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निर्वाण
O “princípio do Nirvana”, anotações
Segundo Eliade assinala que a essência da espiritualidade hindu se exprime através do mútuo
relacionamento entre quatro conceitos fundamentais: Carma, Maya, Nirvana e Ioga.
1. A lei causal universal (Carma), que condena o ser humano a renascer indefinidamente;
Souza analisando a história Sidarta Gautama (Buda) contada por Herman Hesse e analisada na
ótica da teoria junguiana do processo de individuação e contextualizada com base nas
perspectivas histórico-etnológicas de Mircea Eliade e Joseph Campbell, nos apresenta o
conceito de Nirvana obtido através da Ioga,
Jung parte do princípio de que existem entre o homem ocidental e o oriental diferenças
psicológicas e espirituais muito significativas é o que buscamos entrever apresentando
excertos da “apropriação” que a psicanálise (e no caso a psicologia analítica) fez do conceito
de “nirvana” que atravessa os continentes da Índia, para a China e Japão para uma desejada
psicologia científica, que ainda hoje é um controverso projeto.
uma questão que lamentavelmente saiu do âmbito de discussões acadêmicas para questões
judiciais, de quem pode ou não pode praticar acupuntura e entender a medicina tradicional
chinesa, segundo o Colégio Médico de Acupuntura no Brasil que entrou com processos
judiciais contra a prática da acupuntura nas profissões paramédicas incluindo a psicologia.
Capra, Fritjof. The Tao of Physics. Shambhala Publications; Boston, MA, USA: 1974. In:
Sattin D, Magnani FG, Bartesaghi L, Caputo M, Fittipaldo AV, Cacciatore M, Picozzi M, Leonardi
M. Theoretical Models of Consciousness: A Scoping Review. Brain Sci. 2021 Apr 24;11(5):535.
doi: 10.3390/brainsci11050535. PMID: 33923218; PMCID: PMC8146510.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8146510/
Marcelo Gleiser em artigo especial para a Folha SP - Ciência e espiritualidade (18 de Julho de
1999) comenta a proliferação de seitas da "Nova Era", de várias superstições e de pregadores
da "verdade", proliferando o crescimento do desprezo pela ciência e pelo que ela tem a dizer
sobre o mundo. Destaca os livros de divulgação científica tiveram sucesso por revelar uma
conexão entre ciência e espiritualidade, como "O Tao da Física", de Fritjof Capra, mas nos
alerta para consideração de que a ciência esteja simplesmente redescobrindo "verdades"
descobertas através da meditação ou de uma conexão mística com o mundo, como nas
religiões orientais ressaltando que o fundamental é saber discernir os limites entre a ciência e
a espiritualidade, suas diferentes missões e o simples fato de elas serem necessárias para a
nossa existência.
Observe-se que tal cuidado, inclusive já está na proposição de Capra quando nos afirma que:
Todo aquele que quer repetir um experimento na moderna Física subatômica tem de passar
por inúmeros anos de treinamento. Somente então estará capacitado a indagar da natureza
uma determinada questão, utilizando-se do experimento, e a possuir as condições que o
habilitem a compreender a resposta. De idêntica forma, uma experiência mística profunda
demanda, via de regra, inúmeros anos de treinamento sob a orientação de um mestre
experiente e, da mesma forma que no treinamento científico, o tempo dedicado a essa tarefa
não garante, por si só, a obtenção do sucesso. Se o aluno consegue ser bem-sucedido, estará
em condições de repetir o experimento '". A possibilidade de repetir a experiência constitui, na
verdade, uma característica essencial para o treinamento místico: nela reside, de fato, o
objetivo básico da instrução espiritual dos místicos. Capra oc. (tradução brasileira Cultrix) p.36
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Para Carl Gustav Jung (1875 - 1961) integrante da sociedade internacional de psicanálise até
1912
... todo fenômeno requer ao mesmo tempo um ponto de vista mecanicista-causal e um ponto
de vista energético-final. É somente a oportunidade, quer dizer, a possibilidade de êxito que
decide se a preferência deve recair sobre este ou aquele ponto de vista. Se se considera o
aspecto qualitativo do acontecimento, é o ponto de vista energético que é postergado, porque
nada tem a ver com as substâncias, mas unicamente com suas relações quantitativas de
movimento.
Já se discutiu muito a questão se o acontecimento psíquico pode ser tomado também sob o
ponto de vista energético. A priori não há razão para que isto não seja possível, pois não há
motivos para excluir o acontecimento psíquico do campo dos dados objetivos da experiência.
Como bem o mostra o exemplo de Wundt 8, é possível duvidar, de boa-fé, que o ponto de
vista energético possa ser aplicado com relação aos fenômenos psíquicos, e, em caso
afirmativo, que a psique possa ser considerada como um sistema relativamente fechado.
