normalmente nas minhas semanas é poder ir para a praia ou para
a serra no fim de semana e caminhar e estar ali um bocado a olhar para o mar."

E três participantes afirmaram considerar esse fator ao tomarem suas decisões:

livro" (Técnico Administrativo).

Papel no Mundo
A associação entre felicidade e atividades entendidas como produtivas para o mundo
foi aludida por todos. Refere-se ao papel que o participante quer exercer perante a sociedade
(ajudar o próximo, ser útil de alguma forma, trabalho, etc.). A auxiliar de geriatria referiu que
Eu a ajudar o próximo vou sentir-me feliz, não é? Eu prefiro dar do que receber. Se tiver para
dar, sinto- .

Quatro participantes associaram essas questões ao processo de tomada de decisão:


"Aí escolhi a profissão de enfermagem para chegar a esse objetivo, portanto, ajudar
os outros, contribuir para melhorar um bocadinho " (Enfermeiro).

Valores
Tal como outros três participantes, o estudante de sociologia referiu que sua felicidade
está relacionada com valores e princípios éticos e morais, no sentido de que a questão da
felicidade é que essa questão de ter uma consciência tranquila
Quanto à tomada de decisão, o sociólogo referiu que
pondero que tenha em mente antes de tomar uma decisão é, digamos, se calhar, o valor moral".

Felicidade
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Quando questionados diretamente acerca da influência da felicidade no processo de


tomada de decisão, todos os participantes responderam positivamente, motivo pelo qual foi
incluída essa quinta subcategoria na . O enfermeiro salientou
que "penso sempre se esta decisão que vou tomar vai me trazer algum benefício em termos de
felicidade ou só me vai gastar energia".

Meta de Vida
Observando as respostas à primeira pergunta (sobre o propósito de vida dos
participantes) apenas um referiu a felicidade. Contudo, ao longo das entrevistas, seja implícita
ou explicitamente, todos referiram a felicidade como justificação da própria existência.

Referência Explícita
Cinco participantes declararam expressamente que a felicidade dá sentido à vida. O
psicólogo referiu que "de alguma maneira contribui para dar lá está o tal sentido à vida",
assim como a Auxiliar de Geriatria, a qual mencionou é importante porque, lá está, a gente
viver por viver acho que não vale a pena". O técnico administrativo disse mesmo que
.

Referência Implícita: Orientação para o Futuro


Nessa subcategoria estão incluídas as referências de que as escolhas devem estar
orientadas para a felicidade a longo-prazo e de que alguns sacrifícios devem ser feitos
momentaneamente em prol desse objetivo maior:
"Às vezes podemos tomar decisões que no momento até não seja aquilo que mais nos
apetece, que nos vais fazer feliz no momento, mas, que se calhar vai ter influência para
o futuro" (Sociólogo).

Instrumento
Entretanto, os participantes também atribuíram à felicidade uma função instrumental
de facilitar a vida, nomeadamente para energizar ou motivar as suas ações, favorecer a saúde e
os relacionamentos.

Saúde
Dois participantes mencionaram que a felicidade beneficia o estado de saúde:
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"sim porque de um modo geral vamos associar a felicidade ao bem-


que vai influenciar a nossa saúde mental e física" (Estudante).

Relações
A felicidade foi mencionada como benéfica para a manutenção das relações sociais por
dois participantes. O técnico administrativo referiu que "se nós não tentarmos atingir a nossa
felicidade, (...)
as pessoas".

Motivação
Quatro participantes referiram que a felicidade atua como um agente energizante e
motivador para ações quotidianas ou extraordinárias.
"Bem porque, digamos, que nem, digamos que é, o ponto que me motiva a acordar
todos os dias, a ir para o trabalho, a fazer a minha vida" (Sociólogo).
"as coisas mais extraordinárias que a humanidade foi capaz de fazer teve como objetivo
levar a uma forma de felicidade qualquer" (Psicólogo).

Autorresponsabilidade
Os participantes foram uníssonos em afirmar que o estado de felicidade é consequência
direta de suas decisões e que são inteiramente responsáveis pelo estado de felicidade, ou não,
em que se encontram atualmente:
"eu costumo dizer que Deus é que comanda a minha vida, não é, mas, lá está, eu é
que tomo as minhas decisões, depois se é o caminho errado, eu não sei, mas lá está,
se a gente for para o errado, nós vamos pagar as consequências, não é? É o que é,
vamos ser felizes à nossa maneira. Com as nossas decisões" (Auxiliar de Geriatria).

Dificuldade em Conceituar

Todos os participantes apresentaram dificuldades para responder a muitas das perguntas,


chegando a manifestar que nunca tinham deliberado sobre a felicidade e sobre esta articulação
entre decisões e felicidade, evidenciando que, de um modo geral, trata-se de um assunto pouco
explorado.
A confusão entre alegria e felicidade foi subcategorizada como uma dificuldade
específica em conceituar a felicidade.
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Expressa
A maioria dos participantes referiu não ter uma ideia clara sobre a felicidade. A resposta
do psicólogo ilustra bem essa situação ao destacar que "não é uma coisa que eu penso assim
tanto e que tenha desenvolvido assim tão bem na minha cabeça. Estou a ser confrontado agora
com isto, com ter de pensar sobre isto e elaborar sobre isto agora".

Específica: Alegria x Felicidade


Demonstrando a dificuldade em conceituar a felicidade, essa categoria aglutina os
fragmentos do discurso em que os participantes se referem à felicidade como momentos
alegres:
" definir-
passamos com as pessoas" (Técnico Administrativo).

Saliente-se que, quando indagados sobre quais os fatores que ponderavam na tomada
de decisão, com exceção de um participante, nenhum mencionou a felicidade. Todavia, na
quarta pergunta, quando questionados diretamente se consideravam a felicidade na tomada de
decisão, todos responderam positivamente. Isto faz-nos pensar que a felicidade está subjacente
ao processo de tomada de decisão, mas muitas vezes não se tem consciência disto, nem se pensa
deliberadamente nela no momento de decidir.
As seis observações permitem interpretar que o estado de felicidade de cada participante
está associado à satisfação que sentem em relação às suas próprias decisões, apesar de estes
não pensarem na felicidade de modo ativo. Ao tomarem decisões observam fatores mais
concretos e nem sempre consideram a felicidade como o objetivo final de suas ações.
Entretanto, no decorrer da entrevista, acabaram por relacionar a felicidade com o propósito da
própria existência e assumiram uma relação de causalidade entre suas ações e a felicidade que
sentem, ou não.
Ao longo das entrevistas, os participantes foram elaborando melhor os conceitos e
pensamentos que envolviam o tema e, no final, quando questionados sobre a utilidade da
felicidade, todos expressaram ter grande relevância nas suas vidas.

Discussão
Foi interessante perceber que a entrevista funcionou como um instrumento de recolha
de dados para nós e como uma oportunidade para os participantes refletirem e exteriorizarem
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uma perspetiva interna sobre um tema de grande utilidade e importância, talvez pela primeira
vez.
Se sentimento -
estar) como um dos fatores para a tomada de decisão, após pouquíssimo tempo, todos
atribuíram um papel de grande relevância à felicidade, em ambos os sentidos: como meta,
objetivo ou propósito da vida em si, e, ao mesmo tempo, como instrumento que facilita ou
melhora a vida. Quase como se a felicidade fosse a origem e o propósito de todas as ações e
decisões.

Limitações
As limitações do trabalho são o número reduzido de participantes, a inviabilidade de
realizar um novo contato com os entrevistados para amparar a fidelidade do sistema de
categorias e a inexperiência dos investigadores. Importante destacar que os resultados foram,
em parte, surpreendentes, pois considerando o número restrito de participantes, as categorias
foram bastante recorrentes e não seria necessário um número muito maior de observações para
alcançar a saturação.
Impende salientar, entretanto, que todos os participantes partilhavam um certo interesse
por atividades em benefício da sociedade, o que pode ter influenciado os resultados verificados
quanto à associação entre a felicidade e a influência positiva do participante na sociedade.

Implicações
No Oráculo de Delfos, à entrada do templo de Apolo, dedicado à razão e ao
conhece- . Este é um convite que alimentou
a filosofia ocidental, estimulando a reflexão sobre o homem e suas relações e sobre o mundo.
Os dados recolhidos evidenciaram a relevância do tema para a sociedade. Entretanto, o
conceito subjetivo da felicidade para cada participante era pouco claro e de difícil acesso. Estes
demonstraram não ter ideias claras acerca do propósito das suas vidas, ou dos próprios
processos de decisão, permitindo inferir que talvez seja possível que uma parte do sofrimento
causado pelas decisões humanas decorra da falta de reflexão e compreensão sobre essas
questões. O elemento fulcral foi percebermos, com este exercício, que falta autorreflexão e
autoconhecimento, mesmo em pessoas ligadas a áreas onde se explora o debate sobre estes
temas.
Contudo, as observações evidenciaram que perguntas simples podem motivar essa
autorreflexão, levando-nos a pensar na grande relevância que a psicologia, em especial a
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psicologia clínica, pode ter como difusora de um autoconhecimento que permita tomarmos
decisões mais conscientes e propositadas, para desfrutarmos de maior bem-estar emocional e
contribuir para uma sociedade mais saudável e funcional.
A nossa revisão de literatura sobre os temas felicidade, utilidade da felicidade,
processos de tomada de decisão, não revelou nenhum estudo sobre a confluência entre o
conceito de felicidade e sua relevância nos processos de tomada de decisão. Assim, o presente
estudo pode ser uma pedra basilar para investigações mais aprofundadas que visem perceber
se o fenômeno observado também ocorre em outras populações, evidenciar suas causas,
qualificar e quantificar suas consequências, avaliar possíveis soluções a níveis individuais,
institucionais e de políticas públicas. Num mundo onde muito do nosso sofrimento resulta da
frustração associada às nossas decisões pouco conscientes e deliberadas urge implementar
soluções em prol do bem-estar generalizado da população e o apaziguamento social. Soluções
estas que podem ser tão simples como promover, enquanto sociedade, a antiga máxima dos
filósofos gregos conhece-te a ti mesmo .
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Referências

Aristóteles.(2020). Ética a Nicómaco. 7ed (A.Caeiro, Trad.). Quetzal.


Epicuro. (2002). Carta sobre a felicidade. (A. Lorencini & E. Carrator, Trads.). Fundação
Editora UNESP. https://fernandonogueiracosta.files.wordpress.com /2015/01/epicuro-
carta-sobre-a-felicidade.pdf
Freud. S. (2008). O mal-estar na civilização. (I.Silva, Trad.). Relógio d'Água. (Trabalho
original publicado em 1930).
Platão. (2019). O banquete. (M.Viana, Trad) Tinta-da-China. https://tintadachina.pt/wp-
content/uploads/banquete_ver-interior.pdf
Rousseau. J.J. (1996). O contrato social. (A. Danesi, Trad). 3ªEd. Martins Fontes. (Trabalho

original publicado em 1762). https://marcosfabionuva.files.wordpress.com/2011/08/o-

contrato-social.pdf
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Anexo A - Dicionário de Categorias

Categoria Subcategoria Descrição Exemplo


Associação entre felicidade e laços
afetivos (família, filhos ou amigos). "Família. Eu sou feliz com a minha
Relações Menções sobre um ambiente social e família, não é? E com os meus filhos"
relacional desajustado como fonte de (Aux. Geriatria).
infelicidade.

