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Os Chakras [ चक्र / cakra ] , segundo Mircea

Eliade (1907-1986). Excertos e anotações

Esse conjunto de anotações integra a revisão sistemática da tese que considera


o sistema de pontos e meridianos da acupuntura e por extensão o conjunto de
chakras ou cakras, que é a forma romanizada do vocábulo (चक्र cakra) em
sânscrito, como as primeiras representações do que hoje nós compreendemos
como sistema nervoso com suas formas, funções e patologias.
Apesar da referida proposição se deter no sistema etnomédico ou medicina
tradicional chinesa não é possível ignorar a relação entre as concepções indiana
e chinesa com as suas promissoras aplicações que vem sendo reconhecidas em
todo mundo desde meados do século XX.
Destacamos aqui os estudos e intervenções de Svoboda e Lade (no livro Tao e
Dharma, 1995) que explora as semelhanças e diferenças desses dois sistemas
etnomédicos, e intervenções clínicas de Gabriel Stux, publicadas entre outras
edições no Medical Acupuncture, 1994. Gabriel Stux inclui na aplicação
tradicional de agulhas da acupuntura as concepções do sistema indiano de
chakra para diagnose das patologias e escolha do tratamento. Na pesquisa de
Svoboda e Lade, na ilha, quase indiana, de Sri Lanka (Ceilão), com forte
influência chinesa, que se estendeu a médicos tradicionais tratadores de
elefantes e textos clássicos, eles constataram que apesar das doutrinas
chinesas e indianas partilharem de temas comuns (destaca as semelhanças
entre Chi e Prana), elas são essencialmente únicas, e seus conceitos não podem
ser intercambiados na totalidade.
A escolha da análise da tese de Mircea Eliade (1907-1986) se deve não somente
à pertinência do tema Chakras, mas também a excelência da metodologia
empregada por ele para obter uma melhor compreensão de uma medicina ou
espiritualidade exótica sem nos limitarmos a nossa própria orientação cultural.
Sua tese sobre as doutrinas do Yoga, destinada a historiadores de religiões,
psicólogos e filósofos (como ele a definiu) foi apresentada na Universidade da
Romênia, (1932-1936) na cadeira de filosofia e filologia, foi posteriormente
adaptada para livro (Chicago, 1967) com o nome de “Yoga, imortalidade e
liberdade” de cuja tradução de Teresa Barros Velloso para o português extraímos
aqui as descrições da concepção de chakra/ cakra, orientados pelas notas e
índice remissivo da edição (1972/1996).
Sem o apoio das disciplinas da história e linguística, como evidencia em seu
trabalho (e estudo do sânscrito e filosofia por quatro anos (1928-1931) na
Universidade de Calcutá não teríamos obtido resultados tão precisos. A ênfase
em linguística desenvolvida por ele se deve inclusive a natureza do sânscrito em
sua relação aos idiomas europeus despertados pela filologia comparada indo
ariana.
No caso da tese que estamos desenvolvendo sobre as representações
“primitivas” do que hoje nós compreendemos como sistema nervoso, a nossa
maior demanda não recai sobre a barreira linguística do entendimento de um
conjunto de ideogramas chineses. Nossa maior dificuldade são as relações
destes com a nomenclatura das patologias e disfunções do sistema nervoso
historicamente identificadas tanto em nossa medicina ocidental como no sistema
etnomédico chinês. Do mesmo modo que Eliade temos a análise do processo
histórico de ambos os sistemas como guia, sendo que nossa ênfase é a
antropologia médica.
Nesse presente texto recortamos da valiosa contribuição de Eliade, que além de
sua metodologia histórico-filológica, nos trouxe, de forma clara, a noção de que
os chakras possuem relação com os plexos nervosos, e qual a natureza desta
relação, se inclui as noções de sono, sonho e demais estados de consciência,
tão relevantes para a moderna neurociência. Os plexos nervosos ou plexos
raquídeos, são conjuntos de nervos motores sensitivos ou mistos, que contém
por sua vez, fibras motoras ou sensitivas e tem uma distribuição fixa em um
território próprio. Tais raízes e troncos ou ramos se entrelaçam e formam
territórios distintos de sua raiz raquidiana e troncos nervosos, geralmente na
forma de bandas organizadas paralelamente recordando sua disposição
