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8 | DESTAQUE | PÚBLICO, DOM 10 NOV 2013

CRISE FINANCEIRA

Três Os partidos têm muito pouco


tempo para se entenderem
perguntas sobretudo no sector da construção
civil e do imobiliário e num
consumo alimentado por um
troika evidenciou que medidas
brutas e abrutas acabam por se
revelarem ineficazes, é através

para a
acesso ao crédito ilusoriamente do gradualismo que se assegura
fácil. A ideia de que o investimento estabilidade, coerência e
público gera automaticamente convergência entre as diferentes
José Silva Peneda prosperidade e crescimento políticas. Mas a condição mais
também pertence a um passado decisiva é a obtenção de um amplo

reforma 1. Tem um bom conteúdo que não volta mais. O país tem de consenso entre as forças políticas
analítico, que me parece definir um novo modelo que terá representadas no Parlamento.
realista, face às atuais de ser encontrado na base de uma
circunstâncias do País, da Europa
e do Mundo. No entanto, uma
reforma do Estado implica abordar
política assente na promoção de
bens e serviços transacionáveis,
de elevado valor acrescentado,
3. Ou somos nós, portugueses,
a definir a grande parte do
conteúdo do programa que vem a

do Estado a questão dos poderes do Estado,


o que pode significar, nalguns
casos, a alteração de preceitos
constitucionais, o que parece
ser matéria afastada do guião. A
forma como eu definiria o grande
objetivo da reforma do Estado
valorizando os fatores de
diferenciação competitiva e numa
menor dependência face ao
exterior. Tal como é apontado no
parecer aprovado pelo Conselho
Económico e Social (CES) sobre o
Orçamento do Estado deverá ser
seguir à troika ou continuaremos
na dependência de outros. Uma
empresa que exibe perante os
seus credores um alto nível de
conflitualidade entre os seus
administradores não pode merecer
grande confiança e, perante essa
seria a seguinte: Um Estado mais montado um programa que deveria situação, são os credores que vão
Com a apresentação do tão esperado barato e mais eficiente. Com perseguir de forma coordenada os ditar as regras. Pelo contrário,
este enquadramento o tema seguintes objetivos: equilibrar as se a administração da empresa
Guião da Reforma do Estado, o debate da regionalização não pode contas públicas; reformar o Estado; mostrar uma forte coesão na
sobre os caminhos que o país deve seguir estar ausente da discussão da
reforma. Estou convencido que a
e pôr a economia a crescer. Os
pressupostos para o sucesso desse
sua recuperação, exibindo um
programa credível, seguramente
nos próximos cinco anos voltou a estar regionalização, se bem conduzida, programa seriam, em primeiro que o nível de risco dessa empresa
pode contribuir para um Estado lugar, tempo: uma duração, no aos olhos dos credores baixa
no centro do debate político. O PÚBLICO mais barato e mais eficiente. mínimo de uma década, dado que substancialmente. Aos dirigentes
Outro ponto que não pode deixar os desequilíbrios da economia dos partidos políticos, quero dizer-
abre as suas páginas ao debate e lançou de ser considerado é o território. portuguesa são de natureza lhes que têm muito pouco tempo.
três perguntas a instituições que têm Portugal caminha, no que se
refere à ocupação territorial,
estrutural e, por essa razão, não
são passíveis de ser resolvidos em
Os parceiros sociais apontaram
um caminho que, face à situação
refectido sobre as opções do país no para um país típico do terceiro ou prazos muito curtos. Em segundo de emergência em que o país se
quarto mundo com uma grande lugar, credibilidade: se queremos encontra, faz todo o sentido ser
médio prazo: metrópole rodeada de periferias honrar os nossos compromissos, seguido. Trata-se de uma questão
1 – Que análise faz ao Guião da Reforma suburbanas com múltiplos e graves
problemas sociais e o resto do
ao invés de invocar dificuldades,
temos de exibir capacidades.
de sobrevivência.

do Estado? território a decair e a desertificar. Terceiro, gradualismo: a Presidente do Conselho


Isso é mau e muito caro. Procurar experiência do programa com a Económico e Social
2 – Quais as prioridades para tornar o um maior equilíbrio na ocupação ENRIC VIVES-RUBIO
do espaço implica políticas
país sustentável no período pós-troika, públicas que devem desenvolvidas
num horizonte de quatro a cinco anos? num horizonte de médio e longo
prazo, como sejam, por exemplo,
3 – O que seria necessário para a deslocalização de serviços,
agências e institutos públicos da
estabelecer um consenso mínimo capital para cidades médias. Será
de governabilidade a médio prazo? difícil encontrar uma medida
de tão largo alcance, com vista
Respondem Silva Peneda pelo Conselho a tornar o nosso território mais
equilibrado.
Económico e Social, Daniel Bessa, pela
COTEC, e Boaventura Sousa Santos, 2. Depois de uma crise tão
profunda nunca se volta
pelo Centro de Estudos Sociais da ao ponto de partida. O modelo
económico que vigorou até 2011
Universidade de Coimbra esgotou. Esse modelo baseou-se
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CRISE FINANCEIRA
advertido, o prolongamento da que é já hoje o mais desigual da