Associação entre felicidade e a


"Daquilo que me traz mais felicidade
individualidade do participante, como
normalmente nas minhas semanas é
ter tempo para si, para fazer atividades
poder ir para a praia ou para a serra
Individualidade prazerosas sozinho, sentir-se livre para
no fim de semana e caminhar e estar
fazer o que quer, para decidir. Menções
ali um bocado a olhar para o mar."
sobre a felicidade ser um estado de
(Psicólogo)
bem-estar "interno".

Conceito de Associação entre felicidade e "penso que pelo menos o meu


Felicidade atividades entendidas como produtivas propósito penso que seria de ajudar.
para o mundo. Referem-se ao papel De alguma forma ou nem que seja só
Papel no Mundo
que a pessoa quer exercer perante a uma pequena parte a tornar este
sociedade (ajudar o próximo, ser útil de mundo um bocadinho melhor"
alguma forma, trabalho etc.) Enfermeiro)

-nos fiéis àquilo que

mantermos os nossos princípios" (T.


Associação entre a felicidade e agir
Administrativo). "Faço sempre aquilo
conforme seus valores morais,
Valores que gostava que fizessem para mim.
princípios e necessidade de ter a
Mesmo que saiba que do outro lado
consciência tranquila.
não é isso que eu posso esperar, mas o
importante é que eu fiz o meu papel"
(Aux. Geriatria).

"A nível de tomar decisões como


Associações feitas pelos participantes
aceitar um trabalho: se é muito longe
Relações entre as decisões tomadas e as pessoas
ou muito perto da família" (T.
que gosta.
Administrativo).

Associação entre decisões e a


"Estou a fazer coisas de que eu gosto e
individualidade do participante, como
por isso sinto-me bem" (Psicólogo)
ter tempo para si, para fazer atividades
Individualidade
prazerosas sozinho, para resistir às
que seja só o facto de conseguir ler um
influências sociais, ter liberdade para
livro" (T. Administrativo).
fazer o que quer.
Tomada de
Decisão
Associações feitas pelos participantes "Aí escolhi a profissão de enfermagem
entre as suas decisões e a seara para chegar a esse objetivo, portanto,
Papel no mundo produtiva de sua vida, seja em termos ajudar os outros, contribuir para
de trabalho quanto de fazer algo de útil melhorar um bocadinho "
para a sociedade ou para alguém. (Enfermeiro).

Associações feitas pelos participantes "A primeira coisa que pondero que que
entre as decisões que tomam e os tenha em mente antes de tomar uma
Valores
valores éticos e morais e princípios que decisão é, digamos, se calhar o valor
carregam. moral" (Sociólogo)
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Menções dos participantes de que


pensam na felicidade ao tomarem
decisões de curto ou longo prazo. "Penso sempre se esta decisão que vou
Respostas decorrem da provocação tomar vai me trazer algum benefício
Felicidade
direta dos entrevistadores. Nenhum em termos de felicidade ou só me vai
participante mencionou a felicidade gastar energia" (Enfermeiro).
como um fator na pergunta aberta
sobre tomada de decisões.

"sim porque de um modo geral vamos


associar a felicidade ao bem-estar.
Referências sobre a utilidade da [ ] É isso que vai influenciar a nossa
Saúde felicidade para a saúde, seja mental ou saúde mental e física" (Estudante). "Eu
física. acho que pode ser útil, [...]: nós
mantermos tanto a nossa sanidade
mental" (T. Administrativo)

"se nós não tentarmos atingir a nossa


Referências sobre a utilidade da felicidade,(...) tudo à nossa volta vai
felicidade nos relacionamentos, ser muito escuro, de alguma forma, e
Relações
nomeadamente para a solução de nós vamos encarar a vida, e tanto a
Instrumento
conflitos. forma como lidamos com as pessoas"
(T. Administrativo).

"Bem porque, digamos, que nem,


digamos que é, é, é se calhar o ponto
que me motiva a acordar todos os dias,
Referências sobre a utilidade da
a ir para o trabalho, a fazer a minha
felicidade como instrumento que
Motivacional vida" (Sociólogo). "as coisas mais
motiva a fazer algo específico, ou a
extraordinárias que a humanidade foi
encarar a vida no geral.
capaz de fazer teve como objetivo levar
a uma forma de felicidade qualquer"
(Psicólogo).

"De alguma maneira contribui para


dar lá está o tal sentido à vida"
Menções que referem que a felicidade
(Psicólogo). " Eu acho que é
Referência Explícita envolve todas as decisões e que é
importante porque, lá está, a gente
subjacente às escolhas em geral.
viver por viver acho que não vale a
pena" (Aux. Geriatria).
Meta de Vida
"às vezes podemos tomar decisões que
Menções de que as escolhas devem
Referência no momento até não seja aquilo que
estar orientadas para a felicidade a
Implícita: mais nos apetece, que nos vais fazer
longo-prazo e que alguns sacrifícios
Orientação para o feliz no momento, mas, que se calhar
devem ser feitos momentaneamente em
futuro vai ter influência para o futuro"
prol de um bem-estar futuro.
(Sociólogo).
Felicidade e Tomada de Decisão 15

"eu costumo dizer que Deus é que


comanda a minha vida, não é, mas, lá
está, eu é que tomo as minhas decisões,
depois se é o caminho errado, eu não
Menções de que o estado de felicidade,
sei, mas lá está, se a gente for para o
Autorresponsabilidade ou de não felicidade, decorre das
errado, nós vamos pagar as
próprias decisões.
consequências, não é? É o que é,
vamos ser felizes à nossa maneira.
Com as nossas decisões" (Aux.
Geriatria).

Referências que denotam a dificuldade "não é uma coisa que eu penso assim
dos participantes em responder às tanto e que tenha desenvolvido assim
questões de forma direta, tão bem na minha cabeça. Estou a ser
Expressa
nomeadamente por falta de elaboração confrontado agora com isto, com ter de
conceitual, ou pobre utilização no dia a pensar sobre isto e elaborar sobre isto
Dificuldade em dia. agora" (Psicólogo).
Conceituar

"definir- é que não é


Fragmentos do discurso em que os
Específica: um todo, são realmente os momentos
participantes se referem à felicidade
Alegria x Felicidade que nós passamos com as pessoas" (T.
como momentos alegres.
Administrativo).
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Anexo B Guião

1. Acredita que sua vida tem um propósito? Se tem, qual? Por quê?

2. Podes enumerar, por ordem de importância, quais fatores que considera no

momento de tomar decisões em sua vida?

4. Quão importante é a felicidade para si no seu dia-a-dia? Pensa na felicidade ao

tomar tuas decisões?

5. Na sua opinião, quais são as maiores barreiras à felicidade?

6. Quais são os ingredientes mais importantes para uma vida feliz?

7. Quais são as coisas na sua vida que lhe trazem mais alegria e satisfação?

8. Como acha que o seu ambiente (incluindo família, amigos, trabalho, comunidade,

etc.) tem impacto na sua felicidade?

9. Como definiria felicidade?

10. Acha que a felicidade é útil? Por quê? Como?

11. Que conselho daria a alguém que procura a felicidade?

12. Como se sente em relação à sua vida? Acredita que suas decisões são responsáveis

por isso?
Felicidade e Tomada de Decisão 17

Anexo C Entrevistas

Participante A / 33 anos / Solteiro / Angolano / Estudante

Entrevistador (E): A primeira pergunta é: acredita que a sua vida tem um propósito se
sim qual e porquê?
A: Tem sim um propósito a partir de várias ideologias. Sei, andei a ler e por aí em diante e eu
acredito nisso que qualquer um aqui tem um propósito. Quanto a mim portanto dizer qual é o
meu propósito, assim como tal, eu vou descobrindo cada dia e acho que isto aqui é um processo.
Enquanto mais novo, pensamos alguma coisa depois vamos para outro estágio da vida em
determinadas situações onde também pensamos outra coisa, portanto a nossa orientação é outra.
Nessa altura também eu sinto que tanta coisa é outra, e aquilo que eu costumo dizer, das coisas
que eu já fiz e vou fazendo, dos grupos que eu vou participar, portanto vamos descobrir cada
vez mais, pelos outros que para mim mesmo e tudo que eu procuro fazer no fundo é que tenha
reflexo. O reflexo seja de forma positiva na vida de outra pessoa o que leva à questão de
associativismo e por aí em diante, comunidades.

E: A segunda questão é: podes enumerar por ordem de importância quais são os fatores
que consideras do momento de tomar decisões? Que fatores é que tens em conta?
A: Primeiro é, portanto, para se tomar uma decisão, seja qualquer coisa, é muito em função do
que já falámos aqui atrás. É o propósito. Portanto, saber quais são os objetivos, coloco sempre
na balança, portanto, a decisão que eu vou tomar face os resultados. Os fatores estão muito
ligados àquilo que são as minhas ambições, o que eu quero ou não, os meus planos que tracei
ao longo, a curto e a longo prazo. É isso que pesa, por exemplo, ao tomar a decisão de vir para
cá estudar, portanto, foi muito em função daquilo que eu penso, daquilo que eu quero atingir,
o que está no espaço, por exemplo, de 5,6,7 anos. Eu larguei quase tudo o que eu tinha lá, as
coisas que eu fazia, o meu emprego por aí em diante, e estou suspenso porque tomei a decisão
de vir cá estudar. Isto porquê? Porque eu fiz já uma leitura, portanto, muitos desafios estão por
vir. Nada melhor do que estar preparado, para depois, digamos, assim conseguir enfrentar esse
desafio que no fundo foi mais ou menos isso, tendo com base em minhas ambições, a leitura
na rede social que eu fiz. A sociedade está cada vez mais exigente, portanto, isso implica estar
preparado. Estar preparado implica ter algo, ter uma formação, e então foi mais ou menos com
Felicidade e Tomada de Decisão 18

base nisso. Também decisão partilhada. É eu olhar para o futuro com base naquilo que eu, que
eu pretendo. Esse no fundo foi um fator.