metamérica em zonas. (Testut, Latarjet p.219)
Analisando os estudos sobre efeitos fisiológicos do Yoga, Eliade identificou a
existência de muitos métodos hatha-yóguicos para se obter resultados
semelhantes, supondo que alguns de seus praticantes se especializaram em
técnicas fisiológicas, mas outros (a maioria) seguiu a tradição milenar de uma
fisiologia mística. Segundo ele pode afirmar que o cormo construído pelos Hatha-
yoguis, os tantristas e alquimistas (que analisa em sua tese juntamente com as
concepções Budistas, Bramanistas/hinduístas ou xamânicas dos primitivos
aborígenes) descrevem o corpo de um “homem-deus”.
Em suas palavras:
“ De fato, apesar de os indianos terem elaborado um complexo sistema de
medicina científica, nada nos leva a crer que as teorias da fisiologia mística
tenham se desenvolvido na dependência dessa medicina objetiva e utilitária, ou
ao menos vinculadas a ela. A “fisiologia sutil” formou-se provavelmente a partir
de experiências ascéticas, extáticas e contemplativas, expressas na mesma
linguagem simbólica da cosmologia e do ritual tradicional. Isso não quer dizer
que tais experiências não tenham sido reais: elas eram reais, porém não no
sentido em que um fenômeno físico é real. Os textos tântricos e de hatha-yoga
chamam nossa atenção por seu “caráter experimental”, trata-se, porém, de
experiências efetuadas em níveis distintos dos da vida cotidiana e profana. As
“veias”; os “nervos” os “centros” dos quais falaremos, correspondem sem dúvida
a experiências psicossomáticas e estão em relação com a vida profunda do ser
humano, mas não parece que “veias” e termos semelhantes indiquem órgãos
anatômicos e funções estritamente fisiológicas.
Tentou-se, muitas vezes, localizar anatomicamente essas “veias” e “centros”.
Hermann Walter, por exemplo, acredita que, no hatha-yoga, nādi signifique
“veias”; ele identifica idā e pingalā com a carótida (loeva et dextra) e
brahmarandhra com a sutura frontal (cf. H.Walter,Svātmārāna’s Hatha-yoga-
pradipikā, München, 1893, p. IV, VI e IX).
De outro lado, a identificação dos “centros”; (cakra) com seus plexos
tornou-se corrente: mūlādhāra-cakra seria o plexo sagrado; svādhisthāna,
o plexo prostático; manipūra, o plexo epigástrico; anāhata, o plexo
faríngeo; ājnā, o plexo cavernoso. Contudo, basta ler atentamente os textos
para perceber que se trata de experiências transfisiológicas; todos esses
“centros” representam “estados yóguicos”, isto é, inacessíveis sem ascese
espiritual. As mortificações e as disciplinas meramente psicofisiológicas não
são suficientes para “despertar” os cakra ou penetrá-los; o essencial, o
indispensável, continua sendo a meditação, a realização espiritual. Assim, é
mais prudente considerar a “fisiologia mística” como resultado e conceituação
das experiências levadas a efeito, esses últimos efetuavam suas experiências
em um “corpo sutil”, isto é, por meio de sensações, tensões, estados
transconscientes inacessíveis aos profanos. Eles dominavam uma zona
infinitamente mais vasta que a zona psíquica “normal”, penetravam nas
profundezas do inconsciente e sabiam “despertar” as nascentes arcaicas da
consciência primordial, fossilizadas na maioria dos seres humanos.
Segue então os excertos de suas reflexões e descrições dos Cakras.
Segundo a tradição indiana existem sete cakra importantes que se relacionam
com os seis plexos e a sutura frontal.
1º) Mūlādhāra (mūla = raiz) está situado na base da coluna vertebral, entre o
orifício anal e os órgãos genitais (plexo sacrococcigiano). Tem forma de lótus
vermelho com quatro pétalas, nas quais estão escritas em ouro as letras v, s, s’,
s. . No meio do lótus um quadrado amarelo, emblema do elemento terra (prthiví),
tem no centro um triângulo com o vértice invertido, símbolo da yoni, chamado
kāmarūpa; no coração do triângulo está svayambhūlinga (o linga existente por si
mesmo), de cabeça brilhante como uma joia. Enrolada oito vezes (tal como uma
serpente) ao redor de si mesma, brilhante como o relâmpago, dorme kundalini,
obstruindo com a boca (ou cabeça) a abertura do linga. Kundalini fecha dessa
