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Paulo Pedro P. R.

Costa, março de 2024


http://medicinacomportamental.blogspot.com/

निर्वाण
O “princípio do Nirvana”, anotações

Segundo Eliade assinala que a essência da espiritualidade hindu se exprime através do mútuo
relacionamento entre quatro conceitos fundamentais: Carma, Maya, Nirvana e Ioga.

Desde o período pós-védico, o pensamento hindu busca compreender basicamente o seguinte:

1. A lei causal universal (Carma), que condena o ser humano a renascer indefinidamente;

2. O processo de ‘ilusão cósmica’ (Maya), que sustenta o universo, possibilitando, em razão da


nossa ignorância metafísica, a eternização do processo reencarnatório;

3. A realidade absoluta (Nirvana, Átman, Brahman, o Incondicionado etc.), que transcende a


ilusão cósmica e a experiência humana condicionada pela lei da reencarnação;

4. Os diversos meios para alcançar o Absoluto (Ioga) e conquistar a libertação.

Souza analisando a história Sidarta Gautama (Buda) contada por Herman Hesse e analisada na
ótica da teoria junguiana do processo de individuação e contextualizada com base nas
perspectivas histórico-etnológicas de Mircea Eliade e Joseph Campbell, nos apresenta o
conceito de Nirvana obtido através da Ioga,

Na concepção jungniana Sidarta busca separar-se do eu, procura desindividualizar-se. Tendo


em vista o problema da identidade, implicado na possibilidade de desindividualização, é
importante considerar a posição de Jung quanto a essa questão.

Souza, L. E. da S. e ., & Delgado, V. T.. (2008). O percurso de Sidarta e o problema da


identidade um estudo transdisciplinar do romance de Hermann Hesse. Psicologia USP, 19(2),
213–234. https://doi.org/10.1590/S0103-65642008000200007

Jung parte do princípio de que existem entre o homem ocidental e o oriental diferenças
psicológicas e espirituais muito significativas é o que buscamos entrever apresentando
excertos da “apropriação” que a psicanálise (e no caso a psicologia analítica) fez do conceito
de “nirvana” que atravessa os continentes da Índia, para a China e Japão para uma desejada
psicologia científica, que ainda hoje é um controverso projeto.

Vale também rever as concepções de qualidade e quantidade da energia psíquica / energia


vital, que como veremos foi, e é, uma conquista desejada inclusive para sua utilização na
acupuntura no âmbito da psicologia ou neuropsicologia das “doenças mentais”...

uma questão que lamentavelmente saiu do âmbito de discussões acadêmicas para questões
judiciais, de quem pode ou não pode praticar acupuntura e entender a medicina tradicional
chinesa, segundo o Colégio Médico de Acupuntura no Brasil que entrou com processos
judiciais contra a prática da acupuntura nas profissões paramédicas incluindo a psicologia.

Voltando à qualidade de estudos acadêmicos, numa cuidadosa revisão de 1.130 artigos e 85


textos completos sobre os diversos modelos teóricos da consciência que se remetem a pelo
menos 29 teorias da consciência, Sattin et al. assinala que o conceito de 'consciência' pode ser
encontrado em documentos históricos desde a antiguidade, e pode ser comprovado em
diversas tradições e culturas com algumas perspectivas que, embora a linguagem da expressão
tenha se tornado diferente, parecem ser conceitos que evoluíram ao longo da história e cita a
obra de Fritjof Capra que nos descreveu como alguns conceitos antigos orientais sobre uma
consciência universal são consistentes com a física moderna, como uma substância que vem
de uma “consciência cósmica” (esta foi a definição de consciência usada) da qual toda a
matéria é feita.