E: Agora a terceira pergunta é: diga uma palavra que associa a palavra felicidade.
A: Para mim é, eu preocupo-me muito com a minha consciência, ou seja, eu digo sempre. Eu
não me arrependo das coisas que eu faço, eu me arrependo daquilo que eu não fiz, porque ao
tomar a decisão para estar aqui neste momento é porque eu quero estar aqui, então para mim
nada melhor do que o controlo emocional. É difícil mas para mim a questão da felicidade está
muito ligada a viver um momento, deixar de estar a se preocupar com o que é que vai acontecer
depois não é? Eu vivo o momento. Estamos aqui, votámos e por aí em diante. Não sei dizer
exatamente. A questão da felicidade é que essa questão de ter uma consciência tranquila. Isto
aqui é, portanto, também. Já pediu só uma palavra não é, podia ligar também a questão do bem-
estar emocional. Isto preocupa porque, portanto, o nosso estado emocional acaba por
influenciar muito nas nossas atividades diárias. Já dizem muitos nós que somos aquilo que
pensamos e aquilo que nós pensamos, quer seja de forma positiva ou negativa, acaba por ter
feito no nosso corpo não é? Esta chamada doença psicossomática traduz pensamentos e por aí
em diante. Muitas ambições em mais ou menos tempo. Quem não conseguiu isso gera
frustração, portanto, se conseguir controlar isso tudo acaba. Pronto acabei por ser uma pessoa
feliz, mas eu digo para mim, felicidade é viver momentos, lá está, em função das circunstâncias.
Se adaptar àquele ambiente que é para não estar a dizer que o Estado, que está do seu lado, não
é do tipo, estamos aqui a conversar mas tu notas que estou aqui mas parece não estou, não é?
Acaba por transmitir uma energia negativa porque não é aquilo que você quer, ou estás com
medo porque devias estar nesse lugar a fazer o que queres fazer, portanto, se estou aqui é porque
eu queria estar.

E: O quão importante é a felicidade para ti no teu dia a dia e se pensas na felicidade ao


tomar as tuas decisões?
A: A questão de felicidade é muito subjetiva. Porque se gostamos assim tanto de um indicador,
vai dizer para um indivíduo que se é feliz quando tem isto. Olha, falando dessa coisa, eu quando
cheguei há 1 ano e as voltas que eu dei, conheci um pouquinho de Lisboa porém diante contato,
eu fui ter com algumas pessoas, até nos tornámos amigos. Mas eu vi isso. Tu tens aqui as
mínimas condições. Dei conselhos tipo, se você conhecer o meu país então boa noite, ainda tu
reclamas disso não é? Então é muito em função disso, em função do contexto, em função da
realidade, em função de tudo isso. Se me perguntares se és feliz ou estás feliz eu vou dizer que
Felicidade e Tomada de Decisão 19

sim. Porque eu escolho sempre muito bem os sítios onde eu vou, não tenho nada a perder. Então
eu quando não tenho nada a perder, portanto, eu volto que eu sei que é algo bom. Posso não
sentir agora, mas depois eu senti que aquela questão que eu disse que preocupo-me muito com
a minha consciência.

E: Okay, na tua opinião quais são as maiores barreiras à Felicidade?


A: Olha, os outros, são os outros. Porque nós enquanto pessoas, enquanto indivíduos, somos
sociais, acabamos por ter, acabamos por ser aquilo que a sociedade quer, aquilo que a sociedade
deseja, e muitas vezes aquilo que a sociedade quer, aquilo que a sociedade deseja, que impõe,
às vezes acaba por ser contra os seus ideias. Se é obrigado a aceitar os padrões sociais muita
das vezes acabam por ser esse grande, essa grande barriga não é? E depois os outros também,
está ligado muito àquilo que os outros mostram ser, que no fundo não são, e tu acabas por ter
um choque. Dizer assim, para eu ser feliz, por exemplo, pensar em ser para eu ser feliz até
agora, um telemóvel, por exemplo, que todo mundo em todo o sítio onde eu vou é um iPhone
14 Max, por exemplo, aí vê-se todo mundo bem. Isso acaba por ter um impacto negativo,
portanto, eu sei dizer não. Para eu me sentir assim eu pareço feliz, também para ser aceite, se
casar naquele grupo, isso acaba muito por influenciar aquilo que nós somos. Atenção, mas isso
também possa ser, até dizer de um modo geral, mas depende muito de cada um porque aquelas
pessoas que emocionalmente são mais fortes resistem a essa influência externa. Na sua maioria
acabamos por ter mais influências externas do que propriamente ser o que nós somos, porque
um indivíduo sozinho duvida assim muito não é? Até que ponto você se diz sozinho, porque
todo homem é pessoa, é um ser social. As pessoas deprimidas que pronto vão encontrando
refúgio sobretudo no uso de drogas e por em diante para pronto, para ver se conseguem guardar
as suas amarguras para ter aí uma pseudo-felicidade, não é? Portanto possa sair ao tomar aquilo,
ao consumir uma determinada coisa, portanto ele passa aquela ilusão de que também naquele
momento está feliz depois quando volto à realidade, quando volta está tudo estragado. No
fundo lá está, para ter esse controle e equilíbrio emocional nos grupos onde normalmente eles
vão-me inserindo, também acabam por transmitir isso. Estou aqui depois assim, por exemplo,
tem um dia sempre que eu vou dançar, portanto, vou participar nas danças e por aí em diante.
Aqui portanto essas coisinhas acabam por preencher tudo, transmitir uma energia positiva. Tem
a ver com isso, são os outros, exatamente, os padrões sociais.

E: Agora quais são os ingredientes mais importantes para uma vida feliz?
Felicidade e Tomada de Decisão 20

A: Se calhar não há aqui assim uma fórmula, uma fórmula secreta. Não há tipo uma fórmula
como se fosse tipo para fazer bolo não é? Tem que ter farinha tem que ter ovos, porque o ser
humano é complexo e esquisito. Nesse sentido porque cada um veio trazer o seu conceito de
felicidade. Esse conceito de felicidade está muito ligado ao contexto, ou seja, a família onde
pertence. Só para termos uma ideia, por exemplo, não digo eu, mas há muitos estudantes que
ao tomar a decisão de vir aqui para o ISCTE, porque, por exemplo, sabiam já alguma coisa: o
país que tem uma das melhores instituições e por aí em diante, os professores, mas depois à
medida que se abriu ao longo da sua formação vai percebendo algumas coisinhas, que se calhar
valeria a pena escolher uma outra universidade porque são diferentes das minhas expectativas,
por exemplo. Eu não lhe consigo pelo menos, eu tenho dificuldade em dizer assim, para um
indivíduo ser feliz é necessário isso aqui.

E: Quais são as coisas na tua vida que te trazem mais alegria e satisfação?
A: Saúde, por exemplo, ter uma formação, ter um emprego, ser amado por alguém, transmitir
amor, ter uma família, enfim. Mas um indivíduo jamais vai ter essas coisas todas, um só jamais.
Há sempre alguma dificuldade, alguma coisa não está bem, ou na formação, há sempre alguma
coisa, há sempre, digamos assim. Mas também não estou a dizer que não existe alguém neste
mundo que tem essas coisas todas não é? E até aliás as pessoas que têm essas coisas todas
chegam a uma certa fase, um momento querem experimentar uma outra vida. Um indivíduo
bem-sucedido na família, tem emprego, tudo o que deseja está aos seus pés, mas ainda falta
alguma coisa. Se houvesse uma forma de toda a gente saber exatamente, porque para mim
assim a questão da prova, que é aquilo que eu digo, tanto em função de estar preocupado com
a minha consciência estar focado com a questão das emoções não é? Então é mais ou menos
isso. Agora você vai trazer outro ponto de felicidade. Há quem vai dizer que sou feliz porque
sou uma pessoa livre. Sempre que quiser estar sempre a viajar e por aí adiante. Sou uma pessoa
feliz porque tenho uma família que presta atenção quando eu falho. Hoje sou assim porque eu
já recebi muita muitos telefonemas, já recebi mensagens, e até pessoas dizem assim: eh pá tu
tens uma cena fixe que é: tu às vezes não percebes mas acabas por ter uma influência positiva
na nossa vida estás a ver? Eu Não sou uma pessoa muito parada, eu gosto de fazer coisas. Eu
acredito nisso não é? Quando fazemos o bem nós vamos conseguir transformar o mundo. Nós
acabamos por ter influência externa. A nossa exposição acaba no fundo por também constituir
um problema para a nossa própria felicidade. Aquilo que nós damos aos outros, porque em
função disso as outras pessoas vão construir uma imagem de quem somos ou de quem não
somos, portanto há que se ter muito cuidado. As famílias ou grupo de amigos podem contribuir
Felicidade e Tomada de Decisão 21

E: Para ti como é que definirias Felicidade?


A: É meio complexo, difícil, definir a felicidade para mim. Pode ser um pouquinho egoísta,
mas não. Para mim a felicidade vai ser basicamente conseguir ter controle das coisas. É difícil
ter o controle das coisas não é? No fundo para mim a felicidade de estar a desfrutar das
pequenas coisas que você vai conseguindo ou vai conquistando, não onde estiver, com quem
estiver. Então é prestar atenção. Não ter medo das consequências que terá em função das
decisões tomar. Consegues uma certa liberdade, consegues ter um controlo emocional das
coisas, para não cair naqueles padrões sociais. A felicidade consiste em meter coisas cor de
rosa, por exemplo. Que é normal ter um blazer cor-de-rosa. Depois são aquelas coisas que
acabamos de fazer de forma inconsciente, não é? É difícil felicidade, mas, eu não consigo tirar
exatamente uma definição. Há mesmo aqui a questão de estar bem comigo mesmo, às vezes é
só um momento, mas és feliz. Se calhar nesse momento não é ser feliz, é estar feliz. Isso, enfim,
depende a quem vê felicidade. É um prato, por exemplo, favorito estar a comer sempre aquela
coisa anual. Acho que nem deve haver uma resposta digamos correta. Para mim ter esse
controlo emocional, lá está.

E: A próxima pergunta é: achas que a felicidade é útil porquê?


A: sim porque de um modo geral vamos associar a felicidade ao bem-estar. Desde a questão da
saúde mental e física. É isso que vai influenciar a nossa saúde mental e física. Também são os
bens materiais, são os valores que nós carregamos, são os amigos que nós temos. Está muito
ligado à questão da realização das nossas coisas, por exemplo, há quem não é feliz porque,
portanto, nunca teve oportunidade de participar um determinado grupo ou por exemplo de
participar num casting. Sonha ser músico e está sempre a tentar, e nunca vai conseguir. Será
que essa pessoa se considera como alguém feliz, apesar de estar a falhar? Quando um dia lá
conseguir fazer esse casting e só participar naquela atividade será uma pessoa completamente
diferente? Se calhar depois de participar, se calhar pergunta: será que é só isto ou será que é só
aquilo? É um processo nessa questão de felicidade, uma caminhada. Felicidade não é um fim,
não é? No fundo pode ser até um meio para conseguirmos algumas coisas, para estarmos bem.
Não há assim um fim onde se eu conseguir telemóvel você fosse feliz.

E: Que conselho darias a alguém que procura a felicidade?