maneira o brahmadvāra (porta de Brahman) e o acesso à susumnā. O
mūlādhāra-cakra relaciona-se com a forca coesiva da matéria, a inércia, o
nascimento do som, o sentido do olfato, a respiração apāna, os deuses
Indra, Brahmā, Dakīni, Śakti etc.
2º) Suādhisthāna-cakra, também chamado jalamandala (porque seu elemento
é jala = água) e medhradhāra (medhra=pênis), está situado na base do órgão
gerador masculino (plexo do sacro). Tem forma de lótus com seis pétalas de cor
vermelho-alaranjado, onde estão inscritas as letras b, bh, m, r; l e y. No centro
do lótus há uma meia-lua branca que tem relaçāo mística com Varuna. No meio
da lua, um bija-mantra em cujo centro está Visnu flanqueado pela deusa Sākinī
(segundo a Śiva-samhitā, V,99, trata-se de Rākinī). O svādhisthāna-cakra está
relacionado com o elemento água, a cor branca, a respiração prāna, o
sentido do gosto, a mão etc.
3º) Manipūra (mani = jóias; pūra = cidade) ou nābhisthāna (nābhi= umbigo),
situado na região lombar na altura do umbigo (plexo epigástrico), tem forma de
lótus azul com dez pétalas e as letras d, dh,n, t, th, d, dh, n, p, ph. No meio do
lótus há um triângulo vermelho e sobre o triângulo o deus Mahārudra, sentado
sobre um touro, tem ao seu lado Lākinī Śakti, de cor azulada. Este cakra
relaciona-se com o elemento fogo, o Sol, o rajas (fluido menstrual), a
respiração samāna, o sentido da visão etc.
4º) Anāhata (anāhata s’abd é o som que produzem, sem se tocarem, dois
objetos, isto é, “um som místico"); está na região do coração, sede do prāna e
do jivātman. De cor vermelha, tem forma de lótus com doze pétalas douradas
(onde estão inscritas as letras k, kh, g, gh etc.). No meio do lótus há dois
triângulos dispostos em forma de “selo de Salomão”, cor de fumaça, no centro
do qual se acha outro triângulo dourado contendo um linga brilhante. Acima dos
dois triângulos está Īśvara associado à Śakti Kākinī (de cor vermelha). Esse
chacra está relacionado com o elemento ar, o sentido do tato, o falo, a forca
motriz, o sistema sanguíneo, etc.
5º) Visuddha (o cakra da pureza) está na região da garganta, (plexo laríngeo e
faríngeo, na junção da espinha dorsal com o bulbo raquidiano), sede da
respiração udāna e do bindu. Tem forma de lótus de dezesseis pétalas de cor
vermelho-acinzentado (com as letras a, ā, i, u, ù etc.). No interior do lótus, um
espaço azul, símbolo do elemento ākāsa (éter, espaço), tem no meio um círculo
branco contendo um elefante. Sobre o elefante repousa um bija-mantra (hang)
sustentando Sadāśiva, metade prata, metade ouro, pois o deus está
representado em seu aspecto andrógino (ardhanārisvara). Sentado em um touro,
tem em suas numerosas mãos uma enorme quantidade de objetos e emblemas
que lhe são característicos (vajra, tridente, sino etc.). Metade de seu corpo
constitui a Sadā Gaurī, com dez braços, cinco faces (cada uma com três olhos).
Este cakra está relacionado com a cor branca, o elemento éter (ākāsa), o
sentido da audição, a pele, etc.
6º) Ajnā (ordem, comando), este cakra está situado entre as sobrancelhas (plexo
cavernoso). Tem forma de lótus branco com duas pétalas onde estão inscritas
as letras h e ks’. É a sede das faculdades cognitivas: buddhi, ahamkāra,
manas e os indriya (sentidos) em sua modalidade sutil. No lótus há um
triângulo branco com o vértice invertido (símbolo da yoni); no meio do triângulo,
um linga igualmente branco chamado itara (o "outro"). Aqui fica a sede de
Paramaśiva. O bija-mantra é OM. A deusa tutelar é Hākini: ela tem seis rostos e
seis braços e está sentada em um lótus branco.
7º) Sahasrāra-cakra. Localizado no topo da cabeça, sua forma é a de lótus
virado para baixo, com mil pétalas (sahasra = mil). Também chamado
brahmasthāna, brahmarandhra, nirvāna-cakra etc., suas pétalas exibem todas
as articulações possíveis do alfabeto sânscrito, que tem 50 letras (50 x 20). No
meio do lótus acha-se a lua cheia que encerra um triângulo; aí se experiencia a
uniāo final (unmani) de Śiva e Śakti, finalidade do sādhana tântrico; aí também
desemboca a kundalini depois de ter perpassado os seis cakra inferiores. É
necessário notar que o sahasrāra-cakra não pertence ao nível do corpo, ele