Capra, Fritjof. The Tao of Physics. Shambhala Publications; Boston, MA, USA: 1974. In:

Sattin D, Magnani FG, Bartesaghi L, Caputo M, Fittipaldo AV, Cacciatore M, Picozzi M, Leonardi
M. Theoretical Models of Consciousness: A Scoping Review. Brain Sci. 2021 Apr 24;11(5):535.
doi: 10.3390/brainsci11050535. PMID: 33923218; PMCID: PMC8146510.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8146510/

Marcelo Gleiser em artigo especial para a Folha SP - Ciência e espiritualidade (18 de Julho de
1999) comenta a proliferação de seitas da "Nova Era", de várias superstições e de pregadores
da "verdade", proliferando o crescimento do desprezo pela ciência e pelo que ela tem a dizer
sobre o mundo. Destaca os livros de divulgação científica tiveram sucesso por revelar uma
conexão entre ciência e espiritualidade, como "O Tao da Física", de Fritjof Capra, mas nos
alerta para consideração de que a ciência esteja simplesmente redescobrindo "verdades"
descobertas através da meditação ou de uma conexão mística com o mundo, como nas
religiões orientais ressaltando que o fundamental é saber discernir os limites entre a ciência e
a espiritualidade, suas diferentes missões e o simples fato de elas serem necessárias para a
nossa existência.

Observe-se que tal cuidado, inclusive já está na proposição de Capra quando nos afirma que:

...uma experiência mística, portanto, à semelhança de um moderno experimento levado a


cabo pela Física, não é um fato único. E, por outro lado, não se afigura menos sofisticada que
este, embora sua sofisticação seja de um tipo inteiramente diverso. A complexidade e
eficiência do aparato técnico de que dispõe o físico é igualada, quando não superada, pelo
aparato de que dispõe a consciência do místico - tanto em termos físicos quanto espirituais -
quando em meditação profunda.

Todo aquele que quer repetir um experimento na moderna Física subatômica tem de passar
por inúmeros anos de treinamento. Somente então estará capacitado a indagar da natureza
uma determinada questão, utilizando-se do experimento, e a possuir as condições que o
habilitem a compreender a resposta. De idêntica forma, uma experiência mística profunda
demanda, via de regra, inúmeros anos de treinamento sob a orientação de um mestre
experiente e, da mesma forma que no treinamento científico, o tempo dedicado a essa tarefa
não garante, por si só, a obtenção do sucesso. Se o aluno consegue ser bem-sucedido, estará
em condições de repetir o experimento '". A possibilidade de repetir a experiência constitui, na
verdade, uma característica essencial para o treinamento místico: nela reside, de fato, o
objetivo básico da instrução espiritual dos místicos. Capra oc. (tradução brasileira Cultrix) p.36

Gleiser, Marcelo. Ciência e espiritualidade. Folha SP 18 de Julho de 1999


https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe18079903.htm

Capra Fritjof. O tao da física. SP: Cultrix, 1995

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Para Carl Gustav Jung (1875 - 1961) integrante da sociedade internacional de psicanálise até
1912

... todo fenômeno requer ao mesmo tempo um ponto de vista mecanicista-causal e um ponto
de vista energético-final. É somente a oportunidade, quer dizer, a possibilidade de êxito que
decide se a preferência deve recair sobre este ou aquele ponto de vista. Se se considera o
aspecto qualitativo do acontecimento, é o ponto de vista energético que é postergado, porque
nada tem a ver com as substâncias, mas unicamente com suas relações quantitativas de
movimento.
Já se discutiu muito a questão se o acontecimento psíquico pode ser tomado também sob o
ponto de vista energético. A priori não há razão para que isto não seja possível, pois não há
motivos para excluir o acontecimento psíquico do campo dos dados objetivos da experiência.
Como bem o mostra o exemplo de Wundt 8, é possível duvidar, de boa-fé, que o ponto de
vista energético possa ser aplicado com relação aos fenômenos psíquicos, e, em caso
afirmativo, que a psique possa ser considerada como um sistema relativamente fechado.

No que respeita ao primeiro ponto, devo concordar com a opinião de VON GROT, um dos
primeiros a sustentar a teoria energética da psique, quando afirma: "O conceito de energia
psíquica é tão legítimo em ciências quanto o de energia física, e a energia psíquica tem
também suas medidas quantitativas e formas diferentes, como a energia física".

No que se refere ao segundo ponto, eu me distingo dos que estudaram esta questão até o
presente, no sentido de que quase não me tenho preocupado em enquadrar os processos da
energia psíquica no sistema físico. Se não o faço, não é porque possuo, quando muito, vagas
suposições a este propósito, mas porque não encontro pontos de apoio reais. Embora esteja
convencido de que a energia psíquica se acha de algum modo estreitamente ligada ao
processo físico, ainda preciso de experiências e de conhecimentos bastante diversos para falar,
com competência, a respeito desta vinculação.