Felicidade e Tomada de Decisão 22

A: Eu cheguei aqui, por exemplo, a Portugal já no ano passado e encontrei inúmeras


dificuldades, inúmeras dificuldades. É um país totalmente diferente do meu, desde a realidade
social, as coisas, tudo completamente diferente. Mas em contrapartida em nenhum momento
eu dei por mim assim: estou farto disso, estou farto daquilo. Eu acho que não, que é, não sou
muito também de desejar assim as coisas, que é, digamos, assim, estar a dizer as coisas de
forma imediata para depois não cair em frustração não é? Porque sou um indivíduo muito
comedido. Sei aceitar a condição que eu me encontro e depois começar a ver se vou conseguir
isso, mas agora ainda não. Mas eu vou fazer para conseguir isso, portanto eu vou me comportar
assim, devo fazer isso, conhecer pessoas e tal, então é um conjunto de vários processos. Agora,
eu apenas vou partilhar essas experiências, porque às vezes aquilo que nós achamos bom para
nós, eu ia pedir essa questão do controlo emocional: primeiro saber se a pessoa tem sonhos e
desejos. As pessoas escolhem o seu projeto de vida. Eu ia começar essa minha pergunta com o
ponto de partida, qual o seu projeto de vida. Em função do seu projeto de vida o que é que você
tem, como é que você quer fazer essas coisas? Tem que olhar para a rotina dele. O que essa
pessoa tem. Depois dizer: bom meu caro aquilo, tendo em conta o seu projeto de vida, se você
conseguir em 10, 15, 20 anos, então se calhar vai ter que mudar um pouquinho o seu padrão,
ou mudar um pouquinho seus ideais, porque se andar muito a flutuar tens que vir por os pés na
Terra. Ver as coisas com olhos de ver. Não aquele sonho que nos vendem, através dos meios
de comunicação social, até é bom mas lança a mais e não pode ser. Não vai buscar utopias que
é para depois caírem frustrações não é? Tens que mensurar as coisas que você quer, depois ver
se é realizável ou não, exatamente, como é possível realizar, quais são as pessoas que nos
podem ajudar, e de que forma. Isso é muito determinante porque como não sabemos, há relatos
de muitas pessoas que acabam hoje por ter uma vida pouco menos boa, em função disso, porque
se conduziram mal, foram pelo caminho mais curto, mas é errado. Quando com um pouquinho
mais de paciência, de resiliência, se calhar podia ter chegado lá.

E: Como te sentes em relação à tua vida e se acreditas que as tuas decisões foram
responsáveis por isso ou se são responsáveis por isso?
A: Faltam-me coisas, sobretudo materiais, porque não consigo dar resposta a todas as
necessidades. Mas estou onde eu quero estar, e é isso. É muito essa coisa de felicidade. Sim as
decisões que eu tomei acabaram por influenciar naquilo que eu sou neste momento. É isso,
então eu não me arrependo das coisas que eu fiz.
Felicidade e Tomada de Decisão 23

Participante AF | 35 anos | Solteiro | Português | Auxiliar de Geriatria

Entrevistador (E): Antes de começarmos com as perguntas, é importante dizer-lhe que a


qualquer momento pode desistir e, se não quiser responder a alguma pergunta em
especial, basta falar e nós passamos à frente.
AF: Ok.

E: Antes das perguntas concretas, vou pedir-lhe que me dê algumas informações sobre si,
como por exemplo, a sua nacionalidade.
AF: Portuguesa.

E: Qual é a sua profissão?


AF: Auxiliar de geriatria.

E: A sua idade?
AF: 35.

E: O seu estado civil?


AF: Solteira.

E: E tem filhos?
AF: Qautro.

E: Ok, obrigada. Então agora passamos para as perguntas, sim? Acredita que a sua vida
tem um propósito?
AF: Não percebi a pergunta.

E: Acredita que a sua vida tem um propósito?

E: E, se sim, então qual?


AF: Pois, porquê? Desde que fui mãe muita coisa mudou na minha vida, não é? Lá está, pode-
se dizer que hoje não penso tanto em mim e penso no futuro dos meus filhos. As pessoas têm
razão no que dizem e já levei que chegue. É levar a vida o melhor possível.
Felicidade e Tomada de Decisão 24

E: Ok. Então e, se pudesse enumerar, por ordem de importância, que fatores é que
considera no momento em que toma decisões, na sua vida?
AF: Pois, as minhas decisões. Sei lá. Eu pondero muito as minhas decisões, não é? Antes de
tomar decisões eu tenho que pensar muito bem naquilo que, ou seja, penso no bom e no mau,
não é? É como meter numa balança. Depois, lá está, também sou uma pessoa de arriscar. Quem
não arrisca não petisca. Lá está, é isso, eu penso muito no que poderá acontecer, quais são as
vantagens e as desvantagens.

E: Ok. Diria que põe na balança e tenta perceber quais são as vantagens e desvantagens.
AF: Exatamente, sim.

E: Ok. E mais alguma coisa?


AF: Não.

E: Não? Ok. Então, numa palavra, ou melhor, que palavra associa a felicidade, quando
pensa nela?
AF: Felicidade. Sei lá. Família. Eu sou feliz com a minha família, não é? E com os meus filhos.

E: Ok. E quão importante é a felicidade para si, no seu dia a dia?


AF: Eu acho que é importante porque, lá está, a gente viver por viver acho que não vale a pena,
não é? Durante um dia inteiro, de 24 horas, tem que haver momentos felizes se não o que é que
andávamos aqui a fazer, não é? Exatamente. Sim, lá está, sim.

E: E pensa na felicidade quando toma decisões?


AF: Exatamente. Sim, lá está, sim.

E: E, na sua opinião, quais são as maiores barreiras à felicidade?


AF: Olha, a maior barreira é a falta de saúde, não é? Porque a gente sem saúde não consegue
ser feliz, não é? Eu acho que a saúde é essencial. Dizem que o dinheiro isto, o dinheiro aquilo,
mas o dinheiro, se a gente for a ver, é papel, não é? Também tenho a noção que se a gente tiver
muito dinheiro, se calhar resolve a situação mais rápido. Se não tivermos, lá está, é mais difícil.
Mas a saúde, eu acho que é o essencial de tudo.

E: Ok. E quais os ingredientes mais importantes para uma vida feliz?


Felicidade e Tomada de Decisão 25

AF: Amor, compaixão, humildade. Há tantos, Beatriz!

E: Então são estes que destaca?


AF: Sim.

E: Ok. E quais são as coisas na sua vida que lhe trazem mais alegria e satisfação?
AF: É os meus filhos. Estar com os meus filhos, estar com o meu companheiro, ver a minha
mãe bem. Acho que isto é o principal.

E: E como acha que o seu ambiente, ou seja, a família, amigos, o trabalho, pode ter
impacto na sua felicidade?
AF: Muito, muito. O trabalho não tanto porque, lá está, uma pessoa vive aqui e amanhã estamos
no ir, não é? Mas eu acho que a família é a nossa base. Quem não tem uma família com ponta,
não tem base. Porque, pronto, sem família não somos ninguém, não é? Podemos dizer não,
mais vale sozinho que mal-acompanhado, eu sozinho consigo, mas não é bem assim. Nós
precisamos sempre de alguém.

E: E como definiria felicidade?


AF: Felicidade. Então, amor, paz. Felicidade, lá está, é nós estarmos bem connosco próprios.
Não sentir rancor de ninguém, nem odio, não é? Se a gente viver a tentar causar mal nos outros,
acho que ainda é pior, não é? Não fazer o que nos fazem a nós. Tento sempre inverter os papeis.
Faço sempre aquilo que gostava que fizessem para mim. Mesmo que saiba que do outro lado
não é isso que eu posso esperar, mas o importante é que eu fiz o meu papel.

E: E acha que a felicidade é útil?


AF: Muito, muito. Muito útil.

E: E porquê?
AF: Porque, lá está, se nós não nos sentirmos felizes, não nos sentimos bem. Eu acho que a
felicidade não é só, é viver de momentos, não é? Por exemplo, eu sou feliz a ir almoçar com os
meus filhos, sou feliz a ir no parque com os meus filhos. Lá está, momentos de felicidade.
Porque depois eu não vou dizer que somos felizes 24 horas, não é? Mas se não houver um único
momento em 24 horas que a gente se sinta feliz, acho que não vale a pena andarmos aqui, não
é? Lógico que há dias e dias, não é. Há dias que são mais complicados do que outros. Mas
Felicidade e Tomada de Decisão 26

momentos de felicidade é isso. É, depois de um dia de trabalho, chegar a casa e ver o sorriso
dos meus filhos, não é? Logo aí já vou ter um momento de felicidade.

E: Então e que conselho daria a alguém que procura a felicidade?


AF: Conselho para quem procura felicidade. Pensar nela [na pessoa]. Pensar nos que estão
próximos dela. E lá está, não sentir tanto odio e tanto rancor porque eu vejo pelas minhas ações
ao início, as pessoas é cada uma por si, nós a ajudar os outros vamos sempre, lá está, eu a ajudar
o próximo vou sentir-me feliz, não é? Eu prefiro dar do que receber. Se tiver para dar, sinto-
me muito mais feliz do que ao receber. Lá está, é o que eu digo, dar mais de nós no nosso dia
a dia, na rua. Ajudar um velhote, sei lá, tanta coisa que a gente, eu própria me sento feliz, num
ato simples, não é? É um ato de felicidade e é isso que eu digo às pessoas, tentem. Há pessoas
que dizem, por exemplo, eu tenho a minha irmã que, neste momento, está a viver uma depressão
e é o que ela diz, que não tem vontade de fazer nada. E eu digo-lhe, não, se começares a olhar
mais para o lado e ajudares os outros, tu vais ver que há vidas muito piores que a tua. E logo aí
tu vais sentir outra vontade. Não, vou por este caminho, vou ajudar os outros que me vou sentir
feliz. E pronto, basicamente é isso, lá está. Ajudarmo-nos uns dos outros.

E: E como se sente em relação à sua vida? Acredita que a suas decisões são responsáveis
pela forma como se sente em relação à sua vida?
AF: Sim, lógico. Porque só eu que tenho, eu costumo dizer que Deus é que comanda a minha
vida, não é, mas, lá está, eu é que tomo as minhas decisões, depois se é o caminho errado, eu
não sei, mas lá está, se a gente for para o errado, nós vamos pagar as consequências, não é? É
o que é, vamos ser felizes à nossa maneira. Com as nossas decisões. Um dia a seguir ao outro,
não é?

E: Ok. Acha que tem mais alguma coisa a acrescentar?


AF: Não, acho que não. Acho que é isso.

E: Então, terminámos a entrevista.


AF: Ah, foi rápido!
Felicidade e Tomada de Decisão 27

Participante D | 31 anos | Solteiro | Português | Psicólogo

Entrevistador (E): Primeiro, vou começar por perguntar-te o teu nome, idade, profissão
e estado civil.
D: Nome completo , tenho 31 anos. Qual era a outra coisa? Estado civil solteiro....ah...e
profissão psicólogo e investigador. Ah ...isto é para testar a memória de trabalho (risos)

E: Então primeira pergunta: acreditas que a tua vida tem um propósito?


D: Fogo! Isto começa logo com perguntas... Se eu acredito que a minha vida tem um
propósito...mas o que? Se eu acho que a vida tem um propósito transcendental, ou se eu acho
que eu tenho de dar um propósito à minha vida? Ah, eu acho que eu tenho de dar um propósito
à minha vida sim!