já designa o plano transcendente - isso explica por que se fala geralmente
da doutrina dos "seis cakra".
[ Muitas vezes um esquema mitológico é interiorizado e encarnado, utilizando-
se a teoria tântrica dos cakra. No poema vixnuíta intitulado Brahma-samhitā o
sahasrāra-cakra é assimilado a Gokula, morada de Krsna ] p.222
Existem outros cakra menos importantes. Assim, entre o mūlādhāra e o
svādhisthāna acha-se o yonisthāna, lugar de reunião de Śiva e Śakti, lugar de
beatitude, também chamado (como o próprio mūlādhāra) kāmarūpa, isto é,
desejo e forma. É a fonte do desejo e, em nível carnal, uma antecipação da união
Śiva-Śakti, que se completa no sahasrāra. Perto do ājñā-cakra acham-se o
manas-cakra e o soma-cakra, relacionados com as funções intelectivas e certas
experiências yóguicas. Perto ainda do ājñā-cakra existe também o kārana-rūpa,
sede das sete formas causais, consideradas produtoras e constituintes do corpo
sutil e do corpo físico. Enfim, outros textos falam de certo número de ādhāra
(suportes, receptáculos), situados entre os cakra ou identificados com eles.
Na tradição hesicasta (de oração solitária) distinguiu-se segundo certos autores,
quatro “centros” de meditação e prece: 1º centro craniano cérebro-frontal
(localizado na região entre as sobrancelhas); 2º) centro buco-laríngeo
(correspondente ao “pensamento mais comum: o da inteligência que se
expressa na conversação, na correspondência e nos primeiros estágios da
oração”, A Bloom); 3º) centro peitoral (“situado na parte superior e média do
peito”. A estabilidade do pensamento, já colorido por um elemento tímico, é muito
maior nos casos anteriores, mas é ainda o pensamento que define a coloração
emocional e que é modificado por ela” A. Bloom); 4º) centro cardíaco (situado
“na parte superior do coração, um pouco abaixo da mama esquerda”, segundo
os Padres gregos “um pouco acima”, segundo Theophane, o Recluso e outros
“É o local físico da atenção perfeita”; Antoine Bloom (L’ hesychasme, Yoga
Chrétien? p.185)
Os tantras budistas admitem somente quatro cakra, situados respectivamente
nas regiões umbilical, cardíaca, laríngea e cerebral. Este último, o mais
importante, chama-se usnisa-kamalā (lótus da cabeça) e corresponde ao
sahasrāra dos hindus. Nos três cakra inferiores estão localizados os três kāya
(corpos): nirmāna-kāya no cakra umbilical, dharma-kāya no cakra do coração e
sambhoga-kāya no cakra da garganta. Porém, observam-se anomalias e
contradições relativas ao número e localização desses cakra (ver Dasgupta, An
Introduction to Tantric Buddhism, p.163 e ss.). Da mesma forma que nas
tradições hindus, os cakra sāo associados às mudrā e às deusas, neste caso:
Locanā, Māmaki, Pāndarā e Tārā (Sri-samputikā, citado por Dasgupta, op. cit.,
p. 165). O Hevajra-tantra oferece uma longa lista de "quaternidades"
relacionadas com os quatro cakra: quatro tattva, quatro anga, quatro momentos,
quatro nobres verdades (ārya-sattva) etc. (ib., pp. 166-167)
Vistos em projeção, os cakra constituem um mandala cujo cento é marcado pelo
brahmarandhra. É nesse centro que tem lugar a ruptura de nível, onde se efetua
o ato paradoxal da transcendência, a superação do samsāra e a "saída do
Tempo". O simbolismo do mandala é igualmente constitutivo dos templos e de
toda construção sagrada indiana: visto em projeção, um templo é um mandala.
Pode-se então dizer que toda circum-ambulação equivale a uma marcha de
aproximação ao Centro, e que a entrada em um templo repete a inserçāo
iniciática em um mandala ou a passagem da kundalini através dos cakra. Além
disso, o corpo é transformado, ao mesmo tempo, em microcosmos (com o monte
Meru como centro) e em panteão, cada região e cada órgão sutil com sua
divindade tutelar, seu mantra, sua letra mística etc. O discípulo não apenas se
identifica com o cosmos, mas também chega a redescobrir em seu corpo a
gênese e a destruiçāo dos universos. Como veremos, o sādhana compreende
duas etapas: 1°) a "cosmizacão" do ser humano; 2°) a "transcendência" do
cosmos, isto é, sua "destruição” pela unificação dos contrários (Sol, Lua etc.). O
sinal por excelência da transcendência é constituído pelo ato final da ascensão