V. GROT, Die Bregriffe der Seele und derpsychischen Energie in der Psychologie, p. 290.

WUNDT W. Grundzüge der physiologischen Psychologie, III, p. 692s.

JUNG, Carl Gustav A energia psíquica. RJ, Petrópolis: Vozes, 2002

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De acordo com Sigmund Freud (1856 -1939)

ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER (1920)

...retornemos aos impulsos sexuais conservadores da vida. Da pesquisa com protistas já


ficamos sabendo que a fusão de dois indivíduos sem divisão posterior, a cópula, atua sobre
ambos, que então logo se separam, de maneira fortalecedora e rejuvenescedora. (Ver
Lipschütz, acima.) Nas gerações seguintes, eles não apresentam quaisquer fenômenos
degenerativos e parecem capacitados a resistir por mais tempo às nocividades de seu próprio
metabolismo. Acredito que essa observação pode ser tomada como exemplar também para o
efeito da união sexual. Porém, de que maneira a fusão de duas células pouco diferentes
produz semelhante renovação da vida? O experimento que substitui a cópula entre os
protozoários pela influência de estímulos químicos ou mesmo mecânicos certamente permite
dar uma resposta segura: isso acontece mediante o acréscimo de novas grandezas de
estímulo. No entanto, isso se harmoniza bem com a hipótese de que o processo vital do
indivíduo leva, por razões internas, ao nivelamento de tensões químicas, isto é, à morte,
enquanto a união com uma substância viva individualmente diferente aumenta essas tensões,
introduz novas diferenças vitais, por assim dizer, que então precisam ser vividas até o
esgotamento. Naturalmente, deve haver uma ou mais condições ótimas para essa diferença. O
fato de termos reconhecido que a tendência dominante da vida psíquica, talvez da vida
nervosa em geral, é a aspiração por reduzir, manter constante, eliminar a tensão interna de
estímulo (o princípio de nirvana, segundo uma expressão de Barbara Low), tal como essa
aspiração se expressa no princípio de prazer – esse fato, dizíamos, é um de nossos mais fortes
motivos para acreditar na existência de impulsos de morte....

Freud. Sigmund. Além do princípio do prazer, 1920

Lipschütz, A. Warum wir sterben [Por que morremos]. Stuttgart, 1914. (104-105, 118)

Low, Barbara Psycho-Analysis — A brief account of the Freudian theory” em 1920,

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Barbara Low (1877-1955)

Em seu Livro Low..no terceiro capítulo, enquanto tenta apresentar a ideia do recalcamento, faz
breves descrições do princípio de prazer e de realidade. Explicando o princípio de prazer, Low
se vê diante da tarefa de demonstrar de que modo sensações de dor e desprazer obedeceriam
a essa tendência. Após afirmar que dor e desprazer podem ser utilizados para intensificar as
sensações de prazer e que de fato isso é feito desde a infância, propõe:

É possível que mais profundamente que o princípio de prazer jaz o princípio de Nirvana, como
se poderia chamá-lo – o desejo da criatura recém-nascida de retornar ao estágio de
onipotência, no qual não há desejos não satisfeitos, no qual ele existia dentro do útero da
mãe. ...

Outra referência possível, segundo Silva:

Se tentarmos agora localizar na filosofia de Schopenhauer algo que possa ter influenciado Low
em suas afirmações sobre o princípio de Nirvana, encontraremos indícios em “O Mundo como
Vontade e como Representação”. Na parte final dessa obra, Schopenhauer tenta refletir sobre
os efeitos de seu pensamento na prática, caminhando para uma proposição (ou talvez uma
problematização) ética.

Já que não é possível (e nem mesmo necessário, nesse caso) nos determos nas minúcias de
seu raciocínio, vemos que ele indica haver uma semelhança entre o que chama de negação da
vontade e o nirvana, “um estado no qual não existem quatro coisas, a saber, nascimento,
velhice, doença e morte”.

