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Manual de EEG para Médicos do Trabalho

ÍNDICE
1-Introdução
2-Necessidades dos Clínicos em geral
3-Tipos de atividades eletroencefalográficas
4-As 4 variações normais de um EEG em um adulto
acordado
5-Os 5 grupos possíveis de alterações vistas no EEG
do adulto e suas correlações clínicas

1-Introdução
O Eletroencefalograma (EEG) tem sua data de início no ano de 1929 com
Hans Berger; o mesmo realizava o registro do eletroencefalograma em seu
próprio filho. Desde então, o exame vem sendo aprimorado e, a cada dia,
o EEG é utilizado como ferramenta de pesquisa e diagnóstico dentro da
Neurologia, Neuropediatria, Terapia Intensiva e Medicina do Trabalho.

No que diz respeito à Medicina Ocupacional, o EEG entra como pedido


protocolar para uma gama de atividades laborativas e, por vezes, o
médico do trabalho se vê com muitos questionamentos e, no momento de
pedir o exame, se depara com algumas dúvidas, as quais buscamos
responder com este manual. Decidimos resumir, de forma didática, as
aplicações do EEG e tornar mais acessível os resultados descritos nos
laudos , ou seja, o que é normal e o que é patológico, devendo este último
ser encaminhado para uma avaliação mais detalhada.
2-Necessidades dos clínicos em geral
Nos últimos 10 anos de acompanhamento clínico de exames de
Eletroencefalograma realizados e enviados através da plataforma da
Telemedicinamorsch procuramos observar os principais resultados
fornecidos nos laudos e as necessidades dos colegas em relação ao que
fazer com o paciente avaliado.

O objetivo desse manual não é um aprofundamento em Neurofisiologia,


porém trazer conceitos básicos sobre o exame de EEG, com ênfase na
interpretação do laudo, para reconhecer quais são as alterações que
devem ser valorizadas.

Os pormenores sobre Eletroencefalograma Clínico, Ocupacional ou


Mapeamento Cerebral, bem como a explanação da montagem, pode ser
estudada no nosso blog da neurologia dentro do nosso site.

Queremos fornecer de forma clara os possíveis resultados encontrados


nos laudos e qual a conduta sugerida de acordo com a gravidade da
alteração descrita.

Descreveremos como é um Eletroencefalograma normal de adulto e as


principais alterações encontradas em um exame.

O EEG registra a atividade elétrica cerebral e traz muitas informações


importantes, que complementa a investigação diagnóstica de várias
doenças neurológicas, podendo ser solicitado devido aos seguintes
quadros:

1. Epilepsia
2. Diferenciação entre distúrbios do sono e epilepsia
3. Doenças cerebrovasculares
4. Encefalopatias
5. Avaliação de síncope
6. Alterações no nível de consciência
7. Suspeita de status epilepticus não convulsivo
8. Avalição do paciente em coma
9. Morte cerebral
10.Quadros demenciais

Entendendo o laudo
3-Atividade de base
O primeiro tópico em todo o laudo é a descrição da atividade de base, que
visa a descrição do estado de vigília, sonolência e sono (caso o paciente
tenha dormido durante o exame). Antes, vamos a um conceito básico
sobre os tipos de ondas observadas em um EEG:

Ondas delta – frequência (medida em Hz) <3,5Hz

Ondas teta – 3,5 – 7Hz

Ondas alfa – 8 – 12 Hz

Ondas beta - > 13Hz

3.1 Atividade de base na vigília

O atividade de base durante a vigília começa com a descrição do ritmo


posterior de vigília, que em geral, na criança maior de 5 anos, já se
apresenta como o ritmo posterior de vigília na faixa alfa (ou seja, no
mínimo, 8Hz), visto nas regiões posteriores e reativo a várias manobras ( a
mais comumente empregada é abertura e fechamento ocular). Em
crianças menores, o ritmo posterior de vigília pode variar, inclusive
apresentar-se na faixa teta, sem que isso signifique anormalidade. O
importante é saber se a atividade de base está organizada (ou seja, de
acordo com a faixa etária e com o nível de consciência do indivíduo) e
simétrica (uma vez que a assimetria pode indicar alterações importantes).