E: Qual?
D: (Risos) Não acredito que eu concordei em fazer isto (Risos) Ok, então, qual é o propósito
da minha vida, ou qual é o propósito da vida das pessoas em geral? Eu acho que o nosso
propósito tem qualquer coisa a ver com o facto de vivermos de forma coletiva, portanto, acho
que o nosso propósito tem de ser sempre o de conseguir vivermos as nossas vidas, cumprirmos
os nossos propósitos pessoais, desenvolvermos o nosso máximo potencial, mas sempre tendo
em vista o bem comum. Eu acho que isso deve ser sempre o propósito da vida das pessoas.

E: Das pessoas e da tua?


D: Sim exatamente e da minha em particular... Mas não sei se isto é demasiado genérico para
aquilo de que vocês estão à procura...

E: Ah... E porquê?
D: Porque é que eu acho isto?

E: Não, porque é que achas que as pessoas devem ter este propósito orientado para o bem
comum?
D: Porque... Para já, porque é impossível viver de outra maneira, pronto, acho que isso seria o
colapso da sociedade. Portanto, é o motivo mais imediato e... Pronto... Acho que é um bocado,
isso, não é? [pôr reticências nesta parte se acharem bem] Acho que é isso que mantém o
equilíbrio das coisas, não é? É isso que nos impede de não andarmos em guerra. Aqueles que
Felicidade e Tomada de Decisão 28

não andam em guerra. E acho é o que torna suportável acho eu a vida na Terra, portanto o ser
humano.

E: Podes enumerar, por ordem de importância, quais os fatores que consideras no


momento de tomar decisões na tua vida?
D: Tomar decisões, todas as decisões? Sei lá...

E: Há fatores comuns?
D: Pá isso é difícil... Decisões... O que é que eu vou almoçar, por exemplo... Quer dizer, acho
que sempre todas as decisões têm uma base... Quer dizer... Estou a tentar perceber o que é que
tem em comum, se de facto podemos generalizar para todo o tipo de decisão, mas... Eu, por
exemplo, quando faço uma escolha sei lá alimentar, ou seja, o que for, tenho que pesar questões
como a conveniência, se é bom ou mau para mim, sei lá para o planeta por exemplo, ou seja,
para o contexto. Eu acho que, se calhar se pode generalizar, não? Muitas vezes fazemos este
tipo de peso entre vantagens pessoais, vantagens para os outros barra comunidade...E por
isso...como é que se faz isto? É que eu acho que na realidade depende muito da situação e do
contexto. Não decidimos sempre da mesma forma, não é? Por isso é que não consigo
propriamente hierarquizar o que é que pesa mais numa tomada de decisão para mim, porque
acho que tem de ser sempre um jogo entre as motivações pessoais e expressões da situação.
Não sei se estou a ser muito claro...

E: E assumindo que se trata de decisões que têm mais impacto a longo prazo. Não coisas
como o que vais almoçar hoje, mas coisas como o que é que vais estudar, se vais casar, se
vais ter filhos, comprar uma casa num sítio qualquer... Responderias diferente?
D: Ou seja, macro decisões de vida com impacto a longo prazo

E: A médio-longo prazo, sim.


D: Eu acho que quando se toma decisões a longo prazo aí tendemos a pensar se calhar mais no
benefício pessoal, ou seja, será que isto vai ser vantajoso para mim, porque vão ser 5 anos da
minha vida que eu vou estudar ou não sei quanto tempo, ou que eu vou estar a viver aqui neste
sítio. Por isso são uma decisão de pesar todos os prós e os contras associados àquela escolha
no fundo e tentar ver exatamente o que é que é mais... está mais de acordo com os nossos
valores e com os nossos objetivos de vida. Por exemplo, quando nós temos uma profissão, ou
quando temos um trabalho, por exemplo estamos perante uma decisão complicada. Será que
Felicidade e Tomada de Decisão 29

vou escolher porque esta é a melhor decisão em termos da minha carreira, ou será que vou
escolher o trabalho em função do estilo de vida que quero ter? Que por exemplo, são coisas
muitas vezes que podem ser compatíveis, mas muitas vezes não são, não é? E eu nesta fase
começo a, por exemplo, neste tipo de situação começa... Se alguns anos atrás era óbvio que iria
tomar aquilo que fosse mais vantajoso em termos, por exemplo, de carreira e de trabalho. Hoje
em dia, começo a ponderar outro tipo de fatores de estilo de vida, satisfação pessoal e equilíbrio
com vida familiar, com amizades, etc. Portanto, acho que começo a usar outro tipo de fatores
que se calhar, não pesava tanto antes.

E: Diga uma palavra que associa à felicidade?


D: (Risos) Eu, eu acho que é a alegria, porque a alegria é o exercício de nós fingirmos que
somos felizes... Até eventualmente aquilo ressoar minimamente como sendo. Acho que as
pessoas quando tentam ser alegres é como um ensaio de felicidade. Acho a alegria uma espécie
de pequeno ensaio do que é que será que a felicidade é, como é que ela se sente. Na verdade,
não sei se nós sabemos muito bem o que é que a felicidade é, mas tentamos aproximar-nos.
Acho que a primeira palavra que vem é um bocado essa alegria. Isto vindo de um português é
um bocado s

E: Ias adorar viver em (país omitido).


D: Pois, pois, pois, mas acho que vocês cultivam a alegria.

E: Ativa e intencionalmente
D: Mas eu acho que lá está os países mais alegres normalmente não são os mais felizes, mas
acho que é a forma mais fácil que nós temos de mimetizar a felicidade salvo seja.

E: Interessante. Quão importante é a felicidade para ti no dia a dia e pensas na felicidade


quando tomas decisões?
D: Eu acho que infelizmente não penso muito na felicidade no dia a dia. Porque há pessoas que
acordam com aquela mentalidade que se não for num dia em que tem qualquer coisa que as
faça feliz, nem sequer vale a pena... não sei... sair da cama. Portanto, eu acho que a felicidade
é uma coisa que surge muito mais quando pensamos a longo prazo que quando pensamos no
dia a dia. Qual era a segunda pergunta?

E: Se quando tomas decisões pensas na tua felicidade


Felicidade e Tomada de Decisão 30

D: Sim, quando se trata de tomada de decisões mais macro, decisões a médio longo prazo, aí
já pondero mais a questão da felicidade sim. Será que é uma coisa que me vai fazer feliz estar
neste local, estar neste trabalho... Isso sim, sem dúvida.

E: E aí também fazes aquilo de pensar no tal binómio entre os teus interesses pessoais e
coletivos e a tua felicidade?
D: Hum...sim! Sim, na verdade sim. Estava aqui a pensar, por exemplo. Para além do meu
trabalho, faço voluntariado, que é uma questão que me faz sentir muitas vezes bem, mas muitas
vezes não faz, é cansativo. Mas o facto é que eu faço há 10 anos e nunca o deixei, porque para
além desse lado parece-me que é vantajoso para algumas outras pessoas. Todos os anos eu digo
que não vou fazer mais, para o ano acabou, mas depois nunca acaba (risos), porque depois não
tenho coragem. Acho que de certa forma é como...lá está é um bocado esta mentalidade que é
sobretudo quem vive num contexto privilegiado que eu acho grande parte das pessoas de classe
média na Europa são. Tem de haver uma parte do nosso tempo e dos nossos recursos, que são
alocados a fazer qualquer coisa com utilidade para outras pessoas. É tão simples quanto a isso.
Eu acho que se chegar a um ponto em que sinto que não estou a alocar nada de recursos pessoais
ou financeiros seja o que for a isso então sinto que se calhar estou a falhar em alguma coisa.
Por isso é que, pronto, nesse aspeto, esse binómio está presente. Mas pronto obviamente que
não sou infeliz a fazer este voluntariado, não me voluntario para ir para a prisão
estar...obviamente que me dá alguma satisfação também.

E: Já agora fazes onde o voluntariado?


D: O voluntariado são, é numa associação com crianças que têm altas capacidades e talento. A
parte gira é desenvolver atividades aos sábados de manhã com eles, desenvolver a criatividade,
enfim, também o sentido crítico, uma série de coisas e depois a parte menos interessante que é
fazer a gestão burocrática, responder a e-mails de pais ou telefonemas de professores e essas
coisas todas.

E: Na tua opinião, quais são as maiores barreiras à felicidade?


D: Eu acho que as maiores barreiras... Porque muitas coisas que nos fazem felizes podem ser
prejudiciais ou engordam, ou
não é? E se alguém conseguir ser feliz de uma forma completamente egoísta esse é um entrave.
Nós temos sempre de pensar no equilíbrio entre aquilo que nos faz bem a nós e também o bem-
estar dos outros que estão à nossa volta, não? Temos de fazer sempre cedências àquilo que nós
Felicidade e Tomada de Decisão 31

queremos fazer em função do... Pá, se vamos de férias e toda a gente quer ir comer a um sítio
e eu não quero e eu quero ir comer a um sítio onde as pessoas não querem... Pá, tem de haver
cedências. Nós não podemos andar sempre a tomar decisões em proveito próprio, não é? E
portanto, isso também é de certa forma um entrave.

E: Mas então as barreiras à felicidade seriam as cedências que tens de fazer?


D: Não. Para já, há as questões que eu tinha mencionado antes, que há muitas coisas que nos
fazem felizes, mas que nos fazem mal. Por exemplo, a curto prazo, pode fazer-me muito feliz
agora mesmo comer um rodízio de não sei de quê, de pizzas e depois comer imensas
sobremesas e assim. Isso tem malefícios para a saúde, por exemplo, tem malefícios para a
sustentabilidade. Depois há também a questão deste equilíbrio social de que estava a falar.
Acho que outro entrave é a falta de tempo para as pessoas se dedicarem a fazer coisas que as
fazem felizes. Também acho que, se calhar, esse se calhar é o principal entrave acho eu que é
o facto de, para sobrevivermos, ocuparmos uma parte do nosso tempo a fazer coisas que não
nos fazem felizes.

E: E quais são os ingredientes mais importantes para uma vida feliz?


D: A capacidade de aceitação de nós próprios e das circunstâncias. Isso faz toda a diferença,
porque a maior parte das coisas que acontecem à nossa volta nós não as podemos mudar,
portanto conseguir aceitar, pelo menos, a ideia é essencial. Pronto sem querer soar aquela
máxima dos alcoólicos anónimos, a sabedoria para perceber também o que é que nós podemos
mudar e o que é que nós não podemos mudar, não é? Mas sobretudo, acho que as pessoas à
medida que vão vivendo, vão aprendendo a viver melhor. Portanto, nós vamos aprendendo a
viver de forma mais eficaz, de forma mais consistente com os nossos valores. Por isso essa
sabedoria acho que é importante. Acho que as pessoas podem otimizar a sua existência com a
experiência que têm.
É importante a companhia porque a felicidade não partilhada, eu acho que não tem...é um
bocado estéril. E... Sim podemos voltar a falar no fator tempo, não é? Que é importante tempo
para a fruição, por isso acho que isso é um ingrediente importante para a felicidade.

E: Mas companhia... Casal? Família?