Governo quer
recessão, pelo lastro de destruição União Europeia (UE). Contra toda
que deixa para trás, não prepara a experiência europeia, esta é
a retoma, antes degrada as uma aposta ideológica que visa
condições de recuperação futura. colher da experiência norte-

consenso para Boaventura Sousa Santos


O chamado Guião para a
Reforma do Estado é, antes do
mais, a confissão deste beco sem
americana apenas o seu pior e
que nos EUA só é hoje adotada
pelo Tea Party, a ala radicalmente

amortecer 1. Como foi assinalado pelo


nosso Observatório das Crises
e Alternativas, os governos
saída a que nos conduziu a receita
neoliberal que as instituições
financeiras internacionais já
conservadora do partido
republicano. A privatização
parcial da segurança social é
quiseram cortar, nos últimos três haviam experimentado em uma velha aspiração do CDS-PP.

conflitualidade anos, 10 mil milhões de euros à


despesa pública e aumentar a
receita em outros 10 mil milhões.
Este total de 20 mil milhões
África, no Sudeste Asiático e na
América Latina, sempre com
efeitos devastadores no plano
económico e social. Diante desse
A sustentabilidade do sistema
público de pensões está em risco
apenas porque tudo o que é bem
público está em risco em Portugal

social repercutiu-se numa redução de


apenas 6 mil milhões de euros no
défice. A razão é simples e está há
muito identificada: os orçamentos
rasto de devastação económica e
social, o guião opta por seguir em
frente e identifica novos alvos de
privatização, designadamente nas
neste momento. Enquanto não
houver uma regulação mínima
do capital financeiro global, o
plafonamento é mais um fator
tiveram um efeito recessivo não áreas da educação e da segurança de risco para as classes médias,
Para o sociólogo, é necessário um previsto, isto é, por cada euro
retirado ao défice, diminuiu-se
social. A carga ideológica
neoliberal é sobretudo visível
já de si inseguras e em processo
acelerado de empobrecimento.
consenso sólido quanto ao equilíbrio 1,25 euros no PIB e acrescentaram- nessas áreas. A privatização da O chamado Guião é, pois, mais
se 8,7 euros à dívida pública. Ora, educação será mais um fator que tudo, o enunciado de um
entre Estado, mercado e comunidade como o mesmo Observatório tem de desigualdade social no país programa radical em que o único
DANIEL ROCHA
significado de reforma do Estado
é miniaturização do Estado e
esvaziamento adicional do já
tão esvaziado contrato social.
Não se trata de uma reforma do
Estado, mas sim de uma reforma
contra o Estado. E associa a isso
a sinalização explícita de um
cenário de revisão constitucional
que resolva de modo claro o atual
embate entre o constitucionalismo
do Estado de direito, consagrado
na Constituição da República e
defendido pela jurisprudência
do Tribunal Constitucional,
e o constitucionalismo de
excecionalidade defendido pela
troika.

2. Falar de um “período pós-


troika” nas atuais condições
é, no mínimo, arriscado e
pode ser fonte de equívocos. A
generalidade dos portugueses
entende-o e deseja-o como um
período em que a política volte
a ter poder sobre o económico e
a política nacional se reconstrua
no âmbito de responsabilidades
partilhadas no seio da UE e
não, como agora, a partir de
tutela externa. O Governo usa a
expressão noutro sentido: fazer
com que o período pós-troika
seja a continuação da troika por
outros meios, interiorizando
e tornando irreversível toda a
desfiguração do país que a troika
está a criar. Para uma sociedade
como a portuguesa, com dois
milhões de pobres antes de
A política do Governo e da Troika tem motivado contestação na rua políticas sociais – número que
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1,25 8,7
Em consequência dos efeitos
recessivos da austeridade, por
cada euro retirado ao défice
Ao nível da dívida pública,
somaram-se 8,7 euros por cada
euro retirado ao défice
perderam-se 1,25 euros no PIB

