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MORFOFISIOLOGIA

DO SISTEMA
NERVOSO

ANA LUÍSA VALE


2019/2020
Índice
T3 e T4; TP3 - Articulação temporo-mandibular. Músculos da mímica. Músculos da mastigação. Músculos do pescoço .........................4
T5 e TP4 – Anatomia geral do sistema nervoso periférico e plexos cervicais e braquial ..........................................................................23
T6 e TP5 – Inervação das paredes do tronco. Plexo Lombar. Plexo Sagrado. ...........................................................................................33
T7 – Anatomia geral do sistema nervoso. Sistema ventricular. Meninge .................................................................................................43
T8 – Medula espinal. Sistema nervoso autónomo ....................................................................................................................................51
T9 – Tronco cerebral.................................................................................................................................................................................64
T10 – Cerebelo. 4º ventrículo ...................................................................................................................................................................84
T11 – Hipotálamo. Hipófise. Epitálamo. 3º ventrículo. .............................................................................................................................94
T12 – Tálamo. Subtálamo. Núcleos de base .......................................................................................................................................... 112
T13 – Telencéfalo .................................................................................................................................................................................. 113
T14 – Vias aferentes e eferentes ........................................................................................................................................................... 135
T15 – Introdução ao estudo dos nervos cranianos. Nervo olfativo e via olfativa .................................................................................. 145
T16 – Conteúdo orbitário. Nervos oculomotor (III), troclear (IV) e abducente (VI) ............................................................................... 155
T17 – Nervos Trigémio e Facial. ............................................................................................................................................................. 179
T18 – Nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso .................................................................................................................. 195
T19 – Ouvido externo, médio e interno. Vias acústica e vestibular. ...................................................................................................... 207

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NOTA INTRODUTÓRIA

Caros colegas,

Nesta aspirante-a-sebenta podem encontrar a compilação dos meus resumos, que foram realizados
com base nas desgravadas e na sebenta do Pedro Viegas.
Como poderão perceber, se de facto decidirem ler as várias imensas e infindáveis páginas que se
seguem, não incluí as primeiras duas aulas teóricas, que são sobre ossos. Isto porque penso que o
material já existente, nomeadamente na sebenta do Pedro Viegas, está muito completo! E sejamos
sinceros, quem é que resume ossos?
Nas restantes teóricas, tentei guiar-me pelo sumário, mas muitas vezes alterei a ordem dos tópicos,
porque achei que fazia mais sentido. Sem dúvida que, para mim, o único problema de Neuro é a falta
de organização da matéria. Sinceramente, só no fim de passar os olhos pelas aulas todas é que algumas
coisas começaram a fazer sentido e receio que nas primeiras aulas tenham ocorrido gralhas por falta
de compreensão global da matéria... De qualquer forma, nestes resumos encontram a organização
possível que para mim fez mais sentido. Saliento também que os primeiros resumos foram realizados
ainda em tempos pré-covídicos (aos anos!) e por isso, podem notar uma ligeira alteração no modelo
base de resumo, que foi variando um bocadinho, para melhor, na minha opinião. Espero que
concordem.
Por fim, quero relembrar-vos que a probabilidade de encontrarem erros é (com muita pena minha)
extremamente elevada e, portanto, agradeço que nesse caso me enviem email
(analuisavale4@gmail.com). Podem também enviar-me o vosso feedback sobre os resumos, ia ficar
muito contente!
E não, não deixei erros propositados espalhados pelas várias aulas para vos fazer chumbar. Mesmo
que vos pareça um erro absurdo, foi apenas fruto da minha incapacidade. Respeitem. E, claro,
chamem-me à atenção para que o possa corrigir.

Bons estudos e muita força para ultrapassar esta fase.


Estamos juntos, amarelinhos.

Ana Luísa Vale

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T3 e T4; TP3 - Articulação temporo-mandibular. Músculos da mímica. Músculos da mastigação.
Músculos do pescoço

FOSSAS CRANIANAS (continuação da T2)

→ Fossa temporal - inferiormente delimitada pelo arco zigomático,


superiormente e posteriormente pelas linhas temporais (do
parietal) e anteriormente pela apófise frontal do osso zigomático.
O pavimento é formado pelos ossos frontal e parietal
superiormente e mais inferiormente pela asa maior do esfenoide
e parte escamosa do temporal; Contém o ptérion.
Comunicações
• Com a fossa infratemporal - através do espaço delimitado
lateralmente pelo arco zigomático e medialmente pela face lateral do crânio
• Com a órbita - através dos canais zigomático-temporal e zigomático-orbitário

→ Fossa infratemporal – corresponde a um espaço irregular localizado profundamente ao ramo


da mandíbula e inferiormente ao arco zigomático, limitado
superiormente pela face infratemporal do osso temporal e a face
infratemporal da asa maior do esfenoide (com buracos oval e
espinhoso), medialmente pela lamina lateral da apófise pterigoide,
lateralmente pelo ramo da mandíbula, posteriormente pela
apófise estiloide e, por fim, anteriormente pelo osso maxilar.
Relaciona-se com a fissura pterigomaxilar.
Comunicações
• Com a fossa média do crânio – buracos oval e espinhoso
• Com a fossa temporal
• Com a órbita – fissura orbitária inferior
• Com a fossa pterigopalatina – fissura pterigomaxilar

→ Fossa pterigopalatina – corresponde a um espaço piramidal localizado na


parte lateral do crânio, inferiormente ao vértice da órbita e internamente
à fissura pterigomaxilar, sendo limitada posteriormente pela raiz da
apófise pterigoide e pela porção adjacente da face anterior da asa maior
do esfenoide (com buraco redondo e canal pterigoideu), anteriormente
pela porção súpero-medial da face infratemporal do osso maxilar,
medialmente pela lâmina perpendicular do osso palatino e pelas suas
apófises orbitária e esfenoidal e lateralmente pela fissura pterigomaxilar.
Comunicações
• Com a fossa média do crânio – buraco redondo e canal
pterigoideu
• Com a órbita – fissura orbitária inferior
• Com a fossa nasal – buraco esfenopalatino
• Com a fossa infratemporal – fissura
pterigomaxilar
• Com a cavidade oral – canal palatino maior
• Com a nasofaringe – canal palatovaginal

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O professor faz referência à ossificação: ir ver PPT, desgravada e aulas anteriores.
Atentar só no facto da ossificação da calota depender da presença do encéfalo.

ARTICULAÇÃO DOS OSSOS DA CABEÇA ENTRE SI – permite união, crescimento e elasticidade (suturas e
sincondroses) ou movimento (sinoviais)
→ Suturas
Correspondem a articulações fibrosas, que conectam os ossos do crânio através de ligamentos suturais
(tecido conjuntivo denso, constituído principalmente por colagénio) e que não permitem movimento
nenhum; A fusão de suturas (sinostose) inicia-se a partir da 3ª década de vida, da parte endocraniana
dos ossos para a exocraniana. As suturas sagital e coronal costumam ser as primeiras a iniciar a fusão.
Existem vários tipos:

Dentadas Serreadas
Planas Esquindileza Escamosa

→ Sincondroses – articulações entre os bordos dos ossos com cartilagem hialina de união
→ Articulações sinoviais – temporomandibular, atlanto-occipital e entre os ossículos do ouvido

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FONTANELAS
Correspondem a ligamentos suturais em crânios de bebés. São 4 e
por ordem de desaparecimento temos:
• Posterior (aos 2-3 meses)
• Esfenoidal (aos 3 meses, no local do ptérion)
• Mastoideia (aos 12 meses)
• Anterior (aos 18 meses – é a maior, em forma de romboide)

Pontos craniométricos

EVOLUÇÃO DA CABEÇA ÓSSEA

→ Recém-nascido:
• Neurocrânio 7 vezes maior que o viscerocrânio (no adulto é apenas 2 vezes maior)
• Órbitas volumosas devido pequena altura da face (pequeno tamanho do osso maxilar)
• Seios paranasais ausentes ou rudimentares
• Maxila: maiores dimensões transversal e sagital do que dimensão vertical; apófise frontal
proeminente, corpo pequeno, quase só apófise alveolar (alvéolos até ao pavimento da orbita)
• Mandíbula: sínfise do mento; corpo de altura reduzida; buraco mentoniano com orientação anterior;
canal mandibular muito próximo do bordo inferior; ângulo da mandíbula marcadamente obtuso
(150°); ramos pouco desenvolvidos, mas apófise coronoide relativamente desenvolvida
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• Ossos da abóbada finos e sem diplöe (forma-se aos 4 anos)
• Ausência de suturas serreadas
• Presença de sutura frontal, sínfise mentoniana, fontanelas
• Apófises mastoides apenas surge no 2º ano de vida e a sua pneumatização ocorre no 6ª ano de vida

→ Crescimento da cabeça óssea:


• O encéfalo tem um crescimento muito acentuado até aos 2 anos que promove o crescimento da
calota craniana; o desenvolvimento dos dentes e músculos da mastigação promove o cresicmenot
do viscerocrânio; os seios parasanais, especialmente o seio maxilar, têm um papel fundamental no
crescimento em altura da face e das fossas nasais
• Inicialmente os ossos da calote craniana são unilamelares e a estrutura tabular com diplöe surge no
4º ano de vida

→ Idoso
• Sinostose das suturas a partir da 3ª década de vida
• Ossos mais finos
• Fossetas granulares numerosas e profundas
• Maxila: tem maior dimensão vertical (maior seio e maior apófise alveolar); a perda dos dentes leva
a uma maior reabsorção da parte alveolar e consequente redução em altura e em espessura da face
• Mandíbula: aumento do ângulo da mandíbula face à idade adulta (de 120-130° para 140°); projeção
anterior do mento; canal mandibular e buraco mentoniano próximos do bordo superior do corpo do
osso.

NOTA: olhando para uma cabeça óssea conseguimos perceber se é de um homem ou de uma mulher,
pois no homem os arcos superciliares são mais desenvolvidos e o ângulo da mandíbula é mais para fora.

ARTICULAÇÃO TEMPOROMANIBULAR (ATM) – sinovial complexa e bicondiliana

É a articulação entre os côndilos da mandíbula e a parte articular do tubérculo articular do temporal.


As faces articulares estão cobertas por fibrocartilagem (uma exceção, pois as articulações sinoviais
geralmente possuem cartilagem hialina). Como o movimento de um côndilo implica o movimento do
outro, é considerada uma articulação sinovial bicondiliana.

Tem uma cápsula articular fibrosa, que se fixa no contorno das faces articulares e no contorno do disco
articular (inserção superior no tubérculo articular, anteriormente e fissura escamotimpânica,
posteriormente; inferiormente insere-se no colo da mandíbula). A porção superior da cápsula é laxa e a
porção inferior está sob tensão. É revestida por uma membrana sinovial que não recobre o disco nem
as faces articulares.

Ligamentos:

Ligamento lateral (ou temporomandibular) – entre o tubérculo da raiz do


zigoma do osso temporal e a face lateral e bordo posterior do colo do
côndilo; as suas fibras orientam-se posteroinferiormente.

Ligamento esfenomandibular – é medial à articulação e vai da espinha do


esfenoide à língula da mandíbula

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Ligamento estilomandibular – vai do vértice da apófise estiloide ao ângulo da mandíbula e é considerado
um “falso ligamento” por ser um espessamento da fáscia cervical, aparentemente sem papel funcional
na articulação.
Disco articular:
Tem uma forma muito complexa de
boné (forma oval com anel periférico
espesso e depressão central). Divide-se
em duas porções: temporal e mandibular
e a cápsula articular que o reveste
também vai ser diferente na sua porção
superior e inferior.
Tem como funções: distribuição da carga, redução da força
friccional ao separar o movimento em dois compartimentos,
reservatório de líquido lubrificante e contribuir para a flexibilidade
da articulação. Estabiliza a articulação inferiormente e destabiliza
superiormente.
À medida que a idade avança pode ficar com buracos que levam a
degenerações da articulação.

Posições:
• Posição de repouso - arcadas dentárias levemente afastadas
• Posição de oclusão - arcadas dentárias em contacto
íntimo
Movimentos:
• Depressão porção inferior do disco
• Elevação
• Protração porção superior do disco
• Retração
• Lateralidade (didução) - côndilo e o disco
articular de um lado movimentam-se
anteriormente, rodando em torno de um eixo
vertical que passa imediatamente posterior ao
côndilo do lado oposto; se houver alternância
entre os dois côndilos produzem-se
movimentos de lateralidade do queixo.
Na depressão da mandíbula inicialmente existe um
movimento dos côndilos em torno de um eixo
transversal. Enquanto esse movimento se efetua, dá-se
também um deslizamento anterior e inferior, sob os discos articulares estacionários (no espaço articular
inferior; a porção inferior da cápsula articular é tensa) e os ligamentos laterais ficam sob tensão
precocemente. Os discos articulares acompanham depois o deslizamento anterior e inferior do côndilo
(no espaço articular superior; a porção superior da cápsula articular é laxa). O movimento anterior dos
discos articulares chega até aos tubérculos articulares dos temporais; este movimento é restringido
pelas fibras elásticas que se inserem posteriormente no disco articular. Os côndilos continuam o
movimento e colocam-se sob a parte anterior da face inferior dos discos articulares – a boca está
completamente aberta; os ligamentos esfenomandibulares ficam tensos nesta fase.
A abertura da boca implica movimentos de depressão e protração.
No movimento de fecho da boca dá-se o inverso do produzido na abertura da boca.
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MÚSCULOS DA MÍMICA, DA EXPRESSÃO FACIAL OU CUTICULARES (23)
Localizam-se superficialmente e têm inserções ou influência na pele (daí “cuticulares”).
Apresentam grande variabilidade no grau de desenvolvimento, forma e poder contráctil.
Têm origem embrionária no mesenquima do 2º arco faríngeo e são inervados pelo nervo facial (VII par
craniano).
As suas principais ações são como esfíncteres ou dilatadores de orifícios, expressão facial, proteção,
mastigação e fala.
Dividem-se em:
1. Musculatura epicraniana
2. Musculatura periorbitária
3. Musculatura do nariz
4. Musculatura bucolabial
5. Outros músculos da mímica

1- Musculatura epicraniana (o epicrânio consiste no occipitofrontal e no temporoparietal)

estende-se desde o topo da testa (anteriormente) até à linha nucal suprema


Escalpe (posteriormente); lateralmente, projeta-se inferiormente em direção ao arco zigomático
e meato acústico externo; é constituído por cinco camadas.

S - PELE
C - TECIDO CONJUNTIVO DENSO Em conjunto com os músculos epicranianos, forma uma
camada fibromuscular desde a linha nucal suprema do
A - TECIDO APONEVRÓTICO occipital até às sobrancelhas.
L - TECIDO CONJUNTIVO LAXO Posteriormente, fixa-se à linha nucal suprema e à
protuberância occipital externa e anteriormente divide-se.
P - PERICRÂNIO Lateralmente, os músculos auriculares anterior e superior
estão ligado a ela.
Fina e contínua ao longo da fáscia temporal, até o arco
zigomático.
➢ Músculo occipitofrontal – 4 porções quadriláteras e finas Unida à pele pela fáscia superficial fibrosa, mais
na camada de tecido aponevrótico do escalpe frouxamente ligada ao pericrânio subjacente pelo tecido
areolar, o que lhe possibilita mover-se livremente.

porção frontal – sem inserções ósseas


porção occipital – origem na parte
lateral da linha nucal suprema

AÇÕES
porção frontal - movimento anterior do
escalpe, levando à formação de rugas
transversais na testa; elevação das
sobrancelhas e da pele sobre a raiz do
nariz (expressão de surpresa, horror)
porção occipital - movimento posterior
do escalpe.

➢ Músculo temporoparietal - lâmina de músculo variavelmente


desenvolvida que se situa entre os músculos auriculares anterior e
superior
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2- Musculatura periorbitária (músculos esfíncteres do olho, responsáveis pelos reflexos
oculares e importantes na expressão facial)
AÇÕES
➢ Músculo orbicular do olho Fibras orbitárias – pregas verticais na região supranasal,
ORIGENS E INSERÇÕES estreitamento da fissura palpebral (proteção de luz forte),
porção orbitária – origem na parte nasal cerrar forte dos olhos (conseguido por abaixamento da
do osso frontal, apófise frontal do osso pálpebra superior, mas também por elevação da pálpebra
maxilar e na parte mais apical do inferior);
ligamento palpebral medial, sendo que Fibras palpebrais – reflexos (“piscar”); fecho voluntário
as fibras formam elipses completas (“dormir”);
porção palpebral - origem no ligamento Fibras lacrimais – dilatação do saco lacrimal (drenagem de
palpebral medial e inserção no rafe lagrimas);
palpebral lateral
Contração das 3 porções – pregas radiantes no ângulo
porção lacrimal – mais profunda e lateral das pálpebras.
medial, tendo origem na parte superior
da crista lacrimal e no osso lacrimal e
inserção no rafe palpebral central,
embora algumas se insiram no tarso das
pálpebras

➢ Músculo corrogador do supercilio


É um músculo piramidal, profundo ao
ventre frontal do occipitofrontal e do
orbicular do olho.

ORIGEM – extremidade medial dos arcos superciliares


INSERÇÃO – bordo supraorbitário
ORIENTAÇÃO – lateral e superior
AÇÕES:
(1) Coopera com o orbicular do olho, movendo as sobrancelhas medialmente e para baixo para
proteger os olhos do sol brilhante;
(2) Também está envolvido no movimento de franzir as sobrancelhas;
(3) Ação combinada dos dois músculos produz rugas, principalmente verticais sobre a tira
supranasal da testa;
(4) Expressão de preocupação.

➢ Músculo elevador da pálpebra superior (a estudar na aula de conteúdo orbitário)

3- Musculatura do nariz (envolvida na respiração, expressão facial e produção de alguns sons


durante a fala, sendo que podem estar ausentes nas deformidades da fenda labial, com consequências
estéticas e funcionais)

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➢ Músculo prócero
É um músculo piramidal medial à porção frontal do occipitofrontal.

ORIGEM – osso nasal e porção superior da cartilagem nasal lateral


INSERÇÃO – pele na região da glabela
AÇÕES:
(1) Puxa o ângulo medial da sobrancelha para baixo e produz
pregas transversas supranasais;
(2) Ativo no franzimento da testa e durante a “concentração” e
“desdém”;
(3) Ajuda a reduzir os reflexos da claridade da luz do sol.

➢ Músculo nasal

PORÇÃO TRANSVERSA PORÇÃO ALAR (dilatador naris)


(compressor naris)
ORIGEM – inferomedialmente à
ORIGEM – superior e lateral à fossa origem da parte transversa,
incisiva do osso maxilar, superiormente ao dente incisivo lateral
lateralmente à origem da porção e ao canino, sendo que as fibras
alar, sendo que as fibras passam para passam antero-superiormente e fixam-
cima medialmente e expandem-se se na pele da asa do nariz acima do
numa aponevrose fina que se funde ramo lateral da cartilagem alar maior, e
com o seu homólogo através do na região posterior da parte móvel do
dorso do nariz; septo nasal
AÇÃO ISOLADA – compressão das AÇÃO ISOLADA – movem as partes
narinas alares e posterior da columela para
baixo e lateralmente e promovem o
alargamento das narinas
AÇÃO CONJUNTA – estão ativos imediatamente antes da inspiração

➢ Músculo depressor do septo


ORIGEM- osso maxilar medialmente ao incisivo medial;
INSERÇÃO - porção móvel do septo nasal e columela
AÇÕES:
(1) depressão do vértice do nariz, do septo nasal e da columela;
(2) dilatação da narina
(3) em conjunto a parte alar do músculo nasal, alarga as narinas, fazendo
também que o nariz “incline para baixo” quando algumas pessoas sorriem.

➢ Porção nasal do músculo elevador do lábio superior e da asa do nariz

ORIGEM – parte superior da apófise frontal da maxila, orientando-se inferior e


obliquamente e dividindo-se em porções medial (nasal), que se insere na cartilagem
alar e lateral (labial), que se funde com o elevador do lábio superior e o orbicular da
boca;
AÇÃO DA PORÇÃO NASAL: puxa o ramo lateral superiormente, desloca o sulco
circumalar lateralmente e altera a sua curvatura: trata-se de um dilatador das
narinas. Nota: os músculos depressores do septo nasal e fascículo medial do elevador do lábio
superior easa do nariz são por vezes descritos como dilatadores nasais secundários.

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4- Musculatura bucolabial (o orifício da boca e a postura dos lábios são controlados por um
complexo tridimensional de fascículos musculares, responsável pelo controlo da forma da boca e
posição dos lábios)

4.1 - Músculos tractores do lábio superior


➢ Porção labial do elevador do lábio superior e da asa do nariz1
AÇÕES DA PORÇÃO LABIAL – elevação e eversão do lábio superior e aprofundamento da curvatura do
sulco nasolabial
➢ Elevador do lábio superior2
ORIGEM - superiormente ao buraco infra-orbitário no osso maxilar e osso zigomático
INSERÇÃO - metade lateral do lábio superior
AÇÕES - elevação e eversão do lábio superior; modificação do contorno e profundidade do sulco
nasolabial nas expressões de tristeza e seriedade
➢ Zigomático menor3
ORIGEM - face lateral do osso zigomático, dirigindo-se inferior e medialmente
INSERÇÃO - lábio superior, medialmente ao ângulo da boca
AÇÕES - elevação do lábio superior com exposição dos dentes; elevação e aprofundamento do sulco
nasolabial em conjunto com os outros elevadores do lábio superior

4.2 – Músculos tractores do lábio inferior


➢ Depressor do lábio inferior4
ORIGEM - linha oblíqua da mandíbula, profundamente ao depressor do ângulo da boca
INSERÇÃO - sobe medialmente na pele e na mucosa do lábio inferior, cruzando-se e misturando-se com
o orbicular da boca
AÇÕES - depressão e ligeiro movimento lateral do lábio inferior na mastigação; assiste na eversão do
lábio inferior (expressão de “ironia”, “melancolia”, “dúvida”)

➢ Mentoniano5 (mais profundo deste grupo)


ORIGEM - fossa incisiva da mandibula
INSERÇÃO - pele do mento
AÇÕES - rugas na região mentoniano; importante no ato de beber fazendo a protrusão e eversão do
lábio inferior; expressão de “dúvida”, “desdém”
➢ Porção labial do platisma

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4.3 – Músculos modiolares
➢ Zigomático maior6
ORIGEM - anteriormente à sutura zigomático-temporal, profundo ao orbicular do olho
INSERÇÃO - modíolo
AÇÕES - movimento superior e lateral do ângulo da boca; está envolvido na gargalhada
➢ Elevador do ângulo da boca7
ORIGEM - fossa canina da maxila, inferiormente ao buraco infraorbitário
INSERÇÃO - modíolo
AÇÕES - elevação do ângulo da boca (sorrir); contribuirão para o contorno e profundidade do sulco
nasolabial
➢ Depressor do ângulo da boca8 (sup ao buraco mentoniano)
ORIGEM - longa e linear desde o tubérculo mentoniano à linha oblíqua da mandíbula, numa posição
mais lateral
INSERÇÃO - pele e modíolo
AÇÕES - movimento inferior e lateral do ângulo da boca na abertura da fissura oral; expressão de
“tristeza”
➢ Porção modiolar do platisma
➢ Risório9
ORIGEM - fáscia sobre o masséter
INSERÇÃO - modíolo
AÇÕES - movimento lateral do ângulo da boca; sorriso, gargalhada
➢ Bucinador10 (situa-se entre a maxila e a mandíbula)
Dá continuidade entre os músculos da cavidade oral e os músculos da orofaringe através da sua origem
no rafe pterigomandibular (localizado entre o gancho da lâmina medial da apófise pterigoide e a
extremidade posterior da linha milo-hioideia). É perfurado pelo canal parotídeo.
- Fibras centrais – pterigomandibulares (intersetam o modíolo)
- Fibras superiores – maxilares (passam para o lábio superior, entrecruzando-se com o orbicular da
boca)
- Fibras inferiores – mandibulares (passam para o lábio inferior)
AÇÕES - compressão das bochechas contra dentes e gengivas, complementando os movimentos da
língua durante a mastigação; importante no “sopro” e para tocar instrumentos de sopro

IMPORTÂNCIA DO MODÍOLO
O modíolo corresponde a uma estrutura fibromuscular compacta e móvel, localizada
lateralmente ao ângulo da boca, para onde convergem vários músculos, em diferentes planos.
É extremamente importante por ser responsável pela integração da atividade muscular das
bochechas, lábios e fissura oral (é uma base fixa para a ação do bucinador e do orbicular da
boca e regula a posição dos lábios e da boca. Para além disso, está envolvido em inúmeras
expressões faciais, na fala e emissão de sons.
Os principais músculos responsáveis pela manutenção da posição do modíolo são: zigomático
maior, elevador do ângulo da boca, depressor do ângulo da boca, porção modiolar do platisma.

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4.4 – Músculos esfincterianos
➢ Orbicular da boca12
ORIGEM - maxila e mandíbula, associando-se a outros músculos; forma elipses que rodeiam a cavidade
oral
INSERÇÃO - pele e membrana mucosa
AÇÕES - fecho da cavidade oral; protrusão dos lábios; envolvido no “assobio”

4.5 – Músculos acessórios


➢ Incisivo do lábio superior
➢ Incisivo do lábio inferior

5 - Outros músculos da mímica

➢ Músculo platisma – é um músculo do pescoço, mas que


contribui para o complexo muscular do orbicular da boca
Divide-se em 3 porções: mandibular, labial e modiolar.
ORIGEM - fáscia superficial do tórax (omoplata, clavícula, esterno)
INSERÇÃO - mandíbula, onde se relaciona com os músculos da mímica

➢ Auricular anterior
➢ Auricular superior
➢ Auricular posterior

MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO (4)

➢ Temporal
ORIGEM - fossa temporal inferiormente à linha temporal inferior e face profunda da fáscia temporal
INSERÇÃO - através de um tendão na apófise coronoide e bordo anterior do ramo da mandíbula
AÇÕES - elevação da mandíbula; retração da mandíbula (fibras posteriores)

➢ Masseter (músculo mais forte)


ORIGEM:
- porção superficial: bordo inferior do arco zigomático
- porção profunda: face medial do arco zigomático
INSERÇÃO - face lateral do ramo da mandíbula; a porção profunda
insere-se na parte mais superior do ramo da mandíbula
AÇÃO – elevação da mandíbula e encerramento dos dentes)

➢ Pterigoideu medial
ORIGEM:
- porção superficial: apófise piramidal do osso palatino e tuberosidade da maxila;
- porção profunda: face medial da lâmina pterigoideia lateral e na face posterior da apófise piramidal
do osso palatino
INSERÇÃO - parte posteroinferior da face medial do ramo e ângulo da mandíbula
AÇÕES - elevação da mandíbula; contração bilateral com os pterigoideus laterais produz protração da
mandíbula; contração com o pterigoideu lateral do mesmo lado leva o mento a deslocar-se para o lado
oposto

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➢ Pterigodeu lateral
ORIGEM:
- porção superior: parte infratemporal da asa maior do esfenóide
- porção inferior: face lateral da lâmina pterigoideia lateral
INSERÇÃO - cápsula e disco articular da articulação temporomandibular e na face antero-medial do colo
da mandíbula (fóvea pterigoideia)
AÇÕES – participa na depressão da mandíbula ao deslocar anteriormente o côndilo da mandíbula
(protração) e o disco articular; a contração dos 4 pterigoideus leva a protração da mandíbula; a
contração dos 2 pterigoideus do mesmo lado leva a um movimento do mento para o lado oposto;
estabilização do côndilo da mandíbula em certos movimentos fazendo com que o côndilo fique em
contacto com o tubérculo articular.

PESCOÇO
Corresponde a uma estrutura que se estende desde a protuberância occipital externa, linha nucal
superior, apófise mastoide, ângulo da mandíbula e bordo inferior da mandíbula (linha pericrâniocervical)
até ao inlet torácico e bordos superiores da clavícula e omoplata.
O trapézio e o esternocleidomastoideu dividem o pescoço em 2 porções:
• Porção antero-lateral* – limite superior: sínfise mentoniana, bordo inferior da mandíbula, linha que une
o ângulo da mandíbula à apófise mastoide; limite inferior: incisura jugular do manúbrio, face superior da
clavícula; limite posterior: bordo anterior do trapézio
• Porção posterior.

*A porção antero-lateral, por sua vez, pode ser dividida em 2 triângulos pelo esternocleidomastoideu:

• Triângulo anterior - limite anterior: linha mediana anterior; limite posterior: bordo anterior do
esternocleidomastoideu; limite superior: bordo inferior da mandíbula e linha que se continua do ângulo
da mandíbula para a apófise mastoide. Engloba 4 triângulos:
Submentoniano (único triângulo muscular ímpar)
Limites laterais: ventres anteriores dos músculos digástricos direito e esquerdo; limite inferior:
corpo do osso hióide
Digástrico (ou submandibular)
Limite superior: base da mandíbula e linha que une o ângulo da mandíbula à apófise mastoide;
limite posterior e inferior: ventre posterior do digástrico e músculo estilo-hioideu; limite anterior
e inferior: ventre anterior do digástrico
Muscular
Limites: posterior e superior – ventre superior do omo-hioideu; inferior e posterior – bordo
anterior do esternocleidomastoideu; anterior – linha mediana anterior
Carotídeo
Limites anterior e inferior – ventre superior do omo-hioideu; limite superior: ventre posterior
do digástrico e estilo-hioideu; limite posterior: bordo anterior do esternocleidomastoideu; o
osso hióide forma o seu ângulo anterior

• Triângulo posterior – limite anterior: bordo posterior do esternocleidomastoideu; limite posterior: bordo
anterior do trapézio; limite inferior: terço médio da clavícula; teto: folheto superficial (de revestimento)
da fáscia cervical profunda; pavimento: folheto pré́-vertebral da fáscia cervical profunda sobre o esplénio
da cabeça, elevador da omoplata e escalenos. Divide-se pelo ventre inferior do omo-hioideu, que o cruza
aproximadamente 2,5 cm superior à clavícula, em 2 triângulos:
Triângulo occipital (superior e maior) - cruzado pelo nervo acessório (XI par craniano)
Triângulo supraclavicular (inferior e mais pequeno)
15
FÁSCIA DA REGIÃO CERVIVAL

As fáscias da região cervical dividem-se em 2:


- Fáscia cervical superficial
Corresponde a um revestimento do pescoço que contém tecido adiposo, vasos, nervos e o platisma
e que consiste em tecido conjuntivo laxo localizado entre a derme e a fáscia cervical profunda.
- Fáscia cervical profunda – divide-se em 3 folhetos:
- Folheto superficial: é contínuo posteriormente com o ligamento nucal e com o
periósseo da apófise espinhosa da 7ª vértebra cervical; envolve o músculo trapézio e forma o
teto do triângulo posterior do pescoço; rodeia o esternocleidomastoideu e une-se ao folheto do
lado contralateral; superiormente ao manúbrio divide-se num folheto anterior (inserido no
bordo anterior do manúbrio) e num folheto posterior (inserido no bordo posterior do manúbrio
e ligamento interclavicular), sendo que entre estes folhetos encontra-se o espaço supraesternal
que contém tecido conjuntivo, a parte inferior das veias jugulares anteriores, o arco venoso
jugular e as cabeças esternais do esternocleidomastoideu.
- Folheto médio - divide-se, por sua vez, em folheto muscular (que rodeia os músculos
infra-hioideus) e em folheto visceral (que recobre o eixo visceral do pescoço, faringe, laringe,
tranqueia e esófago, e ainda a tiroide – fáscia pré-traqueal e fáscia bucofaríngea); o folheto
visceral lateralmente funde-se com o folheto de revestimento da fáscia cervical profunda e
bainha carotídea.
- Folheto profundo – divide-se, por sua vez, em: folheto dorsal (fáscia pré-vertebral) -
com forma cilíndrica, rodeia a coluna vertebral e reveste os músculos que nela se inserem ao
longo do pescoço e também os músculos escaleno anterior, escaleno médio e elevador da
omoplata, inserindo-se nas apófises espinhosas das vértebras cervicais e fazendo parte do
pavimento do triângulo posterior do pescoço; folheto ventral (fáscia alar) – orientado
coronalmente, anterior à fáscia pré-vertebral, separando-se desta por tecido conjuntivo laxo,
insere-se nas apófises transversas das vértebras cervicais
- Bainha carotídea – corresponde à condensação da fáscia cervical profunda, envolvendo
o feixe vásculo-nervoso do pescoço (a artéria carótida comum e artéria carótida interna, a veia
jugular interna e o nervo vago, X par craniano); pode conter superficialmente alguns
componentes da ansa cervical.

16
MÚSCULOS DO PESCOÇO
Dividem-se em:

1- Músculos superficiais

➢ Platisma – é considerado um músculo da mímica localizado na fáscia cervical superficial, logo é


inervado pelo nervo facial (VII par craniano) e divide-se em:
- fibras anteriores: rafe com as fibras do músculo contralateral,
inferiormente à sínfise mentoniana
- fibras intermédias: bordo inferior da mandíbula (porção
mandibular) e metade lateral do lábio inferior (porção labial)
- fibras posteriores (cruzam o corpo da mandíbula e a parte antero-
inferior do masséter e inserem-se no modíolo (porção modiolar)
AÇÕES: cristas oblíquas na pele do pescoço e auxílio da depressão da mandíbula,
do lábio inferior e do ângulo da boca

➢ Esternocleidomastoideu
ORIGEM – a porção esternal na face anterior do manúbrio, a porção clavicular no
terço medial da clavícula e entre as duas porções na fossa supraclavicular
INSERÇÃO – apófise mastoide do temporal e metade lateral da linha nucal superior
AÇÕES - individualmente faz flexão lateral da cabeça para o lado ipsilateral, com
rotação da cabeça fazendo com que a face se oriente para o lado contralateral; em
conjunto, os dois músculos, fazem flexão da cabeça auxiliando o longo do pescoço.
O movimento visual que implica dirigir os globos oculares para os dois lados (com
rotação nivelada da cabeça) deve ser a mais frequente ação deste músculo

➢ Trapézio

2- Músculos do triângulo anterior do pescoço – relacionam-se com o osso hioide:

É um osso em forma de U que se encontra suspenso nas


apófises estiloides dos ossos temporais, através do ligamento
estilohioideu.

2.1 – Músculos supra-hioideus – ação comum de elevar ou fixar o osso hioide

➢ Milo-hioideu (forma o pavimento da boca)


ORIGEM - linha milo-hioideia da mandíbula; forma rafe mediano com
as fibras do músculo contralateral;
INSERÇÃO - osso hióide, próximo do seu bordo inferior
AÇÕES - elevação da língua e do hioide

17
➢ Digástrico – possui dois ventres
- Ventre posterior (é inervado pelo nervo facial)
ORIGEM - incisura mastóidea do osso temporal, dirigindo-se anterior e inferiormente terminando num
tendão intermédio que perfura o tendão de inserção do músculo estilohioideu;
INSERÇÃO- através de uma ansa fibrosa no corpo e no corno maior do osso hióide
- Ventre anterior (inervação pela divisão mandibular do nervo trigémeo)
ORIGEM - tendão intermédio do ventre posterior e tem orientação anterior
e superior
INSERÇÃO - fossa digástrica da mandibula
AÇÕES - quando a mandíbula está fixa eleva o osso hióide; quando o hióide
está fixo faz a depressão da mandíbula (é um dos principais músculos
depressores da mandíbula)

➢ Estilohioideu (inervado pelo nervo facial)


ORIGEM - base da apófise estiloide
INSERÇÃO - região lateral do corpo do osso hióide
AÇÕES - durante a deglutição eleva póstero-superiormente o osso hióide

➢ Génio-hioideu (localizado superiormente à porção medial de cada


milo-hioideu)
ORIGEM - tubérculos genianos
INSERÇÃO - corpo do osso hióide
AÇÕES - movimenta o hióide anteriormente ou faz depressão da
mandíbula (um dos mais importantes músculos depressores da
mandíbula)

2.2 – Músculos infra-hioideus – conhecidos como


“músculos em fita”, têm como ação comum a depressão
ou fixação do osso hioide e movimentar a cartilagem
tiroideia; são quase todos inervados por ramos da ansa
cervical

➢ Esterno-hioideu
ORIGEM - face posterior do manúbrio esternal e articulação
esternoclavicular, dirigindo-se superomedialmente
INSERÇÃO - bordo inferior do corpo do osso hióide

➢ Esternotiroideu (profundo e parcialmente medial ao esterno-


hioideu; é contínuo com o tiro-hioideu)
ORIGEM - face posterior do manúbrio esternal
INSERÇÃO - linha oblíqua da cartilagem tiroideia
AÇÕES - depressão da laringe se o osso hióide estiver fixo

18
➢ Tiro-hioideu (pequeno e quadrilátero; profundo às porções
superiores do omo-hioideu e esterno-hioideu)
ORIGEM - linha oblíqua da cartilagem tiroideia
INSERÇÃO - corno maior e porção adjacente do corpo do osso hióide
AÇÕES - elevação da laringe se o osso hióide estiver fixo
EXCEÇÃO - este músculo não é inervado por ramos da ansa cervical, mas
sim por ramos do 1º nervo cervical.

➢ Omo-hioideu (lateral ao esterno-hioideu)


- Ventre inferior
ORIGEM - bordo superior da omoplata, perto da incisura
supraescapular, terminando no tendão intermédio, posteriormente
ao esternocleidomastoideu
- Ventre superior
ORIGEM - tendão intermédio
INSERÇÃO - bordo inferior do corpo do osso hióide, lateralmente à
inserção do esterno-hioideu
AÇÕES – depressão do osso hioide após a sua elevação mediada por
músculos do compartimento supra-hioideus
NOTA - O tendão intermédio une-se à clavícula e à 1ª costela através de um espessamento da fáscia
cervical profunda.

3- Músculos pré-vertebrais

3.3.1 - Músculos vertebrais anteriores (localizam-se anteriormente à coluna vertebral e


são flexores da cabeça e do pescoço)

➢ Reto anterior da cabeça (localiza-se posteriormente ao longo da cabeça)


ORIGEM - face anterior da massa lateral do atlas e sua apófise transversa,
dirigindo-se superiormente
INSERÇÃO - porção basilar do occipital, anteriormente ao côndilo occipital
AÇÕES - flexão da cabeça na articulação atlanto-occipital

➢ Reto lateral da cabeça


ORIGEM - face superior da apófise transversa do atlas, dirigindo-se superiormente
INSERÇÃO - face inferior da apófise jugular do occipital
AÇÕES - flexão ipsilateral da cabeça

➢ Longo da cabeça
ORIGEM – a partir de um tendão, nos tubérculos anteriores das apófises
transversas de C3 A C6, dirigindo-se superiormente
INSERÇÃO – superfície inferior da porção basilar do occipital
AÇÕES – flexão da cabeça
19
➢ Longo do pescoço (é profundo ao longo da cabeça, estendendo-se entre
o atlas e T3)
- Porção oblíqua superior: origem nos tubérculos anteriores das
apófises transversas de C3-C5 e inserção no tubérculo do arco anterior
do atlas
- Porção oblíqua inferior: origem na superfície anterior dos corpos de
T1-T3 e inserção nos tubérculos anteriores das apófises transversas de
C5-C6
- Porção vertical: origem na face anterior de C5-T3 E inserção na face
anterior dos corpos de C2-C4 entre as duas porções oblíquas;
AÇÕES - flexão anterior e lateral do pescoço, com rotação ligeira para o lado oposto

3.3.2 - Músculos vertebrais laterais – têm origem nas apófises


transversas das vértebras cervicais e levam à elevação da 1ª ou 2ª costelas,
podendo ser ativados na inspiração

➢ Escaleno anterior (é profundo e postero-lateral ao esternocleidomastoideu)


ORIGEM - tubérculos anteriores das apófises transversas de C3-C6
INSERÇÃO – tubérculo escaleno e face superior da 1ª costela, anteriormente ao sulco
para a artéria subclávia
AÇÕES – movimentação da porção cervical da coluna vertebral anterolateralmente,
rodando a cara para o lado oposto
NOTA – anteriormente a este músculo encontra-se o nervo frénico e as raízes do plexo
braquial estão no seu bordo lateral.

➢ Escaleno médio (é o mais largo e mais longo, estando separado do escaleno


anterior pela artéria subclávia)
ORIGEM - apófises transversas de C2-C7
INSERÇÃO - face superior da 1ª costela entre o tubérculo da costela e o sulco para a
artéria subclávia
AÇÕES – elevação da 1ª costela e pode ser ativado durante a inspiração

➢ Escaleno posterior (é o mais pequeno e profundo)


ORIGEM - tubérculos posteriores das apófises transversas de C4-C6
INSERÇÃO - face externa da 2ª costela, posteriormente ao tubérculo para o músculo
serreado anterior
AÇÕES – elevação da 2ª costela e flexão ipsilateral da porção cervical inferior da coluna
vertebral

20
ORIGENS E INSERÇÕES DOS MÚSCULOS DA AULA

21
22
T5 – Anatomia geral do sistema nervoso periférico e plexos cervicais e braquial; TP4 – Plexos cervical
e braquial

De forma esquematizada, temos que:

Nervo periférico – conjunto de feixes de fibras nervosas (axónios), com


ou sem bainha mielina, cuja espessura depende principalmente do número
de fibras nervosas, do seu calibre e ainda da espessura da bainha de
mielina, caso exista; tem localização fora do SNC e é envolvido por bainhas
conjuntivas:
• Epineuro - bainha de tecido conjuntivo rodeando um nervo
periférico; com linfáticos e vasa nervorum; é continuo com a dura-máter
• Perineuro - bainha de tecido conjuntivo que rodeia feixes nervosos;
é continuo com a aracnoide e reforça a barreira hemato- nervosa
• Endoneuro - bainha de tecido conjuntivo mais profunda, que rodeia
fibras nervosas individuais; é protegida pela barreira hemato- nervosa e é
menos eficiente ao nível dos gânglios raquidianos, gânglios do sistema
nervoso autónomo e porções distais dos nervos.

NERVOS ESPINAIS

8 cervicais Reparar na relação dos nervos


com os pedículos vertebrais:
12 torácicos superiormente de C1 a C7 e
inferiormente ao pedículo da
31 pares 5 lombares respetiva vértebra a partir de C8
5 sagrados
1 coccígeo

Os nervos espinais têm uma:


- raiz ventral ou anterior com fibras eferentes
somáticas ou viscerais gerais;
- raiz posterior ou dorsal com fibras aferentes
somáticas gerais ou viscerais gerais (pode ter um
gânglio espinhal).
A união das duas raízes origina o nervo espinal, que
emerge dum buraco intervertebral e que é,
normalmente, misto (motor – inerva músculos e
sensitivo – inerva a pele, podendo ser
predominantemente de um tipo). Divide-se em ramos:

23
- ramo colateral meníngeo: reentra no canal vertebral e inervam a dura máter, ligamentos, disco
intervertebral e vasos sanguíneos; existem a todos os níveis vertebrais, sendo que de C1 a C3 ascendem
pelo buraco magno e inervam a dura máter que recobre o clivus
- ramo dorsal: são normalmente mais pequenos (exceção de C1) e divide-se em ramos medial e lateral
para a faixa estreita de pele do dorso e músculos do dorso;
- ramo ventral: por comunicarem entre si, os vários ramos ventrais agrupam-se e formam plexos
C1 a C4 – Plexo Cervical
C5 a T1 – Plexo Braquial
Nervos intercostais:
T1 e T2 – distribuição à parede torácica e ao membro superior
T3 a T6 – distribuição exclusiva à parede torácica
T7 a T11 – distribuição às paredes torácica e abdominal
T12 – nervo subcostal
L1 a L4 – Plexo Lombar
L4 a S4 – Plexo Sagrado
S4 a Co1 – Plexo Coccígeo

Segmento medular – porção da medula espinhal em que se implantam as raízes anteriores e posteriores
de um nervo espinal.
Dermátomo – faixa de pele inervada pelas fibras de um dado segmento da medula espinal; é necessária
a contribuição de fibras dos dois segmentos da medula espinal imediatamente vizinhos para a inervação
de cada dermátomo.

NERVOS CERVICAIS – são 8 e cada um divide-se em:

Ramos dorsais – inervam os músculos e a pele da região posterior do


pescoço e tronco e dividem-se em ramo medial e ramo lateral, com a
exceção de C1. Destacam-se duas particularidades:
• o ramo dorsal de C1 é maior que o ramo ventral respetivo e constitui
o nervo suboccipital, que tem ramos musculares;
• o ramo dorsal de C2 também é ligeiramente maior que o ventral e
divide-se em ramo lateral, que é pequeno e tem ramos musculares
e em ramo medial, que corresponde ao nervo grande occipital, que
ascende e inerva a pele do escalpe até à sutura coronal e a porção
posterior do pavilhão auricular.

Ramos ventrais – participam nos plexos cervical e braquial

PLEXO CERVICAL

O plexo cervical é formado pelos ramos ventrais de C1 a C4 e


as suas comunicações. Pode ser dividido em ramos superficiais
e profundos.

Relações: é profundo à veia jugular interna e ao músculo


esternocleidomastoideu e anterior aos músculos escaleno
médio e elevador da omoplata.

24
→ Ramos superficiais ou cutâneos – emergem do
ponto médio do bordo posterior do
esternocleidomastoideu
Ramos superficiais descendentes
Nervos supraclaviculares (C3 e C4) – emergem do bordo
posterior do esternocleidomastoideu e dividem-se em
ramos:
- mediais: inervam a pele na linha média até ao
nível da 2ª costela e a articulação esternoclavicular
- intermédios: inervam a pele sobre o peitoral
maior e deltóide até ao nível da 2ª costela
- laterais: inervam a pele da porção posterior e
superior do ombro
Ramos superficiais ascendentes
Nervo pequeno occipital (C2) – dirige-se posterior e superiormente
ao longo do bordo posterior do esternocleidomastoideu e inerva a
porção lateral do couro cabeludo posterior e a superfície cranial do
pavilhão auricular;
Nervo grande auricular (C2 e C3) – é o maior ramo ascendente do
plexo cervical e cruza superficialmente o esternocleidomastoideu,
dirigindo-se para o pavilhão auricular; divide-se em 2 ramos:
- ramo anterior inerva a pele da face sobre a glândula parótida e
tem conexão com o nervo facial
- ramo posterior inerva pele sobre a apófise mastoide e parte posterior do pavilhão auricular (exceto
parte superior)
Nervo transverso do pescoço (C2 e C3) – cruza a face lateral do esternocleidomastoideu e tem direção
perpendicular e anterior; divide-se em 2 ramos:
- ramo ascendente
- ramo descendente, que é profundo ao platisma e inerva a pele das regiões antero-laterias do
pescoço

→ Ramos profundos
- Mediais
Ramos comunicantes:
com o nervo hipoglosso (nervo craniano) – C 1 e C2
com o nervo vago – C1 e C2
com o componente simpático do sistema nervoso
autónomo – C1 a C4
Ramos musculares (unem-se na raiz inferior da ansa cervical)
para o reto lateral da cabeça – C1
para o reto anterior da cabeça – C1 e C2
para o longo da cabeça – C1, C2 e C3
para o longo do pescoço – C2, C3 e C4
Ansa Cervical ou do Hipoglosso – saem ramos que vão inervar os músculos
infra-hioideus, à exceção do tiro-hioideu

25
Nervo frénico - nervo motor, que é o maior nervo do plexo cervical e que tem 2 ramos: pericárdico e
frénico-abdominal
- Laterais
Ramos comunicantes
para o nervo acessório
Nervos musculares:
para o esternocleidomastoideu – C2, C3 e C4, fibras propriocetivas
para o trapézio – C2, fibras propriocetivas
para o escaleno médio – C3 e C4
para o elevador da omoplata – C3 e C4 Nota: a inervação motora do esternocleidomastoideu e do
trapézio é dependente do nervo acessório, o XI par craniano

PLEXO BRAQUIAL

O plexo braquial é formado pelos ramos ventrais de C5 a T1 e as suas comunicações. Para ser
entendido, é importante perceber certos conceitos:
Raízes – recebem ramos comunicantes cinzentos do tronco simpático e unem-se para formar:
Troncos – são 3, um superior, um médio e um inferior, em relação à artéria subclávia; dividem-se em:
Divisões – sendo que há sempre uma anterior, que se vai relacionar com os nervos periféricos do
compartimento anterior do braço e do antebraço e uma posterior, sendo que as 3 divisões posteriores
se vão unir e relacionar-se com os nervos do compartimento posterior do braço e antebraço; as junções
das divisões origina:
Cordões – um lateral, um posterior e um medial, em relação à artéria axilar
Nervos terminais – correspondem aos nervos periféricos propriamente ditos.
PLEXO BRAQUIAL

26
Os ramos do plexo cervical dividem-se em:
→ Ramos supraclaviculares:

- Ramo das raízes


- Nervo dorsal da omoplata – é essencialmente motor, parte da
raiz anterior de C5 em direção posterior e perfura o escaleno
médio do pescoço, dirigindo-se para o bordo medial da omoplata;
inerva os músculos romboides maior e menor pela sua face
profunda.

- Nervo torácico longo – é essencialmente motor, parte das raízes


anteriores de C5 a C7 e vai ser encontrado na face superficial do
músculo serrado anterior, inervando-o; é facilmente lesionado, por
exemplo, com mochilas pesadas, provocando “Winging Scapula”.

Nota: O nervo frénico tem uma contribuição de C5, pelo que poderá ser
mencionado nesta divisão, embora seja um nervo do plexo cervical.

- Ramo dos troncos


- Nervo subclávio – é essencialmente motor, deriva de C5 e
C6 (tronco superior) e dirige-se antero-inferiormente e
superiormente à artéria e veia subclávias, para inervar o
músculo subclávio.

- Nervo supraescapular - é essencialmente motor, deriva de


C5 e C6 (tronco superior) e passa lateralmente pelo triângulo
posterior do pescoço e depois inferiormente ao ligamento
transverso da omoplata, inervando os músculos supra-
espinhoso e infra-espinhoso.

→ Ramos infraclaviculares:
- do cordão lateral
- Nervo peitoral lateral - é essencialmente motor, deriva de C5
a C7 (cordão lateral) e inerva o músculo peitoral maior.

- Nervo musculocutâneo – é um nervo misto, deriva de C5 a C7 e inerva


todos os músculos do compartimento anterior do braço, sendo sensitivo para
a pele do lado lateral do antebraço; surge ao nível do bordo lateral do peitoral
menor, perfura o coracobraquial e passa entre o bicípite braquial e o braquial,
inervando esses 3 músculos; termina como nervo cutâneo
lateral do antebraço.
Nota: o nervo musculocutâneo, as raízes lateral e medial do nervo
mediano e o nervo cubital formam um “M” sobre a 3ª parte da artéria
axilar.