da kundalini: sua união com Śiva, no topo da caixa craniana, no sahasrāra.
KUNDALINI
Já mostramos vários aspectos da kundalini, ora descrita como serpente, ora
como deusa ou energia. O Hatha-yoga-pradipikā, III, 9, apresenta-a como
"Kutilāngi (a do corpo torcido), Kundalinī, Bhujangī (serpente fêmea), Sakti,
Iśvarī, Kundalī, Arundhatī, termos todos equivalentes. Da mesma forma que se
abre uma porta com uma chave, o yogin abre a porta da liberação (mukti)
libertando a kundalini mediante o hatha-yoga" (cf. Goraksa Sataka,51).
Quando a Deusa adormecida é acordada pela graça do guru todos os cakra são
rapidamente atravessados (Siva-samhitā,IV, 12-14; Hatha-yoga-pradipikā,III,1 e
ss.). Identificada com Śabdabrahman ,isto é,com o mantra OM, a kundalini
acumula os atributos de todos os deuses e todas as deusas (Saradā-tilaka-
tantra, I, 14,55;XXV,6 e ss.).
p. 202-205; 337
CONCENTRAÇĀO (DHĀRANĀ)
A concentração (dhāranā, da raiz dhr, conservar fechado) é na realidade a
fixação em um único ponto, mas cujo conteúdo é estritamente conceitual. Em
outras palavras dhāranā, objetiva deter o fluxo psicomental e fixa-lo em um único
ponto – realiza essa fixação, a fim de compreender. Na definição de Patañjali,
ela é a fixação do pensamento em um único ponto (Yoga Sutra III, 1 ). Vyāsa
indica com precisão que a concentração se dá geralmente no centro (cakra) do
umbigo, no lótus do coração, na luz da cabeça, na ponta do nariz, na ponta da
língua ou em um lugar ou objeto exterior (Yoga Sutra III, 1). Vācaspati Mis’ra
acrescenta que não se pode obter a dhāranā, sem a ajuda de um objeto ao qual
se fixe o pensamento.
Comentando o Yoga Sutra III, 1 Vyāsa já falava da concentraçāo no “lótus do
coração”. Esta experiência já é encontrada nas Upanisad, sempre relacionada
com o encontro com o próprio Si (atman). A luz “do coraçāo”, terá um destino
excepcional em todos os métodos místicos indianos pós-Upanisad. A propósito
desse texto de Vyāsa,Vācaspati Miśra descreve longamente o lótus do coração:
ele tem oito pétalas e se situa de cabeça para baixo, entre o abdome e o peito;
é necessário inverter sua posição, retendo a respiração (recaka) e concentrando
nele a mente (citta). No centro do lótus encontram-se o disco solar e a letra A;
ali é a sede do estado de vigília. Acima encontramos o disco lunar com a letra
U; é a sede do sono. Mais acima ainda está o “círculo do fogo”com a letra M,
sede do sono profundo. Enfim, acima deste último, encontra-se o “círculo mais
alto, cuja essência é o ar”, sede do quarto estado (“estado cataléptico”).
Nesse último lótus, mais exatamente em seu pericarpo, situa-se o ”nervo (nādi)
de Brahman”, orientado para o alto e desembocando no círculo do Sol e nos
demais círculos: aqui começa a nādi chamada susumnā, que também atravessa
os círculos exteriores. Aqui é a sede de citta; concentrando-se nesse preciso
ponto o yogin obtém a consciência de citta (em outros termos, toma consciência
da consciência). ...
O importante é deixar claro desde já que a tradição do Yoga clássico,
representada por Patañjali, conheceu e usou os esquemas da “fisiologia mística”;
chamada a desempenhar um papel importante na história da espiritualidade
indiana. ...
p.71-72
ELIADE, Mircea. Yoga, imortalidade e liberdade. SP: Palas Atenas, 1996

Outras referências
SVOBODA, Robert; LADE, Arnie. Tao e Dharma. SP: Editora Pensamento, 1995
STUX, Gabriel. Chakra acupuncture.Medical Acupuncture, 1994 Volume6/ Nº1
http://www.medicalacupuncture.org
TESTUT, L.; LATARJET, A. Tratado de anatomia humana. Tomo III). Bacelona:
Salvat Ed. 1983
...................................
Ilustraçāo: Chakra positions in relation to nervous plexi.
C. W. Leadbeater (1847-1934). The book "The Chakras, 1927

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Uma publicação de
Paulo Pedro P. Rodrigues da Costa / costapppr@gmail.com
Publicado no Blog: Acupuntura, ciência & profissão em 17 de maio de 2023

VER TAMBÉM

ACUPUNTURA DE CHAKRA
GABRIEL STUX, M.D. / Tradução: Paulo Pedro P.R. Costa, 2013

https://etnomedicina.blogspot.com/2013/06/acupuntura-de-chakra.html

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