D: Sim... Amigos. Acho que as pessoas não pensam suficientemente nos amigos, que são a
única coisa que nós escolhemos na verdade, porque a família nós não escolhemos. Por isso sim,
penso na família e nos amigos, sobretudo.
Felicidade e Tomada de Decisão 32

E: Quais são as coisas na sua vida que lhe trazem mais alegria e satisfação?
D: Por acaso... Vou tentar dizer as primeiras coisas que me vieram à cabeça e há coisas muito
simples. Daquilo que me traz mais felicidade normalmente nas minhas semanas é poder ir para
a praia ou para a serra no fim de semana e caminhar e estar ali um bocado a olhar para o mar.
Isso é... Foi logo a primeira coisa que me surgiu. Por acaso é engraçado porque se calhar
durante todo este tempo de confinamento e tudo, a coisa que me fazia realmente equilibrar era
essa possibilidade de estar de certa forma... Não queria dizer em comunhão com a natureza,
porque soa muito hippie, mas é um bocado esse contato com os elementos... No mar, por
exemplo. Acho que faz toda a diferença.
Depois sim estar com os amigos. Pensei imediatamente que tenho de comer porque a
alimentação é parte importante da minha vida aparentemente (risos). Viajar e conhecer coisas.
E a cultura também acho que é importante: descobrir coisas, uma música ou um filme, ou um
livro que nos transporta para outra dimensão completamente diferente da nossa. Ouvir histórias
de outras pessoas a falar sobre outras vivências. Acho que isso também são instâncias de
felicidade sim.

E: Como é que acha que o seu ambiente, incluindo a família, amigos, trabalho,
comunidade tem impacto na sua felicidade?
D: Eu acho que de modo geral facilita. Pensando do mais geral para o particular, acho que
quem vive num país como Portugal e num contexto como aquele em que eu vivo ajuda porque
é um contexto em que há liberdade e não há muitas limitações para nós fazermos e procurarmos
aquilo que nos faz felizes. Do ponto de vista mais do contexto mais imediato também acho que
sim, porque a família e os amigos para mim têm facilitado. Sim, tem sido mais facilitador do
que barreiras propriamente à felicidade. Portanto, acho que sim. O contexto é facilitador. Eu
acho que sim.

E: E o teu trabalho?
D: Ah o trabalho não foi. Devia ter reportado. Não me lembrava se tinha dito ou não. Na
verdade, o trabalho é se calhar até das coisas mais importantes porque nós passamos grande
parte da nossa vida em vigília a trabalhar e sou muito sensível a isso, na verdade, ou seja, se
tiver a fazer uma coisa que não é minimamente ajustada àquilo que são as meus valores, ou as
minhas motivações, tenho muita dificuldade em sentir-me feliz. E tenho tomado muitas
decisões na vida em função disso, em função de fazer uma coisa que me faça minimamente, ou
Felicidade e Tomada de Decisão 33

seja, suficiente para conseguir não perturbar as outras áreas da minha vida. Ou seja, acho que
nós sabemos a diferença quando de repente o trabalho começa a perturbar a nossa capacidade
de fruir do nosso tempo livre, de estarmos a fazer outras coisas ou estarmos com a família, seja
o que for, e é uma colisão direta. Portanto é tentar procurar essa não colisão e fazer coisas que
de alguma forma nos dão significado, sabendo que já abandonei um bocadinho mais a ideia
idílica que tinha dez anos atrás ou mais, em que achava que se fizesse aquilo que gostava, tipo

que isso era perfeitamente possível e depois percebi que não, que às vezes há coisas más... Por
muito que nós não queiramos nós trabalhamos para sobreviver, para pagar as contas e, portanto,
há coisas que nós às vezes fazemos que não são o sinónimo de felicidade para nós, que
simplesmente cumprem um propósito pragmático. Portanto, acho que com o tempo fui
tornando-me mais pragmático nesse aspeto.

E: Mas é importante que o teu trabalho te faça feliz?


D: É, mas é que, mas acho que isso tem perigos pronto, mas pode ficar para depois do... da
gravação.

E: Achas que a felicidade é útil?


D: Ser útil suponho que seja essencialmente cumprir um propósito e acho que a felicidade
cumpre um propósito individual. Não é? De alguma maneira contribui para dar lá está o tal
sentido à vida que falava no início e dá-nos qualquer coisa com que sonhar e qualquer coisa
que ambicionar. E acho que isso... Se calhar as coisas mais extraordinárias que a humanidade
foi capaz de fazer teve como objetivo levar a uma forma de felicidade qualquer. Por isso acho
que nesse aspeto cumpre um propósito muito utilitário nesse sentido, não é? De progressão da
civilização ou da humanidade. Chamem-lhe o que quiserem. Portanto, sim, acho que é bastante
útil.

E: Para a humanidade e para o homem? Para as pessoas normais da nossa vida


quotidiana?
D: Sim. Individualmente e coletivamente acho que é útil, sim.

E: Que conselho darias a alguém que procure a felicidade?


D: Para de procurar.
Felicidade e Tomada de Decisão 34

E: Porquê? Se é útil...
D: Porque uma pessoa que está incessantemente à busca da felicidade é porque está a fazer
qualquer coisa de errado. É verdade porque acho que não... Ou seja, alguém que sente que tem
que procurar é porque realmente não está a fazer as coisas certas para ser feliz.

E: Imagina não alguém que sente que tem de procurar, mas alguém que acha que é
importante ser feliz. Que conselhos darias?
D: Eu acho que, se calhar, as pessoas têm de procurar conhecer-se muito bem para saberem o
que é que as faz feliz e o que é que nos faz feliz e têm que ter a coragem para assumir escolhas
que levem a isso. Muitas vezes até as pessoas no fundo sabem o que as faz felizes, mas não
têm a coragem de assumir as suas escolhas.

E: Algo mais sobre conselhos sobre a felicidade?


D: Hum... não, acho que não. Não é que eu seja a pessoa mais indicada para dar esses conselhos
sobre esse tema (risos)

E: Porquê?
D: Porque não...lá está se calhar não é uma coisa que eu penso assim tanto e que tenha
desenvolvido assim tão bem na minha cabeça. Estou a ser confrontado agora com isto, com ter
de pensar sobre isto e elaborar sobre isto agora; mas possivelmente encontrarão pessoas que já
têm mais amadurecida esta noção.

E: Achas que as pessoas pensam na felicidade?


D: Acho que, hoje em dia, se pensa mais sobre isso. Acho que temos o privilégio de poder
pensar sobre isso. Mas pronto como diz o Vinícius a felicidade é uma gota de orvalho. Não é...
Portanto... Hum... Não sei se estou a complexificar muito (risos)...

E: E como te sentes em relação à tua vida? Acreditas que as tuas decisões são responsáveis
por isso?
D: Sim, neste momento, sinto-me bem em relação à minha vida. Acho que vou terminar o
doutoramento, portanto isso faz toda a diferença entre sentir-me melhor ou pior na minha vida.
Estou a fazer coisas de que eu gosto e por isso sinto-me bem. E se as minhas escolhas têm
contribuído para isso? Sim, portanto, sim. Era essa a pergunta, não era?
Felicidade e Tomada de Decisão 35

E: Sim. Mas quando fizeste essas escolhas, pensaste assim ou não? Foste fazendo?
Pensaste intencionalmente em que te levariam a um sítio onde te sentirias melhor?
D: Isso está sempre implícito, eu acho, não é? Acho que é sempre um pano de fundo que está
lá. Nós imaginamos um quadro, não é? Como é que nós nos vemos? Visualizamo-nos naquela
situação e nós queremos que esse quadro, seja feliz, não é? Que seja colorido, que tenha luz,
não queremos que seja uma coisa triste e medonha. Por isso, eu acho que lá está...uma coisa
que está sempre subjacente, por muito que nós não a concretizemos como felicidade. Acho que
podemos concretizar com outras coisas, ou seja, podemos tomar decisões com base num
conjunto de ingredientes que depois acabam por configurar a felicidade, mas não precisamos
logo de tomar esta decisão porque quero ser feliz. Podemos tomar esta decisão porque quero
ter mais tempo para mim, porque quero ter a oportunidade de fazer isto que me dá satisfação.
Pronto isso tudo depois acaba por configurar a felicidade. Portanto, acho que se calhar não
pensamos tanto em abstrato, mas às vezes em coisas mais concretas que depois configuram.

E: Tens mais alguma coisa que queiras partilhar?


D: Não, não há nada que eu queira acrescentar, só respondo coisas que me perguntam, e já é
bom! (risos)

E: Obrigada, D.
D: Muito obrigado. Foi horrível, mas obrigado (risos)
Felicidade e Tomada de Decisão 36

Participante F | 25 anos | Solteiro | Português | Sociólogo

Entrevistador (E): Acredita que sua vida tem um propósito?


F: Sim, sim

E: Qual é o propósito?
F: Eu acredito que seja ser feliz e sentir-me realizado.

E: Ok, e porquê que acredita?


F: Bem porque, digamos, que nem, digamos que é, é, é se calhar o ponto que me motiva a
acordar todos os dias, a ir

que o que eu tento agarrar é mesmo esse, é esse ser feliz e sentir-me realizado, sentir que estou
a andar para a frente.

E: Pode enumerar, por ordem de importância, fatores que considera no momento de


tomar decisões em sua vida?
F: fatores? Não percebi peço desculpa, não sei se estou a perceber bem.

tomar de decisão, por exemplo.


F: Hmmm ok, de forma geral, né?

E: Gostaria que ordenasse por ordem, se for possível.


F: Ok, eu qualquer das formas eu acho que sou um bocadinho espontâneo às vezes na forma,

pondero que que tenha em mente antes de tomar uma decisão é, digamos, se calhar o valor

acho que esse é um dos primeiros pontos. Talvez um segundo seja se me faz sentido em termos
de sentimento talvez. E tento também se calhar pôr um bocado na, fazer quase no género de
Felicidade e Tomada de Decisão 37

F: Hmmmm Natureza.

E: Quão importante é a felicidade para si no seu dia a dia?


F: Muito importante, muito importante. Sim.

E: Pensa na felicidade ao tomar as suas decisões?


F: Sim, muitas decisões sim, quer seja na felicidade a curto prazo, ou a longo prazo, porque às
vezes podemos tomar decisões que no momento até não seja aquilo que mais nos apetece, que
nos vais fazer feliz no momento, mas, que se calhar vai ter influência para o futuro.

E: Na sua opinião quais são as maiores barreiras à felicidade?


F: Acho
-nos
um bocadinho a perna.

E: Quais são os ingredientes mais importantes para uma vida feliz?


ar calma e com paz interior

E: Quais são as coisas na sua vida lhe trazem mais alegria e satisfação?
F: Estar com as pessoas de quem gosto e conviver com, com as pessoas de quem gosto que tem

E: Como acha que o seu ambiente (incluindo família, amigos, trabalho, comunidade, etc.)
tem impacto na sua felicidade?
F: Tem muito impacto quase, mas se calhar até me arrisco a dizer 99% no impacto.

E: Como definiria felicidade?


F: Não sei bem, mas eu penso que a felicidade é aquilo é, é, é o sentimento que nos faz sair um
bocadinho de nós. Que que mexe com tudo o nosso corpo e com todo o nosso comportamento

nós procuramos, que o ser humano procura.