No que respeita ao primeiro ponto, devo concordar com a opinião de VON GROT, um dos
primeiros a sustentar a teoria energética da psique, quando afirma: "O conceito de energia
psíquica é tão legítimo em ciências quanto o de energia física, e a energia psíquica tem
também suas medidas quantitativas e formas diferentes, como a energia física".
No que se refere ao segundo ponto, eu me distingo dos que estudaram esta questão até o
presente, no sentido de que quase não me tenho preocupado em enquadrar os processos da
energia psíquica no sistema físico. Se não o faço, não é porque possuo, quando muito, vagas
suposições a este propósito, mas porque não encontro pontos de apoio reais. Embora esteja
convencido de que a energia psíquica se acha de algum modo estreitamente ligada ao
processo físico, ainda preciso de experiências e de conhecimentos bastante diversos para falar,
com competência, a respeito desta vinculação.
V. GROT, Die Bregriffe der Seele und derpsychischen Energie in der Psychologie, p. 290.
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Lipschütz, A. Warum wir sterben [Por que morremos]. Stuttgart, 1914. (104-105, 118)
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Em seu Livro Low..no terceiro capítulo, enquanto tenta apresentar a ideia do recalcamento, faz
breves descrições do princípio de prazer e de realidade. Explicando o princípio de prazer, Low
se vê diante da tarefa de demonstrar de que modo sensações de dor e desprazer obedeceriam
a essa tendência. Após afirmar que dor e desprazer podem ser utilizados para intensificar as
sensações de prazer e que de fato isso é feito desde a infância, propõe:
É possível que mais profundamente que o princípio de prazer jaz o princípio de Nirvana, como
se poderia chamá-lo – o desejo da criatura recém-nascida de retornar ao estágio de
onipotência, no qual não há desejos não satisfeitos, no qual ele existia dentro do útero da
mãe. ...
Se tentarmos agora localizar na filosofia de Schopenhauer algo que possa ter influenciado Low
em suas afirmações sobre o princípio de Nirvana, encontraremos indícios em “O Mundo como
Vontade e como Representação”. Na parte final dessa obra, Schopenhauer tenta refletir sobre
os efeitos de seu pensamento na prática, caminhando para uma proposição (ou talvez uma
problematização) ética.
Já que não é possível (e nem mesmo necessário, nesse caso) nos determos nas minúcias de
seu raciocínio, vemos que ele indica haver uma semelhança entre o que chama de negação da
vontade e o nirvana, “um estado no qual não existem quatro coisas, a saber, nascimento,
velhice, doença e morte”.
Ou ainda
.. ficamos com a impressão de que Low, apesar de não ter deixado explícito em seu texto, se
serve das ideias de Ferenczi (1913) [“O Desenvolvimento do Sentido de Realidade e seus
Estágios”]. Uma vez que seu livro tinha a intenção de ser mais acessível a leigos, ela pode ter
optado por não incluir muitas notas ou citações, o que justificaria em parte a omissão. Sua
descrição do princípio de Nirvana, porém, é feita em termos tão parecidos com os que Ferenczi
havia utilizado sete anos antes que é muito provável que tenha sido ele uma das principais
fontes dessa ideia.
Silva observa ainda que ... ao se apropriar do princípio de Nirvana de Low, Freud o apresenta
sob um novo prisma. A descrição de Low tem como foco a noção de um desejo de retornar ao
estado de onipotência da vida dentro do útero.
Para Freud, o essencial parece ser o mecanismo econômico desse desejo, traduzido como
tendência à extinção das excitações.
... Para Freud, o foco parece ser o rebaixamento ou eliminação da tensão, que, na formulação
de Low, aparece como estado em que não há desejos não realizados. ...
Silva , Marcus Vinicius Neto. Barbara Low e o princípio de Nirvana. Revista Lacuna 7 de agosto
de 2019 artigo, n. -7 ISSN 2447-2663 https://revistalacuna.com/2019/08/07/n-7-7/
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Voltando a Freud:
Será lembrado que assumimos a opinião de que o princípio governante de todos os processos
mentais constitui um caso especial da ‘tendência no sentido da estabilidade’, de Fechner, e,
por conseguinte, atribuímos ao aparelho psíquico o propósito de reduzir a nada ou, pelo
menos, de manter tão baixas quanto possível as somas de excitação que fluem sobre ele.
Barbara Low [1920, 73] sugeriu o nome de ‘princípio de Nirvana’ para essa suposta tendência,
e nós aceitamos o termo. Sem hesitação, porém, temos identificado o princípio de prazer-
desprazer com esse princípio de Nirvana. Todo desprazer deve assim coincidir com uma
elevação e todo prazer com um rebaixamento da tensão mental devida ao estímulo; o
princípio de Nirvana (e o princípio de prazer, que lhe é supostamente idêntico) estaria
inteiramente a serviço dos instintos de morte, cujo objetivo é conduzir a inquietação da vida
para a estabilidade do estado inorgânico, e teria a função de fornecer advertências contra as
exigências dos instintos de vida - a libido - que tentam perturbar o curso pretendido da vida.