- Raiz lateral do nervo mediano (ver no fim)

27
- do cordão medial
- Nervo peitoral medial - é essencialmente motor, deriva de C8 a T1 (cordão medial) e inerva
tanto o peitoral maior como o menor, localizando-se entre estes.

- Nervo cutâneo medial do braço – é


essencialmente sensitivo, deriva de C8 a T1 (cordão
medial) e inerva a pele da porção superior da face
medial do braço e do pavimento da axila; comunica
com o nervo intercostobraquial (T12).

- Nervo cutâneo medial do antebraço – é


essencialmente sensitivo, deriva de C8 a T1 (cordão
medial) e surge logo após o nervo cutâneo medial
do braço, perfura a fáscia profunda e inerva a pele sobre a face anterior do
antebraço até ao punho.

- Nervo cubital – é o maior ramo do cordão medial, deriva de (C7), C8 e T1 e recebe um ramo
comunicante da raiz lateral do nervo mediano com origem no cordão lateral, contendo fibras de C7; é
um nervo misto pois inerva todos os músculos intrínsecos da mão, exceto os 3 músculos tenares e os 2
lumbricais laterais e a pele da face palmar e dorsal do 5º dedo e metade medial do 4º e da palma da
mão associada; no antebraço inerva apenas o músculo flexor cubital do carpo e metade medial do flexor
profundo dos dedos (4º e 5º dedos). Próximo do punho vai relacionar-se com o bordo lateral do tendão
do flexor cubital do carpo. No antebraço, divide-se em vários ramos musculares:
- ramo palmar - surge meio do antebraço e dirige-se para a pele do lado medial da palma da mão
(eminência hipotenar)
- ramo dorsal - surge na parte distal do antebraço, inerva a pele da porção poostero-medial do dorso
da mão e a maior parte da pele da face posterior do 5º dedo e metade medial do 4º dedo.
Na mão, vai passar lateralmente ao pisiforme pelo canal cubital (Canal de Guyon), dividindo-se num
ramo superficial ou palmar (sensitivo – inerva pele da face palmar e dorsal do 5º dedo e metade
medial do 4º e também o músculo palmar curto) e profundo (motor – inerva todos os músculos
intrínsecos da mão, exceto os 3 músculos tenares e os 2 lumbricais laterais).

28
- Raiz medial do nervo mediano (ver no fim)

- do cordão posterior
- Nervo subescapular superior - é essencialmente motor, deriva
de C5 e C6 e inerva o músculo subescapular.

- Nervo subescapular inferior - é essencialmente motor, deriva


de C5 e C6 e inerva o músculo subescapular e o redondo maior.

- Nervo toracodorsal - é essencialmente motor, deriva de C6 a


C8 e inerva o músculo grande dorsal anteriormente.

- Nervo axilar – é um nervo misto, deriva de C5 e C6, passa


pelo espaço quadrangular, rodeia posteriormente o colo cirúrgico do
úmero e origina o nervo cutâneo lateral superior do braço; inerva os
músculos deltoide e redondo menor e a pele sobre a porção superior
e lateral do braço; é facilmente lesionado (fratura no colo cirúrgico
do úmero, uso incorreto de muletas, luxação da articular gleno-
umeral) e pode provocar o atrofiamento do deltoide e alterações na
sensibilidade cutânea.

- Nervo radial – surge juntamente com o nervo axilar (deriva


de C5 e C6) e vai inervar todos os músculos do compartimento
posterior do braço e antebraço e a pele na região posterior do braço
e antebraço, na parte inferior e lateral do braço e ainda na porção
lateral da face dorsal da mão, sendo, por isso, um nervo misto; passa
de lateral para medial no sulco radial da face posterior do úmero,
perfura o septo intermuscular lateral e entra no compartimento
anterior do braço, entre o braquial e o braquiorradial, dividindo-se
em 2 ramos cutâneos, um superficial e um profundo, que perfuram
a cabeça lateral do tricípite braquial: cutâneo lateral inferior do braço
e cutâneo posterior do antebraço; O nervo cutâneo posterior do
braço tem origem na axila e inerva a pele da face posterior do braço
até ao olecrânio; Nervo interósseo posterior.

Nervo Mediano – deriva de (C5) C6 a T1 e tem origem anteriormente à 3ª porção


da artéria axilar por união das 2 raízes com origem nos cordões lateral e medial
do plexo braquial; inerva todos os músculos do compartimento anterior do
antebraço, exceto o flexor cubital do carpo e a cabeça medial do flexor profundo
dos dedos (estes são inervados pelo nervo cubital) e inerva também os 3
músculos tenares e os 2 lumbricais laterais (associados aos 2º e 3º dedos) e
também a pele sobre a face palmar dos três dedos e meio laterais e pele do lado
lateral da palma da mão e da porção média do punho.
O maior ramo do nervo mediano no antebraço é o nervo interósseo anterior,
com origem entre as duas cabeças do pronador redondo. O nervo mediano
passa depois entre o flexor superficial dos dedos e o flexor profundo dos dedos,
passa inferiormente ao túnel cárpico e na mão vai dividir-se nos seus ramos
terminais. Um ramo palmar (superficial ao retináculo dos flexores) surge
imediatamente proximal ao retináculo dos flexores para inervar a pele da palma
29
da mão na sua base e região central. O ramo recorrente do mediano
inerva os 3 músculos da eminência tenar. Os nervos digitais
palamares vão inervar a face palmar da pele dos 3,5 dedos laterais, a
face dorsal das falanges distais dos mesmos dedos e o mediano inerva
os 2 lumbricais laterais.

NERVOS DO PLEXO BRAQUIAL

30
LESÕES DO PLEXO BRAQUIAL – exemplos

→ Lesão do nervo torácico longo – “Winging Scapula”


→ Lesão do nervo axilar – pode resultar de uma fratura no colo
cirúrgico do úmero, do uso incorreto de muletas ou da luxação da
articular gleno-umeral e pode provocar o atrofiamento do deltoide
e alterações na sensibilidade cutânea
→ Lesões do nervo radial:
- “Mão pendente” – incapacidade de estender a mão e fazer a
extensão do cotovelo
- “Paralisia da lua de mel”
- “Paralisia de sábado à noite”
Mão pendente

→ Lesões do nervo cubital – “mão em garra” - hiperextensão


das articulações metacarpofalângicas devido a paralisia dos
3º e 4º lumbricais e interósseos; flexão das articulações
interfalângicas; atrofia dos músculos interósseos e da
eminência hipotenar

→ Lesões do nervo mediano:


- lesão proximal – “Mão do Pregador” – o doente só consegue fazer a flexão do 4º e 5º dedos,
que são os inervados pelo nervo cubital
- “Mão simiesca” – perda da oposição devido à paralisia do polegar, que passa a apresentar
rotação lateral e uma adução

Mão do Pregador Mão Simiesca

Nota: As lesões do nervo mediano são de maior gravidade no que diz respeito aos movimentos da
mão, devido à perda da oponência do polegar. A lesão do nervo cubital deixa uma mão relativamente
eficiente no que diz respeito aos movimentos – o movimento de pinça do indicador e polegar está
relativamente bem mantido, mesmo com a paralisia do músculo adutor do polegar. A sensibilidade da
parte lateral da mão está intacta na lesão do nervo cubital.

→ Lesão do plexo braquial – paralisia de Erb-Duchenne – ocorre estiramento dos nervos C5 e C6


(tronco superior), afetando os nervos supraescapular, musculocutâneo e axilar; provoca
extensão da articulação do cotovelo, rotação medial do braço, pronação do antebraço e
adução do ombro; pode resultar de um parto difícil ou de um acidente de motociclo, por
exemplo.

31
EXEMPLO DE PERGUNTA COM CASO CLÍNICO

Um homem de 19 anos teve um acidente numa motorizada num local aonde a velocidade máxima
era de 50Km/h. A 80 Km/h embateu numa arvore atravessada na estrada, pois não conseguiu travar a
tempo. Foi projetado a 5 metros de distância e bateu violentamente no chão com o ombro direito e o
lado direito do capacete, que ficou danificado. Com numerosas escoriações, foi levado inconsciente
para o Centro Hospitalar Universitário de S. João.
A tomografia computorizada revelou um hematoma subdural, tendo sido operado pela neurocirurgia.
Esteve hospitalizado durante 3 semanas e durante o internamento verificou-se que o seu braço direito
apresentava uma rotação medial, enquanto o seu antebraço se encontrava em pronação. Todas as
seguintes afirmações estão corretas exceto:

a) Foi feito o diagnostico de lesão da parte superior do plexo braquial (paralisia de Erb-
Duchenne);
b) As raízes ventrais de C5 e C6 estão afetadas;
c) Os nervos radial e mediano sofreram um estiramento;
d) Os seguintes músculos foram afetados: supra-espinhoso, infra-espinhoso, subclávio,
bicípite braquial, grande parte do braquial, coracobraquial, deltoide e redondo menor;
e) A perda de sensibilidade no lado lateral do braço direito foi causada por lesão nos
dermátomos correspondentes a C5 e C6.

Correção da resposta errada: Os nervos que sofreram o estiramento foram o supraescapular, o ramo
para o subclávio, o musculocutâneo e o axilar.

32
T6 e TP5 – Inervação das paredes do tronco. Plexo Lombar. Plexo Sagrado.

INERVAÇÃO DAS PAREDES DO TRONCO


Os nervos espinais torácicos são 12 e também se dividem em ramos posteriores e anteriores, sendo
que:
→ Os ramos posteriores passam perto da articulação zigapofisária e dividem-se, por sua vez, em
ramos mediais (emergem entre a articulação, o bordo medial do ligamento costotrasnverso
superior e músculo intertransversário) e ramos laterais (emerge no intervalo entre o ligamento
e o músculo e inclina-se posteriormente no lado medial do elevador das costelas).

→ Os ramos anteriores emergem no espaço intercostal


entre a pleura parietal e a membrana intercostal
posterior e inserem-se no sulco da costela (bordo
inferior), estando incluídos num feixe vásculo-
nervoso intercostal – localizam-se inferiormente à
veia e à artéria intercostal. Designam-se por nervos
intercostais:

T1-T2 – distribuição à parede torácica e membro superior


T3-T6 – distribuição à parede torácica e à pleura
T7-T11 – distribuição às paredes torácica e abdominal e ao peritoneu
T12 (subcostal) – distribuição à parede abdominal e região glútea

Cada nervo intercostal vai imitir um ramo colateral e um ramo cutâneo lateral antes de atingir o
ângulo da costela, sendo que:
• o ramo colateral percorre o bordo superior da costela inferior e pode voltar a juntar-
se ao nervo principal antes deste originar o ramo cutâneo anterior;
• o ramo cutâneo lateral perfura os músculos intercostais obliquamente e com a exceção
dos de T1 e T2, dividem-se em ramos anterior e posterior e inervam a pele da região
lateral do tronco.
Para além destes, vão ainda existir ramos comunicantes com o tronco simpático, ramos
musculares e ramos sensitivos para a pleura e para o peritoneu.

33
Ramos T1
O ramo anterior do 1º nervo torácico divide-se numa parte superior, maior e que ascende através do
colo da primeira costela, que contribui para o plexo braquial e numa parte inferior, menor, que
corresponde ao 1º nervo intercostal e que termina no peito, como primeiro nervo cutâneo anterior do
tórax;

Ramos T2
O ramo cutâneo lateral do 2º nervo intercostal – nervo intercostobraquial – emerge da linha médio-
axilar, perfura o músculo serreado anterior e distribuiu-se para a pele e tecido subcutâneo da axila e
braço; une-se com o nervo cutâneo medial do braço.

Isto explica o fenómeno de ‘dor referida do enfarte do miocárdio’ (dor intensa no membro
superior esquerdo): a dor visceral provocada pelo enfarte do miocárdio é veiculada e entra
pela raiz posterior do 2º segmento medular torácico, tal como a informação veiculada pelo
2º nervo intercostal; assim, o SNC não é capaz de localizar corretamente a dor visceral,
provocando a dor visceral referida ao membro superior esquerdo.

Ramos T3 a T6
Percorrem o percurso normal dos nervos intercostais, maioritariamente entre os intercostais íntimos
e internos e, próximo do esterno, perfuram os internos e o peitoral maior, terminando como nervos
cutâneos anteriores do tórax e inervando a pele da parede anterior do tronco. Os seus ramos musculares
inervam os músculos intercostais, elevadores das costelas e os serreados póstero-superiores e póstero-
inferiores.

Ramos T7 a T11
Percorrem o percurso normal dos nervos intercostais e vão inervar os músculos da parede antero-
lateral do abdómen: reto abdominal, oblíquos interno e externo e transverso do abdómen. Como se
distribuem às paredes torácica e abdominal, podem ser chamados de nervos toraco-abdominais.

Ramos de T12 – nervo subcostal


Durante o seu percurso pode unir-se por uma ramificação ao ramo ventral de L1 e para além de inervar
os músculos da parede antero-lateral do abdómen, inerva também o músculo piramidal e a pele da
região glútea.

Aplicação clínica - HERPES ZOSTER


O Herpes Zoster é uma doença que afeta os nervos por reativação do vírus varicela-zoster, que
geralmente se encontra latente nos gânglios raquidianos de indivíduos que já desenvolveram a varicela.
Geralmente esta reativação ocorre após os 50 anos, devido à diminuição da imunidade. É facilmente
detetada, pois caracteriza-se pelo aparecimento de ruborização e vesículas com conteúdo líquido no
território correspondente a um dermátomo. Provoca muita dor ao doente.

Aplicação clínica – Toracocentese (punção pleural)


A punção pleural deve ser realizada no 7º ou 8º espaços intercostais, na linha médio-axilar ou na linha
axilar posterior, junto ao bordo superior da costela, de forma a evitar o feixe vásculo-nervoso intercostal.

34
PLEXO LOMBAR

É formado pela união dos ramos ventrais de L1 a L4, com uma pequena contribuição de T12.
Caracteriza-se pela relação íntima com o músculo psoas maior e por se situar anteriormente às suas
inserções nas apófises transversas das vértebras lombares.

NOTA - Os ramos ventrais de L2, L3 e L4


dividem-se em ramos ventrais e dorsais!

Relações dos nervos principais do plexo lombar com o músculo psoas maior:
anterior – nervo genitofemoral
medial – nervo obturados
lateral – nervos ílio-hipogástrico, ílio-inguinal, femoral e cutâneo lateral da coxa

Nervo ílio-hipogástrico
Tem origem no ramo ventral de L1 e surge da porção superior do bordo
lateral do músculo psoas maior, atravessando obliquamente o quadrado
lombar. Continua depois entre os músculos oblíquo interno e transverso
do abdómen. No seu percurso divide-se em:
- ramo cutâneo lateral, que se dirige para a zona glútea postero-
lateral
- ramo cutâneo anterior, que se dirige para a zona supra-púbica
É motor para os músculos oblíquo interno e transverso do abdómen e
sensitivo para a pele da região postero-lateral glútea e supra-púbica.
Comunica com os nervos subcostal e ílio-inguinal.

Nervo ílio-inguinal
Tem a mesma origem que o ílio-hipogástrico, mas é normalmente mais
pequeno e surge inferiormente a este. Entra no músculo transverso
abdominal no extremo da crista ilíaca, perfura o oblíquo interno e
atravessa o canal inguinal abaixo do cordão espermático (nos homens).
Emerge no anel inguinal superficial.
É motor para os músculos oblíquo interno e transverso do abdómen e
sensitivo para a pele sobre a raiz do pénis e porção superior do escroto
nos homens ou a pele que cobre a iminência púbica e os lábios maiores
na mulher.
Termina na sua junção com o nervo ílio-hipogástrico.
35
NOTA: se fizermos uma analogia entre L1 e um nervo intercostal, o nervo ílio-hipogástrico seria o nervo
principal, que emite um ramo cutâneo lateral e outro anterior, enquanto que o nervo ílio-inguinal seria
o seu ramo colateral.

Nervo genitofemoral
Tem origem nos ramos ventrais de L1 e L2, no interior do músculo psoas
maior. Emerge na sua superfície anterior, cruzando-a obliquamente e
divide-se acima do ligamento inguinal em:
- ramo genital, que entra no canal inguinal pelo anel inguinal
profundo, cruzando a porção inferior da artéria ilíaca externa e que
emerge como parte do cordão espermático, diferenciando-se assim do
nervo ílio-inguinal, pois continua até ao testículo.
É motor para o músculo cremáster no caso dos homens (está envolvido
no reflexo cremastérico) e sensitivo para a pele da porção anterior do
escroto nos homens ou da eminência púbica e lábios maiores na mulher.
- ramo femoral, que desce lateralmente à artéria ilíaca externa,
passa posteriormente ao ligamento inguinal e entra na bainha femoral
lateral
É sensitivo para a pele da porção antero-lateral superior da coxa.

Nervo cutâneo lateral da coxa


Tem origem nas divisões dorsais dos ramos ventrais de L2 e L3 e emerge no
bordo lateral do psoas maior, atravessando obliquamente o ilíaco em direção à
espinha ilíaca antero-superior, onde dá ramos para inervar o peritoneu. Passa
posteriormente ao ligamento inguinal (ou através dele) para a coxa, onde se
divide anteriormente ao músculo sartório em:
- ramo anterior, que se torna superficial 10cm distal à espinha ilíaca
antero-superior e que se liga à divisão anterior do nervo femoral e ao ramo
infra-rotuliano do nervo safeno
É sensitivo para a pele na região anterior e lateral da coxa, até ao joelho e
participa no plexo rotuliano
- ramo posterior, que perfura a fáscia lata superiormente ao ramo
anterior
É sensitivo para a pele face lateral da coxa.

Nervo femoral
É o maior ramo do plexo lombar e surge das divisões dorsais dos ramos
ventrais de L2 a L4, emergindo na porção inferior do bordo lateral do psoas
maior e passando depois profundamente à fáscia ilíaca. Passa para a coxa
profundamente ao ligamento inguinal e divide-se na base do triângulo
femoral em:

Nervo cutâneo femoral medial


Divisão anterior Nervo cutâneo femoral intermédio
Nervo para o sartório

Divisão posterior Nervo safeno


Ramos musculares

36

Divisão anterior do n. femoral
O nervo cutâneo femoral medial divide-se em ramos anterior e posterior e envia alguns ramos
através da fáscia lata para inervar a pele do lado medial da coxa. O seu ramo anterior desce no
sartório, perfura a fáscia lata a meio da coxa e divide-se num ramo que inerva a pele da coxa
medialmente e até ao joelho e noutro que se une ao ramo infra-rotuliano do nervo safeno. Já o
ramo posterior desce ao longo do bordo posterior do sartório para o joelho, perfura a fáscia lata
e une-se ao nervo safeno, emitindo também ramos cutâneos.
• O nervo cutâneo femoral intermédio perfura a fáscia lata 8cm distal ao ligamento inguinal e
inerva a pele da face anterior da coxa até ao joelho.
• O nervo para o sartório corresponde ao único ramo motor da divisão anterior do nervo femoral.
Divisão posterior do n. femoral

• O nervo safeno é o maior e mais longo ramo cutâneo do nervo femoral e desce lateralmente à
artéria femoral, entrando no canal adutor. Ao sair do canal adutor, já medialmente à artéria
femoral, emite um ramo infra-rotuliano e depois perfura a fáscia lata entre os tendões do
sartório e do grácilis, tornando-se subcutâneo para inervar a pele pré-rotuliana. Desce depois
ao longo do bordo medial da tíbia com a veia safena longa e divide-se distalmente num ramo
que continua o percurso até ao tornozelo e noutro que que se desvia para inervar a pele do lado
medial do pé.
• Os ramos musculares da divisão posterior do nervo femoral inervam: o quadricípite femoral, o
reto femoral, o vasto lateral, o vasto medial, o vasto intermédio, o articular do joelho e ainda as
articulações coxofemoral e do joelho.

Nervo obturador
Tem origem nas divisões ventrais dos ramos ventrais de L2 a L4 e emerge no
bordo medial do psoas maior. Desce ao longo da parede lateral da pelve, do
obturador interno e entra na coxa pelo buraco obturador, onde se divide em
ramos anterior e posterior, separados pelo obturador externo e pelo adutor
curto.
- ramo anterior: desce na face anterior do obturador externo e do
adutor curto, posteriormente ao pectíneo e ao adutor longo. No bordo inferior do
adutor longo comunica com o nervo cutâneo femoral medial e com o nervo
safeno, formando o plexo subsartorial que inerva a pele medial da coxa. Para
além disso, inerva a articulação coxofemoral (próximo do buraco obturador) e é
motor para os músculos: adutor longo, grácilis, adutor curto e pectíneo
(inervado também pelo nervo femoral);
- ramo posterior: perfura o obturador externo anteriormente, inerva-o e
passa posteriormente ao adutor curto para a face anterior do adutor magno,
inervando-os também (mas só lateralmente, pois medialmente é inervado pelo
nervo ciático). Ao chegar à fossa poplítea com a artéria femoral, imite ramos para
a articulação do joelho.

Nervo Obturador Acessório


Só está presente em 10% dos indivíduos, tendo origem nos ramos ventrais de L3 a L4. Desce ao longo
do bordo medial do psoas maior, atravessa o ramo superior púbico posteriormente ao pectíneo e divide-
se num ramo que inerva o pectíneo e noutro que inerva a articulação coxofemoral. Um terceiro ramo,
anterior, une-se ao nervo obturador.

37
Aplicações clínicas – lesões do plexo lombar
→ O nervo ílio-hipogástrico pode ser lesado durante uma aproximação cirúrgica oblíqua ao
apêndice e a sua divisão acima da espinha ilíaca antero-superior pode enfraquecer a parede
posterior do canal inguinal, predispondo a formação de hérnias inguinais.
→ O nervo ílio-inguinal pode ser lesado durante cirurgias inguinais, provocando uma parestesia da
pele sobre a zona genital.
→ O nervo cutâneo lateral da coxa é suscetível a ser lesionado em 3 locais: próximo da coluna
vertebral, na cavidade abdominal ou na sua saída da pelve, profundamente ao ligamento
inguinal. A sua lesão causa perda de sensação, com dor associada e parestesia na superfície
antero-lateral da coxa.
→ A lesão do nervo femoral é rara, podendo, contudo, acontecer, por exemplo devido a um
acidente automóvel, a uma facada ou a um tiro. Provoca paralisia do quadricípite femoral,
impedindo a extensão do joelho. Contudo, a marcha continua a ser possível devido à ação dos
músculos adutores. Perde-se ainda a sensação na pele da parte anterior e medial da coxa, lado
medial da parte inferior da perna e bordo medial do pé.
→ A lesão isolada do nervo obturado é também muito rara, sendo que a existirem foram
provocadas por um trauma direto ou por deslocações da pelve. Lesão por enclausuramento do
nervo obturador são comuns em atletas com grandes músculos adutores longos, originando dor
crónica na face medial da coxa.

PLEXO SAGRADO

É formado pelo tronco lombossagrado (parte do ramo ventral de


L4 e L5) e por ramos ventrais de S1, S2, S3 e parte do ramo ventral
de S4. De S1 a S4 os nervos vão emergir pelos buracos sagrados
anteriores e S5 vai emergir entre o sacro e o cóccix.
Os nervos que forma o plexo sagrado têm um percurso vertical
anterior à articulação sacroilíaca, uma relação muito íntima com o
músculo piriforme e convergem para o buraco isquiático maior,
formando duas bandas:
- banda superior: é formada pelo tronco lombossagrado, S1, S2 e maior parte de S3 e parece
contínua com o nervo ciático
- banda inferior: tem uma estrutura mais plexiforme e resulta da união de parte de S3 com a
parte de S4 que pertence ao plexo, parecendo contínua com o nervo pudendo

38
Nervo glúteo superior
Tem origem nas divisões dorsais dos ramos ventrais de L4, L5 e S1 e sai
da pelve pelo buraco isquiático maior, superiormente ao piriforme,
dividindo-se em 2 ramos que acompanham os ramos respetivos da
divisão profunda da artéria glútea superior:
- ramo superior, que inerva o glúteo médio
- ramo inferior, que inerva o glúteo médio, o glúteo mínimo e o
tensor da fáscia lata

Nervo glúteo inferior


Tem origem nas divisões dorsais dos ramos ventrais de L5, S1 e S2 e sai
da pelve pelo buraco isquiático maior, inferiormente ao piriforme.
É motor para o glúteo máximo.

Aplicações clínicas:
• A lesão do nervo glúteo inferior provoca paralisia do glúteo máximo, o que não
tem um efeito muito grande na marcha em terreno plano; o paciente apenas fica
impedido de correr, saltar ou subir escadas.
• Já a lesão do nervo glúteo superior, vai levar a uma alteração da marcha típica,
devido à paralisia dos glúteos médio e mínimo, que deixa de conseguir estabilizar
a pelve no plano coronal – provoca o sinal de Trendelenburg.

Nervo cutâneo posterior da coxa


Tem origem nas divisões posteriores dos ramos ventrais de S1 e S2 e nas divisões
ventrais dos ramos ventrais de S2 e S3, deixando a pelve pelo buraco isquiático maior,
inferiormente ao piriforme e medialmente ao nervo ciático.
Desce para a porção posterior da coxa, superficialmente à cabeça longa do bicípite
femoral e profundo à fáscia lata, que vai perfurar na zona do joelho. Depois dirige-se
para a face posterior da perna na companhia da veia safena parva. Na sua porção
terminal contacta com o nervo sural.
Os seus ramos são todos cutâneos e inervam a região glútea (ramos glúteos que
inervam a pele da parte inferior e lateral da região), o períneo (ramos perineais) e as
faces posteriores da coxa e da perna.

Nervo cutâneo perfurante


Nervo pequeno que pode estar ausente, que deriva de S2 e S3 e que inerva a pele sobre a prega
glútea e parte inferior das nádegas, perfurando o ligamento sacrotuberoso.

Nesta imagem vemos um resumo da inervação sensitiva da


região glútea:
- contribuição do plexo lombar na região postero-lateral
(ramo cutâneo lateral do nervo ílio-hipogástrico)
- contribuição do nervo cutâneo posterior da coxa na região
inferior
- contribuição dos ramos dorsais dos nervos espinais de L1-
L3 e S1-S3 (superior e middle cluneal nerves)

39
Nervo ciático
É o nervo de maior calibre do corpo humano (2cm) e tem origem nas divisões dorsais dos ramos
ventrais de L4, L5, S1 e S2 e das divisões ventrais dos ramos ventrais de L4-S3. Sai da pelve pelo buraco
isquiático maior, inferiormente ao piriforme e desce entre o trocânter maior e a tuberosidade isquiática
para a face posterior da coxa, sendo acompanhado medialmente pelo nervo cutâneo posterior da coxa.
Emite ramos para os músculos posteriores da coxa e para a articulação coxofemoral.
Proximalmente à fossa poplítea, divide-se em dois ramos terminais:
ramos cutâneos
Nervo sural
Nervo calcaneano medial
- nervo tibial ramos terminais
Nervo plantar medial
Nervo plantar lateral

Nervo comunicante sural


- nervo peronial comum Nervo sural lateral
Nervo cutâneo dorsal medial
Nervo peronial superficial
Nervo cutâneo dorsal intermédio
Nervo peronial profundo
• Nervo tibial
É o maior componente do nervo ciático e deriva de L4-S3. Desce ao longo da face
posterior da coxa, sendo profundo ao bicípite femoral e lateral aos vasos. Ao nível do
joelho, torna-se mais superficial e cruza para o lado medial da artéria, mas na fossa
poplítea torna-se profundo às cabeças do gastrocnémio. Passa inferiormente ao arco
tendinoso entre as cabeças peronial e tibial do músculo solear e dirige-se verticalmente
e inferiormente no compartimento posterior da perna na superfície do músculo tibial
posterior. Abandona o compartimento posterior da perna passando posteriormente ao
maléolo medial.
Na perna, dá ramos para todos os músculos do compartimento posterior da perna e
dá 2 ramos cutâneos:
- nervo sural – vai surgir entre as cabeças do gastrocnémio e desce
superficialmente a este, penetrando a fáscia profunda a meio da perna, onde recebe o
ramo comunicante sural (do nervo peronial comum); depois vai descer lateralmente ao
tendão calcâneo e vai inervar a pele da face posterolateral do terço distal da perna, face
lateral do tornozelo, lado lateral do pé e 5º dedo
- nervo calcaneano medial – por vezes é múltiplo, tem origem perto do
tornozelo e inerva a pele na parte inferior da perna e planta do pé na sua parte mais
posterior
Profundamente ao retináculo flexor, o nervo tibial divide-se nos seus ramos terminais:
- nervo plantar medial – é o maior nervo sensitivo do pé e inerva os 2/3
anteriores da planta do pé e faces adjacentes dos 3,5 dedos mediais; é ainda
motor para o abdutor do hálux, flexor curto dos dedos, flexor curto do hálux e 1º
lumbrical. Origina alguns ramos: 3 nervos digitais plantares comuns e nervo para
o 1º lumbrical que deriva do 1º nervo digital plantar comum.
- nervo plantar lateral – inerva a pele no lado lateral dos 2/3 anteriores da
planta do pé e as faces plantares dos 1,5 dedos laterais; é motor para todos os
músculos intrínsecos do pé, exceto os 4 inervados pelo plantar medial. Origina
alguns ramos: nervo digital plantar próprio e 1 nervo digital plantar comum
(superficiais) e um ramo profundo, exclusivamente motor.
NOTA: o nervo plantar medial é homólogo ao nervo mediano da mão e o nervo plantar lateral é homólogo
ao nervo cubital da mão.

40
• Nervo peronial comum
Tem cerca de metade do calibre do nervo tibial e deriva de L4-S3. Tem origem
no compartimento posterior da coxa, segue o bordo medial do tendão do
bicípite femoral até à cabeça lateral do gastrocnémio e dirige-se para o
perónio. Emite aqui dois ramos cutâneos:
- nervo comunicante sural, que comunica com o nervo sural e inerva a
pele da região postero-lateral da perna
- nervo sural lateral, que vai inervar a pele da porção superior e lateral
da perna
Vai depois continuar rodeando o colo do perónio e inferiormente ao longo
peronial entra no compartimento lateral da perna, entre as inserções do
peronial longo. Aí, vai dividir-se em 2 ramos:
- nervo peronial superficial, que desce no compartimento lateral
da perna profundamente ao peronial longo e inerva os músculos
peronial longo e peronial curto; ao entrar no pé, divide-se em ramo
medial, de maiores dimensões e ramo lateral, que vão inervar a pele
da superfície anterior do tornozelo e dorso do pé, exceto o espaço
entre o hálux e o 2º dedo, cuja inervação é feita pelo nervo peronial
profundo, e o lado lateral do 5º dedo, cuja inervação é feita pelo
ramo sural do nervo tibial
- nervo peronial profundo, que vai esta profundamente ao
extensor longo dos dedos e vai atingir a face anterior da membrana
interóssea, dividindo-se no tornozelo nos seus ramos terminais:
ramo terminal lateral, que cruza o tornozelo profundamente ao
curto extensor dos dedos, que inerva, bem como as articulações do
2º ao 4º dedos e ramo terminal medial, que corre sobre o dorso do
pé, anastomosa-se com o ramo medial do nervo peronial superficial
no 1º espaço interósseo e divide-se em 2 nervos digitais dorsais, que
inervam os lados adjacentes do 1º e 2º dedos.

Aplicações clínicas:
O nervo ciático é muito suscetível a lesões e pode ser afetado: por fatores da pelve, por cirurgia
ortopédica (p.e. próteses na anca), por hérnias discais ou até mesmo por uma injeção intramuscular
aplicada incorretamente – deve ser aplicada no quadrante suprolateral da nádega, sobre o glúteo
máximo.
A lesão do nervo peronial comum pode ocorrer devido a fraturas do colo do perónio ou pressão devido
ao gesso ou a estar sentado ou de joelhos muito tempo e provoca o chamado “pé pendente” – alguma
inversão devido a paralisias dos músculos do compartimento lateral da perna.
A “dor ciática” é uma patologia bastante frequente e caracteriza-se pela dor ao longo do território
sensitivo do nervo ciático (nádega, face posterior da coxa, faces posterior e lateral da perna e parte
lateral do pé). A causa mais comum é a hérnia discal. Para além da dor intensa, pode provocar fraqueza
muscular e afetar a marcha.

41
Nervo pudendo
Tem origem nas divisões ventrais dos ramos ventrais de S2 a S4 e sai da pelve pelo buraco isquiático
maior, inferiormente ao piriforme. Rodeia a espinha isquiática e o ligamento sacro-espinhoso, vai para
o buraco isquiático menor e dirige-se para a fossa isquiorretal (parede lateral). Inferiormente à sínfise
púbica vai passar para o dorso do pénis ou clitóris e origina:
- ramos retais inferiores
- nervos perineais
É motor para os músculos do períneos, como o esfíncter uretral externo, o esfíncter do ânus e o
elevador do ânus e é sensitivo para a maior parte da pele do períneo e do pénis ou clitóris.

Ramos musculares diretos

Existem ramos diretos do plexo


para vários músculos:

PLEXO COCCÍGEO

É formado pelo pequeno ramo descendente de S4, pelo ramo ventral de S5 e pelo nervo espinhal
coccígeo. Emerge no hiato sagrado e curva-se em torno da margem lateral do sacro inferiormente ao
corno sagrado e perfura o ligamento isquiococcígeo para atingir a superfície pélvica superior.
Origina o nervo anococcígeo que vai perfurar o ligamento sacrotuberoso e vai inervar a pele da região
do cóccix.

EXEMPLO DE PERGUNTA COM CASO CLÍNICO

Num dos mais problemáticos bairros sociais do Porto, um traficante de droga foi esfaqueado na coxa
direita. No serviço de urgência do Hospital de S. João verificou-se que a ponta da faca cortou o nervo
femoral, logo após o ligamento inguinal. Não apresentava lesões vasculares.
O paciente apresentava os seguintes sinais e sintomas, exceto:
a) O músculo quadricípite femoral direito não se contraiu quando foi pedido para efetuar a extensão
do joelho direito.
b) A sensibilidade cutânea dos lados medial e anterior da coxa foi perdida.
c) Não havia sensibilidade ao longo do bordo medial do hálux.
d) Não havia sensibilidade cutânea na parte inferior da perna
e) Durante a marcha era possível uma fraca extensão do joelho devido ao recurso aos músculos
adutores.

JUSTIFICAÇÃO: A pele que cobre o bordo medial do hálux é inervada pelo nervo perineal superficial.
42
T7 – Anatomia geral do sistema nervoso. Sistema ventricular. Meninges.
“The human brain is the most complex product of biological evolution”

SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO


O SNP é formado por nervos, gânglios e terminações nervosas que fazem a comunicação entre os
meios interno e externo e o SNC.
→ Nervos espinais
Na medula espinal origina-se uma raiz ventral e uma raiz dorsal, com um
8 cervicais gânglio espinal (formado por neurónios unipolares).
Quando estas se unem formam o nervo espinal, que se divide num ramo
12 torácicos
ventral (forma plexos) e num ramo dorsal.
31 pares 5 lombares Originam também o ramo meníngeo recorrente, responsável pela
5 sagrados inervação da dura máter, à exceção dos 3 primeiros nervos cervicais, cujos
1 coccígeo ramos meníngeos recorrentes ascendem pelo buraco magno e inervam o
clivus.

Os nervos espinais são, geralmente, mistos pois possuem:


- neurónios eferentes provenientes da raiz ventral
eferentes somáticos – dirigem-se para os músculos esqueléticos
eferentes viscerais gerais – axónios dos neurónios pré-ganglionares do SN autónomo
- neurónios aferentes proveniente da raiz dorsal
aferentes somáticos gerais – provenientes da pele, articulações e músculos
aferentes viscerais gerais – provenientes das vísceras e vasos sanguíneos

43
→ Nervos cranianos

São 12 pares e em contraste com os espinais, apenas alguns são mistos. Esquematicamente:
I – nervo olfativo
II – nervo óptico
III – nervo oculomotor (inerva os músculos extraoculares)
IV – nervo troclear (único com origem na face posterior do
encéfalo)
V – nervo trigémeo (origina os nervos oftálmico, maxilar e
mandibular)
VI – nervo abducente
VII – nervo facial
VIII – nervo vestibulococlear (entra pelo meato acústico interno)
IX – nervo glossofaríngeo (passa na parte anterior do buraco
jugular)
X – nervo vago (passa na parte anterior do buraco jugular)
XI – nervo acessório (passa na parte anterior do buraco jugular)
XII – nervo hipoglosso (passa no canal do hipoglosso)

→ Sistema nervo somático e sistema nervoso autónomo


A componente motora do sistema nervoso periférico divide-se em:
- sistema nervoso somático, que fornece impulsos nervosos aos músculos esqueléticos
- sistema nervoso entérico, que corresponde a uma rede de neurónios que integram o sistema
digestivo, sendo formado principalmente pelos plexos mioentérico e submucoso; é regulado pelo SN
autónomo
- sistema nervoso autónomo, que constitui o componente visceral do
sistema nervoso e que se divide em simpático (ou toraco-lombar) e
parassimpático (ou crânio-sagrado):
- SNA simpático: os troncos simpáticos são dois cordões nervosos
ganglionares que se estendem de cada lado da coluna vertebral, desde a base
do crânio até o cóccix; os axônios pré-ganglionares unem-se ao tronco pelos
ramos comunicantes brancos, enquanto os axônios pós-ganglionares saem do
tronco pelos ramos comunicantes cinzentos.
- SNA parassimpático: os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares
parassimpáticos estão localizados nos núcleos de alguns nervos cranianos no tronco encefálico e na
substância cinzenta do segundo ao quarto segmentos sacrais da medula espinal.
Sistema nervoso parassimpático
Sistema nervoso simpático

44
SISTEMA NERVOSO CENTRAL

→ Medula espinal
Localiza-se no canal cervical, terminando ao nível de L1/L2 numa estrutura designada
cone medular. Os nervos espinais originam-se na medula e emergem ao nível dos
buracos intervertebrais. Assim, os nervos espinais lombares, sagrados e coccígeo têm
de fazer um percurso vertical no interior do canal vertebral para emergirem ao nível do
respetivo buraco intervertebral, formando a cauda equina.

É revestida pelas meninges espinais e formada por substância branca na periferia


(aglomerados de axónios) e substância cinzenta central (aglomerados de soma), que
forma os cornos: cornos ventrais são predominantemente eferentes; cornos dorsais são
predominantemente aferentes.

→ Encéfalo
O encéfalo é formado por 3 componentes:

• Cérebro - divide-se em telencéfalo e diencéfalo


O telencéfalo possui uma fissura longitudinal que o divide em dois hemisférios, conectados por fibras
comensurais que formam o corpo caloso (comissura localizada inferiormente à fissura longitudinal).
Cada hemisfério está dividido em 4 lobos (frontal, parietal, occipital e temporal) e possui substância
cinzenta na periferia (córtex cerebral) e substância branca internamente. O córtex cerebral apresenta
circunvoluções, separadas por sulcos, que permitem aumentar o número de neurónios existentes.
O diencéfalo localiza-se inferior e anteriormente ao corpo caloso e é formado pelo tálamo,
hipotálamo, epitálamo e subtálamo.

• Tronco cerebral – divide-se em mesencéfalo, ponte e bolbo raquidiano


• Cerebelo

45
NEURÓNIOS
A principal função dos neurónios é a transmissão de informação codificada para outros neurónios ou
tecidos não neuronais (por exemplo, músculos, glândulas).

As árvores dendríticas correspondem à parte aferente do neurónio e a


sua porção eferente vai ser o axónio que pode ser ou não mielinizado.

Os neurónios podem ser classificados:


→ de acordo com a morfologia dos seus neuritos:

→ de acordo com as suas funções:


- sensitivos (aproximadamente 20 milhões) – recebem estímulos do meio
- motores (poucos milhões) – controlam órgãos efetores
- interneurónios – estabelecem conexões entre neurónios
→ de acordo com a forma do axónio:
- Golgi tipo I ou neurónios de projeção – têm axónios longos com ramificações
distantes da sua origem
- Golgi tipo II ou interneurónios – axónios curtos que ramificam a curta distância

As sinapses químicas estabelecidas entre neurónios podem ser:


- Gray tipo I – assimétricas; normalmente são excitatórias
- Gray tipo II – simétricas; normalmente são inibitórias

Temos cerca de 86 biliões de neurónios, sendo que o cerebelo apresenta o maior número de neurónios
do encéfalo, apesar de corresponder apenas a 10% da sua massa.

46
CONCEITOS BÁSICOS

Exteroceção – perceção de estímulos provenientes do meio externo (p.e. visuais, acústicos...)


Interoceção – perceção de estímulos provenientes do meio interno
Proprioceção – perceção da posição, do movimento e da ação do próprio corpo
Nota: De acordo com a sua proveniência e função, as fibras aferentes somáticas são classificadas em
exterocetivas (transportam impulsos da superfície corporal, do olho e do ouvido e são ativadas quase
exclusivamente por estímulos externos, existindo recetores localizados na pele para o tato, pressão, dor e
temperatura), interocetivas ou propriocetivas (transportam impulsos com origem no próprio corpo, existindo
recetores nos músculos, tendões, articulações e no ouvido interno).

Organização somatotópica – a informação organiza-se de acordo com a sua localização no corpo e isto
verifica-se quer nos feixes da medula espinal, quer no córtex cerebral (homúnculos)

Substância cinzenta - regiões com preponderância de corpos celulares e dendrites;


Núcleo - áreas específicas de substância cinzenta com neurónios funcionalmente relacionados
Córtex - substância cinzenta (geralmente com várias camadas) que recobre outras partes do
sistema nervoso central (exemplos: córtex cerebral, córtex cerebeloso)

Substância branca – regiões com preponderância de axónios mielinizados


Feixe ou trato – projeção de fibras com uma origem principal e um local principal de
terminação, observável como uma concentração de fibras numa parte do seu percurso
Funículo ou cordão – organização de vários feixes
Lemnisco, pedúnculos

Gânglios – agregações de corpos celulares de neurónios fora do SNC


Gânglios espinais - formados por neurónios unipolares e sem sinapses
Gânglios do SN autónomo e entérico – formados por neurónios multipolares, com presença de
sinapses (entre neurónios pré-ganglionares e neurónios pós-ganglionares)

Fibras de associação – comuns no cortéx cerebral, associam as circunvoluções vizinhas e podem ser
arqueadas (curtas) ou longas; localizam-se no mesmo hemisfério
Fibras comissurais – fibras que ligam regiões com a mesma função dos dois hemisférios ou dos dois
lados da medula espinal (p.e. o corpo caloso)
Decussação – cruzamento das fibras comissurais (p.e. a decussação das pirâmides)
Fibras de projeção – fibras eferentes que saem de uma região e dirigem-se para outra

Vias descendentes ou motoras – implicam, geralmente, dois neurónios:


- neurónio motor superior: localiza-se no córtex cerebral ou no tronco encefálico
- neurónio motor inferior: localiza-se no corno ventral da medula espinal

Vias ascendentes ou sensitivas – implicam, geralmente, três neurónios:


- o 1º neurónio é unipolar e localiza-se no gânglio espinal da raiz dorsal do nervo espinal
- o 2º neurónio localiza-se em local variável, dependendo da via
- o 3º neurónio localiza-se no tálamo
A sinapse efetua-se em núcleos do tálamo (VPL e VPM), com neurónios cujos axónios se dirigem
para o córtex cerebral.
47
CÉLULAS GLIAIS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Oligodendrócitos - formação de bainhas de mielina no SNC


Astrócitos – suporte estrutural e funcional dos neurónios
Células ependimárias – revestem os ventrículos cerebrais
Microglia – resposta a lesões e agressões

Nota: tema abordadocom mais pormenor em Histologia)

MENINGES

O SNC está protegido por estruturas ósseas (crânio e vértebras) e pelas meninges, membranas que
revestem o SNC e que permitem suspensão mecânica e a existência de líquido cefalorraquidiano, LCR,
que permite a absorção de choques e a redução do impacto.
Existem 3 meninges:

→ Dura mater
Corresponde à membrana mais externa e apresenta dois folhetos: folheto externo ou periosteal
(fortemente ligado à superfície interna do crânio) e folheto interno ou dura meníngeo (adere à
aracnoide). Estas duas camadas encontram-se fundidas, pelo que não existe, normalmente, nenhum
espaço. Contudo, existem espaços potenciais:
- espaço epidural: entre o crânio e a camada externa
- espaço subdural: entre a membrana interna e a aracnoide

Existem diversos locais onde a dura mater apresenta protusões designados septos durais, destacando-
se:
- foice do cérebro: septo dural longo, vertical e arqueado que contribui para a separação dos
dois hemisférios cerebrais ao nível da fissura longitudinal; ligado anteriormente à crista gali do etmoide
e posteriormente fundido com a tenda do cerebelo
- tenda do cerebelo: separa a superfície superior do cerebelo com os lobos occipital e temporal
do cérebro e define duas regiões (infratentorial e supratentorial); o bordo anterior é livre e rodeia o
mesencéfalo, enquanto que posteriormente está aderida ao occipital
- foice do cerebelo: separa parcialmente os dois hemisférios cerebelares

A dura mater apresenta ainda seios venosos, responsáveis pela drenagem cerebral, que apresentam
forma triangular em secção. Destaca-se o seio sagital superior, que drena para o seio transverso direito
e o seio occipital, que drena para o seio transverso esquerdo. Ao nível da protuberância occipital interna
há a confluência dos seios, para onde confluem os vários seios venosos e posteriormente, esta drena
para o seio sigmoide, saindo pelo buraco jugular através da veia jugular interna.

A irrigação da dura mater é feita pelas artérias meníngeas, que se encontram na membrana externa.
Já a inervação da dura mater é feita pelo nervo trigémeo, à exceção da fossa posterior, cuja inervação
é da responsabilidade do nervo vago e C2 e C3.

→ Aracnoide
Corresponde a uma membrana fina e avascular, que se encontra aderente ao folheto interno da dura
mater e segue os contornos do cérebro, embora não penetre nos sulcos existentes.
Entre a aracnoide e a pia mater existe o espaço subaracnoideu, onde circula o LCR.
Em alguns locais dos seios venosos existem pequenas evaginações da aracnoide, que formam as
vilosidades aracnoides – maior local de reabsorção do LCR para o sistema venoso.

48
→ Pia mater
Corresponde a uma membrana muito fina e vascularizada, que reveste a superfície do SNC, penetrando
os sulcos existentes e que apresenta uma relação íntima com a aracnoide divido às trabéculas
aracnoides, pelo que muitas vezes são vistas como um conjunto – leptomeninges.
Os plexos coroideus correspondem a invaginações da pia mater, ao nível dos ventrículos cerebrais,
onde ocorre a formação do LCR.

Existem algumas diferenças entre as meninges encefálicas e as meninges espinais:


- A dura mater espinal apenas apresenta folheto meníngeo;
- O espaço epidural espinal é real, ao contrário do craniano, que á apenas potencial e é constituído
por gordura, tecido conjuntivo e um plexo venoso;
- A dura mater espinal tem uma espécie de especializações, os ligamentos denticulados. São 21 pares
e são laterais, encontrando-se entre as raízes dorsais e ventrais dos nervos espinhais.
- O cone medular é contínuo com o fio terminal interno, que tem aproximadamente 15cm e que é
dependente da pia máter; no indivíduo adulto vai-se inserir em S2. A medula espinhal vai estar depois
recoberta pela dura máter e inferiormente vai surgir agora o fio terminal externo, dependente da dura
máter, que se vai inserir no 1º segmento coccígeo.

49
SISTEMA VENTRICULAR

Corresponde a um conjunto de cavidades contínuas, revestidas por células ependimárias e que contêm
LCR no seu interior. Existem 4 ventrículos:
- Ventrículo lateral esquerdo – contido no hemisfério cerebral esquerdo
- Ventrículo lateral direito – contido no hemisfério cerebral direito
- Terceiro ventrículo – no diencéfalo
- Quarto ventrículo – entre a protuberância e bolbo raquidiano e o cerebelo.

Os ventrículos laterais vão comunicar por um buraco intraventricular com o terceiro ventrículo entre
os tálamos. Este terceiro ventrículo vai depois comunicar com o quarto ventrículo através do aqueduto
cerebral ou aqueduto de Sylvius. Inferiormente, o quarto ventrículo vai continuar-se com o canal central
da medula espinhal. Vai também existir uma comunicação entre o espaço ventricular e o espaço
subaracnoideu e vão fazê-lo através de uma abertura mediana, que tem o epónimo de Magendie e duas
aberturas laterais, quem também têm o epónimo Luschka.

50
T8 – Medula espinal. Sistema nervoso autónomo.
PARTE 1 – MEDULA ESPINAL
Morfologia externa da medula espinal
A medula espinal localiza-se nos 2/3 superior do canal vertebral, desde
o bordo superior do atlas até ao disco intervertebral entre L1 e L2
(aproximadamente 45cm e 35g), num adulto. Já num recém-nascido, a
medula espinal termina ao nível de L3.
É continua superiormente com o bolbo raquidiano e caudalmente
sofre um estreitamento formando o cone medular. No vértice do cone
medular, origina-se uma estrutura com cerca de 20cm, que se designa
fio terminal (Filum Terminale) e que se divide em: fio terminal interno,
contínuo com a pia mater (engloba os 15cm superiores) e fio terminal
externo, contínuo com a dura mater (engloba os 5cm inferiores).
A partir de L2, o percurso das raízes dos nervos espinais torna-se cada vez mais comprido,
uma vez que estes mantêm o seu local de saída ao nível do respetivo buraco intervertebral.
Assim forma-se a chamada cauda equina, que se define como o conjunto divergente das
raízes ventrais e dorsais da medula espinhal, centradas no fio terminal, localizadas no fundo
do saco dural (cisterna lombar), entre a terminação da medula espinhal (L1-L2) e da dura
mater espinhal (S2).

Ao longo da sua extensão, a medula espinal sofre uma diminuição da largura transversal, existindo,
contudo, duas intumescências, que correspondem a zonas com uma quantidade acrescida de
motoneurónios e interneurónios, de modo a assegurar a inervação dos membros e, portanto,
relacionam-se com a formação dos plexos braquial e lombossagrado:
- Intumescência cervical: segmentos medulares: C3 a T2; máxima circunferência ao nível do
segmento medular C6 (38 mm)
- Intumescência lombar: segmentos medulares: L1 a S3; máxima circunferência ao nível do
bordo inferior do corpo de T12 (35 mm)

Ao nível da morfologia externa da medula espinal importa também referir as fissuras e sulcos que
permitem facilmente distinguir a sua orientação:
- fissura mediana anterior: na face ventral, com profundidade
média de 3mm; é revestida pela pia mater; tem a comissura branca
anterior
- sulco mediano posterior: menos profundo e menos visível;
continua-se internamente com o septo mediano posterior, que chega até
ao canal central
- sulco postero-lateral: 1,5 a 2,5mm lateral ao sulco mediano
posterior; corresponde ao local de entrada das raízes posteriores dos
nervos espinais
- sulco postero-intermédio: apenas presente nos segmentos cervicais e torácicos superiores

A medula espinal é, ainda, uma estrutura segmentada, na medida em que possui vários segmentos
medulares: região relacionada com a emergência das raízes de um dado nervo espinal. Mais
especificamente, possui 31 segmentos medulares: 8C, 12T, 5L, 5S e 1Co.