Felicidade e Tomada de Decisão 38

E: Acha que a felicidade é útil?


F: Claro que sim.

E: Porquê?
F: Porque lá está, se, se uma pessoa viver sempre infeliz não vai ter sentido de vida, na minha
opinião, vai andar a viver só por viver à espera de que o dia da sua morte chegue.

E: Como é que é útil?


F: Como assim?

E: Como é que a felicidade é útil?


F: Eu acho que a resposta que dei anteriormente acaba por também responder um bocadinho
essa pergunta de certa forma, porque, acho que é o fator chave de, de nos sentirmos bem no dia

bem, dispostos, felizes, lá está, porque sem felicidade vamos andar, como eu disse
anteriormente, só à espera do dia que deixemos morremos, não sei.

E: Que conselho daria a alguém que procura a felicidade?


F: Como? Não percebi peço desculpa

E: Que conselho daria a alguém que procura a felicidade?


F: Que conselho daria?

E: Ahhhh hmmm.
F: Fazer uma reflexão sobre quem é, sobre aquilo que gosta, aquilo que quer ser, quem quer
ser e que vai atrás das respostas a essas perguntas.

E: Como se sentes em relação à sua vida?


F: Sinto-me bem, sinto que estou em fase de desenvolvimento como espertar [risos] a todo o
-me bem sim.

E: Acredita que as suas decisões são responsáveis por isso?


F: Claro que sim, sem dúvida.
Felicidade e Tomada de Decisão 39

E: OK, muito obrigada.


F: Já está? Até que foi muito rápido
Felicidade e Tomada de Decisão 40

Participante I | 21 anos | Solteiro | Português |Técnico Administrativo

E: Pronto, agora vamos começar com a entrevista em si, está bom?


I: Sim.

E: Está à vontade. Como te disse, relembrar, não há respostas certas ou erradas. Está
mesmo à vontade, okay? Portanto, tu acreditas que a tua vida tem um propósito e se tem
qual é que é e por que?

ligado à família, tanto a proteger a família que nós já trazemos, como constituir família porque
acredito que a felicidade vem muito na base do amor que nós trazemos das pessoas que nos
rodeiam, tanto família de sangue, como aquela que vamos construindo ao longo dos anos. E
acredito que é muito esse o propósito, é realmente unir as pessoas que temos à nossa volta e
nutrirmo-nos com o amor delas.

E: -te a referir a quê?


I: Sim, ao facto de depois acabarmos por constituirmos família, também de alguma forma, a
nível de filhos. Eu quero muito filhos e acredito que o meu propósito de vida passa muito por
isso: pela forma como eu quero educar as pessoas que vou pôr no mundo, e acredito muito na
educação que eu lhes quero transmitir, e acredito que vão fazer alguma coisa de boa no mundo,
espero eu. Então acho que passa muito por aí.

E: E tu podias enumerar, por ordem de importância, quais fatores que consideras no


momento de tomar decisões? Decisões a médio-longo prazo.
I: Okay. Principalmente, se isso me vai afetar, lá está, com o tempo que eu vou passar com as
pessoas que eu gosto, se me vai roubar muito tempo. A nível de tomar decisões se calhar mais
importantes como, imagina, aceitar um trabalho: se é muito longe ou muito perto da família,
muito se aquilo me vai fazer sentir realizada. Porque eu acho que nós estarmos a fazer algo que
não nos vai realizar, apesar de que há coisas que temos que fazer, mas passa muito pela
importância que eu penso na altura de tomar alguma decisão, se isso me vai realizar. E acima
de tudo se eu vou de alguma forma conseguir alcançar alguma coisa boa com a decisão que eu
vou, que eu vou tomar. E acho que é muito isso, é o facto da realização, se eu vou conseguir
fazer atingir algum propósito bom com aquilo, e depois a gestão toda do tempo, para mim é
super importante.
Felicidade e Tomada de Decisão 41

E:
I: A gerência do tempo para eu conseguir, depois na minha vida pessoal, na decisão que eu vou
tomar de alguma forma, que não afeta, lá está, a minha vida pessoal de todo. E as decisões
so: se eu vou-me
sentir realizado com isso ou não e se vou estar a fazer algo bom. Acho que é muito isso que eu
penso no momento.

E: Mas mesmo tendo esses dois com check ainda pensas na questão do tempo. Se vai
influenciar a tua vida pessoal.
I: Sim, sim

E: Okay, e se podes ter tempo para fazer as outras coisas que gostas?

livro, de conseguir estar em momentos, imagina, em aniversários que eu acho que são
realmente importantes, tanto como seja ter tempo só para mim, só para estar só comigo. Isso é

Não bate muito bem!

E: E consegues dizer-
I: Família, sim.

E: E quão importante é a felicidade para ti no teu dia a dia? Pensas na felicidade ao


tomar as suas decisões?
I: Acho que é muito relativo. Acho que no mundo em que nós estamos hoje em dia, muitas
vezes, não conseguimos fazer isso porque, lá está, somos obrigados a envolver-nos em coisas
e estar rodeados de imensas coisas que não somos felizes a fazê-las, nem rodeados delas. Como,
por exemplo, lá está, as pessoas que nos rodeiam no trabalho, o tipo de trabalho que queremos
ter, se calhar, no momento. Até que, lá está, eu não estou a fazer o que eu quero fazer o resto
da minha vida, então claro que o meu dia não se baseia numa felicidade tremenda. Lá está,
porque passa muito por isso: porque eu não me sinto realizada. Então acho que a felicidade aí
esmorece um bocadinho. Mas, claro que é super importante no dia a dia lá está, por isso é que
eu preciso desses pequenos momentos de passar tempo comigo, trazem-me felicidade, então
Felicidade e Tomada de Decisão 42

há sempre alguma coisa que nós vamos buscar para conseguir atingir isso por mais que não
seja uma felicidade extrema no dia-a-dia.

E: Portanto, consideras que seja importante, mas nem sempre atingível.


I: Exatamente, sim.

E: E pensas nela ao tomar as tuas decisões?


I: Sim, sim. Acho que o momento atual da minha vida não é o melhor porque as decisões que
eu estou a tomar, tanto, lá está, como a nível de trabalho, ou assim, não vão de acordo à minha
felicidade, mas acho que é um meio para atingi-la. Então de facto sim, é uma coisa que eu
penso nem que seja a longo prazo mesmo que não seja concretizável no momento.

E: E na tua opinião, quais são as maiores barreiras à felicidade? Que também já falamos
aqui nesta pergunta.
é muito,
às vezes, o não termos tempo para conseguirmos fazer aquilo que gostamos e termos que nos
submeter tanto a trabalhos, como a atividades, como a rodearmos pessoas que não nos sentimos
s principais entraves e acho
que é muito depois também nos envolvermos numa rotina. A rotina acho que é o grande entrave
à felicidade quando nós nos envolvemos numa coisa sistemática e acabamos por só tomar
aquilo e, às vezes esquecemos um bocadinho que podemos fazer mais para atingir isso.

E:
I: Sim.

E: E quais são os ingredientes mais importantes para uma vida feliz, o que é que achas?
I: Acho que é realmente mantermo-
Mantermos os nossos princípios e, mesmo lá está, mantermo-nos fiéis àquilo que nós somos
[são os ingredientes importantes para uma vida feliz], realmente independentemente das
situações, podendo ou não, às vezes, chegar à felicidade mas mantermo-nos fieis a isso.

E: Esse é o principal aspeto.


I: Sim.
Felicidade e Tomada de Decisão 43

E: E há mais algum que consigas ver?

E: E quais são as coisas na sua vida te trazem mais alegria e satisfação, neste momento?
I: Neste momento, lá está, são os pequenos momentos que eu consigo passar comigo. São tanto

por cima, agora vem lá o bom tempo! É o continuar a manter contacto com a família mesmo
longe. Então, acho q
muito importante ter tempo de qualidade comigo mesma nem que seja só, lá está, um banho

perto da felicidade para mim, sendo que, lá está, não estou realizada nas outras áreas neste
momento. Então, penso que sim.

E: E como é que tu achas que o teu ambiente - família, amigos, comunidade, trabalho,
tudo o que te rodeia - tem impacto na tua felicidade?
I: É muita porque, lá está, para já sou uma pessoa muito ligada principalmente às energias que
nós temos à nossa volta, principalmente no meio de trabalho, então acho que para mim um
ambiente de trabalho que seja mais esgotante e que as pessoas sejam extremamente insensíveis
é uma coisa que esgota realmente a felicidade por muito que tu sejas uma pessoa mais positiva
vai sempre influenciar de alguma forma. Então acho que até que, lá está, para a minha família
é super importante, porque com eles eu sinto que, realmente, há um acolhimento, há felicidade
nos momentos que passamos juntos. Então, de facto, sim, tudo influencia de alguma forma.

E: E os amigos e a comunidade, em geral, por exemplo, a zona onde moras? Achas que
sim?
I: Sim, sim.

E: E como é que achas que têm esse impacto, os teus amigos e a comunidade?

passamos juntos, a forma como são aproveitados de alguma forma. Como por exemplo, eu
gosto imenso de morar aqui porque sinto-me em casa, é um meio mais pequenino de Lisboa, é
uma coisa mais caseira, nós conhecemos os vizinhos, então é uma coisa que realmente te sentes
acolhida. Então é realmente importante para mim. Até que era impensável vir para Lisboa e
Felicidade e Tomada de Decisão 44

quando vim morar para aqui fez-me sentir muito mais em casa de alguma forma, então
realmente o meio é extremamente importante.

E: Agora, a tal questão: como definirias a felicidade?


I: Eu acho que a felicidade não é constante. Eu acho que a Felicidade são momentos,
principalmente. Então eu acho que: "Ai! Eu estou sempre feliz!". Não. Eu acho que nós temos
momentos felizes. Porque a felicidade, lá está. Não é um momento constante, são os pequenos
momentos que nós podemos aproveitar tanto connosco, com as pessoas, como é que nos
-
realmente os momentos que nós passamos com as pessoas e tentamos alcançar de alguma
forma.

E: Conseguias explorar mais?


I: Acho que é muito... Lá está, os momentos que nós conseguimos passar com as pessoas que
gostamos, como com os amigos. Acho que é muito isso a felicidade, lá está, não é
eu posso acordar de manhã com um bom humor, mas o que me vai trazer felicidade é, por
exemplo, chegar ao trabalho e ter lá um amigo, é um abraço, é tomar um pequeno-almoço com
a pessoa que nós gostamos. Então acho que é muito à volta realmente de pequenos momentos
e não só de nós estarmos simplesmente felizes.

E: E achas que a felicidade é útil?


I: Ach
Ou se nós não tentarmos atingir a nossa felicidade, nem que seja interna, de alguma forma,
tudo à nossa volta vai ser muito escuro, de alguma forma, e nós vamos encarar a vida, e tanto
a forma como lidamos com as pessoas, como lidamos connosco mesmos vai ser muito negativa.
E acho que vamos ter mais pensamentos destrutivos se não pensarmos na forma como podemos
atingir a felicidade. Então acho que é realmente algo muito útil para nós mantermos a nossa
sanidade mental e mesmo física. Por isso, penso que sim.