3.2 Atividade de base na sonolência e sono


3.B – Atividades que interferem na atividade de
base
3.B.1 – Forma Transitória
Complexo ou onda isolada dentro da atividade de base

3.B.2 – Surto
Grupo de ondas que aparecem e desaparecem dentro da atividade de
base.

3.B.3 – Paroxismo
Fenômeno de início abrupto, atinge rapidamente a amplitude máxima de
onda e termina subitamente.

3.C – Bandas de frequência (Hz) = ciclos/segundo


Delta : < 4 Hz ‘sempre patológico no adulto acordado’

Teta: 4 – 8 Hz

Alfa: 8- 13 Hz

Beta: > 13 Hz

4-AS 4 VARIAÇÕES DE UM EEG NORMAL EM


ADULTO ACORDADO
4.1-Ritmo Alfa
Morfologia - Sinusoidal
Frequência - 8 a 13 Hz

Amplitude - Variável ( < 50 microvolts no adulto)

Ritmicidade - Sim

Distribuição espacial - Posterior

Simetria e sincronia - Sim

Reatividade - Abertura dos olhos e atividade mental, sincroniza com a


estimulação luminosa intermitente.

4.2-Ritmo Miu como outra atividade de frequência


alfa
Morfologia - em arco

Frequência - 7 a 13 Hz

Amplitude - variável

Ritmicidade - sim ( < 50 microvolts)

Distribuição espacial - centro-parietal

Simetria e sincronia - variável

Reatividade - atenuado com o movimento do membro contralateral

4.3- Ritmo beta


Morfologia - variada

Frequência - >13 Hz a 35 Hz

Amplitude – variável

Ritmicidade - sim ( < 30 microvolts)


Distribuição espacial - fronto-central

Simetria e sincronia - sim

Reatividade – aumenta na sonolência e fases iniciais do sono

4.4- Ritmo teta “normal”


Morfologia - variável

Frequência - 4 a 8 Hz

Amplitude - baixa

Ritmicidade - não

Distribuição espacial - temporal

Simetria e sincronia - sim

Reatividade – aumenta na sonolência e fases iniciais do sono

5-OS 5 GRUPOS POSSÍVEIS DE ALTERAÇÕES VISTAS


NO EEG DO ADULTO E SUAS CORRELAÇÕES
CLÍNICAS

5.1-DISFUNÇÃO CEREBRAL DIFUSA

SÃO CLASSIFICADAS EM 2 APRESENTAÇÕES:


5.1A-Diminuição difusa da amplitude ( depressão)
Ao se deparar com um laudo acima, pensar em:

Problema técnico

Medicamentos depressores do sistema nervoso central

Hipotermia

Anóxia

5.1B- Diminuição difusa da frequência


( lentificação)
Quando receber um resultado acima, pensar em:

Encefalopatia metabólica, tóxica ou infecciosa

Hipertensão intracraniana causada por uma hidrocefalia aguda ou edema


cerebral

Perturbações projetadas no córtex provenientes de estruturas subcorticais


da linha média

Auxilia no diagnóstico inicial da Doença de Alzheimer

5.2- DISFUNÇÃO CEREBRAL FOCAL

TAMBÉM CLASSIFICADAS EM 2 APRESENTAÇÕES:

5.2A- Diminuição focal da amplitude (depressão)


Diante de um laudo acima, pensar em:

Lesão cerebral (AVC, tumor, abcesso, contusão)

Hematoma subdural

Hematoma epicraniano

5.2B- Diminuição focal da frequência (lentificação)


Diante de um laudo acima, pensar em:

Lesão cerebral ( AVC, tumor, abcesso, contusão)

Projeção cortical de estruturas profundas com: atividade delta rítmica,


intermitente frontal (FIRDA) ou atividade delta rítmica, intermitente
occipital (OIRDA)

5.3C- PADRÕES PERIÓDICOS

DIVIDIDOS EM 5 APRESENTAÇÕES:

5.3C1-Ondas trifásicas
Quando presentes nos laudos devemos pensar em:

Encefalopatia hepática

Outras encefalopatias metabólicas

- Uremia

- Alterações hidroeletrolíticas

- Hipercalcemia

- Anóxia
- Hipoglicemia

- Hipertireoidismo

- Intoxicação medicamentosa

Lesões cerebrais vasculares, tumorais, degenerativas, infecciosas

5.3C2- Padrão surto-supressão


Devemos pensar em:

Intoxicação aguda por barbitúricos ou depressores do sistema nervoso


central

Encefalopatia hipóxica/ isquemia severa

Hipotermia severa

5.3C3- PLEDS – (Descargas epileptiformes


lateralizadas periódicas em um hemisfério
cerebral) OU
BI-PLEDS – (Descargas epileptiformes lateralizadas
periódicas em ambos os hemisférios,
assincrônicas)
Devemos pensar:

Nas demências,

Quadros que acompanham a Coréia de Huntington,

Parkinson,

Múltiplos infartos cerebrais.


5.3C4- Complexos periódicos na doença de DCJ
(Doença de Creutzfeldt – Jakob) e sua variante
Pensar em quadro específico de demência familiar.

Observar o uso de baclofen e carbonato de lítio que simulam a doença.


Neste caso a suspensão do medicamento normaliza a atividade.

5.3C5- Complexos periódicos na PESS (síndrome


epiletpiforme)
Pensar em epilepsias

5.4-PADRÕES NO COMA
Ritmo de frequência alfa coma
Possibilidades diagnósticas:

Anóxia cerebral difusa

Tóxica

Metabólica

Resultantes de lesão de tronco cerebral

5.5- ATIVIDADE EPILEPTIFORME


Pensar em investigar os tipos de epilepsias,
descrevemos abaixo as 6 apresentações principais.
5.5.A- AEF – (Atividade epileptiforme focal)
A técnica utilizada para rastrear esse tipo de manifestação epiléptica
envolve a realização de um Eletroencefalograma clínico de no mínimo 30
minutos, somado ao complemento de realizar o exame no período de
sono também por 30 minutos.

5.5.B - “Petit maladie” – Crises de ausência como


epilepsia generalizada primária
Nesta investigação, a técnica realizada é fundamental para separar as
possibilidades de crise de ausência de epilepsia de lobo temporal ou
frontal.

5.5.C - Epilepsia “Rolandica”


Condição benigna que ocorre na criança e adolescente e que desaparece
ao entrar na fase adulta. O foco ocorre na região central ou temporal
média. A identificação do dipolo é a principal característica para ser
considerada benigna.

5.5.D - Epilepsia do lobo temporal


As crises parciais complexas da epilepsia do lobo temporal são as crises
mais frequentes do adulto e geralmente rebeldes ao tratamento, sendo
a lobectomia temporal um dos recursos terapêuticos, com excelentes
resultados na maioria dos casos. O EEG apresenta focos na região
temporal anterior.

5.5.E- Síndrome de Lennox-Gastaut


Situação grave que ocorre em crianças ao redor de 2 anos com
Encefalopatia epiléptica grave e retardo mental

5.5.F- “Status Epilepticus”


Nos casos não-convulsivos pode haver dificuldade diagnóstica seja por
crise parcial complexa ou por ausência. Esses pacientes são erroneamente
diagnosticados como portadores de doenças psiquiátricas e nestes casos
o Eletroencefalograma é imprescindível para o diagnóstico diferencial.

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