51
Cada um destes segmentos medulares vai inervar um dermátomo. Os dermátomos são mais aparentes
no tronco e mais complexos nos membros:

DESCRIÇÃO DO PROFESSOR: C7 vai abranger o dedo médio, C8 a parte medial da mão, C6 a parte lateral da mão e o
antebraço lateral, C5 a porção superior do braço, T1 a parte medial do antebraço e T2 a parte medial do braço mais
superiormente. Continua-se depois com T2 a nível do tronco e vai ter ao outro lado. T4 vai ser mais ou menos a
região do mamilo e T10 a região do umbigo. L3 e L4 cobrem o joelho, L5 vai incluir o hálux, S1 que vemos aqui
posteriormente vai cobrir o quinto dedo e o tornozelo. O cóccix está centrado no ânus, C0, o nervo coccígeo. Depois
de S1-S5, vamos ter anéis concêntricos em volta do ânus. S2 vai estar relacionado com a parte posteromedial do
membro inferior e S1 está relacionado com a parte posterolateral do membro inferior.
C2 cobre a parte de trás da cabeça e C1 é aquele fenómeno que já falamos: C1 é um nervo motor, cujos ramos da
sua raiz dorsal inervam apenas músculos profundos do pescoço, não possuindo distribuição cutânea.

Morfologia interna da medula espinal


A medula espinal é composta por substância branca (axónios) à periferia e substância cinzenta (corpos
celulares) na região central.

• Substância branca
A substância branca localiza-se na periferia e divide-se em funículos (ou cordões):
- funículo posterior: localizado entre o sulco mediano posterior e o sulco postero-lateral; nos
segmentos cervicais e torácicos superiores, existe um sulco postero-intermédio que divide o funículo
posterior em funículo grácil (medial) e funículo cuneiforme (lateral)
- funículo antero-lateral: : localizado entre o sulco postero-lateral e a fissura mediana anterior; é
dividido pela emergência das raízes ventrais dos nervos espinais em funículo anterior (que inclui as
referidas raízes) e funículo lateral

• Substância cinzenta
A substância cinzenta localiza-se na região central da medula espinal, tem forma de H e divide-se em
cornos (ou colunas):
- corno posterior: associa-se a neurónios aferentes, isto é, possui as terminação das aferências
periféricas que são recebidas através das raízes posteriores dos nervos espinais; está, por isso, envolvido
na transmissão de informação exterocetiva, propriocetiva e interocetiva; separa-se da superfície da
região dorso-lateral da medula espinal pelo fascículo dorso-lateral ou fascículo de Lissauer, L (que
contém axónios não mielinizados, provenientes das raízes poteriores)
- corno anterior: associa-se a neurónios eferentes, isto é, contém as origens das fibras das raízes
anteriores dos nervos espinais; está, por isso, associado ao controlo voluntário ou involuntário dos
movimentos e das funções corporais; note-se que os neurónios mais laterais deste corno inervam
músculos dos membros e os neurónios mais mediais os músculos axiais
- corno lateral: só existe a torácico e lombar superior (T1-L3) e possui corpos celulares de
neurónios simpáticos pré-ganglionares, cujos axónios se dirigem via raiz espinal ventral e ramos
comunicantes para o tronco simpático
No centro da substância cinzenta existe, ao longo de toda a extensão da medula espinal, o canal central,
que é revestido por células ependimárias (produzem LCR; epitélio cúbico simples) e que possui LCR.
52
É de notar que a morfologia interna da medula espinal varia consoante as regiões medulares, sendo a
substância cinzenta maior nas intumescências.
Sulco postero-lateral Sulco postero-intermédio
Fascículo de Lissauers

CP

FL

CA

FA
Notar que não tem corno lateral

GRUPOS NEURONIAIS DA SUSBTÂNCIA CINZENTA DA MEDULA ESPINAL – LÂMINAS DE REXED

Lâminas I-IV – correspondem à porção dorsal do corno posterior, sendo o principal local de terminação
das fibras aferentes (lâminas sensitivas)
Lâminas I e II – presentes na zona superficial do corno posterior
Lâmina I - zona marginal; recobre a substância gelatinosa
Lâmina II – substância gelatinosa: responsável pela modulação da informação relacionada
com a dor e a temperatura
Lâmina III a VI – correspondem ao “corpo” do corno posterior (núcleo próprio ou corno dorsal profundo)
Lâminas V e VI – lâminas mistas, presentes na base do corno posterior, que recebem aferências
propriocetivas, corticoespinhais e de níveis subcorticais, estando envolvidas na regulação da
motricidade;
Lâmina VI - só presente nas intumescências cervical e lombar

Lâmina VII – forma grande parte do corno lateral (também possui lâmina IX)

Lâminas VIII e IX – localizam-se no corno ventral


Lâmina VIII – com interneurónios; com influência nos neurónios alfa e gama da lâmina IX
Lâmina IX – possui núcleos de neurónios motores alfa (inervam as placas motoras dos músculos
estriados), neurónios motores gama (para os fusos musculares) e interneurónios

Área espinhal X (lâmina X) – rodeia o canal central; constitui a comissura cinzenta anterior e comissura
cinzenta posterior e relaciona-se com a comissura branca anterior e a comissura branca posterior

53
MENINGES ESPINAIS
Na T7 já abordamos as meninges, aqui importa apenas destacar que:
- a dura mater só possui um único folheto, que se separa dos tecidos que delimitam o canal
vertebral pelo espaço epidural (contém tecido conjuntivo, tecido adiposo, plexos venosos, artérias de
pequeno calibre e vasos linfáticos)
- a dura mater fixa-se superiormente no buraco magno, ao longo do canal vertebral, fixa-se ao
ligamento longitudinal posterior e caudalmente fixa-se na superfície posterior do cóccix através do fio
terminal externo
- a aracnoide é continua com a aracnoide craniana
- a pia mater reveste a medula espinal em todas as suas reentrâncias e emite os ligamentos
denticulados, que são 21 pares, localizados entre as raízes dorsais e ventrais dos nervos espinais de C1
a L1 e que a ligam à dura mater
- existe também o espaço subaracnoideu, onde circula LCR

MEDULA ESPINAL E A SUA ATIVIDADE


A medula espinal está envolvida no processamento sensorial, motricidade e atividade reflexa.
As aferências somáticas podem, como já vimos, ser propriocetivas (relacionadas com as lâminas V, VI
ou VII, podendo ser consciente se atingir o córtex cerebral ou inconsciente se atingir o cerebelo),
exterocetivas (relacionada com as lâminas I-IV) ou interocetivas (relacionadas com a lâmina VII).

Feixe ou trato da medula espinal – podem ser agrupados de acordo com a sua origem, o seu destino ou
a sua função
- Feixes ascendentes longos: agrupamento de fibras que se dirigem para o tálamo, cerebelo ou
núcleos do tronco cerebral
- Feixes descendentes longos: agrupamentos de fibras com origem no córtex cerebral ou em
núcleos de nervos cranianos tendo como destino a substância cinzenta da medula espinal
- Feixes intersegmentares ou próprio-espinhais: fibras que fazem a conexão entre diferentes
segmentos da medula espinal

APLICAÇÕES CLÍNICAS

A punção lombar é um procedimento que permite a coleção de LCR e deve ser realizada entre L3 e L4,
o que permite evitar a medula espinal (que terminou ao nível de L1/L2). As estruturas perfuras são: a
pele, a fáscia toracolombar, os ligamentos interespinhosos, supraespinhosos e amarelos, a dura mater
e a aracnoide. Quando a agulha atinge o espaço subaracnoideu, a seringa capta LCR, cuja análise permite
avaliar diferentes patologias. Note-se que o LCR deve ser puro e cristalino.

A anestesia epidural permite a injeção de um anestésico no espaço epidural, não havendo necessidade
de perfurar a dura mater e a aracnoide. Realiza-se a qualquer nível medular, mas entre L3 e L5 o espaço
epidural é maior.

54
PARTE 2 – SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

O sistema nervoso autónomo é um sistema motor visceral, contendo apenas fibras eferentes viscerais
gerais. Divide-se em: simpático (ou toracolombar) e parassimpático (ou crânio-sagrado) e atualmente o
sistema nervoso entérico é considerado um componente autónomo separado.

ORGANIZAÇÃO GERAL
Os componentes periféricos so sistema nervoso autónomo são:
- fibras aferentes
- fibras eferentes com neurónios pré-ganglionares e pós-ganglionares, que se dividem em:
- sistema simpático ou toracolombar
- sistema parassimpático ou crânio-sagrado
- sistema nervoso entérico, considerado um componente independente,
modelado pelo sistema nervoso autónomo, com plexos mientérico e
submucoso
- gânglios do sistema nervoso autónomo

Relembrando: os neurónios pré-ganglionares simpáticos encontram-se na lâmina VII de Rexed, na


coluna intermédio-lateral de T1 a L2/L3 e mais caudalmente, também na lâmina VII vamos ter o núcleo
parassimpático sagrado de S2 a S4, onde temos os neurónios pré-ganglionares parassimpáticos.

SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO VS AUTÓNOMO

O sistema nervoso somático vai ter na sua componente eferente um neurónio motor que se dirige para
o órgão alvo sem sinapse intermédia. As fibras aferentes são um prolongamento do neurónio unipolar
do gânglio dorsal raquidiano, que se dirige para o tálamo ou diretamente para certas regiões corticais.

O sistema nervoso autónomo é regulado pelo hipotálamo vai ter na sua componente eferente
neurónios pré-ganglionares, cujo axónio vai fazer sinapse num gânglio com um neurónio pós-ganglionar,
que se dirige para o órgão alvo. A sua componente aferente é semelhante à do sistema nervoso
somático, regulada por fibras aferentes viscerais gerais que vão entrar pelo corno posterior e depois
dirigir-se para o hipotálamo.

55
DIFERENÇAS ENTRE A COMPONENTE SIMPÁTICA E A COMPONENTE PARASSIMÁTICA

Ambos os componentes do sistema nervoso autónomo são, como vimos, regulados pelo hipotálamo,
sendo que se este for regulado na região:
- anterior, origina uma resposta parassimpática
- posterior, origina uma resposta simpática
De forma grosseira, pode-se dizer que a componente simpática regula situações de stress, preparando-
nos para a luta ou fuga, isto é, deixa-nos no estado de alerta e que, por outro lado, a componente
parassimpática atua no sentido oposto, ou seja, leva-nos ao estado de repouso.
Assim, a resposta integrada e coordenada destes dois componentes do sistema nervoso autónomo
permite manter a homeostasia.

As principais diferenças são:


Simpático – maior disseminação e divergência neuronal, localizando-se em todas as partes do corpo
Parassimpático – ação mais local, com menor divergência neuronal e ausência nos membros

Para além disso, varia a estrutura do axónio e o neurotransmissor utilizado.

Pré-ganglionar Pós-ganglionar

Axónio Neurotransmissor Axónio Neurotransmissor

Curto e Acetilcolina para recetores Longo e Noradrenalina (exceção das


Simpático
mielinizado nicotínicos amielinizado glândulas sudoríparas)

Longo e Acetilcolina para recetores Curto e Acetilcolina para recetores


Parassimpático
mielinizado nicotínicos amielinizado muscarínicos colinérgicos

56
SISTEMA NERVOSO PARASSIMPÁTICO

Os neurónios pré-ganglionares vão estar relacionados com 4 nervos


cranianos (oculomotor, facial, glossofaríngeo e vago) no tronco
cerebral e ainda com os segmentos medulares de S2 a S4
caudalmente.

Neste esquema são mostrados os órgãos com inervação


parassimpática e todos eles têm também inervação simpática.
Contudo, é importante perceber que o parassimpático nem sempre
se opõe ao simpático!

→ Nervo oculomotor (III)


O nervo oculomotor e, portanto, os neurónios pré-ganglionares a ele associados localizam-se no núcleo
oculomotor acessório ou núcleo de Edinger-Westphal. Faz sinapse no gânglio ciliar e os neurónios pós-
ganglionares inervam o músculo ciliar (95% das suas fibras) e o músculo esfíncter da pupila.
A sua ação (resposta parassimpática) consiste na constrição pupilar, isto é, diminuição do diâmetro da
pupila. A ação do simpático, também evidente na imagem, provoca ação oposta: dilatação pupilar.

57
→ Nervo facial (VII)
O nervo facial e, portanto, os neurónios pré-ganglionares a ele associados têm origem no núcleo
salivar superior e são capazes de fazer sinapses em 2 gânglios:
- gânglio submandibular, cujos neurónios pós-ganglionares terão influência nas glândulas
salivares, submandibular, sublingual e dal língua, aumentando a sua secreção;
- gânglio pterigopalatino, cujos neurónios pós-ganglionares terão influência nas glândulas
lacrimais, nasais, palatinas e da nasofaringe.

Nota: o gânglio pterigopalatino é o maior gânglio parassimpático e localiza-se inferiormente ao nervo maxilar,
quando este passa pela fossa pterigopalatina.

→ Nervo glossofaríngeo (IX)


O nervo glossofaríngeo e, portanto, os neurónios pré-ganglionares a ele associados têm origem no
núcleo salivar inferior e fazem sinapse no gânglio ótico. Este tem relação anatómica com o nervo
mandibular e funcional com o nervo glossofaríngeo, , estando localizado inferiormente ao buraco oval
e medialmente ao nervo mandibular. Os neurónios pós-ganglionares inervam a glândula parótida.

→ Nervo vago (X)


O nervo vago e, portanto, os neurónios pré-ganglionares a ele associados
têm origem no núcleo dorsal do vago e as suas fibras eferentes viscerais
gerais ramificam-se para inervar vários órgãos: coração, traqueia,
brônquios, pulmões, estômago, fígado, pâncreas, rins, intestinos delgado
e grosso... Acontece que os gânglios onde se faz a sinapse surgem
proximalmente aos órgãos alvo, pelo que as fibras pós-ganglionares são
bastante curtas.

Nota: o intestino grosso só é inervado pelo vago nos seus 2/3 superiores, ficando
o restante terço ao encargo dos nervos sagrados.

58
No tubo digestivo vão existir 2 plexos, plexo
mientérico (promove o peristaltismo) e plexo
submucoso (promove a secreção). Como o número de
neurónios aqui existentes é muito elevado (cerca de
100 000 000), alguns autores consideram que
corresponde a um sistema nervoso à parte: sistema
nervoso entérico.

A verdade é que as fibras eferentes derivadas do


nervo vago vão ter influência ao nível do sistema
nervoso entérico, nem que seja na sua regulação.

→ Segmentos medulares S2, S3 e S4


O componente sagrado do sistema nervoso autónomo localiza-se e S2, S3
e S4, na lâmina VII de Rexed e constitui os chamados nervos pélvicos
esplâncnicos. Estes fazem sinapse nos gânglios parassimpáticos, onde se
originam as fibras pós-ganglionares, que se dirigem para as vísceras.
Uma grande parte dirige-se para o plexo hipogástrico inferior (plexo
nervoso autónomo-vegetativo) e posteriormente para as vísceras pélvicas.
Outras fibras juntam-se às fibras que formam os nervos hipogástricos.
Outras dirigem-se para o retroperitoneu e para a face posterior do cólon
descendente e mesocólon sigmoide.

SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO

Os neurónios pré-ganglionares vão estar localizados entre T1 e L2 na


chamada coluna intermédio-lateral da medula espinal.
O seu axónio vai fazer sinapse em gânglios pré-vertebrais ou em gânglios
paravertebrais, sendo que as fibras pós-ganglionares que se destinam ao
coração, vias aéreas, pulmões, paredes do tronco e membros se originam
em gânglios da cadeia ou tronco simpático (gânglios paravertebrais: 3
cervicais, 11 torácicos, 4 lombares e 4 a 5 sagrados, sendo que os dois
troncos se encontram caudalmente, podendo formar um gânglio único)
e que as fibras pós-ganglionares que se destinam a vísceras abdominais e
pélvicas se originam nos gânglios pré-vertebrais, que são apenas 3:
Gânglio Celíaco, Gânglio Mesentérico Superior e Gânglio Mesentérico
Inferior.

NOTA IMPORTANTE:
A medula da glândula suprarrenal vai ter a mesma origem embrionária que os neurónios pós-
ganglionares (crista neural). Assim, esta medula vai receber diretamente fibras pré-ganglionares que
vão aí fazer sinapse e estimular a produção rápida de adrenalina e noradrenalina. Isto é muito
importante para a ação rápida do sistema nervoso simpático.

59
As fibras eferentes viscerais gerais simpáticas pré-ganglionares originam-se na coluna intermédio-
lateral da medula espinal, emergem pela raiz ventral do nervo espinal e enquanto constituintes do ramo
ventral do nervo espinal comunicam através de um ramo comunicante branco (mais lateral que o ramo
comunicante cinzento) com a cadeia ganglionar simpática – isto acontece ao nível de T1-L2.
Nos gânglios paravertebrais da cadeia simpática, as fibras pré-ganglionares podem ter diferentes
terminações, em função do caminho seguido:
- fazer sinapse no gânglio ao mesmo nível e seguir através do ramo comunicante cinzento para
o ramo ventral do nervo espinal
- não fazer sinapse e ascender ou descer para outro gânglio da cadeia, onde farão sinapse
- não fazer sinapse e dirigir-se para um gânglio pré-vertebral onde façam sinapse

Nota: os ramos
comunicantes brancos só existem de T1 a L2.

As fibras eferentes viscerais gerais simpáticas pós-ganglionares originam-se nos gânglios simpáticos,
após ocorrer a sinapse e podem seguir via ramo comunicante cinzento para os nervos espinais, sendo
distribuídos à pele, à fáscia superficial ou a músculos esqueléticos. Podem, ainda, seguir para plexos
perivasculares profundos, como por exemplo o Plexo Simpático Cervical, que corresponde à porção
craniana do sistema simpático.

→ Plexo simpático cervical Nervo carotídeo


interno

O nervo carotídeo interno entra no canal carotídeo e origina um


ramo lateral e um ramo medial, formando o plexo carotídeo interno.

A nível cervical temos 3 gânglios: gânglio cervical superior (C1-C4),


gânglio cervical médio (C5-C6) e gânglio cervical inferior (C7-C8).
Estes enviam ramos comunicantes cinzentos para os ramos do plexo
cervical, mas não recebem ramos comunicantes brancos - as fibras
pré-ganglionares provêm de T1 a T5. A ansa subclávia une o gânglio
cervical médio ao inferior, rodeando a artéria subclávia.

60
Cada um destes gânglios tem um trajeto específico,
mencionado no esquema ao lado.

A fusão do gânglio cervical inferior com o primeiro gânglio


torácico origina o gânglio estrelado ou gânglio cervico-torácico,
que se situa normalmente entre a base da apófise transversa e
C7 e o colo da primeira costela, posteriormente à artéria
vertebral:

Importância clínica – SÍNDROME DE HORNER


Devido à presença de uma costela cervical ou de uma neoplasia
maligna, os gânglio cervico-torácico pode ser comprimido e provocar Síndrome de Horner, doença que
se caracteriza pela interrupção da cadeia do simpático e cujos sintomas são miose (constrição pupilar
devido ação do parassimpático sem ação do simpático), ptose palpebral parcial (quebra da pálpebra por
ausência da inervação simpático do músculo de Muller) e perda de sudação (anidrose).

→ Ao nível dos membros


O sistema simpático, ao contrário do parassimpático, vai existir ao nível dos membros.
Ao membro superior chega de T2 a T8, ocorrendo sinapse nos gânglios cervicais para as fibras pós-
ganglionares se dirigirem para o plexo braquial.
Ao membro inferior chega de T10 a L2 e após sinapse nos gânglio paravertebrais, as fibras dirigem-se
para o plexo lombossagrado.

Importância clínica – Doença de Raynaud


Devido à hiperatividade do sistema nervoso simpático, o frio provoca a vasoconstrição das artérias que
irrigam os dedos dos membros superiores, provocando dor intensa, palidez e cianose nas mãos devido
à falta de oxigénio. Em casos mais graves, o tratamento pode implicar a administração de inibidores da
atividade simpático, como a reserpina.

→ Ao nível do tórax
Ao nível do tórax, as fibras pré-ganglionares simpáticas vão formar três nervos: grande esplâncnico
(ramos do 5º ao 10º gânglios torácicos), pequeno esplâncnico (ramos do 9º e 10º ramos torácicos) e
esplâncnico mínimo (ramo do último gânglio torácico).

61
PLEXOS VISCERAIS DO SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO

Os plexos do sistema nervoso autónomo têm contribuição de fibras aferentes e eferentes do simpático
e do parassimpático:

- Localizados no tórax: plexo cardíaco e plexo pulmonar


- Localizados no abdómen: plexo celíaco, plexos com ele relacionados (frénico, esplénico,
hepático, mesentérico superior, suprarrenal, renal e gonadais) e plexo hipogástrico superior
- Localizados na pelve: plexos hipogástricos inferiores (unem-se ao superior pelos nervos
hipogástricos)

VIAS DA MEDULA ESPINAL – feixe espinhotalâmico lateral

As vias da medula espinal correspondem a um conjunto de feixes que conduzem informação dos
recetores periféricos até à medula espinal.
Existem várias, mas nesta aula apenas foi abordado o feixe espinhotalâmico lateral, que veicula
informação sensitiva relativa à dor (nociceção) e à temperatura. Localiza-se no funículo antero-lateral e
distingue-se do feixe espinhotalâmico anterior, que transporta o tato grosso e a pressão. Corresponde
a uma via sensitiva típica e, portanto, existem 3 sinapses:

1º neurónio – localiza-se no gânglio dorsal raquidiano e é unipolar, podendo existir fibras delta A, de
condução rápida (relacionadas com a dor aguda) ou fibras C, de condução lenta (relacionadas com a dor
mais duradoura e persistente), que transmitem os impulsos desde os recetores (terminações nervosas
livres) até ao corno posterior da medula espinal, através da divisão lateral da raiz dorsal do nervo espinal
(podem ascender ou descer no fascículo dorsolateral de Lissauer, antes de fazer sinapse)
2º neurónio – pode encontrar-se nas lâminas I a IV, mas geralmente localiza-se na lâmina II (substância
gelatinosa) e os seus axónios vão cruzar para o lado oposto da medula espinal, através da comissura
branca anterior (ocorre decussação das fibras) e vão ter inclinação rostral e oblíqua, o que significa que
podem ascender mais um ou dois segmentos medulares; depois organizam-se, então, no feixe
espinhotalâmico lateral
3º neurónio – localiza-se no núcleo ventral posterolateral do tálamo ou VPL, a partir da onde as fibras
se distribuem para o córtex;

NÃO ESQUECER DA SOMATOTOPIA (na medula, os segmentos mais caudais ocupam uma posição
postero-lateral e os segmentos rostrais uma posição antero-medial e as fibras nociceptivas estão
ligeiramente anteriores às fibras termocetivas; no córtex, as fibras chegam organizadas de acordo com
a sua proveniência – homúnculo sensitivo)

Aplicação clínica:
Em situações de dor intratável, pode ter de se
recorrer a uma cirurgia designada cordotomia, que
consiste num corte no feixe espinhotalâmico lateral,
sempre contralateralmente e alguns segmentos
medulares acima (devido à ascensão de fibras no
fasciculo dorsolateral e à inclinação rostro oblíqua
do feixe).
Contudo, a cirurgia pode não ser eficaz pois
aparecem os chamados feixes vicariantes – feixes
que assumem a função de outro quando este deixa
62
de existir.
DOR VISCERAL E DOR REFERIDA
A dor visceral é, normalmente, uma dor difusa e pouco localizada, contrariamente à dor somática, que
é intensa e localizada. Acontece que, muitas vezes, as dores viscerais são referidas a dermátomos
inervados pelos mesmos segmentos medulares que a víscera.

Um exemplo muito comum é a dor referida do enfarte agudo do miocárdio, que acontece quando as
artérias coronárias sofrem uma obstrução e o miocárdio deixa de receber o oxigénio necessário, o que
provoca dor – há imissão de impulsos dolorosos. Estes impulsos, ao chegar ao corno posterior misturam-
se com fibras eferentes de que provêm de dermátomos muito bem localizados. O cérebro não consegue,
depois, distingui a dor visceral proveniente do coração de uma dor somática e assim, muitas vezes, a
dor do enfarte agudo do miocárdio é referida ao membro superior esquerdo.
Outros exemplos: dor da vesícula biliar referida ao ombro; dor nos ureteres referida à face medial da
coxa; dor no apêndice referida à fossa ilíaca direita, etc.

63
T9 – Tronco cerebral
O tronco cerebral consiste numa estrutura constituída por 3 porções:
bolbo raquidiano, protuberância e mesencéfalo. Localiza-se na fosa
craniana posterior.
Embora possua apenas 3cm de comprimento e 2cm de diâmetro tem uma
enorme importância, pois:
1 – é responsável pela condução de feixes ascendentes e descendentes,
proporcionando a passagem de fibras entre o encéfalo e a medula espinal;
2 – possui os núcleos de nervos cranianos (III a XII);
3 – contém uma estrutura difusa ao longo de todo o seu eixo, que se denomina
formação reticular, cuja atividade é importante na manutenção da consciência,
respiração e frequência cardíaca
Assim, uma pequena lesão no tronco cerebral (que pode destruir centros essenciais à
vida ou núcleos de nervos cranianos ou vias motoras e sensórias) pode trazer
consequências de tal forma graves que coloquem o indivíduo em risco de vida. Não
havendo atividade elétrica no tronco cerebral, o indivíduo é declarado em morte
cerebral.

MORFOLOGIAS EXTERNAS
- BOLBO RAQUIDIANO

O bolbo raquidiano tem aproximadamente 3cm de comprimento e 2cm de diâmetro máximo e possui
forma cónica mais larga cranialmente. Estende-se desde o buraco magno, cranialmente à origem das
raízes do primeiro nervo cervical, até ao bordo inferior da protuberância.
O canal central da medula espinal continua cranialmente na metade inferior do bolbo (parte fechada)
mas na metade superior (parte aberta) expande-se formando a porção mais caudal do pavimento do 4º
ventrículo.

Região anterior

64
2

5 3
1

65
Fissura mediana anterior1 - contínua com fissura mediana anterior da medula espinhal, termina
cranialmente no buraco cego2
Pirâmides3 - localizadas lateralmente à fissura mediana anterior; na parte inferior são mais estreitas e
apresentam a decussação das pirâmides4 (ou decussação motora); possuem fibras corticoespinhais que
fazem parte da via motora principal, descendo do córtex e cruzando na decussação para o lado oposto
(80%)
Olivas5 – elevações ovais produzidas pelos núcleos olivares inferiores, poostero-laterais às pirâmides;
sulco pré- olivar; sulco retro-olivar; por vezes é evidente um fascículo circum-olivar (fibras externas
arqueadas que se dirigem para o pedúnculo cerebeloso inferior)
Sulco antero-lateral entre pirâmide e oliva – raízes do nervo hipoglosso (XII), alinhados com raízes
ventrais dos nervos espinhais
Sulco postero-lateral entre a oliva e o pedúnculo cerebeloso inferior – raízes dos nervos
glossofaríngeo (IX) e vago (X) e acessório (XI); em linha com as raízes posteriores dos nervos espinhais
Fibras arqueadas externas anteriores – algumas fibras emergem da fissura mediana anterior,
superiormente à decussação das pirâmides e possuem trajeto lateral dirigindo-se para o cerebelo

Região posterior

1
4
3

Porção cranial – porção inferior do pavimento do 4o ventrículo, que vai estar oculto pelo cerebelo

Óbex1 – na porção caudal do pavimento do 4º ventrículo, corresponde ao ponto no qual o 4º


ventrículo se estreita para se tornar no canal central da medula espinhal

Pedúnculos cerebelosos inferiores2 – posterior e cranial às olivas; divergem para entrar nos
hemisférios cerebelosos (fibras ligam o lobo ao cerebelo) e são cruzados pelas estrias medulares
Tubérculo grácil3 e tubérculo cuneiforme4 – 2 tubérculos laterais ao óbex; continuam-se depois como
fascículos grácil e cuneiforme
Sulco postero-intermédio5 – encontra-se na porção caudal, continua com a medula espinal

66
- PROTUBERÂNCIA OU PONTE

Região anterior

Sulco basilar mediano1 – ocupado pela artéria basilar


Pedúnculo cerebeloso médio2 – para ele dirigem-se muitas fibras transversas da protuberância

Região posterior

3
2
1

A face posterior encontra-se oculta pelo cerebelo, tem forma triangular e forma a metade superior dopavimento
do 4º ventrículo, sendo limitada lateralmente pelos pedúnculos cerebelosos superiores1.
Véu medular superior2 – une os pedúnculos cerebelosos médios e tem superiormente a língula3 (do
cerebelo)
67
- MESENCÉFALO

O mesencéfalo corresponde ao componente mais curto do tronco cerebral e está dividido numa
metade esquerda e direita, que são os pedúnculos cerebrais1.

Região anterior

1 1

Pedúnculos cerebrais1 – dividem-se numa porção ventral (pé do pedúnculo) e numa porção dorsal
(tegmento, denominando-se teto do mesencéfalo à sua porção posterior ao aqueduto cerebral); os pés
dos pedúnculos estão separados, enquanto que as porções tegmentares estão unidas.
Fossa interpeduncular – localiza-se posteriormente aos corpos mamilares2, entre a convergência dos 2
pedúnculos cerebrais. Profundamente esta fossa vai estar perfurada, por isso, chama-se a essa região
substância perfurada inferior (serve para a penetração de ramos de várias artérias profundas desta
região - uma das quais a artéria cerebral posterior).
Espaço perfurado posterior – espaço profundo
68
Região posterior

4
2
5
1 3

Freio do véu medular superior1


Colículos superiores2 – vai ter um braço conjuntival superior4 para se dirigir para o corpo geniculado
lateral (estrutura do metatálamo); vai ter funções visuais
Colículos inferiores3 – vai ter um braço conjuntival inferior5 para se dirigir para o corpo geniculado
medial (estrutura do metatálamo); vai ter funções auditivas
Glândula pineal6 – estrutura diencefálica que assenta nos colículos superiores

→ Morfologia externa do tronco cerebral e origem aparente dos nervos cranianos

Com a exceção do nervo olfativo (I) e do nervo óptico (II), os


nervos cranianos têm origem aparente no tronco cerebral:

- origem aparente na face anterior e posterior do


mesencéfalo, respetivamente: oculomotor (III), troclear (IV)

- origem aparente na protuberância: trigémeo (V), abducente


(VI), facial(VII), vestibulococlear (VIII)

- origem aparente no bolbo raquidiano: glossofaríngeo (IX),


vago (X), acessório (XI), hipoglosso (XII)´

SOBRE A MORFOLOGIA EXTERNA DO TRONCO CEREBRAL:


https://www.youtube.com/watch?v=Mkj78h8w4a8 (falta o nervo oculomotor)
0-5 minutos – organização externa do tronco cerebral
12m24s – raiz aparente dos nervos cranianos
69
FEIXES ASCENDENTES E DESCENDENTES DA MEDULA ESPINAL

É importante ver mais alguns feixes da medula espinal (só tínhamos visto na T8 o espinhotalâmico
lateral, relacionado com a dor e a temperatura) para depois conseguirmos entender a estrutura interna
do tronco cerebral. Vamos, então, ver os feixes cortico-espinhal lateral e cortico-espinhal anterior.

Vias descendentes (eferentes) Vias ascendentes (aferentes)


- Piramidais - Do cordão posterior
Feixe costicoespinhal lateral Fascículo grácil
Feixe corticoespinhal anterior Fascículo cuneiforme
- Não piramidais (não passam as pirâmides do bolbo raquidiano) - Do cordão ântero-lateral
Feixe rubroespinhal Feixe espinhotalâmico anterior
Feixe reticuloespinhal Feixe espinhotalâmico lateral
Feixe olivoespinhal Feixe espinhocerebeloso anterior
Feixe vestibuloespinhal Feixe espinhocerebeloso posterior
Via espinho-reticular:
via espinhomesencefálica
feixe espinho-hipotalâmico
feixe espinho-olivar

70
→ Fascículos grácil e cuneiforme
Estas vias são vias ascendentes típicas, pelo que possuem 3 neurónios. (VER DE BAIXO PARA CIMA)
São especializadas no tato discriminativo (muito fino), na pressão, na vibração e na proprioceção
consciente.

O terceiro neurónio encontra-se, então, no


núcleo VPL do tálamo e o seu axónio dirige-se
para o córtex somatossensorial primário,
organizando-se somatotopicamente:

As fibras ascendem no fascículo respetivo sem


cruzar, até fazerem sinapse no bolbo raquidiano,
respetivamente nos núcleos grácil e cuneiforme,
que é onde se encontra o segundo neurónio.
Após fazer sinapse vão decussar (grande
decussação sensitiva) originando as fibras
arqueadas internas que ascendem ao longo do
tronco cerebral paralelamente e numa fita que
se designa lemnisco, neste caso, lemnisco
medial, até atingirem o núcleo ventral postero-
lateral (VPL) do tálamo.

O primeiro neurónio localiza-se no gânglio


raquidiano da raiz posterior do nervo espinal,
cujo prolongamento periférico vai para
recetores táteis e propriocetores nos músculos
e cujo prolongamento central se dirige para o
cordão posterior da medula espinal.
Este prolongamento divide-se em:
- fibras laterais finas e pouco mielinizadas
Há o sulco posterointermédio a separar os fascículos
(relacionadas com os feixes espinotalâmicos:
dor, temperatura e tato grosso)
- fibras mediais grossas e mielinizadas (vão
para os fascículos, sendo que de caudal a T6 são
adicionadas ao fascículo grácili, mais medial e de
rostral a T6 ao fascículo cuneiforme, mais
lateral).

71
As lesões relacionadas com estas vias aferentes podem ocorrer após o cruzamento das fibras no
lemnisco medial (A, B e C) e nesse caso diz-se contralateral ou ao nível das colunas dorsais do funículo
posterior e nesse caso diz-se ipsilateral. Perde-se totalmente a proprioceção consciente e o tato
discriminativo e a pressão, embora estes últimos não se percam totalmente, pois esta informação pode
ser veiculada até ao córtex por outras vias.

EXEMPLO CLÍNICO – lesão dos cordões posteriores, que é comum na sífilis


O doente vai ter perda do tato discriminativo e vibração e perda da estereognosia. Para além disso,
vai desenvolver ataxia, em resultado da perda da porprioceção consciente.

Estereognosia – capacidade de reconhecer pelo tato um objeto; tem muita dependência dos cordões
posteriores, mas também está relacionada com certas regiões do córtex cerebral
Ataxia – movimento de marcha não coordenada que aumenta com fecho olhos por perda de referências
visuais, pois o doente compensa a falta de proprioceção com a visão. Assim, se se pedir a um doente
com lesão dos cordões posteriores para fechar os olhos estando na posição ereta, com os pés juntos,
pode desequilibrar-se e cair (sinal de Romberg positivo).

72
→ Vias descendentes (eferentes)

As fibras descendentes têm origem no CÓRTEX


CEREBRAL ou em NUMEROSOS LOCAIS NO TRONCO
CEREBRAL.
Estas vias relacionam-se com o controlo do
movimento, tónus muscular e postura, modulação dos
reflexos espinhais

Neurónio motor superior


córtex cerebral ou tronco cerebral
Neurónio motor inferior (motoneurónios)
corno ventral da medula espinhal ou em núcleos
motores de nervos cranianos
Interneurónios na medula espinhal
existem vários nas lâminas de Rexed do corno
anterior, permitindo uma conexão não direta entre os
neurónios motores superiores e o neurónio motor alfa.

→ Feixes corticoespinhais (são a principal via motora)


Têm origem no córtex motor primário, vão passar pelo mesencéfalo, pela protuberância e depois pelo
bolbo raquidiano, onde se organiza nas pirâmides. Na decussação das pirâmides, 85% das fibras sofrem
decussação para o lado oposto, dando origem ao feixe corticoespinhal lateral, que se dirige para o
funículo lateral da medula; os restantes 15% que não cruzam formam o feixe corticoespinhal anterior,
que se dirige para o funículo anterior da medula.
Ao longo desta via vai existir uma
organização somatotópica, que se
mantém ao nível do pedúnculo
cerebral, do mesencéfalo e da
medula espinal:
- no pedúnculo cerebral a área que
representa a face é a mais anterior,
enquanto que a do membro inferior
é a mais posterior;
- na medula a área que representa
o membro inferior está mais externa,
depois segue-se o tronco e mais
internamente o membro superior.

NOTA: se for lesionado o córtex no


lado esquerdo, as consequências vão
observar-se no lado direito e vice-
versa, devido à decussação queocorre
em 85% das fibras deste feixe.

73
A somatotopia mantém-se ao nível da terminação das fibras dos feixes
corticoespinhais no corno anterior da medula:
- os neurónios que vão inervar os músculos axiais vão localizar-se mais
medialmente e os que inervam os músculos mais distais localizam-se lateralmente;
- os músculos flexores vão ser inervados por neurónios localizados dorsalmente
aos neurónios que inervam os músculos extensores.

As lesões relacionadas com esta via descendentes podem


ocorrer ao nível do neurónio motor superior ou inferior,
tendo consequências diferentes.
- Lesão do neurónio motor superior
Presença do reflexo de Babinski
Ausência de reflexos abdominais superficiais
Ausência do reflexo cremastérico
Perda dos movimentos finos da parte distal
dos membros, especialmente das mãos
- Lesão do neurónio motor inferior
Paralisia flácida dos músculos afetados
Atrofia muscular desses músculos
Perda de reflexos dos músculos afetados
Fasciculação muscular
Contractura muscular

EXEMPLO CLÍNICO - Hemisecção da medula


espinhal (Síndrome de Brown-Sequard)

74
MORFOLOGIAS INTERNAS
- BOLBO RAQUIDIANO
Vai haver uma transição gradual da organização
interna das substâncias branca e cinzenta da medula
até ao nível do aparecimento da oliva, devido:
- ao realinhamento dos feixes
corticoespinhais: devido ao percurso das fibras
corticoespinhais laterais na decussação das
pirâmides, há ‘decapitação’ da substância cinzenta,
que até então era contínua com o corno anterior da
medula espinal.
- à terminação das fibras provenientes do cordão posterior da medula espinal: a sinapse que
ocorre nos núcleos grácil e cuneiforme origina axónios que vão decussar para o lado oposto e formar o
lemnisco medial, que vai estar localizado cranialmente ao nível da decussação das pirâmides e
anteriormente à substância cinzenta central, provocando também a ‘decapitação’ da substância
cinzenta contínua com o corno posterior da medula espinal. As fibras do lemnisco medial dirigem-se
para o núcleo ventral postero-lateral (VPL) do tálamo.

Complexo nuclear olivar - forma crenada com hilo medial, responsável pela oliva visível externamente;
é formado pelos núcleos olivares acessórios - dorsal e medial (mais pequenos) e pelo núcleo olivar
inferior, que é o maior e que se localiza lateralmente às pirâmides e vai emitir muitas eferências (pelo
ilo) para o cerebelo, através do pedúnculo cerebeloso inferior. Para além disso, também possui fibras
aferentes (feixe espinho-olivar), relacionando-se com os movimentos musculares voluntários.
Núcleos arqueados - prováveis núcleos pônticos em posição aberrante na face anterior das pirâmides,
que enviam fibras para o cerebelo através de fibras arqueadas externas anteriores.
Fascículo longitudinal medial – posterior ao lemnisco medial e anterior ao núcleo do hipoglosso (XII), é
importante para a coordenação dos movimentos dos olhos com os movimentos do pescoço e da
cabeça e tem origem nos núcleos mais craniais localizados na transição entre o mesencéfalo e o
diencéfalo, em fibras muito mielinizadas, tendo uma relação com núcleos de nervos cranianos que
movimentam o globo ocular: o oculomotor(III), o troclear (IV) e o abducente (VI) e também com os
núcleos vestibulares e com o núcleo acessório. Localiza-se ao longo de todo o tronco cerebral.
Pedúnculo cerebeloso inferior - tem duas porções funcionalmente e estruturalmente distintas:
corpo restiforme – face dorsolateral do bolbo com grande variedade de aferentes cerebelosos
corpo justarestiforme – conexão entre núcleos vestibulares com o córtex cerebeloso e núcleo
fastígio (núcleo central do cerebelo)

Nota: No Sistema Nervoso Central, utiliza-se os termos: rostral e caudal, pois as estruturas
apresentam uma certa inclinação que vai aumentando, ao longo da ascensão rostral (no
diencéfalo, o rostral vai ficar equivalente a anterior). Esta inclinação deve-se à embriologia e à
curvatura cefálica que se observa quando se dá a formação das vesículas e depois posteriormente
as várias curvaturas que se vão dar.
Nível do corte Há um núcleo do trigémio (nervo craniano, e muitas das suas funções vão ser
equivalentes ao corno posterior da medula espinhal) chamado o núcleo espinhal do
nervo trigémio, relacionado com a dor e com a temperatura e o trato espinhal do nervo
trigémio vai ser contínuo com a substância gelatinosa e com o fascículo dorso-lateral.
Assim há continuidade entre a substância gelatinosa e o feixe dorso-lateral de Lissauer
com o núcleo espinhal do nervo trigémio e o trato espinhal do nervo trigémio.

75
Para além do lemnisco medial (relacionado
com os fascículos grácil e cuneiforme), existe
também um lemnisco lateral, um lemnisco
espinhal e um lemnisco trigeminal:

Lemnisco espinhal: espinhas espinhotalâmicas dos feixes anterior e


lateral que vão ascender em conjunto, formando uma estrutura em
forma de fita
Lemnisco lateral: formado a partir dos núcleos coclear dorsal, coclear
ventral e trapezoide, vai-se dirigir quase exclusivamente para os
colículos inferiores do mesencéfalo (que apresentam funções auditivas)
Lemnisco trigeminal: Relacionado com o núcleo do feixe espinal do
trigémio - o nervo trigémeo (V) em termos funcionais é muito semelhante à medula espinhal, mas
relaciona-se com a cabeça e com o pescoço. A dor e a temperatura dos territórios do nervo oftálmico,
maxilar e mandibular (que têm origem no nervo trigémeo) vão todos para o núcleo do feixe espinal do
trigémeo e o tato e a proprioceção têm núcleos diferentes, mas que se vão agrupar também neste
lemnisco trigeminal.

O lemnisco medial, o lemnisco espinhal e o lemnisco trigeminal vão terminar no tálamo, mas o
trigeminal termina no núcleo VPM, enquanto os outros terminam no núcleo VPL.
O lemnisco lateral vai ter a sua terminação ao nível do mesencéfalo no colículo inferior.

IMPORTANTE PARA A GINCANA:


Quando se aponta com uma seta para o núcleo olivar inferior, a resposta é núcleo olivar
inferior. Se a seta estiver externamente a resposta é oliva, isto é, quando é a estrutura interna, é o
núcleo olivar inferior; quando é a estrutura externa formada por este complexo nuclear olivar
e principalmente pelo núcleo olivar inferior, é oliva.
Da mesma forma, a pirâmide é a estrutura externa, mas apontando para dentro da pirâmide, o mais
correto seria responder fibras corticoespinhais.
Uma estrutura que se vê bem nas peças anatómicas é o pedúnculo cerebeloso inferior.

- PROTUBERÂNCIA OU PONTE
Internamente, a ponte divide-se em 2 porções: porção basilar ou ventral e porção tegmentar ou dorsal.
Porção basilar
Esta porção possui fibras longitudinais descendentes, algumas das quais se dirigem para as pirâmides
e para os núcleos pônticos.
Vai ter também fibras corticoespinhais e corticopônticas. Existem numerosos núcleos pônticos onde
vão terminar algumas das fibras corticopônticas que vão dar origem a fibras pôntico-transversas ou,
como se dirigem para o cerebelo, fibras pôntico-cerebelosas. Estas fibras entram no cerebelo através
dos pedúnculos cerebelosos médios (que vão ser os maiores pedúnculos). Estes pedúnculos cerebelosos
médios vão ser a principal via de conexão entre o cerebelo e córtex cerebral.

76
Porção tegmentar
Consiste numa aprente continuação do bolbo raquidiano, excluindo as pirâmides. As diferenças para
com o bolbo são:
- O lemnisco medial vai estar na porção anterior do tegmento mas vai ter um longo eixo
transversal.
- Temos o 4º ventrículo (mais caudalmente é maior e depois vai estreitando) e o fascículo
longitudinal medial vai estar perto do seu pavimento.
- Vamos ter o colículo facial que é formado por fibras do nervo facial que vão rodear o núcleo
do nervo abducente.
- O lemnisco lateral vai terminar no colículo inferior e ,também vai aparecer, a este nível, o
lemnisco trigeminal (o lemnisco trigeminal vai terminar no núcleo ventral posteromedial do tálamo).

Temos aqui um corte ao nível do joelho do nervo facial e vemos:

- O núcleo do 7º par craniano e as suas


fibras a rodear o núcleo do 6º par craniano;
- A continuação do feixe espinhal do
trigémeo (V);
- Onde se localiza o fasciculo longitudinal
medial, verifica-se posteriormente o
pavimento do 4º ventrículo e também os
núcleos vestibulares. Estes núcleos
vestibulares vão estar na origem dos feixes
vestíbulo-espinhais medial e lateral que vão
estar relacionados com a postura e o
equilíbrio.

Nesta imagem vemos o colículo facial, localizado no


pavimento do 4º ventrículo e vemos as fibras do nervo facial
(VII) a surgirem do núcleo do nervo facial e a rodear o núcleo
do abducente (VI). As fibras no nervo abducente
(VI) dirigem-se anteriormente e a sua origem aparente é ao
nível do sulco bolbo-pôntico, superiormente àspirâmides. Já o
nervo facial tem origem aparente mais lateralmente, no
ângulo cerebelo-pôntico, juntamente com o nervo
vestibulococlear (VIII). O fasciculo longitudinal medial
encontra-se longo de todo o tronco cerebral.

77
Neste corte ao nível da porção motora
do nervo trigémio e do núcleo
sensorial principal, observa-se:
- O lemnisco medial, numa posição
transversa.
- Lateralmente ao lemnisco medial, o
lemnisco espinhal.
- Locus coeruleus ou núcleo cerúleo
- Pedúnculo cerebeloso superior
- Fascículo longitudinal medial

- MESENCÉFALO
Está dividido numa metade direita e numa metade esquerda, denominadas pedúnculos cerebrais.
Cada um dos pedúnculos está subdividido numa porção ventral (que é o pé do pedúnculo, ou crus
cerebri, em latim) e numa porção dorsal: o tegmento. As porções tegmentares vão estar unidas,
enquanto que os pés dos pedúnculos estão separados. Ao convergir vão formar uma fossa, a fossa
interpeduncular. Na profundidade dessa fossa interpeduncular vamos ter então o espaço perfurado
posterior.
Nesta imagem vemos um corte ao nível do colículo inferior

Os pés dos pedúnculos vão apresentar


uma organização somatotópica: 1/5
anterior temos as fibras frontopônticas;
1/5 posterior vamos ter as fibras
temporopônticas; 3/5 intermédios
vamos ter então as fibras
corticonucleares e corticoespinhais.
A porção do tegmento que está
localizada dorsalmente ao aqueduto
cerebral, tem apenas 15 mm de
extensão (é um dos pontos mais
estreitos por onde circula o líquido
cefalorraquidiano no sistema ventricular) e denomina-se teto do mesencéfalo. Rodeando o aqueduto
cerebral temos uma região que se denomina substância cinzenta periaquedutal.
Vemos a decussação dos pedúnculos cerebelosos superiores, na porção central do tegmento,
anteriormente ao aqueduto cerebral, sendo que as fibras ascendentes vão para o núcleo rubro e para o
núcleo ventral lateral do tálamo, muito relacionado com funções motoras e as fibras descendentes vão
para a formação reticular, para o complexo olivar inferior e para os vários núcleos de nervos cranianos.
Posteriormente aos pés dos pedúnculos temos a substância negra que corresponde a uma lâmina da
substância cinzenta, com neurónios multipolares, contendo neuromelanina. É semilunar em secção
transversa e estende-se entre a região mais cranial da protuberância até ao subtálamo, ou seja, tem
projeção diencefálica. Apresenta duas porções:
- Pars compacta (dorsal), com neurónios de tamanho médio, muito pigmentados, que vão ter a
dopamina como neurotransmissor (morte de neurónios com dopamina - Parkinson)
- Pars reticularis (ventral) com menor número de neurónios e pouco pigmentados, que se
estende cranialmente, sendo contínuo com o globo pálido (dos núcleos da base); estes neurónios
utilizam como neurotransmissor o GABA

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Dorsalmente à porção lateral da substância negra observam-se os lemniscos, de medial para lateral:
medial, espinal, trigeminal e lateral. Vemos as fibras do lemnisco lateral próximas do colículo inferior,
relembrando que fazem parte da via auditiva e que vão fazer sinapse aqui, ao nível do colículo inferior.
Vemos também as formações nucleares dos nervos cranianos presentes no mesencéfalo: núcleo do
nervo troclear (IV) ao nível do colículo inferior – trajeto rodeando substância cinzenta central e
decussação das fibras antes da emergência inferiormente ao colículo inferior, lateralmente ao freio do
véu medular superior.

Nesta imagem vemos um corte ao nível do colículo superior

Vemos aparecer uma nova estrutura,


o núcleo rubro, que vai ter substâncias
ferrugíneas e que apresenta forma
elipsoide:

- Vai ser constituído por neurónios


multipolares, em que temos uma
porção caudal com células magno-
celulares grandes, e uma porção
rostral, com células parvo-celulares.
- As suas principais aferências vêm do
córtex motor, geralmente não
cruzadas, e do cerebelo e vêm pelo
pedúnculo cerebeloso superior.
- As suas principais eferências são as seguintes: feixe rubro-espinhal (que vai decussar na decussação
ventral do tegmento e depois dirige-se caudalmente para a medula espinhal), que é rudimentar no
homem e que tem origem nos neurónios magno-celulares, podendo ser vicariante em caso de lesão
do feixe cortico-espinhal lateral; feixe rubro-reticula; e também para o núcleo olivar inferior do mesmo
lado, através do fascículo tegmentar central, com origem nos neurónios parvo-celulares (existe ao
longo de todo o tronco cerebral e é importante para as funções integrativas da formação reticular e
conexão entre o tálamo e o complexo olivar inferior, córtex motor e núcleos reticulares).