E: E como é que achas que pode ser útil?


I: Eu acho que pode ser útil, lá está, muito nisso: nós mantermos tanto a nossa sanidade mental
de alguma forma (como eu já disse, porque se não temos pensamentos super destrutivos e
somos muito negativos com tudo o que nos encara) e mesmo a nível físico. Porque, imagina,
mesmo quando nós vamos fazer exercício físico, ou a forma como nós nos alimentamos são
Felicidade e Tomada de Decisão 45

pequenos momentos que nos trazem felicidade e, ao mesmo tempo, isso está-nos a fazer bem

volta tem muito a ver com felicidade e depois depende da forma como vamos encarar isso.

E: Okay,
I: Sim, lá está, como eu estava a falar em pequenas coisas, como a alimentação. Eu acho que o
facto de desfrutarmos um prato com alguém que nós gostamos, a forma como nós cozinhamos
com aquela pessoa acho que, lá está, acho que todas as pequeninas coisas são super super
importantes para nós nos sentirmos felizes.

E: E que conselhos é que darias a alguém que está a procura a felicidade?


I: Acho que para nós conseguimos atingir a felicidade, mesmo no dia a dia, nem que seja nos
pequenos momentos, acho que vai muito de encontrarmos a nossa felicidade dentro de nós
mesmos e acho que principalmente nos descobrirmos a nós: o que é que realmente nós
gostamos, o que é que não gostamos, quais é que são os nossos limites, quais é que não são os
nossos limites... E acho que tem muito a ver também com o saber dizer não. Às vezes, as
pessoas são infelizes porque, lá está, acabam por se moldar a uma rotina, moldar a respostas

sabermos respeitar as nossas vontades, também, e os nossos gostos e aquilo que nós queremos
ou não. Acho que é muito isso e o saber respeitar-nos acima de tudo.

E: Muito bem. E já disseste que não te sentes realizada.


I: Sim.

E: Portanto é assim que te sentes em relação à tua vida?


I: Sim. Lá está, porque desisti de 2 cursos que eu já entrei no ensino superior. Não me sentia
de todo realizada. Agora estou a trabalhar porque, lá está, preciso realmente de dinheiro, mas
não é uma área que eu esteja super realizada. Mas lá está, ao mesmo tempo, é um meio para
atin
também não porque, ao mesmo tempo, apesar de eu saber que tenho que estar aqui para ter
oportunidades, estou longe da minha família que é super importante para mim. Então acho que
sim, não estou realizada de todo.

E: E, portanto, é assim que te sentes em relação à tua vida.


Felicidade e Tomada de Decisão 46

I: Sim.

E: E acreditas que as tuas decisões são responsáveis por isso?


I: Acredito que sim porque, lá está, apesar de nós podermos ir sempre buscar a culpa sempre a
alguém, ou porque nos influenciou, ou porque tem que ser assim, a verdade é que quem toma
as decisões somos nós e, às vezes, nós somos muito quadrados nas decisões que tomamos. E
ho sentido, nos últimos anos,
que nós éramos muito impulsivos, principalmente nisto do ensino superior. Eu fui muito
impulsiva ao entrar no ensino superior. Então, acho que andei muito à deriva. Eu só queria ter
um curso e entrar. E foram decisões absolutamente minhas: os meus pais nunca me obrigaram
a ir, nunca me obrigaram a entrar em curso absolutamente nenhum. E foram decisões super

passado por 2 cursos , acho que sim, acho que as nossas decisões são as maiores
responsáveis. Apesar de nós podermos ir buscar a culpa alguém, nós somos os maiores
responsáveis pela nossa vida de alguma forma. Nem que seja pela forma como encaramos isso
porque, às vezes, há situações em que sim, são super negativas e nós não conseguimos, de
facto, tomar outra decisão mas a forma como a encaramos vai diferenciar muito, se calhar,
depois as decisões que vamos tomar a seguir e a forma como as vamos encarar.

E: Como encaramos as coisas que nos acontecem?


I: Sim.

Nota de campo: "Sinto falta de uma cozinha cheia e toda a gente a cozinhar. Lá está, imagina,
chegar a casa e ter a [nome anonimizado] para mim, é um momento de felicidade porque eu
venho de um meio [o trabalho] em que não estou realizada e chego a casa e tenho alguém que
eu gosto imenso."
Felicidade e Tomada de Decisão 47

Participante R | 30 anos | Solteiro/União Estável | Romeno | Enfermeiro

Entrevistador (E): E vamos passar então para as perguntas. A qualquer momento você
pode desistir, ou se você não quiser responder alguma pergunta especial, pode falar
também. Certo? Primeira pergunta: Pensa que a sua vida tem um propósito?
R: Acredito que sim.

E: E porque é que você pensa isso? E qual seria esse propósito?


R: OK, penso que pelo menos o meu propósito penso que seria de ajudar. De alguma forma ou
nem que seja só uma pequena parte a tornar este mundo um bocadinho melhor? Aí escolhi a
profissão de enfermagem para chegar a esse objetivo, portanto, ajudar os outros, contribuir para
melhorar um bocadinho.

E: Você pode enumerar para nós em ordem de importância quais são os fatores que você
considera normalmente, em que você toma decisões na sua vida? Mas decisões que você
acredita que vão ter algum impacto.
R: De fatores?

E: Sim. Quais os fatores que você considera?


R: Uma decisão. Bem, depende das decisões. [Uma decisão] Que não seja assim muito
importante, pelo menos para mim, acho que costumo usar mais a intuição: tomo a decisão logo
e nem pondero os prós e os contras, então decido logo com a intuição.
Mas se for uma decisão que implique alguma reprodução ao longo prazo, aí pondero outros
fatores, tento pesquisar, não sei, tento informar-me, pelo menos sobre a decisão que vou
escolher. Pois, mais uma vez, uso a intuição. Acho que uso a intuição para tudo. Para decisões
difíceis uso a intuição e pesquisas e me informo junto de pessoas, vejo estatísticas, por
exemplo, sobre aquele assunto. Mas, pronto, depende do objetivo da decisão.

E: Como você definiria intuição?


R: Acho que é algo que vem connosco e que, se calhar, foi adquirido através das experiências,
nem que fosse na infância, porque é algo que parece natural, que está connosco e reagimos
quase e reagimos quase que por impulso, mas, penso que, se calhar houve alguma experiência
por trás disso para lhes ser tão natural ao tomarmos as decisões.
Felicidade e Tomada de Decisão 48

E: Vamos ser tão natural de Tomar as decisões. Palavra? Então, não sei.
R: Bem-estar. [Felicidade é] Bem-estar geral da pessoa, ou seja, interno ou externo. É um
estado nosso, a Felicidade.

E: Acredita que ela é assim, momentânea, rápida, o que é uma coisa mais prolongada?
R: Acho que é um estado mais prolongado. [Felicidade é] É um estado interno sobre tudo e se
prolonga no tempo e somos responsáveis por isso.

E: Quão importante, você acha que a felicidade é para você, no seu dia-a-dia? Diga, você
pensa na Felicidade quando toma suas decisões?
R: Muito. Penso sempre se esta decisão que vou tomar vai me trazer algum benefício em termos
de Felicidade ou só me vai gastar energia? E, portanto, é muito importante nas minhas decisões,
pelo menos.

E: Na sua opinião, quais seriam as maiores barreiras à Felicidade?


R: [Uma barreira à felicidade é] a eu acho que é tentar concretizar alguma coisa e não conseguir,
ou seja, a frustração de não conseguir concretizar alguma coisa.

E: Acredita que as barreiras são mais externas, ou mais internas?


R: Eu acho que [as barreiras] são internas, são sempre internas, é sempre a nossa perspetiva
com que olhamos para as coisas. É algo que está dentro de nós. Somos nós que controlamos,
somos nós que decidimos a forma como vemos aquilo.

E: Quais são os ingredientes mais importantes? E você considera que uma vida feliz?
R: [Para uma vida feliz,] Para mim é muito importante a questão social, a família e os amigos.
Sinto-me feliz se estiver rodeado de pessoas. É assim a maior percentagem responsável pela
minha Felicidade. [Para uma vida feliz,] É a harmonia para com um ambiente social.

E: Quais são as coisas que na sua medida lhe trazem mais alegria e satisfação?
R: Mais uma vez, é o ambiente social é a família, os amigos e. E esta parte social é o que me
deixa mais feliz.

E: Como acha que o seu ambiente, incluindo famílias, amigos, trabalho, comunidade tem
impacto na sua Felicidade?
Felicidade e Tomada de Decisão 49

R: Eu acho que é através da relação que estabeleço com esse meio. [O ambiente influencia a
felicidade através da] A relação saudável que estabeleço com o meio.

E: Acredita que quando têm relações desafiantes ou difíceis, isso atrapalha?


R: Muito. Atrapalha-me imenso. Talvez é o que me atrapalha mais.

E: Como você definiria Felicidade?


R: Acho que é um estado interno nosso e somos nós que definimos o que é importante e
responsável por essa Felicidade.

E: Então, e você acha que a felicidade é útil para tomar decisões?


R: Muito útil.

E: Pode dar um exemplo de como a felicidade lhe foi útil?


R: Estou mais uma vez pensando nas relações sociais. Se houver algum fator que atrapalhe a
harmonia na relação [social] fico infeliz.

E: Mas, por exemplo, se sente-se feliz, ou não. Pensa que influencia suas decisões?
R: Acho que sim. Acho que sim. Acho que sim. Se tiver uma perspetiva mais positiva sobre,
por exemplo, zango me c
mais uma vez da minha perspetiva, se eu sentir feliz, provavelmente não levo tão a peito essa
zanga. E ao contrário, pronto.

E: Que conselho você daria a uma pessoa que procura a felicidade?


R: [Para ser feliz, é importante] Tentar não se concentrar tanto nos fatores externos e olhar mais
para dentro de nós e ver como é que podemos olhar de forma mais positiva para as coisas. E
não procurar os fatores responsáveis no meio externo. Olhar para aquilo que nos conseguimos
mudar dentro de nós.

E: E por fim, como você se sente com relação à própria vida? E se você acredita que esse
sentimento que sente hoje é fruto das suas próprias decisões?
R: Hoje em dia sinto-me feliz. Embora agora neste momento estou um bocadinho menos feliz
quanto a carreira, mas acho que é uma situação que eu vou resolvendo. Mas no geral sinto-me
Felicidade e Tomada de Decisão 50

feliz. E acho que, mais uma vez, sou responsável por essa felicidade. É mais uma vez a forma
como olho para as coisas.

E: Pensa que, por exemplo, essa questão difícil que está a enfrentar na sua carreira, cabe a si
achar a melhor solução?
R: Acho que sim, que sou totalmente responsável por isso. Ver o que é mais importante para
mim, por exemplo, na carreira, avaliar os prós e os contras, e se, realmente não ver que traz
mais vantagens do que desvantagens, provavelmente tenho que fazer uma mudança. Não gosto
de me sentir infeliz.

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