Schopenhauer prossegue analisando as noções de bom, mau, justiça e vê como problema na


relação entre os homens a afirmação da vontade, que causaria um bem transitório e relativo.
Em oposição a isso afirma que o “bom absoluto” implicaria na “satisfação final da vontade
além da qual nenhum novo querer apareceria”, coisa que só é possível ao negar a vontade. A
total supressão da vontade seria o único caminho para livrar o homem do sofrimento que
enfrenta quando está submetido a ela. Essa supressão parece ocorrer, de acordo com ele, na
vida de santos e sábios budistas, por exemplo.

Ou ainda
.. ficamos com a impressão de que Low, apesar de não ter deixado explícito em seu texto, se
serve das ideias de Ferenczi (1913) [“O Desenvolvimento do Sentido de Realidade e seus
Estágios”]. Uma vez que seu livro tinha a intenção de ser mais acessível a leigos, ela pode ter
optado por não incluir muitas notas ou citações, o que justificaria em parte a omissão. Sua
descrição do princípio de Nirvana, porém, é feita em termos tão parecidos com os que Ferenczi
havia utilizado sete anos antes que é muito provável que tenha sido ele uma das principais
fontes dessa ideia.

Silva observa ainda que ... ao se apropriar do princípio de Nirvana de Low, Freud o apresenta
sob um novo prisma. A descrição de Low tem como foco a noção de um desejo de retornar ao
estado de onipotência da vida dentro do útero.

Para Freud, o essencial parece ser o mecanismo econômico desse desejo, traduzido como
tendência à extinção das excitações.

Aparentemente, as duas versões do princípio de Nirvana não se contradizem, e sim se


complementam.

... Para Freud, o foco parece ser o rebaixamento ou eliminação da tensão, que, na formulação
de Low, aparece como estado em que não há desejos não realizados. ...

Silva , Marcus Vinicius Neto. Barbara Low e o princípio de Nirvana. Revista Lacuna 7 de agosto
de 2019 artigo, n. -7 ISSN 2447-2663 https://revistalacuna.com/2019/08/07/n-7-7/
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Voltando a Freud:

O PROBLEMA ECONÔMICO DO MASOQUISMO (1924)

Será lembrado que assumimos a opinião de que o princípio governante de todos os processos
mentais constitui um caso especial da ‘tendência no sentido da estabilidade’, de Fechner, e,
por conseguinte, atribuímos ao aparelho psíquico o propósito de reduzir a nada ou, pelo
menos, de manter tão baixas quanto possível as somas de excitação que fluem sobre ele.
Barbara Low [1920, 73] sugeriu o nome de ‘princípio de Nirvana’ para essa suposta tendência,
e nós aceitamos o termo. Sem hesitação, porém, temos identificado o princípio de prazer-
desprazer com esse princípio de Nirvana. Todo desprazer deve assim coincidir com uma
elevação e todo prazer com um rebaixamento da tensão mental devida ao estímulo; o
princípio de Nirvana (e o princípio de prazer, que lhe é supostamente idêntico) estaria
inteiramente a serviço dos instintos de morte, cujo objetivo é conduzir a inquietação da vida
para a estabilidade do estado inorgânico, e teria a função de fornecer advertências contra as
exigências dos instintos de vida - a libido - que tentam perturbar o curso pretendido da vida.
Tal visão, porém, não pode ser correta. Parece que na série de sensações de tensão temos um
sentido imediato do aumento e diminuição das quantidades de estímulo, e não se pode
duvidar que há tensões prazerosas e relaxamentos desprazerosos de tensão. O estado de
excitação sexual constitui o exemplo mais notável de um aumento prazeroso de estímulo
desse tipo, mas certamente não o único. ...
... Seja como for, temos de perceber que o princípio de Nirvana, pertencendo, como pertence,
ao instinto de morte, experimentou nos organismos vivos uma modificação através da qual se
tornou o princípio de prazer, e doravante evitaremos encarar os dois princípios como um só.
Se nos preocupamos em acompanhar essa linha de pensamento, não é difícil imaginar a força
que foi a fonte da modificação. Ela só pode ser o instinto de vida, a libido, que assim, lado a
lado com o instinto de morte, apoderou-se de uma cota na regulação dos processos da vida.
Assim, obtemos um conjunto de vinculações pequenos, mas interessantes. O princípio de
Nirvana expressa a tendência do instinto de morte; o princípio de prazer representa as
exigências da libido, e a modificação do último princípio, o princípio de realidade, representa a
influência do mundo externo.