Para além disso, verifica-se a existência de 2 decussações, no tegmento:


- A decussação das fibras rubro-espinhaisseta da direita (feixe vicariante do feixe cortico-espinhal
lateral)
- A decussação dorsal do tegmentoseta da esquerda, vai ser constituída por fibras tecto-espinhais (com
origem no colículo superior e terminação na medula) e fibras tecto-bulbares (vão para núcleos pônticos
e núcleos dos nervos cranianos relacionados com os músculos extraoculares). Assim, esta decussação
vai estar relacionada com a coordenação de reflexos visuais e movimentos da cabeça e do pescoço.

Pode-se também observar o nervo oculomotor (III) a emergir no sulco medial.

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O teto do mesencéfalo organiza-se, então, em 2 pares de colículos.
Os colículos superiores estão relacionados com reflexos visuais e vão apresentar uma estrutura com
várias laminas (várias camadas). Recebe informação retinotópica, ou seja, organizada de acordo com o
quadrante da retina de onde provém. Esta retinopatia mantém-se em toda a via visual.
Lâminas superficiais
Lâmina 1- Córtex visual
Lâmina 2- Retina
Lâmina 3- Nervo óptico
Lâminas Intermédias
Lâmina 4 e Lâmina 5- Aferências : córtex, medula espinhal, coliculos inferiores
Lâminas profundas
Lâmina 6 e Lâmina 7- Eferências : tecto-espinhais, tecto-pônticas, tecto-tegmentares,
tecto-reticulares
As principais aferências provêm das camadas mais superficiais, com origem no córtex visual, retina, no
nervo ótico, e também da medula espinhal, e dos colículos inferiores. As eferências provêm de camadas
mais profundas (6 e 7), sendo estas as fibras tecto-espinhais, tecto-pônticas, tecto-reticulares e tecto-
tegmentares.

Em contraste, os colículos inferiores só vai receber aferências provenientes do lemnisco lateral e as


suas eferências vão através do braço do colículo inferior para o corpo geniculado medial. A sua função
relaciona-se com os reflexos auditivos, existindo uma estrutura tonotópica (cada tom apresenta uma
localização específica ao longo da via auditiva). Começa na cóclea (no caracol do ouvido interno) e esta
tonotopia vai se manter então até ao córtex auditivo. Portanto, este colículo inferior não apresenta
camadas, ao contrário do colículo superior. São também responsáveis pela localização de sons e
integração com os reflexos visuais, daí que haja também uma comunicação entre os colículos superiores
e inferiores.

FORMAÇÃO RETICULAR DO TRONCO CEREBRAL

Zona mais ou menos contida no tegmento do mesencéfalo que vai depois ter uma projeção caudal. Vai
ser constituída por numerosos neurónios separados por numerosas fibras com trajetos e direções
diversas. Portanto, são neurónios dispersos, não havendo núcleos propriamente ditos. Porém, há uma
continuidade morfológica no bolbo, protuberância e mesencéfalo.

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Um neurónio típico da formação reticular é o neurónio golgi tipo 1, com um
axónio longo. Como faz um campo esférico em torno do corpo, denomina-se
neurónio isodentrítico. Esta árvore dendrítica encontra-se disposta,
geralmente, perpendicularmente ao maior eixo do tronco cerebral, e cada
uma delas pode fazer sinapse com 4 mil neurónios, portanto há uma
convergência neuronal grande e o axónio destes neurónios vai ter um trajeto
muito longo e com numerosos trajetos colaterais. Em média, cada nerónio da
formação reticular vai ter conexão com 25 mil outros neurónios.

A formação reticular é dividida em 3 colunas longitudinais simétricas:


- coluna medial
zona efetora da formação reticular, com os neurónios isodendríticos
- coluna mediana
- coluna lateral zona recetora, com alguns neurónios isodendríticos e alguns axónios
mais curtos, orientados medialmente. Também vão existir uns neurónios
alodendríticos e idiodentríticos semelhantes aos existentes no restante
sistema nervoso.

Outra forma de organizar a formação reticular é com base em sistemas de neurotransmissores, ou seja,
vamos ter populações de neurónios com o mesmo transmissor, mas não segregados em grupos
espaciais bem delimitados.
O sistema reticular serotoninérgico, que por acaso vai ser coincidente com a coluna mediana, vai ser
constituído pelos núcleos do rafe que vão utilizar a serotonina como neurotransmissor. Vão ser muito
importantes na incepção e na regulação da consciência. Existem ao longo do bolbo da protuberância do
mesencéfalo, sendo que os mais rostais se projetam até ao telencéfalo, enquanto que os mais caudais
vão projetar-se para a medula espinhal. Destaca-se aqui um núcleo, que é o núcleo dorsal do rafe.
Depois temos os núcleos do rafe que vão projetar para a medula espinhal que é o caso do
núcleo da rafe pálido (pallidus) e o núcleo da rafe obscuro (obscuris). Portanto, a coluna mediana da
formação reticular vai ser coincidente com o sistema reticular serotoninérgico.
O sistema reticular noradrenérgico vai relacionar-se com o núcleo cerúleo, que vai utilizar a
noradrenalina como neurotransmissor e vai ter grandes eferências para o córtex cerebral e para a
medula cerebral, relacionando-se com as funções corticais e vai ser importante em funções motoras.

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Além deste sistema, temos outros pequenos núcleos dispersos que estão localizados nas porções
laterais do segmento da ponte e do bolbo, apresentando funções vegetativas com eferências para o
núcleo dorsal do vago e para o hipotálamo, ou seja, com o sistema nervoso autónomo ou vegetativo.
O sistema reticular colinérgica existe principalmente no mesencéfalo e tem uma nomenclatura que é
a seguinte:
- Grupo Ch5 – núcleo pedunculopontico
- Grupo Ch6 – núcleo tegmentar laterodorsal, ou seja, vão ter projeções colinérgicas.

As funções da formação reticular são de tal forma importantes que sem ela não poderíamos viver.
A sua função primordial é o controlo motor através da integração de vários núcleos relacionados com
o cerebelo: o núcleo reticular lateral, o reticular tegmentar e reticular paramediano; e depois projeções
para a medula espinhal, através de 2 feixes: feixe retículo-espinhal medial, que está localizado no
funículo anterior, com origem nos núcleos reticulares caudal e oral da ponte, daí que se chame também
a este feixe retículo- espinhal pôntico; feixe retículo-espinhal lateral que tem origem no núcleo reticular
magnocelular do bolbo e está localizado no funículo lateral, podendo ser chamado de retículo-espinhal
bolbar. São vias multi-sinápticas para modulação do sistema motor e controlo de aferências nociceptivas
dos segmentos medulares, ou seja, para além da informação motora, passa também alguma informação
dolorosa.
Na formação reticular vão convergir numerosas aferências vindas de todas as partes do corpo, de
diversas modalidades sensitivas, que vão-se encontrar e ser integradas aqui. Portanto padrões
complexos de movimento vão estar relacionados com estes feixes retículo-espinhais. E estes feixes
retículo-espinhais, especialmente o lateral, pode ser um feixe vicariante do feixe cortico-espinhal lateral.

A história do Gato Mike mostra a importância do tronco cerebral e da formação reticular: o gato
sobreviveu pois os centros essenciais à vida (reguladores da inspiração e expiração, da frequência
respiratória e cardíaca e centros de tensão arterial) estão todos localizados no tronco cerebral. Também
vai ter centros motores, permitindo a manutenção das funções motoras do galo Mike.

Para além do controlo motor, a formação reticular é também responsável pelo controlo sensorial,
especialmente o controlo da nociceção e ainda pelo controlo da consciência:

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A consciência pode definir-se como a perceção da existência do meio e do próprio, resultando numa
imagem mental do corpo no espaço e vai dar continuidade à consciência da individualidade.
NÃO existe um centro para a consciência, mas sabe-se que a integridade morfológica da formação
reticular do tronco cerebral vai ser essencial para a manutenção da consciência. Existe um conceito
fisiológico que é o sistema ativador reticular ascendente que faz com que o tálamo excite o córtex e
parece estar coincidente com a coluna longitudinal medial. Neste controlo da consciência vamos ter
então a regulação do sonho e do sono.

Sono - estado reversível de inconsciência; existem 2 tipos de sono:


- sono profundo, em que o eletroencefalograma vai ter ondas lentas, de alta voltagem,
sincronizadas;
- sono REM ou sono paradoxal, que apresenta muitas vezes imagens visuais e auditivas que
conhecemos como sonhos; o eletroencefalograma vai ter ondas rápidas, de baixa voltagem, não
sincronizadas. Vai haver uma atividade elétrica enorme na formação reticular da ponte e do córtex
visual, que vai dar um conteúdo visual ao sonho. Ao mesmo tempo, vai haver uma abolição do tono
muscular feito por uma região vizinha ao núcleo cerúleo. Vai haver alterações a nível da temperatura e
um movimento rápido dos olhos: REM. E ainda vai haver então um ritmo peculiar do
eletroencefalograma, que vai ter origem numa região do sistema límbico que é o sistema relacionado
com a emoção, com a aprendizagem e com a memória, chamado ritmo teta( Θ) do eletroencefalograma,
que vai ter então origem nessa formação do hipocampo.

Há interação entre vários neurotransmissores, desde acetilcolina, à noradrenalina, à serotonina e ainda


outros (como a histamina e a orexina) que estão todos envolvidos na regulação do sono e do sonho.

Patologias associadas ao estado de inconsciência


- Uma patologia importante relacionada com a formação reticular é o estado de coma. Ou seja, é um
estado de inconsciência do qual a doente não reverte após a estimulação.

- Para além disso, temos o estado vegetativo em que não há interação com o meio ambiente, embora
o tronco cerebral mantenha as suas funções intactas.

- A narcolepsia é uma doença em que há muitos períodos de REM que se intrometem durante o dia,m
que pode ocorrer com cataplexia, patologia em que há uma súbita hipotonia (diminuição do tônus
muscular e da força, o que causa moleza e flacidez) e o doente pode cair eventualmente quando isso
acontece.

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T10 – Cerebelo. 4º ventrículo

MORFOLOGIA EXTERNA DO CEREBELO


O cerebelo localiza-se na fossa craniana posterior (a fossa vermiana do occipital alberga o verme do
cerebelo) e está recoberto por uma prega de dura mater, a tenda do cerebelo. A foice do cerebelo é
também uma prega da dura mater, que se projeta desde a chanfradura cerebelosa posterior até às
valéculas do cerebelo (localizadas entre os hemisférios cerebelosos); a sua base vai estar inserida
superiormente na tenda do cerebelo e o seu bordo posterior vai estar inserido na divisão inferior da
crista vertical da face interna do occipital. Tem 69 000 000 000 neurónios, empacotados em 10% do
volume encefálico total.
Pode ser dividido em zonas transversas e zonas longitudinais, sendo que:
- as fissuras transversas dividem-no em lobos;
- as conexões funcionais dividem-no em zonas longitudinais.

A substância branca do cerebelo parece uma árvore em cortes sagitais. Na


mesma analogia, as pregas corticais na superfície da árvore denominam-se
“folias” (“folhas”). Assim, a superfície do cerebelo vai ser constituída por
várias folias, separadas por fissuras, sendo que as de maiores dimensões
dividem-no em lobos: anterior, posterior e floculo-nodular. Estes por sua vez
apresentam vários lóbulos.

Numa visão superior vemos o vérmis, que separa os dois hemisférios cerebelosos e nestes temos a
fissura prima, que os divide em lobo anterior e lobo posterior. A fissura horizontal divide o corpo do
cerebelo em face superior e face inferior.

Numa visão inferior vemos ainda a fissura posterolateral que separa o lobo flóculo-nodular. Neste encontramos o
flóculo e o nódulo do vérmis (que é a porção mais anterior da face inferior do vérmis). Vemos ainda a amígdala (tonsil),
que corresponde ao lóbulo mais inferior do lobo posterior e que se evidencia pela fissura retroamigdalina. A sua parte
corresponde no vérmis é a úvula. Por ser a porção mais inferior do cerebelo, a amígdala vai estar adjacente ao buraco
magno, o que significa que se ocorrer herniação (devido a tumores, p.e.) há um aumento da pressão intracraniana e
provável compressão do bolbo raquidiano, podendo provocar a morte.

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Numa visão anterior destacam-se os pedúnculos cerebelosos, que são 3 e que fazem a ligação do
cerebelo ao tronco encefálico:
Superior – maior parte das
eferências dos núcleos cerebelosos
para o núcleo rubro e tálamo;
exceção fibras espinhocerebelosas
anteriores;
Medio – aferências dos núcleos
pônticos contralaterais que
passam pelo córtex cerebral: fibras
corticoponticocerebelosas;
também parte das aferências da
formação reticular (do núcleo
reticular tegmentar)
Inferior – maior parte das aferências: fibras espinhocerebelosas posteriores, vestibulocerebelosas,
reticulocerebelosas (dos núcleos lateral e paramediano), cuneocerebelosas, trigeminocerebelosas,
olivocerebelosas (do núcleo olivar inferior, núcleo acessório olivar); corpo justarestiforme – eferências
do vestibulocerebelo ( fibras vestibulocerebelosas não cruzadas)

(Slide do PPT sobre os pedúnculos cerebelosos)

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Nota: Os lóbulos cerebelosos têm numeração
romana, sendo que: de I a V fazem parte do lobo
anterior, de VI a IX do posterior e X constitui o
lobo floculo-nodular.

FEIXES ESPINHOCEREBELOSOS (POSTERIOR E ANTERIOR) - ascendentes


Neste esquema vemos que o cerebelo vai receber muitas aferências diretas, portanto, vai receber
muita informação sobre o que se passa no corpo, o que é fundamental para a sua função, que veremos
mais à frente nesta aula.
As suas principais aferências diretas são: núcleos pônticos (fibras pônticocerebelosas; medula
espinhal via fascículos espinho-cerebelosos; núcleos olivar inferior, reticulares, vestibulares, e
arqueados do bolbo; núcleos do rafe, núcleos reticulares do tegmento da protuberância; núcleo
cerúleo e tegmento do mesencéfalo.

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FEIXE ESPINHOCEREBELOSO POSTERIOR

Está relacionado com a proprioceção inconsciente e exteroceção do membro inferior ipsilateral e


tronco. Associado a ele tem o feixe cuneocerebeloso, que transmite informação propriocetiva e
também exterocetiva do membro superior ipsilateral e tronco, sendo importante na coordenação
fina de músculos individuais.

FEIXE ESPINHOCEREBELOSO ANTERIOR

Recebe informação mais complexa de recetores cutâneos, de interneurónios espinhais e vai


também receber fibras dos feixes motores descendentes (é como se ficasse com uma cópia desses
feixes). Enquanto que o feixe espinhocerebeloso posterior estava mais dedicado à regulação dos
músculos e articulações pontuais, este vai estar mais relacionado com os movimentos coordenados
de todo o membro inferior ou do tronco. Tem também um outro feixe associado a ele, mas que não
está muito bem definido: o feixe espinhocerebeloso rostral, relacionado com o movimento
coordenado e postura do membro superior.

1º neurónio – gânglio espinhal; faz sinapse no núcleo


dorsal de Clarke (lâmina VII de Rexed entre T1 e L2)
2º neurónio – origem no núcleo de Clarke; ascende
lateralmente ao feixe corticoespinhal lateral, sem
cruzar e entra no cerebelo via pedúnculo cerebeloso
inferior

Nota: Aferências de segmentos medulares caudais a


L2 ascendem através do fascículo grácil até L2, para aí
fazerem sinapse no núcleo de Clarke

1º neurónio – ascende no fascículo cuneiforme; faz


sinapse no núcleo cuneiforme lateral
2º neurónio – só os seus axónios originam o feixe
cuneocerebeloso, que entra no cerebelo via
pedúnculo cerebeloso inferior

1º neurónio – gânglio espinhal; faz sinapse em


neurónios das lâminas VI-VII
2º neurónio – são os chamados “spinal border cells”
pois cruzam para o lado oposto, ascendem pelo feixe
espinhocerebeloso anterior e vão entrar no cerebelo
pelo pedúnculo cerebeloso superior, onde na sua
decussação voltam a cruzar, terminando do lado
ipsilateral

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CONEXÕES CEREBELOSAS

→ Organização segundo a filogenia


O cerebelo, do ponto de vista evolutivo, foi aparecendo em etapas sucessivas. Então, pode dizer-se
que há uma parte mais antiga, chamada arquicerebelo; uma parte mais recente relacionada com o
córtex cerebral denominada neocerebelo e uma parte intermédia que será o espinho-cerebelo. Temos
que:
Vestibulocerebelo ou arquicerebelo - Lobo floculo-nodular, incluindo a língula: conexões
vestibulares, recebendo aferências através do corpo justarestiforme (relação com o núcleo fastigial)
Espinhocerebelo ou paleocerebelo - Lobo anterior, incluindo a pirâmide e úvula do vermis:
conexões com medula espinhal (relação com o núcleo interposto)
Neocerebelo - Lobo posterior (exclusão da pirâmide e úvula do vermis): conexões
corticoponticocerebelosas, provenientes do neocórtex após sinapse nos núcleos pônticos (relação com
o núcleo dentado)

→ Estrutura interna

O córtex cerebeloso tem uma organização muito


estruturada e constante em toda a sua extensão:
- camada molecular (ML);
- camada de células de Purkinje*;
- camada granular (GL), altamente cheia de
neurónios.

Possui 5 tipos de neurónios:

Células de Purkinje – únicos cujos axónios abandonam o córtex cerebeloso, projetando-se para os
núcleos centrais do cerebelo; árvore dendrítica muito desenvolvida; achatada num plano
perpendicular ao maior eixo de cada folia (folium).
Células granulares – muito numerosas (maior parte dos neurónios do SNC)
Interneurónios – são GABAérgicos
Células estreladas – metade superficial da camada molecular; terminam nas árvores
dendríticas das células de Purkinje;
Células em cesto – na metade profunda da camada molecular, com 10 a 12 células de Purkinje
no seu trajeto; formam uma rede pericelular; são ativadas por fibras paralelas e atuam no corpo ou
segmento inicial do axónio das células de Purkinje que as acompanha;
Células de Golgi – maior interneurónios na zona superficial da camada granular, imediatamente
inferior às células de Purkinje; os seus dendritos fazem sinapse com fibras paralelas da camada
molecular e o seu axónio participa na formação de glomérulos sinápticos do cerebelo.

No centro da substância branca, o cerebelo apresenta os


chamados núcleos centrais do cerebelo, responsáveis pelas
eferências cerebelosas que saem essencialmente pelo
pedúnculo cerebeloso superior:
- núcleo denteado (o mais lateral)
- núcleo interposto: emboliforme (anterior e lateral)
e globoso (posterior e medial)
- núcleo fastigial (o mais medial)
Recebem um “tonic drive”excitatório das fibras trepadores
e musgosas e projeções inibitórias das células de Purkinje.
O vérmis projeta para o núcleo fastigial e as porções laterais e mediais de cada
Nota: Alguns autores consideram os núcleos vestibularesmuito hemisfério separa os núcleos interposto e dentado.
semelhantes a estes, pelas suas conexões.

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CIRCUITOS CEREBELOSOS

As fibras que chegam ao cerebelo são essencialmente de dois tipos:


- fibras trepadoras ou olivocerebelosas: provêm do núcleo olivar inferior contralateral
- fibras musgosas: correspondem a todas as outras aferências

O sistema das aferências trepadores é muito localizado: fazem


sinapses excitatórias com uma única célula de Purkinje, utilizando o
glutamato como neurotransmissor preferencial.
O sistema das fibras musgosas (também excitatórias e também
usando essencialmente o glutamato) corresponde, então, à maior
parte das aferências e é o centro dos glomérulos cerebelosos, onde
vamos ter as dendrites das células granulares (os seus axónios, finos
e pouco mielinizados, ascendem para formar o sistema de fibras
paralelas à camada molecular, que efetuam sinapses com cerca de
500 células de Purkinje) e os axónios das células de Golgi.
Estrutura de um glomérulo sináptico:
azul – fibras musgosas
vermelho – dendrites das células granulares
amarelo – axónios das células de Golgi

No que diz respeito às eferências, sabemos que saindo do circuito interno do córtex cerebeloso,
temos apenas os axónios das células de Purkinje, que vão ter uma ação inibitória sobre os núcleos
cerebelosos (neurotransmissor: GABA).
Por sua vez, a maior parte das eferências dos núcleos cerebelosos vão ser excitatórias. Classicamente
diz-se que existe um “tonic drive” excitatório no cerebelo (glutamato/aspartato), ou seja, há uma
tendência para estar sempre a emitir aferências excitatórias. As células de Purkinje vão inibir esse
“tonic drive” excitatório.
As células de Golgi vão ser o maior interneurónio localizado na zona superficial da camada granular,
imediatamente inferior às células de Purkinje, conseguindo inibir algumas delas.
Temos ainda, mais duas células inibitórias, as células cesto, que estão na metade profunda da camada
molecular e que vão ter um território de 10 a 12 células de Purkinje, formando uma rede pericelular
que atua no corpo e segmento inicial do axónio das células de Purkinje e as células estreladas que vão
estar na metade superficial da camada molecular e terminando nas árvores dendríticas das células de
Purkinje. Temos aqui, então, um grande território inibitório de controlo, enquanto que as aferências
que chegam ao cerebelo são excitatórias e os núcleos cerebelosos também vão ter eferências
excitatórias, portanto maior parte deste circuito vai servir de controlo, utilizando o GABA como
neurotransmissor.
Legenda:
cf – fibras trepadoras
mf – fibras musgosas
P – células de Purkinje
gc – células granulares
Go – células de Golgi
B – células em cesto
S – células estreladas
pf – fibras paralelas
N – núcleo profundo do cerebelo

A – circuito principal no córtex cerebeloso


B – adicona-se a A a ação do território inibitório
C – mostra que as cf e mf excitam, por si, N; estes N
são inibidos por P

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Principais vias aferentes – o córtex cerebral envia informação ao cerebelo através de 3 vias:
- via corticoponticocerebelosas: ocorre sinapse nos núcleos pônticos e passagem das fibras para o lado oposto
- via cérebro-olivocerebelosa: provém do núcleo olivar inferior contralateral, que emite fibras trepadoras para
o pedúnculo cerebeloso inferior
- via cérebro-reticulo-cerebelosa: envolve a formação reticular

Principais vias eferentes – a partir dos núcleos profundos do cerebelo (recebem conexões inibitórias
das células de Purkinje e emitem axónios excitatórios, com um destino característico para cada núcleo):
- Núcleo fastigial: eferências excitatórias bilaterais para os núcleos vestibulares através do corpo
justarestiforme; para a formação reticular e para os núcleos ventral anterior (VA) e ventral lateral (VL)
do tálamo
- Núcleo interposto: eferências excitatórias para a porção magnocelular do núcleo rubro e para os
núcleos VA/VL do tálamo
- Núcleo denteado - eferências excitatórias para a porção parvocelular do núcleo rubro e para os
núcleos VA/VL do tálamo
- Eferências inibitórias dos núcleos interposto e denteado para o complexo olivar inferior
contralateral
Nota: desta forma é como se encontra no PPT, mas no sumário estão organizadas em cruzadas e não cruzadas, ascendentes
e descendentes!!

Nesta imagem vemos o homúnculo cerebeloso, em que vemos a


parte mais axial do tronco (a cintura escapular, pélvica, cabeça e
pescoço) vai estar localizadas mais medialmente, enquanto que os
membros e as extremidades distais vão estar mais laterais.

FUNÇÕES GLOBAIS DO CEREBELO

O cerebelo possui uma organização celular altamente organizada e com conexões com numerosas
partes do SNC. As suas principais funções relacionam-se com:
- o equilíbrio, o controlo do tónus muscular, a postura
- o planeamento do movimento, o controlo dos movimentos voluntários, a aprendizagem e memória
motoras
- a cognição (aferências corticopônticas de zonas não motoras do córtex cerebral)

O cerebelo transforma ações conscientes em ações inconscientes. As células granulares (neurónios


mais abundantes do encéfalo) recebem numerosas aferências de todas as partes do SNC e do córtex
cerebral com informação da posição do corpo, som e visão. Esta informação é associada a uma ação
motora consciente num determinado contexto. Depois da associação e no mesmo contexto, a ação
pode ser realizada inconscientemente, isto é, sem se pensar no movimento efetuado. Portanto o
cerebelo é capaz do controlo motor e aprendizagem de sequências complexas do comportamento. Isto
é muito vantajoso do ponto de vista evolutivo.

Temos aqui a resposta à pergunta porque é que o cerebelo tem tantos neurónios: para conseguir
memorizar todos os estes comportamentos inconscientes que realizamos todos os dias que se
pensarem são inúmeros.
90
FUNÇÕES DO CEREBELO ORGANIZADAS SEGUNDO A SUA DIVISÃO EM ZONAS LONGITUDINAIS

O vérmis está relacionado com o pescoço, o tronco e as cinturas escapulares e pélvicas e é importante
nos ajustamentos posturais através das projeções para a formação reticular e núcleos vestibulares (do
bolbo); papel do núcleo fastigial.

O vérmis e o flóculo estão envolvidos na coordenação dos movimentos oculares com os movimentos
da cabeça. Note-se que ao nível do tronco encefálico, o fascículo longitudinal medial também tem esta
função. Vai pôr em conexão os núcleos oculomotor, troclear, abducente, acessório e núcleos
vestibulares que vão estar depois, com o cerebelo, envolvidos nessa coordenação dos movimentos
oculares e dos movimentos da cabeça. De tal maneira é importante esta relação que há alguns autores
que dizem que os núcleos vestibulares são núcleos do cerebelo fora do sítio.

As porções mediais dos hemisférios cerebelosos, com aferências espinhais e corticais, estão
envolvidas no controlo motor da parte distal dos membros, com projeções para o córtex motor através
do tálamo (núcleos VA/VL); papel do núcleo interposto.

As porções laterais dos hemisférios cerebelosos (neocórtex) recebem fibras corticopônticocerebelosas


e estão relacionadas com o planeamento e com a programação dos movimentos voluntários, em
conjunto com o córtex cerebral (motor e pré-motor) contralateral.

O circuito “núcleo denteado – núcleo rubro parvocelular – núcleo olivar inferior – córtex cerebeloso
– núcleo denteado” parecer estar na base da aprendizagem motora; os movimentos aprendidos
tornam-se mais rápidos, precisos e automáticos.

IMPORTANTE: Cada hemisfério cerebeloso vai influenciar os músculos voluntários do mesmo lado do
corpo, ao contrário do que acontece com o córtex cerebral.

SÍNDROMES CLÍNICOS RELACIONADOS COM DOENÇAS CEREBELOSAS

Uma lesão unilateral do cerebelo leva a alterações no lado ipsilateral do corpo (ao contrário das lesões
unilaterais do córtex cerebral). Pacientes com lesões cerebelosas perdem a capacidade de adaptação
motora e aprendizagem motora.

Há 3 sinais de disfunção cerebelosa:


- hipotonia: redução do tónus muscular
- perda do equilíbrio
- ataxia: descoordenação dos movimentos
Pode surgir também:
- Tremor de intenção - tremor com movimentos finos (apertar botões, escrever, por exemplo)
- Decomposição de movimentos – falta de harmonização dos grupos musculares (exemplo –
dificuldade em colocar o dedo no nariz)
- Dismetria – movimentos não precisos
- Disdiadococinesia - dificuldade que uma pessoa tem em realizar movimentos rápidos
alternadamente
- Disartria – problemas na fala por atingimento dos músculos envolvidos

91
Sabe-se, ainda que: a instabilidade corporal é devido a afetar o vestíbulo-cerebelo; a falta do controlo
motor durante a execução do movimento está relacionada com o espino-cerebelo e a perda do
sincronismo e planeamento apropriado das ações motoras está relacionado com o neocerebelo.
Portanto, cada uma daquelas partes da divisão longitudinal do cerebelo está relacionada com cada um
destes sinais o que é bastante interessante.
Síndromes clínicos relacionados com as zonas longitudinais funcionais:
Lesões da linha média – instabilidade corporal
Lesões laterais – ataxia
Lesões do flóculo – alteração dos movimentos oculares

4º VENTRÍCULO

O pavimento do 4º ventrículo divide-se em duas metades simétricos pelo sulco mediano.


Apresenta uma parte superior, delimitada pelos pedúnculos cerebelosos superiores, de forma
triangular, com vértice superior em continuidade com o aqueduto cerebral do mesencéfalo (ponto
mais estreito do sistema ventricular). A base é uma linha imaginária que passa pelas extremidades
craniais das fóveas superiores. Note-se que os dois pedúnculos cerebelosos superiores estão unidos
pelo véu medular superior, que tem um freio, lateralmente ao qual emerge o nervo troclear.
A parte intermédia está ao nível das extremidades craniais das fóveas superiores até às ténias do 4º
ventrículo, prolongando-se pelos recessos laterais.
A parte inferior, também de forma triangular, apresenta um vértice caudal, que é o óbex, que está
em continuidade como canal central da porção fechada do bolbo raquidiano. Temos uma elevação, a
eminência medial, que é delimitada lateralmente pelo sulco limitante. Superiormente e lateralmente
ao sulco limitante, há uma área pigmentada, o locus ceruleus (núcleo cerúleo). E depois temos
elevações mais medias e inferiores, que correspondem ao colículo facial. É uma elevação mais
pequena e de forma alongada, ao nível da fóvea superior.
A área vestibular, lateral ao sulco limitante, é cruzada pelas estrias medulares, que têm origem nos
núcleos arqueados (depois migram até ao pavimento do 4º ventrículo). Estas estrias medulares
rodeiam o pedúnculo cerebeloso inferior, cruzam a área vestibular e a eminência medial dirigindo-se
para o sulco mediano. Na profundidade da área vestibular vão estar os núcleos dos nervos cranianos:
núcleos vestibulares.
Finalmente, vamos ter 2 triângulos. O triângulo (ou trígono) do nervo hipoglosso localiza-se na parte
inferior da eminência medial. Tem relação com o núcleo do hipoglosso. Caudalmente à fóvea, inferior
e lateralmente ao trígono do hipoglosso observa-se o trígono (ou triângulo) do nervo vago, com
relação com o núcleo dorsal do vago.
O funiculus separans cruza e sulca o trígono do vago e delimita superiormente area postrema (que
está inferiormente ao funiculus separans, portanto). Esta é delimitada inferiormente pelo tubérculo
grácil.
O 4º ventrículo vai comunicar com o espaço subaracnoideu através de 3 aberturas: 1 mediana e 2
laterias (nos recessos laterais).

92
93
T11 – Hipotálamo. Hipófise. Epitálamo. 3º ventrículo.

DIENCÉFALO
O diencéfalo é uma estrutura da linha média com duas
metades simétricas, estando localizada entre elas a cavidade
do 3º ventrículo. Devido à curvatura cefálica, vai ter um
ângulo de 80° em relação ao maior eixo do tronco cerebral, o
que faz com que o termo rostral se aplique às estruturas mais
anteriores.

Limite caudal
Plano que inclui a comissura posterior e os bordos caudais dos corpos mamilares
Limite cranial
Plano que passa pelo buraco interventricular até à parte posterior da comissura anterior e anteriormente ao
quiasma óptico, intersectando a lâmina terminal

Existe entre as duas metades simétricas a adesão


intertalâmica1, que interrompe o 3º ventrículo.

O sulco hipotalâmico na parede lateral do 3º ventrículo, 3 1

entre o aqueduto cerebral2 e o buraco interventricular3, 2

permite dividir cada metade do diencéfalo em:

→ parte dorsalis
- Tálamo
- Metatálamo: inferior à extremidade caudal do tálamo, sendo constituído pelos corpos geniculados
medial (funções auditivas) e lateral (funções visuais), que possuem os núcleos geniculados na sua
profundidade
- Epitálamo: porção caudal do teto e paredes laterais adjacentes do 3º ventrículo, incluindo os núcleos
habenulares e comissura habenular, glândula pineal e comissura posterior

→ parte ventralis
- Hipotálamo: da lâmina terminal até ao plano vertical imediatamente caudal aos corpos mamilares e
dorsoventralmente ao sulco hipotalâmico, incluindo as estruturas na parede lateral e pavimento do
3º ventrículo (corpos mamilares, tuber cinereum, infundíbulo e tecido nervoso adjacente ao quiasma óptico)
- Subtálamo (continuação rostral do tegmento do mesencéfalo): lateral ao hipotálamo, ventral ao
tálamo, fundindo- se caudalmente com o tegmento do mesencéfalo. Inclui as partes mais rostrais da
substância negra e do núcleo rubro, o núcleo subtalâmico, outros núcleos e numerosos feixes

O teto de diencéfalo corresponde a um folheto


de epêndima que tem uma parte da sua extensão
adjacente à pia mater. Superiormente, este
folheto tem uma relação com o fórnix.

94
HIPOTÁLAMO
O hipotálamo corresponde a uma região muito pequena do diencéfalo (só tem 4cm 3), ocupando
apenas 0,3% do volume encefálico. Contudo, vai conter sistemas integrativos que através do SN
autónomo e do SN endócrino vão controlar numerosos eventos:
- o balanço de fluídos e eletrólitos
- a ingestão de alimentos e balanço energético
- a reprodução
- a regulação da temperatura corporal
- repostas imunológicas
- respostas emocionais (o hipotálamo vai ter relação com uma parte do cérebro chamada de
sistema límbico, que se relaciona com as respostas emocionais, através do fórnix)
Assim, ajuda-nos a aferir o que se passa no mundo, a forma como o interpretamos e quais as
consequências desses eventos, daí que tenha uma forte relação com o SN autónomo, SN endócrino e
sistema límbico.
→ Morfologia externa
O hipotálamo estende-se da lâmina terminal1 até ao plano
vertical imediatamente caudal aos corpos mamilares,
localizando-se dorsoventralmente ao sulco hipotalâmico.
Externamente, inclui: 1

- corpos mamilares: recebem muitas aferências do


fórnix, que vêm do sistema límbico
- tuber cinereum: localiza-se entre os corpos mamilares
e o quiasma ótico e corresponde a uma massa convexa de
substância cinzenta
- infundíbulo: cone que surge do tuber cinereum e que contém na sua base a eminência
mediana, marcada pelo sulco tubero-infundibular
- haste hipofisária: surge a partir do infundíbulo
- o tecido nervoso que rodeia o quiasma ótico também faz parte do hipotálamo

1- pedúnculo cerebral
2- corpo mamilares
3- tuber cinereum e as suas eminências
4- nervo óptico
5 – trato olfativo

95
→ Morfologia interna
O hipotálamo pode ser dividido em:
- 3 regiões numa direção antero-posterior
Região anterior ou quiasmática ou supra-óptica – localiza-se
superiormente ao quiasma óptico e relaciona-se com a área pré-óptica,
imediatamente anterior ao quiasma ótico, mas estruturalmente e
funcionalmente contínua com esta região do hipotálamo;
Região média ou tuberal ou infundíbulo-tuberal – localiza-se
superiormente ao tuber cinereum, incluindo-o;
Região posterior ou mamilar – localiza-se superiormente aos corpos
mamilares, incluindo-os

- 3 zonas longitudinais numa direção médio-lateral com vários núcleos


Zona periventricular – paralela à parede do 3º ventrículo, é a
continuação rostral da sustância cinzenta central e é atravessada
pelo fascículo longitudinal dorsal
Núcleo supraquiasmático – regula os ritmos circadianos;
recebe projeções diretas da retina e tem recetores de melatonina
– está relacionado com a glândula pineal
Núcleo arqueado – envolvido no comportamento
alimentar
Zona medial – entre a zona periventricular e a zona lateral – vai ter vários núcleos, que vamos agrupar
de acordo com as regiões antero-posteriores, envolvidos na regulação de comportamentos motivados:
Núcleo pré-ótico medial – na área pré-ótica, envolvido no comportamento sexual masculino,
Região na ingestão de líquidos e na regulação da temperatura
pré-ótica
Núcleo pré-ótico lateral – mais envolvido na regulação do sono e da alimentação

Núcleo supra-ótico – vai regular a produção da hormona antidiurética (ADH) e de oxitocina


(OXT), que vão fazer a regulação do balanço hídrico e ter importância ao nível da contração do
músculo liso, estando relacionada com a lactação e também com o parto
Região
supraótica Núcleo paraventricular – também regula a produção de ADH e OXT, estando envolvido também
na resposta ao stress através do eixo hipotalâmico-pituitário suprarrenal
Núcleo anterior – relacionado com respostas parassimpáticas

Núcleo dorsomedial
Região
tuberal Núcleo ventromedial – regula o comportamento sexual feminino e a ingestão de alimentos; é
medial
o centro da saciedade

Corpo mamilar – com o fórnix a chegar da formação do hipocampo e cujas eferências vão sair
através do fascículo mamilo-talâmico e do feixe mamilotegmentar
Região
mamilar Núcleo posterior – é continuo com a substância cinzenta central, estando mais relacionado
com respostas simpáticas
Complexo de núcleos no corpo mamilar (na região mamilar medial)
96
Zona lateral – encontra-se lateralmente às colunas do fórnix, sendo a continuação rostral da formação
reticular; é atravessada pelo fascículo prosencefálico medial (coloca o hipotálamo em comunicação
com o tegmento do mesencéfalo)
Tem anteriormente continuidade com o núcleo supra-ótico
Contém parte do núcleos tuberal lateral e tubero-mamilar (o último usa a histamina como
neurotransmissor)
A zona lateral está envolvida na regulação do SN autónomo: anteriormente parassimpático e
posteriormente simpático

NOTA: Entre as zonas medial e lateral está o fórnix, o feixe mamilotalâmico e o fascículo retroflexo.

→ Conexões principais
Para ter esta miríade de funções, o
hipotálamo tem de ter informação
vinda de muitas regiões. As suas
principais aferências são:
- do mesencéfalo a partir do
fascículo longitudinal dorsal e
fascículo prosencefálico medial
- da formação do hipocampo
vem o fórnix e a estria terminal
- do córtex
- da formação reticular
- da amígdala

Em relação às eferências, estas vão seguir as mesmas vias pelas quais chegaram, com a exceção do
fórnix:
- fascículo longitudinal dorsal para o
mesencéfalo e para a formação reticular e para a
medula
- feixe mamilotalâmico para o núcleo anterior
do tálamo (eferências com origem no fórnix):
fórnix → coluna do fórnix → corpo mamilar → sinapse → feixe
mamilotalâmico → núcleo anterior do tálamo

- estria terminal
- projeções para a hipófise
- conexões diretas para regiões
corticais vizinhas

As vias eferentes finais vão controlar ambos os lobos da hipófise.

97
HIPÓFISE
A hipófise corresponde a um pequeno corpo ovoide, contínuo com a haste hipofisária, que se
localiza na fossa hipofisária do osso esfenoide, recoberta por um diafragma circular dependente da
dura mater.
Tem dois lobos com funções distintas: o lobo posterior corresponde à neuro-hipófise e o lobo
anterior corresponde à adeno-hipófise. Estes têm origem embriológica diferente:
- lobo posterior deriva da vesícula diencefálica e vai estar ligado ao hipotálamo através da
haste hipofisária
- lobo anterior deriva do epitélio oro-nasal e apresenta 3 partes: pars distalis (segmentos mais
desenvolvido), pars intermedia (vai estar contra a face anterior da neuro-hipófise) e pars
tuberalis (vai envolver o tuber cinereum)

→ Conexões hipotálamo-hipófise
O hipotálamo tem conexões quer com a adeno-hipófise1, quer com a neuro-hipófise2.
(1) As células neurosecretoras localizadas na zona medial do hipotálamo vão libertar releasing-
hormones e releasing inibitory hormones, que vão ser transportadas pelos axónios para a eminência
mediana e para o infundíbulo. Aqui existem capilares fenestrados que vão captar estas hormonas e
vão para a extremidade superior do sistema porta-hipofisário (veia-capilar-veia), especializado no
transporte destas hormonas para o lobo anterior da hipófise.

(2) Por outro lado, a conexão direta com a neuro-hipófise é feita pelo feixe hipotálamo-
hipofisário, ou seja, a vasopressina e a oxitocina vão ser sintetizada no núcleo supraóptico e
paraventricular, respetivamente. Vão ser transportados nos axónios pelas proteínas transportadoras
chamadas de neurofisinas e vão ser libertados diretamente no lobo posterior da hipófise.
Portanto temos aqui 2 sistemas diferentes de libertação: anterior (1) versus posterior (2).

98
A neuro-hipófise relaciona-se com o órgão subfornical e o órgão
vasculosum da lâmina terminal, que fazem parte dos órgãos
circumventriculares - locais onde a barreira hematoencefálica não
existe, para haver trocas entre o sangue e o sistema nervoso central.
Portanto, temos a eminência mediana e a neuro-hipófise com os seus
capilares fenestrados, o órgão vasculosum da lâmina terminal, o órgão
subfornical e vemos ali também a glândula pineal que é outro órgão
circumventricular. Já conhecemos, no pavimento do 4o ventrículo, a
área postrema que é o único órgão circumventricular par.

→ Papel do hipotálamo e da hipófise na manutenção da homeostasia

O complexo hipotálamo-hipófise tem uma enorme importância ao nível da manutenção da


homeostasia corporal:
- controlo do sistema nervoso autónomo
- controlo endócrino e da neurossecreção
- regulação da temperatura corporal
- regulação do comportamento sexual e parental
- regulação do equilíbrio hidroeletrolítico
- regulação do mecanismo da lactação
- regulação do comportamento alimentar
- regulação do circanualismo e do circadianismo

EPITÁLAMO
Vai ter duas comissuras associadas com a glândula pineal: a comissura habenular (mais superior) e a
comissura posterior (mais inferior).

99
Comissura habenular (25) – é cranial à glândula pineal (1) e localiza-se
no chamado trígono habenular, que possui a habénula (24) e que vai
ter na sua profundidade os núcleos habenulares direito e esquerdo, que
comunicam através da comissura.
- As aferências chegam aos núcleos habenulares através da estria
medular do tálamo, visível na face dorsomedial do mesmo.
- As eferências dirigem-se para o núcleo interpeduncular e para a
formação reticular do mesencéfalo, através do feixe habenulo-interpeduncular ou fascículo retroflexo.

Comissura posterior – é caudal à glândula pineal e possui núcleos com neurónios que contribuem
para a origem do fascículo longitudinal medial.

Glândula pineal - glândula endócrina, ímpar, localizada na linha média, rostralmente aos colículos
superiores do bolbo. Não apresenta fotorrecetores, mas recebe informação luminosa com origem na
retina, seguindo-se uma ou várias sinapses no hipotálamo e atinge a coluna intermédio-lateral da
medula espinhal, cujos neurónios enviam axónios para o gânglio cervical superior; após sinapse, os
neurónios pós-ganglionares enviam fibras para a glândula pineal, permitindo que receba informação
luminosa. No escuro, aumenta a secreção de melatonina, estando envolvida em ciclos sazonais
(passagem das estações, dias e noites...) e ritmos circadianos (24h). A partir dos 17 anos de idade
aparecem depósitos de calcário (calcificações), visíveis nos raios X.

3º VENTRÍCULO
Comunica com o 4º ventrículo através do aqueduto cerebral e com os ventrículos laterais através dos
buracos interventriculares. O seu teto tem um folheto de epêndima com uma porção adjacente à pia
mater, onde vai ocorrer a formação do LCR, que vai circular, também com a ajuda dos plexos coroideus
do 4º ventrículo e do ventrículo lateral. Possui uma interrupção que corresponde à adesão
intertalâmica.
Os seus limites:
Teto - tela coroideia, plexo coroideu e uma parte do corpo do fórnix;
Pavimento - quiasma ótico, o infundíbulo e o tuber cinereum, os corpos mamilares, a substância
perfurada posterior e o tegmento do mesencéfalo;
Posterior - glândula pineal; 2 recessos: o recesso suprapineal (superiormente à glândula pineal) e o
recesso pineal que vai fazer uma protusão na haste da glândula pineal;
Anterior - lâmina terminal; 2 recessos: o recesso ótico (superiormente ao quiasma ótico) e um recesso
infundibular (superiormente à haste hipofisária);
Lateral - os dois tálamos e a porção superior do hipotálamo.

100
Temos agora uma visão superior em que foi retirada a tela coroideia (camada da pia máter de grande vascularização que
se invagina próxima ao quarto ventrículo para formar o plexo coroide) e vemos então o plexo coroide. Vemos o trígono da
habénula, as aferências para os núcleos habenulares que são veiculados pelas estrias medulares do tálamo, visíveis na face
dorso medial do tálamo e que têm origem no sistema límbico e no núcleo da base chamado globo pálido.
Molde do sistema ventricular

101
T12 – Tálamo. Subtálamo. Núcleos de base.

O tálamo corresponde a duas massas ovoides de substância cinzenta e encontra-se lateralmente


ao 3º ventrículo. Tem uma enorme relevância visto que todas as informações sensitivas, à exceção
do olfato, vão passar pelo tálamo. Para além disso, apresenta vários núcleos, que vão ligar várias
áreas corticais e que fazem a seleção, integração e modulação do fluxo de informação. Muitos
autores dizem que funciona como um “porteiro”. Ao mesmo tempo, o córtex cerebral vai enviar
informações para o tálamo, havendo sempre um diálogo entre estas duas estruturas.

MORFOLOGIA EXTERNA DO TÁLAMO


Extremidade anterior – estreita, perto do plano mediano, formando o limite posterior do buraco
interventricular;
Extremidade posterior – constitui o pulvinar, com orientação posterior e lateral, localizado sobre o
colículo superior e braço conjuntival superior; separado do corpo geniculado medial pelo braço
conjuntival superior;
Face superior – coberta por uma fina camada de substância branca, o stratum zonale; separada do
núcleo caudado pela estria terminal e veia tálamo-estriada; a parte lateral corresponde ao
pavimentodo ventrículo lateral e a parte medial está coberta por tela coroideia do 3º ventrículo e é
sulcada pelocorpo do fórnix;
Face inferior – contínua com o prolongamento cranial do tegmento do mesencéfalo; mais
anteriormente está superior à porção do hipotálamo localizada na parede lateral do 3º ventrículo;
Face medial – porção superior da parede lateral do 3º ventrículo; adesão intertalâmica (sem
passagem significativa de fibras entre os dois talámos); limitada inferiormente pelo sulco
hipotalâmico
Face lateral – relação com fibras de projeção, que formam o segmento posterior da cápsula interna
e separam o tálamo do núcleo lentiforme

102
GRUPOS NUCLEARES DO TÁLAMO
Lâmina medular externa – camada de substância branca na face lateral do tálamo, que separa os
grupos nucleares laterais do núcleo reticular;
Lâmina medular interna (em forma de Y) – partição da substância cinzenta do tálamo em divisões
anterior, medial e lateral.

Grupo nuclear anterior


- Núcleo anterior
Grupo nuclear medial
- Núcleo dorsomedial (MD)
Grupo nuclear lateral (maior parte do tálamo)
Porção dorsal:
- Núcleo lateral dorsal (LD)
- Núcleo lateral posterior (LP)
- Pulvinar
Porção ventral:
- Núcleo ventral anterior (VA)
- Núcleo ventral lateral (VL)
Núcleo ventral posterior (VP) – envolvidos nas vias sensitivas:
- Núcleo ventral póstero-lateral (VPL) – aferências dos lemnisco medial e lemnisco espinhal
(fibras espinho-talâmicas)
- Núcleo ventral póstero-medial (VPM) – aferências do lemnisco trigeminal
Outros grupos talâmicos
- Núcleo reticular – fina camada de neurónios entre a lâmina medular externa e a cápsula
interna
- Núcleos intralaminares – localizados dentro da lâmina medular interna: núcleos
centromediano (CM) e parafascicular (o último relaciona-se com o fascículo retroreflexo)
- Núcleos da linha média – cobrem partes da face medial do tálamo (continuação rostral da
parte de substância cinzenta central)
103
As aferências dos núcleos talâmicos podem ser classificadas em:
- aferências específicas: que chegam a determinado núcleo talâmico e se dirigem para regiões
bem determinadas do córtex cerebral (p.e. o lemnisco medial, que chega ao VPL e dirige-se para o
córtex somatossensorial)
- aferências reguladoras: que contribuem para decisões sobre a seleção da informação que será
transmitida para o cortéx cerebral (p.e. as aferências corticais do núcleo reticular e da do formação
reticular)

À exceção do núcleo reticular, os grupos talâmicos podem ser divididos de acordo com os seus
padrões de eferências e aferências:
- Núcleos de relé (de relay): recebem aferências específicas e projetam para áreas corticais bem
definidas
→ Núcleos: VPM, VPL, VA e VP
- Núcleos de associação: projetam para áreas corticais associativas e receberem eferências
específicas do córtex cerebral e de várias estruturas subcorticais; fazem a distribuição e seleção
da informação transmitida entre áreas corticais
→ Núcleos: MD, LP, pulvinar e geniculado medial e lateral (fazem parte do metatálamo)
- Núcleos com funções especiais: relacionam-se com os núcleos de base e sistema límbico
→ Núcleos: intralaminares e os da linha média

NOTA: A maior parte dos


neurónios dos núcleos
talâmicos são neurónios de
projeção. Exceção: núcleos
reticulares com interneurónios
GABAérgicos.

104
Esta imagem mostra as relações
entre os núcleos talâmicos e as áreas
corticais:
- núcleo anterior projeta para uma
parte do sistema límbico: a
circulação do cíngulo
- núcleo MD projeta para o córtex
pré-frontal
- núcleos VA e VL projeta para o
córtex motor
- núcleo VPL projeta para a porção
corresponde ao membro inferior do
córtex sensitivo
- núcleo VPM projeta para a porção
correspondente à face, cabeça e
pescoço do córtex sensitivo
- pulvinar projeta para o córtex
parietal-occipital-temporal (córtexde
Notar os núcleos geniculados lateral e medial, que projetam para o associação)
córtex visual e auditivo, respetivamente.

105
Já os núcleos intralaminares (parafasciculares e centromediano) e da linha média, têm um papel
fundamental na vigilância e projetam para os núcleos de base e regiões do sistema límbico.
Os núcleos reticulares são a exceção: são constituídos por interneurónios inibitórios que utilizam o
GABA como neurotransmissor e que vão ser o “Gatekeeper of the gatekeeper” – fazem a modulação
das projeções entre o tálamo e o córtex, ou seja, impedem que algumas aferências corticais chegam
ao tálamo e vice-versa. Assim, fazem projeções para outros núcleos talâmicos e não para o córtex
cerebral.

