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Projeto

Monitoramento de ondas cerebrais

O fragmento de texto mostrado no item 1 – Ondas Cerebrais foi


extraído da Tese de Doutorado “Avaliação dos Efeitos do Treinamento em
Neurofeedback sobre o Desempenho Cognitivo de Adultos Universitários”
(APPOLINARIO, F.; 2001), com o objetivo de explicar de forma elucidativa os
conceitos relacionados com o contexto do projeto. Partes do texto foram
mantidas na íntegra, pois tratam de termos técnicos de área específica.

1. Ondas Cerebrais

Os sinais elétricos do EEG (eletroencefalógrafo) são gerados pela


atividade de bilhões de neurônios de regiões corticais e sub-corticais. Tais
sinais, entretanto, são eletricamente muito fracos, principalmente quando são
captados no escalpo, tendo passado pelo fluído cérebroespinhal no qual o
cérebro está suspenso, e pela caixa craniana. Os equipamentos de
eletroencefalografia devem ser capazes de amplificar fortemente esses tênues
sinais, de forma a poder monitorá-los ou apenas representá-los numa forma
gráfica compreensível. A Figura 1 ilustra um registro típico de EEG de um
adulto normal.
Figura 1. Eletroencefalograma de um Adulto Normal

As letras F, C, T, P e O referem-se às regiões corticais conhecidas como


Frontal, Central, Temporal, Parietal e Occipital, respectivamente. Os números
ímpares referem-se aos pontos específicos do hemisfério cerebral esquerdo e
os pares aos do hemisfério direito. Desta forma, “T4” refere-se a um ponto
localizado no lobo temporal direito e “P3” a um sítio do lobo parietal esquerdo,
por exemplo. A sigla “Fp” significa “Pólo Frontal” (frontal pole), e refere-se a um
ponto específico localizado a cerca de um dedo acima do encontro das
sobrancelhas.

De acordo com a figura, num EEG comum são derivadas (captadas) as


frequências de ondas cerebrais em dezenove diferentes pontos do escalpo.
Para que fosse possível haver um mínimo de padronização nos estudos que
utilizam o EEG, foi realizada uma sistematização, na colocação dos eletrodos,
conhecida como o Sistema Internacional 10-20 de Colocação de Eletrodos.
Uma ilustração desse sistema pode ser vista na Figura 2.
Figura 2. Sistema Internacional 10-20 de Colocação de Eletrodos

O termo “10-20” refere-se à colocação dos eletrodos em sítios


localizados a 10% ou 20% da distância total entre o násio (ponto de articulação
entre os dois ossos nasais e o frontal) e o ínio (ponto central da protuberância
occipital externa) e entre os dois ouvidos. O uso desse sistema de
porcentagens permite padronizar a colocação dos eletrodos
independentemente do tamanho do crânio do indivíduo, como no caso da
grande diferença entre crianças e adultos, por exemplo.

Num exame eletroencefalográfico típico, por exemplo, dos 21 eletrodos


utilizados, 19 são colocados nas regiões do escalpo determinadas pelo sistema
10-20 e os outros dois nos lóbulos das orelhas (“A1” e “A2”, na Figura 2), para
serem utilizados como referências elétricas. Estima-se que cada eletrodo seja
capaz de captar as atividades elétricas de cerca de 100.000 neurônios, numa
profundidade cortical de aproximadamente 0,5 cm.

As Ondas Cerebrais

A análise e a interpretação dos sinais elétricos emitidos pelas regiões


corticais e sub-corticais, as chamadas “ondas cerebrais”, envolvem a
apreciação de quatro componentes principais: a frequência, a amplitude, a
morfologia e a simetria, descritos brevemente a seguir.
Frequência

Na maioria dos trabalhos envolvendo Eletroencefalograma, costuma-se


dividir as frequências em quatro grandes grupos indicados pelas letras gregas
delta (δ), teta (θ), alfa (α) e beta (β). Alguns autores referem-se ainda a um
quinto espectro de frequências e, neste caso, utilizam-se da letra gama (γ). A
tabela 1 fornece um resumo geral das frequências cerebrais. As bandas de
frequência delta (menos de 4 Hz) e teta (4 – 7,5Hz) são consideradas
atividades de ondas lentas, enquanto as bandas alfa (8 – 12 Hz) e beta (12 –
20 Hz) atividades de ondas rápidas. A frequência conhecida como SMR (ritmo
sensoriomotor), também leva o nome de “beta inferior” (low beta), e seu
espectro varia entre 12 e 15 Hz.
Amplitude

A amplitude das ondas EEG geralmente situa-se entre 20 e 50µV.