Gustav Theodor Fechner (1801 -1887)

o ‘princípio de constância’. A lei de Fechner posteriormente conhecida como lei de Weber-


Fechner pode ser enunciada como: "a resposta a qualquer estímulo é proporcional ao
logaritmo da intensidade do estímulo". Esta lei aplica-se aos 5 sentidos, mas as suas
implicações são mais bem entendidas quando se refere aos estímulos provocados pela luz e
pelo som. Citado no “Projeto para uma psicologia científica” (1950 [1895])

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ESBOÇO DE PSICANÁLISE (1940 [1938])

O id, excluído do mundo externo, possui seu próprio mundo de percepção. Ele detecta com
extraordinária agudez certas modificações em seu interior, especialmente oscilações na tensão
de suas necessidades instintivas, e essas modificações tornam-se conscientes como sensações
na série prazer-desprazer. É difícil dizer, com efeito, por que meios e com a ajuda de que
órgãos sensórios terminais essas percepções ocorrem. Mas é fato estabelecido que as
autopercepções - sensações cenestésicas e sensações de prazer-desprazer - governam a
passagem de acontecimentos no id com força despótica. O id obedece ao inexorável princípio
de prazer. Mas não o id sozinho. Parece que também a atividade dos outros agentes psíquicos
só é capaz de modificar o princípio de prazer, mas não de anulá-lo, e permanece sendo
questão da mais alta importância teórica, questão que ainda não foi respondida, quando e
como é possível este princípio de prazer ser superado. A consideração de que o princípio de
prazer exige uma redução, no fundo a extinção, talvez, das tensões das necessidades
instintivas (isto é, o Nirvana) leva às relações ainda não avaliadas entre o princípio de prazer e
as duas forças primevas, Eros e o instinto de morte.

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Assim, concluindo segundo os Dicionários de Psicanálise

Princípio de Nirvana

al. Nirwanaprinzip; esp. principio de Nirvana; fr. principe de Nirvana; ing. Nirvana principle

Termo derivado do budismo e da filosofia de Arthur Schopenhauer (1788-1860), proposto pela


psicanalista inglesa Barbara Low (1877-1955) e posteriormente retomado por Sigmund Freud,
em Mais além do princípio de prazer, para designar uma tendência do aparelho psíquico a
aniquilar qualquer excitação e qualquer desejo.

Barbara Low, Psycho-Analysis. A Brief Account of the Freudian Theory, Londres, Allen & Unwin,
1920.

Laplanche, Pontalis em seu dicionário sobre este “princípio do Nirvana”, destacam a relação
desta concepção com o “princípio de inércia (neurônica) ” ou “princípio de funcionamento do
sistema neurônico” postulado por Freud no Projeto para uma psicologia científica (Entwurf
einer Psychologie, 1895):

...os neurônios tendem a evacuar completamente as quantidades de energia que recebem... É


no Projeto para uma psicologia científica que Freud enuncia um princípio de inércia como
princípio de funcionamento daquilo a que chama então sistema neurônico. Nos textos
metapsicológicos posteriores não retomará mais esta expressão.
A noção pertence ao período de elaboração da concepção freudiana do aparelho psíquico.
Sabe-se que Freud descreve no Projeto um sistema de neurônios apelando para duas noções
fundamentais: a de neurônio (qualidade?) e de quantidade

Roudinesco, Elisabeth, 1944. Dicionário de psicanálise/Elisabeth Roudinesco, Michel Plon; RJ:


Zahar, 1998

Laplanche, Jean. Vocabulário de psicanálise. Laplanche e Pontalis. SP: Martins Fontes, 2001

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Para Rapaport na sua análise da estrutura da teoria psicanalítica o Modelo da Entropia (ou
Econômico) pode vir a tornar-se um fator unificador da teoria psicanalítica, considerando que
esta não necessita de dados adicionais para desenvolver-se; ao contrário, a quantidade de
dados já é embaraçadoramente ampla. Também não precisa de dados que – embora passíveis
de tratamento estatístico - não passam de informes clínicos disfarçados e a rigor, os próprios
informes clínicos são melhores do que os dados desse gênero.