→ Estados fisiológicos dos neurónios de projeção (maioria dos neurónios dos núcleos talâmicos)Os
neurónios de projeção talâmicos têm dois estados fisiológicos:
Tonic mode – neurónios de projeção ligeiramente despolarizados (semelhantes a um neurónio típico);
permitem a transmissão de informação fidedigna e proporcional à magnitude da aferência
- há transferência linear de informação para o córtex
Burst mode – neurónios de projeção com canais de cálcio dependentes de voltagem especiais, sendo
muito sensíveis a pequenas despolarizações; não têm capacidade de transmitir informação sobre
aferências específicas – permitem detetar novos estímulos

SUBTÁLAMO
Corresponde a uma região do diencéfalo limitada superiormente pelo sulco hipotalâmico,
anteriormente por um plano vertical ao nível do bordo posterior dos corpos mamilares e inferior e
posteriormente por um plano desde a comissura posterior ao bordo posterior dos núcleos mamilares. É
lateral ao hipotálamo, ventral ao tálamo e funde- se caudalmente com o tegmento do mesencéfalo.
Inclui as partes mais rostrais da substância negra e do núcleo rubro, o núcleo subtalâmico, outros
núcleos (como o pré-rubral e o da ansa lenticular) e numerosos feixes.
Núcleo subtalâmico – forma de lente biconvexa; relacionado com os núcleos
da base
Zona incerta - pequena massa de substância cinzenta entre o núcleo
subtalâmico e o tálamo, que vai ter projeções diretas para o córtex cerebral e
que corresponde à continuação rostral da formação reticular; tem conexões
com núcleos da formação reticular, núcleos talâmicos intralaminares e da
linha media; a sua função relaciona-se com a modulação do movimento

106
Os principais feixes que atravessam o subtálamo são:
- Lemniscos medial, espinhal e trigeminal: em direção ao tálamo (núcleos VPL e VPM)
- Feixe dentatotalâmico do pedúnculo cerebeloso superior contralateral acompanhado pelo
feixe rubrotalâmico ipsilateral
- Fascículo retroflexo ou feixe habenulo-interpeduncular: principal via eferente do trígono
habenular, com eferências para o núcleo interpeduncular e formação reticular; é o elo da
ligação entre os núcleos da base e sistema límbico com a formação reticular
- Fascículo lenticular: projeção palidotalâmica mais importante
- Ansa lenticular: projeção palidotalâmica
- Fascículo subtalâmico: feixe que liga o globo pálido ao núcleo subtalâmico
- Fascículo talâmico: resultante da união do fascículo lenticular, ansa lenticular e projeção
dentatotalâmica do pedúnculo cerebeloso superior contralateral antes de terminar nos núcleos do
tálamo.

NÚCLEOS DA BASE
Os núcleos da base são massas de substância
cinzenta localizados na profundidade dos hemisférios
cerebrais, que se relacionam com a decisão, direção e
amplitude do movimento e ainda com a expressão
motora das emoções.

O núcleo lentiforme é então constituído pelo putamen1, maior e mais lateral e pelo globo pálido2,
mais medial (a tonalidade mais clara deve-se às fibras mielinizadas que o atravessam).
A cápsula interna3 tem um segmento anterior, que separa o núcleo lentiforme da cabeça do núcleo
caudado e um segmento posterior, que separa o putamen do tálamo.
Os bordos anterior, superior e posterior do núcleo lentiforme vão estar relacionado com a coroa
radiada. É sulcado antero-inferiormente pela comissura anterior.

A lâmina medular externa ou lateral


separa o globo pálido externo da face
medial do putamen.
A lâmina medular interna ou medial 1
3
2
1
2
3

separa o globo pálido interno do


3
externo.

107
O núcleo lentiforme tem relações:
- Laterais com a ínsula1, cápsula extrema2, claustro3 (pequena lâmina de
substância cinzenta) e cápsula externa4
- Mediais com a cápsula interna5
- Anteriormente, superiormente e
posteriormente com a coroa radiada:

O pálido ventral é uma


região relacionada com o
globo pálido e que se localiza
inferiormente à comissura
anterior.

O núcleo caudado vai ter uma relação íntima com o ventrículo


lateral e é composto por uma cabeça maciça, que se continua
com o putamen, um corpo e finalmente uma cauda, que vai
terminar na amígdala (faz parte do sistema límbico).
A cabeça relaciona-se com o corno anterior do ventrículo lateral,
o corpo com a parte central do ventrículo e a cauda vai rodear o
tálamo e relacionar-se com o corno inferior do ventrículo lateral.

O corpo do núcleo caudado vai relacionar-se com a veia talamo-estriada1e


com a estria terminal2, que se localiza medialmente à veia.

2
1

O estriado ventral corresponde à


região formada pelo núcleo accumbens
e pelo tubérculo olfativo e faz parte dos
núcleos de base. Localiza-se
anteriormente à união entre o putamen e a cabeça do núcleo
caudado.
O núcleo accumbens recebe fibras dopaminérgicas da área
tegmentar ventral (grupo dopaminérgico A10) - é um centro de
recompensa e reforço. Está envolvido em diversas dependências:
drogas de abuso (cocaína, heroína, álcool, outras) e outras (jogo,
tabaco, etc.).

108
Relacionados funcionalmente com os núcleos de base temos:
- núcleo subtalâmico – regula o ritmo das aferências para os núcleos de base
- substância negra
parte compacta (dorsal): rica em neuromelanina, neurónios muito pigmentados;
neurotransmissor: dopamina
parte reticular (ventral)- parte eferente dos núcleos da base- com menor número de
neurónios e pouco pigmentados, rica em GABA. Estende-se cranialmente, sendo
contínua com o globo pálido

CIRCUITOS QUE ENVOLVEM OS NÚCLEOS DE BASE

→ Aferências para os núcleos da base

- Do córtex cerebral: as projeções cortico-estriadas (excitatórias) são a principal aferência para os


núcleos da base - estas aferências corticais e subcorticais estão topograficamente organizadas e vão
para o estriado (núcleo caudado e putamen):
- projeções do córtex motor e somatossensorial terminam principalmente no putamen
- projeções do córtex de associação terminam principalmente no núcleo caudado
- projeções das áreas límbicas (incluindo a formação do hipocampo e amígdala) terminam no
estriado ventral
- A parte compacta da substância negra (SNc) projeta eferências dopaminérgicas moduladoras para o
núcleo caudado e para o putamen
- Variações desta projeção dopaminérgica moduladora resultam em alterações do movimento
(conexões com o putamen) e défices cognitivos (conexões com o caudado). Note-se que a
libertação de dopamina significa facilitação do movimento.
- A área tegmentar ventral projeta para o estriado ventral, onde teremos eferências dopaminérgicas
moduladoras (está relacionado com os circuitos de prazer-recompensa)
- Dos núcleos intralaminares do tálamo (centromediano e parafascicular) surgem projeções tálamo-
estriadas, que são glutamatérgicas, ou seja, excitatórias.

→ Eferências do estriado, do globo pálido e da parte reticular da substância negra (SNr)

As principais eferências originam-se no segmento interno do globo pálido (GPi), mas a parte reticular
da SN (SNr) também é fonte de numerosas eferências. Contudo, todas estas eferências dos núcleos de
base são inibitórias (GABAérgicas), de forma a inibir tonicamente o tálamo. Assim, vai existir uma via
direta e uma via indireta, responsáveis por modular a atividade dos núcleos de base: diminuição da
inibição do tálamo ou aumento desta inibição, respetivamente.
- O estriado (núcleo caudado e putamen) projeta fibras inibitórias para GPi, GPe e SN.
- O GPe projeta para o GPi e também para núcleo subtalâmico (através do fascículo subtalâmico).

109
- O GPi projeta fibras inibitórias para o tálamo através do fascículo lenticular, ansa lenticular e
fascículo talâmico (a ansa lenticular une-se ao fascículo lenticular e a fibras GABAérgicas da porção
reticular da SN, formando este fascículo), que se dirige para o tálamo.
- Substância negra parte reticular (SNr): estruturalmente contínua com o GPi, apresenta as mesmas
aferências e eferências que este e projeta eferências para os colículos superiores (é uma das vias pelas
quais os núcleos da base participam no controlo dos movimentos oculares).

→ Papel do núcleo subtalâmico

Como já vimos, este núcleo, tal como a SN, também se relaciona funcionalmente com os núcleos da
base. Contudo, atua de forma diferente:

- As suas principais aferências provêm do GPe e do córtex cerebral (via rápida de acesso a regulação
de eferências do núcleo da base)
- Envia projeções excitatórias glutamatérgicas para o GPi (e poucas para o GPe) e para a SNr, portanto,é
o único que não é inibitório. Tem um papel importante papel na via indireta.
- As lesões deste núcleo têm como consequência o hemibalismo, afetando os músculos proximais de
um membro contralateral ou de ambos os membros.

ANSAS RELACIONADAS COM OS NÚCLEOS DA BASE

VIAS DIRETA E INDIRETA DOS NÚCLEOS DA BASE


Via direta – é facilitadora: diminui a inibição que o tálamo sofre por receção de aferências inibitórias
do GPi e SNr.
Via indireta – é inibidora: promove a inibição que o tálamo sofre
por receção de aferências inibitórias do GPi e SNr.

VIA INDIRETA
VIA DIRETA
110
VIA DIRETA

VIA INDIRETA

111
PATOLOGIAS QUE ENVOLVEM OS NÚCLEOS DA BASE

Patologias hipocinéticas – predomínio da via indireta (inibitória)


Ex: Doença de ParkinsonD e E (perda dos neurónios dopaminérgicos, responsáveis por inibir os
neurónios colinérgicos excitatórios do núcleo estriado, o que significa que ocorre a remoção das
aferências dopaminérgicas para o estriado, da qual resulta o aumento da atividade do núcleo
subtalâmico e aumento da atividade Gpi-SNr levando ao aumento da inibição do tálamo e hipocinesia)

Patologias hipercinéticas – predomínio da via direta (facilitadora)


Ex: Doença de HuntingtonC (movimentos faciais involuntários e das extremidades com deência
progressiva; é uma doença genética e provocada pela lesão do núcleo subtalâmico contralateral aos
membros afetados); Hemibalismo (movimentos de grande amplitude, envolvendo as partes proximais
dos membros; provocada por uma lesão no núcleo subtalâmico contralateral aos membros afetados)

112
T13 – Telencéfalo
Parte 1
O telencéfalo divide-se pela fissura longitudinal em 2 hemisférios cerebrais, divididos em vários lobos:
frontal, parietal, occipital e temporal. Alguns autores adicionam o lobo límbico. Para além disso, a
superfície do córtex cerebral é formada por circunvoluções que permitem suportar uma maior
quantidade de neurónios numa menor área. Aliás, o córtex tem uma área de aproximadamente 1800-
2200 cm3 mas só um terço da substância cinzenta é visível na superfície.

REFERÊNCIAS A ASPETOS FILOGENÉTICOS


Alocórtex – filogeneticamente mais antigo
Paleocórtex – algumas áreas olfativas na base do telencéfalo
Arquicórtex – formação do hipocampo (três camadas)
Isocórtex (maior parte do córtex cerebral) – filogeneticamente mais recente - Neocórtex (seis
camadas)

TIPOS DE SULCOS
→ Sulcos primários – surgem em resultado do crescimento exuberante do córtex em áreas vizinhas
- Sulcos limitantes: estabelecem limites entre áreas funcionais e estruturais diferentes
ex: sulco central
- Sulcos axiais: desenvolvem-se em áreas homogéneas de rápido crescimento
ex: parte posterior do sulco calcarino no centro da área estriada no lobo occipital
- Sulcos operculados: desenvolvem-se em áreas heterogéneas, mas a transição estabelece-se nas
suas paredes e não no seu pavimento
ex: sulco semilunar que separa a área estriada da periestriada no lobo occipital
→ Sulcos secundários – formam-se em resultado de outros fatores
- Sulco lateral: forma-se devido à expansão lenta do córtex da ínsula e consequente submersão
das áreas corticais adjacentes
- Sulco parieto-occipital: forma-se devido ao desenvolvimento do corpo caloso
→ Sulcos completos – qualquer sulco se pode denominar completo se for profundo e produzir
elevações nas paredes do ventrículo lateral
ex: parte anterior do sulco calcarino – responsável pelo calcar avis localizado na parede
medial do corno posterior do ventrículo lateral
sulco colateral – responsável pela eminência colateral, localizada na parede lateral do
corno inferior do ventrículo lateral

MORFOLOGIA EXTERNA DOS HEMISFÉRIOS CERABRAIS


Às 21 semanas de gestação, observa-se o lisencéfalo, apenas com uma fissura lateral a mostrar a
ínsula. Com o desenvolvimento do telencéfalo, a ínsula deixa de ser visualizada e desenvolvem-se as
circunvoluções.

113
Os hemisférios cerebrais possuem um bordo superior (súpero-medial), um bordo inferior (infero-
lateral) e dois bordos mediais (infero-mediais): bordo medial orbitário e bordo medial occipital.
Possuem ainda 3 faces: súpero-lateral, medial e inferior.
→ Face súpero-lateral

— Fissura lateral ou sulco de Sylvius: tem um tronco e 3 ramos:


- ramo anterior estende-se para a circunvolução frontal inferior
- ramo ascendente
- ramo posterior, que é o maior e termina já no lobo parietal na circunvolução supramarginal
No pavimento deste sulco vamos ter a ínsula com vários ramos da artéria cerebral média.
A localização deste sulco é marcada pelo ptérion.
— Ínsula ou Ilha de Reil: está oculta pelo sulco lateral
- sulco central1
- cirvunvoluções curtas anteriormente
- circunvolução longa posteriormente
- sulco circular: rodeia toda a ínsula
1
- limen insulae2 (límen da ínsula): é o bordo inferior
de uma espécie de triângulo que é a forma global da ínsula 2

NOTA: cada uma das porções que tapam a ínsula designa-sepor opérculos: há
um parietal, frontal, orbitário e temporal.

114
— Sulco central ou sulco de Rolando: divide a face súpero-medial em lobo frontal (anteriormente) e
lobo parietal (posteriormente); inicia-se no bordo súpero-medial e vai estar posteriormente ao ponto
médio entre os polos frontal e occipital, terminando depois perto do ramo posterior do sulco lateral.

— Lobo frontal: limite posterior é o sulco central; limite superior o bordo súpero-medial; limite inferioré
o bordo superciliar e o tronco do sulco lateral
- polo frontal
- sulco pré-central: paralelo ao sulco central
- sulco frontal superior e sulco frontal inferior: anteriores ao sulco pré-central
- circunvoluções: pré-central, frontal superior, frontal média, frontal inferior (esta última divide-
se pelos ramos anterior e ascendente do sulco lateral em 3 partes: orbital, triangular e
opercular localiza-se aqui a área motora da fala, geralmente no hemisfério esquerdo – área da
Broca

Na circunvolução pré-frontal têm


origem as fibras do feixe
corticoespinhal e de feixes
corticonucleares diversos); esta
circunvolução é continua com o
lobo para-central da face medialdo
hemisfério.

— Lobo temporal: localiza-se inferiormente ao sulco lateral e está limitado posteriormente por uma
linha arbitrária que vai unir a incisura pré-occipital ao sulco parieto-occipital
- sulco temporal superior e sulco temporal médio: dividem-no em 3 circunvoluções
- circunvoluções: temporal superior, temporal média e temporal inferior
- o sulco temporal superior relaciona-se com a circunvolução angular
- circunvoluções temporais transversas (anterior e posterior) no pavimento do sulco: são
visíveis abrindo o sulco lateral e olhando para a face superior do lobo temporal; correspondem à área
auditiva do córtex

115
— Lobo parietal: localiza-se posteriormente ao sulco central e relaciona-se superiormente com os
limites do lobo temporal
- sulco pós-central
- sulco interparietal: é perpendicular ao sulco pós-central e encontra-se com o sulco occipital
transverso
- circunvolução pós-central: localiza-se entre os sulcos central e pós-central e corresponde à
localização da área somato-sensitiva do córtex, onde vai estar o homúnculo
- divide-se em lobo parietal superior (que se continua posteriormente pelo arco parieto-
occipital) e em lobo parietal inferior, que vai possuir 2 circunvoluções:
- circunvolução supramarginal
(relacionada com o ramo posteriordo
sulco lateral)
- circunvolução angular
(relacionada com o sulco temporal
superior)

— Lobo occipital: localiza-se posteriormente à linha arbitrária que vai unir a incisura pré-occipital ao
sulco parieto-occipital
- polo occipital
- incisura pré-occipital
- sulco occipital lateral e sulco occipital transverso
- sulco semilunar: é operculado, pois vai separar a área estriada da periestriada no lobo
occipital, que se relaciona com as aferências visuais

116
→ Face medial

— Corpo caloso
- rostrum: porção anterior e inferior que se continua até à lâmina terminal
- joelho: extremidade anterior que se continua inferiormente com o rostrum
- tronco: é a porção principal que se vai arquear posteriormente
- esplénio: terminação posterior
Inferiormente ao corpo caloso localiza-se o fórnix (sistema de fibras eferentes da formação do
hipocampo). No espaço entre o corpo do fórnix e o corpo caloso está o septo pelúcido. Os dois septos
pelúcidos delimitam entre si o cavum do septo pelúcido.

Nesta imagem vemos a face superior dos


hemisférios cerebrais e na face superior do
tronco do corpo caloso vêm-se as estrias
longitudinais laterais e mediais.
A substância cinzenta que preenche esta face
superior do corpo caloso denomina-se
indusium griseum.
Anteriormente temos o joelho e fibras que se
dirigem para os polos frontais – forceps minor.
Do esplénio saem fibras que vão formar uma
saliência no corno posterior do ventrículo
lateral – forceps major.

117
— Região anterior
- sulco do cíngulo: localiza-se superiormente ao corpo caloso, seguindo a sua curvatura;
alinhado com o centro do tronco do corpo caloso surge deste sulco um sulco ascendente que
divide 2 regiões:
- lóbulo paracentral: vai ser contínuo com a circunvolução pré-central
- circunvolução frontal medial
- circunvolução do cíngulo: localiza-se inferiormente ao sulco do cíngulo
- área subcalosa
- circunvolução paraterminal: localiza-se anteriormente à lâmina terminal e inferiormente à
comissura anterior

— Região posterior
- istmo da circunvolução do cíngulo: permite a continuação da circunvolução do cíngulo com a
circunvolução parahipocampal
- sulco calcarino: é um sulco axial e completo, pois a sua parte anterior produz uma elevação
na parede medial do corno posterior do ventrículo lateral
- sulco parieto-occipital
- cuneus: corresponde ao local delimitado pelos sulcos calcarino e parieto-occipital
- precuneus: localiza-se anteriormente ao sulco parieto-occipital

→ Face inferior
A face inferior dos hemisférios cerebrais está dividida numa parte anterior ao tronco do sulco central,
que é a região orbitária e numa região tentorial que é posterior e maior.
— Região orbitária
- Sulco olfativo, bolbo olfativo, fita olfativa e trígono olfativo, relacionadoscom a
circunvolução reta
- Sulco orbital medial e lateral e um sulco orbital perpendicular a
estes, delimitando 4 circunvoluções: orbitária anterior, orbitária
posterior, orbitária medial e orbitária lateral

118
— Região tentorial
- Sulco colateral: inicia-se perto do polo frontal e vai ser paralelo ao sulco calcarino, delimitando
com ele a circunvolução lingual, que se continua anteriormente com a circunvolução
parahipocampal (a sua extremidade anterior designa-se uncus e relaciona-se com o sulco rinal)
- Sulco occipito-temporal: divide esta porção numa circunvolução occipito-temporal medial e
numa occipito-temporal lateral

119
A circunvolução do cíngulo, que se continua
com a circunvolução parahipocampal através
do istmo, a circunvolução parahipocampal, a
área subcalosa e a circunvolução
paraterminal vão fazer parte do chamado
lobo límbico.
Lobo límbico refere-se então a este conjunto
de estruturas morfológicas, que se vão
relacionar com o sistema límbico, que vai
envolver outras estruturas como, por
exemplo, o hipocampo. Este sistema vai
depender da formação do hipocampo e da
amígdala, como veremos mias à frente nesta
aula.

O fórnix corresponde ao sistema de fibras eferentes da formação do hipocampo. Inicia-se pela


fímbria, que quando chega ao esplénio do corpo caloso se transforma nos pilares do fórnix. Estes
comunicam um com o outro através da comissura hipocampal. Temos depois o corpo do fórnix que vai
sulcar o tálamo e mais anteriormente as colunas do fórnix.

120
COMISSURAS TELENCEFÁLICAS: fibras comissurais que fazem parte da substância branca telencefálica
- Corpo caloso
Comissuras diencefálicas
- Comissura anterior - Habenular
- Comissura hipocampal - Posterior

VENTRÍCULO LATERAL
O ventrículo lateral possui um corno anterior, um corpo, um corno posterior e outro inferior. Na
extremidade anterior do corno inferior vamos encontrar a amígdala e no pavimento deste corno vamos
encontrar a formação do hipocampo.

Corno anterior ou frontal – é limitado anteriormente pela face posterior do joelho e rostro do corpo
caloso; o teto é formado pela porção anterior do corpo caloso; a cabeça do núcleo caudado forma
parede lateral e pavimento; os dois cornos estão separados anteriormente pelo septo pelúcido (parede
medial) com as colunas do fórnix no seu bordo posterior.
Corpo (porção central) – do buraco interventricular ao esplénio do corpo caloso; os dois corpos estão
separados pelo septo pelúcido, que contém o fórnix no seu bordo inferior (parede medial).
Teto – face inferior do corpo caloso; o pavimento, concavo súpero-medialmente, é constituído pelo
núcleo caudado lateralmente e pelo tálamo medialmente, encontrando-se a estria terminal e a veia
tálamo-estriada no sulco entre os dois; quando o septo pelúcido termina posteriormente, o pavimentoe
teto encontram-se na parede medial.
Buraco interventricular – vai ter como limites: anterior coluna do fórnix e posterior o tubérculo
anterior do tálamo; tem forma crescente no adulto.
Fissura coroideia – entre o fórnix e o tálamo, permite a entrada do plexo coroideu:
- Plexo coroideu – vai ser constituído por 2 porções: pia mater e epêndima, que recobre os
ventrículos; a junção das 2 vai fazer com que haja uma estrutura com pequenos vasos, capilares e fibras
nervosas que fazem a secção do LCR. O plexo coroideu vai estar em todas as porções do ventrículo
lateral, exceto no corno posterior.
Átrio ou trígono colateral – área achatada triangular que forma o pavimento do ventrículo entre os
cornos inferior e posterior; vai possuir uma grande porção de plexo coroideu que se designa glómus
coroideu.
Corno posterior ou occipital – desenvolvimento variável, muitas vezes assimétrico; éfilogeneticamente
mais recente daí não apresentar plexo coroideu; vai ter:
- Bolbo do corno occipital: na porção superior da parede medial, formado por fibras do forceps
major no seu percurso para o lobo occipital
- Calcar avis: na porção inferior da parede medial, formadas pela porção anterior do sulco
calcarino
- Tapetum do corpo caloso – forma a parede lateral do corno posterior do ventrículo lateral;
relaciona-se com a radiação óptica; posteriormente as paredes lateral e medial encontram-se.
Corno inferior ou temporal – maior divisão do ventrículo lateral; no teto encontra-se o tapete do corpo
caloso, a cauda do núcleo caudado e estria terminal (que termina na amígdala, localizada na
extremidade anterior do corno inferior); a porção inferior da fissura coroideia encontra-se entre a
fimbria e a estria terminal, no teto do corno temporal; no pavimento encontra-se medialmente o
hipocampo próprio e lateralmente a eminência colateral:

121
- Hipocampo próprio (na porção medial do pavimento; pé do hipocampo anteriormente) -
coberto por alveus, que se continua com a fimbria; a fimbria por sua vez é contínua com o pilar do
fórnix; internamente vai possuir a formação do hipocampo.

- Eminência colateral (na porção lateral do pavimento, formada pela porção média do sulco
colateral; é paralela ao hipocampo próprio) – é contínua posteriormente com o trígono colateral; é a
região onde o corneto inferior se encontra com o corneto posterior.

122
O LCR é produzido nos plexos coroideus do sistema ventricular e circula pelos espaços ventriculares.
Passa dos ventrículos laterais para o 3º ventrículo através do buraco interventricular e deste para o 4º
ventrículo através do aqueduto cerebral. Ao nível do 4º ventrículo vai penetrar no espaço
subaracnoideu, através das aberturas mediana e lateral. É depois reabsorvido ao nível do seio sagital
superior, através das granulações aracnoides.

CASOS CLÍNICOS

- Hidrocefalia obstrutiva
O LCR não circula o que faz com os ventrículos
dilatem; pode ter de se recorrer a uma
cirurgia.

- Hematoma subdural
O hematoma subdural vai comprimir o
ventrículo lateral e a sua cavidade fica
obstruída.

SISTEMA LÍMBICO
O termo “límbico” surgiu em 1878 e quem nomeou foi o Broca, um médico francês (associado à área
motora da fala localizada na circunvolução frontal inferior) que disse que havia uma parte dos
hemisférios cerebrais que estavam num “limbo, isto é, nas margens, então decidiu chamá-lo de lobo
límbico. Este lobo vai ser constituído pela circunvolução parahipocampal, pela circunvolução do
cíngulo, pela área subcalosa (que é aquela continuação anterior da circunvolução do cíngulo) e pela
circunvolução parahipocampal. Estas áreas vão estar unidas pelo feixe do cíngulo - feixe de substância
branca.
Existem 3 estruturas subcorticais relacionadas com o sistema límbico: núcleos septais (ligados aos
circuitos da recompensa, localizados no septo coincidente com a circunvolução paraterminal,
adjacente à lâmina terminal), formação do hipocampo e amígdala.

123
Na porção mais anterior da circunvolução
parahipocampal existe o córtex entorrinal (EA),
que vai receber aferências de áreas corticais de
associação, somato-sensoriais auditivas, visuais,
do gosto, da área pré-frontal e também da
formação do hipocampo, emitindo depois
eferências para a formação do hipocampo, através
da via perfurante.

Em 1937, James Papez descreveu um circuito que ficou conhecido como “circuito de Papez” e que
associou à modulação da emoção. Foi a primeira vez que se descreveu, de forma rudimentar, o atual
sistema límbico:
- iniciava-se na formação do hipocampo, que envia eferências pela fímbria, que se continua com o
pilar posterior do fórnix (que comunica com o outro pilar através da comissura hipocampal);
- as eferências seguem pelo corpo do fórnix, aproximam-se anteriormente e daí vão aparecer as
colunas do fórnix, que vão ter uma porção pré-comissural, que vai terminar na região septal e uma
pós-comissural, que vai terminar massivamente nos núcleos mamilares (que vão ter o feixe mamilo-
talâmico que vai para o núcleo anterior do tálamo);
- por sua vez, o núcleo anterior do tálamo vai ter eferências para a circunvolução do cíngulo e através
do feixe do cíngulo vai seguir um trajeto posterior até à circunvolução parahipocampal (com quem é
contínua através do istmo) e vai para a sua porção anterior, que é o córtex entorrinal;
- o córtex entorrinal emite as suas eferências para a formação do hipocampo, onde ocorrerá o
processamento; de seguida voltam a ser emitidas eferências para a fímbria, fórnix (...) e recomeça o
circuito de Papez.
córtex entorrinal - formação do hipocampo - fórnix - corpos mamilares – circunvolução do cíngulo – circunvolução parahipocampal

O hipotálamo vai ser um elemento crucial do sistema límbico, mas também o vão ser os núcleos do
tálamo (anterior e dorsomedial) e uma porção do córtex pré́-frontal (córtex pré́-frontal medial).
Também ainda a área tegmentar ventral, ligada ao circuito da recompensa (relacionado com a região
septal) e ainda regiões do mesencéfalo como partes da formação reticular e a substância cinzenta
central vão estar envolvidas no sistema límbico, que é um conceito diferente do conceito morfológico
“lobo límbico”.

Figura A – circuito de Papez clássico;


Figura B – sistema límbico envolvendo as várias estruturas

Atualmente, o sistema límbico divide-se emduas


porções, uma centrada na formação dohipocampo
e outra centrada na amígdala.

124
→ Sistema límbico centrado na formação do hipocampo

A formação do hipocampo é constituída por 3 regiões:


- circunvolução denteada: tem células granulares com
neurogénese durante a vida adulta nos roedores (não
confirmada no Homem adulto)
- hipocampo próprio: (CA1, CA2, CA3, CA4 com células
piramidais; CA significa Corno de Amon)
- subículo: local onde surgem as principais eferências da
formação do hipocampo

Circuito trissináptico da formação do hipocampo - unidirecional e glutamatérgico (excitatório)


O córtex entorrinal vai enviar os seus axónios através da via perfurante
(perfura o sulco hipocampal) e estes vão fazer sinapse nas árvores Sinapse 1
dendríticas das células granulares da circunvolução denteada

Os axónios das células granulares (fibras musgosas) vão fazer sinapse com Sinapse 2
as células piramidais de CA3

As células piramidais de CA3 vão emitir axónios com numerosos colaterais


Sinapse 3
que vão fazer sinapse com as células piramidais de CA1

Estas emitem axónios e alguns abandonam a formação do


hipocampo, constituindo porção pré-comissural do fórnix que
termina no hipotálamo, núcleos septais e córtex orbitário; outros
dirigem-se para o subículo (principal projeção da formação do
hipocampo) e constituem o fórnix pós-comissural, que termina no
núcleo talâmico anterior e corpos mamilares.

Assim, quando falamos do sistema límbico centrado na formação do hipocampo importam:


- as projeções do córtex entorrinal para a formação do hipocampo através da via perfurante,
sendo que o córtex entorrinal recebe aferências do córtex de associação incluindo a circunvolução
cingulada posterior (através do cíngulo), do córtex orbitário (através do fascículo uncinado) e de áreas
multimodais do córtex frontal, parietal e temporal
- as eferências da formação do hipocampo através da fímbria e do fórnix (pilares, corpo, colunas,
comissura hipocampal), que podem seguir dois trajetos:
fibras pré-comissurais para os núcleos septais, área pré-ótica, estriado ventral
fibras pós-comissurais para o núcleo anterior do tálamo e para os corpos mamilares que
também emite fibras para o núcleo anterior do tálamo via feixe mamilotalâmico; este núcleo
do tálamo projeta para a circunvolução do cíngulo que emite eferências para a circunvolução
parahipocampal, onde se encontra o córtex entorrinal (anteriormente).

125
As fibras pré-comissurais relacionam-se com o circuito de recompensa e a adição, uma vez que os
núcleos septais se relacionam com a área tegmentar ventral, onde o neurotransmissor principal é a
dopamina. Tudo o que é adição relaciona-se com os núcleos septais, com a área tegmentar ventral e
com o estriado ventral.
As fibras pós-comissurais relacionam-se com a formação de novas memórias, especialmente as de
longo prazo (dita declarativa ou explicita – para recordar eventos e saber factos).
Nota: memória inconsciente e criação de hábitos relaciona-se com o cerebelo e núcleos de base; memórias
traumática e emocional relaciona-se com a amígdala, como veremos agora.

→ Sistema límbico centrado na amígdala

A amígdala foi descrita no século XIX por Burdach e encontra-se na terminação da formação do
hipocampo. A designação mais correta seria complexo amigdaloide nuclear pois é constituída por
vários núcleos:
- medial ou corticomedial: relacionado com o sistema olfativo;
- central: relacionado com o hipotálamo e com o tronco cerebral; associado a respostas
emocionais;
- basolateral: faz conexões com numerosas áreas corticais, contém células piramidais e é
continuo com o córtex parahipocampal; relaciona-se com a expressão das emoções.

126
Vias aferentes da amígdala
Estria terminal (localiza-se entre o tálamo e o núcleo caudado) – vai receber aferências do hipotálamoe
dos núcleos septais que se dirigem para os núcleos mediais através da estria terminal
Via ventral amigdalofugal – recebe aferências do tálamo, hipotálamo, do córtex orbitário e cingulado
anterior através desta via
Fita olfativa lateral – recebe através desta fita aferências provenientes do bolbo olfativo e do córtex
olfativo
Diretas – recebe ainda aferências diretamente de estruturas localizadas no lobo temporal, como a
formação do hipocampo e regiões neocorticais

Vias eferentes da amígdala


As eferências da amígdala dirigem-se para as mesmas regiões que enviaram fibras aferentes:
Estria terminal – importante por se localizar perto da comissura anterior e ter componentes
supracomissurais, comissurais e subcomissurais; emite eferências do núcleo medial para o hipotálamo,
estriado ventral e núcleos septais;
Via ventral amigdalofugal - emite eferências dos núcleos basolateral e central para o hipotálamo,
núcleos septais, núcleos olfativos, substância perfurada anterior, córtex piriforme, córtex orbitário,
córtex cingulado anterior...
Há também conexões diretas com estruturas do lobo temporal como a formação do hipocampo e
neocórtex.

127
Aspetos funcionais
A amígdala está envolvida nas memórias emocionais, na expressão das emoções e ainda nas
memórias traumáticas. Para além disso, a amígdala basolateral relaciona-se com a formação do
hipocampo para permitir selecionar factos relevantes para a memória a longo prazo. Tem ainda uma
relação com a agressividade e o medo, desempenhando um papel na resposta rápida a ameaças e,
portanto, na sobrevivência.

Parte 2
ORGANIZAÇÃO LAMINAR DO CÓRTEX
Ao contrário do córtex cerebeloso, que é uniforme, o córtex cerebral é bastante heterogéneo.
A maioria do córtex cerebral corresponde ao neocórtex, que possui 6 camadas, podendo variar
conforme a região cortical:
I – cam. molecular IV – cam. granular interna
II – cam. granular externa V – cam. piramidal interna
III – cam. piramidal externa VI – cam. polimórfica
O arquicórtex, que é filogeneticamente mais antigo e que se relaciona com o sistema límbico, possui
apenas 3 camadas. O exemplo típico é a formação do hipocampo.
Já o paleocórtex, que é ainda mais primitivo e que corresponde ao córtex olfativo primário, tem um
número variável de camadas, por vezes não muito bem definidas.
Nota: já vimos que o olfato é a exceção dos sentidos, porque as fibras não passam pelo tálamo e é
maioritariamente ipsilateral.

Existem 2 tipos histológicos de neocórtex:


- córtex homotípico: com 6 camadas bem definidas
- córtex heterotípico (localiza-se nas zonas senstivias):

128
- koniocortex ou granular: camadas II e IV muito desenvolvidas e III e V pouco;
normalmente corresponde a um córtex somatossensitivo; um exemplo é o córtex estriado
relacionado com a via visual, no qual se observa macroscopicamente a estria visual ou estria de
Gennari, que corresponde à banda externa de Baillarger, localizada na lâmina IV
- córtex agranular: camadas III e V muito desenvolvidas e II e IV praticamente
ausentes; é típico das regiões motoras e pré-motoras

córtex granular

córtex agranular

→ Terminação das aferências nas camadas corticais


Camada IV – aferências provenientes dos núcleos
talâmicos de relay
Camada VI – aferências dos núcleos talâmicos
intralaminares
Camadas II e III – aferências provenientes de outras
áreas corticais

→ Principais eferências das camadas corticais


Camada III – fibras cortico-espinhais de associação
Camada V – fibras cortico-estriadas para o tronco
cerebral e para a medula (fibras cortico-espinhais e
cortico-nucleares)
Camada VI – fibras para o tálamo

ORGANIZAÇÃO COLUNAR DO CÓRTEX CEREBRAL


- Colunas verticais de 50 a 500 micras de largura com um padrão constante
para todos os neurónios (por exemplo: orientação dos estímulos no córtex
visual);
- Minicolunas com 50 micras de diâmetro com aproximadamente 100
neurónios;
- No córtex visual formam-se ainda hipercolunas (módulos funcionais
maiores) através de conexões intracorticais horizontais.

Esta organização parece estar presente em todos os tipos de neocórtex,


embora seja melhor descrita para o córtex visual.

129
ÁREAS CORTICAIS TELENCEFÁLICAS
No início do século XX, Brodmann dividiu o neocórtex em 44 áreas, por análise com o método de Nissl.

→ Áreas sensoriais primárias: recebem aferências dos núcleos talâmicos de relay


- Somatossensitiva primária (S1): áreas 1, 2 e 3; localizada na circunvolução pós-central, no
lóbulo paracentral posterior (há somatotopia: homúnculo sensitivo)
- Auditiva primária (A1): área 41; localizada na circunvolução temporal transversa (há
tonotopia)
- Visual primária (V1): área 17; localizada nas paredes do sulco calcarino (lobo occipital)
→ Área motora primária: corresponde à área 4; localizada na circunvolução pré-central, no lóbuloparacentral
anterior (há somatotopia: homúnculo motor)
- salienta-se a exceção das aferências olfativas, que não passam pelo tálamo e são
maioritariamente ipsilaterais; o córtex olfativo primário tem componentes paleocorticais (sem
camadas bem definidas); o córtex olfativo secundário localiza-se no quadrante postero-lateral
do córtex orbito-frontal.

→ Áreas de associação unimodais (encontram-se adjacentes à área primária e ocupam-se do


processamento que a primária recebe, sendo muito especializadas)
— Sensoriais
- Somatossensitiva secundária de associação (S2): áreas 5 e 7; localizada no lóbulo parietal
superior
- Auditiva secundária de associação (A2): área 42; localizada na circunvolução temporal
transversa
- Visual de associação (V2, V3, V4 e V5): áreas 18 e 19; localizada em torno da área 17 (visual
primária)
— Motoras
- Pré-motora ou motora suplementar: área 6; localizada nas circunvoluções frontais superior e
média
- Campo ocular frontal: parte da área 6

130
→ Áreas de associação multimodais ou heteromodais (recebem múltiplas aferências de diversas
regiões corticais, podendo modular as respostas de acordo com as circunstâncias)
- Lóbulo parietal inferior, grandes porções do lobo temporal e do lobo frontal
- Córtex parietal posterior: permite uma seleção das extrações e vai integrar estímulos
somáticos e visuais; participa também na atenção e na consciência de si próprio
Nota: lesões neste córtex podem levar a agnosia tátil (incapacidade de reconhecer um
objeto através da visão) e asterognosia (incapacidade de reconhecer um objeto pelo tato) e
também ao síndrome de neglect (lesão no hemisfério não dominante faz com que deixe de
existir consciência, atenção e interpretação dos estímulos contralateralmente)
- Córtex pré-frontal: localizado anteriormente às áreas 4 e 6; medeia a ”working memory” e a
tomada de decisões; tem duas porções:
- porção dorsolateral: localiza-se na convexidade lateral do hemisfério e possui um
grande número de conexões com o córtex parietal multimodal, áreas somatossensitivas,
visuais e auditivas
- porção ventromedial: estende-se para o córtex orbitofrontal e para o córtex cingulado
anterior, fazendo conexão com estruturas límbicas como a amígdala e também com o
cerebelo e o núcleo accumbens (do estriado ventral)
Nota: lesões neste córtex levam a alterações de personalidade, pois os aspetos básicos da
personalidade, de manter a atenção, a moralidade, de resolver problemas, de ajustar o
comportamento às normas sociais, planeamento, memória de trabalho e tomada de decisões
conscientes são funções do córtex pré́-frontal, onde vamos ter vários neurotransmissores:
noradrenalina que vem do locus cerúleos; serotonina, dos núcleos da rafe da formação
reticular; acetilcolina que vem de grandes núcleos do prosencéfalo basal; dopamina, que
provém do núcleo accumbens e região tegmentar ventral. São estes neurotransmissores que
vão ser objeto de numerosos psicofármacos.
- Áreas da linguagem (localizadas à esquerda):
- área da Broca: áreas 44 e 45; localizada na circunvolução frontal inferior (porções
opercular e triangular); relaciona-se com o controlo preciso dos músculos da laringe
responsáveis pela fala e é o local associado à gramática, compreensão e produção.
- área de Wernicke: área 22; localizada na porção posterior da circunvolução temporal
superior (área perissilviana da linguagem); relaciona-se com o significado das palavras ea
intenção de falar.
Nota: podem ocorrer várias afasias (incapacidade de comunicar eficazmente): se houver
uma lesão na área da Broca vamos ter uma afasia motora em que surgem dificuldades na
sintaxe, na gramática, na repetição e na produção de palavras individuais, a pessoa saiba
exatamente o que pretendia dizer; por outro lado se houver uma lesão na área de Wernicke
teremos uma afasia de Wernicke, que é sensorial ou recetiva, em que a estrutura das palavras,
a sintaxe e gramática estão intactos, só que há́ uma dificuldade de compreensão de discurso e
aquilo que a pessoa diz não tem sentido nenhum. É diferente da disartria, em que o conteúdo
está intacto mas há problemas na articulação por exemplo, por problemas musculares.
Sabemos que um doente cerebeloso sabe perfeitamente o que quer dizer e entende tudo que
quer dizer, mas pode ter uma certa disartria
- Áreas de associação temporal: está especializada em reconhecer a linguagem, estímulos e
padrões ligados ao conhecimento e relaciona-se também com o reconhecimento facial; associa-
se à circunvolução occipito-temporal medial
Nota: lesões nesta área provocam prosopagnosia (incapacidade de reconhecer faces).

Referência a Egas Moniz, único prémio Nobel131


da medicina português, pela sua inovação com a
leucotomia pré-frontal: cortava feixes que levam ao córtex pré-frontal e assim pessoas com
patologias psiquiátricas ficavam “curadas”.
Algumas imagens relacionadas...

Observa-se: a área motora primária 4; a pré́-motora 6, o campo frontal ocular (que é uma parte que
vai estar relacionada com movimentos oculares da área 6); a zona somatossensitiva primária que são
as áreas 3,1,2; áreas do córtex parietal posterior de associação, as áreas 5 e 7; área visual do lobo
occipital, V1, área 17; áreas de associação, 18 e 19; área de audição no lobo, A1, área 41, e os de
associação, 42 e 22; falta uma zona que não tem um nome propriamente dito que é na ínsula,
relacionada com o gosto. Notar que as áreas 4 e 3,1, 2 vão para a parte medial do hemisfério.

Nesta imagem observam-se os homúnculos e é importante perceber que o membro inferior vai estar
na face medial do hemisfério, que é irrigada pela artéria cerebral anterior, enquanto que o membro
superior está na face supero-lateral que vai ser irrigada pela artéria cerebral média. Ambas são
ramificações terminais da carótida interna, mas este facto importa pois se o AVC afetar a artéria
cerebral anterior vai resultar uma lesão no membro inferior contralateral e vice-versa.

132
DOMINÂNCIA E ASSIMETRIA CEREBRAL
Vamos analisar o exemplo da linguagem, em que o hemisfério dominante, normalmente, é o
esquerdo. O hemisfério (não dominante) tem funções relacionadas com a prosódia, isto é, com o ritmo,o
enfâse e musicalidade que atribuímos à fala. Para além disso, vai
também adicionar conteúdo emocional e algum significado ao
discurso. No entanto, as áreas da linguagem estão mais desenvolvidas
à esquerda e de ponto de vista morfológico é aí que uma lesão gera
consequências.
Isto é uma noção importante, existe uma certa plasticidade a nível
do córtex e neste caso como estamos mais localizados à esquerda, o
plano temporal que está localizado na face superior da circunvolução
temporal superior (posteriormente ao córtex auditivo primário) vai
ser maior no hemisfério esquerdo.

SUBSTÃNCIA BRANCA TELENCEFÁLICA


A substância branca telencefálica corresponde a fibras de associação intra-hemisféricas, fibras
comissurais e fibras de projeção.
→ Fibras de associação: ligam regiões corticais vizinhas e distantes, situadas no mesmo hemisfério
cerebral; podem ser curtas ou longas:
- curtas: são fibras arqueadas que ligam circunvoluções vizinhas no mesmo hemisfério
- longas:
- cíngulo: inicia-se na área subcalosa e está integrado na circunvolução do cíngulo;
localiza-se dorsalmente ao corpo caloso, rodeia o esplénio e curva-se anteriormente
terminando na substância branca da circunvolução parahipocampal.
- fascículo uncinado (ou unciforme): liga os lobos frontal e temporal, percorrendo a
substância branca do lobo frontal; curva-se ventralmente em relação com o límen da
ínsula, terminando no córtex da porção anterior das circunvoluções temporais superior
e média.
- fascículo occipitofrontal: une o córtex frontal ao córtex occipital passando através da
ínsula e lobo temporal.
- fascículo longitudinal superior: faz a conexão entre os lobos frontal, parietal, occipital e
temporal.
- fascículo longitudinal inferior: localiza-se nos lobos temporal e occipital,
grosseiramente paralelo ao corno inferior do ventrículo lateral.

133
→ Fibras comissurais: atravessam a linha média e ligam maioritariamente regiões correspondentes
dos hemisférios cerebrais:
- O corpo caloso é a maior comissura cerebral e localiza-se no pavimento da fissura inter-
hemisférica;
- A comissura anterior une a extremidade anterior dos lobos temporais;
- A comissura hipocampal liga o fórnix direito ao esquerdo e está localizada inferiormente ao
esplénio do corpo caloso.

→ Fibras de projeção: originam-se no córtex cerebral e dirigem-se na sua maioria para estruturas do
tronco cerebral e medula espinhal
- Centro semioval: ponto de onde surgem as fibras de projeção; a partir dele estas agrupam-se
e dirigem-se para a região central do hemisfério, formando a coroa radiada;
- Coroa radiada: as suas fibras continuam-se com a cápsula interna;
- Cápsula interna: localiza-se medialmente ao núcleo lentiforme e lateralmente ao núcleo
caudado e tálamo e possui um segmento anterior (localizado entre a cabeça do caudado e o
lentiforme), um joelho e um segmento posterior (localizado entre o lentiforme e o tálamo);
Nota: Possui uma porção retrolenticular (que contém fibras da radiação ótica, que saem
do corpo geniculado lateral) e uma porção sublenticular (que contém fibras da via
auditiva e dirige-se para as circunvoluções temporais transversas).
Sulco parieto-occipital

Sulco calcarino
Anterior l

134
T14 – Vias aferentes e eferentes

As vias aferentes e eferentes correspondem a conjuntos de fibras nervosas com funções semelhantes
ou com uma origem ou destino comum, anatomicamente agrupadas. As vias aferentes conduzem
informação até ao tálamo, cerebelo ou núcleos do trono cerebral. Já a via descendente conduz
informação com origem no córtex cerebral ou em núcleos de nervos cranianos, cujo destino é a
substância cinzenta da medula espinal.
Existem também feixes intersegmentares ou próprio-espinhais que fazem a conexão entre os diversos
segmentos da medula espinal.

Existem várias modalidades sensitivas:

Para cada uma existem recetores específicos que podem ser:


- exterocetores: encontra-se à superfície da pele e recebem estímulos do mundo externo
- viscerocetores: recebem estímulos provenientes de órgãos internos
- propriocetores: localizam-se nas articulações, músculos, tendões e recebem informações
sobre o próprio corpo (posição, etc)

135
FOLHA RESUMO

Vias aferentes (ascendentes)


- do cordão posterior
- Fascículo grácil - tato discriminativo, pressão e vibração
- Fascículo cuneiforme
- do cordão antero-lateral
- Feixe espinhotalâmico lateral – dor e temperatura
- Feixe espinhotalâmico anterior – tato grosso e pressão
- Feixe espinhocerebeloso posterior- coordenação fina de movimento do m. inferior e tronco (associa-se
ao feixe cuneocerebeloso)
- Feixe espinhocerebeloso anterior - regulação da postura e de movimentos mais globais do membro
inferior (associa-se ao feixe espinhocerebeloso rostral)
- Via espinho-reticular (feixes espinhomesencefálico, espinhohipotalâmico e espinho-olivar)

Vias eferentes (descendentes)


- piramidais
- Feixe corticoespinhal lateral – facilitação dos m. flexores e inibição dos m. extensores em mov. de precisão
- Feixe corticoespinhal anterior – ajustamento postural
- extrapiramidais (não passam a decussação das pirâmides)
- Feixe rubroespinhal – atua como o corticoespinhal lateral, podendo ser vicariante deste
- Feixe reticuloespinhal – relacionado com o ajustamento postural, mov. grosseiros e tónus muscular
- Feixe vestibuloespinhal – relacionado com a estabilidade e postura
- Feixe olivoespinhal
- Feixe teto-espinhal – relaciona-se com a resposta a estímulos visuais, estando associado ao fascículo
longitudinal medial

136
VIAS AFERENTES
As fibras aferentes chegam pela raiz dorsal dos nervos espinhais (que já sabemos serem mistos), que
ao atingir a medula espinhal se divide numa componente medial (fibras grossas e mielinizadas, que
vão para o cordão posterior) e numa componente lateral (fibras finas e pouco ou não mielinizadas, que
vão para o cordão antero-lateral).
O padrão mais comum destas vias implica 3 neurónios: o 1º localizado no gânglio dorsal raquidiano, o
2º em posição que varia consoante o feixe e o 3º com origem no núcleo ventral posterolateral (VPL)do
tálamo (ou VPM no caso do n. trigémio).

→ Fascículo grácil e cuneiforme (complementar com T9)


Estes feixes têm origem na divisão medial da raiz dorsal dos nervos espinhais e, portanto, são
constituídos por fibras grossas e fortemente mielinizadas. Relacionam-se com o tato discriminativo e a
transmissão de informação relacionada com a pressão, a vibração e a proprioceção consciente.
Num nível caudal a T6, o cordão posterior consiste somente no Fascículo Grácil (que se inicia na
extremidade caudal da medula), enquanto que cranialmente a T6 surge uma acumulação de fibras
aferentes que entram na medula e formam uma estrutura triangular e lateral denominada de Fascículo
Cuneiforme. Assim, caudalmente a T6 surge na morfologia externa da medula espinhal o sulco
posterointermédio, que separa estes dois fascículos.
A cada nível sucessivo da medula espinhal, as fibras que entram no cordão posterior são adicionadas
lateralmente àquelas já presentes no mesmo (a divisão medial adiciona de medial para lateral) – daí a
organização somatotópica típica deste cordão: (de medial para lateral) sacral, lombar, torácico,
cervical.

1º neurónio – corpo celular no GDR, com prolongamento periférico para recetores táteis e
propriocetores nos músculos e cujo prolongamento central se dirige para o cordão posterior da medula
espinal; as fibras ascendem sem cruzar até ao núcleo grácil ou cuneiforme;
2º neurónio – surge após sinapse no núcleo respetivo e decussa originando as fibras arqueadas
internas, que se organizam no lemnisco medial; este ascende ao longo do tronco cerebral até atingir o
núcleo VPL do tálamo;
3º neurónio – surge após sinapse no núcleo VPL do tálamo e o seu axónio dirige-se para o córtex
somatossensorial primário (áreas 3,1,2), onde se mantém a somatotopia – homúnculo sensitivo.