tende inevitavelmente a crescer


como resultado das políticas Ao olhar muito de governabilidade é, em
geral, para esconder os défices de
sectoriais de qualificação e de
coesão da sociedade portuguesa:
Tribunal Constitucional; consenso
sobre o imperativo de reforço
de austeridade seguidas nos
últimos três anos –, o desafio
instrumental sobre legitimidade. A atual preocupação
do Governo e de parte da elite
consenso sobre a necessidade de
equilíbrio entre os três princípios
do aparelho produtivo nacional
num quadro ecologicamente
da sustentabilidade coloca-se,
em primeira linha, no plano
os consensos económico-financeira com a
obtenção de um consenso de
de regulação das sociedades
modernas – o Estado, o mercado
responsável; consenso sobre a
imprescindibilidade de um tecido
da coesão social. A primeira importa contrapor governabilidade prende-se, e a comunidade –, nos antípodas científico qualificado e com meios
prioridade tem de ser a de
medidas inovadoras que reforcem consensos fortes sobretudo, com a formação de
uma base política o mais alargada
do atual desequilíbrio a favor
do mercado; consenso sobre
financeiros para servir a afirmação
do país; consenso sobre uma
a já precária universalidade
dos serviços públicos e a em torno possível para aplicação do
receituário da austeridade, que
a distribuição equitativa dos
sacrifícios em momentos de crise
política externa que tire todo o
partido do estatuto semiperiférico
cidadania económica e social.
Para isso, o Estado não pode
de estratégias tenha margem para amortecer
a conflitualidade social aguda
e dos benefícios em tempos de
bonança; consenso sobre uma
de Portugal no atual sistema-
mundo, com uma longa história
deixar de ser um facilitador de qualificação dela resultante. A esse olhar justiça independente e eficaz, de contactos extra-europeus.
estratégico do desenvolvimento
sustentável e inclusivo através e de coesão social instrumental sobre os consensos
políticos importa contrapor
garante da cidadania, e livre das
pressões que, nos últimos tempos, Sociólogo, director do Centro de
de aplicações reprodutivas a necessidade de consensos assumiram a forma de uma Estudos Sociais da Universidade
de investimento público que fortes em torno de estratégias vergonhosa chantagem sobre o de Coimbra
tenham os seguintes objetivos:
PUBLICIDADE
promover a transição para
uma economia ecologicamente
responsável; investir na educação
e na investigação científica, sem
as quais Portugal continuará
Aumente os Lucros da sua Empresa
a ser apenas um país bom
para estrangeiros (reformados
remediados e turistas pobres),
Com mais Produtividade e Eliminação de Custos
nunca um destino de jovens
portugueses em busca de
um futuro com qualidade e
Destaque a sua empresa no mercado pela qualidade dos serviços.
dignidade; assumir que, mesmo
numa sociedade capitalista, há
lugar para uma economia plural
que, por exemplo, valorize a
economia social e solidária ou
“terceiro setor”, com raízes
profundas no nosso país. Sem
esta sustentabilidade social, o país
não é politicamente sustentável
porque não há democracia
minimamente consistente quando
as relações sociais ancoradas em
desigualdades sociais crescentes
se tornam, por isso, cada vez mais
autoritárias. A sustentabilidade
social e política dependem da
sustentabilidade financeira, a
qual, por sua vez, depende de
duas condições: a restruturação
da dívida num quadro europeu
em que Portugal e os países ³ Contribuem para aumentar até 20% a produtividade nas Empresas.
do Sul ajudem a Europa a não
falhar esta oportunidade de ³ Eliminam as faturas com alugueres de linhas telefónicas e de tráfego de chamadas feitas
se manter coesa, sobretudo por Telemóveis e Telefones para as redes fixas e móveis de Portugal e Internacionais.
considerando que a falta dessa
coesão redundou, no século XX, ³ Canais ilimitados. Nunca mais se perdem clientes por a linha telefónica estar ocupada e
em duas guerras devastadoras;
ligarem para a concorrência.
uma reforma fiscal corajosa
que não se coíba de tributar os ³ Configuração de números telefónicos locais, nacionais ou internacionais de mais 20000
rendimentos do capital em vez
de atingir desmesuradamente os
localidades do Mundo que representam mais de 98% do PIB mundial, para poder expandir
rendimentos do trabalho. os negócios no país ou no estrangeiro sem custos com pessoal ou instalações locais.
Estamos em todo o país, informe-se já:
3. A governabilidade é o estádio
mais baixo da legitimidade
(a democracia a funcionar a
A BELTR8NICA AVEIRO  BEJA  BRAGA  BRAGANÇA  COIMBRA  ÉVORA  FUNCHAL
FUNDÃO  GUARDA  LEIRIA  LISBOA  LOULÉ  P. DELGADA  PORTALEGRE
Serviço Nacional de Atendimento
308 802 470
DIVISÃO DE SISTEMAS TELEFÓNICOS DIGITAIS PORTO  SANTARÉM  SETÚBAL  V. CASTELO  VILA REAL  VISEU Número Nacional/Chamada Local
favor da maioria dos cidadãos e
não contra ela). Quando se fala Compatível também com as tecnologias anteriores IP (VoIP, SIP/H.323), RDIS (BRI/PRI) e tradicional.

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