Tal visão, porém, não pode ser correta. Parece que na série de sensações de tensão temos um
sentido imediato do aumento e diminuição das quantidades de estímulo, e não se pode
duvidar que há tensões prazerosas e relaxamentos desprazerosos de tensão. O estado de
excitação sexual constitui o exemplo mais notável de um aumento prazeroso de estímulo
desse tipo, mas certamente não o único. ...
... Seja como for, temos de perceber que o princípio de Nirvana, pertencendo, como pertence,
ao instinto de morte, experimentou nos organismos vivos uma modificação através da qual se
tornou o princípio de prazer, e doravante evitaremos encarar os dois princípios como um só.
Se nos preocupamos em acompanhar essa linha de pensamento, não é difícil imaginar a força
que foi a fonte da modificação. Ela só pode ser o instinto de vida, a libido, que assim, lado a
lado com o instinto de morte, apoderou-se de uma cota na regulação dos processos da vida.
Assim, obtemos um conjunto de vinculações pequenos, mas interessantes. O princípio de
Nirvana expressa a tendência do instinto de morte; o princípio de prazer representa as
exigências da libido, e a modificação do último princípio, o princípio de realidade, representa a
influência do mundo externo.
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O id, excluído do mundo externo, possui seu próprio mundo de percepção. Ele detecta com
extraordinária agudez certas modificações em seu interior, especialmente oscilações na tensão
de suas necessidades instintivas, e essas modificações tornam-se conscientes como sensações
na série prazer-desprazer. É difícil dizer, com efeito, por que meios e com a ajuda de que
órgãos sensórios terminais essas percepções ocorrem. Mas é fato estabelecido que as
autopercepções - sensações cenestésicas e sensações de prazer-desprazer - governam a
passagem de acontecimentos no id com força despótica. O id obedece ao inexorável princípio
de prazer. Mas não o id sozinho. Parece que também a atividade dos outros agentes psíquicos
só é capaz de modificar o princípio de prazer, mas não de anulá-lo, e permanece sendo
questão da mais alta importância teórica, questão que ainda não foi respondida, quando e
como é possível este princípio de prazer ser superado. A consideração de que o princípio de
prazer exige uma redução, no fundo a extinção, talvez, das tensões das necessidades
instintivas (isto é, o Nirvana) leva às relações ainda não avaliadas entre o princípio de prazer e
as duas forças primevas, Eros e o instinto de morte.
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Princípio de Nirvana
al. Nirwanaprinzip; esp. principio de Nirvana; fr. principe de Nirvana; ing. Nirvana principle
Barbara Low, Psycho-Analysis. A Brief Account of the Freudian Theory, Londres, Allen & Unwin,
1920.
Laplanche, Pontalis em seu dicionário sobre este “princípio do Nirvana”, destacam a relação
desta concepção com o “princípio de inércia (neurônica) ” ou “princípio de funcionamento do
sistema neurônico” postulado por Freud no Projeto para uma psicologia científica (Entwurf
einer Psychologie, 1895):
Laplanche, Jean. Vocabulário de psicanálise. Laplanche e Pontalis. SP: Martins Fontes, 2001
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Para Rapaport na sua análise da estrutura da teoria psicanalítica o Modelo da Entropia (ou
Econômico) pode vir a tornar-se um fator unificador da teoria psicanalítica, considerando que
esta não necessita de dados adicionais para desenvolver-se; ao contrário, a quantidade de
dados já é embaraçadoramente ampla. Também não precisa de dados que – embora passíveis
de tratamento estatístico - não passam de informes clínicos disfarçados e a rigor, os próprios
informes clínicos são melhores do que os dados desse gênero.
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Buda ensinou que a existência humana é caracterizada por várias formas de sofrimento
(nascimento, envelhecimento, doença e morte), que são vivenciadas ao longo de muitas vidas
no ciclo de renascimento chamado samsara (literalmente “errante”). Buscando um estado
além do sofrimento, ele determinou que sua causa – ações negativas e as emoções negativas
que as motivam – deveria ser destruída. Se essas causas pudessem ser erradicadas , não
teriam efeito, resultando na cessação do sofrimento. Essa cessação foi o nirvana. O Nirvana
não era visto, portanto, como um lugar, mas como um estado de ausência, nomeadamente a
ausência de sofrimento.
Samsara (saṃsāracakka)
'Roda de renascimentos' (saṃsāracakka). A ignorância (avijjā) é o seu centro (ou nave) porque
é a sua raiz. O envelhecimento e a morte (jarā-maraṇa) é o seu aro (ou fel) porque o encerra.
Os dez elos restantes [da Origem Dependente] são seus raios [ou seja, saṅkhāra até o processo
de vir a ser, bhava]
https://pt.dreamstime.com/illustration/dharmachakra.html
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涅槃
Nièpán / Nirvana