Lesões no cordão posterior podem ocorrer antes ou após a decussação que ocorre ao nível do 2º
neurónio, tendo obviamente diferentes implicações. Contudo, resultam em:
- Ataxia: movimento de marcha não coordenado que aumenta com o fecho dos olhos, devido à
perda da proprioceção (que o doente tenta compensar com a visão)
- Perda da estereognosia: capacidade de reconhecer um objeto pelo tato, uma vez que há perda
do tato discriminativo (embora não total, pois essa informação pode ser veiculada até ao córtex por
outras vias, como o feixe espinhotalâmico anterior)

137
→ Feixe espinhotalâmico lateral (complementar com T8)

Este feixe tem origem na divisão lateral da raiz dorsal dos nervos espinhais e, portanto, é constituído
por fibras finais e pouco mielinizadas. Relaciona-se com o a perceção da dor e da temperatura. Os
recetores para estes estímulos correspondem a terminações nervosas livres cujos impulsos são
transmitidos por fibras Aδ (pequenas e pouco mielinizadas, de condução rápida da dor aguda inicial) e
fibras do tipo C (finas e não mielinizadas, de condução lenta da dor crónica).

À medida que o feixe ascende no fascículo dorsolateral de Lissauer, fibras vão sendo adicionadas
medialmente (a divisão lateral adiciona de lateral para medial), havendo, por isso, uma organização
somatotópica: (de lateral para medial) sacral, lombar, torácico, cervical. Note-se ainda que as fibras
nociceptivas ficam ligeiramente anteriores às termocetivas.

1º neurónio – corpo celular no GDR, cujo prolongamento central se dirige para a extremidade do
corno posterior da medula espinal, onde se divide em ramos ascendentes e descendentes, podendo
ascender ou descer no fascículo dorsolateral de Lissauer antes de fazer a sinapse
2º neurónio – surge após sinapse que pode ocorrer nas lâminas I a IV e cruza para o lado oposto da
medula espinhal, através da comissura branca anterior, organizando-se depois no feixe
espinhotalâmico lateral, que se vai localizar então no funículo lateral; ao longo do tronco cerebral
ascendem no lemnisco espinhal (ou via anterolateral) até ao núcleo VPL do tálamo; durante este
percurso emite colaterais axonais para a formação reticular (feixe espinho-reticular)
3º neurónio – surge após sinapse no núcleo VPL do tálamo e o seu axónio dirige-se não só para o
córtex somatossensorial primário (áreas 3,1,2), como também para outras porções corticais como a
ínsula, por exemplo

→ Feixe espinhotalâmico anterior


Este feixe é responsável pela transmissão da perceção do tato grosso e pressão.
Alguns autores consideram apenas existir um feixe espinhotalâmico, dado existir continuidade
morfológica entre o lateral e o anterior. Assim, o feixe espinhotalâmico anterior vai ter um percurso
muito semelhante ao lateral no que toca às sinapses estabelecidas pelos seus neurónios.
As principais diferenças relacionam-se com o facto de este decussar (também) na comissura branca
anterior, mas no espaço de vários segmentos medulares, enquanto que o lateral decussa no espaço de
um segmento medular apenas e com o facto de este feixe no tronco cerebral emitir algumas fibras que
ascendem no lemnisco medial e não apenas no lemnisco espinhal (que é o caso do feixe
espinhotalâmico lateral).
Notar a somatotopia
NOTAS EM RELAÇÃO À DOR (1 e 2):

1- A dor é um fenómeno extremamente complexo e a perceção nociceptiva é


veiculado por outros feixes, para além do espinhotalâmico lateral, que emite a
informação para o córtex somatossensitvo (componente sensório-
discriminativa), para o cíngulo (componente emotiva que associa a ação à dor e
memoriza) e para o córtex pré-frontal (componente cognitiva, que define que
não queremos sentir dor): os feixes espinho-hipotalâmico, espinho-reticular e
espinhomesencefálico(+detalhe nas pp 62-63 sebenta Pedro Viegas) relacionam-se com a dor
visceral, com o nível de atenção à dor e com mecanismos de controlo da
mesma. Estes feixes fazem parte do lemnisco espinhal ou via anterolateral:

138
2- Relacionado com a perceção dolorosa falamos também da Teoria da “Porta da Dor”: o cerne da
abertura ou fecho desta porta, para a filtração dos estímulos nociceptivos que se dirigem para o
tálamo, vai relacionar-se com os neurónios da substância gelatinosa, cujo papel é importante para
fazerem uma inibição pré-sináptica das fibras de grande ou pequeno diâmetro que chegam aos
neurónios da lâmina IV – fibras aferentes de grande diâmetro estimulam-nos (aumentam a inibição) e
fibras aferentes de pequeno diâmetro inibem-nos (diminuem a inibição). Isto explica que a pressão no
local onde nos magoamos (que é transmitida por fibras de diâmetro maior e que, portanto, aumentama
inibição dos neurónios da substância gelatinosa, fechando a porta que permite a transmissão do
estímulo doloroso) ajude a atenuar a dor aguda inicial que sentimos.

→ Feixe espinhocerebeloso posterior


Os feixes espinhocerebelosos (anterior e posterior) permitem que a informação propriocetiva chegue
ao córtex cerebeloso, transmitindo estímulos detetados por propriocetores (fusos intramusculares e
órgãos tendinosos de Golgi) e localizam-se na periferia da superfície lateral da medula espinhal.
O feixe espinhocerebeloso posterior, que se localiza lateralmente ao feixe descendente
corticoespinhal lateral e que se inicia ao nível de L2 (só a partir daí existe o núcleo de Clarke), tem como
principal função a coordenação fina de músculos individuais, relacionando-se com o membro inferior e
tronco.
1º neurónio – tem origem no GDR e faz sinapse no núcleo de Clarke (lâmina VII de Rexed que existe
entre T1 e L2); aferências de segmentos medulares caudais a L2 ascendem através do fascículo grácil
até L2, onde farão sinapse no núcleo de Clarke
2º neurónio – origina-se no núcleo de Clarke e ascende lateralmente ao feixe corticoespinhal lateral,
sem cruzar e projetam-se para as zonas mediais do cerebelo via pedúnculo cerebeloso inferior; alguns
colaterais axonais terminam ao nível do núcleo grácil, onde se relacionam com outros feixes que
chegarão ao córtex (é uma via secundária de informação propriocetiva do m. inferior)
139
A proprioceção do membro superior relaciona-se com o feixe cuneocerebeloso: o primeiro neurónio
ascende no fascículo cuneiforme, faz sinapse no núcleo cuneiforme lateral e origina o segundo
neurónio, cujas fibras se agrupam então neste feixe cuneocerebeloso que se dirige para o cerebelo via
pedúnculo cerebeloso inferior, também.
→ Feixe espinhocerebeloso anterior
Localiza-se em posição imediatamente anterior ao feixe espinhocerebeloso posterior e transmite
informação também relacionada com o membro inferior, sendo esta mais complexa uma vez que vai
incluir conexões com interneurónios relacionados com o movimento (recebe informação não só dos
órgãos tendinosos de Golgi, mas também de recetores cutâneos e de feixes descendentes). A sua
função é, então, a regulação da postura e de movimentos mais globais do membro inferior (pois integraa
informação propriocetiva com a modulação motora descendente).
Tem também associado o feixe espinhocerebeloso rostral, relacionado com a coordenação do
movimento e da postura do membro superior, embora este não esteja bem definido (só importa saber
que existe).

1º neurónio – tem origem no GDR (T12 a L5) e faz sinapse nas lâminas VI-VII de Rexed
2º neurónio – origina-se após a sinapse (são os chamados “spinal border cells”) e vai cruzar para o
lado oposto da medula através da comissura branca anterior e ascende, então, organizado neste feixe
espinhocerebeloso anterior; vai entrar no cerebelo via pedúnculo cerebeloso superior, onde vai
ocorrer uma nova decussação das fibras, de tal forma que estas terminem no lado ipsilateral.

→ Via espinho-reticular
Esta via inclui vários feixes, que importa apenas saber a sua existência:
- Feixe espinho-olivar: relaciona-se com a proprioceção (mas recebe também aferências de recetores
cutâneos); ocorre sinapse nos neurónios das lâminas profundas da substância cinzenta da medula
espinhal, há decussação das fibras, que depois ascendem para terminar ao nível do núcleo olivar
inferior contralateral;
- Feixe espinho-reticular – ascende juntamente com o feixe espinhotalâmico, sendo que a maioria das
fibras não decussa e termina em núcleos da formação reticular no bolbo, na ponte e no mesencéfalo; é
uma via alternativa para a perceção dolorosa;
- Feixe espinhomesencefálico- contém fibras que se dirigem para várias regiões do mesencéfalo e
relaciona-se com o mecanismo intrínseco para o controlo da dor;
- Feixe espinho-hipotalâmico- contém fibras que se dirigem para núcleos relacionados com o sistema
nervoso autónomo e está envolvido no controlo autónomo da dor.

Síndrome de Brown-Séquard –
ocorre uma hemi-secção da medula

exercício no slide 40 da parte 1 do PPT

140
VIAS EFERENTES
As vias eferentes são descendentes, isto é, originam-se no córtex cerebral e em numerosos locais no
interior do tronco cerebral. Relacionam-se com o controlo do movimento, do tónus muscular e da
postura e também com a modulação dos reflexos espinhais.
Possuem um neurónio motor superior, localizado no córtex ou no tronco cerebral e um neurónio
motor inferior, localizado no corno anterior da medula espinhal (ou em núcleos motores de nervos
cranianos), que enerva um grupo de fibras musculares formando uma unidade motora. Podem
também envolver os interneurónios da medula espinhal.
Os neurónios motores inferiores organizam-se somatotopicamente: os mais
mediais inervam os músculos axiais; os mais laterais inervam os músculos distais.
Para além disso, os que inervam flexores encontram-se posteriormente aos que
inervam músculos extensores.
Quando falamos em programas motores (ou central pattern generators) falamos
da génese de padrões geradores de movimentos rítmicos devido aos interneurónios
presentes na medula e no tronco cerebral. Assim, estes persistem sem controlo cortical e sem
aferências. Falam os da marcha, respiração, deglutição...

→ Feixes corticoespinhais (complementar com T9)


Estes feixes correspondem à via motora principal e as suas fibras têm origem nas células piramidais
da quinta camada cortical, no córtex motor primário, área 4 (50%), no córtex pré-motor, área 6 e na
área motora suplementar (30%) e também no córtex somatossensitivo. A maioria das fibras são finas e
mielinizadas, com baixa velocidade de condução.

O primeiro neurónio desta via encontra-se, então, maioritariamente na circunvolução pré-central. Ao


longo do seu percurso pelo tronco cerebral o feixe emite colaterais axonais para a formação reticular,
originando os feixes reticulo-espinhal e rubro-espinhal.
Depois de passar pela coroa radiada, as suas fibras vão para o segmento posterior da cápsula interna,
sendo que: fibras do córtex motor primário mais posteriores; fibras das áreas motora suplementar
mais anteriores; fibras da área pré-motora em posição intermédia (há também organização
somatotópica: de anterior para posterior temos o m- superior, o tronco e o m. inferior).
Ao nível da decussação das pirâmides do bolbo raquidiano, 85% das fibras vão decussar e formar o
feixe corticoespinhal lateral, enquanto que as restantes 15% que não cruzam a linha média formam o
feixe corticoespinhal anterior.
- Feixe corticoespinhal lateral
Este feixe termina contralateralmente na coluna lateral do corno anterior da medula espinhal,
podendo as fibras fazer sinapses com interneurónios das lâminas V-VIII ou diretamente com neurónios
motores alfa da lâmina IX (que emergem pela raiz anterior do nervo e contactam diretamente com os
músculos).
As suas funções relacionam-se com a facilitação dos músculos flexores e inibição dos músculos
extensores na realização de movimentos de precisão dos membros.
- Feixe corticoespinhal anterior
Este feixe termina a nível medio-torácico e a maioria das fibras acaba por cruzar junto do segmento
medular onde vão terminar, através de sinapses com interneurónios localizados nas porções mediais
do corno anterior (assim relacionam-se mais com músculos axiais).
As suas funções relacionam-se com o ajustamento postural necessário aos movimentos voluntários
executados através do feixe corticoespinhal lateral.

141
→ Sistema motor extrapiramidal (este termo não deve ser utilizado)
Os neurologistas referem-se a este termo para mencionar os feixes que também contribuem para a
motricidade, mas que não passam pelas pirâmides do bolbo raquidiano.
- Feixe rubroespinhal
Resulta de colaterais emitidos a partir do feixe corticoespinhal para o núcleo rubro e as suas fibras
decussam na decussação tegmental anterior do mesencéfalo inferior e descem lateralmente no tronco
cerebral até ao funículo lateral da medula espinhal (localizam-se anteriormente ao corticoespinhal
lateral). Termina principalmente nas lâminas V-VII, sinaptizando com interneurónios.
Facilita a ação do feixe corticoespinhal lateral, podendo atuar como feixe vicariante no caso de lesão
deste.
- Feixe reticuloespinhal

- Feixe vestibuloespinhal
Este feixe também se divide em:
- feixe vestibuloespinhal lateral: as suas fibras originam-se no núcleo vestibular lateral e
terminam ipsilateralmente na região medial do corno anterior da medula espinhal, nas lâminas VII e
VIII; os neurónios deste feixe são excitatórios para os neurónios motores dos músculos extensores do
pescoço, dorso e membros, tendo uma ação inibitória para neurónios motores dos músculos flexores
dos membros (mediada por interneurónios inibitórios).
- feixe vestibuloespinhal medial: as suas fibras originam-se no núcleo vestibular medial,
relacionam-se com o fascículo longitudinal medial e terminam ao nível dos segmentos médio-torácicos
nas lâminas VII e VIII, podendo ou não ser cruzadas (é bilateral); está envolvido na estabilização da
posição da cabeça e pescoço e na coordenação dos movimentos da cabeça com os movimentos
oculares.
- Feixe teto-espinhal
As suas fibras originam-se no colículo superior do mesencéfalo, sofrem decussação na decussação
tegmentar dorsal, dirigem-se para a porção medial do funículo anterior da medula espinhal e projetam-
se apenas para os segmentos cervicais superiores, terminando nas lâminas VI e III.
Relaciona-se com os reflexos visuais e com a coordenação dos movimentos do pescoço.
- Feixe olivoespinhal
(entre outros...)

142
O sistema motor divide-se, normalmente, em medial (a maioria dos feixes) e lateral:

143
Existem inúmeras zonas corticais relacionadas com a motricidade, mas estas organizam-se
hierárquica e paralelamente:
Organização hierárquica dos sistemas de controlo motor
Córtex de associação (pré-frontal, parietal e temporal) – decisão de haver um movimento
Córtex pré-motor, cerebelo e núcleos de base – planeamento do movimento
Córtex motor – execução do movimento (ação sobre o neurónio motor da medula ou de nervo
craniano, direta ou indiretamente)

Organização paralela dos sistemas de controlo motor


- Importância dos núcleos da base (via direta e indireta) e do cerebelo no controlo motor, embora não
possuam efeito direto no neurónio motor inferior
- Planeamento e monitorização com eferências para o córtex motor e pré-motor
- Poucas eferências para a medula espinhal

LESÕES NO SISTEMA MOTOR (complementar com T9)

EGAS MONIZ E A PSICOCIRURGIA


Egas Moniz desenvolveu a lobotomia, procedimento com valor terapêutico em algumas psicoses.
Ganhou, por isso, o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1949.
Walter Freeman realizava lobotomias por via transorbitária. Milhares foram efetuadas sem indicação
terapêutica e com efeitos laterais graves.

ESTIMILAÇÃO CEREBRAL PROFUNDA - exemplos de regiões alvo para algumas doenças


Doença de Parkinson – núcleo subtalâmico (STN)
Distonia - globo pálido interno (GPi)
Tremor essencial – núcleo ventral intermédio (VIM) do tálamo

144
T15 – Introdução ao estudo dos nervos cranianos. Nervo olfativo e via olfativa.

Parte 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS NERVOS CRANIANOS

Os nervos cranianos são nervos periféricos, embora com algumas componentes funcionais a mais que
os restantes nervos periféricos (4 comuns + 3). Para além disso, têm uma origem aparente (visível na
imagem; corresponde ao local onde aparecem na superfície do SNC) e uma origem real (originam-se
em núcleos do tronco cerebral). São 12:
I– nervo olfativo
II – nervo óptico (escreve-se ‘óptico’ para distinguir do termo ótico relacionado com a audição!)
III – nervo oculomotor
IV – nervo troclear (único com origem na face posterior do tronco cerebral)
V – nervo trigémeo (tem 3 ramos: oftálmico, maxilar e mandibular)
VI – nervo abducente
VII – nervo facial
VIII – nervo vestibulococlear
IX – nervo glossofaríngeo (passa na parte anterior do buraco jugular)
X – nervo vago (passa na parte anterior do buraco jugular)
XI – nervo acessório (passa na parte anterior do buraco jugular)
XII – nervo hipoglosso (passa no canal do hipoglosso)

145
A embriologia e a organogénese do SNC ajudam a compreender os nervos cranianos e os seus
componentes funcionais.
- o primeiro arco faríngeo é inervado pelo nervo trigeminal
- o segundo arco faríngeo é inervado pelo nervo facial
- o terceiro arco faríngeo é inervado pelo nervo glossofaríngeo
- o quarto e sexto arcos faríngeos são inervados pelo nervo vago
Sabendo isto e sabendo que músculos derivam de cada um destes arcos, sabemos quais os músculos
inervados por cada um destes nervos.

146
COMPONENTES FUNCIONAIS DOS NERVOS CRANIANOS
Relembrando, os componentes funcionais dos nervos espinhais são:
- fibras aferentes somáticas gerais (vêm de recetores presentes na pele, músculos e
articulações; no caso dos nervos cranianos apenas provêm de recetores na cabeça e pescoço)
- fibras aferentes viscerais gerais
- fibras eferentes somáticas gerias (inervam músculos derivados dos sómitos)
- fibras eferentes viscerais gerais
Estes componentes também existem nos nervos cranianos, sendo a única diferença ao nível das fibras
eferentes viscerais gerais: no caso dos nervos espinhais vão corresponder a fibras pré-ganglionares
simpáticas, para os membros e parassimpáticas; no caso dos nervos espinhais, vão apenas
corresponder a fibras pré-ganglionares parassimpáticas, que se distribuem para as vísceras do tórax,
do abdómen e do crânio.
Para além destes, os nervos cranianos possuem mais 3 componentes funcionais:
- fibras aferentes somáticas especiais: relacionadas com a audição e o equilíbrio
- fibras aferentes viscerais especiais: relacionadas com o gosto
- fibras eferentes viscerais especiais: inervam os músculos derivados dos arcos faríngeos

O núcleos dos nervos cranianos organizam-se em colunas ao longo do tronco cerebral, de acordo com
os seus componentes funcionais:

147
Coluna eferente somática (inerva os músculos esqueléticos derivados dos miótomos) – núcleos dos
nervos oculomotor (III), troclear (IV), abducente (VI), que se dirigem para os músculos extraoculares e
Derivados da placa basal

ainda do hipoglosso (XII), que inerva a maior parte dos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua;
Coluna eferente visceral especial (inerva os músculos derivados dos arcos faríngeos) – núcleos dos
nervos trigémio (V), facial (VII), raiz espinhal do acessório (XI) na medula espinhal cervical e ainda o
núcleo ambíguo (que tem neurónios que vão incorporar no glossofaríngeo, IX, vago, X e acessório, XI);
Coluna eferente visceral geral (núcleos com neurónios pré-ganglionares simpáticos) – parte do núcleo
dorsal do vago (X); núcleos salivares superior e inferior; núcleo oculomotor (III) acessório (de Edinger-
Westphal).

Coluna aferente visceral geral – parte do núcleo dorsal do vago (X); alguns autores consideram que a
Derivados da placa alar

maior parte destas fibras vão para o núcleo do feixe solitário, relacionado com o gosto (e vao, então,
fazer parte da coluna aferente visceral especial)
Coluna aferente visceral especial – núcleo do feixe solitário, relacionado com o gosto (facial, VII,
glossofaríngeo, IX e vago, X)
Coluna aferente somática geral – núcleos específicos do nervo trigémio (V)
Coluna aferente somática especial – núcleos do nervo vestibulococlear, VIII (equilíbrio; audição)

Voltando à embriologia, o tubo neural possui uma placa alar que está orientada dorsalmente e que
vai conter os componentes sensitivos e uma placa basal, localizada ventralmente, contendo os
componentes motores. Estas 2 placas vão estar separadas por um sulco limitante.

Com o aparecimento depois do tronco cerebral, há́ um rearranjo destas colunas. No bolbo e na
protuberância (B e C), a placa vai ficar lateral e a placa basal medial. Ao nível do mesencéfalo (A), como
estreitamento do 4º ventrículo vai aparecer o aqueduto cerebral e a placa alar vai ficar
posteriormente em relação à placa basal.

Na medula espinhal a diferenciação entre placa alar e basal é muito fácil de visualizar, mesmo no
sistema nervoso completamente desenvolvido. Vemos medialmente as 3 colunas eferentes: a
eferente somática geral para os músculos dos sómitos (ou esqueléticos), a eferente visceral especial
ou branquial para os músculos derivados dos arcos faríngeos e a eferente visceral geral para as fibras
pré-ganglionares do sistema nervoso autónomo. E lateralmente, separadas pelo sulco limitante
(corresponde à linha), vamos ter as fibras aferente visceral geral, aferente visceral especial, que vai ter
como principal componente as fibras relacionadas com o gosto, aferente somática geral e, finalmente,
aferente somática especial, com fibras relacionadas com o equilíbrio e com a audição.

Note-se que o olfato e a visão são os sentidos mais difíceis de classificar nesta explicação. Contudo,o
olfato pode ser relacionado com as fibras aferentes viscerais especiais.

148
Tronco cerebral

Medula

149
ORIGEM REAL DOS NERVOS CRANIANOS

NOTA: no final da primeira parte desta aula revemos um assunto já abordado na T8 (Sistema Nervoso
Parassimpático).

Parte 2 - VIAS OLFATIVA E GUSTATIVA


O olfato e o gosto são 2 sentidos químicos do corpo. Moléculas odoríferas e gustativas são detetadas
por recetores que fazem a transdução dos estímulos, que depois são interpretados pelo córtex cerebral
como cheiro e gosto, respetivamente. Note-se que estes dois sentidos se articulam bastante (p.e, sabor
dos alimentos). - de condução: devido a traumatismo
Anosmia – falta de olfato cranioencefálico, rinite, pólipos nasais
Hiposmia – perda parcial do olfato - sensoriais: devido a tumores intracranianos,
Ageusia – falta de paladar doenças neurodegenerativas

NERVO OLFATIVO E A VIA OLFATIVA


A organização da via olfativa reflete a sua linhagem filogeneticamente antiga:
- as vias aferentes olfativas atingem diretamente o córtex olfativo primário, sem passar pelo tálamo
(e também o núcleo medial da amígdala);
- os campos terminais destas vias aferentes são áreas corticais primitivas – paleocórtex;
- a maioria das aferências olfativas são ipsilateral: apenas algumas fibras decussam na comissura
anterior, dirigindo-se para o bolbo olfativo contralateral

150
→ Recetores olfativos
As moléculas odoríferas são detetadas numa área específica da fossa nasal, onde
se encontram os recetores olfativos. Podem atingir essa área diretamente através
da cavidade nasal (via ortonasal) ou entrar pela cavidade oral e ascender (via retro-
olfativa).
Existem cerca de 3 milhões de recetores olfativos, que correspondem a neurónios
bipolares localizados na mucosa olfativa e estão em renovação constante. Com o
envelhecimento há perda desta capacidade de renovação, o que leva à perda do
olfato. Os prolongamentos dos recetores olfativos unem-se e formam filamentos
que atravessam a placa crivosa e dão origem ao primeiro nervo craniano, o nervo
olfativo (I). Através deste, as fibras dirigem-se para o bolbo olfativo.

Potencial do recetor com


adaptação rápida, que
permite o desaparecimento
rápido da perceção de
odores que se mantêm

Nesta imagem está ilustrado o mecanismo de transdução do sinal, que ocorre no bolbo olfativo:
- as moléculas odoríferas ligam-se aos recetores olfativos e despolarizam-nos;
- nos neurónios de segunda ordem presentes nos glomérulos do bolbo olfativo vai haver entãoa
transdução do sinal; estes neurónios olfativos podem depois fazer sinapse com 2 células olfativas:
células mitrais e células tufosas. Já as células granulares e periglomerulares são responsáveis por uma
sinapse inibitória que acentua o contraste, intensificando a transdução (ao inibir as células tufosas e
mitrais). Para além disso, as células granulares também recebem aferências corticais, conseguindo
modular o input olfativo aferente.
- por fim, os axónios das células mitrais e tufosas dirigem-se para o córtex olfativo primário.

151
→ Lobo olfativo

- Bolbo olfativo: possui 6 camadas e é o local onde ocorre a primeira sinapse da via olfativa, mais
concretamente, ao nível dos glomérulos; possui neurónios de projeção (células mitrais e células
tufosas) e interneurónios (células granulares, sem axónios e células periglomerulares);
- Fita olfativa: contém fibras aferentes e eferentes e termina ao nível do trígono olfativo; neste ponto,
divide-se em 2 estrias: estria olfativa medial e estria olfativa lateral (que se continua com a
circunvolução semilunar, formando a área periamigdaloide);
- Córtex olfativo primário: localiza-se no córtex piriforme, que é formado pela área entorrinal (EA),
pelo uncus, pela região pré-piriforme e pela área periamigdaloide

circunvolução olfativa lateral estria olfativa lateral


(substância cinzenta que cobre a estria olfativa lateral)
+ +
gyrus ambiens (GA) circunvolução semilunar

Os axónios das células mitrais dirigem-se para a fita olfactiva; ocorrem algumas sinapses com neurónios
do núcleo olfactivo anterior; algumas fibras cruzam na porção anterior da comissura anterior; quandose
aproxima da substância perfurada anterior, a fita olfactiva achata-se e forma o trígono olfactivo, do qual
surgem as estrias olfativas lateral e medial; algumas fibras terminam na substância perfurada anterior
(com tubérculo olfactivo), mas a maioria dirige-se para a estria olfactiva lateral, através da qual as fibras
aferentes chegam ao córtex, sem passar pelo tálamo. Contudo, como vimos, também são emitidas
aferências olfativas para: núcleo olfativo anterior, tubérculo olfativo, partes do córtex da ínsula e núcleo
medial da amígdala.
O bolbo olfactivo, por sua vez, também recebe muitas aferências: com origem no locus ceruleus (fibras
noradrenérgicas), nos núcleos do rafe (fibras serotoninérgicas), na banda diagonal de Broca (fibras

- O córtex olfativo primário emite aferências para o córtex olfativo secundário: localiza-se no quadrante
postero-lateral do córtex orbitofrontal; também recebe aferências do núcleo dorsomedial do tálamo; associa
aferências gustativas a olfativas; relaciona-se com a amígdala e a formação do hipocampo, estando envolvido na
formação de memorias emocionais e apreciação subjetiva de cheiros.

152
VIA GUSTATIVA
O gosto é um outro sentido químico e relaciona-se com uma via cortical ipsilateral, que se relaciona
com fibras aferentes viscerais gerais, envolvendo, por isso:
- nervo facial, VII – inerva os 2/3 anterior da língua
- nervo glossofaríngeo, IX – inerva o palato mole e o 1/3 posterior da língua
- nervo vago, x – inerva a epiglote e a orofaringe

Os recetores gustativos dos neurónios de primeira ordem (unipolares)detetam


5 tipos diferentes de gosto: salgado, ácido, doce, amargo e umami.

Os axónios destas fibras aferentes viscerais gerais dirigem-se para o núcleo


do feixe solitário, a partir do qual surgem fibras ascendentes ipsilaterais para o
núcleo VPM do tálamo, que depois emite projeções para o córtex gustativo
primário; este núcleo também se relaciona diretamente com o hipotálamo e a
amígdala, permitindo reações emocionais e comportamentais relacionadas
com o gosto.

O córtex gustativo primário está localizado na ínsula e face medial do


opérculo frontal (perto da base do sulco central).

153
FORMAÇÃO DO HIPOCAMPO E RELAÇÕES COM O CÓRTEX ENTORRINAL

O Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2014 foi atribuído a John O’Keefe, May-Britt Moser e
Edvard Moser pela descoberta de células relacionadas com um sistema de localização espacial no
cérebro.

Determinação da posição e navegação espacial – com formação de mapa cognitivo: está associada à
formação do hipocampo.

Place cells (células piramidais do hipocampo) – mapa;


Grid cells (estão no córtex entorrinal medial) – sistema de coordenadas numa rede hexagonal;
Head direction cells (complexo subicular, tálamo e córtex entorrinal) – direção;
Bundary cells (complexo subicular, córtex entorrinal) – limitam regiões

154
T16 – Conteúdo orbitário. Nervos oculomotor (III), troclear (IV) e abducente (VI).
Parte 1

CAVIDADE ORBITÁRIA

A cavidade orbitária tem forma aproximada a uma pirâmide


quadrangular, com a base voltada anteriormente e o ápice
voltado posteromedialmente, coincidindo com a região do
canal óptico e da fissura orbitária superior. Tem relações
com:
- os seios maxilar, etmoidal, frontal e esfenoide
- as fossas cranianas anterior (através dos canais etmoidais)
e média (através da fissura orbitária superior)
- as fossas temporal (através dos canais zigomático-orbitário e zigomático-temporal) e infratemporal
(através da fissura orbitária inferior)
LIMITES
Teto: parte orbitária do frontal, asa menor do esfenóide
• Fossa para glândula lacrimal no ângulo antero-lateral.
• Fosseta troclear com espinha (por vezes) no ângulo ântero-medial – para a tróclea do músculo
oblíquo superior
• Canal óptico na extremidade posterior do teto – entre as duas raízes da asa menor do esfenóide;
com o nervo óptico e suas bainhas meníngeas e artéria oftálmica

Pavimento: lâmina orbitária da maxila, zigomático, apófise orbitária do osso palatino


• Sulco orbitário e depois canal infra-orbitário
• O músculo oblíquo inferior surge no ângulo ântero-medial, lateral à abertura do canal nasolacrimal

Parede medial: lacrimal, lâmina orbitária do etmóide, corpo do esfenóide, frontal


• Quadrilátera e mais fina; quase paralela ao plano mediano; as paredes mediais das duas órbitas são
paralelas
• Buracos etmoidal anterior e etmoidal posterior na junção com o teto
• Fossa para o saco lacrimal

Parede lateral: asa maior do esfenóide, apófise frontal do zigomático e pequena parte do osso frontal
• A parte posterior da parede lateral é apresenta a fissura orbitária superior e a fissura orbitária inferior
• Parede triangular; as paredes laterais das duas órbitas formam um ângulo aproximado de 90°
• Separa a órbita da fossa infratemporal e da fossa craniana média

- As duas paredes laterais formam um ângulo de 90°, enquanto as paredes


lateral e medial formam um ângulo de 45°.
- O eixo da órbita divide este ângulo de 45° em dois, fazendo um ângulo de
23° com o eixo visual.
- Os músculos extra-oculares e o nervo óptico têm o mesmo alinhamento que
o eixo da órbita.
155
O conteúdo orbitário é bastante vasto: músculos extraoculares (são 7 e são músculos esqueléticos, cujo
controlo é consciente), os músculos lisos inervados pelo sistema nervoso autónomo (são 3), vasos, nervos,
muito tecido adiposo e ainda fáscias que recobrem o olho e os músculos.
Note-se que existem ainda músculos intraorbitais, que são os músculos ciliar (localizado nos corpos ciliares),
constritor e dilatador da pupila (localizados na íris).
Esquematizando, emergem:
- pelo canal ótico: nervo óptico (II) e artéria oftálmica
- pela fissura orbitária superior: nervo oculomotor (III), nervos
frontal, lacrimal e nasociliar, isto é, a divisão oftálmica do nervo
trigémio (V), nervo abducente (VI) e veias oftálmicas superior e
inferior
- pela fissura orbitária inferior: nervo maxilar (divisão do trigémio),
nervo zigomático e artéria infraorbitária

MÚSCULOS EXTRAOCULARES

• Reto superior
• Reto medial
• Reto inferior
• Reto lateral
• Oblíquo superior
• Oblíquo inferior
• Elevador da pálpebra
superior
O equador é o plano que divide o olho numa
metade anterior e noutra posterior.
Os retos inserem-se anteriormente aoequador
e os oblíquos posteriormente.

Anel tendinoso comum (anel de Zinn) – parte da fissura orbitária


superior e rodeia o canal ótico, sendo delimitado pelos tendões dos 4
músculos retos:
- corresponde à origem dos músculos extraoculares, com a
exceção do músculo oblíquo inferior
- divide a fissura orbitária superior em duas partes, uma que lhe
é interna e outra que lhe é externa

Internamente ao anel tendinoso comum: as duas divisões do nervo oculomotor (III), o nervo nasociliar, o
nervo abducente (VI), o nervo ótico, e a artéria oftálmica.
Externamente ao anel tendinoso comum: o nervo troclear (IV), o nervo lacrimal e o nervo frontal (ramos
da divisão oftálmica do trigémio, V) e a veias oftálmica superior.
156
→ Músculos retos
• São 4, têm forma de faixa e todos perfuram de forma perpendicular a episclera, inserindo-se, portanto, na
porção anterior do globo ocular, ao nível da esclerótica.
• Os retos superior e inferior estão no mesmo plano vertical, enquanto que os retos lateral e medial estão
no mesmo plano horizontal.

- Reto superior: é inervado na sua face inferior pela divisão superior do nervo oculomotor; tem função
de elevação e adução do olho (para que haja um movimento puro do olho em direção superior, o reto
superior tem de atuar em conjunto com o oblíquo inferior)
- Reto inferior: é inervado na sua face superior pela divisão inferior do nervo oculomotor; tem função de
depressão e adução do olho (para que haja um movimento puro do olho em direção inferior, o reto inferior
tem de atuar em conjunto com o oblíquo superior)

Os retos superior e inferior têm ação máxima quando o olho está em semi-abdução, pois é quando os seus
eixos de ação se alinham com o eixo visual;
A contração simultânea dos retos superior e inferior permite a adução do olho.

- Reto medial: é inervado na sua face lateral pela divisão inferior do nervo oculomotor (III); tem função
adução do olho; a ação simultânea dos dois retos mediais promove a convergência visual.
- Reto lateral: é inervado na sua face medial pelo nervo abducente (VI); tem função de abdução do olho;a
ação simultânea dos dois retos laterais promove a divergência visual.

 Note-se que a inserção dos retos ao nível da


esclerótica é feita de forma standard.
→ Para além disso, é importante perceber a
influência da angulação diferente entre o eixo
da órbita, o eixo visual e o eixo dos tendões dos
músculos!

→ Músculos oblíquos
• São 2, encontram-se no mesmo plano vertical e inserem-se na porção posterior da esclerótica. Quando se
contraem em simultâneo, promovem a abdução do olho.
- Oblíquo superior: origina-se no anel tendinoso comum supero-medialmente ao canal ótico e à fixação
tendinosa do reto superior, deslocando-se anteriormente até à tróclea do frontal, descendo depois postero-
lateralmente para se fixar no quadrante posterior supero-lateral ao nível da esclerótica; é inervado na sua
face superior pelo nervo troclear (IV); a sua função é a depressão do olho, por elevação da sua porção
posterior, sendo esta otimizada quando o olho está em adução; também promove a abdução do olho e a
sua intorção.
- Oblíquo inferior: é o único que se origina no pavimento da órbita, numa depressão na face orbital da
maxila, lateralmente ao canal nasolacrimal; dirige-se postero-lateralmente, inferiormente ao reto inferior e
depois ascende entre o globo ocular e o reto lateral, para se inserir no quadrante posterior infero-lateral do
olho; é inervado na sua face orbital pela divisão inferior do nervo oculomotor; a sua função é a elevação do
olho, por depressão da sua porção posterior, sendo esta otimizada em adução; também promove a abdução
do olho e a sua intorção.

157
→ Músculo elevador da pálpebra superior
• Origina-se no anel tendinoso comum, ao nível da asa menor do
esfenóide, superiormente ao canal ótico e alarga-se gradualmente,
adquirindo forma triangular.
• Termina numa larga aponevrose na face anterior do tarso,
possuindo, contudo, fibras que perfuram o músculo orbicular do
olho e terminam na pele da pálpebra superior. É o único músculo
extraocular que não se insere no globo ocular.
• É inervado pela divisão superior do nervo oculomotor (III).
• A sua função é elevar a pálpebra, sendo antagonista da porção
palpebral do músculo orbicular dos olhos. Salienta-se a sua ligação ao reto superior através de um ligamento,
que promove a
elevação da pálpebra
aquando da elevação do
olho.

MÚSCULOS LISOS
→ Orbitário (localiza-se na região posterior da órbita, atravessa a fissura orbitária
inferior e pensa-se que funciona como barreira)
→ Tarsal inferior
→ Tarsal superior (músculo de Muller)
• Dos 3 é o mais desenvolvido e o melhor estudado.
• Tem origem na face inferior da região anterior do elevador da
pálpebra superior e o seu tendão perfura p septo orbitário, para se
inserir no bordo superior do tarso superior.
• É (tal como os outros) inervado pelo sistema nervoso simpático,
contribuindo para a abertura palpebral.
• Lesões na inervação simpática ao nível da cabeça, por exemplo no
Síndrome de Horner, comprometem a ação do músculo de Muller,
originando uma ptose ligeira da pálpebra superior.

158
FÁSCIAS
O tecido fascial da órbita é extremamente importante para a motricidade do globo ocular, uma vez que
para além de recobrir o globo ocular, recobre também os músculos.

Cápsula de Tenon ou Fáscia bulbar – é a fáscia que recorre o


globo ocular e que acaba por funcionar como uma cápsula
protetora, para além de permitir o bom deslizamento das
estruturas umas nas outras
- é perfurada pelos tendões dos músculos extraoculares,
para que estes se insiram na esclerótica; só na sua inserção é
que contactam diretamente com o globo ocular.
- nos locais onde é perfura pelos músculos, rebate sobre
eles e forma a fáscia muscular; assim, é contínua com a fáscia
muscular.
- os “check ligaments” são expensões ligamentares que promovem contra-resistência aos movimentos,
prevenindo o estiramento muscular excessivo.
- as polias orbitárias são adesões ligamentares presentes em toda a região fascial e que permitem
manter os ventres musculares sempre na mesma posição enquanto se dão os movimentos oculares; a única
estrutura que se move durantes os movimentos oculares é o nervo óptico.
- existem áreas em que é mais densa, formando os ligamentos intermusculares, que são fundamentais
para manter as inserções tendinosas dos músculos estabilizadas e impedir deslizamentos aquando da
movimentação do globo ocular.

NOTA: O septo orbital é


um folheto membranoso
continuo com o
periósseo, que se dirige
para as pálpebras e que
também contribui para a
estabilidade.

MOVIMENTOS DO GLOBO OCULAR Na posição primária do globo ocular:


• Ocorrem em 3 eixos primários, com ângulos de 90° entre eles. - oblíquo superior faz depressão,
abdução e intorsão
- Eixo vertical (súpero-interior) no plano equatorial:
movimento lateral da córnea – abdução - oblíquo inferior faz elevação,
abdução e extorsão
movimento medial da córnea – adução
- reto superior faz elevação, adução
- Eixo látero-medial no plano equatorial:
e intorsão
movimento inferior da córnea – depressão
- reto inferior faz depressão, adução
movimento superior da córnea – elevação
e extorsão
- Eixo ântero-posterior:
- reto lateral é somente abdutor
rotação lateral da parte superior da córnea – extorsão
- reto medial é somente adutor
rotação medial da parte superior da córnea – intorsão

NOTA: As fáscias musculares e intermusculares e os ligamentos intermusculares permitem que tanto o ventre
muscular como a inserção tendinosa dos vários músculos se mantenham estáveis durante os movimentos.

159
NERVOS
Quando falamos do conteúdo orbitário e da motricidade do globo ocular, é imprescindível falar dos nervos
que lá navegam. Os nervos da oculomotricidade são: nervo oculomotor (III par craniano), nervo troclear (IV
par craniano) e nervo abducente (VI par craniano). No entanto, a divisão oftálmica e maxilar do nervo
trigémio (V par craniano) também fazem parte do conteúdo orbitário.

Importa relembrar que os nervos cranianos, embora também sejam nervos periféricos, são completamente
diferentes dos nervos raquidianos, que estamos habituados a estudar como um todo. Os nervos cranianos,
diferem muito entre si e têm de ser analisados separadamente. Vamos focar-nos na sua origem real, na sua
origem aparente, nos seus componentes funcionais (que já vimos que permitem alinhá-los de forma colunar)e
no seu trajeto e relações.

Nesta aula, veremos então os nervos da oculomotricidade, que pertencem à coluna das eferências
somáticas.

Nervo Categori Funcional Origem SNC Destino


a

ESG N. Oculomotor Músc. RS, RI, RM, OI, EPS

III
EVG N. Edinger-We stphal Músc. Ciliar, Esfíncter
pupila

IV ESG N. Troclear Músc. OS

VI ESG N. Abducente Músc. RL

Notar a relação entre o fascículo longitudinal medial e os núcleos dos nervos relacionados com a
oculomotricidade: o fascículo longitudinal medial acaba por funcionar como um elevador ao longo do
tronco cerebral que permite pôr em comunhão os músculos extraoculares e que os olhos mexam de forma
conjugada (o direito e o esquerdo), através da interligação dos núcleos dos nervos envolvidos na
oculomotricidade.
160
NERVO OCULOMOTOR - III
• Corresponde ao terceiro par craniano.
• Origem aparente: na fossa interpeduncular, ao nível do sulco medial.
• Origem real: no núcleo oculomotor, que se localiza ao nível do bordo ventral da substância cinzenta
periaquedutal, no mesencéfalo rostral; é visível num corte em secção horizontal ao nível do colículo superior

- as fibras deslocam-se ventralmente, arqueando-se através do tegmento do mesencéfalo em vários


feixes separados que se juntam e formam o nervo oculomotor tal como ele emerge na fossa interpeduncular;
- este núcleo é relativamente complexo pois possui vários subnúcleos, relacionados com os músculos
que inerva: o núcleo que inerva o elevador da pálpebra superior é único e encontra-se na linha média,
inervando os músculos direito e esquerdo; o núcleo que inerva o reto superior envia as suas fibras para o
músculo contralateral; os núcleos que inervam o reto medial, oblíquo inferior e reto inferior projetam para
os músculos ipsilaterais;
- está também associado posteriormente ao núcleo de Edinger-Westphal ou núcleo oculomotor
acessório, que projeta para o gânglio ciliar ipsilateral fibras eferentes viscerais gerais, controladas pelo
sistema nervoso autónomo; as fibras pós-ganglionares correspondentes são os ramos ciliares curtos que
inervam o esfíncter da pupila (miose) e o músculo ciliar;

O nervo oculomotor
inerva:
- elevador da pálpebra
superior
- reto superior
- reto medial
- reto inferior
- oblíquo inferior

Nota: o facto do oculomotor apresentar fibras cruzadas e não cruzadas tem pouco significância clínica pelo facto dos dois
núcleos oculomotores se encontrarem tão próximos, sendo por isso afetados os dois no caso de uma lesão central.

• Descrição anatómica:
Este nervo emerge ao nível do mesencéfalo, na região medial do pé do cérebro, perfura a dura mater
lateralmente à apófise clinoide posterior e desloca-se ao longo da parede lateral da dura do seio cavernoso.

161
Aí (seio cavernoso), divide-se nas suas divisões superior e inferior, que entram na órbita através da fissura
orbitária superior, ao nível do anel tendinoso comum, encontrando-se separadas pelo ramo nasociliar do
nervo oftálmico:
- a divisão superior desloca-se sobre o nervo ótico para entrar na face inferior (ocular) do reto
superior, inervando este músculo; dá também um ramo que se desloca para inervar o elevador da pálpebra
superior.
- a divisão inferior do nervo oculomotor divide-se em ramos medial, central e lateral:
- ramo medial para o reto medial: desloca-se sob o nervo ótico para entrar da face lateral
(ocular) do músculo;
- ramo cetral para o reto inferior: desloca-se inferiormente e anteriormente, para entrar na
face superior (ocular) deste músculo;
- ramo lateral para o oblíquo inferior: desloca-se anteriormente, ao nível do lado lateral do
reto inferior, para entrar na face orbital do oblíquo inferior.

• Lesões no nervo oculomotor: podem relacionar-se com lesões a nível central ou *apenas uma lesão no
parassimpático que só afeta as eferências do núcleo oculomotor secundário*:
- origina estrabismo lateral (desvio lateral de um dos olhos em relação à posição média), uma vez queo
reto lateral (inervado pelo nervo abducente) atua sem ter o antagonismo do reto medial (paralisado); em
consequência surge diplopia (visão dupla) e incapacidade de movimentação medial do olho;
- os movimentos verticais também são afetados devido à paralisia dos retos superior e inferior;
- a paralisia do elevador da pálpebra superior leva a ptose (queda da pálpebra superior) bilateral,
uma vez que só há um núcleo relacionado com essas fibras;
* - no caso da lesão do parassimpático, apenas os músculos esfíncter da pupila e ciliar deixam de
estar funcionais, o que provoca midríase ipsilateral: a pupila do lado afetado está dilatada devido à ação do
músculo dilatador da pupila não antagonizada (inervado pelo simpático);

Notar que as fibras parassimpáticas pré-ganglionares provenientes do núcleo de Edinger-Westphal deslocam-se


superficialmente, sendo as mais suscetíveis a pressões externas. Assim, a presença de uma pupila dilatada que não
responde à luz é, normalmente, o primeiro sintoma de pressão no nervo oculomotor.

162
NERVO TROCLEAR – IV
• Corresponde ao quarto par craniano.
• Origem aparente: destaca-se por ser o único a emergir na superfície dorsal do tronco cerebral,
inferiormente aos colículos inferiores e lateralmente ao freio do véu medular superior.
• Origem real: no núcleo troclear, que se localiza ao nível do colículo inferior; os axónios dos corpos
celulares deste núcleo têm uma particularidade – dirigem-se primeiro postero-lateralmente,
contornando a substância cinzenta periaquedutal, arqueando-se para decussar e emergir então na
superfície posterior do tronco cerebral como nervo troclear contralateral. As suas fibras vão inervar o
músculo oblíquo superior.

• Descrição anatómica:
Após emergir, o nervo troclear perfura a dura
mater posteriormente à apófise clinoide posterior,
deslocando-se depois através da parede dural
lateral do seio cavernoso. Subsequentemente, o
nervo troclear cruza o nervo oculomotor e entra na
órbita através da fissura orbitária superior.
A este nível, o nervo troclear encontra-se
superiormente ao anel tendinoso comum e ao
elevador da pálpebra superior, e medialmente aos
nervos frontal e lacrimal. Desloca-se até à face
superior (orbitária) do músculo oblíquo superior,
sendo o único nervo que perfura o músculo que
inerva pela face orbitária (todos os restantes fazem-
no por via da face ocular).

• Lesões no nervo troclear: o oblíquo superior ajuda


ao movimento do olho inferiormente e
lateralmente e, como tal, aquando de lesões no
nervo troclear, as tentativas de movimentos nessas
direções (tipicamente aquando da leitura de um
livro ou da descida de escadas) podem causar
diplopia (visão dupla).

163
NERVO ABDUCENTE – VI
• Corresponde ao sexto par craniano.
• Origem aparente: entre a ponte e o bolbo raquidiano.
• Origem real: no núcleo abducente, que se localiza ao nível do colículo facial, na ponte caudal, sobre o
pavimento do quarto ventrículo; as suas fibras vão inervar o músculo reto lateral ipsilateralmente;
note-se que o colículo se chama facial devido ao trajeto das fibras com origem no núcleo facial, que se
encontra anteriormente, mas cujas fibras contornam externamente o núcleo do abducente antes de
se dirigirem anteriormente.

• Descrição anatómica:
Após emergir, o nervo abducente desloca-se através do compartimento venoso inferior da
confluência venosa petro-clival, por via do canal de Dorello.
Para entrar no seio cavernoso, este nervo tem de ascender ao longo do clivus e curvar-se
anteriormente de forma abrupta em torno do bordo superior do rochedo do temporal, lateralmente à
sela turca, para perfurar a dura mater. Passa inferiormente ao ligamento petro-esfenoidal (ligamento
de Gruber). Assim, a sua entrada no seio cavernoso é bastante afiada, o que faz com que o nervo seja
facilmente lesionado em situações de aumento da pressão intracraniana. Note-se que no seio
cavernoso, o nervo abducente se encontra lateralmente à artéria carótida interna (contrariamente aos
nervos oculomotor, troclear, oftálmico e maxilar, que apenas formam uma invaginação na parede dural
lateral do seio).
O nervo abducente entra na órbita por via da fissura orbitária superior, ao nível do anel tendinoso
comum (inicialmente desloca-se inferiormente às duas divisões do nervo oculomotor e depois passa
por entre estas), lateralmente ao nervo nasociliar. Por fim, este nervo desloca-se anteriormente para
entrar na face medial (ocular) do reto lateral, que inerva.

• Lesões no nervo abducente: relacionam-se com o estrabismo medial, pois o reto medial (inervado
pelo oculomotor) atua sem ter o antagonismo do reto lateral (paralisado); lesões no núcleo do
abducente vão relacionar-se com a incapacidade do olho ipsilateral realizar abdução e do olho
contralateral realizar a adução no movimento conjugado horizontal dos dois olhos.

164
Em movimentos horizontais puros, importa
pensar no fascículo longitudinal medial, uma vez
que é necessária a ação de um reto medial e do
reto lateral do lado oposto, músculos inervados
por nervos diferentes. Assim, as fibras de
interligação do fascículo longitudinal medial são
essenciais para coordenar a ação destes músculos.
As principais fibras de interligação partem do
núcleo abducente e estes axónios projetam-se ao
longo da linha média, juntando-se ao fasciculo
longitudinal medial contralateral (pois o objetivo é
acionar o m. reto medial contralateral). Ascendem
depois até ao núcleo oculomotor, onde fazem
sinapses excitatórias com os neurónios motores
do reto medial. A ação simultânea dos neurónios
motores abducentes e dos neurónios
internucleares do FLM resulta no olhar lateral
conjugado.