Entretanto, pode haver uma variabilidade maior (entre 10 e 100µV). A
amplitude do EEG tende a ser atenuada dependendo do tipo de estimulação à
qual o indivíduo está submetido. Por exemplo, a atividade rápida (beta) será
atenuada em sua amplitude durante uma medição com os olhos abertos, em
relação a uma medição com os olhos fechados. A amplitude também é
fortemente influenciada pela sua derivação (origem do sinal). No lobo occipital,
por exemplo, a amplitude de onda é mais acentuada do que as derivadas do
lobos frontal e parietal.

Utiliza-se o termo supressão (supression) em referência à mínima ou


inexistente atividade rítmica presente em determinada banda de frequência
(amplitude tendendo a zero), e o termo paroxístico (paroximal) à atividade
rítmica intensa (amplitude muito alta).

Morfologia

A combinação entre a freqüência e a amplitude afetará a forma


(morfologia) da onda EEG. A morfologia das ondas varia bastante,
principalmente em função dos estímulos e do estado de consciência do sujeito
(alerta, sonolento, dormindo, etc). Uma onda transitória (“transient”) é uma
forma isolada numa sequência de atividade EEG, ou seja, quando estabelece
um padrão bastante diferente das ondas obtidas durante um certo período de
tempo. Quando essa transitória possui uma duração de até 70 milisegundos,
leva o nome de espigão (“spike”); quando sua duração se encontra entre 70 e
200 milisegundos, denomina-se onda pontiaguda (“sharp wave”).

O termo complexo (“complex”) é utilizado quando duas ou mais ondas


ocorrem juntas e se repetem a intervalos consistentes. Um complexo
monomórfico ocorre quando as ondas subsequentes são similares, ao passo
que um complexo polimórfico ocorre quando as ondas subsequentes são
dessemelhantes. A morfologia da onda pode também ser analisada em relação
à sua oscilação (positiva quando a oscilação vai para baixo e negativa quando
vai para cima). Se o EEG não possuir oscilação, a onda denomina-se não-
fásica (“nonphasic”); se ocorrer a presença das duas oscilações, a onda recebe
o nome de difásica (“diphasic”). Seguindo o mesmo raciocínio, pode-se ter
também as ondas trifásicas (“triphasic”) e polifásicas (“polyphasic”).
Simetria

Dada a natureza simétrica bilateral do córtex, uma medida que alguns


autores consideram importante refere-se à simetria da amplitude do sinal
encontrado em pontos homólogos (p. ex., entre “C3” e “C4”, ou entre “T6” e
“T5”), e que tem demonstrado ser sensível a certas patologias neurológicas. A
definição matemática mais aceita para a simetria de amplitude corresponde à
relação

(anterior – posterior) / (anterior + posterior)

supondo-se a comparação entre um ponto localizado no hemisfério


esquerdo (anterior) e outro no direito (posterior). A simetria também pode se
referir ao grau de correspondência entre os picos e as depressões das ondas
de freqüências diferentes (também conhecida como simetria de fase) e a
comparação entre os padrões de frequência em séries temporais diferentes,
caso em que leva o nome de coerência.

2. Projeto

Projete um sistema de aquisição e tratamento dos dados coletados de


um sensor de sinais do EEG, como mostrado nas figuras anteriores,
considerando:

- filtragem para a faixa de frequências envolvidas;

- amplificação do sinal coletado;

- conversão A/D dos sinais amplificados.

Descreva o funcionamento do sistema, detalhando seus componentes e


os sinais em cada um deles.

Proponha um método que, de posse dos sinais digitais (convertidos


pelo conversor A/D), possa classificar o estado do indivíduo em função de
suas ondas cerebrais (sono profundo, sono leve, etc.). Utilize todas a
técnicas/ferramentas que julgar necessários para resolução do problema. Não
há necessidade de implementação deste método (de classificação), mas
simulações são bem vindas.

O projeto deve ser apresentado na forma de um Relatório, a ser


entregue no sistema edisciplinas.
Bibliografia

APPOLINARIO, F.; Avaliação dos Efeitos do Treinamento em Neurofeedback


sobre o Desempenho Cognitivo de Adultos Universitários. Tese de
Doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo. 2001.

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