Critica as tentativas de se obter nas experimentações situações análogas às da clínica, mas


destacando a demanda e a comparabilidade dos recursos terapêuticos que privilegiam a
concepção de autonomia e autonomia relativa aposta nos métodos utilizados na Universidade
de McGill, os estudos Bethesda a respeito da privação sensorial e, métodos hipnóticos, como
apropriados. A teoria necessita de dados obtidos com a ajuda desses (e de outros) métodos
relevantes (eg., uso de drogas como a mescalina se é que este uso não implique na perda de
autonomia.

Em suas palavras a concepção/ modelo de Entropia proposto (Freud, 1900 – “Interpretação


dos sonhos) - implícito na direção atribuída ao percurso da excitação no modelo topográfico –
retrata a seqüência crucial, topograficamente incompleta, do comportamento do lactente:
inquietação → sugar o seio → declínio da inquietação. Esta seqüência, que torna o
comportamento referente dos processos de redução de tensões, é considerado o modelo
básico de todo o comportamento motivado; e, em consonância com o postulado do
determinismo, diz respeito aos comportamentos com motivações óbvias assim como aos
comportamentos aparentemente acidentais.
Pode ser modificado - como veremos - para explicar também os processos de manutenção da
tensão e de aumento da tensão. O mérito deste modelo está em que ele coordena uma série
ampla de fenômenos, e serve, em particular, como fundamento para os conceitos do princípio
do prazer e da satisfação de desejo; serve, ainda, em geral, para fundamentar o ponto de vista
econômico que abrange aqueles conceitos. O modelo desempenha papel importante na
transformação do ponto de vista topográfico em estrutural; contém, ainda, a essência dos
pontos de vista dinâmico e adaptativo. Uma vez que este modelo já implica algum dos outros,
apresentaremos, adiante, um esboço de uma tentativa prévia (Rapaport, 1951b) no sentido de
desenvolvê-lo para transformá-lo num modelo psicológico unificado da teoria psicanalítica.
Rapaport, David. A estrutura da teoria psicanalítica, uma tentativa de sistematização. SP: Ed.
Perspectiva...p.10 e p.123

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Nirvana , (sânscrito: "extinguir-se" no pensamento religioso indiano, o objetivo supremo de


certas disciplinas de meditação . Embora ocorra nas literaturas de várias tradições indianas
antigas, o termo sânscrito nirvana é mais comumente associado ao Budismo , no qual é a
designação mais antiga e comum para o objetivo do caminho budista. É usado para se referir à
extinção do desejo, do ódio e da ignorância e, em última análise, do sofrimento e do
renascimento. Literalmente, significa “apagar” ou “extinguir-se”, como quando uma chama se
apaga ou um fogo se apaga. ...

Buda ensinou que a existência humana é caracterizada por várias formas de sofrimento
(nascimento, envelhecimento, doença e morte), que são vivenciadas ao longo de muitas vidas
no ciclo de renascimento chamado samsara (literalmente “errante”). Buscando um estado
além do sofrimento, ele determinou que sua causa – ações negativas e as emoções negativas
que as motivam – deveria ser destruída. Se essas causas pudessem ser erradicadas , não
teriam efeito, resultando na cessação do sofrimento. Essa cessação foi o nirvana. O Nirvana
não era visto, portanto, como um lugar, mas como um estado de ausência, nomeadamente a
ausência de sofrimento.

Donald S. López. Nirvana (religion)


https://www.britannica.com/topic/nirvana-religion

Samsara (saṃsāracakka)

'Roda de renascimentos' (saṃsāracakka). A ignorância (avijjā) é o seu centro (ou nave) porque
é a sua raiz. O envelhecimento e a morte (jarā-maraṇa) é o seu aro (ou fel) porque o encerra.
Os dez elos restantes [da Origem Dependente] são seus raios [ou seja, saṅkhāra até o processo
de vir a ser, bhava]

https://pt.dreamstime.com/illustration/dharmachakra.html

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涅槃
Nièpán / Nirvana

涅 niè / escurecer, enegrecer

槃 pán / bandeja, disco de madeira

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