NERVO TRIGÉMIO – V
• Será estudado ao pormenor na T17, mas importa falar da sua divisão oftálmica e maxilar, que emitem
nervos que terminam no interior da órbita:

- Divisão oftálmica
Nervo lacrimal – comunica com o nervo zigomático da divisão maxilar
Nervo frontal
• Nervo supra-orbitário – divide-se em ramos medial e lateral
• Nervo supratroclear
• Nervo nasociliar – divide-se em nervo etmoidal anterior e etmoidal posterior; nervo infra
troclear; nervos ciliares longos

- Divisão maxilar
• Nervo zigomático: nervos zigomático-temporal e zigomático-facial
• Nervo infra-orbitário

165
• É um dos seios venosos da dura-máter, que correspondem a espaços revestidos por Hipotálamo
endotélio, situados entre as camadas periostal e meníngea da dura-máter; este situa-se Hipófise
Nervo ótico
bilateralmente em cada lado da sela turca, na face superior da parte oca do osso esfenoide.
• Foi muito abordado nesta aula pela sua relação com a cavidade orbitária – estende-
se pela fissura orbitária superior e recebe sangue proveniente das veias oftálmicas.

• Estruturas nas paredes do seio cavernoso:


- na parede lateral do seio cavernoso, de superior para inferior: nervo oculomotor, nervo
troclear, divisão oftálmica do trigémio e divisão maxilar do trigémio.
- na sua parede medial, em relação estreita com a artéria carótida interna: nervo
abducente.
struturas entram na orbita, através da fissura orbitária superior, à exceção d o nervomaxilar, que entra pelo
buraco redondo, para a fossa pterigopalatina) Seio cavernoso

166
GÂNGLIO CILIAR

O gânglio ciliar é um gânglio parassimpático, relacionado com a inervação de certos músculos


intraoculares e que se localiza perto ápice da órbita no tecido adiposo orbitário, entre o nervo óptico e
o reto lateral.

Na sua superfície anterior emergem 8-10 filamentos que se designam nervos ciliares curtos e que
perfuram a esclerótica em torno do nervo ótico.
Na sua superfície posterior tem 3 raízes:
• Raiz parassimpática (ou motora) – fibras pré-ganglionares com origem no núcleo de Edinger-
Westphal que atingem o gânglio através de um ramo que deriva do ramo do nervo oculomotor que
inerva o músculo oblíquo inferior; após sinapse, as fibras pós-ganglionares originam os nervos ciliares
curtos que inervam os músculo esfíncter da pupila e ciliar.
• Raiz simpática – fibras derivadas do plexo simpático que rodeia a artéria carótida interna, que são
pós-ganglionares com origem no gânglio cervical superior; assim, estas fibras atravessam o gânglio
ciliar sem efetuarem sinapses e dirigem-se para os vasos sanguíneos do globo ocular; pode conter
fibras para o músculo dilatador da pupila quando estas não seguem o percurso habitual pelos nervos
oftálmico, nasociliar e ciliares longos
• Raiz sensitiva – corresponde a um ramo comunicante com o nervo nasociliar, que permite que a
informação sensitiva da córnea, corpo ciliar e íris seja transportada.

CONTROLO DOS MOVIMENTOS OCULARES – breve referência


Podemos dividir os movimentos oculares em dois grandes tipos: conjugados (os dois olhos apontam
para o mesmo lado) e não conjugados ou vergentes (divergência ou convergência).
Os movimentos conjugados têm como objetivo colocar a imagem de um objeto na fóvea e podem
ser:

- Sacadas (rápidos): são movimentos rápidos e involuntários usados quando estamos a ler ou a
explorar alguma coisa, direcionando diferentes pontos de imagem para a fóvea sucessivamente;
permitem que os músculos oculares façam variações rápidas da amplitude do olhar
• os programas motores localizam-se na protuberância e mesencéfalo:
horizontais – formação reticular paramediana da ponte
verticais – núcleo intersticial rostral do fascículo longitudinal media

167
• o controlo cortical dá-se no campo ocular frontal (frontal eye field) e nos campos oculares
parietal e suplementar

Os centros do córtex motor projetam inferiormente para uma região pontina chamada formação
reticular paramediana pôntica, que por sua vez inerva o nervo abducente, comandando os seus
disparos. O córtex esquerdo projeta para o núcleo abducente direito (que vai controlar o músculo
reto lateral). Mas para fazer abdução do olho direito tenho de fazer adução do olho esquerdo, ou
seja, contrair o reto lateral de um lado e reto medial do outro. Assim, como já vimos, o nervo
abducente projeta também interneurónios que através do fasciculo longitudinal medial
contralateral atuam no núcleo oculomotor, nomeadamente para a sua subunidade no reto
medial.

- Lentos de perseguição: são movimentos contínuos e suaves que permitem manter um ponto de
imagem em movimento focado na fóvea
• o controlo destes movimentos é mais complexo e envolve a coordenação fina entre o
cerebelo, os núcleos de base
• relacionam-se com o reflexo vestíbulo-ocular – gera movimentos oculares opostos aos
movimentos da cabeça; este reflexo envolve uma via com 3 neurónios (1º neurónio do gânglio
vestibular, 2º no núcleo vestibular e 3º em núcleos dos n. oculomotores)

PÁLPEBRAS, TARSO E CONJUNTIVA


o As pálpebras são duas pregas de pele modificada que cobrem a face anterior do olho.
- Devido ao facto de fecharem através de um sistema reflexo (possível graças à contração do
orbicular do olho), protegem o olho contra lesões e contra a luz excessiva.
- O pestanejar periódico e involuntário mantém o fino filme lacrimal sobre a córnea, prevenindo-a
de secar.
• Estrutura (do exterior para o interior): pele, tecido celular subcutâneo, tecido muscular (porção
palpebral do orbicular do olho), tecido celular submuscular e tarso.
- Fissura palpebral: abertura transversa que se encontra por entre os bordos livres das pálpebras, que
se juntam nas suas extremidades;
- Epicanto lateral: não apresenta características assinaláveis
- Epicanto medial: encontra-se separado do globo ocular por um pequeno espaço triangular (lago
lacrimal), onde se encontra a carúncula lacrimal (pele modificada ao nível da prega semilunar, uma
pequena prega de conjuntiva que contém alguns pelos finos).
- Papila lacrimal: pequena elevação localizada ao nível de cada bordo palpebral, a cerca de um-sexto
do caminho do epicanto medial do olho; no centro, verifica-se a presença de uma pequena abertura,
o ponto lacrimal, que constitui a abertura para o sistema de drenagem lacrimal.
- A porção ciliar da pálpebra corresponde ao bordo lateralmente à papila e apresenta as pestanas,
enquanto o bordo medial à papila corresponde à porção lacrimal da pálpebra.

168
o O tarso corresponde a uma lâmina fina e alongada de tecido fibroso denso e firme que contribui
para o suporte e forma da pálpebra. Existem um superior, maior e semioval e um inferior, mais
pequeno e mais estreito. As lâminas tarsais:
- encontram-se ligadas aos bordos da órbita pelo septo orbital e pelos ligamentos palpebrais
medial e lateral;
- possuem um bordo orbital, convexo e fixo ao septo orbital e um bordo ciliar reto e adjacente
aos folículos das pestanas.

o A conjuntiva é uma membrana mucosa transparente e fina que se estende desde os bordos
palpebrais até aos fórnices, que são os locais onde se volta sobre si mesma, de forma a cobrir a
esclerótica até à sua junção com a córnea. Assim, forma um saco que abre anteriormente através
da fissura palpebral.
- A conjuntiva é dividida convencionalmente em cinco regiões – marginal, tarsal, orbital, bulbare
límbica. As regiões marginal, tarsal e orbital são designadas coletivamente por conjuntivapalpebral.
- Em termos de funções, a conjuntiva contribui para a formação do filme lacrimal e participa na
defesa da superfície ocular contra infeções microbianas.

APARELHO LACRIMAL
O aparelho lacrimal contém as estruturas responsáveis pela produção das lágrimas (glândulas
lacrimais principal e acessórias), assim como a via de drenagem lacrimal (canalículos lacrimais, saco
lacrimal e canal nasolacrimal).
Glândula lacrimal
- É a principal estrutura de produção do componente aquoso da camada lacrimal, segregando um
fluído com conteúdo eletrolítico semelhante ao plasma e contendo várias proteínas.
- Apresenta uma porção palpebral e uma porção orbital, contínuas postero-lateralmente.

169
- A porção orbital é a maior e encontra-se alojada na fossa lacrimal do osso frontal, localizada na
sua apófise zigomática. Esta porção encontra-se sobre o elevador da pálpebra superior e, mais
lateralmente, sobre o reto lateral. A sua face inferior encontra-se ligada à bainha do elevador da
pálpebra superior, enquanto a sua face superior se encontra ligada ao periósteo orbital. Já o seu bordo
anterior contacta com o septo orbital e, por fim, o seu bordo posterior encontra-se ligado ao tecido
adiposo orbitário.
- A porção palpebral está dividida em dois ou três lóbulos e estende-se inferiormente à aponevrose
do elevador da pálpebra superior até à porção lateral da pálpebra superior. A este nível, esta porção
encontra-se ligada ao fórnix conjuntival superior.

Via de drenagem lacrimal


- As lágrimas são constantemente renovadas, sendo que a quantidade de lágrimas produzida é
compensada pela quantidade de lágrimas perdida, durante a evaporação ou absorção (ao longo da
conjuntiva), ou eliminada por via do sistema de drenagem nasolacrimal.
- As lágrimas são recolhidas ao nível do ângulo do epicanto medial, onde drenam para os pontos
lacrimais das papilas das pálpebras superior e inferior que, por sua vez, se encontram dirigidos para a
superfície do olho, para receber o fluido lacrimal.
- A partir de cada ponto lacrimal, as lágrimas drenam para os canalículos lacrimais (existe um
canalículo por pálpebra).
- O saco lacrimal constitui a extremidade superior fechada do canal nasolacrimal, que desce desde o
saco lacrimal até ao meato nasal inferior, onde se abre, por via de um orifício expandido localizado
anteriormente.

Filme lacrimal – fluído complexo que cobre as porções expostas da superfície ocular, permitindo
atenuar as irregularidades do epitélio corneano, criando, assim, uma superfície de boa qualidade ótica;é
renovado a cada pestanejar.
Note-se que a interface ar/filme lacrimal constitui a principal substância refratária do sistema ótico
do olho. Para além disso, permite também trocas gasosas necessárias à córnea (que é avascular).

170
Parte 2
Nota: Nas partes desta aula já lecionadas em histologia apenas adaptei os tópicos do sumário, de formaa
dar destaque a esses pontos aquando do estudo teórico de histologia.

EMBRIOLOGIA DO OLHO (já lecionado em histologia, ver TP7)


- Formação da vesícula ótica e o seu desenvolvimento em tacícula óptica, que vai possuir dois
folhetos: visceral (futuro epitélio sensorial da retina) e parietal (futuro epitélio pigmentar da retina)
- Formação do placódio lenticular e desenvolvimento do cristalino

ANATOMIA GERAL DO GLOBO OCULAR (já lecionado em histologia, ver TP5)


- Túnica fibrosa: esclerótica e córnea (maior parte do índice refrativo), limbo esclerocorneano
- Túnica vascular (úvea): coroide, corpos ciliares e íris
- Túnica interna: retina neurossensorial e epitélio pigmentar da retina

Secretado pelo corpo ciliar e reabsorvido


- Câmara anterior do globo ocular: com humor aquoso
no seio venoso esclerar (canal de Schlemm)
- Câmara posterior do globo ocular: com humor aquoso
- Câmara vítrea: com corpo vítreo (ocupa 4/5 do globo ocular; anteriormente a fossa hialoidéia é ocupada
pelo cristalino; consistência de gel mas no centro é mais líquido; canal hialoidéu entre o nervo óptico e face
posterior central do cristalino - remanescente embrionário do percurso da artéria hialoidéia fetal)

• A córnea e o cristalino (1/3 do índice refratário) focam as imagens na retina;

• O cristalino está suspenso pelas fibras zonulares que o ligam ao corpo ciliar; em repouso o cristalino
está ligeiramente achatado e o olho foca para objetos distantes; a contração do músculo ciliar relaxa
as fibras zonulares e a porção anterior do cristalino assume forma mais convexa, focando para objetos
próximos (acomodação).

• A íris influencia a luminosidade e a qualidade da imagem focada na retina; a pigmentação do estroma


da íris; a abertura da pupila é controlada pelos músculos esfíncter da pupila e dilatador da pupila, que
se encontram na íris:
- Músculo esfíncter da pupila – inervado pelos nervos ciliares curtos (com fibras pós-ganglionares
parassimpáticas que se originam no gânglio ciliar)
- Músculo dilatador da pupila – inervado por fibras simpáticas com origem no gânglio cervical
superior e que chegam ao músculo pelos nervos ciliares longos (ramos do nervo nasociliar) e nervos
ciliares curtos após passarem pelo gânglio ciliar sem fazer sinapse

171
VACULARIZAÇÃO DO GLOBO OCULAR – breve abordagem
Artéria central da retina - corresponde a um ramo da artéria oftálmica que se desloca inferiormente
ao nervo óptico de modo a entrar no globo ocular ao nível do disco ótico; tem como função a supressão
das necessidades sanguíneas das fibras nervosas do nervo óptico e também da porção interna da
retina. Note-se que a porção mais externa da retina (1/3 externo) é irrigada pela circulação coroideia.
Artérias ciliares – ramificam-se na ora serrata fornecendo capilares para a porção anterior da coroide.
Veias vorticosas – são formadas pelas junções dos tributários supra-coroideus e drenam para o seio
venoso esclerótico, unindo-se às veias ciliares.

Barreira hemato-retiniana – separa a retina neural da restante parte do olho e é formada por junções
apertadas (tight junctions) entre as células endoteliais dos capilares intraretinianos, funcionando
também como barreira imunológica – os macrófagos ficam impedidos de passar para a retina; para
além disso, as células pigmentares da retina também possuem tight junctions que impedem que
substâncias da esclerótica ou da coroide cheguem à retina. Assim, o transporte entre os capilares da
coroide e a porção mais externa da retina (camada dos fotorrecetores) é mediado por transporte ativo.

ORGANIZAÇÃO HISTOLÓGICA DA RETINA (já lecionado em histologia, ver TP5)

1- Epitélio pigmentar da retina 6- Camada granular interna


7- Camada plexiforme interna
2- Camada dos fotorrecetores 8- Camada das células ganglionares
3- Membrana limitante externa 9- Camadas das fibras
do nervo óptico
4- Camada granular externa 10- Membrana limitante
5- Camada plexiforme externa interna

Nota: a estrutura da retina é visualizável na prática clínica com tomografia ótica de coerência (OCT).

172
- Fotorrecetores

Existem 2 tipos de fotorrecetores: cones e bastonetes. Diferem na sua estrutura e em particularidades


da sua função geral - a transdução óptica.

Existem 5 milhões de cones e 100 milhões de bastonetes.

- o segmento externo possui discos membranares achatados, que


no caso dos bastonetes são intracelulares, enquanto que no caso
dos cones há ainda uma continuidade com a membrana celular;
possui pigmentos fotossensíveis: rodopsina (nos bastonetes) e
iodopsina (nos cones)
- os segmentos ciliares contêm muitas mitocôndrias e ligam os
segmentos externo e interno
- os segmentos internos produzem os pigmentos fotossensíveis
Bastonete Cone

- Disco óptico e fóvea

O disco óptico corresponde ao local da retina para onde convergem


as fibras do nervo óptico, que perfuram a esclerótica formando a
lâmina crivosa. Neste local não existem fotorrecetores, células
bipolares, nem células ganglionares, pelo que corresponde a um ponto
cego da retina. Contudo, não temos consciência disto pois o SNC
“preenche” a informação relativa ao campo visual que cai no ponto
cego de cada olho.

Perto do bordo lateral do disco óptico, encontra-se uma porção


circular da retina que corresponde à mácula lútea. No seu centro
encontra-se uma depressão de 1,5mm de diâmetro – a fóvea central.
Neste local as camadas mais internas da retina encontram-se
anguladas, de forma a que luz atinja diretamente a camada dos
fotorrecetores. Na porção central da fóvea encontra-se a fovéola que
corresponde ao local da retina onde apenas existem cones e em linha
com o eixo visual. Aqui cada cone faz sinapse com uma célula bipolar e esta com uma célula ganglionar.
Esta pequena convergência celular vai permitir um maior detalhe, mas também uma maior perda de
informação.
A densidade de cones decresce à medida que caminhamos para a periferia da fóvea e a de bastonetes
aumenta, atingindo o máximo de densidade externamente à mácula e depois mantendo-se constante. Na
chamada retina periférica (externa à mácula) temos muito mais convergência celular e neuronal, o que gera
perda de detalhe, mas ganho na sensibilidade.

173
- Transdução óptica

O fenómeno de fototransdução é um fenómeno peculiar em que a presença de luz leva a uma


hiperpolarização da membrana celular e do ambiente intracelular; a sua ausência permite aos
fotorrecetores manter estados de menor hiperpolarização, próximo do 0, um ambiente mais
despolarizante.

Isto acontece porque, tanto os cones como os bastonetes são providos nos seus discos de um
pigmento, opcina, que está associado a um cromóforo que é o 11-cis-retinal, que ao ser estimulado
por um fotão muda a sua forma para trans-retinal, separa-se deste complexo inicial e através de uma
cascata intracelular que envolve a proteína G transducina, que estimula uma enzima que converte o
cGMP em GMP.

É a diminuição ou o aumento da concentração de cGMP que vai condicionar o fecho ou a abertura de


canais iónicos na membrana celular, permitindo ou não uma entrada de cargas positivas para dentro
da membrana. Quanto mais cGMP, maior é a entrada de catiões para dentro da membrana celular,
portanto mais próximo de 0 se torna o ambiente intracelular. Quando o pigmento é estimulado, dá-sea
tal cascata intracelular que permite a conversão de cGMP em GMP, o encerramento desta canais e
portanto uma menor entrada de catiões para dentro da célula e uma hiperpolarização da mesma.

Note-se que 1 trans-retinal pode ativar dezenas de tranducinas, sendo que, por sua vez, cada uma
delas pode hidrolisar mil moléculas de cGMP por segundo. Isto permite uma enorme amplificação do
sinal visual.

• Os bastonetes têm uma enorme sensibilidade que permite que a amplificação do sinal seja extrema.
Contudo, são mais facilmente saturáveis e, por isso, apenas respondem a baixos níveis de intensidade
luminosa. Para além disso, só possuem um tipo de pigmento e, portanto, não conseguem discriminar
cor.

• Os cones têm menores quantidades de pigmento e, por isso, são menos sensíveis, embora mais
rápidos – requerem níveis elevados de luminosidade para serem ativados. Também a menor
convergência celular nas camadas da retina associada aos cones faz com que cada célula ganglionar
receba informação de um pequeno número de cones, o que contribui para a baixa sensibilidade, mas
maior resolução. Para além disso, existem 3 variedades de cones, com diferentes pigmentos, o que
permite a distinção cromática. A natureza tricromática da visão a cores deve-se ao facto de qualquer
cor no espetro da luz visível poder ser formada por uma combinação das três cores primárias
(vermelho, verde e azul).

174
VIA ÓPTICA E CORTÉX VISUAL

Nervo óptico – II
• Corresponde ao segundo par craniano.
• Tem origem ao nível do disco óptico, local onde convergem os axónios
das células ganglionares da retina. Na imagem conseguimos ainda
visualizar a dura-mater, continua com a esclerótica e com a aracnoide
intimamente aderente à sua face interna. Vemos depois, no asterisco o espaço subaracnoideu e aindaa
pia-mater aderente ao nervo óptico. Note-se que o aumento da pressão intracraniana pode provocar
compressão do nervo óptico e um inchaço característico – papiledema.
*
• O nervo óptico dirige-se postero-medialmente para iniciar o seu trajeto,
abandonando a cavidade orbitária pelo canal óptico; os dois nervos óticos
convergem e formam o quiasma óptico, que depois continuará como fitas
ópticas direita e esquerda.
• As fibras ópticas terminam principalmente no núcleo geniculado lateral
do tálamo, mas não só: também há relação com o colículo superior através
dos núcleos pré-tectais e com o epitálamo através do núcleo
supraquiasmático.
• Por fim, são direcionadas através da radiação óptica para o córtex visual:
- córtex visual primário: córtex estriado, área 17
- córtex visual de associação: áreas 18, córtex paraestriado e 19,
córtex periestriado, juntamente com áreas relacionadas no córtex parietal
e temporal
* Note-se que o que é temporal em termos de visão se projeta na retina nasal
Ao nível do quiasma óptico... e o que é nasal em termos de visão se projeta na retina temporal.

Apenas se dá uma decussação parcial dos axónios das células ganglionares: as fibras da metade nasal
de cada retina cruzam no quiasma óptico, enquanto as fibras da metade temporal não cruzam.
Assim, cada fita óptica contém fibras da metade nasal da retina contralateral e fibras da metade
temporal da retina ipsilateral.

Desta forma, cada fita óptica transporta uma representação do campo visual contralateral.

Ao nível do núcleo geniculado lateral...


O núcleo geniculado lateral organiza-se em 6 lâminas,
permitindo que as fibras ópticas terminem de forma
retinotópica.
Camadas 1, 4 e 6 – retina contralateral
Camadas 2, 3 e 5 – retina ipsilateral

Camada 1 e 2 – sistema magnocelular: axónios de células


ganglionares sensíveis a movimento e contraste (provenientes
de bastonetes)

Camadas 3 a 6 – sistema parvocelular: axónios de células


ganglionares sensíveis a cor e forma (provenientes de cones)
Note-se que o número de cones é muito menor, mas dada a menor convergência
celular das suas vias, ocupa muito mais espaço em representação a nível central.

175
Ao nível da radiação óptica...
As fibras que partem do núcleo geniculado
lateral projetam-se através das porções
sublenticular e retrolenticular da cápsula interna,
curvando-se em torno da parede lateral do
ventrículo lateral. Constituem a radiação óptica
(também designada por feixe geniculo-calcarino),
que termina no córtex visual.
Na radiação ótica mantém-se a presença de uma
organização retinotópica:
- as fibras que representam os campos
visuais inferiores e, portanto, retinianos superiores, encontram-se superiormente
- as que representam os campos visuais superiores e, portanto, retinianos inferiores, curvam-
se em torno do lobo temporal, formando a ansa de Meyer
- as fibras maculares ocupam uma região média larga

Ao nível do córtex visual...


A via visual termina retinotopicamente no córtex sob e sobre o sulco calcarino (área 17):
- campos visuais inferiores terminam sobre o sulco calcarino
- campos visuais superiores terminam sob o sulco calcarino
- a mácula encontra-se representada mais posteriormente, enquanto campos mais periféricos
se representam mais anteriormente

O córtex estriado estende-se, por uma curta distância, para a superfície posterior do lobo occipital,
encontrando-se rodeado pela área 18 (Córtex Paraestriado) que, por sua vez, se encontra rodeada pela
área 19 (Córtex Periestriado).

Essas duas últimas áreas, por sua vez, constituem a maior parte do resto do lobo occipital. As áreas
18 e 19, juntamente com as porções relacionadas dos lobos temporal e parietal, são normalmente
designadas por córtex de associação visual, ou por córtex extraestriado, encontrando-se altamente
interligadas com a área 17.

Note-se que a via magnocelular (mais relacionada com os bastonetes e portanto com a deteção de
movimento e de formas) é projetada para o córtex parietal posterior, sendo que a via parvocelular
(mais relacionada com os cones e portanto com a visão de detalhe e cor), que é mais ventral, é
projetada para o lóbulo temporal. São ‘trabalhadas’ no córtex extraestriado.

No córtex visual temos obviamente as 6 camadas


características do neocórtex, sendo a camada 4 a camada
recetora por excelência do córtex visual (é também onde o
córtex visual tem o aspeto estriado). Existe também a este
nível uma organização que se designa “colunas de dominância
ocular”: existem zonas mais sensíveis a determinadas cores ou
a determinada orientação do movimento...

O córtex projeta para o corpo geniculado lateral, colículo


superior, núcleos pré-tectais e núcleos dos nervos III, IV e VI.

176
Em relação ao colículo superior...

Como já vimos, algumas fibras da fita óptica terminam


no colículo superior e apesar desta via ser menos
relevante na globalidade da via visual, a maior parte da
informação que chega ao colículo superior é de natureza
visual, podendo ser proveniente da retina ou do córtex
estriado.

Aferentes do colículo superior:

• Fibras da fita óptica (algumas são colaterais do núcleo geniculado lateral) vão pelo braço
conjuntival superior (inferior ao núcleo geniculado medial) para o colículo superior
• Fibras do córtex visual primário também chegam ao colículo superior pelo braço conjuntival
superior, terminam no mapa retinotópico coincidente com as outras
• Recebe também o feixe espinotectal (colaterais de fibras que ascendem para o tálamo),
comunicações auditivas do colículo inferior e aferências de outras áreas do córtex

Eferentes do colículo superior:

• Projeções para a formação reticular (núcleo tegmental reticular)


• Colículo inferior
• Feixe tecto-espinhal
• Tálamo posterior (núcleo geniculado lateral e pulvinar)
• Pulvinar – projeta para as áreas 18 e 19 (córtex visual associação)

REFLEXO PUPILAR À LUZ


• Consiste na resposta à exposição aumentada da luminosidade: constrição pupilar.
• É direto e consensual, ou seja, ocorre quer no olho onde incide a luz, quer no contralateral.
• Relaciona-se com a via do colículo superior:
- fibras do nervo ótico atingem o colículo superior e sinaptizam nos
núcleos pré-tectais
- fibras de projeção partem desta área pré-tectal bilateralmente e
anteriormente à substância periaquedutal para o núcleo oculomotor
acessório (havendo decussação na comissura posterior)
- os dois núcleos oculomotores acessórios são estimulados e
projetam fibras pré-ganglionares para o gânglio ciliar, através do nervo
oculomotor
- após sinapse, as fibras pós-ganglionares dirigem-se para o
músculo ciliar através dos nervos ciliares curtos
- a contração do músculo constritor da pupila promove a miose, que
ocorre bilateralmente

177
REFLEXO DE ACOMODAÇÃO E CONVERGÊNCIA
• Consiste na resposta à focagem de um objeto que se encontre perto, que implica
que os olhos convirjam (para a imagem bater nas fóveas) e se acomodem (para
focar a imagem); há também constrição pupilar para aumentar a densidade focal.
• O reflexo pupilar não precisa de integração cortical, mas o de acomodação sim;
assim, este reflexo envolve um mecanismo mais complexo:
- fibras do nervo ótico atingem o núcleo geniculado lateral, que projeta
para o córtex visual
- o córtex visual tem uma resposta retrógrada para o área pré-tectal, que
estimula o núcleo oculomotor acessório, permitindo a emissão de eferências para o
m. ciliar – permite a acomodação do cristalino e para o m. esfíncter da pupila –
permite miose
- o córtex visual projeta também para os 2 núcleos oculomotores principais,
que emitem eferências para os músculos reto medial – permitindoa convergência

REFERÊNCIA GERAL À PATOLOGIA DO GLOBO OCULAR


Os défices que resultam nos danos de várias porções da via visual são designados de acordo com certas
convenções:
- Os défices visuais são sempre designados de acordo com a
perda do campo visual e não de acordo com a área da retina
que não se encontra funcional. Uma vez que a imagem
retinal se encontra invertida e revertida, danos nas áreas
temporais da retina levam a perdas do campo visual nasal,
enquanto danos nas áreas superiores da retina levam a
perdas do campo visual inferior.
- Estes défices podem estar associados à perda de metade
de um campo visual, sendo, neste caso, designados por
hemianopsia. Paralelamente, a quadrantanopia refere-se à
perda de um quarto docampo visual.
- Já uma condição homónima diz respeito a uma condição
em que as perdas do campo visual são similares em ambos
os olhos, enquanto numa condição heterónima os dois olhos
apresentam perdas nos campos visuais que não se
sobrepõem.
- As perdas homónimas, por sua vez, podem ser
congruentes (essencialmente idênticas), ou sobreponíveis
mas não-congruentes.

Em clínica, o défice visual apresentado permite prever o local da lesão na via visual.
Outros conceitos importantes:
Presbiopia: dificuldade de
Miopia: o ponto de focagem de um olho está
acomodação docristalino, na qual o mais anterior do que o normal; causa dificuldadede ver ao
posicionamento de um objeto a longe
uma curta distância dos olhos Hipermetropia: condição oposta à miopia Cataratas: ganho de
impede a sua correta visualização;
surge com a idade devido à menor opacidade no cristalino
capacidade de contração dos m.
ciliares

178
T17 – Nervos Trigémio e Facial.
Estes dois pares de nervos cranianos são abordados em conjunto porque alguma informação que tem
origem ou destino nos núcleos do nervo facial vai chegar ao seu destino através de ramos do trigémio,
nomeadamente a informação secretomotora para as glândulas lacrimal e para as glândulas salivares
submandibular e sublingual e também alguma informação do paladar associada ao palato e ao 2/3
anteriores da língua.

NERVO TRIGÉMIO - V
O nervo trigémio é um dos maiores nervos cranianos e é um nervo misto, embora tenha
essencialmente a seu cargo uma inervação sensitiva – da face, de parte do couro cabeludo e das
cavidades oral, nasal e orbitária.
Assim, tem duas componentes funcionais:
• fibras aferentes somáticas gerais: relacionada com a exteroceção (tato, dor, pressão e
temperatura) e proprioceção
• fibras eferentes viscerais especiais: relacionada com a inervação dos músculos derivados do
primeiro arco faríngeo (músculos da mastigação, ventre anterior do digástrico, tensor do tímpano e
tensor do véu do paladar)

A designação deste nervo deve-se à sua divisão em três grandes ramos: oftálmico (V1), maxilar (V2) e
mandibular (V3). A área de inervação do nervo divide-se em 3 colunas que não são horizontais: curvam-
se superiormente, pois a pele da cara desloca-se superiormente aquando do desenvolvimento do
encéfalo e do crânio. Na verdade, embriologicamente cada ramo do trigémio encontra-se associado a
uma apófise facial (frontonasal, maxilar e mandibular), que originará mais tarde uma área especifica da
face adulta.
Note-se que a inervação do trigémio se entende
posteriormente até à sutura lambdoide e
inferiormente até ao bordo inferior da mandíbula.
No entanto, a área retromandibular não é inervada
por este nervo, mas sim pelo nervo grande auricular
do plexo cervical.

→ Origem aparente
Aparentemente, o nervo trigémio parte da superfície anterolateral da ponte, separando-a do
pedúnculo cerebeloso médio, sendo aí constituído por duas raízes: sensitiva (maior e inferior) e
motora.
Estas duas raízes dirigem-se anteriormente e perfuram a dura-mater, transportando consigo uma
manga de dura e aracnoide, que ao nível da impressão trigeminal da face anterior da porção petrosa
do temporal alarga para envolver o gânglio trigeminal (ou semilunar), que aí se origina. É um gânglio
achatado e semilunar, que se estende obliquamente desde a parede lateral do seio cavernoso até fossa
ténue presente na superfície anterior do rochedo do temporal.
A maior parte das fibras que atravessam este gânglio apresentam nele os seus corpos celulares,
constituindo neurónios pseudounipolares que transportam informação exterocetiva; no entanto as
fibras motoras e as fibras sensitivas com origem no núcleo sensitivo mesencefálico do trigémio, que
transportam informação propriocetiva, apresentam os seus corpos celulares no núcleo respetivo.
179
A partir do gânglio trigeminal, partem prolongamentos periféricos que dão então origem às três
divisões do nervo trigémio:
- oftálmica, que entra na cavidade orbitária pela fissura orbitária superior;
- maxilar, que entra na fossa pterigopalatina pelo buraco redondo
- mandibular, que passa pelo buraco oval

→ Raiz sensitiva e núcleos sensitivos do trigémio


Corresponde à maior raiz deste nervo e recebe fibras aferentes que veiculam informação exterocetivae
propriocetiva desde a periferia até ao SNC, relacionando-se com 3 núcleos sensitivos que se localizam
entre o mesencéfalo rostral e a região cervical superior da medula espinhal.
As fibras que partem do gânglio trigeminal e que constituem esta raiz podem ser de dois tipos: 1 e 2.
E ao entrar na protuberância dividem-se em:
- fibras que correm dorsomedialmente em direção ao núcleo sensitivo
principal. (1)
- fibras descendentes, que vão formar o feixe espinhal do trigémio,
onde as fibras se encontram organizadas somatotopicamente: (de
ventrolateral para dorsomedial) oftálmicas, maxilares e mandibulares.
Este feixe recebe também fibras das raízes sensitivas dos nervos facial,
glossofaríngeo e vago, que estarão mais caudalmente. (1)
- fibras ascendentes, que se dirigem para o núcleo mesencefálico do
trigémio, constituindo prolongamentos periféricos de neurónios
pseudounipolares cujo corpo celular se encontra no núcleo respetivo e
não no gânglio. Estas fibras conduzem proprioceção dos músculos da
mastigação (principalmente, mas também da mímica e alguns
extraoculares...). Note-se que o núcleo mesencefálico do trigémio é o
local onde se efetua a sinapse do único reflexo supra-espinhal
monosináptico – reflexo masseterino. (2)
180
Núcleo sensitivo principal
• Localiza-se na protuberância, lateralmente ao núcleo motor do trigémio;
• Relaciona-se com o tato discriminativo e a pressão;
• O primeiro neurónio desta via encontra-se então no gânglio trigeminal e após
sinapse neste núcleo, as fibras podem seguir duas vias ascendentes distintas, em
direção ao núcleo VPM do tálamo, para que depois se emitam emite fibras para a
região correspondente do córtex somatossensitivo:
1- Através do lemnisco trigeminal ou feixe trigeminotalâmico, terminam
no núcleo VPM contralateral do tálamo; note-se que este lemnisco se
junta ao lemnisco medial;
2- Através do feixe trigeminotalâmico dorsal, terminam no núcleo VPM
ipsilateral do tálamo.

Núcleo espinhal
• Localiza-se desde a protuberância e bolbo até ao terceiro segmento cervical;
• A informação associada à dor e à temperatura é veiculada pelo feixe espinhal
do trigémio, que é um feixe descendente com origem em fibras da raiz sensitiva
do gânglio trigeminal e que termina então neste núcleo bastante longo. O feixe
espinhal vai ser continuo com o fascículo dorsolateral de Lissauer e o núcleo com
a lâmina II da medula espinhal.
• O feixe e uma parte do núcleo são visíveis no tuberculum cinereum.
• O primeiro neurónio desta via encontra-se no gânglio trigeminal; o 2º origina-
se após a sinapse no núcleo espinhal e vai decussar, ascendendo no lemnisco
espinhal, dirigindo-se para o núcleo VPM do tálamo, onde estará o 3º neurónio,
que emite fibras para a região correspondente do córtex somatossensitivo.
Note-se que no núcleo espinhal a informação está organizada somatotopicamente.
• Dado a dimensão deste núcleo, ele é dividido em 3 porções:
- Porção Oral (desde a protuberância ao N. Hipoglosso)
- Porção Interpolar
- Porção Caudal (desde o óbex até C2)

181
Núcleo mesencefálico
• Localiza-se ao nível do mesencéfalo e corresponde a uma exceção do SNC, uma vez que contém os
corpos celulares do 1º neurónio (pseudounipolar) desta via e normalmente, este primeiro neurónio
localiza-se no SNP.
• Relaciona-se com a proprioceção dos músculos da mastigação e mecanorrecetores dos dentes,
gengivas e palato duro.
• Possui então os corpos celulares de neurónios pseudounipolares (únicos no SNC), cujo
prolongamento periférico veio pelo gânglio trigeminal. Através do feixe mesencefálico trigeminal
emite prolongamentos centrais que se dirigem para o núcleo motor do trigémio, para o núcleo rubro,
para o cerebelo e para a formação reticular.

→ Raiz motora e núcleo motor do trigémio


A raiz motora do trigémio é então mais pequena e possui fibras eferentes, responsáveis pela
inervação dos músculos derivados do primeiro arco braquial.
Núcleo motor do trigémio
• Localiza-se na protuberância, medialmente ao núcleo sensitivo principal.
• Possui o corpo celular de neurónios motores, cujos axónios formam a raiz motora do nervo trigémioe
que após passarem no gânglio trigeminal (sem realizarem sinapse), são distribuídos perifericamente
através do ramo mandibular do nervo trigémio.
• Já as suas aferências provêm sobretudo do córtex cerebral (por via de feixes cortico-bulbares), mas
também de núcleos sensitivos do trigémio (essencialmente do mesencefálico, permitindo o reflexo
massetérico), do núcleo rubro, da formação reticular, do fasciculo longitudinal medial.

→ Divisão oftálmica do nervo trigémio


A divisão oftálmica do nervo trigémio é totalmente sensitiva e tem um trajeto muito curto, dirigindo-
se para o seio cavernoso, onde se encontra na parede lateral inferiormente ao troclear e ao oculomotore
superiormente à divisão maxilar.
Antes de entrar na órbita pela fissura orbitária superior, dá origem a 3 ramos terminais: lacrimal,
frontal e nasociliar.

182
NERVO LACRIMAL
• Vai entrar na órbita superiormente ao anel tendinoso comum através da fissura orbitária superior.
• Passa ao longo da parede lateral da orbita lateralmente aos nervos frontal e troclear e ao nível do
bordo superior do musculo reto lateral, terminando na face profunda da glândula lacrimal.
• Veicula informação exterocetiva das estruturas periféricas do epicanto lateral do olho: pálpebras
superior e inferior, glândula lacrimal e metade lateral da conjuntiva.
• Comunica com o nervo zigomático-temporal, que transporta fibras parassimpáticas pós-
ganglionares secretomotoras (provenientes do gânglio pterigopalatino), destinadas à glândula lacrimal
(fibras eferentes viscerais gerais).
NERVO FRONTAL
• É o maior ramo da divisão oftálmica do nervo trigémio e entra na órbita superiormente ao anel
tendinoso comum através da fissura orbitária superior.
• Divide-se em nervo supraorbital e nervo supratroclear:
- Nervo supraorbital
• Corresponde ao maior ramo terminal do nervo frontal e é lateral
• Continua-se anteriormente ao longo do músculo elevador da pálpebra superior até
abandonar a órbita pelo buraco supraorbital.
• Tem um trajeto longo, no qual contorna todo o osso frontal para se estender
posteriormente até à sutura lambdoide.
• Faz a inervação sensitiva da região do couro cabeludo que é inervada pelo trigémio.

- Nervo supratroclear
• Corresponde ao ramo medial do nervo frontal.
• Passa superiormente à tróclea do músculo oblíquo superior e emerge no epicanto
medial do olho.
• Faz a inervação sensitiva das pálpebras, do lago caruncolo-lacrimal, do lago lacrimal e
da conjuntiva adjacente.
NERVO NASOCILIAR
• Dos 3 ramos do nervo oftálmico é o que se encontra mais profundamente na órbita, entrando
internamente ao anel tendinoso comum. Só é visível após remoção do músculo reto superior.
• Cruza o nervo óptico juntamente com a artéria oftálmica para se dirigir para a parede medial da
órbita, onde se continua como nervo etmoidal anterior.
• Dá origem a 3 ramos: etmoidal posterior, infra-troclear e ciliares longos.
- Nervo etmoidal anterior
• Atravessa o buraco etmoidal anterior para entrar na cavidade craniana, que abandona
deslocando-se sobre a lâmina crivosa do etmoide. Desce para a cavidade nasal, internamente
ao osso nasal.
• Na cavidade nasal origina dois ramos nasais interno: um medial e um lateral, que
inervam sensitivamente a porção anterior da mucosa do septo nasal e da parede lateral da
cavidade nasal.
• Emerge depois no bordo inferior do osso nasal, profundamente ao músculo nasal como
ramo nasal externo que inerva a pele do nariz.
183
- Nervo etmoidal posterior
• Abandona a órbita através do buraco etmoidal posterior.
• Faz a inervação sensitiva do seio esfenoidal e das células aéreas etmoidais.
- Nervo infra-troclear
• Abandona a órbita inferiormente à tróclea.
• Inerva a pele das pálpebras, a conjuntiva, o saco lacrimal, a carúncula lacrimal e o local
do nariz superior ao epicanto medial do olho.

- Nervos ciliares longos


• São 2 ou 3 e surgem quando o nervo nasolacrimal cruza o nervo óptico.
• Acompanham os nervos ciliares curtos, perfuram a esclerótica e inervam sensitivamente
o corpo ciliar, a íris e a coroide.
• Contêm fibras simpáticas pós-ganglionares para o músculo dilatador da pupila, que têm
origem no gânglio cervical superior. Note-se que também há fibras simpáticas nos nervos
ciliares curtos que passam pelo gânglio ciliar sem sinaptizar.
→ Divisão maxilar do nervo trigémio

A divisão maxilar do nervo trigémio emerge do crânio


através do buraco redondo, que leva até à fossa
pterigopalatina. É, tal como a divisão oftálmica, totalmente
sensitiva.
Ainda na cavidade craniana origina um ramo meníngeo. No
interior da fossa pterigopalatina relaciona-se com o gânglio
pterigopalatino do SN Autónomo e é também a este
nível que origina muitos dos seus ramos: um ramo
ganglionar e nervos zigomático e alveolar superior posterior.
Após entrar no canal orbitário inferior, continua-se como
nervo infraorbitário e origina 2 ramos: alveolar superior
médio e alveolar superior anterior. Abandona a órbita
através do buraco infraorbitário, emergindo na cara, onde
origina 3 ramos cutâneos: palpebrais, nasais e labiais
superiores.
184
- RAMO MENÍNGEO: surge ao nível da fossa craniana média, antes do nervo maxilar emergir pelo
buraco redondo; contribui para a inervação da dura mater.

- RAMO GANGLIONAR: existem normalmente 2 e unem o nervo maxilar ao gânglio pterigopalatino, no


interior da fossa palatina.
- NERVO ZIGOMÁTICO: tem origem na fossa pterigopalatina e dirige-se para a órbita pela fissura
orbitária inferior; na base da parede lateral da órbita divide-se em 2 ramos:
• Nervo zigomático-temporal: através do buraco zigomático-facial emerge para a fossa
temporal, onde ascende por entre o osso e o músculo temporal, antes de perfurar a fáscia temporal,
de forma a inervar a pele da região posterolateral aos olhos; emite um ramo comunicante que termina
ao nível do nervo lacrimal, com fibras secretomotoras eferentes viscerais gerias para a glândula
lacrimal.
• Nervo zigomático-facial: emerge através do buraco zigomático-facial do osso zigomático e
perfura o orbicular do olho para inervar a pele da bochecha.
- NERVO ALVEOLAR SUPERIOR POSTERIOR: tem origem na fossa pterigopalatina e desloca-se
anteriormente para perfurar a face infratemporal da maxila; faz parte do plexo alveolar superior,
responsável pela inervação dos dentes.

- NERVO INFRAORBITÁRIO: pode ser entendido como um ramo terminal do nervo maxilar que se
origina aquando da sua passagem no canal orbitário inferior para abandonar a fossa pterigopalatina; à
medida que se desloca anteriormente no pavimento da órbita origina dois nervos do plexo alveolar;
quando emerge na cara, através do buraco infraorbitário, situa-se entre os músculos elevador do lábio
superior e elevador do ângulo da boca e origina 3 ramos cutâneos: palpebrais, nasais e labiais
superiores.
• Nervo alveolar superior médio
• Nervo alveolar superior anterior
• Ramos palpebrais, nasais e labiais superiores: correspondem a ramos cutâneos.

O gânglio pterigopalatino está topograficamente relacionado com o nervo maxilar, encontrando-se


na fossa pterigopalatina, abaixo deste. Os seus axónios projetam-se para as glândulas lacrimais e
mucosa nasal, controlando o fluxo sanguíneo na mucosa nasal. Possui 3 raízes:
- raiz sensitiva que deriva de dois ramos esfenopalatinos do nervo maxilar e cujas fibras vão
formar os nervos palatinos (ramo do nervo maxilar cujas fibras podem entrar neste gânglio)
- raiz simpática que contém eferentes do gânglio cervical superior e que chegam pelo nervo do
canal pterigoide
- raiz motora ou parassimpática que emite fibras pós-ganglionares que inervam a mucosa nasal,o
palato mol, as amígdalas, a úvula e as gengivas

Relacionados com o gânglio pterigopalatino, importa falar de 2 outros ramos do nervo maxilar:
- NERVOS NASAIS: inervam a porção posterior da cavidade nasal, tendo particular destaque o nervo
nasopalationo
- NERVOS PALATINOS: cruzam o gânglio e recebem fibras secretomotoras pós-ganglionares
parassimpáticas destinadas às glândulas nasais e palatinas; Destaque para o nervo palatino maior que
inerva o palato duro e para o nervo palatino menor que inerva a úvula e o palato mole.

185
→ Divisão mandibular do nervo trigémio
Corresponde à maior divisão do nervo trigémio e é a única mista, ou seja, sensitiva (para os dentes,
gengivas, pele da região temporal, parte da orelha, lábio inferior porção inferior da cara, mucosa dos
2/3 anteriores da língua e pavimento da cavidade oral) e motora (para os músculos da mastigação,
ventre anterior do digástrico, tensor do tímpano e tensor do véu do paladar). As fibras motoras e
sensitivas unem-se na fossa infratemporal.
O nervo mandibular origina um ramo meníngeo e um
nervo para o pterigoide medial. De seguida, o nervo divide-
se num pequeno tronco anterior (que dá nervos para os 4
músculos principais da mastigação, assim como um nervo
bocal, sensitivo para a bochecha) e num tronco posterior
de maiores dimensões (que origina 3 ramos sensitivos e
nervos motores para o milo-hioideu e para o ventre
anterior do digástrico).

RAMO MENÍNGEO: entra no crânio através do buraco


espinhoso, juntamente com a artéria meníngea média;
divide-se num rami anterior e posterior e é responsável
pela inervação da dura mater.
NERVO PARA O PTERIGOIDEU MEDIAL: inerva o pterigoideu medial, o tensor do véu do paladar e o
tensor do tímpano.

TRONCO ANTERIOR – maior parte das fibras motoras:


- Nervo bucal: único sensitivo deste tronco; inerva a pele que cobre a porção anterior do bucinador;
- Ramo para o masséter: também emite ramos articulares para a ATM
- Nervos temporais profundos: existe um anterior e um posterior
- Nervo para o pterigoideu lateral

TRONCO POSTERIOR – maior parte das fibras sensitivas; inerva o ventre anterior do digástrico e o milo-
hioideu
- Nervo auriculotemporal: tem 2 raízes que rodeiam a artéria meníngea média; vai estar profundo
ao pterigoideu lateral; emite ramos auriculares anteriores, ramos para o meato acústico externo,
ramos parotídeos e ramos temporais superficiais
- Nervo alveolar inferior: vai-se dirigir para o buraco mandibular e aí divide-se num ramo
mentoniano, num ramo para o milo-hioideu e num ramo labial inferior
- Nervo lingual: vai ser sensitivo para 2/3 anteriores da língua, pavimento da boca, gengivas e
mandíbula; vai conter também informação gustativa dos 2/3 anteriores da língua e eferentes
parassimpáticos para glândulas submandibular e sublingual; recebe um ramo do nervo facial (a corda
do tímpano)

186
REFLEXO MASSETERINO
Corresponde ao reflexo de contrair bilateralmente os masséteres após estimulação da extremidade
do mento. Normalmente a amplitude do reflexo é pequena, estando aumentada aquando de uma
lesão no neurónio motor superior.
A componente sensitiva (aferente) é da responsabilidade dos neurónios trigeminais mesencefálicos
cujas projeções periféricas inervam fibras massetéricas e cujas projeções centrais sinaptizam ao nível
dos neurónios motores trigeminais. Os neurónios motores trigeminais formam a via eferente do
reflexo massetérico. Este corresponde ao único reflexo mono-sináptico supra-espinhal.

LESÕES NO NERVO TRIGÉMIO – aplicação clínica

A nível clínico importa relembrar os dermátomos da cabeça e do pescoço e as áreas correspondentesa


cada uma das 3 divisões do nervo trigémio.

A nevralgia trigeminal é uma condição caracterizada por breves ataques de dor agonizante ao nível
da área de inervação de uma divisão do nervo trigémio. Muitas vezes leva ao suicídio.
Normalmente há uma “zona gatilho” cuja estimulação provoca um ataque.
Na maioria dos casos, a patologia surge por compressão do nervo através de um vaso sanguíneo ou
de um tumor, o que resulta na desmielinização e atividade espontânea das fibras deste nervo.
Existe tratamento farmacológico e cirúrgico (varia dependendo da causa e da área afetada, mas dois
exemplos são a colocação de material inerte a separar o vaso sanguíneo do nervo ou corte do feixe
espinhal trigeminal). Em última opção pode recorrer-se à canulação do buraco oval para atingir o
gânglio trigeminal. No entanto, esta intervenção tem grande taxa de insucesso por várias complicações
que podem ocorrer:
- Passagem pelo buraco emissário esfenoidal (de Vesalius) com punção do seio cavernoso pode
provocar hematoma no lobo temporal;
- Hemorragia por perfuração da artéria carótida interna que pode levar à morte;
- Se for mal-executada pode-se passar pelas fissuras orbitárias e provocar cegueira.

187
NERVO FACIAL – VII
O nervo facial corresponde ao sétimo par craniano e é um nervo misto, possuindo 4 componentes
funcionais:
• fibras aferentes somáticas gerais: associam-se ao feixe espinhal trigeminal e são responsáveis
pela inervação da pele do ouvido externo
• fibras aferentes viscerais especiais: associam-se ao núcleo do feixe solitário e são responsáveis
pela sensação gustativa dos 2/3 anteriores da língua e pela inervação do palato
• fibras eferentes viscerais gerais: associam-se ao núcleo salivar superior e são responsáveis
pela informação secretomotora para as glândulas lacrimais, submandibular, sublingual, nasais e
palatinas
• fibras eferentes viscerais especiais: associam-se ao núcleo motor do facial e são responsáveis
pela inervação dos músculos derivados do 2º arco braquial (músculos da mímica, ventre posterior do
digástrico, estapédio, estilo-hioideu e músculos do pavilhão auricular)

→ Origem aparente e trajeto do facial


O nervo facial tem origem aparente ao nível da porção lateral do sulco bolbo-protuberancial,
imediatamente acima da oliva, por via de uma raiz motora, mais medial e outra sensitiva. A raiz motora é
representada pelo nervo facial propriamente dito, enquanto a sensitiva recebe o nome de nervo
intermédio.
Estas duas raízes entram separadamente no osso
temporal, através do meato acústico interno, juntamente
com o nervo vestibulococlear. A este nível as raízes
misturam-se, constituindo o nervo facial propriamente
dito.
Na terminação do meato, o nervo facial entra no canal
facial, que se desloca ao longo da parede medial e
posterior da cavidade timpânica. Verifica-se a formação
de uma curva (joelho), que aloja o gânglio geniculado.
Após a formação do gânglio geniculado, o nervo facial
curva 130° e passa lateralmente ao vestíbulo,
superiormente à janela oval e inferiormente ao canal
semicircular lateral.
Na parede medial do ouvido médio origina o nervo para o
Estapédio. Depois desce para o buraco estilomastoideu e
emerge da base do crânio e, quase imediatamente, origina o
a corda do tímpano, o nervo para o ventre posterior do
digástrico, o nervo para o estilohióide e o nervo auricular
posterior, que inerva a porção occipital do occipitofrontal,
bem como alguns músculos auriculares.
O nervo facial dirige-se subsequentemente para a glândula
parótida, sendo laterais a apófise estiloide, a veia
retromandibular e a artéria carótida externa. Entra na
glândula ao nível da sua superfície póstero-medial (na região
superior) e desloca-se em direção ântero-inferior,
posteriormente ao ramo mandibular. Ao nível da substância

188
da glândula parótida, ramifica-se num tronco superior (temporofacial) e num tronco inferior (cervico-
facial), que se ramificam ainda mais para formar um plexo parotídeo, a partir do qual emergem da face
antero-medial da glândula cinco ramos terminais divergentes, para inervar os músculos da expressão
facial.
→ Núcleos de origem e terminação do nervo facial

• As fibras aferentes viscerais especiais, que transportam a informação gustativa dos 2/3 anteriores da
língua (das papilas gustativas) vão agrupar-se juntamente com outras associadas aos nervos
glossofaríngeo e vago, formando o feixe solitário. Este feixe termina ao nível do núcleo do trato
solitário, que se estende desde o bolbo rostral até à protuberância caudal. Após sinapse, as fibras
ascendem ipsilateralmente até ao núcleo VPM do tálamo, que depois emite projeções para o córtex
gustativo primário (na ínsula). (A via gustativa é vista com mais pormenor na T15 e T18)

• Ao nível do núcleo olivar superior, que se localiza ao nível da formação reticular, próximo do ângulo
interno do nervo facial, originam-se fibras pré-ganglionares parassimpáticas que irão depois fazer
sinapse em gânglios como o submandibular ou o pterigopalatino, originando fibras pós-ganglionares
que inervam as glândulas lacrimais, submandibular, sublingual, nasais e palatinas. (fibras eferentes
viscerais gerais)
• As fibras eferentes viscerais especiais têm origem no núcleo
motor do nervo facial, que se localiza profundamente na
formação reticular da porção caudal da protuberância e que se
divide em 2 porções:
- porção dorsal: recebe aferências corticonucleares
bilaterais e emite eferências que inervam a metade superior da
face (permite que os músculos da parte superior da face se
contraiam em simultâneo)
- porção ventral: recebe aferências corticonucleares
contralaterais e emite eferências que inervam a metade inferior Note-se as fibras do nervo facial a
contornarem o núcleo do nervo
da face (cujos músculos dos dois lados se contraem de forma
abducente, ao nível do colículo facial.
independente)
Nota: A via cortico-bulbar permite o controlo cortical dos núcleos motores dos nervos cranianos. As fibras cortico-bulbares originam-se nas
porções de representação da cabeça e cara ao nível da circunvolução pré-central e regiões adjacentes do córtex, projetando-se, geralmente,
bilateralmente para os núcleos motores branquiais e somáticos dos nervos cranianos, ou para regiões adjacentes da formação reticular. A
exceção é o núcleo motor do facial, que na sua porção ventral só recebe aferência contralaterais.
(+ nas pp 266-267 sebenta)
189
→ Ramos do nervo facial
1. Os ramos que têm origem no canal facial podem ser divididos em ramos que têm origem no
gânglio geniculado (n. petroso maior) e ramos que não têm origem no gânglio geniculado (os outros).

NERVO PETROSO MAIOR: é o maior ramo com origem no


gânglio geniculado e surge do nervo intermédio (raiz
sensitiva do nervo facial);
• Orienta-se anteriormente, recebendo um ramo do plexo
timpânico e emerge na fossa craniana média através do
hiato na face anterior da porção petrosa do osso temporal;
entra depois num sulco, passando sob o gânglio trigeminal
para chegar ao buraco lácero. Aqui, recebe o nervo petroso
profundo (proveniente do plexo simpático carotídeo
interno), e torna-se no nervo do canal pterigoide (nervo
Vidiano), que se dirige para o gânglio pterigopalatino.
• Assim, o nervo petroso maior é misto; contém:
- fibras eferentes viscerais gerais – fibras pré-
ganglionares parassimpáticas com origem no núcleo salivar superior destinadas ao gânglio
pterigopalatino (que depois irão terminar na glândula lacrimal via nervo zigomático e nervo lacrimal;
nas glândulas nasais e palatinas via nervos nasais e palatinos)
- fibras aferentes viscerais especiais – prolongamentos periféricos de neurónios que estão
localizados no gânglio geniculado, provindo das papilas gustativas localizadas no palato mole

NERVO PARA O ESTAPÉDIO: parte do nervo facial, ao nível do canal do nervo facial, posteriormente à
eminência piramidal da parede posterior da cavidade timpânica; passa anteriormente, através de um
pequeno canal, para chegar ao músculo estapédio.
Nota: o estapédio é um pequeno músculo do ouvido, cuja função se prende com o controlo da amplitude das ondas
sonoras provenientes do meio externo (reflexo esteato-acústico). Indivíduos com este nervo lesado sofrem de hiperacusia.

CORDA DO TÍMPANO: parte do nervo facial, superiormente ao


buraco estilomastoideu, e desloca-se antero-superiormente
num canal, para entrar na cavidade timpânica, por via do
canalículo posterior; curva-se anteriormente ao nível da
membrana timpânica, por entre as suas camadas fibrosa e
mucosa, e cruza medialmente até à parede anterior da cavidade
timpânica, onde entra no canalículo anterior; vai sair do crânio
pela fissura petrotimpânica e passa diretamente para a fossa
infratemporal, integrando aqui o nervo lingual que pertence ao
tronco posterior do nervo trigémio, para chegar ao seu destino
final.
• Contém:
- fibras aferentes viscerais especiais - veiculam informação de carácter gustativo (2/3 anteriores
da língua) através de prolongamentos periféricos de neurónios do gânglio geniculado
- fibras eferentes viscerais gerais – veiculam fibras secretoras pré-ganglionares parassimpáticas
com origem no núcleo olivar superior, que abandonam o SNC através do nervo intermédio e que
posteriormente são segregadas para a corda do tímpano para alcançarem o gânglio submandibular
através de ramos comunicantes ganglionares do nervo lingual, que passa na proximidade da glândula
submandibular e sublingual
190
RAMO SENSITIVO: origina-se na passagem do nervo facial no
buraco estilomastoideu e consiste num ramo auricular para a
concha auricular.

RAMOS MUSCULARES: originam-se imediatamente após a saída


do nervo facial pelo buraco estilomastoideu e são constituídos
por fibras eferentes viscerais especiais:
- Nervo auricular posterior: fibras motoras para o
músculo occipitofrontal e para os músculos auriculares também
- Ramo para o ventre posterior do digástrico
- Ramo para o estilohioideu

2. Ao entrar na glândula parótida, o nervo facial ramifica-se num tronco superior (temporofacial) e
num tronco inferior (cervico-facial), que se ramificam ainda mais para formar o plexo parotídeo, a
partir do qual emergem da face antero-medial da glândula cinco ramos terminais divergentes, para
inervar os músculos da expressão facial.

RAMOS TEMPORAIS: são normalmente múltiplos e atravessem superficialmente a arco zigomático em


direção à região temporal e vão inervar o ventre anterior do occipitofrontal, o orbicular dos olhos, o
corrugador, auriculares anterior e superior.

RAMOS ZIGOMÁTICOS: também são múltiplos e atravessam o arco zigomático em direção ao epicanto
lateral dos olhos e vão suprir o orbicular dos olhos.

RAMOS BUCAIS: têm uma distribuição inferior à orbita e à volta da boca e normalmente estão
localizados inferiormente ao ducto parotídeo. Inerva: zigomático maior e menor, elevador do lábio
superior, elevador do angulo da boca, elevador do lábio superior e da asa do nariz, músculos nasais,
bucinador e orbicular da boca.

RAMOS MARGINAIS DA MANDIBULA: dirigem-se para o angulo da mandibula, profundo ao platisma.


Estes ramos inervam os músculos do lábio inferior e queixo.

RAMO CERVICAL: está profundo ao platisma e dirige-se para a região cervical. Inerva o platisma e
comunica com o nervo cervical cutâneo transverso.

De salientar que estes ramos terminais têm muitas conexões com os nervos da vizinhança que
também inervam estas regiões (p.e. nervo auriculotemporal, nervo lingual, ramo auricular do nervo
vago) e existe uma grande variação anatómica.

191
Gânglio pterigopalatino
• É o maior gânglio parassimpático periférico.
• Localiza-se profundamente na fossa pterigopalatina, próximo do
buraco esfenopalatino e anteriormente ao canal pterigoideu e buraco
redondo.
• Tem 3 raízes:
- Raiz sensitiva
- A maioria dos seus ramos são fibras sensitivas da divisão maxilar do nervo trigémio, vindas do palato,
mucosa nasal, faringe e órbita, que passam pelo gânglio sem sinapses, entrando no nervo maxilar
através dos seus ramos ganglionares.
- Raiz motora ou parassimpática
- Nervo do canal pterigóide (origem no nervo petroso maior)
- Raiz simpática
- Corresponde a fibras pós-ganglionares com origem no gânglio cervical superior da cadeia do
simpático, que atravessam o plexo carotídeo interno e o nervo petroso profundo
- Também incorporada no Nervo do canal pterigoideu

• Ramos:
- Orbitários - Nasais
- Palatinos: - Faríngeos
- grande nervo palatino
- pequenos nervos palatinos
Gânglio submandibular
• Corresponde a um dos 4 gânglios parassimpáticos da cabeça e do pescoço.
• É pequeno e tem forma fusiforme;
• Localiza-se sobre a porção profunda da glândula submandibular, no músculo hioglosso, próximo do
bordo posterior do milohioideu;
• Está inferiormente ao nervo lingual, do qual está suspenso por filamentos anteriores e posteriores
(do posterior recebe um ramo da corda do tímpano).
• Tem 2 raízes:
- Raiz motora parassimpática
- Corresponde ao filamento posterior de conexão com o
nervo lingual
- Fibras pré-ganglionares do núcleo salivar superior >
nervo facial > corda do tímpano > nervo lingual > sinapse
gânglio > fibras secretomotoras para glândulas
submandibular e sublingual
- Raiz simpática
- Corresponde ao filamento anterior de conexão com o nervo lingual, viajando com este as fibras para as
glândulas sublingual e linguais anteriores; tem também ramos diretos para a glândula submandibular e canal
submandibular
- Fibras com origem no gânglio cervical superior, que rodeiam a artéria facial e que atravessam o gânglio
sem fazer sinapse e que são vasomotoras

192
REFLEXO CORNEANO
O Reflexo Corneano corresponde ao reflexo de “Piscar os Olhos”, sendo que consiste no fecho de
ambos os olhos aquando da estimulação da córnea. Esta estimulação provoca uma resposta direta, no
olho estimulado, e uma resposta indireta no olho contralateral. A razão evolucionária para a existência
deste reflexo prende-se com a proteção dos olhos contra corpos estranhos.
Tal como os outros arcos reflexos, o reflexo corneano possui um componente sensitivo, aferente (da
responsabilidade do nervo trigémio) e outro motor, eferente (da responsabilidade do nervo facial).
Este reflexo é mediado pelo ramo nasociliar da divisão oftálmica do trigémio, que é responsável pela
sensibilidade da córnea. Estas fibras sinaptizam em interneurónios do núcleo sensitivo do trigémio,
que conectam com o núcleo motor do facial, que via ramos temporais e zigomáticos inicia a resposta
motora.

LESÕES NO NERVO FACIAL – aplicação clínica


A paralisia facial pode dever-se a uma lesão a um nível superior ao núcleo motor do nervo facial ou a
um nível inferior a este, algo que traz consequências distintas.
Uma lesão supra-nuclear, ou central, está
associada a uma lesão no feixe cortico-bulbar,
sendo caracterizada por uma paralisia da
metade inferior da face contralateral à lesão
(as fibras no feixe cortico-bulbar cruzam antes
de chegar aos núcleos) – essa paralisia é
caracterizada por uma perda da expressão
facial, apagamento das rugas de expressão e
desvio da comissura labial para o lado em que
o feixe cortico-bulbar foi lesado. Já a metade
superior da face mantém a sua inervação
(caso a lesão ocorra unilateralmente), na
medida em que recebe inervação bilateral.
Por outro lado, quando ocorre uma lesão
infra-nuclear, ou periférica do nervo facial,
verifica-se paralisia na metade da cara
ipsilateral à lesão. Este tipo de paralisia é
conhecido como Paralisia de Bell.
De referir que, apenas os músculos inervados pelos ramos do nervo facial em degeneração ou
desmielinização se tornam enfraquecidos.
193
A síndrome das lágrimas de crocodilo é rara e surge após paralisia periférica do Nervo Facial (de Bell)
ou outras situações com Lesão do Nervo Facial.

As fibras eferentes do núcleo salivar superior adquirem um trajeto aberrante e dirigem-se para as
glândulas lacrimais, via Nervo Petroso Maior.

Os pacientes quando pensam em comida, cheiram comida ou estão a comer lacrimejam (em vez de
aumentar a secreção de saliva).

194
T18 – Nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso.

Os nervos glossofaríngeo, vago e acessório dirigem-se para a porção anterior do buraco jugular. Na
porção posterior, encontra-se a veia jugular. Contudo, há uma particularidade: o nervo glossofaríngeo
está separado dos restantes por uma prega de dura mater.

n. trigémio

n. abducente
n. vestibulococlear
n. facial

n. glossofaríngeo
acessório
n. vago

raiz craniana n. acessório

dura mater
raiz espinhal n. acessório
aracnoide
raiz espinhal do nervo acessório

raiz dorsal do nervo espinhal

raiz espinhal do nervo acessório


raiz dorsal do nervo espinhal

195
NERVO GLOSSOFARÍNGEO – IX
• Tem origem aparente a partir de 3-4 radículas na porção rostral do sulco postero-lateral do bolo
raquidiano, entre a oliva e o pedúnculo cerebeloso inferior.
• É responsável pela inervação do 3º arco faríngeo.

→ Descrição anatómica
O nervo glossofaríngeo abandona o crânio por via da porção antero-medial do
buraco jugular, anteriormente aos nervos vago e acessório, mas numa bainha de
dura mater separada.
Após abandonar o buraco jugular, o nervo desloca-se anteriormente, por entre a
veia jugular interna e a artéria carótida interna para, subsequentemente, descer
anteriormente a esta última estrutura, profundamente à apófise estiloide e
músculos que nela se fixam, até atingir o bordo posterior do estilofaríngeo.
Depois, o nervo glossofaríngeo curva-se anteriormente e perfura as fibras
inferiores do constritor superior da faringe ou, em alternativa, passa entre esse
músculo e o constritor médio, para se distribuir para a amígdala, mucosa da
faringe, porção pós-sulcal da língua, papilas circunvaladas e glândulas mucosas
orais.
Apresenta 2 gânglios (sem sinapses, não fazem parte do sistema nervoso autónomo):
- gânglio superior: é intracraniano, localizando-se na porção superior do sulco profundo sobre o
qual o nervo se desloca no interior do buraco jugular; não dá ramos
- gânglio inferior: é maior, localizando-se na chanfradura do bordo inferior da porção petrosa
do temporal; apresenta neurónios pseudounipolares, cujos ramos periféricos transportam sinais
gustativos do 1/3 posterior da língua e sensibilidade geral da orofaringe e do palato mole

→ Componentes funcionais e núcleos associados ao nervo glossofaríngeo


• Fibras aferentes somáticas gerais – veiculam informação termocetiva, nociceptiva e do tato
discriminativo do 1/3 posterior da língua, da amígdala da pele do ouvido externo, da superfície interna
do tímpano e da faringe; relacionam-se com os núcleos espinhal e sensitivo principal do trigémio
• Fibras aferentes viscerais gerais – veiculam a informação proveniente dos quimiorrecetores
localizados no corpo carotídeo e vão estar envolvidas em reflexos, estando associadas ao núcleo do
feixe solitário
• Fibras aferentes viscerais especiais – veiculam a informação gustativa essencialmente do 1/3
posterior da língua e relacionam-se com o núcleo do feixe solitário
• Fibras eferentes viscerais especiais – são fibras motoras que inervam o músculo estilofaríngeo e
associam-se ao núcleo ambíguo (núcleo motor do glossofaríngeo)
• Fibras eferentes viscerais gerais – são fibras parassimpáticas que via gânglio óptico vão inervar a
glândula parótida; associam-se ao núcleo salivar inferior

196
• Núcleo espinhal do trigémio – está associado às fibras aferentes somáticas gerais do glossofaríngeo
• Núcleo do feixe solitário – recebe aferentes viscerais especiais provenientes das papilas gustativas
do 1/3 posterior da língua, isto é, prolongamentos centrais dos neurónios unipolares localizados no
gânglio inferior; também recebe aferentes viscerais especiais do corpo carotídeo
• Núcleo ambíguo (núcleo motor do glossofaríngeo): localiza-se profundamente na formação
reticular, medialmente ao feixe e núcleo espinhal do V e dorsalmente ao núcleo olivar inferior; emite
fibras motoras branquiais, que inervam o músculo estilofaríngeo (relacionado com a elevação da
faringe durante a deglutição e a fala)
• Núcleo salivar inferior – emite eferentes viscerais gerais, que são fibras parassimpáticas pré-
ganglionares que fazem sinapse no gânglio ótico e inervam depois a glândula parótida. Trajeto destas
fibras: ramo timpânico IX – plexo timpânico – nervo petroso menor – sinapse no gânglio óptico – nervo auriculotemporal
– glândula parótida

→ Ramos do nervo glossofaríngeo


RAMOS COMUNICANTES: o nervo glossofaríngeo comunica com o tronco simpático, com o nervo vagoe
com o nervo facial.
NERVO TIMPÂNICO: tem origem no gânglio inferior e incorpora o plexo timpânico; ascende para a
cavidade timpânica através do canalículo timpânico inferior e divide-se em ramos que formam o plexo
timpânico; origina nervo petroso menor que possui fibras secretomotoras (parassimpáticas pré-
ganglionares) para a glândula parótida: entra num canal inferiormente ao canal para o músculo tensor
do tímpano, atravessa buraco oval e dirige-se para o gânglio óptico (é a raiz parassimpática deste
gânglio); após sinapse neste, fibras pós-sinápticas (nervo auriculotemporal) dirigem-se para a parótida.

GÂNGLIO ÓTICO
(localiza-se medialmente ao nervo mandibular; relaciona-se funcionalmente com o glossofaríngeo)
Raiz motora (parassimpática) – nervo petroso menor; após sinapse, origina fibras pós-
ganglionares que vão através de um ramo comunicante para o nervo auriculotemporal e daí para a
glândula parótida
Raiz simpática – plexo simpático rodeando artéria meníngea média
Raiz sensitiva – fibras derivadas do nervo auriculotemporal
- Possui ramos comunicantes com: a corda do tímpano e com o nervo do canal pterigóide
197
RAMO CAROTÍDEO: contém fibras aferentes provenientes dos quimiorrecetores do corpo carotídeo e
dos barorrecetores (associados à tensão arterial) da parede do seio carotídeo; contribui para a
formação do plexo carotídeo.
RAMOS FARÍNGEOS: unem-se com o ramo faríngeo do vago e com os ramos laringofaríngeos do tronco
simpático para formar o plexo faríngeo; constituem a via através da qual o nervo glossofaríngeo dá
fibras sensitivas (ASG) para a mucosa da faringe.
RAMOS AMIGDALINOS E LINGUAIS: transportas aferências viscerais gerais e especiais.
RAMO MUSCULAR: inerva o estilofaríngeo, que é o único músculo derivado do terceiro arco braquial.

NERVO VAGO – X
• Tem origem aparente a partir de 8-10 radículas no sulco postero-lateral do bolo raquidiano,
inferiormente ao glossofaríngeo.
• É responsável pela inervação do 4º arco faríngeo.

→ Descrição anatómica
O nervo vago abandona o crânio, por via do buraco jugular, acompanhado pelo nervo acessório, como
qual partilha uma bainha aracnoide e dural e com o glossofaríngeo. Desce verticalmente no pescoço,
envolto na bainha carotídea, por entre a veia jugular interna e a artéria carótida interna/artéria
carótida comum, até à raiz do pescoço.O seu percurso ulterior difere dos dois lados.
É o nervo craniano com curso mais longo, estendendo-se desde a cabeça até às cavidades torácica e
abdominal, onde tem uma larga dispersão (é responsável pela inervação do músculo liso das viscerais
abdominais até ao cólon transverso do intestino grosso).
Após emergir do buraco jugular, o nervo vago apresenta dois alargamentos proeminentes:
- gânglio superior (jugular) - gânglio inferior (nodoso)

• Ramos meníngeo e auricular • Ramos faríngeos


• Ramos carotídeo
• Nervo laríngeo superior
• Nervo laríngeo recorrente
• Plexos cardíaco, pulmonar, esofágico, celíaco
e mesentérico superior
198
→ Componentes funcionais e núcleos associados ao nervo vago
• Fibras aferentes somáticas gerais – veiculam a sensibilidade geral das meninges, do pavilhão
auricular, da faringe e da laringe; relaciona-se com o núcleo espinhal do trigémio
• Fibras aferentes viscerais gerais – veiculam a informação proveniente da laringe, traqueia, esófago e
das vísceras abdominais e torácicas; relacionam-se com o núcleo do feixe solitário
• Fibras aferentes viscerais especiais – veiculam a informação gustativa essencialmente da epiglote e
relacionam-se com o núcleo do feixe solitário
• Fibras eferentes viscerais especiais – são fibras motoras que inervam bilateralmente os músculos da
faringe, o cricotiroideu e os intrínsecos da laringe; tem origem no núcleo ambíguo (núcleo motor do
glossofaríngeo)
• Fibras eferentes viscerais gerais – são fibras parassimpáticas com origem no núcleo dorsal do vago
(núcleo enorme que vai ter relações com o sistema olfativo, com a formação reticular e com o
hipotálamo) que vão inervar o músculo liso e glândulas da faringe, da laringe, das vísceras torácicas
(pulmão, traqueia e coração, porção torácica do esófago) e abdominais (estômago, porção abdominal
do esófago, intestino delgado e parte grande do intestino grosso - cego, colon ascendente e parte do
colon transverso) ou com origem no núcleo ambíguo e que vão inervar o músculo cardíaco (vai libertar
acetilcolina no miocárdio e vai diminuir a frequência cardíaca – bradicardia)

Nota: nesta tabela falta a componente


aferente visceral especial

199
• Núcleo espinhal do trigémio – está associado às fibras aferentes somáticas gerais do nervo vago
• Núcleo do feixe solitário – recebe aferentes viscerais gerais provenientes essencialmente das
vísceras torácicas e abdominais e também aferentes viscerais especiais com informação proveniente
das papilas gustativas da epiglote
• Núcleo ambíguo: emite fibras motoras branquiais, que inervam músculos da laringe e da faringe e
também fibras parassimpáticas pré-ganglionares que inervam o músculo cardíaco
• Núcleo dorsal do vago – é o principal núcleo parassimpático do encéfalo e localiza-se no pavimento
do quarto ventrículo, lateralmente ao núcleo ambíguo do hipoglosso; emite fibras eferentes viscerais
gerais, que são fibras parassimpáticas destinadas à inervação motora das vísceras torácicas e
abdominais

→ Ramos do nervo vago


RAMOS MENÍNGEOS: originam-se no gânglio superior e distribuem-se para a dura mater da fossa
craniana posterior
RAMO AURICULAR: parte do gânglio superior e recebe um ramo comunicante com origem no gânglio
inferior do nervo glossofaríngeo; entra no canalículo mastoide, ao nível da parede lateral da fossa
jugular, atravessa o osso temporal, cruzando o canal facial, superiormente ao buraco estilomastoideu,
dando um ramo ascendente para o nervo facial. A este nível, pode haver passagem de fibras
provenientes do nervo intermédio. Subsequentemente, o ramo auricular atravessa a fissura tímpano-
mastoide e divide-se em dois ramos. Um destes ramos junta-se ao nervo auricular posterior, enquantoo
outro se encontra distribuído para a pele de parte da orelha e para o meato acústico externo.

RAMO FARÍNGEO: é o nervo motor principal da faringe; emerge da porção


superior do gânglio inferior e passa entre as artérias carótidas interna e externa
para o bordo superior do constritor médio da faringe; contribui para plexo
faríngeo (+ ramos do IX, tronco simpático e nervo laríngeo externo), inervando
músculos faríngeos e do palato (exceto músculo tensor do véu do paladar)
RAMOS CAROTÍDEOS: contribuem para o plexo carotídeo, juntamente com
ramos do glossofaríngeo e da porção cervical do tronco simpático
NERVO LARÍNGEO SUPERIOR: vai ter uma porção externa, motora para o músculo cricotiroideu e outra
interna, sensitiva para a mucosa da laringe até ao nível das cordas vocais.
NERVO LARÍNGEO RECORRENTE: o nome deve-se ao facto de descer e voltar
a ascender, com a particularidade de o direito e o esquerdo apresentarem
diferenças; relaciona-se com a artéria subclávia (o direito) e com o arco da
aorta (o esquerdo); ascende entre o sulco existente entre a traqueia e o
esófago e inerva todos os músculos da laringe (exceto o cricotiroideu) e é,
ainda, sensitivo para a mucosa da laringe inferior ao nível das cordas vocais.
RAMOS CARDÍACOS, PULMONARES, ESOFÁGICOS, GÁSTRICOS, CELÍACOS,
HEPÁTICOS, RENAIS E MESENTÉRICO SUPERIOR (a estudar nas
morfofisiologias do 2º ano) – saber só que existe um tronco vagal anterior e
um posterior

200
LESÕES NOS NERVOS GLOSSOFARÍNGEO E VAGO; REFLEXO DO VÓMITO

Lesões isoladas do nervo glossofaríngeo são muito raras. Geralmente surgem associadas a lesões do
nervo vago. Nestes casos, o reflexo do vómito fica ausente ou deficiente do lado da lesão.

Este reflexo consiste na contração involuntária e bilateral dos músculos da faringe, aquando do toque
na úvula ou palato mole. A via aferente deste reflexo é representada pelo nervo glossofaríngeo,
enquanto a via eferente é quase inteiramente representada pelo nervo vago (e pelo sistema nervoso
simpático). As ligações centrais associadas a este reflexo ainda não estão totalmente esclarecidas,
podendo envolver o núcleo ambíguo, o núcleo e o feixe espinhal do trigémio; o núcleo e o feixe do
trato solitário; ou todas estas estruturas. De qualquer forma, o reflexo do vómito é útil para avaliar
estes nervos cranianos, assim como as suas ligações centrais. Para avaliar este reflexo, introduz-se uma
espátula e estimula-se o terço posterior da língua ou a epiglote.

A inervação do palato mole pode também ser testada pedindo-se ao doente para fazer “Ahaaah”,
pois o palato mole eleva-se e a úvula tem um movimento posterior na linha média. A inervação
associada a este movimento está dependente do vago.

NERVO ACESSÓRIO – XI
• A raiz espinhal tem origem aparente a partir dos segmentos medulares cervicais, ascendendo pelo
buraco magno, onde se une à raiz cervical.
• É responsável pela inervação do esternocleidomastoideu e do trapézio (que também é inervado por
C3 e C4 na sua parte inferior), músculos com origem branquial. Assim, este nervo possui fibras
eferentes viscerais especiais. Pode também incluir algumas fibras aferentes viscerais gerais, com
origem no núcleo ambíguo.

→ Descrição anatómica
O nervo acessório divide-se em duas raízes, uma craniana e uma espinhal, que estão unidas num
trajeto muito curto. Ao emergirem no buraco jugular, o qual atravessam numa bainha dural comum
com o nervo vago, mas separadas deste por uma prega de aracnoide, a sua separação é evidente:

201
A raiz craniana é a mais pequena e as suas fibras têm origem na porção caudal do núcleo ambíguo;
junção com vago superiormente ao gânglio inferior (classicamente designada por “ramo interno”).
- Após atravessar o buraco jugular, junta-se ao nervo vago superiormente ao seu gânglio inferior. As
fibras vão estar distribuídas para os ramos faríngeos do nervo vago. Algumas juntam-se ao nervo
laríngeo recorrente. Assim, inerva os músculos da laringe, exceto o músculo cricotiroideu (inervado
pelo ramo externo do nervo laríngeo superior do vago).

A raiz espinhal contém fibras com origem no núcleo espinhal do acessório, núcleo motor alongado
que se localiza na parte lateral do corno ventral da medula espinhal, entre os segmentos medulares
C1-C6.
- Passa ventralmente às radiculas dorsais dos nervos espinhais e dorsalmente ao ligamento
denticulado, localizando-se, portanto, entre estas duas estruturas. Entra depois no crânio através do
buraco magno, posteriormente à artéria vertebral.
- Inerva a totalidade do esternocleidomastoideu e a porções superior e média do trapézio. As fibras
provenientes da raiz espinhal são ipsilaterais para o esternocleidomastoideu e contralaterais para o
trapézio, o que é importante para os reflexos visuais (quando rodamos a cabeça, atua o
esternocleidomastoideu de um lado e o trapézio do lado oposto). No seu trajeto, estas fibras têm uma
direção posterior profunda ao esternocleidomastoideu, muitas vezes perfurando-o e depois passam
pelo triangulo posterior do pescoço e dirigem-se, então, para o músculo trapézio.
Nota: o fascículo longitudinal medial é importante para fazer a conexão entre as fibras dos nervos oculomotor,
troclear, abducente, de outros núcleos vestibulares e com este núcleo espinhal do nervo acessório, o que é
imprescindível para a coordenação dos movimentos do pescoço com os movimentos oculares.

LESÃO DO NERVO ACESSÓRIO


O nervo acessório pode ser lesado em
cirurgias ao pescoço ou em biopsias de
gânglios linfáticos, por exemplo.
Quando há uma lesão nas fibras que se
dirigem para o trapézio, há uma queda do
ombro para o lado afetado. O paciente
vai ter também dificuldade em elevar o
membro superior acima da horizontal.
Isto porque, o trapézio vai assistir o
musculo serreado anterior em elevação do membro superior após os 90º. Esta paralisia nunca é
completa, porque a parte inferior do trapézio também vai ter inervações de C3 e C4.
Lesões nas fibras que vão inervar o esternocleidomastoideu (que é exclusivamente inervado pelo
acessório), provocam paralisia flácida, que se traduz na dificuldade em virar a cabeça para o lado
oposto contra resistência.
Se houver lesão dos 2 nervos acessórios (raro), o paciente tem dificuldade em manter a cabeça numa
posição correta, ou seja, posição a olhar horizontalmente em frente. Esta lesão é mais complexa.

202
NERVO HIPOGLOSSO – XII
• Tem origem aparente a partir de 10-15 radículas no sulco antero-lateral entre a pirâmide e a oliva.
• É responsável pela inervação motora dos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua, à exceção do
palatoglosso (inervado pelo n. vago), pelo que apenas possui fibras eferentes somáticas gerais.
→ Descrição anatómica

O nervo hipoglosso tem origem no núcleo hipoglosso que se localiza sob o pavimento do 4º
ventrículo, onde forma uma elevação designada por trígono do hipoglosso. As suas fibras eferentes
(que tiveram origem no córtex contralateral, essencialmente) emergem do bolbo e saem da cavidade
craniana pelo canal do hipoglosso, num plano medial à veia jugular interna, artéria carótida interna e
nervos glossofaríngeo, vago e acessório.
Subsequentemente volta-se em torno do gânglio inferior do nervo vago, deslocando-se depois
verticalmente entre a artéria carótida interna e veia jugular interna e anteriormente ao nervo vago,
até ao ângulo da mandíbula. Nesta região torna-se superficial, inferiormente ao ventre posterior do
músculo digástrico, emergindo entre a artéria carótida interna e veia jugular interna. Aqui relaciona- se
com a ansa cervical. Vai depois entrar na raiz da língua acima do osso hioide e distribui os seus ramos.
Comunicações: o nervo hipoglosso possui ramos
comunicantes*; comunica com o tronco simpático,
com o nervo vago, com C1 e C2 e com o nervo
lingual. (Próximo do atlas, o nervo hipoglosso recebe ramos do
gânglio cervical superior e um filamento da ansa por entre C1 e C2,
que abandona o nervo hipoglosso através da raiz superior da ansa
cervical. Já as comunicações vagais ocorrem na proximidade do
crânio, sendo que numerosos filamentos partem por entre o nervo
hipoglosso e o gânglio inferior do vago. À medida que o nervo
hipoglosso se curva em torno da artéria occipital, este recebe o ramo
lingual do vago, proveniente do plexo faríngeo. Por fim, próximo do
bordo anterior do hioglosso, este nervo encontra-se ligado ao nervo
lingual por vários filamentos que ascendem ao nível deste músculo.)

203
→ Ramos do nervo hipoglosso
RAMOS COMUNICANTES*
RAMOS MENÍNGEOS: abandonam o nervo ao nível do canal do
hipoglosso e inervam as paredes dos seios occipital e petroso
inferior e também a parede anterior da fossa craniana posterior
RAMO DESCENDENTE OU RAÍZ SUPERIOR DA ANSA CERVICAL:
contém fibras provenientes de C1; este ramo abandona o nervo
hipoglosso, quando este último se curva em torno da artéria
occipital, e desloca-se inferiormente, ao nível da bainha carotídea;
dá um ramo para o ventre superior do omohioideu, antes de se
juntar com o descendente cervical, para formar a ansa cervical.
RAMO MUSCULAR PARA O TIROHIOIDEU: é constituído por fibras de
C1
RAMOS MUSCULARES: para os músculos intrínsecos e extrínsecos
da língua (exceção: palatoglosso)

LESÕES DO NERVO HIPOGLOSSO

Danos no nervo hipoglosso causam paralisia lingual unilateral e,


eventualmente, hemiatrofia – em protusão, a língua desvia-se para
o lado paralisado (é o que se observa quando analisamos o doente
– pedir para dizer “Aaaahhhh”), enquanto, em retração, o lado
paralisado da língua eleva-se ainda mais que o lado não afetado.
(Houve lesão do neurónio motor inferior)
Contudo, podem acontecer danos nas regiões corticais que
emitem as eferências para o núcleo do hipoglosso. Nesses casos, a
lesão diz-se supra-nuclear e é afetado o lado contralateral da
língua. (Houve lesão do neurónio motor superior)

Caso a paralisia do nervo hipoglosso seja bilateral, a língua fica imóvel, sendo que embora o gosto e a
sensibilidade táctil não se encontrem afetadas (pois são da responsabilidade dos nervos facial,
glossofaríngeo e vago), a articulação de movimentos torna-se muito lenta, e a deglutição torna-se
muito difícil.

204
SENSIBILIDADE GUSTATIVA, RECETORES GUSTATIVOS E NEURÓNIOS GUSTATIVOS PERIFÉRICOS

A língua é um órgão muscular complexo e cuja inervação se


divide:
- relacionado com o gosto: nervo facial, VII nos 2/3
anteriores; nervo glossofaríngeo, IX no 1/3 posterior; nervo vago,
X na epiglote
- relacionado com a sensibilidade tátil: nervo trigémio, V
nos 2/3 anteriores; nervo glossofaríngeo, IX no 1/3 posterior;
nervo vago, X na epiglote
PAPILAS VALADAS

As fibras dos nervos facial, glossofaríngeo e vago que


veiculam a informação relativa ao gosto são fibras
aferentes viscerais especiais e encontram-se
associadas a recetores gustativos. Estes têm a
capacidade de identificar 5 modalidades gustativas:
salgado, ácido, doce, amargo e umami.
Na imagem destacam-se os gomos gustativos das
papilas gustativas e o poro gustativo.
Vemos também que ocorre uma sinapse neuro-epitelial, entre o gomo gustativo e um prolongamento
periférico de um neurónio gustativo, que, como já vimos, poderá estar relacionado com os nervos VII,
IX e X.

• Sensibilidade gustativa da face dorsal da língua anteriormente às papilas valadas


- Prolongamentos periféricos das células do gânglio geniculado do facial: sucessivamente no nervo
facial, corda do tímpano e no nervo lingual
- Prolongamentos centrais: nervo intermédio e incorporação na parte rostral do feixe solitário
• Sensibilidade gustativa da face dorsal da língua, ao nível e posteriormente às papilas valadas
- Prolongamentos periféricos: neurónios do gânglio inferior do glossofaríngeo que seguem no tronco
do nervo e depois nos ramos linguais
- Prolongamentos centrais: penetram no bolbo incorporados no nervo glossofaríngeo e terminam na
parte intermédia do feixe solitário
• Sensibilidade gustativa da porção mais posterior do dorso da língua e da face posterior da epiglote
- Prolongamentos periféricos: gânglio inferior do vago que seguem o seu tronco e depois o nervo
laríngeo superior e seu ramo interno
- Prolongamentos centrais: seguem o tronco do nervo vago terminando na parte inferior do feixe
solitário
• Sensibilidade gustativa da face anterior do véu palatino e do arco palatoglosso
- Prolongamentos periféricos: gânglio geniculado do facial e seguem sucessivamente no nervo grande
petroso, nervo do canal pterigoideu, gânglio pterigopalatino e nervos pequenos palatinos.
- Prolongamentos centrais: nervo intermédio e incorporação na parte rostral do feixe solitário.
Nota: Algumas fibras gustativas destas regiões são prolongamentos periféricos de neurónios do
gânglio inferior do glossofaríngeo atingindo o seu alvo através dos ramos amigdalinos. Terminam na
parte intermédia do feixe solitário.
205
• Sensibilidade gustativa da parede posterior da orofaringe
- Prolongamentos periféricos: gânglio inferior do glossofaríngeo seguindo o tronco do nervo e depois
os seus ramos faríngeos
- Prolongamentos centrais: parte intermédia do feixe solitário

(Este esquema está incompleto, mas esquematiza a informação acima)

VIA GUSTATIVA - é ipsilateral


Os neurónios gustativos de primeira ordem encontram-se, como já vimos, localizados aos níveis dos
gânglios geniculado ou inferiores dos nervos glossofaríngeo e vago. Os seus prolongamentos centrais
ascendem até ao núcleo do feixe solitário onde ocorre sinapse.
Os prolongamentos dos neurónios gustativos de segunda ordem ascendem no fascículo tegmentar
central até ao núcleo VPM do tálamo ipsilateral; Aqui dá-se nova sinapse e os prolongamentos destes
neurónios de terceira ordem ascendem até ao córtex cerebral.
A área gustativa central está situada na parte inferior e anterior da circunvolução pós-central e no
córtex insular adjacente. Vão também existir relações importantes com hipotálamo e amígdala
(memórias associadas ao sabor da comida e prazer associado à comida).

Nota importante: os neurónios


gustativos de segunda ordem
participam também em
atividades reflexas como a
salivação, a deglutição e a tosse.
Nesses casos, realizam sinapses
com núcleos dos nervos
cranianos.

206
T19 – Ouvido externo, médio e interno. Vias acústica e vestibular.

OUVIDO EXTERNO
→ Canal auditivo externo (meato acústico externo)
• Tem 24 mm de comprimento e forma de S:
- 1/3 lateral cartilagíneo e possui glândulas ceruminosas e
folículos pilosos
- 2/3 mediais ósseos
• Possui várias constrições, sendo o istmo uma delas.
• Na extremidade medial encontra-se obliquamente inserida a membrana timpânica, o que implica
que o pavimento e a parede anterior do canal auditivo externo sejam maiores que o teto e a parede
posterior.
→ Pavilhão auricular
Face lateral Face medial
- Trago - Eminência da concha
- Antitrago - Eminência da fossa triangular
- Incisura intertrágica
- Lóbulo
- Hélice
Pilar
Tubérculo
auricular A conformação do
- Anti-hélice pavilhão auricular
Pilar superior e inferior permite direcionar,
- Concha concentrar e amplificar
Cimba da concha as ondas sonoras.
- Fossa triangular
- Fossa escafóide

• É formada por fibrocartilagem elástica e apresenta ligamentos e músculos.


• Inervação: Nervo auricular magno; Nervo occipital menor; Ramo auricular do nervo vago; Nervo
auriculotemporal; Nervo facial
• Os músculos auriculares dividem-se em:
- Músculos intrínsecos
- na face lateral são inervados pelo ramo temporal do nervo facial
- na face medial são inervados pelo ramo auricular posterior do
nervo facial
- Músculos extrínsecos
- músculo auricular anterior: inervado por ramos temporais do
nervo facial
- músculo auricular posterior: inervado pelo ramo auricular
posterior do nervo facial
- músculo auricular superior: inervado por ramos temporais do
nervo facial

207
OUVIDO MÉDIO
• Espaço irregular na porção petrosa do osso temporal, que comunica com a nasofaringe através da
trompa auditiva ou trompa de Eustáquio. Isto permite equalização da pressão.
Limites do ouvido médio:
- Lateral: membrana do tímpano
- Medial: parede lateral do ouvido interno, promontório
- Comunicação posterior com antro mastoideu e células de ar mastoideias
- Comunicação Anterior com a nasofaringe através da trompa auditiva
- Teto ou parede tegmentar: placa fina de osso compacto que forma a maior parte da face anterior da
porção petrosa do osso temporal
- Pavimento ou parede jugular: placa fina e convexa de osso que separa a cavidade do bolbo superior
da veia jugular interna
→ Cavidade timpânica
• Está dividida em 3 espaços:
- Epitímpano (recesso epitimpânico): superior ao nível da
membrana do tímpano; contém a cabeça do martelo e o
corpo e ramo curto da bigorna
- Mesotímpano: ao nível da membrana do tímpano
- Hipotímpano: no pavimento da cavidade timpânica,
entre o bolbo superior da veia jugular interna e o bordo
inferior da membrana do tímpano

Parede lateral
- Membrana do tímpano (orienta-se lateral, anterior e inferiormente; é inervada pelo V e X na face
lateral e pelo IX na face medial): apresenta pars flácida e pars tensa, umbigo (centro da concavidade
da face lateral) e pregas maleolares; o cabo e a apófise lateral do martelo inserem-se na sua face
medial.
- Canalículo posterior para o nervo da corda do tímpano: localiza-se no ângulo entre as paredes
posterior e lateral; leva ao canal facial
- Canalículo anterior para o nervo da corda do tímpano: abre-se na extremidade medial da fissura
petrotimpânica
Parede medial ou parede labiríntica
- Proeminência do canal semicircular
- Proeminência do nervo facial: superior à janela oval e curva para
a parede posterior
- Janela oval (do vestíbulo): ocupada pela base do estribo
- Promontório: proeminência arredondada formada pela espira
basal da cóclea; está coberta pelo plexo timpânico
- Janela redonda (da cóclea): inferior e posterior à janela oval;
fechada por membrana timpânica secundária

208
Parede posterior ou parede mastoideia
- Ádito do antro: abertura irregular que faz a
comunicação entre o recesso epitimpânico e o
antro mastoideu
- Eminência piramidal: relação com o músculo estapédio
- Fossa da bigorna: pequena depressão na porção inferior e posterior
do recesso epitimpânico; contém o ramo curto da bigorna
Parede anterior ou carotídea (estreita pela aproximação das paredes medial e lateral)
- Apresenta o canal músculo-tubário:
- canal para o músculo tensor do tímpano
- porção óssea: canal para a trompa faringotimpânica (auditiva ou de Eustáquio)
Os dois canais inclinam-se inferior e medialmente para se abrirem no ângulo entre a porção petrosa e a
porção escamosa do osso temporal, separados por fino septo ósseo
- Apófise cocleariforme

→ Trompa auditiva ou de Eustáquio


• Conecta a cavidade timpânica à nasofaringe.
• Tem 36mm de comprimento e os 2/3 anteriores são cartilagíneos, enquanto o 1/3 posterior é ósseo.
• Relaciona-se com o canal carotídeo.
• É mais pequena e horizontalizada nas crianças, daí a maior preponderância de infeções do ouvido
médio (otites).
→ Ossículos auditivos (têm articulações sinoviais entre eles; são reforçados por ligamentos)

209
→ Músculos do ouvido médio
- Músculo tensor do tímpano
– Origem: parte cartilagínea da trompa, asa maior do esfenóide, canal do músculo tensor
do tímpano
– Inserção: manúbrio do martelo
– Enervação: ramo do nervo para o músculo pterigoideu medial (depende do trigémio)
- Músculo estapédio
– Origem: eminência piramidal
– Inserção: colo do estribo
– Enervação: nervo para o m. estapédio (ramo do nervo facial)
Nota: No Homem existe o reflexo acústico que vai levar à contração do músculo estapédio quando
ocorrem vibrações excessivas, de forma a proteger o ouvido interno.

OUVIDO INTERNO
• É formado pelos labirintos ósseo e
membranoso.
→ Labirinto ósseo
- Vestíbulo
- Canais semicirculares (têm um pilar comum e cristas ampolares,
fazem ângulos de 45° em relação aos planos coronal, transverso e
mediano)
- lateral (horizontal)
- anterior (forma a eminência arqueada)
- posterior
- Cóclea (localiza-se anteriormente)
- cúpula da cóclea
- modíolo
- lâmina espiral óssea
- rampa vestibular (tem perilinfa)
- rampa timpânica (tem perilinfa)
- ducto coclear ou rampa média (tem endolinfa)
- helicotrema
- hâmbulo da lâmina espiral óssea
- canal espiral do modíolo
Nota: o canal espiral da cóclea dá 2 voltas e ¾ e a sua volta
basal provoca no ouvido médio o promontório.
→ Labirinto membranoso
- Utrículo: tem máculas que detetam movimentos horizontais
- Sáculo: tem máculas que detetam movimentos verticais
- Ductos semicirculares: têm cristas ampulares que detetam
movimentos angulares
- Saco e ducto endolinfáticos
- Ducto coclear: com membrana vestibular, ligamento espiral, estria vascular e membrana basilar

→ Perilinfa e endolinfa
Relembrar produção, composição e destino (histologia e fisiologia)
210
NERVO VESTIBULOCOCLEAR – VIII
• Tem origem aparente no ângulo cerebelopôntico, no sulco entre o bolbo e a ponte, lateralmente à
origem do nervo facial.
• O nervo vestibulococlear tem duas porções distintas: vestibular e coclear, que se originam se em
diferentes núcleos. Ambos os conjuntos de fibras se combinam na ponte para formar o nervo
vestibulococlear, que emerge do crânio através do meato acústico interno do osso temporal
(inferiormente ao nervo facial). Dentro do aspeto distal do meato acústico interno, o nervo
vestibulococlear divide-se, formando, então, o nervo vestibular e o nervo coclear. O nervo vestibular
inerva o sistema vestibular, sendo responsável pela deteção do equilíbrio. O nervo coclear viaja para a
cóclea do ouvido interno, formando os gânglio espirais que servem a audição.
• Componente funcional: fibras aferentes somáticas especiais.

211
VIA VESTIBULAR
• Os prolongamentos periféricos
com origem no gânglio vestibular vão
receber as aferências vestibulares das
cristas ampulares e das máculas;
• Os prolongamentos centrais
destes neurónios bipolares projetam:
- para o cerebelo: pelo corpo
justarestiforme (porção medial do
pedúnculo cerebeloso inferior)
- para os núcleos vestibulares
• Os núcleos vestibulares, por sua
vez, emitem aferências para o
cerebelo, medula espinhal, núcleos do
oculomotor, troclear e abducente e
ainda núcleos VPL e VPM do tálamo.
• As projeções que atingem o
tálamo fazem aí sinapse e dirigem-se
para o córtex cerebral, pero da
circunvolução pós-central.

Nota: As projeções dos núcleos vestibulares para a medula ocorrem via feixes vestibuloespinhais:
- Feixe vestibuloespinhal lateral: origem no núcleo vestibular lateral; eferências excitatórias para
neurónios motores de músculos ipsilaterais em todos os níveis espinhais para compensação de
movimentos e manutenção da postura
- Feixe vestibuloespinhal medial: origem no núcleo vestibular medial; projeção bilateral para a medula
espinhal cervical através de conexões com o fascículo longitudinal medial; associa-se à estabilização da
posição da cabeça; está envolvido na coordenação de movimentos oculares e movimentos da cabeça
(reflexos vestibulo-oculares para manter a fóvea fixa num objeto, com participação do cerebelo,
flóculo, na regulação dos mesmos)

212
VIA AUDITIVA
• Os prolongamentos periféricos com origem
no gânglio coclear vão receber as aferências
vestibulares dos órgãos de Corti;
• Os prolongamentos centrais sofrem
bifurcação: uma divisão para o núcleo coclear
ventral e outra divisão para o núcleo coclear dorsal.
• Fibras de ambos os núcleos cocleares
(principalmente do dorsal) cruzam a linha média e
ascendem no lemnisco lateral (maior componente
da via auditiva no tronco cerebral). Algumas fibras
ascendem ipsilateralmente no lemnisco lateral.

• O lemnisco lateral termina no colículo inferior,


onde os neurónios fazem sinapse. De seguida, as
fibras dirigem-se através do braço conjuntival
inferior para o corpo geniculado medial onde fazem
novamente sinapse.

• A projeção para o córtex auditivo primário


(circunvoluções temporais transversas) é
tonotópica e ocorre através da radiação auditiva
(localizada principalmente na porção sublenticular
da cápsula interna).

Nervo Coclear - Núcleo coclear ventral e dorsal - Cruzamento na linha média - Ascendem no lemnisco
lateral - Colículo inferior (sinapse) - Corpo Geniculado Medial (sinapse) - Porção sublenticular da cápsula
interna - Córtex Auditivo Primário

Nota: cada lemnisco lateral contém informação das duas cócleas, já que os núcleos cocleares
projetam bilateralmente.

→ Localização do som
É o núcleo coclear ventral que está mais relacionado com a localização do som.
As fibras dirigem-se para o núcleo olivar superior, que possui subnúcleo medial (maior no homem) e
subnúcleo lateral. Cada núcleo olivar superior projecta através do lemnisco lateral para o colículo
inferior. Ocorre o cruzamento entre fibras de um núcleo coclear para o núcleo olivar superior
contralateral, formando-se o corpo trapezoide.

213
RESUMOS EM ESQUEMAS FEITOS PELO PROFESSOR

214

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